fisiologia - Faculdade Montenegro

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fisiologia - Faculdade Montenegro
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FISIOLOGIA
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• Flexibilidade de mulheres submetidas
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a alongamento em grupo
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Acúmulo
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FISIOLOGIA
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• Treinamento de força aplicado
em praticantes de hidroginástica
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Volume de exercícios com pesos F I S I O L
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do treinamento,
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hipotensivos e respostas a programas
de exercícios
FISIOLOGIA
EXERCÍCIO
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Fisiologia_CAPA_v4n1.indd 1
IS S N 16778510
Brazilian Journal of Exercise Physiology
FISIOLOGIA
DO
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FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
v o l u m e 0 4 - n ú me ro 01 • J a n/D e z 2005
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R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Sumário
volume 4 número 1 - janeiro/dezembro 2005
Editorial
Carta ao leitor, Prof. Dr. Paulo Tarso Veras Farinatti..................................................................................................... 3
Artigos Originais
Análise do intervalo de recuperação e consistência no teste de 1RM,
José Eduardo Lattari Rayol Prati, Sergio Eduardo de Carvalho Machado, André Pinheiro,
Mauro César Gurgel de Alencar Carvalho, Estélio Henrique Martin Dantas ................................................................. 4
Desempenho funcional de idosos asilados, Rodrigo Barbosa de Albuquerque,
Amandio A. Rihan Geraldes .......................................................................................................................................... 7
Efeito agudo dos alongamentos estático e FNP sobre o desempenho da força
dinâmica máxima, Thiago Matassoli Gomes, Ercole da Cruz Rubini, Homero da SN Junior,
Jefferson da Silva Novaes, Alexandre Trindade ............................................................................................................. 13
Predição do volume de exercícios com pesos para promoção da exaustão em três grupos
musculares de atletas mediante variações de componentes sanguíneos,
Carlos Alexandre Fett, Fábio Lera Orsatti, Roberto Carlos Burini................................................................................ 17
Utilização do teste de 1RM na prescrição de exercícios resistidos: vantagem ou desvantagem?
Alex Souto Maior, Adriana Lemos, Nélson Carvalho, Jéferson Novaes, Roberto Simão ............................................... 22
Correlação entre o acúmulo de lactato e a flexibilidade medida pelo teste de sentar
e alcançar em lutadores de Wushu, Rafael Reimann Baptista, Alexsander dos Anjos Ramos,
Bruno Fraga da Silva, Bruno Ogodai S. D. de Castro .................................................................................................. 27
Efeitos de um treinamento de força aplicado em mulheres praticantes de hidroginástica,
Luiz Fernando Martins Kruel, Roberta Eilert Barella, Fabiane Graef,
Michel Arias Brentano, Paulo Poli de Figueiredo, Ananda Cardoso, Carla Rosana Severo ............................................ 32
Avaliação da flexibilidade em mulheres submetidas a exercícios de alongamento em grupo,
Daniela Cristina Bianchini Nogueira Moreno Perea, Thais Renata Conejo,
Silvia Maria de Mendonça, Renata Munari, Maria Cristina Strabelli Titto ................................................................... 39
Revisões
Questionário de Prontidão para Atividade Física (PAR-Q)
Leonardo Gomes de Oliveira Luz, Paulo de Tarso Veras Farinatti ................................................................................ 43
Hipertensão arterial: uma abordagem direcionada aos efeitos do treinamento,
mecanismos hipotensivos e respostas a programas de exercícios,
Kalline Russo, Walace Monteiro .................................................................................................................................. 49
Resumos
Anais do IV Workshop em Fisiologia do Exercício – UFSCar e I Congresso
Paulista da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício ........................................................................................... 58
Normas de Publicação .................................................................................................................................. 68
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
R e v i s t a
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FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Conselho Editorial
Antonio Carlos Gomes (PR)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Emerson Silami Garcia (MG)
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Luiz Fernando Kruel (RS)
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Robert Robergs (USA)
Rosane Rosendo (RJ)
Sebastião Gobbi (SP)
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Yagesh N. Bhambhani (CAN)
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Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
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Editorial
Carta ao Leitor
Caros(as) Colegas,
A Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício (SBFEx)
foi fundada em 2002 por pesquisadores de diversas regiões do
país, que desejavam criar um fórum de discussão e fomento
da área que não fosse vinculado a quaisquer categorias profissionais. Uma das iniciativas em que se investiu foi a criação
da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx),
doravante órgão oficial da SBFEx. A RBFEx foi publicada
entre os anos 2002 e 2004 quando, em virtude de falta de
interesse da editora à qual estava vinculada, teve sua periodicidade interrompida.
Após dois anos de negociações, encontramos na Editora
Atlântica as condições estruturais e de profissionalismo compatíveis com os ideais que estavam na origem da criação da
RBFEx. Estamos, portanto, diante do desafio de recuperar
o tempo perdido e fazer da revista um veículo de divulgação
da produção científica em fisiologia do exercício, respeitado
e procurado pelos pesquisadores que militam nesse campo
de conhecimento.
Em um primeiro momento serão lançados dois volumes,
contemplando os anos de 2005 e 2006, período em que a
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publicação da revista viu-se interrompida. Além de artigos
originais e de revisão, são disponibilizados os Anais do II
Encontro Regional de Fisiologia do Exercício, realizado em
São Carlos. Em seguida, os números relacionados ao volume
de 2007 serão lançados com a periodicidade que a RBFEx
tinha, qual seja, quadrimestral.
Este volume, portanto, marca a retomada de um projeto
caro a muitos profissionais, pesquisadores e docentes, que nele
investiram tempo e energia. Fica aqui o agradecimento a todos
que vêm colaborando com a RBFEx, seja na sua concepção
ou na revisão de artigos. Um obrigado especial aos colegas
que, mesmo sabendo de todos os problemas pelos quais a
revista passou, nela continuaram acreditando e enviaram
suas colaborações. Sem eles, certamente a RBFEx não mais
existiria. Enfim, convidamos todos a participar do sonho
de termos no Brasil uma revista especificamente voltada
para as questões da fisiologia do exercício, prestigiandonos com sua escolha para a divulgação de resultados de
pesquisas e estudos!
Prof. Dr. Paulo Tarso Veras Farinatti
Editor-Chefe da RBFEx
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Artigo original
Análise do intervalo de recuperação
e consistência no teste de 1RM
Consistency and interval recovery analysis in 1RM test
José Eduardo Lattari Rayol Prati*, Sergio Eduardo de Carvalho Machado**, André Pinheiro***, Mauro César Gurgel de Alencar Carvalho****, Estélio Henrique Martin Dantas*****
*Mestrando em Saúde Mental - Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora - IPUB/UFRJ, **Mestrando
em Saúde Mental - Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora - IPUB/UFRJ, Bolsista Capes, ***Professor
- Academia West Fitness Club, ****Doutorando em Engenharia Civil - Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia
- COPPE/UFRJ, *****Professor, Laboratório de Biociências da Motricidade Humana - LABIMH - UCB/RJ
Resumo
Abstract
O presente estudo verificou se 10 minutos de intervalo no teste
de 1RM foram suficientes para a recuperação total de força e fidedignidade de seu re-teste 10 minutos após sua aplicação. A amostra foi
composta de 20 homens saudáveis e treinados, sem histórico de lesão,
com média de idade (23,5 ± 3,69), peso (73,1 kg ± 9,93) e estatura
(1,76 m ± 0,05). Para analisar o intervalo de recuperação entre os
testes de 1RM utilizou-se um teste t pareado, já para a análise da
fidedignidade utilizou-se o coeficiente de correlação intra-classe (CCI)
para determinar a consistência interna. Somente foi verificado um alto
índice de CCI, atingindo a fidedignidade (p = 0,000). Conclui-se
que o teste de 1RM realizado em um mesmo dia e 10 minutos após
apresenta um alto índice de CCI para o exercício de supino em homens
familiarizados ao teste, mostrando-se suficiente para o intervalo de
recuperação para restabelecimento total da força.
The present study verified if 10 minutes of interval in the 1RM
test had been enough for recovery the total of strength and reliability
of its re-test 10 minutes after application. Sample was composed by
20 health trained male without history of lesion, aging (23.5 ± 3.69),
weight (73.1 kg ± 9.93) and stature (1.76 m ± 0.05). To analyze
the recovery interval between 1RM tests a paired t test was used,
and for the reliability analysis the intraclass correlation coefficient
(ICC) was used to determine the internal consistence. Only a high
ICC indices was verified, reaching the reability (p = 0.000). We
concluded that 1RM test carried out in a same day and 10 minutes
after presenting a high ICC index for bench press exercise to male
that are familiar to the test, showed adequate recovery interval to
restore strength.
Palavras-chave: intervalo de recuperação, consistência interna,
força, 1RM.
Introdução
O teste de 1RM representa por si só um esforço máximo
e, conseqüentemente, um desgaste é gerado. Apesar da necessidade de familiarização, até o presente momento, o teste
de uma repetição máxima (1RM) tem sua confiabilidade
bem consolidada como corroboram alguns estudos [1-4],
Palavras-chave: recovery interval, internal consistency, strength,
1RM.
sendo esse teste (1RM) muito utilizado para se verificar o
nível de força dinâmica máxima do indivíduo [5]. Outro
grande questionamento sobre o uso do teste de 1RM é
sobre as alterações da carga provocadas com diferentes populações [4], diferentes idades [6], grupamento muscular
utilizado [1] e a confiabilidade inter e intra-avaliadores [4].
O intervalo de recuperação é outra importante variável
Recebido em 12 de outubro de 2005; aceito em 10 de dezembro de 2005.
Endereço de correspondência: Sergio Eduardo de Carvalho Machado, Rua Professor Sabóia Ribeiro, 69/104, Leblon, 22430-130 Rio
de Janeiro RJ, E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
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podendo-se comprometer o desenvolvimento da força [7].
Em condições de intervalos mais longos permitiram-se volumes de repetições mais elevadas [8]. Corroborando com tal
afirmação estão os estudos de Willardson [9,10], mostrando
que intervalos de descanso mais longos tendem a acarretar
em maiores aumentos da força, aumentando dessa maneira
a consistência das repetições executadas para cada série no
exercício de supino.
Dessa maneira, o objetivo do seguinte estudo foi verificar
se 10 minutos de intervalo é suficiente para recuperação da
força total no teste de 1RM e a fidedignidade do teste de 1RM
através do seu re-teste 10 minutos após a primeira aplicação
em homens treinados.
Análise estatística
Métodos
Tabela I - Média e desvio padrão do teste de 1RM em seus dois
momentos.
Amostra
A amostra foi composta por 20 homens saudáveis, com
idade média de 23,5 anos (± 3,69), peso de 73,1 kg (± 9,93)
e estatura de 1,76 m (± 0,05). Ambos praticantes de treinamento de força, com um mínimo de 6 meses, com atividade
regular de pelo menos 3 vezes por semana, sem histórico de
lesão. Os indivíduos, após serem previamente esclarecidos
sobre os propósitos da investigação e procedimentos aos quais
seriam submetidos, assinaram um termo de consentimento
livre e esclarecido. Este estudo está de acordo com as normas
da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre
pesquisa envolvendo seres humanos.
Procedimentos quanto ao teste de 1RM
Foi realizado um teste de 1RM no supino, sendo este
precedido por uma série de aquecimento (10 repetições). Tal
procedimento foi repetido no máximo de três tentativas, com
5 minutos de intervalo entre cada tentativa, determinando a
carga referente a uma única repetição máxima [11]. Após um
período de descanso de dez minutos foi realizado um re-teste
de 1RM (1RM 10 min).
Para a redução de erros de execução foram realizados os
seguintes procedimentos:
a) todos os participantes da pesquisa foram devidamente
instruídos quanto aos procedimentos dos testes e técnicas
de execução no exercício de supino reto, já que diferentes
técnicas de execução dos exercícios que envolvam angulações diversas, principalmente nas posições iniciais destes,
devem ser rigorosamente controladas, pois podem afetar
a carga levantada [12];
b) só foram aceitos os testes de 1RM em que a angulação
entre braço e antebraço ultrapassasse o de 90º, com a barra
tocando levemente ao peito;
c) todos os testes foram realizados no mesmo horário para o
mesmo indivíduo.
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Para análise da diferença de cargas do teste entre teste (1RM)
e re-teste (1RM 10 min) utilizou-se um teste t pareado. Para a
análise da fidedignidade do teste e re-teste, no mesmo dia, para
um mesmo avaliador, utilizou-se o coeficiente de correlação intraclasse (CCI) para determinar a consistência interna [13,14].
Resultados
Através da análise dos dados, verificou-se a média e o
desvio padrão dos testes de 1 RM em seus dois momentos,
conforme se pode observar na Tabela I.
Testes
Média (kg)
Desvio Padrão (kg)
1RM
87.80
18.95
1RM 10 min
88.00
18.95
RM = repetição máxima; min = minutos; kg = quilos.
a) Quanto ao intervalo de recuperação no teste de 1RM
Os resultados encontrados (média = 0,20 kg, desvio padrão = ± 0,89 kg) mostraram que através do teste t pareado
não houve diferença significativa entre o teste e re-teste de
1RM, obtendo-se um p = 0.330.
b) Quanto à fidedignidade no teste de 1RM após 10 minutos
de intervalo
Os resultados encontrados através do coeficiente de consistência interna (CCI = 0,99) mostram que a fidedignidade
do teste de 1RM foi atingida, obtendo-se um p = 0,000.
Discussão
O objetivo do seguinte estudo foi verificar se 10 minutos
de intervalo é suficiente para recuperação da força total no
teste de 1RM e a fidedignidade do teste de 1RM através do
seu re-teste 10 minutos após a primeira aplicação em homens
treinados. De acordo com nossos resultados, verificou-se que
10 minutos de intervalo foi suficiente para a recuperação total
de força no teste de 1RM, mostrando-se fidedigno após 10
minutos de sua aplicação.
a) Quanto ao intervalo de recuperação no teste de 1RM
Dentre os diversos estudos que investigaram a influência
do intervalo sobre o desempenho de força no supino, talvez
um dos pioneiros seja o estudo de Weir [15]. Este investigou
o comportamento da força dinâmica máxima no teste de
1RM, em 16 homens treinados no exercício de supino em
intervalos de 1, 3, 5 e 10 minutos. Os resultados mostraram
que não houve diferença significativa para os diferentes intervalos de recuperação. Porém, houve insucesso de apenas
2 sujeitos quando aplicado um intervalo de 5 minutos e 1
sujeito quando aplicado um intervalo de 10 minutos.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Sabe-se que um longo intervalo de descanso é necessário
para a recuperação do sistema neural e energético. Sustentando
essa hipótese, o estudo de Pincivero [16] mostrou que os músculos posteriores de coxa responderam de forma mais eficiente
à um programa de treinamento de força isocinético, quando
foram aplicados longos intervalos de descanso intra-sessão.
Quanto ao tempo de recuperação do sistema nervoso
central, a incompleta recuperação desse sistema pode reduzir
o recrutamento de unidades motoras [17]. Tal fato pode estar
atribuído à fadiga de origem neurobiológica ou psicológica
ligada a mudanças neuroquímicas que afetam o processo de
contração muscular.
Entretanto, todos os estudos citados anteriormente são de
efeitos agudos sobre a força. Dessa maneira, pode-se dizer que
estudos investigando os efeitos do intervalo de recuperação
sobre a força muscular em estudos longitudinais ainda são
escassos na literatura [18].
b) Quanto à fidedginidade no teste de 1RM
Em relação à fidedignidade do teste de 1RM, Pereira e
Gomes [3] relatam que esta mostrou-se de moderada a alta,
variando entre 0,79 e 0,99 de correlação, de acordo com o
gênero dos sujeitos e exercícios realizados.
Porém, a maioria dos estudos verificaram a estabilização
de cargas com testes sendo realizados em dias diferentes [2],
populações adversas [4,6,19,20] e diferentes grupamentos
musculares [1]. Um outro importante ponto a ressaltar, é que
todos os estudos citados realizaram análises estatísticas com
coeficiente de correlação de Pearson. Tal coeficiente é utilizado
para verificar a variação entre as médias obtidas entre grupos,
diferentemente de nosso trabalho que utilizou o coeficiente
de correlação intra-classe (CCI), responsável em verificar essas
possíveis alterações intra-grupo [13,14].
A estabilização da carga máxima no exercício de supino necessita de três a quatro sessões, conforme estudo de Dias et al. [2]. Em
nosso estudo foram realizados teste e re-teste dentro do mesmo
dia, apresentando um alto coeficiente de correlação intra-classe,
havendo somente realização de testes dentro do mesmo dia. O
que sugere uma rápida estabilização devido ao uso do exercício
de supino cujo estudo de Cronin e Henderson [1] demonstrou
ser mais rápido para o grupamento muscular do peitoral.
Conclusão
Conclui-se que o teste de uma repetição máxima (1RM)
realizado dentro do mesmo dia apresentou um alto índice de
correlação intra-classe em homens bem familiarizados ao teste,
demonstrando excelente reprodutibilidade. E demonstrou
também que o intervalo de recuperação foi suficiente para o
restabelecimento total da força.
Sugere-se que sejam realizadas novas investigações, verificando a confiabilidade de testes com diferentes números
de repetições máximas, levando em consideração os fatores
que podem interferir nessa análise como idade, grupamento
muscular utilizado e tempo de familiarização.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
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Artigo original
Desempenho funcional de idosos asilados
Functional performance in institutionalized old subjects
Rodrigo Barbosa de Albuquerque*, Amandio A. Rihan Geraldes**
*Graduado em Educação Física, NUPAFIDES-EDF-UFAL , Maceió AL, **Professor Assistente da Universidade Federal de Alagoas, NUPAFIDES-EDF-UFAL, Departamento de Educação Física, Maceió AL
Resumo
Abstract
O objetivo do presente estudo foi identificar o nível de autonomia funcional de idosos asilados, através da avaliação do desempenho
em tarefas funcionais selecionadas. Participaram da pesquisa dezenove idosos, sendo 12 homens (média de idade = 70,45 ± 6,02) e
7 mulheres (média de idade = 79,42 anos ± 10,65). As medidas do
desempenho funcional de cada uma das variáveis estudadas foram
acessadas através do tempo mínimo gasto para realizar as seguintes
tarefas: 1) caminhada de 10 metros (C10); 2) “Timed Up And Go
Test” (TUGT); 3) tempo para tirar e recolocar uma chave em uma
fechadura (CF); 4) tempo para tirar e recolocar uma lâmpada (RL).
De acordo com os resultados, 84% dos indivíduos conseguiram
realizar todas as tarefas propostas. No desempenho da tarefa C10,
enquanto os homens gastaram 8,74 seg. (± 2,5) para a realização
desta tarefa, as mulheres levaram um tempo médio de 24,41 seg. (±
14,50). Este tempo não é suficiente para atravessar uma rua padrão
em vários países desenvolvidos, como por exemplo, nos EUA (1,22
m/s) ou na Suécia (1,4 m/s). Para as outras tarefas o tempo médio,
gasto por homens e mulheres, respectivamente foi de: 14,96 seg.
(± 3,90) e 28,24 seg. (± 15) para TUGT; 10,16 seg. (± 18,90) e
8,93 seg. (± 9,90) para a CF e 13,78 seg. (± 18,90) e 8,93 seg. (±
9,90) para a RL. Esses achados sugerem a premente necessidade de
intervenções, sejam públicas ou privadas, que objetivem a melhora
do desempenho funcional desta população e, conseqüentemente,
aumento da qualidade de vida.
The purpose of this study was to identify the level of functional autonomy in elderly, through functional skills evaluation. The
sample was composed by nineteen elderly, twelve men (aged 70.45
± 6.02) and seven women (79.42 ± 10.65). Outcomes variable included the functional performance measured by minimal time that
the individuals have to accomplish the following tasks: 1) the 10
meter walk test; 2) “Timed Up And Go Test” (TUGT); 3) time to
remove and to place a key in the lock (KL); 4) time to remove and
to put a lamp (PL). The results suggest that 84% of the individuals
have accomplished all tasks. In the 10 meter walk while men spent
8.74 ± 2.5 seconds to accomplish this task, women spent 24.41 ±
14.5 seconds. The duration is not enough for pedestrians to cross
a street in developed countries such as USA (1.22 m/s) or Sweden
(1.44 m/s). For the other tasks the average time for the TUGT was
14.96 ± 3.90 and 28.24 ± 15.1 for man and woman, respectively;
10.16 ± 18.90 and 8.93 ± 9.90 for the KL and 13.78 ± 18.90 and
8.93 ± 9.90 for the PL. These findings suggest the need of public or
private interventions aiming at improving functional performance
of this population and consequently better life quality.
Key-words: elderly, functional autonomy, asylums, sarcopenia.
Palavras-chave: idosos, autonomia funcional, asilos, sarcopenia.
Recebido 27 de fevereiro de 2005;aceito 12 de julho de 2005.
Endereço para correspondência: Rodrigo Barbosa de Albuquerque, Rua Tupinambás, 78, Ponta Grossa, 57014820 Maceió AL, Email: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Introdução
O crescimento populacional e, conseqüentemente, o aumento da expectativa de vida têm acontecido em quase todos
os países do mundo, promovendo alterações relevantes no
estilo de vida de todas as sociedades. No Brasil, o segmento
populacional que mais cresce é o de idosos [1]. Em 9 anos (de
1991 a 2000) o número de idosos (indivíduos com 60 anos
ou mais) aumentou duas vezes e meia, enquanto o restante
da população do país aumentou apenas 14% [2,3]. Ramos
[4] reporta que nos EUA, em 2020, aproximadamente 20%
da população será formada por sujeitos com mais de 65 anos.
No mesmo país, em 2040, cerca de 1,3 milhão de sujeitos
serão centenários. Levando em consideração esse crescimento, estudos recentes [1,5-9] têm se dedicado a, além de
dar melhorares condições de saúde para a população idosa,
propor estratégias preventivas contra os efeitos deletérios do
envelhecimento.
Roubenoff [10] observa que uma das principais características do processo de envelhecimento é a sarcopenia. O
autor complementa a observação lembrando que este termo
é o nome dado a esperada perda da massa e força muscular,
principalmente, devido à diminuição do número de fibras
musculares do Tipo II. Segundo Ehrlich & Livtak [11], a
partir dos 60 anos, a perda de força muscular pode atingir
cerca de 10% por década.
Embora não possa ser classificada como doença, a
sarcopenia tem sido responsabilizada, juntamente com a
inatividade física, por grande parte, do aumentado risco
para limitações no desempenho em tarefas motoras, das
mais simples às complexas, como levantar de uma cadeira,
por exemplo. Lima-Costa, Barreto & Giatti [12] observam
que, em se tratando da funcionalidade de idosos, esta pode
ser dimensionada em termos de desempenho funcional
em determinadas atividades importantes para a autonomia
funcional do dia-a-dia.
Chaimowicz & Greco [5] lembra que, concomitantemente com o envelhecimento, aumentam a incidência e
prevalência das doenças crônico-degenerativas. Estas doenças, associadas a sarcopenia e à inatividade física, além
de poderem levar à fragilidade e dependência funcional,
aumenta o risco de necessidade de internamento e institucionalização. Cançado [13] observa que quanto mais alta
for a idade, menor será a probabilidade do idoso se manter
independente. Estas ocorrências aumentam o tamanho dos
desafios dos serviços públicos de saúde, em gerar um bom
serviço e qualidade de vida para esse segmento da população.
Nobrega et al. [14] estima que, com o envelhecimento da população, por volta de 2020, o número de idosos brasileiros,
portadores de moderada ou grave incapacidade funcional,
aumentará entre 84 a 167%. Felizmente, essas constatações
não são de todo desanimadoras, desde que, os resultados de
vários estudos [9,15-21] têm demonstrado que o aumento
dos níveis de atividade física pode desempenhar importante
papel como coadjuvante na prevenção e manutenção da
funcionalidade e autonomia do idoso.
O exposto demonstra a relevância investida no desenvolvimento de estudos que visem a verificação dos níveis de
desempenho funcional de populações idosas, especialmente,
aquelas nas quais o risco de diminuição da funcionalidade
é incontestavelmente elevado, como a deste estudo. Sendo
assim, o presente estudo teve como objetivo principal a verificação dos resultados de desempenho funcional de idosos
que vivem em asilos públicos da cidade de Maceió, em tarefas
motoras selecionadas.
Esta pesquisa se insere na linha de pesquisa: Aptidão física,
Autonomia Funcional e Qualidade de Vida Para Idosos, fazendo parte da produção do Núcleo de Pesquisa em Atividades
Físicas, Desempenho e Saúde do Departamento de Educação
Física da Universidade Federal de Alagoas (NUPAFIDESEDF-UFAL).
Métodos
Seleção e características dos sujeitos
Neste estudo, de caráter descritivo, utilizou-se uma
amostra composta por 19 sujeitos (12 homens e 7 mulheres)
com idades compreendidas entre 61 e 99 anos (X = 70,45
DP = ± 6,02), selecionados dentre os idosos que residiam, há
mais de três anos, em três das instituições asilares públicas da
cidade de Maceió. Foi selecionado como critério de exclusão,
ter menos de 60 anos de idade, e apresentar evidências que
incapacitasse os idosos na realização das tarefas, como, por
exemplo: estar sob tratamento com drogas que embotassem
a atenção ou impedissem a realização das tarefas e, ou, apresentassem evidências de doenças neurológicas, cardíacas,
ósteo-mio-articulares, dentre outras.
Tabela I - Características físicas dos sujeitos.
HOMEM (n = 12)
(Vm – VM)
M
DP
IDADE (anos)
70,45
6,02
61
ESTATURA (cm)
159,56
7,78
PESO (Kg)
64,57
IMC (Kg/m2)
24,53
MULHER (n = 7)
M
DP
99
79,42
10,65
138,2
172,2
145,94
5,24
8,92
41,1
78
49,01
10,92
2,94
19,2
31,01
22,7
4,18
IMC = Índice de Massa Corporal; M = Média; DP = Desvio Padrão; Vm= Valor mínimo; VM = Valor Máximo.
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Para a caracterização antropométrica da amostra, utilizaram-se as medidas da massa corporal, estatura e Índice de
Massa Corporal (Tabela I).
Após a explicação dos objetivos, procedimentos experimentais, importância e relevância do estudo e possíveis riscos,
derivados do experimento, leu-se para todos os idosos o conteúdo da carta de consentimento. Ao fim da leitura os idosos
que se propuseram a participar do experimento, assinaram
ou a puseram as digitais de seus polegares sobre o termo de
consentimento. Além disso, a presente pesquisa respeitou os
preceitos e normas ditadas pelo Conselho Nacional de Saúde
(resolução n° 01/88) (CNS, 1995).
Medidas da funcionalidade
9
Tirar e colocar a chave em uma fechadura
Esse teste foi proposto e utilizado por Lundgren-Lindquist
& Sperling [24] para avaliar a habilidade manual de indivíduos idosos. O teste consiste em, se partindo-se da posição inicial
em pé, em frente ao equipamento, colocado a uma altura de
95 a 100 cm do chão, onde está a fechadura foi marcado o
tempo para tirar e recolocar a chave.
Tirar e recolocar uma lâmpada em um bocal
Esse teste, também proposto por Lundgren-Lindquist &
Sperling [24], destina-se à avaliação da habilidade manual
de idosos.
Na maioria dos asilos estudados, os testes foram realizados em um único dia. Entretanto, em alguns asilos, houve
a necessidade de se utilizar dois dias consecutivos para as
avaliações.
Para acessar o desempenho funcional dos idosos, mediu-se
o tempo gasto para a realização de quatro das atividades ou
tarefas motoras importantes para o cotidiano, utilizadas como
testes em estudos anteriores, descritos a seguir.
Tratamento estatístico
Caminhar 10 metros
Apresentação dos resultados no desempenho funcional
Os resultados do desempenho funcional em cada uma das
tarefas selecionadas podem ser observados na Tabela II.
Este teste, utilizado em estudos anteriores [6,22], destina-se a medir a velocidade de caminhada para uma distância
equivalente a largura de uma rua padrão. O teste consiste em
caminhar em linha reta, uma distância equivalente a 10 (dez)
metros, o mais rápido possível, sem correr.
“Timed Up & Go Test”
Este teste, dentre outras variáveis, destina-se a medir,
principalmente a coordenação motora e o equilíbrio. Segundo Podsiadlo & Richardson [23], pode ser utilizado como
preditor para a funcionalidade e morbi-mortalidade. O teste
é iniciado com o sujeito sentado em uma cadeira. O avaliado
deve levantar-se da cadeira, sem auxílio dos braços, caminhar
em linha reta, o mais rapidamente possível sem correr, uma
distância de três metros, ao fim dos quais, deve fazer meia
volta, percorrer o mesmo percurso e mais uma vez sentar.
Com o objetivo de organizar e apresentar à análise os
dados estudados, utilizaram-se os seguintes recursos da estatística descritiva: média, desvio padrão, freqüência absoluta
e freqüência relativa e delta percentual (Δ%).
Resultados
Resultados do teste: caminhar 10 metros.
Neste teste, os homens e mulheres que compuseram a
amostra gastaram, respectivamente, um tempo médio de
8,74s (± 2,2) e 24,41s (± 14,5) para a realização da tarefa, o
que corresponde a uma velocidade média de 1.31 m/s (DP=
± 0,31) para os homens e 0,54 m/s (DP = ± 0,3) para as
mulheres.
Resultados do teste: “Timed Up & Go Test”
Quando analisamos o TUGT, é pertinente lembrar que as
autoras do mesmo, Podsiadlo & Richardson [23], reportam
que, em termos funcionais, enquanto os indivíduos que conseguem realizar essa tarefa em tempo inferior a 10 segundos
Tabela II - Desempenho nas habilidades funcionais selecionadas.
HOMENS (n = 12)
n M
(Vm – VM)
DP
MULHERES (n = 7)
n M
DP
TTRL(seg)
(11)
13,78 ± 7,73
6,3 – 50,16
(7)
21,57 ± 15,18
TTEC(seg)
(11)
10,16 ± 18,9
1,67 – 66,39
(7)
8,93 ± 9,9
TUAGT(seg)
(12)
14,96 ± 3,9
9,64 – 52,74
(6)
28,24 ± 15,1
TC 10m(seg)
(12)
8,74 ± 2,5
5,11 – 46,84
(7)
24,41 ± 14,5
TTCL = Tempo para retirar e recolocar uma lâmpada; TTEC = Tempo para retirar e recolocar a chave; TUAGT = “Timed Up And Go Test” ; TC 10 m = Tempo
para realizar a Caminhada de 10 metros, n = número de participantes, M = Média, DP = Desvio Padrão, Vm = Valor Mínimo, VM = Valor Máximo.
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são classificados como funcionalmente independentes; os
sujeitos que realizam o teste em um período de tempo superior
a 10 segundos e inferior a 20 segundos são classificados como
parcialmente independentes. Finalmente, os indivíduos que
realizam o teste em tempo superior a 30, ou não o conseguem
realizar, são classificados como funcionalmente dependentes,
tendendo a necessitar de assistência de outras pessoas. Dessa
forma, pôde-se observar que, todos os sujeitos do sexo masculino foram classificados como parcialmente independentes.
Entretanto, dentre as mulheres, observou-se a ocorrência das
três classificações. Ou seja, uma delas foi considerada funcionalmente dependente, desde que não conseguiu realizar
o mesmo; três foram consideradas parcialmente independentes, uma foi considerada funcionalmente independente
e três como dependentes da assistência de outras pessoas para
realizarem esta atividade motora.
Resultados do teste: retirar e recolocar uma lâmpada em um bocal
Neste teste, embora 100% das mulheres fossem capazes
de desempenhar a tarefa, três delas (43%), demonstraram
significativas dificuldades na realização da tarefa. Dentre os
homens, neste mesmo teste, três sujeitos (25%) apresentaram
dificuldade na realização do teste, enquanto um deles (8,3%)
foi incapaz de realizar a tarefa.
Resultados do teste: retirar e recolocar a chave
em uma fechadura
Nessa tarefa, mais uma vez, 100% das mulheres foram
capazes de terminar a tarefa, entretanto, duas delas (28,5%)
apresentaram dificuldades na realização da mesma. Dentre
os homens, dois sujeitos (16,6%) demonstraram dificuldades
para realização da tarefa, enquanto um dos indivíduos (8,3%)
não foi capaz de completar o teste.
Discussão
Os resultados do presente estudo corroboram com
afirmações de publicações anteriores [25] de que o grau do
declínio na capacidade funcional de idosos asilados é mais
elevado, quando comparado com idosos não asilados, apesar
das limitações existentes no presente estudo como o limitado
tamanho da amostra e outras.
Vários estudos longitudinais [27,9] têm demonstrado que
os efeitos deletérios do envelhecimento, sobre os diferentes
sistemas corporais, podem levar o indivíduo à invalidez. Melo
et al. [26] lembra que tais constatações demonstram que o
envelhecimento populacional e seus efeitos geram maior
responsabilidade e maiores gastos, com programas médicos
e sociais, para os serviços de saúde, desde que, os idosos
apresentam como características: consumir mais serviços de
saúde, apresentam maior e mais freqüente necessidade de
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internações hospitalares e, quando internados, apresentam
um tempo de ocupação do leito maior que o de outras faixas
etárias [12].
Indivíduos idosos que vivem em instituições asilares têm
demonstrado menores níveis de atividade e aptidão física,
quando comparados com os idosos que vivem na comunidade. Sendo mais frágeis, esses idosos apresentam maiores
riscos para doenças crônico-degenerativas, limitações funcionais e quedas [25]. No Distrito Federal, Melo et al. [26]
investigando o nível de atividade física em instituições que
cuidam de idosos, observou que nenhuma das instituições
estudadas oferecia qualquer programa de atividade física
orientada. Mais uma vez no Brasil, em um estudo feito na
região sul do país, Benedetti & Petroski [25] constataram que
as instituições asilares, devido ao declínio do organismo e a
uma maior fragilidade dos indivíduos, têm dado preferência
às atividades que requeiram menor esforço físico. A autora
observou a ocorrência de um fenômeno interessante que, segundo a mesma, termina convertendo-se em um ciclo vicioso:
à medida que há o incremento da idade, o indivíduo tende
a tornar-se menos ativo, por conseguinte suas capacidades
físicas diminuem, começa a aparecer o sentimento de velhice,
que pode por sua vez causar estresse, depressão e levar a uma
redução da atividade física e, conseqüentemente, à aparição
de doenças crônico-degenerativas, que por si só, contribuem
para o envelhecimento.
Os resultados da presente pesquisa demonstram que,
em todas as atividades motoras realizadas, as mulheres apresentaram desempenho médio inferior (tempo maior para a
realização da tarefa) ao dos homens. No teste de caminhada
de 10 metros, as mulheres apresentaram o resultado inferior
(p = 0,000). Esperava-se este resultado, pois segundo [28],
quando se comparam idosos de mesma idade e características,
os do sexo feminino, tendem a apresentar menor desempenho
funcional em tarefas que exijam esforços físicos moderados
ou vigorosos, quando comparadas com homens.
Quando comparados com os resultados de estudos
semelhantes [29,6,30], realizados com idosos não institucionalizados, de mesmas características e faixa etária, as
mulheres e homens que compuseram esta pesquisa apresentaram uma velocidade de caminhada menor. Entretanto,
quando comparados com outros estudos [31], as mulheres
continuam apresentando menores resultados, enquanto os
homens apresentam resultados semelhantes. Estes resultados
são compatíveis com os apresentados por outros estudos,
como, por exemplo, o de [28], no qual os autores, além de
confirmarem estes achados, complementam observando que,
dentre os idosos, as mulheres tendem a apresentar maior
fragilidade e necessidade de assistência na realização das atividades motoras do cotidiano. No Teste TUGT é interessante
notar que, quando comparados com os resultados do estudo
de Podsiadlo & Richardson [23], realizados com sujeitos de
média de idade superior (79,5 anos), a presente amostra,
embora apresentando média de idade inferior, apresentou
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um tempo médio para a realização dessa tarefa muito maior.
Segundo as autoras do teste, este fato pode evidenciar que,
em termos funcionais, os sujeitos asilados, mesmo quando
comparados, com idosos mais velhos, apresentam maiores
déficits funcionais. Os resultados encontrados nas tarefas
de avaliação da habilidade manual (teste da lâmpada e da
chave) foram menores que os observados em outros estudos
(Barbosa, dados não publicados), realizado com uma amostra composta por idosas não institucionalizadas, com média
de idade de 67,9 anos. Isso demonstra a maior fragilidade
existente entre as idosas asiladas, quando comparadas a não
institucionalizadas.
É importante relatar que, de acordo com os questionários
utilizados para acessar e avaliar a independência funcional
nas AMBDD e AMIDD, nenhuma das mulheres poderia
ter sido considerada plenamente independente, enquanto
dentre os homens, quatro deles (21%) foram classificados
como plenamente independentes e três (25%) demonstraram
déficit cognitivo.
Conclusão
Respeitando-se as possíveis limitações metodológicas, os
resultados obtidos no presente estudo, demonstraram que os
idosos que vivem em instituições asilares na cidade de Maceió apresentaram baixa autonomia nas tarefas selecionadas,
principalmente quando comparados com indivíduos não
institucionalizados. Esses resultados levam a crer que existe
a necessidade de políticas específicas e dos responsáveis por
essas instituições aplicarem intervenções que venham a melhorar, ou em alguns casos manter, o nível de aptidão física
fornecendo para essas pessoas uma vida mais independente
e melhorando assim a qualidade de vida desses sujeitos, visando desacelerar os efeitos do envelhecimento que, segundo
Matsudo [30], ocorre por imobilidade e má adaptação e não
por doença crônica.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
13
Artigo original
Efeito agudo dos alongamentos estático e FNP sobre
o desempenho da força dinâmica máxima
Acute effect of static and PNF stretching
on maximal dynamic strength performance
Thiago Matassoli Gomes*, Ercole da Cruz Rubini**, Homero da SN Junior**, Jefferson da Silva Novaes***, Alexandre Trindade***
*Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana - PROCIMH / UCB-RJ, Laboratório de Biociências da Motricidade Humana - LABIMH, Universidade Estácio de Sá - RJ, **Universidade Estácio de Sá - RJ, *** Programa de
Pós-graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana - PROCIMH / UCB-RJ, Laboratório de Biociências da Motricidade Humana - LABIMH, UFRJ / EEFD
Resumo
Abstract
O objetivo deste estudo foi verificar o efeito agudo dos alongamentos estático passivo e facilitação neuromuscular proprioceptiva
sobre o desempenho da força dinâmica máxima. O estudo foi
realizado com 21 voluntários do sexo masculino (24,1 ± 1,7 anos)
treinados em força há pelo menos dois anos. Para auferição da
força dinâmica máxima foi utilizado o protocolo de teste e re-teste
de uma repetição máxima (1RM) no supino horizontal. Todos os
sujeitos participaram de todas as situações experimentais, sendo: a)
alongamento estático + 1RM (EP); b) alongamento FNP + 1RM
(FNP); c) teste de 1RM sem alongamento (GC). A ordem de participação nos protocolos experimentais foi determinada de forma
aleatória. O resultado da ANOVA com medidas repetidas mostrou
diferenças significativas com relação à situação controle, tanto na
situação EP (p = 0,00) quanto na situação FNP (p = 0,00). Onde
a média nas condições experimentais EP (95 ± 12,3 kg) e FNP (92
± 11,2 kg) foi significativamente menor do que GC (99,2 ± 11,4
kg). Conclui-se que uma sessão de alongamento estático ou FNP
executada imediatamente antes do treinamento de força provocou
uma diminuição do desempenho.
The purpose of this study was to verify the acute effect of static
and proprioceptive neuromuscular facilitation stretching on maximal dynamic strength performance. The study was comprised by
twenty-one trained male (24.1 ± 1.7 years). To measure the maximal
dynamic strength it was used the one maximal repetition test (1RM)
and retest protocols in a horizontal chest press. All subjects were randomly assigned to static stretching (EP), PNF stretching (FNP) and
nonstretching (GC) protocols before strength testing. The ANOVA
with repeated measures revealed significantly decreases (p < 0.05) in
maximal dynamic strength. Static and proprioceptive neuromuscular
stretching reduced the maximal strength (p = 0.00) when compared
with nonstretching group. The mean in experimental conditions EP
(95 ± 12.3 kg) and FNP (92 ± 11.2 kg) was significantly smaller
than GC (99.2 ± 11.4 kg). These results indicated that both static
and proprioceptive neuromuscular facilitation stretching impairs
maximal dynamic force production.
Key-words: flexibility, 1RM test, performance, concurrently training.
Palavras-chave: flexibilidade, teste de 1 RM, rendimento,
treinamento concorrente.
Recebido 15 de julho de 2005; aceito em 10 de outubro de 2005.
Endereço para correspondência: Thiago Matassoli Gomes, Rua Delfina Enes, 365, Penha, 21011-400 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21)
8807-9459, E-mail: [email protected]
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Introdução
O ACSM [1] coloca a força e a flexibilidade, juntamente
com a potência aeróbia e a composição corporal como os
quatro componentes mais importantes da aptidão física,
devendo estes estar embutidos em qualquer programa de
atividade física relacionado à saúde.
Exercícios de alongamento são tradicionalmente utilizados
como parte integrante do aquecimento para a atividade principal, sob a alegação de promover melhoras no desempenho,
diminuir o risco de lesões e diminuir o aparecimento de dores
musculares tardias. Porém, parece não existir sustentação
científica para tais afirmações [2-8].
Trabalhos recentes mostram uma diminuição no desempenho da força isométrica e isotônica [9-15], nos saltos
verticais [16-19] e na força isocinética [20-22] quando estas
são precedidas por exercícios de alongamento. Na literatura,
a maioria dos trabalhos se apresenta verificando os efeitos da
flexibilidade sobre a força em membros inferiores [9-14,1619]. Entretanto, dos estudos relacionados acima apenas dois
trabalhos [15,21] reportam o comportamento da força nos
membros superiores. Demonstrando uma lacuna a ser preenchida, que é saber se os resultados encontrados em membros
inferiores podem ser reproduzidos nos membros superiores.
Portanto, o objetivo deste estudo foi verificar o efeito
agudo dos métodos de alongamento estático passivo (EP)
e facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) sobre o
desempenho da força dinâmica máxima de membros superiores.
Materiais e métodos
Amostra
divididos aleatoriamente nas seguintes situações experimentais: a) alongamento estático + 1RM (EP); b) alongamento
FNP + 1RM (FNP); c) teste de 1RM sem alongamento prévio
(GC). Todos foram instruídos a não realizar qualquer tipo de
treinamento de força e de flexibilidade para o grupamento
muscular envolvido no teste 48 horas antes do início dos
mesmos.
Determinação de 1RM
Para a avaliação da força dinâmica máxima foi realizado
o exercício supino horizontal em um pórtico da Technogym®
(Itália), no qual o avaliado deitava-se no banco em posição
supina, posicionando a barra na linha do ponto meso-esternal. A distância das mãos deveria corresponder à posição em
que o úmero ficasse horizontal em relação ao solo e o ângulo
formado entre o braço e o antebraço fosse de 900 no final da
fase excêntrica do movimento, angulação que foi auferida por
um goniômetro. O exercício supino horizontal foi realizado
da seguinte maneira: a) Posição inicial – fase excêntrica do
movimento, sua execução era iniciada com os cotovelos em
extensão; b) Posição intermediária – fase concêntrica do
movimento, com os cotovelos formando um ângulo de 900
de flexão com o úmero em paralelo ao solo (limitador de
amplitude), retornando então a posição inicial.
O protocolo do teste seguiu as instruções do ACSM [23],
podendo ser realizadas até três tentativas, sendo o peso ajustado sempre antes de cada tentativa. O tempo de recuperação
entre as tentativas foi padronizado em cinco minutos. Quando
o avaliado não conseguia mais realizar o movimento de forma
correta, o teste era interrompido, sendo registrado como peso
máximo, aquele obtido na última execução completa.
Protocolo de alongamento
Participaram do estudo 21 voluntários do sexo masculino
(24,1 ± 1,7 anos; 172 ± 2,8 cm; 76,4 ± 3,6 kg) com experiência de, no mínimo, dois anos em treinamento de força.
Foi adotado como critério de exclusão a presença de qualquer
lesão osteomioarticular ou cirurgia nas articulações envolvidas
no estudo e o uso de suplementos e esteróides anabólicos ou
quaisquer outras drogas que pudessem interferir nos resultados
dos testes. Todos assinaram termo de consentimento livre e
esclarecido conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde para experimentos com humanos.
Para o tratamento com o método estático passivo, utilizouse três séries com 30 segundos de manutenção na posição,
no qual o movimento era levado até uma posição de ligeiro
desconforto. Para o método FNP foi realizado seis segundos de
contração seguido de 30 segundos de manutenção na posição,
também com três séries. Entre as séries de alongamento foi
realizado um intervalo de 30 segundos (Figura 1).
Figura 1 - Posição de alongamento.
Desenho experimental
Todos os sujeitos realizaram cinco visitas não consecutivas
com intervalo de 48 horas entre as mesmas. Todos fizeram os
testes no mesmo período do dia durante todo o procedimento
experimental. Nas duas primeiras visitas foram realizadas as
mensurações da composição corporal (estatura e massa corporal), aplicado o questionário PAR-Q e o teste e o re-teste
de 1RM. Da terceira a quinta visitas os voluntários foram
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Análise de dados
Todos os resultados estão apresentados em média ± desvio
padrão. Para determinar os efeitos dos dois tratamentos sobre
a variável dependente (1RM), foi realizada uma ANOVA para
medidas repetidas com três entradas (GC X EP X FNP). Para
determinar as diferenças específicas foi realizado o teste post
hoc de Bonferoni. As análises estatísticas foram realizadas a
partir do pacote de programas estatísticos SPSS 14.0 (SPSS
Inc., EUA). Para todas as análises foi adotado um nível crítico
de significância de p < 0,05.
Resultados
A ANOVA para medidas repetidas mostrou reduções
significativas (p = 0,00) na força tanto na situação EP quanto FNP em relação ao grupo controle, no qual a média nas
condições experimentais EP (95 ± 12,3 kg) e FNP (92 ± 11,2
kg) foi significativamente menor que a média obtida no grupo
controle (99,2 ± 11,4 kg) (Gráfico 1).
Gráfico 1
Discussão
Os resultados do presente estudo estão em concordância
com outros que também verificaram diferença estatisticamente
significativa entre os valores do desempenho da força quando
precedida por exercícios de alongamento [9-22]. Apesar de
na maioria desses estudos terem sido realizados mais de um
tipo de exercício de alongamento e o número de séries, bem
como o tempo de manutenção na posição de alongamento,
nem sempre obedecerem o recomendado [1].
Fowles et al. [10] e Behm et al. [11] utilizaram 135 e 45
segundos de manutenção na posição de alongamento respectivamente. A variação no número de séries também foi muito
grande, enquanto Tricoli e Paulo [14] utilizaram três séries,
Fowles et al. [10] utilizaram apenas uma e Behm et al. [11]
utilizaram cinco séries.
Alguns trabalhos [17-19] não demonstraram diminuição
no desempenho dos saltos verticais quando estes foram precedidos por exercícios de alongamento. Porém, novamente os
protocolos de alongamento não respeitavam o recomendado
[1], sendo utilizado apenas quinze segundos de manutenção
na posição de alongamento.
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Todos os fatores supracitados (número de exercícios, tempo e número de séries diferentes) por muitas vezes geram um
tempo total de estímulo que excedem o que normalmente é
feito na prática e acabam por diminuir a aplicabilidade dos
estudos. Porém, apesar de no presente trabalho o volume
total de estímulo ter sido menor e estar sendo obedecido o
recomendado [1], também foi verificada a diminuição no
desempenho da força quando a mesma foi precedida por
exercício de alongamento.
Marek et al. [22] verificaram diminuições no pico de
torque máximo (2,8%) e na potência muscular (3,2%) em
velocidade lenta (600.s-1) e rápida (3000.s-1) para o músculo
vasto lateral. Assim como no presente estudo, a magnitude
no déficit da força em decorrência dos métodos de alongamento foi a mesma, tanto para o método estático quanto
para o FNP.
Possíveis explicações são utilizadas para justificar a diminuição do desempenho da força quando precedida por
exercícios de alongamento. Fowles et al. [10] verificaram uma
diminuição de 28% na ativação das unidades motoras e na
atividade eletromiográfica. Além disso, observaram que este
efeito perdurou por até 60 minutos. Esta diminuição pode
ser explicada pela inibição gerada pelos órgãos tendinosos de
golgi, que contribui para uma diminuição da excitabilidade
dos motoneurônios alfa.
Avela et al. [24] mostraram uma redução de 23,2% na
contração voluntária máxima da musculatura do tríceps sural.
Tal diminuição possivelmente ocorreu por uma redução na
sensitividade dos fusos musculares, reduzindo a atividade das
fibras aferentes de grande calibre. Uma inibição dos motoneurônios alfa gerada pelos receptores articulares tipo III e
tipo IV, também pode justificar a diminuição no desempenho
da força [25].
Alterações nas propriedades viscoelásticas da unidade músculo-tendinosa reduzem a tensão passiva e a rigidez [26,27].
Como uma das funções do tendão é transferir a força produzida
pela musculatura esquelética para os ossos e articulações, uma
unidade músculo-tendinosa menos rígida transmitirá de forma
menos eficiente as alterações de tensão na musculatura. Tais
alterações viscoelásticas podem colocar o componente contrátil
em uma posição menos favorável em termos de produção de
força nas curvas de força-comprimento e força-velocidade, que
acarreta conseqüentemente em uma insuficiente transmissão de
força do músculo para o sistema esquelético[26,27].
É importante enfatizar que a posição de alongamento
utilizada, apesar de ser bastante comum nas academias e
clubes de ginástica provavelmente interferiu na resposta da
produção de força. Com os cotovelos estendidos não se isola
o alongamento para a musculatura do peitoral. No entanto,
mesmo com essa limitação foi observada uma diminuição no
desempenho da força. A hipótese é que com o exercício de
alongamento sendo conduzido com os cotovelos flexionados
(isolando assim o grupamento muscular alongado), a diminuição no desempenho da força poderá ser ainda maior.
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Conclusões
Os resultados demonstraram uma diminuição da força
dinâmica máxima quando esta foi precedida por exercício de
alongamento. Tanto para o método estático passivo quanto
para o método de facilitação neuromuscular proprioceptiva.
Esses resultados somam-se aos dados já existentes na literatura,
mostrando haver uma diminuição no desempenho da força
independentemente do segmento corporal envolvido e do
número de exercícios realizados.
Atletas e técnicos devem considerar os dados do presente
estudo antes de acrescentar em suas rotinas de aquecimento
exercícios de alongamento. Ainda mais, nas atividades físicodesportivas que dependerem diretamente do desempenho
da força.
Futuros estudos devem procurar investigar os possíveis
mecanismos relacionados à diminuição do desempenho da
força. Faz-se necessária a elaboração de outros estudos que
envolvam diferentes variáveis, entre elas: o número de séries,
o tempo de sustentação da posição de alongamento e populações com diferentes idades. Sugere-se, ainda, que se observe
os efeitos crônicos sobre as variáveis apresentadas.
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Artigo original
Predição do volume de exercícios com pesos para
promoção da exaustão em três grupos musculares de
atletas mediante variações de componentes sanguíneos
Prediction of exercise volume with weight to promote exhaustion in three
major muscular-groups of athletes through variation of blood markers
Carlos Alexandre Fett*, Fábio Lera Orsatti**, Roberto Carlos Burini***
*Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, **Professor de Educação Física, Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMeNutri) – Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina Botucatu/SP-UNESP,
Mestrando em Ginecologia, Setor de Climatério e Menopausa – Faculdade de Medicina (UNESP), Botucatu (SP), ***Professor
Titular, Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição – CeMENutri – Depto de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da
Unesp – Botucatu (SP)
Resumo
Abstract
Com o objetivo de avaliar o impacto do teste de exaustão (TE),
com exercícios resistidos em três grupamentos musculares distintos,
sobre a magnitude das alterações sangüíneas de atletas, foram estudados 12 indivíduos (23 ± 4 anos) do sexo masculino (79 ± 10kg),
atletas de musculação e voluntários ao estudo. Após 4 semanas de
treinamento e dieta ajustada para 1,5g/kg/dia e 30 kcal/g prot., foi
aplicado o TE que iniciava com 80% de 1 RM e redução de 20% até a
fadiga (não execução da repetição). O TE foi realizado para: 1) supino
reto; 2) agachamento na máquina Hack®; 3) remada baixa no pulley,
sem descanso entre os exercícios. Foram realizadas coletas de sangue,
antes e após a realização dos três TE, para dosagens hemogasimétricas
e bioquímicas. Após o TE, aumentaram as atividades das enzimas
(U/L) creatino-quinase (CK), creatino-quinase isoenzima cardíaca
(CK-MB), lactato desidrogenase (LDH), alanina aminotransferase
(ALT), aspartato aminotransferase (AST) e os valores de glicose, Ca+,
Na+ , PO2, hematócrito, osmolalidade. Por outro lado, houve redução
significativa do pH, HCO3 e pCO2 e variação não significativa do
ácido úrico. Não houve correlação do teste de RM com o somatório
das repetições no TE. Os indicadores isolados mais sensíveis ao volume de exercícios foram a PCO2 e a AST que predizem até 50% e
40% das repetições, respectivamente. A associação da PCO2, pressão
parcial de oxigênio (PO2), hematócrito (Ht), creatina quinase porção cérebro-músculo (CK-MB) e bicarbonato (HCO3), têm o nível
preditivo máximo de aproximadamente 92%. O teste exaustivo dos
3 grupamentos musculares leva a alterações sanguíneas indicativas de
estresse metabólico em que variações de pO2, pCO2, HCO3-, Ht, e
CKMB predizem 92% do esforço dispendido no TE.
The responses of blood markers of fatigue -stress to exhaustive
strength training were investigated in three different groups of
muscles of 12 males (23 + 4 yrs) volunteers, body builders. After 4
weeks of training (5d/wk, 3x6-12 rep. 70-85% of RM, 30-60 seg
rest among series) and dietary intake adjusted to 1.5g prot/kg/d
and 30kcal/g prot they were submitted to the exhaustion test (ET)
beginning with 80% of 1RM downgrading 20% up to fatigue. The
ET was conducted for muscular groups through 1) bench press, 2)
squad and 3) seated row, without resting between exercises. Blood
samples were drawn immediately before and after the ET and
processed for hemogasimetric and biochemistry assays. The ET
resulted in increased activities of enzymes (CK, CK-MB, LDH, AST
and ALT), levels of osmolality (Osm), Na+, Ca++, Ht, glucose and
pO2. The ET reduced the values of pH, HCO3 and pCO2, without
affecting the concentration of uric acid. There was no relationship
between the loading for 1RM (kg) and the number of repetitions
to reach the ET. Blood pCO2 and plasma AST showed (negative)
significant relationship with exercise volume for ET predicting
50% and 40% of the achieved exercise repetitions, respectively. By
associating both with pO2, CK-MB and HCO3 the predictive value
increased to 92%. Thus the responses of blood markers predict up
to 92% of the volume of exhaustive strength exercise in the three
major groups of user muscles during ET in athletes.
Key-words: biochemistry markers, exhaustion test, musculargroups.
Palavras-chave: marcadores bioquímicos, teste de exaustão,
grupos musculares.
Recebido em 12 de abril de 2005, aceito em 15 de março de 2005.
Endereço para correspondência: Roberto Carlos Burini, Rua Distrito de Rubião Júnior, s/n-UNESP/FM/BOTUCATU, 18618-970
Botucatu SP, Tel: (014) 3811-6128, E-mail: [email protected]
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Introdução
Os grandes grupamentos musculares estão envolvidos, em
geral, nos esportes de alta intensidade, causando exaustão e estresse, com repercussões sistêmicas. Entretanto, grande parte dos
estudos relativos à fadiga muscular utiliza contrações isométricas
de pequenos grupamentos musculares, bem definidos. Além
disso, para deflagração da fadiga são usados estímulos elétricos,
sem artefatos externos, ou envolvimento de movimento articular.
Assim, as cinéticas inerentes ao trabalho muscular são relacionadas mais aos fatores limitantes periféricos que aos fatores centrais
ou sistêmicos. Portanto, muito menor atenção tem sido dada ao
estabelecimento da fadiga em grandes grupamentos musculares
no exercício dinâmico e sua influência sistêmica [1].
Atividades intensas, especialmente as excêntricas estão associadas à lesão muscular [2] e a lesão associa-se a exaustão do músculo,
prejudicando a função contrátil pela resposta inflamatória.
Por outro lado, o treinamento físico leva a adaptações individualmente em cada sistema (cardiorespiratório, muscular
e neural), promovendo coordenação entre os sistemas para
minimizar a quebra da homeostase em resposta ao exercício.
Assim, o treinamento tem relevância direta para o tipo de
observação na resposta especifica ou não especifica ao estresse
submetido [3]. Para tanto, é necessário que o teste físico de
sobrecarga seja adequado quanto às alterações metabólicas
envolvidas que se deseja observar.
A capacidade de sustentar ações musculares repetidas é
chamada de resistência (endurance) muscular. A endurance
muscular aumenta com a força, modificações metabólicas locais e função circulatória. Estas alterações melhoram o desempenho muscular em atividades específicas contra resistência,
tanto no aumento da força quanto da resistência muscular.
Uma força simples de estimar a endurance muscular é verificar
quantas repetições se consegue desempenhar em um dado
percentual do teste de uma repetição máxima (1RM) [4].
Portanto, nosso objetivo foi desenvolver um teste de exercícios resistidos exaustivos, que fosse representativo da maior
parte do volume muscular total, a fim de observar as alterações
sistêmicas induzidas representadas por indicadores sanguíneos
após indução pelo teste de exaustão muscular.
Material e métodos
Foram estudados doze indivíduos (23 ± 4 anos), praticantes
de exercícios resistidos. Os critérios de exclusão eram fumo, etilismo, usuários de esteróides anabólicos ou similares e histórico de
doenças metabólicas. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Faculdade de Medicina da UNESP de Botucatu
e todos assinaram declaração de consentimento esclarecido.
Protocolo dietético
Após investigação dos hábitos alimentares, obtidos
por meio do registro alimentar de 3 dias e calculando-se a
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composição centesimal dos nutrientes, a partir do softwere
de nutrição (NutWin, UNIFESP, 2003, a dieta habitual foi
ajustada para a oferta de 1,5g de proteína/kg de peso/dia com
30 kcal não protéicas por grama de proteína.
Protocolo de exercício
O treinamento foi de 5 dias semanais, sendo 3 dias de treino
contínuo, um de descanso e mais 2 dias, carga entre 70-85%
do RM, tempo de recuperação entre 30s e 1min, baseado em
combinações de metodologia para hipertrofia. As sessões envolviam os grupamentos musculares: 1) – peito, ombro, tríceps
e abdome; 2) – costa, bíceps, antebraço; 3) – coxas, glúteos,
lombar e panturrilha; 4) – os mesmos grupamentos da sessão
1 e 2; 5) – os mesmos grupamentos da sessão 3 [5].
Após um mês de treinamento, foi aplicado o teste de exaustão (TE). O teste consistiu de aplicação de carga descendentes
a iniciar-se com 80% de 1 repetição máxima (RM) executando-se o maior número de repetições possível até a fadiga
muscular (não execução da repetição); a carga sofria redução
de 20% (80/60/40 e 20 do RM) através de auxílio externo
sem interrupção do exercício e a continuidade deste processo repetia-se até permanecer apenas 20% de carga máxima,
que era a força alvo (FA) e a exaustão instalar-se. Exercícios
selecionados: 1) – supino reto (peito, ombro e tríceps); 2) agachamento na máquina hack® (quadríceps, isquiopoplíteo e
glúteo); 3) – remada baixa no pulley (costas, ombro e bíceps).
Não foi permitido descanso entre os exercícios.
A coleta de sangue venoso foi realizada antes e logo após
o TE, mediante punção da veia cubital com agulha e seringa
descartáveis. Após a separação do soro ou plasma, esse material foi utilizado para a realização das analises de hematócrito
(técnica de microhematócrito) e eletrólitos: sódio, potássio e
cálcio, osmolaridade, hemogasimetria para pH, bicarbonato
(HCO3-), pressão parcial de oxigênio (PO2) e pressão paracia de dióxido de carbono (PCO2), glicose (método glicose
oxidase), ácido úrico (AU), enzimas: creatina- quinase (CK),
isoenzima cardíaca creatina – quinase (CK_MB), lactato desidrogenase (LDH), alanina aminotransferase (ALT), aspartato
aminotransferase (AST), Os kits foram comercializados pela
Diagnostic Products Corporation (DPC), Los Angeles, CA.
Analise estatística
Os resultados foram expressos como média + desvio
padrão, com intervalos de confiança (95%) e 5 % de significância para contraste entre as médias. Foi feito o teste de
Kolmogorov e Smirnov para observar se as amostras tinham
distribuição normal. Para a comparação entre os momentos
antes e depois do TE, foi utilizado teste de Wilcoxon para
amostras pareadas quando não havia distribuição normal, e
o teste t pareado para quando havia distribuição normal.
Foram utilizados procedimentos de regressão múltipla
“Stepwise”. O coeficiente de explicação (R2), indica quan-
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to as variáveis de forma associativa conseguem explicar
os resultados do desempenho físico (repetições e carga).
Foi utilizado intervalo de confiança em nível de 5% de
significância.
Tabela II - Parâmetros de regressão múltipla entre atividades da
enzima aspartato amino transferase (AST) e os demais indicadores
laboratoriais com número de repetições ocorrida no protocolo de
exaustão.
Variáveis
Resultados
Coeficiente B
Correlação R2
-12,094
-2,392
0,352
-0,769
-0,616
0,451
preditoras
Somente as concentrações séricas de AU, a PCO2, não apresentaram modificações significantes após o TE (Tabela I).
Tabela I - Resultado das alterações sanguíneas induzidas pelos testes
de exaustão.
Variável/n/unidade
CKψ (10) (U/L)
CK-MBψ (10) (U/L)
LDHψ (11) (U/L)
TGPψ (11) (U/L)
TGOψ (11) (U/L)
AU♠ (12) (mg/dL)
Gli♠ (12) (mg/dL)
PO2♠ (12) (mmHg)
PCO2♠ (12) (mmHg)
HCO3♠ (12) (mmol/L)
pH♠ (12)
Ht♠ (12) (%)
Ca+♠ (12) (mg/dL)
Na+♠ (12) (mmol/L)
O2♠ (12) (mOsm)
19
Teste de exaustão
Antes
Depois
124.0 ± 32.5
164.5 ± 30.3***
5.8 ± 3.5
7.1 ± 2.2*
173.0 ± 25.5
214.4 ± 37.9**
22.5 ± 6.8
25.8 ± 6.3*
20.9 ± 7.4
25.8 ± 7.6***
5.0 ± 0.8
5.2 ± 1.2
76.5 ± 25.4
99.6 ± 13.0**
27.0 ± 5.7
57.6 ± 10.5***
47.7 ± 6.7
45.4 ± 15.0
26.3 ± 1.9
11.7 ± 1.7***
7.3 ± 0.04
7.0 ± 0.1***
43.2 ± 6.3
51.3 ± 3.7***
3.8 ± 0.6
4.7 ± 0.4*
142.3 ± 6.2
148.1 ± 4.8**
278.3 ± 11.7
291.0 ± 8.3***
Os valores são média±desvio padrão.
CK, creatina quinase; CK-MB, creation quinase porção muscular e
AST (U/L)
CK-MB (U/L)
HCO3(mmol/L)
Constante
Coeficiente B
parcial
0,40 -1,10*
0,54 -0,59
0,63 0,44
213,766
Estatística: regressão linear de stepwise; F=2,8761; SEE, erro padrão =
14,9 repetições
*p<0,05
AST, aspartato aminotransferase; CK_MB, creatina quinase fração miocárdica, HCO3-, bicarbonato.
Tabela III - Parâmetros de regressão múltipla entre pCO2 e os demais indicadores laboratoriais com número de repetições ocorrida
no protocolo de exaustão.
Variáveis
Coeficiente B Correla-
preditoras
pCO2
(mmHg)
pO2 (mmHg)
Ht (%)
CK-MB (U/L)
HCO3(mmol/L)
Constante
ção parcial
R2
Coeficiente B
-1,825
-0,955
0,514 -1,08*
-0,959
1,811
-1,821
2,899
-0,809
0,819
-0,743
0,519
0,767
0,831
0,897
0,925
-0,43
0,53
-0,45
0,20
213,766
cerebral; TGP, transaminase glutamato piruvato; TGO, transaminase
Estatística: regressão linear de stepwise; F = 7,4079; SEE, erro padrão
glutamato-oxalacetato; AU, ácido úrico; Gli, glicemia de jejum; PO2,
= 8,7 repetições. *p < 0,05.
pressão parcial de oxigênio; PCO2, pressão parcial de dióxido de
pCO2, pressão parcial de dióxido de carbono; pO2, pressão parcial de
carbono; HCO3, bicarbonato; pH, concentração de H+ em -log10; Ht,
oxigênio; Ht, hematócrito; CK_MB, creatina quinase fração miocárdica,
hematócrito; Ca+, cálcio iônico; Na+, sódio; Os, osmolalidade.
HCO3; bicarbonato.
*P<0.05, **P<0.005, ***P<0.0005; ψWilcoxon matched-pairs
signed-ranks test; ♠Paired t test; n = número de sujeitos.
Não houve correlação linear entre as somas das cargas
máximas dos exercícios no teste de 1RM e a soma de número
máximo de repetições realizadas no TE (r = 0,219, r2 = 0,048,
p = 0,495).
O indicador isolado com a melhor predição do desempenho de carga no TE foi o pCO2 (51,4%) seguido da AST
(40%). Quando associada à AST, CK-MB e HCO3 o efeito
preditivo foi elevado para 63% (tabela II). Quando o pCO2
foi associado a outras variáveis (pO2, Ht, HCO3- e CK-MB),
o valor de predição foi de 92,5% (tabela 3).
No geral, considerando-se as limitações do erro padrão
para as repetições, tem-se apenas as variações de AST (Tabela II) e pCO2 (Tabela III) refletiram significantemente as
diferenças das repetições no TE.
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Discussão
O TE mostrou causar estresse sistêmico, alterando significativamente as concentrações sangüíneas de variáveis
enzimáticas, eletrolíticas e áciodo base. O grande volume
muscular envolvido e as cargas descendentes, a cada etapa de
esforço e continuidade do exercício até a completa exaustão
muscular, recrutaram os diferentes tipos de fibra muscular
e conseqüentes vias metabólicas consistindo novos ajustes
metabólicos para a homeostase sistêmica.
Os três exercícios do TE foram escolhidos por serem representativos da grande maioria dos grupamentos musculares
e, além dos grupamentos envolvidos diretamente nos exercícios havia ainda contribuição indireta dos grupamentos do
antebraço e panturrilha, que se contraiam isometricamente
como sustentadores, o abdome e a coluna lombar, como
estabilizadores dos exercícios. Além disso, os grupamentos
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solicitados diretamente no exercício foram os que mais alterações metabólicas causaram em avaliação do impacto sobre
o estresse sistêmico [6].
A fadiga e a exaustão em exercício prolongado têm fundamentação fisiológica mais bem estabelecida do que o exercício
de curta duração e alta intensidade. Naquele tipo de atividade,
atribui-se a incapacidade local do músculo de contrair-se
(fadiga periférica), principalmente à redução do volume
plasmático e fluxo sangüíneo [7] , depleção acelerada das
taxas de glicogênio muscular e acúmulo de lactato muscular
[8], diminuição do potencial de repouso da membrana, pela
perda de potássio [9] falência da bomba de cálcio do retículo
sarcoplasmático, aumento da concentração de ADP livre, e
falência da transmissão neuromuscular [10].
Várias destas alterações também foram observadas no TE.
O Ht e O2 aumentaram significativamente, sendo relacionados
à fadiga muscular pelo aumento da viscosidade sanguínea e
conseqüente redução no transporte de O2, remoção do CO2
e outros metabólitos[11]. O Ca+ e Na+ plasmático também
aumentaram significativamente após o TE. O deslocamento
destes eletrólitos do citoplasma celular para o sangue, pode
reduzir a capacidade de contração muscular, devido a falta de
Ca+ para ligar a cabeça da miosina a troponina e do Na+ em
relação a despolarização da membrana pela bomba de sódio e
potássio [12]. A quantidade de Ca+ liberado pelo retículo sarcoplasmático para ativar a contração muscular é reduzida nas
fibras musculares fatigadas [13]. Estas alterações também devem
ter contribuído para a exaustão se instalar nestes sujeitos.
Estudos têm indicado que é necessária a avaliação intracelular do Ca+, para demonstrar alterações relativas ao
metabolismo, com talvez pequena alteração extracelular.
Todavia, observamos aumento significante do Ca+ plasmático
neste estudo, sugerindo que, neste tipo de teste, ele pode ser
indicador de exaustão [14].
Era esperado o aumento da concentração plasmática do
ácido úrico após o TE, o que não se observou. Atividades intensas estimulam o ciclo da purina nucleotídio. Todavia, o IMP
pode ser defosforilado em adenosina, sendo então degradada a
inosina e hipoxantina e como o músculo não possui enzimas
para converter a hipoxantina em insosina, conseqüentemente
a hipoxantina é transportada para o fígado, onde é convertida
em ácido úrico e excretada pelos rins [13]. Foi sugerido que há
perda de adenina nucleotídio, durante a contração muscular
intensa, numa tentativa de permitir que as reações de adenilato
quinase continuem e, dessa forma, mantenham a carga de trabalho elevada. Foi demonstrado que essa perda está coordenada
com os aumentos estequiométricos das concentrações de IMP e
amônia [13]. O produto final da via de desfosforilação do AMP
é o ácido úrico, que se manteve com níveis inalterados. Estes
resultados sugerem que esta via não foi importante no TE, ou,
não houve tempo suficiente para o ciclo se completar.
A glicemia aumentou significativamente após o TE,
provavelmente pela descarga simpática, desencadeando a
glicogenólise e neogligogênese hepática [15].
Fisiologia_v4n1.indb 20
As atividades intensas, exaustivas, estão associadas à lesão
muscular e com isso a liberação dos constituintes intracelulares como as enzimas. Várias enzimas estão aumentadas no
sangue após atividade muscular exaustiva, podendo servir
como marcadores da exaustão [16].
As enzimas observadas neste estudo aumentaram significativamente após o TE. Há significante correlação entre a CK,
CK-MB e TGO, mas não para TGP, à lesão muscular induzida
pelo exercício [16]. Neste estudo, todavia, a TGP também respondeu a lesão muscular. Foi relatado pelos atletas dor tardia
entre 24 e 48 horas após o TE, o que está associado a microlesão
do músculo [16]. A CK é catalisadora da reação reversível de
creatina + ATP, para creatina fosfato + ADP. Ela é altamente
concentrada no músculo esquelético e miocárdio, e em menor
proporção no cérebro, intestino e pulmões. Os estresses físicos
e psíquicos aumentam as concentrações plasmáticas da CK, e
é um importante indicador de lesão muscular [17].
Não obstante a elevação da concentração de CK-MB
indicar lesão no miocárdio [17], ela também está associada
a lesão no músculo esquelético [18]. A CK-MB encontra-se
mais elevada nas fibras de contração lenta do que nas rápidas,
não importando o nível ou o tipo de treinamento envolvido
[19]. Ela é uma isoenzima associada a contínua regeneração
muscular em indivíduos submetidos a injúria muscular
crônica. Biópsia muscular, realizada em atletas de endurance
altamente treinados, tem demonstrado que eles contêm uma
concentração mais elevada de CK-MB [20]. Já em nadadores
desempenhando atividade de longa duração, nem a CK ou a
CK-MB, apresentaram modificações após a atividade (70%
do VO2 máx x 24 min) em relação ao repouso [21]. A CK
parece responder mais ao tipo de estimulo de exercício de
força/anaeróbio [22], sendo que a CK-MB, encontra-se mais
relacionada as atividades de endurance [20]. O aumento observado da CK e CK-MB são sugestivos que o TE induziu a
lesão das fibras tipo I e tipo IIa,b. A maior significância para a
CK indica a intensidade máxima do TE e grande participação
do metabolismo anaeróbico. Corrobora com isso o aumento
da LDH no TE, justificado pela grande participação do metabolismo anaeróbio, onde na falta de O2 converte o piruvato
em lactato. A lesão muscular deixa extravasar esta enzima para
o sangue aumentando sua concentração. Além disso, a grande
formação de ácido lático ativa o ciclo de Cori, onde o lactato
oferecido para o fígado é convertido a ácido pirúvico e este a
glicose que retorna ao sangue [15].
Em geral, sujeitos mais bem condicionados têm menor aumento dessas enzimas comparado a indivíduos não acostumados
a determinada atividade física [16]. Estas enzimas podem ser
utilizadas como parâmetros para intensidade do TE e outros
testes desta natureza. Todavia, Koutedakis et al. [17] observaram
que remadores de nível olímpico, quando comparados com sujeitos destreinados, tinham a CK e TGO, mas não a TGP, mais
elevadas tanto no basal como 5 minutos após uma atividade
exaustiva voluntária. Na tentativa de evitar diferenças no nível de
condicionamento físico dos atletas de musculação, foi realizado,
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pré-TE, um mês de treinamento equalizador.
O TE pode ter causado hipóxia tecidual, uma vez que
as cargas iniciaram-se com o valor de 80% de 1 RM e foi
demonstrado que valores próximos a 50% da capacidade máxima de contração muscular isométrica causam oclusão total
dos vasos e que a microcirculação e a oferta de O2 começam
a ser comprometidas com valores em torno de 20% de 1RM,
que era a carga final do TE. Sabe-se, ainda, que o exercício
resistido é dependente em maior grau do metabolismo anaeróbico do que exercícios cíclicos. De fato, em cicloergômetro,
aproximadamente 9%, 12% e 100% da força voluntária
máxima são exercidas no pedal, relativo às intensidades de
60%, 80% e 100% do VO2 máx, respectivamente. Em contraste, para a extensão dinâmica do joelho, as porcentagens
de 10%, 16% e 27% da força muscular máxima do músculo
em repouso eram obtidas 66%, 78% e 100% do VO2 máx.
de pico relativo à uma perna, respectivamente [1]. Fica, pois,
aparente que o exercício contra resistência, já com percentuais
relativamente baixos do 1RM, depende em grande parte do
metabolismo anaeróbio. O TE oferece boa alternativa para
teste de capacidade muscular em exercício resistido, envolvendo metabolismo especifico a atividade, que não pode ser
mensurado (pelas alterações de marcadores bioquímicos) em
testes convencionais em esteira ou bicicleta.
O Ht foi o único indicador positivamente correlacionado
ao TE e ambas enzimas (CK e AST) tiveram importantes
contribuições na predição do número de repetições desempenhadas e foram negativamente correlacionados ao TE.
Uma possível explicação para correlação negativa ao TE é
que indivíduos mais bem condicionados têm menor aumento
dessas enzimas comparados a indivíduos não acostumados a
determinada atividade física [16].
O indicador isolado mais sensível à exaustão foi a PCO2.
Esta, quando associada à PO2, Ht, CK-MB e HCO3 aumentou o nível preditivo máximo para 92%. Ou seja, da média
de 151 repetições (somatória dos 3 exercícios) do teste, o erro
padrão é de apenas 8 repetições. Isto sugere que estas variáveis
podem ser utilizadas, individualmente, ou em conjunto, para
avaliarem a intensidade e o volume de exercícios de levantamento de peso máximo, ou próximo ao máximo.
Conclusão
Assim, pela característica de múltiplas cargas decrescentes
e grande massa muscular envolvida o TE mostra-se útil para
avaliar o desempenho do atleta de força e, também, para
sensibilizar indicadores sanguíneos do estresse sistêmico.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Artigo original
Utilização do teste de 1RM na prescrição de exercícios
resistidos: vantagem ou desvantagem?
Strength training prescription through 1RM test: the ins and outs
Alex Souto Maior*, Adriana Lemos**, Nélson Carvalho**, Jéferson Novaes***, Roberto Simão****
* Universidade Gama Filho – CEPAC, Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Bioengenharia da Universidade do Vale do
Paraíba (UNIVAP – SP), **Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB
– RJ),***Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB – RJ), Bolsista da
FUNADESP, Professor da UFRJ, **** Universidade Gama Filho – CEPAC, Universidade Católica de Petrópolis, LABSAU (UERJ)
Resumo
Abstract
Este estudo teve como objetivo verificar o número de repetições
máximas atingidas a partir de 80% de 1RM em homens treinados
nos exercícios resistidos. A amostra foi constituída por 11 homens
saudáveis com idade média de 22,3 (± 3 anos), peso corporal 79,4
(± 7,8 kg) e estatura 179,7 (± 4,9 cm), submetidos ao teste e re-teste
de 1RM nos exercícios de supino horizontal, puxada pela frente, leg
press inclinado e cadeira flexora sentada. Os valores obtidos foram
em média 10 (± 2), 11 (± 1), 20 (± 5) e 16 (± 4) repetições a 80%
de 1RM nos exercícios supracitados. Tais resultados do estudo indicam que não é apropriado prescrever um programa de treinamento
de força com base em percentual de 1RM, ou seja, a predição não
pode ser generalizada, sendo mais indicado predizer treinamentos
por testes submáximos.
The objective of this study was to verify a strength training
prescription trough 1RM test in active men, with familiarization in
resistance training. 11 healthy men with 22,3 (± 3 years), 79,4 (+
7,8 kg) and 179,7 (± 4,9 cm) did the bench press, leg press, leg curl
and lat pulldown in 1RM test. They performed the same exercises
with 80% of 1RM test until exhaustion. The values found were
above the literature preconized, and we obtained in medium10 (±
2), 20 (± 5), 11 (± 1) and 16 (± 4) maximum repetitions at 80% of
1RM on bench press, leg press extension, lat pull down and leg curl
respectively. These results of the studies show us that to prescribe the
strength training to get strength and hypertrophy utilizing the 1RM
test is not safe, being better to use sub maximum test to prescribe
the intensity in strength training.
Palavras-chave: re-teste de 1RM, treinamento de força, prescrição
de exercícios.
Key-words: 1RM re-test, strength training, exercise prescription.
Introdução
Os ER são utilizados como um meio efetivo de incremento
da força muscular e melhoria do estado funcional em todas
as faixas etárias. Isto justifica a necessidade da utilização de
exercícios com sobrecargas na prescrição do treinamento,
com objetivo de melhorar o desempenho físico associado ao
aumento da força e potência muscular [3,4]. No entanto,
exercícios com pesos se referem a uma modalidade de atividade física sistematizada composta de variáveis (volume,
intensidade, freqüência, duração, recuperação, ordem dos
exercícios, equipamentos e tipo de treinamento) que preci-
Muitos são os trabalhos que evidenciam a importância
dos exercícios resistidos (ER) na força muscular [1,2].
O treinamento de força tem demonstrado ser efetivo na
melhoria de várias capacidades neuromusculares [3], cardiovasculares e endócrinas [4]. O American College of Sports
Medicine [2] (ACSM) preconiza que os ER desenvolvem
respostas benéficas tanto para a estética, como para a saúde
e a reabilitação.
Recebido em 12 de abril de 2005; aceito em 15 de outubro de 2005.
Endereço para correspondência: Roberto Simão, Rua Tirol, 450/103, Jacarepaguá, 22750-000 Rio de Janeiro, E-mail:
[email protected].
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
sam ser bem controladas para que possam produzir efeitos
benéficos [2,4]. Estudos demonstram [2] que o total de carga
utilizada para um exercício específico é, provavelmente, a variável mais importante. Contudo, os testes que são utilizados
para a avaliação da força e para determinar a intensidade do
programa ainda são contraditórios [5].
O teste de uma repetição máxima (1RM) vem sendo
amplamente utilizado, seja como medida diagnóstica da força
muscular ou como parâmetro para a prescrição e monitoração
de um determinado exercício[6]. A intensidade de esforço
relatada na literatura objetivando ganhos de força e hipertrofia
é sempre superior a 60%, sendo geralmente, na maioria dos
trabalhos a 80% de 1RM [2,7].
À luz destas considerações, este estudo teve como objetivo
verificar o número de repetições máximas atingidas a partir
de 80% de 1RM em homens treinados nos ER.
Materiais e métodos
Participaram do estudo 11 homens voluntários saudáveis,
com idade média de 22,3 (+3 anos), peso corporal 79,4 (+7,8
kg) e estatura 179,7 (+4,9 cm). Os indivíduos avaliados eram
treinados nos ER há pelo menos um ano e se exercitavam pelo
menos quatro vezes por semana. Antes da coleta de dados
todos responderam negativamente aos itens do questionário
Par-Q [8] e assinaram um termo de consentimento, conforme
Resolução no 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do
Brasil. A coleta constou das seguintes etapas realizadas em seis
dias com intervalos de 48 a 72 horas: Dia 1 - Medida da massa
corporal e estatura. Logo após, aplicou-se o teste de 1RM,
objetivando determinar a carga máxima nos exercícios supino
horizontal e leg press. Dia 2 – teste de 1RM na puxada pela
frente (“pegada aberta”) e flexão de pernas. Dia 3 - realização
do re-teste de 1RM nos exercícios testados no primeiro dia.
Dia 4 - realização do re-teste de 1RM nos exercícios testados
no segundo dia. Dia 5 – realização a 80% da carga de 1RM
até a falha concêntrica nos exercícios supino horizontal e leg
press. Dia 6 – o mesmo procedimento do quinto dia, só que
nos exercícios puxada pela frente (“pegada aberta”) e flexão
de pernas.
Com o objetivo de reduzir a margem de erro no teste e reteste de 1RM, e na prescrição dos exercícios a 80% de 1RM,
adotaram-se as seguintes estratégias: instruções previas do
protocolo de teste foram oferecidas aos avaliados, de modo que
o avaliado estivesse ciente de toda a rotina que envolvia a coleta
de dados; o avaliado foi instruído sobre a técnica de execução
do exercício, inclusive realizando-o algumas vezes sem carga,
para reduzir um possível efeito do aprendizado nos escores
obtidos; o avaliador estava atento quanto à posição adotada
pela praticante no momento da medida. Pequenas variações
no posicionamento das articulações envolvidas no movimento
poderiam acionar outros músculos, levando a interpretação
errônea de escores obtidos; para a padronização dos testes e do
treinamento foram utilizados os mesmos equipamentos (Life
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23
Fitness). Os implementos de carga obedeceram à sobrecarga
dos equipamentos (placas de 5 e 10kg).
Para melhor descriminação na realização dos ER, os
mesmos serão descritos em sua posição inicial (PI) e fase
concêntrica (FC). A descrição detalhada dos exercícios em
cada fase é apresentada a seguir:
Supino horizontal
1. PI – Em decúbito dorsal, com os cotovelos estendidos com
as mãos sustentando a barra, joelhos e quadris semiflexionados, com os pés sobre o apoio do próprio aparelho;
2. FC - A partir da fase excêntrica (braço e antebraço formando um ângulo de 900), realizava-se a extensão completa dos
cotovelos e flexão horizontal dos ombros.
Leg Press inclinado
1. PI - O indivíduo sentado no banco em um ângulo de 450,
pernas paralelas com um pequeno afastamento lateral, com
os joelhos estendidos, braços ao longo do corpo segurando
a barra de apoio;
2. FC - A partir da fase excêntrica (80o entre a perna e coxa),
realizava-se a extensão completa dos joelhos e quadris.
Puxada pela frente
1. PI - Sentado no aparelho com os braços elevados e cotovelos
estendidos com as mãos pronadas segurando na barra;
2. FC - A partir da posição inicial realizava-se a adução dos
ombros, com flexão dos cotovelos até a região do manúbrio.
Cadeira flexora sentada
1. PI - Sentado, coluna totalmente apoiada, joelhos coincidindo com o eixo de rotação da máquina, parte posterior
da perna sobre o suporte com os joelhos levemente flexionados.
2. FC - Flexão dos joelhos até 90°.
Os valores das cargas máximas no teste e re-teste de 1RM
eram obtidos ao longo de até três tentativas, quando o avaliado não conseguia mais realizar o movimento completo de
forma correta. Desse modo, validou-se como carga máxima
a que foi obtida na última execução. A cada nova tentativa
realizava-se adição de incrementos progressivos de 5 Kg,
sendo dado um intervalo de 2 minutos entre cada série [9].
O re-teste foi realizado 48 h após a realização do teste para
melhor fidedignidade das mensurações, assim evitando uma
possível mascaração dos resultados.
Para a obtenção das repetições máximas considerou-se
o número de vezes que o indivíduo realizava o movimento
completo com carga a 80% de 1RM até a falha concêntrica. A
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condução dos testes foi realizada em seis etapas em intervalos
de 48 a 72 horas com o intuito de minimizar efeitos da fadiga
nas musculaturas solicitadas.
A análise estatística utilizou o coeficiente de relação e diferença percentual entre o teste e o re-teste de 1RM. A relação
mínima, média e máxima do número de repetições atingidas
foi relatada a partir da estatística descritiva.
Resultados
A Tabela I destaca o coeficiente de relação e a diferença
percentual entre o teste e o re-teste de 1RM. A tabela II destaca
os valores mínimos, médios e máximos, em relação ao número
de repetições realizadas até a falha concêntrica.
Tabela I - Demonstrativo do coeficiente de relação e a diferença
percentual entre o teste e o re-teste para 1RM.
Coeficiente de
relação
Diferença percentual (%)
Supino
Puxada
horizontal pela
frente
0,985*
0,992*
7,8
7,4
Leg
press
Flexão de
joelhos
0,988*
7,4
0,986*
5,7
* Correlação significativa (p < 0,05).
Tabela II - Em média obteve-se 10 (+ 2), 11 (+ 1), 20 (+ 5) e 16 (+
4) repetições nos exercícios de supino horizontal, puxada pela frente,
leg press inclinado e cadeira flexora sentada, respectivamente.
N* Média / DP**
Supino horizontal
Puxada pela frente
Leg press
Flexão de joelhos
11
11
11
11
10,27 + 1,49
10,5 + 1,37
19,8 + 5,34
15,5 + 4,2
Minimo
repetições
8
8
10
11
Máximo
repetições
12
12
30
25
*Indivíduos (N); **desvio padrão (DP).
Discussão
A utilização do teste de 1RM por profissionais engajados
no treinamento bem como por pesquisadores é amplamente
difundida e a utilização de percentuais na prescrição dos ER
em relação à hipertrofia, ganhos de força e força de resistência já vem sendo há muito discutido na literatura [1,2,7,9].
Em contra partida, diversos estudos demonstram que o teste
de 1RM quando utilizado para controle de intensidade na
prescrição de exercícios, possui variações no número de repetições que podem comprometer as zonas de treinamento
estipuladas [10-14].
Na revisão de literatura [4,7,9,12], verifica-se que cargas
entre 70 a 85%, 85 a 100% e 30 a 60% são importantes para o
desenvolvimento da hipertrofia muscular, força máxima e força
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de resistência, respectivamente. No entanto, o comportamento
de diferentes grupos musculares, diferentes níveis de condicionamento, número de articulações envolvidas, podem alterar o
número de repetições para cada objetivo traçado [10-14].
Segundo Fleck, Kraemer [7] e Baechle, Earle[9], cargas
entre 75 - 80% de 1RM eram anteriormente vistas como uma
prescrição relacionada primariamente para ganhos de força
para hipertrofia. Conforme os dados obtidos em nosso estudo,
foi observado que a prescrição de cargas através do teste de
1RM apresenta um número elevado de repetições nos exercícios leg press e flexão de joelhos, ocorrendo o predomínio do
desenvolvimento de resistência sobre o de força para hipertrofia. De acordo com os dados encontrados, o treinamento de
força em indivíduos treinados assume que um dado número
de repetições não está sempre associado com o percentual de
1RM nos exercícios em membros inferiores. Entretanto, nos
exercícios para membros superiores, os resultados obtidos
demonstraram semelhança com o relatado na literatura.
Hoeger et al. [12] encontraram no exercício leg press
inclinado 15,2 (+ 6,5) repetições em mulheres treinadas a
80% de 1RM. Resultados similares foram encontrados em
um estudo proposto por Simão et al. [14], em que os resultados tendem a corroborar essas proposições. Este estudo
[14] foi conduzido em mulheres treinadas em diferentes
seqüências de exercícios e foi observado que ao iniciar pelo
exercício leg press, um número alto na média de repetições foi
encontrado (21 ± 8). Mesmo invertendo a ordem dos exercícios, iniciando pela cadeira flexora e, em seguida, a cadeira
extensora, e somente após o leg press, a média de repetições
manteve-se alta (17 ± 7). Também Souto Maior, Simão [13]
em seu experimento verificaram que para o exercício leg press
inclinado foram encontradas 21 (+ 7) repetições para homens
treinados, o que corrobora com nosso estudo, onde a média
alcançada foi de 20 (+ 5), não apresentando praticamente
diferença entre ambos. A diferença encontrada entre nossos
resultados comparados aos de Hoeger et al. [12] e Simão et
al. [14], talvez tenha origem em um fator primordial: o sexo
dos participantes. Em nosso estudo foram utilizados homens
treinados, enquanto nos estudos supracitados foram utilizadas
mulheres treinadas.
Em relação ao supino horizontal, os resultados do nosso
estudo foram em média 10 (+ 2). Em contrapartida, comparamos nossos resultados com os obtidos por Hoeger et al. [11]
e Souto Maior, Simão [13]. Estes realizaram testes através do
exercício supino horizontal a 80% de 1RM, e encontraram
uma média de 12 (± 3) e 10 (± 3) repetições, respectivamente.
Estes achados corroboram com os nossos dados.
O exercício de puxada pela frente em nosso estudo apresentou uma média estatística de 11 (± 1) repetições. Hoeger
et al. [11,12] testaram indivíduos (homens e mulheres) no
exercício de puxada por trás, em que apresentaram em média
10 (± 4) e 12 (± 4) repetições, respectivamente. Assim, os resultados encontrados por Hoeger et al. [11,12] em relação ao
exercício de puxada por trás assemelha-se ao nosso resultado,
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mesmo apresentando uma pequena diferença na execução do
movimento.
Os resultados obtidos nos testes com o exercício de cadeira
flexora sentada apresentaram a média de 16 (± 4) repetições.
Em contrapartida, Hoeger et al. [11] apresentam a média de 7
(± 3) repetições. Tal diferença talvez se explique pela diferença
na posição utilizada nos referidos estudos. Pois em nosso
estudo utilizamos a posição sentada, enquanto no estudo de
Hoeger et al. [11] a execução do exercício ocorreu em decúbito ventral. Em outras situações de treinamento, podemos
observar o comportamento do número de repetições. Como
exemplo podemos citar o estudo desenvolvido por Simão et
al. [14], no qual foi observada a manipulação na ordem dos
exercícios em mulheres treinadas através da avaliação da carga
máxima no teste de 1RM, em diversos exercícios, inclusive
na cadeira flexora sentada. Os resultados foram obtidos em
duas situações distintas: na primeira, o exercício referido era
realizado no final do programa e em uma segunda situação
o exercício era realizado no início do programa. Em ambas
as situações o número médio de repetições foi elevado sendo
(14 ± 5) quando era realizado ao final da sessão e 17 (± 6)
quando iniciado pela flexora. É interessante observar que
este estudo proposto por Simão et al. [14] corrobora com
nossos resultados, mesmo havendo manipulação na ordem
dos exercícios.
Diversos fatores podem influenciar os resultados, dentre os
quais podemos destacar: a velocidade de execução, amplitude
de movimento, capacidade de ativação neural, estabilização
postural, aprendizagem na coordenação, modulação aferente,
redução da atividade do antagonista, motivação e tipo de fibra
muscular envolvida [15]. Em nossa pesquisa não houve controle
da velocidade na execução dos movimentos, o que parece ter
sido importante em certos momentos. Uma velocidade alta era
impressa logo nas primeiras repetições e, com a instauração da
fadiga, diminuía consideravelmente até a interrupção do exercício. Isso pode ser considerado como uma variável interveniente
em função das diferenças encontradas para o número médio
de repetições e os respectivos desvios padrões.
A relação entre o percentual de 1RM e o número de repetições variam de acordo com a quantidade de massa muscular
necessária para executar o exercício. Os exercícios de grupos
musculares maiores parecem precisar percentuais muitos altos
de 1RM para conservá-los na zona de força muscular de repetições máximas [7]. Todavia, quando abordamos a questão do
volume de treinamento para um mesmo percentual de carga,
foi encontrado na literatura que os grupamentos musculares
maiores suportam um maior número de repetições quando
comparados a pequenos grupamentos [10-14], em que se
iguala aos resultados de nosso estudo.
Outro motivo que nos leva a questionar os dados obtidos
por Simão et al. [14] e Hoeger et al. [11,12] é a confiabilidade
dos instrumentos de medida. Isto é fundamental para que um
pesquisador possa garantir a qualidade e o significado dos
dados de um estudo. Como exemplo, podemos ressaltar que
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25
nestes estudos ocorreu a falta do re-teste de 1RM. Outro fator
importante é a determinação do impacto de um programa
de treinamento. A existência de poucos estudos controlados
sobre a confiabilidade dos testes de força/resistência muscular
em equipamento isotônico sugere que essa qualidade seja
verificada antes da realização de estudos que utilizem esses
métodos, de forma a garantir a qualidade dos resultados para
os exercícios e a amostra em questão [10]. Pereira, Gomes [5]
recomendam um período de adaptação ao teste além da realização do re-teste. Assim sendo, com base na necessidade de
redução do erro da medida e nos poucos estudos disponíveis,
seria recomendado que os sujeitos participassem de algumas
sessões de adaptação antes da realização dos testes. Entretanto,
não parece haver indicação do número adequado de sessões
necessário para atingir uma adaptação apropriada [10].
Conclusão
A predição de 1RM a partir do teste propriamente dito
tem baixo poder de confiabilidade, validade e fidedignidade,
principalmente em indivíduos destreinados. A prescrição do
treinamento com base em número de repetições, supondo
que esse número represente um percentual de 1RM, não
foi apoiada pelos resultados deste estudo corroborando com
Pereira [10]. De acordo com a afirmação mencionada, Hoeger
et al. [11,12] definem que o teste de 1RM possui falha na
prescrição de cargas para o treinamento. As diferenças entre
exercícios indicam que um mesmo número de repetições
pode representar intensidades diferentes para grupamentos
musculares diferentes [14].
Sendo assim, podemos dizer que são muitas as variáveis
que influenciam a aplicação do teste de 1RM, como praticidade e aplicabilidade das medidas, além da influência da
individualidade biológica nas respostas aos estímulos de um
mesmo programa de treinamento. Podemos então concluir,
que a predição não pode ser generalizada baseada no percentual de carga executada, sendo, portanto, mais adequado
predizer as cargas através dos testes submáximos.
Referências
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Artigo original
Correlação entre o acúmulo de lactato
e a flexibilidade medida pelo teste de sentar e alcançar
em lutadores de Wushu
Relationship between blood lactate accumulation and flexibility
measured by the sit-and-reach test in Wushu athletes
Rafael Reimann Baptista*, Alexsander dos Anjos Ramos**, Bruno Fraga da Silva**, Bruno Ogodai S. D. de Castro***
*Grupo de Pesquisa Educação Física Baseada em Evidências, Universidade Luterana do Brasil, Campus Gravataí, Curso de Educação Física, Gravataí - RS, Grupo de Pesquisa em Biomecânica e Cinesiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de
Educação Física, Porto Alegre RS, **Grupo de Pesquisa Educação Física Baseada em Evidências, Universidade Luterana do Brasil,
Campus Gravataí, Curso de Educação Física, Gravataí - RS, ***Personal Trainer e Professor de Wushu, Porto Alegre - RS
Resumo
Abstract
Poucas evidências estão disponíveis na literatura sobre os aspectos biomecânicos e fisiológicos das artes marciais, em especial o
Wushu, a arte marcial chinesa. A flexibilidade é um dos componentes da aptidão física mais proeminentes em artes marciais como o
Wushu. Existem controvérsias nos estudos acerca das relações entre
a flexibilidade e a demanda metabólica em atletas. Desta forma, o
objetivo deste estudo foi analisar a relação entre a flexibilidade e o
acúmulo de lactato após uma competição de Wushu. Oito atletas
do sexo masculino com idade média de 26,05 ± 5,32 anos e tempo
médio de treinamento em artes marciais de 8 ± 4 anos forneceram
consentimento por escrito para participar deste estudo. A amostra
foi composta por dois grupos de atletas, um grupo participante
da modalidade de Boxe Chinês (n = 5) e outro participante da
modalidade de Taolu (n = 3). Os atletas realizaram uma avaliação
da flexibilidade de tronco e membros inferiores através do teste de
sentar e alcançar, bem como uma medição do lactato sangüíneo
antes e depois de uma competição para avaliação do seu acúmulo. O
coeficiente de correlação produto momento de Pearson revelou uma
correlação significativa (r = -0,92; p = 0,02) entre a flexibilidade e o
acúmulo de lactato sangüíneo em lutadores de Boxe Chinês. Não
foi encontrada uma correlação significativa entre estas variáveis nos
atletas que realizaram o Taolu. Os resultados sugerem que o acúmulo
de lactato sangüíneo após uma luta de Boxe Chinês é inversamente
proporcional ao nível de flexibilidade medido pelo teste de sentar
e alcançar. Estudos com maiores tamanhos amostrais e abordagens
biomecânicas mais elegantes poderão trazer um melhor entendimento sobre este fenômeno.
Few evidences are available in literature about the physiological
and biomechanical aspects of martial arts, especially Wushu, the
Chinese martial art. Flexibility is one of the most prominent physical
fitness components in martial arts like Wushu. Controversies do
exist in studies about flexibility and metabolic demand interaction
in athletes. Therefore, the purpose of this study was to analyze the
relationship between flexibility and blood lactate accumulation
after Wushu competition. Eight male athletes, mean age of 26.05
± 5.32 years and mean training time of martial arts of 8 ± 4 years
gave written consent to participate in this study. Participants were
pooled into two groups, one participating of the Chinese Boxing
modality (n = 5) and other Taolu modality (n = 3). They performed
an evaluation of the trunk and lower limb flexibility by the sit-andreach test, as well as the blood lactate sampling before and after a
competition to assess its accumulation. Pearson product moment
correlation coefficients revealed a significant relationship (r = -0.92;
p = 0.02) between flexibility and blood lactate accumulation in
Chinese Boxers. No significant correlation between these variables
was found among the Taolu athletes. These results suggest that the
blood lactate accumulation after Chinese Boxing is the reverse of
the flexibility level measured by the sit-and-reach test. Studies with a
large sample size and more elegant biomechanical approaches might
bring a better understanding of this phenomenon.
Key-words: Wushu, flexibility, sit-and-reach, lactate, metabolic
demand.
Palavras-chave: Wushu, flexibilidade, sentar e alcançar, lactato,
demanda metabólica.
Recebido em 10 de janeiro de 2005;aceito em 12 de maio de 2005.
Endereço para correspondência: Rafael Reimann Baptista, Universidade Luterana do Brasil, – Campus Gravataí, Curso de Educação
Física, Av. Itacolomi no. 3600, Bairro São Vicente, 94170-240 Gravataí RS, E-mail: [email protected], Tel: 51-34317677
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Introdução
Embora as artes marciais sejam praticadas há milhares
de anos e tenham se tornado especialmente populares no
ocidente nas últimas décadas, existe uma grande carência de
evidências científicas na literatura sobre os aspectos fisiológicos
e biomecânicos destas modalidades.
Um melhor entendimento sobre a fisiologia e biomecânica das artes marciais pode auxiliar na prevenção de lesões
esportivas, as quais em se tratando de um esporte de combate
são muito prevalentes [1]. Adicionalmente, parâmetros fisiológicos podem ser utilizados na prescrição de um trabalho
de condicionamento físico específico para a modalidade,
bem como a análise biomecânica do gesto esportivo pode ser
utilizada na correção da técnica.
A maioria dos estudos sobre artes marciais tem se concentrado em analisar os aspectos relacionados ao risco de lesões
ortopédicas [2] ou a prevalência de lesões em diferentes estilos
de lutas [1]. Esta tendência é compreensível dada à natureza
de alto contato apresentada pelos esportes de combate. Todavia, outra característica que se destaca nestas modalidades é a
flexibilidade necessária para a prática dos movimentos, tanto
durante os treinos como em competições.
Diversos estudos têm demonstrado o benefício das artes
marciais no desenvolvimento da flexibilidade tanto em idosos
[3] quanto em jovens [4], sendo muitas vezes mais efetivos
que as atividades físicas recreativas em crianças [5].
Embora a flexibilidade seja um dos componentes importantes reconhecidos pelo American College of Sports Medicine
no que tange à aptidão física [6], e mesmo com algumas
evidências apontando para uma associação positiva entre a flexibilidade e o desempenho [7,8], outras evidências contrárias
têm apontado para uma relação negativa entre a flexibilidade
e a economia de movimento [9-11]. Alguns autores sugerem
ainda que estas variáveis não estariam necessariamente relacionadas [12,13].
Uma melhor economia de movimento, ou seja, um menor
gasto energético durante um determinado esforço, parece estar
associado com um melhor desempenho esportivo [14,15] e é
influenciado por aspectos antropométricos, biomecânicos e
fisiológicos [16,17]. Mesmo quando dois atletas apresentam
valores semelhantes de consumo de oxigênio (VO2) máximo e
limiar de lactato, as evidencias sugerem que aquele que usar uma
menor porção do seu VO2 máximo, apresentará uma vantagem
quando comparados a atletas menos econômicos [18].
Correlacionando a flexibilidade com a economia de movimento em corredores, Jones [11] verificou que os atletas
com maior rigidez nos músculos isquiotibiais e lombares,
avaliados através do teste de sentar e alcançar, eram os mais
econômicos. Os resultados encontrados pelo autor parecem
estar fundamentados em dois fenômenos biomecânicos: 1)
a maior rigidez muscular contribuiria para uma maior estabilidade articular reduzindo a necessidade de recrutamento
de músculos adicionais; e 2) os corredores com menor fle-
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xibilidade teriam um maior retorno da energia elástica dos
tecidos conjuntivos da unidade músculo-tendão durante o
ciclo alongamento-encurtamento.
Se de fato músculos menos flexíveis conferem ao atleta tais
características fisiológicas e biomecânicas, seria de se esperar
que ao realizar um determinado exercício, devido a um menor
recrutamento de fibras musculares e a uma maior força passiva
produzida pelos elementos elásticos do músculo, um menor
acúmulo de lactato sangüíneo fosse observado.
Desta forma, torna-se importante um maior entendimento
da associação entre a flexibilidade e o acúmulo de lactato sangüíneo, principalmente em uma modalidade de arte marcial
na qual os atletas demonstram grandes índices de amplitude
de movimento e a necessidade de movimentos altamente
técnicos como é o caso do Wushu. O objetivo deste estudo
foi analisar a relação entre a flexibilidade medida pelo teste
de sentar e alcançar e o acúmulo de lactato sangüíneo após
a prática do Wushu.
O Wushu é a arte marcial de origem chinesa, que erroneamente tornou-se popular no ocidente como kung-fu, e que, a
partir da década de 50, foi adaptado para finalidades esportivas
recebendo o nome mais tarde de Wushu Olímpico e podendo
ser praticado em basicamente duas modalidades: o Taolu e o
Sanchou (Boxe Chinês). O Taolu consiste em uma seqüência
de movimentos individuais simulando uma luta. Neste estudo
avaliamos os estilos ChangQuan e NanQuan os quais exigem
extremo vigor físico, pois envolvem pulos, chutes e acrobacias,
resultando em uma ginástica extremamente plástica e graciosa.
O Sanchou é o combate entre dois atletas, o qual foi adaptado
para finalidades esportivas através de regras e equipamentos
de proteção semelhante ao Boxe ocidental. Esta adaptação
tornou corrente na modalidade o uso de estratégias de luta que
utilizam golpes bem objetivos, como técnicas de boxe e luta
greco-romana, distanciando-se algumas vezes da arte marcial
chinesa tradicional. Por esta razão, neste artigo, didaticamente
chamaremos o Sanchou de Boxe Chinês.
Materiais e métodos
População do estudo
Participaram deste estudo oito atletas, do sexo masculino,
participantes da I Copa Latino Americana de Wushu, com
idade média de 26,05 ± 5,32 anos, os quais apresentavam
um tempo médio de treinamento em artes marciais de 8,25
± 3,99 anos. Os indivíduos apresentaram uma massa corporal
média de 70,94 ± 8,00 kg, uma estatura média de 173,36 ±
6,90 cm e um percentual de gordura de em média 11,20 ±
1,81%. A amostra foi composta por dois grupos de atletas,
um grupo participante da modalidade Boxe Chinês (n = 5) e
outro participante da modalidade de Taolu (n = 3).
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade Luterana do Brasil, tendo sido considerado
ética e metodologicamente adequado conforme a Resolução
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196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Aos indivíduos
que voluntariamente aceitaram participar deste estudo foi
dada uma explicação verbal sobre os objetivos da pesquisa,
bem como um esclarecimento sobre todos os procedimentos
realizados. Foi entregue também um termo de consentimento informado em duas vias, o qual foi assinado tanto pelos
pesquisadores quanto pelos colaboradores, firmando assim o
vínculo ético necessário para a realização desta pesquisa.
Procedimentos experimentais
A massa corporal foi medida por uma balança antropométrica (Indústrias Filizola S.A.) com resolução de 100 gramas,
a estatura foi medida através de um estadiômetro (Cardiomed
Medicina, Sports & Fitness) com resolução de um centímetro
e as dobras cutâneas mensuradas através de um adipômetro
com resolução de um milímetro (Cescorf Equipamentos
Antropométricos Ltda). Em seguida os atletas realizaram uma
medição da flexibilidade através do teste de sentar e alcançar,
o qual consiste em o avaliado sentado com os pés unidos e
joelhos estendidos, pés apoiados no aparato de medição (Banco
de Wells - Cardiomed Medicina, Sports & Fitness), realizar uma
flexão do tronco empurrando o curso de marcação o máximo
possível. Não foi permitido nenhum tipo de aquecimento para
evitar a influência deste no desempenho do avaliado, tendo sido
considerado o melhor desempenho de duas tentativas.
Por fim, mas não menos importante, foi coletada uma
gota de sangue do lóbulo da orelha antes e outra depois da
realização de um Taolu ou de uma luta de Boxe Chinês. No
caso dos lutadores de Boxe Chinês a coleta de sangue foi feita
na ponta do dedo indicador, mantendo o local de coleta protegido pelas luvas. O sangue coletado foi usado para análise da
concentração de lactato através de um lactímetro (Accutrend
Lactate Roche). O acúmulo de lactato sangüíneo foi calculado
como sendo a subtração do valor de lactato pós-exercício pelo
valor de lactato pré-exercício.
29
apresentados através de estatística descritiva composta por
média ± desvio padrão.
Resultados
Não foi encontrada uma correlação significativa entre a
flexibilidade e o acúmulo de lactato sangüíneo quando todos
os atletas foram analisados conjuntamente. Porém, quando
o tratamento estatístico foi repetido analisando os atletas
separadamente por modalidade, verificou-se uma correlação
negativa (r = -0,92 e p = 0,02) entre a flexibilidade e o acúmulo
de lactato sangüíneo em lutadores de Boxe Chinês, como pode
ser visualizado graficamente na Figura 1. Não foi encontrada
uma correlação significativa entre estas variáveis nos atletas
que realizaram o Taolu.
Figura 1 - Correlação entre o acúmulo de lactato sangüíneo e a
flexibilidade em lutadores de Boxe Chinês (r = -0,92 e p = 0,02).
Tratamento estatístico
O tratamento estatístico foi realizado pelo programa
SPSS para Windows versão 12.0, através de uma correlação
produto momento de Pearson assumindo-se um nível de
significância de p < 0,05. Quando necessário, os dados serão
A Tabela I apresenta a caracterização dos atletas, separados por modalidade, no que tange a faixa etária, tempo de
treinamento, massa corporal total, estatura e percentual de
gordura. Não foram encontradas diferenças significativas
nestas variáveis entre os dois grupos.
Tabela I - Caracterização dos atletas.
Modalidade
Tempo de treino (anos)
Massa (kg)
Estatura (cm)
Percentual de gordura (%)
Boxe Chinês
8,60 ± 4,04
7,67 ± 4,73
71,08 ± 9,05
70,70 ± 7,75
174,64 ± 5,11
171,23 ± 10,17
11,29 ± 2,29
11,04 ±0 ,97
Taolu
Tabela II - Resultados obtidos no teste de flexibilidade e na medição de lactato sangüíneo.
Modalidade
Boxe Chinês
Taolu
Fisiologia_v4n1.indb 29
Flexibilidade (cm)
Lactato pré (mmol/L)
Lactato pós (mmol/L)
Acúmulo de lactato (mmol/L)
38,00 ± 5,06
29,57 ± 14,60
2,60 ± 0,86
2,27 ± 0,42
10,98 ± 2,55
13,93 ± 0,86
8,38 ± 2,93
11,67 ± 0,45
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
A Tabela II apresenta os resultados obtidos pelos atletas
no teste de flexibilidade e na medição de lactato sangüíneo,
separados por modalidade, no que tange à flexibilidade, o
valor de lactato antes e depois da realização do exercício, bem
como os valores de acúmulo de lactato sangüíneo.
Discussão
O Wushu apresenta como característica movimentos
rápidos e vigorosos. Mesmo quando praticado sob a forma
de Taolu, altas demandas metabólicas podem ser alcançadas.
Ribeiro et al. [19] verificaram que a freqüência cardíaca de
atletas de Wushu variou de 76 ± 7 bpm em repouso para
176 ± 3 bpm imediatamente após a realização de um Taolu,
e que o lactato sangüíneo destes atletas variou de 1,80 ±
0,24 mmol/L em repouso para 4,38 ± 1,63 mmol/L cinco
minutos após a realização do Taolu. Segundo os autores, a
freqüência cardíaca dos atletas atingiu 89% da freqüência
cardíaca máxima prevista para a idade e, embora o acúmulo
de lactato observado tenha sido bem inferior ao encontrado
em nosso estudo, os pesquisadores concluíram que o seu
aumento foi suficiente para que os atletas tenham alcançado
o limiar de lactato de 4 mmol/L [20]. Uma das razões para as
diferenças encontradas no acúmulo de lactato entre o estudo
de Ribeiro et al. [19] e o presente estudo talvez tenha sido a
metodologia empregada em analisar o lactato cinco minutos
após o exercício. Outro aspecto que deve ser levado em conta
é que estes pesquisadores utilizaram como ambiente de coleta
de dados a prática do Wushu em um ginásio, simulando uma
competição, enquanto que o presente estudo efetivamente teve
a sua coleta de dados realizada durante um torneio real, no
qual provavelmente os atletas encontravam-se naturalmente
mais motivados.
Uma das limitações do presente trabalho, que pode ser
considerado um estudo piloto, é a pequena amostra utilizada.
Embora tenhamos como meta o desenvolvimento de novos
estudos com amostras maiores, é preciso ressaltar que a realização de investigações que utilizam procedimentos invasivos em
esportes de combate sofre dificuldades de aceitação por parte
dos comitês de ética em pesquisa bem como dos próprios atletas, tornando difícil a obtenção de grandes amostras. Tendo
em vista a escassez de estudos na área da fisiologia do Wushu,
esperamos que mesmo com o número reduzido de atletas
avaliados uma importante contribuição na área das ciências
do esporte possa ser feita. Uma das maneiras encontradas no
presente estudo para tornar mais segura a coleta de sangue nos
lutadores de Boxe Chinês foi a utilização da ponta do dedo
como local de coleta, a qual ficava protegida pelas luvas de
combate. Nos lutadores que realizaram o Taolu este local de
coleta não pode ser realizado, pois em suas rotinas, com freqüência, os atletas batiam com as mãos no chão, o que poderia
ser doloroso tendo em vista a perfuração feita para a coleta
de sangue, podendo também interferir no desempenho do
atleta. Poderia ser questionado se a diferença no local de coleta
Fisiologia_v4n1.indb 30
de sangue influenciaria os resultados obtidos, entretanto, ao
comparar a concentração de lactato coletado a partir de uma
gota de sangue no dedo do pé, dedo da mão ou lóbulo da
orelha em remadores, Forsyth [21] não encontrou diferenças
entre as concentrações observadas nos três pontos.
Utilizando-se as bases de dados Scopus e PubMed através
das palavras-chave relacionadas ao tema desta pesquisa, como
flexibility, blood lactate, sit and reach, anaerobic exercise entre
outros termos, não foram encontrados estudos que tenham
buscado analisar a relação entre o acúmulo de lactato e a flexibilidade de atletas, o que de certa forma concede ao presente
trabalho uma relativa originalidade.
Por outro lado, tendo em vista que a economia de movimento é a relação entre o VO2 e o trabalho realizado [15],
e que durante um exercício o VO2 aumenta linearmente em
relação a intensidade até alcançar o seu máximo [22] entre
outros fatores pelo acúmulo de lactato sangüíneo [23], torna-se relevante para um maior entendimento dos fenômenos
abordados neste artigo, a discussão dos resultados encontrados
por alguns estudos sobre a relação entre economia de corrida
e flexibilidade [9-13].
Gleim et al. [10] utilizaram um índice de rigidez muscular
a partir da avaliação de onze diferentes medições de flexibilidade de tronco e membros inferiores, verificando que uma
rigidez músculo esquelética não patológica estava associada a
uma maior economia de corrida em esteira ergométrica. De
forma semelhante, Craib et al.[9] verificaram a relação entre
o VO2 em duas velocidades de corrida e nove medições de
flexibilidade de tronco e membro inferiores, concluindo que
a amplitude de movimento de dorsiflexão e rotação de tronco
era positivamente correlacionada com a demanda aeróbica,
de forma que os atletas menos flexíveis nestas medições eram
mais econômicos devido a uma maior estabilidade articular e
menor necessidade de recrutamento de músculos estabilizadores
adicionais. Entretanto, os resultados sugeridos por Jones [11]
parecem ser os mais conclusivos sobre o tema. Avaliando a flexibilidade de corredores através do teste de sentar e alcançar, o
autor verificou uma alta correlação entre esta variável e o VO2,
propondo que os atletas menos flexíveis seriam mais econômicos devido ao maior armazenamento e retorno da força passiva
produzida pelos elementos elásticos do músculo durante a fase
de encurtamento do ciclo alongamento encurtamento.
Nossos resultados contrariam os dados encontrados por
estes autores. Embora a especificidade de treinamento deva
ser levada em conta, partindo de uma abordagem biológica
se atletas menos flexíveis devessem ser mais econômicos então
eles também deveriam apresentar menores acúmulos de lactato
após um determinado exercício, caso contrário metabolicamente esta associação estaria comprometida. No presente
estudo verificamos que os lutadores de Boxe Chinês mais
flexíveis possuíam menores acúmulos de lactato sangüíneo
após a luta. Nossos dados são parcialmente amparados pelo
estudo de Beaudoin e Blum [12] os quais não encontraram
associação entre a flexibilidade de corredoras e a sua economia
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
de movimento. Adicionalmente, Nelson et al.[13] submeteram 32 indivíduos, 16 homens e 16 mulheres, a 10 semanas
de treinamento composto por 15 alongamentos estáticos,
incluindo os principais músculos dos membros inferiores
avaliados por Gleim et al. [10]. Os autores verificaram que
embora os indivíduos alongados tenham aumentando o seu
desempenho no teste de sentar e alcançar, não houve prejuízo
na economia de corrida [13].
Conclusão
É possível que as relações entre os aspectos neuromusculares como a flexibilidade e as respostas metabólicas como a
economia de movimento e o acúmulo de lactato sangüíneo
não sejam tão simples quanto poderia se pensar. Existem
evidências de que o aumento na amplitude de movimento
articular através dos exercícios de alongamento ocorrem por
uma maior tolerância ao estiramento por parte do sujeito,
e não por mudanças nas propriedades mecânicas ou viscoelásticas da unidade músculo-tendão [24,25]. Neste sentido,
estudos recentes utilizando a ultra-sonografia para avaliar as
propriedades mecânicas do tendão humano in vivo demonstraram que o treinamento de flexibilidade afeta a viscosidade
do tendão, mas não a sua elasticidade [26].
Com base no que foi exposto anteriormente, concluímos
que o acúmulo de lactato sangüíneo, após uma luta de Boxe
Chinês, é inversamente proporcional ao nível de flexibilidade
medido pelo teste de sentar e alcançar. O entendimento desta
curiosa relação parece requisitar novos estudos com amostras
maiores e preferencialmente envolvendo a avaliação da arquitetura músculo-tendínea in vivo, a qual sabidamente afeta as
propriedades mecânicas do músculo esquelético [27] e podem
explicar, como no caso da relação força-velocidade, muitos
aspectos relacionados com o custo energético e a eficiência
de um movimento [28].
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Artigo original
Efeitos de um treinamento de força aplicado em
mulheres praticantes de hidroginástica
Effects of resistance training in women engaged
in hydrogymnastics programs
Luiz Fernando Martins Kruel, Roberta Eilert Barella, Fabiane Graef, Michel Arias Brentano, Paulo Poli de Figueiredo, Ananda
Cardoso, Carla Rosana Severo
Laboratório de Pesquisa do Exercício - LAPEX, Grupo de Pesquisa em Atividades Aquáticas - GPAA, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul - UFRGS
Resumo
Abstract
O estudo verificou os efeitos de um treinamento de força
aplicado em mulheres praticantes de hidroginástica. A amostra foi
constituída por mulheres saudáveis na faixa etária de 38 a 67 anos,
divididas em quatro grupos. Os grupos realizaram o treinamento
duas vezes por semana, durante onze semanas. O tratamento experimental 1 consistiu na prática de hidroginástica enfatizando o
treinamento específico de força muscular com utilização de equipamento resistivo em membros inferiores (grupo1 / n = 11) ou em
membros superiores (grupo 2 / n = 6). O tratamento experimental
2 também constituiu-se na prática de hidroginástica com ênfase no
treinamento específico de força muscular, porém, sem a utilização
de equipamento resistivo em membros inferiores (grupo 3 / n =
6) ou em membros superiores (grupo 4 / n = 11). A variável força
muscular foi mensurada, em todos os grupos, antes e depois do
período experimental. Para analisar os dados coletados, utilizou-se
estatística descritiva e o teste t de student para amostras dependentes e independentes (p < 0,05). Os aumentos médios percentuais
e absolutos da força dos músculos adutores de quadril corresponderam a 10,73% (2,5 kg) para o grupo 1 e 12,37% (2,84 kg) para
o grupo 2. Para os músculos flexores de cotovelo, os aumentos
foram 14,21% (1,29 kg) para o grupo 3 e 12,16% (1,18 kg) para
o grupo 4. Para os músculos extensores de cotovelo, os aumentos
corresponderam a 20,71% (2,96 kg) para o grupo 3 e 28,76% (4,34
kg) para o grupo 4. Em todos os grupos musculares avaliados, os
resultados mostraram diferenças significativas nas situações de pré e
pós-treinamento, independentemente da utilização do equipamento.
Conclui-se que a hidroginástica com ênfase no treinamento de força
pode constituir uma eficiente modalidade para o desenvolvimento
desta qualidade física.
The study observed the effects of strength training in women
aged from 38 to 67 yrs engaged in hydrogymnastics (HG). The
subjects were assigned in 4 groups that trained 4 times/wk during
11 weeks. The first group performed HG focusing resistance training
with specific device for the lower (G1, n = 11) and upper limbs
(G2, n = 6). The third group performed strength training without
specific device for the lower (G3, n = 6) and upper limbs (G4, n
= 11). The strength was assessed before and after the experimental
period and data was analysed by the Student t-test (p < 0.05). The
mean increase for the strength of hip adductor muscles was corresponded to 10.73% (2.5kg) for G1 and 12.37% (2.84kg) for G2.
The strength of elbow flexor muscles was of 14.21% (1.29kg) for
G3 and 12.16% (1.18kg) for G4. In all cases the strength improved
significantly regardless of using specific device. In conclusion, the
HG can be an alternative to improve women’s muscle strength.
Key-words: hydrogymnastics, muscle strength, resistance training.
Palavras-chave: hidroginástica, força muscular, treinamento
contra-resistência.
Recebido 25 de maio de 2005; aceito em 06 de setembro de 2005.
Endereço para correspondência: Fabiane Graef, Grupo de Pesquisa em Atividades Aquáticas, Laboratório de Pesquisa do Exercício,
Escola de Educação Física, UFRGS, Rua Felizardo, 750, 90610 Porto Alegre RS, Tel:(51) 3316-5820, E-mail: [email protected]
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Introdução
A força muscular constitui um dos componentes da aptidão física relacionada à saúde [1], constituindo também um
fator essencial para a função fisiológica perfeita [2]. Níveis
adequados de força tornam as pessoas capazes de desenvolver
tarefas diárias com menor esgotamento fisiológico [3] como
também melhoram o desempenho em atividades esportivas
[4]. Logo, a manutenção de bons níveis de força ao longo da
vida é importante para realizar atividades simples do cotidiano, como aquelas que requerem locomoção e sustentação.
O desempenho da força mostra-se diferente entre os
gêneros, visto que as mulheres tendem a exibir níveis inferiores de força quando comparadas aos homens [3]. Em
escores absolutos, tal diferença torna-se mais evidente do
que quando se compara a força relativa, expressa em relação
ao peso corporal ou à massa corporal magra. No entanto, as
mulheres em certas circunstâncias podem desempenhar tarefas
que exigem níveis de força semelhantes aos dos homens. No
que diz respeito ao avançar da idade, a tendência é que os
níveis de força diminuam, influenciando desde a velocidade
de locomoção e a capacidade de subir escadas até alterações
no equilíbrio e dificuldades em tarefas simples como levantar
da posição sentada [5].
O treinamento de força traz benefícios à saúde orgânica
[6]. Cabe ressaltar que esses benefícios podem ser obtidos por
praticamente qualquer pessoa, independentemente do sexo,
idade ou envolvimento atlético [7]. No âmbito psicológico,
os aumentos da massa muscular e da força podem exercer influências marcantes na auto-estima e autoconfiança [3]. Dessa
forma, intervenções que contribuam para a melhora da força
são assim importantes no contexto da aptidão física global e,
apesar de aparentemente dizerem respeito à função muscular,
tem um espectro bem mais amplo de influência [5].
Torna-se interessante, portanto, que os indivíduos desenvolvam atividades que contribuam para a manutenção
dos níveis de força muscular nas diversas etapas da vida,
preferencialmente em ambiente que proporcione segurança
e eficiência. Os exercícios realizados na água constituem uma
alternativa, visto que devido às propriedades físicas da água
apresentam características como a redução do impacto - que
proporciona menor sobrecarga articular, e o efeito relaxante
- que permite a movimentação do corpo com maior facilidade [8]. Embora a forma de treinamento de força mais
preconizada na literatura seja através da “musculação [9,10]”
pode-se vislumbrar na hidroginástica uma boa opção para os
programas de treinamento de força. A hidroginástica pode ser
conceituada como uma forma alternativa de condicionamento
físico, constituída de exercícios aquáticos específicos, baseados
no aproveitamento da resistência da água como sobrecarga e
do empuxo como redutor do impacto [11]. Isto permite aos
indivíduos, principalmente durante a execução de exercícios
em intensidades mais elevadas, a prática de uma atividade
física regular com todos os seus benefícios. Neste sentido,
Fisiologia_v4n1.indb 33
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a prática regular de hidroginástica incrementa o condicionamento aeróbio, a resistência muscular, a flexibilidade e a
composição corporal. Além disso, melhora aspectos secundários do condicionamento físico, como agilidade, potência,
velocidade, reflexo, coordenação e equilíbrio [8].
Em relação aos aumentos dos níveis de força muscular
provocados pela prática de hidroginástica, não há muito
conhecimento disponível na literatura. Em estudo realizado
por Müller et al. [12], constatou-se que idosas praticantes
de hidroginástica tendem a demonstrar maiores valores de
força do que idosas praticantes de ginástica localizada ou
caminhada. Em outro estudo, Muller [13] também chama
a atenção para a possibilidade de ocorrer aumento nos níveis de força muscular após treinamento de hidroginástica.
Entretanto, esses estudos são iniciais, necessitando de novas
investigações para melhor verificar a magnitude dos efeitos
de sessões de hidroginástica no desenvolvimento da força
muscular.
Desta forma, o objetivo deste estudo foi analisar os efeitos
de um programa de treinamento de força realizado através
da hidroginástica, com ou sem a utilização de equipamento
resistivo, sobre a força máxima dinâmica dos músculos flexores
de cotovelo, extensores de cotovelo e adutores de quadril, em
mulheres adultas.
Materiais e métodos
Amostra
A amostra foi composta por 17 mulheres entre 38 e
67 anos, participantes do programa de hidroginástica do
Grupo de Pesquisa em Atividades Aquáticas, da Escola de
Educação Física, da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. As voluntárias foram divididas em quatro grupos, a
saber: grupo experimental 1 (GE1) - 11 mulheres praticantes
de treinamento específico de força em membros inferiores
com utilização do equipamento resistivo; grupo experimental 2 (GE2) - 6 mulheres praticantes de treinamento
específico de força em membros inferiores sem utilização
do equipamento resistivo; grupo experimental 3 (GE3) - 6
mulheres praticantes de treinamento específico de força em
membros superiores com utilização do equipamento resistivo; grupo experimental 4 (GE4) - 11 mulheres praticantes
de treinamento específico de força em membros superiores
sem utilização do equipamento resistivo. Antes da coleta
de dados, todas as voluntárias assinaram um termo de consentimento, conforme resolução do Conselho Nacional de
Saúde (196/96).
Tratamentos experimentais
O tratamento experimental 1 consistiu na prática de
hidroginástica com ênfase no treinamento específico de
força muscular, com utilização de equipamento resistivo
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
em membros inferiores (GE1) ou em membros superiores
(GE3). O tratamento experimental 2 consistiu na prática
de hidroginástica com ênfase no treinamento específico de
força muscular, sem utilização de equipamento resistivo em
membros inferiores (GE2) ou em membros superiores (GE4).
Nenhuma outra atividade física que pudesse promover o
aumento dos níveis de força foi praticada pelas integrantes
da amostra. O uso do equipamento resistivo (palmar de
EVA Akuativo, da marca Aktiv) pelos grupos experimentais
1 e 3 objetivou aumentar a resistência oferecida pela água,
de forma que a sobrecarga fosse suficiente para limitar o
número de repetições realizadas numa mesma velocidade.
O treinamento foi realizado durante 11 semanas, com duas
sessões semanais de 45 minutos. As 22 sessões de treinamento foram divididas em três fases:
Primeira fase (5 semanas/10 sessões) - realização de dois
blocos de exercícios: o primeiro com 3 séries de 15 repetições
de cada movimento da seqüência 1, composta por 2 exercícios
(3 movimentos, já que um dos exercícios foi realizado primeiro com um dos membros inferiores e após com o outro); o
segundo com 3 séries de 15 repetições de cada movimento da
seqüência 2, também composta por 2 exercícios (3 movimentos, já que um dos exercícios foi realizado primeiro com um
dos membros superiores e após com o outro). Os indivíduos
dispunham de 30 segundos para realizar as 15 repetições de
cada um dos 3 movimentos, realizados consecutivamente
em ambas as seqüências. O intervalo entre as seqüências foi
de 30 segundos, além de 1 minuto de repouso ativo entre
os blocos.
Segunda fase (3 semanas/6 sessões): realização de dois
blocos de exercícios: o primeiro com 4 séries de 12 repetições
da cada movimento da seqüência 1 e o segundo com de 4
séries de 12 repetições de cada movimento da seqüência 2.
Os indivíduos dispunham de 25 segundos para a execução
das 12 repetições de cada movimento, intervalos de 25
segundos entre as seqüências e 1 minuto de repouso ativo
entre os blocos.
Terceira fase (3 semanas/6 sessões): realização de dois blocos de exercícios: o primeiro com 5 séries de 10 repetições da
cada movimento da seqüência 1 e o segundo com 5 séries de
10 repetições de cada movimento seqüência 2. Os indivíduos
dispunham de 20 segundos para executar as 10 repetições de
cada movimento, intervalos de 20 segundos entre as seqüências e 1 minuto de repouso ativo entre os blocos.
Em todas as fases do treinamento os movimentos foram
realizados com máxima velocidade possível. As seqüências
de exercícios adotadas durante o treinamento são descritas
a seguir:
• Seqüência 1
- Movimento 1: adução/abdução unilateral do quadril na
posição em pé (ênfase na força utilizada para a adução).
- Movimento 2: idem ao anterior, realizando o movimento
com o outro membro inferior.
Fisiologia_v4n1.indb 34
- Movimento 3: flexão/extensão de cotovelos com ombros
abduzidos a 90º (ênfase na força utilizada para flexão e
extensão).
• Seqüência 2
- Movimento 1: adução/abdução de quadril na posição
sentada, com flexão de 90º de joelhos e quadril e membros
superiores apoiados (ênfase na força utilizada para adução
e abdução).
- Movimento 2: flexão/extensão unilateral do cotovelo com
membro na posição anatômica (ênfase na força utilizada
para flexão e extensão).
- Movimento 3: idem ao anterior, realizando o movimento
com o outro membro superior.
As sessões de hidroginástica constaram das seguintes
etapas: aquecimento, parte principal e volta à calma.
No aquecimento foram realizados exercícios envolvendo
mobilização articular, deslocamentos e alongamentos. Na
parte principal foram realizados treinamentos aeróbio e de
força, conforme descrito a seguir: a) treinamento aeróbio:
composto por trabalho de baixa intensidade, com duração
aproximada de 20 minutos (12 minutos sem utilização
prioritária dos músculos alvo; 8 minutos enfatizando a movimentação, o aumento da temperatura e do fluxo sangüíneo
dos grupos musculares alvo); b) treinamento específico de
força: com duração aproximada de 15 minutos, foi composto por dois tipos de seqüências de movimentos básicos
(seqüências 1 e 2) enfatizando os grupos musculares alvo.
A volta à calma foi composta por alongamentos e exercícios
de relaxamento.
Para facilitar a compreensão e o controle da intensidade
do treinamento específico de força, utilizou-se a Escala de
Sensação Subjetiva ao Esforço de Borg [14]. Foi solicitado aos
indivíduos que realizassem o treinamento numa intensidade
correspondente aos índices 15, 16, 17, 18 ou 19 da Escala de
Borg, pois segundo Tiggemann [15], esta sensação de esforço
percebido corresponde a uma intensidade de 90% da força
máxima, durante o treinamento de força muscular.
Avaliação da força máxima dinâmica
Para avaliar a força máxima dinâmica dos grupos musculares flexores/extensores de cotovelo e adutores de quadril,
utilizou-se o teste de uma repetição máxima (1RM) baseado
nos procedimentos descritos por Baechle e Groves [16].
Os equipamentos de musculação utilizados para os testes de 1RM foram: roldana baixa com banco scott Taurus,
modelo Super Pulley, com resolução de 0,25 kg (flexão de
cotovelo); roldana alta Taurus, modelo Super Pulley, com
resolução de 0,25 kg (extensão de cotovelo); cadeira adutora
INBAF, com resolução de 0,25 kg (adução de quadril). Foi
utilizado um metrônomo para controlar o tempo de execução
de cada repetição do movimento nos testes de 1RM.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Tratamento estatístico
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os grupos experimentais para todos os grupos musculares
avaliados.
As médias, desvios padrão e coeficientes de variação da
FMDpós dos adutores de quadril para o GE1 e o GE2, além
dos resultados do teste t são apresentados na tabela IV. Os
resultados médios, desvios padrão e coeficientes de variação
da FMDpós dos flexores e extensores de cotovelo para o GE3
e o GE4, além dos resultados do teste t são apresentados na
Tabela V. De acordo com os dados fornecidos pelas tabelas IV
e V, no período pós-teste não houve diferença estatisticamente
significativa entre os grupos experimentais para os grupos
musculares avaliados.
Também foi comparada a força máxima dinâmica obtida
nos períodos pré e pós-treinamento específico de força para
cada grupo experimental separadamente. Para os dados
mensurados, todos os grupos apresentaram diferenças estatisticamente significativas quando foram comparados os
resultados do pré-teste com os resultados do pós-teste, através
do teste t.
A diferença entre a FMDpré e FMDpós foi estatisticamente significativa tanto para GE1 como para GE2, em relação
aos adutores de quadril, havendo um aumento significativo
da força muscular em ambos os grupos experimentais (Tabela
VI). A diferença entre a FMDpré e FMDpós também foi
estatisticamente significativa em relação aos flexores e extensores de cotovelo, tanto para GE3 como para GE4, havendo
um aumento significativo da força muscular em ambos os
grupos experimentais (Tabela VII).
Para verificar a normalidade e homogeneidade dos
dados, utilizaram-se os testes de Shapiro-Wilk e Levene,
respectivamente. Para verificar as diferenças nos níveis
iniciais de força nos diferentes grupos, aplicou-se o teste
t simples. Por fim, para comparar valores de força intra e
intergrupos ao final do treinamento, utilizaram-se os testes
t pareado e simples, respectivamente. O nível de significância adotado foi p ≤ 0,05.
Resultados
Com a finalidade de caracterizar a amostra, a Tabela I
apresenta as médias e os desvios padrão das variáveis idade,
massa corporal, estatura e IMC dos grupos experimentais
1/4 e 2/3. A mesma tabela também apresenta os resultados
do teste t, indicando não haver diferenças significativas entre
os grupos para as variáveis citadas.
Em relação à força máxima dinâmica (FMD), a normalidade dos dados foi confirmada por meio do teste de ShapiroWilk, excetuando-se os valores obtidos para a musculatura
flexora de cotovelos no pré-teste para os grupos 2/3, que
mesmo assim ficaram muito próximos da distribuição normal.
A homogeneidade das variâncias para a mesma variável foi
confirmada através do teste de Levene. Os resultados do préteste são apresentados nas Tabelas II e III, demonstrando não
haver diferença estatisticamente significativa na FMD entre
Tabela I - Médias e desvios padrão das variáveis idade, massa corporal, estatura e IMC dos grupos experimentais e resultados do teste t no
período pré-treinamento.
Grupo
Variável
Idade (anos)
Massa corporal (kg)
Estatura (m)
IMC (kg/m2)
GE1 / GE4 (n = 11)
Média
Desvio padrão
57,90
± 6,93
71,24
± 15,34
1,58
± 0,72
28,39
± 5,12
GE2 / GE3 (n = 6)
Média
Desvio padrão
52,33
± 8,40
59,71
± 12,97
1,57
± 0,60
24,20
± 4,62
Teste t
T
1,387
1,639
0,231
1,718
Sig.
0,199
0,127
0,822
0,113
(p ≤ 0,05)
Tabela II - Médias, desvios padrão, coeficientes de variação e resultado do teste t da FMDpré de adutores de quadril, para o GE1 e o GE2.
FMDpré adutores de
quadril (kg)
GE1 (n = 11)
GE2 (n =6)
Média
Coeficiente de
Desvio padrão
variação
Média
23,31
± 5,37
22,95
23,04%
Teste t
Desvio Padrão
Coeficiente de
variação
Sig.
± 4,63
20,17%
0,888
Tabela III - Médias, desvios padrão, coeficientes de variação e resultados do teste t da FMDpré de flexores e extensores de cotovelo, para o GE3 e o GE4.
GE3 (n = 6)
FMDpré flexores de
cotovelo (kg)
FMDpré extensores de
cotovelo (kg)
Fisiologia_v4n1.indb 35
GE4 (n = 11)
Teste t
Média
Desvio padrão
Coeficiente de
variação
9,08
± 1,52
16,74%
9,70
± 2,43
25,05%
0,529
14,29
± 1,67
11,69%
15,09
± 3,23
21,40%
0,513
Média
Desvio Padrão
Coeficiente de
variação
Sig.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Discussão
Em relação aos estudos citados acima, dois pontos devem
ser ressaltados. O primeiro é a falta de um treinamento adequado ao desenvolvimento da força muscular e o segundo é
a falta de especificidade existente entre o teste utilizado para
avaliar a força e os movimentos utilizados durante as sessões
de exercícios aquáticos. No que diz respeito à especificidade,
considerando que movimentos diferentes exigem coordenação
intra e intermuscular diferentes, as variações no ângulo e na
amplitude articular, bem como no tipo de ação muscular,
influenciam os resultados da avaliação [6]. Dessa forma, os
músculos e movimentos utilizados no teste de preensão manual devem ser prioritariamente treinados durante as sessões de
hidroginástica para que as diferenças na força desempenhada
sejam verificadas.
No estudo conduzido por Di Mais [19], embora tenha
sido realizado treinamento específico de força muscular,
não foi encontrado aumento significativo da força máxima
dinâmica após tal treinamento em aulas de hidroginástica.
Contudo, pode-se apontar algumas limitações metodológicas
em relação ao referido estudo, como o tamanho reduzido
da amostra e a periodização do treinamento. Além disso, o
A literatura exibe poucos estudos a respeito de treinamento
de força aplicado em sessões de hidroginástica, apontando para
a lacuna de conhecimento existente em relação à possibilidade
de promover aumento nos níveis de força muscular dos praticantes desta modalidade de exercício aquático.
Taunton et al. [17] aplicaram um programa geral de treinamento durante 12 semanas, envolvendo 3 sessões semanais
compostas por uma parte de treinamento aeróbio, uma parte
de flexibilidade e uma parte de resistência muscular e força. A
força muscular, avaliada através de teste de preensão manual,
não apresentou aumentos significativos com o treinamento.
A partir desses resultados, os autores concluíram que um
programa geral de treinamento realizado no meio aquático
não produz estímulo suficiente para causar aumento na força
muscular. Em outro estudo realizado por Madureira e Lima
[18] os autores também relataram não haver aumento significativo na força de preensão manual de indivíduos idosos após
serem submetidos a sessões de hidroginástica sem treinamento
específico de força durante 4 meses.
Tabela IV - Médias, desvios padrão, coeficientes de variação e resultado do teste t da FMDpós de adutores de quadril, para o GE1 e o GE2.
FMDpós adutores de
quadril (kg)
GE1 (n = 11)
Desvio paMédia
drão
Coeficiente de
variação
Média
Desvio Padrão
Coeficiente de
variação
Sig.
25,81
20,65%
25,79
± 6,08
23,58%
0,993
± 5,33
GE2 (n =6)
Teste t
Tabela V - Médias, desvios padrão, coeficientes de variação e resultados do teste t da FMDpós de flexores e extensores de cotovelo, para o GE3
e o GE4.
FMDpós flexores de
cotovelo (kg)
FMDpós extensores de
cotovelo (kg)
GE3 (n = 6)
Desvio paMédia
drão
Coeficiente de
variação
10,37
± 2,28
17,25
± 2,51
GE4 (n = 11)
Teste t
Média
Coeficiente de
Desvio Padrão
variação
Sig.
21,99%
10,88
± 3,05
28,03%
0,702
14,55%
19,43
± 3,21
16,52%
0,146
Tabela VI - Médias da FMDpré e da FMDpós de adutores de quadril, diferença absoluta (Δ) e percentual (Δ %) entre FMDpré e FMDpós
e valores do teste t para a FMD, para o GE1 e o GE2.
FMDpré (kg)
GE1
FMDpós (kg)
Adutores de
23,31 ±5,37 25,81 ±5,33
quadril
∆ (kg) ∆ %
Teste t
FMDpré (kg)
GE2
FMDpós (kg) ∆ (kg) ∆%
Teste t (sig)
2,5
0,001
22,95 ±4,63
25,79 ±6,08
0,011
10,73
2,84
12,37
Tabela VII - Médias da FMDpré e da FMDpós de flexores e extensores de cotovelo, diferença absoluta (Δ) e percentual (Δ %) entre FMDpré
e FMDpós e valores do teste t para a FMD, para o GE3 e o GE4.
FMDpré (kg)
GE3
FMDpós (kg)
Flexores de
cotovelo
9,08 ± 1,52
10,37 ± 2,28 1,29
Extensores de
cotovelo
14,29 ± 1,67 17,25 ± 2,51 2,96
Fisiologia_v4n1.indb 36
Teste t
FMDpré (kg)
GE4
FMDpós (kg)
∆ (kg) ∆ (%)
Teste t
14,21
0,021
9,70 ± 2,43
10,88 ± 3,05 1,18
12,16
0,010
20,71
0,022
15,09 ± 3,23 19,43 ± 3,21 4,34
28,76
0,000
∆ (kg) ∆ (%)
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
tipo de equipamento pode ter causado redução acentuada na
velocidade de execução do movimento, aspecto fundamental
para que ocorra a sobrecarga apropriada ao treinamento de
força na água.
Dados contrários aos apresentados acima foram constatados por Müller et al. [12]. Esses autores constataram que
idosas praticantes de hidroginástica tendem a demonstrar
maiores valores de força máxima dinâmica desenvolvida
pela musculatura flexora horizontal de ombros do que idosas
praticantes de caminhada ou ginástica. Neste sentido, outro
estudo de Muller [13] comparou os valores da força máxima
dinâmica dos flexores horizontais do ombro para diferentes
grupos, nos períodos pré e pós-treinamento de força na hidroginástica, relatando incrementos na força. Um grupo foi
composto por idosas participantes de programas tradicionais
de hidroginástica e o outro foi composto por idosas praticantes de hidroginástica com treinamento específico de força.
Quando comparados os valores da FMDpré com os valores
da FMDpós do grupo praticante de hidroginástica tradicional, os resultados obtidos demonstraram não haver diferença
estatisticamente significativa. No entanto, para o grupo que
praticou hidroginástica com treinamento específico de força,
os dados obtidos demonstraram uma diferença estatisticamente significativa entre a FMDpré e a FMDpós, com aumento
médio de 10,89% ou 1,800 kg no teste de 1RM.
Comparando com os aumentos absolutos e percentuais
obtidos no presente estudo para os grupos musculares adutores
de quadril e flexores de cotovelo, os resultados apresentados
pelo estudo de Muller [13] podem ser considerados relativamente semelhantes. Os incrementos na força encontrados
por Muller [13] podem ter sido discretamente inferiores devido à faixa etária da amostra, que abrangeu exclusivamente
indivíduos idosos.
No presente estudo, os dados obtidos para todos os grupos
que realizaram treinamento específico de força, independentemente da utilização do equipamento resistivo, indicaram
aumentos significativos para todos os grupos musculares
testados. Em relação aos grupos experimentais 1 e 2, é possível perceber que o grupo que não utilizou equipamento
resistivo na realização do treinamento de força em membros
inferiores (GE2) aumentou mais os níveis de força do que o
grupo que utilizou o equipamento (GE1), apesar de ambos os
grupos terem aumentado significativamente os níveis de força.
Uma explicação para o menor aumento da força no grupo
que utilizou equipamento pode ser o fato de que o aumento
da resistência ao movimento provocado pelo equipamento,
ao reduzir a velocidade de execução do exercício, diminui a
sobrecarga muscular gerada e torna o estímulo menos apropriado ao desenvolvimento da força.
Em relação aos grupos experimentais 3 e 4, também
pode-se perceber que o grupo que não utilizou equipamento
resistivo em membros superiores (GE4) aumentou mais os
níveis de força para os extensores de cotovelo do que o grupo
que utilizou o equipamento (GE3), apesar de ambos os grupos
Fisiologia_v4n1.indb 37
37
terem aumentado significativamente os níveis de força. Como
o aumento da força foi significativo para ambos os grupos,
acredita-se que o diferencial que levou a este aumento tenha
sido realmente o tipo de treinamento utilizado, e não a utilização do equipamento resistivo. Logo, não se pode afirmar
que o equipamento resistivo foi o principal responsável pelo
aumento da intensidade da atividade na água, já que os níveis
de força aumentaram para ambos os grupos de forma significativa, independentemente da utilização do equipamento.
Uma possibilidade a se considerar é de que a intensidade
tenha sido aumentada de forma mais acentuada pelo aumento da velocidade de execução dos movimentos, quando
comparado com o aumento da área de superfície oferecida
pelo equipamento. Sendo assim, a realização dos movimentos
com grande velocidade seria o fator responsável primário pelo
aumento dos níveis de força. Contudo, não se pode garantir
que esse tenha sido o fator preponderante no aumento mais
expressivo encontrado nos grupos que não utilizaram equipamento.
Conclusão
Os resultados deste estudo demonstraram que mulheres
adultas aumentaram significativamente a força máxima dinâmica de flexores de cotovelo, extensores de cotovelo e adutores
de quadril, depois de submetidas a um treinamento específico
de força muscular em sessões de hidroginástica.
Embora somente um pequeno grupo de pesquisadores
considere a prática de hidroginástica uma atividade apropriada
para promover incrementos na força muscular, através do
presente estudo pode-se concluir que a hidroginástica, com
ênfase no treinamento de força, é eficiente para alcançar tal
objetivo. Isto se deve ao treinamento adequado, ou seja, a
aplicação dos princípios do treinamento de força e a utilização da resistência da água como sobrecarga. Nesse sentido,
exercícios com alta velocidade de execução, compreendendo
de 10 a 15 repetições, podem constituir um recurso válido
para desenvolver a força muscular.
Devido à importância da força muscular na promoção da
saúde, independentemente do sexo ou faixa etária, os programas de treinamento compostos por sessões de hidroginástica
deveriam incluir uma parte específica para o aprimoramento
desta qualidade física. Por extensão, a hidroginástica deveria
ser considerada como um meio efetivo para desenvolver a
força muscular e não somente para desenvolver aptidão cardiorrespiratória e aumentar o gasto calórico, como geralmente
é preconizado.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
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Artigo original
Avaliação da flexibilidade em mulheres submetidas
a exercícios de alongamento em grupo
Evaluation of the flexibility in women submitted
to stretching exercises in group
Daniela Cristina Bianchini Nogueira Moreno Perea*, Thais Renata Conejo**, Silvia Maria de Mendonça**, Renata Munari**,
Maria Cristina Strabelli Titto**
*Professora e pesquisadora do curso de Fisioterapia da UNICASTELO, Campus VIII, Descalvado SP, **Fisioterapeutas graduados
pela UNICASTELO, Campus VIII, Descalvado SP
Projeto de Pesquisa desenvolvido pelo Departamento de Fisioterapia, com financiamento da UNICASTELO.
Resumo
Abstract
Este trabalho teve por objetivos avaliar a flexibilidade antes e
após a aplicação de sessões de alongamento em grupo. O grupo de
alongamento era composto por 7 mulheres. As sessões de alongamento foram realizadas duas vezes por semana, com duração de 50
minutos. A aplicação dos alongamentos foi para todos os segmentos
corporais. A flexibilidade foi avaliada através do teste de sentar e
alcançar (Banco de Wells). Foram realizadas 3 medidas: antes do
início do programa de alongamento (1ª avaliação), após 10 (2ª
avaliação) e 20 (3ª avaliação) sessões. Os resultados foram analisados
através de test T de Student. Os resultados mostraram diferença
significante em apenas 3 sujeitos da 1ª para a 3ª avaliação. Nas
outras 4 mulheres avaliadas, houve um aumento médio de 5,35%
de flexibilidade quando comparadas a 1ª e a 3ª avaliações. Embora
os resultados encontrados não sejam estatisticamente significantes,
o alongamento em grupo foi eficaz em aumentar o percentual de
flexibilidade dos indivíduos.
The aim of this work was to evaluate the flexibility before and
after stretching group sessions in women. The stretching group was
delineated by 7 womens. The stretching sessions were carried out
twice weekly, with duration 50 minutes. The flexibility was evaluated by lineal approach (wells’ chair). It was carried out 3 measures:
before of the beginning the stretching program (1st evaluation),
after 10 (2nd evaluation) and 20 (3rd evaluation) sessions. The results
were analyzed by test T of Student. Seven women were evaluated
and just 3 of them had significant difference from the 1st for the 3rd
evaluations. In the other 4 women evatuated, there were a flexibility
increase of 5,35% when compared the 1st and 3rd evaluations. Althoug the results found be not significant statistically, the stretching
in group was efficient in increase the flexibility.
Key-words: stretching, flexibility, Wells’ Chair, work in group.
Palavras-chave: alongamento, flexibilidade, Banco de Wells,
trabalho em grupo.
Recebido 15 de agosto de 2005; aceito em 20 de outubro de 2005.
Endereço de correspondência: Daniela Cristina Bianchini Nogueira Moreno Perea, Departamento de Fisioterapia da Universidade
Camilo Castelo Branco, Campus VIII, Avenida Hilário da Silva Pastos, 950, Parque Universitário, 13690-970 Descalvado SP, Tel: 1935831002, E-mail: [email protected].
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Introdução
A flexibilidade é um dos componentes da aptidão física,
podendo ser definida como a amplitude máxima fisiológica
passiva de um dado movimento articular [1]. Embora um
certo nível de flexibilidade pareça ser relevante para a saúde,
desconhecem-se quais são os níveis ótimos para um dado
indivíduo [2].
Tem sido identificada uma associação positiva entre
ganhos de flexibilidade e melhoria da qualidade de vida,
relacionadas à saúde [3]. Atualmente, a flexibilidade, uma
variável cineantropométrica, é um componente da saúde
relativo à forma física, e é altamente treinável. Por exemplo,
para manter uma postura adequada é necessário um mínimo
de flexibilidade, que tem sido uma das qualidades físicas
avaliadas [4].
A flexibilidade é conceituada como a extensibilidade dos
tecidos periarticulares para permitir movimento normal ou
fisiológico de uma articulação ou membro [2]. Pode ser entendida também como a habilidade para mover uma articulação
ou articulações através de uma amplitude de movimento livre
de dor e sem restrições. Além disso, é considerada como um
dos componentes da aptidão física, podendo ser definida
como a amplitude máxima fisiológica passiva de um dado
movimento articular [1,5].
Com relação à classificação dos tipos de flexibilidade, ela se
divide em três. A flexibilidade estática refere-se à amplitude de
movimento em torno de uma articulação sem nenhuma ênfase
na velocidade [2]. A flexibilidade balística está geralmente
associada com o balançar, pular, ricochetear e movimentar-se
ritmicamente. Outro termo um tanto relacionado ao último é
flexibilidade dinâmica. Esse termo refere-se à habilidade para
usar a amplitude de movimento articular na realização de uma
atividade física numa velocidade normal ou rápida [1,2].
Foi apresentado um sistema de classificação dos testes
de flexibilidade (testes de mobilidade articular estática), que
podem ser classificados em função das unidades de mensuração dos resultados, em três categorias principais: lineares,
angulares e adimensionais [3]. No presente trabalho, o
método de avaliação utilizado foi o linear, caracterizado
por utilizar a escala métrica para avaliar indiretamente a
mobilidade articular, normalmente através de movimentos
compostos, isto é, de movimentos que envolvem mais de
uma articulação.
O alongamento é uma das técnicas mais utilizadas para se
obter um aumento da amplitude de movimento (ADM) por
meio do aumento da flexibilidade muscular. Também atua
na diminuição do tônus, encurtamento e espasmo muscular,
além de ser utilizado para preparar a musculatura antes dos
exercícios físicos, evitando assim, lesões musculares [6].
Considerando a flexibilidade como um fator importante
para o aumento da qualidade de vida e a quantidade dos movimentos, diminuição do risco de lesões, melhora da postura
corporal e o favorecimento de uma maior mobilidade nas
Fisiologia_v4n1.indb 40
atividades diárias e esportivas, este trabalho teve por objetivos
avaliar a flexibilidade antes e após a aplicação de sessões de
alongamento em grupo.
Materiais e método
Foram utilizadas sete voluntárias do sexo feminino, inscritas no PSF (Programa de Saúde da Família) do bairro Morada
do Sol na cidade de Descalvado/SP como sujeitos da pesquisa.
Os indivíduos assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido. Foram excluídos os indivíduos que apresentaram
quadro álgico que impossibilitava a execução do protocolo
de exercícios.
Procedimento
Antes de iniciar as atividades em grupo, cada indivíduo
passou por uma avaliação de flexibilidade (1ª avaliação). Após
10 (2ª avaliação) e 20 (3ª avaliação) sessões de alongamento
foram feitas novas avaliações da flexibilidade. Como método
de avaliação da flexibilidade foi utilizado o teste de sentar e
alcançar, proposto originalmente por Wells & Dillon (1952),
apud Araújo [1], classificado como um método linear. Os
materiais utilizados foram o banco de Wells e a fita métrica.
Nesse método, o indivíduo é orientado a sentar com as pernas
completamente estendidas e os pés ligeiramente afastados e
completamente apoiados contra um anteparo de madeira de,
aproximadamente, 25 cm de altura. Sobre o anteparo, em
ângulo reto, coloca-se uma régua graduada em centímetros.
Muito embora, não conste da descrição original do método,
optamos por manter os pés descalços, para melhor padronização. Pede-se então ao indivíduo, para realizar quatro tentativas
de flexão do tronco, mantendo os joelhos, cotovelos e punhos
em extensão. Na quarta tentativa, o indivíduo deverá manter
por alguns instantes, a posição máxima alcançada com a ponta
dos seus quiridáctilos, para que possa ser feita a largura na
régua. Para tal, considera-se como zero o ponto de contato
dos pés com o anteparo, sendo então possível obter valores
negativos e positivos, quando, respectivamente, as pontas
dos dedos não chegam a alcançar ou ultrapassam o anteparo
(Figura 1).
Figura 1 - Teste do Banco de Wells.
22/11/2007 17:47:59
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
As sessões de alongamento em grupo foram realizadas duas
vezes por semana, com duração de cinqüenta minutos cada
uma e a aplicação dos alongamentos estáticos foi para todos
os segmentos corporais; iniciando-se pela cabeça, membros
superiores, tronco e membros inferiores [7]. Cada exercício
de alongamento era mantido por 60 segundos.
A cada avaliação, os indivíduos realizavam 3 tentativas,
de onde foi retirado uma média. Os resultados obtidos da
1ª, 2ª e 3ª avaliações foram analisados estaticamente por test
T (Student).
Resultados
Os resultados encontrados estão expostos na Tabela I:
Tabela I - Resultados do teste do Banco de Wells na 1ª, 2ª e 3ª
avaliações.
Indivíduos
1
2
3
4
5
6
7
Média
1ª avaliação
14,6
15,3
1,8
20,6
6,3
13,6
7,6
11,4±6,4
2ª avaliação
16,6
16,6
10,0*
19,3
13,0*
15,0
13,3*
14,8±3,0
3ª avaliação
16,3
16,8
9,3*
19,0
16,0*
13,0
16,6*#
15,3±3,2
* - Diferença significante em relação à 1ª avaliação.
# - Diferença significante em relação à 2ª avaliação.
Somente os indivíduos 3, 5 e 7 apresentaram diferenças
estatísticas entre a 1ª e 3ª avaliações quando analisados individualmente. A média do grupo também não foi estatisticamente significante, porém houve um aumento da flexibilidade em
29,8% quando comparadas a 1ª e 2ª avaliações, 34,2% entre
a 1ª e 3ª avaliações e 3,3% entre a 2ª e 3ª avaliações.
Discussão
O alongamento estático é um dos mais eficazes, além de
constar na literatura como o mais seguro [2]. Caromano &
Kerbany encontraram diferenças significantes de aumento da
flexibilidade em um programa individual de treinamento físico para quatro idosos [8]. No presente trabalho, os resultados
demonstraram um aumento da flexibilidade com a utilização
do alongamento estático. Embora tenha existido um aumento
percentual da flexibilidade, não houve diferença estatística
significante entre as médias do grupo. Acreditamos que este
resultado se deve ao fato de que o alongamento tenha sido
em grupo e não de forma individual.
O treino de flexibilidade tem como efeito imediato
aumento na amplitude de movimento pelo decréscimo na
viscoelasticidade muscular [9]. Porém, após um período
de treinamento, o aumento na amplitude de movimento e,
portanto, na flexibilidade, se deve ao ganho de sarcômeros em
Fisiologia_v4n1.indb 41
41
série [10]. O programa de alongamento utilizado neste trabalho teve duração de 10 semanas, ou seja, houve um período
de treinamento relativamente longo. Desta forma, é possível
que o aumento percentual da flexibilidade seja explicado pelo
acréscimo do número de sarcômeros em série.
Alguns autores afirmam que os ganhos obtidos com alongamentos de curta duração são transitórios e atribuídos a uma
folga temporária entre as actinas e miosinas nos sarcômeros.
Já os alongamentos de 20 segundos ou mais trariam ganhos
mais duradouros [5]. Segundo Bandy et al. [11], a duração
do alongamento estático estabelecida entre 30 e 60 segundos é eficiente em aumentar a flexibilidade. No programa
de alongamento utilizado neste trabalho, cada exercício de
alongamento era sustentado por 60 segundos. Desta forma, o
tempo utilizado foi eficaz para alcançar o objetivo proposto,
ou seja, ganho de flexibilidade.
Funções músculo-esqueléticas debilitadas, especialmente fraqueza, inflexibilidade e dor, podem causar incapacidade progressiva, provocando limitação na mobilidade
e conseqüente diminuição na qualidade de vida [4]. Neste
trabalho, a qualidade de vida esteve intimamente relacionada
com os ganhos de flexibilidade, pois as integrantes do grupo
relataram que com as sessões de alongamento houve um
aumento do bem estar físico e uma maior motivação para
execução das tarefas diárias (todas as componentes do grupo
eram do lar). Todas relataram que suas atividades diárias se
tornaram mais prazerosas e menos cansativas (dados não
demonstrados neste trabalho).
Levando em conta que o homem contemporâneo utiliza-se
cada vez menos de suas potencialidades corporais e de que o
baixo nível de atividade física é fator decisivo no desenvolvimento de doenças degenerativas, existe a necessidade de se
promover mudanças no seu estilo de vida, levando-o a incorporar a prática de atividades físicas ao seu cotidiano, mesmo
porque a atividade física é um fator preponderante para a manutenção do tônus muscular e, dessa forma, da manutenção
de uma boa postura e uma boa flexibilidade [1]. Sendo assim,
a formação de grupos de tratamento deve ser incentivada por
profissionais da saúde, assim como a prescrição dos exercícios
de flexibilidade, necessários para aquisição de hábitos de uma
boa postura e melhora da consciência corporal.
Conclusão
Embora os resultados encontrados não tenham sido estatisticamente significantes em todos os indivíduos estudados,
o programa de alongamento estático desenvolvido em grupo
foi eficaz em aumentar o percentual de flexibilidade das
mulheres em questão.
Referências
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22/11/2007 17:48:00
42
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
2. Alter MJ. Conceitos de alongamento. In: Ciência da flexibilidade. 2a ed. Porto Alegre: Artmed; 1999.p.166-70.
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Ghorayeb N, Barros Neto TL. O Exercício. São Paulo: Atheneu;
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participantes de programa de exercício supervisionado. Revista
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fundamentos e técnicas. São Paulo: Manole; 1998. p.141-65.
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Fisiologia_v4n1.indb 42
Estático nos músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias.
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2a ed. São Paulo: Maltese; 1991. p. 28-175.
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saudáveis. Rev Fisioter Univ USP 2001;8(2):72-80.
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mecânica. Rev Fisioter Univ USP 1995;2(2):2-8.
10. Matano T, Tamai K, Kurokawa T. Adaptation of skeletal muscle
in limb leghtening: a light diffraction study on the sarcomere
length in situ. J Orthop Res 1994;12:193-96.
11. Bandy WD, Irion JM, Briggler M. The effect of time and
frequency of static stretching on flexibility of the hamstring
muscles. Phys Ther 1997;77:1090-96.
22/11/2007 17:48:00
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
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Revisão
Questionário de Prontidão para
Atividade Física (PAR-Q)
Physical Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q)
Leonardo Gomes de Oliveira Luz*, Paulo de Tarso Veras Farinatti**
*Laboratório de Atividades Físicas e Promoção da Saúde (LABSAU) – Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Escola de Educação Física do Centro Universitário da Cidade (UniverCidade), Programa de
Pós-graduação em Educação Física da Universidade Gama Filho,** Laboratório Atividades Físicas e Promoção da Saúde (LABSAU)
– Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Resumo
Abstract
A avaliação do estado de prontidão para realizar exercícios físicos
é um passo importante para a sua prescrição. Na impossibilidade
de realizar avaliações clínicas, a utilização de screenings rápidos
pode ser alternativa para a detecção daqueles que necessitam de
maior atenção antes de se submeterem a um programa regular ou
a um aumento da intensidade de trabalho. Para os devidos fins, o
Physical Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q) é comumente
indicado pela literatura. A presente revisão da literatura teve como
objetivo identificar o estado da produção científica existente a
respeito do PAR-Q, principalmente no que diz respeito à sua aplicação em populações com idade avançada. O estudo evidenciou
uma fragilidade do instrumento quanto à sua acurácia, devido à
falta de estudos que tenham verificado sua sensibilidade (SE) e
especificidade (ES). Desde o seu desenvolvimento na década de 70,
poucos estudos objetivaram identificar a aplicabilidade do PAR-Q.
Os poucos trabalhos encontrados, que procuraram avaliar tais variáveis, obtiveram resultados de SE e de ES influenciados pela forma
como compreendiam e calcularam seus valores. No caso das pessoas
idosas, as informações disponíveis sobre a acurácia do instrumento
são, francamente, insuficientes.
The physical activity readiness assessment is an important step
before the exercise prescription. The use of fast screenings, as the
Physical Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q), can be an
alternative for this assessment, especially when it is not possible to
carry out clinical examinations. However, its accuracy was not well
established in elderly with different educational status. This study
aimed to search the available scientific data regarding PAR-Q, mainly
related to its application in older adults. The literature review showed
that the questionnaire’s accuracy - sensitivity (SE), specificity (SP)
- has not been enough tested. Since its development in the 70’s,
few studies had aimed to identify the applicability of the PAR-Q
in different samples and its SE and SP.
Key-words: questionnaire, screening, exercise.
Palavras-chaves: questionário, screening e exercício físico.
Recebido 12 de abril de 2005; aceito 25 de julho de 2005.
Endereço para correspondência: Leonardo Gomes de Oliveira Luz, Rua Padre Ildefonso Penalba 45/306, Méier, 20775-020, Rio de
Janeiro RJ, E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Introdução
Desenvolvimento e características do PAR-Q
É bem aceita a importância da prática de exercícios físicos
regulares para a saúde da população em geral. Porém, ingressar
em programas de atividades físicas sem uma avaliação prévia é uma conduta que pode trazer riscos ao praticante. De
acordo com o American College of Sports Medicine (ACSM)
[1], previamente ao início de um programa de exercícios
físicos, recomenda-se a realização de um exame médico,
principalmente na presença de doenças (cardíaca, pulmonar
ou metabólica), quando a intensidade do exercício for maior
que 60% da capacidade aeróbia máxima e em casos da existência de dois ou mais fatores de risco para acometimentos
cardiovasculares ou metabólicos (Quadro 1). Nos casos em
que o esforço não for maior que 60% da capacidade aeróbia
máxima, se o praticante não possui nenhum sintoma de doença e também não tem mais do que um fator de risco para
doença coronariana, o exame médico pré-exercício poderia
ser dispensado.
O PAR-Q foi desenvolvido na década de 1970 como
um método econômico de identificar pessoas para quem um
aumento da atividade física poderia ser contra-indicado [10].
Na verdade, o PAR-Q é uma versão mais breve do screening
utilizado na bateria de avaliação e prescrição de exercícios
do Canadian Home Fitness. Originalmente, tratava-se de um
questionário composto por 19 itens, elaborado pelo Ministério da Saúde da província canadense de British Columbia, que
logo assumiu um formato mais simplificado após comparação
de suas respostas com um exame médico, que era composto
por mensuração da pressão arterial em repouso, eletrocardiograma de repouso e em esforço físico [10]. Nesse novo
formato, o questionário passou a englobar as sete perguntas
consideradas mais efetivas na detecção de contra-indicações
médicas ao exercício físico. A partir daí, o PAR-Q foi endossado pelo Fitness Canada e usado em conjunto com o Canadian Home Fitness Test e o Canadian Standard Test of Fitness.
Sua utilização não se limitou apenas ao Canadá, passando a
ser adotado em vários países, incluindo os Estados Unidos,
como um screening pré-exercício usado não somente como
um teste preliminar para a prática de exercícios, mas também
como forma de identificar riscos para ingressar em programas
individuais e coletivos de atividades físicas [11].
Cardinal e colaboradores [12] mencionavam que, desde sua
introdução até aquele momento, o PAR-Q havia sido ministrado
a mais de um milhão de pessoas, que não apresentaram nenhuma
complicação cardiovascular com a prática de atividades físicas.
Por este motivo, desde 1991, o ACSM [13] recomenda o PAR-Q
como uma avaliação prévia segura para adultos (homens < 40
e mulheres < 50 anos) que desejariam começar um programa
de exercícios físicos de intensidade baixa a moderada. A versão
original do PAR-Q é apresentada no Quadro 2.
Quadro 1 - Indicações do ACSM (2000) para exame médico
pré-exercício.
Variável
Existência de
doença
Sintomas ou sinais
Indicação para exame médico
Sim, se cardíaca, pulmonar ou metabólica.
Sim, se cardíaca, pulmonar ou sugerindo
doença metabólica.
Fator de risco para Sim, se dois ou mais fatores.
doença cardíaca
Exercício intenso
Sim, se homens > 40 anos ou mulheres
> 50 anos.
Nestes casos, a utilização de screenings com base em
questionários pode ser uma ferramenta útil. Um dos testes
mais recomendados para isso é o Physical Activity Readiness
Questionnaire (PAR-Q) e sua versão revisada (rPAR-Q) [24]. Mas, em que pesem essas indicações favoráveis, algumas
lacunas persistem no que toca ao potencial de aplicação
do PAR-Q e do rPAR-Q. Estudos de validação são ainda
mais raros, principalmente em populações de características
diferentes daquelas dos países nos quais o questionário foi
proposto, como as nações em desenvolvimento. No Brasil,
por exemplo, os poucos estudos existentes apresentam-se na
forma de comunicações livres em congressos [5-9].
Desse modo, pode-se dizer que ainda há razoável espaço
para investimento em pesquisas que levantem a adequação da
aplicação do PAR-Q, bem como de sua versão revisada, em
situações específicas. Esta é a preocupação da presente revisão
da literatura. O objetivo a que se propôs o texto foi descrever
com detalhes o processo de desenvolvimento do questionário,
a forma de aplicá-lo e as possibilidades de interpretação de suas
informações, assim como discutir as evidências disponíveis
sobre sua validade e limitações de sua utilização.
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Quadro 2- Questões usadas no PAR-Q original.
1. O seu médico já lhe disse alguma vez que você apresenta
um problema cardíaco? ( ) Sim ( ) Não
2. Você apresenta dores no peito com freqüência?
( ) Sim ( ) Não
3. Você apresenta episódios freqüentes de tonteira ou sensação de desmaio? ( ) Sim ( ) Não
4. Seu médico alguma vez já lhe disse que sua pressão sanguínea era muito alta? ( ) Sim ( ) Não
5. Seu médico alguma vez já lhe disse que você apresenta
um problema ósseo ou articular, como uma artrite, que tenha
sido agravado pela prática de exercícios, ou que possa ser
por eles agravado? ( ) Sim ( ) Não
6. Existe alguma boa razão física, não mencionada aqui,
para que você não siga um programa de atividade física, se
desejar fazê-lo? ( )Sim ( ) Não
7. Você tem mais de 65 anos e não está acostumado a se
exercitar vigorosamente? ( ) Sim ( ) Não
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Para autores como Pollock e Wilmore [4] ou agências
como a Canadian Society for Exercise Physiology [14], o
PAR-Q foi elaborado a fim de oferecer uma alternativa para
o indivíduo ajudar-se no processo de avaliação pré-exercício.
Assim, as perguntas do questionário devem ser respondidas
pelo próprio sujeito. O indivíduo deve ler as questões com
atenção e marcar SIM ou NÃO nos parênteses correspondentes às respostas [14]. No caso de SIM a uma ou mais
perguntas, o questionário é considerado positivo e aconselhase que o avaliado procure um médico antes de intensificar
suas atividades físicas e/ou de ingressar em um programa de
condicionamento físico. No caso de as respostas serem todas
negativas, o questionário é classificado como negativo e o
indivíduo pode acrescentar à sua vida uma atividade física
cuja intensidade não deveria ultrapassar 60% da capacidade
aeróbia máxima.
Acurácia do PAR-Q - sensibilidade e especificidade
Quando as respostas do PAR-Q são comparadas com
o laudo de exames clínicos, está-se avaliando se o questionário foi eficiente ou não. Quando há uma concordância
entre os resultados do questionário e do exame médico,
diz-se que o PAR-Q foi verdadeiro. Ao contrário, se não
houver tal relação, diz-se que o PAR-Q foi falso. O PAR-Q
é composto por sete perguntas que seriam, em princípio,
100% sensíveis e aproximadamente 80% específicas para
detecção de contra-indicações médicas [12]. A sensibilidade
(SE) do teste pode ser entendida como o número de sujeitos
para os quais o questionário revela-se verdadeiro-positivo
(concordância de contra-indicação médica e do PAR-Q),
dividido pelo número de sujeitos que mostraram uma característica adversa no teste clínico. Logo, a SE diz respeito
ao potencial do questionário em apontar, com pertinência,
casos em que haveria contra-indicação real à prática de
atividades físicas. Já a especificidade (ES) diz respeito ao
total de questionários verdadeiro-negativos, dividido pelo
número de casos nos quais o exame clínico não encontrou
nenhuma restrição para praticar atividade física. Em outras
palavras, a ES reflete a capacidade do instrumento em
identificar corretamente os casos em que o questionário foi
classificado como negativo.
Shephard e colaboradores [15] estudaram a SE e a ES do
PAR-Q em 1130 sujeitos, num estudo que primeiro avaliou
clinicamente a amostra e depois a submeteu ao questionário.
O teste clínico considerou oito sujeitos como inaptos à prática de exercícios. Após a realização do PAR-Q, constatou-se
que todos os indivíduos rejeitados pelo exame médico foram
identificados pelo questionário, obtendo-se, neste caso, uma
SE de 100%. No entanto, além dos sujeitos que tiveram o
questionário verdadeiro-positivo, outros 209 tiveram o questionário classificado como falso-positivo, o que contribuiu
para diminuir a ES do PAR-Q.
Fisiologia_v4n1.indb 45
45
Os estudos nacionais envolvendo a identificação da SE
e ES do PAR-Q em suas diferentes versões adotaram outras
definições para estes conceitos [5-9]. Nestas pesquisas, a SE foi
encarada como o índice de concordância entre os resultados
do teste clínico e do questionário, envolvendo tanto os questionários positivos quanto os questionários negativos. Na verdade, a SE era obtida dividindo-se o número de questionários
verdadeiros pelo número total de questionários. Por exemplo,
uma SE de 90% significa que 90 em cada 100 questionários
tiveram o resultado similar ao do exame clínico. Para o cálculo
da ES foram delineados três parâmetros, estipulados em função das variáveis ‘diagnosticadas’ pelo questionário, aos quais
se convencionou chamar de: a) especificidade cardiovascular;
b) especificidade ósteo-mio-articular; c) especificidade para
outros problemas, na qual estavam inseridas particularidades
não associadas aos itens anteriores. Quando houvesse uma
relação entre o motivo da exclusão do exame clínico e a resposta positiva do questionário, o questionário era considerado
específico (Quadro 3).
Quadro 3 - Especificidade das questões do PAR-Q por Farinatti,
Monteiro, 1996.
1
2
3
4
5
6
7
O seu médico já lhe disse alguma
vez que você apresenta um problema cardíaco?
Você apresenta dores no peito com
freqüência?
Você apresenta episódios freqüentes
de tonteira ou sensação de desmaio?
Seu médico alguma vez já lhe disse
que sua pressão sanguínea era
muito alta?
Seu médico alguma vez já lhe disse
que você apresenta um problema
ósseo ou articular, como uma artrite,
que tenha sido agravado pela prática de exercícios, ou que possa ser
por eles agravado?
Existe alguma boa razão física, não
mencionada aqui, para que você
não siga um programa de atividade
física, se desejar fazê-lo?
Você tem mais de 65 anos e não
está acostumado a se exercitar
vigorosamente?
Especificidade
cardiovascular
Especificidade
cardiovascular
Especificidade
cardiovascular
Especificidade
cardiovascular
Especificidade osteo-mio-articular
Especificidade
para outros problemas
Especificidade
para outros problemas
Farinatti e Monteiro [7] estudaram a SE e a ES do PARQ em oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB). Para tanto,
foram distribuídos 109 questionários para indivíduos do sexo
masculino, com média de idade de 33,8 anos, que realizavam
cursos na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica. Posteriormente, os autores selecionaram 20 questionários
por randomização simples, sendo 10 positivos e 10 negativos.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Dos 20 questionários testados, apenas um não se mostrou
sensível, o mesmo ocorrendo para os parâmetros de ES. Em
outro estudo publicado por Monteiro e colaboradores [6],
também conduzido com oficiais da FAB, após a comparação
das respostas dos questionários com os laudos dos exames
clínicos, a SE relatada foi de 83,3%. A ES também se mostrou
elevada, apresentando os seguintes valores: 83,3% (especificidade cardiovascular e especificidade para outros problemas)
e 94,4% (especificidade osteo-mio-articular).
Posteriormente, Monteiro e colaboradores [5] realizaram
mais uma verificação da SE e da ES do PAR-Q com militares
da FAB (37 ± 5 anos). Neste estudo, foram distribuídos 255
questionários e escolhidos de forma randômica 55 classificados como negativos e 43 como positivos. Mais uma vez os
resultados foram satisfatórios, sendo 92,9% para SE e um
total de 89,8% para ES.
Em suma, há evidências de que o PAR-Q se invista de
SE e ES. No entanto, percebe-se, igualmente, uma certa carência de pesquisas que tivessem reproduzido tais indicações
em contextos populacionais diversificados, tanto nos países
desenvolvidos, quanto naqueles em desenvolvimento. Isso
seria importante, quando se sabe que as disparidades sócioeconômicas e educacionais nas populações desses países são
sensivelmente maiores do que o encontrado nos países desenvolvidos. Uma outra lacuna existente na literatura diz respeito
ao que se entende por SE e ES, tendo em vista as divergências
ocorridas no cálculo destes índices quando se comparam os
estudos internacionais com os publicados no Brasil, que são
extremamente raros.
Desenvolvimento do rPAR-Q
Como visto, o PAR-Q vem sendo utilizado na avaliação
prévia a programas de exercícios físicos, sem que eventos
adversos significativos fossem constatados. No entanto, um
aspecto chamava a atenção: de forma geral, aproximadamente
20% dos indivíduos adultos pareciam responder positivamente a uma ou mais questões do questionário, mesmo sem possuir nenhum comprometimento que os impedisse de começar
a prática de exercícios físicos [15]. Ou seja, a versão original
do PAR-Q estava associada a uma freqüência importante de
resultados falso-positivos.
Esses resultados mostravam que o questionário positivo
estava excluindo desnecessariamente pessoas da prática de
atividades físicas ou, quando menos, induzindo-as a um exame
médico que poderia ser dispensado. Buscando o aperfeiçoamento do instrumento, Shephard et al. [16] realizaram uma
primeira revisão das questões do PAR-Q, elaborando-as de
maneira a elevar a ES do questionário, sem sacrifício de sua
boa SE (Quadro 4). Tentava-se, com isso, diminuir a quantidade de falso-positivos, principalmente pela flexibilização
de alguns pontos, como o que dizia respeito à idade dos
respondentes na Questão 7.
Fisiologia_v4n1.indb 46
Quadro 4 - Versão revisada do PAR-Q (rPAR-Q).
1.
Algum médico já disse que você possui algum problema de coração e que só deveria realizar atividade
física supervisionada por profissionais de saúde?
2.
Você sente dores no peito quando pratica atividade
física?
3.
No ultimo mês, você sentiu dores no peito quando
praticava atividade física?
4.
Você apresenta desequilíbrio devido à tontura e/ou
perda de consciência?
5.
Você possui algum problema ósseo ou articular que
poderia ser piorado pela atividade física?
6.
Você toma atualmente algum medicamento para
pressão arterial e/ou problema de coração?
7.
Sabe de alguma outra razão pela qual você não
deve realizar atividade física?
(Shephard, et al., 1991)
No ano seguinte, a versão revisada, assim como o paralelo
com a versão original, foi publicada em artigo de Thomas et al.
[17] para cruzamento dos dois formatos (Quadro 5). Naquele
estudo, foram analisadas as respostas de 399 indivíduos, de
ambos os sexos, com uma média de idade de 33 ± 11 anos,
aos questionários PAR-Q e rPAR-Q. A ordem de preenchimento dos questionários foi estabelecida de forma randômica.
Primeiro, uma parte do grupo respondeu às perguntas do
PAR-Q e a outra do rPAR-Q. Depois, a ordem das respostas
invertia-se. Os resultados mostraram que houve uma redução
significativa de 68 para 48 indivíduos excluídos entre PAR-Q
e rPAR-Q, respectivamente (p < 0,05).
Shephard et al. [15] identificaram que as maiores incidências de respostas positivas, no questionário original,
eram nas Questões 4 e 5. Ou seja, uma questão que diz
respeito ao sistema cardiovascular (4) e uma relacionada ao
componente osteo-mio-articular (5). Já Thomas et al. [17],
comparando ambas as versões do PAR-Q, relataram que o
maior erro relacionado às exclusões do instrumento original
estava associado à questão que remetia à pressão arterial. Em
se tratando da população idosa, Shephard et al.[16] mencionaram que os sujeitos que foram excluídos pelas questões 2,
4 e 5 no questionário original e não o foram no instrumento
revisado, apresentavam faixa etária acima da média da amostra do estudo. Tal resultado confirmou a importância de
se reverem tais perguntas, ainda mais quando se tratava de
indivíduos idosos.
Neste sentido, Cardinal et al. [12] também compararam
o número de exclusões resultantes do PAR-Q e do rPAR-Q.
Porém, a amostra estudada foi de 193 idosos, com idades
entre 60 a 69 anos (65 ± 3 anos), voluntários do Community
Nutrition Center. A ordem de resposta aos questionários
também foi estipulada de forma randômica, com metade da
amostra respondendo a um dos questionários no primeiro dia
e ao outro no segundo, o mesmo acontecendo com a outra
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
metade. Os autores identificaram uma redução significativa
de exclusão (p < 0,05) quando comparados os resultados do
PAR-Q e do rPAR-Q, respectivamente, de 146 para 128 casos
(75,7% para 66,3%) e sugeriram que, embora haja resultados
que indiquem uma diferença entre o número de questionários falso-positivos do PAR-Q e de sua versão revisada, mais
estudos seriam fundamentais para se ratificar esta tendência,
principalmente em se tratando do público idoso.
Quadro 5 - Paralelo da versão original com a revisada do PAR-Q.
1. Algum médico já disse
que você possui algum
1. O seu médico já lhe disse
problema de coração e que
alguma vez que você apresenta
só deveria realizar atividade
um problema cardíaco?
física supervisionada por
profissionais de saúde?
2. Você sente dores no peito
2. Você apresenta dores no peiquando pratica atividade
to com freqüência?
física?
3. Você apresenta episódios
4. Você apresenta desequifreqüentes de tonteira ou sensa- líbrio devido à tontura e/ou
ção de desmaio?
perda de consciência?
6. Você toma atualmente
4. Seu médico alguma vez
algum medicamento para
já lhe disse que sua pressão
pressão arterial e/ou problesanguínea era muito alta?
ma de coração?
5. Seu médico alguma vez já
lhe disse que você apresenta
5. Você possui algum
um problema ósseo ou articuproblema ósseo ou articular
lar, como uma artrite, que teque poderia ser piorado
nha sido agravado pela prática
pela atividade física?
de exercícios, ou que possa ser
por eles agravado?
6. Existe alguma boa razão
física, não mencionada aqui,
7. Sabe de alguma outra rapara que você não siga um
zão pela qual você não deve
programa de atividade física,
realizar atividade física?
se desejar fazê-lo?
7. Você tem mais de 65 anos
e não está acostumado a se
Sem questão associada
exercitar vigorosamente?
3. No ultimo mês, você senSem questão associada
tiu dores no peito quando
praticava atividade física?
(Thomas et. al., 1992)
Validade do instrumento
A quantidade de pesquisas envolvendo a verificação da
aplicabilidade das versões do PAR-Q, traduzida pela determinação da SE e ES, ainda é pequena, indicando um quadro
de inconsistência quanto à possibilidade de aplicação universal do instrumento. De fato, a SE e a ES do PAR-Q foram
medidas apenas no texto de Shephard et al.[15] e o que se
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47
pode identificar, a partir de então, é uma busca na literatura
para reduzir o contingente de questionários falso-positivos
[12,15,17]. Isso é ainda mais problemático quando se trata
de grupos oriundos de países em desenvolvimento ou com
características especiais, como é o caso das pessoas idosas. No
caso particular do Brasil, além de serem poucos, os estudos
disponíveis encontram-se principalmente sob a forma de
resumos para congressos científicos. Além disso, SE e ES
são determinadas a partir de premissas diferentes daquelas
adotadas nos estudos publicados em outros países.
Deduz-se que a disponibilidade de estudos de validação
do questionário (PAR-Q ou rPAR-Q) em diferentes contextos
populacionais é pequena, senão inexistente. Por outro lado,
sabe-se que vários fatores podem influenciar na precisão das
respostas a instrumentos auto-referidos. Quando se trata de
indivíduos com mais idade, essas limitações assumem proporções ainda maiores, em virtude de diversos aspectos, dentre
os quais alguns podem ser destacados.
Em primeiro lugar, as condições educacionais e sócioeconômicas têm sido apontadas como intervenientes nas
respostas, influenciando a qualidade da informação [18,19].
Assim, os questionários deveriam ter seu nível de complexidade adequado à população que se deseja observar. Independentemente do nível de escolaridade ou poder aquisitivo, a
elaboração dos questionários deveria considerar diferenças
culturais importantes, ligadas ao fato que existe uma subcultura específica aos idosos, independentemente da região
em que vivem.
Outra variável que deveria ser levada em conta é a possibilidade de os idosos exibirem condições patológicas que
dificultam a compreensão e resposta ao questionário, por
exemplo, senilidade e deficiência visual. As entrevistas, portanto, precisariam ser adaptadas, não necessariamente valendo-se
de questionários auto-referidos. Em muitos casos, além disso,
deve-se notar que questionários auto-respondidos pelos idosos
podem ter suas respostas influenciadas por terceiros, como
os membros da família [20]. Nenhum destes aspectos teve
sua influência convenientemente apreciada em estudos de
validação do PAR-Q, em quaisquer de suas versões.
Conclusão
O PAR-Q e sua versão revisada são comumente indicados
como instrumentos para avaliar pessoas que ingressam em
programas de exercícios físicos. Em que pesem essas indicações, parece existir uma lacuna na literatura quanto à sua
acurácia, devido à falta de estudos que tenham verificado sua
SE e ES. Desde o seu desenvolvimento na década de 1970,
até o presente momento, poucos estudos objetivaram identificar a aplicabilidade do PAR-Q e do rPAR-Q para diferentes
tipos de população. Os poucos trabalhos encontrados, que
procuraram avaliar tais variáveis, obtiveram resultados de
SE e de ES influenciados pela forma como compreendiam
e calcularam seus índices. No caso das pessoas idosas, as in-
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
formações disponíveis sobre a validade do instrumento são,
francamente, insuficientes.
Torna-se evidente que o instrumento, apesar de ser freqüentemente indicado como screening antes da participação
de atividades físicas moderadas, pode apresentar falhas que
colocariam em risco seu uso com essa finalidade. Desse
modo, mais estudos que objetivem a verificação da SE e ES
do PAR-Q e do rPAR-Q deveriam ser realizados, envolvendo
diferentes grupos populacionais e contextos sócio-econômicos-culturais. O investimento em pesquisas nessa direção é
importante para que se obtenham resultados que permitam
pensar na universalização da recomendação do questionário
como parte da avaliação de indivíduos que desejam iniciar
um programa de exercícios físicos.
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Revisão
Hipertensão arterial: uma abordagem direcionada aos
efeitos do treinamento, mecanismos hipotensivos e
respostas a programas de exercícios
Arterial hypertension: effects of physical training, hypotensive
mechanisms and applicability of exercise programs
Kalline Russo*, Walace Monteiro**
*Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), **Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Programa de Pós-graduação em Ciências da Atividade Física - Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO)
Resumo
Abstract
A Hipertensão Arterial (HA) é uma condição multifatorial,
associada a uma pressão arterial (PA) maior ou igual a 140/90
mmHg ou ao uso de medicamentos anti-hipertensivos. No Brasil,
estudos epidemiológicos estimam uma prevalência da HA em
torno de 40% da população adulta com mais de 40 anos. Uma das
principais formas de prevenção e tratamento da HA consiste nas
modificações do estilo de vida. Dentre as modificações, destaca-se
a prática regular de atividade física. Desta forma, os objetivos do
presente artigo são: a) revisar os efeitos do treinamento físico na
PA; b) apresentar os potenciais mecanismos hipotensivos como
resposta ao exercício; c) apresentar e discutir as diferentes estratégias
de atividades físicas envolvendo programas formais e não formais de
prescrição de exercício. O primeiro objetivo aborda os efeitos agudos
e crônicos das diferentes formas de treinamento (aeróbio, de força
e flexibilidade), assim como a influência das diferentes variáveis de
prescrição nas respostas da PA. O segundo objetivo apresenta os
principais mecanismos neuro-humorais e estruturais que tentam
explicar a hipotensão como resposta à prática do exercício. Quanto
ao enfoque do terceiro objetivo, são discutidas a aplicabilidade,
vantagens e desvantagens de programas formais e não-formais de
prescrição de exercícios.
The arterial hypertension (HA) is a multifactorial condition
associated with blood pressure (BP) equal or higher than 140/90
mmHg or with the anti-hypertensive drugs. Epidemiological data
estimate that 40% of the Brazilian adult population are older than
40 yrs. One of the alternative interventions to prevent and treat
HA is the regular physical activity. Thus the purposes of the present paper are: a) to review the effects of physical training on the
HA; b) to describe the main hypotensive mechanisms associated
with the exercise; c) to present and discuss the different strategies
to prescribe physical activities for hypertensive subjects, especially
supervised and non-supervised programs. The first objective focuses
the acute and chronic effects of different training programs (aerobic,
strength and flexibility), as well the influence of the manipulation
of different prescription variables on BP responses. The second
purpose presents the neuro-humoral mechanisms that explain the
hypotension as consequence of regular exercise. The third purpose
discusses the applicability, advantages and limitations of supervised
and non-supervised exercise programs.
Key-words: hypertension, exercise, hypotension, cardiovascular
physiology, physical activity.
Palavras-chave: hipertensão, exercício, hipotensão, fisiologia
cardiovascular, atividade física.
Recebido 20 de outubro de 2005; aceito 25 de novembro de 2005.
Endereço para correspondência: Walace Monteiro, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524, 8º andar, sala 8133, Bloco F. Maracanã, 20599-900 Rio de Janeiro RJ,
E-mail: [email protected]
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Introdução
A Hipertensão Arterial (HA) é uma condição multifatorial, associada a uma pressão arterial (PA) maior ou igual a
140/90 mmHg ou ao uso de medicamentos anti-hipertensivos
[1,2], apresentando dois estágios em virtude dos níveis de
pressão sistólica e diastólica do indivíduo. Para adultos de
dezoito anos ou mais, que não estão tomando medicamentos
ou tenham doença aguda, esses estágios são caracterizados da
seguinte maneira: o estágio 1, (PA sistólica de 140 mmHg a
159 mmHg e PA diastólica de 90 mmHg a 99 mmHg) e o
estágio 2 (PA sistólica ≥ 160 mmHg e PA diastólica ≥ 100
mmhg3. Somado a isso, devido à incidência duas vezes maior
do risco de desenvolver HA em pessoas com PA sistólica de
120 mmHg a 139 mmHg e PA diastólica de 80 mmHg a
89 mmHg, uma nova categoria foi adotada para pacientes
que apresentam esses valores de PA: a pré-hipertensão. Esta
categoria foi introduzida reconhecendo a relação entre a PA
e o risco de doenças cardiovasculares, sinalizando ainda, a
necessidade de crescimento de educação para a saúde.
No Brasil, estudos epidemiológicos estimam prevalência
em torno de 40% da população adulta com mais de 40 anos.
Mas como o diagnóstico clínico requer avaliações sucessivas
em diferentes ocasiões, a prevalência estimada da HA pode
reduzir-se em 30% [4]. Além disso, a HA é um dos principais
agravos à saúde no Brasil, pois eleva o custo médico-social,
principalmente pelas suas complicações, como as doenças cérebro-vascular, arterial coronariana e vascular de extremidades,
além das insuficiências cardíaca e renal [5].
Diante desse quadro, as estratégias de prevenção são direcionadas para prevenir o desenvolvimento da hipertensão,
ou a mudança de estágio da doença, como também o agravamento das condições de saúde do paciente por complicações
facilitadas pela pressão arterial elevada. Autores como Appel
et al. [6] e He, Whelton [7], destacam que as modificações
comportamentais reduzem a morbi-mortalidade e o ônus
causado pela HA e doenças a ela relacionadas, pois, incidem
na redução de outros fatores de riscos para doenças cardiovasculares. Neste contexto, a adoção de um estilo de vida saudável é essencial na prevenção da HA. Dentre as modificações
preconizadas no estilo de vida, destaca-se a prática sistemática
de atividade física [8,9]. Algumas modificações no estilo de
vida apresentam custo mínimo, o que viabiliza sua realização
em grande escala. Por essas razões, algumas entidades como
a Organização Mundial da Saúde, a Sociedade Européia de
Hipertensão e o Programa Nacional de Educação para Pressão
Arterial Elevada, recomendam a atividade física regular para
prevenção e tratamento da HA [8].
Desta forma, os objetivos do presente artigo são: a) revisar os efeitos do treinamento físico na PA; b) apresentar
os potenciais mecanismos hipotensivos como resposta ao
exercício; c) apresentar e discutir as diferentes estratégias de
atividades físicas envolvendo programas formais e não formais
de prescrição de exercício.
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Exercício físico como estratégia de prevenção e
intervenção
Para facilitar o encadeamento de idéias, optamos por
descrever esta sessão nos seguintes tópicos: exercício físico e
seus efeitos agudos e crônicos na PA e aspectos metodológicos
da prescrição de exercício.
Efeitos agudos e crônicos do exercício na PA
Como resposta aguda ao exercício aeróbio (EA), uma
hipotensão pós-exercício tem sido observada. Essa ocorre
em normotensos, hipertensos, adultos jovens e idosos, com
a maior redução nos indivíduos com HÁ [8]. Além disso,
estudos analisando os efeitos agudos do EA sobre a PA verificaram que as atividades dinâmicas reduzem a PA em pessoas
com hipertensão, por uma maior porção de horas durante o
dia [10]. Quanto aos efeitos da duração do esforço na PA,
alguns estudos têm observado que a duração do exercício
determina a magnitude e a duração da hipotensão pós exercício [11]. Esta hipotensão tem reduzido, em média, a PAS
de 18 a 20 mmHg e a PAD de 7 a 9 mm Hg, em indivíduos
com hipertensão. Nos normotensos, os efeitos reportados
variam de 8 a 10 mmHg e 3 a 5 mm Hg, nas PAS e PAD,
respectivamente, podendo persistir até 13 horas após a sessão
de treinamento [12].
Em relação às respostas crônicas ao EA, foi destacado que
sua prática regular pode reduzir a pressão sistólica/diastólica
em 3/2 mmHg em adultos normotensos [13]. No que diz
respeito à redução da PA em hipertensos, essa redução pode
chegar a 6/7 mmHg, sendo a queda proporcional a PA inicial
[14]. Como visto, os efeitos agudos na PA tendem a apresentar
uma maior magnitude de redução, quando comparados aos
efeitos crônicos ao esforço.
Paffenberger et al. [15] reportaram que exercícios classificados como vigorosos, independentemente do tipo,
continuado por anos após a faculdade, protege contra futura
hipertensão. Haapanen et al. [16] observaram que o total de
atividade física, também independentemente do tipo somada
com a intensidade do esforço, é inversamente associado com
o risco de futura HA em homens de meia idade. Hayashi et
al. [17] em estudo com homens japoneses, reportaram que a
duração da caminhada para o trabalho, adicionada à realização
de atividade física no tempo livre, foi significativamente associada com a redução do risco de hipertensão. Em contraste,
nenhum dos estudos em mulheres observou significativas e
independentes relações entre o nível de atividade física e o
risco para desenvolver a HÁ [16,18,19]. É importante observar, que características diferentes na PA em relação ao gênero
podem ter influenciado nos resultados das pesquisas realizadas
entre homens e mulheres. Segundo Hayes [20], diferenças em
relação ao gênero vêm sendo notadas na fisiologia, genética e
benefícios no tratamento de HA em estudos que incluem mulheres. Legato [21] verificou que mulheres podem tolerar a HA
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
melhor do que homens. Outro fator mais bem tolerado pelas
mulheres é a microalbuminuria, interpretada diferentemente
dos homens. A microalbuminuria representa um dos maiores
fatores de risco para doenças cardiovasculares, associado com
maior risco de mortalidade para hipertensos e principalmente
diabéticos [22]. Por fim, algumas considerações importantes
que diferenciam o tratamento da mulher hipertensa, como
o uso de contraceptivo oral, podem precipitar ou acentuar
o problema, além das alterações hormonais decorrentes da
menopausa [21].
Em relação aos estudos dos efeitos crônicos do EA em
populações da raça negra, poucos são os experimentos que
investigaram os efeitos do exercício na PA. Parece ser aceito
que a atividade física não foi associada com a incidência de
HA em estudos envolvendo negros [19]. As respostas da PA
em população negra também diferem de homens de população branca, sendo encontrados valores de PA superiores
em negros. Além disso, uma maior prevalência de HA e de
complicações cardiovasculares são encontrados em homens
negros, em comparação com os brancos [23].
Quanto à influência do nível de condicionamento e a
incidência de HA, Blair et al. [24], depois de controlar fatores
como idade, gênero, índice de massa corporal e PA, reportaram que os indivíduos com baixos graus de condicionamento
físico têm um maior risco relativo para desenvolver HA,
quando comparado com pessoas bem condicionadas. Assim,
os estudos até agora reportaram que altos níveis de atividade
física, associados ao bom condicionamento aeróbio, associamse com a redução da incidência de HA em homens brancos.
Entretanto, são necessárias mais evidências em relação ao
gênero e as características étnicas, para que se possam tecer
conclusões mais definitivas sobre o assunto [8].
Aspectos metodológicos da prescrição de exercícios e respostas na PA
Nessa sessão serão discutidas as influências da freqüência
semanal, duração, intensidade e tipo de treinamento (aeróbio,
força e flexibilidade) na PA. Forjaz et al. [11], analisaram indivíduos que realizaram duas sessões de exercício (25 e 45 min)
no cicloergômetro em 50% VO2máx, onde a PAS diminuiu
significativamente no pós-exercício, sendo essa queda maior
e mais prolongada após 45 min de exercício. Esses autores
concluíram que o exercício com maior duração provoca hipotensão pós-exercício maior e mais prolongada. Posteriormente,
através de uma meta-análise Fagard et al. [25], defenderam
que uma freqüência de três a cinco dias por semana, com
duração de 30 a 60 min por sessão e intensidade entre 40%
a 50% do VO2máx, parece ser efetivo para a redução da PA.
Contudo, limitadas evidências também sugerem que sete sessões por semana podem ser mais efetivas do que 3 sessões por
semana [26]. Outros autores corroboram com a intensidade
proposta por Fagard, e vão além, destacando que os exercícios
com baixa e moderada intensidade parecem provocar maiores
Fisiologia_v4n1.indb 51
51
reduções da PA [27-29]. Halbert et al. [30] complementam
essas informações observando que, aumentando a intensidade
do exercício para 70% VO2máx e aumentando a freqüência
semanal acima de 3 vezes não tem nenhum impacto adicional
na redução da PA.
Um dos aspectos que podem ter influenciado nas diferenças entre os estudos, pode estar relacionado às diferentes
populações que compuseram as amostras dos estudos, envolvendo indivíduos com distintos graus de condicionamento,
composição corporal, além das diferenças metodológicas
nos treinamentos propostos. Apesar da divergência quanto
à freqüência semanal que provocaria um maior efeito hipotensivo, parece ser lógico assumir que uma margem mínima
situaria em três dias e uma margem ótima de treinamento
deve ser de cinco a sete sessões semanais. Obviamente, os
aspectos clínicos do indivíduo bem como o risco de lesões
impostas pela atividade aeróbia praticada devem ser levados
em conta na escolha da freqüência semanal. Além disso, a
interação duração-intensidade do esforço também deve ser
considerada.
No que concerne aos afeitos agudos do TF na PA, os
resultados das pesquisas parecem ser convergentes. Farinatti
e Assis [31] verificaram as respostas cardiovasculares durante exercícios de força e aeróbio em indivíduos saudáveis.
Realizaram-se testes de força com 1RM, 6RM e 20RM na
cadeira extensora e exercício aeróbio em cicloergômetro na
intensidade de 75 a 80% da FC de reserva. Os dados de PAS
mostraram uma elevação conforme o número de repetições
foi aumentando nos testes de força, o mesmo ocorrendo em
relação à PAD. Quanto à comparação das respostas de PA
obtidas na atividade aeróbia e nos testes de força, com exceção
do trabalho envolvendo 20RM, o trabalho aeróbio exibiu
maiores respostas de PAD. Já a PAS foi superior na atividade
aeróbia do que nos testes de força. Esses dados chamam a
atenção para o fato de que as respostas de PA tendem a ser
menores no TF do que no treinamento aeróbio.
Quanto à influência do número de séries sobre as respostas
da PA, Gotshall et al. [32] analisaram os efeitos de 3 séries
consecutivas de 10 repetições sobre a resposta da PA no exercício leg press. Em conclusão, quanto maior o número de séries
maiores as respostas obtidas para PA. Mais recentemente,
Polito et al.[33] verificaram o comportamento das respostas
cardiovasculares durante 4 séries de 8 repetições máximas
(RM) na extensão unilateral do joelho, realizadas com 1 e
2 minutos de recuperação. No que concerne às respostas de
PA, verificou-se um efeito somativo do número de séries na
PAS e PAD. Quanto à influência dos diferentes intervalos de
recuperação, ao se adotar o período de 2 minutos, a PAS e
PAD atingiram menores valores ao final de cada série de 8 RM,
em relação aos valores obtidos com 1 minuto de intervalo. A
influência do fracionamento das séries através da alternância
de grupamentos musculares requisitados na realização dos
exercícios também vem sendo estudada. Veloso et al. [34]
verificaram as respostas cardiovasculares em diferentes situ-
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
ações de TF para flexão unilateral do quadril e abdução dos
ombros até 90o. Os exercícios foram conduzidos de forma a
manter o mesmo volume de treinamento, variando-se o número de repetições contínuas. Os valores de PA revelaram-se
significativamente maiores na forma contínua de execução, em
comparação com a fracionada. Os autores concluíram que a
forma contínua associou-se a maior sobrecarga cardiovascular,
principalmente devido às respostas de pressão arterial.
A hipotensão pós-exercício com a prática do treinamento
de força também vem sendo estudada. Em estudos realizados
com jovens saudáveis e treinados Polito et al. [35] estudaram
o efeito de duas seqüências de TF realizados sobre intensidades
diferentes, mas com o mesmo volume de treinamento, sobre as
respostas agudas tardias de PAS e PAD. Os autores chegaram
as seguintes conclusões: a) o TF exerceu o efeito hipotensivo
sobre a PA, principalmente sobre a PAS; b) o declínio absoluto
da PAS não foi influenciado pelas diferentes interações de carga
e repetições; c) a magnitude das cargas tendeu a favorecer a
duração da redução da PAS e d) o número de repetições teve
maior repercussão sobre a PAD que sobre a PAS, mas por curto
período de tempo. Posteriormente, Simão et al. [36] também
verificaram os efeitos hipotensivos de diferentes formas de
treinamento. Inicialmente os autores compararam os efeitos do
trabalho conduzido com séries consecutivas para cada exercício
realizado com 6RM e 12 repetições com cargas correspondentes
a 50% de 6RM. Depois foram comparados os efeitos dos trabalhos de 6RM realizados em séries consecutivas com aqueles
obtidos em 12 repetições com cargas correspondentes a 50%
de 6RM, desta vez realizada em forma de circuito. Em conclusão, não foram verificadas diferenças na magnitude do efeito
hipotensor nas diferentes formas de treinamento. Contudo, o
efeito tendeu a perdurar mais no trabalho de maior intensidade
(6RM) e circuito, em comparação ao trabalho de 12 repetições.
Outros estudos também verificaram hipotensão pós-exercício
[37-39]. Em contrapartida, algumas investigações verificaram
apenas discreta hipotensão pós TF. Fisher et al. [40], estudaram mulheres normotensas e hipertensas. Após a realização
de 15 repetições em cinco exercícios conduzidos em circuito,
com carga equivalente a 50% de 1RM, verificou-se redução
significativa somente na PAS. Outros estudos não puderam
demonstrar efeito hipotensivo significativo após o exercício de
força. Focht e Koltyn [41], por exemplo, observaram redução
apenas na PAD 20 minutos após uma seqüência de exercícios
realizada a 50% de 1RM. Os autores não verificaram alterações
no TF realizado na intensidade de trabalho equivalente a 80%
de 1RM.
Em relação à resposta crônica do TF na PA de repouso,
essa é uma questão que merece ser melhor investigada, pois
os resultados das pesquisas são conflitantes. Apesar disso, algumas evidências iniciais sugerem que o TF, em certos casos,
pode exercer um efeito hipotensivo na PA de repouso [42-44].
É importante destacar que mesmo que o efeito não seja estatisticamente significativo, reduções de 3mmHg na PAS pode
ser interessante para reduzir o risco de possíveis complicações
Fisiologia_v4n1.indb 52
cardiovasculares [8,45]. Em interessante meta-análise sobre
os efeitos do TF na PA, Kelley e Kelley [45] concluíram que
o TF pode ser eficaz na redução da PAS e PAD em adultos.
Mesmo nos estudos que não demonstraram redução da PA
com o TF, verificou-se que essa forma de treinamento não traz
como efeito crônico um aumento da PA. Tal fato se mostra
interessante para o aprimoramento da aptidão física em hipertensos, o que justifica sua prática por indivíduos com HA.
Contudo, os autores supracitados alertaram que as pesquisas
necessitam de maior controle envolvendo as amostras, seus
estados clínicos, bem como as características que envolvem o
controle farmacológico dos indivíduos. Além disso, pode-se
acrescentar que as variações das características metodológicas que regem a prescrição do exercício, também, merecem
futuras investigações para que possam tecer conclusões mais
consistentes. Em geral, as considerações metodológicas para a
prescrição do TF em hipertensos envolvem 8 a 12 exercícios,
realizados com 1 a 2 séries, executadas com 8 a 12 repetições
2 a 3 vezes por semana [8,29,46].
No que diz respeito ao exercício de flexibilidade, não há
evidências sobre possíveis influências desse treinamento na
PA. Porém, como qualquer outro componente da aptidão
física, a flexibilidade deve ser treinada, tendo em vista que é
um dos fatores que podem afetar a autonomia do indivíduo
para realização de atividades do cotidiano [47]. Este aspecto
se torna ainda mais importante quando se trata de idosos,
sedentários e obesos. Muitos estudos sugerem métodos específicos com essa finalidade. No entanto, podemos afirmar que
ainda há muitas limitações no conhecimento sobre o assunto.
Ao contrário do treinamento aeróbio, a intensidade, duração
e freqüência dos estímulos no treinamento da flexibilidade
ainda estão longe de serem definidos [48].
Mecanismos potenciais para redução da PA em
resposta a atividade física
Existem diferentes mecanismos que tentam explicar a
hipotensão como resposta à prática do exercício. São eles os
neuro-humorais e os estruturais.
Recentes estudos sugerem que a redução na PA depois de
treinamento aeróbio é mediada pelo decréscimo do débito
cardíaco e/ou da resistência periférica total. Porém, somente
em alguns estudos com idosos, a hipotensão foi relacionada
tanto por aumento da vasodilatação periférica quanto por
diminuição no débito cardíaco [49]. Talvez, esse fato esteja
relacionado às características da mostra, que tende a possuir
uma FC mais baixa, devido ao envelhecimento. Todavia, uma
redução no débito cardíaco não ocorre tipicamente depois de
exercício crônico. Assim, o decréscimo na resistência periférica
total aparece como mecanismo primário para reduzir a PA de
repouso após treinamento [8].
Forjaz et al. [11] concordam com essa afirmação, e relatam
que a redução na resistência vascular pode estar relacionada
à vasodilatação provocada pelo exercício físico, tanto na
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musculatura ativa, como inativa. Essa redução da resistência
vascular, após esforço, é mediada por adaptações neuro-humorais e estruturais. O ACSM [8] destaca que as adaptações
neuro-humorais dizem respeito às adaptações no sistema
nervoso simpático, sistema renina-angiotensina, bem como
nas respostas vasculares. Já em relação às adaptações estruturais, estudos como o de Laughlin et al. [50] sugerem que o
treinamento modifica a estrutura vascular muscular, incluindo
o remodelamento vascular como o aumento da flexibilidade,
aumento da área de passagem do fluxo sangüíneo e/ou diâmetro das artérias e veias, e ainda a angiogênesis.
Elevada atividade do sistema nervoso simpático é um
ponto importante observado na hipertensão essencial [51].
Alguns estudos demonstram que em sujeitos hipertensos a
atividade nervo simpática é mais elevada quando comparada com sujeitos normotensos [18,52,53]. Somado a este
fato, é importante observar que a atividade nervo simpática
e a subseqüente liberação de norepinefrina (NE) media a
vasoconstricção e aumenta a resistência vascular, podendo
ser relacionada à maior resistência vascular observada em
hipertensos. Apesar de limitadas evidências, estudos como
os de Jennings et al. [54], Meredith et al. [55], e Urata et al.
[56] observaram redução da quantidade de NE no plasma
sangüíneo após treinamento aeróbio. Esta constatação foi
relacionada ao decréscimo de sua liberação no plasma e não na
sua remoção, sugerindo menor atividade do sistema nervoso
simpático [55]. Sendo assim, menor quantidade de NE para
as sinapses pode ser um mecanismo facilitador da redução da
resistência vascular após treinamento, e ainda, outros efeitos
associados com a inibição da produção simpática renal podem
ser importantes no decréscimo da PA [8].
As adaptações vasculares também são prováveis contribuintes para diminuição da PA após o treinamento. Alguns
estudos vêm observando que o exercício altera as respostas
vasculares para NE e para endotélio-1, que representam
potentes vasoconstrictores. Um estudo realizado com ratos
hipertensos espontâneos observou que exercícios crônicos
desencadeiam um decréscimo da vasoconstricção por receptores α-adrenérgicos [57]. Além disso, as respostas vasculares
para estimulação dos receptores α-adrenérgicos, pela NE, são
atenuadas depois do treinamento [58,59]. Somado a isso,
Maeda et al. [60] reportaram que o treinamento também
reduz os níveis de endotélio-1 em indivíduos hipertensos
espontâneos. Se para agentes vasoconstrictores o exercício
parece diminuir suas ações, para agentes vasodilatadores como
o óxido-nítrico, o exercício tem demonstrado um aumento da
produção, promovendo a função vasodilatadora em sujeitos
saudáveis [61].
Outro fator importante, associado com a HA, é a hiperinsulinimia e insulino resistência que vem sendo associado
com a ativação do sistema nervoso simpático [62-64]. Devido
ao exercício estimular a sensibilidade à insulina, o esforço
também pode ser um importante mecanismo mediador da
redução da atividade simpática e PA [65].
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Adaptação neuro-humoral, também é encontrada no sistema renina-angiotensina. A angiotensina II é um poderoso
vasoconstrictor e regulador do volume sangüíneo. Reduções
na renina e angiotensina II com treinamento podem ser contribuintes para a redução da PA em normotensos [8]. Níveis
reduzidos de renina e angiotensina II, após o treinamento,
vem sendo reportados [54,66]. Contudo, em sujeitos hipertensos, os exercícios não reduzem consistentemente o plasma
renal [67,68] e os níveis de angiotensina II [69,70]. Assim,
os estudos sugerem que o sistema renina-angiotensina II não
contribui consideravelmente para a redução da PA após o
treinamento [8].
Devido à multifatoriedade dos mecanismos e redundantes
sistemas que contribuem para a redução da PA, conclusões
definitivas sobre a hipotensão pós exercício se fazem difíceis.
Contudo, mesmo sem conclusões definitivas, o fato é que, o
exercício aeróbio desencadeia uma hipotensão pós-exercício,
sendo esta de extrema importância no caso de pessoas com
HA.
Tipos de programas de exercício
Pode-se dizer que a prescrição de atividades físicas para a
prevenção e tratamento da hipertensão pode ser estruturada de
acordo com duas vertentes metodológicas distintas: a) programas de atividades físicas formais ou intra-muros; b) programas
de atividades físicas não formais ou extra-muros [71].
Os programas formais são aqueles onde existe um rígido
acompanhamento dos aspectos metodológicos que regem a
prescrição do exercício, como intensidade e duração do esforço. Neste tipo de programa, as variáveis clínicas e fisiológicas
são mais controladas. Para que tal controle seja alcançado,
é necessária a participação de um profissional especializado
para acompanhar as sessões de treinamento, sendo geralmente
realizados em clínicas e hospitais. Os programas intramuros
apresentam como vantagem a maior monitorização clínica
e funcional durante as sessões. Em contrapartida, tendem a
provocar uma dependência dos indivíduos que a realizam. Já
os programas não formais são aqueles onde a prescrição do
exercício é organizada para levar o indivíduo a uma maior
autonomia. Nesse tipo de programa, abre-se mão de um
controle extremamente apurado em prol de uma maior possibilidade de realização das atividades por parte dos indivíduos.
Os programas extramuros podem ser realizados em locais e
horários que mais se ajustem as características do praticante.
A metodologia de prescrição de exercícios é simples, de modo
que o praticante tenha autonomia para realizar o controle do
treinamento. Os programas não-formais envolvem recursos
humanos e materiais reduzidos, podendo constituir uma
interessante estratégia de saúde pública.
Sendo assim, é possível afirmar que os programas formais
de exercícios seriam aqueles que deram origem à quase totalidade das pesquisas relacionadas à hipertensão e exercício.
Contudo, apesar da vantagem de possuir maior ênfase no
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controle das atividades, geralmente a prática regular do
exercício não é incorporada na vida dos indivíduos quando
recebem alta. Em contrapartida, programas não formais,
apesar do menor controle das atividades, podem favorecer a
adesão dos indivíduos por períodos prolongados de tempo,
demonstrando também um grande potencial a ser explorado
para pesquisas.
Como destacado por Bar-Eli [72], atribuições como liberdade, escolha e responsabilidade sobre a atividade aumentam
o engajamento dos pacientes em programas de atividade física.
Há também, freqüentes relatos que evidenciam ser a falta
de tempo para a realização de exercícios regulares, um dos
principais motivos para a não realização dos exercícios [73].
Programas que permitam certa flexibilidade na escolha do
momento de suas realizações mostram-se eficazes para uma
maior adesão, tendo em vista, que em geral, os indivíduos
têm uma precária organização do tempo [74].
Smith et al. [75] afirmam que a adesão tem se constituído
em motivo de preocupação entre médicos, professores de educação física e outros profissionais da área de saúde. Cox et al.
[76], por sua vez, observam que alguns estudos mostram que
pacientes têm adesão aumentada quando realizam programas
de atividades físicas de leve a moderada intensidade, ou seja,
em uma faixa de conforto. Somado a isto, Farinatti [71] relata
que as evidências de que a intensidade do exercício é um fator
secundário para os efeitos esperados sobre a pressão arterial,
em comparação com a duração e a regularidade de sua prática,
abrem a possibilidade de que se abdique do controle fisiológico
das atividades, em prol de outros objetivos como a adesão.
Biddle e Mutrie [73] reforçam essa idéia, citando que uma
ótima estratégia para uma adesão aumentada dos pacientes
aos programas de treinamento é o automonitoramento.
Um interessante estudo sobre a influência de programas
não formais na aptidão física, PA e variáveis bioquímicas em
pacientes hipertensos foi realizado por Pinto et al. [77] ao
investigar dois programas não-formais de atividade física os
autores observaram que esses exercem efeitos positivos sobre
a condição geral dos pacientes hipertensos. Isso foi observado
principalmente no que diz respeito à composição corporal,
em termos quantitativos e de distribuição regional. No que
diz respeito à aptidão cardiorespiratória e PA, foram pouco
conclusivos, já que houve diferenças significativas no sentido
de melhora, porém não houve um padrão de comportamento
que desse suporte a esses possíveis efeitos.
Posteriormente, Farinatti et al. [48] observaram a influência de quatro meses de um programa domiciliar não-supervisionado (não-formais) de exercícios sobre a PA e aptidão física
em adultos com hipertensão estágios I e II. Foram observados
dois grupos: experimental e controle, compostos por indivíduos de ambos os sexos. O grupo experimental submeteu-se
a um programa domiciliar de exercícios, com atividades
fundamentalmente aeróbias (60-80% da freqüência cardíaca
máxima estimada para a idade, 30 minutos de caminhadas
no mínimo três vezes por semana), além de exercícios de
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flexibilidade. Orientações sobre a ficha de controle e variáveis
intervenientes ao treinamento eram dadas a cada reavaliação.
Os pacientes foram acompanhados por quatro meses, com
reavaliações que se dava a cada dois meses. Em conclusão,
programas domiciliares não supervisionados de exercícios,
mesmo em curto prazo, podem exercer efeito positivo sobre
a pressão arterial e aptidão física de pacientes hipertensos.
Apesar de alguns estudos demonstrarem que é possível
obter efeitos positivos com programas não-formais de exercícios, futuras pesquisas necessitam ser desenvolvidas para
avaliar os efeitos dessas intervenções nas variáveis de aptidão
física e PA de hipertensos. Um desafio para a saúde pública
é fazer com que o exercício seja praticado em grande escala.
Nesse sentido, programas não-formais por sua fácil aplicação
e baixo custo, emergem como uma interessante estratégia de
prevenção e tratamento da HA.
Conclusão
A prática de exercícios constitui uma importante estratégia
na prevenção e tratamento da HA. Ela é uma das principais
modificações de estilo de vida que contribui para reduzir diversos outros fatores de risco associados às doenças cardiovasculares. Além disso, níveis de condicionamento mais elevados
estão associados a uma menor incidência de HA.
Para que o exercício possa exercer seus efeitos positivos,
sua prática deve ser regular. Entre as diferentes formas de
exercícios, a atividade aeróbia é aquela que apresenta um
maior efeito hipotensor. As evidências científicas sobre o efeito
hipotensor da atividade aeróbia são mais consistentes do que
aquelas obtidas para o TF. Porém, os resultados das pesquisas indicam que o TF deve ser incorporado como forma de
aprimoramento da aptidão física relacionada à saúde, mesmo
que seus efeitos hipotensivos na PA de repouso ainda sejam
questionados. As características metodológicas que regem a
prescrição do treinamento aeróbio para indivíduos hipertensos
incluem: a) freqüência semanal: superior a 3 vezes, embora
essa freqüência também se mostre suficiente para exercer
efeitos hipotensivos; b) intensidade: 40 a 70% do VO2máx;
c) duração: de 30 a 60 minutos. Quanto ao TF, as considerações metodológicas para a prescrição em hipertensos devem
envolver: a) número de exercícios: 8 a 12; b) número de séries
e repetições: 1 a 2 séries, executadas com 8 a 12 repetições; c)
freqüência: 2 a 3 vezes por semana. Aspectos como número
de repetições e cargas, intervalos entre séries, bem como a
forma de execução dos exercícios (fracionada ou contínua),
influenciam nas respostas agudas da PA.
Os mecanismos hipotensivos ainda não estão bem estabelecidos, merecendo estudos adicionais para que se possam
tecer inferências consistentes sobre o assunto. Os principais
mecanismos de hipotensão como resposta à prática do
exercício podem ser caracterizados como neuro-humorais
e estruturais. As adaptações neuro-humorais dizem respeito
às adaptações no sistema nervoso simpático, sistema reni-
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na-angiotensina, bem como nas respostas vasculares. As
estruturais envolvem a modificação da estrutura vascular
muscular, incluindo o remodelamento vascular como o
aumento da flexibilidade, aumento da área de passagem do
fluxo sangüíneo e/ou diâmetro das artérias e veias, e ainda
a angiogênesis.
Por fim, cabe ressaltar que os programas de prescrição
de exercícios podem ser caracterizados em formais ou intramuros e não-formais ou extramuros. Os programas formais
apresentam como vantagem o maior controle das atividades
prescritas e das respostas fisiológicas, o que pode ser interessante de acordo com o risco do indivíduo. Em contrapartida,
programas com essas características, não tem se mostrados
efetivos para manter a adesão dos praticantes após a alta.
Nos programas não-formais a prescrição é simples, existindo
menor controle das atividades. Não é necessária a presença
de um profissional especializado conduzindo todas as sessões
de treinamento. Uma das maiores vantagens desse tipo de
programa é a autonomia que ele tende a gerar nos praticantes.
Cabe ressaltar que não existe a melhor forma de treinamento.
Dependendo de aspectos como as características clínicas e
funcionais, bem como as condições para a prática do exercício,
a opção deve ser feita.
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22/11/2007 17:48:03
58
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Resumos
Anais do IV Workshop em Fisiologia do Exercício –
UFSCar
I Congresso Paulista da Sociedade Brasileira
de Fisiologia do Exercício
18-20 de Novembro de 2005
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Comissão Organizadora:
Prof. Dr. Sérgio Perez
Prof. Dr. Vilmar Baldissera
Presidente da Associação Brasileira de Fisiologia do Exercício
Prof. Dr. Paulo Sérgio Chagas Gomes
A influência da idade e do sexo na força
muscular respiratória em indivíduos de
40 a 89 anos
Simões RP, Auad MA, Dionísio J, Parizotto APD, Audrey
Borghi-Silva A, Marisa Mazonetto
Unicastelo, Descalvado - SP, Brasil
[email protected]
Introdução: A análise da força dos músculos respiratórios por meio
das pressões inspiratórias máximas (PImáx) e expiratórias máximas
(PEmáx) têm sido muito utilizada devido seu importante papel
diagnóstico e prognóstico de doenças neuromusculares, pulmonares
e cardiovasculares, além de ser um método simples, de baixo custo,
prático, rápido e não invasivo. Há relatos na literatura que uma das
principais alterações fisiológicas que ocorrem no sistema respiratório
com o avançar da idade é a diminuição do recolhimento elástico dos
pulmões e da complacência da caixa torácica. Adicionalmente, a caixa
torácica sofre progressivo enrijecimento devido à calcificação das costelas e das articulações vertebrais. Alguns autores relatam que quando
comparado as pressões respiratórias máximas entre os sexos, observa-se
que os homens apresentam valores significantemente maiores do que
as mulheres da mesma faixa etária. Objetivos: Avaliar a força muscular
respiratória (FMR) de homens e mulheres com idade entre 40 e 89
anos, verificando se há influência da idade e do sexo nos valores.
Materiais e métodos: Foram estudados 100 indivíduos com idade entre
40 e 89 anos (média de 65,1 ± 14,4 anos), os quais foram separados
de acordo com o sexo: homens (n = 50) e mulheres (n = 50). Cada
grupo foi subdividido em cinco de acordo com a faixa etária, sendo
o grupo 1 (G1): sujeitos com idade entre 40 a 49 anos (n = 10), G2:
Fisiologia_v4n1.indb 58
50 a 59 anos (n = 10), G3: 60 a 69 anos (n = 10), G4: 70 a 79 anos
(n = 10), e G5: 80 a 89 anos (n = 10). Foram excluídos indivíduos
que apresentassem diagnóstico clínico de pneumopatias, cardiopatias,
praticantes de atividade2 física regular, fumantes e/ou ex-fumantes,
obesos (IMC ≥ 30kg/m ) e indivíduos com peso abaixo do normal
(IMC ≤ 19kg/m2) segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Para a obtenção da PImáx e da PEmáx utilizou-se um manovacuômetro (Critical Med, Indústria Brasileira) do tipo anaeróide, escalonado
de ±300cmH2O, os indivíduos permaneciam sentados e com clipe
nasal, e eram previamente ensinados quanto a realização dos testes
(PImáx a partir do volume residual e PEmáx a partir da capacidade
pulmonar total), sustentando-as em seu máximo por dois segundos, e
após três repetições (com intervalo de um minuto entre elas) o maior
valor obtido foi o considerado para análise. A manovacuometria foi
realizada em todos indivíduos por um único avaliador e sob comando
verbal homogêneo. Foi utilizado o teste Mann-Whitney (p < 0,01)
para comparar G1, G2, G3, G4 e G5 entre o grupo dos homens com
o das mulheres, e o teste de Kruskal-Wallis (p < 0,05) para comparar os
subgrupos em cada grupo. Resultados: A partir dos dados observados
podemos verificar que houve uma redução significativa (p < 0,05) da
PImáx e PEmáx com o aumento da idade a cada duas décadas em
ambos os sexos. Quando comparado as duas variáveis em G1, G2, G3,
G4 e G5 entre homens e mulheres da mesma faixa etária, verificou-se
redução significativa (p<0,01) em todos os subgrupos femininos em
relação aos masculinos. Conclusão: Os valores das pressões respiratórias
máximas sofrem redução com o avançar da idade a cada duas década
a partir dos 40 anos até os 89 anos, indicando decréscimo tanto na
força da musculatura inspiratória como da expiratória. Entretanto,
as mulheres têm FMR significativamente menor que os homens da
mesma faixa etária.
22/11/2007 17:48:03
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Hipóteses para reidratação antes,
durante e após exercícios
Martins LA, Silva GA
Fundação Municipal de Educação e Cultura de Santa Fé do
Sul - SP
[email protected]
Introdução: Quando se pratica exercícios, deve-se ter cuidados,
não só na escolha dos alimentos que se come, mas também nos
conteúdos e na quantidade de líquidos que se ingere. Durante
uma atividade física, a taxa de transpiração é altamente variável, em
média, perde-se um a dois litros de líquido por hora de exercício.
Considerando que há perdas significativas de líquidos e minerais
durante o exercício. É de se esperar que os efeitos nocivos da desidratação demorem mais para se manifestar, se o indivíduo esteve
bem hidratado antes de exercitar. De acordo com Morimoto et
al. (1981): na desidratação progressiva perde-se água de todos os
compartimentos corpóreos, incluindo o sangue. Quando se sente
sede a pessoa está com hipohidratação. Para Nadel (1996), durante
a atividade física uma quantidade significativa de calo é gerada
como um subproduto do metabolismo energético que mantém os
processos de contração e relaxamento dos músculos em atividades.
Com os músculos em atividades a taxa de calor aumenta em até
100X em relação aos músculos, com isso é ativado um sistema que
indica reflexos associados à perda de calor. Se isso não acontecesse,
e esse calor fosse armazenado, a temperatura aumentaria 1°C a
cada 5 a 8 minutos, resultando em hipertermia e colapso em 15
a 20 minutos. Evitando-se assim que o indivíduo entre em super
aquecimento, ocasionando a desidratação o que poderia causar uma
série de complicações. Objetivo: Fazer um levantamento bibliográfico
de hipóteses de algumas alternativas para substituição das bebidas
isotônicas, antes, durante e após a atividade física. Metodologia:
Utilizou-se como método, referências bibliográficas, livros e artigos.
Resultados: Do levantamento bibliográfico realizado, encontrou-se
vários autores que apontaram algumas hipóteses alternativas de soluções reidratantes. Maham e Stump (2003) citaram algumas bebidas
energéticas já existentes no mercado como: coca -cola, refrigerante
diet e suco de laranja. Porém, Bergeron (1998) apontou outras soluções ricas em nutrientes necessários para a reidratação como: suco
de tomate, refrigerantes, suco de laranja, leite de vaca integral, água
de coco e cerveja. No entanto, Oliveira (1996) também coloca que o
suco de laranja repõe o potássio, cálcio e o magnésio perdido no suor.
Colemam (1997) enfatiza que: as características das bebidas, como
sabor, aroma, acidez, sensação de doçura influenciam a palatabilidade
e o consumo voluntário de líquidos. As bebidas frias, doces, e de
sabor agradável são preferidas pelos sujeitos que praticam esportes.
Conclusão: De acordo com as revisões bibliográficas, verificou-se que
existem várias hipóteses de bebidas como alternativas de reidratação,
antes durante e após o exercício físico.
Atividade do eixo hipotálamo-hipófiseadrenal durante exercício agudo de
natação em ratos wistar
59
É de inteiro conhecimento que, em seres humanos, a atividade
do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) e suas respostas metabólicas são proporcionais à intensidade do exercício. Por razões
óbvias, um grande número de pesquisas envolvendo o exercício tem
sido conduzido em animais de laboratórios, especialmente o rato.
Entre os ergômetros mais usados em pesquisas com animais está
a natação. Entretanto, é pouco conhecido o efeito da intensidade
do exercício de natação na atividade do eixo HHA de ratos. Para
estudar os efeitos do exercício de natação realizado em diferentes
intensidades no eixo HHA de ratos sedentários, usamos concentrações séricas dos hormônios adrenocorticotrófico (ACTH) e
corticosterona. Dezoito ratos adaptados ao meio líquido foram
submetidos a 3 testes de 25 minutos (natação) suportando cargas
5,0; 5,5 e 6,0% do peso corporal (PC), para obtenção da máxima
fase estável de lactato (MFEL). Após obtenção da MFEL, os animais
foram divididos em dois grupos: M (n = 9), sacrificado após 25
minutos de exercício na intensidade MFEL e S (n = 9), sacrificado
após exercício exaustivo, em intensidade 27% superior a MFEL.
Para comparações, um grupo controle C (n = 10) foi sacrificado
em repouso. Utilizou-se Anova One Way para identificar possíveis
diferenças nos parâmetros de estresse (p < 0,05). As concentrações
séricas de ACTH e corticosterona foram significativamente (p <
0,05) superiores após exercício em ambas intensidades quando
comparadas ao grupo controle. As concentrações do grupo (S) foram,
ainda, maiores do que as do grupo (M) (tabela I). A atividade do
eixo hipotálamo-hipófise-adrenal durante exercício agudo de natação
em ratos parece depender da intensidade do mesmo, respondendo
com maior atividade às intensidades mais elevadas.
Tabela I - Corticosterona (ng/mL) e hormônio adrenocorticotrófico
séricos (pg/mL) dos animais ao final do experimento em repouso (C) e
após sessão aguda de exercício (natação) em intensidade de MFEL (M)
e 27% superior a esta (S).
Grupos
ACTH
Corticosterona
S (n = 09) 1284,44 ± 361,36 a,* 3845,51 ± 788,83 a,*
M (n = 09) 963,37 ± 420,47 *
2661,26 ± 627,89 *
C (n = 10) 179,32 ± 46,31
467,11 ± 262,12
Resultados expressos como média ± desvio padrão, com o
número de animais entre parênteses. S = 27% superior a MFEL
(natação), M = MFEL (natação) e C = controle (repouso). * Diferença significativa em relação ao grupo controle e a ≠M (ANOVA
One Way, p < 0,05).
Apoio financeiro: CAPES & FAPESP.
Efeito do uso de analisador de gases
sobre o desempenho em uma tarefa
anaeróbia
Franchini E, Takito MY, Bertuzzi RCM
Grupo de Pesquisas em Fisiologia do Exercício da Faculdade
de Educação Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie
- Barueri, SP
[email protected]
Contarteze RVL*, Manchado FB**; Gobatto CA*, Mello MAR*
*Universidade Estadual Paulista - UNESP, Rio Claro - SP,
Brasil, ** UNESP e Faculdades Integradas Einstein de
Limeira, Limeira - SP
[email protected]
Fisiologia_v4n1.indb 59
O uso de analisadores de gases em tarefas anaeróbias tem sido
realizado com objetivo de estimar a contribuição dos sistemas de
transferência de energia nessas tarefas, especialmente do metabolismo
aeróbio (Di Prampero e Ferretti, 1999; Gastin, 2001). Contudo, al-
22/11/2007 17:48:03
60
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
guns atletas alegam que a execução da atividade é prejudicada quando
esse tipo de equipamento é utilizado. Se essa afirmação for correta,
a análise da situação perde a sua validade ecológica, uma vez que o
desempenho que se pretende analisar não é máximo, podendo afetar
a resposta fisiológica ao exercício. No entanto, não foram encontrados
estudos que analisassem o efeito do uso do analisador de gases sobre
o desempenho em tarefas anaeróbias. Nesse sentido, o objetivo do
presente estudo foi analisar o efeito do uso de um analisador de gases
portátil (K4b2 da Cosmed, Itália) sobre o desempenho em um teste
de Wingate para membros superiores. Para isso, foram voluntários
no estudo, oito homens adultos com treinamento em modalidades
anaeróbias e familiaridade na execução do teste de Wingate para
membros superiores. O teste foi conduzido em uma bicicleta Monark
(modelo 668, Suécia) adaptada para membros superiores. Os participantes foram submetidos a dois testes de Wingate para membros
superiores com carga equivalente a 6% da massa corporal em duas
situações: com e sem o uso do analisador de gases. A ordem das situações foi contrabalançada. A determinação da potência de pico (PP)
e da potência média (PM) foi feita com o uso do programa Wingate
test (Cefise, Brasil). A comparação entre as situações foi feita através
de um teste “t” de Student para dados pareados. A reprodutibilidade
foi determinada através do coeficiente de correlação intra-classe e por
análise gráfica proposta por Bland e Altman (1986) para verificar os
limites de concordância (limits of agreement) entre as duas situações.
Os valores apresentados são média ±desvio padrão e o nível de significância estabelecido foi de 5%. Não foi observada diferença significante
para a PM (p = 0,4385) na situação sem o uso do equipamento (5,20
± 0,56 W/kg) e com o uso do equipamento (5,11 ± 0,58 W/kg). Para
a PP, também não houve diferença significante (p = 0,0904) entre
as situações sem o uso do equipamento (7,35 ± 1,09 W/kg) e com o
uso do equipamento (6,79 ± 0,97 W/kg). A reprodutibilidade para
a PM foi elevada (R = 0,9110) e moderada para a PP (R = 0,7343).
A análise gráfica indicou distribuição aleatória para a distribuição
das diferenças entre as situações para a PM e para a PP, embora para
essa última nenhum valor de erro negativo tenha sido observado.
Esses resultados indicam que, para uma tarefa que não envolve o
deslocamento da própria massa corporal, o uso do analisador de
gases portátil não interfere no desempenho. Adicionalmente, os valores de reprodutibilidade encontrados para a PP e para a PM foram
similares ao relatado na literatura (Inbar, Bar-Or e Skinner, 1996) e
a distribuição do erro foi aleatório, o que confirma a baixa influência
do equipamento no desempenho. Contudo, análise similar deve ser
conduzida para situações que envolvam o deslocamento da massa
corporal, uma vez que nessa situação o uso do analisador de gases
pode ter maior influência.
Análise de força da extensão e flexão do
joelho
Slompo VCF*, Santos RJ*, Verissimo RE*, Neves D*,
Barbosa CAG**
*Alunos do 3º ano do curso de bacharelado das Faculdades
Integradas de Bauru, **Laboratório de Exercício Resistido
(LABER) FIB, Centro de Estudo e Pesquisa em Atividade
Física (CEPAF) FIB, Grupo de Estudo e Pesquisa em Exercício
Resistido (GEPER)
A Força muscular é a habilidade que um músculo ou grupo
muscular possui de exercer tensão através de um esforço voluntário
Fisiologia_v4n1.indb 60
e de que esta tensão é constante ao longo do comprimento do músculo e nos sítios de inserção músculo tendinoso no osso. Esse estudo
verificou e comparou a força máxima obtida na flexão e extensão
unilateral de joelhos. A amostra foi composta por 5 indivíduos do
sexo feminino, com idade entre 20 e 31 anos, universitárias das
Faculdades Integradas de Bauru todas saudáveis. Foi realizado um
teste isométrico máximo de extensão e flexão do joelho esquerdo e
direito. A análise da força foi aferida através de dinamômetro digital
modelo Force Gauge FG-100KG-RS232, da marca Digital Instruments. O teste de extensão do joelho foi realizado em uma mesa,
onde o avaliado estava sentado com as pernas sem apoio em um
ângulo de 90º, ao sinal do avaliador o avaliado executou sua força
máxima em extensão por 6 segundos. E na flexão, o avaliador na
posição em decúbito ventral, formando um ângulo de 90º executou
sua força máxima na flexão. A media de forca da perna direita foi de
15,12 Kg e da perna esquerda foi de 16,84 Kg para a flexão e para
extensão a média da força foi de 51,05 Kg para a perna direita e
para a perna esquerda 48,5 Kg. Os resultados encontrados pelo atual
estudo apresentam maiores níveis de força voluntária máxima dos
músculos extensores do joelho quando comparadas com os músculos
flexores. Este fato parece estar relacionado tanto com maiores níveis
de massa muscular quanto por maior atividade neural. Contudo,
vale ressaltar que não foram avaliadas a perimetria.
Comparação da força de membros
superiores de cadetes da academia da
força aérea em diferentes momentos de
sua formação
Lopes DCF*, Borin JP*; Padovani CRP**, Carlos Roberto
Padovani***
*
Curso Mestrado em Educação Física - UNIMEP; Piracicaba,
** Mestre em Energia na Agricultura - Unesp/Borucatu, ***
Departamento Bioestatística - UNESP/Botucatu - Botucatu, SP
[email protected]
Introdução: Destaca-se a força de membros superiores como
essenciais para ações de combate, pois propicia ao militar autonomia
e habilidade para suportar e erguer o peso do próprio corpo em
situações proporcionadas por exercícios ou tarefas de campanha.
Torna-se necessário que o cadete militar apresente uma condição
física adequada durante o período em que estuda na Academia,
para que tenha o suporte necessário para a execução das tarefas relacionadas com a rotina diária referentes às particularidades do seu
curso, durante os quatro anos de sua Formação. Objetivo: Analisar
a resistência força de membros superiores de cadetes da Academia
da Força Aérea. Metodologia: -Participaram desse estudo trezentos
e vinte oito cadetes militares, do sexo masculino, pertencentes ao
quadro de Formação de Oficiais da Aeronáutica (Aviadores, Intendentes e Infantes), com idades de 18 a 23 anos. Os cadetes foram
analisados pelo teste de flexão dos cotovelos com apoio no solo,
seguindo o protocolo de Pollock & Wilmore (1993), em quatro
momentos distintos (M1, M2, M3, M4), ou seja, no período em que
estudaram na Academia e foram anualmente submetidos ao Teste
de Avaliação do Condicionamento Físico (TACF). Posteriormente,
os valores foram transcritos em planilha específica e armazenados
em banco computacional, produzindo-se informações no plano
descritivo (medidas de centralidade e dispersão) e, no inferencial,
por meio da análise de dependência através da técnica de Análises
de Medidas Repetidas (Norman & Streiner, 1994) e apresentados
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
sob a forma tabular. Resultados: os principais resultados são apresentados na Tabela I:
Tabela I - medidas descritivas e resultado do teste estatístico do teste
de flexão dos cotovelos segundo momentos de avaliação.
Medida
Descritiva
Momentos
M1
M2
De avaliação
M3
M4
Valor mínimo
36
36
40
35
1.o quartil
50
50
53
52
Mediana
55
51
59
57
3.o quartil
69
59
64
62
Valor máximo
76
72
77
74
Média
57.1 b
53.5 a
58.8 c
57.6 b
Desvio-padrão
9.2
6.4
7.0
6.8
(p-valor)
p <0.001
Conclusão: Os valores médios apontam: i) queda significativa no
momento M2 em relação aos demais, revelando os menores índices
de força no período; ii) o momento M3 apresentou situação inversa,
mostrando superioridade aos demais momentos e, por fim, tais dados
indicam para possíveis aprimoramentos na elaboração e controle dos
programas de treinamento físico que visam o desenvolvimento da
força de membros superiores em cadetes.
Efeitos dos exercícios de força e aeróbio
sobre composição corporal de mulheres:
influência da ordem de execução
Batista FR, Julio UF, Becker AM, Sebastião LL, Franchini E
Grupo de Pesquisas em Fisiologia do Exercício da Faculdade
de Educação Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie
- Barueri, SP
[email protected]
O treinamento aeróbio intensifica a perda de gordura, porém
pode não impedir a perda de massa magra. O treinamento de
força, por outro lado, parece minimizar esta perda, porém não
intensifica a perda de gordura. A combinação do trabalho aeróbio
e de força pode garantir uma concomitante perda de gordura
e manutenção da massa magra. Contudo, a melhor ordem de
execução dos exercícios tem sido discutida. O objetivo deste estudo foi verificar se a ordem de execução dos exercícios promove
diferenças na composição corporal. Participaram desse estudo 20
mulheres adultas, previamente sedentárias, que concordaram em
participar voluntariamente após leitura e assinatura de um termo
de consentimento informado. As mulheres foram divididas, de
forma contrabalançada, em dois grupos: aeróbio + força (n =
10) e força + aeróbio (n = 10). O treino aeróbio consistiu em 30
minutos em esteira rolante a 70% da FC de reserva, enquanto o
treino de força consistiu de 10 exercícios (cadeira extensora, mesa
flexora, legpress 45º, gêmeos em pé, puxada costas, supino reto articulado, elevação lateral, pulley tríceps, rosca direta e abdominais),
divididos em 3 séries de 10 repetições máximas com intervalos
de 40s. As sessões foram realizadas três vezes por semana em dias
alternados. Antes e após seis semanas de condicionamento físico
os grupos foram comparados quanto às variáveis antropométricas
(peso, altura, e circunferências) e de composição corporal (peso
magro e peso gordo), estimada pela equação de Jackson, Pollock
e Ward (1980). Os grupos foram comparados através de uma
Fisiologia_v4n1.indb 61
61
análise de variância a dois fatores (grupo e tempo) com medidas
repetidas no segundo fator. Quando encontrada diferença a partir
da ANOVA, foi realizado o teste de Tukey. O nível de significância
estabelecido foi de 5% em todas as análises. As mulheres foram
instruídas a manterem sua dieta habitual durante a realização do
estudo. Não houve efeito da ordem de execução dos exercícios
sobre o peso corporal (F1,18 = 0,65: p = 0,43). Também não ocorreu
efeito de interação entre os fatores (grupo e momento da mensuração). Contudo, houve uma tendência ao aumento da massa
corporal quando os grupos foram analisados conjuntamente no
período proposto (Pré = 66,5 ± 11,6 kg; Pós = 67,1 ± 11,0 kg;
F1,18 = 4,02: p = 0,059). Não houve efeito da ordem de execução
dos exercícios sobre o percentual de gordura (F1,18 = 8,73: p =
0,99) e não ocorreu efeito de interação entre os fatores (grupo e
momento da mensuração), mas houve diminuição do percentual
de gordura quando os grupos foram analisados conjuntamente no
período proposto (Pré = 29,9 ± 5,2%; Pós = 28,7 ± 5,6%; F1,18 =
13,55: p = 0,0017). Portanto, os resultados encontrados indicam
que a ordem de execução não interfere na composição corporal
de mulheres adultas. Contudo, deve-se considerar que o tempo
de condicionamento (seis semanas) foi bastante reduzido.
Efeito do aquecimento em tarefas
anaeróbias
Panissa V, Julio UF, Samogin F, Mazzo E, Mola D,
Franchini E
Grupo de Pesquisas em Fisiologia do Exercício da Faculdade
de Educação Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie
- Barueri, SP
[email protected]
O aquecimento tem sido proposto para melhoria do desempenho em diversos tipos de atividade. Contudo, existe dúvida
quanto à sua efetividade, especialmente para tarefas anaeróbias.
Os resultados conflitantes têm sido atribuídos à ausência de
controle de aspectos importantes na elaboração do aquecimento: intensidade e tempo do aquecimento, tempo de intervalo e
metabolismo predominante (alático ou glicolítico) da tarefa a ser
executada (Bishop, 2003). Para atividades de curta duração, tem
sido sugerido que o aquecimento seja feito a aproximadamente
60% do VO2máx, com duração de cinco minutos e intervalo em
torno de cinco minutos entre o final do aquecimento e o início do
exercício. No entanto, nem sempre os profissionais de Educação
Física e Esporte dispõem dos valores de VO2máx dos indivíduos
para a estruturação adequada da intensidade do aquecimento.
Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo verificar o
efeito do aquecimento sobre o desempenho em duas tarefas anaeróbias de predominância alática (salto vertical e potência de pico
no cicloergômetro de membros superiores). Para os testes de salto
participaram 24 pessoas, enquanto para o teste de potência de pico
participaram 12 sujeitos. Todos os sujeitos tinham entre 20 e 30
anos de idade e concordaram em participar voluntariamente do
estudo após leitura e assinatura de um termo de consentimento
informado. O aquecimento foi estruturado com base na freqüência
cardíaca, utilizando 60% da freqüência cardíaca de reserva, envolvendo cinco minutos de exercício em cicloergômetro de membros
inferiores para o grupo que executou o salto ou exercício em cicloergômetro para membros superiores para o grupo que executou
a tarefa com membros superiores. O tempo de intervalo adotado
22/11/2007 17:48:04
62
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
entre o aquecimento e o início da tarefa foi de cinco minutos. A
ordem das situações com e sem aquecimento foi aleatória. A altura
de salto foi determinada no Jump Test por meio de três saltos com
intervalo de um minuto, sendo considerado apenas o maior valor.
A potência de pico no cicloergômetro M4100 (Cefise) era o valor
mais elevado atingido durante um tiro de oito segundos com
carga de 5% da massa corporal. As situações foram comparadas
através de um teste “t” de Student para amostras dependentes. Os
valores apresentados são média ±desvio padrão e o nível de significância adotado foi de 5%. O desempenho no salto foi maior (t
= -7,01; gl = 23; p < 0,001) na situação após aquecimento (41,4
± 9,3 cm) em relação à situação sem aquecimento prévio (38,5
± 8,9 cm). Para a potência de pico não foi identificada diferença
significante (t = -1,55; gl = 11; p = 0,149) entre as duas situações
(aquecimento = 4,45 ±1,62 W/kg; sem aquecimento = 4,23 ±1,62
W/kg). O aumento da altura de salto em 7% é similar ao relatado
na literatura e parece ser resultado do aumento da temperatura
corporal e da atividade enzimática (Bishop, 2003). A ausência
de diferença para o desempenho com membros superiores pode
ser conseqüência de uma elevação insuficiente da temperatura
central em decorrência da pequena massa muscular envolvida no
procedimento de “aquecimento”.
Respostas alimentar e ponderal de
ratas ovariectomizadas submetidas ao
exercício físico e ao tratamento ultrasônico
Haach LCA, Parada S, Camilo CC, Malaman TAB, Bannitz
GO, Terukina GA, Oliveira GP, Rollo JMDA, Shiguemoto
GE
Universidade Federal de São Carlos, Laboratório de Fisiologia
do Exercício - São Carlos, SP
[email protected],
Estudos em modelos animais para perda óssea são importantes,
pois a osteoporose é um dos maiores problemas de saúde pública
atualmente. Além de acarretar em ônus ao portador da doença, ela
é responsável pelo gasto de milhões dos cofres públicos. Diversos
tratamentos são propostos, entre eles os medicamentosos, o exercício físico e mais atualmente, o uso do ultra-som pulsado de baixa
intensidade. O objetivo deste estudo é comparar os efeitos de dois
tratamentos, o exercício físico e o ultra-som, na taxa de ganho
ponderal e na ingestão alimentar de ratas ovariectomizadas. Foram
utilizadas 56 ratas Wistar com idade inicial de 2 meses, subdivididas
em 8 grupos: 1) OVX – ratas ovariectomizadas (OVX), sedentárias
e sem tratamento com ultra-som pulsado de baixa intensidade(US),
2) Pseudo-OVX – ratas submetidas à intervenção cirúrgica mimetizando a ovariectomia (sem a retirada dos ovários), sedentárias e
sem tratamento com US; 3) US – ratas OVX submetidas
ao US
2
(Freqüência: 1,5 MHz e intensidade: 40 mW/cm ) no joelho direito
(6 sessões de 20 minutos semanais por 12 semanas); 4) SHAM – ratas
OVX submetidas a mesma manipulação do grupo US, mas sem a
emissão de ondas ultrasônicas; 5) Esteira 1 – ratas OVX submetidas
a caminhada em esteira (15 m/min); 6) SALTO – ratas OVX submetidas a treino resistido em água; 7) Esteira 2 – ratas OVX submetidas
a caminhada (20 m/min) e; 8) Esteira 3 – ratas OVX submetidas a
treino resistido dinâmico na caminhada (treino intervalado, velocidade crescente, inclinação e sobrecarga). Todos os exercícios tiveram
protocolo de 3 sessões semanais de 40 minutos por 12 semanas. A
Fisiologia_v4n1.indb 62
taxa de ganho ponderal (%) foi calculada da seguinte forma: (peso
final x 100 / peso inicial) – 100. A ingestão alimentar representou
a quantidade de ração ingerida por cada rata em cada dia de experiência e foi calculada a partir da fórmula: (ração disponibilizada
– sobra da ração / n do grupo) / número de dias. A análise estatística
(GraphPad InStat) com o ANOVA indicou diferença significativa
entre as médias dos grupos nas duas variáveis avaliadas (p = 0.0140
para a taxa de ganho ponderal e p < 0.0001 para a ração ingerida).
O grupo que teve maior aumento de peso foi o grupo Esteira 1
(aumento em 70% ) e o que apresentou menor aumento ponderal
foi o grupo US (47.76% do peso inicial). Os grupos controles (OVX
e Pseudo-OVX) apresentaram taxas de ganho ponderais mais baixas
que todos os grupos de exercício físico, indicando que provavelmente
o ganho muscular tem influência nesta variável e esta não representa
fidedignamente o aumento de peso por conseqüência da ausência de
hormônios isoladamente. Esses mesmos grupos controles foram os
que apresentaram maior consumo alimentar, 2 gramas a mais por
rata por dia em comparação aos outros grupos. Para uma melhor
elucidação do assunto propõe-se diferenciar em um próximo estudo,
a massa magra da massa gorda.
Os avanços do treinamento intervalado:
perspectiva histórica
Sasa Y, Calvo AP, Matthiesen SQ
Universidade Estadual Paulista – UNESP - Rio Claro, SP
[email protected]
Introdução: o método de treinamento intervalado (TI) originou-se na Alemanha em 1939 pelo fisiologista Woldemar Gerschler
que aplicou uma forma de trabalho evoluída do método finlandês
de treinamento de corridas de fundo na qual a resistência obtida
através dos percursos longos era potencializada pela introdução
de corridas de velocidade intercaladas com períodos de descansos
ativos e moderados. Em 1952, o TI teve sua concepção científica
formulada pelo fisiologista alemão Herbert Reindell em parceria
com Gerschler e, desde então, sofreu constantes modificações.
Objetivo e justificativa: os avanços tecnológicos tornaram o TI
diferente quando comparado à sua primeira versão (versão de Gerschler), desta forma, surge o interesse de investigar o modo como
estas alterações ocorreram ao longo destes anos até a atualidade.
Método: a partir de revisão bibliográfica de aspectos fisiológicos,
este estudo visou vincular tais dados coletados com as datas e os
períodos que acentuaram as respectivas evoluções desse método
de treinamento desde sua criação. Resultados: o TI foi utilizado,
inicialmente, como método de treinamento para o desenvolvimento da resistência anaeróbia lática, os estímulos variavam de 200
a 300m. No fim da década de 40, foi utilizado para desenvolver,
principalmente, a resistência aeróbia. Os estímulos usados eram de
200 e 400m, chegando até 70 repetições por sessão de treinamento
com pausa ativa (caminhas e trotes) de aproximadamente 60”.
Já na década de 50, após validação científica, foi utilizado tanto
para o desenvolvimento da resistência aeróbia, como anaeróbia
lática e alática. A freqüência cardíaca deveria variar entre 120 e
180bpm para a capacidade cárdio-pulmonar obter máximo do
seu rendimento. Os estímulos eram de 100 a 200m com duração
máxima de 1min cada, com repetições que podiam chegar a 100
por sessão. A pausa ativa entre os estímulos variava entre 45” a
60”. No fim da década de 60, as cargas e intervalos eram dosados
de acordo com o sistema energético que se desejava desenvolver,
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
as pulsações deveriam obedecer apenas ao limite de 180 bpm, as
pausas, geralmente ativas, variavam de 30” a 60”. Na década de
70, o TI era visado, principalmente, para o desenvolvimento da
resistência anaeróbia juntamente com outros meios de preparação
física. Nesta época, surge a diferenciação do TI realizado com
intervalos de longa ou curta duração, somente com pausas ativas.
Na década de 80, o TI apresentava-se em mais de 6 variações. Os
estímulos variavam de 100 a 1.500m e as repetições variavam de
10 a 100 por sessão. O intervalo era divido entre pausa passiva
e ativa com total de 120” a 600”. Atualmente, o TI é altamente
utilizado e indicado para treinar a resistência aeróbia. No entanto,
a intensidade e duração dos estímulos devem ser ajustadas aos
objetivos energéticos específicos e sua aplicação alcançou outros
esportes como ciclismo, natação e ginástica. Discussão e conclusão: os dados obtidos mostram que o TI tornou-se um método
altamente avançado devido à especificidade que cada um de seus
componentes conquistou e ampliou sua função, visto que, abrange
não somente o desenvolvimento anaeróbio lático. Hoje, não é mais
aplicado isoladamente, mas em conjunto com outros métodos de
treinamento. Com exceção do intervalo misto (ativo e passivo,
numa mesma sessão), todos os componentes (distância, tempo
e repetições dos estímulos) começaram a sofrer modificações no
final da década de 60.
Ausência de hipocalemia em prova de
triathlon meio-ironman
Bürger-Mendonça M, Retondaro F
Unesa - Petrópolis, RJ
[email protected]
O potássio é o cátion de maior concentração nos líquidos intracelulares. A deficiência de potássio (hipocalemia/hipopotassemia)
prejudica a função neuromuscular, tendo como sinais clínicos
fadiga, fraqueza muscular, especialmente nos membros inferiores.
Este estudo teve o objetivo de verificar os valores de potássio antes e
após uma competição de triathlon. A amostra foi composta por seis
voluntários do sexo masculino, sendo estes, atletas amadores com
idade média de 27 ± 6 anos, praticantes de triathlon pelo menos
há um ano e com experiência prévia em provas de longa duração.
Para análise estatística, foi utilizado o software SPSS (Statistical
Package for Social Sciences), versão 11.0 (Chicago, IL, USA, 2001),
foi aplicado o teste T-student para a mesma amostra, tendo como
valor para P ≤ 0.05 aceito como significante. A análise bioquímica
potássio foi realizada por um fotômetro de chama modelo 410
(Sherwood, Cambridge, Reino Unido). Os resultados individuais
foram comparados com o repouso, ou seja, os atletas foram os seus
próprios controles para os parâmetros analisados. O tempo médio
da prova realizada foi de 4:23:24 ± 0:28:04 horas. Os valores individuais do potássio variaram de 3,81 a 4,56 mmol/L em T = 0 e de
3,78 a 5,38 mmol/L em T = 1 e os valores médios foram de 4,1783
± 0,2632 mmol/L em T = 0 e de 4,4750 ± 0,5585 mmol/L em T
= 1. Estes resultados, embora não estatisticamente significantes (P
= 0,285), revelaram um aumento de 7,40% em relação aos valores
do potássio pré e pós-competição. Concluímos que houve um aumento estatisticamente insignificante na concentração de potássio.
Nenhum voluntário apresentou quadro de hipocalemia, e todos os
valores permaneceram dentro da faixa de normalidade.
Comparação dos valores de íons fe2+ em
Fisiologia_v4n1.indb 63
63
atletas antes e após uma competição de
triathlon
Bürger-Mendonça M
Unesa - Petrópolis, RJ
[email protected]
Nos últimos 20 anos tem se dado muita importância ao ferro, em
relação a sua dinâmica e na performance de atletas tanto amadores
como profissionais. O ferro é o metal mais abundante de transição
no organismo, e é também o mineraltraço mais abundante no metabolismo celular. O ferro é um elemento essencial na utilização do
oxigênio pelo organismo, bem como componente na constituição
da hemoglobina, da mioglobina, desidrogenases, citocromos e de
algumas enzimas mitocôndriais. Durante a atividade física intensa
ocorrem alterações nos eritrócitos que levam à sua ruptura (hemólise).
A ocorrência de hemólise intravascular tem sido atribuída às modalidades esportivas de impacto como a corrida, porém, sabe-se que
modalidades de baixo impacto como a natação e o ciclismo apresentam
também hemólise gerando a liberação dos íons ferro para o sangue.
Quando livre no organismo o ferro reage com o oxigênio formando
radicais livres capazes de danificar as membranas celulares e alterar o
DNA. O objetivo deste trabalho foi verificar os valores de íons Fe2+
em atletas antes e após uma competição de triathlon. A amostra foi
composta por seis voluntários do sexo masculino, sendo esses atletas
amadores com idade média de 27 ± 6 anos, praticantes de triathlon
a pelo menos um ano e com experiência previa em provas de longa
duração. Os Integrantes do experimento foram submetidos a duas
coletas de aproximadamente 25 ml de sangue, após jejum de oito
horas, no período entre 6 e 7 horas na residência dos voluntários (t=
0) na posição sentada e imediatamente ao termino da prova de cada
atleta, sendo esta coleta realizada na tenda médica do evento. Para
análise estatística foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for
Social Sciences) versão 11.0 (Chicago, IL, USA, 2001), foi aplicado
o teste T-student para a mesma amostra, tendo como valor para p ≤
0.05 aceito como significante. O tempo médio da prova realizada foi
de 4:23:24 ± 0:28:04 horas. Os valores individuais do ferro variaram
de 58,00 a 141,00 mg/dl em T = 0 e de 100 a 201 mg/dl em T = 1 e
os valores médios foram de 80,36 ± 30,68 mg/dl em T = 0 e 124,50
± 38,07 mg/dl em T = 1. Estes resultados apresentaram um aumento
estatisticamente significante (P = 0,000), revelando um aumento
de 58,25% em relação aos valores do ferro pré e pós-competição.
Concluímos que ocorreu um aumento significativo na concentração
plasmática de ferro após a competição. Dados da literatura nos permitem considerar que este aumento provavelmente ocorreu devido
à hemólise dos eritrócitos.
Determinação do limiar anaeróbio em
ratos sedentários
Vieira WHB, Stotzer US, Freitas SP, Costa FC, Santos GM,
Góes R, Parizotto NA, Perez SAP, Baldissera V
UFSCAR - São Carlos, SP
[email protected]
O limiar anaeróbio (LA) consiste no ponto de inflexão da curva
de lactato sérico em relação à carga de exercício, quando determinado
pela lactacidemia. Esse tem sido utilizado como indicador de capacidade oxidativa, apresentando uma grande aplicabilidade prática
na avaliação e prescrição de um determinado treinamento físico. No
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64
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
entanto, estudos em animais investigando o LA são pouco freqüentes, bem como, a base fisiológica do LA não se encontra totalmente
esclarecida. O propósito desse estudo foi determinar o LA de ratos
sedentários (não treinados) em esteira. Foram utilizados na pesquisa
12 ratos machos da raça Wistar pesando inicialmente 100g, os quais
foram alojados em gaiolas coletivas a 22-27ºC com fotoperíodo
de 12 horas de claro e 12 de escuro e receberam ração peletizada e
água ad libitum. Os animais permaneceram em repouso durante
um período de 5 semanas. No entanto, estes foram submetidos a
um teste de esforço crescente, em degraus descontínuos (Balke),
pré e pós o período de 5 semanas, totalizando duas avaliações, para
a obtenção de amostras de sangue visando a determinação do LA.
Para a dosagem do lactato sanguíneo utilizou-se um lactímetro YSI
model I500 Sport Lactate Analyzer. A análise estatística foi realizada através dos testes de Shapiro Wilks e Test t Student. O nível
de significância foi considerado (p ≤ 0,05). Após o período de 5
semanas não houve modificação no LA (de 20,11 ± 2,67 m/min
para 20,55 ± 4,67 m/min – p = 0,7287), na velocidade máxima da
corrida (de 28,56 ± 3,12 m/min para 30,34 ± 2,82 m/min – p =
0,103) e na lactacidemia durante o LA (p = 0,3078). Esses dados
sugerem que alterações na lactacidemia durante o teste de esforço, em
ratos sedentários, permitem a determinação do LA, no entanto sem
modificações das condições de linha de base, diferentemente do que
normalmente ocorre em ratos treinados conforme retrata a literatura
científica. Estudos envolvendo o LA tornam-se importantes para o
melhor entendimento de suas bases fisiológicas.
Resposta das concentrações séricas
de creatinina e uréia em futebolistas
profissionais: relações com as excreções
urinárias
Silva ASR, Santhiago V, Santos FNC, Gobatto CA
Departamento de Educação Física, Instituto de Biociências,
UNESP - Rio Claro, SP
[email protected]
O aumento das concentrações séricas de creatinina e uréia
tem sido associado com a adaptação negativa ao treinamento
físico. Dessa maneira, o objetivo do presente estudo foi verificar
o comportamento das concentrações séricas de creatinina e uréia
em resposta a uma periodização desenvolvida em futebolistas profissionais. Além disso, procuramos correlacionar as concentrações
de creatinina e uréia no soro com as concentrações das mesmas
substâncias na urina. Para tanto, participaram 12 futebolistas
profissionais filiados à Federação Paulista de Futebol (médias de
22,5 anos; 181,31 cm; 73,51 kg e 8,22%G). Os futebolistas foram
avaliados no início (semana 0, T1), meio (semana 6, T2) e fim
(semana 12, T3) de uma periodização específica. Foram coletados
5 mL de sangue através de venipuntura utilizando sistema à vácuo
e materiais descartáveis para determinação das concentrações de
creatinina (método de Larsen) e uréia (método de Crocker Modificado) no soro. Para determinação das concentrações de creatinina
(método de Lutgarten e Wenk Modificado) e uréia (método de
Crocker Modificado) na urina, os atletas foram instruídos a desprezarem a primeira urina do dia e a partir deste momento até
24 horas depois, toda urina eliminada foi coletada e armazenada
em garrafas plásticas de 2 litros com o auxílio de um funil. O
volume de urina foi mensurado e as garrafas foram mantidas em
geladeira até o momento da análise que ocorreu no mesmo dia.
Fisiologia_v4n1.indb 64
Para comparação das concentrações de uréia e creatinina no soro
e na urina nos diferentes períodos de treinamento foi utilizado
o teste Anova-one way. Além disso, utilizamos a correlação de
Pearson para visualizar as correlações entre as substâncias no soro
e na urina. Os dados estão expressos em média ± desvio padrão
e o nível de significância adotado foi de 5%. A concentração
sérica de creatinina aumentou significativamente em T3 (1,59 ±
0,57 mg/dL) quando comparada a T1 (1,11 ± 0,40 mg/dL) e T2
(1,22 ± 0,30 mg/dL). Já, a concentração de creatinina na urina
foi significativamente maior em T1 (269,89 ± 109,83 mg/dL)
quando comparada a T2 (163,03 ± 65,73 mg/dL) e T3 (108,33
± 38,26). Houve correlação significativa entre as concentrações
de creatinina no soro e urina apenas em T3 (r=0,70). Quanto às
concentrações de uréia, apenas a urinária apresentou diferença
significativa em T1 (2057,30 ± 729,42 mg/dL) comparadas a T2
(930,13 ± 457,60 mg/dL) e em T2 comparadas a T3 (1859,19 ±
480,12). Houve correlação significativa entre as concentrações de
uréia no soro e urina apenas em T2 (r=0,64). Podemos concluir
que somente a utilização da creatinina e da uréia não é suficiente
para estudar as possíveis adaptações ao treinamento. Além disso,
devido a complexidade do método de coleta de urina de 24 horas é
possível concluirmos que esse não é um procedimento aconselhável
para ser desenvolvido com atletas.
Demanda metabólica e ventilatória,
oxigenação e dispnéia durante teste do
degrau e teste de caminhada na doença
pulmonar obstrutiva crônica
Marmorato D, Di Lorenzo VP, Marrara K, Regueiro E,
Jamami M, Sampaio L, Negrini F
Centro Universitário de Araraquara - UNIARA Laboratório de
Espirometria e Fisioterapia Respiratória - UFSCAR
[email protected]
Introdução: O Teste do Degrau de 5 minutos (TD5) e o Teste
de Caminhada de 6 Minutos (TC6) são utilizados para avaliar a
tolerância aos esforços em pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) que apresentam limitação ao exercício
físico (RIBEIRO et al., 1994). Objetivos: Analisar o comportamento
da demanda metabólica e ventilatória, além de verificar a presença
de dessaturação (diminuição da Saturação periférica de oxigênio
(SpO2) ≥ 5%) e a sensação de dispnéia no pico do TD5 e TC6, e
compará-las com a situação basal em portadores da DPOC. Material
e métodos: Incluiu-se 20 indivíduos de ambos os sexos, acima de 50
anos de idade, com DPOC (grau de obstrução moderado a grave),
avaliandose consumo de oxigênio (VO2), produção de dióxido de
carbono (VCO2), ventilação pulmonar (VE), SpO2 e sensação de
dispnéia durante a realização do TD5 e TC6, com intervalo de 30
minutos entre eles. Resultados: Quanto a VE, VO2, VCO2 e sensação
de dispnéia observou-se aumento significativo (Wilcoxon, p < 0,05)
do início para o término do TD5 e TC6, e ao comparar as situações
basal, TD5 e TC6 verificou-se aumento significativo (Friedman, p <
0,05) durante TD5 e TC6 em relação a situação basal, entretanto,
apenas VE e VCO2 mostraram valores significativamente maiores no
TC6 em relação ao TD5 no pico do teste. A demanda ventilatória em
relação à VVM obtida (%VVM) apresentou valores elevados durante
TD5 e TC6. Em ambos os testes a SpO2 mostrou diminuição significativa do início para o término de cada teste. Conclusão: Conclui-se
que tanto TD5 quanto TC6 proporcionou elevações dos níveis de
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
VE, VO2, e VCO2 acima de 50% da situação basal durante ambos
os testes, além de mostrarem-se sensíveis na detecção da dessaturação
e sensação de dispnéia em indivíduos portadores de DPOC com
grau de obstrução de moderada a grave, podendo ser aplicados na
prática clínica para avaliar a tolerância ao exercício.
*Estudo realizado com a anuência dos pacientes de acordo com
a resolução 196/96 do CNS.
Comportamento da ventilação pulmonar
e consumo de oxigênio durante
diferentes atividades de vida diária
Marmorato D, Marrara K, Mendes M, Jamami M, Di
Lorenzo VP
Universidade Federal de São Carlos-UFSCAR - São Carlos, SP
[email protected]
Introdução: As atividades de vida diária (AVD) em indivíduos
com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), envolvendo
tanto os membros superiores (MMSS) quanto os inferiores (MMII),
têm sido reproduzidas na prática clínica como forma de avaliar as
respostas fisiológicas ao esforço físico, subsidiando programas de
tratamento fisioterapêutico. Objetivos: Avaliar o comportamento
da ventilação pulmonar (E) e consumo de oxigênio ( O2) durante
AVD envolvendo os membros superiores e inferiores, comparadas a
situação basal (B), em indivíduos com DPOC e saudáveis, bem como
compará-las entre os mesmos. Material e métodos: Foram avaliados
22 indivíduos do sexo masculino: 13 com DPOC (obstrução moderada a grave, Grupo 1 (G1); 72 ± 6,6 anos) (Pereira et al., 2002)
e 9 saudáveis (Grupo 2 (G2), 65 ± 6 anos), através de um sistema
metabólico modelo VO2000 operado via computador pelo software
Aerograph para análise da E e O2 durante as atividades de apagar
lousa (L), elevar peso de 5 Kg acima da cabeça (O), subir degrau
(D) e caminhar (C), com duração de 5 minutos cada. Resultados:
Ao realizar a análise intragrupo quanto a E e O2 constatou-se que
durante as atividades essas variáveis mostraram-se significativamente
maiores (Friedman ANOVA, p≤0,05) que os valores basais para G1
e G2, havendo diferença significativa entre as atividades para ambos
os grupos. A E e O2 para G1 mostrou-se significativamente maior
(Newman-Keuls, p ≤ 0,05) nas atividades D e C vs L e O. Em relação
a E para G2 evidenciou-se comportamento semelhante ao G1, mas
o O2, mostrou-se significativamente maior na atividade C vs L, O e
D. Na análise intergrupos verificou-se diferença significativa da E em
B e L (Mann-Whitney, p ≤ 0,05), sendo maiores para G1. Quanto
ao O2, houve diferença significativa em B e durante a atividade C,
sendo que G1 mostrouse significativamente maior que G2 na situação B, e na C o G2 mostrou-se significativamente maior que G1.
Conclusão: De acordo com os resultados obtidos conclui-se que as
atividades de MMSS com e sem sobrecarga, ou que envolveram os
membros inferiores acarretaram maior requerimento metabólico e
ventilatório comparados à situação basal para ambos os grupos. A
maior demanda metabólica para os indivíduos saudáveis na atividade
C foi desencadeada pela maior velocidade tolerada na caminhada.
No caso do G1 (DPOC) a maior demanda ventilatória e metabólica
já na situação basal e L, sugere recrutamento da musculatura da
cintura escapular e dessincronia do movimento tóraco-abdominal
para executar o trabalho respiratório.
*Estudo realizado com a anuência dos pacientes de acordo com
a resolução 196/96 do CNS.
Fisiologia_v4n1.indb 65
65
A influência da natação sobre a força
muscular respiratória em idosos
Silva GA, Martins LA, Faria VAM
Fundação Municipal de Educação e Cultura de Santa Fé do
Sul, SP
[email protected]
Introdução: O envelhecimento é um fenômeno fisiológico
observado há vários anos em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. No processo de envelhecimento ocorrem alterações
fisiológicas nos diversos sistemas, que variam de pessoa para pessoa.
O sistema respiratório, entre todos os sistemas orgânicos, é o que
sofre as maiores perdas funcionais fisiológicas, condicionadas pela
idade. Devido ao processo degenerativo em nível osteoarticulares,
a caixa torácica torna-se mais rígida (Geis 2003). A perda de força
muscular com o envelhecimento resulta em um fenômeno denominado na literatura como sarcopenia, definido por Evans (1993)
como o decréscimo da capacidade neuromuscular decorrente do
avanço da idade. O trabalho mecânico da respiração é feito pelos
músculos respiratórios, realizando um processo cíclico de entrada
e saída de ar dos pulmões (Aires 1999), objetivando assim, uma
constante renovação de gás alveolar, por isso, esses músculos devem
estar em condições de força e endurance. Para Azeredo (1993), em
pessoas de ambos os sexos, a partir dos 20 anos de idade ocorre
um decréscimo de 0,5 cmH2O ao ano. Tendo como resultado a
fraqueza, a fadiga e a falência muscular respiratória, que podem
ser correlacionadas e diagnosticadas com a mensuração criteriosa
e sistemática da Pi máx e Pe máx. Objetivo: Este estudo teve como
objetivo, verificar qual é a influência da natação sobre a força
muscular respiratória, através dos valores médios das pressões
respiratórias em indivíduos idosos praticantes de natação idosos.
Materiais e métodos: Participaram do estudo, três pessoas com
idade entre 60 e 74 anos do sexo feminino, que apresentaram
biótipos diferentes. Após o período introdutório as aulas foram
desenvolvidas com um volume moderado e intensidade baixa, elas
aconteceram 2 vezes por semana, com período de 1 hora, durante
2 meses consecutivos. As aulas foram divididas em: aquecimento,
desenvolvimento principal e volta à calma com alongamento. Neste
estágio, foi dado ênfase em tiros intervalados de 7,5 metros com
intervalos variando entre 20 a 60 segundos. A piscina utilizada
era aquecida e media 12 metros de comprimento, 7.5 metros de
comprimento e com profundidade variando de 1 a 1.80 metros.
As pressões respiratórias máximas foram mensuradas através do
manuvacuômetro devidamente calibrado, onde, foi selecionada
para o trabalho a melhor de 03 manobras reprodutíveis tanto da
Pi máx como da Pe máx. Resultados: A Pimáx apresentou melhora
significativa, quando comparamos os resultados da avaliação entre
o pré-treino e pós-treino, em que obtivemos -113,33cmH2O na
pré-treino e -146,66120cmH2O na pós-treino, com um aumento
de 29,41% . Analisando a Pemáx, observou-se que, o grupo apresentou melhora significativa quando comparamos os resultados da
avaliação entre a pré-treino e a pós-treino 28.58% onde, obtivemos
93,33cmh2Ona pré-treino e 120 cmH2O na pós-treino. Conclusão:
Com o presente estudo conclui-se que o treinamento de natação
proposto aumenta significativamente a força da musculatura respiratória em indivíduos idosos.
22/11/2007 17:48:06
66
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Comportamento agudo da pressão
arterial em exercícios resistidos, com
sobrecargas para o desenvolvimento da
resistência muscular
Silva MM**, Silva GKA**, Silva CL*, Biazon F*, Silva L*,
Silva LP**, Souza DAP**, Gomes LS*, Barbosa CAG***
*Alunos do Curso de bacharelado em Educação Física das
Faculdades Integradas de Bauru, ** Alunos de bacharelado
em Educação Física das Faculdades Integradas de Bauru,
Grupo de Estudos e Pesquisas em Exercício Resistido
(GEPER)-FIB, ***Centro de Estudos e Pesquisa em Atividade
Física (CPAF)-FIB, Laboratório de Exercício Resistido
(LABER), Grupo de Estudos e Pesquisas em Exercício
Resistido (GEPER)-FIB
[email protected]
As modificações no estilo de vida são fundamentais para o tratamento e prevenção primária da hipertensão arterial. Estas mudanças
comportamentais estão indicadas em todos os hipertensos, inclusive
os idosos e indivíduos normotensos com alto risco cardiovascular.
De acordo com pesquisas realizadas, pode-se afirmar que os níveis
tensionais sobem durante o exercício, porém, sabe-se que o mesmo
realizado de forma sistemática contribui para a redução da pressão
arterial. Sabemos também que a realização de exercícios físicos
desencadeia uma série de respostas fisiológicas nos vários sistemas
corporais e em particular no sistema cardiovascular. Os níveis de
pressão arterial sobem durante o exercício físico, porém sabe-se que
o mesmo praticado de forma regular e freqüente contribui para que
haja uma redução da mesma, tanto de forma aguda como crônica.
O objetivo do presente estudo foi verificar o comportamento agudo
da pressão arterial no exercício resistido com sobrecargas para o
desenvolvimento da resistência muscular em pessoas com ler/dort.
A amostra foi composta de 5 pessoas de ambos os sexos, com idades
entre 22 e 52 anos, normotensos, com ler/dort, cadastrados no projeto perseverar e participantes do programa de “ler/dort”, realizado
no laboratório de exercícios resistidos das Faculdades Integradas de
Bauru, localizado na cidade de Bauru. Por se tratar de um grupo
com patologia específica, os exercícios resistidos foram divididos em
tronco e membros inferiores (treino geral) e membros superiores e
cintura escapular (treino específico) com uma série de vinte repetições para todos os exercícios. Os resultados revelaram que a PA
Sistólica foi de 120 ± 12,24 e Diastólica 76 ± 15,16 mmHg antes
da realização do programa de treinamento e ao término 110 ±2
0 para Sistólica e 68 ±8,36 mmHg para Diastólica. Desta forma,
pôde-se observar efeitos hipotensivos agudos tanto na PA Sistólica
quanto Diastólica para sujeitos normotensos. Contudo, mais pesquisas devem ser realizadas para verificar situações hipotensivas em
indivíduos hipertensos.
Projeto LER/DORT: uma proposta de
treinamento resistido
Silva MM*, Silva GKA*, Silva LP*, Souza DAP*, Silva KR*,
Barbosa CAG
*Alunos do curso de Bacharelado em Educação Física das
Faculdades Integradas de Bauru-FIB,Grupo de Estudos e
Pesquisas em Exercício Resistido (GEPER)-FIB, **Centro
de Estudos e Pesquisa em Atividade Física (CEPAF)-FIB,
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Laboratório de Exercício Resistido (LABER) – FIB, Grupo de
Estudos e Pesquisas em Exercício Resistido (GEPER) -FIB.
[email protected]
A competitividade das empresas faz com que a busca pelo
aumento da produtividade ocasione ritmos de trabalhos exaustivos
e jornadas prolongadas; associadas a ambientes ergonomicamente
inadequados, provocando lesões em seus trabalhadores. A ler/dort
é conceituada como uma síndrome clínica caracterizada por dor
crônica. Os sintomas surgem de movimentos intensos e repetitivos;
da necessidade de ficar em determinada posição por longos períodos
e de móveis e equipamentos inadequados. Associa-se a estes fatores
o tempo insuficiente para a recuperação do tecido músculo-esquelético. A proposta de treinamento resistido para ler/dort faz parte do
“Projeto Perseverar” do Laboratório de Exercício Resistido (LABER),
das Faculdades Integradas de Bauru – FIB, e se destina a oferecer
o tratamento aos voluntários que comprovadamente possuem a
patologia mediante laudo médico ou diagnóstico por especialista da
área. Atualmente conta com 10 participantes, sendo sete mulheres e
três homens, com idade média de 42,3 ± 11,74 anos. Para a pesquisa
foi feita anamnese de saúde, medidas de circunferência corporal,
dobras cutâneas, aferição da pressão arterial, medidas de peso e
altura, e avaliação da força máxima unilateral em punhos, cotovelos
e ombros, com a utilização de dinamômetro digital, modelo Force
Gauge FG-100KG-RS232, da marca Digital Instruments digital.
As regiões mais afetadas nos participantes deste projeto são o cotovelo, ombros, punhos e dedos. Apenas dois voluntários apresentam
lesões nos membros inferiores. Para a avaliação permanente dos
resultados foi elaborada escala subjetiva de dor, para que seja feita
autoavaliação de manhã, tarde, noite e madrugada. O programa é
dividido em exercícios gerais e especiais, com aquecimento prévio
de 15minutos em ergômetro, e alongamento geral e específico para
membros superiores. As atividades acontecem três vezes por semana
no período vespertino, e a cada 12 treinos são realizados pós-testes.
Este projeto está em andamento há seis semanas, e os participantes
já sentem diminuição da dor e alguns, após nova consulta médica,
reduziram as doses farmacológicas.
Comparação da assimetria de coxas,
força máxima e resistência de força na
extensão unilateral de joelhos
De Sá VO*, Alves GB*, Euzébio CJ*, Carlos AC*, Silva
RM**, Barbosa CAG**
*Alunos do Curso de Bacharelado de Educação Física das
Faculdades Integradas de Bauru-FIB,**Centro de Estudos
e Pesquisa em Atividade Física (CEPAF)-FIB, Laboratório
de Exercício Resistido (LABER)-FIB, Grupo de Estudos e
Pesquisas em Exercício Resistido (GEPER)-FIB
[email protected]
Os esportes necessitam de níveis apropriados de Força Muscular
(FM), devido a sua variabilidade de aplicações. A FM é dependente
da área de secção transversa do músculo; densidade, número e
diâmetro das fibras que contraem simultaneamente; velocidade de
condução e excitação das fibras; inibição das fibras musculares que
não contribuem para o movimento; comprimento inicial dos músculos antes da contração, e eficiência da alavanca mecânica através da
articulação. O objetivo deste estudo foi verificar o comportamento
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
da FM e Resistência de Força Muscular (RFM) unilateral em 1RM e
15RM na extensão do Joelho Esquerdo (JE) e Direito (JD), comparados com as coxas de maior (CM) e menor (CMN) circunferências.
Fizeram parte da pesquisa vinte adolescentes entre 14 e 16 anos
praticantes de futebol, da Associação Desportiva da Polícia Militar da
Cidade de Bauru. Anteriormente aos testes de RM foram realizadas
medidas de circunferências das coxas. Os testes de 1RM e 15RM
do JE e JD foram executados na Cadeira Extensora. Para o teste de
1RM e 15RM os joelhos iniciaram a 90º e considerada tentativa
falha quando não estendessem até 0º. Verificou-se que a assimetria
media foi de 2,6% entre a CM e CMN. Para o coeficiente de FM,
o estudo revelou que a CM apresentou média 4,9% superior em
relação a CMN. Para RFM a CM apresentou media 3,5% superior a
CMN. Encontrou-se ainda, percentual médio de carga entre 15RM
e 1RM de 69,8% para CM e de 67,5% para a CMN. Desta forma,
os dados acima se mostraram relevantes para a CM. Contudo, não
obtiveram proporcionalidade de 1RM para 15RM. Será necessário
número maior de avaliações e novos testes para afirmar que a circunferência tem influência sobre a FM e RFM.
Respostas agudas da sobrecarga
máxima na potência muscular no salto
vertical
Sousa PAD*, Santos ZL*, Medrado RR*, Passerini KR*,
Amaral AR*, Contesini SRR, Francisco ER*, Silva PL*
Barbosa CAG**
*Alunos do Curso de Bacharelado de Educação Física das
Faculdades Integradas de Bauru-FIB, **Centro de Estudos
e Pesquisa em Atividade Física (CEPAF)-FIB, Laboratório
de Exercício Resistido (LABER)-FIB, Grupo de Estudos e
Pesquisas em Exercício Resistido (GEPER)-FIB
Fisiologia_v4n1.indb 67
67
Os saltos nos esportes são ações integrantes, com valores importantes em suas execuções. Encontram-se como resultados das
aplicações de forças dinâmicas, contra a ação da gravidade. A força
de impulsão é caracterizada pelo movimento explosivo e tem na resistência externa a determinação da aceleração. O ato motor do salto
vertical é realizado mediante as capacidades de força e velocidade,
caracterizadas pela necessidade de superação rápida da resistência.
Com avançadas tecnologias, os conhecimentos científicos estão mais
objetivos; possibilitando identificar e analisar variáveis específicas
que afetam ou favorecem o rendimento do salto. A força absoluta e
relativa, tamanho do braço de alavanca, potência muscular, energia
elástica acumulada, peso corporal, coordenação motora, quantidade
de fibras de contração rápida e recrutamento de fibras musculares são
fatores determinantes do salto vertical. O objetivo deste estudo foi
verificar a influência da força isométrica máxima no pórtico, sobre
os aspectos da potência muscular no salto vertical. A amostra foi
composta de sete pessoas, ambos os sexos, com idade entre 16-29
anos, constituída por 3 atletas do caratê, 2 da natação, 1 do handebol e 1 do jiu-jitsu. As coletas foram realizadas no laboratório de
exercício resistido das Faculdades Integradas de Bauru, localizados
em Bauru. Foi utilizada para aquecimento uma bicicleta ergométrica. Após o aquecimento foram realizados 3 saltos verticais com
intervalo de 1,5 minuto. Dois minutos depois, foram realizados 6
segundos de força máxima isométrica na barra guiada, com ângulo
de 30º no joelho e novamente realizaram três saltos verticais, com
pausa de 1,5 minuto entre os saltos. Os resultados mostraram que
a média dos 3 primeiros saltos foram inferiores (41,00 cm ± 16,83
cm) aos dos 3 segundos saltos verticais (42,28 cm ± 17,89 cm).
Pode-se dizer que a Contração Isométrica máxima influenciou nos
resultados do salto vertical, mesmo em atividade física aguda. Porém,
mais pesquisas precisam ser realizadas para que os reais efeitos dos
exercícios isométricos agudos sejam detectados.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
Normas de publicação Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício
A revista Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade quadrimestral e está aberta para a publicação e divulgação
de artigos científicos das várias áreas relacionadas à Fisiologia
do Exercício.
Os artigos publicados em Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros
que surjam no futuro. Ao autorizar a publicação de seus artigos
na revista, os autores concordam com estas condições.
A revista Fisiologia do Exercício emprega o estilo Vancouver
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med 1997;336(4):309-15) preconizado
pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas.
As especificações podem ser encontradas no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.
icmje.org.
Submissões devem ser enviadas por e-mail para ([email protected]). A publicação dos artigos é uma decisão dos
editores, baseada em avaliação por revisores anônimos (Artigos
originais, Revisões, Estudos de Caso) ou não.
1. Editorial
O Editorial que abre cada número da Fisiologia do Exercício
comenta acontecimentos recentes, inovações tecnológicas, ou
destaca artigos importantes publicados na própria revista. Ao
pedido dos Editores, a revista pode publicar uma ou várias Opiniões de especialistas sobre temas de atualidade.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais. Todas as contribuições a esta seção
que suscitarem interesse editorial serão submetidas à revisão
por pares anônimos.
Formato: O texto dos Artigos originais é dividido em Resumo,
Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos e Referências.
Texto: A totalidade do texto, incluindo as referências e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres (espaços
incluídos), e não deve ser superior a 12 páginas A4, em espaço
simples, fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito,
etc. O Resumo deve ser enviado em português e em inglês, e
cada versão não deve ultrapassar 200 palavras. A distribuição
do texto nas demais seções é livre.
Tabelas: Recomenda-se usar no máximo seis tabelas, no formato Excel ou Word.
Figuras: Máximo de 8 figuras, em formato .tif ou .gif, com
resolução de 300 dpi.
Literatura citada: Máximo de 50 referências.
3. Revisão
São trabalhos que expõem criticamente o estado atual do conhecimento em alguma das áreas relacionadas à Fisiologia do
Exercício. Revisões consistem necessariamente em síntese, aná-
Fisiologia_v4n1.indb 68
lise, e avaliação de artigos originais já publicados em revistas
científicas. Todas as contribuições a esta seção que suscitarem
interesse editorial serão submetidas à revisão por pares anônimos.
Formato: Embora tenham cunho histórico, Revisões não expõem necessariamente toda a história do seu tema, exceto
quando a própria história da área for o objeto do artigo. O
texto deve conter um resumo de até 200 palavras em português
e outro em inglês. O restante do texto tem formato livre, mas
deve ser subdividido em tópicos, identificados por subtítulos,
para facilitar a leitura.
Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as
legendas das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres, incluindo espaços.
Figuras e Tabelas: mesmas limitações dos Artigos originais.
Literatura citada: Máximo de 50 referências.
4. Estudo de caso
São artigos que apresentam dados descritivos de um ou mais
casos clínicos ou terapêuticos com características semelhantes.
Contribuições a esta seção que suscitarem interesse editorial serão submetidas à revisão por pares.
Formato: O texto dos Estudos de caso deve iniciar com um
resumo de até 200 palavras em português e outro em inglês. O
restante do texto deve ser subdividido em Introdução, Apresentação do caso, Discussão, Conclusões e Referências.
Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as
legendas das figuras, não deve ultrapassar 10.000 caracteres, incluindo espaços.
Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras.
Literatura citada: Máximo de 20 referências.
5. Opinião
Esta seção publicará artigos curtos, de no máximo uma página,
que expressam a opinião pessoal dos autores: avanços recentes,
política de saúde, novas idéias científicas e hipóteses, críticas à
interpretação de estudos originais e propostas de interpretações
alternativas, por exemplo. Por ter cunho pessoal, não será sujeita a revisão por pares.
Formato: O texto de artigos de Opinião tem formato livre, e
não traz um resumo destacado.
Texto: Não deve ultrapassar 5.000 caracteres, incluindo espaços.
Figuras e Tabelas: Máximo de uma tabela ou figura.
Literatura citada: Máximo de 20 referências.
6. Cartas
Esta seção publicará correspondência recebida, necessariamente
relacionada aos artigos publicados na Fisiologia do Exercício
ou à linha editorial da revista. Demais contribuições devem ser
endereçadas à seção Opinião. Os autores de artigos eventualmente citados em Cartas serão informados e terão direito de
resposta, que será publicada simultaneamente. Cartas devem
ser breves e, se forem publicadas, poderão ser editadas para
atender a limites de espaço.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador
de texto (Word), em página A4, formatados da seguinte maneira: fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Tabelas devem ser numeradas com algarismos romanos, e
Figuras com algarismos arábicos.
1.3 Legendas para Tabelas e Figuras devem constar à parte, isoladas das ilustrações e do corpo do texto.
1.4 As imagens devem estar em preto e branco ou tons de cinza, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e
desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
Imagens coloridas serão aceitas excepcionalmente, quando forem indispensáveis à compreensão dos resultados (histologia,
neuroimagem etc.)
Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para
([email protected]). O corpo do e-mail deve ser
uma carta do autor correspondente à editora, e deve conter:
(1) resumo de não mais que duas frases do conteúdo da contribuição (diferente do resumo de um Artigo original, por
exemplo);
(2) uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi
publicado em outros meios além de anais de congresso;
(3) uma frase em que o autor correspondente assume a responsabilidade pelo conteúdo do artigo e garante que todos
os outros autores estão cientes e de acordo com o envio do
trabalho;
(4) uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os
procedimentos e experimentos com humanos ou outros
animais estão de acordo com as normas vigentes na Instituição e/ou Comitê de Ética responsável;
(5) telefones de contato do autor correspondente.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo traz as seguintes informações:
- Título do trabalho em português e inglês;
- Nome completo dos autores e titulação principal;
- Local de trabalho dos autores;
- Autor correspondente, com o respectivo endereço, telefone
e E-mail;
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação;
3. Resumo e palavras-chave
A segunda página de todas as contribuições, exceto Opiniões,
deverá conter resumos do trabalho em português e em inglês.
O resumo deve identificar, em texto corrido (sem subtítulos),
o tema do trabalho, as questões abordadas, a metodologia empregada (quando aplicável), as descobertas ou argumentações
principais, e as conclusões do trabalho.
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Abaixo do resumo, os autores deverão indicar quatro palavras-chave em português e em inglês para indexação do artigo.
Recomenda-se empregar termos utilizados na lista dos DeCS
(Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da
Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br.
4. Agradecimentos
Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte.
5. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver.
As referências bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas no texto pelo número entre parênteses, e relacionadas nas Referências na ordem em que aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente
do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da
impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
2nd ed. New-York: Raven Press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título
do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido
de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou
itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o
Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no
site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6,
colocar a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in
human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para:
Guillermina Arias
E-mail: [email protected]
Atlantica Editora
www.atlanticaeditora.com.br
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
20021-180 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
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