Gigolô, nunca mais
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Gigolô, nunca mais
Página 2 EDITORIAL Cansados e sem apoio do governo para continuar produzindo alimentos para o Brasil, os produtores rurais enfrentaram as urnas no primeiro turno, mostrando que têm saudades da safra 2002/03, quando o setor colheu cerca 123,2 milhões de toneladas de grãos. Nas duas últimas safras, o setor foi seriamente castigado pela seca e enfrentou os reflexos da baixa cambial, resultando em grandes prejuízos para os produtores rurais. Pouco se fez para que fossem adotadas medidas estruturantes de apoio ao setor. Apenas foram empregados paliativos, retardando efeitos desastrosos que podem reduzir ainda mais a produção do agronegócio, a falência de empresas rurais e a queda na produção de comida para o povo. O resultado é o inevitável e crescente abandono da atividade por falta de condições para produzir. Parece que nossos governantes querem expulsar do campo quem produz para implantar uma falsa reforma agrária às custas do produtor rural e da sociedade, que ajuda a sustentar os eternamente dependentes assentamentos, que não conseguem sua independência financeira, por serem resultado de medidas e projetos equivocados. O primeiro turno das eleições mostrou que o produtor quer mais do que paliativos. Está cansado de conta-gotas e de enganações. As regiões produtivas do país rejeitaram a reeleição do presidente Lula e apostaram em Geraldo Alckmin, levando a decisão maior para o segundo turno. No Rio Grande do Sul, o resultado foi de 22,7 pontos percentuais pró-Alckmin, à frente do candidato petista. Ficou claro que não existe saudades do governo de Olívio Dutra, do PT, quando os produtores rurais, entre outras mazelas, tiveram que enfrentar o radicalismo e desmandos do MST. Foi neste período que o movimento teve seu maior crescimento e desenvolveu grandes brutalidades no campo, apoiado por autoridades que chegaram a ceder carro oficial para ser usado de batedor em invasão de uma fazenda. Houve ainda secretário de Estado entrando, na calada da noite, em propriedade invadida. Sem contar a tentativa de transformar a Expointer 2000 em um campo de batalha, bem ao contrário da Expointer festiva, e de resultados positivos, com clima pacífico,como a que pudemos vivenciar em 2006, com o governador Germano Rigotto. No Congresso Nacional não foi diferente. A bancada ruralista aumentou seus representantes em Brasília, prova de que o eleitor do campo quer mais deputados identificados com a realidade rural. Nos debates realizados no interior do Rio Grande do Sul, a posição do setor está cada vez mais presente. Nada de reedição do passado. O produtor rural não quer mais ver presidente da República colocando chapéu de movimentos inescrupulosos ou mesmo governador empunhando facão em posição de guerrilha. Reprise, nunca mais! O produtor rural quer ter paz para produzir e medidas sérias que dêem respaldo para que aumentem a sua condição empresarial; aumentar sua renda para reinvestir nas propriedades; ter lucro para que possam viver com dignidade sem mendigar negociações a cada safra agrícola. Votem conscientes em 29 de outubro. EXPEDIENTE Gigolô, nunca mais Blau Souza* Causava mal estar nos anos sessenta o advogado e político Temperani Pereira afirmar que os fazendeiros eram gigolôs do boi. A primeira reação era de revolta entre os produtores, desassistidos e sempre convocados a pagar mais impostos. Recordo bem que o Fernando Adauto, estudante de Agronomia, reagiu de forma polêmica às afirmações de Temperani, dizendo que os pecuaristas deveriam ser classificados como gigolôs do campo e não do boi. Na verdade, a maioria dos criadores pouco interferia no desenvolvimento natural dos rebanhos e, menos ainda, no solo e nas pastagens das grandes invernadas. Fernando deplorava a ausência de cuidados com os campos nativos, ignorados pelos seus proprietários e pelos estudiosos de então, sempre fascinados por soluções alienígenas e desconsiderando a excelência dos nossos recursos naturais. Na cobertura vegetal do Estado, a natureza se encarregara de quase tudo e não foi por acaso que o gado deixado pelos jesuítas e seus índios multiplicou-se de forma extraordinária. Houve seleção mútua das pastagens e dos animais propiciando muitos avanços desde a exploração exclusiva do couro até os dias presentes, mas o nosso rebanho continua com fome nos invernos. E este fato se agrava se forem obedecidos os índices de lotação preconizados pelo INCRA. Em recente fim de semana, nas Lavras, tive momentos de alegria e satisfação por conta de reunião do CITE 27 e da visita de estudantes de AgroFARSUL Presidente: Carlos Rivaci Sperotto Vice-presidente: Gedeão Silveira Pereira Diretor Administrativo: Francisco Lineu Schardong Diretor Financeiro: Jorge Rodrigues nomia da UFRGS capitaneados pelo professor Carlos Nabinger. Houve palestras, reunião e dia de campo nas pastagens nativas melhoradas do Fernando Adauto. De uma forma campeira, o sistema se baseia na semeadura de Azevém sem arar, fertilização do solo a cada ano e retiradas estratégicas do gado para permitir que se completem os ciclos da gramínea, evitando a necessidade de novas semeaduras. O sistema foi sendo adaptado às características da região e, hoje, Fernando preconiza 40 Kg. de Azevém por hectare e cerca de 150 Kg./ha de NPK (27-27Gado sem perder peso no inverno, bois e vacas engordados para abate entusiasmam produtores conscientes do campo que possuem e que devem melhorar. Progressos no campo e no gado vão credenciando os produtores rurais de forma inequívoca e jogando no lixo os rótulos infamantes. 00). A fertilização deve ser repetida a cada ano. No dia 15 de novembro o gado é retirado da pastagem por quarenta e cinco dias. Assim, o diferimento dura até o ano novo, num período em que os campos comuns, não melhorados, podem absorver facilmente a lotação da propriedade. Em abril há novo período sem gado, trinta dias, após intensificação do pastoreio buscando rapar o campo. Se ele estiver muito macegoso, a alta lotação pode ser complementada pelo uso da roçadeira. Criam-se condições para que o Azevém nasça da melhor forma. O emprego de calcário e variações na compo- SENAR-RS Presidente: Carlos Rivaci Sperotto Superintendente: Eduardo Delgado Chefe Divisão Administrativa: Carlos Alberto Schütz Chefe Divisão Técnica: Taylor Favero Guedes sição fertilizante dependem da análise de amostras e da assistência técnica além do bom senso, componente indispensável em qualquer empreendimento. Que área de uma propriedade deve ser ocupada com as pastagens nativas melhoradas? Nabinger sugere 15% e Fernando fala em até 30% da área total destinada ao pastoreio. Essas noções são válidas para todo o pampa, em boa hora despertado para qualificar sua carne no exterior ao buscar a indicação geográfica de seu produto, como ocorre em países do primeiro mundo. Aos que resistem à idéia de investir na melhoria das pastagens, lembro o quanto elas já foram beneficiadas pela natureza, restando pouco a fazer para transformá-las no que os argentinos consideram pasturas imejorables. Para completar o que afirmo, lembro motorista nordestino de um político gaúcho, morador de Brasília, que chegou ao pampa dirigindo o carro do patrão. Contemplou as distâncias verdes sem fim e lascou um comentário, de ordem prática, que jamais esquecerei: “Que trabalheira deve ter dado plantar esse pasto todo”. Gado sem perder peso no inverno, bois e vacas engordados para abate entusiasmam produtores conscientes do campo que possuem e que devem melhorar. Progressos no campo e no gado vão credenciando os produtores rurais de forma inequívoca e jogando no lixo os rótulos infamantes. Trabalho e avanços na assistência técnica permitem concluir: gigolôs do boi ou do campo, nunca mais. * Médico e escritor JORNAL SUL RURAL Diretor: Décio Rosa Marimon Jornalista responsável: Marcela Duarte (MTB 9870) Fotos: Luiz Ávila, Marcelo Curia e arquivo Colaboração: Alessandra Bergmann Circulação Mensal Tiragem: 30.000 exemplares Administração, redação e comercial: Praça Saint Pastous, 125 - Fone: (51) 3214.4400 Fax: (51) 3221.9113 e-mail: [email protected] - Porto Alegre/RS - Cep 90051-170
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