Jornal da Imagem - Sociedade Paulista de Radiologia

Transcrição

Jornal da Imagem - Sociedade Paulista de Radiologia
Parte integrante da Edição nº 343 – Março de 2007
Jornal da Imagem
Caderno 2
Este encarte contém casos diversos enviados pelos leitores do Jornal da Imagem
Caso 1
• História clínica
Figura 1 – Radiografia do punho
demonstrando má definição
do contorno do osso semilunar.
Observe ainda, o discreto
aumento de densidade do
semilunar fazendo suspeitar do
diagnóstico de Kienbock.
Figura 2 – Coronal T1 FSE
do punho demonstrando
marcado hipossinal do osso
semilunar com redução
volumétrica do mesmo.
Figura 3
– Coronal DP SPIR
demonstrando
marcado hipossinal
do semilunar.
Figura 4 – Coronal
T1 com supressão
de gordura e
injeção endovenosa
de gadolínio.
Figura 5 – Coronal T2*.
Masculino, 37
anos, trabalhou
como estivador
nos últimos 06
anos. Há 1 ano vem
queixando-se de dor
no punho esquerdo.
Nega trauma
recente ou história
de trauma no local
relacionado à dor.
Obervação: Em todas as figuras as setas indicam a posição do osso semilunar.
Caso 2
• História clínica
Figura 2 – Axial FLAIR
demonstra áreas de gliose
na substância branca de
ambos os hemisférios.
Feminino, 17 anos,
primeira crise
convulsiva, tipo
tônico-clônica
generalizada.
Ascendência
japonesa.
Figura 1 – Axial T2 mostra a ausência do
“flow void” das artérias carótidas internas
e pequenos ramos colaterais cisternais.
Figura 4 – Angio-RM 3D TOF. Imagem
fonte. Não são identificadas as artérias
carótidas internas supraclinóideas e
seus principais ramos.
Figura 3 – Axial T1 com
gadolínio mostra focos lineares de
impregnação nos núcleos da base,
compatíveis com vasos colaterais.
Figura 5 – Angio-RM com afilamento
das artérias carótidas internas,
sobretudo das cerebrais médias. Há
sinais de dilatação dos vasos profundos e
anastomose por vasos leptomeníngeas.
Jornal da Imagem
São Paulo | MARÇO | 2007
Caso 1
Caso cedido pelos Drs. Guinel Hernandez Filho e Márcio Martins
Doença de Kienbock
Diagnóstico
Doença de Kienbock.
Discussão
O termo doença de Kienbock é o epônimo utilizado para a necrose avascular
do osso semilunar. É também denominada necrose isquêmica asséptica, na
maioria dos casos relacionada a trauma,
que podem ser agudos ou em decorrência de pequenos traumas de repetição.
Os fatores de risco incluem variante
ulnar negativa, morfologia oblonga ou
quadrada do semilunar e o tipo de vascularização. Esse tipo de necrose asséptica
incide principalmente em indivíduos
jovens, do sexo masculino, com idade
entre 20 e 40 anos, sendo a maioria de
Caso 2
ocorrência unilateral. A história natural
é caracterizada por dor crônica no punho associada à limitação dos movimentos, edema difuso e sinovite localizada.
Esse tipo de necrose asséptica pode
ser classificada, segundo Lichtman, em
quatro estágios radiográficos:
I – radiografia normal com ou sem
fratura;
II – esclerose sem colapso;
III – fragmentação e colapso;
IV – artrite.
Os achados de imagem incluem
aumento da densidade com ou sem
visualização da fratura e/ou colapso
do semilunar à radiografia simples. Os
achados à tomografia computadorizada
são semelhantes, no entanto o traço de
fratura é mais facilmente visualizado
pela melhor definição de imagens com
cortes finos. Os estudo de Ressonância
Magnética (RM) permitem uma graduação diferenciada do acometimento,
sendo as alterações nas seqüências
ponderadas em T1 caracterizadas em
04 estágios: linha de fratura hipointensa
(estágio I), hipointensidade óssea central
ou difusa (estágio II), colapso do semilunar com migração proximal do captato
(estágio III) e hipossinal ósseo difuso
associado à reação osteofitária marginal
(estágio IV). As seqüências ponderadas
em T2, em geral, demonstram hiperintensidade do semilunar, exceto nas fases
finais da doença. A RM é superior aos
demais métodos, principalmente nas
fases iniciais. Dentre os diagnósticos
diferenciais estão fratura aguda do semilunar, instabilidade carpal, síndrome
de impactação ulnar, artrite reumatóide e outras artrites inflamatórias. O
tratamento pode ser conservador com
imobilização ou cirúrgico.
Referências bibliográficas
1.Stoller, D.W. Magnetic Resonance
Imaging in Orthopaedics & Sports
Medicine. 1997, 2ª edição, 949- 956.
2.Sowa DT et al: Application of magnetic resonance imaging to ischemic
necrosis of lunate. J Hand Surg 14 a:
1008-16 1989
Caso cedido pelos Drs. Rogério Troncoso (R1, Unifesp) e Je Hoon Yang, Icon Diagnóstico Médico por Imagem, Jundiaí, São Paulo
Doença Moyamoya
Diagnóstico
Doença moyamoya.
Discussão
A doença moyamoya é caracterizada
por um padrão angiográfico típico,
caracterizado por um aspecto denominado “nuvem de fumaça”, assim designada pelos japoneses devido à intensa
circulação colateral secundária à oclusão progressiva das artérias carótidas
supraclinóideas. Este padrão angiográfico pode ocorrer como uma doença
primária, de etiologia desconhecida
(doença moyamoya), ou acompanhar
outras condições mórbidas, como a
síndrome de Down, esclerose tuberosa,
progeria, anemia falciforme, síndrome
“morning glory”, neurofibromatose
tipo I, radioterapia em tumores supra-
selares, doença de Kawasaki, doença
Behçet, lúpus eritematoso sistêmico,
entre outros (padrão moyamoya).
Caracteriza-se pela progressiva estenose das porções distais das carótidas
internas e de seus ramos proximais.
Há formação da extensa rede colateral
das artérias cerebrais anterior, média
e posterior; por vasos leptomenígeos;
vasos perfurantes, além de anastomoses transdurais com as artérias carótidas externas. A doença tem maior
prevalência em japoneses e pode ter
padrões de apresentação distintos em
crianças e adultos. A instalação é mais
progressiva na forma pediátrica, na qual
prevalecem os sintomas isquêmicos
como infartos e acidentes isquêmicos
transitórios, enquanto que na forma
do adulto prevalecem as hemorragias
intraparenquimatosas, ventriculares ou
subaracnóideas. A TC mostra apenas
atrofia parenquimatosa, áreas hipoatenuantes secundárias a infartos, em
crianças, e nos adultos, hemorragias de
localização e extensão variáveis.
Os estudos angiográficos por RM
ou subtração digital são capazes de
demonstrar as oclusões das porções
distais das carótidas internas e/ou de
seus ramos de primeira ordem e a intensa rede colateral, assim como dilatação
das artérias lenticuloestriadas e outras
perfurantes. A RM mostra a perda do
“flow void” característico dos vasos
intracranianos, particularmente nas
porções supraclinóideas das artérias
carótidas intenas e fissuras sylvianas.
Enquanto a RM é o melhor método
para caracterizar as repercussões pa-
renquimatosas das alterações vasculares
citadas, a angiografia digital constitui o
padrão-ouro para a delimitação precisa
das estenoses e da rede colateral parenquimatosa e leptomeníngea. A injeção
de gadolínio permite caracterizar impregnação leptomeningea, bem como a
presença de colaterais lentículoestriadas
em múltiplos pontos (“ivy sign”) Essas
finas imagens lineares têm representação em T2 e FLAIR, nas cisternas da
base e centros semiovais.
Referência bibliográfica
1.Yamada I., Himeno Y., Nagaoka T.,
Akimoto H, Matsushima Y, Kuroiwa
T, Shibuya H. Moyamoya Disease:
Evaluation with Diffusion-weighted
and Perfusion Echo-ar MR imaging.
Radiology 1999; 212:340-347.
Caderno 2
São Paulo | MARÇo | 2007
Caso 3
Figura 1
– Estudo
contrastado
demonstra
grande
falha de
enchimento
no esôfago
distal, que
permite a
passagem
parcial do
meio de
contraste.
Nenhuma
outra lesão
esofágica
estrutural é
observada.
• História clínica
Figura 2 – Observe a melhor delimitação do
corpo estranho próximo à junção esôfago-gástrica.
Figura 3 – Com a passagem parcial do meio de
contraste delimita-se o corpo estranho, bem como o
“sinal do menisco” no seu contorno superior (setas).
Caso 4
• História clínica
Masculino, 25
anos, surfista no
litoral paulista,
queixando-se de
déficit auditivo
condutivo bilateral
há meses.
Figura 1 – TC das mastóides. Nas imagens axiais (A e B) e coronais (C e D),
observa-se estenose dos CAEs devido à presença de protuberâncias ósseas
circunferênciais de base ampla (setas), mais proeminentes à direita.
FZM, 27 anos,
sexo masculino,
natural e
procedente de
Goiânia, referiu
quadro súbito de
dor retroesternal
em aperto, sem
irradiações,
acompanhada
de plenitude
e vômitos
pós-prandiais,
desencadeada
após libação
alimentar.
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São Paulo | MARÇO | 2007
Caso 3
Caso cedido pelos Drs. Fábio Zanini e Juliana G. E. Degering (R4 e R2 da Santa Casa de São Paulo)
Corpo estranho impactado no esôfago distal
Diagnóstico
Corpo estranho impactado no esôfago distal.
Discussão
Na população adulta, as principais
causas são ingestão de ossos de animais
e grandes fragmentos alimentares mal
mastigados. Os ossos usualmente alojamse na faringe (cricofaringe), enquanto os
demais alimentos são mais propensos a
impactação na junção esôfago–gástrica.
A presença de anormalidades estruturais
ou funcionais do esôfago, como anéis,
espasmos ou segmentos estenóticos
podem propiciar a impactação.
Dor retroesternal de início súbito,
disfagia ou odinofagia constituem as
principais manifestações clinicas. Poste-
riormente, na persistência do processo
obstrutivo, náuseas, vômitos e distúrbios
hidroeletrolíticos poderão se desenvolver.
A perfuração esofágica é a complicação
mais grave, entretanto, ocorre em apenas
1% dos casos. Seu risco aumenta significativamente após 24 horas do início do
quadro, quando alterações inflamatórias
e isquêmicas desenvolvem-se no ponto
de contato entre o objeto e a parede
do órgão e, principalmente, quando se
acentuam os vômitos induzidos.
Dentre os exames complementares
destacam-se os estudos contrastados (bário) e a endoscopia digestiva
alta (EDA), sendo que esta também
constitui a intervenção terapêutica de
escolha. No caso apresentado a EDA
confirmou tratar-se de um volumoso
Caso 4
resíduo de carne e outros alimentos mal
mastigados, na junção esôfago-gástrica.
A retirada destes proporcionou alívio
imediato dos sintomas.
Pequenos fragmentos ósseos podem
representar um desafio diagnóstico.
Entretanto, algumas vezes podem ser
reconhecidos em radiografias simples ou
como falhas de enchimento na valécula,
seio piriforme ou região cricofaríngea,
em estudos contrastados. Ao contrário,
grandes fragmentos são facilmente
diagnosticados no esofagograma como
falhas de enchimento polipóides ou
irregulares associadas à formação de
menisco em suas bordas superiores, pelo
acúmulo do meio de contraste.
Múltiplas causas de estenoses esofágicas podem ser incluídas no diag-
nóstico diferencial, dentre as quais,
destaca-se o megaesôfago chagásico
e a dismotilidade na população adulta
jovem e os processos neoplásicos nos
idosos, ressaltando-se a importância
da história clínica e das informações
epidemiológicas.
Referências bibliográficas
1.Gore RM, Levine MS: Textbook of
gastrointestinal radiology. W.B. Saunders Company 28: 471-473, 1994.
2.Halpert RD: Gastrointestinal imaging.
Mosby/ Elsevier 1: 37-38, 2006.
3.Levine MS, Moolten DN, Herling
H, et al: Double- contrast upper
gastrointestinal examination: technique and interpretation. Raidioly 168:
593-602,1988.
Residente: Fabio Lewin. Caso cedido pelo Dr. Carlos Jorge da Silva
Exostoses dos canais auditivos externos
Diagnóstico
Exostoses dos canais auditivos
externos.
Discussão
A exostose do canal auditivo externo (CAE), também conhecida como
“orelha do surfista”, é definida como
uma proliferação óssea benigna nessa topografia. Acomete tipicamente
indivíduos jovens, prevalecendo em
pacientes do sexo masculino, com história crônica de exposição à água fria
(nadadores, mergulhadores, surfistas).
Cursa com déficit auditivo condutivo,
com sintomas de otite externa, tinitus
e otalgia. Como regra, acomete ambos
os CAEs, embora 80% dos pacientes
apresentem sintomas unilaterais. A
lesão tem morfologia e tamanho variado, podendo ser multilobular ou
circunferencial, sem acometimento dos
tecidos moles adjacentes. O sítio inicial
da lesão costuma ser a porção medial
do CAE ósseo, próximo ao ânulo timpânico. Esta é uma característica que
difere a exostose do osteoma do CAE,
que costuma localizar-se lateralmente
ao istmo do canal. Além disso, os
osteomas costumam ser unilaterais. A
TC demonstra uma expansão óssea de
base ampla nos CAEs, determinando
estenose dos mesmos, sem sinais de
agressividade. A RM não tem aplicação
para esse diagnóstico. Microscopica-
mente é bastante similar aos osteomas,
sendo que a correlação com os achados
de TC é importante para o diagnóstico
correto do patologista. Por se tratar de
um processo benigno, a exostose geralmente não necessita de tratamento.
Referência bibliográfica
1.Hansberger, H.R. Diagnostic Imaging Head and Neck. 2004, I-2,
pg 22-23.
Caderno 2
São Paulo | MARÇo | 2007
Caso 5
• H
istória
clínica
Feminina,
26 anos,
apresentando
severa disartria,
sialorréia
e quadro
distônico
grave.
Figura 1 – Axial T2 demonstrando típico acometimento do
mesencéfalo (“sinal da face do panda gigante”). Note ainda a atrofia
com hipersinal putaminal e talâmico bilateral (setas horizontais).
Figura 1 – Após 3 anos de tratamento observe o desaparecimento
do “sinal da face do panda gigante”.
Caso 6
• História clínica
Masculino, 51
anos, queixa-se
de que o meato
acústico externo
direito está
quase fechado,
dificultando a
higienização
da orelha, com
discreto déficit
auditivo condutivo
homolateral.
Figura 1
TC das mastóides.
Nas imagens
axial (A) e
coronal (C) da
mastóide direita,
observa-se
formação com
atenuação cálcica
pedunculada,
ovalada, na
porção lateral
do CAE ósseo,
determinando
estenose do
mesmo (setas).
Imagens nos
planos axial (B)
e coronal (D)
da mastóide
esquerda
normal.
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São Paulo | MARÇO | 2007
Caso 5
Caso cedido pelo Dr. Antônio Rocha
Doença de Wilson
Diagnóstico
Doença de Wilson.
Discussão
Também conhecida como degeneração hepatolenticular, esta condição
foi originalmente descrita por Kinnear Wilson em 1912. Trata-se de uma
desordem autossômica recessiva que
afeta o metabolismo do cobre, devido
a mutações no gene ATP7B, localizado
no cromossomo 13 (13q14.3). Associase deficiência da ceruloplasmina, proteína transportadora sérica do cobre, e
ocasiona a deposição anormal de cobre
em tecidos específicos, principalmente
fígado e cérebro (tipicamente o núcleo
lentiforme).
Usualmente tem expressão neurológica, contudo, a pesquisa de comprometimento hepático é mandatória e
quase invariavelmente presente. Nas
formas de início precoce, (infantil), a
expressão clínica é predominantemente hepática e o quadro neurológico
aparecerá por ocasião da puberdade
ou até mais tarde. Dentre os sintomas neurológicos típicos destacam-se
tremores, rigidez, distonia, incoordenação, dificuldade para movimentos
finos e disartria. Pode ocorrer uma
síndrome distônica com parkinsoniano
(rigidez plástica) e disartria. A presença
de crises convulsivas é um evento raro.
Raramente a doença manifesta-se pela
cirrose wilsoniana (“Wilson abdominal”). A doença do fígado pode levar
à piora do comprometimento neurológico pela encefalopatia hepática ou
porto-sistêmica.
O diagnóstico inclui a detecção de
baixos níveis séricos de ceruloplasmina e cobre, altos níveis de excreção
Caso 6
urinária de cobre e altos níveis de
cobre hepático. A presença do anel de
Kayser-Fleischer na córnea resulta da
deposição de cobre na membrana de
Descemet, é uma condição patognomônica da doença de Wilson.
Os estudos por imagem caracteristicamente demonstram comprometimento dos núcleos da base e a substância branca profunda, principalmente
putamens, caudados, globos pálidos,
núcleos denteados do cerebelo, ponte
e mesencéfalo. O acometimento do
mesencéfalo é tipicamente descrito
como “sinal da face de panda gigante”
onde se observa hipersinal do mesencéfalo, que poupa os núcleos rubros, a
porção lateral da pars reticulata e parte
dos colículos superiores. Há uma boa
correlação entre os exames de RM e os
achados neurológicos, ou seja, em indivíduos assintomáticos os exames usual-
mente resultam normais, naqueles com
manifestações neurológicas um achado
bastante consistente é a demonstração
de comprometimento putaminal e do
mesencéfalo. Um achado interessante
é o desaparecimento do “sinal da face
do panda gigante” que é demonstrado
naqueles indivíduos doentes em tratamento com D-penicilamina que é um
agente quelante que promove a troca
do cobre parenquimatoso por ferro.
Referências bibliográficas
1.King AD, Walshe JM, Kendall BE
Chinn RJ. Cranial MR imaging in
Wilson´s disease. Am J Roentgenol
1996;167:1579-1584.
2.Machado A, Chien HF, Degutti MM,
et al. Neurological manifestations
in Wilson’s disease: Report of 119
cases. Mov Disord 2006;21(12):
2192-2196.
Residente: Júlio César Almeida e Silva. Caso cedido pelo Dr. Carlos Jorge da Silva
Osteoma do canal auditivo externo
Diagnóstico
Osteoma do canal auditivo externo.
Discussão
O osteoma do canal auditivo externo
(CAE) é uma rara lesão óssea benigna,
pedunculada, sem sinais de agressividade, recoberta por tecidos moles
de aspecto preservado. Costuma ser
unilateral e é usualmente menor que
1,0 cm. Comumente situa-se na porção
lateral do segmento ósseo do CAE, ad-
jacente às suturas timpanoescamosa ou
timpanomastóidea, próximo à junção
dos segmentos ósseo e cartilaginoso
do canal. Os pacientes geralmente são
assintomáticos. Quando há associação
com colesteatomas, podem apresentar
otite média serosa. Quando grandes,
os pacientes podem apresentar déficit
auditivo condutivo. A TC é capaz de
demonstrar todas as características
acima mencionadas e a RM não tem
aplicação prática nesse contexto. O
principal diagnóstico diferencial é a
exostose do CAE. Entretanto, as exostoses usualmente são bilaterais, simétricas e múltiplas. Microscopicamente,
são bastante similares aos osteomas,
sendo que a correlação com os achados
de TC é importante para o diagnóstico
correto do patologista. O tratamento
dos osteomas pode ser conservador
ou cirúrgico e é definido pelo quadro
clinico. O tratamento conservador consiste em prevenir otites externas e perda
condutiva pelo acúmulo de epitélio descamado. O tratamento cirúrgico reserva-se aos pacientes com déficit auditivo
condutivo grave pela obstrução óssea
ou naqueles com otite externa grave.
Após a remoção cirúrgica completa, o
osteoma não apresenta recidiva.
Referência bibliográfica
1.Hansberger, H.R. Diagnostic Imaging Head and Neck. 2004, I-2,
pág 24-25.
Caderno 2
São Paulo | MARÇo | 2007
Caso 7
• História clínica
Paciente de
32 anos, sexo
feminino, com
história de trauma
(queda da própria
altura) há três anos
e queixa de dor na
região lombo-sacra
com irradiação para
a perna esquerda.
Solicitado RM das
articulações sacroilíacas.
Figura 1 – Radiografia de bacia na posição “out let” demonstra inúmeros
pequenos focos arredondados e escleróticos que tendem a bilateralidade,
esparsas pelo ilíaco, sacro e segmento proximal do fêmur.
Figura 2
– Ressonância
Magnética da
articulação sacroilíaca, com imagens
obtidas no plano
axial, ponderadas em
SE T1 (fig. 2a), FSE
T2 com supressão de
gordura (fig. 2b) e
FSE T1 com supressão
de gordura e póscontraste endovenoso
(fig. 2c). As imagens
demonstram
inúmeras áreas focais
arredondadas, ovais
e alongadas esparsas
pelo sacro e ilíaco,
hipointensas em
todas as seqüências,
sem realce após a
injeção endovenosa
do contraste
paramagnético.
Caso 8
• H
istória
clínica
Figura 1 – RM da região escapular, com
imagens nos planos axial e coronal,
ponderadas em SE T1 (fig. 1a e 1d),
FSE T2 com supressão de gordura
(fig.1b) e SE pós-contraste intravenoso
com supressão de gordura (fig1c).
As imagens demonstram formações
expansivas sólidas e heterogêneas na
região subescapular bilateral, entre o
músculo serrátil e o gradil costal. As
lesões mostram-se predominantemente
isointensas em relação à musculatura
adjacente nas seqüências ponderadas
em T1, com áreas hiperintensas lineares e
curvilíneas de permeio, hipointensas em
T2 com saturação de gordura, e exibem
realce heterogêneo pós-contraste.
Paciente do
sexo feminino,
67 anos, com
história de
tumoração
palpável
na região
subescapular
bilateral,
indolor e de
crescimento
lento nos
últimos meses.
Jornal da Imagem
São Paulo | MARÇO | 2007
Caso cedido pelos Drs. Sérgio Gondim e Abdalla Skaf
(Grupo de Radiologia Músculo-Esquelética do Fleury Centro de Medicina Diagnóstica, São Paulo)
Caso 7
Osteopoiquilose
Diagnóstico
Osteopoiquilose.
Discussão
Osteopoiquilose (osteopatia condensante disseminada ou doença do osso
manchado) é uma displasia óssea esclerótica, com transmissão autossômica
dominante, que acomete tanto homens
quanto mulheres. As manifestações clínicas são usualmente ausentes ou discretas, estando associada a lesões cutâneas
em 25% dos casos (dermatofibrose
lenticular disseminada, predisposição a
formação de quelóides e lesões escleroderma-like) e leve dores articulares em
15 a 20% dos casos, coexistindo ou não
a derrame articular. Existem ainda associações com disrafismo e estenose de
canal vertebral, bem como com outras
desordens ósseas esclerosantes, como a
osteopatia estriada e a melorreostose.
A patologia, as lesões da osteopoiquilose apresentam-se como focos ovais
ou arredondados de osso compacto,
encontrados preferencialmente nas epífise e metáfises de ossos longos, carpo,
tarso , pelve e escápula. Nas epífises dos
ossos longos estes focos raramente estão em contato com o osso subcondral,
enquanto nas metáfises podem estar
localizados excentricamente.
Ao estudo radiográfico, as lesões
apresentam-se como pequenas áreas
focais densas com distribuição simétrica, de formatos arredondados ou
ovaladas situadas preferencialmente nas
regiões periarticulares . Estas pequenas
Caso 8
ilhotas de tecido ósseo podem aumentar
ou diminuir de número ou dimensões
com o passar do tempo, ou mesmo até
desaparecer, especialmente em crianças e adolescentes. As características
de imagem na RM são semelhantes,
notando-se inúmeros focos de ilhota
óssea, hipointensos em todas as seqüências, esparsos pelos ossos, sem sinais
de edema ou processo inflamatório de
permeio e em geral não apresentam
realce na fase pós-contraste.
Os principais diagnósticos diferenciais são metástases osteoblásticas,
mastocitose e esclerose tuberosa. A
distribuição simétrica, o envolvimento
metaepifisário, uniformidade em tamanho e cintilografia normal sugerem
osteopoiquilose. Enquanto a assimetria,
envolvimento do esqueleto axial, variação das dimensões das lesões, destruição óssea e cintilografia positiva são
característicos de metástases. A mastocitose e a esclerose tuberosa não exibem
uma simetria, predileção metaepifisária
e focos uniformes, Benli tão bem definidos como a osteopoiquilose.
Referências bibliográficas
1.Resnick D.:Diagnosis of bone and joint
disoders/ Donald Resnick 3A ed.
2.Benli IT, Akalin S, Boysan E, et al: Epidemiological clinical and radiological
aspects of osteopoikilosis. J Bone joint
Surg [Br] 74:504,1992.
3.Lagier R, Mbakop A, Bigler A : Osteopoikilosis : A radiologicaland pathological study. Skel Radiol 11: 161; 1984.
Caso cedido pelos Drs. Dr Sérgio Gondim e Abdalla Skaf
(Grupo de Radiologia Músculo-esquelética do Fleury Centro de Medicina Diagnóstica, São Paulo)
Elastofibroma
Diagnóstico
Elastofibroma.
Discussão
O elastofibroma dorsal é um pseudotumor fibroso reativo/degenerativo
resultante de uma irritação mecânica
crônica, apesar de haver relatos de
predisposição genética. Consiste em
acúmulos de colágeno e de fibras elásticas, com fibroblastos, miofibroblastos
e células adiposas de permeio. É uma
lesão de crescimento lento situada mais
freqüentemente na região infra-escapular, profundamente ao serrátil anterior
e ao grande dorsal, podendo ser encontrado em outras localizações, incluindo
as regiões olecraneanas, tuberosidades
isquiáticas, adjacente ao grande trocânter ou no interior da parede torácica.
Há uma predileção pelo sexo feminino
(5-13:1), sendo mais freqüente em pacientes com mais de 55 anos e tendem
a bilateralidade (60%).
As lesões são freqüentemente assintomáticas, podendo em até 50% dos
casos estarem relacionadas a quadros
dolorosos leves, ressaltos e clicks na
região escapular, bem como massas
palpáveis. A aparência do elastofibroma à tomografia computadorizada
é característica. Nota-se um tecido
com densidade de partes moles mal
definido na região infra/subescapular,
ocasionalmente com estriações internas e áreas com atenuação gordurosa.
As lesões com menores dimensões
apresentam-se mais homogêneas em
comparação com lesões maiores.
Na RM nota-se uma massa levemente
heterogênea situada na região infra/
subescapular, com padrão fibroso e
adiposo associados, sendo usualmente
isointenso à musculatura adjacente tanto em T1 como em T2, exibindo áreas
hiperintensas lineares ou curvilíneas nas
seqüências ponderadas em T1. Após a
injeção intravenosa do contraste paramagnético as lesões exibem um realce
tipicamente heterogêneo. Não há relatos
de transformação maligna destas lesões
na literatura. Tendo em vista a localização das lesões, a idade do paciente na
apresentação e as características de sinal
do elastofibroma, um diagnóstico prospectivo pelas imagens de RM pode ser
feito com um alto grau de confiança.
Referências bibliográficas
1.Branser EA, Goree JC,El-Khoury
GY.Elastofibroma dorsi: prevalence
in elderly pacientspopulationas reveald
by CT. AJR AM J Roentgenol 1998;
171:977=980.
2.Jennifer E. Ochsner, MD, Sarah A.
Sewall, MD, Gregory N. Brooks, MD,
and Rasshmi Agni,MD.Radiographics
2006;26:1873-1876.
3.PhilipA. Dinauer, MD, Clark J. Brixey,
MD, Joel T. Mancur, MD, Julie C. Fanburg-Smith, MD, and Mark D. Murphy,
MD.Radiogrphics 2007; 27:173-187.

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