- iv rea | xiii abanne

Transcrição

- iv rea | xiii abanne
IV Reunião Equatorial de Antropologia
XIII Reunião de Antropólogos do Norte e Nordeste
04 a 07 de agosto de 2013, Fortaleza-CE
Grupo de Trabalho: Fotografia, imagem fílmica e sonoridades em contextos
etnográficos
Título do Trabalho: Da performance fotográfica à imaginação ou como fazer uma
antropologia da imagem em ação
Inês Quiroga Coelho
E-mail: [email protected]
Instituição: PPCIS - UERJ
Sempre me pareceu um pouco paradoxal falar sobre as potencialidades da
fotografia, no âmbito da pesquisa antropológica, fazendo uso, puramente, de
palavras. Me dava a impressão de que era quase o mesmo que descrever
determinada cena e/ou situação etnográfica em frases e mais frases, ao invés, de,
simplesmente, mostrar uma foto ou alguns minutos de um vídeo. No entanto, fui
percebendo e aprendendo, à medida que adentrei, cada vez mais, o campo da
antropologia visual, que palavra e imagem, cada uma dentro de sua especificidade
e sensibilidade, atuam de modo distinto na construção do conhecimento. Com isso
em mente, me lanço sem hesitação no mundo das palavras para, através deste,
refletir sobre a experiência de realização de um ensaio fotográfico no âmbito de
uma pesquisa, ainda em processo, com jovens participantes de projetos
socioculturais da organização não-governamental Contato – Centro de Referência
da Juventude 1.
Adentrar e entender esta proposta fotográfica significa, antes de tudo, perpassar
os caminhos que me levaram até ela, uma vez que a sua inserção, enquanto
procedimento metodológico,
não se deu de forma aleatória, mas sim,
intrinsecamente, conectada a todo meu percurso, desde meu ingresso nesta
organização não-governamental, há sete anos atrás, até os primeiros momentos
em campo, já no âmbito de minha pesquisa de mestrado. Neste sentido, ao longo
das páginas que seguem, procuro exercitar uma dupla mirada: olhar para o
passado e para o presente, de modo a esboçar o percurso que me levou até o
tema de minha pesquisa e o uso da fotografia, enquanto instrumento de produção
de performances; e trazer à cena questões e reflexões acerca da imaginação e da
invenção no contexto do trabalho de campo e na própria construção da narrativa
etnográfica, vislumbrando, a partir das fotografias geradas, um caminho expositivo
mais próximo ao mundo do sensível.
1
Ao longo do texto me referirei à ONG Contato – Centro de Referência da Juventude também
como ONG Contato ou simplesmente Contato.
1
DO PERCURSO AO TEMA
De 2007 a 2011, fiz parte da ONG Contato – Centro de Referência da Juventude,
localizada na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. Esta organização tem como
foco atividades voltadas para a reflexão, formação e produção cultural nas áreas
de audiovisual, música, artes plásticas, inclusão digital, meio ambiente e
cooperação internacional, e busca, através de suas ações, estabelecer e estreitar
o diálogo entre cultura e juventude. A ONG Contato, em relação às inúmeras
organizações não-governamentais que vem proliferando no Brasil, com ações
centradas, primordialmente, na população de baixa renda, apresenta um
diferencial: a inclusão em seus projetos de jovens provenientes de distintas
classes e espaços sociais. Dessa forma, em suas atividades convivem – tanto
como participantes, quanto como funcionários – jovens de diferentes origens
sociais e culturais.
Ao longo dos cinco anos em que atuei nesta organização, participei e me envolvi
de diferentes maneiras com os projetos socioculturais aí implementados. Durante
o primeiro ano, fiz parte de uma espécie de conselho de jovens que opinavam e
ajudavam na realização das atividades 2. Depois me tornei uma das participantes
de um projeto de realização audiovisual e, por fim, após o término de minha
graduação em Ciências Sociais, fui contratada para trabalhar em uma série de
projetos, como produtora cultural e consultora em antropologia. Nos primeiros
anos de vínculo com a Contato, a partir da convivência e do estabelecimento de
relações de amizade com jovens de espaços sociais diferentes do meu, passei a
ter grande interesse pelo mundo da periferia. Guiada por essa motivação, entre
2008 e 2009 desenvolvi uma pesquisa em bailes funk da cidade de Belo
Horizonte, que deu origem à minha monografia de conclusão de curso. Após a
realização desta pesquisa, em que busquei entender um pouco do universo da
2
Nesse meu primeiro momento de inserção na organização, as atividades, em que participava,
faziam parte da primeira edição do projeto Cine Aberto – Laboratório de Filmes, que consistia em
oficinas diversas na área de audiovisual e exibições de filmes nacionais, sendo algumas destas
comentadas por seus realizadores e/ou especialistas da área de audiovisual.
2
periferia através de aspectos visuais – gestos, cortes de cabelo, indumentária, etc.
– que demarcavam o pertencimento de jovens frequentadores do baile a este
contexto social, começou a intrigar-me, não mais este mundo diferente do meu e
suas características distintivas, mas a interação entre os diferentes mundos
sociais, que apresentam fronteiras simbólicas, muitas vezes, rígidas, porém, em
constante fricção.
Frente à inquietação em relação a essas fronteiras e intersecções sociais, tornouse quase impossível não voltar o meu olhar para aqueles que fizeram parte do
meu convívio diário durante cinco anos; para os jovens que, assim como eu e
junto comigo, participaram dos projetos implementados pela ONG Contato e
puderam, através deste espaço de imersão artística, conviver e interagir com
diferentes universos sociais. Assim, diante dessa mistura de curiosidade,
inquietação e necessidade de entendimento da minha própria experiência,
emergiu o propósito de refletir, em minha pesquisa de mestrado, sobre a relação
entre a arte e a formação identitária de jovens participantes de projetos
socioculturais, buscando entender o papel da arte na inserção desses jovens em
universos sociais distintos e o modo como esse múltiplo pertencimento reflete em
suas subjetividades.
Nas primeiras reflexões sobre meu objeto e minhas hipóteses antes da
(re)imersão em campo, a ONG Contato era, por mim, pensada, como apenas um
ponto de partida, enquanto local onde (eu supunha) os jovens pesquisados
tiveram seu primeiro contato com a arte. Assim, logo em seguida, eu partiria em
busca tanto do entendimento da possibilidade de transformação da arte em si,
tendo como principais referências as reflexões sobre performances artísticas de
Turner e Schechner 3, quanto da interação desses jovens com pessoas de distintas
classes sociais em outros espaços conectados à arte, no intuito de aprofundar
questões relativas a este múltiplo pertencimento e seus reflexos subjetivos. A
Contato, dessa forma, neste momento inicial, ocuparia, no âmbito da pesquisa, um
3
Sobre a arte como possibilidade de interrupção do fluxo da vida cotidiana, momento de
reflexividade e alteração das relações vigentes, ver DAWSEY (2011); HIKIJI (2005, 2006a, 2006b);
SCHECHNER (2011); TURNER (1985, 1987, 2005).
3
papel importante, porém, coadjuvante, um “simples” cenário indicando a porta de
entrada para o mundo da arte.
No entanto, nas primeiras conversas e entrevistas em campo, a instituição, para
além de sua “presença física” nos encontros com os pesquisados, já que estes
ocorreram sempre ali, fazia-se o tempo todo presente, não apenas nas falas que
procuravam responder às minhas perguntas referentes à ONG Contato e seus
projetos, mas, principalmente, porque os sujeitos pesquisados mencionavam,
constantemente, em distintos momentos das conversas e entrevistas, pessoas
que por lá passaram ou que de alguma forma conectavam-se à instituição. O que
eu pensava ser apenas um cenário, uma simples fachada de papelão, em que
atrás se encontravam diversas manifestações artísticas, era desenhado como
composto de pessoas que, em distintos momentos, aí se encontraram e
relacionavam-se, de alguma forma, dentro e fora dos muros da instituição.
Percebi, também, neste primeiro tatear, que não estava diante de um único mundo
da arte, escrito em letras maiúsculas e negrito, e, sim, de mundos artísticos, em
que cada sujeito apresentava a sua definição de arte. Neste sentido, não estava à
frente de uma porta de entrada para a arte, mas de um espaço relacional, em que
pessoas de distintos mundos artísticos interagiam.
Tornou-se, assim, necessário redesenhar o caminhar da pesquisa, de modo a não
somente permanecer um pouco mais e compreender em profundidade o espaço
relacional construído pela e a partir da ONG Contato, mas também retroceder
alguns passos e entender as concepções e relações desses jovens com a arte
antes da entrada pelo portão enferrujado da Contato. O trabalho de campo,
portanto, se transformou, deixando de ser um acompanhamento de trajetórias de
vida, lineares e paralelas, em que a organização seria somente uma catapulta
para o entendimento dos passos seguintes dos sujeitos pesquisados, e passou a
se constituir como uma grande teia, em que tanto o percurso institucional da ONG
Contato, quanto as trajetórias individuais encontram-se amalgamados, e cujos fios
de relações passadas, presentes e futuras podem ser vislumbrados por entre as
grades do muro da instituição.
4
O mergulho no objeto de estudo proposto se deu, neste sentido, a partir do
entrecruzamento, com o percurso da própria ONG Contato, das trajetórias de Alex
Santana, Anderson Medina, Jessica Martins e Vinicius Ribeiro 4. A escolha dos
quatro jovens pesquisados deve-se, primordialmente, à nossa relação de amizade,
uma vez que os cinco anos em que convivi diariamente no ambiente da ONG
foram com eles compartilhados, pois participavam desta desde o pr imeiro dia em
que passei a frequentá-la. Além disso, os quatro ainda encontram-se vinculados à
organização, seja como monitores e assistentes, seja como técnicos de alguns
dos projetos em realização.
Ter como eixo central as trajetórias de vida dos quatro jovens foi fundamental,
uma vez que me interessava entender as relações estabelecidas naquele espaço,
seja com pessoas, seja com a arte, a partir dos olhares, percepções e significados
atribuídos por estes sujeitos. Peixoto, Velho e Gonçalves, trabalhando com
distintos conceitos, que apresentam particularidades, mas também muitos pontos
de interseção – história de vida, trajetória e etnobiografia 5, trazem à luz o caráter
de reconstrução de identidade dessas narrativas pessoais, permitindo que o
sujeito defina “seu lugar social e suas relações com o grupo” (PEIXOTO, 1997, p.
152). Neste sentido, os jovens, a partir da reconstituição de momentos e situações
de suas vidas, criam um estar em determinado contexto, que revela,
simultaneamente, intimidade, emoções e conteúdos sociais. Suas falas, que
mostram a “indissociável junção entre vivido e pensado, dado e construído,
individual e social, ação e representação” (GONÇALVES, 2012, p. 39), trouxeram
à tona não apenas suas trajetórias 6 individuais, mas também o próprio caminhar
4
Como bem pontua Goldman (2003, p. 470-471), existem várias questões e modos de agir
possíveis em relação à preservação ou não das identidades dos interlocutores e sujeitos de uma
pesquisa, dessa forma, explicito que na construção deste texto opto pelo uso não somente de seus
nomes próprios (nome e sobrenome), mas, principalmente, pelo modo como são chamados dentro
do espaço da ONG: Alex, Medina, Jessica e Vini, uma vez que o anonimato completo seria
impossível e, além disso, deixaria sombras àquilo que a perspectiva da trajetória de vida busca,
justamente, jogar luz: pessoas.
5
Para o entendimento das particularidades e pontos de interseção de cada um destes conceitos,
ver GONÇALVES (2012); PEIXOTO (1997); VELHO (1994, 2006).
6
Ao longo deste texto, mesmo apoiando-me, também, nas ideias que perpassam tanto o conceito
de história de vida, quanto de etnobiografia, faço uso, primordialmente, do termo trajetória, pois, no
5
da ONG Contato, que desde sua fundação em 2001, também se modificou,
refletindo, visivelmente, nas pessoas que adentram seus muros. Desse modo, na
pesquisa, parto dessas narrativas pessoais para reconstruir, também, o percurso
institucional da organização.
UM MUNDO COMUM: POTENCIALIZAR É PRECISO
Ao longo dessas primeiras páginas, foi tornando-se cada vez mais claro que a fala
que aqui ecoa não é de uma antropóloga que chega a determinado campo pela
primeira vez, mas de um corpo familiar, que durante cinco anos vivenciou
intensamente esse lugar e do qual, ainda hoje, pensando neste espaço relacional,
além muros e projetos da instituição, faz parte. Desse modo, o mergulho
etnográfico aqui descrito se dá a partir desse olhar tridimensional: jovem
participante, amiga e pesquisadora.
Faz-se necessário, no entanto, trazer à luz que o ponto de partida da minha
caminhada até a entrada pelo portão enferrujado da organização é diferente do
dos quatro jovens pesquisados: como costumámos brincar, eu sou do “asfalto”,
enquanto eles são do “morro”. Neste sentido, ao me colocar como um corpo
familiar, um membro do espaço relacional estudado, não tenho como intenção
afirmar que apresento o mesmo olhar e percepção dos pesquisados, mas que, a
partir de nossa entrada e convivência na organização, fomos afetados pelas
mesmas forças7, conseguindo, assim, constituir um mundo comum.
Se por um lado, estudar o que está perto, mergulhar internamente traz à luz, mais
do que nunca a importância de, como coloca DaMatta (1978, p. 28), “transformar
o familiar em exótico”, por outro, a riqueza desta minha vivência e da proximidade
com esses jovens e com a ONG Contato, tornam óbvia a necessidade de adentrar
caso deste estudo, acredito refletir melhor o movimento constante, o processo de metamorfose
presente no caminhar desses jovens, dessas identidades em formação.
7
Goldman (2003), ao refletir sobre o devir-nativo do antropólogo, apoiando-se nas colocações de
Favret-Saada (1990), diz que não se trata de colocar-se em seu lugar, mas de afetar-se por aquilo
que afeta o nativo, estabelecendo “com eles uma certa modalidade de relação”. (p. 465) .
6
e potencializar essa experiência por nós compartilhada. Neste sentido, além do
uso de métodos que buscavam inserir alguma distância mínima, como entrevistas
semi-estruturadas e conversas informais com fotografias trazidas pelos jovens,
tornou-se mais do que necessário lançar mão de um método que buscasse
potencializar, tirar proveito dessa intimidade já conquistada, desse mundo comum
compartilhado, no intuito de aceder e aprofundar, ainda mais, questões relativas
ao modo como os jovens pesquisados percebem e (re)significam a experiência
vivida, tanto no espaço relacional da ONG Contato, quanto antes de seu ingresso
nesta.
Neste sentido, propus aos quatro jovens a realização de um ensaio fotográfico
com algumas das fotografias trazidas e comentadas durante as conversas
informais. Se, nessas conversas, as imagens de diferentes momentos das vidas
dos quatro jovens – tiradas por eles e suas famílias, amigos e funcionários da
ONG Contato -, tornaram possível uma maior aproximação a lugares e tempos
“presentificados” na folha de papel fotográfico e na tela do computador, no ensaio
proposto, as fotografias assumiram um viés provocador. Através do uso de um
projetor multimídia, as imagens, previamente selecionadas, foram projetadas em
uma parede branca da ONG Contato e os pesquisados foram, em sessões
fotográficas individuais, solicitados que se colocassem na projeção, isto é, em
frente à parede branca, para que eu os fotografasse. Nessas sessões, utilizando
também roupas brancas, uma vez que esta tonalidade reflete melhor a luz do
projetor e potencializa, assim, a idéia de imersão nas cenas e vivências
projetadas, os quatro jovens puderam, frente às suas respectivas imagens, se
posicionar como quisessem, pensando somente em algum diálogo possível com
as fotografias projetadas. Ao propor esse ensaio, tinha como intenção provocar
um ambiente em que os jovens pudessem criar e recriar a si mesmos e sua
relação com os espaços, pessoas e situações vivenciadas e enquadradas nas
imagens.
Como pano de fundo da construção desse espaço de improvisação, me apropriei
de duas noções importantes que permeiam a obra do antropólogo e cineasta
7
francês Jean Rouch: antropologia compartilhada 8 e etnoficção9, buscando não
apenas construir o conhecimento etnográfico na relação e diálogo com os sujeitos
pesquisados, mas, principalmente, utilizar uma forma alternativa de acesso e
representação da experiência vivida e das questões relativas ao sensível que
perpassam meu estudo. Rouch, como aponta Gonçalves (2008, p. 148), ao
exercer uma antropologia marcada pelo constante entrecruzamento de fronteiras,
misturando gêneros, provocando a participação, conjugando etnografia e ficção,
dá vida ao esqueleto das sociedades por ele estudadas e descortina, assim, uma
verdade “inacessível ao olho senão pela mediação da câmera” (SZTUTMAN,
2005, p. 122 apud op. cit., p. 119). Ao realizar uma série de filmes, sendo Eu, um
negro (1958) um dos grandes exemplos, em que seus amigos e personagens
improvisam histórias inspiradas em suas experiências de vida, ele buscou na
atuação e improvisação um caminho de acesso à “realidade”, apoiado nos
universos imaginativos de seus personagens etnográficos, como ele mesmo
apresenta nos minutos iniciais do filme Eu, um negro.
Por seis meses segui um grupo de jovens imigrantes nigerianos
em Treichville, um subúrbio de Abidjan. Propus-lhes fazermos um
filme em que representariam a si mesmos, e poderiam fazer e falar
o que quisessem. Foi assim que improvisamos este filme. Um
deles, Eddie Constantine, foi tão fiel a seu personagem, Lemmy
Caution, agente federal americano, que foi, durante as filmagens,
condenado a três meses de prisão. Para o outro, Edward G.
Robinson, o filme se transformou num espelho de autodescoberta:
de descobrir ele mesmo. Ex-combatente da Indochina, expulso de
casa por seu pai por ter perdido a guerra. Ele é o herói deste filme,
passo-lhe a palavra. (Trecho da narração do filme apud
GONÇALVES, 2008, p. 96-97)
Neste sentido, o antropólogo-cineasta, permitindo que os sujeitos filmados
improvisassem suas ações e falas, joga luz não somente sobre o caráter
indissociável da realidade e dos personagens, mas também sobre a possibilidade
de revelação, por parte destes, de “valores e sentimentos que poderiam, de outra
maneira,
não
expressar
diretamente,
não
por
repressão
ou
inibição,
8
Sobre Rouch e sua antropologia compartilhada, ver GONÇALVES (2008); ROUCH (1995);
BARBOSA; CUNHA; HIKIJI (2009), entre outros.
9
Sobre a noção de etnoficção, ver GONÇALVES (2008); SJÖBERG (2009); FERRAZ (2009,
2010), entre outros.
8
necessariamente, mas, algumas vezes, porque são tidos como certo”10 (LOIZOS,
2008 apud SJÖBERG, 2009, p. 2).
Ferraz (2009, 2010) e Sjöberg (2009), ao refletirem sobre a criação de uma
etnoficção no contexto de suas pesquisas junto, respectivamente, a uma
companhia de circo-teatro e travestis e transexuais de São Paulo 11, trazem à luz,
também, a possibilidade dos pesquisados revelarem sua interioridade, sonhos,
desejos e recalques ao projetarem-se nos protagonistas do filme, tornando, assim,
“possível compreender como suas próprias identidades se relacionam com os
personagens” (FERRAZ, 2010, p. 5). Para Ferraz (2009), é possível “ver a
projeção” da atriz Luciane Rosã, uma das personagens etnográficas de sua
pesquisa, ao representar a protagonista de uma peça.
Refletindo-se na personagem Patrícia, protagonista da peça o Chá
de panelas, a atriz avalia os casamentos que não teve e os que
viveu. As pulsões, o desejo, todos os sonhos recalcados confundese com os seus personagens. Nesse momento, ficção e realidade
não se distinguem, são, ambos, experiências do passado em
potência, por se realizarem na virtualidade da vida tal como
imaginada pela atriz. A partir da proposição do trabalho sobre o
personagem, a atriz narra a sua biografia, falando de um outro. (p.
6)
Apesar de não solicitar aos quatro jovens a representação de algum papel
específico, acionando, explicitamente, a elaboração de um duplo, de certa
maneira, o espaço de improvisação criado possibilitou, também, uma duplicidade.
Na primeira sessão de fotos realizada com Alex, quando disse que poderia se
colocar onde quisesse na imagem projetada, ele enfatizou: “eu quero me colocar
no lugar que apareço na foto”. Neste mesmo sentido, Jessica, ao encontrar o lugar
em que gostaria de se posicionar, disse: “é pra mostrar a diferença de eu antes e
agora”. O espaço construído a partir da proposta fotográfica gerou, assim, uma
espécie de jogo de espelhos entre o “eu” dos jovens naquele momento e o “eu”
que se encontrava projetado na parede. Dessa forma, as fotografias reproduzidas
10
Tradução livre do original em inglês.
Os filmes Amores de circo e Transfiction são as etnoficções resultantes desses processos
investigativos.
11
9
em tamanho quase “natural” tornaram-se mais que um “artefato da memória” 12,
uma vez que permitiram aos sujeitos pesquisados uma confrontação entre esses
dois “eus” e, assim, uma reflexão sobre si à luz dessa experiência vivida.
Esta reflexividade acerca de si, de suas vivências e de suas relações com
pessoas e espaços esteve presente não somente nas improvisações, mas
também na análise, junto com os jovens, das imagens feitas. Assim, a observação
conjunta, como propõe Peixoto (2000), reforçou esse confronto com suas próprias
imagens, esse “reflexo no espelho”, adensando o processo de análise, uma vez
que pude ver e entender determinadas questões através dos “olhos dos
personagens” (p. 91). Se todo o processo de pesquisa foi marcado pelo diálogo
constante com Alex, Medina, Jessica e Vini, na construção do ensaio fotográfico e
na análise posterior das fotografias geradas, a antropologia compartilhada de
Rouch ou, nos termos de Peixoto (2000), a troca antropológica 13 adquiriu, sem
dúvida, ainda mais importância, uma vez que as trocas de olhares e opiniões
sobre histórias, sentimentos, possibilidades fotográficas (enquadramentos, planos,
ângulos, posições), etc., tornaram-se parte essencial desse processo.
Nessa performance fotográfica ou “improvisação projetiva” 14, termo sugerido por
Loizos (1993) à atuação presente nas etnoficções de Rouch e que espelha de
forma precisa minha proposta fotográfica, abro caminho, assim, para a imaginação
e a fabulação, colocando em pauta a possibilidade de se aceder a determinadas
questões, que envolvem os sujeitos pesquisados, por meio da (re)invenção e
atualização de momentos de suas vidas, da subversão ou não das experiências
vividas. Tentei, portanto, tomando emprestada a reflexão de Piault (1995) sobre a
experiência fílmico-etnográfica de Rouch, aproximar-me, através da ficção, da “(...)
12
Peixoto (2012) traz à luz que as fotografias ao funcionarem como um “artefato da memória”,
permitem, no contexto da reconstituição de trajetórias de vidas, a “evocação dos fatos do seu
passado” 12 (p. 346), de modo a recompor fragmentos deste.
13
A noção apresentada por Peixoto (2000), a meu ver, designa, de modo um pouco mais refinado,
esse processo de interação entre antropólogo e sujeitos pesquisados, uma vez que enfatiza o
movimento de dar e receber, além de abrir mais espaço para a possibilidade de que estas trocas
nem sempre sejam iguais.
14
“Pelo termo „improvisações projetivas‟ Loizos refere-se à noção de „projeção‟ da psicologia e o
seu significado de tornar algo implícito, explícito (...).” (SJÖBERG, 2009, p. 2) (tradução livre do
original em inglês)
10
compreensão de uma existência, não somente ao nível de uma cotidianidade
trivial, mas, também, no plano de uma afetividade específica que é posta em
situação, projetando sonhos nos condicionamentos pragmáticos do dia-a-dia” (p.
188).
Ao longo das sessões de projeção, portanto, quando pensava estar ultrapassando,
de alguma forma, as fronteiras do fazer antropológico, uma vez que via, a cada
fotografia tirada, os limites das noções de imaginação, ficção e realidade,
tornando-se cada vez mais fluidos, me dei conta de que essa fricção das fronteiras
entre arte e antropologia, pelo contrário, me aproximava do cerne da etnografia:
da compreensão do outro. À medida que a via de acesso da antropologia ao
sujeito e seu mundo se dá pelo falar e fazer deste o que é tomado como verdade
na etnografia passa, necessariamente, pelo que os sujeitos imaginam e
representam acerca de si e seu universo. Assim, seguindo os passos de Rouch,
porém ainda longe de ter comido kusu e apresentar o poder de entender e revelar
grandes segredos 15, mergulhei, sem medo, nessas fronteiras entrecruzadas,
(re)vivendo junto com os quatro jovens, a cada nova imagem projetada, muitos
momentos, que fizeram parte de suas vidas. Dentro desse espaço de
improvisação e fora dele, na análise conjunta das fotografias da projeção em seus
corpos, portanto, afloraram inúmeras histórias, explicações das posturas e
posições assumidas, choros, risos, etc., que me possibilitaram entender com mais
profundidade e sutileza a percepção dos pesquisados em relação às suas
vivências.
15
Caixeta de Queiroz (2004), citando Stoller (1989), traz à luz uma belíssima imagem sobre a
origem, para os songais, da trajetória tão respeitada de Rouch: “Se Jean Rouch tornou-se um
etnólogo e cineasta inovador e provocador na Europa, na África, como bem demonstra Paul Stoller
(1989, p. 87), é porque ele é um europeu astuto que soube seguir os espíritos: para os songais, o
povo do Níger, Rouch comeu kusu, a substância do poder, compreendeu grandes segredos, e, por
isso, é um homem temido e respeitado.” (p. 113)
11
DAS FOTOGRAFIAS GERADAS À NARRATIVA CONSTRUÍDA
As noções de realidade e verdade, não somente em referência aos sujeitos
pesquisados, mas principalmente em relação ao fazer antropológico e fotográfico,
já vêm, há algum tempo, sendo desconstruídas seja por antropólogos, seja por
fotógrafos e teóricos da imagem16. Questões relativas à autoria, condições de
produção, perspectiva crítica, manipulação de imagens, mise-en-scène, entre
inúmeras outras, vem sendo amplamente debatidas no intuito de apontar o caráter
construído tanto do texto etnográfico quanto das imagens fotográficas. Neste
sentido, a exaltação a um naturalismo e a resistência à ficção começam a ser
diluídas, uma vez que nos damos conta da construção presente no ato de
escrever e fotografar e, mais do que isso, no próprio ato de ver. Como bem pontua
Caiuby Novaes (2009), nossa visão é formada.
Vemos o que aprendemos a ver e a visão torna-se um hábito, uma
convenção, uma seleção parcial de tudo aquilo que há para ver e
um sumário distorcido de todo o resto. Vemos aquilo que
queremos ver e o que queremos ver é determinado não por leis
inelutáveis de ótica ou mesmo (como pode ser o caso em animais
selvagens) por um instinto de sobrevivência, mas sim por um
desejo de descobrir ou de construir um mundo em que podemos
acreditar. (READ, 1991, p. 12 apud CAIUBY NOVAES, 2009, p.
56)
Escapar, portanto, do caráter de construção que permeia tanto o fazer
antropológico, quanto o fotográfico torna-se uma tarefa inviável, ou melhor, deixa
de ser um obstáculo do qual devemos fugir ou saltar. Não se trata de posicionarse em um dos lados dos pares dicotômicos - objetividade e subjetividade,
realidade e ficção, arte e ciência -, mas em ambos. Mesmo que estes polos não
estejam livres de tensão, é impossível dissociá-los por completo, pois estes, como
coloca
Caixeta
de
Queiroz
(2012)
ao
discorrer
sobre
Rouch e
sua
16
Sobre a desconstrução da noção de verdade na antropologia ver CLIFFORD (2011); e na
fotografia ver ROUILLÉ (2009); SOULAGES (2010).
12
cinemantropologia, “não são dois polos opostos e irreconciliáveis, mas dois pontos
na mesma trajetória” 17 (p. 209).
Neste sentido, as imagens geradas tornaram-se não somente fonte, seja pelas
“improvisações projetivas” em si, seja pela análise junto com os jovens das
fotografias tiradas, de um rico e delicado material sobre a percepção e os
significados atribuídos por eles às experiências vividas em torno dessa grande teia
de relações constituída pela e a partir da ONG Contato, mas também possibilidade
de expressão de questões e vivências relativas à subjetividade que, de outro
modo, acabariam perdendo sua vitalidade e multiplicidade.
As fotografias construídas nesta performance fotográfica permitiram, assim, como
pontua Copque (2012, p.150), “dar forma às vozes e olhares daqueles que
contribuem para o relato etnográfico”, uma vez que a projeção de imagens de
espaços, pessoas e situações, que perpassaram as vidas dos sujeitos
pesquisados, em seus corpos, tornou visível as camadas de experiências que se
encontram aí interconectadas. Assim, suas trajetórias, com as vivências que as
constituem, sobem à pele, mostrando que, apesar de não serem aparentes a um
olhar que busca uma forma “natural”, marcam seus corpos.
Não sendo uma qualidade física, mas um atributo incorporal das
coisas e dos estados de coisas, o sentido não pode ser
descoberto, registrado ou restaurado. Ele deve ser, em vez disso,
produzido, expresso. E essa produção, essa expressão de sentido,
requer necessariamente um trabalho de escrita, de invenção de
formas. (ROUILLÉ, 2009, p. 168)
Assim, as imagens produzidas são como escrituras em seus corpos, uma vez que
as fotografias de diferentes momentos das vidas dos quatro jovens, ao serem
projetadas nestes, penetram suas peles, fundindo, dessa maneira, os sujeitos às
experiências vividas e sentidas e mostrando que a melhor representação de algo
não, necessariamente, significa assemelhar-se a este. Se voltarmos lá trás a um
dos primeiros filmes etnográficos produzidos, Nanook of the north, de 1922, já nos
damos conta, como argumenta o próprio realizador do filme, Flaherty, que, muitas
17
Tradução livre do original em inglês.
13
vezes, é necessário “distorcer uma coisa para captar seu espírito verdadeiro”
(BARSAM, 1992, p. 52 apud GONÇALVES, 2008, p. 136). Caixeta de Queiroz
(2004), ao citar a clássica cena do filme em que a foca é retirada de dentro de um
buraco, desmistifica-a ao dizer que a corda é puxada, na verdade, por um outro
grupo de pessoas e chama, principalmente, a atenção para o fato de que “o
mundo das coisas não se encerra nelas mesmas e pede sempre uma imaginação”
(p. 133).
Outro nome clássico do cinema documentário, Vertov, com sua linguagem
inovadora e suas intervenções nas imagens, como ordem não cronológica de
planos, legendas, coloração de fotogramas, etc., nos reafirma, como salienta
Peixoto (1998, p. 6), “que a imagem por si só não diz muita coisa, não representa
uma ideia, uma vez que não retrata „a realidade‟”. Assim, principalmente, em
estudos que lidam com o mundo do sensível vemos não somente o potencial, mas
a necessidade do uso de imagens “transformadas” para trazer à luz o invisível,
materializar o incorpóreo. Em uma pesquisa com os Asuriní do Xingu, Nespoli
(2010), chama a atenção, para o lugar que essas imagens modificadas, ou melhor,
que se distinguem de um registro “natural”, assumem em seus estudos sobre
rituais xamanísticos.
Os vídeos “crus”, no formato original de registro, não interessam
tanto aos xamãs, que preferem os vídeos funcionando “como as
imagens dos sonhos”. (...) Os sonhos e os vídeos revestem os
corpos, e mostram o que está oculto, aquilo que a percepção
“cotidiana” não pode ver. (p. 155-156)
As fotografias que compõem o ensaio fotográfico buscam, portanto, ao caminhar
pela ficção e imaginação, aproximar, o máximo possível, não somente da
experiência vivida, mas principalmente da experiência sentida e interpretada por
cada um dos jovens pesquisados (PIAULT, 2001, p. 161). Estas imagens, no
entanto, longe de serem mobilizadas com o intuito de excluir ou diminuir a
importância da escrita, representam uma forma outra de entrada na temática
estudada, percorrendo ruelas e becos menos acessíveis à palavra, seja ela oral ou
escrita. Palavras e imagens foram conectadas, de forma que cada uma, assim
14
como apontado no preâmbulo inicial deste artigo, preenchesse as lacunas do
conhecimento produzido dentro de suas especificidades e potencialidades.
Segundo MacDougall (2006, p. 51), a escrita é cumulativa e sucessiva e a imagem
é simultânea, dessa forma, a primeira apresenta maior capacidade analítica e
argumentativa, enquanto a segunda permite explorar o mundo social com todas as
suas interconexões e estímulos sensoriais múltiplos. Nesse sentido, texto e
fotografias complementam-se, não de modo a explicar ou ilustrar um ao outro,
mas, para juntos, cada um atuando com suas diferentes sensibilidades, nos
permitir caminhar pela subjetividade e objetividade, pela arte e ciência, e nesse
trajeto nos aproximar à possibilidade de desvendar, camada após camada, um
pequeno pedaço desse mundo real e imaginado, que perpassa não somente o
espaço relacional da ONG Contato, mas principalmente os corpos de Alex,
Medina, Jessica e Vini.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Andréa; CUNHA, Edgar Teodoro da; HIKIJI, Rose Satiko Gitirana
(orgs.). Imagem-conhecimento: antropologia, cinema e outros diálogos. Campinas:
Papirus Editora, 2009.
BARSAM, Richard. Non-fiction film: a critical history. Bloomington: Indiana
University Press, 1992.
CAIUBY NOVAES, Sylvia. Imagem e ciências sociais: trajetória de uma relação
difícil. In: BARBOSA, Andréa; CUNHA, Edgar Teodoro da; HIKIJI, Rose Satiko
Gitirana (orgs.). Imagem-conhecimento: antropologia, cinema e outros diálogos.
Campinas: Papirus Editora, 2009.
CAIXETA DE QUEIROZ, Ruben. Jean Rouch: o sonho mais forte que a morte.
Devires. Belo Horizonte, v. 2, n. 1, p. 110-147, jan-dez, 2004.
15
CAIXETA DE QUEIROZ, Ruben. Between the sensible and the intelligible:
anthropology and the cinema of Marcel Mauss and Jean Rouch. Vibrant – Virtual
Brazilian Anthropology. Florianópolis, v. 9, p. 185-211, 2012.
Disponível em: < http://www.vibrant.org.br/downloads/v9n2_peixoto.pdf>. Acesso
em: 19 jun. 2013.
CLIFFORD, James. Sobre a autoridade etnográfica. In: GONÇALVES, José
Reginaldo Santos. A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século
XX. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2011, p. 17-58.
COPQUE, Bárbara. Sobre imagens: os meninos na rua, meninos-fotográfos. In:
PEIXOTO, Clarice (org) Antropologia & Imagem: narrativas diversas. Rio de
Janeiro: Garamond/FAPERJ, 2012, p.145-166.
DAMATTA, Roberto. O ofício de etnólogo, ou como ter “anthropological blues”. In:
NUNES, Edson de Oliveira (org.). A aventura sociológica: objetividade, paixão,
improviso e método na pesquisa social. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978, p.
23–35.
DAWSEY, John. Schechner, teatro e antropologia. Cadernos de Campo. São
Paulo, n. 20, p. 207-211, 2011.
FERRAZ, A. L. M. C. A etnoficção e o personagem como duplo: vídeo mediando o
processo auto-reflexivo. Trabalho apresentando no Simpósio de Antropologia,
Performance e o Filme Etnográfico, do 53º Congresso Internacional de
Americanistas, Cidade do México, jul. 2009.
Disponível
em:
http://filmeetnografico.com/pdfs/fe_circo_etnoficcao_personagem_1.pdf>.
<
Acesso
em 03 jun. 2013.
FERRAZ, A. L. M. C. Filme etnográfico em processo: reflexões em torno da
etnoficção. Trabalho apresentado no workshop Imagens, realizado pelo Núcleo de
Experimentações em Etnografia e Imagem (NEXTimagem/IFCS/UFRJ), Rio de
Janeiro, nov. 2010.
16
Disponível em: < http://ebookbrowse.com/workshop-imagem-ufrj-ana-ferraz-docd172702618>. Acesso em: 03 jun. 2013.
GOLDMAN, Marcio. Os tambores dos mortos e os tambores dos vivos. Etnografia,
antropologia e política em Ilhéus, Bahia. Revista de Antropologia. São Paulo, v.
46, n. 2, p. 445-476, 2003.
GONÇALVES, Marco Antonio. O real imaginado: etnografia, cinema e surrealismo
em Jean Rouch. Rio de Janeiro: Topbooks, 2008.
GONÇALVES, Marco Antonio; MARQUES, Roberto; CARDOSO, Vânia Z. (orgs.).
Etnobiografia: subjetivação e etnografia. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012.
HEAD, Herbert. A concise history of modern painting. Londres: Thames & Hudson,
1991.
HIKIJI, Rose Satiko Gitirana. A música e o risco: etnografia da performance de
crianças e jovens. São Paulo: EDUSP, 2006a.
-------------------------------------. Música para matar o tempo: intervalo, suspensão e
imersão. Mana. Rio de Janeiro, v. 12, p. 151-178, 2006b.
-------------------------------------. Etnografia da performance musical – identidade,
alteridade e transformação. Horizontes Antropológicos. Porto Alegre, ano 11, n.
24, p. 155-184, jul./dez. 2005.
LOIZOS, Peter. Innovation in ethnographic film. Manchester: Manchester
University Press, 1993.
MACDOUGALL, David. The corporeal image: film, ethnography, and the senses.
New Jersey: Princeton University Press, 2006.
NESPOLI, Eduardo. Performance, instalação e alteridade: produzindo máquinas
de intervenção corpórea. In: FERREIRA, Francirosy Campos Barbosa; MÜLLER,
Regina Polo (orgs.). Performance: arte e antropologia. São Paulo: Hucitec, 2010,
p. 154-191.
17
PEIXOTO, Clarice Ehlers. Histórias de mais de 60 anos. Estudos Feministas.
Florianópolis, v. 5, n. 1, 148-158, 1997.
PEIXOTO, Clarice Ehlers. Caleidoscópio de imagens: o uso das imagens e a sua
contribuição à análise das relações sociais. In: FELDMAN-BIANCO, B.; LEITE, M.
L. M. (orgs.). Desafios da imagem: fotografia, iconografia e vídeo nas Ciências
Sociais.
Campinas:
Papirus,
1998.
Versão
citada
disponível
em:
<
http://www.inarra.com.br/uploads/Caleidoscopio-de-imagens.pdf>
PEIXOTO, Clarice Ehlers. Envelhecimento e imagem: as fronteiras entre Paris e
Rio de Janeiro. São Paulo: Annablume, 2000.
PEIXOTO, Clarice Ehlers. The Photo in the Film: public and private collections in
video-portrait. Vibrant – Virtual Brazilian Anthropology. Florianópolis, v. 9, p. 345361, 2012.
Disponível em: < http://www.vibrant.org.br/downloads/v9n2_peixoto.pdf>. Acesso
em: 19 jun. 2013.
PIAULT, Marc Henri. Uma antropologia-diálogo: a propósito do filme de Jean
Rouch Eu, um negro. Cadernos de Antropologia e Imagem. Rio de Janeiro, n. 4, p.
185-192, 1995.
PIAULT, Marc Henri. Real e ficção: onde está o problema?. In: KOURY, Mauro
Guilherme Pinheiro (org.). Imagem e Memória: ensaios em Antropologia Visual.
Rio de Janeiro: Garamond, 2001.
ROUCH, Jean. The camera and man. In: Principles of visual anthropology.
Berlin/New York: Mounton de Gruyter, 1995, p. 79-98.
ROUILLÉ, André. A fotografia: entre documento e arte contemporânea. São Paulo:
Senac, 2009.
SCHECHNER, Richard. Pontos de contato entre o pensamento antropológico e
teatral. Cadernos de Campo. São Paulo, n. 20, p. 213-236, 2011.
18
SJÖBERG, Johannes. Ethnofiction and Beyond: The Legacy of Projective
Improvisation in Ethnographic Filmmaking. Trabalho apresentado na conferência
internacional A Knowledge Beyond Text, no Centre George Pompidou, Paris, nov.
2009.
Disponível
em:
<
http://antoine.chech.free.fr/textes-colloque-JR/Sjoberg.pdf>.
Acesso em: 03 jun. 2013.
SOULAGES, François. Estética da fotografia: perda e permanência. São Paulo:
Senac, 2010.
SZTUTMAN, Renato. Imagens perigosas: a possessão e a gênese do cinema de
Jean Rouch. Cadernos de Campo. São Paulo, n. 13, p. 115-124, 2005.
TURNER, Victor. Foreword. In: SCHECHNER, Richard. Between theater and
anthropology. Philadelphia: University of Philadelphia Press, 1985, p. xi-xii.
--------------------------. The anthropology of performance. In: The anthropology of
performance. Nova York: PAJ Publications, 1987.
--------------------------. Dewey, Dilthey e Drama: um ensaio em Antropologia da
Experiência (primeira parte). Cadernos de Campo. São Paulo, n. 13, p. 177-185,
2005.
VELHO, Gilberto. Projeto e metamorfose: antropologia das sociedades complexas.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
VELHO, Gilberto. Juventudes, projetos e trajetórias na sociedade contemporânea.
In: ALMEIDA, Maria Isabel Mendes de; EUGENIO, Fernanda (orgs.). Culturas
jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
19