POR QUE MUITOS SOBRENOMES ITALIANOS

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POR QUE MUITOS SOBRENOMES ITALIANOS
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POR QUE MUITOS SOBRENOMES ITALIANOS TERMINAM EM -i?
Quem acha que esta vogal representa uma forma plural, acertou e
errou ao mesmo tempo. A vogal -i retrata o plural de vocábulos masculinos na
língua italiana e de considerável parte de substantivos femininos. Nos
sobrenomes, nem sempre é um plural, mas, julga-se que sempre o seja. Tratase de uma questão confusa, sobre a qual nem os próprios estudiosos de
onomástica concordam. Na verdade, esta vogal final pode refletir, por vezes,
uma superposição do plural italiano com a terminação dos vocábulos
masculinos latinos no genitivo singular da segunda declinação. Uma breve
explicação poderá dirimir a questão ou ressaltar a superposição italiano/latim.
Os patronímicos ou sobrenomes italianos derivados de nomes próprios
masculinos se formam, em princípio, diretamente do caso genitivo singular da
declinação latina. Explica-se. Os patronímicos indicam filiação e repropõem o
nome do ancestral fundador do tronco familiar na função de sobrenome.
Serafini, por exemplo, tem a aparente forma de plural deSerafino, mas o
sobrenome surge da expressão latina medieval filius quondam Seraphini [filho
do senhor Seraphinus]; a vogal final, portanto, é reminiscência da declinação
latina e indica filiação ou origem genealógica, que se torna clara na tradução de
Seraphinus ou de Serafino. O sobrenome Serafini, portanto, não está no plural,
mas conserva, em princípio, a forma original do genitivo singular latino.
Por outro lado, o sobrenome Ferrari está no plural e é realmente a
forma plural de Ferraro [ferreiro]. Assim também existe o sobrenome Scarparo
[sapateiro], mas o sobrenome Scarpari [plural] é muito mais frequente; o
mesmo ocorre com Sartori [alfaiates] que se revela mais difundido que seu
correspondente singular Sartore [alfaiate].
No período de fixação dos sobrenomes italianos, no final da Idade
Média, subentra um fato determinante. Pressupõe-se que a quase totalidade
dos sobrenomes surgiram no singular. No mencionado período medieval,
passa-se a usar o termo Casata ou Casato como designativo do clã, do grupo
familiar, da grande família que gravitava em torno de um patriarca. Assim,
dizia-se Casata del Ferraro que correspondia ao clã, à grande família do
patriarca Ferraro [ferreiro]. Aos poucos, a expressão foi se fixando no plural,
resultando em Casata dei Ferrari [família, clã dos Ferrari]. Esta é a razão do
grande número de sobrenomes na forma plural.
Se esta expressão atingiu a todos os clãs ou núcleos familiares, por que
alguns permaneceram na forma singular? Esta é uma pergunta que nem os
estudiosos sabem responder. Atribui-se o fato à tradição local que, por razões
desconhecidas, pluralizava muitos sobrenomes, mas conservava outros no
singular. De fato, de uma Casata dei Ferrari, surge o sobrenome Ferrari, mas
de uma Casata dei Ferraro, permanece o sobrenome atual Ferraro, notandose, portanto, que, de uma original Casata del Ferraro, houve casos em que
evoluiu para Casata dei Ferrari e casos em que se fixou como Casata dei
Ferraro.
Esta expressão atingiu também os patronímicos. Com efeito, o clã dos
Serafini [sobrenome que surgira da expressão latina filius quondam Seraphini filho do senhor Seraphinus], também é mencionado como Casata dei Serafini.
O sobrenome assume, portanto, uma forma plural, embora não se note
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diferença alguma, porquanto o genitivo singular latino equivale ao plural
masculino italiano. Por esta razão, se pode dizer que todos os sobrenomes
terminados em -i representam uma forma plural, apesar da possível
superposição histórica de um plural italiano a um genitivo singular latino.
Este quadro resume a questão e evidencia as várias possibilidades da
fixação final do sobrenome:
sobrenome original Casata
sobrenome
atual
Ferraro
Casata dei Ferrari [clã dos Ferrari]
Ferrari
Ferraro
Casata dei Ferraro [clã dos Ferraro]
Ferraro
Serafini
Serafini
Ferrara
Sartore
Sartore
filius quondam Seraphini (filho de Seraphinus)
Casata dei Serafini [clã dos Serafini]
Casata dei Ferrara [clã dos Ferrara]
Casata dei Sartore [clã dos Sartore]
Casata dei Sartori [clã dos Sartori]
Serafini
Serafini
Ferrara
Sartore
Sartori
(Fonte: Mioranza, Ciro – Dicionário dos sobrenomes italianos – Ed. Escala, São
Paulo, 1997).
Em nossos tempos, especialmente a partir do século XX, o termo Casata
ou Casato caiu em desuso e fixou-se a preferência pelo uso de famiglia
(família), obtendo-se a mesma resultante. Exemplificando: famiglia del Sartore
se pluraliza em famiglia dei Sartori ao indicar todos os membros desse clã ou
tronco familiar. Mas, como indicado anteriormente, o sobrenome poderia
permanecer em sua forma singular: famiglia del Sartore é dita também famiglia
dei Sartore.
Na fala popular e coloquial a expressão famiglia del ou famiglia dei é
substituída pelo simples artigo masculino plural i (os). Assim, costuma-se dizer
i Sartore, i Sartori, i Ferraro, i Ferrari, para indicar a família ou o grupo familiar
dos Sartore, dos Sartori, dos Ferraro, dos Ferrari. Isso vale para todos os
sobrenomes, insistindo que alguns assumem a desinência plural -i e outros
não.
Persiste, no entanto, a dúvida se essa terminação em -i representa
realmente uma forma plural italiana ou uma desinência do caso genitivo
singular latino dos nomes masculinos da segunda declinação, uma vez que a
grande maioria dos sobrenomes italianos surgiu, em sua origem, na forma
latina medieval.
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