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Ministério da Educação Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas Curso de Especialização em Línguas Estrangeiras Modernas Satomi Oishi Azuma ESTUDO DE VOCÁBULOS E DE QUESTÕES GRAMATICAIS DO PORTUGUÊS PRESENTES NA OBRA PINGA TO IMIN (A PINGA E A IMIGRAÇÃO) DE SHIN-ICHI NUMATA Curitiba 2005 SATOMI OISHI AZUMA ESTUDO DE VOCÁBULOS E DE QUESTÕES GRAMATICAIS DO PORTUGUÊS PRESENTES NA OBRA PINGA TO IMIN (A PINGA E A IMIGRAÇÃO) DE SHIN-ICHI NUMATA Monografia de conclusão do Curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas do CEFETPR. Orientadora: Profª Cláudia Beatriz Monte Jorge Martins CURITIBA 2005 TERMO DE APROVAÇÃO SATOMI OISHI AZUMA ESTUDO DE VOCÁBULOS E DE QUESTÕES GRAMATICAIS DO PORTUGUÊS PRESENTES NA OBRA PINGA TO IMIN (A PINGA E A IMIGRAÇÃO) DE SHIN-ICHI NUMATA Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção de título de Especialista, pelo curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas, do Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas – Centro Federal de Educação Tecnológia do Paraná, pela seguinte banca examinadora: Orientadora: Profª. Cláudia Beatriz Monte Jorge Martins, MSc. Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná Profª. Maclóvia Correa da Silva, Dra. Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná Profª. Eliane Regina Costa de Oliveira, MSc. Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná Coordenadora: Profª. Carla Barsotti, MSc. Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná Curitiba 2005 AGRADECIMENTOS À professora, orientadora Msc Cláudia Beatriz Monte Jorge Martins, pelo apoio, dedicação, acompanhamento e revisão do estudo. À professora e Doutora Maclóvia Correa da Silva, pelas valiosas contribuições. A todos do Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas do CEFET, pela colaboração e incentivo para a realização deste estudo. A Mário, Mári, Lissa e Hideki que não pouparam esforços para me apoiar e ajudar em todas as dificuldades. SUMÁRIO LISTAS DE QUADROS ........................................................................................... RESUMO.................................................................................................................... ABSTRACT ................................................................................................................ 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 2 REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................. 2.1 FATORES QUE MARCARAM A IMIGRAÇÃO JAPONESA ........................... 2.2 BREVE HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO DE LONDRINA ............................... 2.3 ACULTURAÇÃO E A LÍNGUA DOS IMIGRANTES ........................................ 2.4 ALGUMAS TEORIAS SOBRE EMPRÉSTIMOS LINGÜÍSTICOS ................... 2.5 MESCLA LÍNGÜÍSTICA ...................................................................................... 3 METODOLOGIA ................................................................................................... 3.1 METODOLOGIA ................................................................................................... 3.2 RAZÕES DA ESCOLHA DO LIVRO PINGA TO IMIN (A PINGA E A IMIGRAÇÃO) DE SHUN-ICHI NUMATA ........................................................ 3.3 LEVANTAMENTO DOS EMPRÉSTIMOS DO PORTUGUÊS NO LIVRO PINGA TO IMIN DE NUMATA .............................................................. 3.3.1 Divisão por Classes Gramaticais ......................................................................... 3.3.2 Divisão Social do Uso de Língua ........................................................................ 4 ANÁLISE DOS TERMOS EMPRESTADOS ..................................................... 4.1 CLASSIFICAÇÃO GRAMATICAL ..................................................................... 4.2 FREQÜÊNCIA ....................................................................................................... 4.2.1 Termos do Cotidiano ........................................................................................... 4.2.2 Termos do Trabalho ............................................................................................. 4.2.3 Termos do Lazer .................................................................................................. 4.3 ANÁLISE LINGÜISTICA DOS EMPRÉSTIMOS ............................................... 4.3.1 Palavras Portuguesas Incorporadas na Língua Japonesa ..................................... 4.3.2 Empréstimos de Termos do Cotidiano e de Trabalho Encontrados no Livro Pinga to Imin ........................................................................................... 4.3.3 Hibridismo ........................................................................................................... 4.3.4 Oscilação entre as Palavras Utilizadas no Brasil, os Estrangeirismos Utilizados no Japão e as Palavras Japonesas ..................................................... 4.3.5 Dificuldade na Transliteração dos Termos Luso-brasileiros para o Katakana ............................................................................................................. 4.3.6 Análise Final ........................................................................................................ 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ...................................... REFERÊNCIAS .......................................................................................................... APÊNDICES ............................................................................................................... iv v vi 1 4 4 5 6 7 10 12 12 13 15 15 16 20 20 22 22 23 25 25 26 27 29 30 31 31 33 36 39 LISTAS DE QUADROS QUADRO 1 - TERMOS DO COTIDIANO........................................................................18 QUADRO 2 - TERMOS DO TRABALHO.........................................................................18 QUADRO 3 - TERMOS DE LAZER..................................................................................19 QUADRO 4 – TERMOS DO COTIDIANO DE MAIOR FREQÜÊNCIA.........................22 QUADRO 5 - TERMOS DO TRABALHO DE MAIOR FREQÜÊNCIA.........................24 RESUMO Esta monografia trata do estudo de vocábulos e questões gramaticais do português presentes na língua japonesa em situação de comunicação no Brasil. Para este estudo, fez-se um levantamento dos empréstimos das palavras luso-brasileiras na obra de SHIN-ICHI NUMATA, Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração), tomo II, da coleção Shin-chan no Mukashi Banashi (As estórias de Shin-chan). Para melhor compreender o que são os empréstimos linguísticos e mescla lingüística, foram apresentadas as teorias sobre esses temas, assim como um breve histórico da imigração japonesa no Brasil, e em especial a ocorrida na cidade de Londrina, onde transcorre a maior parte das estórias da obra citada acima. Os termos luso-brasileiros encontrados em Pinga to Imin (a Pinga e a Imigração) foram posteriormente classificados por classes gramaticais e por uso social para verificar e analisar a relação desses vocábulos com a assimilação e a aculturação de imigrantes japoneses em terras brasileiras. Analisando esses empréstimos ocorridos, constatou-se que, além da influência que o meio exerceu sobre a língua japonesa falada pelos imigrantes, as grandes diferenças culturais e de costumes que havia entre o Japão e o Brasil motivaram em muito o uso desses recursos. Os produtos e os instrumentos agrícolas, a maneira como se praticava a lavoura, bem como outras práticas, tudo era novo para esses imigrantes. Tomar emprestado do português, determinados termos utilizados na vida cotidiana e no trabalho para realizar as comunicações diárias em língua japonesa tornou-se mais familiar e prático, provavelmente porque havia falta de vocábulos que expressassem o significado de objetos desconhecidos. Estes passaram a fazer parte do ambiente de suas casas, de suas atividade e de suas vivências humanas. Palavras chaves: empréstimos lingüísticos; palavras luso-brasileiras; imigração; aculturação; assimilação. ABSTRACT This monograph studies vocabulary and grammatical questions of the Portuguese language which are present in the Japanese Language in a communicative context in Brazil. For this study, the borrowings of Luso-Brazilian words found in the book Pinga to Imin ( Pinga and Immigration), part II of the collection Shinchan no Mukashi Banashi (the Shin-chan Stories), written by SHIN-ICHI NUMATA were listed up. In order to understand these linguistic borrowings better, the theories about this subject and linguistic mixture were presented as well as a brief history of the Japanese immigration in Brazil, and specially in Londrina, where most of the stories mentioned in the book above happened. After that, the Luso-Brazilian words found in Pinga to Imin (Pinga and Immigration) were classified according to their grammatical and social use in order to check and analyse the relationship of these words with the assimilation and cultural adaptation of these Japanese immigrants in Brazil. In analysing these borrowings, it became evident that besides the influence of the environment upon the Japanese language spoken by immigrants, the great cultural and behavioural differences between Brazil and Japan have strongly motivated the use of these resources. The agricultural products and instruments, the way farm work was done, everything was different for these immigrants. By using borrowed Portuguese words used in everyday life or in daily tasks in their daily communications in the Japanese language made their life more practical and easier because these words belonged to the environment in which they lived.. Key-words: linguistic borrowings, Luso-Brazilian words, immigration, cultural adaptation, assimilation. 1 1 INTRODUÇÃO Esta monografia trata do estudo de vocábulos e de questões gramaticais do português presentes na língua japonesa em situações de comunicação no Brasil. Inúmeras formas de se expressar na língua japonesa foram sendo construídas pelos falantes na medida em que eles interagiram com brasileiros, possibilitando um acréscimo lingüístico que pode ser visto como interferência lingüística. Apesar do empenho dos japoneses em preservar os aspectos da cultura, dos costumes e da língua adquiridos no seu país natal, a língua falada no Brasil, país onde os imigrantes japoneses escolheram para adquirir fortuna, foi sendo absorvida passo a passo conforme as vivências e as práticas, interferindo nas questões sintáticas e principalmente no léxico, causando o fenômeno da mescla lingüística citado por TARALLO (1987). Mesmo com as diferenças de estruturas gramaticais, as questões lexicais, que são acessíveis para aqueles que querem aprender uma língua estrangeira, são estratégicas para explicar a aculturação. Isto pode ser verificado a partir de estudos lingüísticos sobre o léxico e a conseqüente classificação gramatical das palavras. Nesta monografia pretende-se abordar este tema tendo como base de fundamentação teórica a obra do imigrante japonês SHIN-ICHI NUMATA (1996), escrita em japonês, dirigida a um público de imigrantes japoneses fixados no Brasil, que busca conhecer melhor as características de interculturalidade. Além das relações sociais e culturais que envolvem a língua falada e escrita por imigrantes japoneses, pretende-se constatar as dificuldades de se preservar ao longo da história a língua materna como herança cultural. Para este estudo proposto, fez-se uso de pesquisa qualitativa com levantamentos lingüísticos na obra de SHIN-ICHI NUMATA, Pinga to Imin (A pinga e a imigração) tomo II da coleção de livros Shinchan no Mukashi Banashi (Estórias antigas de Shin-chan). 2 Segundo HIROSHI SAITO (1973), a imigração dos japoneses para o Brasil ocorreu principalmente devido à pobreza e à vontade de acumular um capital para adquirir uma propriedade própria no seu país de origem. Os grupos de imigrantes eram compostos principalmente por pessoas de baixa renda de regiões mais pobres do Japão ou por pessoas arruinadas com o modelo de economia implantada na época. Apesar de relativamente pequeno, se comparado com o território brasileiro, este país possuía diversos dialetos, o que dificultava a compreensão mútua entre os imigrantes, que procediam de regiões diferentes. Como os falantes de línguas interagem socialmente, há uma multiplicação de palavras e estruturas gramaticais que podem ser estudadas para melhor compreensão das humanidades e do ensino de língua estrangeira. Por isso, este estudo se volta, em específico, para uma abordagem socio-cultural-linguística do português inserida na língua japonesa falada no Brasil. Propõe-se um estudo mais detalhado das aculturações, que ocorreram do português para o japonês, deixando de lado as questões inversas do japonês para o português. Esta pesquisa pode vir a auxiliar os professores de língua japonesa no Brasil a pensarem na importância da dinâmica da língua quando estiverem trabalhando com métodos de ensino da língua. A escolha do tema pesquisado justifica-se pela sua importância no contexto do ensino da língua estrangeira desenvolvido nas instituições escolares. O trabalho de pesquisa a ser desenvolvido fará parte do acervo em construção das produções do CEFET-PR e de outras escolas. O objetivo geral é pesquisar e analisar as particularidades de aculturação que se materializaram na língua, provocando mudanças e adaptações de vocábulos luso-brasileiros na língua japonesa falada e escrita no Brasil. Para desenvolver a idéia central deste projeto foram traçados os seguintes objetivos específicos: a. Levantar as obras que tratam das questões lingüísticas das línguas 3 portuguesa e japonesa. b. Elaborar um roteiro de análise com os estudos teóricos para em seguida aplicá-lo no estudo da obra escrita em japonês editada no Brasil por SHINICHI NUMATA (1996). c. Levantar os vocábulos e as questões lingüísticas que permeiam ambas as línguas e especificar quais fenômenos de aculturação estão embutidos no texto escolhido. d. Classificar os vocábulos por classe gramatical e por divisão social do uso da língua, verificando a freqüência de uso e os seus motivos. e. Fazer uma análise comparativa das palavras portuguesas usadas no japonês, juntamente com as equivalentes encontradas na língua japonesa falada no Japão, a fim de verificar os empréstimos interlinguais. f. Associar a aculturação com as questões lingüísticas. O trabalho está dividido em cinco capítulos. O primeiro capítulo é a introdução da monografia, apresentando as justificativas e os objetivos da pesquisa. No segundo capítulo, elabora-se um breve histórico da imigração japonesa no Brasil e em especial na cidade de Londrina, onde foi intensa a imigração nos anos 30 e 40, além da visão de alguns lingüistas sobre os empréstimos lingüísticos e como esse fenômeno ocorre. No terceiro capítulo, faz-se uma descrição do trabalho e da metodologia aplicada. No quarto capítulo, que é a análise propriamente dita, trabalhou-se conjuntamente com os dados do livro com as obras teóricas relacionadas. E por último, o quinto capítulo traz as considerações finais e recomendações para futuras pesquisas. 4 2 REVISÃO DE LITERATURA Neste capítulo, são apresentados os fatores que marcaram a imigração japonesa no Brasil, a sua aculturação e um breve histórico da colonização de Londrina, local onde ocorreu a maior parte da narração dos contos e crônicas de NUMATA (1996), Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração), objeto de estudo desta monografia. As teorias sobre empréstimos, interferências lingüísticas e mescla lingüística também são apresentadas e discutidas neste capítulo. 2.1 FATORES QUE MARCARAM A IMIGRAÇÃO JAPONESA Com a cultura do café em expansão e a crescente campanha contra a escravidão, o governo brasileiro procurou na imigração uma forma legal e barata para suprir a necessidade de mão-de-obra no campo. Para tanto, o Brasil recebeu um grande número de imigrantes da Europa e da Ásia. De 1908 a 1973, entraram no Brasil 249.177 imigrantes japoneses, sendo a maioria, camponeses, que ficou fora do processo de modernização do Japão (SAITO e MAEYAMA, 1973). Razões sócio-econômicas levaram o governo japonês a promover a emigração para países da Ásia e América. Os primeiros japoneses chegaram ao Brasil com a esperança de fazer fortuna em pouco tempo e regressar ao seu país. Não havia intenção dos imigrantes, com raras exceções, de se estabelecer e criar raízes. As propagandas a respeito do Brasil não condiziam com a realidade dura das matas virgens, repletas de animais selvagens, insetos e doenças. Por não conhecerem a língua, a comunicação era difícil e o entrosamento conseqüentemente mais complicado. Os hábitos, os costumes, a língua e o clima eram muito diferentes do país de origem. As diferenças entre os dois países realmente eram marcantes, desde as vestimentas, as casas, os 5 utensílios da cozinha ao tamanho das fazendas. Aos japoneses, acostumados com pequenas propriedades, a imensidão do país era inimaginável e sua forma de pensar também teve de ser alterada. Segundo o sociólogo SAITO (1973) da Universidade de São Paulo, os japoneses foram os imigrantes que mais tiveram que abandonar os seus costumes devido a essa grande diferença na maneira de viver. Como foi citado acima, o objetivo era a imigração temporária. Este fator é decisivo para compreender o caráter e a mentalidade desses imigrantes. Segundo TSUKAMOTO, T. (1973), a tendência de formar grupos exclusivos é comum entre os imigrantes de diversas nacionalidades, porém, ela é mais acentuada entre os japoneses. Nessas comunidades ou nesses núcleos, os imigrantes podiam conservar, de certa maneira, a mesma forma de viver do seu país de origem. Logicamente, havia razões profissionais, maior liberdade e facilidade de comunicação e colaboração entre eles. Os europeus construíam igrejas, entretanto, os japoneses priorizavam a escola para garantir estudos aos seus filhos. Ensinava-se a língua japonesa, mas principalmente a moral e o espírito japonês, além do amor ao Imperador, o que denota a intenção da imigração temporária. Retornar ao seu país de origem como vencedores era o objetivo único e preparavam seus filhos para esse propósito. 2.2 BREVE HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO DE LONDRINA Segundo OGUIDO (1988), em 1930, a Companhia Colonizadora Inglesa começou a venda dos lotes, que mais tarde se transformaram em Londrina, para imigrantes de 30 etnias. Os primeiros compradores foram seis japoneses. De acordo com os relatos da Companhia Colonizadora, só se viam rostos japoneses no início da colonização. Em 1934, Londrina é elevada à categoria de Município. Esses japoneses que chegaram à Londrina nessa época eram aqueles imigrantes que 6 trabalharam dia e noite nas fazendas de café do Estado de São Paulo e economizaram apenas o suficiente para comprar as matas virgens no Paraná. O autor da obra a ser analisada, SHIN-ICHI NUMATA, então com quinze anos, a princípio, tinha se estabelecido com sua família em Sete Barras, São Paulo. Um ano depois, em 1934, se muda para Londrina, sendo um dos seus pioneiros. Outros imigrantes do Estado de São Paulo que lucraram com a colheita de algodão se mudam para Londrina e o número de famílias japonesas aumenta para 700. Em 1940, o uso da língua japonesa é proibido e as escolas de língua japonesa também são fechadas. O autor, SHIN-ICHI NUMATA, do livro a ser analisado descreve esse início da colonização de Londrina, contando diversos “causos”. A obra é escrita em japonês com inúmeras palavras originadas do português, o que o torna uma leitura apropriada para os que residem ou os que tiveram contato com o português, pois o texto apesar de conter a tradução de alguns desses vocábulos luso-brasileiros demonstra que houve uma miscigenação da língua. Os próximos itens tratarão sobre esses empréstimos e a miscigenação da língua. 2.3 ACULTURAÇÃO E A LÍNGUA DOS IMIGRANTES A adaptação e a aculturação de minorias a uma comunidade variam de grupo para grupo. Enquanto o grupo de imigrantes italianos se integrou fácil e rapidamente à comunidade brasileira, deixando de lado a conservação dos costumes e da língua, os grupos de alemães e de japoneses preservaram por mais tempo a sua identidade cultural e lingüística. Por esse motivo, os falantes das duas línguas afastaram-se mais do português em situações de comunicação (SAITO e MAEYAMA, 1973). No caso de falantes de língua japonesa no Brasil, esse fenômeno é bastante claro com erros constantes de concordância verbais e nominais, de pronúncia e outros. Isto se justifica devido às estruturas gramaticais e à fonética 7 das duas línguas serem muito diferentes. De acordo com depoimento de uma professora primária, dado em 1992 sobre o final dos anos quarenta no interior do Estado de São Paulo, “... na comunidade japonesa, (...) o problema da língua dificultava o aprendizado, pois havia alunos que não entendiam uma [grifo do autor] só palavra em português”. (DELTA, vol.15, nº Especial, p. 402). Nesse contexto de pouco contato com o português, no entanto, pode-se verificar no livro Shin-chan no Mukashi Banashi do autor SHIN-ICHI NUMATA (1996) que várias palavras portuguesas foram introduzidas na língua japonesa com fonética e ortografia adaptadas. Esta monografia propõe estudar este empréstimo e as prováveis razões que levaram esses imigrantes a adotar esses vocábulos estranhos a sua língua mãe. TOMOO HANDA (1973, p.487), fala sobre a questão do destino da língua japonesa: Se a língua japonesa por nós utilizada não tivesse sido influenciada pela língua luso-brasileira, talvez tivesse havido uma padronização do tipo ocorrido em Hokkaido. Acontece que o abrasileiramento da nossa cultura, no sentido cotidiano, tem início a partir do primeiro dia em que pisamos o solo brasileiro, quando se torna fatalmente forçosa a utilização da língua luso-brasileira. Ademais, o nosso desejo e interesse em preservar a língua japonesa constituem um tipo de resistência cultural que somente os imigrantes, como nós, experimentam e, por isso mesmo, quantas cenas tragicômicas não teriam ocorrido. Como se vê acima, o desejo de preservar a língua japonesa era inerente, no entanto, é clara a sua percepção da dificuldade e da quase impossibilidade de manter intacta a língua japonesa nesta terra que os acolheu, transcorridos alguns anos após a imigração. 2.4 ALGUMAS TEORIAS SOBRE EMPRÉSTIMOS LINGÜÍSTICOS Todas as línguas vivas evoluem constantemente. Elas sofrem alterações 8 por fatores internos e externos. Pode ocorrer o surgimento de um vocábulo novo a partir dos recursos da própria língua, como a afixação ou a composição de vocábulos para formar uma terceira, ou é acrescentado um novo significado a ele. Ainda, a língua pode sofrer interferência de outras. Em Language, o lingüista LEONARD BLOOMFIELD (1933), divide o empréstimo lingüístico em três categorias, sendo: • Empréstimo cultural (ou externo): quando os traços recebidos são de uma língua diferente; • Empréstimo íntimo: assemelha-se muito com o empréstimo cultural, mas acontece quando as duas línguas convivem no mesmo local, em uma comunidade, como no caso dos países colonizados, ou dos imigrantes; • Empréstimo dialetal (ou interno). Esta monografia se aterá principalmente ao empréstimo íntimo, em que a língua dominante (dominant language) empresta para a outra submissa (lower language). BLOOMFIELD (1933) exemplifica esses empréstimos que ocorrem dentro das comunidades dos imigrantes, que tendem a misturar a língua materna e a língua do país que os acolheu. Para o lingüista URIEL WEINREICH (1974), em seu livro Languages in Contact, os empréstimos são definidos como: fenômenos de interferência que, tendo freqüentemente ocorrido na fala de bilíngües, tornaram-se habituais e estabelecidos. Seu uso não depende mais do bilingüismo. Quando o falante da língua x usa uma forma de origem estrangeira não como um empréstimo ocasional da língua y, mas porque ele ouviu em outras frases da língua x, esse elemento emprestado pode ser considerado, do ponto de vista descritivo, como parte da língua x. WEINREICH (1974, p.11) divide a interferência em três grupos: • Fonológica – empréstimo de sons pertencentes a uma determinada 9 língua numa situação de outra. • Gramatical – Ocorre quando o sistema gramatical de uma língua sofre alteração por causa da interferência da outra quanto à ordem, à concordância, à dependência. • Lexical – Ocorrência de vocábulos de uma língua na outra. Esse fenômeno pode ser classificado como empréstimo ou estrangeirismo, e ocorre com freqüência nas línguas que são levadas para outros países, através dos imigrantes ou colonizadores. WEINREICH (1974) afirma também que as razões que levam os falantes de uma língua a fazer o empréstimo é a necessidade de designar novas coisas, pessoas, lugares e conceitos. No Brasil, por exemplo, segundo GARCEZ, P.M e ZILLES, A.M.S. (2002), o português adotou do tupi-guarani, palavras como aipim, goiaba, araçá, igarapé, etc. e do inglês, futebol, gol etc., que de tão incorporados ao dia a dia do brasileiro, poucos brasileiros se dão conta que essas palavras são empréstimos linguísticos, estrangeirismos. Este fenômeno acontece em todos os idiomas em maior ou menor grau, e tem sido constantemente fator de discussão entre os lingüistas. Recentemente no Brasil, o ex-deputado Aldo Rabelo (PCdoB/SP)¹ apresentou um projeto de lei que visa “proteger a língua portuguesa da degradação a que está sendo submetida por estrangeirismos, sobretudo do inglês” (FARACO, 2002, p. 168). Ele acrescenta ainda na sua argumentação que o português sofre atualmente uma desnacionalização que a empobrece. Ao contrário do que afirma o deputado, o professor POSSENTI (2002, p.169) afirma que “a tal invasão certamente não empobrece o português. Tomada a língua como língua, o efeito é o inverso: ela se enriquece”. Ainda segundo o ¹ Partido Comunista do Brasil, São Paulo 10 professor, um léxico pode crescer, ou o atual receber novos sentidos, como a palavra “memória” usada atualmente na informática. A evolução de uma língua é composta de vários empréstimos internos ou externos, dependendo do grau de contacto ou de necessidade. 2.5 MESCLA LINGÜÍSTICA Em Falares Crioulos, TARALLO (1987) afirma que os homens e suas culturas, suas línguas, sua sintaxe e sua fonologia serão afetados por fenômenos de contato, mistura, alquimia e mescla e um dos pontos-chave do modelo sociolingüístico é o fato de o espaço da mescla lingüística ser a comunidade da fala. Como WEINREICH (1974), TARALLO (1987) faz distinção entre a mescla intracomunidade, as variantes numa mesma língua, e a mescla intercomunidade, línguas diferentes convivendo e se misturando em uma mesma comunidade. No Brasil, onde há a presença de um multidialetismo ameno (as diferenças regionais localizam-se, em geral nas áreas da fonética, da fonologia e do léxico), o bilingüismo também está presente em certas regiões em que houve a imigração, como em São Paulo e Paraná. Nestes dois estados, os imigrantes japoneses preservaram a língua japonesa por muito tempo e em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a língua alemã convivia com o português. Este fenômeno, no entanto, carrega sérios problemas para os falantes. Mesmo tentando manter vivas as duas línguas, circunstâncias socio-políticas podem determinar e/ou privilegiar o uso de um dos dois sistemas (TARALLO, 1987). Para ilustrar o grau de dificuldade da manutenção de duas ou mais línguas num mesmo país, cabe lembrar aqui que o governo do Canadá através de uma lei determinou que não só as duas línguas oficiais do país, o inglês e o francês, fossem mantidas, mas 11 também as línguas de outros imigrantes. E, para tanto, foram dados vários incentivos às escolas para que os alunos pudessem falar várias línguas. Apesar desse esforço, verifica-se que em muitas situações a língua predominante é o inglês. Os falantes de francês ou de outras línguas são levados obrigatoriamente a aprender o inglês, mas o mesmo não acontece com os falantes da língua que predomina. Num depoimento, uma professora de língua japonesa no Canadá conta que apesar do esforço para que sua filha preservasse a língua japonesa como uma herança cultural, fracassara, pois a língua inglesa que cerca toda a comunidade era forte demais e não conseguira na adolescência fazer com que ela mantivesse a língua materna (NAKAJIMA.e SUZUKI, 1997). Ainda conforme TARALLO (1987), o que pode acontecer também com o bilingüismo é a morte de um dos dois sistemas, retornando ao monolingüismo. Neste caso, outra vez, os fatores sociais como grau de segregação e de interação das comunidades vão se manifestar para essa ocorrência. Entretanto, tanto na manutenção como na morte de um dos dois sistemas, a mescla lingüística existe. “Na manutenção, ela se revela como um tecido listrado; na dissolução, como um vinho misturado, em cuja composição entra, em geral, uma quantidade maior de uvas de que é feito o vinho “dominante”, isto é, aquele que dá o sabor” (TARALLO, 1987). Estas idéias desenvolvidas pelos autores vão auxiliar a compreensão do problema de pesquisa nos capítulos a seguir. 12 3 METODOLOGIA Este capítulo aborda a metodologia empregada na pesquisa da presente monografia, as razões da escolha do livro de NUMATA (1996), Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração), levantamento dos empréstimos do português encontrados na obra citada anteriormente, as divisões por classe gramatical e por uso social da língua e explicações dos quadros. 3.1 METODOLOGIA A metodologia aplicada na presente pesquisa constituiu-se de seis etapas. Na primeira etapa, foi feita a leitura das obras e teses referentes ao assunto escolhido, ressaltando temas como empréstimos lingüísticos, mescla lingüística, hibridismo, estrangeirismo, interculturalidade, e livros da história da imigração japonesa ao Brasil. Na segunda etapa, foi feito o levantamento dos vocabulários lusobrasileiros que se apresentam no livro Pinga to Imin (A pinga e a Imigração), tomo II da coleção Shin-chan no Mukashi Banashi (Estórias antigas de Shinchan) de SHIN-ICHI NUMATA (1996) e também a classificação quanto à divisão por classe gramatical e quanto à divisão social do uso da língua. Na terceira etapa, os dados classificados em classes gramaticais foram divididos em divisão social do uso da língua e colocados em três quadros, sendo: termos do cotidiano, termos de trabalho e termos de lazer. O quadro foi dividido em 4 colunas: a primeira “em alfabeto”, a segunda “em japonês”, a terceira “em português” e a última “freqüência” (vide explicação no item 2.3.2.). A freqüência foi pesquisada para revelar o fenômeno da aculturação e verificar em que área o empréstimo foi maior. 13 Na quarta etapa, pesquisaram-se e relataram-se as formas da grafia japonesa, o uso do alfabeto para escrever as palavras japonesas e o uso dos estrangeirismos no Japão para melhor explicar os empréstimos do léxico português para a língua usada na comunicação entre os japoneses residentes no Brasil. Na quinta etapa, foi feita a análise sócio-cultural dos empréstimos de acordo com a divisão social do uso da língua, baseando na freqüência com que apareceram na obra. Na sexta etapa, para efetuar a análise lingüística dos empréstimos contidos na obra citada acima, foi feita uma classificação quanto às classes gramaticais e ao hibridismo e sua formação. Foi feito também um estudo sobre as palavras portuguesas já incorporadas no japonês, sobre a oscilação de uso do português e do japonês e a dificuldade de transliteração do português para a língua japonesa devido à dificuldade fonológica. Por último, as considerações finais sobre a pesquisa e as recomendações para futuras pesquisas. 3.2 RAZÕES DA ESCOLHA DO LIVRO “PINGA TO IMIN” DE SHIN-ICHI NUMATA O escritor Shin-ichi Numata é um imigrante pioneiro de Londrina e grande guardião das tradições japonesas na mesma cidade. Sempre trabalhando na comunidade e incentivando o aprendizado da língua japonesa entre os descendentes, muitas vezes ministra palestras a respeito da tradição e costumes do Japão. Ele é uma pessoa muito respeitada dentro da comunidade londrinense e fala muito pouco o português. A coleção de livros Shin-chan no mukashi banashi (As Estórias Antigas de Shin-chan) é uma coletânea de contos e crônicas que retrata a sua trajetória como 14 imigrante, e também o início da colonização de Londrina e Norte do Paraná pelos imigrantes japoneses. Os livros foram publicados a partir de 1996, os quais contém inclusive crônicas que retratam a atualidade. A pesquisadora fez contato telefônico com o escritor em 16 de fevereiro de 2005. A partir de sua fala, foi possível tomar conhecimento de que quando ele lançou o primeiro livro, a intenção era que este fosse lido pelos antigos imigrantes ou japoneses aqui radicados, razão pela qual o autor não se preocupou em usar o japonês padrão atual. Desta forma, nos dois primeiros volumes Café to Imin (O Café e a Imigração) e Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração), o autor usou o japonês tal como se fala e se escreve no Brasil com a presença de inúmeras palavras luso-brasileiras. Por ser um livro, houve uma preocupação quanto ao uso da língua japonesa mais polida do que aquela que se usa em situações de comunicação oral. A partir do terceiro livro, no total são dez livros, o autor se preocupa em usar mais o japonês padrão atual com menos empréstimos do português porque seus livros estavam sendo levados para o Japão e lidos por japoneses não imigrantes. O primeiro livro foi inclusive acrescido de uma lista de palavras tomadas emprestadas do português com significado em japonês ou o estrangeirismo correspondente adotado do inglês. O sentimento de preservação do bilingüismo ainda é muito grande entre as pessoas de mais idade, entretanto verifica-se que, dia a dia, o número de falantes da língua japonesa diminui. Segundo o CENTRO DE ESTUDOS JAPONESES (2004), o número de estudantes da língua japonesa é de aproximadamente 20.000, sendo que 30% são não-descendentes. São pessoas que têm interesse em aprender a língua e a cultura japonesa influenciadas muitas vezes por mangás (desenho em quadrinhos japonês) ou animês (desenho animado japonês). Esta pesquisa foi movida pelo interesse de verificar os fatores que levaram os imigrantes a usar tantas palavras luso-brasileiras dentro da língua japonesa, apesar de, como já foi visto, eram imigrantes temporários e por isso necessitavam 15 conservar a tradição e principalmente a língua para retornar ao Japão com menos problemas de readaptação. 3.3 LEVANTAMENTO DOS EMPRÉSTIMOS DO PORTUGUÊS NO LIVRO PINGA TO IMIN (A PINGA E A IMIGRAÇÃO) DE NUMATA (1996) A língua japonesa possui três grafias distintas, sendo o ideograma, kanji, e os fonogramas, hiragana e katakana. As palavras de origem chinesa são grafadas em ideogramas, kanji, como em 日本, lê-se nihon, e significa Japão, e, as palavras de origem ocidental e muitos sons onomatopáicos são grafadas em katakana como em テレビ、lê-se terebi, e significa televisão. Já com o hiragana, pode se escrever as palavras de origem integralmente japonesa, ou as partículas e as flexões dos verbos e dos adjetivos, ou ainda usar o kanji e o hiragana concomitantemente como em 飲みます lê-se 飲 nomi (raiz do verbo beber) +ます masu (flexão do verbo) = eu bebo. Observa-se que cada grafia tem uma atribuição de função, através da qual se reflete sua origem, entretanto isto não impede que se utilizem outras formas de letras. Os traços de cada letra são característicos, o que facilita a visualização. Para distinguir as palavras de origem ocidental, o leitor logo as percebe devido à escrita katakana. 3.3.1 Divisão por Classes Gramaticais Inicialmente, fez-se um levantamento de todas as palavras luso-brasileiras encontradas no livro citado acima. As mesmas foram divididas em classes gramaticais: substantivo, verbo e adjetivo e foram também anotadas as expressões. Foram encontrados 166 substantivos, muitos deles, repetidas vezes, sete verbos, um 16 adjetivo e cinco expressões. Foram excluídos desta relação, os nomes dos lugares como São Paulo, Sete Barras, Londrina, e outros, também grafados com katakana. 3.3.2 Divisão Social do Uso de Língua As palavras luso-brasileiras também foram classificadas nas seguintes áreas: cotidiano, trabalho e lazer. O objetivo dessa divisão foi pesquisar em que área verificaram-se mais esses empréstimos e suas causas. O quadro apresenta quatro colunas, sendo, a primeira coluna, “em alfabeto”, os empréstimos do português no japonês escritos em letras do alfabeto, ou seja, como o japonês é escrito em alfabeto romanizado; a segunda coluna “em japonês”, escrito em katakana,; terceira coluna, “em português”, são as palavras de origem; e na quarta coluna, “frequência”, a freqüência com que as palavras aparecem no livro citado acima. Na língua japonesa, há menos fonemas que no português, tais como a ausência dos fonemas /l/ ,/v/, /j/, /z/, /f/ , /rr/, de encontros consonantais, de vogais abertas, causando o sotaque apresentado na fala dos japoneses e alguns de seus descendentes. Por este motivo, percebe-se na coluna “em alfabeto”, essas diferenças que ocorreram na transferência do português para o japonês. No entanto, “em alfabeto” não significa que a palavra pode ser lida da mesma forma que no português. De acordo com o Dicionário Português- Japonês Romanizado de SAKANE e HINATA (1986), o sistema da escrita românica adotado aqui “em alfabeto” é o Hepburn, que necessita seguir algumas regras conforme segue abaixo: a. O “s” é sempre surdo, ainda que entre vogais. b. O “r” é sempre vibrante alveolar como em “caro”, mesmo que não venha em posição intervocálica. Ex. ran (orquídea). 17 c. O “h” é sempre aspirado como no inglês “hospital”. d. O “g” é oclusivo velar sonoro como em “fogo”, “guia”, mesmo que venha imediatamente depois seguido das vogais /e/ e /i/. Ex. Geijutsu (artes). e. O grupo “ch” será sempre fricativo sonoro, como no inglês, children. f. O fricativo palatal será representado por “sh”, como em shinbun (jornal). g. As consoantes dobradas representam sons assimilados como acontece com o italiano ou latim, como em kit-te (selo). h. Os encontros consonantais, como “bl”, “br” serão acrescidos da vogal “u” entre as duas consoantes. Ex. burajiru (Brasil) i. O “-l”, “-r”, “-s” como em balsa, pescador, ônibus serão acrescidos da vogal “u” e escritos barusa, pesukado-ru, onibusu respectivamente. j. O “j” será sempre pronunciado como vozeado palato alveolar africada, ou seja, como no inglês /dz/. Ex. fe-jon ( feijão), ja-jineira (jardineira) No livro Nihon no Gairaigo (Estrangeirismos no Japão), YAZAKI (1971) cita que a língua japonesa é uma língua cuja fonética segue principalmente a ordem VV*, ai (amor), CVV* nai (não há), VCV aka (vermelho) ou CVV koe (voz), CVCV kaki (caqui). A presença da vogal é quase que obrigatória. Esta característica da língua dificulta os falantes de japonês a falar outra língua em que a presença das consoantes é mais acentuada como em inglês ou mesmo em português. Como no exemplo acima, a palavra “Brasil” em japonês se transforma de dissílabo em português para polissílabo em japonês burajiru. Devido a menor quantidade de sons, * V – vogal, C - consoante, VV – vogal, vogal, CVV – consoante, vogal, vogal 18 quando há empréstimo lexical, muitas vezes as palavras sofrem grandes variações fonéticas como em shicchio (sítio) e serube-ja (cerveja). Os quadros abaixo apresentam as três classificações de que se mencionou no início. Os verbos, as expressões e o adjetivo estão identificados com as abreviaturas (v), (exp) e (adj) respectivamente. Os substantivos, por ser em maioria, não contêm identificação. QUADRO 1 – TERMOS DO COTIDIANO EM ALFABETO EM JAPONÊS Mudansa ムダンサ Mudansa suru (v) ムダンサ する Onibusu オニブス Onsa オンサ Panko* パン粉 Parumitto パルミット Puronto (adj) プロント * Hibridismo – Vide 4.3.1. EM PORTUGUÊS Mudança Fazer mudança Ônibus Onça Farinha de rosca Palmito Pronto FREQUÊNCIA VEZES 12 1 1 2 1 9 1 QUADRO 2 – TERMOS DO TRABALHO EM ALFABETO EM JAPONÊS Arenda suru (v) Are-ya Aruga shita (v) Aruge-ru Aruke-ru Banko Baza-ru Be-ehe Bi-ra Japone-su garantido (exp.) アレンダ する アレーヤ アルガ した アルゲール アルケール バンコ バザール ベエヘ ビーラ ジャポネース ガランチード EM PORTUGUÊS Arrendar Areia Alugar (aluguei) Aluguel Alqueire Banco Bazar BR Vila Japonês garantido FREQUÊNCIA VEZES 1 4 1 1 8 1 1 1 1 1 19 QUADRO 3 – TERMOS DE LAZER EM ALFABETO Garappa Pesuka Pesukado-ru Pinga Reunion Serube-ja Shinema EM JAPONÊS ガラッパ ペスカ ペスカドール ピンガ レウニオン セルベージャ シネマ EM PORTUGUÊS Garapa Pesca Pescador Pinga Reunião Cerveja Cinema continua FREQUÊNCIA VEZES 1 1 1 47 1 2 1 Os quadros completos do levantamento lingüístico estão detalhados nos APÊNDICES 1, 2 e 3. Neste capítulo, foram classificados os empréstimos lingüísticos e apresentados os processos de sua classificação. Abordaram-se também as questões da formação do vocábulo japonês e da grafia japonesa. Baseados nestes levantamentos e esclarecimentos sobre a língua japonesa, no capítulo seguinte será feita a análise socio-cultural-lingüística dos empréstimos. 20 4 ANÁLISE DOS TERMOS EMPRESTADOS Neste capítulo, faz-se uma análise dos termos emprestados do português apresentados pelo escritor NUMATA (1996), na sua obra Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração), quanto à classificação gramatical, à freqüência com que aparecem e às formas como são apresentados no contexto das práticas sociais realizadas por japoneses no Brasil. 4.1. CLASSIFICAÇÃO GRAMATICAL ALVES², citado por MUNIZ (1997, p.19) no seu trabalho de doutorado, constata que “a grande maioria dos elementos neológicos recebidos por português constitui-se de substantivos”. O mesmo fenômeno se observa nesta pesquisa. Para BIDERMAN (1978), além das adaptações fonéticas e ortográficas, a palavra adotada por outra língua assume uma forma que se encaixa na estrutura morfossintática da língua que o acolheu. Sendo assim, provavelmente, um substantivo permanece substantivo e um verbo permanece verbo, sofrendo flexões existentes na língua do adotante. Como na língua japonesa, não há gênero nem número como em português, a adoção da palavra se verifica assim como ela é apresentada, ou seja, o que for masculino permanece masculino e o que for feminino continua feminino. Os exemplos encontrados na obra de NUMATA, kami-za, kava-ro, pirikitto, tatsu, comprovam a teoria de BIDERMAN (1978). No entanto, algumas vezes, há alterações de gênero como em arumossa (feminino), no lugar de “almoço” (masculino) ou ainda rapo-zo (masculino) em vez de “raposa” (feminino), ²ALVES, I.M. , Neologismo, Criação Lexical. São Paulo: Ática, 1990. Série Princípios. 21 comumente mais usada. No caso do dinheiro, verifica-se o termo mirure-su (mil réis) no plural, enquanto outras unidades da moeda estão todas no singular, assim como as medidas aruke-ru (alqueires), hekuta-ru (hectares). Nos verbos, a terceira pessoa do singular do presente do indicativo é acrescida do verbo suru, uma espécie de verbo auxiliar no japonês que significa “fazer”. Sekka suru (seca + fazer), ou seja, “secar”. O suru corresponde ao sufixo -r, na sua forma do infinitivo e o verbo português acaba sofrendo flexões do verbo suru, um dos verbos irregulares do japonês. Hoje em dia, é comum encontrar descendentes falando em japonês usando o termo aposenta suru, (me aposentar). “Aposentar-se” em japonês falado no Japão atualmente é taishoku suru, no entanto, este termo era pouco usado no Japão na época em que os imigrantes vieram para o Brasil, por isso, aquele que se aposenta pelo INSS brasileiro se sente mais à vontade usando o termo aposenta suru. Interessante notar que no Japão, o verbo suru vem precedido de um substantivo como em kaimono (compras) suru, sanpo (passeio) suru para significar “fazer compras”, “fazer passeio”, no entanto, no português, ele precede um verbo na terceira pessoa do singular e no inglês, ele antecede também o verbo, como em katto suru, ou seja, “to cut”. Uma exceção com o uso do substantivo em português é mudansa suru, ou seja, “fazer mudança” (NUMATA, 1997). O único adjetivo encontrado dentro de uma frase, puronto (pronto), se encontra na frase: “... houtai wo maite, puronto to naru.” (...depois de enrolar a atadura, fica pronto) (NUMATA, S. 1997, p.97). HANDA (1973) cita que com a mudança do estilo de vida, a linguagem tende a ser simplificada. Quanto maior for a mudança, maior será a dificuldade de substituição. Ele exemplifica que termos que demonstram a sutileza como usu-akarui (pouco claro) e usu-gurai (pouco escuro), expressões intermediárias são praticamente eliminadas do vocabulário do imigrante que encontra a natureza mais exuberante no Brasil. Desta forma, o empréstimo de 22 adjetivos é pouco freqüente porque a gama de adjetivos no próprio japonês é grande, não sendo necessário provavelmente o seu empréstimo. De acordo com WEINREICH (1974), as interferências mais “econômicas” ocorrem com maior freqüência, porque demandam menor esforço. O uso do adjetivo “pronto” ou da expressão “japonês garantido” comprovam esta teoria, uma vez que, esses termos agilizam a compreensão do interlocutor. Segundo HANDA (1973), no contexto das práticas sociais realizadas por japoneses no Brasil, o “garantido” que eles usavam não significava apenas que o produto era garantido. Para seu limitado vocabulário, eles quiseram atribuir à palavra “garantido” vários sentidos de tudo aquilo que era bom, seguro e digno de confiança, de algo de valor. A palavra, garantido, por este motivo não foi classificada como adjetivo, e sim como expressão idiomática. 4.2 FREQÜÊNCIA 4.2.1 Termos do Cotidiano Listando todas as palavras luso-brasileiras presentes no livro “Pinga to Imin”, percebe-se, verificando a coluna da freqüência, que a maioria das palavras citadas pelo autor é usada apenas uma vez. As palavras que se repetem não são muitas. As de uso do cotidiano que aparecem mais de cinco vezes estão ligadas ao grupo de alimentação como café, milho, feijão, etc., conforme quadro abaixo: QUADRO 4 – TERMOS DO COTIDIANO DE MAIOR FREQÜÊNCIA 1 2 TERMOS EMPRESTADOS (EM ALFABETO) KafeMi-ryo TERMOS EMPRESTADOS (EM PORTUGUÊS) Café Milho continua FREQÜÊNCIA (VEZES) 32 15 23 3 4 5 6 7 8 9 10 11 TERMOS EMPRESTADOS (EM ALFABETO) Mudansa Ranbike Fe-jon Parumitto Aro-su Porenta Kanna Sereaesu Emeti-na TERMOS EMPRESTADOS (EM PORTUGUÊS) Mudança Alambique Feijão Palmito Arroz Polenta Cana-de-açúcar Cereais Emetina conclusão FREQÜÊNCIA (VEZES) 12 11 9 9 5 5 5 5 5 Dentre os onze termos do quadro acima, apenas mudança, alambique e emetina não fazem parte deste grupo de alimentação. Mudança acontecia com freqüência no início da imigração tendo em vista a busca de melhores condições de trabalho. Alambique, que os japoneses falavam ranbike, se faz presente onze vezes, justificado por causa do tema do livro: a pinga. Já emetina foi muito usada para curar doença como ameba, muito comum naquela época nas matas virgens do Brasil. Muitas vidas foram salvas com o uso deste medicamento. Os termos do grupo de alimentação, com exceção de porenta (polenta), também poderiam ser classificados como termos do trabalho, pois esses eram os cereais que os imigrantes plantavam e também era o “ganha pão” da maioria dos agricultores da época. 4.2.2 Termos do Trabalho No caso das palavras relacionadas ao trabalho, a freqüência é um pouco maior. Termos relacionados à terra, como lote, fazenda, mato, cafezal, chácara, sítio, aparecem com freqüência, valendo ressaltar as duas primeiras, demonstrando 24 com isso um apego à propriedade que pode ser traduzido como investimento imobiliário. As unidades de moeda como conto, mil, mil-réis e as de medida como alqueires, hectares vêm em seguida, fazendo parte das transações comerciais. A palavra camarada no sentido de trabalhador rural, diarista, hoje, não é mais usada, no entanto, no contexto do livro, ou seja, no início da colonização de Londrina, ele era um personagem chave no desenvolvimento da cultura de café e de outros cereais. O relacionamento patrão e camarada era também novo para os imigrantes que tinham conseguido um pedaço de terra. QUADRO 5 – TERMOS DO TRABALHO DE MAIOR FREQUÊNCIA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 TERMOS EMPRESTADOS (EM ALFABETO) Rotte Fazenda Konto Kamara-da Aruke-ru Miru Matto Kafe-za-ru Mirure-su Patoron Kaminyon Shakkara Shicchio TERMOS EMPRESTADOS (EM PORTUGUÊS) Lote Fazenda Conto Camarada Alqueire Mil Mato Cafezal Mil-réis Patrão Caminhão Chácara Sítio FREQUÊNCIA VEZES 23 22 13 11 8 8 7 6 6 6 5 5 5 As grandes propriedades prevalecem sobre as pequenas dadas às condições das culturas como o café que exigiam grande extensão de terras. O termo rotte (lote) utilizado pelo autor não significa pequena propriedade de terra, mas sim, um pedaço de terra, seja grande ou pequeno. 25 O pouco uso de palavras referentes ao deslocamento, como kaminyon (caminhão), demonstra que os serviços de transporte não eram feitos por imigrantes. 4.2.3 Termos de Lazer Os termos de lazer são apenas 13. Este número insignificante se explica devido ao ambiente pouco propício ao lazer. O objetivo dos imigrantes era o trabalho e conquistar fortuna. Um dos poucos prazeres dos imigrantes era saborear a pinga depois de um dia de trabalho pesado sob o forte sol dos trópicos. O próprio nome do livro é Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração). Alguns imigrantes, segundo NUMATA (1996), possuíam em suas casas quintos de pinga, ou seja, barris de pinga comprados diretamente dos alambiques. As estórias sobre esta bebida dos trópicos são narradas de forma cômica e alguns até tragicômicas. Por ser tema do livro, a palavra pinga aparece 47 vezes, superando muito o segundo colocado café que está presente 32 vezes no livro. 4.3 ANÁLISE LINGÜÍSTICA DOS EMPRÉSTIMOS Segundo a professora J. OTA (1993), a língua japonesa utilizada no Brasil apresenta características diferentes das do Japão, por ser uma língua falada apenas na comunidade japonesa, ou então em âmbito familiar, e mesmo dentro desses meios, somente por aqueles que a dominam. No léxico, principalmente, percebe-se que palavras luso-brasileiras comumente usadas no cotidiano brasileiro e na agricultura, setor onde os imigrantes se concentraram no início, são incorporadas dentro da fala e/ou da escrita japonesa no Brasil, refletindo o meio brasileiro com o qual os falantes estão em contato constante. 26 Ao todo são 82 palavras luso-brasileiras encontradas como termos do cotidiano, 80 como termos de trabalho e 13 de lazer no livro Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração), sendo algumas delas usadas repetidas vezes. 4.3.1 Palavras Portuguesas Incorporadas na Língua Japonesa Dentre os termos emprestados do português encontrados no livro Pinga to Imin, três palavras já existiam no japonês falado e escrito antes dos imigrantes desembarcarem no Brasil. São elas: botan (botão), koppu (copo) e panko (farinha de rosca/pão). Este último é de construção híbrida: pan (pão - português) e ko (farinha – japonês). No livro Nihon no gairaigo (Estrangeirismos do Japão) de YAZAKI (1971), o autor descreve que estas palavras foram levadas pelos portugueses no século 16, época em que os portugueses aportaram no Japão, primeiramente, fugindo de uma tempestade e posteriormente para realizar o comércio e a catequização dos japoneses. Durante a permanência por mais de 90 anos, Portugal influenciou a vida espiritual através do catolicismo, levado por Francisco de Xavier e seus sucessores, o comércio, introduzindo as armas de fogo que mais tarde os senhores feudais usavam nas suas lutas, a impressora, novidade ainda na Europa e também a língua. Ainda conforme YAZAKI (1971), por causa da proibição do cristianismo a partir de 1587, e do comércio em 1639, os portugueses tiveram que abandonar totalmente o território japonês. De acordo com um levantamento feito por ARAKAWA em 1943 (YAZAKI, 1971), havia mais de 500 estrangeirismos provenientes de Portugal sendo usados nos séculos 16 e 17. Apesar da proibição do comércio com Portugal, na realidade, ele era feito clandestinamente e objetos desconhecidos por japoneses desembarcavam livremente, como koppu (copo), shabon (sabão), karuta (carta), e 27 outros, e, seus nomes eram também emprestados por eles. Dessas 500 palavras, apenas algumas de uso cotidiano como as mencionadas acima permaneceram no japonês atual. Os termos cristãos que eram de uso comum na época, devido à proibição do cristianismo por mais de 200 anos, foram desaparecendo. Algumas palavras como abito (hábito), anjo (anjo), biruzen (virgem), paraiso (paraíso) do grupo de palavras religiosas ainda foram citadas por escritores da Era Meiji (século XIX, quando o Japão abriu os portos para o Ocidente). No entanto, essas palavras praticamente caíram no esquecimento, ou são usadas por alguns cristãos japoneses. YAZAKI (1971) no seu livro afirma ainda que pan é um dos estrangeirismos mais usados no Japão. A maioria da população japonesa pensa que a palavra pan e o alimento em si foram introduzidos pelos franceses, entretanto, eles já existiam antes de se iniciarem as relações comerciais com a França. 4.3.2 Empréstimos de Termos do Cotidiano e de Trabalho Encontrados no Livro Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração) A professora OTA (1993) da Universidade de São Paulo em seu artigo Os Empréstimos do Português nos Jornais Japoneses do Brasil, apresentado na revista do Centro de Estudos Japoneses da mesma universidade, cita que nos jornais japoneses publicados no Brasil os nomes de produtos agrícolas estão geralmente em português escritos em katakana, dando como exemplo miiryo (milho), arugodon (algodão). No livro analisado, Pinga to Imin, estes empréstimos também ocorrem constantemente, principalmente, com os cereais como aro-su (arroz), kafe- (café), miiryo (milho) que são citados apesar de existirem palavras correspondentes em japonês, kome (arroz) , kohii (café), tômorokoshi (milho). Além dos produtos agrícolas, verificam-se muitos nomes de animais, 28 frutas, comidas, bebidas e utensílios e artigos usados dentro da casa. Para HANDA (1973), as diferenças de estilo de vida do Japão e do Brasil fizeram os falantes a incorporar algumas palavras e até expressões do português no japonês, em substituição as equivalentes em japonês, e, isso se verifica principalmente quando seus significantes são diferentes no Japão. Essa troca ocorreu porque os elementos da cultura material, vestuário, alimentação, moradia, instrumentos agrícolas, e outros, encontrados nas terras brasileiras, eram de feitio diferentes daqueles utilizados no Japão. O mesmo ocorria também com as unidades de medida, de moeda e formas de abrir a mata, trabalhar a terra, arar, tudo era novidade para quem veio de um país com pouco espaço para agricultura, cercado de água e montanhas. Por isso, nos termos de trabalho, encontram-se os verbos e as expressões em maior número, porque os procedimentos eram diferentes, comprovando a teoria de WEINREICH (1974) de que as razões que levam os falantes de uma língua a fazer os empréstimos são a necessidade de designar novas coisas, pessoas, lugares e conceitos. Expressões como deru-ba matto (derrubar mato), foruma kafe- (formar café), verbos como arendasuru (arrendar), karupisuru (carpir) demonstram que o uso do português nesses casos seria mais rápido e apropriado para designar esses atos do que criar uma palavra ou expressão no japonês. Na obra analisada desta monografia, os utensílios como garahon (garrafão), karusu (cálice) , os alimentos como parumitto (palmito), fubá- (fubá), manjoka (mandioca), os animais como pirikitto (piriquito), tatsu (tatu) não encontram correspondentes em japonês. Já me-za (mesa), ka-ma (cama), karo-sa (carroça), têm palavras equivalentes em japonês (takushoku, shindai e basha respectivamente), mas eram pouco usados no Japão da época da imigração, tornando mais fácil e até natural o seu uso em português. No japonês padrão falado atualmente no Japão, “mesa” e “cama”, hoje móveis incorporados na vida cotidiana, são te-buru e beddo. Mesmo 29 no Japão, essas palavras foram substituídas por estrangeirismos provenientes do inglês. OTA (1993) cita em seu artigo que para os residentes no Brasil, certas palavras em português adquiriram conotação mais familiar do que as de origem inglesa por serem mais utilizadas dentro do âmbito familiar ou da comunidade a que pertence. Usar os estrangeirismos do japonês padrão como te-buru ( do inglês table mesa) ou deza-to (do inglês desert - sobremesa) dentre os descendentes, algumas vezes, demonstra um certo esnobismo. 4.3.3 Hibridismo Ainda segundo HANDA (1973), certas expressões compostas pela composição de palavras luso-brasileiras e japonesas datam dos primeiros tempos da imigração, na época em que os imigrantes entraram como colono dos cafezais. O hibridismo é muito comum na obra de NUMATA (1996), que usa expressões formadas com as seguintes características: 1. Adjetivo japonês com substantivo português: 太いマカロン futoi (grosso) makaron (macarrão) = macarrão grosso 細かいパンノ komakai (fino) panno (pano) = pano fino 広いテレーロ hiroi (espaçoso) tere-ro (terreiro) = terreiro espaçoso 2. Substantivos portugueses ligados com preposição em japonês エストッパのサッコ esutoppano (de estopa) sakko (saco) = saco de estopa カフェーのセカデーラ kafe-no (de café) sekade-ra (secadeira) = secadeira de café 3. Substantivo português com substantivo japonês カンナ畑 kanna (cana) batake (plantação) = plantação de cana パルミット小屋 parumitto (palmito) goya (cabana) = cabana de palmito 4. Verbo em português com flexões do verbo suru em japonês conforme citado 30 no item 4.1. アルガした aruga (alugar) shita (flexão que indica passado) デルバして deruba (derrubar) shite (flexão que indica o gerúndio) 5. Números em japonês com medidas e unidades monetárias em português. 五アルケール go (cinco) aruke-ru (alqueires) 三コント san (três) konto (contos) Estes exemplos acima confirmam um certo grau de aceitação e integração dos empréstimos do português em situações de comunicação realizados em língua japonesa no Brasil. A formação de palavras japonesas com as palavras lusobrasileiras não é difícil, uma vez que só é necessário fazer justaposições de acordo com a sintaxe japonesa, como nos exemplos citados nos itens 1,2 e 3. 4.3.4 Oscilação entre os Empréstimos Utilizados no Brasil, os Estrangeirismos Utilizados no Japão e as Palavras japonesas O autor da obra analisada, NUMATA (1996), usa algumas vezes a palavra biiru (do inglês beer = cerveja), em substituição ao serube-ja (cerveja), ou ainda kohiien (do inglês coffee + do japonês en =plantação), em substituição ao kafe-za-ru (cafezal) que aparece inúmeras vezes na obra analisada. A palavra matto (mato) aparece também na forma de janguru (do inglês jungle=floresta) e também no japonês, 原 始 林 (genshirin = mata virgem). Matto e genshirin são utilizados constantemente, demonstrando a atitude do autor que se divide entre as duas possibilidades e não hesita também em usar o estrangeirismo janguru. Palavras muito semelhantes entre o português e o estrangeirismo adotado no Japão, como penishirin (do inglês penicillin = penicilina) e penishiri-na (do português penicilina) causam este uso alternado de uma forma ou de outra. Dentro da comunidade de falantes japoneses no Brasil, verifica-se que certas palavras podem ser usadas de um 31 jeito ou de outro e o autor faz uso desse recurso. Este mesmo fenômeno verifica-se no emprego do tratamento honorífico. Quando o nome é em japonês, ele usa apenas o tratamento na língua japonesa. No entanto, quando o nome é em português, algumas vezes ele utiliza apenas o tratamento em japonês 氏(shi = senhor)como em 元プレフェイト氏 (moto purefeito shi = Senhor ex-prefeito)ou ainda em duplicidade, ou seja, pronome de tratamento do português, Doutor, e mais o 氏 (shi = senhor) como em ドットール カイオ氏 (Dotto-ru Kaio Shi = Senhor Doutor Caio). 4.3.5 Dificuldade na Transliteração dos Termos Luso-brasileiros para o Katakana. Na transliteração das palavras do português-brasileiro para o katakana, o primeiro, como foi citado no item 3.3.2, sofre muita alteração, tornando impossível, algumas vezes, sua compreensão. Pela dificuldade de se conseguir ouvir corretamente a palavra, os japoneses a adaptavam para os fonemas mais próximos, seguindo uma regra como aquela já explicada no item 3.3.2. Há, porém, palavras que não seguiram essas regras, e ficaram mais distantes ainda da língua original. Por exemplo, karusu (cálice), corugo (córrego), paio-ra (paiol), cabuse-ro (cabeceira). Ranbike e ruason, isto é, alambique e arruação tiveram a vogal a retirada do início das palavras. O mesmo fenômeno é citado por YAZAKI (1971) com a palavra bobura (abóbora) usada ainda na região sul do Japão. Dos termos acima, paio-ra, cabuse-ro e ruason necessitaram de consulta a um agrônomo com conhecimento das duas línguas para encontrar o equivalente em português. 32 4.3.6 Análise Final Em Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração), verificam-se vários empréstimos como os citados nos jornais japoneses, base de estudo de OTA (1993), mostrando o nível de influência do meio sobre a língua. Apesar de estar no Brasil há mais de setenta anos, NUMATA (1996), imigrante da primeira geração, não conseguiu aprender o português, comunicando-se apenas com algumas palavras e expressões necessárias para a sua sobrevivência nesta terra. Isto, no entanto, não o impediu de usar nos seus livros termos luso-brasileiros em grande quantidade como na estória 22 da obra citada acima, em que o autor faz uso de vinte e três palavras diferentes do português falado no Brasil, algumas delas repetidas vezes, numa narração de três páginas. NUMATA (1996), além dos empréstimos, faz uso de palavras em japonês com o mesmo significado, como tochi (=lote em japonês) e rotte (lote) e ainda penishirin (estrangeirismo utilizado no Japão) e penishiri-na (do português “penicilina”), demonstrando com essa mistura uma tendência para o fenômeno da mescla lingüística. Há no Brasil uma variante do japonês - o koroniago, isto é, a linguagem falada na colônia japonesa. O koroniago abandona certas expressões dialetais, expressões honoríficas e os termos mais complicados da língua japonesa, e, adota em seu lugar as palavras e as expressões em português a que os imigrantes estão mais habituados por fazerem parte do meio que os cercam. NUMATA (1996) não emprega na sua obra essa variante da língua japonesa, apenas toma emprestados muitos substantivos, alguns verbos e algumas expressões do português que melhor expressam o cotidiano e o trabalho nas fazendas de café. 33 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES A língua expressa o momento, o meio, o lugar e os fatos de um determinado grupo de pessoas. Ela, assim como a sociedade, está em constante mudança. Essas mudanças sofrem influências internas e externas. A língua japonesa trazida pelos imigrantes para o Brasil, objeto de estudo desta monografia, naturalmente recebeu influências do meio em que ela foi colocada. HANDA (1973) afirma que o próprio japonês contemporâneo está repleto de anglicismo e outras associações e a impressão que se tem é a de que a própria língua nunca chega a ter uma forma definitiva. Esta monografia teve como objetivo pesquisar sobre os empréstimos lusobrasileiros na língua japonesa baseando na análise do livro Pinga to Imin (A Pinga e a Imigração), tomo II da coleção Shin-chan no Mukashi Banashi (As Estórias Antigas de Shin-chan), de SHIN-ICHI NUMATA, publicado em 1996. Por causa da limitação desta pesquisa, a questão da variante da língua, o koroniago não foi abordado, prendendo-se apenas aos empréstimos das palavras luso-brasileira no texto de NUMATA. Para OTA (1993, p.54), “O que é marcante no emprego do português nos textos japoneses é, acima de tudo, a necessidade de expressar objetos e fatos que fazem parte da realidade dos falantes, envolvendo o emissor e receptor”. Assim como os jornalistas desses jornais pesquisados pela autora, NUMATA (1996), em seus primeiros livros desta coleção, parte da premissa que o leitor tenha vivido a realidade relatada em suas estórias, ou seja, há um consenso entre o emissor e o receptor. Numata, atualmente com 87 anos, representa uma geração de imigrantes que chegou já na idade adulta e com formação escolar no Japão. Atualmente, a três anos para completar 100 anos da imigração japonesa no Brasil, há crianças até de sexta geração. São crianças que conservam talvez alguns traços físicos e algum 34 gosto culinário de seus ascendentes, mas desconhecem por completo a língua e a cultura que foram se perdendo ao longo dos anos. Há algumas colônias no Norte do Paraná, no interior de São Paulo e em alguns outros estados, em que a língua e a cultura japonesas estão sendo conservadas de uma forma severa por pais e avós que vieram para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial. Exceto esses pequenos focos, as escolas de língua japonesa existentes estão ensinando a língua para poucos descendentes ainda interessados ou para aqueles que tem viagem marcada para o Japão, e para brasileiros curiosos por uma cultura diferente (CENTRO DE ESTUDOS DA LÍNGUA JAPONESA, 1996). O fenômeno “decassegui”, japoneses que saem da sua terra natal para conseguir recursos, tem criado uma nova onda de procura por escola de língua japonesa e é comum observar nessas escolas que muitos descendentes já da segunda geração, atualmente com mais de cinqüenta anos, também sabem muito pouco da língua dos seus pais. A língua japonesa no Brasil hoje está se transformando em uma língua estrangeira para seus próprios descendentes. A necessidade de sociabilizar-se e de interagir na comunidade local fez com que os japoneses e seus descendentes priorizassem o aprendizado do português principalmente no pós-guerra, pois perceberam que a imigração não seria mais temporária e sim definitiva. A mudansa não seria mais de uma fazenda para o sítio, mas do sítio para a cidade, onde seria possível dar melhor educação aos seus filhos. Quanto mais se afastavam das suas colônias, mais eles precisaram se sociabilizar com os brasileiros e a chance de se comunicar com a língua materna foi diminuindo e ela foi sendo esquecida. Conforme o estudo desta monografia, os empréstimos do português no japonês já aconteciam no início da imigração. Hoje excetuando alguns focos citados acima, apenas um grupo pequeno de seus descendentes e aqueles que retornaram do Japão como “decassegui” se comunicam em japonês. 35 Existe no ORKUT uma comunidade chamada “eu falo batyanês”, ou seja, a língua da vovó (batyan), uma linguagem familiar em que os descendentes usam a sintaxe do português com empréstimos lexicais do japonês. Jovens da terceira ou quarta geração conhecem um pouco a língua japonesa devido ao contato que ainda tem com os avós. Esses avós são considerados os guardiões da língua japonesa, no entanto, palavras luso-brasileiras com pronúncia ajaponesada são misturadas constantemente nos diálogos que eles têm em casa ou em contato com outros japoneses residentes no Brasil. Os diálogos que esses jovens travam com seus avós ou ainda o japonês que esses avós usam para se fazer entender podem ser estudo para uma próxima pesquisa, que certamente mostrará uma evolução muito interessante de como uma língua vai se transformando e sendo absorvida por outra. A freqüência do uso de empréstimos das palavras luso-brasileiras no texto de NUMATA (1996) reflete a realidade, o meio em que ele viveu e vive – o BRASIL. Para descrever essa convivência com o Brasil era natural o uso dos empréstimos lingüísticos, pois esses termos melhor representavam a visão de mundo dos elementos do grupo dos isseis (= japoneses da primeira geração). Sem os mesmos, a narração das estórias perderia essa interação entre o autor e público. 36 REFERÊNCIAS ALMEIDA, N. M. de. Gramática metódica da língua porturguesa: curso único e completo. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 1978. ALVES, I.M. Neologismo. Criação Lexical. In: MUNIZ, A.E. Neologismos no Brasil. Uma análise dos neologismos estrangeiros na linguagem publicitária. 1997. Tese (Doutorado em Letras) – Rijksuniversiteit te Utrecht. BIDERMAN, M.T.C. Teoria Lingüística (Lingüistica quantitativa e computacional). Rio de Janeiro: LTC, 1978. BLOOMFIELD, L. Language. Holt, Rinehart and Winston, New York, 1961. CEGALLA, D. P. Novíssima Gramática da língua portuguesa: com numerosos exercícios. 36 ed. São Paulo: Nacional, 1993. CENTRO DE ESTUDOS DA LÍNGUA JAPONESA. A perspectiva da língua japonesa no século XXI. São Paulo: Prol, 1996. CENTRO DE ESTUDOS DA LÍNGUA JAPONESA. Sumário das escolas de língua japonesa no Brasil. São Paulo: Prol, 2004. DE GRÈVE, M. e VAN PASSEL, F. 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FubaFuejon Fundo Furango Garahon Guruppo Hige-ra IppeJajine-ra Janta Ji-pi Kabusero Kade-ra KafueKa-ma Kambio Kami-za Kanjikka Em japonês アメーバ アロース アルゴドン アルモッサ バカリャウ バルサ バテリーヤ ベンダ ボタン コーバ エメチーナ エスピーガ エステーラ エストッパ ファリーニャ フォゴン フォイ ペリゴーゾ フバー フェジョン フンド フランゴ ガラホン グルッポ ヒゲーラ イッペー ジャジネーラ ジャンタ ジーピ カブセーロ カデーラ カフェー カーマ カンビオ カミーザ カンジッカ Em português Ameba Arroz Algodão Almoço Bacalhau Balsa Bateria Venda Botão Cova Emetina Espiga Esteira Estopa Farinha Fogão Foi perigoso Fubá Feijão Fundo Frango Garrafão Grupo Figueira Ipê Jardineira Janta (popular) Jipe Cabeceira Cadeira Café Cama Câmbio Camisa Canjica Continua Freqüência (vezes) 1 5 2 1 1 1 1 1 1 1 5 1 1 1 1 1 1 3 9 1 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 32 1 1 1 1 41 Em alfabeto Em japonês Kanna Karabi-na Karusu Kava-ro Kinto Ko-bo カンナ カラビーナ カルス カヴァーロ キント コーボ Koppu Koroniya Makaron Mamon Manjoka Meruka-do Me-za Mi-ryo Mudansa Mudansa suru (v) Noroesute Onibusu Onsa Panko³ Panno Parumitto Penishiri-na Pinye-ro Pirikitto Porenta Porubio Purime-ro Puronto (adj) Rajio RanbariRanbi-ke Rapo-zo Re-nya Rimoeiro Rimon Ruason コップ コロニヤ マカロン マモン マンジョカ メルカード メーザ ミーリョ ムダンサ ムダンサする ノロエステ オニブス オンサ パン粉 パンノ パルミット ペニシリーナ ピニェーロ ピリキット ポレンタ ポルビオ プリメーロ プロント ラジオ ランバリー ランビーケ ラポーゾ レーニャ リモエイロ リモン ルアソン Em português Cana-de-açúcar Carabina Cálice Cavalo Quinto(barril) Covo(instrumento de pesca) Copo Colônia Macarrão Mamão Madioca Mercado Mesa Milho Mudança Fazer mudança Noroeste Ônibus Onça Farinha de rosca Pano Palmito Penicilina Pinheiro Piriquito Polenta Polvilho Primeiro pronto Rádio Lambari Alambique Raposo Lenha Limoeiro Limão Arruação continuação Freqüência (vezes) 5 1 2 1 3 1 3 8 1 1 1 1 1 15 12 1 1 1 2 1 2 9 1 1 1 5 1 1 1 1 1 11 1 1 1 1 1 42 Em alfabeto Sakko Sa-ra Saraku-ra Segundo / segunda Sereaesu ShippoSoppa TatuTe-rya Tokko Em japonês サッコ サーラ サラクーラ セグンド/セグンダ セレアエス シッポー ソッパ タツー テーリャ トッコ Em português Saco Sala Saracura Segundo / segunda Cereais Cipó Sopa Tatu Telha Toco conclusão Freqüência (vezes) 1 1 2 2 5 1 1 3 1 1 43 APÊNDICE 2 – TERMOS DO TRABALHO Em alfabeto Arenda suru (v) Are-ya Aruga shita (v) Aruge-ru Aruke-ru Banko Baza-ru Be-ehe Bi-ra Café- makina (exp.) Centa-bo Datta Deru-ba matto (exp.) Deruba shite (v) Dobura shite (v) Dotto-ru Esutokke Esutora-da Fakkusu Fazenda Foise Foruma kafé- (exp.) Gure-ba Hekuta-ru Japone-su garantido (exp.) Kafe-za-ru Kamarada Kaminyon Karetta Kariyado-ru kareado-ru Karossa Karupi suru (v) Karutorio Konto Em japonês アレンダ する アレーヤ アルガ した アルゲール アルケール バンコ バザール ベエヘ ビーラ カフェーマキナ センターボ ダッタ デルバ マット デルバ して ドブラ して ドットール エストッケ エストラーダ ファックス ファゼンダ フォイセ フォルマ カフェー グレーバ ヘクター ジャポネース ガランチード カフェーザール カマラーダ カミニョン カレッタ カリヤドール カレアドール カロッサ カルピ する カルトリオ コント Em português Arrendar Areia Alugar (aluguei) Aluguel Alqueire Banco Bazar BR Vila Máquina de café Centavo Data Derrubar mato Derrubar (derrubando) Dobrar (dobrando) Doutor Estoque Estrada Fax Fazenda Foice Formar café continua Frequência (vezes) 1 4 1 1 8 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 2 1 22 2 1 Gleba Hectare Japonês garantido 1 3 1 Cafezal Camarada (bóia-fria) Caminhão Carreta Carreador/carreadouro 6 11 5 1 2 Carroça Carpir Cartório Conto 4 1 1 13 44 Em alfabeto Koreto-ru Koro-no Korugo Kuwaruteron Masha-do Matto Mi-na Miru Mirure-su Mo-toru Ofishi-na Pa-dore Pagamento Paio-ra Paperari-ya Pasuterariya Pasuto Patoron Pesukado-ru Ponte Pura-zo Purefeito Purejio Ransho Rearu Reseruba shite (v) Resutorante Rotte Rua Safura Saruba kondutto (exp.) Sekade-ra Sekka saseru (v) Sentoro Senyo-ru Se-ro Em japonês コレトール コローノ コルゴ クワルテロン マシャード マット ミーナ ミル ミルレース モートル オフィシーナ パードレ パガメント パイオーラ パペラリヤ パステラリヤ パスト パトロン ペスカドール ポンテ プラーゾ プレフェイト プレジオ ランショ レアル レゼルバ して レストタンテ ロッテ ルア サフラ サルバ コンヅット セカデーラ セッカ して セントロ セニョール セーロ Em português Corretor Colono Córrego Quarteirão Machado Mato Mina Mil Mil reis Motor Oficina Padre Pagamento Paiol Papelaria Pastelaria Pasto Patrão Pescador Ponte Prazo Prefeito Prédio Rancho Real Reservar (reservando) Restaurante Lote Rua Safra Salvo Conduto Secadeira Fazer secar Centro Senhor Selo continuação Freqüência (vezes) 3 2 3 2 1 7 3 8 6 1 1 1 1 1 1 1 1 6 1 1 1 1 1 1 1 1 1 23 1 1 1 1 1 1 1 4 45 Em alfabeto Shakkara Share-ta Shittio Tekoteko Te-ra rossha Terekkusu Tere-ro Toratorisuta Torattoru Tori-ryo Em japonês シャッカラ シャレータ シッチオ テコテコ テーラロッシャ テレックス テレーロ トラトリスタ トラットル トリーリョ Em português Chácara Charrete Sítio Teco-teco Terra roxa Telex Terreiro Tratorista Trator Trilho conclusão Freqüência (vezes) 5 1 5 1 1 1 3 1 1 1 46 APÊNDICE 3 – TERMOS DE LAZER Em alfabeto Antena Bebi-da Biolon Boteko Domingo Futtebo-ru Garappa Pesuka Pesukado-ru Pinga Reunion Serube-ja Shinema Em japonês アンテナ ベビーダ ビオロン ボテコ ドミンゴ フッテボール ガラッパ ペスカ ペスカドール ピンガ レウニオン セルベージャ シネマ Em português Antena Bebida Violão Boteco Domingo Futebol Garapa Pesca Pescador Pinga Reunião Cerveja Cinema Freqüência 1 1 1 1 1 1 1 1 1 47 1 2 1
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