Untitled - Didactibook

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SOCIETES BRESILIENNES
Education, travail, développement
SOCIEDADES
BRASILEIRAS
Educaçao, trabalho, desenvolvimento
n03-4
Education, contextes et enseignants
Educaçiio, contestos e pro/essores
L'Harmattan
5-7, rue de l'École-Polytechnique
75005 Paris
FRANCE
L'Harmattan Hongrie
Hargita u. 3
1026 Budapest
HONGRIE
L'Harmattan Italia
Via Bava, 37
10214 Torino
IT ALlE
Sociétés brésiliennes
-
éducation, travail,développement
Revue semestrielle bilingue
Sociedades brasileiras - educaçiio, trabalho, desenvolvimento
Comité scientifique:
André Berter (Université Catholique de Louvain), Antônia da Silva
Solino (UFRN), Antonio Cabral Neto (UFRN), Bernard Emery
(Université Grenoble III), Brasilia Carlos Ferreira (UFRN), Djalma
Freire Borges (UFRN), Eleonora Bezerra de Melo Tinôco
Beaugrand (UFRN), Gaudêncio Frigotto (UFRJ), Jacques Ardoino
(Université Paris 8), José Aldemir de Oliveira (FUA), José
Willington Germano (UFRN), Lourival B. Rolanda (UFPe), Luiz
F. de Lacerda Nilo (UFPe), Maria Arisnete Câmara de Morais
(UFRN), Maria Arlete Duarte de Araujo (UFRN), Maria Doninha
de Almeida (UFRN), Marilene Correia da Silva (FUA), Mauricio
Serva (UFPR), Paul Clerc (Université de Caen), Regina Vinhaes
Gracindo (UnB).
Comité de rédaction:
Louis Marmoz, Jomaria Alloufa, Dinah Tinôco.
Secrétariat de rédaction:
Raoul Marmoz, Marisa Trindade.
Photos: Antoine Terofal.
Directeur de la publication: Louis Marmoz.
Adresse électronique:
[email protected]
@L'Hannatlan,2003
ISBN: 2-7475-5137-7
Avertissement
Après une première publication consacrée à l'étude des
relations entre les inégalités sociales et les mutations que connaît la
société brésilienne, Sociétés brésiliennes - éducation, travail,
développement propose dans cette nouvelle livraison des outils
pour une réflexion sur les liens entre l'éducation, les contextes où
elle se développe et certains professionnels de ce développement,
les enseignants. Des liens, une rencontre, qui ne doivent pas être
seulement d'évidence mais de travail.
Les travaux présentés, dont les auteurs relèvent de cinq
universités différentes, illustrent aussi bien les problèmes pratiques
de cette rencontre, au travers de l'analyse de cas exemplaires, en
Amazonie et dans le Nordeste principalement, que son approche
théorique et scientifique. Ils introduisent par leur diversité à
d'autres livraisons de Sociétés brésiliennes qui aideront à mieux
comprendre la que~tion de l'éducation, l'un de ses points de
référence; en particulier, un prochain numéro sera consacré à
l'enseignement dans le Nordeste.
D'autres questions seront prochainement approfondies: le
développement, à propos de l'Amazonie, la formation à l'écologie
ou l'administration publique, pour les livraisons les plus
immédiates. Chacun de ces numéros est préparé par une équipe qui
prendra en compte les propositions, qui ont été sélectionnées par le
Comité scientifique, de contribution des lecteurs et chercheurs sur
ces thèmes.
Car, bien évidemment, sur ces thèmes ou d'autres qui
correspondent aux trois horizons de la revue, éducation, travail,
développement, la rédaction reçoit avec intérêt les propositions
d'articles qui peuvent lui être communiquées par l'intermédiaire
des membres de ses comités, scientifique et de rédaction, ou être
directement adressés à la revue1.
1 Nous acceptons les formes de référenciation généralement utilisées dans les
différents pays: une fois qu'elles sont claires, leur uniformisation ne nous paraît
pas devoir être une preuve nécessaire de sérieux scientifique.
5
6
Education, contextes et enseignants
Educaçào, contestos e professores
Sommaire
. Educaçao e questao indigena: urn projeto politico de
autonomia na formaçao de lideranças da Coordenaçao das
Organizaçoes
Indigenas da Amazônia Brasileira
-
COIAB
9
Marilène Corrêa da Silva
. Os waimiri atroari, a globalizaçao
identidade escolar
Maria Carmen Rezende Do Vale
e a construçao da
39
. Politica e educaçao : 0 ensino rural no amazonas
Mirian Trindade Garret
57
. Une fenêtre ouverte sur la pédagogie du dialogue: la
contribution d'Habermas
69
Edna Brennand
. Educaçao em contextos rurais e a Regiao Nordeste: exemplos
da intluência de orientaçao externa à educaçao brasileira.
III
Maria Aparecica de Queiroz
. Apprendre des concepts à l'école:
Maria Salonilde Ferreira
un défi à surmonter
133
. L'enfant et l'école: la dynamique intersubjective dans la
construction de l'identité personnelle
143
Marcia Maria Gurgel Ribeiro
. Formaçao personalizada : tutoria e qualificaçao
Elena Bruten e José Pires
docente
157
. La lecture des enseignants
Marly Amarilha
187
. Ouvrages récents
211
7
8
Educaçào e questào indigena :
urn projeto politico de autonomia na formaçào de lideranças da
Coordenaçào das Organizaçôes Indigenas da Amazônia
Brasileira - COIAB
Marilene Corrêa da Silva1
1- Educaçào e questào indigena
Os processos educativos para as populaç5es indigenas da
Amazônia, sob 0 controle ou a intluência politica de suas
organizaç5es, sao recentes. Nao obstante a indiscutivel
desigualdade da condiçao dos indios, no Brasil, a educaçao é, sem
duvida, urn dos nexos de articulaçao com as quest5es pr6prias de
estratégia de sobrevivência interétnica, com as alianças politicas
entre os povos indigenas e a solidariedade internacional, e 0
projeto de luta dos movimentos indigenas e suas organizaç5es,
independentes do Estado.
A educaçao, no sentido da formaçao de lideranças
indigenas, articula-se aos varios processos sociais em curso na
Amazônia, no meio dos quais os movimentos indigenas realizamse em concomitância corn outras manifestaç5es e acontecimentos
relacionados à afirmaçao e/ou reafirmaçao das diferenças étnicas.
o contexto de criaçao dessas oportunidades de realizaçao de uma
educaçao para os indios e pelos indios inscreve-se entre as lutas
indigenas dos ultimos trinta anos pela terra e pela
autodeterminaçao.
Nos ultimos dez anos, tomando-se como marco as
conquistas registradas em 1988, na Constituiçao Federal, a agenda
politica dos indios da Amazônia incluiu os interesses de
suprirnento das condiç5es basicas de existência das populaç5es
indigenas ao lado dos direitos fundamentais de preservaçao das
identidades étnicas e culturais. As tematicas da educaçao e da
saude passam a ser veiculadas com ênfase igual e/ou vinculada às
press5es pela demarcaçao dos territ6rios e inseridas corn outros
conteudos de expressao de suas necessidades, tais sejam, a de
1 Universidade
do Amazonas.
9
preservaçao das condiçoes ambientais e dos recursos naturais das
suas posses tradicionais. A educaçao escolar é compreendida pelos
indios como urn processo de esclarecimento/facilitaçao sobre 0
acesso às minimas condiçoes de sobrevivência de seus povos entre
as forças sociais que os envolvem. A educaçao tradicional, que é
comunitaria, é a pratica coletiva que ensina sobre os modos de
sobrevivência, resistência e preservaçao dos costumes e da
memoria.
A associaçao das necessidades basicas de educaçao com
outras lutas indigenas, pela autodeterminaçao, foi amadurecida
pelo contato entre indios, agentes indios e assessores, com apoio de
entidades aliadas, no quadro de reivindicaçoes pelo direito à
diferença. Em janeiro de 1995, 0 Jornal Movimento Indigena
registra a participaçao de dirigentes dos diversos Conselhos
Indigenistas Missionarios Regionais - CIMls, no segundo Encontro
da Articulaçao Nacional de Educaçao, cujo tema de estudo foi
curriculo, a partir das experiências e praticas dos agentes que
atuam diretamente em escolas ou na assessoria aos professores
indigenas2. A idéia de que a formulaçao dos curriculos deveria ter
como objetivo urn processo que contribuisse para a autonomia das
populaçoes indigenas esta posta. A filosofia, a metodologia, 0
conteudo dos curriculos foram refletidos no conjunto da discussao
sobre 0 papel da escola e da sua construçao no interior da
cosmovisao de cada Povo. As caracteristicas das escolas indias
também sao discutidas no quadro das suas referências
comunitarias, onde se avalia que « a escola deve ser um espaço da
propria comunidade, ter a participaçêio de todos, a presença de
lideranças, dos rezadores, dos mais velhos... Deve ser instrumento de
fortalecimento historico e cultural, trabalhando a partir de formas e
processos proprios de aprendizagem, valorizando a lingua e a ciência de
cada povo... A escolha dos professores deve ser definida pela
comunidades a partir de parâmetros e de critérios proprios,
estabelecidos coletivamente... Deve estar a serviço de suas lutas mais
globais, ser um espaço de reflexêio em torno de fatos importantes,
fortalecendo processos de retomada de terra, defesa da area, luta por
-
3
À
uemarcaçao
entre outras. »
Em periodo seguinte, entre 16 a 19 de janeiro de 1995,
realizou-se em Manaus 0 II Encontro do Conselho Fiscal da
2 Movimento lndigena do ClMl Norte l, Am eRR, jan./1995, p.4.
3
Ibid.
10
COIAB, corn a finalidade de avaliar e planejar as atividades da
entidade e, ainda, elaborar uma proposta de formaçào e de
capacitaçào das lideranças. Reafirma-se, nessa ocasiào, a
necessidade de uma luta conjunta entre as Comunidades, Povos e
Organizaçoes Indigenas, na busca da verdadeira autonomia dos
Povos Indigenas da Amazônia Brasileira. Esse evento apresentou,
também, propostas e reivindicaçoes ao Congresso Nacional, no
sentido de garantir os direitos indigenas, outorgados em 1988, e a
manutençào destes na Revisào Constitucional.
A criaçào da COIAB é, em si propria, urn marco no
processo de formaçào das lideranças indigenas porque esta referida
à uma profunda reflexào que lideres indios vinham fazendo das
suas formas de representaçào. Em 19 de abril de 1989, « Dia
Nacional do indio », as organizaçoes indigenas ja existentes
decidem criar uma « entidade sem fins lucrativos », corn 0
proposito de permitir 0 surgimento de outras organizaçoes, para
expandir 0 movimento indigena. A luta dos Povos Indigenas da
AmazônÎa abre caminho à autonomia e ao reconhecimento da
diversidade étnica na democracia4. A composiçào da base politica
da COIAB é feita pelas organizaçoes indigenas FOIRN Federaçào das Organizaçoes Indigenas do Rio Negro, UNI - Uniào
das Naçoes Indigenas do Acre, CIR - Conselho Indigena de
Roraima, AMT APAMA - Associaçào dos Povos Tupi do Para,
Amazonas, Maranhào e Amapa, CIVJA - Conselho Indigena do
Vale do Javari, CUMPIR - Coordenaçao da Uniao das Naçoes e
Povos Indigenas de Rondônia e Norte de Mato Grosso e Sul do
Amazonas
e APIO
- Associaçao
dos Povos Indigenas
do Oiapoque.
A COIAB reune, atualmente, 56 organizaçoes, representando 163
povos que habitam os nove Estados que formam a Amazônia
brasileira (Amazonas, Amapa, Roraima, Rondônia, Para,
Maranhao, Mato Grosso e Tocantins), que totalizam cerca de 204
mil pessoas ou 60% da populaçào indigena do Brasil5.
«Além dessas organizaçoes diversas outras de menor porte
formam a base politica da CO/AB espalhada por toda a Amazônia
Brasileira... A CO/AB apoia as açoes da COP/AR (Comissao de
Professores/ndigenas do Amazonas Roraima e Acre), visando assegurar
uma educaçao diferenciada que contemple os aspectos historicas e
4
S
Cf Folder de divulgaçào de responsabilidade da COIAB, s.d.
Idem.
Il

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