Obesidade e fitoterápicos

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Obesidade e fitoterápicos
FITOTERAPIA NO TRATAMENTO DA OBESIDADE?
ANOREXÍGENOS??
ALUNA: BRUNNA PINTO E FRÓES
PROFESSORA: MARIA ISABEL CORREIA
A obesidade é um problema de saúde pública global que envolve redução da
expectativa de vida, aumento de morbidade e mortalidade. A obesidade está associada
com doenças graves como diabetes mellitus, hipertensão arterial, cânceres e acidente
vascular cerebral.
O tratamento e a prevenção incluem: dietas, atividade física, utilização de
medicamentos e realização de operações.
FITOTERÁPICOS:
A busca de novas terapêuticas para o tratamento da obesidade é um desafio.
Assim, a busca por fitoterápicos com efeito anti-obesidade e a regulamentação para
este fim devem ser criteriosamente avaliaods. Atualmente, a maioria dos fitoterápicos
que são utilizados para o tratamento da obesidade não são regulamentados, apesar de
amplamente comercializados em farmácias e na internet.
A utilização de fitoterápicos para o tratamento de doenças é prática bastante
antiga e o uso para combater a obesidade tem aumentado ao longo dos anos. Para este
fim, são utilizados extratos e compostos isolados de plantas, na maioria das vezes sem
acompanhamento médico ou nutricional, pois as pessoas acreditam, erroneamente, que,
por se tratarem de “produtos naturais”, não trarão nenhum dano à saúde.
Evidências indicam que os fitoterápicos com efeitos anti-obesidade podem agir
de diversas formas que incluem: (1) a diminuição da absorção de lipídios; (2) a
diminuição na absorção de carboidratos; (3) o aumento do gasto energético; (4) a
diminuição da diferenciação e proliferação de pré-adipócitos; (5) a diminuição da
lipogênese e o aumento da lipólise (Won, 2010).
A legislação que regulamenta a utilização de fitoterápicos é bastante rígida
incluindo a Portaria 971 de maio de 2006 que visa: o acesso seguro e uso criterioso dos
fitoterápicos, a ampliação da produção pública, a regulamentação sanitária e o
cumprimento de normas como qualidade, eficácia, eficiência e segurança no uso.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é o principal órgão
responsável pela regulamentação dos fitoterápicos no Brasil e tem o papel de: proteger a
saúde da população, garantir a segurança sanitária, participar da construção do acesso e
garantir boas práticas de manipulação.
Durante a pesquisa dos fitoterápicos utilizados como agentes anti-obesidade, foram
encontrados grande diversidade desses. Optamos então por citar aqui aqueles que já têm
algumas pesquisas em humanos e, que tenham relatado algum resultado sbore a perda
de peso:
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Garcinia Cambogia
Caralluma Fimbriata
Ilex Paraguariensis (Erva –Mate)
Citrus Aurantium (Laranja amarga)
Capsicum Annun (Pimenta)
Hoddia Gordonii
Phaseolus vulgaris (feijão branco)
Coffea Arábica (café)
Gymnema sylvestre
Pinus koraiensis
Cissus quadrangulares
Irvingia gabonensis (manga africana)
Camellia Sinensis (chá verde)
Cynara scolymus (alcachofra)
Opto por abordar quatro desses fitoterápicos por serem mais frequentemente
divulgados e\ou pela facilidade de acesso. São eles: Garcinia Cambogia, Caralluma
Fimbriata, Coffea Arabica e Camellia Sinensis.
A Garcinia Cambogia pertence à família Boraginacea. É uma planta nativa da
Ásia, cuja casca seca é utilizada desde a antiguidade como conservante de alimentos e
aromatizante. Trata-se de fitoterápico regulamentado pela ANVISA e classificado como
modulador do apetite e produtos para dietas especiais. A Garcinia Cambogia necessita
de prescrição médica para ser utilizada. O principal princípio ativo da Garcinia
Cambogia é o ácido-hidroxicítrico (AHC) que atua inibindo a atividade da ATP-citrato
liase, enzima responsável pela síntese de lipídios a partir de carboidratos. Com isso,
ocorre aumento na concentração de carboidratos que são direcionados para a síntese de
glicogênio que é sinalizador cerebral da supressão do apetite. Com a redução da síntese
de lipídeos, ocorre redução na deposição de gordura que leva a aumento na oxidação de
ácidos graxos e, consequentemente, aumento na produção de cetonas que também são
sinalizadores da supressão do apetite. Acredita-se que a Garcinia Cambogia atue ainda
regulando os receptores de serotonina e reduzindo a ingestão alimentar e também
inibindo a diferenciação de pré-adipócitos em adipócitos. (Kovacs, WesterterpPlantenga, 2006; Roy et al, 2004; Kim et al , 2004). Sendo assim, esta poderá ser
avaliada como tendo efeito hipocolesterolêmico.
Estudo duplo mascarado randomizado, incluiu 89 mulheres com sobrepeso,
tratadas por 12 semanas com o Extrato da Garcinia cambogia (400 mg) três vezes ao
dia versus placebo. Foi também prescrita dieta de 1200 kcal/ dia para as participantes do
estudo. O resultado final foi redução discreta do peso corporal e redução da
circunferência abdominal no grupo experimental. Neste estudo não foram observados
efeitos do AHC sobre o apetite (Mattes, R D ; Bormann, L., Physiology & Behavior,
2000, Vol.71(1), pp.87-94).
Outro estudo duplo mascarado randomizado utilizou 60 participantes de um
programa de caminhada com duração de oito semanas. Foi prescrita dieta de 2.000
kcal/dia para os participantes. Utilizou-se placebo versus AHC (2.800 mg\dia). O
resultado final foi a redução da ingestão alimentar, do peso, do IMC, do colesterol total,
do LDL-colesterol e do triglicérides. Houve aumento do HDL-colesterol e da serotonina
(Preuss et al, J Med,2004, 35(1-6):33-48).
Contudo, este fitoterápico não é isento de riscos, tendo em 2009 sido publicado
uma série de seis casos que evoluíram com hepatotoxicidade após ingestão de Garcinia
Cambogia (Lobb A, 2009, World J Gastroenterol 14;15(14):1786-7), mostrando que a
segurança da droga precisa ser melhor estudada.
A Caralluma Fimbriata: é um cacto comestível que pertence à família
Asclepiadácea, original da Índia e já usada desde a antiguidade como supressor da
fome. Trata-se de substância rica em glicosídeos, flavonas, megastigmano, dentre
outros. Os mecanismos de ação da Caralluma Fimbriata ainda não são bem elucidados,
mas acredita-se que a substância atue em áreas do hipotálamo ligadas à saciedade e
também atue bloqueando da ação da enzima ATP citrato liase (Kuriyan et al, 2007.
Appetite. May;48(3):338-4)
Estudo duplo mascarado randomizado realizado com 50 Indivíduos entre 25 e 60
anos, acompanhados por 60 dias, com IMC > 25 kg/m2, utilizou placebo versus extrato
de C. fimbriata (1g/dia). O resultado final foi redução da circunferência abdominal, do
apetite e da compulsão alimentar no grupo experimental (Kuriyan et al, 2007. Appetite.
May;48(3):338-44).
Não há relatos de efeitos colaterais relacionados à Caralluma Fimbriata. Apesar
disso, este fitoterápico não é liberado pela ANVISA desde 2012, quando foi proibida a
comercialização devido à falta de embasamento científico que comprovasse a eficácia
na perda de peso.
O Coffea Arábica, o café pertence à família Rubiaceae. É regulamentado pela
ANVISA como alimento. O principal princípio ativo é a cafeína que age reduzindo a
oxidação lipídica, aumentando a termogênese e inibindo a enzima fosfodiesterase. Essa
leva a ativação da lipase e ao aumento da quebra de triglicerídeos, em ácidos graxos
livres, que ficam disponíveis para a oxidação (Kevin et al, 2004;Vilar, Lúcio, 2013;
Endocrinologia Clínica, 5º edição).
Estudo prospectivo, com duração de 12 anos (1986-1998), avaliou a relação
entre o consumo de cafeína e peso corporal. Foram incluídos 18.417 homens e 39.740
mulheres neste estudo. A ingestão de cafeína foi avaliada entre os participantes a cada
dois e quatro anos. O resultado final mostrou que os participantes que consumiram
cafeína apresentaram menor ganho de peso, levando a acreditar que o consumo de
cafeína seria responsável por pequena redução de ganho de peso em longo prazo (Lopez
-Garcia et al, 2006, Am J Clin Nutr;83(3):674-80).
A Camellia Sinensis pertence a uma árvore nativa da China da família
Theaceae. Do processamento se extrai o chá verde, o chá da índia, o chá preto e o chá
branco. As folhas são ricas em compostos polifenólicos, principalmente as
epicatequinas, que são consideradas substâncias antioxidantes.
Acredita-se que as epicatequinas atuem inibindo a COMT (catecol-Ometiltransferase), enzima responsável pela degradação de norepinefrina. Assim, ocorre
prolongamento da norepinefrina que leva a aumento do gasto energético, oxidação de
lipídios, termogênese e redução na sensação de fome (Borchardt, 1975; Naves, 2009;
Shixian et al, 2006).
Estudo in vitro utilizando extrato de chá verde mostrou que o mesmo teve
propriedade de inibir a lipase pancreática e gástrica levando a bloqueio da emulsificação
de lipídeos no estomago e duodeno. Consequentemente, levou à redução da digestão de
gorduras. Os autores acreditam que este estudo pode ser extrapolado para seres
humanos e, que o extrato do chá verde teria a propriedade de reduzir a ingestão de
gorduras in vivo.
Juhel, et al, 1999, J Nutr Biochem;11(1):45-51)
Em estudo com 70 pacientes obesos, acompanhados por 12 semanas, houve
redução do peso em 4,6% e da circunferência abdominal em 4,5% após a administração
de chá verde aos participantes. Este trabalho sugere que os resultados foram obtidos
devido à inibição das lipases e estímulo à termogênese. Ainda neste estudo, alguns
participantes desenvolveram efeitos colaterais após uso do chá verde que incluíram: dor
abdominal, diarreia e aumento das transaminases (Chantre; Lairon, 2002,
Phytomedicine;9(1):3-8).
ANOREXÍGENOS
O tratamento farmacológico está indicado na obesidade quando houver
insucesso da abordagem não farmacológica e, deve ser sempre utilizado em conjunto
com dieta e mudanças do estilo de vida. A utilização deve ser supervisionada por
médico e moldada para cada paciente de acordo com as suas necessidades. Devemos
sempre avaliar os riscos e manter o tratamento medicamentoso apenas enquanto este for
seguro e efetivo (Vilar, Lúcio, 2013; Endocrinologia Clínica, 5º edição; Kronenberg,H.
M., 2010; Williams Tratado de Endocrinologia, 11º edição)
Os anorexígeno são drogas capazes de induzir a anorexia, ou seja, aversão
alimentar e falta de apetite. São divididos em classes que incluem:
1. DERIVADOS DO BETA-FENETILAMINA (precursor da anfetamina) e
FENILPROPANOLAMINA:
São: Dietilpropiona, Fentermina, Femproporex e Mazindol.
Agem inibindo a receptação e estimulando a liberação de norepinefrina e
dopamina nas fendas sinápticas da região do hipotálamo. Com o aumento das
concentrações dessas monoaminas, ocorre redução do apetite (ação central no
sítio da fome). (Vilar, Lúcio, 2013; Endocrinologia Clínica, 5º edição;
Kronenberg,H. M., et el, 2010; Williams Tratado de Endocrinologia, 11º edição
2. DERIVADOS DO METIL- BETA- FETILAMINA (composto modificado da
Anfetamina)
São: Fenfluramina e Dexfenfluramina.
Agem estimulando a liberação e inibindo a recaptação de serotonina nas
fendas sinápticas da região do hipotálamo. Com o aumento da concentração de
serotonina no sistema nervoso central (SNC), ocorre aumento da sensação de
saciedade.
E, para finalizar, a Sibutramina que tem ação tanto anorexígena como sacietógena.
3. Sibutramina atua bloqueando a receptação de norepinefrina e serotonina nas
fendas sinápticas da região do hipotálamo, consequentemente, atua reduzindo a
sensação de fome e aumentando a sensação de saciedade em nível de SNC.
Os anorexígenos, como agem no SNC,,têm vários efeitos colaterais que incluem:
agitação, ansiedade, insônia, cefaleia, palpitação, boca seca, aumento de pressão
arterial, taquicardia e quadros psiquiátricos como depressão e psicose. Devido ao grande
risco cardiovascular (especialmente a doença cardíaca valvar) e ao risco de AVC
hemorrágico, esses medicamentos foram retirados do mercado brasileiro. Atualmente, o
único anorexígeno liberado para uso no Brasil é a Sibutramina com várias restrições
(como termo de consentimento em 3 vias, utilização de receita Azul B2 com via retida,
etc) (Vilar, Lúcio, 2013; Endocrinologia Clínica, 5º edição; Kronenberg, H. M., et el,
2010; Williams Tratado de Endocrinologia, 11ºedição).
CONCLUSÃO:
Estudos em humanos são escassos para a maioria dos fitoterápicos, portanto, a
segurança precisa ser melhor esclarecida antes de utilização em larga escala. Poucos
são os fitoterápicos regulamentados pela ANVISA e poucos são anorexígenos liberados
para utilização. Concluímos assim que não existe nenhuma “fórmula –mágica” para
cura da obesidade e que o melhor caminho para a redução de prevalência seria a
prevenção por meio de boas práticas de educação alimentar e hábitos de vida saudáveis.

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