efeito do edta na fitoextração de metais pesados por córdia
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efeito do edta na fitoextração de metais pesados por córdia
XX Congreso Latinoamericano y XVI Congreso Peruano de la Ciencia del Suelo “EDUCAR para PRESERVAR el suelo y conservar la vida en La Tierra” Cusco – Perú, del 9 al 15 de Noviembre del 2014 Centro de Convenciones de la Municipalidad del Cusco EFEITO DO EDTA NA FITOEXTRAÇÃO DE METAIS PESADOS POR Córdia-africana AMARAL SOBRINHO,N.M.B1*; ANDRADE, A.F.M.2; SANTOS, F.S.S.3; ZONTA, E.1 1. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; 2. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Campus Pinheiral; 3. Universidade Federal Fluminense. *e-mail:[email protected] ; Departamento de Solos, Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 23890-000, Seropédica, RJ, Brasil; +55 21. RESUMO Com o propósito de verificar a redução dos níveis de metais pesados em um sítio contaminado por resíduo de perfuração de poços de petróleo utilizou-se a técnica de fitorremediação. Inicialmente, amostras do solo contaminado foram incubadas com 3 concentrações de EDTA (0; 2; 6 mmol L-1) por 40 dias. Posteriormente, foi feita a extração sequencial para verificação das frações do solo em que se encontram os metais bário, chumbo; ferro e manganês. Após, foi implantado um experimento em casa de vegetação no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O experimento foi iniciado em março de 2011 findando em dezembro do mesmo ano. Foi utilizada a espécie arbórea córdia (Cordia africana). Após um período de 270 dias as plantas de córdia foram coletadas tendo suas raízes e sua parte aérea (ramos e folhas) avaliadas separadamente para comparação de produção de matéria seca. Estes materiais foram analisados quanto à concentração dos elementos bário, chumbo, manganês e ferro. O índice de translocação das plantas para esses metais foi muito baixo. O EDTA induziu a mobilização de chumbo, manganês e ferro para as folhas de córdia, entretanto não interferiu na translocação de bário. PALAVRAS CHAVE Bário; chumbo; fitorremediação INTRODUÇÃO Desde o final dos anos 90, a procura por fontes energéticas alternativas aos combustíveis fósseis não reduziu a permanente busca por petróleo e gás. Há uma intensificação na busca por novas jazidas no Brasil e no mundo, o que gerará uma grande quantidade de resíduos que necessitarão de locais adequados para sua disposição e/ou tratamento adequado (Bauder et al., 2005). Na atividade de exploração de petróleo é gerado um resíduo com potencial poluidor, oriundo da perfuração de poços e que é constituído basicamente de rochas fragmentadas misturadas ao fluido de perfuração. Possue em sua composição, hidrocarbonetos, metais pesados, como o ferro, manganês, chumbo, e principalmente bário (Magalhães et al., 2014). Fluido de perfuração é um fluido circulante usado para tornar viável uma operação de perfuração e apresenta as seguintes funções: suportar a parede do maciço; limpeza do poço; evitar a invasão do filtrado; e, para o controle da pressão e do teor de cascalhos em suspensão (Caenn & Darley, 2011). Dentre os produtos utilizados neste fluido, destacase, dada sua elevada densidade, a baritina (sulfato de bário natural), sendo que outros metais pesados estão comumente presentes (lima et al., 2012). Na fitorremediação, busca-se uma remoção de parte dos contaminantes presentes no solo e/ou a estabilização de uma outra parte que permanece no solo, porém em formas pouco lábeis, o que reduz a possibilidade de lixiviação e consequente contaminação do lençol freático (Neugschwandtner et al., 2008). Por vezes, grandes áreas poluídas com metais não podem receber as plantas escolhidas para fitorremediação até que os solos tenham reduzido os teores de seus contaminantes ao limite da fitotoxicidade. Pereira et al.(2013), trabalhando com a espécie arbórea Córdia africana, encontraram tolerância a elevadas concentrações de metais pesados como o zinco, o cádmio e o chumbo, demonstrando o seu potencial para a fitoestabilização. A Córdia-Africana é uma árvore semi decídua nativa da África e com cerca de 10 metros de altura. Da família Boraginaceae, possui folhas simples, ramagem longa e inflorescências axilares e terminais com flores brancas que desabrocham na primavera. No município de Santa Maria do Oeste, no estado do Paraná, um local usado para disposição do resíduo da perfuração e prospecção de poço de petróleo, há mais de 20 anos, foi investigado para verificar uma contaminação pelos metais presentes na composição desse resíduo (Andrade, 2011). Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi verificar se a espécie Córdia-africana extrai metais pesados, quando induzida com EDTA, em quantidades suficientes para remediar um solo contaminado pela disposição de resíduo da perfuração e prospecção de poços de petróleo. MATERIAL E MÉTODOS O solo contaminado - uma mistura dos resíduos depositados com o solo do local (Latossolo Vermelho) - apresentou na análise granulométrica um teor de silte de 52%; 38% de areia, e 10% de argila (EMBRAPA, 1997). Apresentava um elevado teor de bases com 9,5 e 2,0 cmolc(dm3) -1 de cálcio e magnésio, respectivamente, com um pH em torno de 8,3 e teor de carbono de 1,4 g kg-1solo. Os teores de bário, chumbo, manganês e ferro eram de: 6.700,0; 570,0; 614,0, e 30.319,0 mg kg-1solo, respectivamente. Para verificar o efeito da aplicação de EDTA nas diferentes fases químicas (frações geoquímicas), 12 potes plásticos (unidades experimentais) foram preenchidos com 100 g de solo contaminado e incubados com 3 concentrações de EDTA (0; 2; 6 mmol L-1) por 40 dias. Após o período de incubação, uma fração do solo foi removida, seca ao ar e analisada quanto aos teores dos metais estudados nas frações geoquímicas. Para tal, foi utilizado o método de extração sequencial proposto por Ure et al (2013) O experimento foi instalado e conduzido em casa de vegetação na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e as amostras do solo contaminado foram coletadas em Santa Maria do Oeste, no Paraná, sendo usadas como substrato de crescimento da Córdia africana. Determinou-se 3 grupos experimentais com uma testemunha que recebeu apenas água deionizada e nutrientes, e 2 tratamentos, cada qual com a aplicação de 6 mmol L-1 de EDTA, sendo uma em aplicação única (Tratamento 2) e outra em 3 doses de 2 mmol L-1(Tratamento 3) e 4 repetições, formando uma matriz com 12 unidades experimentais. As mudas foram escolhidas de forma a obter a maior homogeneidade entre as plantas, que tinham em torno de 70 cm de altura, diâmetro a 5 cm do nível do substrato variando de 0,93 a 1,14 cm e com 1719 folhas. Plantou-se, então, uma por vaso, em um total de 12 plantas. Durante seu desenvolvimento, as plantas de Córdia foram mantidas com umidade do vaso em 70% da capacidade de campo e receberam solução nutritiva (Hoagland 25%) desde 30 dias a contar do transplante.Transcorridos 230 dias da semeadura, as plantas de Córdia do tratamento 2 receberam a primeira dose de 2 mmol L-1 EDTA, sendo a segunda na semana seguinte e a terceira, na outra, quando, então, o tratamento 3 recebeu os 6 mmol L-1 de EDTA em adição única. Dois meses após a aplicação da dose única de EDTA fez-se a colheita de toda a planta (parte aérea e raízes), para verificação de concentração de metais na planta, separando em raiz, caule e folhas. As plantas foram lavadas em água destilada para remoção de material macroscópio, separadas as raízes da parte aérea e, então, enxaguadas com água deionizada. Após secagem ao ar, foram secas em estufas com 70 0C até peso constante, após o que foram pesadas. O material seco foi moído em moinho tipo Willey com malha de 20 Mesh para que se processasse a digestão nitro-perclórica (ácido nítrico e perclórico na proporção 6:1) pelo método de Tedesco et al.(1995). Feita a digestão, os teores de metais nos extratos, foram determinados por espectrofotômetro de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado (ICP-OES). RESULTADOS E DISCUSSÃO Quando analisadas separadamente as folhas, o conjunto de ramos e caule, e as raízes da Córdia, não houve diferença significativa entre os tratamentos em relação à produção de matéria seca, apenas no peso total produzido é que se verificou uma maior produção da testemunha seguida pelo tratamento de adição parcelada (Tabela1). Nesse sentido, trabalhos com braquiária e milho mostraram diferença significativa na produção de matéria seca entre a testemunha (maior produção) e a com EDTA, indicando a fitotoxicidade provocada por EDTA (Santos et al., 2006). Neugschwandtne et al (2007) verificaram que quando eram realizadas aplicações únicas comparadas com parceladas, encontraram visíveis sinais de fitotoxicidade nos tratamentos com aplicação única nas concentrações de 6 e 9 mmol kg-1 EDTA, o que causou a morte de plantas antes da colheita. Tabela 1. Produção de matéria seca nas diferentes partes vegetativas de Córdia. _______________ Matéria Seca (gramas por vaso) ________________ Tratamentos Folha Ramos Raiz Parte Aérea Total Testemunha 3 x 2 mmo L-1 1 x 6mmo L-1 15,73 NS (±0,6) 15,79 NS (±1,5) 13,22 NS (±2,3) 25,40 NS (±3,0) 25,22 NS (±2,1) 22,55 NS (±2,7) 31,53 NS (±35,0) 26,95 NS (±2,9) 26,05 NS (±3,1) 41,13 NS (±2,8) 41,01 NS (±2,0) 35,77 NS (±4,1) 72,66 A (±4,7) 67,96 AB (±2,9) 61,81 B (±6,8) Letras diferentes nas colunas diferem estatisticamente pelo teste de Tukey 5%. NS - Não significativo. Apesar da ação do EDTA ter se mostrado efetiva para a absorção e translocação de chumbo, ferro e manganês para as folhas da Córdia, o mesmo não ocorreu em relação ao bário, que apresentou concentrações que não diferenciaram significativamente entre os tratamentos para folhas (Tabela 2). Esses resultados podem ser explicados devido a baixa solubilidade da baritina (BaSO4) e mobilidade do bário. Entretanto, para os ramos e as raízes os tratamentos com adição de EDTA determinaram uma maior concentração de bário em relação à testemunha. A concentração de bário (acima de 500 mg kg-1), independentemente, da presença do EDTA, mostra uma boa capacidade dessa espécie arbórea para a extração deste metal, pois Pichtel et al.(2000) trabalharam com 14 plantas e todas apresentaram uma absorção insignificante deste metal. São poucos os estudos evidenciando os teores de bário dentro da faixa considerada normal em tecidos vegetais, porém valores entre 90 e 106 mg kg-1 foram encontrados em plantas de milho cultivadas em solo tratado com lodo de esgoto (Nogueira et al., 2010). Em cultivo hidropônico Suwa et al. (2008) valores de até 4970 mg kg-1 foram encontrados em soja. Tabela 2. Média da concentração de três tratamentos. ------------------ Folha -----------------Metal 0 3x2 6 583 NS 602 NS 515 NS Ba (±77,8) (±0,0) (±0,0) 207 A 183 A Pb nd (±0,0) (±0,0) 403 B 627 B 2029 A Fe (±113,4) (±0,0) (±0,0) 126 B 178 B 472 A Mn (±18,3) (±60,4) (±200,9) metais nas folhas, ramos e raízes de Córdia (mg kg-1) nos ------------------ Ramo ------------------ ------------------ Raiz ------------------ 0 3x2 6 0 178 NS 205 NS 234 NS 319 B (±0,0) (±0,0) (±0,0) (±0,0) 2,1 B 32A 37 B nd (±0,0) (±0,0) (±0,0) 80 A 54 B 94 A 4297 NS (±0,0) (±0,0) (±0,0) (±0,0) 9B 7B 43 A 153 B (±0,7) (±0,8) (±23,8) (±35,0) 3x2 517 AB (±0,0) 48 B (±0,0) 4063 NS (±0,0) 98 B (±2,0) 6 597 A (±0,0) 100 A (±0,0) 3057 NS (±0,0) 221 A (±40,0) Letras diferentes nas linhas, diferem estatisticamente pelo teste de Tukey 5% ou menos, em cada parte da planta NS = Não significativo. À exceção do bário, para folhas, o chumbo, ferro e manganês apresentaram as maiores concentrações nos tratamentos que receberam EDTA. Experimentos demonstraram que a presença de baixas concentrações de EDTA aumenta a solubilização dos metais presentes no solo causando fitotoxicidade (Santos et al., 2006) Estes sintomas podem, portanto, ter sido causados pela toxicidade por chumbo e/ou pelo próprio EDTA. A quantidade acumulada de bário nas partes da planta de Córdia (Tabela 3) não apresenta diferenças significativas entre os tratamentos nas folhas e ramos. Entretanto, nas raízes observou-se aumento significativo na quantidade acumulada nos tratamentos que receberam EDTA, i.e, as maiores quantidades acumuladas foram observadas na presença de EDTA. Para o ferro também foi observado nas raízes. Essa indução de absorção de metais pesados pelas raízes foi também observada por Doumett et al., (2008). Entretanto, para o chumbo e manganês as maiores quantidades acumuladas foram verificadas nas folhas nos tratamentos que receberam EDTA. Santos et al.(2006), citam diversos trabalhos em que a presença de EDTA aumenta a concentração de metais pesados nas folhas. Isto se torna preocupante, já que a Córdia é uma planta caducifólia e suas folhas retornariam os metais ao solo via biodegradação destas folhas, além de que poderia haver uma dispersão da contaminação.10 Pichtel et al.(2000), mencionam esta preocupação com a queda e dispersão das folhas de plantas em áreas de fitorremediação. Tabela 3. Quantidade acumulada de metais nas folhas, ramos e raízes de Córdia (mg pote-1) nos três tratamentos. Metal Ba Pb Fe Mn ----------- Folha ---------------------- Ramo ----------------------- Raiz -----------0 3x2 6 0 3x2 6 0 3x2 6 -1 -------------------------------------------------------------------------- mg kg -------------------------------------------------------------------9,2 A 9,5 A 6,8 B 4,3 NS 5,1 NS 5,3 NS 9,7 B 13,9 A 15,5 A (±1,3) (±0,5) (±1,4) (±2,4) (±2,5) (±1,2) (±1,9) (±2,0) (±1,6) 3,3 A 2,3 A nd 0,05 NS 0,73 NS 1,12 NS 1,27 NS 2,5 NS nd (±0,6) (±0,4) (±0,0) (±0,0) (±0,9) (±0,5)) (±0,2) (±1,3) 6,4 B 10 B 25 A 2,0 A 1,4 B 2,1 A 134 A 108 AB 79 B (±2,0) (±3,4) (±7,4) (±0,2) (±0,2) (±0,2) (±24,5) (±15,1) (±13,7) 2,0 B 2,8 B 6,0 A 0,2 B 0,2 B 1,0 A 4,9 A 2,7 B 5,7 A (±0,4) (±0,9) (±1,6) (±0,0) (±0,0) (±0,6) (±1,3) (±0,3) (±0,9) Letras diferentes nas linhas diferem estatisticamente pelo teste de Tukey 5% ou menos, por parte da planta NS - Não significativo. CONCLUSÃO Na Córdia, o EDTA aumentou a concentração de bário pela raiz, mas não sua translocação para parte aérea. A tolerância da Córdia à toxicidade dos metais pesados e do EDTA, nas condições do experimento, indicam as mesmas para trabalhos de fitoestabilização em áreas contaminadas. REFERÊNCIAS Bauder, T.A.; Barbarick, K.A.; Ippolito, J.A.; Shanahan, J.F.; Ayers, P.D. Journal of Environmental Quality. 2005, 34, 1687. Caenn, R.; Darley, H.C.H.; Gray, G.R. 6 th ed. Elsevier:Oxford. 2011. Lima, E. S. A.; Amaral Sobrinho, N. M. B.; Magalhães, M.O.L.; Guedes, J. N.;Zonta, E.. Química Nova. 2012, 35, 1746. Doumett, S.; Lamperi, L.; Checchini, L.; Azzarello, E.; Mugnai, S.; Mancuso, S.; Petruzzelli, G.; Del Bubba, M. Chemosphere. 2008, 72, 1481. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA. Manual de métodos de análises de solos. 2ed. EMBRAPA/CNPS: Rio de Janeiro, 1997. Magalhães, M. O. L.; Amaral Sobrinho, N.M.B.; Zonta, E.; Simões, B.F.; Mattos, A.G.; Tolón-Becerra, A.; Lastra-Bravo, X. B. Bulletin of Environmental Contamination and Toxicology. 2014, 92, 311. Neugschwandtner, W. 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