Veja o PDF da edição - Plásticos em Revista

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Veja o PDF da edição - Plásticos em Revista
52
ANOS
Outubro/2014
Nº 608
Negócio
de gente
grande
O mercado de
fraldas e absorventes
cresce imune à crise e se
firma como porto seguro
para filmes gofrados
e nãotecidos.
México
Braskem Idesa
surge no lugar certo
na hora certa
Lirio Parisotto
A Innova é da
Videolar.
E agora?
INTT
Das embalagens
plásticas ao
consumo erótico
SUMÁRIO
06 Visor
Auxiliares
Previsão de bom tempo
eterno para aditivos e
carbonato de cálcio
08 Conjuntura
México
Por que polietilenos ficam
bem de sombrero
16 Oportunidades
MJER
Agora é a hora de investir
18
Inovin
Como fazer da criatividade
o pulo do gato
20 Sensor
Lirio Parisotto
A compra da
Innova faz
sentido?
26
42 3 Questões
Peter Browning
O filão do motor turbo para
poliamidas
44
Otavio Carvalho
Abalo sísmico na
petroquímica sul-americana
Diretores
Beatriz de Mello Helman
Hélio Helman
REDAÇÃO
Diretor
Hélio Helman
[email protected]
ESPECIAL
Negócio
de gente
grande
Fernanda de Biagio
[email protected]
Direção de Arte
Samuel Felix
[email protected]
ADMINISTRAÇÃO
Diretora
O mercado de
fraldas e absorventes
cresce imune à crise e se
firma como porto seguro
para filmes gofrados
e nãotecidos.
46 Gestão
Termotécnica
Nº1 em EPS é referência
nacional em RH
48 Ponto de Vista
Marcos Curti
Os ajustes necessários
na rota da indústria
50 Sustentabilidade
Tomra
Automação revoluciona
triagem de resíduos
24 Rasante
Plano geral
Curtas, quentes e cáusticas
Outubro/2014
Nº 608 - Ano 52
52
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As opiniões contidas em artigos assinados
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por Plásticos em Revista.
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Capa
Braskem/São Bernardo
Economia de energia
começa pela resina
Samuel Felix
Foto da Capa
Shutterstock
54 Mercado
Intt
Como o plástico levou
Alessandra Seitz aos
cosméticos sensuais
Retificação – Na edição impressa de setembro (nº607), a reportagem “Quando as máquinas travam” saiu com
três erros relativos a máquinas da Romi: informou incorretamente o nome da série EN de injetoras, além do nome
do comando - CM10- e o número -21- de zonas de aquecimento do cabeçote da sopradora C5TS.
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plásticos em revista
Outubro / 2014
Dispensada da emissão de documentação
fiscal, conforme Regime Especial Processo DRT/1, número 11554/90, de 10/09/90
Circulação: Novembro / 2014
Membro da ANATEC
Associação das Editoras de Publicações Técnicas
Dirigidas e Especializadas
EDITORIAL
La Vaca Muerta y el brejo
O governo argentino deu uma bola dentro,
mas a vitória ansiada é uma incógnita.
N
a oposição, podemos ser românticos. Mas uma vez no
governo, é preciso fazer as contas. Esse ensinamento
do realismo emana de recente decisão de pasmar, pois
originária de quem menos se espera quando o assunto
é racionalidade econômica: o governo de Cristina Kirchner. Sem
delongas processuais, pedidos de vistas e outras artimanhas
de retardamento, o Congresso
argentino aprovou nos primeiros
dias de novembro a Ley Galuccio.
Trata-se de marco regulatório
para a área do petróleo, convencional ou não. Contempla concessões
de 35 anos para prospecção e
desfrute dessas reservas com
a possibilidade de prorrogação
por mais uma década e, quando
superada, por outros 10 anos. Do
quinto ano de produção em diante,
os detentores das concessões terão
direito a 20% das receitas e liberdade para importar com alíquota
zero equipamentos necessários à
atividade. A razão de ser da Ley
Galuccio é tirar a Argentina do pé da
lama do déficit energético mediante
chuva de capital internacional em locais como a região sudeste, mais
precisamente na área de Vaca Muerta, uma das maiores jazidas de
xisto do planeta, contendo reservas aproximadas de 16,2 bilhões de
barris de petróleo e 8,72 trilhões de m³ de gás.
O diabo mora nos detalhes. Em sua vista aérea, a lei indica que
a ficha realmente caiu para o governo argentino. Ou seja, tal como
aconteceu no México, ele se reconhece sem capital para voltar à
autossuficiência energética, condição chave para o desenvolvimento,
e para tanto caça investidores caixa alta com a isca dos atrativos
embebidos na globalização e liberalismo econômico de pura cepa.
Porém, ai porém, há um caso diferente, bem diz o samba de Paulinho
da Viola. Além de carente de energia, a Argentina padece de déficit
de confiabilidade. Em pé de guerra com os credores, o país está em
default desde 30 de julho e, fora do mercado mundial, depende de
reservas em moeda estrangeira para os gastos do governo. Burocracia
e mudanças de regras no meio do jogo, marca registrada do ambiente
local de negócios, deixam os empreendedores de pé atrás quanto
à seriedade da Ley Galuccio.
No mais, a cultura do mercado
fechado já fez múltis desistirem
da Argentina sob o argumento
de não fazer sentido manter a
presença num lugar onde não
se pode gerar dividendos para
a matriz.
Outra fratura exposta, ao
fundo da Ley Galuccio, provém
de uma falha de timing. A entrada
em campo do marco regulatório
transcorre justo num momento
de deflação mundial sem término previsto e consequente
superoferta do petróleo e queda
de preços, ao ponto de a cotação
do tipo brent descer do patamar
de US$ 80 em 13 de novembro.
Além disso, sobram relatos do magnetismo exercido pelos EUA sobre
investidores como petroquímicas, fruto do barateamento da energia
elétrica e eteno servidos por óleo e gás extraídos do xisto e da estrutura produtiva e logística já disponível no país para essa exploração.
Pululam na mídia análises apontando muito mais semelhanças do que diferenças de gestão e pensamento entre os governos
argentino e brasileiro, este também às voltas com energia elétrica
insuficiente e de credibilidade minada por mandracarias contábeis
e, página infeliz da nossa história, como cantou Chico Buarque,
pela subtração da pátria mãe tão distraída em tenebrosas transações. É da composição “Vai Passar”. Tomara. •
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plásticos em revista
Setembro / 2014
visor
Auxiliares
O cultivo das propriedades
Segue alta a fluidez dos desenvolvimentos em aditivos e cargas
Estufas: aditivo de controle microclimático da Cromex melhora aproveitamento da luz e temperatura.
I
nsumos auxiliares carregam o piano da
performance tocado pelos polímeros.
Faça chuva ou faça sol na economia, a fila
das exigências técnicas anda e os aditivos e cargas evoluem no mesmo compasso,
seja para ampliar o alcance das propriedades
das resinas ou dotá-las de novos atributos.
Viga mestra do Brasil em masterbatches, a Cromex se abana com um leque de
concentrados de aditivos que abarca desde
antioxidantes, antiestáticos, deslizantes,
antiblocking, estabilizantes UV e auxiliares de
fluxo até expansores, antifog, antifibrilantes,
agentes de purga, retardantes de chama e
clarificantes. Tamanha diversidade pesou
para as vendas desse portfólio segurar as
pontas na conjuntura recessiva deste ano,
deixa claro Giovanni Dias, especialista de
brancos, pretos e aditivos. “Não houve um
tipo específico de auxiliar mais afetado e,
entre aqueles cuja demanda se manteve
bem, um exemplo são os estabilizantes
UV, por serem empregados em diversos
segmentos”, distingue o técnico. É o caso do
agronegócio, na sela de sua produção anual
orçada em R$1.1 tri, participação de 22,5%
no PIB e fatia acima de 40% na pauta de
exportações brasileiras. “Para esse mesmo
mercado, lançamos este ano um aditivo de
controle microclimático para estufas, destinado a melhorar o aproveitamento da luz e
temperatura, em particular nos períodos de
calor”, esclarece o executivo. Pelo flanco
dos auxiliares de processo, ele ressalta o
ingresso no mostruário, durante o exercício
atual, de um dessecante de performance e um
tipo mais avançado de auxiliar de fluxo para
a extrusão. “A nova formulação aumenta a
eficiência do aditivo na fase de aplicação do
polímero na extrusora”, sintetiza Dias.
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plásticos em revista
Outubro / 2014
Aditivos UV também puxam as vendas de auxiliares da representação Braschemical, cujo catálogo também alinha
branqueador ótico, microesfera expansível,
glitter, óxido de ferro micáceo e um exército
de pigmentos “A procura tem sido liderada
pelos absorvedores UV líquidos e em pó
Eversorb, da taiwanesa Everlight”, distingue
o vendedor técnico Daniel Aranon. No embalo, ele empunha a introdução este ano dos
tipos Eversorb 61 e 761, talhados para o trabalho com poliamida, em virtude de seu alto
ponto de fusão. Outra novidade mandando
bem nas vendas é o tipo 980DU120 da série
de microesferas expansíveis Expancel, um hit
entre os desenvolvimentos da sueca AkzoNobel na sua condição de agente expansor e
redutor de peso de termoplásticos. “Antes do
980DU120, a temperatura de expansão variava de 80 a 205ºC, restringindo de certa forma
o uso de Expancel em alguns processos”, ele
observa. “Com o novo tipo, capaz de resistir
no limite máximo de 235ºC, ampliam-se a
possibilidade para modificar em polímeros
olefínicos e estirênicos quesitos a exemplo
de densidade, compressibilidade, características superficiais e isolamento térmico e
acústico”. Tais ganhos em leveza e isolamento, ele arremata, atraem ao novo auxiliar
da AkzoNobel os olhares de produtores de
transformados para as indústrias automotiva,
aeroespacial e eletroeletrônica.
PVC é irmão siamês da construção civil
e, na seara dos seus estabilizantes, sobressai
no Brasil a subsidiária da alemã Chemson,
pedra angular global nesses auxiliares, escorada no suprimento de matérias-primas por
sua empresa mãe, a companhia turca Akdeniz
Dias: novo auxiliar de
fluxo para extrusão de
filmes.
Aranon: microesfera
expansível apta a resistir
a 235ºC.
Mitteldorf: estabilizantes
customizados em Rio
Claro.
Leonardi: salto na
capacidade e lapidação
de carbonatos de cálcio.
Kimya. Hans Juergen Mitteldorf, diretor geral da Chemson Brasil,
assevera ter condições de nacionalizar, desde que a demanda o
exija, qualquer estabilizante para compostos vinílicos do vinil
produzido na Europa. No estribo de sua unidade de 58.000 t/a
em Rio Claro, no centro-leste paulista, ele acena com todos
os os meios para replicar estabilizantes de vanguarda servidos
pela Chemson no exterior e esclarece que sua capacidade opera
mobilizada por encomendas de formulações sob medida. “Não
trabalhamos com commodities”, ele sublinha.
Carbonatos de cálcio premium
Compostos de PVC também abocanham 90% do consumo
de carbonato de cálcio em plásticos. O Brasil, por seu turno, é o
mercado internacional nº1 para compostos vinílicos argentinos.
Com a piora da recessão instaurada pelo governo de Cristina
Kirchner, manda a lógica que essas importações brasileiras tendam a engrossar, como canal de desova do excedente argentino.
Pilastra do Brasil em carbonato de cálcio, a Micron-Ita esquadrinha com lupa o desembarque desses compostos, sejam vinílicos
ou de poliolefinas. “Até o momento, a entrada deles não afetou
nosso volume de vendas, pois nosso objetivo é contribuir para
a competitividade dos componedores locais, de modo a evitar o
endurecimento da disputa com o material argentino”, observa
Lairton Leonardi, diretor geral da empresa. “Essa atuação nos
permitirá decifrar as tendências do cenário de 2015, previsto como
um período de crescimento pífio do Brasil, com grande pressão
de custos operacionais e inflação e juros altos”.
Ao longo do ano que vem, confirma Leonardi, a capacidade
instalada da Micron-Ita passará de 200.000 para 250.000 t/a.
O salto virá à tona mediante a entrada em operação da linha 7,
agendada para o quarto trimestre, enquanto a linha 8 já se acha em
fase de comissionamento, situa o dirigente. “Vai gerar cargas com
tamanho de partícula inferior a um micron”, adianta. “O objetivo
é aumentar a especialização do nosso portfólio com alternativas
aos carbonatos internacionais de alto rendimento”. A propósito,
Leonardi agenda para 2016 a produção de nova gama de produtos
calcíticos cretáceos, com granulometria de 1 micron a 2,5 micra.
O pivô dos desenvolvimentos este ano, distingue o diretor
geral, foram os produtos de baixo tamanho médio de partícula e
alto steepness (atenção para com a homogeneidade e distribuição do tamanho da partícula),derivados de calcários calcíticos,
magnesianos e cretáceos. “Proporcionam mais rendimento aos
processos de transformação, além de conferir maior resistência
ao impacto e estabilidade dimensional ao artefato plástico”,
sumariza Leonardi. •
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plásticos em revista
Outubro / 2014
conjuntura
México
Cancún do polietileno
O México dá a volta por
cima e a resina mais
consumida capta o alto
astral da economia.
E
m 2015, a Braskem vai flanar nas
nuvens ao viver situação sem
paralelo em sua história. “Sua capacidade mexicana de polietilenos
(PE) já nasce vendida”, sustenta Simone
de Faria, dirigente da consultoria 2U. No
momento, explica, a única produtora local
do polímero é a petrolífera estatal Pemex,
à frente de uma capacidade nominal de
815.000 t/a da resina. “Dadas as condições
de processo e tecnologia, operar a uma taxa
de 75-80% de ocupação é considerada
ótima”, informa a analista. A foto do México
é completada por Simone com um déficit
situado acima de 1 milhão de toneladas
de PE desde 2012. “Mesmo com 1.050
milhão de t/a de capacidade ao partir no
próximo ano, o complexo Braskem Idesa
não fechará essa conta e o mercado mexi-
cano seguirá importador do termoplástico
para abastecer a contento uma demanda
projetada em 1.840 milhão de toneladas
em 2014”, junta os pontos a consultora.
Orçado em US$3,2 bilhões, o futuro
complexo no estado de Veracruz gerará
eteno via gás natural para produzir 300.000
t/a de polietileno de baixa densidade
(PEBD) e 750.000 do tipo de alta densidade
(PEAD). Ao esquadrinhar a petroquímica
mexicana, a analista local Pipa Consulting
fixa em 330.000 t/a o potencial doméstico
para (PEBD) e, quanto aos grades lineares
(PEBDL) e de PEAD, os contempla com
respectivas capacidades de 250.000 t/a. O
esquadrão mexicano de poliolefinas fecha
com a capacidade de 680.000 t/a para
polipropileno. A mesma consultoria atribui
ainda capacidade instalada de 400.000
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plásticos em revista
Outubro / 2014
t/a para poliestireno; 520.000 para PVC e
1.100 milhão de t/a para PET.
Entre 2011 e 2013, expõe Simone, a
demanda de PE cresceu à taxa média de
3% ao ano no México, índice sem motivos
para mandar vir o champanhe. Em contrapartida, ela coloca, a reforma energética
em andamento no país, ponto final para o
fossilizado monopólio da Pemex, a confiança inspirada pela política econômica
(aposta-se em aumento de 2,6% do PIB
este ano) e a ampliação da oferta doméstica
contam pontos para a engorda constante
dos percentuais de consumo de PE no país.
Tema de debates eivados de inconformismo no Brasil, os preços internos de PE
são, no México, inferiores aos das resinas
importadas, atesta Simone. “O grande
negócio da Pemex não é petroquímica,
Simone de Faria: qualidade questionável de PE
da Pemex.
mas óleo e gás”, delimita a expert. Além
do mais, o crônico déficit na oferta interna
tornou o país cativo dos excedentes de
PE dos EUA e Canadá, resina remetida
em poucos dias por trem ou caminhão.
“Essa proximidade e as isenções tarifárias
desfrutadas pelo México como participante
do bloco Nafta facilitam a importação não
só de resinas, mas do gás natural para
sua atividade petroquímica, razão pela
qual a equação dos custos de produção
da Braskem Idesa deverá fechar. Em seus
levantamentos, a consultoria IHS já alterou
a geografia: mudou o México da América
Central para a do Norte. No embalo, sustenta a mesma fonte, o fim de mais de 70
anos de monopólio estatal do petróleo e o
esboçado reerguimento da indústria norte-americana, movida pelo barateamento da
eletricidade e matérias-primas, na garupa
do gás de xisto, dão substância à crença
generalizada de crescimento robusto e
linear para o México a partir de 2015.
“Embora os transformadores prefiram
comprar localmente, ainda há instabilidade
no fornecimento e a qualidade da resina
da Pemex não é considerada páreo para a
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plásticos em revista
Outubro / 2014
concorrência importada”, aponta Simone.
A propósito, Carlos Fadigas, presidente
executivo da Braskem, considera básicos
e universais, sem atentar para especificidades e avanços de processos ou aplicações,
os grades do portfólio de PE da Pemex.
Trata-se de uma brecha, deixa claro o
dirigente, pela qual a Braskem penetrará
com resinas desenhadas para aplicações
mais específicas. Pelos olhos do bolso,
retoma o fio Simone, o preço da estatal é,
em geral, cerca de 2% inferior ao da resina
importada, “mas há casos de a redução
chegar a 10%”. No negócio petroquímico,
ela comenta, o surgimento de um novo
player sempre perturba as cotações de
resinas e, pela lei do mercado, o corolário
de um aumento na oferta é a queda nos
preços. Nesse contexto, é de intrigar o
comportamento do governo mexicano,
conjuntura
México
Fim do monopólio estatal de petróleo e gás: bandeirada de largada para investidores no México.
tomando o complexo Braskem Idesa como
argumento, ao gravar com tarifa de 6% as
compras de PE saudita. A alíquota zero
predomina no México para importações da
maioria das resinas (PE incluso), assinala a
consultoria local Pipa Consulting. “A Arábia
Saudita é dos poucos países sem acordo
comercial com o México, cujo governo
não arriscaria criar problema com nações
com as quais já possua relação de livre
comércio”, revela a consultora da brasileira
2U . “Além do mais, o volume trazido de
resina saudita não é representativo e a
maioria dos clientes mexicanos sequer se
deu conta dessa alteração agendada para
vigorar em 2015”.
Megafone da transformação local,
a Asociación Nacional de Industrias del
Plástico (Anipac) calcula em 4.530 as
empresas do setor na ativa no México. Mas
especialistas baixam a bola para a marca
máxima de 2.750 indústrias, interpõe
Simone, das quais 58% nas categorias
pequena e micro. Em média, ronda 10
anos a vida útil do parque de máquinas da
transformação. “Em 2013, no entanto, o
setor importou US$2.267 milhões em bens
de capital, dos quais 45% em máquinas e
equipamentos e o restante em moldes e
ferramentaria”, separa Simone, chamando
a atenção também para a grita generalizada
contra a falta de pessoal qualificado (uma
oportunidade para os técnicos do Brasil).
De 2005 a 2013, ela pormenoriza, o
consumo aparente de PE cresceu apenas
2,1%. “PEBDL destacou-se com aumento
de 5,8% no mesmo período e sua adoção
foi a causa da queda de 1,1% então sofrida
por PEBD”.
Numa panorâmica, a ênfase no
fator preço sobressai no México, opina
Simone, embutindo algumas similaridades com o Brasil. “Como todo mercado
tecnologicamente menos desenvolvido e
com população de menor poder aquisitivo
e mão de obra de preparo a desejar, o
preço é mandatório pela conveniência do
bolso e pela dificuldade para se perceber a
qualidade superior de um material em maquinário antigo e de baixa produtividade”.
Em contraponto, ela salienta a existência de
transformadores mexicanos de tecnologia
em dia com o mundo e dispostos a adquirir
resinas até 10% mais caras e prezadas
pela performance, como PEBDL base
metaloceno. “Entre eles, figuram indústrias
exportadoras de artefatos como autopeças,
tampas, frascos e filmes para embalagens
e artigos agrícolas”, exemplifica a analista,
notando a superioridade em volume dos
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plásticos em revista
Outubro / 2014
artefatos mexicanos exportados versus os
indicadores do Brasil. “Eles exportam 6
vezes mais em volume de produto acabado e quase 4 vezes mais em valor.” Essa
supremacia, óbvio, decorre das delícias
do bloco Nafta e das dezenas de acordos
comerciais assinados pelo México, que
impõe regras e exige qualidade. Por seu
turno, as exportações brasileiras de transformados sempre foram esqueléticas, culpa
não só do câmbio e das chagas do Custo
Brasil. Também contam pontos o distanciamento tupiniquim das cadeias globais
de produção e, conforme amostragem do
Banco Mundial com 178 nações no período
2009-2013, a sagração do Brasil como o
país mais fechado para o comércio.
“São muitas as diferenças entre os
mercados brasileiro e mexicano”, retoma
o fio Simone de Faria, “a começar pelo
acesso facilitado, sem impostos, à matéria-prima importada”. Na sua calculadora,
70% do comércio de PE, seja material
importado ou local, transcorrem por distribuidores. No Brasil, o movimento de
agentes oficiais não passa de 10% das vendas totais de termoplásticos (PE à frente),
calcula Laércio Gonçalves, presidente da
Associação Brasileira dos Distribuidores
de Resinas e Bobinas Plásticas de BOPP
e BOPET (Adirplast) e comandante da
Activas, alicerce do varejo nacional de resinas. Simone vai em frente. “Em volumes
de PE, a Pemex vende mais de 50% da sua
produção por meio de distribuidores e, em
geral, apenas clientes de compras mensais
acima de 800 toneladas são atendidos
diretamente pela estatal”. Um contingente
de transformadores, aparteia a consultora,
adquire volumes menores direto da Pemex
por figurar há muito tempo na carteira de
vendas de PE da estatal.
Em relação às resinas importadas,
a distribuição responde por 80-90% do
comércio no México. “Em geral, o material
é entregue a granel, graças à facilidade
logística e muitos transformadores
possuem silos”, indica a pesquisadora.
“Paga-se mais pela resina ensacada e,
em regra, o embalamento cabe a centros
de distribuição ou empresas incumbidas
desse serviço pelo distribuidor”. Ultra
dependente dos volumes comercializados, algumas empresas vendem mais
de 10.000t/mês, a distribuição mexicana
atua com margens tão estreitas quanto seu
espaço para manobrar preços, observa
Simone. A hipótese, por ora remota, de
um fornecedor de resinas adotar a modalidade de venda direta, ela estabelece,
está condicionada ao saldo do confronto
entre o custo adicional de se montar uma
estrutura de atendimento adequada e o
efetivo retorno financeiro e institucional
proporcionado pelo mercado mexicano.
Produtores e distribuidores de resinas, agrupa Simone, operam em geral com
prazo de pagamento em 60 dias. “Mas o
transformador mexicano não é muito fiel à
data de vencimento e atrasos são considerados normais e, em regra, justificados por
problemas do sistema operacional”. Para
salpicar pimenta na tequila, a informalidade
come solta. “Muitas empresas pequenas
não estão formalmente constituídas e recorrem à energia clandestina ou até de resina
obtida de roubo ou contrabando”, ilustra
a expert. Em contrapartida, ela arremata, a
sonegação de impostos é muito menor, em
razão de uma medida para a qual o Brasil
sempre se fez de cego e surdo: a cobrança
de apenas um tributo – o IVA (16%) – sobre
a venda de um produto, um pedregulho no
caminho das manobras fiscais.
Por essas e (muitas) outras, amarra
Pimenta mexicana: projeção de crescimento
intenso para transformação de plástico.
Simone de Faria, o México já demanda
mais transformados plásticos que o Brasil.
“Foram 8 milhões de toneladas em 2013
perante 7,2 milhões brasileiras”. O desnível
estende-se ao consumo per capita do material. O indicador mexicano, crava a diretora
da 2U, já chega a 50 quilos contra nossos
34. Em termos de ambiente para negócios,
a bola rola para a Braskem Idesa num país
onde o Brasil já foi campeão do mundo e
hoje apanha de 7 a 1. •
NÃO DESPERDICE OS RESÍDUOS!
DON‘T WASTE
WASTE!
Recuperação de Plásticos
A tecnologia da TOMRA Sorting é baseada em sensores
que aumentam significativamente o volume de plásticos
recicláveis.
TITECH autosort detecta e separa diferentes tipos de
polímeros, como ABS, PS, PE, PP, PVC, PET entre outros.
Com TOMRA Sorting se alcança um nível de pureza de
até 98%, aumentando a capacidade de processamento e
reduzindo as perdas.
11
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plásticos em revista
Outubro / 2014
conjuntura
México/Braskem Idesa
O nexo do complexo
2
Por que a Braskem Idesa vai nadar de braçada em PE
8 anos de bagagem em petroquímica
dão lastro de sobra para Cleantho
de Paiva Leite Filho tirar de letra
a missão de abrir caminho para
uma indústria zero bala no exterior. Uma
conveniência, no caso, é que o país chama-se México, cujas afinidades com o Brasil
decerto colaboram para Leite mandar ver
como um dos mentores da entrada em cena
no mercado local, agendada para o final de
2015, dos grades de polietileno de baixa
(PEBD) e alta (PEAD) densidades gerados
pelo complexo de 1.050 milhão de t/a do
polímero a cargo da Braskem Idesa SAPI.
No organograma dessa joint venture, Leite
sobressai como diretor de desenvolvimento
de negócios e relações institucionais. Na
entrevista a seguir, ele disseca a indústria
plástica mexicana e expõe a competitividade
do futuro complexo de PE resultante de eteno obtido do etano, intermediário separado
do gás natural servido pela estatal Pemex.
PR – O volume de importações mexicanas de polietileno lienar (PEBDL) se equipara à capacidade instalada dessa resina
no país. Por quais motivos a Braskem Idesa
optou por não produzir esse termoplástico?
Leite – Quando decidimos a configuração do projeto, tínhamos matéria-prima
garantida por contrato para três plantas de
escala mundial, mas não para quatro. Além
disso, estudos de mercado apontaram déficits importantes em todas as três famílias de
PE, em especial em relação ao tipo de alta
densidade (PEAD). Considerando nossa
leitura do que poderia ocorrer no futuro e
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plásticos em revista
Outubro / 2014
tópicos como taxas de crescimento, alinhamento tecnológico e provável movimento de
concorrentes, achamos mais conveniente
fazer uma fábrica da resina de baixa densidade (PEBD) e duas para PEAD, material cujos
déficits justificavam esta decisão em lugar
de montar uma unidade de PEBD, outra de
PEAD e a terceira de PEBDL.
PR – Os preços internos de PE da Pemex são apontados por todos os analistas
como inferiores aos das resinas importadas. Além do mais, há a estagnação da
economia europeia, excedente de resina
na China e a ebulição com o barateamento
de PE dos EUA com o gás de xisto. Diante
desse quadro, como assegurar margens de
lucro minimamente aceitáveis para o PE da
Braskem idesa?
Leite – Aplicamos a mesma lógica
de qualquer grande projeto na América do
Norte. Nossa matéria-prima, o etano, segue
as mesmas referencias de preço vigentes
no Golfo do México e se beneficia de toda
essa perspectiva positiva do shale gas. No
mais, as plantas da Braskem Idesa são de
escala mundial e contam com tecnologias
de última geração. Tudo isso, portanto, nos
dá competitividade para auferir bons resultados. Aliás, eles serão decerto turbinados
pela nossa tradicional ênfase em serviços
diferenciados para os clientes.
PR – Como a Braskem avalia a possibilidade de incentivar grandes clientes seus
no Brasil a montarem plantas no México,
para consumirem PE da Braskem Idesa e
desfrutarem o mercado do Nafta?
Leite – O processo de internacionalização não é simples e exige muita maturidade do empreendedor; não é para qualquer
empresa. Percebemos alguns clientes brasileiros com esse espírito. Indicam interesse
em crescer internacionalmente, quem sabe,
no México. A Braskem Idesa os apoiará no
sentido de examinar as condições locais e
pensar nessa oportunidade.
PR – Calcula-se que uma fatia arredondada em 70% do mercado mexicano
Leite: Brasil entre os mercados
potenciais do maior complexo
mexicano de PE.
de resinas seja atendida por distribuidores,
além de representantes de produtores do
exterior. No México, domina o modelo de
agente multibandeira, vetado pela Braskem
no Brasil. A Braskem Idesa manterá esse
veto ou vai aderir ao modelo multibandeira
para sua rede?
Leite – Ainda não concluímos o
processo de seleção de distribuidores e
a análise das características do México e
canais locais para definirmos em breve o
modelo de rede de agentes e questões como
o ponto de corte para a venda ser repassada
do produtor ao varejista. A Braskem Idesa
traz forte cultura do acionista Braskem Brasil,
mas não podemos deixar de levar em conta
Sacaria da Braskem Idesa: resina não será
reensacada pelo distribuidor.
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plásticos em revista
Outubro / 2014
as particularidades do mercado mexicano
nesse processo decisório. Nem tudo o
que se faz no Brasil se reproduz aqui, mas
entendemos que muito do nosso modelo no
Brasil pode ser aplicado.
PR – Carlos Fadigas, presidente da
Braskem, afirma que a Pemex só fornece
grades convencionais de PE. Quais os
tipos de PEBD e PEAD hoje inexistentes na
produção mexicana que a Braskem Idesa
vai fornecer?
Leite – O México importa aproximadamente dois terços dos volumes de PE que
consome. O produtor local concentrou-se
em poucos tipos determinados e o mercado também recorre à grande variedade de
grades servida por múltiplos fornecedores,
principalmente dos EUA. Com a produção
da Braskem Idesa, complementaremos a
conjuntura
México/Braskem Idesa
Tubos de gás e shrink: nichos de PEAD e PEBD cortejados pela Braskem Idesa.
produção nacional com uma série de grades
hoje sem similares locais ou de produção
mexicana insuficiente. Em termos de PEBD,
é o caso de resinas de uso industrial (melt
index fracional) e para recobrimento (extrusion coating). Nosso portfólio também terá,
claro, resinas para filmes de uso geral que
já são produzidas localmente. Em PEAD,
cuja produção no país é muito pequena,
entraremos com grades para tubos de
uso geral e tubos PE80 e PE100; resinas
de sopro mono e bi-modal, para envases
de pequeno e grande volume; tipos para
monofilamento e um grade de filme de alto
peso molecular bimodal, além de grande
variedade de resinas de injeção em diversos
índices de fluidez.
PR – Já que o core business da Pemex
é óleo e gás, como a Braskem- Idesa avalia
a possibilidade de fortalecer seu poder de
fogo comprando o negócio petroquímico ou
apenas a operação de eteno/PE da Pemex?
Leite – No momento, nosso foco é
concluir a implantação do complexo – falta
ainda um ano de obras e testes – e iniciar
o posicionamento no mercado local e da
América do Norte, Central e Caribe. Não
estamos em posição de especular sobre
possíveis movimentos de compra de outros ativos no México. A longo prazo, a
intenção da Braskem e do Grupo Idesa é
seguir investindo e crescendo no negócio
petroquímico. Após a recente aprovação
das reformas no setor energético, o México
deverá apresentar interessantes oportunidades a médio e longo prazo, associadas à
maior disponibilidade de matérias-primas
para investimentos.
PR – Como a Braskem avalia a
possibilidade de inentivar e apoiar distribuidores seus para montarem filiais no
México (sozinhos ou em joint ventures com
parceiros locais) para comercializarem PE
da Braskem Idesa?
Leite – O México já contempla uma
importante rede de distribuição, contendo
empresas de grande e médio porte. Se alguma empresa brasileira ou de outra origem
pensa em entrar no mercado local, recomendamos que busquem comprar/associar-se
a alguns dos atuais participantes, pois o
mercado já contempla um número muito
grande de atores. “Incentivar” não é o verbo
correto para estruturar sua pergunta. Reitero
que a decisão de internacionalização depende de inúmeros fatores e não de “incentivo”
de um fornecedor.
PR – No México, é ultra corriqueiro
o ensaque de volumes menores de PE por
centros de distribuição ou terceiros desig-
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plásticos em revista
Outubro / 2014
nados para esses serviços por distribuidores. A resina é então ofertada em sacos com
a marca do agente autorizado. No Brasil, a
Braskem veta essa modalidade de venda.
A Braskem Idesa fará o mesmo?
Leite – Pelas características do mercado mexicano, a Braskem Idesa irá utilizar
a excelente cadeia local de operadores
logísticos. Ela receberá parte de nossa
produção em vagões de trem (granel) para
entrega aos clientes a partir desses pontos
em dois formatos: a granel em caminhão
(produto transferido dos vagões) ou em
sacaria com a marca Braskem Idesa – a
resina é ensacada pelo operador logístico.
Os distribuidores também poderão revender
a granel ou em sacaria da Braskem Idesa.
Nossa intenção não é vender produtos para
serem comercializados por distribuidores
com suas marcas, em sacaria própria, pois é
da nossa cultura dar todo o respaldo técnico
e de qualidade a 100% do que produzimos.
PR – A América Latina encabeça os
destinos na mira do previsto excedente de
PE norte-americano, turbinado em preços
pela rota do gás de xisto. Como a Braskem
avalia a possibilidade de também trazer PE
da Braskem Idesa para cá, de modo a zelar
melhor pela preservação de sua participação no mercado brasileiro de PE?
Leite – A Braskem Idesa, tal como
outros produtores norte-americanos, será
fornecedora relevante na América Latina,
em especial na parte central, na região norte
da América do Sul e na costa do Pacífico,
onde temos vantagens logísticas. Para isso,
contaremos com a extensa rede comercial
e escritórios sul-americanos da Braskem.
Exportações para o Brasil também podem
fazer parte de nossos objetivos, mas o foco
não pode ser a manutenção de market-share,
mas atender aos interesses dos acionistas
da Braskem Idesa. Assim, o Brasil estará
no conjunto de mercados potenciais para a
Braskem Idesa. •
Oportunidades
MJER
Extrusão: chapas
para termoformagem
de até 2.500 mm.
Otimismo servido na chapa
Quem disse que transformar plástico não
atrai mais gente nova no pedaço?
N
o placar de hoje, o setor de serviços dá de 7 a 1 na indústria em
relação ao poder de magnetizar
investidores. Apesar do desinteresse, ainda não se pode dar como extinta
aquela espécie de empresário caracterizada
pelo estranho prazer de enfiar a mão na
graxa. “Sempre mantivemos o sonho de
ter uma indústria limpa, sem impacto ambiental e o plástico foi a opção”, declaram
Márcio Janjacomo e Edson Rodrigues,
cujas iniciais inspiraram a MJER-Extrusão
de Plásticos, inaugurada formalmente em
10 de outubro último em São Manuel,
sudoeste paulista.
Janjacomo e Rodrigues repartem
por igual o controle da MJER e o pendor
para pensar fora da caixa. O engenheiro
Rodrigues reconhece que a fábrica parte
numa conjuntura de saia justíssima para a
indústria em geral no país. “Mas são nesses
momentos que temos oportunidades para
estruturar projetos e colocar novas tecnologias no mercado”, ele contrapõe. “Estamos
cientes das atuais dificuldades do mercado e
nossa perspectiva é de retorno em três anos
do capital aplicado”.
Orçada em mais de US$ 1 milhão,
a fábrica da MJER brotou num galpão do
intitulado Novo Distrito Industrial pela
prefeitura de São Manuel, cujo chamariz
logístico é a artéria de rodovias que liga a
chamada região de Botucatu a todo o Estado,
uma das razões do contingente na árera de
transformadoras como as de componentes
para veículos pesados. A MJER foi constituída em 2013, retoma o fio Rodrigues, mas
a morosidade do processo de importação
de maquinário retardou a abertura oficial
de suas portas por cerca de um ano. Até o
fechamento desta edição, a unidade transitava pela fase de try out.
No estribo de sua linha de extrusão
e calandragem chinesa, de marca não
revelada, a MJER parte com capacidade para fornecer até 217.000 t/mês de
chapas para termoformagem. “A única
etapa dependente da intervenção direta do
operador no processo é a parametrização
da máquina”, afiança Rodrigues. O mix de
produção inicial acena com chapas de até
2.500 mm de comprimento e espessuras
de 2 a 12 mm, moldadas com poliestireno,
polipropileno, polietileno de alta densidade
ou copolímero de acrilonitrila butadieno
estireno. Rodrigues encaixa a possibilidade
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plásticos em revista
Outubro / 2014
Janjacomo e Rodrigues: hora certa para
investir.
de fornecer chapas lisas ou texturizadas,
o que ele considera um plus frente à concorrência, tal como as dimensões maiores
dos seus produtos e a tecnologia asiática
que importou. No âmbito da texturização,
ele ressalta a excelência dos cilindros
gravados a laser de sua instalação, talhados
para a transferência desse efeito superficial
para o polímero.
Na reta para os finalmente da entrada
em escala comercial, fumega na MJER a
prospecção de espaço para suas chapas em
indústrias como a moveleira e automotiva.
A receptividade encontrada nas sondagens
e os progressos nos acertos da linha de
produção já fizeram a cabeça de Rodrigues.
“Pretendemos instalar mais duas coextrusoras em 2015”, ele acalenta.•
Oportunidades
Inovin
Nas alças da
imaginação
Alça anatômica para cestos de supermercado:
projeto de inovação substancial.
C
ommodity, no sentido de convencional e pouco rentável, virou
palavrão em qualquer indústria.
A possibilidade de levar alguém
a sair da pasmaceira e fazer a diferença no
reduto da injeção, o mais concorrido na
transformação de plástico, instigou Luiz
Antonio Oliveira a dar vazão ao engenho e
arte fundando em abril passado a empresa
baiana Inovin. Desde então, o economista
e inventor já soma 32 processos de requisição de registros de desenvolvimentos no
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) e uma clientela de suas mais de
60 patentes puxada por âncoras que vão da
Rede Globo, Odebrecht e Coca-Cola até
TAM, Ambev e Pão de Açúcar.
O turborreator de ideias de Oliveira
funciona em galpão em Lauro de Freitas,
na Grande Salvador, no qual se alojam as
áreas técnica e de prototipagem, além do
depósito de produtos inspiradores coletados mundo afora. O quadro de pessoal da
Inovin se resume a dois projetistas, dois
designers, um engenheiro, um pesquisador
de campo e uma assessora administrativo-financeira. Quando necessário, ele completa, a empresa subloca os serviços de
escritórios ou especialistas autônomos e
recorre a parceiros como um escritório
O negócio da Inovin é colocar
ideias em ação
de marcas e patentes e fornecedores de
matérias-primas e moldes. “A Inovin não
tem concorrentes nos seus campos de
atuação: o mercado de caixas para colheita,
transporte e armazenamento de hortifrútis,
engradados para bebidas e equipamentos
de sinalização e segurança do trabalho”,
especifica Oliveira. A expertise em engradados e caixarias, no entanto, não
limita as incursões por outras fronteiras
na esfera do plástico. “Por exemplo, temos
em desenvolvimento uma coleira identificadora de cães, cavaletes promocionais,
prateleira doméstica capaz de substituir as
de madeira e até uma mini-extrusora para o
consumidor transformar em casa os sacos
de supermercado numa borra e vendê-la
na forma compacta a recicladores, quando
o volume acumulado superar 50 quilos”.
Oliveira cinde o conceito dos seus
projetos de inovação em três enclaves. A
trindade abre com o tipo radical, relativo
a produtos 100% inéditos no gênero. À
guisa de referências, ele cita o denominado
“chama garçom” para mesas de bares e
restaurantes; um cinzeiro injetado para
botinar o de metal, mais caro, dos topos
de cones de sinalização e um engradado
capaz de acomodar garrafas de 290, 300 ou
360 ml. Em outra categoria, Oliveira aloja
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plásticos em revista
Outubro / 2014
Balaio injetado:
desenvolvimento para abolir uso da madeira.
os projetos incrementais que focalizam o
deslocamento de metal ou madeira por
plástico. “São exemplos desenvolvimentos
como um forro decorativo tipo colmeia,
de poliestireno; um balaio e placas de
identificação de logradouros”. As definições fecham com os projetos de inovação
substancial, relativos à repaginação, no
visual ou na redução de peso, a artigos
como capacetes de segurança do trabalho
e cones e cavaletes de sinalização. “Embora
os projetos radicais acenem com mais rentabilidade, devido ao conteúdo inovador, os
tipos substanciais permanecem os mais
frequentes na carteira da Inovin e assim
devem prosseguir, por causa do baixo in-
Oliveira: Inovin sem concorrência em seus campos de atuação.
vestimento escorado no uso parcial ou total
de moldes existentes”, pondera o inventor.
Apesar de prezada como ferramenta
da competitividade na oratória do governo,
o Brasil velho costuma pisar no calo da prática em sua transposição da teoria. “Com
base nos trâmites com documentação
formal, o registro de marcas demora em
média seis anos, prazo elevado para 10
anos no caso de uma patente e de cerca de
três para o registro de desenho industrial”,
delimita Oliveira. “Segundo o INPI, se seu
efetivo dobrasse para 280 funcionários, os
prazos cairiam à metade e reduziriam nossa
distância de países como os EUA e China,
nos quais a demora média de uma patente
é de, respectivamente, cinco e três anos”.
Do passo de cágado nacional, interpreta o
empresário, transparece mais uma chaga
do Custo Brasil. “Inibe a implantação de
atividades industriais e facilita a disseminação da pirataria por aqui”, ele conclui.
“A Inovin tem ações contra pirataria de um
invento tramitando há mais de nove anos
e com possibilidades de prolongamento
devido a brechas jurídicas”.
Oliveira traça o orçamento de um
projeto, da concepção à entrega final, a
partir das horas trabalhadas pela equipe
e na etapa de prototipagem. “Por exemplo
um modelo desenvolvido de um engradado
saiu R$ 150.000 para o cliente proporcionando-lhe, em contrapartida, economia de
custos da ordem de R$ 350.000 ao ano”,
ele expõe, inserindo na negociação do
serviço a possibilidade de se reservar para
a Inovin uma participação de 3-5% sobre
o valor das vendas líquidas, relativas ao
desenvolvimento, ao longo de um triênio.
A prototipagem da Inovin também se
vale de uma impressora Cubex Duo apta
a gravar em duas cores peças de até 27
X 27 cm no prazo máximo de oito horas
por unidade, conforme seu peso. “O custo
mínimo de um protótipo é de US$ 500”,
fixa Oliveira, comparando com a média de
US$ 2.000 cobrados na
China para protótipos de
peças de maior porte, a
exemplo de um engradado
para cerveja, concluídos em
30 dias. Conforme o pulso
da demanda e as projeções
de horas de uso, Oliveira
considera a possibilidade
de fortalecer a atuação da
Inovin com a compra de
uma impressora 3D em
2015. “Além de reduzir
custos, a impressão
3D interna assegura
maior sigilo sobre os
desenvolvimentos”,
percebe o inventor. •
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
Cestinho de lixo acoplável:
cone de sinalização ganha função de anteparo.
19
plásticos em revista
Outubro / 2014
sensor
Lirio Parisotto
A perna que faltava
Compra da Innova completa perfil da Videolar e pavimenta
nova arrancada de Lirio Parisotto na petroquímica
Rafael Betim
Parisotto: Innova é
complemento vital para
operação petroquímica.
P
ara Lirio Parisotto, 2014 fica como
um ano denso e encorpado como os
vinhos que ele mais aprecia. Afinal,
foi quando ele fechou uma página e
abriu outra em sua vida. De um lado, pingou
o ponto final no negócio de mídias ópticas e,
em meio à cerimônia do adeus, um punhado
de injetoras vipíssimas e exclusivas para CD/
DVD foi parar no ferro velho e desfalcou a
Videolar de uma operação que foi seu cartão
de visitas antes da chegada abrupta de entes
como MP3 e Netflix. Em contrapartida, a
compra da Innova, transação aprovada em
1º de outubro pelo Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (CADE), deu ao saci
Videolar, comenta o empresário, a outra per-
na de que tanto carecia.
Ela se chama estireno.
Na entrevista a seguir,
Parisotto justifica o arremate da concorrente,
até então controlada pela
Petrobras, e delineia
suas projeções para os
negócios com o monômero e poliestireno (PS),
bem como em frentes
como EPS e ABS.
PR – Sua decisão
de entrar em PS foi
para se desforrar do
tratamento que recebia
de seus então fornecedores de resina. Qual
a racionalidade para
adquirir a Innova em
um momento em que o PS é um muro de
lamentações no mundo inteiro, há quase
15 anos seu consumo está parado no
Brasil e seus mercados são cada vez mais
atacados por outros materiais?
Parisotto – Não estamos entrando em
um mercado novo. Estamos, na verdade,
nos consolidando em um segmento que já
teve quatro fabricantes (Videolar, Dow, Basf
e Innova), todos com capacidades muito
parecidas e com plantas construídas em um
período de dois anos, entre 2000 e 2002. Evidentemente, houve um equívoco dos quatro
naquele momento em não acreditar que os
outros iriam erguer suas fábricas. O fato é
que a capacidade brasileira era do dobro do
20
plásticos em revista
Outubro / 2014
tamanho do consumo. Com a Innova temos
um namoro muito antigo. Essa intenção
existe há mais de uma década, desde que
a Petrobras adquiriu parte da operação do
grupo Pérez Companc e junto com ela veio
a Innova. Naquele momento, queríamos
tentar uma fusão das duas operações, uma
com unidade de PS no Norte e outra no Sul,
uma com monômero de estireno outra sem.
Por vários motivos o negócio não evoluiu,
mas o desejo ficou latente. Ficamos, então,
aguardando a oportunidade de comprar esse
ativo e ela surgiu quando a Petrobras, por
motivos estratégicos, decidiu sair de áreas
que não prioritárias. Não é vocação dela atuar
em resinas, mas no upstream. A Petrobras
contratou um banco, o Crédit Agricole, para
conduzir o negócio. Na primeira oferta não
vinculante houve mais de dez interessados.
No final ficaram menos e a Petrobras nos
vendeu porque fomos quem mais pagou.
PR – Qual foi o investimento, afinal?
R$ 800 milhões ou R$ 1,2 bilhão na Innova?
Parisotto – Foram pagos R$ 870 milhões, mais alguma correção de valor. Temos
também de entregar o resultado de dois anos.
Está sendo feito um balancete dos dois últimos exercícios porque a oferta foi feita com
base no balanço de 31 de dezembro de 2012.
PR – Pela sua projeção, isso deve
acrescentar quanto ao montante?
Parisotto – De R$ 300 milhões a R$
400 milhões. Considerando esses ajustes,
com dividendos já distribuídos, o total será
de mais ou menos R$ 1,3 bilhão.
PR – Por que não incluiu no pacote de
compra da Innova as plantas de 140.000 t/a de estireno e 66.000t/a de
PS da Petrobras na Argentina?
Parisotto – Essa foi uma decisão estratégica da Petrobras. Visitei essas plantas 10 anos atrás e vislumbrávamos unir operações da Argentina,
Triunfo (RS) e Manaus (AM). A Petrobras colocou à venda a operação do
Brasil. Na Argentina, até onde sei, esses ativos não estão separados, mas
dentro de toda a operação, com refinaria, monômero, resina e borracha. Há
vários negócios em uma empresa só e isso, de certa forma, é um entrave.
PR – Se eventualmente a Petrobras decidir se desfazer desse
negócio na Argentina, a Videolar é candidata a comprar?
Parisotto – Não há essa possibilidade hoje porque os ativos não
foram oferecidos. Mas alguém esperto não escapa de um bom negócio.
PR – Por que resolveu pagar a Innova vendendo R$800 mi de suas
ações em vez de recorrer a financiamentos conforme praxe no ramo, em
especial do BNDES? Não crê em melhora da Bolsa?
Parisotto – Por que não tinha dinheiro. Uma parte foi financiada, sim.
PR – Muitas vedetes da sua famosa carteira de ações têm saído
recentemente na mídia como empresas atoladas em problemas – por
exemplo, Eternit, Celesc e CSN. É por isso que decidiu vender as ações
para pegar a Innova?
Parisotto – Alguns setores da economia estão apanhando mais
que outros. A siderurgia, e não só a CSN, está sofrendo, assim como a
mineração devido à queda do preço do minério de ferro. As empresas
estão dentro do contexto do país. Se o país vai bem, elas vão bem. Fora
desse escopo, todas as empresas têm seus problemas devido à complexidade de legislação, impostos e
envolvimento ambiental.
PR – Você sempre disse em
entrevistas que transformação
de plástico é um negócio difícil,
mas investiu no superofertado
segmento de BOPP, chapas para
termoformagem de PS e numa
EPS: planta nacional cobriria atual
pequena operação de tampas de
déficit doméstico de 50.000 t/a.
PP em Manaus. Agora fala até
entrar em EPS. Afinal de contas, qual é a sua?
Parisotto – O plástico está cada dia mais presente nas nossas vidas
e no meio da cadeia há o transformador. É um setor de margens muito
apertadas, por isso é um negócio muito duro e que não desperta mais
interesse de investidores.
PR – Qual a conveniência da compra da Innova para sua carreira
política? Por que se filiou ao PMDB como suplente de senador pelo
Amazonas?
Parisotto – Não tenho carreira política, sou segundo suplente. Filiei-me porque fui convidado. Seis anos atrás, quando Eduardo Braga decidiu
sensor
Complexos da Videolar e Innova: localizações otimizam logística de fornecimento de resinas.
se candidatar ao Senado, ele queria colocar
junto de si alguém que tivesse afinidade com
a indústria. Não é novidade que o Amazonas
depende essencialmente do polo industrial
de Manaus.
PR – Sua cabeça bate com o ideário
do PMDB?
Parisotto – Nós temos que avaliar
as pessoas. Infelizmente, o Brasil é um
supermercado de partidos políticos. É difícil,
inclusive, governar o país assim. Dentro do
PMDB há pessoas boas e outras nem tanto,
como em todos os partidos. Isso faz com
que o eleitor não vote no partido, mas no
candidato. Além de o voto não ser distrital,
seis meses depois do pleito a população
não lembra mais em quem votou. Eu nunca
fui político, mas acho que na vida já dei a
minha parte e, na eventualidade de ser chamado, poderia oferecer minha contribuição
sob a perspectiva do empresário. Falta isso
no Congresso. Falta alguém que mostre a
complexidade de gerir uma companhia, com
legislação trabalhista obsoleta, guerra fiscal
absurda, problemas de logística e segurança.
PR – Como a Videolar pode desfrutar
melhor, na prática, do braço agora estendido
em estireno com a compra da Innova? É
mais compensador suprir de monômero
gerado em Triunfo (260.000 t/a) a planta de
PS em Manaus (dependente de estireno
importado) ou continuar a vender a terceiros
o excedente de estireno não aproveitado na
capacidade 155.000 t/a de PS da Innova?
Parisotto – Temos que analisar a
situação detalhadamente. O Brasil consome
cerca de 700.000 t/a de monômero. A grosso
modo, metade desse volume é consumido
na fabricação de PS e a outra é vendida em
mercados específicos, como de borrachas,
tintas e solventes. Existe hoje capacidade
instalada de estireno de 250.000 t/a na Innova e 260.000 t/a na Unigel. Há, portanto,
um déficit aproximado de 200.000 t/a de
monômero. Metade desse volume é importado pela unidade da Videolar em Manaus.
Ainda assim, faltam 100.000 t/a. Nesse
momento, se o produto está em falta, não faz
sentido mandá-lo do Rio Grande do Sul para
o Amazonas. Mas vislumbramos no futuro,
à medida que tenhamos matéria-prima a
preços competitivos, dobrar essa planta de
estireno em Triunfo.
PR – Com que matéria-prima?
Parisotto – Eteno está disponível no
Sul, isso eu asseguro. O que falta é benzeno.
24% do monômero (resultante do etilbenzeno) é eteno e 76% é benzeno. Para fazer
250.000 t/a de estireno seriam necessárias
60.000 t/a de eteno e 190.000 t/a de benzeno.
Porém, só agora vamos começar a avaliar e
entrar em negociação com a Braskem. Até
onde sei, há 60.000 t/a ou 70.000 t/a de benzeno que a Braskem exporta para a Argentina.
Não tenho 100% de certeza, mas parece que
se a Braskem fizer ajustes no craqueamento,
22
plásticos em revista
Outubro / 2014
poderia produzir mais benzeno. O benzeno
que falta poderia, então, vir de Camaçari (BA).
Nesse caso, sim, Manaus entraria no radar
para ser suprido com monômero nacional.
PR – Com eteno mais barato obtido do
gás de xisto, o estireno dos Estados Unidos
tende a ampliar presença na América do Sul?
Parisotto – É do benzeno a maior
participação na composição do monômero
(resultante do etilbenzeno), cerca de 74% e o
restante é do eteno. Não faz diferença.
PR – Como avalia a hipótese de a Videolar adaptar o complexo de PS em Triunfo
ou a planta em Manaus para produzir ABS
se vai bater de frente com o projeto de sua
fornecedora de eteno e benzeno?
Parisotto – Temos intenção de nos
envolvermos na produção de ABS e EPS.
Na verdade, anunciamos isso muito antes
da Braskem, porém nosso projeto de ABS
está até hoje no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)
aguardando aprovação. O plano de EPS é
ainda anterior.
PR – E vai competir com seus clientes
de estireno ao produzir EPS?
Parisotto – Não quero competir com
ninguém. Para EPS temos um projeto
aprovado. Nossos clientes comprarão nosso
monômero se tiverem interesse. Queremos
manter um bom relacionamento. É nosso
princípio básico de trabalho. Hoje existe
importação de 50.000 t/a de EPS e temos
intenção de substituí-la. Em BOPP também
há importação de 40.000 t/a a 50.000 t/a.
ABS, da mesma forma, é todo importado.
EPS é mais crítico na importação porque tem
um prazo de validade. O gás existente em
sua composição com o tempo vai perdendo
rendimento. Quanto mais velho for o EPS,
mais matéria-prima o transformador precisará usar para fazer a expansão necessária.
De EPS, seria uma fábrica do tamanho do que
é importado, cerca de 50.000 t/a.
No caso de ABS, quem tem matéria-
-prima quer vender para quem compra e
paga. Nosso fornecedor tem participação
minoritária do projeto de ABS na Bahia,
liderado pela Styrolution. Nós não podemos
ainda fazer ABS em Manaus porque não foi
aprovado, mas, de qualquer forma, isso não
é prioridade agora. Por ordem de importância
temos a ampliação da capacidade de monômero de estireno, depois EPS e ABS por
último. Compondagem de ABS pode surgir
também. Vamos avaliar, uma vez que somos
agora uma empresa petroquímica e de plásticos. Esse é o último ano que participamos em
mídias ópticas. Saímos, no fim das contas,
da atividade inicial da companhia.
PR – A Whirlpool está fazendo desenvolvimento a quatro mãos com a Braskem
para deslocar PS de geladeira e colocar
polipropileno (PP). Como encara a posição
de depender de matérias-primas supridas
por um concorrente?
Parisotto – É mais fácil a geladeira ir
para ABS do que para PP. Na cadeia petroquímica ninguém faz nada sozinho. Tudo
faz parte de negociações. Por exemplo, a
Braskem precisa nos vender benzeno.
PR – Innova e Videolar seguem como
empresas independentes, embora sob o
guarda-chuva do mesmo controlador. Qual
a conveniência dessa estratégia?
Parisotto – Elas seguem independentes
como empresas, com CNPJ diferentes. Mas
o controle é da Videolar. Em um primeiro
momento será assim. Vamos tomar algumas
decisões baseadas no dia a dia do negócio.
Nossa primeira decisão foi diminuir, ao
máximo possível, o passeio molecular. Uma
empresa está no extremo Norte e a outra, no
extremo Sul. Estamos focados em diminuir
o frete e iremos dividir a produção para
melhorar a eficiência logística. Além disso,
produzimos vários grades de PS, muitos dos
quais similares. Faz sentido, principalmente
em grades de menor demanda, que uma só
fábrica produza. A troca de um grade para
outro gera o off grade, que tem o mesmo
custo de fabricação, mas é vendido de 5% a
10% mais barato. A racionalização de grades
e logística é nosso primeiro passo. A conveniência de, daqui a um tempo, usarmos uma
só marca para PS é uma possibilidade, mas
não é uma decisão tomada. Temos compromisso com o CADE para fazer investimentos
em eficiência, tecnologia e produção.
PR – Um dos compromissos com o
CADE, para aquisição da Innova, é o investimento em inovação para PS. Mas trata-se
de uma resina madura, sem novas frentes.
Que tipo de inovação pode surgir?
Parisotto – A Innova sempre trabalhou
no desenvolvimento de grades específicos.
Nosso compromisso é investir em PS e em
outras resinas.
PR – A Innova é menos dependente
de distribuidores do que a Videolar. Como
conciliar os dois modelos?
Parisotto – Ambas estratégias comerciais serão mantidas. A Innova sempre
trabalhou de forma mais próxima ao consumidor final. Ela tem um laboratório de
desenvolvimento e queremos aproveitar essa
tecnologia. Na Videolar, como não tínhamos
um laboratório nem uma força grande de
vendas, optamos primeiramente por atender
Manaus, que absorve 30% dos volumes
produzidos. O distribuidor tem, portanto,
um trabalho muito importante, o trabalho
formiga. As duas políticas comerciais têm
sentido. A Innova vai continuar no atendimento técnico e especializado e a Videolar
vai continuar a trabalhar com produtos mais
comoditizados. Estamos muito satisfeitos
com nossos distribuidores, que movimentam
até 25% de nossas vendas.
PR – Não havia negócio melhor para
aplicar R$ 800 milhões?
Parisotto – Com certeza tinha, mas
nossa ideia é concentrar. A Innova é complemento vital para nosso negócio. A Videolar,
como operação independente, seria sempre
23
plásticos em revista
Outubro / 2014
saci-pererê por não ter monômero. A queda
simultânea das mídias ópticas fez com que
optássemos por outro negócio que trouxesse
sinergias. Não estamos entrando em outro
produto, outra área. Estamos complementando a perna que nos faltava.
PR – O mercado de PS deve cair 2%
esse ano. Qual perspectiva vê para 2015?
Parisotto – O mercado não cairá este
ano. Acho que ficará igual. A Videolar hoje
opera com 80% de ocupação da capacidade,
considerando que não é uma planta integrada. O PS é de fato uma resina madura. Mas
o consumo de monômero cresce, tal como
EPS e ABS. Isso gera mais necessidade de
estireno e há possibilidade de novos negócios. Há potencial de crescimento, sim. Na
nossa visão, não é PS o principal negócio.
O principal é o monômero. •
rasante
Perdeu o gás
toria norte-americana IHS. Desse total,
separa a mesma fonte, a participação de
PS restringe-se a 5% e a de copolímero
de acrilonitrila butadieno estireno (ABS)
não passa de 0,01%. A IHS não enxerga
condições de infraestrutura, tributárias e
trabalhistas para pavimentar expansões na
capacidade sul-americana de PS, polímero
considerado pela analista sob ataque de PET
e polipropileno.
Prova do teor cabalístico do número 7,
a Coca -Coca anunciou ao final de outubro o
fechamento da sua divisão de reciclagem, na
ativa desde 2007 e cartão de visitas de tecnologias, a exemplo de sua unidade de PET
bottle to bottle (BTB) em Spartanburg (EUA),
ativada em 2009 e da qual a Coca-Cola já
se desfez. Em lugar de investir no reaproveitamento interno de materiais reciclados,
o grupo sediado em Atlanta passa agora
a trabalhar com supridores de reciclados,
reposicionamento de alcance mundial na
corporação. No México, aliás, a Coca-Cola
e seis engarrafadores detêm o controle da
PetStar SAPI de CV, considerada a nº1
mundial em reciclados com grau alimentício, à sombra de uma produção projetada
em 65.000 t/a de PET BTB proveniente do
reaproveitamento da ordem de 80.000 t/a
de garrafas pós consumo, entregues pela
subsidiária Avangard Mexico SA de CV.
Descartáveis
indescartáveis
Calmaria estirênica
O consumo sul-americano de plásticos deve findar 2014 acumulando 13
milhões de toneladas, vaticina a consul-
Pente fino da Unigel, vip brasileira em
PS, situa a capacidade brasileira do polímero
em 620.000 toneladas este ano, inclusa a
unidade de 190.000 t/a do grupo por ora
desligada em São José dos Campos (SP).
Em 2014, assinala a mesma fonte, o mercado
brasileiro deve consumir 370.000 toneladas
de PS. No ano anterior, escrutiniza a Unigel, o
Brasil produziu 384.000 toneladas da resina,
no bojo de 553.000 geradas no mesmo período na América do Sul, e o nosso consumo
per capita do polímero ficou em 1,9 kg.
Quanto à segmentação do mercado brasileiro
de PS, a Unigel contempla embalagens descartáveis com 38%; produtos de consumo,
18%; eletrônicos e utilidades domésticas,
21%; engenharia civil com 6% e o restante
cabe a usos pulverizados. Na América do
Sul, encaixa a radiografia, descartáveis
respondem por 48% do movimento de PS.
24
plásticos em revista
Outubro / 2014
Números nus e crus
Uma ducha de água fria nos plastofóbicos, pregadores do banimento total dos
plásticos convencionais, é a real estatura das
resinas com pé em fontes renováveis após
mais de duas décadas de oba oba verde. Pela
lupa da consultoria IHS,
a capacidade
mundial relativa a todos os
tipos de bioplásticos não
chega a 50%
do potencial
do Brasil para
produzir polietilenos. Não passa de 1,5
milhão de t/a, na aferição de 2013. Desse
volume total, separa a IHS, 320.000 toneladas cabem à capacidade disponível para
plásticos biodegradáveis, reduto repartido
pela consultoria em participações de 44%
para ácido polilático, 37% para polímeros
base amido e 19% para materiais diversos.
Ainda na varredura da IHS, EUA e Europa
hoje mobilizam 85% do micromercado
global de bioplásticos.
Aqui não tem seca
Dois sistemas de drenagem de águas
pluviais promovem a estreia das conexões
e tubos Weholite em obras no Brasil.Com
produção iniciada este ano na fábrica da
Armco Staco em Resende (RJ), esses tubos
de PEAD somam cerca de 100 toneladas empregadas em instalação no Rio de Janeiro,
em obra da BR Distribuidora na Refinaria
Duque de Caxias (Reduc), e no Acre, em
projeto numa área residencial pelaprefeitura
de Rio Branco (foto), indica Fernando Beltrão, gerente nacional de drenagem, pontes
e túneis da Armco Staco.
A obra no Acre tem término previsto
para dezembro próximo e a instalação na
Reduc fica pronta em janeiro de 2015,
delimita o executivo. Ambos os empreendimentos empregam conexões e tubos
com diâmetros entre 1,20 m e 2,50 m. Em
Resende, assinala Beltrão, a Armco Staco,
com DNA na metalurgia, opera, sob licença
da finlandesa Uponor Infrastructure, uma
capacidade arredondada em 2.500 t/a, a
cargo de duas extrusoras, para gerar tubos
Weholite com diâmetros entre 800 e 3.000
mm, até hoje sem concorrência local de
contratipos domésticos e importados. Sem
abrir o investimento inicial, o gerente estima
o retorno em três a quatro anos para essa
operação de megatubos de PEAD, estribado
no potencial de exportações sul-americanas
e em investimentos programados até 2018
nos setores de transporte, mineração,
petróleo, energia elétrica e indústrias em
geral. “Em 2014, o consumo brasileiro
de Weholite deve fechar ao redor de 300
toneladas”, estima Beltrão.”Para 2015,
estão engatilhados fornecimentos a exemplo
de tomadas de água de pequenas centrais
hidrelétricas, drenagem de águas contaminadas em petroquímicas e caixas de retardo/
reuso para indústrias”.
bate e volta
PP vem quente pro frio (I)
Uma pergunta para Fernando Senger, gerente de tecnologia de Materiais da Whirlpool Latin America, dona
das marcas de eletrodomésticos Brastemp, Consul e Kitchen Aid.
PR – Copolímeros de polipropileno (PP) estão sendo desenvolvidos para disputar com poliestireno de alto
impacto (PSAI) robustas peças internas de refrigeradores. Como a Whirlpool avalia as possibilidades dessa substituição de materiais?
Senger – Existem possibilidades de essa mudança ocorrer. Mas como trata-se de uma tecnologia dependente de
alterações significativas desde o projeto e produção dos componentes ao seu uso em eletrodomésticos, os principais
fatores que definirão a velocidade da troca serão a competitividade da solução em PP, considerando os custos envolvidos (inclusos investimentos) e a readequação dos projetos de peças conforme as características do novo material.
Para ser bem sucedida, a opção de PP precisará aumentar a janela de processamento, estabilidade e redução do
Senger
ciclo para níveis mais próximos dos obtidos com PSAI. No plano econômico, PP precisa de competitividade não em
preços perante PSAI, mas em custos para viabilizar a mudança, a exemplo de gastos com equipamentos e moldes. Até o momento, a Whirlpool
emprega PP em diversas aplicações em seus produtos, mas não em grandes peças internas de geladeiras. A propósito, não identificamos um
ponto de saturação para o uso de PS em refrigeradores. Mas são necessárias ações contínuas dos fornecedores do polímero para manter sua
competitividade frente a outros materiais e, em particular, continuar a melhorar a performance dos grades atuais e/ou ofertar novas soluções.
PP vem quente pro frio (II)
Uma pergunta para Patrick Teyssonneyre, diretor de tecnologia da Braskem.
Teyssonneyre
PR – A Whirpool testa polipropileno (PP) para potencial substituição de poliestireno (PS) em peças internas de
refrigeradores. Em qual estágio se acha esse experimento com resina da Braskem e quais as chances da mudança vingar?
Teyssonneyre – É parte de nossa estratégia aumentar o uso de PP por meio da substituição de materiais.
Empreendermos esforços para substituir não somente resinas que não produzimos, mas vidro e metal. PS é um
exemplo desses desenvolvimentos. O ponto de partida é entendermos a vocação desses outros materiais. A partir
daí, separamos o que definitivamente não está no DNA de nossos polímeros, mas ainda sobra um grande universo
para agregar funcionalidades e promover a substituição. No caso da linha branca, estamos desenvolvendo desde
2010 a capacidade de PP para termoformagem de peças de grande profundidade, um processo muito agressivo. PP
não tem, naturalmente, essa vocação e estamos em busca de rota tecnológica para isso. O desafio não está só na
aplicação final, algo até menos crítico nesse caso, mas na transformação.
25
plásticos em revista
Outubro / 2014
ESPECIAL
Descartáveis higiênicos
Fernanda de Biagio
Não cai de
jeito nenhum
Por que os descartáveis higiênicos
não sentem as assaduras da crise
M
esmo com a economia na
UTI, a indústria de descartáveis higiênicos, porto
seguro para nãotecidos
de polipropileno (PP) e filmes de polietileno (PE), navega em velocidade
de cruzeiro sob a borrasca. Os santos
por trás do milagre chamam-se melhor
poder aquisitivo de baixa renda e a taxa
de penetração desses artigos, ainda
muito aquém da curva dos mercados
maduros. No país, para se
ter uma ideia, cerca de 30%
das crianças continuam a
usar a arcaica fralda
de pano, constrangimento que evidencia
espaço considerável
para o avanço do tipo
descartável.
Os resultados do setor,
engrossado por fraldas geriátricas, produtos para incontinência urinária e absorventes femininos,
já exibem robustez nada infantil e estão
bem acima do esquelético PIB nacional.
Em 2013, as vendas de fraldas descartáveis infantis somaram R$ 4,06 bilhões,
14,8% a mais do que em 2012, informa
Luciana Ignez, analista de mercado da
consultoria Nielsen. A cifra corresponde
a 6,49 bilhões de unidades comercializadas no ano passado, expansão de
4,9% sobre o exercício anterior, ela
acrescenta. No caso dos absorventes
femininos, a receita bateu em R$ 1,79
26
plásticos em revista
Outubro / 2014
bilhão, crescimento de 11,8% na mesma base de comparação, enquanto os
volumes aumentaram 4,2% e chegaram
a 6,02 bilhões de unidades. “Ambas as
categorias são impulsionadas por um
movimento de oferta de itens de valor
agregado mais alto e por embalagens
maiores e promocionais”, ela considera.
Ao longo de 2014, percebe Luciana, os gols contra tomados na economia
por ora não afetaram o nicho das fraldas
infantis. Seu faturamento subiu impressionantes 17,6% até agosto deste ano
sobre o mesmo período de 2013. Por
seu turno, a categoria de absorventes
higiênicos está crescendo menos, mas
ainda apresenta expansão de causar
suspiros de inveja a muita gente: 9,3%
nos oito primeiros meses, crava o sonar
da Nielsen.
Pelo acompanhamento da consultoria, a oferta de fraldas infantis de
melhor qualidade, por sinal, fez com
que a média de compras diminuísse
em anos recentes. Em 2010, o número
ESPECIAL
Luciana Ignez:
cresce oferta
de produtos
de maior valor
agregado.
Absorventes: mercado sem TPM.
de unidades adquiridas em um ano por
domicílio chegava a 482. Em 2013, não
ultrapassou 443. Em contraste, o ticket
médio aumentou na categoria, saindo
de R$ 16,30 para R$ 21,30.
O reduto de fraldas para adultos
ainda é menor em volume e valores,
movimentando aproximadamente R$
1 bilhão por ano no Brasil. Porém,
alguns fatores conspiram a favor de
sua expansão. Além de as pessoas
estarem mais receptivas ao produto, o
que incrementa sua fatia de penetração
no mercado, a expectativa de vida da
população melhorou. De acordo com a
analista da Nielsen, de 2010 a 2013, a
27
plásticos em revista
Outubro / 2014
taxa composta anual de crescimento do
flanco das fraldas geriátricas foi de 17%.
“Nos últimos anos, o segmento de roupa
íntima descartável, as chamadas pants,
ganhou proeminência. Esses artigos
representavam 1% do faturamento da
categoria em 2010 e, no ano passado, o
índice saltou a 7%”, ela completa.
ESPECIAL
Descartáveis Higiênicos/Fabricante
Ativo fixo no berçário
Baby Roger consolida participação no mercado
de fraldas infantis e geriátricas
Giselle Ferreira: negócio de fraldas infantis cresceu 70% em cinco anos.
O
s negócios da Baby Roger, marca
de médio porte de fraldas para
bebês e adultos e cosméticos
infantis, estão longe de um stress
daqueles capazes de suscitar incontinência
urinária . Os resultados têm se mostrado
mais do que satisfatórios, apesar de a
grife brasileira estar prensada entre a concorrência com um time de múltis (N.R.- a
Kimberly Clark negou entrevista) e uma
infinidade de pequenos fabricantes locais,
em boa parte adeptos da informalidade.
Com sede em Várzea Paulista (SP), a
indústria tem crescido acima da média do
seu setor, devido a volumes de venda maio-
res e comercialização de artigos de valor
agregado elevado, argumenta a coordenadora de marketing Giselle Ferreira. Essa
expansão exige investimentos contínuos e
já resultou na instalação de uma planta em
Pernambuco. Maquinário adicional, aliás,
será colocado em operação até o início de
2015. O trunfo da Baby Roger, Giselle diz,
é compreender a dinâmica da demanda de
seu público e refletir essas expectativas
em um portfólio em contínua atualização.
Na entrevista a seguir, a especialista ainda
aborda as evoluções da indústria no plano
geral, inclusive em matérias-primas, e mudanças do perfil do consumidor brasileiro.
28
plásticos em revista
Outubro / 2014
PR – A Associação Brasileira da Indústria de Nãotecidos e Tecidos Técnicos
(Abint) divulgou que o segmento de descartáveis higiênicos, fraldas inclusas, está
sofrendo este ano com a desaceleração da
economia brasileira e importações chinesas. A Baby Roger sentiu esse impacto nos
negócios este ano?
Giselle Ferreira – Não. O mercado
brasileiro de fraldas descartáveis cresce a
uma taxa muito maior que o PIB. Este ano,
o consumo desses artigos aumentou 14%
em volume na comparação com 2013. Não
existe importação de fraldas descartáveis
prontas da China, apenas de matéria-prima.
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ESPECIAL
Descartáveis Higiênicos/Fabricante
PR – Quanto a receita da Baby Roger
irá crescer em 2014 em comparação a
2013? E qual a projeção para 2015?
Giselle Ferreira – O mercado tem
um crescimento estimado acima de 10%
e costumamos projetar 35%. Mas a expansão não é apenas do volume. Há um
incremento nas vendas de produtos com
mais benefícios, o que por sua vez possibilita o aumento do ticket médio de venda.
PR – A Baby Roger em 2014 e 2015
fez ou planeja fazer algum investimento
em ampliação da produção?
Giselle Ferreira – Sim. Iniciamos
apenas 29% de lares brasileiros que ainda
usam o tipo de pano ou não utilizam outro
similar. A estimativa para 2015 é de 75% e
em 2016, 79%. No começo dos anos 2000,
a fatia detida pelo produto descartável
era de apenas 20%. Ou seja, em 15 anos
tivemos um crescimento da penetração
dessas fraldas de 295%. Isso ocorreu
porque, em duas décadas, o preço médio
da fralda descartável no Brasil caiu de US$
1 para US$ 0,10. Além disso, houve uma
mudança significativa no mercado de trabalho, hoje com incidência bem maior de
mulheres. Uma mãe precisa de praticidade
Portfólio Baby Roger: foco no custo-benefício.
em 2014 a compra de equipamentos.
Investimentos ainda envolvem atualização
do layout da nossa linha de produção,
treinamento de pessoal e aumento da
infraestrutura para receber o novo maquinário entre o final deste ano e começo do
próximo.
PR – Pelo acompanhamento da Baby
Roger, qual é a participação atual da fralda
de pano nos lares brasileiros? Essa fatia
tem diminuído ao longo dos anos?
Giselle Ferreira – Segundo dados
que recebemos da 3M, a estimativa de
penetração das fraldas infantis descartáveis
em 2014 será de 71%. Então, sobram
para trocar a fralda do filho, seja por não ter
tanto tempo ou por deixá-lo em escolinha
ou com algum parente.
PR – Qual foi a taxa de crescimento
anual de seu negócio de fraldas infantis
nos cinco últimos anos? A que atribui o
desempenho desse mercado?
Giselle Ferreira – A Baby Roger
acompanha o crescimento do mercado
e, em cinco anos, acumulamos 70% de
expansão em valor. Se focarmos apenas
no Nordeste, esse incremento é ainda
maior. Agora, verificamos a sofisticação do
consumo. Neste ano, o consumo de fraldas
descartáveis no país cresceu 14% em volu-
30
plásticos em revista
Outubro / 2014
me, na comparação com 2013. Em valor, a
expansão é de quase 29%, mostrando um
incremento no que se gasta com o produto.
O foco sai do preço e vai para benefício.
Hoje em dia, o Brasil fica apenas atrás dos
Estados Unidos e China no consumo de
fraldas descartáveis infantis.
PR – Qual foi a taxa de crescimento
anual de seu negócio de fraldas geriátricas
nos últimos cinco anos? A que atribui o
desempenho desse mercado?
Giselle Ferreira – O mercado de
fraldas adultas cresce 20% ao ano e já
movimenta mais de R$ 1 bilhão, segundo
dados da Nielsen. A população brasileira
está vivendo mais tempo e tem mais qualidade de vida. Uma estratégia da empresa
é não dialogar apenas com os idosos, pois
o problema não acomete apenas a eles.
Temos em mente que cerca de um terço
das mulheres acima de 40 anos apresenta
algum nível de incontinência, segundo a
Sociedade Brasileira de Urologia. Além
disso, precisam desse produto pessoas
que passaram por cirurgias, bem como
cadeirantes e deficientes. Esse negócio tem
crescido anualmente em nosso balanço,
tanto em volume quanto em variedade de
artigos.
PR – Nos três últimos anos, quais
melhorias em fraldas infantis e geriátricas
a Baby Roger introduziu? Como os nãotecidos e filmes gofrados para backsheets
contribuíram para esses avanços?
Giselle Ferreira – Há constantes
melhorias na capacidade de absorção
das nossas fraldas descartáveis, tanto nas
infantis quanto nas adultas. No último ano
renovamos todo o design das embalagens,
deixando-as modernas e visualmente mais
ajustadas ao público. Os nãotecidos contribuíram com novos tipos de tratamentos,
direcionando o fluxo de líquido, aumentando a absorção e evitando vazamento.
Os backsheets ajudaram na suavidade no
ESPECIAL
toque da fralda, dando mais conforto aos
usuários.
PR – Em 2012, a Baby Roger aplicava
em suas fraldas 10g/m² de nãotecido. Essa
gramatura ainda é mantida?
Giselle Ferreira – Sim, essa é a
gramatura que utilizamos, o mínimo que
encontramos no mercado brasileiro. Ela se
tornou um padrão aceitável de qualidade,
inclusive porque nunca testamos material
com gramatura menor.
PR – Qual é a gramatura padrão do
filme gofrado do backsheet utilizado em
suas fraldas infantis? Qual era a espessura
cinco anos atrás?
Giselle Ferreira – Utilizamos hoje
20g/m². Há cinco anos eram 23g/m². A
mesma variação foi verificada nas fraldas
para adultos.
PR – Ao comprar uma fralda infantil,
qual é a principal exigência do consumidor
brasileiro, no plano geral?
Giselle Ferreira – O preço ainda é
um atrativo muito grande na decisão de
compra. Mas, com mais acesso à informação, o consumidor compara marcas e
preços, fazendo escolhas que garantam
o melhor benefício. As pessoas estão em
busca de produtos de maior qualidade e
com preço adequado.
PR – E no caso das fraldas geriátricas?
Giselle Ferreira – O público prioriza
atributos como segurança e eficiência na
absorção. Os consumidores querem um
produto com qualidade, que possa ser
usado para ir ao trabalho, a um passeio, ou
mesmo para dormir sem se preocupar. Por
isso, concentramos nossas ações na linha
Plus. Modernizamos o mostruário para que
as embalagens ficassem mais compactas,
para melhorar a exposição na gôndola.
Fraldas geriátricas: reduto de expansão mais
acelerada.
PR – Pelo seu conhecimento, com
qual frequência, em média, ocorre a troca
diária de fraldas infantis no Brasil hoje
em dia e qual era essa frequência cinco
anos atrás? Por exemplo, a troca é menos
frequente devido à melhor performance
do produto ou é mais frequente devido
ao maior poder de compra da população?
Giselle Ferreira – Hoje, a troca é
calculada em cinco fraldas por dia. Melhor
performance do produto só faz diferença
durante a noite, no sono do bebê, quando
a fralda tem que durar de 10 a 12 horas
sem vazar. Durante o dia, mesmo uma
fralda com performance de 12 horas será
trocada após cerca de três horas de uso.
Há cinco anos, muitas mães colocavam a
fralda descartável no bebê apenas para ele
dormir ou quando saiam para um passeio.
No dia a dia, utilizavam uma fralda de pano
ou nada empregavam. Hoje, a população
tem o poder de compra para utilizar a fralda
descartável o dia inteiro.
PR – A Baby Roger continua a importar suas matérias-primas (celulose e gel
para absorção)? Em caso afirmativo, de
quais países a empresa compra os insumos e por que não opta por fornecedores
nacionais?
Giselle Ferreira – Compramos celulose dos Estados Unidos e gel de polímero
superabsorvente (SAP) da China e Japão,
pois não encontramos nenhum produto
similar nacional por aqui.
Produtos inovadores, soluções diferenciadas
em especialidades químicas.
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31
plásticos em revista
Outubro / 2014
absorveDores
uv
branqueaDores óTicos
PigmenTos
FoTocrômicos
gliTTers
PigmenTos
Termocrômicos
óxiDo De
Ferro micáceo
ESPECIAL
Descartáveis Higiênicos/ Filmes gofrados
Corpo a corpo é isso
Concorrência refina exigências para filmes
gofrados e laminados para backsheet
Fábrica da Clopay em Jundiaí: capacidade para 1.500 t/mês de backsheet.
O
mercado brasileiro de fraldas
infantis, carro-chefe da indústria
de descartáveis higiênicos, está
sendo chacoalhado por um
tsunami japonês. O movimento, aliás,
afeta toda a cadeia de suprimento, avalia
Richard Company, diretor geral da Clopay
do Brasil, papa mundial na extrusão de
filmes gofrados e laminação de estruturas
utilizadas no backsheet, ou cobertura externa, desses artigos. O executivo se refere à
recente instalação, em Jaguariúna (SP) da
planta da Unicharm, com sede em Tóquio.
Trata-se de uma das três maiores produtoras do mundo do segmento, empenhada
em firmar-se no país com o fornecimento
de fraldas de predicados iguais às supridos
pelas líderes Kimberly-Clark (negou entrevista), Procter & Gamble e Hypermarcas. “A
Unicharm é integrada em seus processos,
tem qualidade diferenciada e assim vai
elevar o padrão das fraldas vendidas no
país”, antevê Company.
Categorias de fraldas premium deram
um salto no Brasil em anos recentes. Por
tabela, tomou impulsio o uso de películas
gofradas com mais tecnologia embarcada,
como as respiráveis, conta o diretor da Clopay, com matriz em Ohio (EUA) e unidades
fabris nos Estados Unidos, Alemanha e
Jundiaí (SP). Esses filmes, chamados de
microporosos, permitem a ventilação e
evaporação enquanto mantêm-se impermeáveis. “O produto oferece mais conforto
para a criança e para o adulto por diminuir a
temperatura entre pele e fralda”, encaixa Fabio Fujimura, diretor de vendas e marketing
da subsidiária brasileira do grupo.
32
plásticos em revista
Outubro / 2014
O fornecimento de backsheet laminado, contendo nãotecido de polipropileno
(PP) e película de PE, foi outra tendência
alavancada pelas fraldas top de linha.
“Os modelos munidos apenas de filme
no backsheet ainda representam grandes
volumes, mas crescem menos. Em regra,
são artigos do tipo econômico”, esclarece
Company. Outra tendência emergente entre
os donos de marcas refere-se às propriedades para impressão, especialmente em
fraldas infantis. Aliás, essa exigência da
indústria final protege os fornecedores
nacionais. Trazer um produto da China
demora cerca de três meses e as mudanças no visual podem ser necessárias e de
realização cobrada em tempo muito mais
curto. “Além disso, as tarifas de importação são altas, a logística é complicada
e o câmbio é muito volátil”, assinala o
diretor geral da Clopay. De fora, só entra
um volume de descartáveis higiênicos sem
expressividade de vizinhos do Mercosul.
“Mas nem consideramos importações
esses desembarques, pois estão dentro do
bloco de comércio”, acrescenta o diretor.
Pelas estimativas da empresa, o consumo
Fraldas
impressas:
visual desponta
entre os requisitos.
ESPECIAL
Company e Fujimura: fraldas premium
impulsionaram uso de estruturas laminadas.
brasileiro de filmes para descartáveis higiênicos está entre 66.000 t/a e 67.000 t/a ante
capacidade instalada de 90.000 t/a no país.
Prioridade pétrea no ramo é a redução da espessura do filme sem perda de
desempenho, condição ligada ao custo
e acessibilidade da fralda descartável a
diferentes camadas de consumidores,
esclarece Company. “Hoje em dia, a gramatura dos gofrados usados pelas marcas
líderes anda em 16g/
m²”, ele situa. Contudo, é preciso lembrar
que a maior parte dos
fabricantes já usa ou
está migrando para
o backsheet laminado. “Em regra, essa
Reiter: película importada estrutura possui 16g/
tem preço mais atraente. m² do filme mais 12g/
m² de nãotecido. São
cerca de 28g/m² mais o adesivo”, ilustra
o porta-voz da Clopay. Segundo ele, as
principais grifes de descartáveis higiênicos trouxeram a laminação para dentro de
casa. “É uma forte tendência alavancada
por questões econômicas”, Company
considera. A Clopay, a partir da planta de
Jundiaí, fornece tanto a película sozinha
quanto o laminado de filme e nãotecido,
dependendo da necessidade de cada
33
plásticos em revista
Outubro / 2014
cliente. Filmes para absorventes femininos
possuem gramatura igual à das fraldas
infantis, enquanto nas geriátricas o índice
varia entre 21g/m² e 22g/m². Pelas contas
da empresa, o backsheet representa cerca
de 18% do custo de uma fralda, podendo
variar caso seja laminado ou não.
Como os líderes em fraldas no Brasil
são empresas globais, sustenta Company,
os produtos aqui manufaturados e ofertados
em nada deixam a desejar em comparação
àqueles supridos em mercados maduros,
apesar do desnível na comparação de poder
de compra populacional. Os filmes gofrados
também refletem o grau de atualização tecnológica. “Nossa produção aqui em Jundiaí
é igual à da Alemanha ou Estados Unidos”,
garante o diretor. Mas essa evolução é
relativamente recente. “Há 10 anos, não
havia fralda com filme respirável produzida
localmente”, ele recorda.
ESPECIAL
Descartáveis Higiênicos/ Filmes gofrados
Absorventes: gofrados de gramatura similar à
das fraldas infantis.
Filmes gofrados: cresce a demanda pelo tipo
respirável.
No segmento infantil, as fraldas da
categoria premium detêm aproximadamente
12% de participação no mercado, retoma o
fio Fujimura. Abaixo dela aparecem duas
categorias intermediárias que, juntas,
correspondem a 52%. O restante pertence
aos artigos mais econômicos, chamados de
low end. “Este último nicho correspondia a
70% do setor 10 anos atrás”, comenta o
diretor de vendas e marketing. Para essa
sofisticação, contribuíram a melhora de
renda, disponibilidade de produto e preço
final, ele atribui. Tanto é assim, coloca,
que os redutos de maior expansão são os
dois compartimentos intermediários, pois
a qualidade é adequada e o desembolso por
parte do consumidor não é tão alto.
Em 2014, os resultados da Clopay
no Brasil ainda serão positivos, apesar
da desaceleração geral da economia. De
qualquer forma, a expansão será menor do
que em anos recentes. Com menos dinheiro
no bolso, a população reduz um pouco seu
ritmo de compra, nota Fujimura. Segundo
ele, se uma mulher usar um absorvente a
menos por ciclo, que requer em média oito
unidades, e uma mãe dispensar uma fralda
da média de cinco ou seis unidades diárias,
haverá uma queda direta de 10% nas vendas
desses itens. No entanto, encaixa Company,
antes de isso acontecer, as pessoas migram
para modelos mais baratos.
Pelo acompanhamento da Clopay,
a expansão do mercado de descartáveis
higiênicos é de 3% a 4% ao ano. Daqui para
a frente, porém, o crescimento será dado a
partir do incremento da penetração desses
produtos nos lares brasileiros. “Como a taxa
de natalidade no Brasil já é baixa, a tendência aponta para menos consumidores de
fraldas infantis ao longo do tempo”, projeta
o diretor geral. A produção total da Clopay
para atender aos redutos de fraldas infantis
e geriátricas e de absorvente higiênicos está
situada em 1.500 t/mês na unidade paulista.
Por enquanto, a base brasileira importa
de plantas da companhia o chamado filme
elástico, cuja composição é sintetizada
num mistura de resinas elastoméricas não
reveladas e presente na denominada orelha,
a parte lateral, de algumas fraldas premium.
“O componente é usado para ajustar o produto à cintura da criança, tornando-o mais
confortável”, afirma Company. Produzir esse
tipo de película no Brasil ainda é inviável por
conta do volume. “A capacidade de uma só
linha seria maior do que a demanda de toda
a América Latina”.
Na percepção de Paul André Reiter,
executivo do Packing Group, bólido nacional em flexíveis, sua clientela de filmes
gofrados mantém a busca pela redução de
espessura e por produtos de toque mais
suave. “No reduto infantil, há forte procura
por impressões cada vez mais elaboradas”,
ele reconhece, em sintonia fina com a visão
da Clopay . A estimativa de Reiter quanto
ao consumo anual de backsheet no Brasil
ronda 30.000 t/a, destoando portanto da
projeção do concorrente. Ponto nevrálgico
34
plásticos em revista
Outubro / 2014
de convergência entre os competidores no
ramo é na ociosidade na indústria. Segundo
Reiter, a capacidade instalada no setor é de
40.000 t/a.
De acordo com o transformador, a
média da gramatura das películas disponíveis no Brasil está entre 20g/m² e 22g/
m². Porém, quando o filme é utilizado em
estruturas laminadas, já fornecidas por sinal
pelo Packing Group, a tendência é que sua
gramatura caia para 14 g/m², Reiter afiança.
O laminado ganha em toque e maleabilidade, mas a oferta de nãotecido para tanto é
restrita, ele insere. A empresa produz atualmente 10.000 t/a de filmes para descartáveis
higiênicos, porém já planeja expansões
para 2015. “Esse mercado tem aumentado
sua relevância para nosso grupo e estamos
bastante atentos a oportunidades”, ele
comemora, sem abrir o faturamento. Suas
linhas de extrusão e laminação, por sinal,
não refletem a ociosidade do segmento.
“Estamos com a produção interinamente
tomada”, ele acrescenta.
Entre os diferenciais do menu do Packing Group, fisga Reiter, pinta a coextrusão
dos gofrados, conferindo-lhes propriedades
mecânicas superiores, e sua impressão de
até oito cores. “O mercado atua, no plano
geral, com máquinas monocamada e impressão de até duas cores”, ele assevera.
Reiter, por seu turno, vê inquieto a entrada
de produto importado. Em regra, afirma,
ele desembarca com preço mais atraente,
remetido por transformadores do Chile e Argentina, por exemplo, com acesso facilitado
a resinas mais baratas que os competidores
brasileiros. “A petroquímica nacional deveria
olhar a situação com grande preocupação”,
ele sublinha. Por essas e outras, estima, por
aqui, a participação no Brasil do gofrado
no custo de uma fralda infantil ronda 15%
a 20%, “enquanto para o tipo adulto e absorventes femininos a fatia salta para 30%”,
Reiter completa.
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
ESPECIAL
35
plásticos em revista
Outubro / 2014
ESPECIAL
Descartáveis higiênicos/Nãotecidos
O guardião da performance
Evolução de nãotecidos para fraldas e absorventes
está costurada com a melhora do poder aquisitivo
E
nquanto a indústria nacional,no
plano geral, convulsiona no fundo
do poço, o reduto de absorventes
higiênicos pinta feito ilha paradisíaca
num mar de superlativos. No sismógrafo da
consultoria Nielsen, por exemplo, fraldas e
absorventes foram os campeões de vendas
da categoria de produtos higiênicos no
canal farma em 2013. No mesmo período,
segundo a fabricante Hypermarcas, o mercado brasileiro registrou compras de fraldas
quatro vezes ao mês na média de três a quatro
pacotes por semana. Para apimentar ainda
mais a relação desse oásis com os investidores, o segmento de fraldas para adultos
cresce à taxa anual de 20% e movimenta
em torno de R$ 1 bi. A Sociedade Brasileira
de Urologia projeta em 10 milhões a parcela
da população com incontinência urinária e,
ainda no plano demográfico, os idosos hoje
compõem 12% dos habitantes e devem
passar a 18% em 2030.
São motivos de sobra para a indústria
de nãotecidos, em especial de polipropileno
(PP), soltar rojões de alívio num momento de
piora generalizada entre mercados seus, que
o digam calçados e componentes automotivos. A Associação Brasileira das Indústrias
de Nãotecidos e Tecidos Técnicos (Abint)
negou entrevista, mas o espírito da coisa
é retratado pelo clima na Fitesa, formadora
de opinião mundial no ramo e integrante
da holding brasileira Évora. À frente de seis
fábricas no continente americano, três na
Europa e uma na China, a empresa trombeteia a decisão de investir R$ 160 milhões em
Fraldas: nãotecido influi no conforto e acabamento.
sua segunda planta de nãotecidos no Brasil
e declarou como justificativa na mídia o
florescimento da procura por absorventes
higiênicos. Somada à unidade de 54.000
t/a em Gravataí (RS), a futura planta em
Cosmópolis, interior paulista, elevará a
capacidade da Fitesa para 74.000 t/a. Além
de marcar em cima da pinta os principais
centros do consumo nacional, ambas as fábricas acham-se próximas de suas fontes de
polipropileno (PP), as unidades da Braskem
em Triunfo (RS) e Paulínia (SP). “A planta
em Cosmópolis estará rodando a pleno no
segundo semestre de 2016, o ano de partida
da operação, e os planos são de exportar
20% da sua produção para o restante da
América do Sul”, antecipa Mariana Mynarski,
gerente corporativa de Recursos Humanos e
ex-gerente comercial da Fitesa.
36
plásticos em revista
Outubro / 2014
Importações de nãotecidos chineses
dão enxaqueca nessa indústria na América
do Sul, em especial no Brasil. No entanto, a
perspectiva de crescimento na região do excedente exportável da China, para compensar
o atual resfriamento da sua demanda interna,
não aparentam refrear os planos de vendas
internacionais da operação da Fitesa no
Brasil, apesar dos nossos reconhecidamente
onerosos custos de manufatura, exemplificados pela carga tributária, energia elétrica e
matérias-primas. “A competitividade da Fitesa está lastreada na excelência operacional
e base tecnológica”, rebate Mariana e, a favor
do seu argumento, servem de referência duas
linhas Reicofil 4 na ativa em Gravataí, gemas
da alemã Reifenhäuser para a produção de
nãotecidos spunmelt. Escorada na presença
da filial da Fitesa em Tianjin, a gerente con-
ESPECIAL
nossos parceiros (fabricantes
de descartáveis higiênicos)
prezam qualidade, serviço
e relacionamento de longo
prazo”, ela argumenta. “Por
sua vez, clientes regionais e
globais dispõem na Fitesa
de uma solução integrada e
de padrão de atendimento
Gravataí: aprimoramento da suavidade e elasticidade de nãotecidos. imutável em qualquer lugar
do planeta”. No plano especítrapõe que, apesar do refreamento em curso
fico do Brasil, concorda Mariana, o mercado
da demanda, planejado pelo governo chinês
de nãotecidos é atazanado há alguns anos
e sem término previsto , “o mercado do país
pela concorrência chinesa. Pelo flanco das
e o asiático como um todo continuarão a
exportações brasileiras do produto, a gerente
crescer nos próximos anos”.
aponta obstruções no caminho de sua emO desembarque de nãotecidos e produpresa a cargo das barreiras comerciais da
tos acabados da China, considera Mariana,
Argentina. O charme do mercado interno, no
pode impactar alguns campos de atuação
entanto, compensa todos esses torcicolos,
da Fitesa, mas não a totalidade da base de
deixa claro a porta-voz da companhia. “O
clientes. “Do ponto de vista de nãotecidos,
consumo brasileiro de descartáveis higiê-
Transformamos
o menor no melhor.
A nova CX.
Engineering Passion
nicos tem sido impulsionado pelo aumento
da renda e envelhecimento da população”,
distingue Mariana. “Além disso, se entrar
na categoria de fraldas e absorventes, dificilmente esse consumidor sairá, reduzindo
assim o impacto da crise econômica sobre o
movimento desses produtos”. No embalo da
cintilação dessas estrelas, a gerente serve à
mesa a estimativa de um crescimento médio
acumulado de 3,3% na demanda doméstica
de nãotecidos para aplicações higiênicas
entre 2013 e 2018. “Para o período de 2012
a 2017”, ela intercede, projetamos aumento
médio acumulado de 2,7% para a demanda
de fraldas infantis”. Com esse respaldo,
amarra Mariana, “a Fitesa acredita que em
todo momento de crise existe uma oportunidade e, por isso e para poder acompanhar
a evolução da procura por nãotecidos,
seguimos ampliando nossa capacidade”.
Pelo andar da carruagem captado no
cx.kraussmaffei.com
37
plásticos em revista
Outubro / 2014
ESPECIAL
Descartáveis higiênicos/Nãotecidos
sonar da Fitesa, a fralda de pano, apesar de
enaltecida por opositores ao plástico, tem
seu raio de alcance circunscrito a regiões
muito pobres do Brasil, situa Mariana. Por
seu turno, ela coloca, a fralda descartável
desfruta taxa de penetração ao redor de 70%,
estimativa lastreada numa quantidade mínima de uso diário do produto. “A penetração
aumenta de acordo com a melhora do poder
aquisitivo”, frisa. No tocante à fralda geriátrica, embora declare carecer de informações
mais precisas, a executiva projeta a atual taxa
de penetração ao redor de 7%. Por fim, na
esfera dos absorventes femininos, Mariana
indica penetração aproximada de 65% na
população, projeção também calibrada por
um número mínimo de uso diário desse tipo
de descartável higiênico.
Nãotecidos têm contribuído para o
desempenho das fraldas e absorventes manufaturados no Brasil, influindo em atributos
como conforto, acabamento, retenção de
líquidos e redução de
alto alongamento, baixa
vazamentos e espessugramatura e propriedades
ras. Uma referência nesse
elásticas para as coberturas
sentido, solta Mariana,
de fraldas infantis. De acordo
são nãotecidos mais sucom a empresa, constam de
aves. A Fitesa, por sinal,
nãotecidos a partir de tecdesenvolveu em Gravataí
nologia de cardados consoesse tipo de produto para
lidados termicamente (therAbsorventes descartáveis: taxa de 65%
componentes críticos de de penetração no Brasil.
mobond) e fibras extensíveis
fraldas, caso de orelhas
especiais. No gramado da
e coberturas internas e externas. Trata-se,
sustentabilidade, a triangulação entre Fitesa,
Braskem e a norte-americana NatureWorks
segundo a empresa, de nãotecido spunbond
resultou na introdução, desde setembro de
mais macio, resultante de recursos como
2013 em descartáveis higiênicos nos EUA,
padrão de calandragem suave C-ROD e
de um nãotecido bicomponente, mérito da
colmeia. Outra alternativa acenada: o nãojunção de dois polímeros de fonte renovável:
tecido bicomponente (PP/ polietileno) com
capa de PE verde, formulado pelo grupo
padrão suave de calandragem. Na mesma
petroquímico brasileiro com eteno gerado
trilha dos aprimoramentos em descartáveis
pela rota do etanol, e núcleo de ácido polihigiênicos, Mariana destaca sistemas de
lático (PLA), o plástico biodegradável mais
fechamento mecânico e o emprego de maconsumido no mundo e cuja produção a
teriais elásticos. Novamente, a Fitesa forma
NatureWorks lidera.
opinião no setor com seus nãotecidos de
Masters e adesivos que lapidam as fraldas
Neymar dos masterbatches no país,
a Cromex aumenta o assédio sobre o
segmento de nãotecidos. “Incrementamos
recentemente a oferta de concentrados
brancos de alta dispersão, para atender
a demanda carente de materiais capazes
de evitar o entupimento de fieira”, expõe
Giovanni Dias, especialista de brancos,
Segundo: adesivos
pretos e aditivos da componedora. “Tammais específicos para
bém cobrimos nãotecidos com aditivos
nãotecidos.
antiestáticos e antioxidantes e, para hidratação, contamos com extratos de vera e camomila”. Na esfera
dos filmes gofrados, Dias brande novidades tipo masters brancos
com tecnologia antilacing, para zerar a possibilidade de microbolhas
nas películas, além de cargas minerais soft touch e tensoativos
para proteção da pele, provendo melhor distribuição do líquido no
backsheet de descartáveis higiênicos.
A influência da colagem na qualidade final do nãotecido
inspirou o lançamento da série de 12 adesivos inodoros hot melt
Higimelt pela Adecol. “As fraldas, por exemplo, empregam cola na
sua construção, posicionamento e no elástico”, aponta o diretor
comercial Alexandre Segundo. “Higimelty entrega soluções de
características diferentes para cada uma dessas etapas e sem risco
de afetar as partes íntimas”.
Na composição de Higimelt, solta conciso o diretor, entram
ingredientes como polietileno de baixa densidade linear (PEBDL)
metalocênico e copolímeros de bloco tipo estireno/isopreno e estireno/butadieno. A formulação permite ao equipamento de aplicação
do adesivo trabalhar com capacidade máxima, assegura Segundo.
“A série Higimelt prima pela resistência em presença de umidade,
não sofre carbonização no coleiro, não exala fumaça nem forma
fios (cabelos de anjo) durante o uso”, sustenta o executivo. “Além
do mais, requer temperaturas inferiores às exigidas pela concorrência para chegar ao ponto de aplicação”. Como a introdução de
Higimel é recente, argumenta Segundo, o raio de suas vendas por
ora se circunscreve a fabricantes menores e médios de descartáveis
higiênicos. “Mas prevemos forte fornecimento aos grandes do setor
em 2015”, ele confia.
38
plásticos em revista
Outubro / 2014
ESPECIAL
Descartáveis higiênicos/Resinas
Os grades que não dão furo
Desempenho das fraldas e absorventes deve
muito à ourivesaria de PE e PP
Fraldas infantis: filme elástico debuta em modelos premium.
C
adeira cativa de polietileno (PE)
em descartáveis higiênicos o
filme gofrado consagrou-e no
backsheet, ou cobertura externa
de fraldas e absorventes. Acontece que a
Dow Chemical foi além e hoje seus grades
têm grande potencial de uso em outros
componentes desse reduto. Nº1 mundial em
PE, o grupo norte-americano está atacando
as partes de nãotecidos (ver à página 40),
cadeira cativa do polipropileno (PP), tanto
em topsheet (a cobertura interna), quanto
em estruturas laminadas filme/nãotecido
no backsheet. Outra frente de avanço de PE:
os filmes elásticos nas orelhas de fraldas,
elemento que proporciona melhor ajuste ao
corpo e, por isso, aprimora a capacidade
de contenção de fluidos, explica Beatriz
Goldaracena, gerente de marketing das
áreas de higiene e medicina da Dow na
América Latina. “Hoje em dia, os filmes
elásticos são muito utilizados em artefatos
premium”, ela assinala. Embora esses
filmes, feitos de elastômeros com base em
PE das famílias Infuse, Versify e Affinity da
Dow, não sejam produzidos no Brasil, eles
aparecem cada vez mais nos descartáveis
higiênicos vendidos por aqui, constata a
porta-voz.
Para o mercado de descartáveis higiênicos a empresa desenvolveu Agility 6047,
grade de polietileno de baixa densidade
linear (PEBDL). “Em combinação com
polietileno de baixa densidade (PEBD),
a resina permite baixar a gramatura dos
filmes, enquanto evita seu alongamento e
confere, ao mesmo tempo, maleabilidade”,
Beatriz descreve. Aliás, essa diminuição
de gramatura do gofrado é demanda incessante no Brasil e países vizinhos, sob
o atrativo da redução de custos. Fora da
esfera do preço, intercede a executiva, o
público de descartáveis higiênicos procura
discrição, por isso as espessuras estão, de
39
plásticos em revista
Outubro / 2014
forma geral, cada vez menores. “As pessoas
não querem que outros percebam o uso de
um absorvente ou de um produto para incontinência urinária”, justifica a gerente da
Dow. Segundo ela, não há receita ideal para
as blendas com teores de PEBDL, PEBD
e polietileno de alta densidade (PEAD)
aplicadas em gofrados para fraldas e absorventes. “PEBD traz processabilidade,
enquanto o tipo linear garante o balanço
entre rigidez e maleabilidade. PEAD, por
seu lado, assegura resistência”, ela alinha.
A principal função do backsheet,
prossegue Beatriz, é reter todo o líquido
dentro da fralda ou do absorvente. Por isso,
uma das principais exigências das marcas
é que o filme não fure. Pode parecer óbvio,
mas essa necessidade é um desafio para
transformadores e produtores de matérias-primas, pois a película gofrada entra em
contato direto com o gel superabsorvente
que, antes de captar o líquido, apresenta-se
ESPECIAL
Descartáveis higiênicos/Resinas
Lombardi: PP
contribui para reduzir
paradas de limpeza
na produção de
nãotecidos.
como uma areia e pode provocar microfuros
na película. “Se deixar vazar, o backsheet
não cumpre seu papel primordial”, condiciona a especialista da Dow. Além disso,
as blendas precisam ser ajustadas para
não permitirem o alongamento do filme,
atributo que contribui para a estética e evita
distorções na impressão. “Essa característica também é importante na fabricação dos
descartáveis higiênicos, pois indicam aos
sensores do maquinário onde começa e
termina cada produto”, ela esclarece. Outras
propriedades fundamentais cobradas de PE
em gofrados incluem flexibilidade, para
ajuste ao corpo, e a ausência de ruído, particularidade relacionada à discrição no uso.
O mostruário brasileiro de fraldas
infantis e adultas e absorventes femininos,
sustenta Beatriz, está em linha com similares ofertados ao redor do mundo. “Diversos
fabricantes de descartáveis higiênicos,
transformadores e fornecedores de resinas
são empresas transnacionais e, por isso,
a tecnologia é compartilhada por todos
os cantos do planeta. Creio que a América
Latina esteja até mais avançada no quesito
baixa gramatura, devido a questões de custo
e sustentabilidade”, ela nota. Na região, a
tendência de laminação do filme com nãoteProtetores diários:
aumento recente
das vendas.
cido no backsheet veio para ficar. “Algumas
fraldas ainda permanecem somente com o
filme no backsheet mas todas devem migrar,
com o passar do tempo, para a estrutura
laminada”, ela antevê. “O consumidor está
cada vez mais exigente, buscando conforto,
suavidade e conveniência”. O nãotecido no
backsheet tem a função de proporcionar
maciez ao toque, como se fosse um tecido
de verdade, esclarece Beatriz.
Para calibrar sua investida, a Dow se
escora em projeções como a da consultoria
Euromonitor. Ela aponta para um crescimento médio do mercado de descartáveis
higiênicos em 3% ao ano na próxima
década. De acordo com Beatriz, esse viés
ascendente está alinhado à expansão do
PIB e melhora do poder aquisitivo de baixa
renda, com consequente acesso a novos
produtos. “O consumidor brasileiro é muito
inclinado a experimentar e se começa a
usar fralda descartável não volta atrás”,
PP que se cuide
A norte-americana
Dow Chemical desenvolveu
uma família de polietileno
(PE) grau fibra, chamada
ASPUN, para produção de
nãotecidos com tecnologia
spunbond monocomponente
e bicomponente. As resinas
Fraldas: PE assedia nãotecidos.
têm potencial para substituir
o polipropileno (PP), polímero consolidado em descartáveis higiênicos em partes como topsheet (a cobertura interna de fraldas
e absorventes) e no backsheet (cobertura externa) laminado com
filmes de PE. No último caso, o nãotecido de PE oferece toque mais
macio e suave versus PP, além de assegurar melhor caimento ao
corpo, explica Beatriz Goldaracena, gerente de marketing para o
segmento de higiene e medicina da Dow na América Latina.
Na região, aliás, o trabalho para promover essa migração
embute uma ofensiva na cadeia. Começa pelos produtores de
maquinário e passa por fabricantes de nãotecidos e convertedores
até bater às portas dos formadores de opinião em descartáveis
higiênicos. O parque de máquinas latino-americano é em regra
monocamada e desenhado para processar PP, mas com ajustes
poderia alterar o material. “Só é necessário fazer modificações
nos parâmetros de processo para trabalhar com PE”, esclarece
Beatriz. Segundo ela, o mercado está muito inclinado a adotar o
nãotecido de PE mas, como a indústria de descartáveis higiênicos
é intimamente ligada a aspectos de saúde, toda mudança demora
um pouco para acontecer. “Porém, já percebemos um engajamento
da cadeia inteira”, ela comemora. Já na Europa e Estados Unidos,
onde os equipamentos são bicomponente, o nãotecido de PE já
é aplicado. “Há estruturas que têm PP por dentro e PE por fora”.
A vantagem para o convertedor está no reaproveitamento das
rebarbas de produção. Como o nãotecido é do mesmo material
que o filme, as aparas podem voltar ao início da linha, comenta
Beatriz. Outros benefícios podem chegar com o barateamento do
PE nos EUA devido à obtenção de eteno via gás de xisto, mas o
repasse dessa redução de custo ainda depende da eficiência da
transformação, conclui a gerente da Dow.
40
plásticos em revista
Outubro / 2014
ESPECIAL
Beatriz Goldaracena: América Latina está
avançada em gramaturas mais baixas.
observa a gerente. No caso das mulheres,
um impulso que ganha força na América
Latina é o uso de protetores diários. “Nos
Estados Unidos e Europa, esses artigos
já estão consolidados”, compara Beatriz.
Outra mudança cultural está nos produtos
para incontinência urinária, antes fora do
radar dos consumidores brasileiros. “Esses
itens trazem conforto para adultos ativos,
melhorando sua qualidade de vida”, ela
completa.
No portfólio de PE da Braskem, o hit
da temporada para filmes gofrados toma
corpo no grade de alta densidade aditivado HD3000S. Fabio Agnelli Mesquita,
engenheiro de aplicação de PE do grupo,
recomenda a resina para o backsheet de
fraldas por aprimorar a rigidez das películas,
entre outros pontos altos em características
mecânicas, além da facilidade de processamento. Sob a alegação de constituírem
informações confidenciais, Mesquita emudece quando questionado sobre o mercado
de gofrado em descartáveis higiênicos,
padrão doméstico e internacional de
espessuras da película, tipos de blendas
adotadas no filme e suas peculiaridades
para uso em absorventes femininos, fraldas
infantis e geriátricas.
Muito menos arisco, Gustavo Lom-
bardi, gerente comercial para polipropileno
(PP) da Braskem, atribui a nãotecidos o
naco de 10% do volume de vendas internas
desse termoplástico da empresa. Desse quinhão, ele esmiúça, descartáveis higiênicos
embolsam cerca de 60% e, para o quinquênio 2013-2018, o executivo projeta para
esse reduto crescimento médio de 4%. Pelo
flanco das melhorias na resina para trabalho
com nãotecidos, Lombardi comenta o fluxo,
pelo pipeline do grupo, de desenvolvimentos com vistas à redução de paradas para
limpeza de linhas, trunfo para a vida útil de
esteiras e filtros, ou então, grades passíveis
de contribuir para a maciez e resistência do
nãotecido a menores gramaturas. O desafio,
ele deixa claro, está embutido na avantajada
e multifacetada infra de processo em alta
Backsheet: PE
colabora na
contenção de
fluidos.
velocidade, compreendendo a extrusão
plana de filamentos de baixo título depositados em esteiras, submetidos a seguir à
calandragem. As bobinas jumbo resultantes
vão para a etapa complementar do corte.
“Buscando minimizar os impactos das
paradas parta limpeza e set ups, PP deve
conferir, mediante distribuição de massa
molar e índices adequados de fluidez e
aditivação, estabilidade e resistência aos
filamentos na extrusão, formando a manta
de nãotecido”, assinala. “Além disso, a
formação de oligômeros (tipo de cera que
se acumula) no processo deve ser ínfima,
de modo a prolongar a produção entre as
paradas para limpar a máquina”. •
41
plásticos em revista
Outubro / 2014
3 questões
peter browning/Solvay
Fernanda de Biagio
Vai ser um arraso
Motores turbo caem do céu para os plásticos
de engenharia, atesta diretor da Solvay.
Motor turbo VW: controle de temperatura exige substituição de metais e borrachas.
A
ntes sócios de carteirinha das provas de automobilismo, os motores
turbo têm sido popularizados em
virtude de um apelo desconectado
do circo da F-1 e antenado na sustentabilidade: o canto da sereia da economia de
combustível. Em torno de cinco anos, essa
tendência, já visível no Primeiro Mundo,
deve encorpar no Brasil, pelas mãos de um
movimento liderado por modelos premium
montados aqui por marcas alemãs, caso da
BMW, Audi e Mercedes Benz, prevê Peter
Browning, diretor para o mercado automotivo da Solvay Engineering Plastics. Esse
upgrade sob o capô, aliás, traduz boa nova
para peças de plásticos de engenharia, pois
o material tem potencial de deslocar partes
de metal e borracha em motores turbo, deixa
claro o expert nesta entrevista.
PR – Por quais razões os motores
turbo têm mais plásticos de engenharia do
que os tipos convencionais de combustão
interna?
Browning – O propósito do turbo
é aumentar a quantidade de ar no motor
42
plásticos em revista
Outubro / 2014
com maior pressão na admissão de ar, o
que torna o processo de combustão mais
eficiente. No entanto, o efeito colateral da
pressão mais alta é também um incremento
da temperatura do ar. Em consequência, os
engenheiros precisam desenvolver sistemas para resfriar o ar a um nível aceitável.
Isso, normalmente, é feito por meio de um
sistema de arrefecimento de ar (CAC), por
vezes chamado de intercooler, convertido
em três partes: um trocador de calor ar/ar de
metal e duas conexões de extremidade, na
maioria dos casos feitas de poliamida (PA).
Esse equipamento tem um “lado quente”
que leva o ar comprimido do turbo ao CAC,
bem como um “lado frio”, que leva do CAC
para o coletor de admissão de ar. Devido a
requerimentos técnicos, esses dois dutos
de ar são candidatos naturais a usarem
plásticos de engenharia com base em PA. PA
66 é uma solução com bom custo-benefício,
que combina resistência térmica e mecânica.
Exemplos atuais de aplicações de PA 66
incluem: duto de ar do turbo/lado frio e
lado quente (injeção e sopro); tanque CAC/
lado frio (material padrão); tanque CAC/lado
quente (material com resistência térmica) e
coletor de admissão de ar.
PR – Pela sua experiência, quanto
tempo vai levar para que montadoras no
Brasil substituam motores tradicionais pela
versão turbo? Se a mudança não for total,
quais categorias de veículos permanecerão
com motores convencionais?
Browning: PA
66 sobressai
em tanques
CAC, coletores
de admissão
de ar e duto
de ar do motor
turbo.
Browning – O principal fator por trás
da adoção do turbo é a melhora da eficiência
no uso de combustível e não o desempenho
esportivo. A Solvay acredita que o governo
brasileiro irá seguir as tendências estabelecidas em outras regiões do mundo e que
sistemistas verão o turbo como uma boa
opção para se adaptarem a novos padrões.
Com relação ao tempo para adoção da
tecnologia, montadoras só irão considerar
o turbo quando elas introduzirem um novo
modelo de motor. Como ciclos para motores
são longos, entre dez e 12 anos, isso pode
levar um tempo considerável.
Com 2,5 milhões e 4 milhões de carros
na Ásia e Europa, respectivamente, usando
motores turbo a gasolina em 2013, essa
tecnologia atingirá 7 milhões de veículos
nos dois continentes em 2018. Esperamos
o mesmo tipo de tendência no Brasil, mas
com pequeno atraso – em 2018, cerca de
140.000 veículos devem conter motor turbo
no país, inclusos numa produção total de 3,9
milhões de unidades.
PR – Analistas concordam que, no
curto prazo, produção e vendas de veículos
no Brasil crescerão de forma muito lenta,
contando com capacidade instalada estimada em 5 milhões de veículos por ano e
que deve crescer em breve. Essa situação
43
plásticos em revista
Outubro / 2014
poderia postergar a adoção, em larga escala, dos motores turbo?
Browning – Em outras regiões no
mundo, motores turbo se espalharam a partir
de modelos esportivos para sedãs de luxo
e, posteriormente, aos carros compactos.
Cada vez mais, o propulsor de mercado
não é o desempenho esportivo, mas a economia de combustível. Assim, a tecnologia
está sendo adotada de forma crescente. Já
começamos a ver modelos de carros com
múltiplos turbocompressores (até três em
um mesmo veículo) ou turbocompressores
elétricos, que evitam o fenômeno chamado
turbo lag (o tempo que leva para o turbo
ser acionado depois que o motorista pisa
no acelerador). No Brasil, a Solvay espera
ver a mesma curva de implementação da
tecnologia, primeiramente em modelos
esportivos, depois em sedãs e, por fim, nos
segmentos restantes. •
3 questões
Otávio Carvalho/maxiquim
Uma
situação
inédita
Na América do Sul, a questão não é mais de onde vem a resina,
mas quem vai suprir o mercado, constata diretor da MaxiQuim.
O
távio Carvalho, sócio executivo
da consultoria MaxiQuim, aponta
nesta entrevista uma conjunção de
fatores sem equivalente no passado da petroquímica mundial. A América do
Sul, ele deixa claro, entra nessa foto como
um dos canais de desova do excedente
de resinas internacionais mais acessíveis,
situação agravada pela deflação mundial
sem fim à vista, a erupção da petroquímica
norte-americana movida a gás de xisto,
desaceleração da China e a necessidade
crescente de importações complementares
de poliolefinas (e PVC) para corresponder,
em poucos anos, ao crescimento do consumo sul-americano, mesmo sujeito a altos e
baixos em sua caminhada.
PR – As exportações norte-americanas de poliolefinas para a América do
Sul deverão praticamente dobrar em cinco
anos, segundo a consultoria IHS. Como
essa projeção afetará a competitividade dos
produtores de PP e PE na região?
Carvalho – Há alguns fatores a considerar. Primeiro, nunca houve na história
recente da petroquímica tamanha diferença
de custos de produção entre produtores
base gás e base nafta. Segundo, tampouco
houve crescimento da demanda tão concentrado em apenas uma região do mundo,
em economias emergentes de elevada taxa
de crescimento econômico, como China.
Terceiro, nunca houve tamanha expansão
de capacidade em um mercado maduro
como a América do Norte. Esses três fatores
combinados são raros e, provavelmente,
não serão repetidos nas próximas décadas.
44
plásticos em revista
Outubro / 2014
Sob este cenário transcorre a análise de
timing, capacidades e custos de matérias-primas relativos a projetos de expansão
da capacidade de poliolefinas na América
do Sul. O fato de esses projetos terem uma
competição desigual, pelo lado dos custos,
é o que os posterga ou cancela, conduzindo
a projeções de aumento das importações sul
americanas. Como a história nos tem provado, alguns projetos ficam pelo caminho, seja
devido a custos, mercado, disponibilidade
de matérias-primas, política etc. É muito
provável que não sairão do papel projetos
cuja competitividade é comprometida por
esse novo cenário.
PR – Braskem sustenta que a capacidade do Brasil e Argentina é suficiente para
suprir a demanda brasileira de PE até 2020.
Mas como viabilizar, economicamente, a
continuidade desse suprimento com custos
de produção muito acima dos desfrutados
pela resina obtida da rota do gás de xisto
nos EUA?
Carvalho – A capacidade brasileira
de PE é de 3,025 milhões de t/a e a da
Carvalho: três causas da reviravolta.
Argentina, 660.000 t/a. O consumo somado
nos dois países ronda 3,2 milhões de t/a.
No papel, com projeções de crescimento
modestas, poderíamos dar conta. Porém,
plantas petroquímicas em geral rodam no
limite pouco acima de 90% de suas capacidades. Se considerarmos as limitações no
fornecimento de gás na Argentina e Brasil,
além dos eventuais problemas operacionais
e manutenções programadas, teríamos uma
capacidade efetiva próxima de 3,4 milhões
de t/a. Porém, tanto a Dow (N.R.- único
produtor de PE na Argentina) tem condições
de abastecer clientes com suas fábricas em
outras regiões, sobretudo os EUA, como
Braskem pode, a partir de 2015, começar
a trazer resinas produzidas no México. A
questão não é mais de onde vem o produto,
mas quem vai suprir o mercado.
PR – Segundo a IHS, o Brasil dependerá de importações complementares de
PP a partir de 2016 e, em 2018, à sombra
de propeno mais barato os EUA voltarão a
exportar o polímero com vigor. Quais as
consequências disso por aqui?
Carvalho – Nossa capacidade local
é da ordem de 1,9 milhão de toneladas e
o consumo ronda na faixa de 1,5 milhão.
Mesmo considerando a capacidade efetiva,
teremos autossuficiência pelo menos até
2017 e, se necessário, desgargalamentos
poderão ser feitos. Quanto aos EUA, tem
vários projetos de expansão de capacidade
de propeno, mas muito poucos de PP e estes
ainda assim previstos para partir apenas ao
final da década. Assim, a volatilidade de
preços de propeno tende a ser menor a partir
da entrada das plantas on-purpose, seja via
desidrogenação de propano (PDH) ou outra
tecnologia. Mas não creio em preços baixos.
O Capex (investimento em bens de capital e
instalações) dessas plantas é elevado e não
há, como no caso do eteno, uma vantagem
tão grande do ponto de vista de custos.
Ou seja, esse movimento vai resolver o
problema local, mas não será suficiente
para mudar a lógica de outros mercados e
ainda estará sendo ofuscado pela expansão
da capacidade na China, essa sim, bastante
robusta no propeno e PP. •
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plásticos em revista
Outubro / 2014
BAG
Cartão
gestão
Termotécnica
Aqui é o segundo lar
Por que a Termotécnica virou a referência da
transformação de plástico em RH
T
ão incomum quanto emitir relatórios
anuais de sustentabilidade é uma
transformadora de plástico ser vista
como musa inspiradora em termos
de política de recursos humanos (RH).
Em ambos os casos, reluz a catarinense
Termotécnica, bússola do setor de poliestireno expandido (EPS), e o mais recente
polimento nessa imagem foi dado pela
inserção da empresa num tipo de ranking
em geral considerado uma sala de estar
para múltis e maiorais nacionais: o guia
2014 “As melhores empresas para você
trabalhar”, da revista “Você S/A”.
Integrada do EPS às embalagens e
peças técnicas e com sede em Joinville,
uma fábrica filial em Santa Catarina, uma no
Rio Grande do Sul, uma no Paraná, duas em
São Paulo, uma em Goiás e uma em Pernambuco, a Termotécnica totalizou 1.226
empregados, com oito anos em média de
casa, à época do levantamento nacional
para o guia. O pente fino mimoseou a in-
dústria presidida por Albano Schmidt com
índice de 60,9 relativo à qualidade na gestão
das pessoas e seus funcionários a contemplaram com 75,5 no quesito de qualidade
de ambiente de trabalho, desembocando na
nota final de 71,1 para o denominado índice
de felicidade no trabalho.
Em momentos como o atual, da economia brasileira no estaleiro, a serventia
de uma política de RH mostra-se particularmente providencial, ilustra a estratégia
da Termotécnica. “O papel da liderança tem
sido fundamental para não deixar a peteca
cair”, expõe a gerente de gestão de pessoas
Clea Biscaia. Em reuniões mensais de
divulgação de resultados, a cúpula informa
a situação de forma clara e objetiva aos
funcionários “para que também entendam
porque determinadas ações são ou não
realizadas”, ela completa. Outro motivador
do pessoal, ainda mais milagreiro em tempos bicudos, é o programa de participação
nos resultados. “A cada mês, todos ficam
46
plásticos em revista
Outubro / 2014
Clea Biscaia:
transparência
na divulgação
mensal dos
resultados.
sabendo quais indicadores cobram mais
atenção para o cumprimento das metas”,
explica Clea, encaixando como elemento
fundamental a comemoração conjunta dessas conquistas. As metas dos indicadores
por áreas da empresa são definidas por
diretores e gerentes. Além da diretoria, os
objetivos são validados por um comitê de
empregados das áreas envolvidas e representantes sindicais dos trabalhadores. Os
resultados são atualizados num mapa estratégico, detalha Clea, e seu monitoramento é
norteado pela metodologia Balanced Score
Card (BSC), a cargo da área de gestão de
pessoas. “O programa é contabilizado
dápio especial, elaborado mediante agendade janeiro a dezembro do ano vigente e
mento prévio”. Clea arremata os principais
os resultados são auditados no início do
benefícios com o auxílio educação. “É
exercício seguinte e divulgados a todos pela
concedido após o funcionário completar
diretoria em março”, esclarece a gerente. A
um ano de casa e abrange a realização de
iniciativa prevê o pagamento máximo anual
cursos técnicos, de especialização ou nível
de 1,1 salário a cada funcionário e as metas
superior, além do aprendizado de idiomas”.
são compostas pelo resultado econômico
Também para burilar o potencial do
da Termotécnica e indicadores operacionais
quadro de pessoal, a Termotécnica so(alcançados em cada área). “Além disso,
bressai por duas ações para formar líderes.
a empresa dá um bônus de segurança de
Uma delas, parceria com a Fundação Dom
Cabral, é o chamado programa de desen10% caso o ano vigente tenha transcorrido
volvimento de dirigentes. “Visa fortalecer
em acidentes”, ela distingue. Em 2013,
a visão estratégica de coordenadores e
exemplifica, o programa de participação
gerentes, motivando-os para a contínua
de resultados contemplou 90% do quadro
melhora dos processos e resultados da
de pessoal com o pagamento de até 60%
empresa”, traduz Clea. Já o programa de
do salário nominal, saldado em parcela
desenvolvimento
única em março
de líderes é tocade 2014.
do a quatro mãos
O prograpela Termotécma de participanica e o Servição de resultados
ço Nacional de
consta do pacote
Aprendizagem
de benefícios.
Industrial (SeEntre outros
nai). “Ele prepara
pontos altos
funcionários endele, Clea pinça
volvidos em proo plano de saúde Termotécnica: avaliação anual de competências e cursos
jetos estratégicos
sem mensalida- para formar líderes.
e identificados
de, extensivo ao
como potenciais lideranças, em prol do
cônjuge e filhos e com subsídios a partir
desenvolvimento de atividades com foco
de 60% para exames, consultas e cirurgias
no desenvolvimento de equipes”, sumariza
eletivas. “Em casos de operações de emera executiva. Ainda para coordenadores
gência, a cobertura é de 100%, inclusa a
e gerentes, ela emenda, a Termotécnica
internação”, ela completa. Na mesma trilha,
dispõe de um programa de avaliação anual
a gerente cita o convênio com farmácia, para
de competências e subsidia a participação
desconto do valor da compra em folha de
dos gestores em cursos, workshops e
pagamento; o seguro de vida em grupo,
seminários no gênero.
válido para morte por qualquer causa, e o
O zelo pelo entrosamento e bem estar
auxílio funeral extensivo à família. Quanto
da equipe estende-se aos familiares. Entre
à alimentação, a porta voz da Termotécnica
as ações de incentivo a essa integração,
enaltece o restaurante interno, sob acomClea exemplifica com as reuniões mensais
panhamento de nutricionista. “Ele oferece
de café dos aniversariantes, a festa de fim de
opções diárias de menu light e, duas vezes
ano, a prática de ginástica laboral, presentes
por semana, a Parada Gourmet – um car-
47
plásticos em revista
Outubro / 2014
Participação de resultados: pagamento de até
1,1 salário pelo cumprimento de metas anuais.
para os funcionários em datas temáticas,
áreas de recreação, campanhas de vacinação e de cuidados com a saúde e o evento
denominado Semana Interna de Prevenção
de Acidentes, Meio Ambiente e Qualidade.
A escassez de mão de obra qualificada
e a declarada preferência da nova geração
pelo setor de serviços hoje embola o jogo
da competitividade na indústria. As vagas
abertas na Termotécnica têm captado esse
vento contrário. “Desde 2012 a empresa encontra dificuldades para repor, de forma rápida e eficaz, algumas posições para cargos
executivos”, reconhece Clea. “Por atuarmos
em diferentes segmentos, necessitamos de
profissionais de formação e conhecimentos
específicos, além de mobilidade suficiente
para atender as demandas das unidades
da empresa, abrangendo todo o território
nacional”. A saída do enrosco, ela conta, foi
criar mais canais de recrutamento e intensificar os investimentos em novas tecnologias
e ações de treinamento e desenvolvimento.
“Também passamos a buscar elementos
que conheçam as expectativas de nossos
clientes devido à experiência acumulada
em posições similares à do cargo oferecido
pela Termotécnica”, assinala Clea. “Por
exemplo, abrimos a posição de coordenador comercial considerando currículos
com passagens pela área de compras e
suprimentos”. •
ponto de vista
Marcos Curti/solvay
Por uma bariátrica cultural
O Brasil saiu do radar dos investimentos industriais.
E não dá para competir fora dessa tela.
É
complexo imaginar uma pessoa
obesa e sedentária se preparando
para ganhar a prova mais competitiva
de uma olimpíada. Principalmente se
essa prova estiver a menos de dois anos da
data do início da preparação para disputá-la.
É triste, mas essa é a analogia que, mais
uma vez, vamos repetir aqui, ao analisar a
indústria brasileira e sua participação no
contexto mundial.
O modelo industrial precisará de uma
cirurgia bariátrica cultural para
iniciar essa preparação. A primeira conclusão é que, sozinho,
o atleta não consegue começar a
jornada. Tudo, até esse momento,
joga contra.
Com raras e destacadas
exceções, não nos preparamos Marcos Curti
para competir no mercado internacional ao longo dos últimos anos. A
cada dia, nos fechamos mais na tentativa de
proteger o que sobrou, ou seja, o mercado
interno. No limite, pensamos no Mercosul,
que hoje tem o seu segundo mercado cheio
de travas e trancas. Uma porta muito difícil
de abrir.Parece que alguém fechou e jogou
a chave no Rio da Prata.
Em 2014, a queda da atividade industrial trouxe à tona uma nova questão chave
nos investimentos das grandes corporações.
Para elas, somos “ainda” um mercado consumidor interessante, mas estamos perdendo
importância frente aos outros. Saímos do radar dos investimentos industriais relevantes.
Aqueles que trazem tecnologia e inovação
e não somente produtos feitos localmente.
Razões para essa perda de interesse
não faltam, pois temos uma energia elétrica
cara, escassez de recursos hídricos, o que é
uma infeliz novidade no campo industrial;
gás natural pouco competitivo, déficit de mão
de obra capacitada e, para não esquecer, custos fixos em elevação contínua, puxados pela
inflação e aumentos salariais desconectados
de aumento de produtividade.
Entramos em 2015 com a árdua tarefa
de gerenciar custos em um contexto de baixo
48
plásticos em revista
Outubro / 2014
crescimento. Isso motiva poucos! Foco em custo é vital, mas
conduz ao inevitável caminho do
enxugamento e da fragilização do
amanhã. É o modelo da sobrevivência e do voo de galinha ao
qual nos acostumamos ao longo
das últimas décadas.
O caminho para correr e
ganhar a maratona em 2016 passa por
ajustes complexos. Que tal começar pela
recuperação da nossa capacidade inovadora,
orientada ao desenvolvimento de uma mão
de obra tecnicamente qualificada e capaz de
desenvolver produtos diferenciados, atraentes ao desejo de consumidores presentes em
mercados externos sofisticados?
Pensar o Brasil e as suas indústrias
como uma plataforma de exportação, desburocratizada, qualificada e competitiva.
Assegurar que os incentivos ao crescimento
sejam amplos e capilares. Precisamos de
uma indústria forte em várias frentes e não
somente em nichos.
Correr a maratona da olimpíada de
2016 começa pelo desejo de correr ! Não
podemos perder esse desejo de ver a indústria nacional forte, competitiva e com a marca
Made in Brazil como um símbolo de desejo.
Por fim, precisamos desenvolver profissionais que tenham os olhos para o mundo
e o desejo de ver o seu país produzindo
e vendendo nos mais distantes rincões. É
muito cedo para desistir disso.
*Marcos Curti é diretor da Solvay
Engineering Plastics Americas.
sustentabilidade
Tomra Sorting
Separação sem litígio
Automação afia a triagem de resíduos sólidos
Titech: ganhos de escala e qualidade na triagem de refugos plásticos com sensores.
P
lenamente aclimatada por aqui,
a norueguesa Tomra Sorting
Recycling singra no fiorde do manejo de resíduos sólidos ao leme
do seu sistema de triagem TITECH autosort.
Baseado em sensores, ele identifica e separa
cada componente de refugo encaminhado
para reciclagem, inclusos plásticos, papel,
metais, madeira e vidro. “Em três anos
de trabalho no Brasil já temos 15 linhas
instaladas”, assinala Carina Arita, diretora
comercial da subsidiária brasileira da grife
escandinava. Embora a separação manual
ainda predomine no país, a procura pela triagem automatizada pulsa entre recicladoras
em busca de ganhos de escala, qualidade
e pureza de materiais, percebe a executiva.
Com base nessa equação de custo/
benefício, a tecnologia Tomra vai ao encontro das expectativas instauradas pela Política
Nacional de Resíduos Sólidos para a contribuição da indústria brasileira de reciclagem,
no plano geral ainda formada por empresas
familiares, de menor porte e pouco capitalizadas. “Nossos equipamentos aumentam
a capacidade produtiva e a estabilidade de
processo, proporcionando rápido retorno do
investimento”, garante Carina. Por exemplo,
ela solta, o aporte em um sistema de separação óptica, considerando a inclusão dessa
etapa em linha pré-existente, é remunerado
em até três anos. A menor instalação TITECH
autosort na ativa no Brasil, ela distingue,
processa 80 t/mês de sucata de polietileno
de alta densidade (PEAD).
50
plásticos em revista
Outubro / 2014
Outra vantagem de TITECH autosort:
a redução no consumo de energia de até
70% em comparação à já econômica terceira
geração dessa tecnologia da Tomra, enfatiza
a diretora. “Colocamos duas lâmpadas a
cada metro de largura útil de trabalho. A
propósito, o sistema antecessor utilizava 24
lâmpadas no mesmo espaço”. Em relação
a soluções similares de concorrentes, o
consumo energético é de 20 a 40 vezes
menor, assevera Carina. De acordo com
ela, TITECH é indicado para empresas que
detêm, no processo produtivo, uma etapa de
seleção de tipos de plásticos e cores, como
fabricantes de resina reciclada ou aparistas.
“Disponibilizamos uma equipe para ajudar
clientes a encontrarem a solução ideal, seja
completa ou em fases”.
Um exemplo de solução de triagem,
detalha Carina, abre com a colocação dos
resíduos numa esteira de alimentação.
Numa primeira cabine de controle manual,
os elementos volumosos, capazes de
bloquear o fluxo, são removidos. A seguir,
Carina Arita: investimento retorna em até três anos.
são depositados em contêineres situados
abaixo da cabine. Na sequência, entram em
cena rasgadores de sacos para facilitar o
esvaziamento dentro do separador balístico.
Esse equipamento, prossegue a diretora,
separa materiais rolantes e pesados (3D)
dos achatados e leves (2D). “Ou seja, ele
segrega garrafas plásticas de papel e papelão ou filmes”, esclarece. TITECH é instalado
exatamente sobre a linha dos materiais 3D,
identificando e separando os plásticos por
tipo e cor.
Em um primeiro passo, Carina encaixa, TITECH autosort isola itens de PEAD,
que seguem pela esteira até uma cabine
de controle. Ali são divididos manualmente entre naturais e coloridos antes de
passarem à cabine de controle secundária.
“Há uma grande vantagem nessa etapa
inicial, pois é muito difícil distinguir PEAD
de polipropileno (PP) com base apenas
na aparência”, ela acrescenta. Na cabine
secundária ocorre a triagem manual dos
elementos de fácil reconhecimento, como
PET, PP, embalagens cartonadas e filmes.
A seguir, o programa 2 de TITECH separa
o poliéster transparente do colorido e, em
etapa posterior, o tipo verde é separado em
outra cabine de controle manual. Por fim, o
programa 3 reprocessa PP e sopra resíduos
51
plásticos em revista
Outubro / 2014
na cor natural para removê-los do conjunto
de outras cores. Além de descomplicar
o trabalho dos triadores, TITECH remove
dejetos orgânicos ou sanitários insalubres,
deixando apenas o material passível de
recuperação, constata a porta-voz.
O sistema combina sensores VIS
e NIR, detalha Carina, em configurações
distintas para diferentes aplicações, obtendo
frações de alta pureza de diferentes produtos.
O sensor de infravermelhos próximos (NIR)
não requer fonte de luz externa, graças à
tecnologia Flying Beam, trunfo aliás para a
eficiência energética, por iluminar apenas
a área em análise. A técnica aplica espelho
poligonal rotativo para captação do espectro
refletido, focalizando principalmente o ponto
de leitura. “Dessa forma, é possível varrer
com rapidez a esteira toda, realizando a leitura em duas linhas de pixelados, processo
denominado duoline”, sintetiza a diretora. •
sustentabilidade
braskem/são bernardo
Economia polimérica
PP reduz a voltagem da conta de eletricidade na produção de UD
técnicos. “Os ganhos foram significativos
no experimento da São Bernardo, com
destaque para a economia energética”.
Na São Bernardo, a injeção de PP
Maxio acontece nas vestes de potes e organizadores, com espessuras entre 0,5 mm
e 1 mm. “Não houve alteração de peso nas
peças”, retomam o fio Rabi e Axelson. Embora o homopolímero H 105 já seja a resina
mais consumida ali, a empresa manteve
a compra de outros grades para produzir
artefatos específicos, como recipientes para
congelados ou submetidos ao envase a
quente. A fábrica em Itaquaquecetuba, na
Rabi: vantagens da resina Maxio H 105 confirmadas na linha de produção da São Bernardo.
O
grade de polipropileno (PP) H
105 da Braskem, parte da seleta
linha de resinas Maxio, proporcionou ganhos efetivos nas
linhas de transformação da São Bernardo,
especializada na manufatura de utilidades
domésticas (UDs). A utilização do homopolímero resultou em consumo energético
21% menor, baixando em 12% o perfil
de temperatura do processo e em 3,5%
o ciclo de injeção. Segundo Sergio Rabi
e Igor Mendes Axelson, diretor industrial
e gerente de produção da transformadora,
foram despendidos 20 dias entre testes e
aprovação. “Após esse período, já começamos a usar H 105 como padrão para
nossos produtos”, ambos afirmam.
Para os experimentos foram utilizados diversos modelos elétricos e híbridos
de injetoras de ponta, incluindo linhas de
classe mundial como BMB, Engel e Demag,
cujas forças de fechamento variam de 60
a 850 toneladas. A resina foi testada em
moldes com sistema de câmara quente de
duas a seis cavidades para ciclos rápidos,
gerando artefatos de 13g a 22g em ambiente de sala limpa, expõem Rabi e Axelson.
H 105 substituiu a resina RP 340
U. “Com o grade anterior, os índices de
temperatura eram elevados e não conseguíamos obter o ciclo esperado no maquinário”, eles comentam. Com a mudança,
a São Bernardo diminuiu a temperatura
em 30ºC e chegou a baixar alguns ciclos,
chegando a 3,3 segundos. Segundo os
especialistas da Braskem Andressa Argani Abreu, engenheira de aplicação PP
com foco em UDs, e Luciano Spaziani
Camargo, líder de segmento PP com foco
em varejo, H 105 assegura alta transparência na peça utilizando temperatura de
processamento mais baixa. “A Braskem
realizou testes com resinas Maxio em
diversos transformadores”, abre a dupla de
52
plásticos em revista
Outubro / 2014
Andressa Argani:
temperatura
menor de
processo
e UD mais
transparente.
Grande São Paulo, opera em três turnos, 24
horas por dia, de segunda-feira a sábado,
enquanto o consumo de resinas ronda 45
toneladas por semana, calculam os porta-vozes da transformadora. A planta possui
ainda ferramentaria apenas para pequenas
modificações e reparos, vazamento de água
e de material ou ajustes de rebarbas, pois
os moldes são confeccionados por terceiros, completam Rabi e Axelson. •
4-8
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Alessandra Seitz/intt
Rafael Betim
Da produção
à relação
Alessandra Seitz:
embalagens convergiram
para cosméticos sensuais.
P
or aliar testosterona com a inexistência de pecado ao sul do Equador,
ainda mais entre quatro paredes,
o segmento de produtos sensuais
hoje excita 17% das vendas brasileiras de
cosméticos, setor tido como acima do bem
e do mal da economia. Autora da estimativa,
Alessandra Seitz não se arrepende um pingo
de ter passado de fornecedora a cliente de
embalagens plásticas, à frente da Intt, grife de
primeira linha do mercado erótico. Afinal, ela
abre, o negócio cresce desde 2007 à média
invejável de 30% .
Alessandra achou sua vocação ao
imergir em peças técnicas, embalagens
de alimentos e cosméticos na Neumann
Packing, transformadora paulistana de sua
família, atuante em injeção e sopro e de cuja
composição societária ela ainda participa,
embora dedicada em tempo integral à gestão
sem sócios da Intt. O mundo dos recipientes
avivou a afinidade dela com os cosméticos,
a ponto de sair a prospectar frentes para
investir no setor. A variedade de uma mega
sex shop no aeroporto de Munique e sondagens a respeito do ramo junto a clientes
da Neumann, pesaram para Alessandra,
constituir a Intt.
“Contratei um químico para estrear
com um gel sensual fora das versões sem
sabor e charme, então dominantes na praça”,
ela conta. O sucesso do gel com gosto de
chocolate levou à multiplicação de sabores
e tamanhos de embalagens do produto e,
noves-fora, o mostruário da Intt hoje cobre
80 cosméticos e cerca de 320 outros artigos
de apelo sensual, colocados por seis vendedores, três agentes exclusivos e de 20 a 30
distribuidores multimarca. Na retaguarda,
explica Alessandra, a Neumann responde
por cerca de 80% de seus recipientes de
cosméticos, nos quais polipropileno domina
e o restante cabe a frascos de PET e acrílico.
Desde a estreia da Intt, percebe a
empresária, a concorrência engrossou e o
perfil do público evoluiu. “As mulheres ditam
as compras e, arredias no passado a pisar
em sex shops, hoje sentem-se à vontade
em familiarizar-se com produtos eróticos
em boutiques de moda abertas ao apelo
da sensualidade”. A consumidora-padrão
da Intt, ela indica, tem de 18 a 39 anos, é
ávida por novidades e de classe média. “Não
entro muito na classe C por dar conotação
mais exclusiva à embalagem, mediante
recursos como a sobrecaixa para o frasco,
em lugar de vendê-lo sem invólucro, o que
o baratearia”. A embalagem incide em torno
de 80% dos custos da Intt, mas Alessandra
discorda que o mercado erótico tenha baixa
barreira de entrada. “Para competir é preciso
investir na qualidade da formulação e fluxo
54
plásticos em revista
Outubro / 2014
Gel Vibration e vibrador trazido da China.
de lançamentos, além de lidar com mão de
obra pouco qualificada e vendas em volumes
picados, o que desaconselha a produção
verticalizada da embalagem nesse ramo”.
Por causa disso, dos custos imbatíveis
e da dependência de tecnologia de produção
inencontrável no Brasil, a Intt importa da
China todos os produtos que oferta fora da
raia dos cosméticos, caso de fetiches e brinquedos eróticos onde PVC reina e próteses
penianas cuja pele de borracha termoplástica
(cyber skin) é a última palavra em tessitura
próxima da humana. O catálogo da Intt
inclui algemas, mas Alessandra as associa
a uma brincadeira de casal e não a produto
sadomasoquista, categoria na qual a Intt não
está. “Em volume de vendas, não passa de
um nicho, mas o retorno é interessante”, ela
avalia. “Nosso carro-chefe é o gel líquido
Vibration e, fora dos cosméticos, destacam-se o vibrador tradicional e os chicotes, em
especial por figurarem no best-seller erótico
‘50 tons de cinza’”.
Quem disse aí que brasileiro não lê? •

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