Projetos em curso - Lai-momo
Transcrição
Projetos em curso - Lai-momo
Revista de informação sobre desenvolvimento agrícola e rural nos países ACp http://spore.cta.int ENTREVISTA e Sean de Cleen sénior vice-presidente tional da Yara Interna MERCADOS DE NICHOS Para lá da certificação pRODUTOS LACTEOS Leite local vs. Leite em pó CONDIÇÕES DE TRABALHO Projetos em curso N°112 FEVEREIRO-MARÇO 2013 O comércio ACP analisado e decifrado http://agritrade.cta.int agritrade Informação actualizada sobre comércio agrícola e pescas nos países ACP-UE SUmáriO MERCADOS DE NICHOS ESpORO N° 112 - FEVEREIRO-MARÇO 2013 SEAN DE CLEENE Para lá da certificação 4 Em primEira página 12 O admirável mundo novo de África EnTrEViSTa CONDIÇõES DE TRABALHO Projetos em curso 13 4 6 7 8 9 10 11 12 | | | | | | | | DOSSiEr Em primeira página atualidades agricultura pecuária e pesca meio ambiente investigação negócios e comércio Entrevista 13 | DOSSiEr Condições de trabalho - projetos em curso Segurança e saúde no meio agrícola, um desafio permanente 17 | ponto de vista Tometo Kalhoulé – ratificar e legislar bem A África francófona na dianteira legislativa para proteger os trabalhadores agrícolas 18 | reportagem Mali – trabalhos agrícolas: atenção, perigo! Inquietações entre os pequenos produtores de algodão na região de Sikasso © International Labour Organization/J. Maillard 20 | Fileira Produtos lácteos – leite local vs. leite em pó 21 | publicações 25 | agir com o CTa é uma revista bimestral do Centro Técnico de Cooperação Agrícola e Rural (CTA). O CTA rege-se pelo Acordo de Cotonou entre o Grupo dos Países de África, das Caraíbas e do Pacífico (ACP) e a União Europeia, e é financiado pela uE. • EDITOR: CTA • Postbus 380 • 6700 AJ Wageningen, Países Baixos • Tel.: +31 317 467 100 • Fax: +31 317 460 067 • E-mail: [email protected] • Site Web: www.cta.int • EDITOR-CHEFE: Michael Hailu • CONSELHO EDITORIAL DO CTA: Thierry Doudet, Stéphane Gambier, Anne Legroscollard, Isolina Boto, Vincent Fautrel, José Filipe Fonseca, Krishan Bheenick • MARKETING: Thérèse Burke • REDAÇÃO: Diretor da redação e Chefe de redação da versão francesa: Joshua Massarenti • Vita Società Editoriale S.p.A., Via Marco d’Agrate 43, 20139 Milão, Itália • Chefe de redação da versão inglesa: Susanna Thorp (WRENmedia Ltd) • Fressingfield, Eye, Suffolk, IP21 5SA, Reino Unido • Chefe de redação da versão portuguesa: Ana Gloria Lucas, Rua Aura Abranches 10, 1500-067 Lisboa, Portugal • CORRESPONDENTES: M. Aka Aka (Costa do Marfim), O. Alawode (Nigéria), B. Bafana (Zimbabué), K. Bescombe (Trindade e Tobago), T. P. Cox (Reino Unido), S. Diarra (Mali), C. Docherty (Barbados), W. Gibbings (Trindade e Tobago), G. Kamadi (Quénia), J. Karuga (Quénia), O. Kiishweko (Tanzânia), M. A. Konte (Senegal), P. Luganda (Uganda), C. Nforgang (Camarões), C. Njeru (Quénia), J. Ojwang (Quénia), F. Pereira (Guiné-Bissau), P. Pink (Jamaica), P. Sawa (Quénia), S. Rantrua (França), F. Tafuna’i (Samoa), A. Twahirwa (Ruanda) e M. Waruru (Quénia) • COLABORADORES NESTE NÚMERO: N. Brynaert, S. Federici, ISO Translation & Publishing, D. Juchault, D. Manley, F. Mantione, C. Pusceddu, Tradcatts, G. Zati • DESIGN: Intactile DESIGN, França • EXECuÇÃO GRÁFICA: Lai-momo, Itália • IMPRESSÃO: Pure Impression, França • © CTA 2013 – ISSN 1011-0054 Editorial Investir na agricultura Quem é o maior investidor na agricultura dos países em desenvolvimento? Segundo o relatório da FAO, The State of Food & Agriculture 2012 (O Estado da Alimentação e da Agricultura 2012), os próprios agricultores são de longe os maiores investidores. Investem quatro vezes mais nas suas explorações agrícolas do que os governos e 50 vezes mais do que a ajuda estrangeira ao desenvolvimento. São investimentos em equipamento, canais da irrigação, plantação de árvores e casas de habitação nas herdades. Os estudos mostram que o investimento na agricultura é um dos melhores meios de reduzir a pobreza e a fome. Contudo, muitos governos não afetam orçamentos adequados ao seu setor agrícola, apesar das promessas feitas através de iniciativas tais como o Programa Global de Desenvolvimento da Agricultura Africana. O relatório apela a um aumento significativo, em quantidade e qualidade, do investimento e argumenta que os agricultores devem estar no cerne de qualquer estratégia destinada a aumentar a quantidade e qualidade do investimento na agricultura. Um clima de investimento motivador – incluindo um ambiente legal, político e institucional – bem como incentivos de mercado são essenciais para incitar o investimento dos agricultores e de outros investidores privados. O relatório evoca o tema delicado dos investimentos em grande escala na agricultura, especialmente por empresas estrangeiras, e sublinha que embora esse investimento possa oferecer oportunidades de afluência de capital, transferência tecnológica e rendimentos, pode também afastar os utentes das suas terras e ter impactos ambientais negativos. Para resolver tais problemas, é possível negociar contratos que ofereçam resultados positivos para a população local, os governos e investidores privados. Por último, o relatório apela aos governos e doadores para que ajudem os pequenos proprietários agrícolas a superarem as dificuldades graves, através de direitos de propriedade mais seguros, melhores infraestruturas rurais, seguro contra os riscos e organizações de produtores mais fortes. Michael Hailu Diretor do CTA FEVEREIRO-MARÇO 2013 | ESpORO 112 | 3 Em primeira página MERCADOS DE NICHOS Para lá da certificação Os programas de certificação, como é o caso do Comércio Justo e da certificação biológica, permitiram que os pequenos produtores se afastassem dos mercados de exportação massificados, em prol de nichos com maior valor acrescentado. No entanto, estes novos mercados estão também a atingir um ponto de saturação, o que obriga os produtores dos países ACP a desenvolverem os seus próprios nichos. S empre que os consumidores de 61 países compram produtos de cosmética à base de óleo de coco, na cadeia de lojas Body Shop, estão a utilizar uma matéria-prima proveniente de Samoa – uma ilha que, como muitas outras do Pacífico, lutou durante várias dezenas de anos para recuperar do colapso do comércio de copra. Atualmente, o óleo virgem de coco é produzido através da transformação do fruto inteiro em grandes explorações e o gigante da cosmética compra todo o óleo que os agricultores samoanos conseguem fornecer. Para além de abrir um novo mercado para uma cultura emblemática de Samoa, o produto permite aos agricultores recuperar uma parte mais significativa dos lucros e desenvolver uma marca nacional de elevada qualidade dentro desse mercado. Ao longo dos dois últimos decénios, estes e outros produtores tiveram acesso a mercados de nicho que valorizavam as características que, por norma, representavam uma desvantagem para os pequenos produtores no setor saturado do comércio de produtos de base. Durante este período, as certificações de produtos biológicos e de Comércio Justo tornaram‑se mesmo no símbolo do conceito de mercados de nicho. Mais de 6 000 produtos com certificação de Comércio Justo são, atualmente, vendidos em 25 países e, nos últimos dez anos, as vendas de produtos biológicos aumentaram para mais do triplo. Mais de um quarto das bananas e de um terço do açúcar vendidos nos supermercados ingleses têm o selo do Comércio Justo, incluindo as grandes marcas, tal como a marca de açúcar Tate & Lyle. Os produtos certificados, em contínua expansão no mercado, arriscam‑se a não conseguir manter durante muito mais tempo este estatuto de nicho. Quando as bananas de Comércio Justo provenientes de uma pequena ilha das Caraíbas são apresentadas ao lado de bananas bem mais baratas, com o mesmo selo de Comércio Justo mas comercializadas por exportadores com melhor organização, como o Equador, os clientes optam pelas mais baratas, com a consciência de que, mesmo comprando mais barato, contribuíram para apoiar o Comércio Justo. Os pequenos produtores veem‑se novamente no meio de um mercado onde a concorrência é feroz e que os marginaliza, chegando a ser penalizados pelos custos envolvidos no processo de obtenção do selo de certificação. A saturação destes mercados exige a adoção de abordagens mais criativas e diversificadas, permitindo a cada país e grupo de produtores definir o seu próprio nicho. Para serem mais competitivos, os produtos devem ir além da barreira da certificação, e devem 4 | esporo 112 | FEVEREIRO-MARÇO 2013 basear a respetiva rentabilidade em fatores como a transformação, a marca, as qualidades distintivas ou a origem exótica que, em conjunto, devem dirigir‑se a um leque de preferências e vínculos culturais mais vasto. Do produto de base até à marca Durante vários séculos, a cana‑de‑açúcar foi o combustível económico das Caraíbas, mas, hoje em dia, esta cultura, tão comercializada, parece oferecer poucas oportunidades de crescimento ou desenvolvimento. Os mercados do Comércio Justo e dos produtos biológicos tornaram‑se quase tão saturados quanto os mercados dos grandes setores de produção e, além disso, os produtos certificados mais baratos sobrepõem‑se àqueles que proveem de pequenos Estados insulares em vias de desenvolvimento. A West Indies Sugar & Trading Company (Wistco) dos Barbados abdicou destes selos de certificação e levou anos a criar a sua própria marca para o açúcar produzido na ilha. Existe a linha mais tradicional Plantation, vendida em muitas lojas das Caraíbas e do Reino Unido, bem como uma gama de qualidade superior, de cor âmbar, denominada Plantation Fábrica de produção de coco na Samoa Em primEira página Reserve, apenas disponível em supermercados gourmet. Segundo Chris Docherty, presidente da Wistco e diretor geral da Windward Strategic, que apoia outras empresas na construção de marcas para cadeias de abastecimento sustentáveis, a criação de marcas para produtos alimentares de base é particularmente difícil. Não foi fácil, nem rápido, nem barato criar uma marca atrativa para um produto tão simples quanto o açúcar, mas a Wistco descobriu que as competências particulares de que necessitava dependiam, também, do fenómeno da mundialização. «Recorremos aos serviços de um designer local para a elaboração das embalagens, a uma agência de relações públicas britânica para lançar uma campanha publicitária e a um web designer da Europa continental», explicou Docherty. A empresa, que apresenta lucros desde o quarto ano de existência, rende, atualmente, mais de 1 milhão de USD (774 000 €) à indústria do açúcar dos Barbados, obtendo lucros superiores aos dos mercados mundiais. Uma outra abordagem consiste na promoção de produtos e variedades locais junto das populações da diáspora que vivem em países desenvolvidos. É uma tarefa por vezes difícil. Em 2009, o governo do Estado de Nasarawa, na Nigéria, fez uma tentativa de exportação de inhame para o Reino Unido, mas os custos tornaram‑se insuportáveis e o projeto foi abandonado após a primeira época. Uma nova tentativa, mais bem coordenada – se fosse possível ultrapassar o problema dos custos de exportação, criar uma marca reconhecida e atribuir uma parte mais significativa do custo aos agricultores – poderia criar um canal comercial sustentável entre os nigerianos a viver no país natal e aqueles que residem no estrangeiro. O papel-chave dos governantes © Women in Business Development Inc Os vários produtores que encontraram um nicho seguro com os mercados certificados vão ter de diferenciar os seus produtos e valorizá‑los para além do selo de certificação. Serão exigidos mais esforços para que estas conquistas possam tornar‑se sustentáveis e transponíveis a uma maior escala. Às tentativas que focam, unicamente, o lançamento de marcas nacionais, falta-lhes os grandes investimentos, indispensáveis para desenvolver um novo nicho. Um dos fatores essenciais é um contexto favorável no que respeita às políticas. Os governantes podem contribuir para melhorar a disponibilidade e a qualidade das culturas, através de estratégias nacionais integradas para a agricultura, da facilitação das exportações, tornando-as menos dispendiosas, e da atribuição de financiamentos. Esta con‑ juntura poderia, mesmo, permitir às pequenas empresas a possibilidade de lançar produtos diferenciados – mais verosimilmente com o apoio do Estado, de ONG ou de investidores. Frequentemente, são necessários financiamentos iniciais para levar a bom caminho a transição para uma nova produção e estratégias de comercialização. Estes vão, provavelmente, tornar-se o principal domínio de intervenção para o investimento nacional, tal como os fundos de ajuda para o comércio que apoiam os países em vias de desenvolvimento no reforço das respetivas capacidades comerciais. A UE destina já uma parte do orçamento (10 mil milhões € por ano) para ajudar os produtores a respeitar as normas europeias de saúde e segurança. Para além destes incentivos, o apoio às estratégias comerciais únicas poderia ser ainda mais rentável. Nos países ACP, a exportação dos produtos de nicho é já apoiada por entidades como o CDE (Centro para o desenvolvimento empresarial), através do Acordo de Cotonou, e do COLEACP, uma rede interprofissional de apoio às trocas de produtos hortícolas sustentáveis entre os países ACP e a UE. No plano interno, os conselhos de promoção das exportações podem ajudar as empresas a identificar as necessi‑ dades e a selecionar os produtos que respondem de forma constante às normas de qualidade que garantem aos compradores. Será necessário que estas diversas formas de apoio garantam compromisso e visão. Serão necessários vários anos para que as novas iniciativas consigam vingar – e várias são aquelas que não conseguem fazê‑lo. Enquanto os programas de certificação prometem apaziguar as per‑ turbações nos mercados mundiais, os mercados de nicho recompensam os empreendedores dinâmicos. No entanto, para muitos agricultores, tal significa simplesmente um aumento dos custos e dos riscos. Se tal se refletir no futuro, os governantes dos países ACP, em colaboração com o setor privado, as ONG e os parceiros do desenvolvimento, devem elaborar cuidadosamente planos de ação para evitar que os agricultores enfrentem, sozinhos, todas as dificuldades. is a Para saber m IIED (Instituto Internacional para o Ambiente e o Desenvolvimento) Certificação favorável aos mais pobres: avaliação das vantagens da certificação de sustentabilidade para pequenos produtores da Ásia http://pubs.iied.org/14604IIED.html Marcas de produtos agrícolas: o caso do desenvolvimento para acrescentar valor através da marca http://pubs.iied.org/16509IIED.html Women In Business Development Orgulhosas da terra samoana http://tinyurl.com/at7aqte West Indies Sugar & Trading Company Produtor de açúcar das gamas Plantation Traditional e Plantation Reserve da ilha de Barbados www.wistco.co.bb Windward Strategic Ltd www.windwardstrategic.com Discurso do Alto Comissariado da Nigéria sobre o projeto Pepa-Yam para introduzir o inhame do estado de Nasawara no RU, 2009 http://tinyurl.com/ao87hed CTA Resumo – última atualização em 2012: diferenciação dos produtos http://tinyurl.com/d8d2ot4 FEVEREIRO-MARÇO 2013 | ESpORO 112 | 5 © M. DeFreese/CIMMYT ATUALIDADES FURACÃO SEGURANÇA ALIMENTAR Perspetivas animadoras As perspetivas agrícolas e alimentares no Sahel e na África Ocidental são globalmente boas, indicam a FAO e o PAM. De acordo com as primeiras estimativas, a produção cerealífera em 2012/13 no Sahel e na África Ocidental situar-se-ia entre os 57 e os 64 milhões de toneladas, ou seja, um aumento de 5 a 17% em relação à campanha agrícola de 2011/12. Na África Austral, uma seca prolongada resultou numa queda da produção cerealífera em 2012, nomeadamente no Lesoto. Pelo contrário, na África Oriental, a situação global da segurança alimentar começou a melhorar com o início das colheitas e chuvas abundantes. CLIMA Mulheres da Federação Nununa descascam frutos do karité PRÉMIOS Empresa social modelo ■■ A federação Nununa («Gordura natural», em dialeto nuni do Burquina Faso) figura entre os laureados da terceira edição dos Grandes Prémios das Finanças Solidárias. Estes prémios distinguem cinco projetos de grande utilidade social e ambiental e são atribuídos pela associação Finansol e pelo jornal francês Le Monde. Criada em 2001, a Nununa é uma cooperativa que agrupa 4 500 produtoras de sésamo e de manteiga de karité com o objetivo de unirem os seus conhecimentos e meios de produção para melhorarem a qualidade dos seus produtos e garantir a comercialização. Com o apoio da Tech Dev, uma associação especializada no apoio técnico às pequenas empresas africanas, e do fundo de investimento solidário Garrigue, a cooperativa ganhou a sua aposta. Anualmente, a Nununa exporta 100 a 150 toneladas de manteiga de karité certificada pela Fairtrade International (FLO), uma parte da qual é transformada em sabonetes e outros produtos cosméticos. Além do seu sucesso comercial, a federação distingue-se também por projetos sociais (centros de alfabetização para as mulheres rurais, apadrinhamento de órfãos, etc.) que justificam a escolha da Finansol e do Le Monde. 6 | esporo 112 | FEVEREIRO-MARÇO 2013 Desde 12 de outubro de 2012, os agricultores ruandeses podem beneficiar de um seguro contra os prejuízos ocasionados por condições climáticas extremas e registadas pelas estações meteorológicas montadas para o efeito. As oito estações já instaladas nas províncias do sul e do ocidente oferecem a 20 000 agricultores a possibilidade de subscrever este seguro a baixo custo. Numa primeira fase, abrangerá os produtores de milho e de feijão. POLÍTICA Reduzir as vulnerabilidades ■■ Semeando a destruição na Jamaica, nas Caraíbas, o furacão Sandy provocou milhões de euros de prejuízos em toda a ilha. O setor agrícola foi um dos mais afetados, com prejuízos equivalentes a mais de 11,8 milhões €. Mais de 20% dos grãos de café da variedade jamaicana Blue Mountain, mundialmente famosa, avaliados em 850 000 €, ficaram destruídos e o Ministério da Agricultura e Pescas calcula que tenham sido afetados mais de 37 000 agricultores. Para reativar o setor, o governo prometeu fornecer aos agricultores sementes, fertilizantes e pintos do dia. Um crédito de 770 000 € do People’s Cooperative Bank e donativos do Programa de Apoio à Banana, financiado pela UE, ajudarão os produtores de banana. A primeira-ministra Portia Simpson Miller afirmou: «Já antes do furacão nós enfrentávamos graves desafios económicos. Agora, temos de acelerar o nosso trabalho para garantir que estaremos mais bem preparados no futuro». Os Ministérios da Agricultura e do Trabalho e Segurança Social criaram também um sistema de vouchers para ajudar os pequenos agricultores e encorajar a replantação. As lições aprendidas com 120 agricultores e pastores envolvidos numa iniciativa em quatro regiões do Quénia vão fornecer recomendações políticas para tornar as comunidades menos vulneráveis às variações climáticas. O projeto centrou-se especialmente no modo como a utilização de previsões meteorológicas localizadas e orientadas pela procura poderão aumentar a produção de milho e sorgo pelos agricultores. Bananais devastados na Jamaica © JIS © Fédération Nununa Seguros agrícolas Ajudar os agricultores © G. Kamadi AGROECOLOGIA Tripla vitória A gestão dos nutrientes do solo e a melhor alimentação do gado ajudam os agricultores a melhorar a produtividade, a adaptar-se às alterações climáticas e a reduzir as emissões de gases de estufa, conclui um estudo conjunto do Instituto de Investigação Agrícola do Quénia, do Instituto Internacional de Investigação Animal e do Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares. John Otip obtinha 3 l de leite por dia das suas sete cabras, mas agora consegue 8 l, alimentando-as com capim Napier (Pennisetum purpureum) e Desmodium. As produções de milho passaram de 1 t por ha para 3,5 t graças ao cultivo associado com Desmodium, que capta o azoto e repele a praga da broca. AGRICULTURA ADVENTÍCIAS © IFAD/S. Beccio © CIRAD/P. Grard ■■ O Centro do Arroz para a África (AfricaRice) desenvolveu uma ferramenta interativa que permite identificar aproximadamente 200 espécies diferentes de adventícias de terras baixas na África Oriental e Ocidental. Esta ferramenta, apresentada em outubro de 2012, destina-se aos agrónomos, estudantes, associações de produtores e serviços de divulgação. A identificação faz-se com base em conhecimentos disponíveis on-line, off-line, em CD-ROM ou ainda graças a uma aplicação para telemóvel. «As adventícias são talvez o maior constrangimento à produção orizícola, pelo que se trata de um recurso precioso para todos os atores da investigação, da formação e do controlo das adventícias do arroz na África subsaariana, onde o total das perdas atribuíveis às adventícias está calculado em 1,1 mil milhões €», afirmou o Dr. Jonne Rodenburg, especialista em plantas daninhas, ao AfricaRice. Esta ferramenta foi concebida no quadro do projeto de investigação sobre as adventícias do arroz em África (AFROweeds), coordenado pelo Centro de Cooperação Internacional sobre Investigação Agronómica para o Desenvolvimento (CIRAD) e o AfricaRice, com o apoio da União Europeia e do Programa África, No Benim, a luta Caraíbas, Pacífico para a contra as adventícias ciência e a tecnologia. passa pelos tablets SEGUROS Apoio aumenta rendimentos O apoio do Banco Mundial e do Governo do Ruanda para recuperar e desenvolver zonas pantanosas do Ruanda levou à duplicação da produção de arroz, que passou de 3 para 6 t por ha. Graças à utilização de tecnologias aperfeiçoadas, incluindo a irrigação, os rendimentos de cerca de 50 000 agricultores triplicaram nos últimos três anos. A utilização de adubos, por exemplo, aumentou 34 – 86% desde 2001. O acesso ao mercado também aumentou, através da formação de cooperativas, sendo mais de 70% os agricultores que conseguem vender a sua produção, quase o dobro da média nacional. O projeto de Apoio ao Setor Rural faz parte de um plano do governo para revitalizar a economia rural. CAJU Preços por SMS ■■ Com o intuito de informar em simultâneo todos os atores da fileira e de promover a transparência, foi criado em 2009 na Costa do Marfim um sistema de informação do mercado da castanha de caju denominado SIMcaju. Financiado pela Comissão Europeia e pela Fondation de France, este projeto é liderado pela ONG RONGEAD e pelo Instituto Africano para o Desenvolvimento Económico e Social (INADES). Este último é responsável por reunir as informações sobre os preços locais, nacionais e internacionais do caju, para depois difundir, via SMS, conselhos aos produtores marfinenses sobre a gestão dos riscos comerciais (variações de preços, ausências dos parceiros, incumprimento de contratos, etc.). Isso permite adaptar os preços às cinco zonas de produção do norte do país. Duzentos e sessenta e nove produtores retransmissores recebem a informação e depois transmitem-na aos 8 500 produtores abrangidos pelo projeto. SIM-caju melhorou os preços de venda em 4% e os rendimentos dos produtores em 2,4%, ao mesmo tempo que reduziu em 6,3% o seu nível de pobreza, de acordo com a autoridade reguladora do algodão e do caju da Costa do Marfim (ARECA) e alguns beneficiários do projeto. Este constitui a base de uma bolsa do caju, do qual a Costa do Marfim é atualmente o primeiro exportador mundial. © IFAD/R. Chalasani Proteger as colheitas Doze mil agricultores quenianos seguraram os seus investimentos agrícolas contra o risco de perda das colheitas. Um plano de seguro contra intempéries com base num índice está a incentivar os agricultores a contrair empréstimos junto da Agricultural Finance Corporation, enquanto o seguro APA oferece cobertura contra perdas relacionadas com condições meteorológicas. Espera-se que mais de 20 000 agricultores adiram a este regime em 2013. ARROZ © RONGEAD Ferramenta interativa Na Costa do Marfim, a transformação do caju cria emprego para as mulheres GENÉTICA Milho resistente à seca Os agricultores do Zimbabué colheram a primeira cultura de SIRDAMAIZE 113, um novo híbrido lançado pelo Centro de Desenvolvimento e Investigação Científica e Industrial. Esta nova variedade é resistente a várias doenças importantes, nomeadamente o vírus estriado e as manchas das folhas do milho, só leva 136 dias a amadurecer e proporciona produções razoáveis mesmo em condições de seca. DOENÇAS Ameaça da broca dos ramos A broca do café, desconhecida no Uganda até 2004, afeta atualmente 35 dos 84 distritos produtores de café, causando o atrofiamento e a seca dos cafeeiros e reduzindo de modo importante a produção. Os agricultores foram aconselhados a pulverizar as plantas com inseticida para pôr fim à propagação da broca, que o Ministério da Agricultura e a Autoridade do Uganda Responsável pelo Desenvolvimento do Café referiram que se está a tornar rapidamente a principal ameaça para a produção de café no país. De acordo com o Dr. Africano Kangire, Diretor do Instituto Nacional de Investigação do Café, a broca do café já destruiu mais de metade dos cafeeiros nas zonas de cultivo do Robusta. FEVEREIRO-MARÇO 2013 | esporo 112 | 7 PECUÁRIA E PESCA LACTICÍNOS DIVERSIDADE Aproveitar ao máximo © ILRI/S. Mann De acordo com a FAO, 22% das raças animais mundiais estão classificadas em risco de extinção, embora os valores das respectivas populações muitas vezes não sejam referidos ou estejam desatualizados, dificultando o cálculo da verdadeira diversidade animal. Os países começam a implantar programas para inverter o declínio das raças indígenas, mas um novo estudo da FAO sugere que tais iniciativas não terão sucesso se for ignorado o papel das mulheres como guardadoras do gado indígena. As mulheres são as guardiãs da diversidade do gado, ainda que a sua contribuição para o melhoramento e conservação das espécies indígenas esteja muito pouco documentada e seja subestimada. GENÉTICA ■■ Duas variedades melhoradas de peixe, que crescem 30% mais depressa do que as espécies não melhoradas, estão a aumentar a produtividade e o rendimento dos piscicultores na África Setentrional e Ocidental. As variedades de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) – uma adequada para o Mediterrâneo (Abbassa) e a outra para a África Ocidental (Akosombo) – foram desenvolvidas no Egito e no Gana pela WorldFish e por parceiros locais. Um crescimento mais rápido do peixe significa maior receita para os criadores de tilápias e poderá ter importantes benefícios económicos para a indústria da aquicultura. «A resposta é extraordinária. A indústria da tilápia no Gana está a crescer enormemente com a nova variedade Akosombo», explica o Dr. Attipoe, do Instituto de Investigação da Água, que reproduziu esta variedade em parceria com a WorldFish. «Ao ritmo atual, prevê-se que a produção de tilápias no Gana aumente dez vezes até 2015.» Outros países da África Ocidental também estão a beneficiar, exportando o excesso de peixe para a Costa do Marfim e enviando os alevinos para o Burquina Faso e a Nigéria para reprodução. A variedade egípcia está a ser ensaiada em países mediterrânicos e regiões da Ásia Ocidental com clima semelhante. © WorldFish/S. Stacey Tilápia melhorada A tilápia do Nilo, um recurso precioso para o setor piscícola ganês CERTIFICAÇÃO Gosto por coelho Verifica-se uma elevada procura de carne de coelho, segundo um estudo de mercado local realizado pela Associação de Empresas Agroalimentares da Trindade e Tobago. Para participarem neste negócio, os agricultores têm de ter formação dada pela Associação dos Industriais de Cunicultura e receber a certificação que os identifica como agricultores, o que permite aos produtores receberem subsídios no âmbito do Programa de Incentivos à Agricultura do Governo. © R. Enslin BIOTECNOLOGIA Genoma do gado Nguni sequenciado O genoma de dez bovinos Nguni – uma raça indígena caracterizada pela sua resistência à doença e tolerância ao calor – foi sequenciado pela Plataforma de Biotecnologia, um projeto de sequenciação do ADN financiado pelo Conselho de Investigação Agrícola na África do Sul. Os dados serão partilhados através do 1000 Bull Genomes Consortium, um projeto comunitário global de investigação bovina que fornece informações sobre a variação genética da raça bovina no mundo inteiro. O Dr. Jasper Rees, chefe da Plataforma de Biotecnologia, afirma que o objetivo é descobrir as característias genéticas que permitem ao gado Nguni tolerar o calor e a doença e introduzi-las nas raças comerciais que produzem mais leite e carne. 8 | esporo 112 | FEVEREIRO-MARÇO 2013 ■■ O programa de comercialização de produtos lácteos das pequenas explorações no Quénia, já com seis anos, permitiu que pequenos produtores de leite aumentassem a sua resiliência à seca e os seus rendimentos. Financiado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola e implementado pelo Governo do Quénia, este programa ensinou os agricultores a gerir as pastagens, plantar variedades de forragens corretas, preservar a matéria seca das culturas e criar as suas próprias rações para aumentar a produção de leite em períodos de seca. Também foi promovido o regime sem pastagens, fazendo alguns agricultores os seus próprios silos de feno para reduzir o custo da compra de forragens no comércio. A produção de biogás permitiu não só a poupança de árvores pelos agricultores, mas igualmente que fertilizassem as suas hortas utilizando resíduos do biogás e melhorando assim a sua nutrição. Com 14 zonas de comercialização de produtos lácteos no Quénia, grupos de agricultores elaboraram planos comerciais quinquenais e alguns constituíram cooperativas leiteiras para transformar o leite ou explorar bares de leite. Um grupo lançou um sistema informal de «banca de mesa», enquanto outro acrescenta valor ao leite produzindo iogurte. Um quiosque de lacticínios no norte do Quénia © WRENmedia Papel das mulheres BOVINOS Potencial genético O Senegal está em vias de melhorar o potencial genético do seu gado bovino através de cruzamentos com raças de alto rendimento (Montbéliarde, Holstein, Jersiaise) importadas principalmente de França, da Índia e do Brasil. Com 3 000 vacas inseminadas anualmente durante uma dezena de anos, o movimento cresceu a partir de 2008. Atualmente, todos os anos, mais de 30 000 vacas são tratadas com taxas de gestação que chegam a atingir 47,7%. Face à fraca produção local e ao aumento da procura, o país depende ainda em grande medida das importações, estimadas em cerca de 91 milhões €. MEIO AMBIENTE PESTICIDAS TECNOLOGIA © P. Hoff ■■ Os pesticidas obsoletos armazenados na Tanzânia estão a ser eliminados no âmbito do Programa de Materiais Armazenados em África (ASP), que também visa impedir a futura acumulação de resíduos semelhantes, nomeadamente através da sensibilização para os perigos químicos. O programa visa os poluentes orgânicos persistentes – considerados como a forma mais tóxica de resíduos – e pesticidas que deixaram de ser utilizados ou já não são considerados eficazes. O ASP descobriu cerca de 700 t de resíduos agrícolas em 135 locais em toda a Tanzânia, dos quais mais de 100 t de pesticidas foram eliminados com êxito. O armazenamento de resíduos agrícolas foi atribuído a práticas inadequadas de aquisição, distribuição tardia, instalações de armazenamento inadequadas, deficiente gestão das reservas, doações que excediam as necessidades locais e proibições de produtos. A Tanzânia é um dos primeiros países a implementar a primeira fase do ASP; Etiópia, Mali, Marrocos, Nigéria, África do Sul e Tunísia seguem a mesma via. O ASP é apoiado pela FAO, Banco Mundial, WWF Antigo depósito e Rede de Ação relativa aos de pesticidas obsoletos Pesticidas. Plantações para zonas áridas Está a ser experimentada em África uma tecnologia de plantação biodegradável que reduz em 80% a utilização de água. Designada Groasis Waterboxx (GWB), esta tecnologia protege e rega as plântulas das árvores até o seu sistema radicular estar suficientemente desenvolvido para chegar às fontes de água subterrâneas, o que pode levar até dois anos, dependendo do ambiente e das espécies de árvores. A GWB foi utilizada em 18 000 árvores em Saragoça, Espanha, onde as temperaturas chegam aos 40 graus centígrados. A tecnologia também pode ser utilizada para cultivar árvores de fruto em terras áridas. Em África, a GWB está a ser ensaiada na região de Wukro, na Etiópia, e de Shanta-Abaq, no Quénia. A nível mundial existem mais de 100 000 GWB em uso. BIODIVERSIDADE FERTILIZANTE Uma questão de exaustão Está a ser experimentada na Tanzânia uma tecnologia inovadora, designada Bio-Agtive™, que converte as emissões nocivas de exaustão dos tratores em fertilizante. De acordo com o inventor canadiano Gary Lewis, a Bio-Agtive™ aumenta o carbono e o azoto no solo injetando gases refrigerados através das pontas dos semeadores nos espaços do solo. Mais de 170 agricultores utilizam atualmente esta tecnologia a nível mundial. RECURSOS GENÉTICOS © World Agroforestry © O. Kiishweko Lucros de plantas A Jamaica aprovou uma lei relativa à sua adesão ao Tratado Internacional sobre os Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura. Neste Tratado estão incluídas 64 culturas jamaicanas, nomeadamente inhame, coco e banana. Esta lei ajudará a proteger os recursos genéticos e permitirá que as populações locais beneficiem dos lucros resultantes do uso destas plantas. ÁRVORES Produção de fertilizante Um estudo de 12 anos realizado no Malawi e na Zâmbia pelo Centro Mundial de Investigação em Agrossilvicultura concluiu que o cultivo cruzado de milho com Gliricidia – uma «árvore-fertilizante» – produz colheitas mais estáveis do que aplicando fertilizante inorgânico ao milho sem cultura cruzada. A Gliricidia capta o azoto do ar e converte-o numa forma que pode ser utilizada pelas plantas. As folhas que caem aumentam a matéria orgânica no solo, melhorando a sua estrutura, resistência à erosão e capacidade de armazenamento de água. Os investigadores deste Centro Mundial e de instituições nacionais em África avaliaram e estão a promover a utilização de árvores-fertilizantes desde finais dos anos 1980. Novas áreas protegidas ■■ As Zonas de Proteção da Biodiversidade na Guiné-Bissau passarão de 15% para 25% do território em 2014, com a conclusão do projeto Áreas Protegidas de Nova Geração, em execução há ano e meio pelo Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP). O projeto visa criar dois parques no interior, Dulombi e Boé, com três corredores de ligação aos seis parques existentes nas zonas costeiras. Os novos parques preservam áreas ricas em fauna e manchas florestais, nomeadamente as florestas-galeria ao longo do Corubal, o maior rio de água doce do país. A Guiné-Bissau é um dos países do mundo com maior percentagem de território dedicada a reservas de biodiversidade. Em Moçambique, o governo aprovou a criação de uma área de proteção ambiental em redor das ilhas Primeiras e Segundas, no norte do país, que será a maior reserva marinha de África. A área, que abrange um milhão ha e se estende ao longo de 250 km de costa das províncias de Nampula e Zambézia, é rica em biodiversidade: comunidades de corais, prados de ervas marinhas, praias de desova da tartaruga verde e mangues. Os seus habitantes dedicam-se à pesca artesanal e foram eles que apelaram à conservação dos recursos, ameaçados pela pesca industrial e pelo turismo ilegal. A decisão do governo seguiu-se a um trabalho de oito anos do WWF. Os parques de Dulombi e Boé, nova área protegida na Guiné-Bissau © F. Pereira Tanzânia faz limpeza FEVEREIRO-MARÇO 2013 | esporo 112 | 9 INVESTIGAÇÃO TIC Plataforma informativa NUTRIÇÃO Para contrariar a malnutrição e as baixas produções de milho, o Centro Internacional de Melhoramento do Milho e do Trigo e o Sistema Nacional Tanzaniano de Investigação Agrícola lançaram um projeto para introduzir duas novas variedades de milho de alto valor proteico (QPM) para 24 000 agricultores. O QPM contém quase o dobro da proteína utilizável comparado com as variedades tradicionais de milho e produz 10% mais. Foi lançada no Zimbabué uma plataforma integrada de telefone móvel e informação pela web para facilitar o acesso e troca de informações fiáveis e oportunas sobre agricultura e desenvolvimento rural. Desenvolvida pela Knowledge Transfer Africa Ltd e pela Afrosoft Holdings, as características principais da eMkambo incluem uma lista de e-mail e uma base de dados de utilizadores, fornecendo informações sobre produtos de base agrícolas, fornecedores de insumos, instituições financeiras, previsões meteorológicas e empresas de transformação de alimentos. A plataforma, que funciona em todas as línguas locais do Zimbabué, já atraiu 31 000 utilizadores, incluindo agricultores, negociantes agrícolas, comerciantes e associações de agricultores. © C. Dhewa Milho mais proteico AFLATOXINA Vitamina A e zinco Aposta ganha ■■ Cientistas do Instituto Nacional de Investigação dos Recursos Agrícolas de Namulonge, no Uganda, estão em fase avançada de desenvolvimento de variedades de mandioca enriquecidas com vitamina A e começaram a investigar a introdução de zinco. A biofortificação – um processo de reprodução de novas variedades de produtos alimentares que contêm níveis mais elevados de vitaminas e minerais – procura dar resposta à subnutrição generalizada em micronutrientes, que pode conduzir à cegueira, atraso de crescimento, desenvolvimento deficiente e morte prematura. A deficiência de vitamina A constitui uma grave preocupação de saúde em países mais pobres, sendo responsável por mais de 600 000 mortes por ano de crianças com menos de cinco anos. De acordo com o Fundo da ONU para a Infância, vivem no Uganda 2,4 milhões de crianças de menos de cinco anos com atraso de crescimento. Em 2012, o governo nigeriano lançou três variedades de mandioca pró-vitamina A, criadas pelo Instituto Internacional de Agricultura Tropical em colaboração com o Instituto Nacional de Investigação das Culturas Radiculares. Espera-se que o consumo destas variedades pró-vitamina A ajudem a Nigéria a reduzir perdas de produto interno bruto calculadas em 1,1 mil milhões de €. ■■ No Senegal, a luta biológica travada desde 2010 contra a presença da aflatoxina no óleo de amendoim, na bacia do amendoim deste país, acaba de produzir os seus primeiros resultados. A experimentação permitiu reduzir em 90% a taxa de aflatoxina nos grãos, nos campos e nas áreas de armazenagem. Para Ablaye Ndiaye, chefe da Divisão de Sementes e Legislação da Direção de Proteção dos Vegetais, «este resultado, fruto de um método científico conhecido pelo nome de Aflasafe Sn01, baseia-se na utilização de um cogumelo não tóxico colocado em competição com uma estirpe dita virulenta que produz mais aflatoxina, para diminuir a taxa desta última nos grãos de amendoim nos campos». Altamente cancerígena, perniciosa para o homem e os animais, a aflatoxina é uma micotoxina produzida por cogumelos que proliferam em grãos conservados num ambiente quente e húmido. No seguimento destes resultados, um workshop organizado em novembro de 2012 em Dacar permitiu arrancar com o processo de divulgação da luta biológica no Senegal e no Sahel. O objetivo é procurar que o amendoim produzido na zona do Sahel corresponda às normas atuais de dois a três miligramas por grão, exigidos no mercado europeu. Seleção de novas variedades de mandioca DOENÇAS Café resistente Foram lançadas no Uganda sete variedades de café resistentes à traqueomicose para reativar a principal colheita de rendimento do país; mais de 50% dos cafeeiros foram destruídos pela doença. Foi celebrado um contrato com uma empresa privada de cultura de tecidos, a Agro-Genetic Technologies, para fornecer 2 milhões de plântulas de café por ano, embora sejam necessárias mais para satisfazer a procura. © G. Kamadi QUÍMICOS Combater a erva-de-bruxa Foram desenvolvidas pela Universidade de Maseno, no Quénia, novas variedades de milho que emitem químicos tóxicos que impedem o crescimento da Striga, também conhecida por erva-de-bruxa. Estas variedades de milho – Maseno EH 10, EH 11 e EH 14 – levaram 10 anos a desenvolver e a ser testadas no campo. São as primeiras na África Oriental e amadurecem 20 – 50 dias mais cedo do que as variedades convencionais, tendo sido aprovadas pela Inspeção Fitossanitária do Quénia. A Striga é uma planta parasita que se fixa às raízes de cereais, privando-os de nutrientes e provocando perdas todos os anos de cerca de 60 milhões de euros aos agricultores quenianos. 10 | esporo 112 | FEVEREIRO-MARÇO 2013 Um agricultor prepara-se para introduzir o Aflasafe SN01 numa cultura de amendoim © IITA © HarvestPlus BIOFORTIFICAÇÃO Negócios e comércio CONCORRÊNCIA Pimenta certificada © O. Alawode © C. Nforgang ■■ A pimenta de Penja (assim chamada a partir do nome de uma região no litoral dos Camarões), muito apreciada pelo seu aroma, está prestes a ser certificada. O caderno de encargos que serviu de base ao trabalho dos peritos e consultores contratados pelo Grupo Representativo da Denominação Geográfica Pimenta de Penja para obter a certificação foi aprovado pelo governo camaronês. A decisão dos produtores de Penja de certificar esta pimenta tem por objetivo travar a concorrência de pimentas produzidas noutras localidades do país ou importadas. Dada a sua notoriedade, os vendedores destas pimentas apresentam-nas sempre aos clientes como sendo pimenta de Penja. Graças ao apoio do centro de integração nos ofícios agrícolas e rurais (Cimar) e da Organização Africana da Propriedade Intelectual (OAPI), um grupo de produtores de Penja criou uma associação que, através de um «polo pimenta», conseguiu agrupar os viveiristas, produtores e distribuidores de Penja. O grupo levou depois a cabo o processo de identificação geográSecagem fica, condição sine qua non para de pimenta em Penja obter a certificação. MERCADOS Acesso ao crédito O Governo do Ruanda, em parceria com bancos comerciais, está a implementar uma nova abordagem para a concessão de empréstimos a juros baixos a cooperativas de agricultores em zonas rurais remotas, a fim de aumentar a sua produção e capacidade de acesso a modernas cadeias de mercados. Para impulsionar a autossuficiência nacional em termos alimentares e reduzir ao mesmo tempo as importações, o governo também criou fábricas de transformação de alimentos, por exemplo para transformar mandioca em farinha e soja em óleo vegetal. Estes novos equipamentos oferecem ainda um mercado para os agricultores locais, melhorando a sua capacidade para obter crédito e expandir as suas atividades geradoras de rendimento. TRANSFORMAÇÃO Caju de qualidade ■■ Para melhorar a competitividade da indústria do caju em África, a Aliança Africana do Caju (AAC) introduziu o selo de qualidade e sustentabilidade AAC. Este selo é uma marca aceite pela indústria e que demonstra o cumprimento das normas de qualidade e de segurança dos alimentos e normas sociais e laborais reconhecidas internacionalmente. Desde que o programa foi lançado em 2012, o selo já foi concedido à Tolaro Global do Benim e à Mim Cashew do Gana. «O selo AAC elevou-nos para um novo nível», refere Jace Rabe, PDG da Tolaro Global. «Só transformamos caju desde há alguns meses e já podemos competir com qualquer empresa.» Na sétima Conferência Anual da AAC em Cotonu, no Benim, Jeffery Read, da Agência americana de Medicamentos e Alimentação (FDA), salientou que as certificações de terceiros são cada vez mais importantes para determinar a segurança dos alimentos. «Acreditamos que o selo AAC oferece uma enorme oportunidade para satisfazer os requisitos da regulamentação da FDA», diz Dan Phipps, da Red River Foods dos EUA. «Os compradores reconhecem o valor do selo – há muito que o pediam», explica Jim Giles, Conselheiro da Equipa do Selo AAC. SEGURANÇA ALIMENTAR Promover a mandioca A Associação Nigeriana de Cultivadores de Mandioca selecionou 60 empresários para produzir farinha de mandioca para a reserva estratégica de cereais do governo. O Governo Federal da Nigéria também está a incentivar o aumento da produção de mandioca, para associar a respetiva farinha à farinha de trigo importada e fazer pão. Os incentivos incluem empréstimos a juros baixos e oportunidades de comprar insumos químicos a preços justos. O objetivo principal é capacitar os pequenos produtores de mandioca, que habitualmente obtêm preços baixos na venda de mandioca nos mercados locais ou a intermediários. A iniciativa reduzirá também as importações, poupando anualmente milhares de milhões de dólares em divisas. PIMENTA BIOLÓGICA Exportação aumenta A produção de pimenta biológica em São Tomé e Príncipe, destinada totalmente à exportação para França, atingiu em 2012 mais de 20 toneladas, o dobro do ano anterior. A Cooperativa de Produção da Pimenta faz desta atividade um meio de combate à pobreza, através de um projeto que abrange 26 comunidades agrícolas. O presidente da Cooperativa, António Pinto, afirma que, sendo o país pequeno e a produção também, a aposta deve ser feita na qualidade. CEBOLAS Impulsionar a produção A Agri Investment Corporation, da Jamaica, estabeleceu uma parceria com 60 cultivadores para criar agroparques, um conjunto de explorações individuais que se dedicam à produção de uma única cultura. O primeiro «parque de cebolas» visa impulsionar a produção e permitir que as cebolas cultivadas localmente possam concorrer no mercado dominado pelas importações. Os cultivadores pretendem produzir 2 milhões de € de cebolas em 2014. Estas seis páginas foram elaboradas com textos de: M. Aka Aka (Costa do Marfim), O. Alawode (Nigéria), B. Bafana (Zimbabué), K. Bescombe (Trinidade e Tobago), C. Docherty (Barbados), W. Gibbings (Trinidade e Tobago), G. Kamadi (Quénia), J. Karuga (Quénia), O. Kiishweko (Tanzânia), M. A. Konte (Senegal), P. Luganda (Uganda), C. Nforgang (Camarões), C. Njeru (Quénia), J. Ojwang (Quénia), F. Pereira (Guiné-Bissau), P. Pink (Jamaica), P. Sawa (Quénia), F. Tafuna’i (Samoa), A. Twahirwa (Ruanda) e M. Waruru (Quénia) FEVEREIRO-MARÇO 2013 | esporo 112 | 11 ENTREVISTA SEAN DE CLEENE © YARA O admirável mundo novo de África Sean de Cleene, vice-presidente sénior da Yara International, uma importante empresa de fertilizantes sediada na Noruega, e membro de «Uma Nova Visão para a Agricultura», uma iniciativa público-privada do Fórum Económico Mundial que visa promover estratégias de desenvolvimento agrícola sustentável centradas no mercado. Como encara os desafios e as oportunidades para que a África ajude a alimentar o mundo? Quase 1,2 mil milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de fome; um terço dessas pessoas vive em África e infelizmente muitas delas são os próprios agricultores. E, no entanto, de muitas maneiras, este desafio constitui o potencial de África. Nenhuma outra região do mundo tem a mesma extensão de terra arável disponível: 60% da terra arável que está por cultivar em todo o mundo (excluindo as terras florestais e sob cobertura natural) situa-se em África. A África tem também alguma das produções mais baixas do mundo e, no entanto, se duplicar essa produção – que equivale a atingir apenas metade da média mundial – a África conseguirá não só alimentar-se a si própria, como efetuar exportações significativas. Como empresário a operar em África, podia sentir-me muito pessimista, dados todos os desafios relacionados com a segurança alimentar ou a governação. Mas tem havido tantas mudanças nos últimos dois anos que estou realmente muito otimista; existe agora uma disponibilidade para encontrar de facto soluções. A África pode estar realmente no centro do crescimento económico global? The Economist afirma que sete das 10 economias de crescimento mais rápido entre 2010 e 2015 podem muito bem ser países africanos. A Nigéria e o Gana foram duas das economias de crescimento mais rápido em todo o mundo em 2011 e é provável que tenham voltado a sê-lo em 2012. Sinto-me provavelmente mais otimista hoje do que em qualquer outro momento dos meus últimos 15 anos, em que tenho vivido em África e trabalhado com o setor agrícola. Porquê? Porque vemos a África 12 | esporo 112 | FEVEREIRO-MARÇO 2013 Com 60% da terra arável do mundo por cultivar e a produção agrícola muito abaixo da média global, os países africanos têm a capacidade de dar um contributo significativo para o aumento da produção mundial de alimentos. O desenvolvimento de novas parcerias público-privadas para a produção agrícola e os sinais positivos de investimentos governamentais para apoiar a agroindústria criam uma perspetiva mais otimista para o futuro agrícola de África. começar a assumir o controlo do seu próprio programa de crescimento, a passar da agricultura como programa de desenvolvimento para a agricultura como indústria. Como poderá o desenvolvimento agrícola ser feito de maneira diferente? Uma das coisas animadoras que estão a acontecer é vermos os atores preparados para trabalharem em conjunto: ONG internacionais, sociedade civil local, doadores e empresas internacionais a unirem-se efetivamente em parcerias público-privadas inovadoras para trabalharem no desenvolvimento agrícola sustentável. Existem empresas que dedicam grande esforço a modelos de sourcing sustentáveis, aprovisionamento público local e produção em esquemas de produtores subcontratados em pequenas quintas. As parcerias estão a desenvolver sistemas que podem duplicar ou triplicar a produção, mas manter inalterável o impacto sobre a água e a pegada de carbono. Reconhecidamente, temos todos antecedentes muito diferentes e motivações muito diferentes para estarmos nisto, mas tenho visto um interesse sem precedentes em tentar encontrar a maneira de trabalharmos juntos e em como enfrentamos alguns destes desafios cruciais para alimentar o mundo. Os governos africanos estão a cumprir suficientemente a sua parte? 2013 assinala o marco dos dez anos da Declaração de Maputo, que compromete os governos a gastarem 10% do seu produto interno bruto na agricultura. Desde então, mais de metade dos governos africanos assinaram o Programa Integrado para o Desenvolvimento da Agricultura em África – a iniciativa pertencente a África e por ela liderada da Nova Parceria para o Desenvolvimento Agrícola – e agora existem mais governos a assumir esse compromisso dos 10%. Sob a designação «Grow Africa» (Crescer África), nove países, incluindo as economias de crescimento rápido, uniram-se para desenvolver estratégias de investimento agrícola que envolvam de facto os investidores locais e internacionais. Muitas destas estratégias centram-se na inclusão de pequenos agricultores em novas iniciativas empresariais. A Nigéria está a disponibilizar 120 milhões US$ (91 milhões €) do seu dinheiro através de um grupo de trabalho, para que os bancos financiem o desenvolvimento de sementes e um leque de outras tecnologias agrícolas. Isto não é o governo a dar dinheiro para fornecer sementes. É o governo a financiar um negócio empresarial para que tal aconteça. Em que altura podemos esperar a mudança? Creio que vamos estar neste ponto de viragem durante uns anos. A mudança não vai acontecer de um dia para o outro; vai necessitar de vários anos de empenho consistente. No entanto, se pudermos definir objetivos muito claros para um momento consensual depois de 2015, quando os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio chegarem ao fim, e afirmar que por essa altura já necessitamos realmente de ter alterado a situação; precisamos de já ter entrado em escala de uma maneira muito mais inclusiva e que tenha realmente a capacidade de mudar para melhor a maneira como a agricultura é praticada em África; então, acho que teremos conseguido verdadeiramente algo de notável. E penso que estamos prestes a consegui-lo. dossier Desde as grandes explorações às pequenas parcelas, as condições de trabalho (incluindo das crianças) são muitas vezes difíceis e perigosas: acidentes, problemas de saúde associados à má utilização de pesticidas, poluição do ambiente. A sua melhoria passa por uma ratificação mais ampla das convenções da OIT, um enquadramento jurídico mais rigoroso e a aplicação de políticas e de programas adequados de proteção dos trabalhadores agrícolas. Condições de trabalho ©© International Labour Organization/M. Crozet Projetos em curso 17 | Ponto de vista Tometo Kalhoulé: Ratificar e legislar bem 18 | Reportagem NO MALI Trabalhos agrícolas: atenção, perigo! FEVEREIRO-MARÇO 2013 | esporo 112 | 13 DOSSiEr D epois da greve dos mineiros, a África do Sul está confrontada, desde o início de novembro de 2012, com manifestações de trabalhadores agrícolas que também reclamam aumentos de salário. A maior parte destes trabalhadores ganha entre 69 e 75 rands (entre 6€ e 6,4€) por dia, remunerações que são das mais baixas do país. A isto acrescentam-se condições de trabalho e de alojamento frequentemente deploráveis, que a Human Rights Watch (HRW), uma associação de defesa dos direitos humanos, denunciou em agosto de 2011, num relatório sobre as ricas explorações frutícolas e vitícolas da região do Cabo. A HRW apontou o dedo à falta de alojamentos decentes, à exposição a pesticidas sem equipamento de segurança apropriado, à falta de acesso a instalações sanitárias ou a água potável no trabalho e aos esforços dos empre‑ gadores para impedirem os trabalhadores agrícolas de se sindicalizarem. Apenas um exemplo entre outros… porque nos países em desenvolvimento – mas não unicamente – a baixa remuneração e as condições de trabalho difíceis são muitas vezes a sorte comum dos trabalhadores agrícolas e dos pequenos agricultores. pobreza e trabalho infantil Esta situação de precariedade encoraja o trabalho das crianças nos campos e empurra as populações para as cidades. O setor agrícola emprega, só por si, cerca de 70% das crianças que trabalham em todo o mundo, segundo o Secretariado Internacional do Trabalho (BIT). «Algumas atividades agrícolas – como misturar e aplicar os pesticidas e utilizar certos tipos de máquinas agrícolas – são tão perigosas que devia ser proibido recorrer a crianças para as executar», indicou Parviz Koohafkan, Diretor da Divisão de Desenvolvimento Rural da FAO. No entanto, nem todas as tarefas realizadas pelas crianças prejudicam necessariamente o seu desenvolvimento. «Quando se fala de agricultura de subsistência e de agricultura familiar, a participação das crianças nas atividades agrícolas ajuda-as a adquirir técnicas preciosas, a ganhar confiança e a con‑ tribuir para a criação dos rendimentos da família, o que tem um efeito positivo nos seus próprios meios de existência», precisou ele. À escala internacional foram adotadas várias con‑ venções elaboradas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), a fim de lutar contra o trabalho das crian‑ ças, nomeadamente a Convenção n.º 138 sobre a idade mínima (1973) e a Convenção n.º 182 (1999) relativa à interdição das piores formas de trabalho das crianças. A primeira determina que a partir dos 12 anos podem ser tolerados trabalhos ligeiros, desde que não perturbem a escolaridade, assim como trabalhos que não pertençam à categoria dos «perigosos» para jovens com 15 anos e mais. A segunda convenção, por seu lado, visa eliminar as piores formas de trabalho das crianças, ou seja, as formas de escravatura ou práticas análogas, como a venda e tráfico de 14 | ESpORO 112 | FEVEREIRO-MARÇO 2013 crianças, a escravidão por dívidas e a servidão, o trabalho forçado ou obrigatório, assim como os trabalhos que pela sua natureza ou pelas condições em que são exercidos são suscetíveis de prejudicar a saúde, a segurança ou a moralidade da criança. Esta Convenção n.º 182 foi ratificada por 176 países, que a assinaram até abril de 2012. Dos países ACP, apenas a Eritreia, as Ilhas Marshall, a Somália e o Vanuatu ainda não rubricaram o documento. A situação das crianças diverge, no entanto, consoante as regiões ACP. Se as piores formas de trabalho das crianças não são consideradas como um fenómeno generalizado nas Caraíbas, o trabalho infantil na agricultura está presente em graus diversos. Um estudo sobre o tra‑ balho das crianças, realizado em 2005 pelo Serviço de Estatísticas da Guiana, revelou que as que trabalhavam Uma criança trabalha no campo no Burquina Faso © R. Faidutti DOSSiEr denunciadas regularmente, desde finais dos anos 1990, em inúmeras reportagens e em documentários. Mais de 250 000 crianças trabalham na fileira do cacau na África Ocidental, segundo o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (ITTA), e 60% dessas crianças têm menos de 14 anos. No seu relatório de 2000 sobre as práticas dos direitos humanos na Costa do Marfim, o Departamento de Estado norte-americano referiu numerosos casos de crianças vítimas de tráfico. Vendidas pelas famílias ou raptadas, estas crianças, na maior parte malianas, trabalham nas plantações de cacau costa‑marfinenses. Acusados de fechar os olhos, os industriais do chocolate foram obrigados a rever as suas políticas e a mostrar-se mais preocupados quanto às condições de produção das suas matérias-primas. A Nestlé lançou em 2009 um «plano Cacau», intitulado «Para uma melhoria das condições de vida dos cultivadores de cacau», mas a verdadeira vontade na luta contra as piores formas de trabalho das crianças sentiu-se verdadeiramente desde que o grupo encarregou a Fair Labour Association (FLA), em fevereiro de 2012, de investigar as suas fileiras de aprovisionamento na Costa do Marfim. No relatório final, publicado em junho do mesmo ano, a FLA faz recomendações pormenorizadas à Nestlé, ao governo e aos outros atores internacionais sobre a maneira de atenuar os riscos para os trabalhadores ao longo da cadeia de aprovisionamento mundial. O gigante suíço garantiu que se comprometia a respeitar estas recomendações. A parceria internacional de cooperação sobre o trabalho das crianças na agricultura (OIT, FAO, FIDA, GCRAI e UITA) acompanha os países na elaboração e implementação de políticas. No Mali, esta parceria apoiou a elaboração de um roteiro que define as ações prioritárias a rea‑ lizar, bem como um estudo sobre o trabalho das crianças nas fileiras do arroz e do algodão, cujo objetivo consiste em identificar alternativas viáveis. É dada especial aten‑ ção às tecnologias que permitem economizar mão de obra e às práticas agrícolas mais seguras. Saúde, segurança e ambiente nas explorações agrícolas estavam sujeitas à maior parte dos riscos do setor, incluindo «fortes cargas de trabalho, utilização inadequada de produtos agroquímicos e de utensílios de corte, assim como outros riscos físicos». Na maior parte das vezes o trabalho agrícola das crianças nas Caraíbas é feito no âmbito de uma exploração familiar ou, mais raramente, no quadro de uma atividade comunitária. Nas aldeias ameríndias da Guiana, por exemplo, as crianças fazem naturalmente parte das atividades agrícolas, da pesca e da caça da sua comunidade. a fileira do cacau apontada a dedo Noutras paragens, a situação é por vezes mais difícil. Por exemplo, as formas de trabalho a que as crianças são submetidas na fileira do cacau na Costa do Marfim são A agricultura é um setor que também pode ser perigoso para a saúde: numa estimativa total de 335 000 acidentes mortais que ocorrem por ano nos locais de trabalho em todo o mundo, cerca de 170 000, segundo a OIT, dizem respeito a trabalhadores agrícolas. Os riscos vão desde queimaduras em incêndios até acidentes com máquinas, passando pela intoxicação por pesticidas, adubos, combustíveis e pela exposição a poeiras. Segundo a FAO haverá meio milhão de toneladas de pesticidas obsoletos dispersos nos países em desenvolvimento e para esta organização constitui uma prioridade a sua eliminação através do Programa de prevenção e eliminação dos pesticidas fora do prazo de validade (PSMS). Os stocks ficam no local e muitas vezes deterioram‑se até contaminarem o ambiente e porem em perigo as FEVEREIRO-MARÇO 2013 | ESpORO 112 | 15 dossier populações. As mais afetadas são frequentemente as comunidades rurais pobres, que às vezes nem têm consciência da natureza tóxica dos produtos químicos a que são expostas diariamente. Mais vale prevenir que remediar informações sobre os perigos associados à utilização de tais produtos, sobre as precauções a ter na sua utilização e sobre as dosagens corretas. Ratificações inevitáveis A OIT reconhece que os trabalhadores agrícolas são uma população de risco no que se refere a certos cancros, doenças respiratórias e traumatismos, nomeadamente no quadro das grandes explorações. A nível internacional, a OIT promoveu em 2001 a Convenção sobre a segurança e a saúde na agricultura (n.º 184). Esta convenção define um quadro para a elaboração de políticas nacionais neste domínio com a participação das organizações de trabalhadores e de empregadores. Nela são propostas medidas de prevenção e de proteção relativamente à utilização de máquinas, à manipulação e transporte de objetos, à gestão de produtos químicos e ao contacto com os animais, bem como à construção e conservação das instalações agrícolas. Até ao momento esta convenção foi ratificada por 15 países, entre os quais o Burquina Faso, Fiji, o Gana e São Tomé e Príncipe no que se refere aos ACP. Ainda há muito por fazer para melhorar as condições de trabalho no setor agrícola, tanto a nível internacional com a ratificação das convenções da OIT relativas a esta questão, como a nível nacional através da adoção de um enquadramento jurídico e de políticas adequadas. Ao nível dos países, a OIT e a FAO colaboram no sentido de estabelecerem ligações nos domínios da proteção social e da segurança e da saúde no trabalho. No seu programa de extensão rural, nomeadamente © FAO/Y. Chiba No entanto, a partir de 2009 foram realizados inventários nacionais de pesticidas obsoletos nos países das Caraíbas. Assim, em junho de 2012 foi referenciado um stock de 260 toneladas de pesticidas fora de prazo nas Caraíbas, sem ter em conta a República Dominicana e o Haiti, que ainda não concluíram o respetivo inventário. Foi apresentado ao Fundo Mundial para o Ambiente (FMA) um pedido de financiamento de 7 milhões USD para eliminar estas cerca de 300 toneladas de pesticidas fora de prazo. Foram igualmente realizadas ações no Pacífico, onde o pessoal do Ministério dos Recursos Naturais e do Ambiente da Samoa recebeu formação sobre a avaliação ambiental, tal como receberam os agentes do Secretariado do Programa Regional do Ambiente para o Pacífico (SPREP). Está previsto na região um exame de todos os pesticidas homologados em cinco países-alvo, com a assistência técnica da Autoridade para os Pesticidas e Medicamentos Veterinários da Austrália (APVMA). Em África, a quantidade de pesticidas obsoletos é calculada em 50 000 toneladas, segundo a FAO, que participa no Programa África Stockpiles (ASP), lançado em 2005. Para além da eliminação dos stocks, é igualmente indispensável a prevenção. Os episódios de recrudescência acridiana em África exigem um combate de vasta envergadura, mas igualmente esforços para evitar, por um lado, que a campanha de luta contra os gafanhotos não provoque mais tarde um aumento dos stocks de pesticidas obsoletos e, por outro, reduzir o respetivo impacto sobre o ambiente. Os riscos que os agricultores dos países ACP correm nos domínios da saúde, segurança e ambiente são agravados pela falta de informação e de material de proteção. Estes agricultores também enfrentam Técnicos com novos perigos devido à utilização equipamento de crescente de produtos químicos, por proteção para o vezes muito tóxicos. Frequentemente uso de pesticidas (Madagáscar) os utilizadores nem têm acesso às Prevenção sem fronteiras Divulgar a cultura da prevenção do risco para trabalhar em condições decentes e garantir a competitividade da agricultura marfinense é o objetivo da ONG Préventeur Sans Frontière (PSF). Criada em 2005 por profissionais da saúde e segurança no trabalho, ela desenvolve um trabalho de sensibilização da sociedade civil para a prevenção de riscos profissionais, como os acidentes e as doenças, com o apoio do Secretariado Internacional do Trabalho (BIT) e da União Internacional dos Trabalhadores da Alimentação, Agricultura, Hotelaria, Restauração e Tabaco (UITA). Pouco a pouco, a PSF estendeu as suas intervenções a todos os setores de atividades, em vários países da África Ocidental. Na Costa do Marfim, interveio recentemente nas zonas agrícolas de Aboisso e Agboville, em três dezenas de localidades do sul do país, para informar os produtores dos perigos que o uso descontrolado de produtos fitossanitários pode representar para a sua saúde. Uma prevenção que foi acompanhada de módulos sobre a higiene, a alimentação e a saúde e de uma advertência quanto à reutilização de embalagens de produtos químicos. Para o presidente e fundador desta ONG, Paul Gode, um primeiro motivo de satisfação é a utilização, hoje em dia, de embalagens que tenham sido desintoxicadas antes de um eventual uso doméstico. 16 | esporo 112 | FEVEREIRO-MARÇO 2013 dossier © International Labour Organization/M. Crozet Agricultora etíope transporta 50 kg de madeira para aquecimento, para venda num mercado local NÚMEROS-CHAVE €6 é o salário médio diário de um trabalhador agrícola na África do Sul, um dos mais baixos do mundo. 250 000 260 4 crianças trabalham na fileira do cacau na África Ocidental. t de pesticidas fora de prazo foram referenciadas em junho de 2012 nas Caraíbas. países ACP ratificaram a Convenção n.° 184 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a segurança e a saúde na agricultura, que entrou em vigor em 2003. A PONTO DE VIST Tometo Kalhoulé é especialista em segurança e saúde no trabalho na equipa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que dá apoio técnico para um trabalho decente na África Ocidental. © ILO através de escolas práticas para agricultores, a FAO centra cada vez mais a sua intervenção nas questões relativas à segurança e à saúde no trabalho. As atividades de cooperação técnica da OIT relativas à segurança e à saúde na agricultura centraram-se na promoção nos países membros de atividades benévolas, participativas e baseadas na ação, a fim de melhorar as condições de trabalho e dos métodos de trabalho na atividade agrícola. Foi desenvolvido e implementado pela OIT um módulo de formação intitulado «Melhoria do trabalho no desenvolvimento local» (WIND, segundo o acrónimo inglês de Work Improvement in Neighbourhood Development). Este programa destinado a promover melhorias concretas nas famílias de agricultores através de iniciativas familiares é aplicado em África, na Ásia e na América Latina. Ratificar e legislar bem Que balanço faz da aplicação nos países africanos das convenções da OIT sobre o trabalho agrícola, em especial a Convenção 184? As convenções referentes à agricultura, nomeadamente a Convenção 129 relativa à inspeção do trabalho e sobretudo a Convenção 184 sobre a segurança e a saúde, foram ratificadas por muito poucos países. Na África francófona, por exemplo, apenas o Burquina Faso ratificou a Convenção 184. É por isso muito difícil fazer uma avaliação exaustiva das condições de trabalho no setor agrícola. Dito isto, os países adotaram mesmo assim leis para proteção dos trabalhadores agrícolas que relevam do Código do Trabalho. Os sindicatos agrícolas também têm um papel muito importante a desempenhar, nomeadamente no que se refere à sensibilização e ao acompanhamento da aplicação das normas internacionais no meio agrícola. Quais são os principais desafios que se colocam à aplicação destas convenções? Tomemos o exemplo da Convenção 184. É verdade que protege os trabalhadores agrícolas, mas exclui as pequenas explorações familiares. Outro desafio importante consiste na apropriação ilegal de terras agrícolas, um fenómeno em plena extensão em África. Alguns trabalhadores agrícolas que trabalham nestas terras adquiridas por estrangeiros, de natureza pública ou privada, não beneficiam de disposições referentes à segurança e à saúde no trabalho e que existem nos países francófonos. Quanto ao trabalho das crianças na agricultura, existem progressos a nível legislativo? Sim e são enormes. Muitos países africanos francófonos adotaram legislações para definir a proibição do trabalho de crianças, nomeadamente as piores formas de trabalho. Estas legislações são por vezes muito precisas, em especial contra a utilização de produtos químicos, como os pesticidas, ou os trabalhos humilhantes e degradantes. Estes esforços são importantes porque mesmo nas explorações familiares as condições de trabalho estão longe de ser fáceis. O que é que se sabe das condições de trabalho dos migrantes no setor agrícola? Em África, uma parte importante dos trabalhadores migrantes está em situação irregular. Por isso é difícil recolher informações precisas sobre as suas condições de trabalho. Tudo depende do tipo da empresa agrícola em que os migrantes trabalham. Se é legal, estando portanto submetida a controlos, as condições dos migrantes não diferem das dos trabalhadores agrícolas autóctones. A situação complica-se quando se trata de um subcontratante, porque não existem controlos em matéria de saúde e segurança e portanto há menos informações. FEVEREIRO-MARÇO 2013 | esporo 112 | 17 DOSSiEr REpORTAGEM NO MALI Trabalhos agrícolas: atenção, perigo! Situada no sul do Mali, a região de Sikasso cobre 95% da produção nacional de algodão, o que faz dela uma das mais prósperas do país no plano agrícola. No entanto, os pequenos produtores estão inquietos devido às condições de trabalho que ameaçam a sua segurança e a sua saúde. Incluindo a das crianças. O Os habitantes de Sokola querem deixar de ter estas preocupações de saúde, mas são pobres e têm de percorrer mais de 10 km para terem acesso aos serviços do médico mais próximo, na cidade de Bougouni. «Se te ferires com a lâmina de uma daba (espécie de enxada em Bambara, ndr) passarás o resto da época dos trabalhos agrícolas no quarto, porque não terás dinheiro suficiente para te trata‑ res», afirma Sibiry Coulibaly. As crianças trabalham como vaqueiros nos campos, participam nas colheitas e guardam os animais. São elas as primeiras vítimas das doenças e dos acidentes ligados aos trabalhos no campo, como as marradas dos bois de trabalho, feridas feitas pela daba ou intoxicação por inalação de produtos químicos. «Há mais de um ano um boi investiu contra o meu filho, ferindo‑o no ventre e tive de me endi‑ vidar para o tratar», disse-nos outro habitante da aldeia, Ali Diarra. © S. Diarra S Diarra s camponeses da aldeia de Sokola querem resolver os seus problemas de saúde. Desde o início da estação das chuvas, por volta do mês de junho e altura do início dos trabalhos no campo, até dezembro, eles veem-se indefesos face às lesões e às doenças associadas na maior parte das vezes às suas atividades. «É verdade que na aldeia existe um centro de saúde, mas está mal equipado, o que torna difícil o acesso aos cui‑ dados de saúde», explica Yadji Koné, sentado debaixo de um telheiro, virando por vezes o olhar para a multidão de jovens da aldeia que transportam bolas de algodão num contentor amarelo. Koné faz parte dos chefes de família que supervisionam o trabalho dos jovens. Nesta aldeia com algumas centenas de habitantes, situada cerca de 180 km a sul de Bamaco, são preocupantes os riscos sanitários e de segurança que os camponeses correm. 18 | ESpORO 112 | FEVEREIRO-MARÇO 2013 Em baixo: Aldeões de Sokola preparam fardos de algodão (à esquerda) que depois serão carregados em contentores (ao centro) para serem entregues à Companhia Maliana de Desenvolvimento dos Têxteis (CMDT) À direita: Flor de algodão dossier Na região de Sikasso, a atividade agrícola é a principal fonte de rendimento das populações. Um relatório publicado em 2011 pelo Ministério da Agricultura sobre o trabalho das crianças na agricultura indica que esta região «é a primeira zona para as culturas secas, com 37% da produção de milho painço e sorgo, 63% de milho, 13% de amendoim e mais de 95% de algodão». Segundo o mesmo relatório, «verifica-se que 17% dos inquiridos declararam ter estado doentes ou ter sofrido uma lesão pelo menos uma vez nos últimos 12 meses». O tratamento químico dos campos na zona de produção de algodão é outra fonte principal de doenças dos camponeses, em especial das crianças. «A ligação entre as condições de trabalho e estas lesões e doenças é feita por 43% das crianças inquiridas e 57% explicam-nas pelo paludismo, a humidade e diversas infeções que afetam todas as categorias da população», prossegue o relatório do Ministério da Agricultura. No entanto, no Mali, camponeses como Ali Diarra, de Sokola, recebem formação dada pela Companhia Maliana de Desenvolvimento dos Têxteis (CMDT) para sensibilizar os aldeãos sobre os meios para se protegerem dos produtos químicos que penetram pelos poros da pele. Todos os anos, serviços de enquadramento como o Office du Niger realizam campanhas de sensibilização divulgadas pelos meios de comunicação locais sobre os perigos da manipulação dos produtos químicos. E quando as autoridades nacionais recebem o apoio de organizações internacionais, os resultados podem revelar-se compensadores. No quadro de um programa da FAO sobre a gestão integrada da produção e das pragas na África Ocidental, um inquérito realizado no Mali em 65 aldeias de cultivadores de algodão sensibilizados em 2007-2008 revelou uma redução de 94% da utilização de pesticidas químicos. Na aldeia de Sokola mantém-se a esperança, incluindo por parte das crianças. Soumaila T. Diarra ais Para saber m FAO Parceria internacional de cooperação sobre o trabalho das crianças na agricultura, lançada em 2007, entre a FAO, FIDA, OIT, GCRAI, FIPA e UITA http://tinyurl.com/cl9wmjg Programa de prevenção e eliminação dos pesticidas fora de prazo http://www.fao.org/agriculture/crops/obsoletepesticides/accueil/fr/ Através deste programa, a FAO colabora com os países em desenvolvimento para impedir a acumulação de pesticidas fora do prazo de validade e para destruir os stocks existentes. Programa de Gestão Integrada da Produção e das Pragas na África Ocidental Programa de gestão e de luta integrada da FAO para a proteção das culturas através de uma utilização mínima de pesticidas. http://tinyurl.com/canoa3h Relatório do Serviço Nacional de Informação e de Partilha sobre o Trabalho das Crianças na Agricultura no Mali, Bamaco, 8-9 de dezembro de 2011 http://tinyurl.com/crpogp2 Human Rights Watch South Africa: Farmworkers’ Dismal, Dangerous Lives Workers Protected by Law, but Not in the Fields (relatório publicado em agosto de 2011, apenas em inglês) http://www.hrw.org/node/101158 IER Instituto de Economia Rural (Ministério da Agricultura da República do Mali) O trabalho das crianças na agricultura no Mali. Estudo de casos nas fileiras do arroz e do algodão, relatório final, dezembro de 2011 http://tinyurl.com/bryatg5 http://www.ier.gouv.ml/ Nestlé Esta multinacional suíça, que é um dos principais atores do mundo no setor agroalimentar, associa-se à Fair Labor Association para lutar contra o trabalho das crianças na fileira do cacau na Costa do Marfim http://tinyurl.com/d6cwdup Organização Internacional do Trabalho (OIT) Evolução do processo de ratificação das convenções da OIT http://tinyurl.com/cyxeguq © D. Bigand © S. Diarra OIT/Bureau regional para África Segurança e saúde na agricultura. Convenção 184/Recomendação 192 http://tinyurl.com/cudktcf FEVEREIRO-MARÇO 2013 | esporo 112 | 19 Fileira Produtos lácteos Leite local vs. leite em pó Q uer seja nos supermercados ou nos pequenos comerciantes de Dacar, os produtos lácteos Dolima ocupam um lugar de destaque na secção dos frescos. Além disso, são bem mais acessíveis do que os iogurtes importados. Esta é também uma história de sucesso. Fundada em 2005, por Bagoré Bathily, um jovem empresário senegalês, a empresa familiar La laiterie du Berger (LDB) esforça-se no sentido de valorizar e desenvolver a produção de leite da região de Richard Toll (no norte do Senegal). Atualmente, esta empresa recolhe mais de 2 500 litros de leite por dia. O sucesso da LDB deve-se ainda aos apoios financeiros (Agência Francesa para o Desenvolvimento, Fundo I&P) e ao acompanhamento prestado pela Danone que, para além da disponibilização de capital, partilhou a sua experiência a nível de distribuição e marketing. Hoje em dia, os resultados de todos estes esforços são visíveis, não só nos centros urbanos, como também nas zonas rurais. Para além de garantir um rendimento regular aos criadores de gado das zonas rurais do norte do país, a LDB apoia-os através do fornecimento de alimentos para os animais, enquadramento técnico e serviços veterinários, entre outros. Contudo, o exemplo da LDB é uma exceção à regra. As empresas de transformação do leite nos países da África Ocidental e central recorrem, maioritariamente, ao leite em pó importado. Esta situação criou uma dependência face ao exterior e não favorece o desenvolvimento local da criação de gado. Em contrapartida, as empresas que trabalham a partir do leite em pó dispõem de uma matéria-prima homogénea e facilmente armazenável, o que facilita o trabalho. Na maioria dos casos, o leite local destina-se ao autoconsumo ou a uma comercialização de proximidade. 20 | esporo 112 | FEVEREIRO-MARÇO 2013 © ILRI/D. Elsworth Ainda que o leite em pó importado continue a ser a fonte de abastecimento privilegiada das empresas de laticínios locais e dos consumidores dos países ACP, tal não deve constituir um entrave ao desenvolvimento de um setor local, o qual tem grandes hipóteses de ser bem-sucedido. Ainda que, entre 2005 e 2010, a produção de leite nos países da África subsariana tenha registado um aumento, passando de 17,4 para 21,8 milhões de toneladas, nesse mesmo período, houve também um crescimento das importações, de 2,5 para 3,1 milhões de toneladas de equivalente de leite. Resultado: a oferta de produtos lácteos não é suficiente para colmatar uma procura cujo aumento se deve, em parte, à forte urbanização dos países africanos e às consequentes alterações dos regimes alimentares. Apesar de a produção de leite ter aumentado para o dobro, entre 1981 e 2006 (passando, em média, de um para dois milhões de litros por ano), o nível de autossuficiência dos países da África Ocidental não ultrapassa os 50%. O desenvolvimento dos setores foi limitado por uma política de apoio aos consumidores citadinos, que consistia na redução dos direitos aduaneiros sobre o leite importado ou na facilitação da respetiva importação. A somar a este fator estão as deficiências estruturais, como a falta de infraestruturas rodoviárias entre os centros de produção e de consumo, a fraca produtividade do gado leiteiro e a dispersão dos produtores e respetiva desorganização, que representam verdadeiros travões ao desenvolvimento do setor. Alguns países, como o Burquina Faso ou o Mali, adotaram programas nacionais para promover o setor dos laticínios local sem, no entanto, considerar os pequenos produtores, lamenta a FAO no estudo Pro-Poor Livestock Policy Initiative, publicado em 2012. Contudo, a procura de leite a nível mundial aumenta 15 milhões de toneladas por ano, essencialmente em países em vias de desenvolvimento. O Quénia dá o exemplo Venda de leite no Quénia, país-modelo para o desenvolvimento da fileira de lacticínios local Alguns países, como o Quénia, a Tanzânia ou a África do Sul, decidiram já há algum tempo investir no desenvolvimento do setor local, cujo foco direto é, por vezes, o leite em pó. Depois de, em 2005, o Quénia ter aumentado para 60% os respetivos direitos aduaneiros sobre o leite importado, este leite ficou muito mais caro do que o de produção local. No entanto, ainda que a aplicação de uma taxa significativa sobre o leite em pó seja eficaz no Quénia, que dispõe de um setor bem estruturado, o mesmo não se verifica em muitos dos outros países. «No caso do Quénia, o país tem vindo a suportar o desenvolvimento do setor desde 1950, apoiando a criação rural de gado. O Quénia contava com os meios políticos necessários. Teve a possibilidade de aumentar os impostos sobre a importação de leite, uma vez que a produção de leite local era significativa e estava disponível para recolha», relembra Guillaume Duteurtre, investigador do Cirad (Centro de Cooperação Internacional de Investigação Agronómica para o Desenvolvimento). «O debate sobre as tarifas aduaneiras não deve esconder as verdadeiras implicações atuais do setor dos laticínios. Estas acarretam necessariamente o envidamento de esforços para desenvolver a produção local dos criadores de gado periurbanos e dos agropecuários de zonas rurais», continua Duteurtre, concluindo que «a questão dos direitos aduaneiros é essencial, mas, infelizmente, a substituição do leite em pó pelo leite local não será possível a curto prazo». pUBLiCaÇÕES Referência para o cultivo de tubérculos Inovar para aprender melhor Apprendre à innover dans un monde incertain: Concevoir les futurs de l’agriculture et de l’alimentation Practical Handbook for Managing Cassava Diseases, Pests and Nutritional Disorders De E. Álvarez, A. Bellotti, L. Calvert, B. Arias, L. F. Cadavid, B. pineda, G. Llano e M. Cuervo CIAT/CLAYUCA/CTA, 2012, 120 págs. ISBN 978-95-8694-113-6 CTA n.º 1713 5 unidades de crédito Cassava in the Third Millennium: Modern Production, Processing, Use and Marketing Systems De B. Ospina e H. Ceballos CIAT/CLAYUCA/CTA, 2012, 584 págs. ISBN 978-95-8694-112-9 CTA n.º 1712 80 unidades de crédito Como alimento ou como matéria-prima para as indústrias das rações e do amido, a produção de mandioca nos trópicos apresenta muitas vantagens sobre o seu rival, o milho. A tolerância à baixa fertilidade do solo, à acidez e à seca são alguns atributos de uma cultura que é sinónimo de estabilidade, mesmo em condições climáticas extremas. Mas, apesar das vantagens naturais, a mandioca precisa de ser Economias Verdes @ mais competitiva, com cultivares mais produtivos, que correspondam às diferentes necessidades da indústria e dos consumidores, fortalecimento de novos mercados e acréscimo de valor, tal como um maior desenvolvimento de variedades ricas em nutrientes. Este volume exaustivo, uma atualização da publicação de 2002 La Yuca en el Tercer Milenio, resume os conhecimentos atuais sobre o cultivo e pesquisa da mandioca, incluindo a prática agronómica, abordagens à gestão de pragas e doenças, métodos melhorados de cultivo e operação no terreno e tecnologias de gestão póscolheita para os diferentes mercados. É complementado com um manual prático para ajudar à identificação das principais pragas, doenças e distúrbios nutricionais da mandioca. Sustentabilidade Com mais de 50 milhões de habitantes, os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (PEID) tendem a ser extremamente vulneráveis aos choques ambientais e económicos devido à sua elevada dependência do comércio internacional e do turismo, aos elevados custos dos transportes e comunicações e à alta densidade populacional. Para melhorar a resiliência dos PEID, esta nota informativa sublinha a importância de as pequenas ilhas fazerem parte da economia verde global, aumentando o seu poder através da unidade, diversificação económica, agricultura convencional e contendo a «fuga de cérebros». Para satisfazer as necessidades da população mundial em rápida expansão, os agricultores terão de produzir nos próximos 40 anos tantos alimentos como produziram nos últimos 8 000. Cumprir este desafio será ainda mais difícil devido às mudanças climáticas. Este texto apela aos governos para que promovam políticas e incentivos financeiros que encorajem a agricultura inteligente em termos climáticos e a investigação sobre as melhores maneiras de ajudar os agricultores a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e a adaptar-se às mudanças climáticas. Building Resilience in Small Island Economies: From Vulnerabilities to Opportunities Promoting Climate-Smart Agriculture in ACP Countries @ De E. Coudel, H. Devautour, B. Hubert e G. Soulard CTA/Ed. QUAE, 2012, 248 págs. ISBN 978-2-7592-1858-5 CTA n.º 1711 15 unidades de crédito Inovações e sociedades – Que agriculturas? Que inovações? foi o título de um seminário internacional organizado em 1993 por três instituições francesas de pesquisa (CIRAD, INRA e IRD) sobre o tema da inovação, os seus processos e os efeitos que tem sobre os centros de pesquisa agrícola e a sociedade no seu conjunto. Passados 20 anos, o mundo está abalado por uma crise sistémica de fatores múltiplos (mudanças climáticas, crise alimentar, pressão crescente sobre os recursos renováveis) que incita os atores rurais a experimentar novos modos de produção, transformação e distribuição dos produtos agrícolas numa visão global e sustentável. Um desafio assim não podia dei‑ xar indiferente o mundo da investigação. Esta obra, coeditada pelo CTA e as edições Quae, é o resultado dos debates efetuados num simpósio sobre a inovação e o desenvolvimento sustentável (ISDA 2010), sob coordenação do CIRAD, INRA e Montpellier SupAgro. Através das análises conceptuais sobre a inovação e experiências locais geradoras de desenvolvimento, investigadores e representantes institucionais procuram explorar novas vias e construir novos conhecimentos, encorajando o aparecimento e a coexistência de diferentes modos de agricultura e sistemas alimentares. Comércio agrícola @ Esta nota de síntese do Agritrade, o site de referência para as questões do comércio agrícola e pesca dos países ACP, é dedicada às numerosas iniciativas que têm sido lançadas em matéria de integração comercial regional na África Austral e Oriental, duas regiões particularmente vulneráveis à seca e à volatilidade dos preços. Os autores passam também em revista as negociações comerciais e a aplicação dos acordos comerciais ou as discussões sobre a política agrícola regional. De J. Haskins CTA, 2012, 4 págs. CTA n.º pB008E De C. pye-Smith CTA, 2012, 4 págs. CTA n.º pB009E Afrique orientale et australe : enjeux liés au commerce agricole pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/bhdj5bh pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/c5zc6w8 pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/ak3tunx CTA, Nota de síntese Agritrade, novembro 2012, 19 págs. FEVEREIRO-MARÇO 2013 | ESpORO 112 | 21 pUBLiCaÇÕES pUBLiCaTiOnS Os jovens tomam a palavra Emerging Voices in ICT and Agriculture CTA, 2012, 54 págs. ISBN 978-92-9081-502-0 CTA n.º 1728 5 unidades de crédito pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/clvqa54 @ Com o desemprego entre os jovens a atingir níveis críticos na maioria dos países ACP, raros são aqueles que veem a agricultura como uma opção profis‑ sional atraente. Alguns, no entanto, contrariam esta tendência, como demonstra a nova brochura publicada pelo CTA no quadro do projeto Agricultura, Desenvolvimento Rural e Juventude na Sociedade da Informação (ARDYIS). Este documento apresenta as opiniões e experiências de 20 jovens e três organizações e mostra como o recurso às TIC na agricultura oferece perspetivas promissoras, abrindo caminho a uma nova geração de jovens agricultores dinâmicos. A brochura inclui ainda resumos dos melhores ensaios apresentados ao concurso Que soluções para os desafios da agricultura e do desenvolvimento rural na era das TIC? A palavra é dos jovens!, organizado em 2012, e descreve os resultados do concurso de blogs sobre os jovens e a agricultura (YoBloCo Awards), do mesmo ano. O CTA está convicto de que, entre os jovens que aparecem nesta brochura, se contam os líderes do amanhã em matéria de desenvolvimento agrícola e rural nos países ACP. Alguns marcam já a diferença nas suas comunidades e subirão ainda a novos patamares no futuro. Financiamento Para ajudar a traçar a política agrícola futura e as diretivas para a investigação, este trabalho sintetiza os conhecimentos sobre o impacto dos investimentos públicos na agricultura nos países em desenvolvimento. Sublinha, por exemplo, o potencial dos investimentos agrícolas para um efeito positivo na saúde e na nutrição, demonstrando que os programas de biofortificação são particularmente eficazes em termos de custos. The Impacts of Public Investment in and for Agriculture 22 Escrever sobre ciência Living with the Trees of Life: Towards the Transformation of Tropical Agriculture Scientific Writing for Agricultural Research Scientists: A Training Resource Manual De R. Leakey CABI, 2012, 200 págs. ISBN: 978-17-8064-098-3 27,50 £ • 34 € CABI publishing Nosworthy Way Wallingford Oxfordshire OX10 8DE, RU Fax: +44 (0) 1491 829198 www.cabi.org Editado por A. Youdeowei, p. Stapleton e R. Obubo CTA, 2012, 192 págs. ISBN 978-92-9081-506-8 CTA n.º 1700 20 unidades de crédito É essencial escrever sobre ciência de maneira eficaz, não só para progredir na carreira, como para garantir que os resultados da investigação são divulgados e utilizados. Preparar um ensaio para publicar numa revista científica pode ser um desafio assustador e as inúmeras convenções a respeitar não são a menor das dificuldades. Mas o guia bem estru‑ turado que aqui é apresentado, completado com sugestões para atividades de formação, deve incutir confiança em quem escreve um ensaio pela primeira vez ou procura melhorar o seu nível de aceitação. Este manual explica, em linguagem clara e acessível, os pormenores técnicos para uma escrita eficaz sobre ciência. Os temas incluem: a escolha do público-alvo e da revista mais apropriada para chegar até ele; a identificação dos «resultados significativos»; como compreender as principais secções de um ensaio; linguagem e estilo; o uso de tabelas e ilustrações; estatísticas informativas; e como fazer citações e referências. Outros capítulos analisam as apresentações orais, a elaboração de cartazes, propostas e relatórios, a publicação on-line e a comunicação com audiências sem conhecimento científico. Biocombustível A procura global de bioenergia cresce rapidamente devido às políticas de atenuação das mudanças climáticas e ao aumento dos preços do petróleo. Criam-se assim novas oportunidades para gerar receitas e melhorar o acesso à energia em áreas rurais, mas o desenvolvimento da bioenergia também pode ter impactos negativos, p. ex., exercendo pressão sobre a água e a terra. Este relatório pretende ajudar os governantes a compreender e gerir os riscos e as oportunidades do desenvolvimento da bioenergia sobre a segurança alimentar. Impacts of Bioenergy on Food Security De T. Mogues, B. Yu, S. Fan e L. McBride IFpRI, 2012, 72 págs. Editado por H. Thofern e A. Rossi FAO, 2012, 60 págs. ISBN 978-92-5107-151-9 pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/bko5e8b pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/c54dohz | ESpORO 112 | FEVEREIRO-MARÇO 2013 Silvicultura ■ Com a população mundial a duplicar uma e outra vez nos últimos 100 anos, a agricultura tem conseguido satisfazer a procura crescente de alimentos. Mas isso tem tido um preço elevado, com os solos a ficarem empo‑ brecidos e desgastados e as reservas de água comprometidas, enquanto muitas pessoas continuam pobres, mal alimentadas e famintas. Como transformar a agricultura para conseguir uma produção maior, mas sem aqueles custos ambientais e humanos, é o desafio a que Living with the Trees of Life dá resposta. O livro comenta os êxitos e deficiências da agricultura moderna, antes de analisar de que maneira a incorporação de árvores nos sistemas agrícolas – agro‑florestação – pode compensar a falta de nutrientes do solo, enquanto uma melhor gestão da água pode travar a erosão e utilizar melhor a humidade existente, tudo em benefício de produtores e consumidores. Os sistemas de agro‑flores‑ tação são um pequeno contributo, mas proporcionam resultados potencialmente muito melhores do que muitos sistemas de cultivo amplamente praticados. O único obstáculo à adoção mais generalizada desta prática, argu‑ menta Leakey, é a falta de vontade política e de políticas adequadas. Estados insulares @ O oitavo número das Notas políticas do CTA é dedicado aos pequenos Estados insulares. Estão identificados 52 em todo o mundo, dos quais 43 nas regiões das Caraíbas e Pacífico. Apesar da sua extrema vulnerabilidade às mudanças climáticas e ao comércio mundial, os autores defendem que a partilha de experiências, de boas práticas e a exploração de pontos em comum permitirá a estes Estados resistir melhor aos choques ambientais e económicos. Développer la résistance des petites économies insulaires : des vulnérabilités aux opportunités CTA, Nota Política n.º 8, novembro 2012, 4 págs. pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/bzllf9k pUBLiCaÇÕES pUBLiCaTiOnS A aposta no mar Géopolitique maritime du Golfe de Guinée au XXIème siècle Investir na agricultura Nos próximos 40 anos, a população de África deve duplicar. Anualmente, mais 10 milhões – em breve serão 20 milhões – de jovens entram no mercado de trabalho, mas dezenas de milhões de africanos rurais já não têm trabalho ou não têm o suficiente para sair da pobreza. Este texto propõe medidas para aumentar o emprego, incluindo políticas governamentais para estimular o crescimento dos sectores agrícola e não agrícola nas zonas rurais, o investimento na educação e formação profissional e a igualdade de oportunidades para as mulheres. @ Increasing Rural Employment in sub-Saharan Africa De R. Thurow public Affairs, 2012, 304 págs. ISBN 978-16-1039-067-5 26,99 USD • 21 € public Affairs 1094 Flex Drive Jackson, TN 38301 EUA Fax: +1 800 351 5073 www.publicaffairsbooks.com FAO, 183 págs. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura Viale delle Terme di Caracalla 00153 Rome (Itália) Fax : +39 06 57053360 www.fao.org/publications/sofa/fr/ Éditions L’Harmattan 5-7 rue de l’École polytechnique 75005 paris, França Fax: +33 (0)1 43 25 82 03 www.editions-harmattan.fr meios de vida The Last Hunger Season: A Year in an African Farm Community on the Brink of Change La situation mondiale de l’alimentation et de l’agriculture (2012). Investir dans l’agriculture pour un avenir meilleur De S. S. Ndutumu Ed. L’Harmattan, 2012, 156 págs. ISBN 978-2-336-00897-4 15,20 € ■ O Golfo da Guiné, que inclui os oito Estados membros da Comissão do Golfo da Guiné (CGG) – Angola, Camarões, Congo, Gabão, Guiné Equatorial, R. D. Congo e São Tomé e Príncipe – é uma das regiões africanas onde as transformações do mundo pós-Guerra Fria e pós-11 de setembro de 2001 são mais marcadas, sob os efeitos conjugados da corrida aos recursos energéticos e haliêuticos, da luta contra a pirataria e das mudanças ligadas ao boom do tráfego marí‑ timo de contentores. Ficamos a saber que, apesar do enorme potencial, as repercussões económicas da pesca industrial e semi-industrial (realizada principalmente por frotas estrangeiras) não beneficiam suficientemente os Estados da sub-região e menos ainda as populações locais. É verdade que países como a Nigéria (primeira potência sub-regional) e os Camarões (cujo porto de Douala desempenha um papel de primeiro plano) vão defendendo os seus interesses, mas há muito por fazer. O autor propõe soluções a favor de um desenvolvimento sustentável e coerente, nomeadamente em termos de controlo e gestão das zonas de pesca, de reforço das frotas nacionais, de infraestruturas portuárias ou de ligações entre os portos e o interior. Sazonalidade pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/b4f2ye4 ■ A FAO não desiste. Para reduzir a fome e a pobreza no mundo, salvaguardando ao mesmo tempo o ambiente, há que investir – mais e melhor – na agricultura. É esta a mensagem do relatório da FAO sobre «A situação mundial da alimentação e da agricultura 2012» (SOFA), publicado a 6 dezembro. Este relatório mostra que os agricultores nos países de baixos e médios rendimentos investem nas suas explorações agrícolas mais de 170 mil milhões de USD (125 128 milhões €) anuais, ou seja, o equivalente a 110 € por pessoa. É o quádruplo das contribuições do setor público e mais de 50 vezes a ajuda pública ao desenvolvimento recebida por estes países. A erradicação da fome passa por um aumento substancial do nível dos investimentos nas explorações agrícolas e por melhorias espetaculares do volume e da qualidade do investimento público na agricultura, segundo o relatório. A FAO exorta os governos e os investidores a atribuir dinheiros públicos para gastos que favoreçam o crescimento agrícola e a redução da pobreza, nomeadamente a investigação-desenvolvimento agrícola, infraestruturas rurais e educação. ■ A maior parte da produção alimentar em África provém de pequenas quintas de subsistência. O objetivo deste livro é demonstrar que os pequenos agricultores, muitas vezes marginalizados pelos governantes, podem, com a ajuda certa, aumentar a produção de forma sustentável e sem causar danos ao ambiente. O autor narra a luta de quatro famílias no ocidente do Quénia que são ajudadas a melhorar as suas práticas de agricultura de subsistência através de créditos e de formação fornecidos pela One Acre, uma ONG sediada nos EUA. The Last Hunger Season descreve as condições de vida da aldeia, as interações sociais e a pobreza que restringe ou nega a saúde e a educação. Escrito sob a forma de diário, narra a vida dos agricultores desde a estação seca à das chuvas, o período de fome, a colheita e a segunda plantação e os dias de festival que encerram o ano. Destaca os desafios que os aldeões enfrentam e as opções que têm de fazer na luta para vencer a fome. Por tentativa e erro, os agricultores aprendem a produzir mais para alimentar as suas famílias e proporcionar melhor vida aos filhos. inteligência (não) artificial investimentos estrangeiros Como aumentar a produção agrícola num contexto de mudanças climáticas? Para realçar este desafio imenso, os autores do nono número das Notas Políticas do CTA incitam os governos dos países ACP a promover políticas favoráveis a uma «agricultura inteligente». Lutar contra as mudanças climáticas está bem – reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa, por exemplo – mas adaptar-se a elas é ainda melhor, nomeadamente através da agro-florestação, da adoção de fundos de transição ou de uma abordagem multissetorial das políticas agrícolas. O relatório Tendências e Impactos dos Investimentos Estrangeiros na Agricultura dos Países em Desenvolvimento, publicado pela FAO, recomenda prudência nas aquisições de grandes propriedades nos países em desenvolvimento. O envolvimento dos agricultores locais é a chave do sucesso para estes investimentos estrangeiros, de acordo com a FAO. No entanto, quando o direito de propriedade não é claro ou é pouco protetor, os inconvenientes superam por vezes as vantagens obtidas pelas comunidades locais. @ De C. pye-Smith CTA, 2012, 4 págs. CTA n.º pB004E Pour une agriculture intelligente face au changement climatique Trends and Impacts of Foreign Investment in Developing Country Agriculture (apenas em inglês) CTA, Nota Política n.º 9, dezembro 2012, 4 págs. FAO, novembro 2012 pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/ctwd36u pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/a4jhkve pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/a9uaday FEVEREIRO-MARÇO 2013 | ESpORO 112 | 23 pUBLiCaÇÕES Revolução Verde One Billion Hungry: Can We Feed the World? De G. Conway com K. Wilson Cornell University press, 2012, 427 págs. ISBN 978-08-0147-802-4 15,50 £ • 20 € Cornell University press Box 6525 750 Cascadilla Street Ithaca, NY 14851-6525 EUA Fax: +1 607 277 6292 www.cornellpress.cornell.edu ■ Seis décadas após as inovações tecnológicas da Revolução Verde, a fome continua a ser uma realidade diária para mil milhões de pessoas. Face a uma população em crescimento, às mudanças climáticas, ao aumento dos preços dos alimentos e ao limite dos recursos naturais, alimentar um mundo sem mais terras e com menos água torna‑se um desafio ainda maior. Porém, o Prof. Sir Gordon Conway sente-se otimista quanto a um mundo com segurança alimentar no ano 2050. Em One Billion Hungry, Conway apela a uma «dupla revolução verde», que seja pelo menos tão produtiva como a primeira mas que conserve melhor os recursos naturais. Conway acentua a necessidade de aumentar a produção de cereais, leguminosas e tubérculos antes negligenciados, de maior ênfase nas hortas caseiras para produzir vegetais ricos em nutrientes, maior frequência de culturas intercalares e culturas de revezamento, usando árvores e arbustos de leguminosas para sombra e cobertura vegetal nos trópicos e para mais irrigação em África, com melhor utilização da água em toda a parte. Outra prioridade é a investigação sobre a modifica‑ ção genética para melhorar o desempenho e a resiliência ao stress de plantas e gado. Oceanos acidificados Este número de Nota Política explora caminhos a seguir face à acidificação dos oceanos. Limitar a concentração de CO2, restabelecer os ecossistemas degradados e reforçar a sua resiliência… são ações possíveis. Contudo, os resultados potenciais e a exequibilidade destas ações devem ser analisados e inscritos num quadro jurídico e político adequado, a nível local, regional e global. 150 questions sur l’océan et le climat AA. VV. Ed. Le pommier, 2012, 192 págs. ISBN 978-2-7465-0643-5 15 € Editions Le pommier 8, rue Férou 75278 paris Cédex 6 Fax: +33 (0)1 53 10 24 67 www.editions-lepommier.fr ■ Os visitantes da exposição O Oceano, o Clima e Nós: Um Equilíbrio Frágil, patente entre abril de 2011 e julho de 2012 na Cidade das Ciências, em Paris, puderam formular as suas perguntas, divertidas ou rigorosas, a 16 cientistas. Daqui nasceu o livro 150 questions sur le climat et l’océan. Os investigadores responderam de maneira precisa e clara a perguntas tão diversas como: «Como se formam as ondas?», «Os ursos polares sobreviverão ao aquecimento climático?», «O que é um tsunami?», «Veneza ficará um dia submersa?», «A atual evolução do clima é irreversível?», «As mudanças climáticas vão provocar guerras?», «Qual o mar menos poluído?», «Quanto CO2 existe no mar?». Com uma paginação arejada, ilustrada com gráficos, a obra pode ser percorrida pelo leitor ao sabor das suas próprias interrogações, uma vez que cada pergunta/resposta é lida independentemente. As mudanças climáticas afetam os oceanos, reguladores importantes do clima. Os efeitos observam‑se já à escala planetária: fusão de gelos, subida das águas, acidificação dos oceanos… O impacto sobre a sociedade humana acentuar‑se‑á nos próximos 50 anos. migrações ambientais Entre 2008 e 2010, o número de pessoas forçadas a abandonar a sua área de residência na sequência de uma catástrofe natural ou da degradação lenta do ambiente subiu de 20 para 30 milhões. No seu segundo volume, The State of Environmental Migration passa em revista as crises mais graves do ano 2011. Estes estudos de caso, que incluem a Somália, permitem compreender melhor (e apreender) o grande fenómeno migratório do início do século XXI. The State of environmental migrations 2011 IDDRI, Nota Política n.º 17, novembro 2012, 8 págs. (apenas em inglês) De p. Brücker, F. Gemenne e D. Ionesco IDDRI/Organização Internacional para as Migrações (OIM), novembro 2012, 132 págs. pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/b6gnaa7 pode ser transferido como ficheiro pDF a partir de: http://tinyurl.com/b7zvq4z Que faire de l’acidification des océans? 24 PerguntasRespostas | ESpORO 112 | FEVEREIRO-MARÇO 2013 PARA OBTER AS PUBLICAÇÕES Os títulos precedidos do sinal @ podem ser transferidos no sítio web http://publications.cta.int. Os títulos precedidos do logótipo podem ser obtidos do seguinte modo: É assinante das publicações do CTA: Utilize apenas um canal! • Tem uma conta no sítio web http://publications.cta.int? Entre no sítio e escolha os títulos em função das suas unidades de crédito, clicando em «Juntar ao cesto» e «Encomendar». • Não tem acesso à Internet ? Continue a utilizar o talão de encomenda fornecido pelo CTA. É uma organização ACP com atividades na agricultura, mas não é assinante das publicações do CTA: peça a sua assinatura via o sítio web http://publications.cta.int, por e-mail [email protected] ou pelo correio, ao endereço: CTA - pDS, pO Box 173, 6700 AD Wageningen, Holanda. Em 2013, as organizações que se inscreverem receberão 200 unidades de crédito. Os assinantes receberão 200 unidades de crédito e metade do número de unidades de crédito gastas em 2012, com um máximo de 400 unidades de crédito. Não se encontra em nenhum dos casos mencionados: Se quiser comprar os nossos livros, pode fazê-lo diretamente nas editoras ou nas livrarias. Mas pode também transferi-los, se eles forem de acesso gratuito http://publications. cta.int. Mais da metade das nossas publicações podem ser transferidas gratuitamente. Os títulos precedidos do símbolo estão disponíveis para compra nas editoras mencionadas ou em livrarias. AGIR COM O CTA www.cta.int © www.sxc.hu Conhecimentos fundamentais 5 perguntas a O CTA ajuda as organizações suas parceiras a analisarem melhor e a organizarem a gestão dos conhecimentos no seu interior e nas suas relações com outras instituições. Esta gestão melhorada deverá permitir-lhes, no final, aperfeiçoar a respetiva gestão da comunicação e da informação (continua na página 26). SAMUEL MIKENGA © CTA Coordenador do programa Média 1 Diplomado em Ciências Florestais e em Comunicação Científica (Imperial College of Science, Technology and Medicine, no Reino Unido) e possuindo um diploma em Meios de Comunicação Social e Relações Públicas, Samuel Mikenga adquiriu uma vasta experiência a trabalhar com diversas organizações científicas internacionais sem fins lucrativos, nomeadamente o Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Por que é importante o CTA ter uma política mediática? No seu novo plano estratégico, o CTA convida os media a sensibilizarem o público para as Datas-chave 1988 Adquire competências de trabalho na Internet e em computadores Apple Macintosh 2000Obtém o diploma do Imperial College (Londres), celebra o milénio e visita o aquário Deep Sea World, na Escócia 2001 Primeira visita à Ásia: Japão, Tailândia e Vietname 2003 Trabalha com o WWF Internacional 2008Prova os alimentos biológicos mais saborosos (no Gana) 2013Participa num curso de direção e gestão na HEC, Paris, França questões relacionadas com a agricultura e o desenvolvimento rural (ADR), bem como a facilitarem os processos e diálogos sobre as cadeias de valor e a elaboração de políticas sobre a ADR. É por isso que é essencial uma política mediática para orientar o pessoal nas suas interações com os media e na maneira como são geridas as atividades ligadas aos media. 2 Quais são as suas orientações principais? A política mediática define orientações em matéria de: (i) cobertura mediática de eventos especiais organizados ou coorganizados pelo CTA, nomeadamente a redação de comunicados de imprensa e de pareceres, a organização da presença dos media em grandes acontecimentos, a monitorização da cobertura mediática e o fornecimento de serviços de media; (ii) atividades de relacionamento com os media, tais como o envolvimento proactivo com os media ou a gestão das crises e riscos. Nessas orientações, são igualmente definidas as funções, as línguas utilizadas, o tom de voz, os públicos-alvo e os contactos. 3 Que relação mantêm os media com a agricultura nos países ACP? Os estudos revelam que, apesar de a agricultura contribuir significativamente para o PIB nos países em desenvolvimento, a mesma beneficia apenas de uma fraca cobertura mediática em comparação com os faits divers e a política. São poucos os jornalistas que desejam escrever artigos sobre a agricultura e quando o fazem são geralmente histórias negativas. Esta tendência inquieta, na medida em que são os media que sensibilizam o público, documentam os debates sobre a ADR, põem em causa o status quo, moldam as opiniões e influenciam a ordem do dia do debate público. 4 Como é que esta situação pode ser melhorada? Temos necessidade de abordagens totalmente novas para colmatar a falta de comunicação entre a agricultura e os media e para alterar a maneira como os jovens e o setor dos media, em especial, consideram a agricultura. Os proprietários, editores e diretores de media devem ser envolvidos, uma vez que são eles que determinam as politicas editoriais e de difusão. Devemos também aproveitar o potencial dos media científicos para estimular os esforços jornalísticos. 5 Que papel pode o CTA desempenhar? O CTA já apoiou uma iniciativa premiada que coloca os profissionais da comunicação social no centro das intervenções mediáticas destinadas a defender a ADR. Associou-se a vários parceiros para realizar estudos sobre os media nos países ACP, desenvolver as capacidades dos jornalistas para reagirem à procura e facilitar o seu empenhamento nos processos e nos diálogos decisivos de elaboração das políticas de ADR. O CTA dá formação ao seu pessoal para que possa interagir com segurança com os media e esforça-se por reforçar a capacidade dos principais parceiros para trabalharem com eles e/ou para elaborarem estratégias mediáticas e de sensibilização. FEVEREIRO-MARÇO 2013 | esporo 112 | 25 AGIR COM O CTA Conhecimentos fundamentais (continuação da página 25) A transferência de informações para as pessoas adequadas e no momento certo, para disporem dos conhecimentos necessários para adotar as decisões exigidas, reveste-se de uma importância fundamental. Isto exige uma gestão de conhecimentos adequada ao nível das instituições. Como funciona esta gestão? Michel Sergheeraert dá-nos uma definição clara. A gestão dos conhecimentos «é o conjunto de iniciativas, de técnicas e de métodos que permitem perceber, identificar, analisar, organizar, memorizar e partilhar conhecimentos entre os membros das organizações, em especial os saberes criados pela própria empresa (nas suas atividades de marketing ou de investigação e desenvolvimento) ou adquiridos SMS •O CTA vai organizar em novembro de 2013 uma conferência sobre as TIC no exterior (pela informação económica), tendo em vista atingir o objetivo fixado». A gestão de conhecimentos ocupa um lugar primordial nas prioridades do Plano Estratégico do CTA. Foi por isso que o Centro organizou ultimamente vastas consultas com algumas da suas organizações parceiras. Estas consultas conduziram à definição de um plano de ação que permite uma avaliação da gestão de conhecimentos no interior das instituições/ organizações e entre elas, bem como a elaboração de um questionário comum que poderá ser adaptado a cada organização. Cada instituição fará portanto um inquérito interno que lhe permitirá saber como gere os seus conhecimentos PARTIDA Virar de página para a nossa colega Julia Nijhof Uma carreira pode ser influenciada por alguns pequenos conselhos. Há 28 anos pediram a Julia Nijhof, quando trabalhava na agricultura. A ver nos próximos números. •Saíram as Notas Políticas 8 e 9 do CTA sobre as pequenas economias insulares (8) e sobre uma agricultura «inteligente» face ao clima (9). A ler em www.cta.int. •O CTA lança uma nova coleção de livros: «Farm to market» [Do campo para o mercado], destinada a promover a integração dos 26 | esporo 112 | FEVEREIRO-MARÇO 2013 © CTA pequenos produtores nas cadeias de valor. e como poderá planificar as suas intervenções e melhorar essa gestão, tanto a nível interno como nas suas relações com outras instituições ou organizações. Terminado este inquérito, as instituições irão conceber estratégias documentadas de gestão de conhecimentos com a ajuda de consultores especializados. A intervenção do CTA neste projeto consiste em facilitar todo o processo, permitindo o êxito do projeto aquando da elaboração das diferentes estratégias de gestão de conhecimentos. As decisões adotadas nestas instituições serão assim mais incisivas. Tem interesse neste assunto? Não hesite em contactar Krishan Bheenick ([email protected]). no Centro Internacional para a Investigação Agrícola Orientada para o Desenvolvimento (ICRA), que fizesse algumas recomendações à primeira Secretária do CTA, a fim de contribuir para a fase de lançamento desta nova organização. Julia, que participou nas atividades do ICRA desde os primeiros dias, era apreciada pela sua abordagem pragmática. No final da sua conversa com a Secretária, ela acrescentou espontaneamente que, se tivesse nova oportunidade de trabalhar para uma empresa em início de atividade, a aproveitaria sem hesitar. Quinze dias mais tarde, o Dr. Werner Treitz telefonou a pedir-lhe que viesse ao CTA para uma entrevista. A continuação, todos a conhecemos! Julia descreve estes primeiros anos como os mais excitantes e gratificantes da sua carreira e lembra com orgulho que esteve presente desde o início para ajudar a lançar o CTA. Ao longo de 28 anos assistiu a uma longa evolução. Foi a sétima pessoa a ser contratada e viu serem admitidos no CTA cinco diretores e dezenas de colegas. As celebrações do 20º aniversário marcaram uma etapa importante para ela, porque foi nessa ocasião, que reuniu antigos colegas, parceiros e dignitários de todo o mundo, que ela compreendeu plenamente o impacto do CTA e da sua ação. Agora está feliz por poder gozar mais bons momentos com a família e os amigos, mas admite que terá saudades do CTA e da experiência única que lhe permitiu conviver com tantas nacionalidades. Desejamos-lhe as maiores felicidades na sua nova vida. l @ t s o p Caixa Apoiar os produtores A leitura do processo sobre o setor da cebola na Esporo n.° 109 levou N. Célestin Koudougou a lançar um apelo: «As diferentes pesquisas sobre o desenvolvimento da África são unânimes em reconhecer que a agricultura poderá retirar o continente do subdesenvolvimento notório e ser a força que impulsionará a emergência dos povos africanos. Mas esta agricultura enfrenta enormes entraves que dificultam seriamente o seu desenvolvimento. O processo “Setor da cebola: um mercado florescente” ilustra perfeitamente esta situação. Para além da falta de fluidez no encaminhamento das produções e da escassez de mercados, convém ter em mente alguns estrangulamentos, como a falta de organização dos produtores, o parco nível de envolvimento dos poderes públicos, a inexistência de materiais de produção adequados, etc. Portanto, se o nosso desenvolvimento tiver de passar pela agricultura, por favor, não poupemos esforços para dar a esta agricultura todas as possibilidades de se desenvolver». Deficiências graves Idenge Malebo Adolphe reage ao ler a opinião de Olivier de Schutter sobre a alimentação publicada na Esporo n.° 108. «Olivier de Schutter sublinha que os governos podem agir a nível local garantindo o preço aos produtores e disponibilizando subsídios aos consumidores. Cita os exemplos da China e da Índia, onde os governos aplicam sistemas que permitem armazenar os géneros alimentícios para apoiar os rendimentos dos produtores e liberar estas existências quando forem necessárias. Este artigo surpreendeu-nos, porque Chocolate biológico Kouassi Sylvain Konan reage à reportagem publicada na Esporo n.° 110 sobre uma cooperativa de Granada que fabrica chocolate biológico. «Felicito sinceramente a redação da nossa revista pela reportagem publicada na Esporo n.° 110 “Da árvore à barra de chocolate”, que mostra a importância de uma produção sã de chocolate por uma empresa empenhada na defesa do ambiente (Grenada Chocolate Company). Esperamos que tais iniciativas sejam tomadas por numerosas empresas empenhadas na gestão sustentável do ambiente. É nesta perspetiva que queremos que estas estruturas sejam incentivadas através de recompensas, como o fez a Academy of chocolate. As empresas que intervêm na Costa do Marfim (primeiro país produtor e exportador de favas de cacau) deveriam seguir este exemplo, mesmo que algumas tenham já adotado a opção de produção sustentável de cacau. Note-se que é possível produzir cacau biológico na Costa do Marfim, onde já existem todos os recursos (humanos e técnicos). Esta opção poderia incentivar os jovens a regressar à terra para redinamizarem a produção que é hoje efetuada por uma população em envelhecimento». agir COm O CTa Serviços para os leitores Escreva à Esporo CTA - Redação Esporo pO Box 380 6700 AJ Wageningen países Baixos Fax: + 31 317 460067 E-mail: [email protected] Assinatura da Esporo pARA RECEBER A VERSÃO IMpRESSA A assinatura é: • Gratuita para as organizações e pessoas ativas no desenvolvimento rural e residentes num país ACp (África, Caraíbas e pacífico). A assinatura pode ser feita: - através de http://publications.cta.int clicando em “Candidate-se a uma assinatura gratuita”; - pelo correio (pO Box 173, 6700 AD Wageningen, países Baixos); - por e-mail para: [email protected] • A assinatura é paga para os restantes casos: 36 € por ano (6 números). Assinatura a subscrever através de: SMI (Distribution Services) Limited pO Box 119 Stevenage Hertfordshire SG1 4Tp Reino Unido Fax: +44 1438 748844 E-mail: [email protected] RECEBER O RESUMO GRATUITO pOR E-MAIL em Kamanyola (Kivu Sul) enfrentamos um grave problema em relação aos mercados de escoamento dos produtos das nossas colheitas. Criámos uma sinergia de 18 cooperadores produtores de milho. Beneficiámos de um entreposto de armazenamento dos produtos da colheita. O grande problema reside no mercado. (…) Na nossa região, são os compradores e consumidores que determinam e impõem o preço de compra e as condições em seu proveito. Os produtores, que não sabem para onde orientar as suas produções, continuam pobres a vida inteira, embora trabalhem nos campos toda a época. A ausência de chuvas e as queimadas são outro problema». Subscreva a edição e-mail (90 KB) em: http://esporo.cta.int ou envie um e-mail em branco para [email protected] para a versão unicamente de texto: [email protected] LEIA A ESPORO NO SEU ECRÃ • Na internet: spore.cta.int Reproduza a Esporo com autorização • Para fins não comerciais, os artigos da Esporo podem ser livremente reproduzidos sob a condição de ser mencionada a fonte. Agradecemos o envio de uma cópia para a redação. • Para fins comerciais terá de ser solicitada autorização prévia. FEVEREIRO-MARÇO 2013 | ESpORO 112 | 27 Briefings de Bruxelles sur le développement Sensibiliser la communauté du développement ACP-UE depuis 2007 aux défis agricoles et ruraux d’aujourd’hui www.bruxellesbriefings.net Les Briefings de Bruxelles sont une initiative du CTA et de ses partenaires : la Commission européenne (DG DEVCO), le Secrétariat ACP, le Comité des Ambassadeurs ACP et la confédération CONCORD.