NORMAN K. DENZIN YVONNA S. LINCOLN o PLA·NEJAMENTO

Transcrição

NORMAN K. DENZIN YVONNA S. LINCOLN o PLA·NEJAMENTO
NORMAN K. DENZIN
YVONNA S. LINCOLN
o PLA·NEJAMENTO
DA
PESQUISA
QUALITATIVA
TEORIAS E ABORDAGENS
Traduc;ao:
Sandra Regina Netz
Consultoria, supervisao e revisao tecnica desta edic;ao:
Marilia Levacov
Doutora em Tecnologia e Mfdia pela Boston University
Professora aposentada da UFRGS
=::= G -~inalmente
publicada sob 0 titulo The Landscape of Qualitative Research:
Theories and issues, 2ed.
ISBN 0-7619-2694-1
Copyright © 2003 by Sage Publications, Inc.
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13
Investiga<;ao qualitativa
Tensoes e transformafoes
Mary M. Gergen e Kenneth J. Gergen
domfnio da investiga\=aoqualitativa proporciona algumas das mais ricas e compensadoras explora\=oes disponfveis na ciencia
social contemporanea. Esse premio e resultado de um
grande numero de convergencias hist6ricas. E uma
area que acolheu dezenas de estudiosos que consi'deravam suas tradi\=oes disciplinares restritas e limitadoras. Outros dos que nela habitam descobriram
meios de dar vazao a compromissos ou habilidades
especfficas; aqui, ha espa\=o para a crftica societal e
para 0 ativismo polftico, assim como ha uma abertura para as expressoes literarias, artfsticas e dramaticas. Alem disso, estudiosos de diversas arenas - pesquisadores da Aids, analistas de mercado, etn6grafos,
e outros mais - ingressaram nesse campo buscando
formas de trazer vitalidade a suas atividades habituais.
Talvez 0 ponto mais significativo - a mare dos debates te6ricos e metate6ricos que se projeta atraves
do mundo intelectual- com indices que variam entre p6s-fundacionalista, p6s-estrutural, p6s-iluminista e p6s-moderna - tenha varrido 0 porto qualitatiyo. Aqui, essas turbulentas discussoes produziram
profundos desafios as formas de compreender e de
praticar as ciencias sociais.
Um resultado dessas convergencias e que 0 campo da investiga\=aoqualitativa esta repleto de entusias-
O
mo, criatividade, efervescencia intelectual e a\=ao.
Como 0 descreveu a pesquisadora Virginia Olesen,
"nao acredito que tenha havido um momenta mais
instigante em termos de uma aten\=ao meticulosa as
epistemologias dos metod os, as rela\=oescom os participantes, aos novos modos e a crescente for\=ados
metodos qualitativos em campos serios e importantes como a educa\=ao e a enfermagem" (e-mail, 25 de
novembro de 1998). Ha influencias de outras areas,
dialogos cataliticos e 0 predominio de uma sensa\=ao
de participa\=ao em uma revolu\=ao viva. As cren\=as
contrastantes, os desafios ceticos e a resistencia tambem estao em evidencia. Neste capitulo, voltamos
nossa aten\=ao para algumas dessas correntes secundarias turbulentas a fim de real\=aralgumas das diferen\=asmais evidentes e de deliberar quanto as possibilidades futuras. Fazemos isso, contudo, nao com 0
objetivo de estabelecer discussoes ou de promover
mudan\=as no campo em dire\=aoa coerencia e a univocalidade. Nao enxergamos as duvidas e as discordancias como as dores do parto de um novo fundamento metodol6gico, mas, sim, como oportunidades
para novas conversas e novas evolu\=oes na pratica.
Abordando as questoes a partir de um ponto de vista
construcionista social. tratamos esses dialogos tumultuosos como se estivessemos escondendo 0 potencial
~. e sustentara a vitalidade do dominio quaproximo seculo. Exploramos tambem 0 que
os serem alguns dos panoramas mais pro='::sores da investiga~ao, desafios emergentes que
:;:.,...e:zinfluenciem significativamente 0 futuro desse
••.-; . -0 _ 0
.=2;_.a
G,...•po.
tidao 0 mundo como ele e. Esse tipo de trabalho, no
minimo, deixa clara a impossibilidade da mimese linguistica; nao ha nenhum meio de privilegiar urn determinado relato com base em sua correspondencia
unica com 0 mundo. A inteligibilidade dos nossos
relatos sobre 0 mundo provem nao do mundo em si
mesmo, mas de nossa imersao dentro de uma tradi~ao de praticas culturais que herdamos de gera~6es
anteriores. 56 chegamos a compreensao quando nossos relatos aproximam-se de tais conven~6es. Logo,
e a partir das nossas rela~6es dentro das comunidades interpretativas que surgem nossas constru~6es
do mundo.!
~ao embarcamos sozinhos nessa aventura. Para
aru~armos e expandirmos nossas delibera~6es, pesuisamos ilustres colegas que alem de.darem sua
ontribui~ao para este volume tambem sac membros
o Conselho Consultivo Internacional do Manual.
Perauntamos a eles qual era a osido ue imagina~esmos
no dominio qualitativo os proximos cinco anos.-que-ti.pQs.de-PJoJetos eles estavam
executando. quais as reviravoltas metodoloaicas ~
~deCOdenCiO
dos fundomentos do
lhes pareciam especial mente atrativas e instigantes e
mete 0.910
uais modos de investiga~ao areciam atrair ma·5..S.wc - alunos_de gradua~ao. As respostas foram das mais
Essa visao da lingua gem levou a urn ceticismo
generosas, esclarecedoras e provocativas; gostariamos
substancial no que diz respeito aos fundamentos episde agradecer a todos que emprestaram suas opini6es
temologicos das praticas cientiticas. A busca de leis
para 0 enriquecimento deste capitulo.
universais ou gerais, a capacidade da ciencia de proA seguir, voltaremos nossa aten~ao especificaduzir retratos exatos de seu tema, a possibilidade da
mente para tres pontos de controversia na investigaprogressao cientifica em dire~ao a uma verdade ob~ao qualitativa: crise a va 1 ade os direitos - re- jetiva e 0 direito as alega~6es de pericia cientifica perp~
0 lugar do 0 It!CO as investiga~6es
deram sua for~a. Deparamo-nos, entao, com 0 que
quahtatlvas. Em ca a caso, fazemos uma revisao das
Denzin e Lincoln (1994) denominaram de crise da
principais linhas de desenvolvimento, explorando as validade. 5e nao existe urn meio de combinar correformas pelas quais a controversia foi a centelha do
tamente a palavra ao mundo, entao perde-se a gadesenvolvimento. Neles, apontamos as linhas de arrantia da validade cientifica, e e dos pesquisadores a
gumento e da pratica emergentes que consideramos
responsabilidade de questionar 0 papel da metodomais ute is. Apos essa discussao, abordamos agendas
logia e dos criterios de avalia~ao. Como indagam conespecificas para 0 novo seculo. Como vemos, as evovincentemente Denzin e Lincoln: "como avaliar os
lu~6es que ocorreram dentro dos principais pontos
estudos qualitativos no momenta pos-estrutural?"'
de controversia situam 0 campo para novas e signifi(p.11).
cativas transforma~6es. Damos uma aten~ao especial
Dentro da arena qualitativa, esses avan~os estia pesquisa enquanto processo relacional, as transformularam, simultaneamente, urn debate acalorado e
ma~6es atraves da tecnologia e a reconstru~ao do eu.
explos6es de energia criativa. Para muitos pesquisadores qualitativos, as criticas da validade ressoam com
outros antigos receios quanto as metodologias nomoteticas por sua inabilidade em refletir as complexidades da experiencia e da a~ao humanas. De fato,
Vma das influencias mais cataliticas no dominio
esses pesquisadores voltam-se para as merodos quaqualitativo dos ultimos 10 anos tern sido 0 intenso
litativos na esperan~a de gerar relatos mais ricos e
dialogo sobre a natureza da linguagem e, particularque revelem nuan~as mais delicadas da a~ao humamente, a rela~ao da lingua gem com 0 mundo que el<i na. Dentro desses circulos, muitos afirmam que a
aleaa descrever. Os avan~os nas areas da semi6tica
enfase empirica sobre 0 comportamento quantifica:-:1s-esrrutural, da teoria literaria e da teoria retorica
vel ignorou 0 principal ingrediente da compreensao
':esaiiam a suposi~ao essencial de que os relatos cienhumana, ou seja, as experiencias particulares do agen..:=;::,- :,ossam representar objetivamente e com exa- te. Essas duas vis6es - de que os metodos qualitati-
-
vos sac mais fieis ao mundo social do que os quantitativos, e de que as experiencias human as individuais
sac importantes - mantem sua for~a na atual comunidade qualitativa, com diversos nomes propondo a pesquisa do tipo grounded theolY (Strauss e
Corbin, 1990, 1994), a fenomenologia (Georgi, 1994;
Moustakas, 1994) e com as pesquisadoras do ponto
de vista feminista (Belenky, Clinchy, Goldberger e
Tarule, 1986; Brown e Gilligan, 1992; Harding, 1986,
1991; Komesaroff, Rothfield e Daly, 1997; Miller e
Stiver, 1997), entre outros.
'
Todavia, como esgotaram as crfticas da validade,
elas demonstram sua ingratidao em rela~ao aos entusiastas qualitativos que as ajudam. Se a ideia da
lingua gem como urn retrata OU ul1lJ.Dapa do real e
seJwada, entao nao ha nenhuma..r-a~F1±l:j,damen.tal
yda qual os es uisadores-ijualitativQS-P-O.ss.aJQ.aLe::
gar que seus metodos sac ~peri2.res aos quantitativos em termos de exatidao ou de sensibilidade com 0
~st
. Vrna descri~ao de mil palavras nao'e;;;valida enquanto "retrato do individuo" do que urn
unico score em urn texto padronizado. E e exatamente
por isso que as criticas da validade contestam a presun~ao de que a linguagem seja capaz de map ear adequadamente a experiencia individual (Bohan, 1993;
Butler, 1990). Em que sentido as palavras podem
mapear ou retratar urn mundo interior? Parece que
o melhor e entender os relatos da "experiencia"
como 0 resultado de uma determinada historia textual/cultural na qual as pessoas aprendem a contar
hist6rias sobre suas vidas para si mesmas e para os
outros. Tais narrativas inserem-se dentro dos processos de constru~ao do sentido de comunidades
situadas hist6rica e culturalmente (Bruner, 1986,
1990; Gergen, 1992, no prelo; Morawski, 1994;
Sarbin, 1986).
Inova90es que estoo surgindo na
metodologia
Mesmo sendo as vezes acusado de urn niilismo
sem saida, esse tipo de ceticismo produziu enormes
efeitas cataliticos na arena qualitativa. Os emE.9Jbos
no sentido \ie substituir 0 tradicionaRs 6.t!O de de cobrir e de registrar a verdade geraram uma es len- orosa varl~a e....aemova~oes_m~todologicas. Estudaremos aqui quatro dessas inova~6es: reflexlvidade,
esquemas de multiplas vozes, representa~ao literaria
e pelfonnance. Sua importancia especifica e resultado,
em parte, da forma pela qual contestam 0 binario tradicional existente entre a pesquisa e a representa~ao,
ou seja, entre os atos de obser;a~ao ou de "coleta de
dados" e os relat6rios subsequen es sobre esse processo. Cad a vez mais, reconhece- e que, como a observa~ao esta inevita\'elmen e sa urada • eta interpreta~ao, e os relat6rios de pes uisa sao es e..cialmente
exercicios de interpreta~ao. a pes ,uisa e are resenta~ao estao inextricavelmente entrela<;adas (Be ar e
Gordon, 1995; Gergen, Chrisler e Loeceo. 1999;
Visweswaran, 1994). Passemos a sua' \·es::,;«<;2.o.
Entre as principais inova~6es estao aquelas ue
enfatizam a reflexividade. Neste ponto, os im'es '''adores buscam formas de demonstrar as suas au iencias sua situacionalidade hist6rica e geografica, sellS
investimentos pessoais na pesquisa, as diversas tendenciosidades que trazem para seu trabalho, suas surpresas e "desgra<;as" no processo de empenho para a
realiza<;:aoda pesquisa, como suas escolhas de tropos
literarios conferem for~a ret6rica ao relat6rio de pesquisa, e/ou os aspectos em que evitaram ou suprimiram certos pontos de vista (Behar, 1996; Kiesinger,
1998). Rosanna Hertz explica em detalhes essas implica<;6es para seu trabalho:
Ap6s cavoucar nos temas da voz e da reflexividade,
me vejo bem mais livre para pensar em como incorporar minha propria voz a urn trabalho no qual nao
tenho nenhuma experiencia pessoal. Quero urn leitor que compreenda que (...) 0 que trago para 0 t6pico e minha propria hist6ria e perspectiva.Ainda acredito que minha obriga<;:ao principal enquanto
cientista social e contar as hist6rias das pessoas que
estudei. Mas tambem acredito que seus relatos tenham sido construidos atraves do dialogo que eu e
meus entrevistados criamos em conjunto. (e-mail, 9
de abril de 1998).
Recentemente, tais formas de auto-exposi<;ii.o :0ram responsaveis pela prosperidade da auto-e
fia (Ellis e Bochner, 1996t Aqui, os in\'
exploram em profundidade os aspectos nos uais::' ::bist6rias pessoais saturam a investiga<;ii.oe=:.~--===~No en tanto, em vez de darem ao lei or I:;"':: ~"- -,,para considerar as tendenciosidades. a " <:':2~"'si<;aodo eu ao tema e empregada no sen":.i ie e:'_-:-
_
:-ela orio etnografico. 0 leitor depara-se com
(Hertz, 1997). A duvida da lugar aos potenciais posi;. :._~:.e..;-ia do binario sujeit%bjeto, e e esclarecitivos da multiplicidade.
:._ ~.2.-:-0 as formas em que confrontar 0 mundo a
j1)rem esse esquema nao esta livre de complexi- = ::l . emo e 0 mesmo que confrontar 0 eu. Em .dades. Uma das questoes mais dificeis diz res12eitoao
:::.~: esses movimentos reflexivos, 0 investigador
modo como 0 auto pesqui ado deve-1ratar:.~
-c.":'; ia ao "olhar de Deus" e revela seu trabalho
•.oria yoz Sera que esta deveria ser simplesmeme uma
::.'-'C 0 historica, cultural e pessoalmeme. No caso
entre muitas, ou deveria ter privilegios especiais em
.; = au o-emografia, a distin\=ao entre a pesquisa e 0 virtu de do treinamento profissional? Ha tambem a
:-e.a-orio ou a representa\=ao tambem e amplameme
questao da idemifica\=ao de quem sac de fato 0 autor
-omestada. Investimentos pessoais no ate observae os participantes; uma vez constatada a possibilida-'onal nao apenas sac reconhecidos como transforde desse esquema de multiplas vozes, torna-se tambem evideme que cada participante individual e po. am-se em urn assunto de pesquisa. Embora repreivocal (Franklin, 1997) . .Qua dt;ssas vozes e-.e..g~
semem urn valioso acrescimo ao vocabulario da
fala na es uisa e or que? Qual delas e ao mesmg
investiga<;ao, os morimentos reflexivos nao consetemJ2.Q...suprimida?0 modq como Shulamit Reinharz
guem subverter coml2letameme 0 concettO cia vali~de ..Por fim, 0 ato da reflexividade pede que 0 leitor
levanta essa guestao traz implica\=oes significativas
aceite-se como autentico, ou seja, como urn esfor\=o
ara a delibera\=ao desse tema:
consciencioso de "dizer a verdade" sobre a elabora\=ao do relato. Encontramo-nos, portanto, a postos
Utilizando notas de campo detalhadas extrafdas de
urn projeto que concluf ha pouco tempo atras, (...)
no limiar de urn infinito regresso das reflexoes sobre
observo as referencias que fiz a mim mesma ao lona reflexao.
go do ano, e vejo como diferentes aspectos de meu
eu ganharam relevancia com 0 tempo. Discuto esses
"eus" como se surgissem atraves do processo de imerUrn segundo meio significativo de negar a vali- .
sac no campo. Em urn primeiro momento, a "difedade e removendo-se a {mica voz da onisciencia e
ren\=a"mais 6bvia em rela\=aoaos membros [do ourelativizando-a atraves da inclusao de multiplas votro grupo] e 0 que me define la. Depois, outras
zes dentro do relatorio de pesquisa. Ha muitas variacamadas sac reveladas. A medida que essas diferen\=oessobre este tema. Por exemplo, sujeitos de pestes camadas come\=ama aparecer, as pessoas passam
quisa ou clientes podem ser convidados a falar em
a me conhecer de diversas maneiras, fazendo com
seu proprio nome - a descrever, a expressar ou a
que me contem coisas diferentes, 0 que, por sua vez,
interpretar dentro do pr6prio relat6rio de pesquisa
com 0 tempo, me faz conhece-las de formas distin(Anderson, 1997; Lather e Smithies, 1997; Reinharz,
tas (...) Diferentes espa\=osde tempo no campo, por1992). Em outros casos, os pesquisadores talvez protanto, produzem diferentes tipos de conhecimento.
curem entrevistados que tenham amplas perspectiA primeira vista, esse e urn fata que aparentemente
vas em urn determinado assunto, e incluam diversas
dispensa explica\=oes,ja que, sem duvida, uma visita
opinioes sem exigir delas coerencia (Fox, 1996). Ou,
de urn dia e diferente de uma estada de urn ana (par
ainda, os pesquisadores podem localizar reflexivaexemplo). Porem, essa diferen~a nao havia sido exmente uma gama de imerpreta\=oes conflitantes que
plicada ou demonstrada. Acredita que minhas abconsideram plauslveis, e com isso evitar que se cheserva~oes demonstram esse processo. (e-mail, 18 de
gue a uma unica conclusao integrativa (Ellis,Kiesinger
abril de 1998).
e Tillmann-Healy, 1997). Alguns pesquisadores tambem trabalham em conjunto com seus sujeitos de
Por fim, as mudan\=as em dire\=ao a multiplicidade
pesquisa a fim de que suas conclusoes nao erradinem sempre conseguem fazer justi\=a a todos os lados.
quem as opinioes da minoria. 0 esquema de multiNormalmente, 0 investigador atua como autor supremo do trabalho (ou coordenador das vozes), servindo.
plas vozes e especialmente promissor em sua capaciade de reconhecer os problemas da validade ao- portanto, como juiz sup rem a inclusao, da enfase e
da integra\=ao. As artes de . terpreta\=ao literaria de
esmo tempo em que proporciona urn leque potencialmente rico de interpreta\=oes ou de perspectivas
autor sac muitas vezes invis veis para 0 leitor.
lhas das formas literarias tradicionais, 0 que prevalece
SaDas alega<;6esde que elas nao sao apropriadas para
as representa<;6es cientificas. Essas criticas saD ainda
mais marcantes no que diz respeito a pelfonnance.
Uma terceira rea<;ao importante as criticas da
validade e 0 emprego efetivo da representa<;ao est ilizada, e, particularmente, a substitui<;ao do discurso
realista tradicional pelas form as de reda<;ao tomadas
Performance
em oposi<;ao ao "dizer a verdade". Por exemplo, as
descri<;6es do investigador podem assumir a forma
Por fim, para eliminar a servidao a objetividade
de fic<;ao,de poesia ou de inven<;ao autobiografica. 0
ao mesmo em que sustentam a voz, e cada vez maior
uso do estilo literario indica ao leitor que 0 relato
o numero de estudiosos que resolvem escolher a
nao funciona como urn mapa do mundo (e, na ver- pelfonnance como modo de pesquisa/representa<;ao.
dade, que a metcifora do mapeamento e imperfeita),
Essa mudan<;a justifica-se pela no<;aode que se a dismas como uma atividade interpretativa dirigida a uma
tin<;ao entre fato e fic<;aoe basicamente uma questao
comunidade de interlocutores. Para muitos pesquide tradi<;ao textual, como sugerem as criticas da valisadores qualitativos, esse tipo de reda<;ao e especialdade, entao as formas de reda<;ao cientifica nao SaD0
mente atraente, pois oferece urn alcance expressivo
unico modo de expressao que pode ser empregado.
cad a vez maior e uma oportunidade de chegar a auAinda que estimulos visuais como 0 filme e a fotodiencias de fora do meio academico (Communication
arafia tambem tenham sido aceitos como meio de
Studies 298, 1999; Diversi, 1998; S. H. Jones, 1998,
"apreender a realidade", geralmente SaDvistos como
1999; Richardson, 1997, 1998; Reinhart, 1998) e de
modos auxiliares dentro de tradi<;6es escritas. Entrerealizar um trabalho politico significativo (Behar e tanto, quando percebemos que 0 pr6prio meio coGordon, 1995). Embora seja responsavel por gerar
municativo produz urn efeito formativo sobre 0 que
aberturas significativas para a expressao criativa, esse
adotamos como objeto de pesquisa, a distin<;ao entre
tipo de reda<;aoe vulneravel a critica da singularidade
o filme como dispositivo de grava<;ao em oposi<;ao a
da voz. Sozinho, 0 autor comanda 0 dominio discursipelfonnance (p. ex., "urn filme destinado a urn publivo com todos os trajes reais ret6ricos. Mais uma vez, co") perde sua nitidez (Gergen e Gergen, 1991). E,
contudo, a critica da lugar a inova<;ao:0 estilo literario
diante dessa situa<;ao, os investigadores SaDconvidapode ser combinado a outras metodologias para comdos a considerarem toda uma gama de expressao copensar as criticas. Por exemplo, ao dissertar sobre as municativa no mundo das artes e do entretenimento
rela<;6es entre os afro-americanos ap6s a Marcha de - artes graficas, video, drama, dan<;a,magia, multimiUrn Milhao de Homens, Deborah Austin (1996) e um_ dia, etc. - como formas de pesquisa e de apresentados participantes construiram juntos urn poema nar<;ao.Mais uma vez, ao escolher a pelfonnance, 0 investirativo. Temos aqui urn pequeno trecho desse poema:
aador evita as aleaar6es mistificadoras da verdade, ao
mesmo tempo em que expande 0 alcance das comunidades nas quais 0 trabalho pode estimular 0 dialogo.
Os africanos SaDiguais
Entre as contribui<;6es significativas para 0 deonde quer que estejamos, ela me diz
senvolvimento dessa forma de pesquisa/representatrivialmente
<;ao estao Pelfonnance: a critical introduction (1996), de
Olho pra ela, e, sorrindo,
Carlson, e 0 volume editado Cruising the pelfonnative
pergunto,
(1995), de Case, Brett e Foster, bem como os trabacomo cabe a urn born pesquisador
lhos de Blummenfeld-Jones (1995), Case (1997), Clark
Como assim?
(1996). Denzin (1997). Donmoyer e YennieNao sei explicar, diz eta,
Donmoyer (1995), Jipson e Paley (no prelo),
com aquela voz que soa
Mienczakowski (1996), Morris (1995) e Van Mannen
como 0 correr de muitos rios. (p. 207-208)
(1995). Urn exemplo especificamente relevante para
Muitas das quest6es criadas pela reflexividade e o dominio qualitativo e a pClfonnance que narra as vipelos esquemas de multiplas vozes tambem podem .···das.de migrantes mexico-americanos, escrita por Jim
Scheurich, Gerardo Lopez e Miguel Lopez, a qual
ser dirigidas as formas de reda<;ao nao-tradicionais.
inclui musica, video e urn show de slides - que funcioEmbora, nessas inova<;6es, evitem-se certas armadib
b
b'r
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- _~-:ea eme. Alem disso, conta com um
~_eexi;e a participa~ao de um elenco que tra_-=-=- ,,-_ ';:'::0 e pessoas que fa~am parte do publico .
....;::
Co .uestao da validade, Scheurich observa, "os
-~:-o3
ao le\'antam suposi~oes sobre a natureza
.: -.:=..: experiencias ou sobre sua rela~ao com a vida
:::.~-e dos mexico-americanos" (e-mail, 19 de abril
.:~ : 99 ). A pelformallce real mente proporciona ao
~':~j 0 possibilidades de um envolvimento enrique.:.:-':or com essas questoes, porem deixando-os livres
::t..d imerpretarem a sua vontade. Em outro formato,
Cenda Russell e Janis Bohan (1999) responderam
:-erforrnativamente a aprova~ao da Emenda 2 a Cons..:, '~ao do Estado do Colorado (a qual eliminou a
?ossibilidade de recursos legais dos individuos que
enfrentam discrimina~ao com base na orienta~ao sexual). Aproveitando temas e declara~oes extraidas de
rranscritos de entrevistas com pessoas que se opunham a essa legisla~ao, os pesquisadores auxiliaram
na cria~ao de do is projetos artisticos altamente sofisicados e complexos: um deles, Fire, um oratorio em
cinco partes, escrito por um compositor profissional
e cantado em uma competi~ao nacional por um coral extremamente especializado; e 0 outro, um documentario profissional produzido para a televisao,
transmitido na PBS. Em seu trabalho, pode-se notar
a falta de nitidez entre muitos limites, que separam 0
profissional do amador, 0 insider do outsider, 0 pesquisador do pesquisado e 0 atuador do publico.
A julgar pelas rea~oes de nossos correspondentes, os investimentos nessas explora~oes pioneiras
provavelmente passarao por uma consideravel amplia~ao. Conforme colocaJohn Frow: "Qual sera meu
proximo passo? Imagino que eu comece a desconfiar
cada vez mais dos protocolos do discurso intelectual
e a explorar os limites do genero (estilo) do conhecimento 'academico' (...) 0 uso de estruturas textuais
nao-lineares e recursivas me parece cada vez mais
ine\"itavel a medida que tento me desvencilhar das
restri~oes e das certezas do argumento academico de
raxe" (e-mail, 5 de abril de 1998). E como escreveu
Kathy Charmaz:
Uma prioridade maxima para mim e concluir um
manual sobre a reda~ao da pesquisa. Minha aborda",emcombina metodos de analise qualitativacom tec-
nicas redacionais (...) utilizadas por escritores profissionais (e-mail, 30 de maio de 1998).
Voltei minha aten~ao para 0 video em busca de um
(...) meio mais multidimensional. Gosto de acrescentar recurs os visuais e sam as palavras escritas. Tambem gosto de historiar, embora nao tenha a inten~ao
de contar historias convencionais. Para mim, esse e
um meio auxiliar a outros niveis de significado"
(e-mail, 19 de abril de 1998).
Todavia, apesar desse ousado e criativo entusiasmo que acompanha muitas dessas aventuras, ha tambem uma grande inquieta~ao entre alguns pesquisadores qualitativos com 0 abandono dos padroes
cientificos convencionais. Epitetos de excesso - narcisista, incapaz de enxergar a sua volta, exibicionista
- saG recomposi~oes familiares. Nessa tendencia,
George Marcus sugeriu que 0 "novo pensamento (...)
e, ate certo ponto, a pratica discursiva nas coisas que
escrevemos sobre a reflexividade, a subjetividade, 0
poder na intersubjetividade seguiram seu curso, ou
quase isso, e que as condi~oes de pesquisa - especialmente do trabalho de campo - agora precisam de
aten~ao (e-mail, 4 de abril de 1998). Marcus defende
a ideia de que os antropologos devem dar continuidade a seu envolvimento no longo e arduo trabalho
necessario para a produ~ao de "descri~oes densas", e
nao deixar que outras atividades intelectuais desviemnos dessa tarefa (Marcus, 1998). Patricia Clough censura a reda~ao auto-etnografica que possui uma grande carga de emo~ao por sua rela~ao simbiotica com
o drama televisivo e por "manter a distancia interven~oes criticas motivadas por teorias" (p. 101). Seguindo uma linha semelhante, William Tierney preocupa-se com 0 fato de que muitas vezes "os textos
aventureiros saG um pouco mais do que experiencias com as palavras. Criticos como nos saG cad a vez
mais ceticos quanto a esse malabarismo literario sem
qualquer preocupa~ao com mudan~as" (e-mail, 10 de
abril de 1998). As palavras mais duras de nossa pesquisa vieram de David Silverman, 0 qual escreveu:
As duas ultimas decadas tiveram uma obsessao pelas modas que logo serao esquecidas ou integradas a
novas formas de trabalho. 0 melhor do P6s-modernismo (Foucault, Latour) sera incorporado aos estu-
Investiga<;ao qualitativa
dos shios das pniticas institucionais. As "divers6es e
osjogos" (ostrocadilhos, a reda~ao experimental, etc.)
serao postas de lado. [As] interminaveis entrevistas
abertas serao entendidas como 0 modo de se esquivar it la Oprah Winfrey, que e 0 que elas na verdade
sac (e-mail, 3 de abril de 1998).
Podemos imaginar que essas criticas tragam consequencias estarrecedoras, agindo talvez como urn
recuo enfraquecedor, urn retorno ao convencional e
o fim das experiencias metodologicas. Essa situa~ao
poderia tambem fragmentar 0 campo, ja que os pesquisadores podem simples mente encerrar 0 dialogo
e seguir cada urn para seu lado. Entretanto, esses resultados seriam desastrosos e injustificados. A principio, seria uma atitude intelectualmente irresponsavel simples mente retornar ao assunto de sempre como se as criticas da validade nunca tivessem ocarrido. Ao mesmo tempo, quem tern um compromisso
com os novos esfor~os dificilmente pode dec1arar que
as criticas da validade sac plenamente justificaveis.
Para estes, nao existem racionalidades fundacionalistas que possam gerar tais garantias. Alem do mais,
sac poucas as convic~6es que acolheriam urn campo
unificado de investiga~ao - guiado por urn esquema conceitualmente rigido, coerente - no qual todos os metod os sac prescritos com antecedencia.
Assim, em vez de um dominio de tribos que nao trocam informa~6es, n6mades, talvez seja conveniente
invocarmos novamente a metMora da tensao aerati" urn
va. Dispondo essas inova~6es e suas criticas em
dialogo apreciativo, que e onde acreditamos que deveriam estar, quais seriam os novos caminhos a serem estimulados? Que perspectivas futuras poderiam
se abrir? Ao serem extraidas de dialogos dispares, as
seguintes ideias pareceriam proeminentes.
Uma recomposi<;Qo
da valida de
Nos termos convencionais pelos quais foi formulado, 0 debate sobre a validade chegou a um impasse.
Por urn lado, aqueles que se dedicam ao trabalho
como se suas descri~6es e explica~6es fossem reflex6es transparentes de seu tema nao tern qualquer
razao fundamental para essa postura. Mostram-se
vulneraveis a um grande numero de logicas desconstrutivas. Porem, aqueles que encontram defeitos nessa
tradi~ao acabam nao tendo meios de justificar sua
critica. Nesse proprio processo de desprivilegiar, eles
dependem das mesmas suposi~6es da linguagem que
corresponde a seu objero. Desse modo, em vez de
reexemplificar a tradi~ao m 'emis a da \-erdade objetiva ou de abrir a \'almla 0 'ale- do. tema-se discutir formas de reconceiruar a quesrao. ~o minimo,
podemos reconsiderar prO\'ei'osar::e;l e a questao da
referencia linguistica. Se fazemo uma esquisa ou
uma critica "sobre" algo, e essa nao e ":::2 re a~ao de
mimese, como e possivel pre\'e- a 'e 0 Cd "orma?
Ate mesmo aqueles que emprega. C'e e:-Cls eeinais ou a pelfonnance em seu trabalho n2. 0
como urn mere entretenimemo; por tcis "es-e L:"2balho fica a suposi~ao de que este cons' " 'e alguma mane ira, uma contribui~ao para a com ree.tSa .
o comunicado oficial de Frow serve como U oLimo
ponto de partida para a tarefa de repensar a re~erencia:
o conceito
de "texto" ou de "discurso" refere-se a
uma questao que e ontologicamente heterogenea: ou
seja, que nao e redutivel it "linguagem" ou a uma
realidade externa ao simb6lico, mas que, em vez disso, e uma mistura heterogenea entre a linguagem e
outras simboliza~6es (p.ex., ic6nicas), entre rela~6es
sociais, ambientes construidos, estrutura institucional consolidada, papeis e hierarquias de autoridade,
corpos, etc.Acredita que seja somente nessa base que
a metMora da textualidade ou da discursividade possa funcionar sem ser redutiva para a linguagem ou
para as re1a~6essociais (e-mail, 5 de abril de 1998).
A partir deste ponto, passamos a considerar a
conquista da referencia em termos bem mais ricos
do que antes. Se a referencia nasce desse tipo de heterogeneidade, entao estamos em uma situa~ao de
reconsiderar os meios pelos quais se chega it validade, por quem, para quem e sob quais condi~6es.
Podemos tambem abandonar a preocupa~ao co
a validade, uma op~ao defendida por urn numeo
eonsideravel de pessoas, inc1uindo varios w,'S:l:-es
deste capitulo que nos advertiram para que e\'i:cis-emos esse termo em fun~ao de sua historia ari:"ulc..:z
e do prognostico de sua extin~ao. No ema."1:", ?,,--~
nos, uma dire~ao mais promissora parecia se:- a ~~
reconceitua~ao do conceito. Aqui, 0 tra ;&,,:"e ?a~
Lather (1991,1993) sobre a validade e oar::: ±=.e:te catalitico. Lather prop6e uma "listi 'c,;:5,;:-es--:"a-
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- -~~
As descri~oes e as explica~oes podem ser validas desde
que nao se confundam as conven~oes locais com a
-=;:"::'~c:nem retratar 0 mundo; a validade paral6giverdade universal. Nesse sentido, Jim Holstein fez
-'0 :.:-ciX.Clpa-Secom os aspectos indeterminaveis, os
uma clara exposi~ao da pesquisa que "tenta estar aten~:-.:;, os paradoxos, as descontinuidades e as comta ao construfdo, ao efemero, ao hiper-real, sem de~.ex:.:a'es da linguagem; a validade rizomatica, sim- sistir da analise empfrica da experiencia vivida em um
:: .Lza a pela metafora da raiz principal, expressa
mundo que ainda parece bastante real e s6lido para
'::;:-:::;0 os procedimentos da pesquisa convencional saD aqueles que nele habitam (mesmo que nao pare~a
'>~Ta uecidos e novas normas de compreensao detao s6lido quanto possa ter parecido um dia)" (e-mail,
-c:-:ninadas em nfvellocal saD geradas; e a validade
23 de abril de 1998).
"0 uptuosa - "excessiva", "nao-confiavel", "arriscaPorem, mesmo com esse come~o proffcuo, ha
.:a- e "irrestrita" - promove uma reconcilia~ao en- uma necessidade de expandir os dialogos sobre as
:re as questoes da etica e da epistemologia. Robin
possibilidades conceituais do conhecimento situado,
, lcTaggart (1997b) tambem levantou a interessante
0 qual chega a ser banal para sugerir que tudo pode
_uestao da validade em rela~ao a pesquisa-a~ao parser valido para alguem, para algum momento, para
'cipativa. Ele sugere que 0 conceito pode ser reconalgum lugar. Esse tipo de conclusao tanto bloqueia 0
ceituado em termos da eficacia da pesquisa em altediatogo entre diversos grupos quanto resulta no fato
rar praticas sociais relevantes. "Nosso modo de pensar
de que ninguem pode falar a respeito do outro, 0 que
a validade deve envolver muito mais do que as simtraria, como consequencia, 0 fim da investiga~ao nas
pies alega~oes de conhecimento (...) [Deve ser] abranciencias sociais. Estimula-se, entao, 0 dialogo para se
gente 0 suficiente a ponto de refletir [aDque] os pesdescobrir como a validade situada e conqulst~,
quisadores de a~ao social (...) estao comprometidos, -P mantlda e subvertlda.t': fambem como funcionam
pelas crfticas incisivas e desdenhosas de outras for- VIrios metodos gualitativos nesse ponto, e para quem?
mas mais inertes e imparciais da investiga~ao social" Atraves de que meios chegam a diferentes formas de
(p. 17-18). As conversas em tomo desses pontos de nocao de validade?
"ista saD ricas em seu potencial de reconfigurar 0
Vma op~ao importante esta na ideia de a comuconceito da validade.
nidade qualitativa desenvolver metodos atraves dos
quais os conhecimentos situados possam ser trazidos para dentro de rela~oes produtivas (em oposi~ao
: 0 conhecimento situadO\
as conflitantes) recfprocas. Nossos metod os de inMantendo uma estreita liga~ao com a revisao da vestiga~ao, frequentemente, dao suporte a (ou "ca\'alidade, mas despertando suas pr6prias duvidas, apapacitam") determinados grupos. Esse resultado conrecem as investiga~oes do conhecimento situ ado.
tribui para 0 conhecimento situado desses grupos,
Como sugeriram Donna Haraway (1988) e outros
mas tambem tende a diminuir ou a extinguir realidades altemativas. Qdesafio,.entao,--esta em desemmlte6ricos, 0 conceito normalmente tem uma fun~ao
de aperfei~oamento, reconciliando as posturas consver metodos de investiga~ao capazes de gerar trocas
trllcionista e realista. Como saD poucos os tradicio- )I PFodutivas as margens de "situacoes" concorrentes
nalistas que pretendem defender a ideia de que suas
?U c~antesJ::£este
ponto, percebemos 0 tom pr9interpreta~oes saD articuladas unicamente com 0 as- vocativo das palavras de Yen Espiritu:
sumo que desejam retratar, e poucos construcionisas sustentariam a ideia de que "nao ha nada fora do
Tento imaginar como os estudiosos nao-brancos
texto", abre-se um espa~o para a verdade situada, ou
podem desenvolver melhor a premissa de estudar
seja. a "verdade" localizada dentro de certas comuninossos pr6prios outros estudando outros "outros".
'ades em determinadas epocas e empregada como
Por exemplo,na condi~aode mulher, n,\scidano Viet, m indicador para representar a condi~ao destas
na, que estuda os filipino-americanos, entro no pro:"andrine, 1995). Dessa forma, poderfamos dizer norjeto de pesquisa nao como uma olltsider que tem uma
...almente que 0 termo p8r-do-sol descreve 0 sol desvisao "objetiva", mas como uma imigrante asiatica
-e..do no ceu a tardinha, e, ao mesmo tempo, os asque compartilha de algumas das experiencias de vida
=-~;}omospoderiam concordar que "0 sol nao se poe".
dos entrevistados. Nao alego que essas lutas que te_2::'
;-elas quais a validade pode ser reconcei-
"21 ade iranica salienta as insuficiencias da
.__
--_-o..
~--
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mos em comurn tenham me conferido urn "status de
dentro da comunidade de filipino-americanos. Mas afirmo, sim, que essas experiencias compartilhadas me possibilitam trazer para 0 trabalho
uma perspectiva comparativa que e implfcita, intuitiva e permeada por minhas pr6prias identidades e
posicionalidades.Essesaspectos implicitamentecomparativos sac imponantes porque nos permitem
real~ar for~as funcionais diferentes e diferenciadoras da racializa~ao(e-mail, 12 de abril de 1998).
inside1J'
De urn modo mais geral, entretanto, ha uma necessidade de conversas transversais, dialogos que cruzem os terrenos acidentados do discurso e da pratica
(Cooperrider e Dutton, 1999). Mais adiante neste
capftulo, retornaremos a esta questao.
Por fim, nossos debates contemporaneos seriam
enriquecidos por uma amplia~ao do processo da delibera~ao ret6ricalpolftica. Ou seja, seria util colocarmos entre parenteses a questao da validade a favor
de uma serie de questoes alternativas sobre os modos de funcionamento de metodoslrepresenta~oes
variados dentro da cultura. Diante do impacto das
atividades das ciencias sociais na vida cultural, como
estimar 0 valor comparativo de diferentes formas
metodol6gicas/representacionais? Ja existe uma ampia crftica sociopolftica dos aspectos patriarcais, colonialistas, individualistas e hegemonicos do realismolobjetivismo (Braidotti, 1995; hooks, 1990; Penley
e Ross, 1985; Said, 1978; Smith, no prelo). Ainda que
esse tipo de trabalho represente urn importante ponto de partida, pouco se investigou sobre 0 que muitos imaginariam serem as fun~oes positivas da orienta~ao realista - tanto em termos polfticos quanto do
potencial ret6rico. Por exemplo, a linguagem das estatfsticas e apenas uma forma de retorica; no entanto, trata-se de uma retorica que, para certas audiencias e em certas circunstancias, pode ser mais
convincente e mais funcional do que urn estudo de
caso, urn poema ou urn relatorio auto-etnografico. 0
mais importante e que ainda temos que explorar as
diversas implica~oes sociopolfticas e retoricas dos
novos avan<;osdescritas acima. Por exemplo, sera que
as aventuras no esquema de multiplas vozes e no estilo ficcional diminuem ou ampliam 0 interesse ou a
participa<;ao da audiencia? Como dec1arou Jay Gu-
brium, apos expressar suas reservas quanta a esse rrabalho: "E uma materia que pode ser fascinante, e, para
mim, isso ja basta" (e-mail, 2 de abril de 1998). Porem, em uma sociedade na qual as quesroes serias
geralmente exigem respostas c1aras que nao sejam
absurdas, tais contribui<;oes talvez pare~am pouco
praticas, irrelevantes ou uma goza<;ao.Como escreveu Linda Smircich: "Estou em uma escola de negocios e 0 modo dominante de pensar e de pesquisar
ainda e positivistalquantitativo/funcionalista e voltado para os interesses administrativos (...) E raro encontrar urn aluno audacioso" que conteste essas barreiras da tradi<;ao (e-mail, 23 de abril de 1998).
Independente de qual caminho que se escolha, devemos dar continuidade a investiga~ao das fun~oes societais e das repercussoes de diversos modos de comunica<;ao.
Em uma dimensao diferente, podemos questionar se a auto-reflexividade e a reportagem auto-etnografica funcionam de tal forma a privilegiar a experiencia individual sobre as interpreta<;oes sociais
ou comunais. Podemos culpar essas orienta~oes por
sua contribui<;ao a uma ideologia de individualismo
independente? Em suma, serao necessarias analises
comparativas em grande escala da diversidade de ativos e passivos retoricos/polfticos desse grande numero de metodologias que vem surgindo. As analises
que Lincoln (1995, 1998) fez dos criterios para a pesquisa qualitativa fornecem urn pano de fundo significativo para essa troca de ideias (Garratt e Hodkinson,
1998). Entretanto, uma analise mais de perto das repercussoes relacionais das formas alternativas de discurso sera muito bem-vinda.
A reflexao crftica sobre 0 program a empfrico provocou urn segundo turbilhao das aguas qualitativas,
nesse caso em tarno das questoes da representa<;ao,
de seu controle, de suas responsabilidades e de suas
possfveis conseqiiencias (Tierney e Lincoln, 1997 .
Nessas crfticas, 0 destaque central talvez esteja nas
disquisi<;oes de Foucault (1979, 1980) sobre 0 -e:conhecimento. Para Foucault, as disciplinas res;- -''':saveis pela gera<;ao de conhecimentos - :..-:-;q:...:..::
as ciencias sociais - funcionam como for:~es ':'e ,Ltoridade, e, a medida que suas descri.i)es. e!?: -<;oese diagnosticos disseminam-se arra':es c.e. ed:... 2.-
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~' ~ :.~ uu
s praricas, elas ampliam
domfnio po0 con:>': ':e oen~as mentais e as categorias de diagn6s..:: .:a rofissao psiquiatrica pass am a ser reconhe--=:. 5 or todos os profissionais e leigos envolvidos
:: --as questoes, tambem a cultura rende-se ao po:.~~ isciplinador da psiquiatria. Esses argumentos
::-azem serias implica~oes para a comunidade de pes~"·sa. As duvidas san cada vez mais arduas: ate que
:-umo a pesquisa transforma em discurso disci linar
as rea 1 a es 0 senso comum, nao-inspecionadas,
'a cultura? De que modos a pesquisa capac ita a disciplina, e nao aqueles que estao sendo estudados?
Uuando a pesquisaClor passa a mvesngar seus su els para fins de restfg!2-12essoa ou mstttuClonal? A
pesquisa serve as atividades de supervisao, au menrando suas capacidades de controle sobre 0 sujeito
da pesquisa?
\
Vma resistencia cada vez maior entre aqueles que ~
se submetem a investiga~ao nas ciencias sociais intensificou a confronta~ao com essas questoes,Q. arupo das feministas foiJJm dos primeiros a expor suas
queixas quanto)s omissoes e as comissoes das cacacterizacoes das mlJlh.eLes-llaliteratUEa_de...p.es.q:
isa
(Bohan, 1992). Membros de grupos minoritarios estao cada vez mais cientes de que as velhas crfticas da
distor~ao da mfdia publica ou da deturpa~ao de suas
vidas nao tern 0 menor grau de incidencia na pesquisa das ciencias humanas. 0 establishment psiquiatrico
esteve entre os primeiros grupos profissionais a serem visados quando os ativistas gays da decada de
1960 obrigaram-no a retirar a homossexualidade da
nosologia das doen~as mentais. A mesma mensa gem
tambem foi dada pelos afro-americanos irritados com
uma literatura das ciencias sociais que os retratava
como ignorantes ou criminosos. Da mesma forma, os
idosos, as vitimas da Aids, os "sobreviventes dos metodos psiquiatricos" e muitos outros agora sejuntam para
uesrionar os direitos dos cientistas de representar
adequadamente) sua experiencia, suas a~oes dou suas
uadi~oes. Diante dos problemas da validade discutias ameriormente, essas diversas crfticas trazem im. 'ca~oes embara~osas para 0 futuro da pesquisa.
Todavia, essas discussoes tern suas limita~oes.
Quando levadas ao extremo, san tao problematicas
. anto 0 objeto de sua contesta~ao. Em resposta as
~:i'cas foucaultianas, a pesquisa na area de ciencias
anas geralmente segue caminhos mDtra-bege:;'::i as, rrazendo para 0iOCCLcrftia s institui~oes
0
:=::_;: ~ subjuga~ao. Por exemplo, assim que
::
1
de governo, 0 controle economico, as institui oes
e ucacionais, a mfdia, e assim or diante. Nesse sentl 0, esse tlPO de pesquisa pode funcionar como uma
for~a de resistencia e de justi~a social. AJem do mais,
suspender todas as alega~oes de conhecimento seria
0 mesmo que par fim a praticamente todas as tradi~oes - etnicas, religiosas, e outras - que dependem
da capacidade de "identificar 0 mundo". Nem disso,
tambem ha limites para essas alega~oes e crfticas de
grupos de interesse. Por exemplo, as alega~oes aos
direitos da auto-representa~ao encontram-se ao lado
de urn grande numero de alega~oes concorrentes feitas pelos cientistas das humanas - incluindo os direitos a liberdade de expressao, de falar a verdade a
partir de uma perspectiva pr6pria, de contribuir para
a ciencia e de ir em busca de seus pr6prios objetivos
morais. A auto-representa~ao pode ser uma vantagem, mas nao e a unica. Alem do mais, 0 conceito de
auto-representa~ao nao esta livre de problemas. ~
fosse levado ao pe da letra, ninguem teria 0 direito dJ::
glar por ninguem.!,.nem de descrever ninguem. Tal~z se chegasse ate mesmo a questionar a possibilidade de os indivfduos representarem a si mesmos,
pois isso exigiria que eles se apropriassem a mguagem de outras pessoas. 0 indivfduo solitario nao tenenhuma voz particular, nem linguagem de experiencia particular. Sem depender da linguagem dos
outros, e impossfvel chegarmos a inteligibilidade.
na
Diante do movimento dessas correntes contrarias
de opiniao, nova mente se exige uma orienta~ao mais
tolerante e mutuamente reflexiva para 0 processo de
pesquisa. Condizendo com 0 tema central deste capftulo, percebemos 0 potencial gerativo dessas diversas
tensoes, que ja serviram para estimular uma gama de
avan~os significativos e atualmente definiram agendas
para um futuro criativo. Consideremos tres desses
avan~os extrafdos do domfnio qualitativo.
A pesquisa da capacita<;do
Talvez a rea~ao mais 6bvia as preocupa<;oes crfticas com a representa<;ao, e a que melhor se desenvolveu dentro da comunidade qualitativa, e a pesquisa da capacita<;ao.Nela, 0 pesquisador oferece suas
habilidades e seus recurs os a fim de auxiliar os grupos a desenvolverem projeros de interesse mutuo. A
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pesquisa-ac;ao participativa e 0 genero mais desenvolvido desse tipo (Lykes, 1996; McTaggart, 1997a;
Reason, 1994; Smyth, 1991). Em uma variac;ao do
tema da capacitac;ao, Elijah Anderson (1978, 1990)
organizou uma pesquisa cujo objetivo era fomentar
a ligac;ao entre membros de comunidades de outra
forma hostis. Durante muitos anos, Anderson basicamente "morou" nos conjuntos habitacionais e nas
ruas da Filadelfia, criando grupos focais e reunindo
longas narrativas provenientes de grupos de indivfduos que frequentavam as esquinas e outros espac;os
publicos. Seu livro recente, Code of the street (1999), e
voltado para os soci610gos, mas tambem para os planejadores de politicas publicas, para os grupos de bairro, para os educadores e para quem mais estiver envolvido com diversas populac;oes assistidas. Sem abrir
mao da meta explicativa da compreensao do "c6digo" da rua e de suas func;oes, Anderson desenvolve
urn esquema interpretativo que tern sentido tanto para
a sociedade marginalizada quanto para a dominante,
e que, consequentemente, funciona como uma ponte entre essas duas. E uma tentativa de reduzir 0 desrespeito mutuo e a noc;ao de diferenc;a alienada que
de outra forma predominam.
o usa das representac;oes conjuntas para lidar
com as questoes da validade, como mencionamos
anteriormente, tambem pode trazer consequencias
para as questoes da representac;ao. A medida que os
pesquisadores juntam-se aos participantes na investigac;ao e na redac;ao, a linha que divide 0 pesquisador do sujeito perde sua nitidez, e 0 controle sobre a
representac;ao passa a ser cada vez mais compartilhado. Nas primeiras tentativas desse tipo, os participantes da pesquisa ganhavam urn espac;o maior para
"contar suas pr6prias hist6rias". Muitas vezes, contudo, a mao do pesquisador influenciava sutil, porem intensamente, a voz atraves da edic;ao e da interpretac;ao. Para compensar esse problema, alguns
pesquisadores agora pedem aos pr6prios participantes que se envolvam na redac;ao dos relatos da pesquisa. Urn dos exemplos mais inovadores e de maior
projec;ao desse genero e 0 volume Troubling the angels
(1997), de Lather e Smithies. Nele, os investigadores
trabalharam em um grupo de apoio composto pori
mulheres portadoras do vfrus da Aids. 0 relat6rio
inclui relatos de primeira mao dessas mulheres, 0
quais a
dir com 0 u
obscurecerem suas :<?:-=~--; :.:::
dores dedicam sec;oes espc:~' - :. ' _ . - ...::
prias experiencias e comp:ee:l-~ - =-:=...-: ::~ - __
os aspectos nos quais esses di\'e:-s,,:: :;:-...::.:~::::~-_movidos dos discursos da medic' a. ~;:-:: da mfdia, Lather e Smithies acresce:1:a::: ::-...::.::'-.:~
cientfficos e academicos mais formais .. \..-::es ::: ::-_blicac;ao, 0 volume inteiro foi apresema 0 aL: ?~cipantes para que tecessem seus comeman,,:.
=-_
As crfticas representacionais tambem san re~c.::das com explorac;oes que emergem demro da re :esentac;ao distribufda, ou seja, com as tentati\'as .:"
investigador de dar infcio a urn conjunto de \'ozes
diferentes na relac;ao dial6gica. Urn exemplo fasc'nante e dado por Karen Fox (1996), a qual combina
suas pr6prias visoes enquanto pesquisadora com a
narrac;ao das experiencias de uma sobrevivente e
abusos sexuais na infancia ao lado das visoes raramente disponfveis do pr6prio indivfduo respons,h'el
por esses abusos. 0 relato baseia-se em longas entrevistas abertas e na observac;ao participante realizada em uma sec;ao de terapia da qual Fox participou
com 0 transgressor condenado pelo crime de abuso
sexual. 0 trabalho e organizado em urn formato de
tres co lunas, sendo que essas colunas representam
as tres vozes. 0 texto flui no sentldo de encoraJar 0
relior a conslderar essas tres diferentes perspectivas
- separadamente e relacionadas. Todas as palavras
foram dltas pelos falantes. Apesar da selec;ao e da organizac;ao terem sido feitas por Fox, cada urn dos
participantes teve a oportunidade de ler e de comentar todos os materia is. A organizac;ao acaba facilitando uma plena expressao da emoc;ao - ambivalencia.
magoa, raiva e afeto. Fox tambem inclui sua pr6pria
hist6ria de abusos dentro dessa estrutura, rompendo, assim, com a tradic;ao da insularidade do autor.
Outra variac;ao da representac;ao distribufda \'em
de urn grupo ~om osto or tres pesquisadoras que
san tambem ob'etos de seu estudo mutuo
15a ., 1997). Durante cinco meses, esse trio encomrou/3..e em vanas conhgurac;oes de diversos cenarios a :1m
"!!edlscutir 0 t6pico da bulimia. Ha muito tempo. duas
pesquisadoras sofrem de disturbios alimen ares.
A pesquisa culmina em urn relato escrito e e i a':o
eras
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_ : =-~ "";.(0
no qual elas descrevem urn jantar em
n e elegante. E urn cenario bastante proJ ~":"0 . ara 0 tipo de envolvimento especifico que
~ :e.. com a comida, permitindo as autoras que
:::"f.:e de rela~6es complexas a medida que escre'e::-: sobre a experiencia de pedir e de comer uma
: ::U a sendo observadas por individuos que sabem
::e seus "problemas". 0 texto que reline a combina~o de seus esfon;os revela as reflex6es privadas e a
7a.--ricipa~aoativa de cada uma dentro de uma linica
.arrativa. Diferente da apresenta~ao de Fox discuticia anteriormente, na qual as cita~6es sac separadas
?or espa~os em branco, e as perspectivas individuais
sac clara mente delineadas, essa apresenta~ao nao
possui emend as. E como se 0 individuo tivesse 0
"olhar de Deus", ao descobrir quase que simultaneamente as rea~6es privadas de cada autor. Por exemplo, 0 leitor descobre como 0 fato de pedir a sobremesa assume urn serio significado para cada mulher,
e como cada uma resolve seus dilemas interpessoais
no que diz respeito a esse desafio. Essas experiencias
com a representa~ao abrem perspectivas novas e instigantes.
Urn terceiro terreno de controversias esta intimamente relacionado aos temas da validade e da representa~ao, mas suscita quest6es de natureza distinta. Nesse caso, 0 ponto focal recai sobre os
investimentos politicos ou apreciativos do pesquisador. Ha 30 anos, era comum ouvir a afirma~ao de
que os rigorosos metodos de pesquisa eram neutros
em term os politicos ou apreciativos. Os interesses
ideol6gicos podem determinar, ou podem nao determinar, 0 t6pico da pesquisa ou os mod os de utilizar
os resultados, porem, os metodos em si mesmos de\'eriam ser ideologicamente livres. Entretanto, a medida que as criticas p6s-modernas da validade ganharam sofistica~ao, ficou cada vez mais claro que nao
existe urn meio simples de se fazer uma separa~ao
entre 0 metodo e a ideologia. Por exemplo, os metodos adquirem seu significado e sua importancia den:fa de redes mais amplas de significado - metafisica. epistemol6gica, ontol6gica - sendo que essas
mesmas redes unem-se a tradi~6es ideo16gicas e eticas. Quando realizamos experiencias psicol6gicas com
individuos, estamos presumindo a centralidade de
como funciona a mente individual na produ~ao de
quest6es humanas. Os metodos qualitativos que tentam recorrer a experiencia individual garantem quase 0 mesmo privilegio. Dessa forma, esses do is metodos sustentam implicitamente uma ideologia de
individualismo. Do mesmo modo, metodos que presumem uma separa~ao entre 0 pesquisador e 0 objeto de estudo (urn binario sujeit%bjeto) favorecem
uma atitude instrumentalista em rela~ao ao mundo e
uma condi~ao fundamental de aliena~ao entre 0 pesquisador e 0 pesquisado.
Essa no~ao que se faz cada vez mais presente do
politico teve urn impacto significativo sobre a postura da pesquisa. Se a investiga~ao e inevitavelmente
ideol6gica, 0 principal desafio e seguir urn tipo de
pesquisa que expresse da maneira mais profunda
os investimentos politicos e apreciativos do individuo (Smith, 1999). Parafraseando essa ideia, se a
ciencia e a politica por outros meios, deveriamos,
entao, adotar a investiga~ao que con segue alcan~ar
nossos objetivos com maior eficacia. E tambem dentro do dominie qualitativo, 0 qual nao disp6e de
uma metafisica, de uma ontologia, ou de uma epistemologia definitivas, que os individuos investidos
de autoridade politica tern a maior liberdade de gerar metodos talhados unicamente para seus compromissos politicos ou apreciativos (Crawford e
Kimmel, 1999).
E essa no~ao dos potenciais politicos da metodologia que agora provoca uma tensao significativa
dentro da esfera qualitativa. Deparamo-nos com uma
serie de compromissos extremamente partidarios, mas
bastante isolados, - em rela~ao ao feminismo, ao
marxismo, ao ativismo lesbico e gay, ao despertar da
consciencia etnica, ao anticolonialismo, entre outros.2
Cada grupo defende uma determinada visao do bern,
e, consequentemente, aqueles que nao participam
desse esfor~o estao abaixo do bem e talvez sejam obstrucionistas. Muitos tambem desejam ver uma pesquisa qualitativa plenamente identificada com uma
determinada posi~ao politica. Por exemplo, como prop6em Lincoln e Denzin (1994): "Urn projeto de ciencia social p6s-estrutural busca seu embasamento externo nao na ciencia (00') mas, sim, em urn compromisso com urn p6s-marxismo e urn feminismo (...
Urn born texto e aquele que invoca esses compromissos. Urn born texto exp6e como a ra~a, a classe e
o genero introduzem-se gradativamente na vida concreta dos individuos em intera~ao" (p. 579). Ja, para
outros, entretanto, essa consolida~ao da agenda politica amea~a afasta-Ios do dialogo. Muitos individuos
tern preocupa~oes humanas voltadas para outros grupos - os idosos, os individuos vitimas de abusos, os
doentes, os portadores de deficiencia, ete. -, e ha
outros ainda que encontram muitos pontos a serem
valorizados nas tradi~oes e no uso de longa data de
sua pesquisa para instruir os elaboradores de politicas, os lideres organizacionais, ete.
E neste ponto, entretanto, que a mesma 16gica
que atrai urn compromisso descaradamente ideol6gico come~a a discorrer reflexiva e criticamente sobre esses mesmos compromissos. Ao mesmo tempo
em que a virada p6s-moderna enfraquece as alega~oes de validade, ela tambem abre urn espa~o para os
investimentos politicos ou apreciativos; todavia, todos os postulados da realidade que servem para embasar a pesquisa fundamentada na ideologia saG simultaneamente questionados. Se e impossivel alegar
legitimamente a verdade atraves do metodo observacional, entao os relatos da pobreza, da marginalidade, da opressao, e assim por diante, sao, de urn modo
semelhante, transformados em ret6rica. Elimine da
ciencia empirica 0 racional e os fundamentos evidenciais e voce estara eliminando-os tambem da esfera
da critica de valores. E, a medida que essa forma de
critica foi ganhando uma articula~ao progressiva, tambem gerou uma shie de tensoes. Os individuos que
possuem uma postura politicamente partidaria ataearn os argumentos p6s-modernos que outrora favoreceram suas causas, condenando-os sob varios
aspectos, acusando-os de "relativistas", "conservadores" e "irrelevantes" (Reason, 1994).
Diante desses conflitos em rela~ao as questoes
do partidarismo politico, temos novamente a oportunidade de expandirmos 0 potencial da metodologia qualitativa. Os avan~os mais promissores nesse
dominio talvez estejam nas explora~oes conceituais
e metodo16gicas da polivocalidade. No caso dos estudiosos - ao menos em seus textos que vem a publico -, nota-se uma tendencia universal a presumir
a coerencia do eu. Inspirados pelas concep~oes iluministas da mente permeada pelo racional e pelo
moral, eles dao importancia a coerenc:a. ~ ::::~~
e a clareza de objetivos. 0 estudioso ide 'e"c :2C
qual e sua situa~ao e deve responsabilizar-se
~s:.:z
concep~ao do bem. E nesse mesmo semi 0 .ue c..guem pode se dizer, por exemplo, "mamsta". - 25culinista", ou urn "Gray Panther"". Porem, co:uo~me esclarecem cada vez mais as literaturas p6s- 0dernas que abordam 0 tema da "morte do eu". a
constru~ao social, do dialogismo, ete., a concep~20
do eu singular ou unificado e tanto intelectual quanto politicamente problematica. Ha muitas vantagens
em se suspender esse tipo de orienta~ao em beneficio da polivocalidade. Em termos especificos, somos
estimulados, nesse caso, a reconhecer tanto demro
de n6s mesmos, como estudiosos, quanto dentro daqueles que acompanham nossas pesquisa como participantes, a multiplicidade de valores concorrentes e
muitas vezes contradit6rios, impulsos politicos, concep~oes do bern, no~oes do desejo e percep~oes de
nossos "eus" enquanto pessoas (Banister, 1999). Cada
urn de n6s pode desenvolver impulsos em dire~ao ao
marxismo, ao liberalismo, ao anarquismo, e assim por
diante, ao lado de potenciais para aquelas ideologias
que lhes saG mais antagonicas.
Essa visao dos sujeitos polivocais estabelece urn
meio significativo de ir alem das animosidades que
invadem a arena qualitativa. Rosie Braidotti (1995),
uma te6rica feminista, serve-se dessa finalidade com
sua concep~ao da "subjetividade nomade". Vma
consciencia nomade "envolve uma dissolu~ao total
da no~ao de urn centro e, consequentemente, de terrenos originais de identidades autenticas de qualquer
tipo" (p. 5). Chantal Mouffe (1993), urn te6rico politico, sugere que uma concep~ao socialista liberal da
cidadania "leva em conta a multiplicidade de identidades que constituem urn individuo" (p.84). Do modo
como a vemos, a presun~ao da polivocalidade possibilita novas formas de metodologia de pesquisa. Ja
mencionamos metodos nos quais multiplas vozes
ganham acesso a arena interpretativa - vozes dos
participantes da pesquisa, da literatura cientifica. das
visoes privadas dos investigadores, da midia, e assi
'N. de. 1. 0 Gray Panther e urn grupo de pessoas Ca :~,:~_-a
idade que buscarn a prote~ao de seus direitos atra"es ""~;;.;coletivas.
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- ~:~
:\.:_::-ense Edwards, 1998). No entanto, 0
_oli ·ocalidade e mais radical no sentido
.:.~::~e -omos sensibilizados para a possibilidade de
:::.:e odos os grupos presentes a pesquisa possam
-canter multidoes". A questao e saber se os pesquisadores permitem que os grupos participantes (e eles
mesmos) deem expressao a sua multiplicidade - a
toda a complexidade e variedade de contradi~oes que
geralmente caracterizam a vida da sociedade p6s-industrial. Ha urn movimento nessa dire~ao Uacobs,
Munor e Adams, 1995; Richardson, 1998; Travisano,
1998), porem, mal cruzamos seu limiar. Dois trabalhos que vao nessa dire~ao envolvem a pratica de sobreescrever, na qual a autora permite que cada camada da descri~ao anule, revise e modifique suas
identidades e atividades. Entre aqueles que sac submetidos a reconstru~ao estao todos os atores principais - sua pr6pria figura como stripper, dan~arina,
lutadora, pesquisadora e professora (Ronai, 1998,
1999). Pe~as dramaticas que fazem urn corte entre as
exposi~oes do personagem e 0 comentario reflexivo
tambem servem para enfraquecer as posi~oes do sujeito univocal (Gergen, no prelo).
.:....:='::
.:a
Ate este ponto, nossa discussao continuou estreitamente ligada aos debates que atualmente circulam dentro da arena qualitativa, ao lado de urn
enfoque sobre as oportunidades que propiciariam urn
avan~o ainda maior. Nesta ultima se~ao, nossa inten~ao e explorarmos tres dominios a serem invest igados que possuem uma rela~ao compativel com os
anteriores, mas que ampliam consideravelmente 0
dominio da possibilidade. Acreditamos que, ao seguirmos esses caminhos, poderiamos transformar
potencialmente a concep~ao da metodologia, juntamente com nossa compreensao da ciencia social e de
seu tema. 0 mais importante e que vislumbramos 0
potencial das ciencias sociais de ingressar mais ati\·amente na vida cultural, transformando tanto as
concep~oes comuns quanto as formas de a~ao. Estamos diante de desafios estimulantes, porem, entendemos que os dialogos na metodologia qualitativa agora
nos colocam justamente no limiar dessas reformas.
Esbo~amos, entao, os potenciais da pesquisa enquanro processo relacional, as perspectivas da tecnologia e
a reimagina~ao da concep~ao ocidental do eu.
A pesquisa como processo
relacional
Como percebemos, 0 campo qualitativo tornouse uma das principais fontes de inova~ao criativa nos
modos de representa~ao. Experiencias com a reflexividade, a forma litera ria e 0 esquema de multiplas
vozes, por exemplo, injetaram uma nova vitalidade
no esfor~o da pesquisa. Ha, contudo, boas razoes para
uma pressao ainda maior nessas atividades. Em urn
primeiro momento, ressaltamos a rela~ao inextricavel existente entre a pesquisa e a representa~ao: qualquer forma de registro ou de descri~ao e simultaneamente uma forma de representa~ao. Ao mesmo
tempo, entretanto, a representa~ao destina-se inevitavelmente "a uma audiencia". Escrever, por exemplo, e convidar uma audiencia a uma determinada
forma de rela~ao. 0 ate de escrever serve, no minimo, para posicionar tanto 0 eu quanto 0 leitor, dando a cada urn uma identidade e urn papel dentro de
uma rela~ao. Nesse sentido, cada forma de representa~ao - como urn movimento em uma dan~a - favorece certas formas de rela~ao ao passo em que desestimula outras. Assim, os varios generos de textos
na area das ciencias sociais - que variam desde os
misticos e democraticos ate os ludicos - todos eles
favorecem formas distintas de rela~ao (Gergen, 1997).
Em termos gerais, podemos dizer que nossas formas
de representa~ao nas ciencias sociais sao, em si mesmas, convites para determinadas formas da vida cultural.
Nesse contexto, somos ordenados a prestar uma
aten~ao critica a nossas formas existentes de representa~ao e a considerar os avan~os futuros na metodologia em termos dos tip os de rela~oes que eles beneficiam. Por exemplo, grande parte dos textos
tradicionais tende a sustentar as estruturas de privilegios: escrevemos a partir de uma posi~ao de "detentores do conhecimento" para uma audiencia que
"nao detem esses conhecimentos". A forma pende
ao monol6gico, visto que a audiencia nao tern nenhuma oportunidade de participar, e a escolha do vocabulario e da estrutura frasal tende a fazer com que
a produ~ao textual fique isolada do exame de urn
publico mais amplo. Vimos tambem como diversas
experiencias literarias dentro do dominio qualitativo
inauguram novas formas de rela~ao. Novas formas
de reda~ao possibilitam ao autor renunciar a posi~ao
de autoridade, por exemplo, e convidar 0 leitor a uma
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rela<;ao mais igualitaria. 0 desafio imediato para 0
futuro e expandir as formas de representa<;ao para
realizar objefivos relacionais espedficos. Como podemos dar inicio a determinados processos de rela<;aoe, em termos mais espedficos, a processos que
tenham potenciais positivos para a cultura como um
todo?
E nesse ponto que podemos nos juntar a Michelle
Fine e indagar: "que elementos da pesquisa qualitativa sac atraentes, em termos produtivos, em rela<;ao
as praticas democraticas/revolucionarias; em rela<;ao
a organiza<;aoda comunidade; as politicas sociais progressistas; a um envolvimento publico democratizante
com a critica social?" (comunica<;ao pessoal, 1998).
A titulo de ilustra<;ao, no trabalho que desenvolve
tentando aumentar a compreensao dos profissionais
da medicina que trabalham com popula<;6es que estao envelhecendo, Arlene Katz e colaboradores estabeleceram um painel de idosos que servem como recursos dialogicos para os alunos da Harvard Medical
School (Katz e Shotter, 1996). Os tradicionais "sujeitos da pesquisa" aparecem aqui na posi<;aode "insiders
culturais", no que tange a quest6es relacionadas ao
convivio com uma doen<;a ou com sua amea<;a. Seguindo a mesma tendencia, encontram-se os pesquisadores que fornecem aos habitantes dos guetos cameras fotograficas ou de video, capacitando-os a
produzirem materiais visuais proprios, optando por
recriarem 0 "sujeito da pesquisa" como aprendiz e
tambem como professor/informante/atuador. Alem
disso, 0 Public Conversations Project foi responsavel
pela gera<;aode metodos para reunir adversarios implacaveis (por exemplo, defensores do direito a vida e
do direito ao aborto) para um dialogo produtivo
(Becker, Chasin, Chasin, Herzig e Roth, 1995; Chasin
et aI., 1996). David Cooperrider e colaboradores desenvolveram um metodo de discussao denominado
"investiga<;ao apreciativa", que transforma completamente as rela<;6es entre membros de outra forma
hostis de uma organiza<;ao ou de uma comunidade
(Cooperrider, 1990; Hammond, 1996; Hammond e
Royal, 1998). Em todos esses casos, sac forjadas novas formas de rela<;ao.
Em se permitindo sua plena expressao, nesses
movimentos ha um potenciallatente que serviria para
reconstituir integralmente a concep<;ao e a prcitica da
pesquisa. Se, em primeiro lugar, abandonarmos a velha metafora visual do re/investigm; substituindo-a pela
metafora relacional do re(a)preSt~:';''', e::~2~_
antes serviam como sujeitos de pesquisa e - _~:~-~
dos resultados de pesquisa transformam-se e::: ~.::..:-ticipantes relacionais. E se abandonarmos a e:c ::-E.dicional da pesquisa como acumulo de p'" i:c: descobertas estaticas ou congeladas -, subs' •.1:..-:do-a pela gera<;aodo processo comunicativo, e ao-:::
objetivo principal da pesquisa passa a ser 0 estabe ecimento de formas produtivas de rela<;ao.0 pesq 'sador deixa de ser um circunstante passivo que gera
produtos representacionais que se comunicam com
uma audiencia minuscula de pesquisadores. Em \'ez
disso, esse pesquisador torna-se um participante a ivo nesse processo de fotjar rela<;6esgerativas, comunicativas, de construir dialogos continuos e de expandir 0 dominio da delibera<;ao dvica. Um exemplo
disso e que muito ja foi dito a respeito do valor dos
foruns globais de discussao, dos dialogos sobre preconceito que ocorrem em nivel nacional e da revitaliza<;aodas comunidades (a "sociedade civil" ). Porem, os esfor<;os para se atingir esses objetivos tem
se dispersado, e raras vezes incluem pesquisadores
da area das ciencias sociais. No momento, nossas habilidades na cria<;ao de formas sociais sac escassas;
diante dessa reconceitua<;ao contestadora da pesquisa, podemos e deveriamos nos tornar precursores das
praticas relacionais. Em breve retornaremos a essa
questao.
A enorme produ<;ao da tecnologia populista incluindo 0 telefone, 0 radio, a televisao, 0 automovel, os sistemas de locomo<;ao em massa, as viagens a
jato, a publica<;ao em massa e a comunica<;ao por
computador - pode bem representar a transforma<;aocultural mais significativa do seculo xx. Na verdade, 0 cO/pus de trabalhos que tratam das inumeras
dimens6es dessa transforma<;ao cresce vertiginosamente. Entretanto, ate agora pouco se explorou as
implica<;6es dessas mudan<;as para a metodologia de
pesquisa. Como nos escreveu William G. Tierney:
"Continuo com essa ideia de que 0 modo como fazemos a pesquisa qualitativa mudara incrivelmente ao
longo da proxima gera<;aogra<;asa tecnologia" (e-ma'-!,
lOde abril de 1998). Concordamos plename e co:::
essa afirma<;ao.Com isso nao se quer dizer que s'-=:plesmente se abrirao novos campos para a ,es cis"
:- ~ ;:.comunica~ao via Internet, os MUDs"), nem
-:_~ ~~uan 0 pesquisadores, agora temos condi~oes
:..~ '::-_:-;2" a muitas popula~oes com maior eficacia e
_'::'::::?:lCia do que antes; mas, sim, que um divisor de
~~
-ecnologico nos convida a novas formas de
:.:-:: ei uar os metodos de pesquisa juntamente com
-=-_ modo de reimaginar a propria ideia da pesquisa,
:'::-.uindo as identidades do pesquisador, do pesqui:a '0 e da audiencia. Vamos esclarecer primeiro as
~ estoes conceituais, para entao voltarmos nossa
a en~ao as questoes metodologicas.
o desafio de um tema evanescente e de extrema
importancia para 0 pesquisador. As metodologias da
pesquisa tradicional unem-se a uma concep~ao de
um objeto de estudo relativamente fixo. E possivel
passar varios anos estudando um topico dentro de
uma determinada popula~ao ou subcultura; muitos
anos depois 0 trabalho talvez seja publicado, na esperan~a de que continue sendo informativo em um
futuro proximo. Por tras desse fato esta a suposi~ao
de que 0 tema permanecera relativamente estavel, e a
pesquisa preservara sua relevancia. Todavia, com a
prolifera~ao global das tecnologias de comunica~ao,
em particular, os processos de elabora~ao de significados tambem sofrem uma acelera~ao. Os valores, as
atitudes e as opinioes tambem estao sujeitos a uma
rapida oscila~ao, e com eles os padroes de a~ao a eles
relacionados. N a realidade, a relevancia temporal de
um estudo de pesquisa e cad a vez mais circunscrita,
e a meia-vida da analise cultural cada vez mais curta.
A duvida, entao, e se nossos metodos tradicionais de
pesquisa/representa~ao estao se tornando rapidamente irrelevantes para as condi~oes contemporaneas.
Como justificaremos 0 estudo de diversas culturas
ou subculturas, por exemplo, quando a propria concep~ao da cultura enquanto grupo de pessoas que
tem em comum um padrao permanente de significado e de a~ao esta sofrendo um desgaste (Hermans e
Kempen, 1993)? As culturas, assim como aqueles que
as constroem, estao em movimento em todos os lugares (S. G. Jones, 1998).
Em um primeiro momento, a condi~ao do tema
e\,anescente e um convite para que os pesquisadores
prevejam a propria atua~ao mais como jornalistas do
._ -.de T. Forma abreviada de Multi-User Dimension. Os MUDs
sao mundos de realidade virtual co lab orativa mente construid s sobre pad.grafos de textos na Internet.
que como cientistas tradicionais - comentadores do
contemporaneo em oposi~ao a fun~ao de pedreiros
do edificio do conhecimento progressivo. Nossa missaG deveria ser contribuir para os dialogos culturais
no presente, em oposi~ao ao imediatamente. Entretanto, ha limites tambem para essa conclusao, particularmente porque, a medida que os elos de comunica~ao saG amp Iiados para todas as dire~oes,
pass am os para uma condi~ao de imerdependencia de
significado em larga escala. A concep~ao tradicional
dos metodos de pesquisa nas ciencias sociais desenvolveu-se em condi~oes de uma satura~ao tecnologica relativamente baixa. Nessa circunstancia, os sujeitos da pesquisa podiam submeter-se a uma analise
detalhada sem maiores temores quanto a suas repercussoes. Nao apenas suas identidades eram normalmente protegidas, como os relatos de suas atividades
(invariavelmente repletos de valores) estavam sujeitos a um grande atraso em termos temp ora is, sendo
compartilhados apenas com uma pequena comunidade de cientistas. Assim que passamos para as condi~oes da sofisticada tecnologia das comunica~oes,
notamos uma mudan~a dramatica nesse quadro. Ha
um acumulo de tra~os da identidade do individuo
como participante da pesquisa (considere 0 desafio
da privacidade na Internet), e a possibilidade de que
as informa~oes passadas de uma pessoa para um pesquisador sejam imediatamente transmitidas a uma
popula~ao mais ampla. Alem do mais, essas mesmas
tecnologias tambem intensificaram a consciencia
quanto aos usos politicos e morais para os quais a
pesquisa se aplica (Ceglowski, no prelo). Consequentemente, 0 proprio fato de ser convidado para participar de um projeto de pesquisa pode gerar uma precau~ao defensiva, ou ainda pode ser visto como uma
oportunidade de proselitismo. Como bem observam
os individuos que realizam pesquisas por telefone,
ha uma sensibilidade maior em rela~ao a questoes
como: "que grupo est a patrocinando esta pesquisa, e
como utilizara os resultados? Em um sentido metaforico, chegamos a uma condi~ao nao muito diferente da fisica contemporanea. Nao estamos mais estudando individuos independentes (atomos sociais);
mas estamos entrando, ao inves disso, em um campo
de rela~oes no qual nos, como pesquisadores, somos
inteiros. E, assim como no efeito Heisenberg, a medida que embarcamos em nossa pesquisa, alteramos
a composi~ao do campo. Agir como pesquisador e
perturbar inerentemente 0 sistema das rela~oes, e, tal
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como 0 bater das asas de uma borboleta na China", os
efeitos da propria pesquisa podem dar origem a multi'plos eventos imprevistos a distancia.
E fundamental uma delibera~ao maior dessas
questoes, e vemos tres perspectivas significativas de
pesquisa que se abrem para 0 cientista social. A primeira desenvolve-se a partir de nossa proposta anterior de estabelecer comunidades de didlogo. Se 0 terna da
pesquisa social esta em movimento continuo, e nossa pesquisa inevitavelmente altera esse fluxo, entao
ainda ha mais razoes para se gerar terrenos de pesquisa de dialogo ativo. A Internet serve como urn
importante contexto para esse tipo de investiga~ao.
Tomemos como exemplo a configura~ao politica da
World Wide Web. Atualmente, milhares de grupos
politicos, religiosos, etnicos e que giram em torno de
valores oferecem sites informatil'Os e 9ue convidam
para a participa~ao. 0 individuo pode fazer parte de
grupos neonazistas, da Ku Klux Klan, ou dos druidas
com a mesma facilidade com que participa do Partido Democratico, Republicano ou Reformista. Contudo, embora cada urn desses grupos tenha uma forma essencialmente centripeta, convidando os outros
a participarem de urn drculo relativamente fechado
de significados reiterativos, os sites que lidam com a
elabora~ao de significados praticamente nao se empenham em gerar diatogos; e a necessidade de dialogos produtivos e vital, particularmente no caso de
grupos antagonistas. Em nossa opiniao, seria salutar
a cria~ao de urn trabalho de pesquisa que fomentasse uma troca de ideias on-line entre linhas de diferen~a. Alem do mais, para muitas pessoas que nao tern
condi~oes de estar fisicamente em contato com outras com as quais compartilham de interesses vitais,
essas trocas de ideias mediadas por computador seriam extremamente proveitosas. Mais uma vez, a comunidade de pesquisa poderia ter urn papel ativo na
gera~ao desses recursos.
Tambem se beneficiaria 0 desenvolvimento de
metodos condutores - ou seja, de esfor~os tecnologicos
que cl.essemvisibihdade publica as vozes, as opinioes,
as necessidades e as aspira~oes de diversos grupos
*N. de T. Referencia ao Efeito Borboleta, que e urn exemplo
ilustrativo da Teoria do Caos, segundo 0 qual uma perturba<;iiotiio insignificante quanto 0 bater das asas de uma borboleta na China seria responsave! por altera<;6es climaticas em
alguma outra parte do globo.
marginalizados ou suprimidos do mu;;"'.,. ::::-...: ...:for~os ja sac evidentes na midia im esSe.. _-,., _,--:-:=
dos anos, os pesquisadores sociais re si"'" e:7e:::-.:.mente eficazes na representa~ao das vozes e d.a.sc :;di~oes de numerosos grupos subalrernos e::: :e:.:.::
textos. Todavia, essas contribui~oes sac nonna:.:::e::te escritas para uma audiencia profissional de c' :1la~ao circunscrita. Com a disponibilidade da In e:ne:.
os potenciais para garantir a visibilidade e u a comunica~ao eficaz aumentaram exponencialmen e.
Vma ampla ilustra~ao desses potenciais e dad a pelo
movimento popular revolucionario do estado me,"cano de Chiapas. Esse grupo poderia ter sido erradicado pela milfcia do governo, porem, sua habilidade
de levar seu caso perante uma audiencia global atrayes da Internet mudou radicalmente suas circunstancias poIfticJl;;/J.n.JlwtJP.5 P»PP.5 .f..5pJl)>>Jl£lp.J pd<?
mundo vieram a seu auxflio, uma intensa comunica~ao foi dirigida aos oficiais do governo mexicano e
politicas do governo sofreram restri~oes significativas. Sao exatamente esses esfor~os que os atuais curriculos da area das ciencias sociais deveriam facilitar.
Por fim, urn desafio ainda maior esta no atual
processo de transforma~ao tecnologica que e urn
convite para a cria~ao do que poderiamos considerar
laboratorios de vida. Ou seja, as condi~oes tecnologicas permitem a realiza~ao de experiencias sociais em
uma escala sem precedentes - a cria~ao de novas
condi~oes de intercambio que poderiam abrir possibilidades futuras, ou mesmo ja torna-Ias realidade.
Assim como no caso da politica em Chiapas, a culrura popular mostra 0 caminho. As tecnologias da Internet agora fazem pipocar inumeras cibercol71unidades
(S. G. Jones, 1998; Markham, 1998; Porter, 1997) e
sites, nos quais os individuos podem fazer experiencias com multiplas identidades ou participar de identidades novas e imaginarias (Rochlin, 1997; Turkle.
1995). Enquanto comunidade de pesquisa, nos nos
defrontamos entao com a possibilidade de passarmos
das abstra~oes teoricas e polfticas para a constru<;ao
de mundos virtuais que poderiam influenciar 0 futuro. Esses mundos virtuais nos permitiriam experie cias com processos relacionais - tais como fonnas
de dialogo para a redu~ao de conflitos, de depressa
ou de anomia - ou, na realidade, de oferecer a s
participantes experiencias novas e que fosse.. 11:=
convite para 0 crescimento. Em uma linha re e:'a:::e
de investiga~ao, 0 pesquisador holandes de a..l ':istra~ao publica Paul Frissen e seus coleoas ~
r
- _,,-_;;'::.0 com elaboradores de politicas preocu~_:.~: e::: 'ennir como e se 0 governo deveria des en• 'C e a licar leis quanto a comunica<;:ao na Inter-:__ . econhecendo a rapida transforma<;:ao que vem
.: :-:-endo no mundo da Internet, Frissen e seus coi;:lS estabeleceram uma comunidade virtual cuja
~ . :encia ultrapassa a lei de qualquer na<;:ao.Sem
:-.e. urn mandato publico, essa comunidade e res;' :\~savel pela gera<;:aode suas pr6prias "leis" da co:::unica<;:aovia Internet. Os funcionarios do governo
-ao entao convidados a entrarem nesse mundo para
com'ersarem com seus participantes, testarem os
• oderes da rede e explorareI? seus potenciais a medida que estes se revelam. E atraves dessa imersao
nesse mundo - virtual, porem de conseqiiencias
potencial mente palpaveis - que tanto os participantes quanto os elaboradores de politicas enriquecem
suas perspectivas (Gergen, 2000). A nosso ver, ha
enormes possibilidades para a cria<;:aode mundos
experimentais.
as metodos qualitativos e a
reconstruyoo do eu
Os conceitos e as ideologias individualistas estao
profundamente infundidos na maioria das metodologias qualitativas. Concentrar pesquisa sobre a experiencia, os sentimentos, a identidade, 0 sofrimento
ou a hist6ria de vida do individuo e 0 mesmo que
presumir a primazia da mente do individuo. Empregar uma metodologia que tente dar voz ao "outro" ja
e favorecer uma metafisica da diferen<;:ado euloutro.
De urn modo semelhante, as formas de representa<;:aoque beneficiam a hierarquia e 0 mon610go estao
inclinadas a reificar 0 "conhecedor". Ate mesmo 0
reconhecimento da autoria do relat6rio de pesquisa
e responsavel pela constru<;:ao de urn mundo de individuos isolados, independentes. De urn modo gera!, os metodos qualitativos mantem uma postura de
individualismo metodol6gico e ideol6gico. Ao mesmo tempo, como resumimos acima, com 0 influxo
as formula<;:6es p6s-modernas, construcionistas e
ial6gicas, ficamos cad a vez mais cientes das limita<;:6es- tanto em termos conceituais quanto ideol6'cos - da tradi<;:aoindividualista. Alem disso, como
uitas inova<;:6esqualitativas passaram a sugerir, exise alternativas para essa tradi<;:ao.Em nossa opi:ao, a mais importante dessas alternativas pode ser
enominada relacional. A medida que nossas meto-
a
dologias tornam-se cada vez mais sensiveis a rela<;:ao
dos pesquisadores com seus sujeitos (considerandoa dial6gica e capaz de levar a uma constru<;:ao conjunta), a rela<;:aodos pesquisadores com suas audiencias (considerando-a interdependente), e a negocia<;:ao
do significado dentro de qualquer rela<;:ao(enxergando nela urn potencial para ramificar-se pela sociedade) a atividade individual deixa de ser nossa principal
preocupa<;:ao. Efetivamente criamos a realidade do
processo relacional.
E assim que as inova<;:6esem narrativas construidas em conjunto, em metodos de multiplas vozes, na
pelforl1lance participativa, na representa<;:ao conjunta
e distribuida e na pesquisa-a<;:ao participativa, por
exemplo, fazem muito mais do que amp liar a arena
metodol6gica. Ao subverterem 0 individualismo metodol6gico, elas pass am a gerar uma nova forma de
consciencia. 0 que se celebra nao e a mente particular, mas a conectividade integral. As metodologias
dial6gicas ilustram muito bem essa ideia. Por exemplo, Mary Gergen (no prelo) introduziu 0 t6pico da
menopausa a urn grupo de discussao formado por
oito mulheres, como meio de neutralizar 0 modelo
medico da menopausa e abrir novos espa<;:ospara a
elabora<;:aode significados. Atraves da amplia<;:aodo
dialogo, 0 grupo gerou vis6es novas e mais positivas
do processo de envelhecimento. De um modo semeIhante, Frigga Haug e seus alunos (1987; Crawford et
aI., 1992) prepararam situa<;:6esnas quais as mulheres compartilharam hist6rias que expunham seu desenvolvimento emocional. Atraves de seus dialogos
mutuos e de suas se<;:6esinterpretativas, conseguiram reconstruir seu passado e gerar uma no<;:aode
como a cultura cria a feminilidade. Nesses casos, 0
dialogo ficou circunscrito ao pesquisador ou aos participantes. Ainda nessa linha de interesse na pesquisa
enquanto rela<;:ao,podemos perceber 0 potencial de
utiliza<;:aoda pesquisa para gerar um dialogo que se
desenvolva ao deixar seu terre no original. 0 objetivo
da pesquisa passa a ser incitar um dialogo que talvez
sofra transforrna<;:6escontinuas ao atravessar uma rede
ampliada.
Entendemos que estas sac apenas as primeiras
mudan<;:as que se prop6em ao que deveria se transformar em um novo vocabulario da metodologia de
pesquisa, e enfim, em uma reconceitua<;:ao relacional
do eu. Essas metodologias passarao a integrar cad a
vez mais os conceitos emergentes da mem6ria comuna!, da cogni<;:aodistribuida e da emo<;:aorelacio-
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nal. Ficaremos aguardando conceitos que esclare~am
especificamente 0 processo relacional do qual emerge 0 pr6prio conceito da mente individual. Com 0
impulso das praticas e da teoria, a comunidade qualitativa pode vir a desempenhar urn papel vital na
transforma~ao cultural.
2. Michelle Fine (comunica~ilo pessoal. 19 =_"":_2nou essa linha: "sera que s6 0 feminismo. ~ ::-.."-.::6mo, as lesbicas,os gays (... ) silopoliticos? 0 ;:::.:e "-~'::teceu com a boa e velha psicologia e ~:~e:::;..
Em sua introdu~ao a edi~ao do Manual de pesquisa qualitativa de 1994, Denzin e Lincoln declaram que
"estamos em uma nova era na qual textos confusos,
incertos, que exponham multiplas vozes, criticas culturais e novos trabalhos experimentais serao cad a vez
mais comuns" (p. 15). Ao mesmo tempo, sugerem que
"0 campo da pesquisa qualitativa e definido por uma
serie de tensoes, contradi~oes e hesita~oes" (p. 15).
Essa analise serve como urn grande suporte a seus
progn6sticos. Ao lado da critica e da experimenta~ao, tambem aparecem as tensoes, as contradi~oes e
as hesita~oes por eles mencionadas, porem entendemos que elas nem chegam a ser sinais de decadencia.
Ao contrario, e atraves dessa matriz de incerteza, na
qual cruzamos incessantemente os limites dos enclaves estabelecidos - pela apropria~ao, reflexao, cria~ao -, que se extrai a vitalidade da investiga~ao qualitativa. E aqui que situamos 0 poder inovador que
est<i mudando a cara das ciencias sociais. Se pudermos evitar os impulsos em dire~ao a elimina~ao, a
furia pela ordem e 0 desejo pela unidade e singularidade, conseguiremos preyer a prosperidade continua
da investiga~ao qualitativa, cheia de incidentes serendipitosos e expansoes gerativas. E, especialmente,
se confirmarmos as implica~oes da crescente centralidade da rela~ao sobre os individuos - e imaginarmos essas implica~oes praticamente dentro das esferas emergentes da tecnologia -, poderemos ter urn
papel efetivo na reconstru~ao das ciencias sociais e
na altera~ao das trajet6rias das culturas nas quais
participamos.
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