Fevereiro - Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE

Transcrição

Fevereiro - Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, EPE
ISSN 1645-9032
Número 15
APRESENTAÇÃO DO SERVIÇO:
Medicina Física
e de Reabilitação
l
15 de Fevereiro de 2005
SUPLEMENTO:
l
Mensal
Arte na Urgência
ENFERMAGEM:
Tratado de Bolonha
e suas Propostas
Novos Protocolos
celebrados pelo HSFX
À semelhança do que tem vindo
alunos daquela Escola, em ambiente
a ser feito nesta casa, o Hospital de
de trabalho de Farmácia Hospitalar,
São Francisco Xavier (HSFX) celebrou
durante o ano lectivo de 2004/2005.
recentemente novos protocolos com
Enquanto que com a Escola
diferentes instituições. As entidades
Superior de Tecnologia e Saúde de
envolvidas foram a Santa Casa da
Lisboa celebrou-se um acordo para a
Misericórdia de Oeiras, a Egas Moniz
realização, durante o ano lectivo de
- Cooperativa de Ensino, CRL, e a Escola
2004/2005, de dois turnos de estágios
Superior de Tecnologia e Saúde de
profissionais de alunos de Dietética.
Lisboa.
O Protocolo com a Santa
Casa da Misericórdia de Oeiras,
celebrado a 7 de Janeiro deste
ano, teve como finalidade a
cedência de 12 camas para
internamento hospitalar, de
doentes provenientes da área
de Medicina do HSFX.
No que diz respeito à
Egas Moniz - Cooperativa de
Ensino, CRL, efectuou-se um
acordo específico adicional
ao Protocolo anteriormente
celebrado, para a realização
de três turnos de estágio de
A Ponte
ficha técnica
2
Propriedade Hospital
de São Francisco Xavier, S.A.,
Estrada do Forte do Alto
do Duque, 1449 - 005,
Lisboa Codex
Telefone: 21 300 03 00
Telefax 21 301 75 33
Director António Teixeira
Edição Nuno Miguel Mota
Redacção Isabel Marcus, Isabel
Teodoro e Thereza Vasconcellos
Capa Luís Campos
Fotografia
Thereza Vasconcellos,
Nuno Miguel Mota
Distribuição Serviços Gerais
Concepção Gráfica Paulo Reis
Impressão Grafivedras – Torres Vedras
Tiragem 2 000 exemplares
ISSN 1645-9032
Distribuição gratuita
Depósito Legal 207196/04
SITE www.hsfx.pt
O HSFX, S.A., tem
preocupações ambientais:
esta publicação é impressa
em papel reciclado
editorial
Dr. António Teixeira
Director de “A Ponte”
A Ponte
Quando se iniciou a publicação do jornal do nosso hospital, fizemo-lo de forma
cautelosa sabendo, antecipadamente, que não seria tarefa fácil chegar todos os meses
a “casa” dos nossos leitores. Éramos poucos mas era grande a motivação e, por isso,
pusemos mãos-à-obra.
A Ponte começou com oito páginas e assim se manteve até ao número do primeiro
aniversário. A partir de então as colaborações recebidas permitiram-nos passar para as
doze páginas. Assumimos agora o compromisso de manter o novo formato. É mais um
passo e um desafio que, estamos certos, será vencido. Esperamos poder continuar com
as indispensáveis colaborações, que não estão limitadas a trabalhadores do Hospital.
A divulgação dos Serviços do Hospital é retomada neste número. Desta vez com a
colaboração do Director do Serviço de Medicina Física e de Reabilitação, Dr. Fernando
Pinheiro. Da sua leitura não só se fica a conhecer mais um serviço do Hospital, mas
também o que se espera do seu desenvolvimento futuro, para melhor atendermos os
nossos utentes.
Trata-se de um relevante serviço para os nossos utentes e que, a breve prazo, ganhará
maior relevo com o alargamento da sua actividade, proporcionado pela disponibilidade
do novo e excelente edifício, a partir do primeiro semestre do corrente ano.
No Hospital de São Francisco Xavier o dia-a-dia é feito de momentos de dor mas também
de esperança e alegria. A humanização dos espaços procura minorar o sofrimento dos
doentes e tornar mais agradáveis os locais de permanência e de trabalho.
Com esta edição damos a conhecer, aos nossos leitores, um suplemento alusivo à iniciativa de tornar o Serviço de Urgência num “espaço” mais acolhedor, através da exposição
(nas suas paredes) de quadros de diversos autores. Como refere o Director do Serviço, as
questões do ambiente podem fazer a diferença. A Urgência do HSFX está diferente graças
à colaboração dos autores das obras expostas que, pela disponibilidade demonstrada,
contribuem para que o Serviço se torne mais humanizado, mais bonito e mais agradável
para os doentes e profissionais, merecendo aqui uma palavra de gratidão.
Na sociedade global, a melhoria de conhecimentos assume especial relevo e tem
merecido especial atenção nas iniciativas promovidas no âmbito da UE, designadamente
no domínio da formação profissional.
No dia 17 de Janeiro, profissionais de enfermagem do Hospital participaram num
encontro dobre a Declaração de Bolonha, promovido pela Ordem dos Enfermeiros.
Procurando que as reflexões apresentadas naquele encontro, em torno da reestruturação do Curso Superior de Enfermagem, cheguem ao conhecimento do maior número
de profissionais e leitores interessados, damo-las a conhecer com a colaboração da
Enfermeira Clara Carvalho.
Os almoços do Conselho de Administração com trabalhadores têm prosseguido quinzenalmente. Apesar de nem sempre os trabalhadores sorteados poderem participar por razões de
trabalho e/ou da sua vida particular. Como refere a Enfermeira Ana Paula Real, tais “almoços”
não deixam de ser “conversas inacabadas”. Os seus “aplausos” e os seus “reparos” aqui ficam.
Cabe aos participantes avaliar do seu interesse. Julgamos que tem valido a pena. Estamos
de acordo de que o tempo não permite que as conversas sejam acabadas.
O melhor reconhecimento da dedicação e profissionalismo dos trabalhadores do Hospital
são os testemunhos que, quase diariamente, são dirigidos à Instituição. É disso exemplo
a mensagem que com gosto publicamos nas Cartas ao Hospital.
3
Medicina Física e de Reabilitação
Crescer para
melhor servir
O
Serviço de Medicina
Sales Luís e a Prof. Ana
Física e de ReabiAleixo, nunca foi possível
litação foi um dos
obter esse espaço.
últimos Serviços
A criação do Serviço é,
de Acção Médica a serem
portanto, o culminar de uma
criados no Hospital de São
luta que se vinha desenvolFrancisco Xavier (HSFX). O
vendo desde a abertura do
seu aparecimento resulta FERNANDO PINHEIRO Hospital, há 17 anos.
do Regulamento Interno
O facto de não dispormos
Director do Serviço
de Medicina Física
aprovado na sequência da
de área física para tratae Reabilitação
transformação do Hospital
mento de doentes fez com
em Sociedade Anónima.
que ao longo dos anos nos
Quando foi criado, não estava sequer tenhamos dedicado ao tratamento do
prevista a existência de Medicina Física doente internado. Temos hoje, relae de Reabilitação, e a nossa entrada tivamente a essa assistência, uma
ocorreu após negociação do Prof. experiência, uma organização e uma
Sales Luís com a Faculdade de Ciências qualidade que não tem seguramente
Médicas.
paralelo em qualquer outro Hospital.
Rapidamente todos os Serviços de
Prestamos assistência desde o ano
Internamento se aperceberam da indis- de 1989, durante os fins-de-semana e
pensabilidade da área de Reabilitação feriados, aos doentes mais urgentes.
no Hospital e da necessidade da atri- Fomos provavelmente o primeiro dos
buição de um espaço para tratamento hospitais portugueses a programar
dos doentes. Apesar dessa consciência este tipo de assistência.
e do apoio efectivo dos sucessivos
A precocidade da resposta às soliConselhos de Administração, de que citações dos diversos Serviços é uma
destaco o Dr. Carlos Santos, o Prof. das pedras de toque da nossa actuação.
A Ponte
ACTOS TERAPÊUTICOS
4
Evolução da prestação de Actos Terapêuticos
Mais de 99% dos pedidos são atendidos
nas primeiras 24 horas após o pedido.
Este é um Indicador de Qualidade que
consideramos de grande importância
e, provavelmente, ainda somos o único
hospital com esta capacidade.
Ao longo dos anos crescemos,
quer em número de Técnicos, quer
de Médicos, tendo-se chegado ao
momento actual com 10 Fisioterapeutas
e 4 Médicos Fisiatras. Dispomos de uma
Secretária Administrativa em tempo
parcial. Por outro lado, não dispomos
ainda de Terapeutas Ocupacionais e de
Terapeutas da Fala, pelo que a nossa
actuação está amputada de áreas
essenciais à obtenção de cuidados
verdadeiramente diferenciados.
Com a dispersão geográfica das
camas do Serviço de Medicina (CLISA,
HOJA, Hospital Militar de Belém e
antiga Maternidade de Oeiras) foi sendo
necessário adaptarmo-nos a novas
necessidades, com apoio a essas novas
enfermarias. A assistência a doentes
internados em locais tão diversos, e
geograficamente tão distantes, só
“Mais de 99% dos
pedidos são atendidos
nas primeiras 24 horas”
A Consulta de Pé é uma consulta
de carácter geral, mas especialmente
vocacionada para o Pé Diabético.
Nessa vertente é única na nossa
área. No nosso País, neste momento,
apenas existem consultas similares
nos Hospitais Garcia de Orta, em
Almada, e de Santo António, no
Porto. Há ainda uma Consulta de Pé
Diabético na Associação dos Diabéticos de Portugal. É uma consulta de
grande diferenciação, complementada
com realização de Podometria Computorizada. A sua visibilidade aumentará
consideravelmente com a mudança
para o novo edifício.
A Consulta de Mesoterapia iniciou-se em Dezembro de 2003, e tem
grande potencial de crescimento,
podendo contribuir decisivamente
para a eliminação de listas de espera
para tratamentos ambulatórios de
Medicina Física e de Reabilitação.
Para isso é necessário, junto dos
Centros de Saúde, promover a sua
divulgação. Contamos, nesse sentido,
com o desenvolvimento do Plano de
Acção elaborado para o Ambulatório
do Hospital.
O serviço é ainda responsável pela
atribuição de Ajudas Técnicas aos
doentes que acorrem ao Hospital.
Temos disposto de uma verba,
atribuída anualmente pelo Secretariado Nacional de Reabilitação, que
utilizamos criteriosamente e nos tem
permitido ser dos Hospitais, a nível
nacional, que melhor respondem às
necessidades dos doentes, quer em
diversidade da atribuição de Ajudas
Técnicas, quer da rapidez com que
a atribuição é concretizada. Somos,
por exemplo, o único Hospital que
disponibiliza gratuitamente próteses
mamárias e o respectivo soutien a
doentes mastectomizadas; e, quando
necessário, a prótese capilar a doentes
submetidos a tratamentos de quimioterapia. Conseguimos que essa ajuda
seja disponibilizada no próprio dia.
É uma situação ímpar no País e é um
A Ponte
tem sido possível com uma enorme
capacidade de adaptação, tanto dos
Médicos, como dos Técnicos, que
sempre demonstraram uma disponibilidade permanente e total dedicação.
São, sem dúvida, credores do respeito
e admiração de todo o Hospital.
O número de Actos Terapêuticos efectuados pelos Técnicos do Serviço tem
evoluído de acordo com o Quadro de
Técnicos atribuídos ao Serviço, embora
sempre acima do que lhes seria naturalmente exigido. Só pelo sentido profissional, quer de Médicos, quer de Técnicos,
é muito rara a existência de Lista de
Espera para início de tratamento.
Apesar de a frequência das Consultas
estar dependente de pedidos do
interior do próprio Hospital, sem
acesso do exterior, tivemos a preocupação de criar, para cada Médico,
um período de Consulta Externa.
Apareceram assim sucessivamente
as Consultas de Ajudas Técnicas,
Perturbações do Desenvolvimento
e Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Apenas quando criámos as Consultas
de Pé e de Mesoterapia, já abertas
directamente aos Centros de Saúde,
o volume de Consultas passou a ter
algum significado.
5
CRESCER PARA MELHOR SERVIR
bom indicador do respeito que nos
merecem os utentes que acorrem ao
nosso Serviço.
Formação e Investigação
Científica
A Formação e a Investigação Científica são duas áreas essenciais em
qualquer Serviço de Acção Médica.
Uma e outra contribuem decisivamente para a manutenção e o desen-
Vamos candidatar-nos à atribuição
de idoneidade formativa, na área da
Medicina Física e de Reabilitação,
de modo a podermos usufruir do
dinamismo que o Internato Complementar sempre provoca.
Desenvolvimento e planos
para o Futuro
O futuro do Serviço está, mais do
que o de qualquer outro, dependente
da instalação no novo edifício. É nele
que, finalmente, existe uma área espe-
CONSULTAS
A Ponte
Evolução do número de Consultas Externas
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volvimento da qualidade dos Serviços,
sobretudo num Hospital Central que
deseja ser considerado no top qualitativo dos Hospitais Portugueses.
Desenvolvemos trabalhos importantes na área dos AVC’s. Dispomos
hoje de uma base de dados que é
uma das maiores e mais completas
existentes em Portugal. O manancial
de informação de que dispõe é uma
garantia da qualidade e diversidade da
investigação que possibilitará.
Dispomos ainda na Biblioteca do
Hospital de diversas publicações
relacionadas com as diversas áreas
profissionais que integram o Serviço,
cujo enriquecimento deverá continuar
a ser estimulado.
Vamos continuar a colaborar
activamente com as Escolas Superiores
de Tecnologias da Saúde, oferecendo
a possibilidade aos seus alunos de
realizarem Estágios de Formação no
nosso Serviço.
cífica para tratamento de doentes.
A Rede de Referenciação Hospitalar,
aprovada em 2002 pela Direcção Geral
da Saúde, veio definir a situação dos
Serviços de Medicina Física e de Reabilitação no País.
Nessa Rede o nosso Serviço é um
dos 13 que, a nível nacional, são
classificados na Plataforma A, correspondendo à plataforma diferenciada
do diagnóstico e do tratamento de
Medicina Física e de Reabilitação.
Esse facto veio criar novas responsabilidades, de que realçamos:
1. A obrigatoriedade de dispormos
de Internamento próprio de Medicina
Física e de Reabilitação.
2. A área mínima do Serviço de 1000
m2.
3. O redimensionamento dos Recursos
Humanos disponíveis.
Pensamos que a classificação do
Serviço de Medicina Física e de Reabilitação na Plataforma A é prestigiante e
importante para o Hospital. No entanto,
é necessário assegurar as condições
exigidas para justificar essa classificação, não só a nível das condições já
referidas, mas também quanto à organização funcional, que o documento
também clarifica. Nesse sentido, o
apoio empenhado do Conselho de
Administração tem sido permanente.
Para continuarmos a evoluir necessitamos de fazer “crescer” a nossa
organização interna. É essa a nossa
aposta actual.
Tendo em vista esse
desenvolvimento, no 2º
semestre de 2004, foi
realizado, pelo Gabinete de
Planeamento e Informação
de Gestão, um estudo de
viabilidade económica,
para decisão do modelo
de desenvolvimento do
Serviço. O estudo prevê a
criação de uma Unidade de
Internamento de Medicina
Física e de Reabilitação com
17 camas e o desenvolvimento do Ambulatório com
incremento da Consulta
Externa, e espaço existente no novo
edifício para tratamento de cerca de
200 doentes por dia. O Projecto foi
aprovado pelo o Conselho de Administração, em Outubro de 2004.
O modelo previsto vai contribuir
decisivamente para transformar o
Serviço de Medicina Física e de Reabilitação do Hospital num dos principais
Serviços da Especialidade em Portugal.
Primeiro, porque vai disponibilizar 17
camas de Internamento, área em que
o país está extremamente carenciado
(existem 279 e deveriam existir cerca
de 2000 camas), e em particular a
região da Grande Lisboa, onde o
SNS dispõe apenas de 20 camas de
Medicina Física e de Reabilitação.
Segundo, porque estão previstos para
o Ambulatório do Serviço projectos de
grande importância, alguns mesmo
originais em Portugal, como sejam
apoio aos Centros de Saúde, com
deslocação de um Médico Fisiatra aos
Centros para consultoria em algumas
patologias como AVC, Reumatismos
Degenerativos e Patologia Respiratória; Hospital de Dia do Doente com
sequelas de AVC; Clínica do Idoso e
Clínica do doente com AVC; e Unidade
de Dor Vertebral não Traumática.
Ao lado destes projectos estão
previstos outros que, não sendo
originais, são igualmente importantes,
como o Desenvolvimento da Consulta
Integrada de Pé Diabético (em articulação com os Serviços de Medicina e
de Cirurgia) ou a Implementação da
Reabilitação Cardíaca (Fase II).
Toda a actividade vai exigir, de
acordo com o Projecto, uma produtividade muito elevada, que será
obtida com um número de Médicos
e de Técnicos bem inferior aos rácios
dos restantes Hospitais do SNS. Este
é o nosso compromisso.
No apoio ao
Internamento temos
uma experiência,
organização e qualidade
que não têm paralelo
em outro Hospital
Além disso, a oferta de tratamento
ambulatório a cerca de 200 doentes
por dia vai, pela qualidade elevada
que a nós próprios vamos exigir,
influenciar o nível do atendimento
das Unidades Convencionadas da
nossa área geográfica. Pretendemos
tornar-nos Padrão de Qualidade desse
atendimento.
Vamos, naturalmente, continuar a
assegurar a assistência aos doentes
internados nos moldes actuais,
assegurar o tratamento ambulatório dos doentes provenientes dos
Serviços de Internamento e das
Consultas Externas do Hospital e
dar resposta, na medida em que a
dimensão do Serviço o permita, às
solicitações de tratamento ambulatório a doentes provenientes dos
Centros de Saúde.
Propomo-nos adoptar medidas
que possibilitem aumentar o atendimento a utentes dos subsistemas
(não-ARS) para lá dos habituais
20%. Para isso contamos com
algumas das propostas referidas
para o Ambulatório.
Com este foco VAMOS construir um
Serviço que, no futuro, seja a referência dos Serviços de Reabilitação.
Professor Sales Luís
Agradecimento a um Amigo
raízes. Construímos vários projectos de Cuidados Continuados
e todos acabaram por ficar no papel. Curiosamente, alguns
anos mais tarde, a Administração Regional de Saúde de Lisboa
e Vale do Tejo, implementou um projecto muito semelhante
aos nossos.
Construímos finalmente um bonito projecto de Doutoramento que, por falta de condições de exequibilidade (sempre
o dinheiro), nunca conseguiu passar disso mesmo – de um
projecto.
Quando com honestidade e clareza lhe pedi independência,
foi com total abertura e empenho que compreendeu as minhas
ambições e abriu o caminho que levaria, mais tarde, à criação
do Serviço de Medicina Física e de Reabilitação.
Claro que nem sempre estivemos de acordo. No entanto,
até essas situações foram enriquecedoras, porque sempre
assumidas com frontalidade.
Com o Professor Sales Luís ganhei um enorme capital de
que me venho servindo ao longo dos anos. Ganhei os ensinamentos permanentes, a imagem de grande perseverança,
o amigo respeitado, o sempre conciliador, continuamente em
busca de consensos, odiando as roturas desnecessárias.
Obrigado PROFESSOR.
FERNANDO PINHEIRO
Director do Serviço de Medicina Física e Reabilitação
A Ponte
Quando iniciei funções no Hospital de São Francisco Xavier,
em 1987, o Professor Sales Luís era o Director do Serviço
de Medicina Interna e, simultaneamente, o Director da
Urgência.
Eu era um simples Assistente Eventual.
Não o conhecia pessoalmente, mas a simples menção do
seu nome já me impunha respeito. Era o Mestre, o dono da
verdade, distante e intocável.
Lembro-me perfeitamente da recepção que me dispensou e
que me mostrou como a imagem estava distante da realidade.
Acompanhou-me numa visita guiada ao Hospital e de seguida
integrou-me no seu Serviço.
Fiquei na dependência funcional do Serviço de Medicina e
passámos a ter uma relação muito próxima. Foi um relacionamento sempre fácil, baseado na verdade e na lealdade,
com respeito mútuo e que veio a transformar-se numa
amizade crescentemente mais forte. O Professor Sales
Luís foi sempre o apoio de que tantas vezes necessitei e a
fonte de estabilidade que me permitiu ir progressivamente
estruturando e organizando o “Meu Serviço”.
Juntos construímos muitos castelos, uns com pés para
andar, outros... nem tanto. Mas também isso acaba por
preencher a nossa vida.
Construímos vários projectos de Serviço. Construímos um
Núcleo de Estudos da Doença Cérebro-vascular, que ganhou
7
Tratado de Bolonha
Novas Propostas para
A Ponte
E
8
ste artigo surge no
físico, mental e social de um
seguimento de um
indivíduo, de uma pessoa?
encontro promovido
Para ela própria e para os
pela Ordem dos
enfermeiros? E o que fica
Enfermeiros, cujo tema
para ambos?
incidia sobre a Declaração
Aliada a esta complexide Bolonha e Formação
dade, todos sabemos que os
em Enfermagem. O evento,
contextos emergentes das
CLARA CARVALHO
aberto à comunidade dos
sociedades plurais colocam
Enfermeira
enfermeiros, decorreu no
novos desafios em matéria de
Auditório do Hospital Júlio de Matos
Saúde e há muito que esta deixou de
em Lisboa, no dia 17 de Janeiro.
ser a ausência de doença, abrangendo
Na mesa, foram apresentadas duas
não só o domínio físico, como o social,
propostas de estruturação do Curso
cultural, espiritual, etc. Neste sentido,
Superior de Enfermagem – uma pela
emergem como “novas patologias” os
Ordem dos Enfermeiros e outra pelo
problemas relacionados com estilos de
Conselho Coordenador dos Institutos
vida, com a mudança no cenário dos
Superiores Politécnicos (CCISP).
cuidados em que a pessoa é agente de
Sugerimos, como fio condutor,
decisão, com a competência colectiva
uma introdução conceptual da Enferdas equipas de saúde (cada vez mais
magem e uma breve alusão à história
alargadas), os desafios da sociedade
da Declaração de Bolonha, também
de informação e o eco da globalização
designado por Processo de Bolonha,
bem como a alocação justa de recursos,
e seus objectivos principais para a
apenas para enumerar alguns.
área da formação. Posteriormente,
Conscientes desta real conjectura,
de forma sucinta, destacar-se-ão as
os enfermeiros, enquanto comunidade
propostas apresentadas pelos dois
profissional e científica, assumem
intervenientes, não sendo nossa
que o desafio da qualidade em Saúde
intenção avaliar qualquer uma
passa pela formação, nas suas diversas
delas. Por fim, deixamos em aberto
vertentes, formação esta “que permite
algumas questões que sirvam de
a assunção das mais elevadas responsamote à reflexão, para que possamos,
bilidades nas áreas da concepção, orgaem conjunto, abordar esta mesma
nização e prestação dos cuidados de
temática no âmbito de uma sessão
saúde proporcionados à população”.
clínica de enfermagem.
Atendendo a que a formação inicial é
A Organização Mundial de Saúde
uma fase crucial de todo este processo,
indica que a “missão primordial do
enfermeiro na sociedade é de ajudar os
indivíduos, famílias e grupos a determinarem e a alcançarem o seu potencial no
“O Processo de Bolonha
campo físico, mental e social, fazendo-o
visa a construção
no contexto do meio em que vivem e
trabalham”. Se tentássemos desmontar
de um espaço europeu
esta definição, deparar-nos-íamos com
problemas complexos (e não complicompetitivo e atractivo
cados!) sobretudo no que diz respeito
ao significado do conteúdo. A título de
para docentes e alunos”
exemplo, o que representa o potencial
a Enfermagem como área de conhecimento, está envolvida na discussão
do Processo de Bolonha integrando
um Grupo de Coordenação, designado
pela Sra. Ministra da Ciência, Inovação
e Ensino Superior, tendo a Ordem dos
Enfermeiros, por exigência estatutária,
emitido também o seu parecer.
Embora Portugal não tenha operacionalizado o Processo, ou seja,
as universidades pautam ainda o
ensino pela metodologia que vinham
aplicando, não significa que a comunidade científica não acerte o compasso
no sentido de uma reforma do ensino
superior consentânea com Bolonha.
Num trabalho intitulado “A Educação
encerra um tesouro”, Jacques Delors
afirmava que as novas tecnologias
produziam uma verdadeira revolução
que afectava tanto as actividades relacionadas com a produção e o trabalho,
como as actividades ligadas à educação
e à formação. Outra característica
enunciada, com a qual também lidamos
diariamente, é que os conhecimentos
adquiridos na etapa de formação inicial,
têm um período de caducidade. Logo,
a necessidade de uma actualização
constante e a mobilização de todas as
áreas do saber.
É neste contexto que surge o desafio
lançado pelo designado Processo de
Bolonha, que corresponde ao propósito
da construção do espaço europeu do
ensino superior, competitivo e atractivo
para docentes e alunos europeus e de
países terceiros, visando a construção
dum espaço que promova a mobilidade
de docentes, de estudantes e a empregabilidade de diplomados.
As suas linhas de acção apontam, ainda segundo a mesma
fonte, para o seguinte:
1. Adopção dum sistema de graus
comparável e legível;
2. Adopção dum sistema de ensino
superior fundamentalmente baseado
em dois ciclos;
3. Estabelecimento de um sistema de
créditos;
4. Promoção da mobilidade;
5. Promoção da cooperação europeia no
domínio da avaliação da qualidade;
6. Promoção da dimensão europeia
no ensino superior;
7. Promoção da aprendizagem ao
longo da vida;
8. Maior envolvimento dos estudantes
na gestão das Instituições de ensino
superior;
As propostas aventadas do
primeiro grupo foram as
seguintes:
1. A formação de enfermagem ser
assente em dois ciclos de formação. O
primeiro com a duração de 8 semestres
e o segundo com a duração de 4
semestres:
• Cursos pós-graduados de especialização não conferentes de grau
académico, com a duração de 2 ou 3
semestres;
• Cursos pós-graduados de especialização com trabalho de investigação
9. Promoção da atractibilidade do
espaço europeu do ensino superior.
Depreende-se, portanto, que o
conhecimento é uma construção e
não uma aprendizagem. Consonante
com esta máxima, a Enfermagem tem
desenvolvido um trabalho acompanhando o Processo de Bolonha. E foi
o que aconteceu no dia 17 de Janeiro,
aquando da realização de um acção
de reflexão e de debate em conjunto
com os representantes do CCISP para
a área de Enfermagem e a Ordem dos
Enfermeiros.
(mestrado profissionalizante), de 4
semestres;
• Cursos de mestrado em Enfermagem
(4 semestres)
2. Os níveis de exigência de acesso ao
segundo ciclo passam pela conclusão
do primeiro ciclo de formação e dois
anos de prática profissional.
3. O nível de exigência para doutoramento é o mestrado.
A Ordem dos Enfermeiros recomenda
a formação inicial em Enfermagem de
um só ciclo para acesso ao exercício da
profissão. O ciclo propõe-se ser longo e
com a duração de 5 anos, e o último ano
de formação inicial corresponder a um
estágio curricular e profissionalizante.
Este estágio permitirá o desenvolvimento das competências adquiridas, o
que pressupõe o desenvolvimento de
actividade profissional tutelada, com
a necessária autorização por parte da
Ordem dos Enfermeiros.
Como apresentado no início, não é
nossa intenção avaliar qualquer uma
das propostas. Antes, levantar algumas
questões que, por certo, todos vamos
fazendo e a todos diz respeito:
1. A crer na proposta do CCISP, como
ficará salvaguardada a autonomia da
profissão?
2. Que estrutura contribuirá para os
cursos pós-graduados?
Os locais onde se desenvolvem os
ensinos clínicos? Quem fará a tutoria
dos respectivos cursos? As escolas?
Ambos, em modelo de parceria ou sob
forma de outro modelo?
3. Numa fase de carência de enfermeiros,
em que é emergente a assumpção dos
cuidados de enfermagem serem apenas
prestados por enfermeiros, estaremos
disponíveis para alongar o tempo do
curso de base, conforme propõe a
Ordem?
4. Podendo a acreditação de um curso
ser académica ou profissional, quem
faz essa mesma acreditação?
5. Que subsídios propõem Bolonha e
os organismos oficiais para a regulamentação do ensino de enfermagem,
quando surgem, a cada dia que passa,
novos estabelecimentos a ministrar o
Curso Superior de Enfermagem?
Estas são, por ventura, algumas
questões com as quais nos deparamos
e que carecem de resposta. Numa
postura de responsabilidade, a todos
pertence a reflexão e o contributo
perante o compromisso para com a
profissão. Este artigo é um pequeno
ensaio disso mesmo.
A Ponte
Formação Académica
9
“Gente que cuida de gente”
Conversas
inacabadas com...
o Conselho de Administração
Esta é uma conversa que responde a uma sugestão dos nossos gestores para “escrever
uma coisinha” para o nosso jornal, e à qual dei este título sugestionada pelo livro que lia
no momento, “Conversas Inacabadas com Deus”.
A Ponte
E
10
m Outubro passado fui convidada para
amigos e colegas e decidimos que eu seria o
um almoço com três elementos do
vector de transporte da mensagem que queria
Conselho de Administração, almoço
fazer passar aos nossos gestores – a falta de
esse que se enquadra na abertura
aproximação entre gestores e colaboradores,
de espaços informais de convívio com os
incluindo nestes últimos os prestadores de
colaboradores da empresa e os actores da
cuidados.
gestão/administração do nosso hospital.
Tornava-se para mim imperioso saber/conhecer
Aceitei de bom grado o convite, primeirae
intervir
no contexto da vida profissional, já que
ANA PAULA REAL
mente porque sou naif no acreditar dos objecse
assim
não
for podemos correr o risco de nos
Enfermeira
tivos que sustentam estas intenções, depois
rotinizarmos às tarefas que nos foram confiadas,
porque também eu, quero participar activamente na
sem nos tornarmos seres reflexivos e participantes do
Vida desta instituição e, acima de tudo, quero conhecer
processo de mudança.
quem são “os nossos governantes”.
O almoço começou lento, em clima ameno, sem
Tenho um papel privilegiado nesta organização,
sobressaltos, gargalhadas estridentes ou devaneios
já que sou um dos prestadores directos de cuidados
gastronómicos; os anfitriões aproximaram-se do discurso
de saúde e orgulho-me de pertencer ao grupo dos
de cada um dos convivas, no entanto o tema Hospital
profissionais que mais directamente se relacionam
parecia distante e de difícil abordagem. A dado momento
quer com o cliente, quer com a população em geral
alguém pergunta “Meus senhores, permitam-me que
– sou enfermeira.
vos coloque uma questão: É fácil gerir um hospital?”.
Não transportei comigo a mala de cartão, até porque
Quebra-se o gelo e os nossos gestores iniciaram um
ainda que partisse com pouca bagagem
discurso que na verdade, de alguma
sobre gestão/organização da empresa,
forma, me preencheu... A vida da
sabia que a missão estava confinada a duas
instituição atravessa uma fase de
escassas horas de “prazer prandial”, e onde
grandes mudanças, ou melhor dizendo,
“É urgente que
as intenções dos organizadores poder-sea saúde vagueia por mares nunca
-iam dissipar por entre risos tímidos ou os nossos gestores
antes navegados, e os gestores e os
eructações escabrosas de algum conviva
colaboradores desta empresa
pouco habituado a estas lides...
arriscam-se a não chegar a bom porto
‘cuidem’ de nós”
Na véspera fiz uma reflexão aprofun(mas isso só o poderemos saber daqui
dada sobre o hospital, reuni com a família,
a algum tempo...).
Na verdade os nossos gestores, ainda que não
querendo imiscuir-se por assuntos tão sensíveis,
revelaram algumas das dificuldades sentidas na operacionalização da “missão” de informar; canais de informação distorcidos pela rotatividade dos profissionais
ao longo das 24 horas; falta de espaços para informar,
para além dos formais; desconhecimento da organização do Hospital. Faltou, acima de tudo, “espaço”
para dialogar sobre questões que se prendem com os
problemas reais que cada um dos grupos profissionais ali representados (auxiliares de acção médica,
enfermeiros e representante da igreja católica) vive
diariamente, o que me parece pouco motivador para
os participantes.
Fui assim testemunha de uma tentativa de aproximação aos colaboradores, que permite, talvez,
conhecer o sentir daqueles que Cuidam. No entanto,
como estamos pouco habituados à participação em
Plano de Contingência
Mais camas
hospitalares
Continuamos a assistir a uma afluência aos serviços
hospitalares que exige medidas de excepção. Tal como
em anos anteriores, esperava-se um aumento do número
de doentes no Inverno, mas não por período de tempo
tão prolongado. No nosso hospital, as três primeiras
semanas de Fevereiro registam um aumento médio
diário de 30%, no número de doentes internados. O
“A saúde vagueia por mares
nunca antes navegados”
maior número de doentes é de pessoas de idade mais
avançada e, consequentemente, de mais difícil recuperação, o que não surpreende face ao envelhecimento
da população. Para minorar os inconvenientes que a
actividades desta índole, este “almoço de trabalho”
pautou-se por algum distanciamento entre os
diferentes intervenientes, e sobretudo pelo pouco à
vontade da “Conversa” entre convivas.
Pena é que estes espaços sejam tão reduzidos
(custem dinheiro a todos nós), estejam limitados a
um restrito número de convidados e que deles não
conheçamos as “reflexões” que a administração deles
retira... Creio que todos gostaríamos de conhecer
o que sentem os gestores do nosso hospital ao
“Cuidarem” desta instituição, quais as suas maiores
preocupações, se os objectivos preconizados pelos
governo estão a ser atingidos, e já agora se estes
almoços-convívio respondem ao propósito a que se
propõem (já que é disso que estamos a falar).
Não gostaria de terminar esta “nossa” conversa sem
deixar duas questões que se prendem com algumas
preocupações de todos nós, prestadores de cuidados
de saúde: O utente tem vindo a ser beneficiado em
todo este processo de mudança? Caminhamos num
trilho em que a melhoria da qualidade dos cuidados,
serve de pano de fundo a todo o nosso trabalho?
A filosofia que serve de matriz para a Enfermagem,
de Wanda Horta, “gente que cuida de gente”, talvez
possa ser alargada a todos os outros profissionais
da nossa instituição, e assim sendo é urgente que
os nossos gestores “Cuidem” de nós...
situação acarreta, com indesejáveis dificuldades para
os doentes e profissionais, o Hospital de São Francisco
Xavier adoptou, em 2004, um Plano de Contingência,
com recurso a outras instituições, no total de 34 camas.
Face ao persistente aumento de doentes que afluem à
urgência, e à falta de camas de internamento, tivemos
ainda que recorrer a enfermarias no Hospital do Montijo,
(29 camas), ainda assim insuficientes. A situação causa
naturais transtornos, em primeiro lugar aos doentes,
depois ao hospital e seus colaboradores, com custos
elevados. Estamos certos, porém, de que adoptamos
a melhor solução possível. Dirigentes e profissionais
tudo têm feito para que os doentes continuem a ser
tratados com qualidade. Aos doentes internados no
Hospital do Montijo é prestada a assistência adequada
e, para minorar as dificuldades das visitas, o HSFX, com
o apoio das Câmaras Municipais de Lisboa e Oeiras,
proporciona diariamente transporte aos familiares que
ali se queiram deslocar.
A Ponte
CARTAS AO HOSPITAL
12
Muito é dito sobre médicos, enfermeiros e, ainda
mais, sobre as instituições pelas quais esses profissionais
praticam o seu ofício. Uma vasta gama de comentários,
por vezes, impregnando uma espécie de magia paralela
a esses, tendem a rechaçar os seus quotidianos. (…)
Como homem participante de uma comunidade instituída e usuário dos serviços públicos de saúde, tenho
de reconhecer as enormes melhorias que podem ser
notadas aqui e ali.(…)
O capítulo mais especial a que me quero dedicar foi
aquele em que “ajudei a escrever”: após lobectomia
superior direita em Fevereiro de 2004; ou aquele em
que tive a honra dolorosa de ser um dos milhares de
“actores-coadjuvantes”: baixa em 27 de Dezembro
2004, com Derrame Pleural base direita e respectiva
Toracotomia para drenagem, a 6 de Janeiro.
Infelizmente, neste ‘mister’, poucos são ainda os
registos feitos nas Escolas de Medicina. Pesarosamente, nesta vertente, poucos, ou quase nulos, são
os artigos jornalísticos divulgados pela media. Esta
parte diz respeito a uma forma de Missão Emocional,
à qual pouco se ocupam, tanto uma instituição,
quanto a outra: o difícil mecanismo e a exaustiva
dinâmica do “fazer por amor”, da abnegação
diária sem hora de terminar, de todos os profissionais que se dedicam à Medicina e a todos os que
trabalham nos seus demais campos de actuação...
Pessoas – como todas as outras – que, relegando a
planos secundários as suas próprias vidas, os seus
problemas, algumas vezes até as suas dores, doam-se de forma brilhante e essencial ao restabelecimento de cada paciente... a fraternidade com que
caminham entre os leitos de, senão de dores, de
imensas preocupações com o momento próximo a
ser vivido. É de uma dignidade humana de venerar...
(…)
É vital que se diga/bendiga sobre a assumida postura
“terapêutico-sacerdotal” dos Doutores Pais Ruivo
(Pneumologista) e Sena Lino (Cirurgião) que, segundo
os 90 anos de minha mãe, são os meus “Anjos da
Guarda”… Além das decisões médicas, receitam
vida, ânimo e certeza, em doses de amor ao próximo
e sapiência(…) A cada dia há um amanhecer diferente
e, a cada momento, a cada turno, a cada procedimento
feito, é a vida quem está a ser incentivada a restabelecer-se. Em suma, seres “iluminados”, pessoas de
bem com a Vida!
Na ordem de nós, humanos, há somente duas possibilidades de estabelecer-se laços afectivos: na dor e na
alegria. E, justamente neste ambiente, via de regra, de
sofrimento, acham-se ‘mescladas’ com uma força veloz
e surpreendente, ambas condições. É no “vai e vem”
de macas entre sectores de diagnósticos; é na transferência de um pavilhão para outro; é na administração de
medicamentos nas horas em que as dores fazem viver
o minuto seguinte quase uma tortura; é na humildade
sublime daqueles paramédicos com o cuidar da higienização e confortabilidade do paciente; é o de entrar,
um dia após o outro, nos quartos e ser mensageiro de
boas novas: a recuperação avizinha-se!
Eu, o ser humano assustado, inseguro, diante de
um surpreendente e nebuloso diagnóstico, dei entrada
no Hospital de São Francisco Xavier, na manhã do dia
27 de Dezembro de 2004. Quero aqui, não agradecer,
porque o que se passou naquele momento crucial
da minha vida, e por todos os 29 dias seguintes, é
impossível de ser reunido em simples palavras, ou, por
quaisquer menções, por mais honrosas que pudesse eu
dispor. Prefiro deixar a todos (para não cometer injustiças nenhumas!), às vezes rostos sem nomes, mas
corações únicos, um olhar silencioso e eternamente
enternecido. Sejam eles da Instituição Hospitalar; da
Equipa de Cirurgia que me acompanhou; da Imagiologia (grande espírito de equipa!); do Laboratório de
Análises Clínicas; da Unidade de Cuidados Intensivos;
de todos os profissionais de Enfermagem da Medicina
do 1º piso, na pessoa do Enfermeiro-Chefe João; da
Dra. Cristina (Assistente do Dr. Pais Ruivo) sempre
presente, e um “xi” muito especial à Dra. Rita Perez
(Anestesista) pela segurança que me transmitiu.
Sabendo e deixando a certeza de que todos vós também
o sabem que, após este episódio, estaremos, eu e
todos aqueles que empurraram-me para “vitória”,
entrelaçados como elos: um conjunto de força inquebrantável para uma verdadeira e maravilhosa “corrente
para a vida”!
JOSÉ MANUEL GONÇALVES ALVES
Lisboa, 30 de Janeiro de 2005

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