Educandário Geralda Santa Cruz rio Geralda Santa Cruz

Transcrição

Educandário Geralda Santa Cruz rio Geralda Santa Cruz
Educandário
Educand rio Geralda Santa Cruz
Disciplina Dentro de Casa
"Educação não é a simples transferência do conteúdo
de um livro, para o cérebro."
Não desenvolvemos nosso tato, ou audição,
ou paladar, o que na verdade ocorre, é a
simples adaptação dos mesmos às condições
ambientais. O resto é interpretação, é dar
nomes ao que estamos fazendo, ao que
estamos sentindo. Não se amplia o tato, ou
audição, ou paladar, através do conhecimento
adquirido, apenas nos especializamos em
interpretar aquilo com o qual temos contato.
Seria de grande utilidade que aprendêssemos
sobre nós mesmos, antes de nos propormos a
ensinar
nossos
filhos
e
alunos.
Não
deveríamos ensinar aquilo que não somos,
mas podemos fazê-los repetir aquilo que
também já repetimos. Isso não é educar,
trata-se apenas de fazê-los, à força de
alguma sugestão, adaptarem-se ao que
também já nos adaptamos antes deles.
Repassamos instruções, assim também como
nos repassaram um dia. Instruções não
educam, mas ajudam a tornar o indivíduo, um
excelente profissional, um exímio imitador de
gestos, expressões e palavras alheias.
"A experiência do aprender não
pode resultar de teorias, fazer isso
é coisa inútil. Como atividade para
momentos ociosos serve, mas não
pode ser chamada de pedagogia."
Poderíamos começar do básico, com nossos
medos. O que são os nossos medos e por que,
a despeito de toda força da tradição, da
cultura milenar, da nossa especialização que
atinge o mais elevado nível intelectual, ainda
não somos capazes de lidar adequadamente
com ele? Por que ele persiste em nos
atormentar vida afora apesar de todo poderio
intelectual conquistado pelo homem até esse
momento? Criam-se especialistas na psique
humana, especialistas em angústias, em
tristezas, mas a despeito de tanto empenho,
por que tais perturbações continuam a fazer
parte
dos
nossos
mais
importantes
problemas?
Não começamos agora, somos o resultado de milênios de cultura e tradição; do
poder das autoridades doutrinárias, dos reformadores “bem intencionados”, das
centenas de homens de “boa vontade” que já povoaram as muitas civilizações de
todos os tempos, e nossos problemas, ao contrário de nós, não são coisa nova.
Somos recentes sobre a terra, nossos problemas não o são. Perduram a milhares de
homens e tradições; de mudanças e guerras sociais, e a despeito do progresso
material alcançado, psicologicamente parece que não progredimos um passo
sequer.
Ainda somos tão medrosos quanto nossos mais primitivos ancestrais, e nossos
estados emocionais, nunca compreendidos, portanto nunca resolvidos, continuam a
ser nosso principal embaraço existencial. Por que insistem as instituições
chamadas de educacionais, em manter os seus modelos que já sabem tratar-se de
uma metodologia estúpida, e sem pretensão nenhuma de construir um homem
sensato? São capazes de instruir alunos a se tornarem repetidores voluntários, que
agindo como se fossem máquinas, vivem no seu dia a dia como autômatos,
seguindo ordens, obedecendo à comandos, sem a menor sensibilidade; repletos de
todos os medos e angústias que já experimentaram todos os outros homens.
Não poderia ser diferente a angústia desse homem, uma vez que como imitadores
perfeitos que são, que simplesmente se adaptam às situações do dia a dia, ou se
deixam levar como pesos mortos, sem opor resistência alguma, ao sabor da
correnteza, continuam a repetir até a forma dos sofrimentos dos ancestrais.
Se o objetivo da vida de cada homem, “educado” segundo estes critérios for à
manutenção do caos humano, da angústia e sofrimento que se arrasta civilização
após civilização; da manutenção dos seus medos e violência, das guerras cujo
objetivo é tão somente defender a supremacia de opiniões estúpidas e sem valor,
então as escolas atuais são perfeitas para ele. Se ao contrário, qualquer uma
dessas coisas o incomoda, não o são, uma vez que não cuidam de ajudar a resolver
esse
problema.
Observando a ordem interna de nossas casas, logo podemos perceber, que o bom
senso que buscamos fora dela, deve-se ao fato de não o praticarmos internamente.
Na maioria das vezes, os melhores amigos de nossos filhos e filhas, não são seus
pais, mas amigos de fora. Isso é quase uma regra geral, que faz parte da tradição e
cultura, que é mesmo incentivado pelas escolas e pelos próprios pais, e alguns
poucos que se aventuram em contrariar tal prática, logo são considerados
estranhos, de fora de moda, ou caretas.
A criança, mais que um adulto, necessita de cuidados especiais, de uma atenção
maior por parte dos educadores e pais. Estão elas sendo “formatadas” para se
tornarem adultos, e a depender dessa formatação, construirão um mundo de
desarmonia ou harmonia. Mas como podemos construir nosso filho ou aluno, à
imagem do bom senso, se as influências de todas as partes, a nosso ver, teimam
em fazer o contrário? Será que o exemplo não começa dentro de casa? Afinal de
contas, esse é o ponto de origem de qualquer criança. É seu ponto de partida e de
chegada ao final do dia, ou do período que se mantém afastado dos pais.
Supondo que caminhemos sobre
uma linha reta, sobre a qual
podemos andar para trás ou para
frente; e qualquer que seja o
sentido ou a direção que venhamos
a tomar, será sempre, para trás ou
para frente. É uma linha inflexível,
e esta representa o que nesse
momento somos como indivíduo;
nossa inteira formação psicológica,
nosso modo de avaliar coisas e
pessoas, nosso arquivo pessoal de
informações
com
as
quais
julgamos qualquer situação do
nosso viver. Essa linha inflexível
representa o tempo, o tempo
necessário para a assimilação das
idéias do mundo, e construção de
nossa personalidade. Não são
idéias novas, pois nem o mundo é
novo, nem suas tradições são
novas. Mas como seres recém
chegados ao mundo, logo nos
tornaremos tão velhos quanto suas
idéias e tradições, pois são elas
que
formatarão
nossas
personalidades, e sentimentos, e
medos, e angústias.
"Os problemas do mundo já existiam antes de
nós existirmos. Não existem novos
problemas, apenas novos indivíduos
experimentando as mesmas coisas"
Podemos constatar tudo isso de uma forma muito singular. Perguntemo-nos se há
em nós algum sentimento emocional único, nunca experimentado e rotulado antes
por mais ninguém; e mais ainda, se há alguma idéia absolutamente nova em
nossos pensamentos, uma vez que qualquer idéia se baseia em tudo que existe, e
que já assimilamos do próprio mundo. A resposta será não, pois o mesmo
conhecimento que formou minha psique é também do mundo, e está disponível
para todos. É claro que cada cultura contribui com uma parte, e na parte de nossa
cultura, nos encaixamos. E todas as culturas juntas, como fragmentos, formam o
conhecimento do mundo, a mente, ou psique possível desse mundo.
Isso inclui o conhecimento material e o emocional; os problemas criados e as
soluções sempre parciais que se apresentam. Somos o resultado de tudo isso, e
sensato seria questionarmos por que as soluções são sempre parciais, e por que
ainda
há
o
problema
do
medo,
dos
conflitos,
do
sofrimento.
Passados tantos séculos de tentativas; de planos para colocar o homem em ordem,
de repressão violenta com a mesma intenção; de reformas sociais e religiosas, sem
um resultado definitivo, resta-nos questionar se o pensamento do homem, todo o
seu conhecimento, é capaz de promover essa tal transformação.
Podemos continuar a esperar pela escola, pelas reformas sociais ou políticas; que o
tempo resolva a questão, a despeito de passados milhares de anos e civilizações,
ainda não o ter feito, ou podemos, ao contrário, começarmos uma reforma em casa,
um ajuste interno que não dependa mais de tais influências ou opiniões, de quem
quer que seja. É um passo gigantesco, uma vez que não nos guiaremos mais por
ninguém, nenhuma tradição ou propaganda. Será um aprendizado novo, a partir de
nós mesmos, da prática com nossa família e amigos, do contato intimo com nossos
filhos e cônjuges. Aprenderemos enquanto vivenciamos, enquanto sentimos;
enquanto sofremos com nossos problemas, ou enquanto nos empenhamos em
resolvê-los, e dessa experiência, certamente que nascerá um novo homem.
Autor:
Jon Talber - [email protected]