tv pública e convergência: operador de rede, socialcast

Transcrição

tv pública e convergência: operador de rede, socialcast
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF
MBA EM TV DIGITAL, RADIODIFUSÃO & NOVAS MÍDIAS DE
COMUNICAÇÃO ELETRÔNICA
TV PÚBLICA E CONVERGÊNCIA: OPERADOR DE
REDE, SOCIALCAST E TRANSMÍDIA
ARTHUR WILLIAM CARDOSO SANTOS
Rio de Janeiro
FEVEREIRO/2013
ARTHUR WILLIAM CARDOSO SANTOS
TV PÚBLICA E CONVERGÊNCIA: OPERADOR DE
REDE, SOCIALCAST E TRANSMÍDIA
Monografia apresentada no curso de Pósgraduação MBA em TV Digital, Radiodifusão & Novas Mídias de Comunicação Eletrônica como requisito à obtenção do título
de Pós-Graduado.
Orientador: José Raimundo Cristóvam
Rio de Janeiro
Fevereiro/2013
TV PÚBLICA E CONVERGÊNCIA: OPERADOR DE REDE, SOCIALCAST E
TRANSMÍDIA
Elaborado por Arthur William Cardoso Santos
Analisado e aprovado por:
Prof. José Raimundo Cristóvam Nascimento (orientador)
(professor)
(professor)
Rio de Janeiro,
de
de 2013
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à Acerp, empresa que promoveu o pioneiro curso
de MBA da UFF em TV Digital para seus trabalhadores.
AGRADECIMENTOS
Muito obrigado ao orientador José Raimundo Cristóvam por ser a grande
referência profissional e acadêmica de minha vida, reunindo em uma só pessoa
esses dois lados, ambos com energia e competência.
“As pessoas que compreenderem o
novo Grátis dominarão os mercados
de amanhã e abalarão os mercados de
hoje – na verdade, elas já estão
fazendo isso.”1
Chris Anderson
1
ANDERSON, Chris. Grátis: o futuro dos preços. Tradução de Cristina Yamagami. - Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mídias sociais utilizadas pela TV Brasil (produzido pelo autor) ….... 17
Figura 2: Programa ZoaSom transmite o vídeo pela internet (foto do autor) ...19
Figura 3: Personagem escreve blog em primeira pessoa (foto do autor) …... 22
Figura 4: Projeto inicial do Operador de Rede (Prof. Gunnar Bedicks) …....... 23
Figura 5: Mochilink permite transmissão ao vivo para o Portal da EBC (foto do
autor) …............................................................................................................ 28
Figura 6: Novos estúdios da TPA com equipamentos SD (foto do autor) ….... 30
Figira 7: Programas da RNA são digitalizados, mas não os publicam na internet
(foto do autor) …............................................................................................... 31
Figura 8: Reunião do Conselho de Rádio Digital (foto do autor) ….................. 36
Figura 9: Quadro de tarefas do Scrum dá mais transparência ao projeto (foto do
autor) …............................................................................................................ 40
Figura 10: Rádio comunitária transmite pela internet e interage pelas redes
sociais (foto do autor) …................................................................................... 43
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
- TPA: Televisão Pública de Angola
- EBC: Empresa Brasil de Comunicação
- Radiobrás: Empresa Brasileira de Comunicação
- RNA: Rádio Nacional de Angola
- Fistel: Fundo de Fiscalização das Telecomunicações
- BBC: British Broadcasting Corporation
- Confecom: Conferência Nacional de Comunicação
- ROI: Retorno sobre o Investimento (sigla em inglês)
- ABEPEC: Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e
Culturais
- AMARC: Associação Mundial de Rádios Comunitárias
SUMÁRIO
Lista de Figuras .............................................................................................. vii
Lista de Siglas ................................................................................................ viii
Introdução ...................................................................................................... 10
Capítulo II: Comunicação Pública..................................................................12
2.1. Conceitos mundiais ....................................................................................12
2.2. Marco regulatório .......................................................................................13
Capítulo III: Socialcast ................................................................................... 16
3.1. Mídias sociais ........................................................................................... 16
3.2. Socialcast x Broadcast na TV Brasil ......................................................... 16
3.3. Socialcast na Rádio MEC ......................................................................... 19
Capítulo IV: Transmídia ................................................................................. 21
4.1 Diferença entre transmídia e crossmedia .................................................. 21
4.2 Transmídia na série Natália ....................................................................... 21
Capítulo V: Operador de Rede ...................................................................... 23
5.1 Projeto EBC ............................................................................................... 23
5.2 Projeto Telebrás ......................................................................................... 24
5.3 Canal da Cidadania ................................................................................... 25
Capítulo VI: Casos de convergência ............................................................ 26
6.1 Portal Cultura ............................................................................................. 26
6.2 IPTV Cultura .............................................................................................. 26
6.3 TVN do Chile .............................................................................................. 26
6.4 EBC na Rede ............................................................................................. 27
Capítulo VII: Entraves à convergência ......................................................... 30
7.1 TV Pública de Angola - TPA ...................................................................... 30
7.2 Rádio Nacional de Angola ......................................................................... 31
Capítulo VIII: Interoperabilidade Rádio e TV ............................................... 33
8.1 ISDB-TSB .................................................................................................. 33
8.2 DRM x HD Radio/IBOC no Brasil ............................................................... 35
Capítulo IX: Metodologias de trabalho ........................................................ 39
9.1 Scrum ......................................................................................................... 39
Conclusão ....................................................................................................... 42
Referências bibliográficas ............................................................................ 45
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, foram muitas as transformações sofridas pelas rádios
e TVs do chamado campo público (Públicas, Estatais, Culturais, Comunitárias e
Universitárias). Este trabalho analisa esse processo dentro de um cenário de
convergência tecnológica e suas perspectivas para o futuro. De que forma
essas emissoras se articulam com Internet, TV digital, rádio digital e mídias
sociais.
A EBC (Empresa Brasil de Comunicação), criada há 5 anos, se coloca
como cabeça de uma rede pública de TV, rádio e Web. Em 2012, a empresa
retomou o projeto do Operador de Rede Digital, iniciativa que promete levar a
programação dos canais públicos para todo o país. Foi criada ainda uma
Superintendência de Suporte para cuidar do tema, chefiada pelo ex-assessor
da Casa Civil, André Barbosa, ator responsável pela implementação do padrão
nipo-brasileiro de TV Digital em nosso país, que ajudou a levar o ISDB para
América Latina e África.
Também nesse ano, a EBC inaugurou um portal na internet. O objetivo é
reunir o conteúdo produzido por seus canais (TV Brasil, TV Brasil Internacional,
Agência Brasil, Radioagência Nacional, Rádios MEC e Rádios Nacional), além
de veicular material próprio.
Paralelamente, o governo brasileiro estuda a criação de um novo marco
regulatório para as Comunicações, já que a atual legislação é antiga.
Com a crise do modelo de sustentabilidade das emissoras privadas
(baseada na publicidade comercial), o sistema público de comunicação ganha
importância vital para que seja garantido o direito humano à Comunicação. As
emissoras públicas têm fontes diversas de financiamento como impostos, verba
do orçamento e fundo público. Apesar de plurais, há pontos em comum, além
de tendências e barreiras idênticas.
Em especial no Brasil, a convergência tecnológica tem um papel
fundamental para que as TVs públicas ocupem função de destaque na
comunicação. Os limites impostos pela legislação, a baixa qualidade no sinal
de transmissão e reduzida presença nos territórios nacional e internacional
10
colocam as mídias sociais como uma essencial plataforma de distribuição de
conteúdos.
A integração entre TV e internet gera aparelhos convergentes, como
TVs conectadas (broadband TVs), mas ações de conteúdo ainda não estão
claras, já que a internet é vista por considerável parte dos profissionais de TV
como concorrência. Há lacunas ainda como o rádio digital, cujo padrão não é
definido. Enquanto isso, as emissoras AM estudam sua migração para uma
faixa estendida do FM, atualmente ocupadas pelos canais 5 e 6 de televisão.
O futuro das comunicações está repleto de inovações. Cabe às TVs
públicas a utilização dessas novidades para cumprir sua função de empreender
uma comunicação interativa, colaborativa e comprometida com o interesse
público.
11
2. COMUNICAÇÃO PÚBLICA
2.1 Conceitos mundiais
Não há um conceito único de TV pública, nem ao menos um consensual.
Contudo, esta pesquisa leva em conta a proposta de regulamentação do artigo
223 da Constituição Nacional redigida pelo Intervozes 2. Segundo o documento
“Por um Sistema Público de Comunicação”, uma empresa pública da área deve
possuir independência de gestão, financiamento e programação.
A gestão deve ser realizada por um organismo independente da
máquina estatal, como acontecia no Brasil com a Acerp (Associação de
Comunicação Educativa Roquette-Pinto), entidade que encabeçou a rede
pública de televisão até 20073. Tal autonomia garante que o canal não sofra
interferências do Estado, como mudança de seus diretores. A EBC, apesar de
ser estatal, tem seu presidente com um mandato de 4 anos, definido por lei. É
uma forma de aproximação da independência administrativa mesmo dentro de
uma empresa ligada ao poder executivo.
O controle social é outro quesito exigido para a gestão. A BBC possui a
principal experiência neste sentido, com um conselho composto por
representantes da sociedade civil. Cabe ao conselho:
a) ser o guardião da licence fee e do interesse público; b) administrar os recursos da
BBC e da licence fee; c) representar o interesse dos contribuintes; d) garantir a
independência da BBC; e) assegurar altos padrões de abertura e transparência. O
órgão deve também: a) definir diretrizes estratégicas com base na Carta Real e do
acordo; b) aprovar a estratégia dos serviços providos pela BBC; c) avaliar o
desempenho da diretoria executiva e dos serviços prestados; d) aprovar as diretrizes e
política para o conteúdo; e) aprovar e renovar licenças dos serviços providos pela BBC.
(VALENTE, 2009, p. 239).
A própria empresa brasileira se inspirou nesse modelo para criar seu
Conselho Curador. Outras TVs do mundo seguiram o mesmo caminho.
2
3
INTERVOZES. Por um Sistema Público de Comunicação. Disponível em:
http://www.intervozes.org.br/resumodocintervozes___070507_rev.pdf. Visitado em outubro de 2012.
MILANEZ, Liana (org). TVE Brasil: Cenas de Uma História. Rio de janeiro: ACERP, 2007.
12
O segundo ponto é o do financiamento. Uma TV pública deve ter
independência financeira tanto do poder estatal, quanto da iniciativa privada.
No Reino Unido, França e Japão, por exemplo, os telespectadores pagam
impostos para a sustentabilidade destas emissoras. O Brasil rejeitou a
possibilidade devido ao fato de país já manter uma alta taxa tributária. A
solução foi a destinação de 10% do Fistel (Fundo de Fiscalização das
Telecomunicações) para custeio da EBC. Porém, as operadoras de
telecomunicações, que contribuem para o Fundo, conseguiram impedir o
repasse na Justiça em 2009. Este bloqueio significa a dependência das
receitas de publicidade institucional e das verbas do orçamento da União.
Em vários locais, as fontes de financiamento são variadas, unindo
impostos, publicidade e verbas públicas. De acordo com a Associação Mundial
de Rádios Comunitárias4, o mais importante é que as diversas fontes garantam
a sustentabilidade da emissora, possibilitando sua existência e que tenha
recursos técnicos equiparáveis aos das demais emissoras.
Já a programação deve refletir a pluralidade cultural e étnica da área
atendida. A audiência não seria o principal critério para a produção de
programas, mas sim o interesse público da atração.
Apesar dos três critérios (gestão, financiamento e programação), muitas
emissoras são consideradas públicas mesmo não atendendo a todos estes
requisitos. Em geral, a existência de uma programação voltada para o
chamado interesse público aliada ao controle por um órgão público ou estatal é
o definidor de uma emissora pública. Por outro lado, canais como a TV Senado
e NBR são consideradas estatais por veicularem conteúdo de divulgação de
atos oficiais.
2.2 Marco regulatório
No Brasil, a Constituição de 1988 divide os meios de comunicação em
Estatais, Públicos e Privados, contudo, como não há regulamentação para este
artigo, valem as leis específicas. O 1º Fórum Nacional de TVs públicas,
realizado em 2007, definiu informalmente o chamado “campo público”,
4
AMARC ALC. Princípios para garantizar la diversidad y el pluralismo en la radiodifusión y los
servicios de comunicación audiovisual. Buenos Aires: AMARC ALC, 2010.
13
composto pelas seguintes emissoras: públicas, comunitárias, culturais,
universitárias e educativas.
O governo estuda a criação de uma Lei Geral, também conhecida como
Marco Regulatório das Comunicações, que regulamentaria esta situação.
Entretanto, o processo não foi seguido pelo governo da presidenta Dilma
Rousseff. O Brasil possui uma série de leis que tratam da Comunicação e as
TVs e Rádios Públicas trabalham de acordo com boa parte deles.
O capítulo V da Constituição Federal de 1998 fala em seu artigo 223 em
“complementaridade dos sistemas privado, público e estatal”. O país não define
cada um deles, o que dificulta a distinção principalmente entre estatais e
públicas. A Argentina e o Uruguai aprovaram recentemente leis que separam
as comunicações entre público-estatais (canais geridos pelo poder público,
independentemente das programações), privados com fins de lucro (o que no
Brasil é conhecido como TV comercial) e privados sem fins de lucro
(comunitárias, cooperativas e associativas).
Outro ponto é que a complementaridade brasileira não é cumprida, ou
seja, a maioria esmagadora das frequências são destinadas a rádios e TVs
comerciais.
A Lei 11.652 de 2008 cria a EBC, oriunda estatal Radiobrás, e dá um
prazo de validade para a Acerp, que administrava a TVE do Rio de Janeiro e a
Rádio MEC. As demais frequências de órgãos federais, como universidades,
são transferidas para a nova empresa. Esta lei define a comunicação publica
federal, mas deixa de fora as emissoras comunitárias e estaduais. Já o atual
estatuto da EBC foi estabelecido pelo Decreto 6.689 de 2008.
As TVs educativas, que compõem o “campo público”, foram criadas pelo
Decreto-lei 236 de 1967. Estes canais foram o embrião do que conhecemos
como comunicação pública no Brasil, tendo a TVE do Rio de Janeiro como
cabeça de rede de um sistema de emissoras por todo o país.
A concessão de TVs e rádios educativas foi suspensa recentemente
pelo Ministério das Comunicações por conta do uso político de algumas das já
existentes.
No campo das comunitárias, a lei da TV a Cabo (8.977 de 1995) já
previa a existência de TVs desta natureza no line-up das operadoras, o que foi
ratificado pela Lei de Acesso Condicionado (12.485 de 2011), que substituiu a
14
primeira. Apesar de cerca de 550 municípios terem operação de TV a cabo,
apenas 67 canais comunitários funcionam no Brasil.
Para as rádios, a existência é garantida pela lei 9.612 de 1998, a qual
define Rádio Comunitária como uma emissora sem fins lucrativos, com
potência e alcances limitados a 25 Watts e 1 km de raio. Através desta
restrição, os conteúdos produzidos por estas só chegariam a usuários locais, já
que o entendimento de comunidade para a lei é territorial. Além disto, é vetada
a formação de rede de rádios. Cada município possui apenas uma frequência
para este tipo de comunicação.
O decreto 5.820 de 2006, que implanta a TV Digital no Brasil, prevê a
existência de quatro canais: do poder executivo; da Educação; da Cultura; e
outro da Cidadania.
O Canal da Cidadania é regulamentado pela Portaria 489 de 2012.
Trata-se de uma concessão de TV digital para todos os municípios,
administrada pela prefeitura. A poder executivo municipal é obrigado a
transmitir ainda uma programação do governo estadual, além de dois canais
comunitários.
15
3. SOCIALCAST
3.1 Mídias Sociais
Antes de entrar no tema Socialcast, o termo “mídias sociais” será
definido. Mídias sociais dão conta de um conceito amplo de ferramentas da
internet que permitem a distribuição de conteúdos e relacionamento entre
pessoas. Redes sociais, plataformas de compartilhamento e microblogging são
subgrupos das mídias sociais.
Redes sociais são ferramentas de comunicação entre pessoas com algo
em comum. Exemplos são o Orkut e o Facebook. Elas permitem
compartilhamento de materiais, mas em princípio apenas para os que fazem
parte da sua rede primária (amigos).
Por outro lado, o Twitter é aberto, como um blog. No caso desta
ferramenta, as publicações são limitadas a 140 caracteres, por isso é
considerado um “microblog”. Já as plataformas de compartilhamento
armazenam conteúdos multimídia na nuvem da internet. YouTube (vídeos),
Flickr (fotos) e Soundcloud (áudios) são as mais utilizadas. O objetivo é tornar
conteúdos diversos acessíveis a todos os usuários da internet, sem restrição.
Devido ao sucesso de plataformas de compartilhamento e do
microblogging, redes sociais como o Facebook vem alterando suas
configurações para permitir postagens públicas e busca de conteúdos.
3.2 Socialcast x Broadcast na TV Brasil
Socialcast, mashups, computação em nuvem e redes sociais: todas
essas palavras são recentes no vocabulário das televisões. A radiodifusão
tradicional abre espaço para as novas mídias substituindo o velho broadcast
pelo socialcast.
A
TV
Brasil,
emissora
pública
da
EBC
(Empresa
Brasil
de
Comunicação), alia estes conceitos em seu website www.tvbrasil.org.br e em
sua presença nas mídias sociais.
16
Através da publicação de todo seu material multimídia em plataformas
sociais de compartilhamento, a TV Brasil tem os seguintes benefícios: alívio no
servidor do site (vídeos ficam armazenados fora do site); integração com o site
da TV Brasil (através de mashups); distribuição pelas redes sociais (o chamado
socialcast).
A TV pública federal utiliza as seguintes mídias sociais (Figura 1) como
plataformas de compartilhamento de seus conteúdos: vídeos (YouTube); fotos
(Flickr); streaming (Ustream); e apresentações institucionais (Slideshare).
Figura 1: Mídias sociais utilizadas pela TV Brasil.
Esta opção multiplica as telas de exibição do material produzido pela TV
Brasil. Se os mesmos conteúdos fossem armazenados apenas no site da
emissora
pública,
somente
os
usuários
que
entram
no
endereço
www.tvbrasil.org.br poderiam ter acesso a eles.
Social Cloud (cloud computing nas mídias sociais): a publicação do
material multimídia na nuvem das plataformas de compartilhamento alivia o
17
servidor de hospedagem do site, além de permitir uma difusão alternativa (que
pode vir a ser a principal) para os conteúdos: o socialcast.
Socialcast é a difusão de conteúdos pelas mídias sociais. Para um canal
de televisão, é essencial disponibilizar seus vídeos sob demanda na Web
(VoD). Isto acontece pois a radiodifusão (broadcast) é unidirecional e linear, ou
seja, se alguém perde a hora de um programa, nunca mais poderá rever
determinado audiovisual. Além disto, uma grade de programação é limitada: 24
horas por dia, 7 dias por semana. A Web comporta muito mais conteúdos, on
demand, em qualquer lugar do mundo, já que não ficam limitadas ao alcance
da antena de transmissão.
Além disto, vale ressaltar que o investimento numa plataforma de
distribuição Web é infinitamente menor do que a de uma grande infraestrutura
de transmissão de TV. Ainda há duas grandes barreiras: a dificuldade de se
encontrar um novo modelo de negócios que não seja pela publicidade em
intervalos comerciais; e a baixa penetração da internet banda larga no Brasil.
Mas o cenário tende a mudar nos próximos anos com a implementação
do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e a partir do fortalecimento do
sistema público de comunicação, que não depende de verba publicitária para
sobreviver. Este cenário futuro mostra que o investimento das empresas
públicas de comunicação em Web é uma aposta que dará retorno num curto
prazo.
Na ligação entre o maravilhoso mundo do social cloud (armazenamento
na nuvem) e do socialcast (distribuição pelas redes sociais), entra o mashup.
Mashup é uma aplicação que liga mídias sociais em geral a sites e blogs. Isto
ocorre, pois serviços como YouTube, Twitter, Flickr e Facebook tornam
públicas suas APIs (código de integração) para desenvolvedores produzirem
mashups. Com isso, é possível que um conteúdo audiovisual publicado no
YouTube, por exemplo, seja acessado através da própria ferramenta de vídeos
do Google e pelo site da TV Brasil, ampliando o alcance da TV pública e
multiplicando as telas do canal.
Além de todas as fotos e os vídeos da TV Brasil serem armazenados
fora do site, os comentários também são agregados via mashups. Citações,
comentários, críticas e elogios à emissora da EBC ou a um de seus programas
são exibidos no site a partir da interatividade ocorrida no Twitter.
18
3.3 Socialcast na Rádio MEC
Na mesma linha da TV Brasil, a Rádio MEC distribui seus conteúdos
pelas mídias sociais. O RadioTube foi escolhido por ser uma das ferramentas
pioneiras na Web para compartilhamento de áudios. Além disto, o site é gerido
pela ONG Criar Brasil, uma organização sem fins de lucro. Desde 2008, os
programas das rádios MEC AM e FM são publicados no RadioTube 5, mídia
social inspirada no Orkut (rede social mais usada no Brasil naquele momento),
e através de um mashup disponibilizados na seção podcast da página
www.radiomec.com.br.
Figura 2: Programa ZoaSom transmite o vídeo pela internet.
A intenção é que mais pessoas ouçam os programas, que seja feito um
registro histórico disponível na internet e que os conteúdos sejam mais
facilmente achados. Inconscientemente, a presença da Rádio MEC no
RadioTube fortalece a ferramenta. A Economia de Rede que rege as mídias
5
AMARC ALC. La radio después da La Radio. Buenos Aires, 2011. Disponível em:
http://tics.alc.amarc.org.
19
sociais diz que, quanto mais usuários uma rede possui, mais valor ela tem.
Deste modo, a participação de duas das mais importantes estações
radiofônicas é um grande incentivo para o crescimento do RadioTube.
Um dos programas que mais investe na convergência é o ZoaSom
(Figura 2), transmitido pela MEC AM. A atração é apresentada direto do
auditório da rádio e conta com streaming em vídeo, comentários pelas redes
sociais e conteúdos exclusivos no YouTube.
20
4. TRANSMÍDIA
4.1 Diferença entre transmídia e crossmedia
Transmedia storytelling6 é a construção de uma narrativa em que é
contada uma história diferente em cada plataforma. Contudo, durante vários
anos, imperou o crossmedia nas TVs de todo o mundo. A ideia era replicar nas
mais diversas plataformas um mesmo conteúdo, mesmo que adaptado com
outra linguagem.
Os video games oriundos de filmes e séries de TV começaram a
experimentar uma narrativa própria, mesmo que inspirada na história inicial. O
“transmedia storytelling” ganhou força com a chegada da geração Y (nascidos
a partir da década de 80) ao mercado de trabalho. São jovens acostumados
com
as
narrativas
paralelas
e
complementares
típicas
das
ações
transmidiáticas dos games.
As ações mais comuns são de games lançados a partir de um
audiovisual. A estratégia se banca, pois o mercado de jogos é um dos maiores
e porque a produção é totalmente separada. Neste caso, a remuneração
acontece pela compra do game.
O mesmo não ocorre no caso de narrativas transmidiáticas envolvendo a
Web. O custo de produção aumenta, mas a receita de publicidade com a
internet não é suficiente, na grande maioria dos casos, para bancar uma
produção específica para a plataforma. Consequência disto é que ações do
tipo no Brasil são muito limitadas.
4.2 Transmídia na série Natália
Como não baseiam sua sustentabilidade em publicidade comercial, as
TVs públicas podem investir pesado em ações de transmídia. A TV Brasil
possui uma experiência neste sentido que é a minissérie Natália. A
personagem que dá nome ao programa possui um blog, o Diário de Natália, no
qual escreve, em primeira pessoa, quatro posts por semana (a série é
6
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência: a colisão entre os velhos e novos meios de comunicação.
Tradução Susana Alexandria. - 2ª ed. - São Paulo: Aleph, 2009.
21
transmitida aos domingos): 1° post imediatamente após o episódio ir ao ar com
o principal eixo do capítulo; 2° post na terça-feira com relato sobre os
acontecimentos passados; 3° post na quinta-feira com relato sobre os
acontecimentos passados; 4° post a dois dias do próximo episódio, já
preparando o público para o desenrolar da trama.
Através do blog (Figura 3), a personagem pode mediar polêmicas
levantadas na tela, como religião, homossexualidade (há dois beijos
homoafetivos na trama), pobreza e aborto. Como a série já está toda gravada,
a personagem pode contornar conflitos pela web, o que não seria possível no
produto audiovisual.
Figura 3: Personagem escreve blog em primeira pessoa.
Para cuidar do diário, foi contratada uma profissional que leu o roteiro e
assistiu a todos os capítulos antes de ‘Natália’ ir ao ar. No caso, isto ocorreu
porque a ação transmídia só foi construída após a produção da minissérie.
Na rede social Facebook, Natália possui um perfil onde faz chamadas
para o blog e opina sobre situações vividas pela personagem. Por exemplo,
Natália postou uma foto do casamento do príncipe William com Kate Middleton,
ocorrido após as gravações da série, e utilizou a seguinte legenda: “Um
casamento tipo Branca de Neve é o sonho de muitas garotas da minha idade“.
Quando a série foi reprisada, a narrativa transmidiática passou a
comentários sobre os casos vividos no passado e invenção de uma nova
história para a personagem na atualidade.
22
5. OPERADOR DE REDE
5.1 Projeto da EBC
Em 2009, a EBC abriu consulta pública sobre o Operador de Rede, um
projeto que pretendia levar programações de TVs do campo público para
cidades com mais de 200 mil habitantes. Haveria inicialmente uma central
nacional que empacotaria dois canais de 6 MHz com seis programações cada
(Figura 4), incluindo TV Brasil, TV Câmara, TV Senado, TV Justiça, TV Escola,
TV MinC e Canal Saúde. As centrais locais receberiam este sinal e usariam
mais um canal para a transmissão do conteúdo local: TV Comunitária, TV
Legislativo Estadual, TV Legislativo Municipal, TV Universitária e TV Pública
Local.
Figura 4: Projeto inicial do Operador de Rede.
A proposta, porém, tinha muitas lacunas. A principal dela era o
financiamento do sistema. Por se tratar de muitas emissoras de matizes
diferentes, o custeio do Operador de Rede era complexo e inédito no Brasil. O
projeto era que a implantação ocorresse via PPP (Parceria Público-Privada),
23
permitindo que a empresa escolhida utilize a infraestrutura instalada para
prestar serviços a outros clientes.
Outro ponto polêmico foi a qualidade de imagem, já que seis
programações dividiriam uma frequência de 6 MHz. As TVs públicas locais, que
já possuem outorga para um canal próprio, dependiam do financiamento
federal para a migração digital, contudo o dinheiro não saía, pois o objetivo do
governo era que as TVs estaduais ocupassem espaço no Operador de Rede,
dividindo a frequência com outras emissoras locais. Apenas a TV Cultura de
São Paulo e a TV Ceará, que receberam ajuda dos governos estaduais,
inauguraram seus sinais digitais.
A ABEPEC, associação das emissoras públicas, criticou o projeto. Após
passar por várias versões, a atual proposta coloca a EBC como a empresa
para administrar o Operador de Rede e retira as emissoras locais do multiplex.
Ela também permite que cada emissora tenha mais qualidade, inclusive com a
transmissão da TV Brasil em alta definição.
Como o SBTVD prevê apenas uma programação móvel, a utilização
desse veículo (OneSeg) também seria alvo de discuta entre as TVs. Além
disso, os satélites hotspot, com muitas antenas parabólicas apontadas para
eles (como StarOne C2 e B4) não teriam espaço livre suficiente para carregar o
Operador de Rede no modo aberto (FTA – Free to Air).
O então articulador do “Operador Único da Rede Publica Digital” na
Casa Civil da Presidência da República, André Barbosa, ocupa atualmente o
cargo de diretor da EBC, onde dá seguimento ao desenvolvimento do projeto.
5.2 Projeto da Telebrás
A Telebrás foi reativada em 2010 para gerir o Plano Nacional de Banda
Larga (PNBL). Através da infraestrutura do PNBL, a empresa pública pretendia
levar as TVs públicas e outros conteúdos sob demanda através do sistema
IPTV.
Havia ainda a possibilidade de a distribuição da central para os
operadores locais ocorrer via Telebrás, mas que a recepção doméstica fosse
realizada via TV Digital aberta, assim como o projeto da EBC.
24
5.3 Canal da Cidadania
Fora do processo do Operador de Rede, o Canal da Cidadania foi
regulamentado em dezembro de 2012, reservando uma frequência a ser
outorgada para a Prefeitura ou o Governo do Estado em todos os municípios
do Brasil. Cada canal terá potência suficiente para cobrir a área da cidade.
O Canal da Cidadania permite a transmissão multiplexada de uma TV do
poder público local, outra do poder público estadual e de duas TVs
comunitárias. Com isso, as TVs comunitárias já existentes ganham a
oportunidade de transmissão aberta. Atualmente apenas existem no cabo.
25
6. CASOS DE CONVERGÊNCIA
6.1 Portal Cultura
Em março de 2007, a Fundação Paraense de Radiodifusão (Funtelpa)
lançou uma das primeiras iniciativas de convergência no campo público. O
‘Portal Cultura’ reunia em um mesmo espaço conteúdos da TV Cultura do Pará
e da Rádio Cultura.
Além dos materiais das emissoras, havia uma equipe dedicada à
produção exclusiva para a internet, ao vivo e sob demanda. O site possuía
muitas seções e itens de menu. A última reformulação de back-end e front-end
simplificou a interface e migrou a plataforma para o software livre Drupal. O
trabalho de migração foi realizado pela equipe da PRODEPA, empresa de
processamento de dados do estado.
6.2 IPTV Cultura
Entre os anos de 2009 e 2010, a Fundação Padre Anchieta (FPA)
manteve um projeto inovador, com um canal de produção própria para a
internet e interação com os programas da TV Cultura de São Paulo. A IPTV
Cultura foi lançada na abertura da Campus Party de 2009, maior evento de
tecnologia da América Latina.
O canal transmitia as gravações do programa Roda Viva, o principal da
emissora aberta, ao vivo pela internet antes do programa ir ao ar. A iniciativa
foi abandonada após mudanças na diretoria da empresa mantenedora.
6.3 TVN do Chile
A TVN é a principal televisão do Chile, mesmo sendo pública. Um de
seus principais projetos de convergência é o ‘Reportwiteros’, uma rede de
participação cidadã de 55 mil pessoas (dados de 2011) que contribui para os
noticiários da TV com materiais.
26
Além disto, as coberturas ao vivo contavam com possibilidade de
participação e de comentários através de um chat no site da emissora. Em
fevereiro de 2010, o Chile sofreu um terremoto de grandes proporções. Após o
fenômeno natural, o Reportwitteros teve 189% mais participação, alcançando
um total de 16 milhões de pessoas e 51 milhões de citações.
Em agosto do mesmo ano, o resgate dos sobreviventes do
desabamento da mina San José mobilizou uma média de 15 mil usuários
simultâneos.
A TVN possui ainda um programa “dual”, o Calle7. A atração voltada
para o público jovem conta com duas transmissões paralelas no mesmo palco:
uma para a TV e outra para a Web. A transmissão para a internet tem uma
apresentadora própria. O roteiro possui pontos de interseção, mas na maioria
do tempo não.
Cerca de 4 mil pessoas ficam conectadas no momento do programa
(dados de 2011). Telespectadores de Venezuela, Honduras e Guatemala
também assistem ao Calle 7. O programa já contava com forte participação
pelo Facebook, rede social que ainda engatinhava no Brasil.
6.4 EBC na Rede
A partir de janeiro de 2012, a Empresa Brasil de Comunicação inicia sua
presença nas mídias sociais. Com começo tardio, não havia mais o nome
“EBC” disponível para registro nos principais serviços. A princípio, a equipe da
recém criada Superintendência de Comunicação Multimídia pensou no nome
“NossaEBC”, porém o mesmo tinha pouco significado. A saída encontrada teve
inspiração nas ações da campanha presidencial de 2010, quando a então
candidata Dilma Rousseff se apresentava na internet como “#DilmanaRede”.
A partir dessa definição, a empresa pública de comunicação passou a
implementar as seguintes ações: debates pela internet usando a ferramenta
Hangout; coberturas de eventos pelas redes sociais; e ações interativas em
programas da TV Brasil, Rádio MEC AM, Rádio MEC FM, Rádio Nacional do
Rio e Rádio Nacional de Brasília.
Paralelamente, era desenvolvido pela empresa Santafé Ideias o portal
da EBC, substituindo o site institucional que ocupava o endereço “ebc.com.br”.
27
A convergência de mídias passa a ganhar mais força dentro da EBC
com a indicação do então superintendente de Comunicação Multimídia, Nelson
Breve Dias, para a presidência da empresa. O portal da EBC é lançado
oficialmente no dia 29 de outubro de 2012, mas já estava no ar em versão
“beta” desde o dia 16 de julho do mesmo ano. O Portal tinha a ideia inicial de
reunir todo o conteúdo produzido pelos veículos da empresa: TV Brasil, TV
Brasil Internacional, Agência Brasil, Radioagência Nacional, Rádio MEC AM,
Rádio MEC FM, Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Rádio Nacional AM de
Brasília, Rádio Nacional FM de Brasília, Rádio Nacional da Amazônia e Rádio
Nacional do Alto Solimões.
Contudo, a partir do concurso público realizado em setembro de 2012,
novos jornalistas foram integrados à equipe, até o momento reduzida. O time
passou a ser formado por: celetistas concursados da EBC, gestores com cargo
de confiança da EBC e celetistas terceirizados da Acerp.
A partir daí, iniciou a produção de conteúdo próprio com maior volume,
padronizando suas postagens no Twitter a cada 30 minutos e no Facebook a
cada 1 hora. A equipe faz coberturas especiais utilizando um mochilink (Figura
5), equipamento que transmite vídeo ao vivo pela internet com qualidade por
Figura 5: Mochilink permite transmissão ao vivo para o Portal da EBC.
28
somar a velocidade de várias linhas de 3G. O setor aposta ainda em
transmissões transmidiáticas, aliando rádio, TV e Web.
O programa especial sobre os 90 anos da primeira transmissão de rádio
no Brasil teve produção de 90 minutos. Os 30 primeiros minutos foram
transmitidos para as três plataformas. Os 60 restantes foram apenas para a
rede pública de rádios e para a internet, contando com a participação via redes
sociais.
Outro exemplo foi o Festival de Música das Rádios MEC AM e Nacional
de 2012. A TV Brasil gravou o programa para exibição posterior, mas as rádios
transmitiram a gravação ao vivo. Já o portal da EBC começou a transmitir meia
hora antes e continuou pelo mesmo tempo após o fim das gravações. O
conteúdo extra era de entrevistas com os participantes do programa. Durante
os intervalos de troca de palco, rádio e Web entravam juntas ao vivo com
conteúdo próprio.
29
7. ENTRAVES À CONVERGÊNCIA
7.1 TV Pública de Angola - TPA
A TPA acompanha a evolução econômica de Angola, um dos países que
mais crescem no mundo. A ex-colônia portuguesa tem referência cultural no
Brasil e econômica na China. Sua televisão aberta possui poucos canais,
sendo os mais importantes a TPA 1 (canal público generalista), a TPA 2 (canal
público produzido por uma empresa privada) e a TV Zimbo (canal privado).
Entretanto, as emissoras brasileiras são as de maior sucesso, entre elas a
Record Internacional e a Globo Internacional.
Os estúdios da TPA ficam na área urbana de Luanda, em instalações
apertadas e com equipamentos ultrapassados. Seguindo o exemplo do Projac
da TV Globo, a TPA inaugurou recentemente seu centro de produção na
localidade de Camama, na periferia da capital.
Figura 6: Novos estúdios da TPA com equipamentos SD.
Apesar do alto investimento financeiro na produção de programas, os
equipamentos comprados há poucos anos não permitem um fluxo de trabalho
30
digital. As câmeras de externa trabalham com a mídia XDCAM e as ilhas de
edição são de novos Mac, porém o material editado é exportado para fitas Beta
analógicas, com resolução padrão (formato SD). As câmeras de estúdio e o
switcher dos novos estúdios de Camama também trabalham em SD (Figura 6).
Nas mídias sociais, a TV não investe no socialcast devido à baixa
disponibilidade de internet no país. Até mesmo programas voltados para
adolescentes, como o Jovemania, tem pouca interação no Facebook. Cabe aos
próprios telespectadores publicarem no YouTube os vídeos dos programas.
A TPA também não possui em seu site uma transmissão online de sua
programação, nem mesmo da TPA Internacional.
7.2 Rádio Nacional de Angola - RNA
A Rádio Nacional de Angola (RNA) é uma empresa separada da TPA, o
que dificulta muito a convergência. Considerável parte da programação é
transmitida nas línguas originárias, kimbundo e umbundo. O site é antigo e
possui poucas informações. Apesar das dezenas de emissoras locais,
integrantes da rede da RNA, a produção ainda é centralizada em Luanda.
O trabalho nas mídias sociais inexiste (Figura 7), até mesmo em
estações mais voltadas para o público jovem como a Rádio Luanda e Rádio
Figura 7: Programas da RNA são digitalizados, mas não os
publicam na internet
31
Escola, que funciona no CEFOJOR (Centro de Formação de Jornalistas) e tem
apenas estuantes como locutores. Somente os locutores mantêm de forma
individual presença nas redes, sem contudo divulgar os programas no formato
podcast.
32
8. INTEROPERABILIDADE ENTRE RÁDIO E TELEVISÃO
8.1 ISDB-TSB
ISDB-Tb é muito mais que um padrão de TV digital. A solução nipobrasileira é um sistema multimídia que permite a convergência dos antigos
serviços de rádio e televisão. Além disto, possibilita a transmissão de dados
para a interatividade mais avançada possível no mundo, através o middleware
Ginga.
O ISDB (Integrated Services Digital Broadcasting) possui uma
flexibilidade para abrigar o chamado rádio digital: ISDB-Tsb (Terrestrial
Segmented Band ou Terrestrial for Sound Broadcast).
O ISDB-Tsb, ou N-ISDB (Narrowband ISDB), usa os 13 segmentos do
ISDB para o rádio digital. É possível transmitir áudio com três segmentos (1290
kHz) ou com apenas um (430 kHz). A configuração do uso de 1 segmento para
cada estação permite que os canais de rádio digital possam ser captados por
receptores de TV Digital móvel, o chamado One Seg.
O Sistema Globo de Rádio considerou muito ruins os testes, tanto do
DRM como do HD Radio (IBOC da empresa iBiquity), do rádio digital na faixa
de frequências de OM (Ondas Médias), popularmente conhecida pelas
emissoras que operam em AM (Amplitude Modulada – 525 a 1.705 kHz). As
interferências, cada vez mais fortes nas grandes cidades, impossibilitariam a
recepção do rádio digital nesta faixa.
Estas interferências não atrapalham tanto a faixa de VHF, onde
atualmente estão presentes as rádios FM (88 a 108 MHz) e os canais 2 a 13
(54 a 216 MHz) de televisão.
O ISDB-Tb (ou SBTVD) foi adotado por 12 países na América Latina,
totalizando 370 milhões de habitantes: Brasil, Argentina, Peru Venezuela,
Chile, Equador, Guatemala, Costa Rica, Paraguai, Bolívia, Nicarágua e
Uruguai.
E ainda, existe a possibilidade da adoção por países africanos de língua
portuguesa como Angola e Moçambique, além de Botsuana. O diferencial é
33
que lá um canal de televisão possui 8 MHz e não os 6 MHz da América Latina.
Testes realizados na TPA (TV Pública de Angola) tiveram sucesso.
O ISDB-Tb já está integrado a outros serviços, como telefonia móvel e
navegadores por satélite. Existem diversos modelos a venda de celulares e
aparelhos de GPS com TV digital One Seg. Há também receptores para
notebooks, o chamado PenTV.
Os preços dos receptores variam muito: DRM – 200 euros ou 455 reais;
HD Radio (IBOC) - entre 49 e 199 dólares ou 78 e 319 reais; ISDB-Tb One Seg
(TV) - entre 99 e 299 reais.
O diferença é que os receptores One Seg que estão no mercado
brasileiro só recebem o segmento central, ou seja, apenas um segmento dos
13 disponíveis.
O SBTVD utiliza a banda de UHF para o serviço de faixa larga, como
televisão SD (480 linhas), HD (720 linhas) ou Full HD (1080 linhas de
resolução). Em 2016, todas as emissoras de TV serão digitais e ocuparão o
UHF, deixando vagas as frequências no VHF.
Muito se discute sobre o uso do VHF após a digitalização da TV. As
operadoras de telefonia estão de olho neste espaço e os radiodifusores não
querem abrir mão, mas não têm uma resposta unificada sobre a destinação da
banda. Uma solução seria usar o VHF para a transmissão do rádio digital. O
Japão testou o ISDB-Tsb em 4 MHz do canal 7 em Osaka e Tokyo com
sucesso. Estes testes terminaram em 31 de março de 2011.
A recepção do rádio digital na faixa de VHF é possível pois a
transmissão do áudio acontece em faixa estreita, já uma transmissão de vídeo
não é recomentada, pois é banda larga. Um canal de 6 MHz do ISDB (com 13
segmentos) pode carregar vários sinais de áudio com 1 ou 3 segmentos cada.
Mas, para tal, é preciso que a infraestrutura de transmissão seja compartilhada
por mais de uma emissora através de um operador de rede.
O Operador de Rede (multiplex service) é comum na Europa, onde as
emissoras públicas são fortes, e possui muitos benefícios: redução dos custos
de transmissão; menor impacto na natureza (menos antenas); isonomia na
prestação do serviço; facilidade de fiscalização; e melhor utilização do espectro
eletromagnético (otimização).
34
No Brasil, existe a possibilidade de as rádios públicas, culturais,
comunitárias, educativas e estatais serem transmitidas através de um Operador
de Rede de Televisão Pública Digital, instituído pela Portaria 24/2009 do
Ministério das Comunicações. Esta decisão do MiniCom reserva os canais UHF
60 a 69 (746 a 806 MHz) para as TVs públicas e as autoriza a fazer
multiprogramação.
ACC (Advanced Audio Coding) é um dos mais modernos padrões de
compressão de áudio existentes. Ele está presente no ISDB, no DRM e no
DMB (DAB+). Por meio deste codec, é possível transmitir um áudio de alta
qualidade com 144 kbps, ou até uma multiprogramação.
Um dos grandes problemas dos padrões de rádio digital é a
inadequação para emissoras de baixa potência, como rádios comunitárias
(25W). O ISDB tem uma configuração de SFN (rede de frequência única),
possibilitando que várias geradoras utilizem a mesma frequência sem que uma
interfira na outra. A SFN (single-frequency network) pode funcionar com
diversos transmissores de baixa potência, chamados de Gap-Fillers. A ideia
original é que os gap-fillers cubram as sombras (ou buracos) na transmissão
em UHF, que não supera obstáculos como morros e bairros com muitos
prédios. Porém a SFN, só funciona para sinais idênticos.
Outro grade problema são os custos dos transmissores digitais, o que
dificultaria em muito digitalização de emissoras do interior e comunitárias. Os
valores da migração para o rádio digital para cada padrão seriam 7: DRM - US$
70 a 90 mil; HD Radio (IBOC) - US$ 35 mil + US$ 5 mil (do software) = US$
40.000; ISDB-Tb - US$ 25 a 83 mil.
8.2 DRM x HD Radio/IBOC no Brasil
A digitalização do rádio parece uma sopa de letrinhas restrita a
engenheiros e se arrasta há anos. Em 2012, o Ministério das Comunicações
realizou testes e criou um Conselho Consultivo (Figura 8), o que parecia dar
um desfecho para a novela. Porém uma série de lacunas, principalmente para
7
AMARC ALC e ALER. El bit de la cuestión. La radio popular y comunitaria en la era digital. Buenos
Aires, 2010. Disponível em: http://tics.alc.amarc.org
35
as rádios comunitárias, ainda dificulta a decisão por um padrão de rádio digital
no Brasil.
Figura 8: Reunião do Conselho de Rádio Digital
A primeira falta é de critérios para a análise dos testes. A Portaria 209
de 2010, que criou o Sistema Brasileiro de Rádio Digital (SBRD), define 14
objetivos do serviço, mas a orientação do Ministério é que os testes sejam
avaliados levando em conta apenas aspectos técnicos, como alcance e
robustez do sinal. Um desperdício de tempo para o Conselho que reúne
empresários e movimentos sociais, além de ser um fator que empobrece o
debate sobre a importante escolha do rádio digital, a qual deve orientar
dezenas de países em suas decisões, como ocorrido no caso da TV Digital e já
revelado informalmente por integrantes dos governos do Chile e Angola.
Foram criadas três comissões no Conselho Consultivo de Rádio Digital:
Análise de Testes; Inovação Tecnológica; e Políticas Industriais. Assim como o
Conselho, sem prazo definido para término dos trabalhos e sem abordar
objetivamente os critérios da Portaria do SBRD como transferência tecnológica,
melhor uso das frequências, custos reduzidos e interatividade.
36
Há ainda os novos parâmetros definidos pelo chamado Marco
Regulatório das Comunicações, cujo texto está com o Ministério e sua
divulgação é prometida há mais de dois anos. O processo do rádio digital
poderia
corrigir
problemas
como
monopólio
dos
meios
comerciais,
venda\aluguel de frequências, concessão para políticos e pouca oferta de
emissoras públicas\comunitárias, mas sem uma nova lei geral como a da
Argentina,
continua-se
trabalhando
com
base
em
referências
legais
ultrapassadas dos pontos de vista político e histórico.
A Lei de Rádios Comunitárias (9.612 de 1998) é conservadora e o
processo de atualização tecnológica só reforça isto. Como não há permissão
para publicidade do comércio local e fundo público para financiamento das
rádios, as comunitárias não têm condições de se digitalizarem. Os
equipamentos
de
transmissão
são
caros
e,
sem
mecanismos
de
sustentabilidade, será impossível uma migração tecnológica para essas
estações.
Hoje no Brasil, há mais emissoras comunitárias que comerciais: são
mais de 4600 estações. Uma política pública para garantir a sustentabilidade
financeira
das
comunitárias
e
subsidiar
os
equipamentos
contribuiria
decisivamente para o sucesso do rádio digital no país. Sem isso, apenas as
poucas grandes redes migrariam para o digital, deixando de fora as
comunitárias, além das pequenas e médias rádios comerciais.
Outro ponto é a incompatibilidade dos testes com a realidade das rádios
comunitárias. No Brasil, a lei diz que são emissoras de muita baixa potência
(25W) e que dividem uma mesma frequência. Se no analógico, uma
programação acaba interferindo na outra gerando o que chamamos de “linha
cruzada”, no digital nenhum dos áudios seria ouvido. Esse teste de
interferência de cocanal não foi realizado, por exemplo. Além disso, os testes8
do Recanto das Emas (cidade-satélite de Brasília) e de Xerém (zona rural de
Duque de Caxias-RJ) não conseguem reproduzir a realidade de grande parte
das comunitárias, que ficam em ambientes urbanos repletos de interferências.
Como no digital a potência é bem menor que a analógica, ruídos urbanos
8
MINISTÈRIOS DAS COMUNICAÇÕES. Relatórios de testes com medições. Disponível em
http://www.mc.gov.br/servicos/apresentacoes/cat_view/22-acoes/33-radio-digital/80-relatorios-detestes-com-medicoes. Acessado em janeiro de 2013
37
podem gerar um verdadeiro “apagão” das rádios comunitárias que já operam
em muita baixa potência nas transmissões analógicas.
Outras lacunas permanecem existindo, contudo seus esclarecimentos
podem definir uma escolha segura entre os dois padrões testados (DRM e HD
Radio\IBOC), já que o resultado das análises técnicas mostrou poucas
diferenças entre eles.
O Ministério não realizou nenhum teste oficial de Ondas Curtas e a EBC
(Empresa Brasil de Comunicação), que administra a Rádio Nacional da
Amazônia, solicitou a digitalização destas transmissões, mas não obteve
resposta. Apenas o padrão europeu DRM possui rádio digital em OC
atualmente.
Outro interesse é que o rádio digital possua interatividade como a da TV
Digital. O Ginga (middleware responsável pela interatividade na TV) já foi
demonstrado em funcionamento com o DRM durante uma reunião do
Conselho. Já o HD Radio\IBOC disse também possuir a capacidade, mas
ainda não realizou nenhuma exibição pública.
A convergência com outros sistemas e aparelhos é outro ponto
essencial para o sucesso do rádio digital, que, se permanecer isolado em um
receptor próprio, como o rádio AM, tende a entrar em crise rapidamente. O
DRM possui tecnologia de áudio similiar à usada pela TV Digital brasileira, o
que facilitaria a criação de receptores conjuntos, como também a audiência em
smartphones. O mesmo já acontece no Japão e na Coreia do Sul com o ISDBTsb e o DMB\DAB+, respectivamente, padrões que não foram testados no
Brasil. Já o HD Radio\IBOC diz ter a potencialidade de convergência, mas
nada comprovado ainda.
38
9. METODOLOGIAS DE TRABALHO
9.1 Scrum
Scrum é um método de gerenciamento de projetos muito usado
atualmente pela TI de diversas empresas para o desenvolvimento de
softwares, mas que tem um recente crescimento em áreas como Web Design,
Marketing Digital (mídias sociais) e produção audiovisual. Está em franco
crescimento nas áreas de convergência de mídias, já que estas assumem
muitas das práticas tradicionalmente restritas à TI e à engenharia.
A metodologia ágil Scrum atua no sentido de aumentar o ROI (retorno
sobre investimento ou relação custo-benefício) de um projeto. Através dele, é
possível dividir as etapas de construção de um Web Site, por exemplo,
priorizando as entregas de acordo com o valor agregado que a parte finalizada
trará ao cliente, elevando sua satisfação.
Nos métodos gerenciais tradicionais como o PMBOK/PMI, o escopo
(conjunto de funcionalidades do produto) é fechado, muitas vezes pela força de
um contrato. A flexibilidade fica com a qualidade (mais rápido significa pior
qualidade e mais bugs), custo (mudança no projeto significa preço mais caro) e
prazo (novas funções significa adiamentos e atrasos constantes).
Já no Scrum, o escopo é flexível (Figura 9), pois parte-se da ideia de
que o cliente não é capaz de definir tudo o que deseja antes de começar a usar
um software ou site. Ao final de uma sprint (trabalho que dura de 1 a 4
semanas) é entregue uma parte de um portal, por exemplo. Isto permite que o
cliente dê um melhor feedback para os desenvolvedores, que, por sua vez
podem entregar as funcionalidades que mais vão agregar valor ao projeto.
No final, muitas das funções pensadas inicialmente não serão
implementadas, porque ao longo do projeto foram preteridas, perdendo
importância. Outras surgirão e serão priorizadas, pois, no momento,
incrementam mais o ROI. Desde o início de um projeto, o cliente já recebe
partes do produto, que vai sofrendo um processo de melhoria contínua ao
longo das sprints.
39
Do início ao fim, o que se vê é produto concreto e não papel,
levantamento de requisitos e burocracia. Esta é a filosofia do Manifesto Ágil9.
A equipe de um projeto Scrum deve ser composta por um grupo
multidisciplinar de profissionais, que, a partir da troca de experiências e
conhecimentos, podem crescer juntos com o desenvolvimento do produto.
Figura 9: Quadro de tarefas do Scrum dá mais transparência ao projeto.
Cabe ao Scrum Master ajudar a equipe a trabalhar. Ele não é o chefe
tradicional, que dá ordens, manda e delega tarefas. O Scrum Master organiza
as reuniões de planejamento (Sprint Planning) e revisão (retrospective e Sprint
review), além do feedback diário (stand-up daily meeting). O próprio time
distribui as tarefas e escolhe a maneira de executá-la (pair programming ou
individualmente).
Já o Product Owner (dono do produto) é a figura responsável por
aprovar ou rejeitar as entregas de partes de um site ao final de uma sprint. O
PO quebra o projeto em histórias (stories ou épicos) e as prioriza, de acordo
com a visão do negócio em que está inserido o projeto. E o Scrum Master,
9
MANIFESTO ÁGIL. Disponível em: http://manifestoagil.com.br/. Visitado em agosto de 2012.
40
junto com a equipe, divide uma história em tarefas. Tudo para elevar o valor
agregado do produto (website, aplicativo mobile, filme, programa ou software).
Existem outros métodos ágeis de gerenciamento de projetos como XP
(eXtreme Programming) e Kanban. Todos têm como pontos em comum os
quatro pilares do Manifesto Ágil: Indivíduos e interação entre eles mais que
processos e ferramentas; Software em funcionamento mais que documentação
abrangente; Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos; e
Responder a mudanças mais que seguir um plano.
41
CONCLUSÃO
Muitos foram os avanços das empresas de comunicação visando a
convergência de mídias, porém ainda há muitos entraves que dificultam um
fluxo de trabalho (workflow) que unifique áreas até então distintas, como
televisão, rádio e internet. A cultura (mentalidade) das empresas e o
engessamento funcional por conta das regras trabalhistas são outros fatores
dificultantes.
A popularização das mídias sociais impulsiona as relações entre
setores, derruba as paredes e integra equipes. A responsabilidade sobre a
presença na internet ainda não está clara. Algumas empresas criam setores
para cuidar exclusivamente disto, já outras estabelecem diretrizes transversais,
as quais são seguidas pelos profissionais de diversas áreas.
O Rádio Digital ainda não ganhou popularidade em nenhum país. Na
onda contrária, Portugal desligou seus transmissores. A aposta é na
conectividade da internet, que permite a um aparelho receber milhões de
canais de áudio com qualidade. No caso do rádio, a radiodifusão não
apresentou benefícios suficientes para a digitalização.
O áudio é uma mídia apropriada para o perfil de interação do futuro,
onde uma pessoa fará várias tarefas ao mesmo tempo. O sucesso dos
podcasts comprova esta hipótese. Só é preciso que os atuais produtores
repensem seus trabalhos dentro de um cenário de convergência (Figura 10).
Não são mais produtores de rádio, mas sim produtores da mídia áudio para
diversas plataformas: rádio, streaming e podcast.
Outro ponto é que o ROI nas mídias sociais é muito maior que o da
digitalização. Resultado disso é o pedido das TVs brasileiras para o adiamento
do desligamento das transmissões analógicas e seu forte investimento na web.
Em outra frente, o socialcast torna todo conteúdo global, ou seja, a
comunicação local tem que ser repensada. Isso gera uma redução das
identidades locais e fortalecimento de outras identidades. O conceito de
comunidade, sempre restrito à questão territorial, passa a ser ligado a
afinidades outras. Muitas vezes, uma pessoa tem mais proximidade com
alguém que mora a milhares de quilômetros de sua residência do que com seu
vizinho, com que nem ao menos fala e sabe o nome.
42
Figura 10: Rádio comunitária transmite pela internet e interage pelas redes sociais
A comunicação multiplataforma e transmidiática é mais custosa e
complexa. As empresas públicas têm grande possibilidade de se destacarem
neste cenário, já que seu modelo de negócios não depende da tradicional
publicidade comercial. Novas empresas comerciais compreendem isso e têm
mais sucesso do que velhos players que enfrentam dificuldades na adaptação.
O desafio das públicas é ter a agilidade que a atualidade demanda. Se
ficarem presas a velhas convenções, estarão fadas ao fracasso. No caso
delas, o fracasso de público, com redução de audiência. E também correr o
risco de serem extintas, já que perderiam a justificativa da existência, na
medida em que o serviço prestado não seria mais necessário à população.
No caso brasileiro, a EBC é uma empresa estatal, com quadro funcional
composto majoritariamente por celetistas concursados. Entretanto, pode ter
como empresa auxiliar a Acerp, uma associação privada sem fins lucrativos. A
Acerp seria o braço responsável pela pesquisa e inovação, função essencial
para o desenvolvimento do sistema público de comunicação, a qual nem EBC,
nem demais TVs estaduais conseguem desempenhar com excelência.
43
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