ESPAÇAMENTO ENTRE FILEIRAS DE FEIJÃO CAUPI: ANÁLISE

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ESPAÇAMENTO ENTRE FILEIRAS DE FEIJÃO CAUPI: ANÁLISE
Área: Sócio-Economia
ESPAÇAMENTO ENTRE FILEIRAS DE FEIJÃO CAUPI: ANÁLISE DA
VIABILIDADE ECONÔMICA
Francisca Edcarla de Araujo Nicolau1; Cícero Secifram da Silva2; Antonio Glaydson de Sousa Feitosa3;
Antônio Marcos Duarte Mota3; Felipe Thomaz da Camara5
1
Graduanda do curso de Eng. Agronômica, Bolsista PIBIC/CNPq, Universidade federal do Ceará - Campus Cariri, Rua Vereador Sebastião
Maciel Lopes S/N, Crato, CE, E-mail: [email protected].
2
Eng.º Agrônomo, Coordenador da Càritas Brasileira, Càritas Brasileira, Rua José cariolano 399, Crateús, CE.
3
Mestrando em Ciências do Solo e Nutrição de Plantas, Bolsista CNPq, Universidade Federal do Ceará, Av. da Universidade 2853, Fortaleza,
CE.
4
Graduando do curso de Eng. Agronômica, Bolsista PROEXT, Universidade Federal do Ceará – Campus cariri, Rua Vereador Sebastião
Maciel Lopes S/N, Crato, CE.
5
Doutor em Ciências do solo, Professor Adjunto, Universidade Federal do Ceará - Campus cariri, Rua Vereador Sebastião Maciel Lopes S/N,
Crato, CE.
Resumo – O cultivo do feijão caupi (Vignaunguiculata(L.) Walp) é uma atividade de grande importância
para o desenvolvimento agrícola da região Nordeste, tanto no aspecto econômico quanto no nutricional, pois é o
alimento básico na alimentação das populações mais pobres. O ceará e o Piauí são os estados brasileiros com
maior consumo domiciliar per capita de feijão, principalmente o feijão caupi. O presente trabalho foi realizado
com o objetivo de avaliar a lucratividade na venda de sacos de 25 kg de feijão caupi comercializados verde e em
vagens em função de diferentes espaçamentos, com população inicial de 60.000 plantas por hectare. O
experimento foi realizado no Sitio Pintado no município de Missão Velha-Ceará. O solo da área onde foi
realizado o experimental foi classificado como Argissolo Amarelo de textura franco-arenosa. Desta forma, foi
analisado a viabilidade econômica da produção de feijão caupi com os três valores observados na região. O
espaçamento entre fileiras de 70 cm obteve menor produtividade em relação aos espaçamentos de 50 e 60 cm
entre fileiras, fato justificado pelo maior número de plantas na fileira para manter a mesma densidade de plantas,
aumentando a competição e reduzindo a produtividade. Nota-se na tabela 1 que a receita do feijão muda de
acordo com o período de safra, mostrando que é viável economicamente a produção de feijão irrigado, onde na
entressafra se obtém maior receita. Os espaçamentos de 50 e 60 cm são os mais indicados por apresentarem lucro
significativo e semelhante para todos os preços praticados na região.
Palavras-chave: Produtividade, custos, lucro.
Introdução
O cultivo do feijão caupi (Vignaunguiculata(L.) Walp) é uma atividade de grande importância para o
desenvolvimento agrícola da região Nordeste, tanto no aspecto econômico quanto no nutricional, pois é o
alimento básico na alimentação das populações mais pobres. O ceará e o Piauí são os estados brasileiros com
maior consumo domiciliar per capita de feijão, principalmente o feijão caupi (DUTRA et al., 2007).
Existe uma enorme variedade de grãos de feijão caupi, entretanto, os com maior valor comercial são os
tipos brancão, branco, sempre verde e canapu, este tipo, principalmente, na região nordeste. O cultivo do feijão
caupi é de fácil manejo, por isso é cultivado por uma gama muito grande de produtores tanto os da agricultura
familiar quanto em grandes propriedades podendo ser ou não consorciado com outras culturas (FREIRE FILHO
et al. 2007).
1
Na região do cariri cearense é possível explorar a cultura do feijão em três épocas distintas, divididas em
três safras consecutivas: primeira safra ou “safra das águas”, segunda safra ou “safra de inverno” e terceira safra
ou “safra da seca”.
No Nordeste a safra das águas ocorre na estação chuvosa, que compreende o período de dezembro a
março. Nesta época os cultivos não necessitam de irrigação, o que gera maior oferta de feijão no mercado e
consequentemente diminuindo a receita. A safra de inverno é normalmente plantada entre abril e julho, já na
safra da seca, o feijão é semeado nos meses de agosto a novembro. Nestas duas safras, para se produzir é
necessário o uso da irrigação.
O presente trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a lucratividade na venda de sacos de 25 kg de
feijão caupi comercializados verde e em vagens em função de diferentes espaçamentos, com população inicial de
60.000 plantas por hectare.
Material e Métodos
O experimento foi realizado no Sitio Pintado no município de Missão Velha-Ceará, com localização
geodésica definida pelas coordenadas pelas coordenadas 07º14’ latitude sul e 39º08' longitude oeste, com altitude
média de 380m. Segundo o IPECE 2011, a região apresenta temperatura média anual de 25ºC, precipitação
media anual de 987,3 mm e o clima da região é definido como tropical quente semiárido quente. O solo da área
onde foi realizado o experimental foi classificado como Argissolo Amarelo de textura franco-arenosa.
A seguir serão detalhadas todas as atividades realizadas para a produção do feijão caupi na região do
Cariri cearense.
Para o preparo do solo foi utilizado um trator com tração 4 x 2 da marca Ford, modelo 5610 com potência
no motor de 62,56 kW (85 cv) e uma grade leve em tandem com 12 discos recortados e largura de 1,5 m. Foi
determinada a capacidade de campo operacional (CCO) com base na largura de trabalho real da grade, na
velocidade real de deslocamento do conjunto e da eficiência de campo da grade, segundo BALASTREIRE
(1987).
A semeadura foi realizada manualmente com matraca depositando três sementes por cova, com população
inicial de 60.000 plantas por hectare.
A quantidade de sementes utilizadas foi calculada em função da massa de mil sementes e o número de
sementes utilizadas por hectare, em função da população inicial desejada. O custo da semente foi de R$ 5,00 o
quilo.
Foi realizado o desbaste manual no dia 27 de agosto de 2012 (17 DAS), em função da emergência de duas
ou três plantas de feijão por cova, visando deixar no campo apenas uma planta por cova.
Em todas as parcelas foi necessária a aplicação de inseticida Lorsban 480 BR, para controle do pulgão e
mosca branca, pragas chave da cultura. Tal aplicação foi realizada em duas épocas, sendo a primeira no dia
30/08/2012 (20 DAS) e a segunda no dia 19/09/2012 (40 DAS). Na primeira aplicação foram utilizados 0,6 L/ha
e na segunda 0,7 L/ha. O custo do inseticida no mercado local foi de R$ 35,00. Esta atividade foi realizada
manualmente com pulverizador costal com tanque com capacidade de 20 L de calda.
Foram realizadas duas capinas, sendo a primeira no dia 24/08/2012 (14 DAS) e a segunda no dia
17/09/2012 (38 DAS). Tal atividade foi realizada manualmente com enxada.
Durante a condução da cultura do feijão caupi não ocorreram precipitações atmosféricas, portanto, a
cultura foi irrigada por 2 horas a cada três dias, totalizando 23 dias e/ou 46 horas com o sistema de irrigação
2
ligado durante o ciclo da cultura. Para a irrigação foi utilizado um motor de 2cv de potência. O sistema de
irrigação possuía 2 aspersores com capacidade de irrigar uma área de 405 m2. Para a determinação do consumo
de energia, os tempos gastos foram extrapolados para um hectare.
A colheita foi realizada manualmente em três momentos com as vagens verdes, em função da maturação
desuniforme, para colher um produto com melhor qualidade.
Foram determinados os custos das atividades envolvidas na cultura do feijão caupi (Vigna unguiculata)
para ser comercializado verde em sacos de 25 kg, considerando três espaçamentos entre fileiras (50; 60 e 70 cm
entre fileiras) em função do custo horário de cada atividade.
Os custos do aluguel do trator e grade para o preparo do solo foi de R$ 70,00 a hora de trabalho, valor
praticado na região do Cariri-CE.
O valor das diárias foi de R$ 25,00 para oito horas de trabalho diário, sendo este valor praticado pelos
produtores rurais da região do Cariri cearense.
Em função da seca ocorrida no Cariri cearense, os preços do saco de 25 kg de feijão caupi em vagens
verdes atingiu valores médios de comercialização no ano agrícola de 2012 de R$ 80,00, porém em anos normais,
a média de preço praticado é de R$ 40,00, podendo ser vendido a R$ 20,00 quando ocorre grande oferta de feijão
caupi. Desta forma, foi analisado a viabilidade econômica da produção de feijão caupi com os três valores
observados na região.
Resultados e Discussão
Observa-se na tabela 1 que para os custos com operações no cultivo do feijão caupi, em todas as
operações realizadas com os espaçamentos entre linhas de 50 e 60 cm os valores foram próximos, já em relação
ao espaçamento de 70 cm entre linhas o custo total com ficou abaixo, isso se justifica pelo fato do maior
espaçamento reduzir o número de fileiras por hectare, facilitando as operações e reduzindo os custos. Exceto o
preparo do solo que foi igual para todos espaçamentos.
Tabela 1. Análise da viabilidade econômica da cultura do feijão caupi na região do cariri cearense em função da
população inicial.
ESPAÇAMENTO ENTRE FILEIRAS (cm)
CUSTOS E RECEITAS
50
60
70
Custo com Operações
Preparo do Solo
107,80
107,80
107,80
Semeadura
41,75
40,25
39,00
Desbaste
118,00
113,25
106,75
Primeira Capina
257,00
220,00
148,75
Segunda Capina
291,75
202,50
183,5
Primeira Pulverização de inseticida
69,5
57,75
49,5
Segunda Pulverização de inseticida
92,5
77,25
66,25
Primeira Colheita
180,00
235,75
119,5
Segunda Colheita
193,00
278,75
137,75
Terceira Colheita
193,00
182,25
238,75
1544,3
1515,55
1197,55
Total Custo com Operações
3
Custo com Insumos
Sementes de feijão caupi
198,00
198,00
198,00
45,50
45,50
45,50
384,54
384,54
384,54
Total Custo com Insumos
628,04
628,04
628,04
CUSTO TOTAL
2172,34
2143,59
1825,59
PRODUTIVIDADE (sc 25 kg/ha)
132
131
84
RECEITA (R$ 20 por sc 25 kg)
2640
2620,00
1680
RECEITA (R$ 40 por sc 25 kg)
5280
5240,00
3360
RECEITA (R$ 80 por sc 25 kg)
10560
10480,00
6720
LUCRO (R$ 20 por sc 25 kg)
467,66
476,41
-145,59
LUCRO (R$ 40 por sc 25 kg)
3107,66
3096,41
1534,41
Inseticida Lorsban 480 BR
Energia elétrica
8387,66
8336,41
4894,41
LUCRO (R$ 80 por sc 25 kg)
Os custos totais com insumos foi igual para os três espaçamentos utilizados na pesquisa (tabela 1), pois a
quantidade destes insumos não sofrem influência do espaçamento.
Conforme mostrado na tabela 1, o custo total para se produzir um hectare de feijão caupi na região do
cariri cearense com os espaçamentos de 50, 60 e 70 cm entre fileiras foram de 2172,34, 2143,59 e 1825,59,
respectivamente.
O espaçamento entre fileiras de 70 cm obteve menor produtividade em relação aos espaçamentos de 50 e
60 cm entre fileiras, fato justificado pelo maior número de plantas na fileira para manter a mesma densidade de
plantas, aumentando a competição e reduzindo a produtividade.
Nota-se na tabela 1 que a receita do feijão muda de acordo com o período de safra, mostrando que é
viável economicamente a produção de feijão irrigado, onde na entressafra se obtém maior receita. De acordo
com os resultados obtidos na pesquisa o espaçamento de 70 cm entre fileiras apresentou menor receita em todas
as safras, isso ocorreu devido a menor produtividade nesse tratamento. Nos espaçamentos de 50 e 60 cm entre
fileiras a receita obtida pelos produtores foi muito próxima em todas as safras.
Em relação à lucratividade dos produtores de feijão, verificou-se que quando o saco de feijão de 25 kg foi
comercializado a R$ 20,00 o lucro foi de R$ 467,66, R$ 476,41, R$ -145,59, respectivamente, mostrando que o
cultivo do feijão com o espaçamento de 70 cm entre fileiras não é viável economicamente, pois não se obteve
lucratividade.
Observa-se que quando o saco de feijão de 25 kg foi vendido por R$ 40,00 e R$ 80,00 o tratamento de
50 cm entre fileiras apresentou maior lucro, sendo muito próximo ao observado com 60 cm. O espaçamento de
70 cm obteve menor lucratividade, revelando que este espaçamento entre fileiras não é indicado para o cultivo de
feijão, pois, apesar dos baixos custos de produção, obteve baixa produtividade, que acarretou em menor lucro
quando comparado aos demais espaçamentos.
4
Conclusões
Apenas o espaçamento de 70 cm entre fileiras obteve prejuízo para o feijão comercializado com o menor
preço praticado na região.
Os espaçamentos de 50 e 60 cm são os mais indicados por apresentarem lucro significativo e semelhante
para todos os preços praticados na região.
Referências
BALASTREIRE, L.A. Máquinas agrícolas. São Paulo: Manole, p. 307, 1987.
DUTRA, A. S.; TEÓFILO, E. M.; FILHO, S. M.; DIAS, F. T. C.Qualidade fisiológica de sementes de feijão
caupi em quatro regiões do estado do ceará. Revista Brasileira de Sementes, vol. 29, nº 2, p. 111-116, 2007.
FILHO, F. R. F.; VILARINHO, A. A.; CRAVO, M. da S.; CAVALCANTE, E. da S. Panorama da cultura do
feijão-caupi no Brasil. Documentos 04, 2007.
Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Perfil Básico Municipal 2011: Missão velha. p.
05, 2011.
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