Monografia completa

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Monografia completa
Ministério da Educação
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas
Curso de Especialização em Línguas Estrangeiras Modernas
Satomi Oishi Azuma
ESTUDO DE VOCÁBULOS E DE QUESTÕES GRAMATICAIS DO
PORTUGUÊS PRESENTES NA OBRA PINGA TO IMIN (A PINGA E A
IMIGRAÇÃO) DE SHIN-ICHI NUMATA
Curitiba
2005
SATOMI OISHI AZUMA
ESTUDO DE VOCÁBULOS E DE QUESTÕES GRAMATICAIS DO
PORTUGUÊS PRESENTES NA OBRA PINGA TO IMIN (A PINGA E A
IMIGRAÇÃO) DE SHIN-ICHI NUMATA
Monografia de conclusão do Curso de
Especialização em Ensino de Línguas
Estrangeiras Modernas do CEFETPR.
Orientadora: Profª Cláudia Beatriz
Monte Jorge Martins
CURITIBA
2005
TERMO DE APROVAÇÃO
SATOMI OISHI AZUMA
ESTUDO DE VOCÁBULOS E DE QUESTÕES GRAMATICAIS DO
PORTUGUÊS PRESENTES NA OBRA PINGA TO IMIN (A PINGA E A
IMIGRAÇÃO) DE SHIN-ICHI NUMATA
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção de título de Especialista,
pelo curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas, do
Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas – Centro Federal de Educação
Tecnológia do Paraná, pela seguinte banca examinadora:
Orientadora:
Profª. Cláudia Beatriz Monte Jorge Martins, MSc.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Profª. Maclóvia Correa da Silva, Dra.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Profª. Eliane Regina Costa de Oliveira, MSc.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Coordenadora:
Profª. Carla Barsotti, MSc.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Curitiba
2005
AGRADECIMENTOS
À professora, orientadora Msc Cláudia Beatriz
Monte Jorge Martins, pelo apoio, dedicação,
acompanhamento e revisão do estudo.
À professora e Doutora Maclóvia Correa da
Silva, pelas valiosas contribuições.
A todos do Departamento de Línguas
Estrangeiras Modernas do CEFET, pela
colaboração e incentivo para a realização deste
estudo.
A Mário, Mári, Lissa e Hideki que não
pouparam esforços para me apoiar e ajudar em
todas as dificuldades.
SUMÁRIO
LISTAS DE QUADROS ...........................................................................................
RESUMO....................................................................................................................
ABSTRACT ................................................................................................................
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................
2 REVISÃO DA LITERATURA..............................................................................
2.1 FATORES QUE MARCARAM A IMIGRAÇÃO JAPONESA ...........................
2.2 BREVE HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO DE LONDRINA ...............................
2.3 ACULTURAÇÃO E A LÍNGUA DOS IMIGRANTES ........................................
2.4 ALGUMAS TEORIAS SOBRE EMPRÉSTIMOS LINGÜÍSTICOS ...................
2.5 MESCLA LÍNGÜÍSTICA ......................................................................................
3 METODOLOGIA ...................................................................................................
3.1 METODOLOGIA ...................................................................................................
3.2 RAZÕES DA ESCOLHA DO LIVRO PINGA TO IMIN (A PINGA E A
IMIGRAÇÃO) DE SHUN-ICHI NUMATA ........................................................
3.3 LEVANTAMENTO DOS EMPRÉSTIMOS DO PORTUGUÊS NO
LIVRO PINGA TO IMIN DE NUMATA ..............................................................
3.3.1 Divisão por Classes Gramaticais .........................................................................
3.3.2 Divisão Social do Uso de Língua ........................................................................
4 ANÁLISE DOS TERMOS EMPRESTADOS .....................................................
4.1 CLASSIFICAÇÃO GRAMATICAL .....................................................................
4.2 FREQÜÊNCIA .......................................................................................................
4.2.1 Termos do Cotidiano ...........................................................................................
4.2.2 Termos do Trabalho .............................................................................................
4.2.3 Termos do Lazer ..................................................................................................
4.3 ANÁLISE LINGÜISTICA DOS EMPRÉSTIMOS ...............................................
4.3.1 Palavras Portuguesas Incorporadas na Língua Japonesa .....................................
4.3.2 Empréstimos de Termos do Cotidiano e de Trabalho Encontrados no
Livro Pinga to Imin ...........................................................................................
4.3.3 Hibridismo ...........................................................................................................
4.3.4 Oscilação entre as Palavras Utilizadas no Brasil, os Estrangeirismos
Utilizados no Japão e as Palavras Japonesas .....................................................
4.3.5 Dificuldade na Transliteração dos Termos Luso-brasileiros para o
Katakana .............................................................................................................
4.3.6 Análise Final ........................................................................................................
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ......................................
REFERÊNCIAS ..........................................................................................................
APÊNDICES ...............................................................................................................
iv
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1
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36
39
LISTAS DE QUADROS
QUADRO 1 - TERMOS DO COTIDIANO........................................................................18
QUADRO 2 - TERMOS DO TRABALHO.........................................................................18
QUADRO 3 - TERMOS DE LAZER..................................................................................19
QUADRO 4 – TERMOS DO COTIDIANO DE MAIOR FREQÜÊNCIA.........................22
QUADRO 5 - TERMOS DO TRABALHO DE MAIOR FREQÜÊNCIA.........................24
RESUMO
Esta monografia trata do estudo de vocábulos e questões gramaticais do português
presentes na língua japonesa em situação de comunicação no Brasil. Para este estudo,
fez-se um levantamento dos empréstimos das palavras luso-brasileiras na obra de
SHIN-ICHI NUMATA, Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração), tomo II, da coleção
Shin-chan no Mukashi Banashi (As estórias de Shin-chan). Para melhor
compreender o que são os empréstimos linguísticos e mescla lingüística, foram
apresentadas as teorias sobre esses temas, assim como um breve histórico da
imigração japonesa no Brasil, e em especial a ocorrida na cidade de Londrina, onde
transcorre a maior parte das estórias da obra citada acima. Os termos luso-brasileiros
encontrados em Pinga to Imin (a Pinga e a Imigração) foram posteriormente
classificados por classes gramaticais e por uso social para verificar e analisar a
relação desses vocábulos com a assimilação e a aculturação de imigrantes japoneses
em terras brasileiras. Analisando esses empréstimos ocorridos, constatou-se que,
além da influência que o meio exerceu sobre a língua japonesa falada pelos
imigrantes, as grandes diferenças culturais e de costumes que havia entre o Japão e o
Brasil motivaram em muito o uso desses recursos. Os produtos e os instrumentos
agrícolas, a maneira como se praticava a lavoura, bem como outras práticas, tudo era
novo para esses imigrantes. Tomar emprestado do português, determinados termos
utilizados na vida cotidiana e no trabalho para realizar as comunicações diárias em
língua japonesa tornou-se mais familiar e prático, provavelmente porque havia falta
de vocábulos que expressassem o significado de objetos desconhecidos. Estes
passaram a fazer parte do ambiente de suas casas, de suas atividade e de suas
vivências humanas.
Palavras chaves: empréstimos lingüísticos; palavras luso-brasileiras; imigração;
aculturação; assimilação.
ABSTRACT
This monograph studies vocabulary and grammatical questions of the Portuguese
language which are present in the Japanese Language in a communicative context in
Brazil. For this study, the borrowings of Luso-Brazilian words found in the book
Pinga to Imin ( Pinga and Immigration), part II of the collection Shinchan no
Mukashi Banashi (the Shin-chan Stories), written by SHIN-ICHI NUMATA were
listed up. In order to understand these linguistic borrowings better, the theories about
this subject and linguistic mixture were presented as well as a brief history of the
Japanese immigration in Brazil, and specially in Londrina, where most of the stories
mentioned in the book above happened. After that, the Luso-Brazilian words found
in Pinga to Imin (Pinga and Immigration) were classified according to their
grammatical and social use in order to check and analyse the relationship of these
words with the assimilation and cultural adaptation of these Japanese immigrants in
Brazil. In analysing these borrowings, it became evident that besides the influence of
the environment upon the Japanese language spoken by immigrants, the great
cultural and behavioural differences between Brazil and Japan have strongly
motivated the use of these resources. The agricultural products and instruments, the
way farm work was done, everything was different for these immigrants. By using
borrowed Portuguese words used in everyday life or in daily tasks in their daily
communications in the Japanese language made their life more practical and easier
because these words belonged to the environment in which they lived..
Key-words: linguistic borrowings, Luso-Brazilian words, immigration, cultural
adaptation, assimilation.
1
1 INTRODUÇÃO
Esta monografia trata do estudo de vocábulos e de questões gramaticais do
português presentes na língua japonesa em situações de comunicação no Brasil.
Inúmeras formas de se expressar na língua japonesa foram sendo construídas pelos
falantes na medida em que eles interagiram com brasileiros, possibilitando um
acréscimo lingüístico que pode ser visto como interferência lingüística.
Apesar do empenho dos japoneses em preservar os aspectos da cultura, dos
costumes e da língua adquiridos no seu país natal, a língua falada no Brasil, país
onde os imigrantes japoneses escolheram para adquirir fortuna, foi sendo absorvida
passo a passo conforme as vivências e as práticas, interferindo nas questões
sintáticas e principalmente no léxico, causando o fenômeno da mescla lingüística
citado por TARALLO (1987).
Mesmo com as diferenças de estruturas gramaticais, as questões lexicais,
que são acessíveis para aqueles que querem aprender uma língua estrangeira, são
estratégicas para explicar a aculturação. Isto pode ser verificado a partir de estudos
lingüísticos sobre o léxico e a conseqüente classificação gramatical das palavras.
Nesta monografia pretende-se abordar este tema tendo como base de
fundamentação teórica a obra do imigrante japonês SHIN-ICHI NUMATA (1996),
escrita em japonês, dirigida a um público de imigrantes japoneses fixados no Brasil,
que busca conhecer melhor as características de interculturalidade. Além das
relações sociais e culturais que envolvem a língua falada e escrita por imigrantes
japoneses, pretende-se constatar as dificuldades de se preservar ao longo da história
a língua materna como herança cultural. Para este estudo proposto, fez-se uso de
pesquisa qualitativa com levantamentos lingüísticos na obra de SHIN-ICHI
NUMATA, Pinga to Imin (A pinga e a imigração) tomo II da coleção de livros Shinchan no Mukashi Banashi (Estórias antigas de Shin-chan).
2
Segundo HIROSHI SAITO (1973), a imigração dos japoneses para o
Brasil ocorreu principalmente devido à pobreza e à vontade de acumular um capital
para adquirir uma propriedade própria no seu país de origem. Os grupos de
imigrantes eram compostos principalmente por pessoas de baixa renda de regiões
mais pobres do Japão ou por pessoas arruinadas com o modelo de economia
implantada na época. Apesar de relativamente pequeno, se comparado com o
território brasileiro, este país possuía diversos dialetos, o que dificultava a
compreensão mútua entre os imigrantes, que procediam de regiões diferentes. Como
os falantes de línguas interagem socialmente, há uma multiplicação de palavras e
estruturas gramaticais que podem ser estudadas para melhor compreensão das
humanidades e do ensino de língua estrangeira. Por isso, este estudo se volta, em
específico, para uma abordagem socio-cultural-linguística do português inserida na
língua japonesa falada no Brasil. Propõe-se um estudo mais detalhado das
aculturações, que ocorreram do português para o japonês, deixando de lado as
questões inversas do japonês para o português. Esta pesquisa pode vir a auxiliar os
professores de língua japonesa no Brasil a pensarem na importância da dinâmica da
língua quando estiverem trabalhando com métodos de ensino da língua.
A escolha do tema pesquisado justifica-se pela sua importância no
contexto do ensino da língua estrangeira desenvolvido nas instituições escolares. O
trabalho de pesquisa a ser desenvolvido fará parte do acervo em construção das
produções do CEFET-PR e de outras escolas.
O objetivo geral é pesquisar e analisar as particularidades de aculturação
que se materializaram na língua, provocando mudanças e adaptações de vocábulos
luso-brasileiros na língua japonesa falada e escrita no Brasil.
Para desenvolver a idéia central deste projeto foram traçados os seguintes
objetivos específicos:
a. Levantar as obras que tratam das questões lingüísticas das línguas
3
portuguesa e japonesa.
b. Elaborar um roteiro de análise com os estudos teóricos para em
seguida aplicá-lo no estudo da obra escrita em japonês editada no
Brasil por SHINICHI NUMATA (1996).
c. Levantar os vocábulos e as questões lingüísticas que permeiam ambas
as línguas e especificar quais fenômenos de aculturação estão
embutidos no texto escolhido.
d. Classificar os vocábulos por classe gramatical e por divisão social do
uso da língua, verificando a freqüência de uso e os seus motivos.
e. Fazer uma análise comparativa das palavras portuguesas usadas no
japonês, juntamente com as equivalentes encontradas na língua
japonesa falada no Japão, a fim de verificar os empréstimos
interlinguais.
f. Associar a aculturação com as questões lingüísticas.
O trabalho está dividido em cinco capítulos. O primeiro capítulo é a
introdução da monografia, apresentando as justificativas e os objetivos da pesquisa.
No segundo capítulo, elabora-se um breve histórico da imigração japonesa no Brasil
e em especial na cidade de Londrina, onde foi intensa a imigração nos anos 30 e 40,
além da visão de alguns lingüistas sobre os empréstimos lingüísticos e como esse
fenômeno ocorre. No terceiro capítulo, faz-se uma descrição do trabalho e da
metodologia aplicada. No quarto capítulo, que é a análise propriamente dita,
trabalhou-se conjuntamente com os dados do livro com as obras teóricas
relacionadas. E por último, o quinto capítulo traz as considerações finais e
recomendações para futuras pesquisas.
4
2 REVISÃO DE LITERATURA
Neste capítulo, são apresentados os fatores que marcaram a imigração
japonesa no Brasil, a sua aculturação e um breve histórico da colonização de
Londrina, local onde ocorreu a maior parte da narração dos contos e crônicas de
NUMATA (1996), Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração), objeto de estudo desta
monografia. As teorias sobre empréstimos, interferências lingüísticas e mescla
lingüística também são apresentadas e discutidas neste capítulo.
2.1 FATORES QUE MARCARAM A IMIGRAÇÃO JAPONESA
Com a cultura do café em expansão e a crescente campanha contra a
escravidão, o governo brasileiro procurou na imigração uma forma legal e barata
para suprir a necessidade de mão-de-obra no campo. Para tanto, o Brasil recebeu um
grande número de imigrantes da Europa e da Ásia. De 1908 a 1973, entraram no
Brasil 249.177 imigrantes japoneses, sendo a maioria, camponeses, que ficou fora
do processo de modernização do Japão (SAITO e MAEYAMA, 1973). Razões
sócio-econômicas levaram o governo japonês a promover a emigração para países
da Ásia e América.
Os primeiros japoneses chegaram ao Brasil com a esperança de fazer
fortuna em pouco tempo e regressar ao seu país. Não havia intenção dos imigrantes,
com raras exceções, de se estabelecer e criar raízes. As propagandas a respeito do
Brasil não condiziam com a realidade dura das matas virgens, repletas de animais
selvagens, insetos e doenças. Por não conhecerem a língua, a comunicação era
difícil e o entrosamento conseqüentemente mais complicado. Os hábitos, os
costumes, a língua e o clima eram muito diferentes do país de origem. As diferenças
entre os dois países realmente eram marcantes, desde as vestimentas, as casas, os
5
utensílios da cozinha ao tamanho das fazendas. Aos japoneses, acostumados com
pequenas propriedades, a imensidão do país era inimaginável e sua forma de pensar
também teve de ser alterada. Segundo o sociólogo SAITO (1973) da Universidade
de São Paulo, os japoneses foram os imigrantes que mais tiveram que abandonar os
seus costumes devido a essa grande diferença na maneira de viver.
Como foi citado acima, o objetivo era a imigração temporária. Este fator é
decisivo para compreender o caráter e a mentalidade desses imigrantes. Segundo
TSUKAMOTO, T. (1973), a tendência de formar grupos exclusivos é comum entre
os imigrantes de diversas nacionalidades, porém, ela é mais acentuada entre os
japoneses. Nessas comunidades ou nesses núcleos, os imigrantes podiam conservar,
de certa maneira, a mesma forma de viver do seu país de origem. Logicamente,
havia razões profissionais, maior liberdade e facilidade de comunicação e
colaboração entre eles. Os europeus construíam igrejas, entretanto, os japoneses
priorizavam a escola para garantir estudos aos seus filhos. Ensinava-se a língua
japonesa, mas principalmente a moral e o espírito japonês, além do amor ao
Imperador, o que denota a intenção da imigração temporária. Retornar ao seu país de
origem como vencedores era o objetivo único e preparavam seus filhos para esse
propósito.
2.2 BREVE HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO DE LONDRINA
Segundo OGUIDO (1988), em 1930, a Companhia Colonizadora Inglesa
começou a venda dos lotes, que mais tarde se transformaram em Londrina, para
imigrantes de 30 etnias. Os primeiros compradores foram seis japoneses. De acordo
com os relatos da Companhia Colonizadora, só se viam rostos japoneses no início da
colonização. Em 1934, Londrina é elevada à categoria de Município. Esses
japoneses que chegaram à Londrina nessa época eram aqueles imigrantes que
6
trabalharam dia e noite nas fazendas de café do Estado de São Paulo e
economizaram apenas o suficiente para comprar as matas virgens no Paraná. O autor
da obra a ser analisada, SHIN-ICHI NUMATA, então com quinze anos, a princípio,
tinha se estabelecido com sua família em Sete Barras, São Paulo. Um ano depois,
em 1934, se muda para Londrina, sendo um dos seus pioneiros. Outros imigrantes
do Estado de São Paulo que lucraram com a colheita de algodão se mudam para
Londrina e o número de famílias japonesas aumenta para 700. Em 1940, o uso da
língua japonesa é proibido e as escolas de língua japonesa também são fechadas. O
autor, SHIN-ICHI NUMATA, do livro a ser analisado descreve esse início da
colonização de Londrina, contando diversos “causos”.
A obra é escrita em japonês com inúmeras palavras originadas do
português, o que o torna uma leitura apropriada para os que residem ou os que
tiveram contato com o português, pois o texto apesar de conter a tradução de alguns
desses vocábulos luso-brasileiros demonstra que houve uma miscigenação da língua.
Os próximos itens tratarão sobre esses empréstimos e a miscigenação da língua.
2.3 ACULTURAÇÃO E A LÍNGUA DOS IMIGRANTES
A adaptação e a aculturação de minorias a uma comunidade variam de
grupo para grupo. Enquanto o grupo de imigrantes italianos se integrou fácil e
rapidamente à comunidade brasileira, deixando de lado a conservação dos costumes
e da língua, os grupos de alemães e de japoneses preservaram por mais tempo a sua
identidade cultural e lingüística. Por esse motivo, os falantes das duas línguas
afastaram-se mais do português em situações de comunicação (SAITO e
MAEYAMA, 1973).
No caso de falantes de língua japonesa no Brasil, esse
fenômeno é bastante claro com erros constantes de concordância verbais e nominais,
de pronúncia e outros. Isto se justifica devido às estruturas gramaticais e à fonética
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das duas línguas serem muito diferentes. De acordo com depoimento de uma
professora primária, dado em 1992 sobre o final dos anos quarenta no interior do
Estado de São Paulo, “... na comunidade japonesa, (...) o problema da língua
dificultava o aprendizado, pois havia alunos que não entendiam uma [grifo do autor]
só palavra em português”. (DELTA, vol.15, nº Especial, p. 402). Nesse contexto de
pouco contato com o português, no entanto, pode-se verificar no livro Shin-chan no
Mukashi Banashi do autor SHIN-ICHI NUMATA (1996) que várias palavras
portuguesas foram introduzidas na língua japonesa com fonética e ortografia
adaptadas. Esta monografia propõe estudar este empréstimo e as prováveis razões
que levaram esses imigrantes a adotar esses vocábulos estranhos a sua língua mãe.
TOMOO HANDA (1973, p.487), fala sobre a questão do destino da língua
japonesa:
Se a língua japonesa por nós utilizada não tivesse sido influenciada pela língua
luso-brasileira, talvez tivesse havido uma padronização do tipo ocorrido em
Hokkaido. Acontece que o abrasileiramento da nossa cultura, no sentido
cotidiano, tem início a partir do primeiro dia em que pisamos o solo brasileiro,
quando se torna fatalmente forçosa a utilização da língua luso-brasileira.
Ademais, o nosso desejo e interesse em preservar a língua japonesa constituem
um tipo de resistência cultural que somente os imigrantes, como nós,
experimentam e, por isso mesmo, quantas cenas tragicômicas não teriam
ocorrido.
Como se vê acima, o desejo de preservar a língua japonesa era inerente, no
entanto, é clara a sua percepção da dificuldade e da quase impossibilidade de manter
intacta a língua japonesa nesta terra que os acolheu, transcorridos alguns anos após a
imigração.
2.4 ALGUMAS TEORIAS SOBRE EMPRÉSTIMOS LINGÜÍSTICOS
Todas as línguas vivas evoluem constantemente. Elas sofrem alterações
8
por fatores internos e externos. Pode ocorrer o surgimento de um vocábulo novo a
partir dos recursos da própria língua, como a afixação ou a composição de vocábulos
para formar uma terceira, ou é acrescentado um novo significado a ele. Ainda, a
língua pode sofrer interferência de outras. Em Language, o lingüista LEONARD
BLOOMFIELD (1933), divide o empréstimo lingüístico em três categorias, sendo:
• Empréstimo cultural (ou externo): quando os traços recebidos são
de uma língua diferente;
• Empréstimo íntimo: assemelha-se muito com o empréstimo
cultural, mas acontece quando as duas línguas convivem no mesmo
local, em uma comunidade, como no caso dos países colonizados,
ou dos imigrantes;
• Empréstimo dialetal (ou interno).
Esta monografia se aterá principalmente ao empréstimo íntimo, em que a
língua dominante (dominant language) empresta para a outra submissa (lower
language). BLOOMFIELD (1933) exemplifica esses empréstimos que ocorrem
dentro das comunidades dos imigrantes, que tendem a misturar a língua materna e a
língua do país que os acolheu.
Para o lingüista URIEL WEINREICH (1974), em seu livro Languages in
Contact, os empréstimos são definidos como:
fenômenos de interferência que, tendo freqüentemente ocorrido na fala de
bilíngües, tornaram-se habituais e estabelecidos. Seu uso não depende mais do
bilingüismo. Quando o falante da língua x usa uma forma de origem estrangeira
não como um empréstimo ocasional da língua y, mas porque ele ouviu em outras
frases da língua x, esse elemento emprestado pode ser considerado, do ponto de
vista descritivo, como parte da língua x.
WEINREICH (1974, p.11) divide a interferência em três grupos:
• Fonológica – empréstimo de sons pertencentes a uma determinada
9
língua numa situação de outra.
• Gramatical – Ocorre quando o sistema gramatical de uma língua
sofre alteração por causa da interferência da outra quanto à ordem, à
concordância, à dependência.
• Lexical – Ocorrência de vocábulos de uma língua na outra. Esse
fenômeno
pode
ser
classificado
como
empréstimo
ou
estrangeirismo, e ocorre com freqüência nas línguas que são levadas
para outros países, através dos imigrantes ou colonizadores.
WEINREICH (1974) afirma também que as razões que levam os falantes
de uma língua a fazer o empréstimo é a necessidade de designar novas coisas,
pessoas, lugares e conceitos. No Brasil, por exemplo, segundo GARCEZ, P.M e
ZILLES, A.M.S. (2002), o português adotou do tupi-guarani, palavras como aipim,
goiaba, araçá, igarapé, etc. e do inglês, futebol, gol etc., que de tão incorporados ao
dia a dia do brasileiro, poucos brasileiros se dão conta que essas palavras são
empréstimos linguísticos, estrangeirismos.
Este fenômeno acontece em todos os idiomas em maior ou menor grau, e
tem sido constantemente fator de discussão entre os lingüistas. Recentemente no
Brasil, o ex-deputado Aldo Rabelo (PCdoB/SP)¹ apresentou um projeto de lei que
visa “proteger a língua portuguesa da degradação a que está sendo submetida por
estrangeirismos, sobretudo do inglês” (FARACO, 2002, p. 168). Ele acrescenta
ainda na sua argumentação que o português sofre atualmente uma desnacionalização
que a empobrece.
Ao contrário do que afirma o deputado, o professor POSSENTI (2002,
p.169) afirma que “a tal invasão certamente não empobrece o português. Tomada a
língua como língua, o efeito é o inverso: ela se enriquece”. Ainda segundo o
¹ Partido Comunista do Brasil, São Paulo
10
professor, um léxico pode crescer, ou o atual receber novos sentidos, como a
palavra “memória” usada atualmente na informática. A evolução de uma língua é
composta de vários empréstimos internos ou externos, dependendo do grau de
contacto ou de necessidade.
2.5 MESCLA LINGÜÍSTICA
Em Falares Crioulos, TARALLO (1987) afirma que os homens e suas
culturas, suas línguas, sua sintaxe e sua fonologia serão afetados por fenômenos de
contato, mistura, alquimia e mescla e um dos pontos-chave do modelo
sociolingüístico é o fato de o espaço da mescla lingüística ser a comunidade da fala.
Como WEINREICH (1974), TARALLO (1987) faz distinção entre a
mescla intracomunidade, as variantes numa mesma língua, e a mescla
intercomunidade, línguas diferentes convivendo e se misturando em uma mesma
comunidade. No Brasil, onde há a presença de um multidialetismo ameno (as
diferenças regionais localizam-se, em geral nas áreas da fonética, da fonologia e do
léxico), o bilingüismo também está presente em certas regiões em que houve a
imigração, como em São Paulo e Paraná. Nestes dois estados, os imigrantes
japoneses preservaram a língua japonesa por muito tempo e em Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, a língua alemã convivia com o português.
Este fenômeno, no entanto, carrega sérios problemas para os falantes.
Mesmo tentando manter vivas as duas línguas, circunstâncias socio-políticas podem
determinar e/ou privilegiar o uso de um dos dois sistemas (TARALLO, 1987). Para
ilustrar o grau de dificuldade da manutenção de duas ou mais línguas num mesmo
país, cabe lembrar aqui que o governo do Canadá através de uma lei determinou que
não só as duas línguas oficiais do país, o inglês e o francês, fossem mantidas, mas
11
também as línguas de outros imigrantes. E, para tanto, foram dados vários incentivos
às escolas para que os alunos pudessem falar várias línguas. Apesar desse esforço,
verifica-se que em muitas situações a língua predominante é o inglês. Os falantes de
francês ou de outras línguas são levados obrigatoriamente a aprender o inglês, mas o
mesmo não acontece com os falantes da língua que predomina.
Num depoimento, uma professora de língua japonesa no Canadá conta que
apesar do esforço para que sua filha preservasse a língua japonesa como uma
herança cultural, fracassara, pois a língua inglesa que cerca toda a comunidade era
forte demais e não conseguira na adolescência fazer com que ela mantivesse a língua
materna (NAKAJIMA.e SUZUKI, 1997).
Ainda conforme TARALLO (1987), o que pode acontecer também com o
bilingüismo é a morte de um dos dois sistemas, retornando ao monolingüismo.
Neste caso, outra vez, os fatores sociais como grau de segregação e de interação das
comunidades vão se manifestar para essa ocorrência. Entretanto, tanto na
manutenção como na morte de um dos dois sistemas, a mescla lingüística existe.
“Na manutenção, ela se revela como um tecido listrado; na dissolução, como um
vinho misturado, em cuja composição entra, em geral, uma quantidade maior de
uvas de que é feito o vinho “dominante”, isto é, aquele que dá o sabor” (TARALLO,
1987).
Estas idéias desenvolvidas pelos autores vão auxiliar a compreensão do
problema de pesquisa nos capítulos a seguir.
12
3 METODOLOGIA
Este capítulo aborda a metodologia empregada na pesquisa da presente
monografia, as razões da escolha do livro de NUMATA (1996), Pinga to Imin (A
Pinga e a Imigração), levantamento dos empréstimos do português encontrados na
obra citada anteriormente, as divisões por classe gramatical e por uso social da
língua e explicações dos quadros.
3.1 METODOLOGIA
A metodologia aplicada na presente pesquisa constituiu-se de seis etapas.
Na primeira etapa, foi feita a leitura das obras e teses referentes ao assunto
escolhido, ressaltando temas como empréstimos lingüísticos, mescla lingüística,
hibridismo, estrangeirismo, interculturalidade, e livros da história da imigração
japonesa ao Brasil.
Na segunda etapa, foi feito o levantamento dos vocabulários lusobrasileiros que se apresentam no livro Pinga to Imin (A pinga e a Imigração), tomo
II da coleção Shin-chan no Mukashi Banashi (Estórias antigas de Shinchan) de
SHIN-ICHI NUMATA (1996) e também a classificação quanto à divisão por classe
gramatical e quanto à divisão social do uso da língua.
Na terceira etapa, os dados classificados em classes gramaticais foram
divididos em divisão social do uso da língua e colocados em três quadros, sendo:
termos do cotidiano, termos de trabalho e termos de lazer. O quadro foi dividido em
4 colunas: a primeira “em alfabeto”, a segunda “em japonês”, a terceira “em
português” e a última “freqüência” (vide explicação no item 2.3.2.). A freqüência foi
pesquisada para revelar o fenômeno da aculturação e verificar em que área o
empréstimo foi maior.
13
Na quarta etapa, pesquisaram-se e relataram-se as formas da grafia
japonesa, o uso do alfabeto para escrever as palavras japonesas e o uso dos
estrangeirismos no Japão para melhor explicar os empréstimos do léxico português
para a língua usada na comunicação entre os japoneses residentes no Brasil.
Na quinta etapa, foi feita a análise sócio-cultural dos empréstimos de
acordo com a divisão social do uso da língua, baseando na freqüência com que
apareceram na obra.
Na sexta etapa, para efetuar a análise lingüística dos empréstimos contidos
na obra citada acima, foi feita uma classificação quanto às classes gramaticais e ao
hibridismo e sua formação. Foi feito também um estudo sobre as palavras
portuguesas já incorporadas no japonês, sobre a oscilação de uso do português e do
japonês e a dificuldade de transliteração do português para a língua japonesa devido
à dificuldade fonológica.
Por último, as considerações finais sobre a pesquisa e as recomendações
para futuras pesquisas.
3.2 RAZÕES DA ESCOLHA DO LIVRO “PINGA TO IMIN” DE SHIN-ICHI
NUMATA
O escritor Shin-ichi Numata é um imigrante pioneiro de Londrina e grande
guardião das tradições japonesas na mesma cidade. Sempre trabalhando na
comunidade e incentivando o aprendizado da língua japonesa entre os descendentes,
muitas vezes ministra palestras a respeito da tradição e costumes do Japão. Ele é
uma pessoa muito respeitada dentro da comunidade londrinense e fala muito pouco
o português.
A coleção de livros Shin-chan no mukashi banashi (As Estórias Antigas de
Shin-chan) é uma coletânea de contos e crônicas que retrata a sua trajetória como
14
imigrante, e também o início da colonização de Londrina e Norte do Paraná pelos
imigrantes japoneses. Os livros foram publicados a partir de 1996, os quais contém
inclusive crônicas que retratam a atualidade. A pesquisadora fez contato telefônico
com o escritor em 16 de fevereiro de 2005. A partir de sua fala, foi possível tomar
conhecimento de que quando ele lançou o primeiro livro, a intenção era que este
fosse lido pelos antigos imigrantes ou japoneses aqui radicados, razão pela qual o
autor não se preocupou em usar o japonês padrão atual. Desta forma, nos dois
primeiros volumes Café to Imin (O Café e a Imigração) e Pinga to Imin (A Pinga e a
Imigração), o autor usou o japonês tal como se fala e se escreve no Brasil com a
presença de inúmeras palavras luso-brasileiras.
Por ser um livro, houve uma
preocupação quanto ao uso da língua japonesa mais polida do que aquela que se usa
em situações de comunicação oral. A partir do terceiro livro, no total são dez livros,
o autor se preocupa em usar mais o japonês padrão atual com menos empréstimos do
português porque seus livros estavam sendo levados para o Japão e lidos por
japoneses não imigrantes. O primeiro livro foi inclusive acrescido de uma lista de
palavras tomadas emprestadas do português com significado em japonês ou o
estrangeirismo correspondente adotado do inglês.
O sentimento de preservação do bilingüismo ainda é muito grande entre as
pessoas de mais idade, entretanto verifica-se que, dia a dia, o número de falantes da
língua japonesa diminui. Segundo o CENTRO DE ESTUDOS JAPONESES (2004),
o número de estudantes da língua japonesa é de aproximadamente 20.000, sendo que
30% são não-descendentes. São pessoas que têm interesse em aprender a língua e a
cultura japonesa influenciadas muitas vezes por mangás (desenho em quadrinhos
japonês) ou animês (desenho animado japonês).
Esta pesquisa foi movida pelo interesse de verificar os fatores que levaram
os imigrantes a usar tantas palavras luso-brasileiras dentro da língua japonesa,
apesar de, como já foi visto, eram imigrantes temporários e por isso necessitavam
15
conservar a tradição e principalmente a língua para retornar ao Japão com menos
problemas de readaptação.
3.3 LEVANTAMENTO DOS EMPRÉSTIMOS DO PORTUGUÊS NO LIVRO
PINGA TO IMIN (A PINGA E A IMIGRAÇÃO) DE NUMATA (1996)
A língua japonesa possui três grafias distintas, sendo o ideograma, kanji, e
os fonogramas, hiragana e katakana. As palavras de origem chinesa são grafadas
em ideogramas, kanji, como em 日本, lê-se nihon, e significa Japão, e, as palavras
de origem ocidental e muitos sons onomatopáicos são grafadas em katakana como
em テレビ、lê-se terebi, e significa televisão. Já com o hiragana, pode se escrever
as palavras de origem integralmente japonesa, ou as partículas e as flexões dos
verbos e dos adjetivos, ou ainda usar o kanji e o hiragana concomitantemente como
em 飲みます lê-se 飲 nomi (raiz do verbo beber) +ます masu (flexão do verbo) =
eu bebo.
Observa-se que cada grafia tem uma atribuição de função, através da qual
se reflete sua origem, entretanto isto não impede que se utilizem outras formas de
letras. Os traços de cada letra são característicos, o que facilita a visualização. Para
distinguir as palavras de origem ocidental, o leitor logo as percebe devido à escrita
katakana.
3.3.1 Divisão por Classes Gramaticais
Inicialmente, fez-se um levantamento de todas as palavras luso-brasileiras
encontradas no livro citado acima. As mesmas foram divididas em classes
gramaticais: substantivo, verbo e adjetivo e foram também anotadas as expressões.
Foram encontrados 166 substantivos, muitos deles, repetidas vezes, sete verbos, um
16
adjetivo e cinco expressões. Foram excluídos desta relação, os nomes dos lugares
como São Paulo, Sete Barras, Londrina, e outros, também grafados com katakana.
3.3.2 Divisão Social do Uso de Língua
As palavras luso-brasileiras também foram classificadas nas seguintes
áreas: cotidiano, trabalho e lazer. O objetivo dessa divisão foi pesquisar em que área
verificaram-se mais esses empréstimos e suas causas.
O quadro apresenta quatro colunas, sendo, a primeira coluna, “em
alfabeto”, os empréstimos do português no japonês escritos em letras do alfabeto, ou
seja, como o japonês é escrito em alfabeto romanizado; a segunda coluna “em
japonês”, escrito em katakana,; terceira coluna, “em português”, são as palavras de
origem;
e na quarta coluna, “frequência”, a freqüência com que as palavras
aparecem no livro citado acima.
Na língua japonesa, há menos fonemas que no português, tais como a
ausência dos fonemas /l/ ,/v/, /j/, /z/, /f/ , /rr/, de encontros consonantais, de vogais
abertas, causando o sotaque apresentado na fala dos japoneses e alguns de seus
descendentes. Por este motivo, percebe-se na coluna “em alfabeto”, essas diferenças
que ocorreram na transferência do português para o japonês.
No entanto, “em alfabeto” não significa que a palavra pode ser lida da
mesma forma que no português. De acordo com o Dicionário Português- Japonês
Romanizado de SAKANE e HINATA (1986), o sistema da escrita românica adotado
aqui “em alfabeto” é o Hepburn, que necessita seguir algumas regras conforme
segue abaixo:
a. O “s” é sempre surdo, ainda que entre vogais.
b. O “r” é sempre vibrante alveolar como em “caro”, mesmo que não
venha em posição intervocálica. Ex. ran (orquídea).
17
c. O “h” é sempre aspirado como no inglês “hospital”.
d. O “g” é oclusivo velar sonoro como em “fogo”, “guia”, mesmo que
venha imediatamente depois seguido das vogais /e/ e /i/. Ex. Geijutsu
(artes).
e. O grupo “ch” será sempre fricativo sonoro, como no inglês, children.
f. O fricativo palatal será representado por “sh”, como em shinbun
(jornal).
g. As consoantes dobradas representam sons assimilados como acontece
com o italiano ou latim, como em kit-te (selo).
h. Os encontros consonantais, como “bl”, “br” serão acrescidos da vogal
“u” entre as duas consoantes. Ex. burajiru (Brasil)
i. O “-l”, “-r”, “-s” como em balsa, pescador, ônibus serão acrescidos da
vogal “u” e escritos barusa, pesukado-ru, onibusu respectivamente.
j. O “j” será sempre pronunciado como vozeado palato alveolar africada,
ou seja, como no inglês /dz/. Ex. fe-jon ( feijão), ja-jineira (jardineira)
No livro Nihon no Gairaigo (Estrangeirismos no Japão), YAZAKI (1971)
cita que a língua japonesa é uma língua cuja fonética segue principalmente a ordem
VV*, ai (amor), CVV* nai (não há), VCV aka (vermelho) ou CVV koe (voz),
CVCV kaki (caqui). A presença da vogal é quase que obrigatória. Esta característica
da língua dificulta os falantes de japonês a falar outra língua em que a presença das
consoantes é mais acentuada como em inglês ou mesmo em português. Como no
exemplo acima, a palavra “Brasil” em japonês se transforma de dissílabo em
português para polissílabo em japonês burajiru. Devido a menor quantidade de sons,
* V – vogal, C - consoante, VV – vogal, vogal, CVV – consoante, vogal, vogal
18
quando há empréstimo lexical, muitas vezes as palavras sofrem grandes variações
fonéticas como em shicchio (sítio) e serube-ja (cerveja).
Os quadros abaixo apresentam as três classificações de que se
mencionou no início. Os verbos, as expressões e o adjetivo estão identificados com
as abreviaturas (v), (exp) e (adj) respectivamente. Os substantivos, por ser em
maioria, não contêm identificação.
QUADRO 1 – TERMOS DO COTIDIANO
EM ALFABETO
EM JAPONÊS
Mudansa
ムダンサ
Mudansa suru (v)
ムダンサ する
Onibusu
オニブス
Onsa
オンサ
Panko*
パン粉
Parumitto
パルミット
Puronto (adj)
プロント
* Hibridismo – Vide 4.3.1.
EM PORTUGUÊS
Mudança
Fazer mudança
Ônibus
Onça
Farinha de rosca
Palmito
Pronto
FREQUÊNCIA
VEZES
12
1
1
2
1
9
1
QUADRO 2 – TERMOS DO TRABALHO
EM ALFABETO
EM JAPONÊS
Arenda suru (v)
Are-ya
Aruga shita (v)
Aruge-ru
Aruke-ru
Banko
Baza-ru
Be-ehe
Bi-ra
Japone-su garantido
(exp.)
アレンダ する
アレーヤ
アルガ した
アルゲール
アルケール
バンコ
バザール
ベエヘ
ビーラ
ジャポネース
ガランチード
EM PORTUGUÊS
Arrendar
Areia
Alugar (aluguei)
Aluguel
Alqueire
Banco
Bazar
BR
Vila
Japonês garantido
FREQUÊNCIA
VEZES
1
4
1
1
8
1
1
1
1
1
19
QUADRO 3 – TERMOS DE LAZER
EM ALFABETO
Garappa
Pesuka
Pesukado-ru
Pinga
Reunion
Serube-ja
Shinema
EM JAPONÊS
ガラッパ
ペスカ
ペスカドール
ピンガ
レウニオン
セルベージャ
シネマ
EM PORTUGUÊS
Garapa
Pesca
Pescador
Pinga
Reunião
Cerveja
Cinema
continua
FREQUÊNCIA
VEZES
1
1
1
47
1
2
1
Os quadros completos do levantamento lingüístico estão detalhados nos
APÊNDICES 1, 2 e 3.
Neste capítulo, foram classificados os empréstimos lingüísticos e
apresentados os processos de sua classificação. Abordaram-se também as questões
da formação do vocábulo japonês e da grafia japonesa. Baseados nestes
levantamentos e esclarecimentos sobre a língua japonesa, no capítulo seguinte será
feita a análise socio-cultural-lingüística dos empréstimos.
20
4 ANÁLISE DOS TERMOS EMPRESTADOS
Neste capítulo, faz-se uma análise dos termos emprestados do português
apresentados pelo escritor NUMATA (1996), na sua obra Pinga to Imin (A Pinga e a
Imigração), quanto à classificação gramatical, à freqüência com que aparecem e às
formas como são apresentados no contexto das práticas sociais realizadas por
japoneses no Brasil.
4.1. CLASSIFICAÇÃO GRAMATICAL
ALVES², citado por MUNIZ (1997, p.19) no seu trabalho de doutorado,
constata que “a grande maioria dos elementos neológicos recebidos por português
constitui-se de substantivos”. O mesmo fenômeno se observa nesta pesquisa.
Para BIDERMAN (1978), além das adaptações fonéticas e ortográficas, a
palavra adotada por outra língua assume uma forma que se encaixa na estrutura
morfossintática da língua que o acolheu. Sendo assim, provavelmente, um
substantivo permanece substantivo e um verbo permanece verbo, sofrendo flexões
existentes na língua do adotante.
Como na língua japonesa, não há gênero nem número como em português,
a adoção da palavra se verifica assim como ela é apresentada, ou seja, o que for
masculino permanece masculino e o que for feminino continua feminino. Os
exemplos encontrados na obra de NUMATA, kami-za, kava-ro, pirikitto, tatsu,
comprovam a teoria de BIDERMAN (1978). No entanto, algumas vezes, há
alterações de gênero como em arumossa (feminino), no lugar de “almoço”
(masculino) ou ainda rapo-zo (masculino) em vez de “raposa” (feminino),
²ALVES, I.M. , Neologismo, Criação Lexical. São Paulo: Ática, 1990.
Série Princípios.
21
comumente mais usada. No caso do dinheiro, verifica-se o termo mirure-su (mil réis)
no plural, enquanto outras unidades da moeda estão todas no singular, assim como
as medidas aruke-ru (alqueires), hekuta-ru (hectares).
Nos verbos, a terceira pessoa do singular do presente do indicativo é
acrescida do verbo suru, uma espécie de verbo auxiliar no japonês que significa
“fazer”. Sekka suru (seca + fazer), ou seja, “secar”. O suru corresponde ao sufixo -r,
na sua forma do infinitivo e o verbo português acaba sofrendo flexões do verbo suru,
um dos verbos irregulares do japonês. Hoje em dia, é comum encontrar
descendentes falando em japonês usando o termo aposenta suru, (me aposentar).
“Aposentar-se” em japonês falado no Japão atualmente é taishoku suru, no entanto,
este termo era pouco usado no Japão na época em que os imigrantes vieram para o
Brasil, por isso, aquele que se aposenta pelo INSS brasileiro se sente mais à vontade
usando o termo aposenta suru. Interessante notar que no Japão, o verbo suru vem
precedido de um substantivo como em kaimono (compras) suru, sanpo (passeio)
suru para significar “fazer compras”, “fazer passeio”, no entanto, no português, ele
precede um verbo na terceira pessoa do singular e no inglês, ele antecede também o
verbo, como em katto suru, ou seja, “to cut”. Uma exceção com o uso do
substantivo em português é mudansa suru, ou seja, “fazer mudança” (NUMATA,
1997).
O único adjetivo encontrado dentro de uma frase, puronto (pronto), se
encontra na frase: “... houtai wo maite, puronto to naru.” (...depois de enrolar a
atadura, fica pronto) (NUMATA, S. 1997, p.97). HANDA (1973) cita que com a
mudança do estilo de vida, a linguagem tende a ser simplificada. Quanto maior for a
mudança, maior será a dificuldade de substituição. Ele exemplifica que termos que
demonstram a sutileza como usu-akarui (pouco claro) e usu-gurai (pouco escuro),
expressões intermediárias são praticamente eliminadas do vocabulário do imigrante
que encontra a natureza mais exuberante no Brasil. Desta forma, o empréstimo de
22
adjetivos é pouco freqüente porque a gama de adjetivos no próprio japonês é grande,
não sendo necessário provavelmente o seu empréstimo. De acordo com
WEINREICH (1974), as interferências mais “econômicas” ocorrem com maior
freqüência, porque demandam menor esforço. O uso do adjetivo “pronto” ou da
expressão “japonês garantido” comprovam esta teoria, uma vez que, esses termos
agilizam a compreensão do interlocutor. Segundo HANDA (1973), no contexto das
práticas sociais realizadas por japoneses no Brasil, o “garantido” que eles usavam
não significava apenas que o produto era garantido. Para seu limitado vocabulário,
eles quiseram atribuir à palavra “garantido” vários sentidos de tudo aquilo que era
bom, seguro e digno de confiança, de algo de valor. A palavra, garantido, por este
motivo não foi classificada como adjetivo, e sim como expressão idiomática.
4.2 FREQÜÊNCIA
4.2.1 Termos do Cotidiano
Listando todas as palavras luso-brasileiras presentes no livro “Pinga to
Imin”, percebe-se, verificando a coluna da freqüência, que a maioria das palavras
citadas pelo autor é usada apenas uma vez. As palavras que se repetem não são
muitas. As de uso do cotidiano que aparecem mais de cinco vezes estão ligadas ao
grupo de alimentação como café, milho, feijão, etc., conforme quadro abaixo:
QUADRO 4 – TERMOS DO COTIDIANO DE MAIOR FREQÜÊNCIA
1
2
TERMOS
EMPRESTADOS
(EM ALFABETO)
KafeMi-ryo
TERMOS EMPRESTADOS
(EM PORTUGUÊS)
Café
Milho
continua
FREQÜÊNCIA
(VEZES)
32
15
23
3
4
5
6
7
8
9
10
11
TERMOS
EMPRESTADOS
(EM ALFABETO)
Mudansa
Ranbike
Fe-jon
Parumitto
Aro-su
Porenta
Kanna
Sereaesu
Emeti-na
TERMOS EMPRESTADOS
(EM PORTUGUÊS)
Mudança
Alambique
Feijão
Palmito
Arroz
Polenta
Cana-de-açúcar
Cereais
Emetina
conclusão
FREQÜÊNCIA
(VEZES)
12
11
9
9
5
5
5
5
5
Dentre os onze termos do quadro acima, apenas mudança, alambique e
emetina não fazem parte deste grupo de alimentação. Mudança acontecia com
freqüência no início da imigração tendo em vista a busca de melhores condições de
trabalho. Alambique, que os japoneses falavam ranbike, se faz presente onze vezes,
justificado por causa do tema do livro: a pinga. Já emetina foi muito usada para
curar doença como ameba, muito comum naquela época nas matas virgens do Brasil.
Muitas vidas foram salvas com o uso deste medicamento.
Os termos do grupo de alimentação, com exceção de porenta (polenta),
também poderiam ser classificados como termos do trabalho, pois esses eram os
cereais que os imigrantes plantavam e também era o “ganha pão” da maioria dos
agricultores da época.
4.2.2 Termos do Trabalho
No caso das palavras relacionadas ao trabalho, a freqüência é um pouco
maior. Termos relacionados à terra, como lote, fazenda, mato, cafezal, chácara,
sítio, aparecem com freqüência, valendo ressaltar as duas primeiras, demonstrando
24
com isso um
apego à propriedade que pode ser traduzido como investimento
imobiliário. As unidades de moeda como conto, mil, mil-réis e as de medida como
alqueires, hectares vêm em seguida, fazendo parte das transações comerciais. A
palavra camarada no sentido de trabalhador rural, diarista, hoje, não é mais usada,
no entanto, no contexto do livro, ou seja, no início da colonização de Londrina, ele
era um personagem chave no desenvolvimento da cultura de café e de outros cereais.
O relacionamento patrão e camarada era também novo para os imigrantes que
tinham conseguido um pedaço de terra.
QUADRO 5 – TERMOS DO TRABALHO DE MAIOR FREQUÊNCIA
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
TERMOS
EMPRESTADOS
(EM ALFABETO)
Rotte
Fazenda
Konto
Kamara-da
Aruke-ru
Miru
Matto
Kafe-za-ru
Mirure-su
Patoron
Kaminyon
Shakkara
Shicchio
TERMOS EMPRESTADOS
(EM PORTUGUÊS)
Lote
Fazenda
Conto
Camarada
Alqueire
Mil
Mato
Cafezal
Mil-réis
Patrão
Caminhão
Chácara
Sítio
FREQUÊNCIA
VEZES
23
22
13
11
8
8
7
6
6
6
5
5
5
As grandes propriedades prevalecem sobre as pequenas dadas às condições
das culturas como o café que exigiam grande extensão de terras. O termo rotte (lote)
utilizado pelo autor não significa pequena propriedade de terra, mas sim, um pedaço
de terra, seja grande ou pequeno.
25
O pouco uso de palavras referentes ao deslocamento, como kaminyon
(caminhão), demonstra que os serviços de transporte não eram feitos por imigrantes.
4.2.3 Termos de Lazer
Os termos de lazer são apenas 13. Este número insignificante se explica
devido ao ambiente pouco propício ao lazer. O objetivo dos imigrantes era o
trabalho e conquistar fortuna.
Um dos poucos prazeres dos imigrantes era saborear a pinga depois de um
dia de trabalho pesado sob o forte sol dos trópicos. O próprio nome do livro é Pinga
to Imin (A Pinga e a Imigração). Alguns imigrantes, segundo NUMATA (1996),
possuíam em suas casas quintos de pinga, ou seja, barris de pinga comprados
diretamente dos alambiques. As estórias sobre esta bebida dos trópicos são narradas
de forma cômica e alguns até tragicômicas. Por ser tema do livro, a palavra pinga
aparece 47 vezes, superando muito o segundo colocado café que está presente 32
vezes no livro.
4.3 ANÁLISE LINGÜÍSTICA DOS EMPRÉSTIMOS
Segundo a professora J. OTA (1993), a língua japonesa utilizada no Brasil
apresenta características diferentes das do Japão, por ser uma língua falada apenas
na comunidade japonesa, ou então em âmbito familiar, e mesmo dentro desses meios,
somente por aqueles que a dominam. No léxico, principalmente, percebe-se que
palavras luso-brasileiras comumente usadas no cotidiano brasileiro e na agricultura,
setor onde os imigrantes se concentraram no início, são incorporadas dentro da fala
e/ou da escrita japonesa no Brasil, refletindo o meio brasileiro com o qual os
falantes estão em contato constante.
26
Ao todo são 82 palavras luso-brasileiras encontradas como termos do
cotidiano, 80 como termos de trabalho e 13 de lazer no livro Pinga to Imin (A Pinga
e a Imigração), sendo algumas delas usadas repetidas vezes.
4.3.1 Palavras Portuguesas Incorporadas na Língua Japonesa
Dentre os termos emprestados do português encontrados no livro Pinga to
Imin, três palavras já existiam no japonês falado e escrito antes dos imigrantes
desembarcarem no Brasil. São elas: botan (botão), koppu (copo) e panko (farinha de
rosca/pão). Este último é de construção híbrida: pan (pão - português) e ko (farinha
– japonês). No livro Nihon no gairaigo (Estrangeirismos do Japão) de YAZAKI
(1971), o autor descreve que estas palavras foram levadas pelos portugueses no
século 16, época em que os portugueses aportaram no Japão, primeiramente, fugindo
de uma tempestade e posteriormente para realizar o comércio e a catequização dos
japoneses.
Durante a permanência por mais de 90 anos, Portugal influenciou a vida
espiritual através do catolicismo, levado por Francisco de Xavier e seus sucessores,
o comércio, introduzindo as armas de fogo que mais tarde os senhores feudais
usavam nas suas lutas, a impressora, novidade ainda na Europa e também a língua.
Ainda conforme YAZAKI (1971), por causa da proibição do cristianismo a partir de
1587, e do comércio em 1639, os portugueses tiveram que abandonar totalmente o
território japonês.
De acordo com um levantamento feito por ARAKAWA em 1943
(YAZAKI, 1971), havia mais de 500 estrangeirismos provenientes de Portugal
sendo usados nos séculos 16 e 17. Apesar da proibição do comércio com Portugal,
na realidade, ele era feito clandestinamente e objetos desconhecidos por japoneses
desembarcavam livremente, como koppu (copo), shabon (sabão), karuta (carta), e
27
outros, e, seus nomes eram também emprestados por eles. Dessas 500 palavras,
apenas algumas de uso cotidiano como as mencionadas acima permaneceram no
japonês atual. Os termos cristãos que eram de uso comum na época, devido à
proibição do cristianismo por mais de 200 anos, foram desaparecendo. Algumas
palavras como abito (hábito), anjo (anjo), biruzen (virgem), paraiso (paraíso) do
grupo de palavras religiosas ainda foram citadas por escritores da Era Meiji (século
XIX, quando o Japão abriu os portos para o Ocidente). No entanto, essas palavras
praticamente caíram no esquecimento, ou são usadas por alguns cristãos japoneses.
YAZAKI (1971) no seu livro afirma ainda que pan é um dos
estrangeirismos mais usados no Japão. A maioria da população japonesa pensa que a
palavra pan e o alimento em si foram introduzidos pelos franceses, entretanto, eles
já existiam antes de se iniciarem as relações comerciais com a França.
4.3.2 Empréstimos de Termos do Cotidiano e de Trabalho Encontrados no Livro
Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração)
A professora OTA (1993) da Universidade de São Paulo em seu artigo Os
Empréstimos do Português nos Jornais Japoneses do Brasil, apresentado na revista
do Centro de Estudos Japoneses da mesma universidade, cita que nos jornais
japoneses publicados no Brasil os nomes de produtos agrícolas estão geralmente em
português escritos em katakana, dando como exemplo miiryo (milho), arugodon
(algodão).
No livro analisado, Pinga to Imin, estes empréstimos também ocorrem
constantemente, principalmente, com os cereais como aro-su (arroz), kafe- (café),
miiryo (milho) que são citados apesar de existirem palavras correspondentes em
japonês, kome (arroz) , kohii (café), tômorokoshi (milho).
Além dos produtos agrícolas, verificam-se muitos nomes de animais,
28
frutas, comidas, bebidas e utensílios e artigos usados dentro da casa. Para HANDA
(1973), as diferenças de estilo de vida do Japão e do Brasil fizeram os falantes a
incorporar algumas palavras e até expressões do português no japonês, em
substituição as equivalentes em japonês, e, isso se verifica principalmente quando
seus significantes são diferentes no Japão. Essa troca ocorreu porque os elementos
da cultura material, vestuário, alimentação, moradia, instrumentos agrícolas, e outros,
encontrados nas terras brasileiras, eram de feitio diferentes daqueles utilizados no
Japão. O mesmo ocorria também com as unidades de medida, de moeda e formas de
abrir a mata, trabalhar a terra, arar, tudo era novidade para quem veio de um país
com pouco espaço para agricultura, cercado de água e montanhas. Por isso, nos
termos de trabalho, encontram-se os verbos e as expressões em maior número,
porque os procedimentos eram diferentes, comprovando a teoria de WEINREICH
(1974) de que as razões que levam os falantes de uma língua a fazer os empréstimos
são a necessidade de designar novas coisas, pessoas, lugares e conceitos. Expressões
como deru-ba matto (derrubar mato), foruma kafe- (formar café), verbos como
arendasuru (arrendar), karupisuru (carpir) demonstram que o uso do português
nesses casos seria mais rápido e apropriado para designar esses atos do que criar
uma palavra ou expressão no japonês.
Na obra analisada desta monografia, os utensílios como garahon
(garrafão), karusu (cálice) , os alimentos como parumitto (palmito), fubá- (fubá),
manjoka
(mandioca),
os animais como pirikitto (piriquito), tatsu (tatu) não
encontram correspondentes em japonês.
Já me-za (mesa), ka-ma (cama), karo-sa (carroça), têm palavras
equivalentes em japonês (takushoku, shindai e basha respectivamente), mas eram
pouco usados no Japão da época da imigração, tornando mais fácil e até natural o
seu uso em português. No japonês padrão falado atualmente no Japão, “mesa” e
“cama”, hoje móveis incorporados na vida cotidiana, são te-buru e beddo. Mesmo
29
no Japão, essas palavras foram substituídas por estrangeirismos provenientes do
inglês. OTA (1993) cita em seu artigo que para os residentes no Brasil, certas
palavras em português adquiriram conotação mais familiar do que as de origem
inglesa por serem mais utilizadas dentro do âmbito familiar ou da comunidade a que
pertence. Usar os estrangeirismos do japonês padrão como te-buru ( do inglês table mesa) ou deza-to (do inglês desert - sobremesa) dentre os descendentes, algumas
vezes, demonstra um certo esnobismo.
4.3.3 Hibridismo
Ainda segundo HANDA (1973), certas expressões compostas pela
composição de palavras luso-brasileiras e japonesas datam dos primeiros tempos da
imigração, na época em que os imigrantes entraram como colono dos cafezais.
O hibridismo é muito comum na obra de NUMATA (1996), que usa
expressões formadas com as seguintes características:
1. Adjetivo japonês com substantivo português:
太いマカロン futoi (grosso) makaron (macarrão) = macarrão grosso
細かいパンノ komakai (fino) panno (pano) = pano fino
広いテレーロ hiroi (espaçoso) tere-ro (terreiro) = terreiro espaçoso
2. Substantivos portugueses ligados com preposição em japonês
エストッパのサッコ esutoppano (de estopa) sakko (saco) = saco de estopa
カフェーのセカデーラ kafe-no (de café) sekade-ra (secadeira) = secadeira
de café
3. Substantivo português com substantivo japonês
カンナ畑
kanna (cana) batake (plantação) = plantação de cana
パルミット小屋
parumitto (palmito) goya (cabana) = cabana de palmito
4. Verbo em português com flexões do verbo suru em japonês conforme citado
30
no item 4.1.
アルガした aruga (alugar) shita (flexão que indica passado)
デルバして deruba (derrubar) shite (flexão que indica o gerúndio)
5. Números em japonês com medidas e unidades monetárias em português.
五アルケール go (cinco) aruke-ru (alqueires)
三コント san (três) konto (contos)
Estes exemplos acima confirmam um certo grau de aceitação e integração
dos empréstimos do português em situações de comunicação realizados em língua
japonesa no Brasil. A formação de palavras japonesas com as palavras lusobrasileiras não é difícil, uma vez que só é necessário fazer justaposições de acordo
com a sintaxe japonesa, como nos exemplos citados nos itens 1,2 e 3.
4.3.4 Oscilação entre os Empréstimos Utilizados no Brasil, os Estrangeirismos
Utilizados no Japão e as Palavras japonesas
O autor da obra analisada, NUMATA (1996), usa algumas vezes a palavra
biiru (do inglês beer = cerveja), em substituição ao serube-ja (cerveja), ou ainda kohiien (do inglês coffee + do japonês en =plantação), em substituição ao kafe-za-ru
(cafezal) que aparece inúmeras vezes na obra analisada. A palavra matto (mato)
aparece também na forma de janguru (do inglês jungle=floresta) e também no
japonês, 原 始 林 (genshirin = mata virgem). Matto e genshirin são utilizados
constantemente, demonstrando a atitude do autor que se divide entre as duas
possibilidades e não hesita também em usar o estrangeirismo janguru. Palavras
muito semelhantes entre o português e o estrangeirismo adotado no Japão, como
penishirin (do inglês penicillin = penicilina) e penishiri-na (do português penicilina)
causam este uso alternado de uma forma ou de outra.
Dentro da comunidade de
falantes japoneses no Brasil, verifica-se que certas palavras podem ser usadas de um
31
jeito ou de outro e o autor faz uso desse recurso.
Este mesmo fenômeno verifica-se no emprego do tratamento honorífico.
Quando o nome é em japonês, ele usa apenas o tratamento na língua japonesa. No
entanto, quando o nome é em português, algumas vezes ele utiliza apenas o
tratamento em japonês 氏(shi = senhor)como em 元プレフェイト氏 (moto
purefeito shi = Senhor ex-prefeito)ou ainda em duplicidade, ou seja, pronome de
tratamento do português, Doutor, e mais o 氏 (shi = senhor) como em ドットール
カイオ氏 (Dotto-ru Kaio Shi = Senhor Doutor Caio).
4.3.5 Dificuldade na Transliteração dos Termos Luso-brasileiros para o Katakana.
Na transliteração das palavras do português-brasileiro para o katakana, o
primeiro, como foi citado no item 3.3.2, sofre muita alteração, tornando impossível,
algumas vezes, sua compreensão. Pela dificuldade de se conseguir ouvir
corretamente a palavra, os japoneses a adaptavam para os fonemas mais próximos,
seguindo uma regra como aquela já explicada no item 3.3.2. Há, porém, palavras
que não seguiram essas regras, e ficaram mais distantes ainda da língua original. Por
exemplo, karusu (cálice), corugo (córrego), paio-ra (paiol), cabuse-ro (cabeceira).
Ranbike e ruason, isto é, alambique e arruação tiveram a vogal a retirada
do início das palavras. O mesmo fenômeno é citado por YAZAKI (1971) com a
palavra bobura (abóbora) usada ainda na região sul do Japão.
Dos termos acima, paio-ra, cabuse-ro e ruason necessitaram de consulta a
um agrônomo com conhecimento das duas línguas para encontrar o equivalente em
português.
32
4.3.6 Análise Final
Em Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração), verificam-se vários
empréstimos como os citados nos jornais japoneses, base de estudo de OTA (1993),
mostrando o nível de influência do meio sobre a língua. Apesar de estar no Brasil há
mais de setenta anos, NUMATA (1996), imigrante da primeira geração, não
conseguiu aprender o português, comunicando-se apenas com algumas palavras e
expressões necessárias para a sua sobrevivência nesta terra. Isto, no entanto, não o
impediu de usar nos seus livros termos luso-brasileiros em grande quantidade como
na estória 22 da obra citada acima, em que o autor faz uso de vinte e três palavras
diferentes do português falado no Brasil, algumas delas repetidas vezes, numa
narração de três páginas.
NUMATA (1996), além dos empréstimos, faz uso de palavras em japonês
com o mesmo significado, como tochi (=lote em japonês) e rotte (lote) e ainda
penishirin (estrangeirismo utilizado no Japão) e penishiri-na (do português
“penicilina”), demonstrando com essa mistura uma tendência para o fenômeno da
mescla lingüística. Há no Brasil uma variante do japonês - o koroniago, isto é, a
linguagem falada na colônia japonesa. O koroniago abandona certas expressões
dialetais, expressões honoríficas e os termos mais complicados da língua japonesa, e,
adota em seu lugar as palavras e as expressões em português a que os imigrantes
estão mais habituados por fazerem parte do meio que os cercam. NUMATA (1996)
não emprega na sua obra essa variante da língua japonesa, apenas toma emprestados
muitos substantivos, alguns verbos e algumas expressões do português que melhor
expressam o cotidiano e o trabalho nas fazendas de café.
33
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
A língua expressa o momento, o meio, o lugar e os fatos de um
determinado grupo de pessoas. Ela, assim como a sociedade, está em constante
mudança. Essas mudanças sofrem influências internas e externas.
A língua japonesa trazida pelos imigrantes para o Brasil, objeto de estudo
desta monografia, naturalmente recebeu influências do meio em que ela foi colocada.
HANDA (1973) afirma que o próprio japonês contemporâneo está repleto de
anglicismo e outras associações e a impressão que se tem é a de que a própria língua
nunca chega a ter uma forma definitiva.
Esta monografia teve como objetivo pesquisar sobre os empréstimos lusobrasileiros na língua japonesa baseando na análise do livro Pinga to Imin (A Pinga e
a Imigração), tomo II da coleção Shin-chan no Mukashi Banashi (As Estórias
Antigas de Shin-chan), de SHIN-ICHI NUMATA, publicado em 1996.
Por causa da limitação desta pesquisa, a questão da variante da língua, o
koroniago não foi abordado, prendendo-se apenas aos empréstimos das palavras
luso-brasileira no texto de NUMATA. Para OTA (1993, p.54), “O que é marcante
no emprego do português nos textos japoneses é, acima de tudo, a necessidade de
expressar objetos e fatos que fazem parte da realidade dos falantes, envolvendo o
emissor e receptor”. Assim como os jornalistas desses jornais pesquisados pela
autora, NUMATA (1996), em seus primeiros livros desta coleção, parte da premissa
que o leitor tenha vivido a realidade relatada em suas estórias, ou seja, há um
consenso entre o emissor e o receptor.
Numata, atualmente com 87 anos, representa uma geração de imigrantes
que chegou já na idade adulta e com formação escolar no Japão. Atualmente, a três
anos para completar 100 anos da imigração japonesa no Brasil, há crianças até de
sexta geração. São crianças que conservam talvez alguns traços físicos e algum
34
gosto culinário de seus ascendentes, mas desconhecem por completo a língua e a
cultura que foram se perdendo ao longo dos anos. Há algumas colônias no Norte do
Paraná, no interior de São Paulo e em alguns outros estados, em que a língua e a
cultura japonesas estão sendo conservadas de uma forma severa por pais e avós que
vieram para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial. Exceto esses pequenos focos,
as escolas de língua japonesa existentes estão ensinando a língua para poucos
descendentes ainda interessados ou para aqueles que tem viagem marcada para o
Japão, e para brasileiros curiosos por uma cultura diferente (CENTRO DE
ESTUDOS DA LÍNGUA JAPONESA, 1996).
O fenômeno “decassegui”, japoneses que saem da sua terra natal para
conseguir recursos, tem criado uma nova onda de procura por escola de língua
japonesa e é comum observar nessas escolas que muitos descendentes já da segunda
geração, atualmente com mais de cinqüenta anos, também sabem muito pouco da
língua dos seus pais. A língua japonesa no Brasil hoje está se transformando em uma
língua estrangeira para seus próprios descendentes.
A necessidade de sociabilizar-se e de interagir na comunidade local fez
com que os japoneses e seus descendentes priorizassem o aprendizado do português
principalmente no pós-guerra, pois perceberam que a imigração não seria mais
temporária e sim definitiva. A mudansa não seria mais de uma fazenda para o sítio,
mas do sítio para a cidade, onde seria possível dar melhor educação aos seus filhos.
Quanto mais se afastavam das suas colônias, mais eles precisaram se sociabilizar
com os brasileiros e a chance de se comunicar com a língua materna foi diminuindo
e ela foi sendo esquecida.
Conforme o estudo desta monografia, os empréstimos do português no
japonês já aconteciam no início da imigração. Hoje excetuando alguns focos citados
acima, apenas um grupo pequeno de seus descendentes e aqueles que retornaram do
Japão como “decassegui” se comunicam em japonês.
35
Existe no ORKUT uma comunidade chamada “eu falo batyanês”, ou seja,
a língua da vovó (batyan), uma linguagem familiar em que os descendentes usam a
sintaxe do português com empréstimos lexicais do japonês. Jovens da terceira ou
quarta geração conhecem um pouco a língua japonesa devido ao contato que ainda
tem com os avós. Esses avós são considerados os guardiões da língua japonesa, no
entanto, palavras luso-brasileiras com pronúncia ajaponesada são misturadas
constantemente nos diálogos que eles têm em casa ou em contato com outros
japoneses residentes no Brasil. Os diálogos que esses jovens travam com seus avós
ou ainda o japonês que esses avós usam para se fazer entender podem ser estudo
para uma próxima pesquisa, que certamente mostrará uma evolução muito
interessante de como uma língua vai se transformando e sendo absorvida por outra.
A freqüência do uso de empréstimos das palavras luso-brasileiras no texto
de NUMATA (1996) reflete a realidade, o meio em que ele viveu e vive – o
BRASIL. Para descrever essa convivência com o Brasil era natural o uso dos
empréstimos lingüísticos, pois esses termos melhor representavam a visão de mundo
dos elementos do grupo dos isseis (= japoneses da primeira geração). Sem os
mesmos, a narração das estórias perderia essa interação entre o autor e público.
36
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39
APÊNDICES
APÊNDICE 1 - TERMOS DO COTIDIANO ......................................................... 40
APÊNDICE 2 - TERMOS DO TRABALHO ......................................................... 43
APÊNDICE 3 - TERMOS DE LAZER .................................................................. 46
40
APÊNDICE 1 – TERMOS DO COTIDIANO
Em alfabeto
Ame-ba
Aro-su
Arugodon
Arumossa
Bakaryau
Barusa
Bateriya
Benda
Botan
Co-ba
Emeti-na
Esupi-ga
Esute-ra
Esutoppa
Fari-nya
Fogon
Foi perigo-zo (exp.)
FubaFuejon
Fundo
Furango
Garahon
Guruppo
Hige-ra
IppeJajine-ra
Janta
Ji-pi
Kabusero
Kade-ra
KafueKa-ma
Kambio
Kami-za
Kanjikka
Em japonês
アメーバ
アロース
アルゴドン
アルモッサ
バカリャウ
バルサ
バテリーヤ
ベンダ
ボタン
コーバ
エメチーナ
エスピーガ
エステーラ
エストッパ
ファリーニャ
フォゴン
フォイ
ペリゴーゾ
フバー
フェジョン
フンド
フランゴ
ガラホン
グルッポ
ヒゲーラ
イッペー
ジャジネーラ
ジャンタ
ジーピ
カブセーロ
カデーラ
カフェー
カーマ
カンビオ
カミーザ
カンジッカ
Em português
Ameba
Arroz
Algodão
Almoço
Bacalhau
Balsa
Bateria
Venda
Botão
Cova
Emetina
Espiga
Esteira
Estopa
Farinha
Fogão
Foi perigoso
Fubá
Feijão
Fundo
Frango
Garrafão
Grupo
Figueira
Ipê
Jardineira
Janta (popular)
Jipe
Cabeceira
Cadeira
Café
Cama
Câmbio
Camisa
Canjica
Continua
Freqüência
(vezes)
1
5
2
1
1
1
1
1
1
1
5
1
1
1
1
1
1
3
9
1
3
1
1
1
1
1
1
1
1
1
32
1
1
1
1
41
Em alfabeto
Em japonês
Kanna
Karabi-na
Karusu
Kava-ro
Kinto
Ko-bo
カンナ
カラビーナ
カルス
カヴァーロ
キント
コーボ
Koppu
Koroniya
Makaron
Mamon
Manjoka
Meruka-do
Me-za
Mi-ryo
Mudansa
Mudansa suru (v)
Noroesute
Onibusu
Onsa
Panko³
Panno
Parumitto
Penishiri-na
Pinye-ro
Pirikitto
Porenta
Porubio
Purime-ro
Puronto (adj)
Rajio
RanbariRanbi-ke
Rapo-zo
Re-nya
Rimoeiro
Rimon
Ruason
コップ
コロニヤ
マカロン
マモン
マンジョカ
メルカード
メーザ
ミーリョ
ムダンサ
ムダンサする
ノロエステ
オニブス
オンサ
パン粉
パンノ
パルミット
ペニシリーナ
ピニェーロ
ピリキット
ポレンタ
ポルビオ
プリメーロ
プロント
ラジオ
ランバリー
ランビーケ
ラポーゾ
レーニャ
リモエイロ
リモン
ルアソン
Em português
Cana-de-açúcar
Carabina
Cálice
Cavalo
Quinto(barril)
Covo(instrumento de
pesca)
Copo
Colônia
Macarrão
Mamão
Madioca
Mercado
Mesa
Milho
Mudança
Fazer mudança
Noroeste
Ônibus
Onça
Farinha de rosca
Pano
Palmito
Penicilina
Pinheiro
Piriquito
Polenta
Polvilho
Primeiro
pronto
Rádio
Lambari
Alambique
Raposo
Lenha
Limoeiro
Limão
Arruação
continuação
Freqüência
(vezes)
5
1
2
1
3
1
3
8
1
1
1
1
1
15
12
1
1
1
2
1
2
9
1
1
1
5
1
1
1
1
1
11
1
1
1
1
1
42
Em alfabeto
Sakko
Sa-ra
Saraku-ra
Segundo / segunda
Sereaesu
ShippoSoppa
TatuTe-rya
Tokko
Em japonês
サッコ
サーラ
サラクーラ
セグンド/セグンダ
セレアエス
シッポー
ソッパ
タツー
テーリャ
トッコ
Em português
Saco
Sala
Saracura
Segundo / segunda
Cereais
Cipó
Sopa
Tatu
Telha
Toco
conclusão
Freqüência
(vezes)
1
1
2
2
5
1
1
3
1
1
43
APÊNDICE 2 – TERMOS DO TRABALHO
Em alfabeto
Arenda suru (v)
Are-ya
Aruga shita (v)
Aruge-ru
Aruke-ru
Banko
Baza-ru
Be-ehe
Bi-ra
Café- makina (exp.)
Centa-bo
Datta
Deru-ba matto (exp.)
Deruba shite (v)
Dobura shite (v)
Dotto-ru
Esutokke
Esutora-da
Fakkusu
Fazenda
Foise
Foruma kafé- (exp.)
Gure-ba
Hekuta-ru
Japone-su garantido
(exp.)
Kafe-za-ru
Kamarada
Kaminyon
Karetta
Kariyado-ru
kareado-ru
Karossa
Karupi suru (v)
Karutorio
Konto
Em japonês
アレンダ する
アレーヤ
アルガ した
アルゲール
アルケール
バンコ
バザール
ベエヘ
ビーラ
カフェーマキナ
センターボ
ダッタ
デルバ マット
デルバ して
ドブラ して
ドットール
エストッケ
エストラーダ
ファックス
ファゼンダ
フォイセ
フォルマ
カフェー
グレーバ
ヘクター
ジャポネース
ガランチード
カフェーザール
カマラーダ
カミニョン
カレッタ
カリヤドール
カレアドール
カロッサ
カルピ する
カルトリオ
コント
Em português
Arrendar
Areia
Alugar (aluguei)
Aluguel
Alqueire
Banco
Bazar
BR
Vila
Máquina de café
Centavo
Data
Derrubar mato
Derrubar (derrubando)
Dobrar (dobrando)
Doutor
Estoque
Estrada
Fax
Fazenda
Foice
Formar café
continua
Frequência
(vezes)
1
4
1
1
8
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
2
1
2
1
22
2
1
Gleba
Hectare
Japonês garantido
1
3
1
Cafezal
Camarada (bóia-fria)
Caminhão
Carreta
Carreador/carreadouro
6
11
5
1
2
Carroça
Carpir
Cartório
Conto
4
1
1
13
44
Em alfabeto
Koreto-ru
Koro-no
Korugo
Kuwaruteron
Masha-do
Matto
Mi-na
Miru
Mirure-su
Mo-toru
Ofishi-na
Pa-dore
Pagamento
Paio-ra
Paperari-ya
Pasuterariya
Pasuto
Patoron
Pesukado-ru
Ponte
Pura-zo
Purefeito
Purejio
Ransho
Rearu
Reseruba shite (v)
Resutorante
Rotte
Rua
Safura
Saruba kondutto
(exp.)
Sekade-ra
Sekka saseru (v)
Sentoro
Senyo-ru
Se-ro
Em japonês
コレトール
コローノ
コルゴ
クワルテロン
マシャード
マット
ミーナ
ミル
ミルレース
モートル
オフィシーナ
パードレ
パガメント
パイオーラ
パペラリヤ
パステラリヤ
パスト
パトロン
ペスカドール
ポンテ
プラーゾ
プレフェイト
プレジオ
ランショ
レアル
レゼルバ して
レストタンテ
ロッテ
ルア
サフラ
サルバ
コンヅット
セカデーラ
セッカ して
セントロ
セニョール
セーロ
Em português
Corretor
Colono
Córrego
Quarteirão
Machado
Mato
Mina
Mil
Mil reis
Motor
Oficina
Padre
Pagamento
Paiol
Papelaria
Pastelaria
Pasto
Patrão
Pescador
Ponte
Prazo
Prefeito
Prédio
Rancho
Real
Reservar (reservando)
Restaurante
Lote
Rua
Safra
Salvo Conduto
Secadeira
Fazer secar
Centro
Senhor
Selo
continuação
Freqüência
(vezes)
3
2
3
2
1
7
3
8
6
1
1
1
1
1
1
1
1
6
1
1
1
1
1
1
1
1
1
23
1
1
1
1
1
1
1
4
45
Em alfabeto
Shakkara
Share-ta
Shittio
Tekoteko
Te-ra rossha
Terekkusu
Tere-ro
Toratorisuta
Torattoru
Tori-ryo
Em japonês
シャッカラ
シャレータ
シッチオ
テコテコ
テーラロッシャ
テレックス
テレーロ
トラトリスタ
トラットル
トリーリョ
Em português
Chácara
Charrete
Sítio
Teco-teco
Terra roxa
Telex
Terreiro
Tratorista
Trator
Trilho
conclusão
Freqüência
(vezes)
5
1
5
1
1
1
3
1
1
1
46
APÊNDICE 3 – TERMOS DE LAZER
Em alfabeto
Antena
Bebi-da
Biolon
Boteko
Domingo
Futtebo-ru
Garappa
Pesuka
Pesukado-ru
Pinga
Reunion
Serube-ja
Shinema
Em japonês
アンテナ
ベビーダ
ビオロン
ボテコ
ドミンゴ
フッテボール
ガラッパ
ペスカ
ペスカドール
ピンガ
レウニオン
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