MORFOLOGIA E HISTOLOGIA DO MILHO (Zea mays)

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MORFOLOGIA E HISTOLOGIA DO MILHO (Zea mays)
MORFOLOGIA E HISTOLOGIA DO MILHO (Zea mays)
LORSCHEITER, Arthur¹
NONNENMACHER, Clecir Miguel¹
PANISSON, Daiane¹
LEITE, Daniel¹
LUSA, Fernando¹
DALSASSO, Tiago Comin¹
SLAVIERO, Angelice2
STAKONSKI, Carlos Alberto2
URIO, Elisandra Andreia2
SCOLARI, Lidinara Castelli2
RESUMO: Realizou-se o estudo dos aspectos morfológicos e histológicos do milho. A planta é constituída por
uma haste cilíndrica com nós e entrenós compactos. Para realização das exsicatas utilizou-se uma prensa, com
jornal para acondicionar e absorver a umidade dos órgãos vegetativos da planta do milho. Coletou-se plantas nos
estádios fenológicos V1, V2, V3, V4 que foram cultivadas em ambiente controlado. Para a confecção de lâminas
histológicas utilizou-se Formol Acido acético (FAA) para manter a planta nas mesmas propriedades histológicas
encontradas. O material coletado permaneceu no formol acido acético pelo período de 24h, após foi armazenado
em álcool 70% até o momento da desidratação, onde consistiu em banhos de álcool, butanol e parafina
histológica para realizar o emblocamento, posteriormente o material foi cortado em micrótomo, com espessura
de 6 micras. Após o corte, as lâminas foram coradas em azul de metileno 1% e montadas. Morfologicamente a
planta dispõe de sistema radicular fasciculado, apresentando raízes adventícias; caule tipo colmo, provido de nós
e entrenós; sistema foliar abundante com folhas estreitas e longas, característica das gramíneas; e, por se tratar de
planta monóica, possui inflorescências distintas, e ambos os sexos na mesma planta. Histológicamente é
classificada como monocotiledônea; possuindo sistema vascular disperso, crescimento primário, revestido pela
epiderme em todo corpo vegetal, parênquima e sistema vascular.
Palavras-chave: Zea mays, morfologia e histologia.
ABSTRACT: We carried out the study of morphological and histological aspects of corn. The plant consists of
a cylindrical rod with compact nodes and internodes. To perform the herbarium specimens we used a press, with
paper to contain and absorb moisture from vegetative organs of the corn plant. Plants were collected, the
phenological stages of V1, V2, V3, V4, which were grown in controlled environment. For the preparation of
histological sections was used Formaldehyde Aacetic Acid (FAA) to keep the plant in the same histological
properties found. The collected material was kept in formalin acetic acid at 24 hour period after it was stored in
70% alcohol until the time of dehydration, which consisted of alcohol baths, butanol and histological paraffin to
perform the embedment subsequently the material was cut into microtome with a thickness of 6 microns. After
cutting, the slides were stained with 1% methylene blue and mounted. Morphologically the plant has fasciculated
root system, with adventitious roots; stem type stem, provided with nodes and internodes; abundant leaf system
with narrow, long leaves, characteristic of grasses; and, because it is monoecious plant, it has distinct
inflorescences, and both sexes on the same plant. Histologically is classified as monocot; having dispersed
vascular system, primary growth, covered by epidermis throughout plant body, parenchymal and vascular
system.
Keywords: Zea mays, morphology and histology.
_______________________________
1
Acadêmico do segundo nível do curso de agronomia do Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto
Uruguai – IDEAU. Getúlio Vargas, RS, Brasil ([email protected]; [email protected]
[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]).
2
Professor(a) do curso de agronomia do Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai – IDEAU.
Getúlio Vargas, RS, Brasil.
2
1 INTRODUÇÃO
O milho é uma planta de caráter monóico e a sua morfologia característica resultam da
supressão, condensação e multiplicação de várias partes da anatomia básica das gramíneas. Os
aspectos vegetativos e reprodutivos da planta de milho podem ser modificados através da
interação com os fatores ambientais que afetam o controle da ontogenia do desenvolvimento.
Contudo, o resultado geral da seleção natural e da domesticação foi produzir uma planta
anual, robusta e ereta, que é esplendidamente “construída” para a produção de grãos
(EMBRAPA, 2002). O milho é um cereal pertencente à família das Poaceae, da subfamília:
Panicoidea, do gênero: Zea e da espécie: Zea mays L. e o seu ancestral conhecido como
teosinto: Zea mays mexicana (BORÉM, 2005).
O homem foi selecionando variações genéticas naturais, que, gradativamente, deram
origem ao milho domesticado. Inicialmente, os grãos eram expostos fora da casca, formando
um sabugo, parecido com a forma que se conhece atualmente. Essa estrutura, que reteve os
grãos e os organizou em pequenos pares de fileiras (CONSELHO DE INFORMAÇÕES
SOBRE BIOTECNOLOGIA, 2006). Segundo o Conselho de Informações sobre
Biotecnologia (2006), a mais antiga espiga de milho foi encontrada no vale do Tehucan, no
México, entorno de 7.000 a.C, o Teosinto, que é uma gramínea que produz várias espigas sem
sabugo.
Os maiores produtores mundiais de milho são os Estados Unidos, com
aproximadamente 37 % do total (Safra 2013\14), China, Brasil, Comunidade Europeia e
Argentina (EMBRAPA, 2013). Segundo estimativas da USDA para 2014, os principais países
exportadores de milho são os EUA com 32,2%, e o Brasil com 17,6%, destacando sua
participação na safra de 2012\13, de 27 milhões de toneladas. Os maiores importadores são o
Japão, com 15,1 %; México e Coreia do Sul, com 6,8% cada. Desde a safra de 2005\2006, a
produção mundial de milho cresceu em torno de 38%, atendendo ao aumento do consumo,
que foi em torno de 32%. Mesmo assim, os estoques mundiais se encontram entorno de 16,1
% suficientes apenas para suprir a demando mundial por cerca de 2 meses. Apesar de maior
produção em relação ao consumo neste período, houve um maior consumo que produção nos
últimos 3 anos (EMBRAPA, 2013).
O Brasil por sua vez, na safra 2012/2013 colheu aproximadamente, 60 de toneladas e
estima-se para a safra 2013/2014, em torno de 78 milhões toneladas, conforme as estimativas
da CONAB (2014).
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Propõe-se com este trabalho o estudo dos aspectos morfológicos e histológicos, bem
como, as suas funções e importância para a estrutura produtiva, sempre buscando informações
que contribuam para aprimorar o conhecimento sobre a cultura do milho, para conhecermos
seu pleno potencial de produtividade.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Confecções das exsicatas
Para realização das exsicatas utilizou-se uma prensa (Figura 1a) de 50 x 50 cm de
largura confeccionada com ripas de madeira de 2 cm de largura intercaladas com espaçamento
de 15 cm entre elas. Dentro da prensa utilizou-se jornal para acondicionar e absorver a
umidade dos órgãos vegetativos da planta do milho (Figura 1b).
a
b
Figura 1. a) Prensa b) Acondicionamento da planta dentro da prensa sobre o jornal. Fonte: Dalsasso, T.
C., Passo Fundo, 2014
Coletou-se plantas nos estádios fenológicos V1, V2, V3, V4 (Figura 2) que foram
cultivadas em ambiente controlado (estufas) devido estar fora do zoneamento agro climático.
Para facilitar a coleta optou-se pela semeadura em vasos preenchidos com substrato poroso de
origem florestal.
Realizou-se o arranque das plantas, e limpeza das raízes (Figura 2), assim a planta
inteira foi colocada entre jornais de forma que a mesma não ficasse dobrada e nem
sobreposta, para facilitar a secagem. Posteriormente foi colocado na prensa por 6 dias,
exposto ao sol, trocando o jornal diariamente.
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a
b
c
Figura 2. a) iniciando o processo de secagem, b e c) Plantas coletadas e limpas para a secagem. Fonte:
Dalsasso, T. C., Passo Fundo, 2014
2.2 Confecção de lâminas histológicas
2.2.1 Coleta do material para o processamento histológico
Para a confecção de lâminas histológicas utilizou se Formol Ácido acético (FAA) para
manter a planta nas mesmas propriedades histológicas encontradas. Coletou-se órgãos como
raiz, caule e folhas no estádio de duas folhas completamente desenvolvidas (V2), na ausência
de sol, e imediatamente colocou-se no frasco contendo fixador até cobrir totalmente o
material.
2.2.2 Processamento laboratorial histológico
O material coletado permaneceu no formol ácido acético pelo período de 24h, após foi
armazenado em álcool 70% até o momento da desidratação.
Com o objetivo de proporcionar a absorção lenta do álcool pela planta, realizou-se a
saturação gradual com componente líquido utilizado para banhar a planta, da seguinte forma:
este processo iniciou com álcool a 10%, na sequência a 30%, 50%, 70%, 80%, 90% até
chegar ao absoluto (99,3%), sendo que a planta permaneceu 30 minutos em cada solução.
Após, o material passou por banhos em butanol e álcool na proporção de 3:1, 1:1 e 1:3
respectivamente, permanecendo por mais 30 minutos em cada solução. Em seguida,
permaneceu mais 1 hora em solução de butanol. Posteriormente, foram realizados 2 banhos de
1h de parafina histológica, em estufa a 60 oC. Para finalizar foi realizado o emblocamento, que
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consiste no depósito do tecido da planta juntamente com a parafina histológica em formas
para o resfriamento.
Os blocos com o material foram cortados em micrótomo, com espessura de 6 micras.
Após o corte, as lâminas foram coradas em azul de metileno 1% e montadas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Morfologia do Milho
A planta de milho (Figura 3), estruturalmente, é constituída por uma haste cilíndrica
com nós e entrenós compactos. Cada nó abaixo do solo produz raízes, e os nós, no nível do
solo ou acima, podem produzir perfilhos e raízes adventícias. As folhas e as ramificações
podem permanecer no estado embrionário ou desenvolverem-se para formar as
inflorescências femininas (espigas) são produzidas a partir do nível do solo. O colmo
compacto termina na inflorescência masculina (pendão). As folhas são gradualmente
expostas, à medida que o colmo se alonga, contudo o crescimento ocorre em sua maior parte
quando as folhas estão fechadas. Estas estão arranjadas alternadamente e suportadas pelas
suas bainhas que envolvem o colmo (FORNASIERI, 2007).
O período vegetativo inicia com o processo de germinação da semente e emergência
da plântula e o período reprodutivo é quando a planta emite o pendão, nesse momento o
crescimento vegetativo cessa.
Figura 3. Início do desenvolvimento do milho. Fonte: Panisson. D, Getúlio Vargas, 2014
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3.1.1 Semente
A semente do milho é classificada botanicamente como cariopse, apresentando três
partes: pericarpo, endosperma e o embrião (Figura 4). O pericarpo é uma camada fina e
resistente, constituindo a parte mais externa da semente. O endosperma é a parte da semente
que está envolvida pelo pericarpo e a que apresenta maior volume, sendo constituída por
amido e outros carboidratos. O embrião encontra-se ao lado do endosperma, possui
primórdios de todos os órgãos da planta desenvolvida, ou seja, é a própria planta em miniatura
(BARROS e CALADO, 2014). A sacarose transloca-se do endosperma até o embrião, onde é
utilizada como fonte de energia para o início do desenvolvimento da radícula, que é a
primeira estrutura a romper o pericarpo (SANGOI et al., 2007).
As sementes plantadas absorvem água, incham e começam a crescer. A radícula é a
primeira a se alongar, seguida pelo coleóptilo, com plúmula incluída, onde ocorre a elongação
do mesocótilo, o qual empurra o coleóptilo em crescimento para a superfície do solo
(EMBRAPA, 2006).
Figura 4. Partes básicas da uma semente de milho. Fonte: http://m.milkpoint.com.br/radartecnico/conservacao-de-forragens/conhecendo-e-escolhendo-hibridos-de-milho-para-silagem-80791n.aspx
(Adaptado).
Baseadas nas características do grão (Figura 5), existem cinco classes ou tipos de
milho: dentado, duro, farináceo, pipoca e doce. A maioria do milho comercial produzido
nacionalmente é do tipo duro, enquanto, nos países de clima temperado, a predominância é do
tipo dentado. Geralmente, a classificação do milho quanto ao tipo dos grãos procede quando
os grãos já estão secos e ainda aderidos ao sabugo, uma vez que, numa mesma espiga, pode
haver grãos com aparência de dois tipos, devendo ser classificado com base na predominância
(EMBRAPA, 2006).
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Figura 5: Classificação quanto ao tipo de Grão. a)Pipoca b)Duro c)Dentado e d)Farináceo. Fonte:
EMBRAPA, Sete Lagoas, 2006
3.1.2 Sistema radicular
O milho tem raiz fasciculada (Figura 6), com grande capacidade de desenvolvimento.
A parte do embrião que corresponde à radícula vai dar origem à raiz primária, que se
aprofunda no solo verticalmente (EMBRAPA, 2002). Segundo Barros e Calado (2014) em
seguida surgem as raízes secundárias (Figura 7), as quais apresentam uma grande disposição
de ramificação, é quando a raiz primária desintegra-se.
Figura 6. Desenvolvimento inicial do sistema radicular. Fonte: Lorscheiter, A., Getúlio Vargas, 2014.
As raízes seminais são originárias da semente e são as responsáveis pela sustentação
da plântula durante a etapa inicial. Esse sistema radicular é temporário, iniciando a sua
degeneração logo após o surgimento das primeiras raízes adventícias que surgem dos nós do
colmo, abaixo da superfície do solo. Este segundo sistema radicular passa a constituir-se no
principal mecanismo de extração de água e de nutrientes do solo e de fixação da planta ao
solo durante todo o ciclo de desenvolvimento (EMBRAPA, 2013).
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Figura 7. Sistema radicular de uma planta de milho, apresentando raízes secundárias intensamente
ramificadas e raízes adventícias. Fonte: Panisson, D. Getúlio Vargas, 2014.
Posteriormente, surgem as raízes adventícias (Figura 7), que partem dos primeiros nós
do colmo e quando atingem o solo ramificam-se intensamente, sendo este aspeto muito
importante na sustentação física da planta (BARROS e CALADO, 2014). E pesquisas têm
evidenciado que elas também podem absorver quantidades significativas de fósforo e de
outros nutrientes da camada mais superficial do solo (EMBRAPA, 2013). Esse sistema
raramente penetra mais que 40 centímetros no solo e quando está plenamente desenvolvido
atinge um raio de cerca de 50 centímetros em torno as planta (CAVALCANTI, 1973).
3.1.3 Caule
O caule do milho (Figura 8) é um colmo ereto, não ramificado, apresentando nós e
entrenós que são denominados de meritalos, ricos em açúcar. Tem a função de suportar as
folhas e partes florais, além de ser um órgão de reserva, armazenando sacarose (BARROS e
CALADO, 2014).
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Figura 8. Planta de milho em pleno desenvolvimento, apresentando nós e entrenós Fonte: Dalsasso, T.
C., Passo Fundo, 2014
Barros e Calado (2014), afirmam que a planta pode atingir uma altura de cerca de 2
metros, podendo variar o seu porte. Quando ele apresenta aproximadamente 15 centímetros de
altura o caule já está totalmente formado, possuindo todas as folhas, os primórdios da
inflorescência feminina que irão constituir a espiga e a qual se localiza na axila das folhas e,
possui também os primórdios da inflorescência masculina, situada na extremidade (ápice) do
caule. A partir daqui, o crescimento da planta será função do acréscimo do número de células
e do aumento do seu volume.
Todos os nós do colmo tem potencial para produzir uma espiga, exceto os últimos 6 a
8 nós abaixo do pendão, assim a planta teria potencial para produzir varias espigas, porém
apenas uma ou duas conseguem completar o seu crescimento (WEISMANN, 2008).
3.1.4 Folhas
As plantas do milho são consideradas folha (Figura 9) estreita, com o seu
comprimento a ser muito superior à largura (BARROS e CALADO, 2014). As folhas novas
formam-se a partir de um ponto de crescimento situado na extremidade do colmo, surgindo
em cada nó, de forma alternada. O número total de folhas formado por planta é variável,
dependendo principalmente da cultivar e da época de semeadura. Quando a planta diferencia
o número total de folhas, ocorre uma mudança rápida e brusca na função do ponto de
crescimento, se diferenciando num minúsculo pendão (EMBRAPA, 2013).
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Nos primeiros dias após a emergência, as plântulas de milho são heterotróficas,
dependendo das reservas do endosperma para continuar o seu desenvolvimento. A partir do
estádio de duas folhas completamente desenvolvidas a planta se torna autotrófica, passando a
depender unicamente e exclusivamente dos fotoassimilados produzidos pelas folhas
(SANGOI et al., 2007), oriunda da fotossíntese que inicia a função de acúmulo de matéria
seca, ou seja, de alimentação da planta (BARROS e CALADO, 2014).
Figura 9. Exsicatas de folha de milho Fonte: Lusa, F. Getúlio Vargas, 2014.
3.1.5 Inflorescência
O milho é uma planta monóica (Figura 10b), ou seja, possui os órgãos masculino e
feminino na mesma planta em inflorescências diferentes, onde o pendão (Figura 10a) é o
masculino, situado no topo do colmo que contém unicamente os estames com as anteras
armazenando o pólen e os femininos em espigas (BARROS e CALADO, 2014).
Segundo Barros e Calado (2014), os órgãos masculinos aparecem antes dos femininos
e por isso, é uma espécie protândrica. O pendão, pode atingir 50 a 60 cm de comprimento e a
produção de pólen pode durar cerca de 8 dias. Cada pendão pode produzir cerca de 50
milhões de grãos de pólen. Quando o pendão é emitido, o crescimento da parte aérea do milho
cessa e o crescimento radicular é bastante reduzido e, isto sucede cerca de 4 a 5 dias antes do
aparecimento da espiga.
11
a
b
Figura 10. a) Desenvolvimento do Pendão b) planta totalmente desenvolvida, com a inflorescência
masculina no topo da planta. Fonte: Ritchie e Hanway, 1993.
A inflorescência feminina, designada de espiga (Figura 11) é constituída por um eixo
(sabugo), ao longo do qual se dispõe os alvéolos, que darão origem aos gãos. O conjunto do
estilo-estigma irá constituir o cabelo, onde é de extrema importância para a concretização da
fecundação e por isso, a planta deve estar bem nutrida (BARROS e CALADO, 2014).
Na espiga de milho pode haver a formação de 700 a 1.000 óvulos, dispostos em
número par de filas ao redor do sabugo (EMBRAPA, 2013). Segundo Barros e Calado
(2014), O número de grãos por espiga pode variar dentro da própria variedade e entre
variedades diferentes, nas quais a produtividade de cada espiga, está relacionada com o
número de grãos polinizados e desenvolvidos e da quantidade de fotoassimilados
provenientes da fotossíntese, que estejam disponíveis.
12
b
a
c
Figura 11. Inflorescência feminina a) Desenvolvimento da espiga, b) Início do desenvolvimento dos
grãos e c) Final do desenvolvimento dos grãos. Fonte: Ritchie e Hanway, 1993
A formação dos grãos se inicia da base para o ápice da espiga. O milho é uma espécie
de fecundação cruzada, ou seja, o pólen produzido por uma planta raramente fertiliza os
estigmas da mesma planta. Sob condições de campo, 97% ou mais dos óvulos produzidos em
uma espiga são fecundados pelo pólen de plantas adjacentes (EMBRAPA, 2013).
3.2 Histologia Vegetal do Milho
Os tecidos processados para estudo ao microscópio foram preparados de modo a
preservar sua estrutura original ao máximo possível. A técnica histológica propõe a
preparação dos tecidos destinados ao estudado à microscopia de luz. A fixação paralisa o
metabolismo celular e preserva as estruturas do tecido para os tratamentos posteriores. Para a
observação ao microscópio de luz a espessura da secção do tecido presente em uma lâmina
deve ser delgada o suficiente para que possa ser atravessado por um raio de luz (UFMG
2014).
Devido à adição de álcool para o processamento, o tecido deve passar por uma
infiltração em parafina líquida e posteriormente o mesmo é transferido para o molde em
formato de "bloco" o fragmento do tecido em seu interior. Os blocos são levados para a
microtomia e consequente obtenção das secções, que foram coletadas em lâminas de vidro. Os
cortes de tecidos apresentam-se incolores após a microtomia. A coloração visa contrastar as
estruturas teciduais (UFMG 2014).
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3.2.1 Raiz
No milho as raízes possuem a função de fixação da planta, absorção, armazenamento e
condução de substancias. Nas laminas analisadas pode-se distinguir cada tecido com suas
características peculiares:
Como tivemos a possibilidade de analisar em laboratório, a epiderme (Figura 12) é
constituída por uma camada de células vivas que a envolve. Segundo Esau (2009), na raiz as
células da epiderme formam uma camada contínua que reveste a sua superfície em estágio
primário. É também constituída geralmente por células de parênquima (Figura 9) e que
constituem o preenchimento da parte interna da raiz. Formam camada tissular contínua no
córtex da raiz e no mesófilo foliar. Também ocorrem em feixes verticais e raios no tecido
vascular.
Figura 12. Corte transversal de um raiz do milho, com coloração Azul de Metileno. Identificação da
epiderme e do parênquima, com aumento de 40x. Foto: Nonnenmacher, C, M. Getúlio Vargas, 2014.
O sistema vascular (Figura 13) é formado por dois tecidos condutores: floema
(transporte de alimentos) e xilema (condução de água). O xilema é constituído por elementos
condutores, traqueídos e elementos de vaso que se organizam em séries longitudinais
formando vasos lenhosos, que possuem em suas extremidades perfurações, que permitem a
movimentação livre da água de célula para célula. O floema, assim como o xilema, é um
tecido complexo constituído por: elementos de tubo crivoso dispostos em séries verticais
formando os tubos crivosos; por células companheiras; por células de parênquima e, por
vezes, fibras (ESAU, 2009).
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Figura 13. Corte transversal de um raiz do milho, com coloração Azul de Metileno. Identificação dos
vasos condutores, xilema e floema, com aumento de 400x. Foto: Panisson, D. E. Getúlio Vargas, 2014.
3.2.2 Caule
O caule além de servir de sustentação para as partes aéreas da planta, possui outras
funções, como condução de seiva, armazenamento de reservas nutritivas e energéticas e é
também fotossintético, devido a presença de cloroplastos em suas células. Através do caule
circulam as substâncias entre as raízes e as folhas, como a água, sais minerais e nutrientes
orgânicos (USP, 2002).
O caule apresenta gemas vegetativas que são encarregados produzir células para o
corpo primário da planta, está também envolvido na formação e reposição de primórdios
foliares e, muitas vezes, primórdios de gemas os quais formam os ramos laterais. Entretanto,
assim como na raiz, seu crescimento se dá pelo meristema apical, que sofre mitoses
originando a protoderme (tecido ainda meristemático que dá origem à epiderme), o procâmbio
(produz os tecidos condutores primários) e o meristema fundamental (origina o córtex e a
medula) (USP, 2002).
Conforme a descrição de Esau (2009), a epiderme (Figura 14) desempenha função na
qualidade de camada de células em contato com o ambiente externo a planta. Devido a
disposição compacta das células, proporciona sustentação mecânica. É capacitada na
atividade mitótica.
A zona cortical é pouco espessa e, geralmente, pouco diferenciada do cilindro central.
(MOREIRA, 2012). O córtex possui parênquima (Figura 14) clorofiliano, os espaços
intracelulares são amplos e parte periférica contém esclerênquima como tecido de sustentação
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A medula também possui parênquima clorofiliano, contendo espaços intracelulares amplos,
pelo menos na parte centra, na parte periférica possui pequenas células dispostas
compactamente (ESAU, 2009).
O sistema vascular, como demonstrado na Figura 14, é mais desenvolvido que a zona
cortical, é onde se localizam os feixes condutores duplos e colaterais, ou seja, formados pelo
xilema e floema envolvidos por tecidos fundamentais. Em cada feixe o floema situa-se do
lado externo do caule e o xilema na zona mais interna. O xilema primário, ao contrário da
raiz, apresenta crescimento centrífugo, isto é, o metaxilema (mais recente) está voltado para o
exterior e o protoxilema (feixe inicial) para o interior. O tecido de suporte existente é o
esclerênquima, em torno dos feixes condutores, podem também formar uma barra contínua
delimitando o cilindro central ou surgir em pequenas porções nas regiões menos resistentes do
caule (MOREIRA, 2012).
Por ser um monocotiledónea seus feixes vasculares ficam dispostos de forma irregular
ou em séries entre os tecidos fundamentais. Entre o xilema e floema não existe câmbio,
dizendo-se que os feixes condutores são fechados (MOREIRA, 2012). O caule é um cilindro
oco e os feixes vasculares distribuem-se formando um anel ao redor do espaço interno (USP,
2002).
Epiderme
Parênquima
Feixes
vasculares
Figura 14: Corte transversal de um caule de milho indicando a epiderme, o parênquima e os feixes
vasculares. Fonte: http://docentes.esa.ipcb.pt/lab.biologia/disciplinas/botanica/Anatomia.html#primaria-caule
(Adaptado).
3.2.3 Folha
Como foi observado nas lâminas histológicas, as folhas do milho possuem epiderme
(Figura 15), constituída de uma camada de células que reveste todo o corpo vegetal,
alongando-se paralelamente ao eixo longitudinal do órgão.
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Figura 15. Corte transversal de um tecido de folha de milho. Coloração Azul de Metileno, aumentado
400x, identificando a epiderme e o parênquima. Fonte: Leite, D. 2014, Getulio Vargas.
Segundo Esau (2009), as trocas gasosas entre a folha e o meio ambiente são efetuadas
principalmente através de pequenos orifícios na epiderme chamados estômatos (Figura 16),
que são formados por duas células em forma de rim ou feijão, que podem controlar a abertura
e fechamento para, por exemplo, reduzir a transpiração. Os estômatos são formados por
células estreitas associadas a células subsidiárias, são mais numerosos na parte inferior da
folha e se dispõem em fileiras paralelas ao eixo maior da folha.
Figura 16: Estrutura de um estômato. Fonte: http://simuladaodombosco.com.br/curso/estudemais/
biologia/histologia_II.php.
Conforme a descrição de Esau (2009), o interior da folha, o mesofilo, é formado por
parênquima (Figura 15), paliçádico um tecido de células semelhantes e muito permeáveis que
possuem normalmente grande quantidade de cloroplastos. A função principal deste tecido é
realizar a fotossíntese e produzir as substâncias nutritivas que permitem a vida da planta. Este
tecido também possui células especializadas na reserva de água ou outros fluidos. Ele
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encontra-se por baixo da epiderme e, abaixo dele existe o parênquima esponjoso tecido
constituído por células parênquimáticas, clorofiladas, geralmente com formato irregular e
frouxamente dispostas.
No interior das folhas existem ainda nervuras que se encontram os canais por onde
circula a seiva, os tecidos vasculares (Figura 17), sendo ele o xilema e o floema. Em corte
transversal, seus feixes vasculares aparecem dispostos numa fila, aproximadamente a metade
dos feixes apresenta o seu xilema orientado em uma direção e a outra metade o floema em
direção oposta. Os feixes vasculares maiores (xilema) apresentam-se envolvidos por fibras
bem como encontram-se associados ás placas de fibras, em ambos os lados (ESAU, 2009).
Figura 17. Corte transversal de folha de milho, com coloração Azul de Metileno, aumentado 400x,
identificando o sistema vascular. Fonte: Lorscheiter, A. 2014, Getulio Vargas.
4 CONCLUSÃO
O trabalho mostrou mais da cultura do milho. Aprofundaram-se os conhecimentos
tanto na morfologia como na histologia dessa cultura. Morfologicamente concluiu-se que a
planta dispõe de sistema radicular fasciculado, apresentando raízes adventícias; caule tipo
colmo, provido de nós e entrenós; sistema foliar abundante com grandes folhas estreitas e
longas, característico das gramíneas; e, por se tratar de planta monóica, possui inflorescências
distintas, e ambos os sexos na mesma planta; Histológicamente é classificada como
monocotiledônea, possui sistema vascular disperso, crescimento primário, revestimento
epidérmico em todo corpo vegetal, parênquima e esclerênquima. Em análise ao estudo,
confirmamos o alcance dos objetivos propostos ao trabalho.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, J. F. C. e CALADO, J. G. A Cultura Do Milho. Évora: Portugal, 2014.
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