VisãO Verde FalandO de VinhO PensandO Bem

Transcrição

VisãO Verde FalandO de VinhO PensandO Bem
Edição 02 ano I
edição 02 ano I
PensandO Bem
manoel beato discorre sobre o vinho branco
VisãO Verde
O cultivo orgânico no Vale do São Francisco
outubro/novembro 2008
Viagem DiVina
Alentejo e douro: berço dos vinhos portugueses
FalandO de VinhO
Ed motta revela sua paixão por vinhos da bourgogne
R$ 12,90
Carta aO Leitor
Diretora Geral
Daniela Graicar El Kalay
Redação
Diretora: Heloisa Whately
[email protected]
Editora: Carolina Hanashiro
[email protected]
Repórter: Camila de Oliveira
[email protected]
VinhO,
terra e arte
E continuamos comemorando! Mas agora os brindes se multiplicaram. São
muitas pessoas participando, destacando aquilo de que mais gostaram, falando daquilo de que sentiram falta, criticando e elogiando... em resumo,
compartilhando a diVino conosco, que é o mais importante.
Nesta segunda edição, podemos dizer que o coração continua acelerado
como em início de namoro. É forte o desejo de superar as expectativas, de
atender a pedidos e de conquistar mais e mais confrades.
Durante a produção deste número já um pouco mais “envelhecido” da revista, quando nos demos conta, estávamos mergulhados numa combinação de
vinho com arte mais forte do que poderíamos prever – ligada ora à música,
ora ao design, ora à arquitetura, ora ao cinema. A arte mostrou ser mesmo
inerente ao universo dessa bebida. E talvez nem pudesse ser diferente, dado
que a enologia é, por si mesma, uma expressão artística. Pudemos ver um
exemplo vivo dessa harmoniosa relação na vinícola italiana Donnafugata,
por exemplo, que trazemos em nossa seção Histórias que o Vinho Conta.
E um terceiro elemento saiu dos bastidores para ser revelado com toda a
sua importância em várias das páginas desta revista: a terra. Do Vale do Rio
São Francisco à Borgonha, passando pelo Alentejo e pelo Douro, por onde
passamos pudemos confirmar a ligação entre a terra e as características dos
povos, evidente nas vinhas por eles cultivadas. Como disse nosso colunista
Carlos Hakim, os borgonheses afirmam que não produzem a uva Pinot Noir,
apenas a utilizam como veículo de expressão de seu terroir. Ou, como reforçou Alexandre Gama em seu artigo sobre a Confraria diVino
em torno dos supertoscanos: “A cultura de um povo está também no que ele
é capaz de tirar da terra. E tirar da terra o que provamos nessa degustação é,
sem dúvida, algo bravo, bravíssimo”.
Arte
Diretor: Káfeja Cavalcante
Designer: Bruno Buzzoni
Projeto Gráfico: Flavio Giannotti
Colaboradores
Alexandra Corvo, Alexandre Gama, Carlos Hakim,
Carlos Marcondes, Claudia Zani, Cristiane Duarte,
Erick Scoralick, Jeriel da Costa, José Henrique
Vieira, Luciana Reis, Manoel Beato, Marcos
Santo Mauro, Pepe Casals, Régis Queiroz,
Simon Knittel, Tadeu Brunelli, Thais Nicoletti,
Veridiana Mercatelli e Weberson Santiago
Conselho Editorial
Carlos Hakim, Carolina Hanashiro,
Daniela Graicar El Kalay,
Fabio Liberman, Heloisa Whately,
Manoel Beato e Renata Lobo.
Publicidade
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A diVino não se responsabiliza por conceitos
ou opiniões emitidas em artigos assinados.
Fica aqui uma homenagem da equipe diVino a todos esses artistas da terra
e do vinho. Heloisa Whately
4 diVino
Tiragem auditada por
30.000 exemplares
OutubrO/NoVembrO 2008
Casamento Perfeito
24
Brasil Divino
No restaurante Parigi, quatro sommeliers desvendam a
carta de vinhos para uma harmonização com o Bolito Misto,
prato servido por “Seu Ático” há mais de 50 anos.
Falando de Vinho
Visitamos as vinícolas do Vale do Rio São Francisco: a região é
o berço de vinhos tropicais de qualidade internacional.
28
Sensações – Pinot Noir
32
Conversa de Confrades
Fomos beber direto da fonte nas regiões vinícolas
do alentejo e do douro, em portugal.
Especial Azeite
40
Mergulhamos no universo do azeite e mostramos porque
este produto conquista cada vez mais espaço nas rodas da
gastronomia, no mercado e na cozinha.
Confraria Divino
44
Os encantadores toscanos da safra 1997 são os escolhidos
para o segundo encontro de nossos confrades com o
mestre Manoel Beato.
62
Em nossa degustação às cegas, procuramos comparar a
Borgonha ao resto do mundo, provando 10 vinhos: cinco deles
da tradicional região francesa e cinco do novo mundo.
Em uma conversa descontraída, o cantor e enófilo Ed Motta
revela que prefere deixar as notas para a música e fala da
sua paixão pela delicadeza dos Bourgogne.
Viagem Divina
52
Rolhas de cortiça versus “screw-caps”: tradição e
modernidade conversam sobre esta polêmica.
68
Artigos
Pensando Bem, por Manoel Beato Espumantes, por Alexandra Corvo
16
38
Seções
Degustação De Olho na Uva
Barril de Compras
Wine Business
Na Mídia
Eu Recomendo 12
18
22
50
56
72
Minha Cave LordVino
Histórias que o Vinho Conta
Monte sua Adega Boas Idéias Biblioteca
Bebendo e Aprendendo
Fique Sabendo
Onde Encontrar
Momento diVino 76
78
82
84
86
89
92
95
96
98
DegustaçãO
Um rótulo só para você
Na onda da customização, até tradicionais rótulos de bebidas
têm perdido seu lugar para outros totalmente personalizados
e exclusivos. Garrafas de água, vinho, espumante e vodca,
entre outras, podem ganhar a cara do anfitrião e ficar
como lembrança de celebrações ou mesmo de eventos
corporativos. A Boutique de Detalhes e a Just 4 You são duas
das empresas de São Paulo que oferecem esse serviço.
Elas trabalham com um mínimo de 50 unidades e precisam
receber as encomendas com cerca de dez ou 20 dias de
antecedência. Quanto custa a brincadeira? Varia conforme
a quantidade, o tamanho do rótulo e o tipo de bebida. Para
se ter uma idéia, os valores para uma garrafa de água giram
em torno de R$ 4, enquanto, para o Chandon Rosé, podem
chegar a R$ 24. Boutique de Detalhes: (11) 3895-8550;
Just 4 You: (11) 5051-2687, www.just4yousg.com.br
Um luxo só!
Que tal um Porsche para guardar
seus vinhos? Uma parceria entre
a Veuve Clicquot e o Porsche Design
Studio resultou em uma adega
feita a mão em aço escovado, com
desenho futurista, 2,10 m de altura
por 60 cm de largura e 12 prateleiras
iluminadas individualmente. Essa é
a Vertical Limit, que, assim como as
adegas da Veuve Clicquot, na França,
mantém a temperatura das garrafas
sempre em 12º C. E, para aumentar
o desejo de consumo, a peça vem
recheada com 12 garrafas de uma
coleção rara da marca, das safras
de 1955 a 1989. Mas, se você
se animou com a possibilidade
de ter uma delas em casa, é bom
saber que a edição é limitadíssima.
A empresa fez apenas dez peças
para serem vendidas no mundo
todo. No Brasil, ela pode ser
encontrada na loja-conceito da
Veuve Clicquot, que estará no
Shopping Iguatemi, em São Paulo,
até o final de dezembro. Quanto
custa o mimo? R$ 237 mil.
Self-service
Chegou à Vinoteca do Empório Santa Maria a primeira máquina para
degustação de vinhos do país. A Enomatic é italiana e já conhecida dos
europeus, que a encontram em aeroportos, estações de trem
e mesmo em restaurantes. Com capacidade para 48 garrafas – são seis
módulos com oito unidades cada um –, a máquina funciona com um
cartão que debita os pedidos do cliente. Os preços variam de
R$ 2 a R$ 53, dependendo do rótulo e da dose – 30 ml, 60 ml ou
120 ml – selecionados. Inserido o cartão e escolhido o item, é só
posicionar a taça. Graças a um sistema de preservação a nitrogênio,
as características dos vinhos permanecem intactas por até um mês
depois de a garrafa ter sido aberta, o que permite que grandes rótulos
sejam provados sem o risco de perda caso não sejam consumidos
dentro de um ou dois dias. A seleção de vinhos deverá ser renovada
a cada mês, sempre com opções para diferentes bolsos e gostos.
FOTOS: DIVULGAÇÃO; José Henrique Vieira
Novidades para 2009
12 diVino
A importadora paulistana Mr. Man realizou no último dia
25 de agosto, em seu novo espaço, na Vila Beatriz, uma
exclusiva degustação vertical do vinho argentino Enzo
Bianchi. Foram apresentadas as safras 1997, 1999, 2001,
2002 e também a safra 2003, que só será comercializada no
Brasil a partir de 2009. O evento foi conduzido por Francisco
Antonio Martinez – “Pancho”–, enólogo-chefe da vinícola
Valentin Bianchi. O vinho, bem elaborado e com bom potencial
de guarda, mostrou muita qualidade e personalidade. O preço
de lançamento da safra 2003 deve ficar em torno de R$ 220.
diVino 13
DegustaçãO
Detetive na área
O universo do vinho acaba de ganhar mais um aliado contra
falsificações. Cientistas catalães divulgaram na renomada revista
científica The Analyst, da Royal Society of Chemistry, a criação de
uma “língua eletrônica” capaz de identificar as variedades de uvas e
as safras dos vinhos. Tudo para dificultar ainda mais possíveis fraudes
nos produtos. Segundo a pesquisadora que liderou os estudos, Cecília
Jiménez-Jorquera, do Instituto de Microeletrônica de Barcelona, a idéia
surgiu depois de conversas com especialistas da indústria vinícola que
necessitavam de um mecanismo de avaliação mais rápido.
A “língua eletrônica”, que possui uma série de sensores treinados
para distinguir os tipos de casta e as safras, tem a vantagem de ser
portátil, além de ser uma opção mais barata que o envio de amostras
aos tradicionais laboratórios de análise. Os cientistas programaram
os sensores para identificar as principais categorias do paladar, tais
como doce, salgado, amargo e ácido. As primeiras experiências
foram feitas com o suco de quatro uvas populares na Catalunha
– Airén, Chardonnay, Malvasia e Macabeu – e com os vinhos
produzidos na Espanha entre 2004 e 2005. Mas a novidade ainda
está em fase de testes. O próximo passo será ampliar o número de
amostras analisadas para obter resultados mais precisos e garantir a
confiabilidade total do aparelho.
Bafômetro de bolso
Todo o prazer de degustar um
bom vinho pode ir por água
abaixo se, ao sair com seu carro
do restaurante ou da casa dos
amigos, você for parado por
uma blitz policial. Para evitar
contratempos e, principalmente,
acidentes, a Tocave lançou um
bafômetro digital que em poucos
segundos informa se você está
apto a dirigir. Não é o mesmo
usado pelos órgãos fiscalizadores,
mas pode ser uma mão na roda.
O aparelho funciona com duas
pilhas e utiliza a tecnologia de
semicondutores, que dispensa
refis e a necessidade de encostálo na boca. Sua versão mini ainda
pode ser usada como chaveiro.
O produto está à venda nos sites
www.americanas.com.br,
www.submarino.com.br
e www.bestshoptv.com,
por apenas R$ 59.
4 diVino
14
diVino
Vinhosites
www.rippon.co.nz
Na opinião da crítica inglesa Jancis
Robinson, a neozelandesa Rippon é uma
das vinícolas mais bonitas do mundo.
São 15 hectares de uvas Pinot Noir,
Riesling e também Gewurztraminer,
Sauvignon Blanc, Gamay e Osteiner.
O lugar é cenário para casamentos e
palco para o Rippon Music Festival,
importante festival de música da Nova
Zelândia. Vale uma viagem pelo site e
quem sabe, depois, uma visita de
verdade ao local.
www.cellartracker.com
A maior comunidade de vinhos do
mundo foi criada por Eric LeVine em
2003, então funcionário da Microsoft.
A página foi oficialmente colocada no
ar em 2004 para acesso livre e, graças
ao seu sucesso, Eric desligou-se
da maior produtora mundial de
softwares. Atualmente, a confraria
online é referência para os amantes do
vinho. Conta com mais de 58 mil
usuários do mundo todo e avaliação
de 9 milhões de rótulos. Cada um faz
o seu registro e dá suas opiniões
neste espaço onde o principal é a
troca de informações entre os usuários.
Para participar não há custo algum,
mas as contribuições são bem-vindas.
PensandO Bem...
por Manoel Beato
Brancos cheios
de
Vida
O mundo do vinho se aprofunda dia a dia no estudo e na compreenção de si mesmo. É regido
por uma série de regras, remotas e modernas, que servem de bússola e nos orientam em meio
a um rio, sempre extenso, mas que agora abre novos braços. São múltiplos meandros que
se expandem no que se refere aos vinhos de qualidade e deságuam sua cultura pelas mais
diversas regiões do planeta. Assim, certas teses embasadas na ciência e na prática milenar,
que nos mostram o que e como beber com qualidade, são cada vez mais bem-vindas. É
prudente, porém, não nos atermos a conclusões definitivas e generalizantes. Isto ocultaria
um outro modo de chegar ao coração do conhecimento: a valorização das divergências, os
descaminhos do vinho.
Uma das idéias mais difundidas pelos praticantes e comentadores do assunto é que vinho
branco seco não envelhece bem, já que o tanino é o principal conservante natural do vinho
e o branco é praticamente isento dessa substância. Existem, porém, além dos brancos leves
e primários – que são agradavelmente leves e refrescantes, concebidos para serem bebidos
jovens –, duas outras categorias de vinho branco.
Manoel Beato é sommelier
há 22 anos, responsável
pelos vinhos do Grupo
Fasano e apresentador do
programa Adega Musical
da rádio Eldorado FM
Há aqueles que esbanjam vivacidade e são suficientemente estruturados para, sem perder o
poder de seu frescor peculiar, fazer desabrochar, depois de alguns anos de envelhecimento,
aromas mais cativantes que se fundem aos jovens já presentes. Nesse grupo, estão os vinhos
franceses da região de Chablis, os Riesling da Alsace, Chenin Blanc e Sauvignon Blanc do
Loire. Também fazem parte muitos alemães relativamente leves ou de corpo médio e muitos
estruturados de Friuli, uma das melhores regiões para brancos da Itália. Destacam-se ainda
alguns espanhóis sem esquecer espumantes brancos, como os Champagne não safrados,
que se tornam mais ricos depois de alguns anos. Longe de serem grandes maratonistas, esses
vinhos podem durar cinco ou seis anos.
16 diVino
FOTOS: tadeu brunelli
Além dos leves e primários – que são agradavelmente leves e refrescantes,
concebidos para serem bebidos jovens – há duas outras categorias de branco.
A outra categoria é a de imponentes brancos de alma negra
(tinta), que, como os melhores tintos do mundo, chegam a
durar décadas e aos quais só o envelhecimento trará a desejada complexidade aromática. Quando jovens, sugere-se até
mesmo que sejam decantados para que se beneficiem com
a aeração e, dessa forma, soltem seus sabores e nos excitem
com o amplo panorama de aromas que se ressaltam com um
tempo na jarra ou mesmo no copo. Entre esses potentes e
longevos vinhos, encontramos vários das regiões de Puligny
e Chassagne Montrachet, Corton Charlemagne, Hermitage
e alguns do Vale do Loire, todos franceses. Na Espanha, o
Tondonia é surpreendente, pois dura décadas, sendo que os
das safras de 70 e 80 exalam vida velha, cheiram ambiente
de casa antiga, sabores evoluídos, próprios da sua nobre oxidação. Não raro também se encontram vidas vivazes em alemães antigos, de sabores pungentes que, clarinhos quando
moços, mostram um imponente amarelo dos pintores préimpressionistas, que transita entre o luminoso e o opaco. De
Portugal, provei vários e vitoriosos Buçaco, brancos com 30
ou 40 anos de idade, talvez até mais velhos. Não me lembro
bem. Nesse caso, restou apenas a memória gustativa desses
vinhos vovôs.
Quando provo um bom branco, saudável, cheio de personalidade e que não se deixa prender pelas idéias feitas, me
vem à mente a canção “Tiranizar”, de Caetano Veloso: “Me
prenda e você me perdeu/ Me deixe solto e eu sou todo seu”.
diVino 17
De OlhO na UVa
por Carlos Hakim
OurO em cachos
Alguns Riesling que provamos:
Vinhedos de Riesling à
margem do rio Mosel
A
pesar de alguns acharem que os tempos
áureos da Riesling passaram, a maioria dos
especialistas a considera hoje a melhor uva
para vinhos brancos graças à sua faculdade de reter acidez, aos seus altos níveis de
açúcar, à sua fidelidade ao terroir e à sua
longevidade. Cultivada em muitas regiões,
a Riesling atinge sua excelência entre a
Alemanha e a Alsácia, às margens dos rios
Reno e Mosel, onde provavelmente surgiu.
18 diVino
Não se sabe ao certo quando, mas foi no século 14 que ela começou a se popularizar,
pois muitos registros datam dessa época.
No início do século 20, produtores alemães
passaram a experimentar novas uvas, como
a Silvaner, reduzindo consideravelmente a
produção da Riesling. Mas, no decorrer do
mesmo século, a produção se recuperou e
se expandiu para novas regiões, como Pfalz
e Rheinhessen. Hoje os alemães a reconhe-
FOTOS: clay mclachlan/getty images
Até há pouco desvalorizada, a Riesling é hoje reconhecida
por muitos como a melhor uva branca existente.
cem como um verdadeiro “tesouro nacional”.
A Alsácia é a única região francesa com permissão oficial
para o cultivo da Riesling. Áreas como Kamptal, Kremstal e,
principalmente, Wachau são responsáveis pela ótima reputação de seus vinhos secos, puros, perfumados e cheios de
mineralidade. Para a Master of Wine Jancis Robinson, vem
de lá o melhor Riesling seco: o Clos Ste Hune, do produtor
Trimbach. Amante da uva, a especialista chegou a afirmar:
“Acho a melhor uva de vinhos brancos do mundo, porém
muitos acham que sou louca”. Também bastante reconhecidos são os Riesling da Áustria, em geral secos e untuosos,
tendo como característica um final longo com toques de
pimenta-branca. Podemos citar também a Suíça e a Itália
(Alto Adige) como produtores substanciais.
Anakena Single Vineyard 2006
Aromas de maçã verde e floral. Em boca, boa
acidez, pouca complexidade e amargor marcante.
DV 86 (R$ 48 – Mercovino)
Hugel & Fils Riesling 2006 – Riquewihr, Alsácia
Aromas de frutas brancas (pêra) e cítrico. Em boca média acidez, toques minerais, secura, médio corpo
e amargor final. DV 85 (R$ 83 – World Wine)
Domdeschant Werner Riesling Spätlese Trocken
2005 – Rheingau, Alemanha
Aromas finos, fruta madura, querosene e mineral. Boca
fresca, equilibrada, leve e fácil com boa acidez, dulçor
aparente e final persistente. DV 88 (R$ 97 – Mistral)
Pegasus Bay Aria 2006 – Waipara Valley, Nova Zelândia
Mel, casca de laranja no nariz. Em boca, untuoso,
boa acidez equilibrando a doçura, complexo
e com longo final. Para acompanhar sobremesa.
DV 90 (R$ 109 – Premium Wines)
diVino 19
Schloss Johannisberg e
seus vinhedos de Riesling
Com cepas de Rielsing datadas de 1720
(provavelmente as mais antigas do mundo), essa
tradicional vinícola da região de Rheingau, na
Alemanha, reivindica o título de “criadora” do vinho de
colheita tardia. Conta a tradição que, no ano de 1775,
os papéis que liberavam a colheita tardaram a chegar
e com isso as uvas foram atacadas pela podridão
nobre (Botrytis cinerea). As tais uvas foram doadas aos
camponeses, que produziram vinhos de alta qualidade.
Também os húngaros reivindicam essa invenção com
os chamados Tokaji (vinho doce botrytisado).
Conquistando o Novo Mundo
No século 19, a Riesling era a uva branca mais plantada na
Austrália, quando foi superada pela Chardonnay. Hoje, além
de ser o segundo maior produtor mundial de Riesling, o país
elabora bebidas excelentes, principalmente nas frias regiões
de Clare Valley e Eden Valley, onde têm surgido vinhos de
perfil moderno e de bom custo/benefício. Na vizinha Nova
Zelândia, a uva adaptou-se bem ao clima mais frio da ilha
sul, nas regiões de Marlborough e Nelson. Seus vinhos de
colheita tardia são considerados de muito boa qualidade, e
os secos, mais leves e delicados que os australianos. Nos
Estados Unidos, a Riesling é plantada na Califórnia, no
Oregon, em Washington e em Nova York, apesar da demanda por Chardonnay ainda limitar muito sua produção. Uma
das uvas mais cultivadas aqui no Brasil, a Riesling Itálica
não possui parentesco com a Riesling Renano (alemã).
Considerada inferior, é emblemática das Serras Gaúchas e
utilizada, com muito sucesso, nos espumantes. Ao contrário
da Itálica, a Renano não se adaptou bem ao terroir brasileiro. A África do Sul, o Canadá e o Chile também possuem
considerável cultivo da Riesling alemã.
20 diVino
Decifrando os rótulos
Os Riesling superiores, Qualitätswein (vinho de
qualidade), distinguem-se de acordo com o grau
de maturação da uva. Há duas categorias: QbA –
Vinhos regionais de qualidade – e QmP – Vinhos de
qualidade com distinção. Estes são superiores e
dividem-se nos seguintes tipos:
Kabinett (Gabinete ou Reserva) – fermentados
secos, têm baixo teor de álcool e corpo leve.
Harmonizam-se com peixes, frutos do mar
e queijos leves.
Spätlese (Colheita tardia) – ricos e levemente mais
adocicados. Vão bem com peixes e frutos do mar mais
condimentados e também com queijos amarelos.
Auslese (Colheita selecionada) – mais doces, feitos
de uvas selecionadas que concentram mais açúcar.
Bons para acompanhar queijos fortes, foie gras e
tortas doces.
Nessas três primeiras categorias, os vinhos
podem ainda ser designados como Trocken (seco)
e Halbtrocken (semi-seco).
Beerenauslese (Bagos selecionados)
Trockenbeerenauslese
(Bagos ressecados selecionados)
Eiswein (Vinhos de gelo ou congelados)
Os vinhos destas três últimas categorias são bem
mais doces, em geral botrytisados (Botrytis cinerea
é um fungo que resseca as uvas, deixando-as com
grande concentração de açúcar).
FOTOS: plainpicture/grupo keystone/pnp-p2682609
Schloss Johannisberg e a
descoberta do “Late Harvest”
Barril de Compras
por Camila de Oliveira
3
2
Menu de
Cristais
Brancos
Os brancos preservam seus aromas finos em copos
um pouco menores e boca mais estreita.
4
1
5
1. Taça de cristal Schott Zwiesel
(R$ 37,63 cada peça - Presentes Mickey)
2. Taça de cristal Krosno
(R$ 750 o conjunto com 18 peças - Roberto Simões)
3. Taça de cristal Strauss
(R$ 766,90 o conjunto com 30 peças - Espaço Santa Helena)
4. Taça de cristal Imperattore
(R$ 22,98 cada peça - Hipermercado Zaffari)
6
2
5. Taça de cristal Da Vinci
(R$ 1.502 o conjunto com 36 peças - Presentes Mickey)
6. Taça de cristal GS
(R$ 237 o conjunto com 18 peças - Presentes Mickey)
3
Tintos
1
Vinhos tintos pedem taças mais bojudas com espaço
para o líquido respirar e, assim, liberar todas as suas nuances.
1. Taça de cristal Strauss
(R$ 61 cada peça - Mickey Presentes)
5
2
3
4
Espumantes
2. Taça de cristal Hering para vinho Bourdeaux
(R$ 51,90 cada peça - Hipermercado Zaffari)
Já os espumantes ressaltam seu sabor com a produção
contínua de bolhas finas em copos de formato mais alto e esguio.
3. Taça de cristal Strauss para vinho Bourgogne Grand Cru
(R$ 84,30 o conjunto com duas peças - Cia de Copos)
1. Taça de cristal Versace por Rosenthal
(R$ 4.121,90 o conjunto com seis peças - Espaço Santa Helena)
4. Taça de cristal Mikasa
(R$ 1.187 o conjunto com 36 peças - Presentes Mickey)
6
1
20 diVino
3. Taça de cristal Blumenau
(R$17,90 cada peça - Hipermercado Zaffari)
7
FOTOS: JOSé HENRIQUE VIEIRA
7. Taça de cristal para vinho do porto Strauss
(R$ 54,50 o conjunto com duas peças - Cia de Copos)
5
2. Taça de cristal Krosno
(R$ 890 o conjunto com 18 peças - Roberto Simões)
5. Taça de cristal Krosno
(R$ 650 o conjunto com 18 peças - Roberto Simões)
6. Taça de vidro Bormiolli Rocco
(R$ 28,90 cada peça - Hipermercado Zaffari)
4
4. Taça de cristal
(R$ 173,90 o conjunto com seis peças - Espaço Santa Helena)
5. Taça de cristal Mikasa
(R$ 1.187 o conjunto com 36 peças - Presentes Mickey)
*Preços pesquisados em agosto de 2008.
diVino 21
CasamentO PerfeitO
Bolit
O
com tradiçãO
Como escolher um vinho “curinga” para um prato que
apresenta sete tipos de carne, seis legumes diferentes e três
molhos especiais? Para encarar esse desafio, convocamos um
respeitado time de sommeliers.
por Carlos Marcondes
fotos José Henrique Vieira
Q
2 diVino
uarta-feira no restaurante Parigi, em São Paulo, hora do almoço. Entre uma mesa e outra,
lá esta o experiente “Seu Ático”. No auge dos
seus 82 anos, ele passa com seu belo carrinho
de prata oferecendo o Bolito Misto, tradicional cozido italiano. Difícil não se encantar
com a simpatia desse “PhD” em Bolito Misto.
Tanta experiência tem uma explicação: Seu
Ático serve esse prato há mais de 50 anos,
desde a época em que trabalhava no restaurante Ca’d’Oro, no centro da cidade. “O Bolito é minha vida, devo muito a ele. Amo o que
faço e meus clientes sentem isso”, revela.
Naquele dia, era dele a missão de montar os
pratos para a prova de um time de feras formado pelos sommeliers Manoel Beato (Fasano), Rogério Moura (Parigi), Eliana Araújo (Capim Santo) e Ezequiel Rodrigues (La
Fronteira e Martín Fierro). Depois de cortar
as carnes e distribuí-las nos pratos com o
cuidado de um artista, Seu Ático explica que
o Bolito é, na verdade, uma refeição pouco
gordurosa e muito saudável, ao contrário do
que parece. O chef francês Eric Berland, que
comanda a cozinha clássica ítalo-francesa do
Parigi há dez anos e é o responsável pelo preparo do Bolito Misto, confirma.
A especialidade é composta por sete tipos de
carne: paleta de vitela, galinha caipira, músculo, carne-seca, língua bovina defumada e
os embutidos zampone e cotechino.
O carrinho de Seu Ático também traz para o
cliente hortaliças como cenoura, batata-bolinha, batata-doce, mandioquinha, repolho e
cebola. E ainda caldo de pirão à base de tutano e farinha de rosca, além dos molhos de
salsa verde, raiz-forte e mostarda de cremona.
“Acrescentamos ingredientes regionais como a
mandioquinha e a carne-seca para dar um toque brasileiro ao nosso Bolito”, conta Berland.
O segredo para que o cozido seja servido “no
ponto” é acrescentar vinho branco na hora de
refogar os legumes e deixar as carnes por cerca
de três horas e meia na panela, até atingirem
a maciez ideal. O chef, apaixonado pelo Bolito, também se arrisca na sugestão de vinhos
e abre a seção de harmonização indicando o
respeitado tinto Château Figeac safra 1989 –
Seu Ático orgulha-se do prato
que serve há mais de 50 anos
um Bordeaux caloroso que contrasta com as
diversas carnes do prato.
Manoel Beato, admirador de Seu Ático e do
Bolito do chef, comenta que, se o sommelier
for extremamente rigoroso, torna-se quase
impossível harmonizar o prato apenas com
um vinho, já que a combinação perfeita depende sempre da bocada do prato que a pessoa vai degustar. “É realmente um desafio,
pois o comensal vai encontrar sensações de
diversos pratos em apenas um!”
Contudo, segundo ele, é possível eleger vinhos “curinga” de leve a médio corpo, com
ótimo frescor e uma certa acidez para harmonizar com os dois embutidos da receita. Suas
sugestões seriam o Barbera D’Asti – jovem,
produzido pela família Icardi, na Itália – ou
ainda o Valpolicella, feito por Sergio Zenato,
mais maduro e um pouco mais encorpado.
Entre os produtores nacionais, sua indicação
é o Pinot Noir 2005 da vinícola Quinta da
Neve, de Santa Catarina.
Já Eliana Araújo acredita que as carnes, legumes e notas picantes e agridoces do Bo-
lito possam integrar-se perfeitamente aos
aromas inusitados do Estate Wildflower, da
produtora Jerry Lorh, que trocou seu trabalho na Nasa (agência espacial americana)
pelo cultivo de excelentes uvas nos EUA.
Outra indicação é o ÁN/2, da espanhola Ànima Negra, um tinto elegante e versátil, capaz de casar com toda a diversidade do prato.
Como o cozido é italiano, ela sugere ainda o
Edizione Cinque Autoctoni, feito pela vinícola Vini Farnese. “Esse vinho é um corte de
cinco uvas que proporcionam uma explosão
de aromas e sabores”, explica ela.
Ezequiel Rodrigues também pensou na Espanha, só que na uva Tempranillo, com o
Viña Alberdi 2001, de taninos finos e grande prestígio. “Ingredientes leves cozidos no
caldo de brodo necessitam de um vinho com
frescor equilibrado para casar com carnes
como a língua salitrada, o músculo e o cotechino”, comenta. Ele recomenda ainda um
Pinot Noir do novo mundo como o Errazuriz
2006, da região de Casa Blanca no Chile,
que possui um toque de madeira interessante
No Parigi, o
Bolito Misto de
Seu Ático é um
desafio para a
carta de Vinhos
diVino 3
CasamentO PerfeitO
Grand Bolito Misto
Da esquerda para a direita:
Manoel, Seu Ático, Ezequiel,
Eric, Rogério e Eliana
para provar com os legumes. Como terceira opção, vem o
italiano de médio corpo e muito distinto Regaleali 2006, da
emblemática uva Nero D’Avila.
Prata da Casa, Rogério Moura já realizou dezenas de testes
com o Bolito e está acostumado com as dúvidas e anseios de
seus clientes. “É um prato difícil e poucos se arriscam na escolha do vinho sem antes consultar nosso conselho.” Devido
à diversidade de sabores, Rogério acredita que é fundamental eleger um vinho de médio corpo e de ótima acidez, que
exalte as carnes e os embutidos. Sua sugestão é o Chianti
2001, do italiano Parri, um Sangiovese equilibrado e com
toque de carvalho bem agradável. Da França, ele indica o
Château Campuget Tradition Rouge 2005, redondo, com
mais especiarias e um toque de pimentão. Por fim, fecha seu
trio de indicações com um chileno elaborado com Syrah –
do produtor Loma Larga –, bem elegante, expressivo, com
notas de jabuticaba e ameixa.
É fácil notar a felicidade no rosto de Seu Ático enquanto especialistas buscam grandes vinhos para o prato que marcou sua
vida. Ele se preocupa em colocar cada um dos 17 elementos
da receita para que a avaliação seja completa. Mas prefere não
se arriscar a sugerir um vinho. Já se sente realizado por saber
que estão tratando com respeito o carrinho do qual ele vem
cuidando por mais de cinco décadas.
4 diVino
Vinhos Sugeridos
Eric Berland
Château Figeac 2004, R$ 465 – Grand Cru
Manoel Beato
Barbera D’Asti Tabaren 2006, R$ 106 – Enoteca Fasano
Valpolicella Clássico Superiore 2005, R$ 35 – Cellar
Pinot Noir Quinta da Neve 2005, R$ 52 – Decanter
Eliana Araújo
Estate Wildflower Valdiguie 2004, R$ 82 – In Vino Amici
ÀN/2 Ànima Negra 2005, R$ 105 – Mistral
Edizione 07 Cinque Autoctoni, R$ 145 – World Wine
Ezequiel Rodrigues
Vinã Alberdi Reserva 2001, R$ 53 – Zahil
Errazuriz Pinot Noir 2006, R$ 79 – Vinci
Regaleali Nero D’Avola 2006, R$ 65 – Mistral
Rogério Moura
Chianti Montespertoli Parri 2001,
R$ 106 – Enoteca Fasano
Château de Campuget Tradition Rouge 2005,
R$ 66 – Enoteca Fasano
Loma Larga Syrah 2004, R$ 145 – Terramatter
10 porções
Ingredientes
1kg de carne seca (coxão mole)
1 língua defumada
1kg de músculo de boi
1 cotechino
1 zampone
1kg de paleta de vitela
1 frango caipira
1 repolho
500g de batata doce
500g de cenoura
1 kg de cebolinhas
1 kg de batatinhas
500g de mandioquinhas
500g de farinha de rosca
100g de tutano de vitela
Sal e pimenta-do-reino
Para o caldo
1 cebola média
1 cenoura média
2 talos de salsão
2 folhas de louro
1 ramo de alecrim e de tomilho
100ml de vinho tinto seco
Para os molhos
2 ovos cozidos
1 maço de salsinha picada
50ml de vinagre
de vinho branco
250ml de azeite extra virgem
Sal e pimenta-do-reino
50g de creme de leite
100g de raiz forte
200g de mostarda de cremona
Preparo
• Deixe a carne seca de molho em água por pelo
menos 24h (troque a água diversas vezes para
eliminar totalmente o sal).
• Limpe as carnes retirando eventuais nervuras
e gorduras. Limpe a língua defumada, retirando
a “pele” mais áspera.
• Em um caldeirão grande, refogue todos os temperos
do caldo e acrescente o vinho tinto. Arrume as carnes
e legumes no caldeirão (os legumes por cima pois
cozinham antes).
• Coloque água suficiente para cobrir todas as carnes
e legumes. Leve à fervura branda. Acerte o tempero
de sal e pimenta do reino.
• Teste sempre o ponto de cozimento dos ingredientes
e retire-os do caldeirão à medida que estiverem prontos.
• Após cozidos, separe 0,5l do caldo e prepare um
pirão com a farinha de rosca e o tutano. Reserve.
Molhos
Salsa verde: pique em pedaços pequenos
os ovos cozidos, a salsinha picada. Misture
o vinagre com o azeite extra virgem e tempere
com sal e pimenta-do-reino.
Raiz forte: Misture o creme de leite com
a raiz forte para deixá-la mais cremosa.
Mostarda: Pique as verduras da mostarda
de cremona em cubos de 0,5 cm de lado.
Montagem
• Coloque em uma travessa grande as carnes,
os legumes e regue com um pouco do caldo
de carne por cima. Reserve em local aquecido.
• Arrume o pirão e os molhos preparados à parte.
• Bata no liquidificador o caldo com os temperos
iniciais, retorne ao fogo e cozinhe até atingir
consistência de molho.
• Sirva imediatamente acompanhado de capelletti
de vitela em caldo de carne.
O Bolito Misto é servido no almoço do Parigi
às quartas-feiras e aos domingos. R$ 78.
diVino 5
FalandO de VinhO
por Carlos Marcondes
fotos Fabiano Cerchiari
Ed Bourgogne
Declaradamente apaixonado por vinhos franceses, o “cantorenófilo” Ed Motta começou a se interessar pela bebida inspirado por sua esposa, há quase duas décadas.
E
le não se prende a clichês, nem gosta de avaliar vinhos por notas. Seu negócio é provar. E, de
preferência, um aromático Bourgogne. Novo mundo não é sua praia, ele se arrisca com poucos californianos e raros brasileiros especiais. Para ele, a França é, com toda certeza, a matriz
dos vinhos mais complexos e delicados do mundo. Ed Motta veio a São Paulo para finalizar seu
mais novo trabalho, o álbum Chapter 9, com faixas inéditas. Além de compor e cantar, neste
disco ele também toca piano, bateria, baixo e guitarra. E a diVino esteve com ele e sua esposa,
Edna Lopes, para falar sobre sua paixão por vinhos.
O encontro se deu no restaurante italiano Vecchio Torino, do chefe Giuseppe La Rosa, uma
escolha do próprio músico. Em homenagem ao artista, o chef criou um prato especial: o
“Papardela com Pernice a la Ed Motta”, uma massa com pedaços de perdiz que leva também
sálvia, tomilho e tartufo nero.
Para os brindes e harmonizações, levamos dois vinhos biodinâmicos franceses da importadora
De La Croix: o Beaune ler Cru 2000 – um Pinot Noir da Bourgogne feito por Domaine J.C.
Rateau – e o Champagne Fleury, do primeiro produtor da região a transformar seus vinhedos
em biodinâmicos e que encantou Ed Motta. Seu amigo e nosso colunista Manoel Beato levou
ainda um suntuoso Quinta do Ribeirinho, do produtor português Luis Pato, safra 1995.
É verdade que você não bebia nem uma gota de álcool
antes de se casar?
Nada, só refrigerante! Na minha família ninguém bebia e
eu via aquilo como algo estranho, fora da minha realidade.
Até que conheci minha esposa Edna, há 18 anos, e então,
movido pela paixão, resolvi quebrar o gelo e experimentar. Como estréia, tomei um chileno, um Santa Helena
Reservado.
E a fissura pelos Bourgogne?
É incrível, mas no início eu era fanático por Bordeaux, até que
comecei a provar beldades bordalesas e aquilo mudou minha
vida. Trocava garrafas valiosíssimas de Bordeaux 82 por vinhos
da Bourgogne com colecionadores. Atraia-me o fato de eles serem delicados, aromáticos, sem tanta fruta e bem com a “cara”
de cada produtor. Creio que os Bordeaux são hoje muito lineares, excessivamente parecidos entre eles, algo mais comercial.
E como começou a paixão por rótulos franceses?
Quando fui morar em Nova York, havia uma loja chamada
Gotham Wine and Spirits, especializada em Bourgogne,
Rhône e Vale do Loire. Virei cliente, ficava atento às promoções, comprava livros e revistas, estudava muito sobre
o tema.
Isso explica sua adega de quase mil Bourgogne?
Creio que sim. Meu negócio é Pinot Noir e Chardonnay. Em
nossa adega temos mil garrafas, com cerca de cinco nacionais,
uma Quinta do Ribeirinho, uma Opus One dos EUA, umas
10 do Vale do Loire e do Rhône, e o resto é tudo Bourgogne. É
disco arranhado total!
2 diVino
diVino 3
FalandO de VinhO
Você já esteve na região?
Não. Sou muito urbano, não me atrai muito a idéia de visitar
um châteaux. Sou do tipo que gosta do resultado final, de
comprar a garrafa que veio trazida por um caminhão de uma
importadora.
Trouxemos dois exemplos interessantes de biodinâmicos. O que você acha desta filosofia?
É algo muito artístico. Eu admiro a forma como esses caras
enxergam e conduzem suas vidas. São produtores que não
pensam apenas no comercial. Há grandes rótulos de qualidade, basta provar o Coullée de Serrant do psicodélico do
vinho, Nicolas Joly, e confirmar que a bebida é incrível. Este
Champagne Fleury também é sensacional.
Como você enxerga os nacionais?
Gosto mais de alguns brasileiros do que a maioria feita no
Chile ou na Argentina. A Cave Ouvidor, de Garopaba, SC,
faz um dos melhores brancos do novo mundo, eu diria que é
o Coullée de Serrant do Brasil. O Tannat, da Vallontano, RS,
também é delicado como ótimos franceses. Outro especial
é o Cabernet Sauvignon, do enólogo gaúcho Werner Schumacher, que lembra um Bordeaux antes da modernização.
Destaco ainda o Minimus Anima, do produtor Marcos Danielle, capaz de fazer um vinho parecido com um Amarone,
fantástico. Estes são caras que fazem excelências com quase
nada de estrutura. Além destes, gosto também do Sauvignon
Blanc da Villa Francioni, SC.
por XXXXXXXXXXXXXXX
de terno e que é um pseudoconhecedor e quer mostrar seu
conhecimento da pior maneira possível. E tem o enochato
tânico, iniciante, que gasta um mar de dinheiro em chilenos
fraquíssimos, fala besteiras e “dá foras” incríveis – estes são
legais, me divirto com eles.
Hoje
muitos vinhos são precificados e qualificados
Wine
Spectator e Decanter e de críticos como Robert Parker e Jancis Robinson. Qual sua visão sobre isso?
Como um colecionador, eu não poderia ser desrespeitoso ao
cataloguismo, porém não gosto de notas. Acho que diminui o
prazer da escolha e da degustação e cria uma legião de seres
humanos que adoram ser “gados”, que reverenciam vinhos
sem conhecê-los de verdade. Considero fundamental ter
opinião, independente do que diz a crítica.
de acordo com notas emitidas por revistas como
O bom vinho no Brasil é algo para a elite?
Infelizmente sim. Eu vim da periferia do Rio de Janeiro e sou
um dos poucos negros no país que conhece vinho. Mas não
por algum tipo de ascensão ou porque queria fazer parte de
um seleto grupo, é porque gosto mesmo da bebida.
espaço na competição com os importa-
Quais vinhos você dispensaria?
Não me agradam as características do vinho espanhol. Parece um Bordeaux mais grosseiro, com muita madeira. Sou um
sujeito estranho que não gosta de Vega Sicília – e olha que
já bebi várias safras. Também dispenso totalmente o Malbec
argentino e não me interesso por novo mundo, como Austrália e Nova Zelândia.
Não sei, eu vejo as classes média e alta com um certo esnobismo em relação ao nacional. Sabe o cara que se veste de
blazer branco, calça branca e acha que está no sul da Itália?
Estas figuras olham o vinho nacional com certo desdém e,
de certa forma, atrapalham o desenvolvimento do setor de
grandes rótulos por aqui.
Qual o melhor vinho que você já tomou?
Sem dúvida o La Tâche 78 é um vinho que me tira do prumo.
Se eu o tomasse agora, seria capaz de ficar nu aqui no meio
da avenida Faria Lima e passar a controlar o fluxo de carros
(risos). Mas, infelizmente não tenho padrão para tomá-lo
sempre. Bebo, algumas vezes, pois sou meio maluco.
Estes seriam enochatos?
Acho que há dois tipos deles. O que vai a uma degustação
E qual sonha em tomar?
Um Romanée Conti 7. Experimentá-lo seria uma loucura.
Ganharemos
dos?
4 diVino
Acha que há sinergia entre a arte do vinho e a
da música?
Há arte nos dois processos, mas talvez seja uma
ingenuidade minha querer buscar no mundo do
vinho uma alternativa ao pragmatismo da arte. No
vinho, o tradicionalismo é ainda maior, é um setor mais careta, com certos dogmas absolutos. Os
dois têm um discurso altamente artístico, porém
muitos envolvidos, no final, só querem saber de
lucro (risos). Mas ambos são prazeres sensuais,
ligados ao senso, ao prazer da vida.
Você costuma beber ao compor?
Nunca. Não consigo tocar piano profissionalmente
após uma ou duas taças de vinho. Compor é uma
necessidade psicológica e espiritual. O vinho é para
celebrar o que foi realizado.
Você é um artista ligado ao setor de entreteQual sua opinião sobre a Lei Seca?
Eu defendo a punição por considerar um ato de
cidadania e de responsabilidade. Talvez seja mais
fácil concordar já que não dirijo, mas não há dúvidas que o álcool altera os reflexos e ficamos menos
precisos. Não dá para ser contra algo que ajuda a
preservar vidas.
nimento.
O que é o vinho para Ed Motta?
É um misto de uvas que me dá muito prazer! Adoro
comer e beber com ele, alimenta minha alma. Há
uma dose de poesia, uma dose que o faz extrapolar
os limites do encantamento, mas apenas raríssimos
vinhos proporcionam essa sensação.
Que
conselho daria para quem está entrando
agora nesse mundo?
Procure enxergar os detalhes, seja ótimo observador e fique atento ao que você come e bebe. Seja
interessado. A vida passa rápido e é feita de detalhes, Deus mora no detalhe.
diVino 5
Viagem DiVina
Nosso colaborador Erick Scoralick esteve nas regiões
vinícolas portuguesas do Alentejo e do Douro e revela
um roteiro que combina turismo histórico e cultural
com uma bela carta de vinhos.
Aquapura Spa & Resort,
eleito o melhor hotel de Portugal
32 diVino
A
capital portuguesa Lisboa foi nosso ponto de
partida. A 120 km dali – o que significa cerca
de uma hora de carro –, nossa primeira parada foi Évora, uma das principais cidades do
Alentejo. Declarada Patrimônio Histórico da
Humanidade pela Unesco em 1986, Évora
tem um centro histórico repleto de atrações
turísticas, além de ser uma ótima base para
se explorar a região, incluindo tanto pequenas
quanto importantes vinícolas.
Évora começou a ganhar importância na época
dos romanos, mas foi na Idade Média que se
tornou um importante centro de estudos e arte,
o que pode ser constatado hoje por sua riqueza
arquitetônica e cultural. Para conhecê-la, vale
começar passeando por suas ruas estreitas e
então visitar alguns de seus pontos turísticos,
todos marcados por importantes fatos históricos. A Catedral da Sé, a antiga Universidade
– desativada desde 1759 –, a agitada Praça do
Giraldo, a Capela dos Ossos, o Aqueduto da
Água de Prata, o Museu de Évora e o Templo
Romano são alguns deles. A rua 5 de outubro,
com suas lojas que vendem antiguidades e artesanato, também faz valer uma caminhada.
Ao redor de Évora, pode-se fazer um passeio
pelos megálitos, pedras monumentais que,
estimam os arqueólogos, tenham surgido entre 4000 e 2000 a.C. Em Montemor-o-Novo,
cidade próxima dali e também fortificada pelos
romanos e pelos mouros, há inclusive o Museu
Regional de Arqueologia.
foto: www.leonardo.com/slh
BebendO da fonte
por Erick Scoralick
diVino 33
Viagem DiVina
O que é bom pode ficar melhor?
A primeira vinícola que visitamos foi a Casa de Sabicos, do casal
Graça Santana Ramalho e Joaquim Madeira. Uma das linhas
leva o nome de Graça, enquanto a outra leva o nome de seu marido e uma terceira linha – a que é considerada top da vinícola – é
chamada Avó Sabica. Fomos recebidos pelo novo enólogo, Jorge
Rosado, na própria casa da vinícola. Há também a possibilidade de se hospedar na cidadezinha de Regengos, bem próxima
dali e também da vinícola Herdade do Esporão, que visitamos
em seguida. Com cerca de 550 hectares de vinhas, ela possui o
maior vinhedo do país, resultado de uma década de investimento do banqueiro e empresário José Roquette. Fomos recebidos
pelo enólogo David Baverstock, um australiano que vive há 25
Onde ficar:
A diVino teve o privilégio de
hospedar-se no Convento
do Espinheiro, em
Évora. Membro da Luxury
Collection, é um magnífico
hotel de 59 quartos,
inserido num suntuoso
jardim de 8 hectares.
O edifício original, um
convento do século 15,
é considerado Patrimônio
Nacional, e as suas
origens remontam ao ano
de 1400 aproximadamente,
quando Virgem Maria
teria aparecido sobre
um espinheiro.
Posteriormente, dada
a crescente importância
do local como ponto de
peregrinação, foi fundada
a igreja e o convento.
O Convento dos Lóios,
outro mosteiro do século
15, é hoje uma luxuosa
pousada estatal, onde
os hóspedes dormem
em celas e jantam em
claustros. Com apenas
32 quartos, fica no centro
histórico de Évora.
Próximo a Évora, na
cidadezinha de Montemoro-Novo, o Hotel da Ameira
é uma charmosa opção ao
estilo rural com 60 quartos,
no alto de uma colina.
Ao norte de Évora, na
cidade de Crato, fica a
Pousada Flor da Rosa,
um hotel medieval com ar
sofisticado, membro da
rede Historical Hotels of the
anos em Portugal, muito simpático e atencioso. Ficamos para
um almoço harmonizado na casa-sede da vinícola, com direito
a uma degustação de azeites varietais, outro produto fabricado
pelo Esporão. A vinícola tem ainda a Casa do Enoturismo, abrigada em uma edificação medieval que tem no primeiro andar
um centro pré-histórico, montado com a ajuda de arqueólogos
que estudam o local. A principal marca da vinícola em termos
de volume, Monte Velho, possui vinhos tintos e brancos que
estão presentes nas cartas de vinho de praticamente todos os
restaurantes de Portugal. Mas é a marca Herdade do Esporão
que melhor os representa entre os apreciadores de vinho. Seu
rótulo top “Garrafeira”... um desejo!
World. O antigo mosteiro
foi construído em 1048 e
virou hotel em 1995. Serviu
de cenário para parte do
filme “O Nome da Rosa”,
que se passa na Idade
Média.
Onde comer:
Évora tem dois
restaurantes que são
paradas gastronômicas
obrigatórias. Um deles
é o Fialho – consagrado
com duas estrelas no
Guia Michelin, além de
vários prêmios – que serve
comida regional alentejana
em um ambiente receptivo
e caloroso. A sugestão do
chef na data de nossa
visita foi a “bochecha de
porco preto”, um prato
34 diVino
Erick scoralick
Erick e o enólogo da Herdade
do Esporão, David Baverstock
um tanto exótico, mas
muito leve apesar de
parecer o contrário.
Uma das marcas
registradas do Fialho
é a fartura e variedade
de entradas e acepipes,
sendo que merecem
destaque a lula e o
bacalhau em patanisca.
E aqui vai a dica: é melhor
não se distrair com tantas
delícias, ou estará satisfeito
quando o prato principal
chegar à mesa.
O outro é o Tasquinha de
Oliveira. Pequeno, tem
apenas 13 lugares, mas
grande reputação.
É comum ver o Oliveira,
chef e dono do restaurante,
dispensando clientes
quando a casa está lotada.
Oliveira trabalhava no
Fialho quando resolveu
abrir seu próprio negócio
com a mulher, Carolina,
há cerca de dez anos.
Aqui se repete o festival
de entradas e também
merecem destaque
as sobremesas típicas
portuguesas.
Partimos então rumo ao Douro, talvez a região vinícola mais
bonita do mundo e declarada Patrimônio da Humanidade
pela Unesco. De Évora até Porto são cerca de 400 km de autopista e no caminho ficam as cidades de Fátima e Coimbra,
que podem ser também duas paradas.
A cidade do Porto é segunda mais importante de Portugal e o
berço do vinho do Porto. Ao mesmo tempo que é cosmopolita
e moderna, tem um passado muito rico. Uma boa maneira de
se familiarizar com a cidade é explorar suas ruazinhas estreitas e seu centro histórico, também considerado Patrimônio
Histórico pela Unesco. A Catedral da Sé, a Estação São Bento, a Casa do Infante, a Casa-Museu Guerra Junqueiro, a
Igreja do Carmo, o Jardim do Palácio de Cristal e o Mosteiro
da Serra do Pilar são alguns de seus pontos turísticos. Caminhar pela orla do rio também é um dos atrativos da cidade.
O bairro de Matosinhos, na costa, é repleto de restaurantes
de peixe e frutos do mar. Os passeios de barco que saem da
cidade também são uma ótima maneira de se conhecer a
paisagem da região. E as praias, como a de Espinho, são a
principal atração da costa sul.
Do outro lado do rio, em Vila Nova de Gaia, avistam-se os armazéns onde envelhece o precioso vinho do Porto. Há visitas
guiadas em todos os armazéns, que normalmente são encerradas com degustações. Mais de 50 empresas têm galpões lá,
como Cockburn, Graham, Sandeman e Taylor. Para ligar as
duas margens, a majestosa ponte Dom Luis I foi construída
em 1886 por um assistente de Gustave Eiffel e também é um
marco no cenário local.
A região vinícola do Douro está a 180 km da cidade do Porto e se subdivide em três partes: Baixo Corgo, Alto Corgo e
Douro Superior. Pode-se viajar de carro ou de trem para ir a
várias cidades do norte e do vale do Douro.
Os armazéns de Vila Nova de
Gaia vistos da Ponte Dom Luis I
Age fotostock/keystock b29-636090
Rumo aos vinhedos
diVino 35
Viagem DiVina
A caminho da fonte
Onde comer:
No pitoresco bairro de
Matosinhos, há vários
restaurantes especializados
em peixes e frutos do
mar, como o Esplanada
dos Mariscos.
Na praia de Espinho fica
o Terraço Atlântico, com
uma deslumbrante vista
panorâmica, que faz as
mesas próximas às janelas
serem muito disputadas.
O Casa Aleixo, dirigido
pela mesma família desde
1948, é conhecido por
seus pratos de tripas.
No Dom Tonho, instalado
em um armazém do século
17, à sombra da Ponte
Dom Luis I, o menu respeita
as tradições culinárias do
norte de Portugal.
Já o Bull and Bear, um
dos restaurantes mais
renomados de Portugal,
oferece cozinha moderna,
com pratos refinados e leves.
Onde ficar:
Aqui nós optamos por um
hotel Mercure em Vila
Nova de Gaia, que tem
ótimo custo-benefício. O
interessante do local é que
No Velho Douro, vários tipos de uvas são
plantadas misturadas e então vinificadas juntas
36 diVino
Nova, cujo vinho ganhou na Expovinis deste ano como o
“Melhor Vinho do Velho Mundo”. E um detalhe: não há
mais garrafas dele à venda em Portugal. A vinícola tem uma
estrutura completa para receber o turista: passeios para
acompanhar as atividades vínicas e agrícolas; restaurante
com o melhor da gastronomia tradicional da região; e o Hotel Rural Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, inaugurado em 2005, com 11 quartos e vista panorâmica para o
vinhedo e para o rio.
fica em um complexo
que incluiu um grande
shopping center, ao lado da
auto-estrada de chegada
à cidade do Porto e é bem
próximo dos armazéns
de vinho do Porto.
Mas fica na região do Douro
o hotel eleito o melhor de
Portugal: o Aquapura Spa
& Resort. Com ambiente
moderno e luxo despojado,
foi projetado pelo arquiteto
português Luis Revelo de
Andrade. A vista dos quartos
não podia ser outra: videiras,
oliveiras e laranjeiras
compõem o cenário. No
spa, as salas têm vista
panorâmica para as vinhas
e para o rio. Fica na margem
sul do rio Douro, próximo
à cidade Peso da Régua
e a pouco mais de uma
hora do aeroporto
internacional do Porto.
E no distrito de Vila Real,
também às margens do
Douro, o hotel boutique
Quinta da Romaneira
combina turismo rural de
luxo com uma inspiração
cosmopolita. Tem 19
quartos e vista espetacular
das montanhas com
plantações de uvas.
foto: www.leonardo.com/slh
Nossa primeira visita foi à vinícola Quinta do Crasto, cujo
dono, Jorge Roquette é irmão de José Roquette, da Herdade
do Esporão. Situada na margem direita do rio Douro, entre
Régua e o Pinhão, esta é uma das vinícolas mais antigas da
região, com 70 hectares de vinhas, sendo 14 deles ocupados
por vinhedos muito antigos. Apesar disso, os engarrafamentos com marcas próprias só se iniciaram em 1987 para os
vinhos do Porto, e em 1994, para os vinhos de mesa.
Logo à sua frente, na outra margem do rio, fica a Quinta
Espumantes
por Alexandra Corvo
Borbulhas:
os estilos
escondidos
em palavras
misteriosas
Champagne, Prosecco, espumante, brut, doce, suave, demi-sec... Essas palavras, que a
princípio parecem ser apenas nomes, escondem – ou revelam – valores e sabores importantes. Geralmente esses termos estão relacionados à região de produção, ao tipo de uva ou ao
grau de açúcar da bebida. Mas que informações úteis essas nomenclaturas nos trazem?
Tomemos o exemplo de Champagne: o nome da bebida é o da região demarcada. Isso
quer dizer que, para tê-lo no rótulo, todas as uvas usadas na produção do célebre espumante devem ser originárias dali. Mas não é só isso: as uvas em questão só podem ser
das três variedades autorizadas: Pinot Noir, Chardonnay e Pinot Meunier. E mais: o
vinho deve ser produzido pelo complexo método champenoise, aquele cuja espuma vem
da segunda fermentação na própria garrafa. Todos esses fatores imprimem ao vinho as
características típicas de Champagne, como os aromas minerais – que vêm do solo específico da região – e os de pão tostado e brioche, que surgem do contato com as leveduras.
Os espumantes brasileiros, quando são produzidos pelo método de Champagne, como
não podem usar essa denominação, costumam levar no rótulo as expressões “método
tradicional” ou “clássico”.
Se lemos Prosecco no rótulo, o primeiro fator a se considerar é que esse termo é o nome
da uva, originária do Vêneto, na Itália. E o método de produção normalmente utilizado
para a sua produção – conhecido como Charmat – é o da segunda fermentação em
grandes tanques, e não na própria garrafa. Os grandes Proseccos têm tons verde-claros
e aromas de frutas muito frescas e flores brancas, que são privilegiados pelo método
Charmat. Esqueçam o conceito de espumante barato “de evento”. O Prosecco é um vinho
respeitável quando vindo das mãos de produtores sérios. O problema é que muitos vinhos
de pouca qualidade foram produzidos com essa uva e seu nome estava, é claro, impresso
nos rótulos. O termo Cava indica um espumante produzido também pelo método champenoise, mas na Espanha – a palavra “cava”, em espanhol, significa adega subterrânea
em espanhol. O coração da produção desse espumante é a Catalunha, de onde vêm
85% da produção, mas hoje são 160 as localidades produtoras, espalhadas por todo o
país. A utilização das uvas locais Macabeo, Parellada e Xarel-lo e o clima mais quente
conferem ao Cava sabor e aromas particulares. É claro que o resultado final depende,
mais uma vez, de cada produtor, mas o estilo é geralmente menos fresco, menos ácido,
mais maduro e leve. E é essencial que seja tomado muito jovem. A tendência para o
futuro é a busca de variedades tintas – Monastrell, Garnacha, Teprat – para adicionar
mais corpo, volume e capacidade de envelhecimento.
Mais palavrinhas mágicas
Alexandra Corvo é
sommelière formada
pela École d'ingénieurs
Oenologiques de Changins,
na Suíça. Ensina sobre o
vinho em sua escola Ciclo
das Vinhas, em São Paulo.
6 diVino
Para entender outras palavras comumente encontradas em rótulos, seguem algumas dicas
que valem para espumantes de todas as regiões:
Brut Nature: até seis gramas de açúcar por litro, ou seja, muito pouco. São os mais secos.
Brut: até 15 gramas de açúcar por litro. É seco, mas tem um certo volume, uma textura
maior, dada pela presença do açúcar.
Extra-dry: de 12 g a 20 g de açúcar por litro. Sentimos um pouco do açúcar, mas essa quantidade não é suficiente para chamá-lo de doce.
Sec: por mais que engane, a palavra indica um vinho já com um teor de 17 g a 35 g de
açúcar, ou seja, uma doçura bem perceptível.
Demi-sec: chega a ter 55 g de açúcar por litro e é um espumante doce. Acima disso, os
“Doux” (ou doces) já são praticamente considerados vinhos de sobremesa.
Com essas ferramentas, você pode escolher aquele que gosta mais.
Especial Azeite
Azeitona
E
a peso de u a
V
Durante a Expoazeite, produtores mostraram as novidades do
setor e afirmaram que, assim como ocorreu com o vinho há
alguns anos, o azeite vem ganhando o respeito dos brasileiros
FOTOS: JOSé HENRIQUE VIEIRA
por Camila de Oliveira
2 diVino
le já foi utilizado para iluminar caminhos. Um
archote embebido de azeite dentro de uma lamparina combatia a escuridão de lugares públicos
e residências, entre os romanos. Hoje, seria um
pecado fazer tal uso do melhor das azeitonas.
Para os catadores, os “sommeliers do azeite”,
uma heresia! Afinal, assim como ocorreu com
o vinho há algumas décadas, o azeite vem conquistando seu espaço gourmet em solo nacional.
O chamado “ouro líquido” está presente não só
nas prateleiras dos supermercados, como, nos
últimos anos, pode ser encontrado em lojas exclusivas, freqüentadas por amantes da boa gastronomia. Nos restaurantes, o leque de opções
também é maior. E não foi apenas o hábito do
consumidor que mudou. O mercado produtor
cresceu e, com ele, a variedade de azeite disponível em todo o mundo. Foi este o novo cenário
que se viu na segunda edição da Expoazeite, feira realizada em São Paulo, no mês de setembro.
Segundo a Oliva (Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite
de Oliveira), nosso país está entre os dez maiores
consumidores do mundo, com vendas anuais de
35 mil toneladas e consumo per capita de 0,4kg/
ano. Comparado aos gregos (25kg/ano), espanhóis e italianos (12kg/ano), nosso consumo ainda é modesto. No entanto, o Brasil é considerado
um mercado com muito potencial, que registra
um crescimento anual de 7%. Segundo Patrícia
Lafuente, da Azeite de Oliva Espanhol – um
dos principais divulgadores do azeite no mundo
– esse aumento reflete o maior poder aquisitivo
do brasileiro, o que resulta na melhora dos hábitos alimentares. Se por um lado o consumo
está cada vez mais sábio e qualitativo, por outro
a produção brasileira ainda está em experiência.
Regiões de clima mediterrâneo – como Maria
da Fé, em Minas Gerais, e Caçapava do Sul e
Pelotas, no Rio Grande do Sul – possuem plantações de oliveiras há algum tempo, mas somente este ano extraiu-se o óleo de suas azeitonas.
Enquanto a produção nacional dá seus primei-
ros passos, os brasileiros consomem importados
provenientes do mundo todo. Por razões históricas, Portugal continua no topo da lista das
importações, seguido de Espanha, que lidera os
rótulos de azeite extra-virgem no nosso país.
No espaço cultural
A valorização do azeite em solo nacional é sentida também no sucesso das chamadas boutiques.
Em 2002, La Table O&Co foi a primeira a introduzir no país o conceito de um ambiente misto de
restaurante e loja, onde o apreciador pode degustar e aprender sobre azeites do mundo todo, de
tradicionais mediterrâneos a novos argentinos.
Isaac Azar, catador da boutique e restaurante
Azait, também vem sentindo o maior interesse
por azeites de qualidade. No Azait, a escolha
do azeite que complementa a criação do chef é
tão importante quanto a eleição do vinho que
acompanhará o prato. Da entrada à sobremesa. ”Sempre que as possibilidades de combinação de aromas e sabores são bem explicadas e
demonstradas, a aceitação é grande”, acredita
Azar. Os aromáticos – de limão, tangerina ou
manjericão, por exemplo – são os preferidos
para a sobremesa. O que não quer dizer que
não harmonizem bem com uma carne. “Tudo
depende da criação do chef.”
E foi para propagar a cultura desses dois produtos tão próximos que foi criada a importadora
D’olivino, há três anos no mercado especializado. Com o conceito de difundir os dois protagonistas da dieta mediterrânea, é um local
dedicado exclusivamente ao azeite e ao vinho.
A alimentação voltada à saúde e ao melhor do
paladar é o foco do espaço, com influências da
gastronomia européia espanhola, portuguesa,
italiana e também da grega e marroquina. Em
tais culturas, o azeite é base para o preparo de
quaisquer pratos, sempre acompanhados do
vinho. Para decidir qual o melhor rótulo, é possível degustar e aprender mais sobre o produto
com o catador Marco Antônio Guimarães.
diVino 3
Especial Azeite
Reconhecendo um bom azeite
A difusão do azeite traz também a necessidade de informação.
Afinal, ao aumentar a oferta, crescem também as dúvidas na
hora de comprar. Elena Vecino, catadora e produtora espanhola, veio à Expoazeite nos ensinar aquilo que aprendemos
há mais de vinte anos com o vinho: ler o rótulo, saber distinguir aromas e sabores, conhecer as variedades de olivas.
Elena lembra que um azeite extra-virgem é o “suco da oliva”,
ou seja, o azeite de primeira prensa, sem qualquer tipo de mistura, com acidez menor do que 0,8%. Os azeites obtidos com
a ajuda de solventes na extração ou misturados a outros óleos
são os chamados de segunda prensa. Estes podem ser virgens
(acidez entre 0,8 e 2%) ou simplesmente azeites (acidez maior
do que 2%). Além desta informação, segundo as normas da
União Européia, o rótulo deve trazer o nome da oliva, a região
produtora e a data de fabricação do produto. Elena destaca
ainda as denominações de origem. Na Europa, duas siglas já
são bastante comuns: DOP (Denominação de Origem Protegida) e IGP (Indicação Geográfica Protegida).
Também da Europa vem outro fenômeno que está se tornando mais conhecido por aqui: os clubes de degustação. Em São
Paulo, o Azeite Club monta sessões em casa, com a presença
de um especialista que ensina técnicas básicas de degustação
e fala sobre a origem e a cultura do azeite. A degustação, acreditam os produtores, é algo essencial, pois assim como o vinho,
o azeite é obtido a partir de diferentes tipos de oliva. Há 300
delas registrados no COI (Conselho Oleícola Internacional), e
o terroir, da mesma forma que altera as características da uva,
modifica a azeitona e cria novos tipos por mutação. E não são
todas as que chegam aos lagares. Boa parte delas são as chamadas azeitonas de mesa, incluindo a preta, que é a oliva em um
No cinema
Se ao comprar pipoca no cinema o máximo em opçoes
que você espera encontrar é “com ou sem manteiga”,
saiba que a rede Cinemark abriu duas novas salas no
Shopping Cidade Jardim e, com elas, ofertas mais
gourmet. A pipoca agora pode ter cobertura de azeite
extra-virgem, ao alecrim, alho ou trufa. Uma parceria
com o grupo World Wine também garante sete rótulos
de vinhos para serem degustados no lounge exclusivo
ou na sala de projeção
4 diVino
Para aprender
O site da Azeite de Oliva Espanhol
(www.azeite.com.br) é um espaço de difusão cultural
do produto, com informações e dicas de como utilizálo. Há também novidades chegando, como o livro
“Segredos Revelados”, de grandes chefs espanhóis
que não deixam o azeite de lado ao entrar na cozinha.
Mas nome e data de lançamento só serão divulgados
no site daqui a um tempo.
de seus últimos estágios de maturação.
Se para os enófilos é comum pedir seu Cabernet ou o seu Merlot preferido, para os amantes do azeite os nomes Arbequina e
Picual são bem familiares. A similaridade com o vinho também
está na forma de produção: há azeites feitos de uma só variedade de oliva – os monovarietais – e os que trazem misturas numa
mesma garrafa, os chamados blends.
No entanto, enquanto um vinho pode melhorar e evoluir com
a guarda, um bom azeite será sempre o mais jovem. A luz, a
temperatura e a oxidação diminuem a qualidade do óleo com o
tempo e lhe trazem sabor e aroma de ranço. Por isso é importante saber qual o melhor recipiente para armazená-lo. Garrafas
de vidro escuro, locais frescos e com pouca luz são os mais indicados. Outra diferença marcante é que, se no vinho pode-se
identificar uma média de 52 compostos aromáticos, no azeite
– único óleo comercial sem refino, extraído de uma única fruta
– o número sobe para 105.
Durante a cata, ou degustação, usa-se um recipiente pequeno,
opaco e que, ao ser aquecido entre as mãos, libera os aromas.
Num bom azeite, eles podem remeter a folhas e tomates verdes,
frutados, ervas, alcachofras e notas frescas em geral. O toque
amargo ou picante indica a presença de polifenóis, poderosos
antioxidantes e antiinflamatórios.
Marcos Pimentel, catador da La Table O&Co, afirma ainda que
os azeites refletem a sua região produtora. Sendo assim, o azeite
da Espanha, de características amargas e fortes, lembram um
povo guerreiro. Já o proveniente de Portugal, tem muito do português extrovertido em sua densidade e sensação aveludada.
O marroquino, por sua vez, traz o mistério nos seus múltiplos
sentidos. Isaac Azar, da Azaït, concorda: “A oliveira é uma árvore
que acompanha a história de uma terra e de um povo.” História
que também acompanha seus consumidores e da qual, cada
vez mais, fazemos parte.
Confraria diVinO
por XXXXXXXXXXXXXXX
Hiper Toscanos?
Em seu segundo encontro, nossos confrades realizam uma
verdadeira viagem de sabores pela Toscana e se encantam com
as super produções da safra de 1997.
por Manoel Beato
fotos Tadeu Brunelli
N
2 diVino
ão é preciso subir e descer o vasto relevo ondulado, vasculhar os fulvos campos adornados de imponentes ciprestes, nem visitar as
vistosas catedrais renascentistas, românicas,
barrocas, de Brunelleschi ou Donatello, as
tantas pitorescas torres e as cores de Leonardo, Rafael e Michelangelo para sentir-se em
parte ou totalmente banhado pela deslumbrante luz da Toscana.
Basta querer uma vez mais se reunir com
confrades afins, para saborear alguns dos
melhores tintos da região – porque não dizer
do país – e então ser envolvido pela atmosfera artisticamente exuberante dos vinhos e da
vida dessa abençoada região.
Foi justamente isso que aconteceu na segunda Confraria diVino, também ambientada
no restaurante Fasano. Melhor ainda que foi
agora, época em que a Toscana produz uma
considerável gama de grandes vinhos, o que
seria impensável há 15 anos.
Esses modernos vinhos foram cunhados
“super toscanos” e beberam declaradamente da beleza dos impecáveis Bordeaux, cuja
região é exemplo puro de perfeição na forma – considerada clássica no sentido de ter
influenciado sobremaneira inúmeras regiões
vinícolas mundo afora, incluindo a Toscana
do renascimento clássico.
Ao encontro da autóctone Sangiovese, uva
emblemática da região, vieram as nobres Cabernet Sauvignon e a Merlot, além de uma
pequena quantidade de outras castas estrangeiras, como a Syrah.
Alguns desses super vinhos são varietais,
elaborados com apenas uma uva – como o
Masseto, Merlot “in purezza” – enquanto outros mesclam diversas castas para compor a
sinfonia de sabores, como se cada uma delas
desempenhasse o papel de um instrumento
dentro de uma orquestra. Nesta degustação,
os instrumentos foram executados com maestria por cada produtor, o que nos deixou
uma impressão das mais auspiciosas em relação ao presente e futuro da região. Claro
que muito ajudou o fato da safra – eram todos
1997 – ter sido excepcional.
A prazerosa prova teria sido perfeita não fosse
o imenso desconsolo ao sabermos que uma
garrafa estava oxidada, defeito proveniente
de descuidos no armazenamento. E não apenas uma garrafa, mas justamente a de Masseto, considerado o Château Petrus da Toscana. Mesmo assim, os demais protagonistas
da prova prometiam uma maravilhosa paleta
de cores, aromas e sabores. E assim foi.
diVino 3
Confraria diVinO
Os protagonistas da prova
prometiam uma maravilhosa
paleta de cores, aromas e sabores.
E assim foi.
A começar pelo Lamaione, elaborado pela
Frescobaldi, vinícola tradicional que possui
um imenso portifólio. Um vinho raçudo,
nervoso pelo frescor e pela firmeza de sua
estrutura tânica; quente, que precisa de um
certo tempo no copo para soltar os seus sabores. Nos aromas, eloqüente com cítricos,
frutado tropical e pimenta do reino.
O Tignanello, um pouco mais fechado –
lembrando o Brunello di Montalcino, vinho
clássico da região – se apresentava um pouco duro, apesar de certo frutado maduro e do
álcool relativamente caloroso, mas que não
impedia a rugosidade no “fim de boca”.
O Solengo, da vinícola Argiano, também
lembrava o Brunello, com aromas animais
como couro, além de cereja e seu licor, e
tanino marcante no final. O Safredi, da vinícola Pupille – talvez o melhor produtor
da zona de Marema, região que produz
vinhos caracteristicamente mais maduros
– destacou-se pela sensualidade. Sedoso,
com sabores deliciosos de caramelo e café
semelhantes aos do Mouton Rothschild,
além de abrir o timbre típico da Cabernet
Sauvignon, com aromas de pimentão, ponta
de lápis e couro finíssimo, algo como Louis
Vuitton ou Prada. Fora a persistência: longa, lenta e memorável.
Intenso já na primeira sensação de boca –
o que chamamos de “ataque” – o Sassicaia
apresentava-se ainda discreto, mas com um
certo tempo no copo abria sua complexa
cauda de pavão cheia de sabores como os
de ervas, feijão cozido, pimentão e o distinto mineral. O corpo fino era aerado pela
4 diVino
linda acidez e taninos sofisticados.
O Solaia curiosamente também me lembrou
um Brunello. Apesar de serem feitos de uvas
distintas, a semelhança pode vir do fato de serem da mesma região e, por isso, carregarem
o mesmo sotaque. Revelava cereja, rum e sua
estrutura de aço unida ao toque terroso tinha
algum paralelo com o Château Latour. No
todo, ele seduziu menos do que se esperava.
Será que ainda vai se abrir e amaciar-se?
O Ornellaia faz parte, definitivamente, da
família dos Bordeaux, com cheiro de madeira fina, couro e frutas na base de seus aromas complexos. Já maduro no ataque, nos
cativou com sabores de compota de frutas
de lambuzar a boca, internamente, é claro.
O Redigafi do modernoso Tua Rita, ao
mesmo tempo que nos remete aos afáveis
californianos, com sabores extremamente
frutados e maduros (suco de manga?!), tem
também a tipicidade toscana, com aromas
de evolução (tabaco, couro, chá, terra...).
Apresentou textura macia, com o brilho da
acidez final.
Terminada a degustação, vieram os pratos e com eles uma garrafa magnum de
Ceparello da mesma safra, também digno
de nota, além de um belo Porto 30 anos,
Quinta do Estanho.
Tudo isso fluiu acompanhado de concentrada, porém descontraída conversa sobre
vinhos e, sobretudo, sobre a vida. E assim
fomos, embevecidos de vinho e vida, levados pelo tapete mágico desses sublimes
sabores para essa breve, mas eterna viagem
por terras toscanas.
Os vinhos
• Lamaione (Frescobaldi)
• Tignanello (Antinori)
• Solengo (Argiano)
• Safredi (Pupille)
• Sassicaia (Tenuta
di San Guido)
• Solaia (Antinori)
• Ornellaia (Tenuta
dell’Ornellaia)
• Redigafi (Tua Rita)
• Ceparello (Isole e Olena)
diVino 5
Confraria diVinO
por Alexandre Gama
Mamma
Mia!
Sempre identifiquei dois ingredientes indefectíveis na alma italiana. Um, mais siciliano,
hollywoodianamente exacerbado na seqüência antológica entre Christopher Walken e Dennis
Hopper no filme “True Romance”, de Tony Scott, com roteiro de Quentin Tarantino. Dennis
Hopper, no papel de um policial aposentado, está sentado em uma cadeira, imobilizado e
cercado por mafiosos que querem saber do paradeiro de seu filho, interpretado por Christian
Slatter, que por sua vez fugiu com Patricia Arquette levando a droga dos gângsteres.
Christopher Walken – conseglieri do chefe da máfia roubado – inicia com Dennis Hopper um
interrrogatório, polido como o lado de cima de uma lixa, mas que deixa implícita o tempo todo
a abrasividade do lado de baixo. Dennis Hopper sabe que, se não revelar o paradeiro do filho,
morre, e que, se o entregar, morre do mesmo jeito em seguida. Então, combinando a resignação
dos condenados com a disposição de auto-sacrifício de um pai, resolve responder ao carrasco com
uma história: pede um cigarro e, calmamente começa a contar a Christopher que a “Sicília foi,
no passado, invadida pelos mouros”. Christopher, sem entender bem aonde ele quer chegar, mas
curioso, deixa que continue. “Nessa época” – prossegue Dennis com uma tragada no cigarro –, “os
sicilianos eram como os italianos do norte: louros de olhos azuis. Mas os mouros treparam tanto
com as mulheres sicilianas que mudaram a genética do povo para sempre”. Christopher tenta
manter o sorriso irônico, apesar de o ressentimento começar a se depositar no ambiente como
borra no fundo da garrafa. Dennis Hopper, então, finaliza com os incisivos e caninos típicos do
texto de Tarantino: “Como os mouros tinham sangue da raça negra, isso significa que Christopher
e todos os outros mafiosos ali na sala ao redor dele têm sangue de negro nas veias e são, na verdade, crioulos. Sendo que a própria “tá-tá-tá-tá-tá-ra-vó” do conseglieri tinha, com certeza, dado
para um negro.” Christopher Walken então, perdendo a pose diante do que, para ele, é um insulto
de dimensões ancestrais, atira na cabeça de Dennis Hopper, amaldiçoando em seguida o fato de
ter tido de quebrar um jejum de anos sem matar ninguém com as próprias mãos. Mamma mia.
A cultura de um povo está também no que ele é capaz de tirar da terra. E tirar
da terra o que provamos nessa degustação é, sem dúvida, algo bravo, bravíssimo.
Alexandre Gama é
publicitário e um grande
amante de vinhos
48 diVino
mundialmente famosa – e 5% Cabernet Franc. Raçudo, concentrado, quase viscoso e, ao mesmo tempo, equilibrado e de grande
classe. E estava bom de tomar com os taninos integrados, embora
deixasse claro que ainda tinha potencial para evoluir.
Bebendo da taça do Tignanello, a seguir, lembrei-me da relação quase romântica que tenho com esse vinho: provei-o pela
primeira vez com minha mulher quando a levei à Itália, muitos
anos atrás. O fenômeno dos vinhos toscanos estava começando
e eu me lembro até hoje da surpresa que minha boca teve. Com
80% Sangiovese, 15% Cabernet Sauvignon e 5% Cabernet
Franc (um assemblage quase oposto ao do Solaia), esse Tignanello 97 tem boa concentração, vivacidade e nariz de compota.
Uma delícia e também no ponto para tomar agora.
Mas aí me encontrei frente a frente com o Redigaffi. Ele foi um
caso sério na mesa. Uma bomba de puro Merlot explodindo no
palato. Esse é um vinho sem filtragem, flagship da Tua Rita e
todos os confrades ficaram ali, maravilhados, trocando impressões sobre ele. Um vinho “full body”, mastigável, com a persistência de um sustain de tenor italiano. Nas minhas anotações,
constam palavras como “curry”, “couro”, “frutas secas”. Dono de
um estilo que, na falta de vocabulário mais enológico, descrevi
como “sexy”. Foi minha escolha número 1 da noite. Incrível.
Outro que me deixou desnorteado foi o Ornellaia. Feito do
triunvirato Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, ele
acabou sendo minha escolha como segundo melhor supertoscano da noite. Grande estrutura, elegantérrimo, equilibrado,
sóbrio, um vinho masculino. Nesse sentido, para mim, foi o
mais bordelês da degustação. É do mesmo produtor do Masseto
– Tenuta dell’Ornellaia – e não fica atrás. Recomendo muito.
Por fim, outro que me causou grande impressão foi o Saffredi, que também impressionou Robert Parker, que lhe deu 96
pontos nessa safra. Posso entender o encantamento do Parker,
sendo ele um grande fã de Bourdeaux. O Saffredi tem essa coisa
bordelesa também, embora, para mim, apesar da pontuação até
abaixo dele, eu tenha preferido Ornellaia e Redigaffi. Mas qual
o problema? Eu não bebo pontos mesmo.
No fim, fiquei com o Lamaione, do Frescobaldi, e o Solengo, do
Argiano em uma lista de preferência um pouco atrás. Mas são
dois grandes vinhos, principalmente o Solengo, que na garrafa
deve alcançar estatura ainda maior do que a que tem hoje.
É claro que a Itália, em termos de vinho, não pode ser reduzida
a uma região apenas, mesmo que esta seja tão especial quanto a
Toscana. Afinal, até a Sicília, famosa por sua farta inspiração aos
filmes de gângsteres, tem produzido mais que drama policial.
Tem produzido vinhos de uma característica toda própria, interpretando a personalíssima variedade Nero D’Avola.
Mas acho que ao adentramos verticalmente na expressão toscana
do vinho italiano como fizemos nessa degustação, todos aprendemos um pouco mais da alma italiana na sua profundidade.
A cultura de um povo está também no que ele é capaz de tirar
da terra. E tirar da terra o que provamos nessa degustação é,
sem dúvida, algo bravo, bravíssimo.
Mas, além da vendetta típica da “cosa nostra” siciliana, o outro ingrediente que, para mim, compõe fortemente a alma italiana é toscano. Mais precisamente, supertoscano. E estava representado na última degustação da Confraria diVino, na sala privé do Fasano, pelos mais emblemáticos
supertoscanos: Tignanello, Sassicaia, Solaia, Saffredi, Ornellaia, Redigaffi, Lamaione, Solengo,
Masseto e Cepparello. Todos da safra de 1997.
De cara, entretanto, tivemos uma baixa: Masseto, supostamente o cappo dos vinhos daquela
noite, tombou emboscado pela oxidação. “Catzo!” Eu, que ainda não tinha tido a chance de beber
esse 100% Merlot de grande estrutura, produto de um vinhedo de apenas sete hectares em Bolgheri, tive de postergar o prazer e as minhas impressões. Mas tomba um, assume outro. No caso,
outros, porque a degustação seguiu e, um por um, fui aferindo o nível da Toscana.
Sassicaia, embora presente, deixou-me a impressão de que estava só de meio-corpo presente.
Esperava mais desse sempre profundo supertoscano, produto nobre da Tenuta San Guido, que
me pareceu menos encorpado do que tenho registrado na memória gustativa. Solaia, no entanto, estava magnífico. 75% Cabernet, 20% Sangiovese – a uva que a Toscana tornou
diVino 49
Wine Business
por Carlos Marcondes
DO Brasil para O mundO
Exportações alcançam marca histórica e país continua focado
em consolidar-se como um importante produtor mundial de
vinhos de qualidade.
N
2 diVino
em o dólar baixo segura nossos embarques. O ritmo de crescimento das
exportações brasileiras é tal que o país
aumentou seu faturamento em quase
530% entre 2003 e 2007. Segundo dados do Ibravin - Instituto Brasileiro do
Vinho –, neste ano deveremos atingir o
patamar recorde de US$ 6 milhões em
vendas externas, o que representa um
incremento de quase 50% em comparação com 2007. Boa parte desses resultados deve-se ao trabalho realizado
pelo projeto Wines From Brazil, parceria entre o Ibravin e a Apex – Agência
Brasileira de Promoção de Exportação
e Investimentos. Criado em 2002, ele
visa contribuir para que o produtor
consiga viabilizar seus embarques,
oferecendo assessoria em comércio
exterior e capacitação profissional e
projetando os vinhos do país em feiras
internacionais.
Segundo projeções, as exportações
dos produtores que fazem parte do Wines From Brazil deverá alcançar, até o
final do ano, a histórica marca de US$
5 milhões, mais que o dobro do obtido
em 2007. A quantia representaria cerca
de 80% do total exportado pelo país.
Já em litros, o volume deverá permanecer estável, pois o ganho vem ocorrendo com a ampliação da venda de
vinhos finos, de maior valor agregado,
que são enviados a 22 países. As 33
vinícolas participantes do projeto possuem vinhos finos em seu portifólio,
já que essa é uma das condições para
poder se associar a ele. “Para exportar, não é necessário ser uma grande
empresa, basta investir em qualidade
e acreditar que a iniciativa vá abrir excelentes oportunidades para sua marca”, explica Andréa Milan, gerente de
promoção do projeto.
Competitivos
A ViniBrasil, vinícola pernambucana
que pertence ao grupo português Dão
Sul, é uma das principais responsáveis
pelo sucesso dos rótulos nacionais no
exterior. Eles são responsáveis por cerca de 35% do total de vinhos exportados pelo país. “Nosso foco é conquistar visibilidade internacional e crescer
em condições de agradar aos mais
exigentes mercados”, comenta João
Santos, diretor da ViniBrasil.
Há décadas na estrada da exportação, a
Cooperativa Vinícola Aurora obteve, nos
primeiros oito meses de 2008, um crescimento de 85% nas vendas externas,
em comparação com o mesmo período
de 2007 e de 175% em relação a 2006.
Já a Salton iniciou seu processo de internacionalização em 2003, investindo
na promoção de bebidas de qualidade,
com envio para oito países. Até o último mês de agosto, foram embarcados
35 mil litros de vinhos e espumantes finos, o que significa um crescimento de
90% sobre toda a exportação do ano
de 2007. A meta é fazer com que as
exportações representem 5% de seu
faturamento até 2012.
Brasil DivinO
Carlos Marcondes
porpor
XXXXXXXXXXXXXXX
fotos Sérgio de Sá
Vinhos dO“VelhO
ChicO”
Um lugar com parreirais repletos de uvas o ano
todo, com água e sol abundantes, é o berço de vinhos
tropicais de qualidade internacional.
U
2 diVino
ma mistura curiosa que deu certo: gaúchos
produzindo vinhos com um inconfundível
“sotaque” nordestino. Sim, eles se encantaram com as condições naturais de um
pedaço do sertão baiano e pernambucano,
encontraram um terroir especial e inseriram
o Vale do Rio São Francisco no mapa da vitivinicultura mundial.
Os primeiros desbravadores dispostos a se
aventurar no plantio de uvas viníferas na região chegaram no fim da década de 70 movidos pelas pesquisas de agricultura irrigada
e pelas condições climáticas tão distintas das
encontradas no sul do país. Logo enólogos
perceberam que, nessa área chamada de Submédio São Francisco, era possível obter duas
safras e meia de uvas por ano, livres da dependência de chuvas – graças à disponibilidade
de água bombeada do rio – e com sol durante
quase todo o ano. A combinação deu origem a
ótimos vinhos jovens, frutados e aromáticos.
Segundo estatísticas recentes do Sebrae, há
hoje mais de 12 mil hectares de vinhedos
plantados, sendo 800 hectares usados no
processamento de mais 8 milhões de litros
de vinho por ano, o que representa algo entre 15% e 20% de toda a produção nacional.
Seus rótulos vêm conquistando importantes
prêmios internacionais e seus embarques já
correspondem a 35% do total exportado do
país. O diretor da ViniBrasil, João Santos, explica que a empresa já investiu R$ 2 milhões
em pesquisas em conjunto com a Embrapa.
“Chegamos há cinco anos e, desde então,
estudamos alternativas para aproveitar ainda
mais os benefícios desta região”, conta.
Enoturismo
Criado há poucos anos, o Roteiro do Vinho do
Vale do São Francisco tem grande potencial
para se transformar em uma das mais interessantes rotas do setor na América do Sul, mas
ainda há muito que fazer para sua consolidação. Já foram investidos milhões em estradas
que dão acesso às vinícolas, mas algumas propriedades não possuem estrutura para receber o turista. A vinícola Garziera é uma das
mais preparadas para esse tipo de receptivo.
Possui uma sala de degustação, disponibiliza
vídeos sobre o histórico da região e promove
visitas monitoradas aos vinhedos. Jorge Garziera, proprietário e um dos primeiros gaúchos a firmar-se no Vale do São Francisco,
acredita que a região ainda se transformará
em exemplo mundial, não só pelos rótulos de
qualidade mas por sua estrutura turística.
Entre as novidades que devem estimular a
visitação, está prevista para o próximo ano a
inauguração da Enoteca, no município de Lagoa Grande, PE, considerada a capital da uva
e do vinho do Nordeste. O espaço comercializará os vinhos do Vale, além de disponibilizar
livros para pesquisa e de promover exposições
fotográficas. Também serão implementadas
novas placas de sinalização rodoviária para
orientar melhor quem visita as vinícolas.
Municípios que compõem o Roteiro do Vinho do
Vale do São Francisco: Petrolina, Lagoa Grande, Santa
Maria da Boa Vista e Orocó, em Pernambuco. Juazeiro,
Sobradinho, Curaçá e Casa Nova, na Bahia.
diVino 3
Brasil DivinO
As vinícolas do “Velho Chico”
Vinícola Vale do São Francisco (Grupo Milano)
Pioneiros do sertão, chegaram à região há quase 30 anos.
Comercializam vinhos finos de seis varietais com a marca
Botticelli, além de um espumante Asti. No total, são
processados mais de 2 milhões de litros por ano. Em breve,
lançarão a linha 1501.
ViniBrasil (Grupo Dão Sul, de Portugal)
Surgiu de um projeto entre a importadora Expand e o grupo
Dão Sul. Os rótulos Rio Sol já são encontrados em mais de
21 países e tornaram-se motivo de orgulho para o Brasil.
Com 200 hectares de vinhedos e uma produção anual de 1,5
milhão de garrafas, a ViniBrasil deverá chegar a 500 hectares
em três anos e pretende construir um sofisticado projeto
para receber turistas.
Vinícola Garziera
Atenta ao enoturismo, tem planos de ampliar sua estrutura
com a construção, à margem do rio, de um hotel que ofereça
passeios de charrete nos vinhedos e almoços harmonizados.
A produção de 1 milhão de garrafas anuais está dividida
entre as linhas Garziera e Carrancas. Até o final do ano, a
vinícola lançará um vinho bem estruturado, com foco no
consumidor que busca bebidas mais encorpadas.
Vinícola Garziera, que
produz 1 milhão de
garrafas por ano
Adega Bianchetti Tedesco
O casal de enólogos gaúchos Izanete e Ineldo Tedesco
aposta na produção de vinhos orgânicos. São os primeiros
no nordeste a investir nesse tipo de cultivo. Saiba mais
sobre o projeto nesta edição, na reportagem da seção
“Visão Verde” desta edição.
Château Ducos
Fundada pelo enólogo francês Humbert Pommier, a vinícola
está localizada no município de Lagoa Grande e possui cerca
de 125 hectares de vinhas, que produzem as uvas Cabernet
Sauvignon, Syrah e Petit Verdot.
Fazenda Ouro Verde (Miolo e Louvara)
Localizada na Bahia, no município de Casa Nova, tem 700
hectares, dos quais 200 cobertos com vinhedos. A Miolo
pretende dobrar a plantação até 2012, chegando à produção
de 7,5 milhões de litros anuais. Em breve, deverá inaugurar
um receptivo que permitirá ao turista conhecer melhor o
projeto da empresa gaúcha no nordeste do país.
Vinícola Vale do São
Francisco, pioneira no sertão
4 diVino
*A reportagem da diVino visitou a região a convite
da Secretaria de Turismo de Pernambuco.
Na Mídia
Lágrimas e risos
Confira algumas notícias que tiveram destaque na imprensa
internacional durante o verão europeu
Montalcino Vineyards Damaged by Hail on
Cusp of Harvest
Castello Banfi is among Brunello producers to suffer losses
in freak pre-harvest hailstorm
(Revista “Wine Spectator”, Nova York)
Vinhedos de Montalcino são danificados
às vésperas da colheita
Castello Banfi entre produtores de Brunello que sofreram
perdas na louca tempestade de granizo pré-colheita
parece que a bruxa realmente anda solta na região de
Montalcino, na Toscana. Após o escândalo que tomou conta
dos Brunello (como pudemos acompanhar na edição anterior),
agora foi a vez de uma tempestade atacar a região. Conta a
reportagem que uma severa chuva de granizo acompanhada
de ventos de até 100km/h atacou a parte sul de Montalcino
às 16h do último dia 15 de agosto. Com duração de
aproximadamente sete minutos, atingiu áreas localizadas
entre as vilas de Sant’Angelo Scalo, Sant’Angelo in Colle
and Castelnuovo dell’Abate. Não se sabe ainda o tamanho
do prejuízo, mas produtores estimam perdas entre 35%
e até 100%, no caso de pequenos vinhedos.
Fatal fungus threatens vines across
southwest France
(Revista “Decanter”, Londres)
Fungo fatal ameaça vinhas no sudoeste da França
Um fungo chamado Esca, mais conhecido como “câncer de
vinhas” está se espalhando cada vez mais por algumas regiões
francesas. A doença ataca a madeira das vinhas podendo
até matá-las. Alguns sugerem que seja declarado estado de
emergência na região, enquanto outros clamam por ajuda
governamental para replantação das vinhas. “Você pode ver a
planta literalmente degenerando-se na sua frente”, disse um
produtor de Gascony, comentando que vinhas de mais de 15
anos de idade terão de ser replantadas. Vitivinicultores de
Bordeaux, Champagne e Cognac reportaram um alastramento
2 diVino
da doença, estimando que sejam afetadas 20% de todas as
vinhas da França.Parece que a única cura possível seria através
de arsenito de sódio, se o uso desse produto não tivesse sido
proibido em 2001 por questões de saúde publica. Doenças
na madeira são muito difíceis de serem tratadas e estão cada
vez mais proeminentes.
South Africa Shines, Germany Astounds
(www.jancisrobinson.com, Purple Pages)
África do Sul brilha, Alemanha surpreende
O texto do site fala sobre o “Decanter World Wine Awards”,
a mais influente competição de vinhos do mundo, realizada
pela revista inglesa Decanter. Para se ter uma idéia, na
edição de 2008 competiram 9.219 rótulos. Do Brasil, o Rio
Sol Reserva 2005 foi o único que saiu como recomendado.
A reportagem destaca que, surpreendentemente, o vencedor
de melhor Pinot Noir foi um vinho alemão do produtor
Meyer-Näkel. A África do Sul foi a grande vencedora da
noite ganhando seis dos 26 troféus internacionais além de
vários prêmios regionais. O produtor que mais se destacou
foi Cederberg, o único sul-africano que ganhou três troféus
e também o único que conquistou troféus com vinhos
branco e tinto.
World’s Most Expensive Champagne
(www.luxury-insider.com)
O Champagne mais caro do mundo
Foram encontradas em um naufrágio na costa da Finlândia
mais de 200 garrafas intactas de champagne Heidsieck & Co
Monopole da safra de 1907. O Hotel Ritz-Carlton de Moscow,
onde uma suíte top chega a custar US$ 15 mil a noite,
oferece a garrafa desse champagne a cerca de US$ 32 mil
cada, fazendo dela a mais cara do mundo. Conta o jornal russo
“Kommersant” que as garrafas eram destinadas à familia imperial
russa quando o navio que as transportava naufragou, em 1916,
depois de ser atacado por um submarino alemão.
VisãO Verde
por Carlos Marcondes
fotos Sérgio de Sá
certificação reconhecida internacionalmente.
No solo, são usados apenas fertilizantes naturais. No lugar de fósforo químico, é aplicado
pó de rocha. A adubação é feita por meio de
compostagem, realizada dentro da fazenda,
utilizando-se capim, cana-de-açúcar e o próprio bagaço da uva. Nos frutos, são aplicadas
pequenas camadas de argila, que ajudam a
proteger a casca contra o ataque de pragas.
Já os defensivos agrícolas são feitos à base de
macerados de plantas da caatinga, como pereiro, jurema, faveleiro e canudo-de-pito. Até
própolis de abelha entra na receita para fortalecer a planta. “Também colocamos caixas de
madeira e de papelão para decompor e depois
usar na terra como adubo. Com esforço e criatividade, tiramos da fazenda 30% dos insumos
necessários para o cultivo”, conta a enóloga.
Ao serem realizadas colheitas manuais e serem empregados processos naturais de cultivo, automaticamente a vida se renova no
vinhedo e alguns insetos acabam se tornando aliados no combate a pragas. É o caso das
simpáticas joaninhas, muito bem-vindas,
pois comem pulgões e ácaros. Já para afastar os pássaros que costumam “beliscar” as
uvas em busca do açúcar, Izanete construiu
no meio das videiras uma pequena torre em
cujo topo há um prisma rotativo de espelhos
que refletem a luz do sol e projetam raios que
incomodam a visão dos passarinhos. “É simples e eficiente e não prejudica a visão deles,
apenas faz com que desistam de experimentar nossas uvas”, conta.
Em 2004,
a Adega
Bianchetti
Tedesco decidiu
implantar o
cultivo orgânico
em 100% de seus
vinhedos. Hoje,
80% da produção
da vinícola
possui o selo de
garantia do IBD.
Naturalmente dO sertãO
Conhecemos a pequena Bianchetti Tedesco, primeira vinícola
do nordeste a investir na produção de vinhos orgânicos.
T
58 diVino
ransformar seus vinhedos em plantas fortes, resistentes, capazes de superar os desafios impostos pela natureza, sem utilizar-se
de produtos químicos ou de alta tecnologia
como forma de prevenção. Essa filosofia orgânica foi adotada por um casal de enólogos
gaúchos, que, há anos, abandonou o frio do
sul do país para se aventurar no calor do interior de Pernambuco e inaugurar a “era” dos
vinhos orgânicos do Vale do São Francisco.
Izanete e Ineldo Tedesco chegaram ao município de Lagoa Grande em 1985, convidados
para trabalhar no projeto da vinícola Milano,
a primeira da região. Seis anos depois, decidiram comprar um pedaço de terra às margens do “Velho Chico” e fundaram sua própria empresa, a Adega Bianchetti Tedesco.
Durante muitos anos, trabalharam com vinhos de mesa, passando depois a investir
também em uvas viníferas. Mas foi apenas
em 2004 que decidiram desviar o rumo de
seus negócios e inovar: implantaram o cultivo orgânico em 100% de seus vinhedos.
“O início foi muito difícil”, explica a enóloga
Izanete, responsável por gerenciar as vinhas
no campo. “Perdia-se em produtividade, pois
as plantas reagiam como um dependente
químico e sofriam bastante para se desintoxicar.” O processo foi lento: foram necessários entre 18 e 24 meses para conseguir
comprovar que seus 17 hectares de vinhedos estavam livres de qualquer tipo de agrotóxico, a fim de obter o selo do Instituto de
Biodinâmica – IBD, empresa brasileira de
diVino 59
VisãO Verde
Na garrafa
Somente em 2007, depois de conseguir o selo do IBD e o registro de orgânico no Ministério da Agricultura, a Bianchetti pôde
engarrafar os primeiros lotes com quatro tipos de tinto orgânico
e lançá-los, em julho deste ano, nas seguintes opções: Cabernet
Sauvignon, Barbera, Tempranillo e Ruby Cabernet. Em 2009,
outras novidades chegarão ao mercado, como o Petit Syrah, o
Sauvignon Blanc e os espumantes Moscatel, Brut e Rosé.
Depois de investir muito trabalho e recursos na mudança
de cultivo, o casal espera agora obter retorno financeiro com
a venda de um produto de maior valor agregado, já que as
60 diVino
garrafas da nova linha custam entre R$ 45 e R$ 50. Atualmente, 80% dos vinhos Bianchetti possuem a garantia de
cultivo orgânico.
Para Izanete, foi empreendedora e estratégica a escolha de atuar em um nicho ainda novo no Brasil e que proporciona a satisfação pessoal de produzir uma bebida de melhor qualidade,
mais aromática e ecologicamente correta. “O vinho orgânico é
realmente diferente. Nele transparece mais a verdadeira alma
da bebida. Degustá-lo é como retroceder no tempo e passar a
entender melhor o que a natureza pode oferecer.”
Sensações – Pinot Noir
por Carlos Hakim
Uva emblemática da França, a Pinot Noir atinge altos
níveis de qualidade em várias partes do mundo.
A melhor Pinot Noir ou
Pergunte a um especialista de onde vem a melhor Pinot
Noir e ele certamente lhe dirá: vem de Borgonha. Mas estará isso certo? Será que somente lá se conseguem vinhos
de qualidade?
Referência no cultivo e vinificação dessa cepa, a Borgonha,
região localizada no leste da França, tem o que muitos dizem
ser o casamento perfeito entre a uva e o terroir, numa relação
que perdura provavelmente desde o século 4. Os borgonheses afirmam que não produzem a uva Pinot Noir, apenas a
2 diVino
utilizam como veículo de expressão de seu terroir. De certa
forma, isso é verdade.
De casca fina e muito sensível ao calor, a uva requer muito
cuidado em seu cultivo e manuseio, o que geralmente encarece a produção e, conseqüentemente, o produto final. Por
isso, para muita gente, os vinhos da Borgonha são desconhecidos e de difícil acesso.
Espalhada pelo mundo em países como Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Chile, a Pinot Noir freqüentemente
O
melhor Terroir?
resulta em vinhos de alta qualidade, mas de diferentes expressões. Por se tratar da mesma uva, algumas características se mantêm e são facilmente reconhecidas. Levemente
adocicados, os seus vinhos têm menor nível de tanino, menos pigmentos e, em geral, são mais claros e charmosos.
Aí entra a questão do terroir. Será então que a Borgonha
tem mesmo o melhor terroir? Existe melhor terroir? Existe
melhor Pinot Noir?
A idéia, nesta seção, foi justamente comparar a Borgonha ao
resto do mundo, provando dez vinhos de até R$ 100: cinco
deles da Borgonha e outros cinco do novo mundo.
Reunimos novamente nosso animado grupo e, desta vez,
quem nos recebeu foi o amigo Rezende, proprietário do restaurante Aguzzo, em Pinheiros - São Paulo, que não poupou
esforços para que tudo transcorresse perfeitamente. Em um
espaço isolado do restaurante, sob os cuidados do tranqüilo
e conhecedor sommelier Eric, degustamos às cegas tais vinhos. O resultado pode ser conferido a seguir.
diVino 3
Sensações – Pinot Noir
Sentidos
Visão
Olfato
Paladar
Guarda
Beber
Beber ou guardar
Guardar
Notas
diVino 0-100
Custo-benefício
1-5 taças (1-ruim / 5-excelente)
Hautes Cotês de Nuits “La Vacherotte” 2004
Guy Dufouleur – 100% Pinot Noir – FRANÇA (Borgonha)
Rubi claro e brilhante
Típicidade e complexidade lembrando morangos,
especiarias e pimenta.
Elegante e equilibrado. Boa fruta, taninos firmes, acidez
na medida. Bem elaborado e com boa persistência.
DV 90 pts
R$ 78 (World Wine)
Hunter’s Pinot Noir 2006
Hunter’s Wines – 100% Pinot Noir – NOVA ZELÂNDIA (Marlborough)
Rubi intenso e brilhante.
Pinho, cereja negra, couro e tostado.
Equilibrado, com boa fruta, acidez correta
e taninos finos. Meio de boca cheio,
madeira bem colocada e leve sobra
de álcool. Final longo.
DV 88.50 pts
R$ 84 (Premium Wines)
Marimar Estate “Don Miguel” 2003
Marimar Estate (Torres) – 100% Pinot Noir – EUA (Califórnia)
Rubi fechado, pequeno halo aquoso.
Fino, interessante, apresentando fruta madura,
compota, tostado e lácteo.
Equilibrado. Boa fruta, acidez refrescante, taninos
finos e numerosos. Destaque para especiarias, frutos
vermelhos e baunilha. Final de média persistência.
DV 88.50 pts
R$ 99 (Reloco)
Calvet Pinot Noir 2006
Calvet – 100% Pinot Noir – FRANÇA (Borgonha)
Rubi de média intensidade
Frutado, remete a cerejas, framboesas,
banana e especiarias.
Macio, sem arestas e bem equilibrado. Fruta limpa,
taninos finos, boa acidez. Simples, persistente
e fácil de beber.
DV 88 pts
R$ 51 (Interfood)
Masson Dubois Bourgogne 2006
Masson Dubois – 100% Pinot Noir – FRANÇA (Borgonha)
Rubi médio.
Morangos, funghi, pitanga e um leve mofo.
Harmônico. Alta acidez, boa fruta e taninos firmes.
Especiarias, casca de laranja e leve agulha (picante).
Final bastante agradável.
DV 87.50 pts
R$ 40 (Casa Flora)
Bourgogne Cuvée Margot 2005
Morandé Edicion Limitada 2005
Olivier Leflaive – 100% Pinot Noir – FRANÇA (Borgonha)
4 diVino
FOTOS: JOSé HENRIQUE VIEIRA
Viña Morandé – 100% Pinot Noir – CHILE (Vale de Rapel)
Rubi intenso e brilhante.
Cerejas, framboesas, torrefação evoluindo para couro e café.
Leve, ligeiro e equilibrado com taninos corretos
e uma boa acidez. Casca de laranja e tostado no final
de média persistência.
DV 88 pts
R$ 98 (Wine Premium)
Rubi claro e translúcido
Curioso. Defumado, goiaba branca, borracha
e pimenta do reino.
Leve desequilíbrio. Jovem, boa fruta, alta acidez e bastante
amargor final com traços de mofo lembrando botrytis.
DV 85.50 pts
R$ 69 (Carvalhido)
diVino 5
Sensações – Pinot Noir
Bourgogne Château de Dracy 2006
Albert Bichot – 100% Pinot Noir – FRANÇA (Borgonha)
Rubi brilhante, traços violáceos.
Inexpressivo destacando framboesa e geléia
de frutos vermelhos.
Pouca complexidade. Taninos marcantes, baixa acidez,
fruta rala. Amargor final com toques de pimenta.
DV 83 pts
R$ 78 (Expand)
Aurora Pinot Noir 2008
Vinícola Aurora – 100% Pinot Noir – BRASIL (Bento Gonçalves)
Rubi claro.
Jaboticaba, cravo, especiarias e morangos.
Leve, limpo, equilibrado e fácil de beber. Média acidez,
fruta correta. Final de boa persistência marcado por
cravo e especiarias.
DV 86 pts
R$ 13,60 (Aurora)
Saurus Pinot Noir Patagonia 2005
Família Schroeder – 100% Pinot Noir – ARGENTINA (Patagônia)
Rubi intenso.
Morangos, cogumelos, minerais, notas balsâmicas
e de baunilha.
Boa acidez, taninos verdes e madeira destacada lembrando
especiarias. Toque químico com sobra de álcool
e sutil amargor.
DV 85 pts
R$ 74 (KMM)
Talvez alguns digam que nessa faixa de preço os vinhos da Borgonha não podem competir, mas o fato é que pudemos
comprovar um grande equilíbrio entre todos. Fica então a questão: se fossem vinhos mais caros será que os da Borgonha
se sobreporiam? E os outros, sendo também mais caros, não competiriam? Fica aí a idéia para uma futura degustação.
A prova foi às cegas sem ordem pré-determinada e sem o conhecimento de rótulos e preços. Participaram: Carlos Hakim,
Erick Scoralick, Jeriel da Costa, Marcos Santo Mauro, Regis Queiroz e Simon Knittel.
Destaques diVino: A incrível surpresa ficou por conta do nosso brasileiro Aurora Pinot Noir 2008 por R$ 13,60.
Destacaram-se também o Guy Dufouleur Hautes Cotes de Nuits “La Vacherotte” 2004 da Borgonha, o Hunter’s Pinot
Noir 2006 da Nova Zelândia e o Marimar Estate “Don Miguel” 2003 dos Estados Unidos.
6 diVino
ConVersa de Confrades
A Nova Zelândia, a Austrália e os EUA lideram
o movimento de troca da cortiça pelas
“screw-caps”.
Inclusive
tradicionalistas
franceses já oferecem vinhos que usam esse
sistema de vedação. Pode-se dizer que é uma
tendência?
Josimar É salutar. Não há no mundo rolha de qualida-
de em quantidade suficiente para todos os vinhos. A cortiça
pode ser reservada para os grandes vinhos de guarda, enquanto não se chega a uma conclusão sobre os efeitos das
tampas alternativas no caso de décadas de armazenamento
da bebida. Para os correntes, que são a maioria esmagadora,
não vejo problema em usar outras tampas que protejam bem
a bebida e ainda barateiem o produto para o consumidor. E
isso pode ser conseguido não apenas com rolhas artificiais
mas também com embalagens alternativas, como as caixinhas do tipo “bag-in-box”.
Sacar ou
desrosquear?
2 diVino
Hakim Preocupo-me, acima de tudo, com o vinho. Não me
oponho a diferentes tipos de vedação desde que isso não altere o líquido e mantenha a segurança de conservação. Argumentos de praticidade e ecologia também podem contribuir
para uma possível tendência.
Afrânio Por várias questões, inclusive ambientais, acreditamos que seja uma tendência que veio para ficar. É uma
alternativa segura, moderna, de grande facilidade de manejo e
que traz diversos benefícios aos consumidores.
Que razões podem impulsionar o crescimento da adoção das “screw-caps”? Fatores
técnicos, econômicos, culturais?
Josimar Técnicos e econômicos. Os culturais, pelo contrá-
rio, podem barrar o crescimento.
Hakim Rolhas de cortiça são mais limitadas, pois são enconFOTO: JOSé HENRIQUE VIEIRA
É
exemplo, já utiliza esse sistema em mais de
90% de seus vinhos, promovendo seus benefícios e incentivando outros grandes vitivinicultores, como a vizinha Austrália. No Brasil,
há ainda muitas barreiras culturais à adoção
da “screw-cap”. O Almadén Sunny Days foi
o primeiro e um dos poucos vinhos brasileiros que apostaram na idéia e obtiveram ótima
aceitação de seus consumidores.
Para debater essa questão, convidamos três
apaixonados por vinho: o crítico gastronômico
da Folha de São Paulo, Josimar Melo, nosso
colunista e enófilo Carlos Hakim e Afrânio
Moraes, gerente da vinícola responsável pelos
vinhos Almadén, do Rio Grande do Sul.
tagens mesmo depois de aberta a garrafa, principalmente para
a vedação de frisantes. Quanto à questão econômica, com a
produção em maior escala e também em razão da escassez
da matéria-prima tradicional (cortiça), as “screw-caps” devem
tornar-se mais acessíveis. Esse não é, porém, um fator tão
determinante quanto a qualidade agregada. E, em relação ao
aspecto cultural, naturalmente o consumidor vai se adaptar à
tendência, principalmente porque existem questões qualitativas e ambientais envolvidas.
As tampas de rosca podem servir como solução para o grave problema de contaminação
pelo TCA, o componente químico que infecta
a rolha e que pode estragar a bebida?
Josimar Sem dúvida. A questão é saber se elas conservam
bem o vinho, e tudo indica que, sendo tampas de boa qua-
Substituir a cortiça por roscas de metal pode ofuscar parte
do encanto de abrir uma garrafa de vinho?
Rolhas de cortiça com séculos de tradição ou
as modernas e práticas roscas de metal, também
conhecidas como “screw-caps”?
próprio do ser humano estranhar mudanças.
Para muitos enólogos e enófilos, substituir a
cortiça por roscas de metal ofusca parte do
encanto de beber algo marcante e condena
a bebida a uma previsibilidade “não-romântica”. Para outros, é a vitória da praticidade, da
economia e da certeza de poder comprar um
vinho livre da chamada “doença da rolha”, que
contamina entre 3% e 10% dos vinhos, segundo estimativas da indústria vitivinícola. Apesar de a utilização da rolha natural ainda ser
a mais adotada no mundo – cerca de 80% das
garrafas são fechadas com rolhas –, as tampas
de rosca se tornaram as preferidas entre os
produtores da Oceania. A Nova Zelândia, por
Afrânio Sobre qualidade e conservação, o sistema traz van-
tradas quase exclusivamente em Portugal e na Espanha. Isso
onera a vinícola. As “screw-caps” podem baratear e facilitar.
Além disso, com a crescente produção de vinhos, fica difícil
obter rolhas de qualidade a preços competitivos. Por outro
lado, a rolha se sobrepõe no aspecto cultural, por carregar um
tradicionalismo milenar, difícil de ser modificado.
lidade, inclusive com microporos laterais para respiração, a
resposta é sim.
Hakim Seguramente. Ela elimina o problema de oxidação
que, muitas vezes, estraga vinhos caríssimos.
Afrânio Em nossa experiência de utilização em vinhos frisantes, jamais detectamos qualquer tipo de problema.
Ainda sobre a guarda, o que dizer sobre o argumento de que as tampas de rosca só poderiam ser usadas para vinhos brancos ou para
aqueles “prontos para beber”?
Josimar Não sei. Creio que os produtores de vinhos caríssi-
mos, de longa guarda, já tenham garrafas guardadas há anos,
em teste. Em pouco tempo, saberemos a resposta. De toda
forma, para os vinhos correntes, as novas tampas e embalagens são bem adequadas.
Hakim É difícil responder, pois ainda não há como avaliar
o que acontecerá a longo prazo. Os resultados mostram que,
para os vinhos de pouca guarda, a “screw-cap” funciona bem
e já pode ser utilizada com segurança. Só o tempo dirá sobre
os de longa guarda.
Afrânio Parece que há outro paradigma a ser enfrentado
diVino 3
ConVersa de Confrades
quanto a essa questão. Porém vários vinhos em todo o mundo já estão aderindo ao sistema com bastante sucesso.
Por que as vinícolas BRASILEIRAS não ampliam
o uso da nova opção em mais rótulos?
Josimar Não sei. Deveriam fazê-lo. Especialmente por se-
Vocês acreditam que haja diferenças entre
os aromas e paladares de um vinho fechado
com cortiça e de outro fechado com tampa
de rosca?
Josimar Para um jovem, de pouca guarda, não há diferen-
rem vinhos modestos. Assim se barateia o produto, o que é
mais um bom motivo.
Hakim Já é difícil fazer com que o consumidor invista em
vinhos nacionais, devido à concorrência sul-americana. Se
adotassem a “screw-cap”, os produtores esbarrariam em fatores culturais e de tradição que podem prejudicar ainda mais
as vendas. Há qualidade nos nacionais, porém muitos acreditam – erroneamente – que tampas de rosca são para garrafas
inferiores, e esse estereótipo poderia denegrir a imagem de
bons vinhos.
Afrânio A tendência é que haja um aumento na utilização
da tampa pelas empresas, sempre com muita cautela, pois depende de investimento.
ça. Contudo, com as novas técnicas (que permitem a respiração dos vinhos por microporos nas rolhas artificiais ou
nos revestimentos internos e laterais da “screw-cap”), se essa
diferença existia, tende a desaparecer.
Hakim Creio que sim. Os de “screw-cap” provavelmente
se mantêm mais iguais, enquanto os outros sofrem pequenas influências da cortiça, que é uma matéria-prima natural. Outro ponto é que dizem que garrafas do mesmo vinho,
da mesma safra, nunca são iguais. O vinho é uma bebida
viva, com “alma”. Se com a “screw-cap” as garrafas se tornam
idênticas, algo se perde, fica monótono. Deixa de existir a
surpresa de abrir um vinho, e isso, a meu ver, é um prejuízo.
Afrânio Nossa experiência com o Sunny Days apenas
apontou melhoras. Além de não percebermos diferenças nas
características organolépticas do produto, não tivemos mais
incidência de problemas com contaminação da rolha. Com
a rolha, eventualmente acontecia alguma alteração; já com
a “screw-cap”, não.
É difícil quebrar o paradigma de que grandes
vinhos devem vir com a rolha de cortiça?
Josimar Talvez, não sei qual será a reação dos consumi-
dores. Provavelmente o produtor dos grandes vinhos será
prudente nessa mudança, mantendo rolhas (mas usando
somente as melhores).
Hakim Creio que sim. Se muitos tradicionalistas já não
aceitam a maneira como o vinho vem sendo feito hoje, como
aceitar uma tampa de alumínio? Existe beleza na tradição,
assim como na modernidade. Deve-se respeitar a opinião de
todos. Eu defendo a bebida, ela deve ser a mesma, seja lá
como for vedada.
Afrânio É um trabalho de paciência, de mostrar ao consumidor as vantagens que terá com a nova concepção do
produto. Como mudar uma cultura é um processo lento, dependerá também de muito acesso à informação. 4 diVino
Perde-se o romantismo ao abrir um vinho com
a tampa de rosca? Você levaria um vinho com
“screw-cap” a um jantar romântico?
Josimar Eu levaria para um jantar romântico uma bela mu-
lher e, para ela, levaria eu mesmo. A rolha tanto faz. (E, provavelmente, quando ela chegasse, o vinho já estaria aberto,
repousando num decanter).
Hakim Levaria. Se amanhã Mouton Rothschild e Antinori
Tignanello passarem a vir com “screw-cap”, não deixarei de
bebê-los em ocasiões especiais. O importante é o vinho! Gosto de rolhas, mas não deixaria de tomar vinhos que aprecio por
causa do tipo de vedação.
Afrânio Eu levaria, pois há muita praticidade na tampa de
rosca. Há países bem mais abertos a elas e com um grande
índice de utilização. Voltamos à questão cultural, que, se bem
trabalhada, deixará de ser uma barreira. O vinho com rolha
não desaparecerá, mas seus problemas continuarão a existir e
poderão, eventualmente, atrapalhar um jantar especial.
O jornalista George M. Taber escreveu um livro
para falar com profundidade sobre os diferentes
tipos de vedamento – revelando os prós
e os contras de cada um – e a luta para achar
a solução ideal. A questão do TCA é um dos temas
abordados com destaque. To Cork or not to Cork
(ed. Scribner, US$ 17, Amazon.com).
Eu recomendO
Eu recomendO
O melhor Vinho é aquele que faz
parte de momentos importantes...
primeira viagem para Itália foi
“Aemminha
1996. Eu tinha acabado de concluir
o curso de Somellier e não imaginava visitar
o produtor do Brunello di Montalcino, o mais
famoso vinho italiano. Para meu delírio, numa
bela manhã ensolarada estava o Sr. Franco
Biondi Santi em pessoa nos recebendo,
explicando tudo sobre seu trabalho, tirando
pequenas amostras das barricas e degustando
conosco. Inesquecível!
“
Latour 82, pela
“Chateau
indescritível gama de sensações
que tive o prazer de viver ao
longo do jantar. Sua riqueza,
elegância e, ao mesmo tempo,
capacidade de nos envolver e
acarinhar é fascinante. Meus
olhos marearam todas as vezes
que a taça trazia outra linda
novidade sensorial. Sempre me
refiro a ele como “o vinho que
já me fez chorar. Nem preciso
dizer que estava acompanhada
por pessoas tão fascinantes
quanto ele.
Juscelino Pereira
Sommelier e proprietário do restaurante Piselli
vinho marcante foi o Amarone, da região do Veneto,
“Um
do produtor Masi. Eu comemorei com ele a impressão
de meu primeiro livro, “Entre a Sombra e a Luz”. Era
dezembro, nevava em Verona e eu estava no restaurante
Bottega del Vino, que recomendo muito.
”
Marcio Scavone
Fotógrafo
”
Isabela Raposeiras
Barista e proprietária da
Academia de Barismo
vinho “de
“Meu
cabeceira” é o Clos
“
”
2 diVino
de la Roche Domaine
Dujac 85. Ele vem me
acompanhando em vários
momentos da minha
vida; quando quero
comemorar algo, é ele
que procuro. Às vezes
não dá para ser a safra de
85, mas mesmo assim é
o Clos de la Roche.
vinho marcante? Foi o que
“Um
servimos na festa de 20 anos do Bistrô
Charlô: Rutini Cabernet-Malbec 05. Foi
emocionante brindar com clientes que
acompanham a nossa história desde o
começo.
requisitos é um maravilhoso vinho branco da Ilha de
Bozcaada, Turquia – local onde os locais fazem seus
vinhos há 4.500 anos – degustado com minha mulher, em
um exuberante fim de tarde, tendo como paisagem a baía
onde os gregos ancoraram e esconderam seus navios
enquanto esperavam os troianos levarem o cavalo de
madeira para dentro das muralhas.
Ana Maria Carvalho Pinto
Promoter
Charlô Whately
Chef e proprietário do Bistrô Charlô
Paulo Cleto
Ex-jogador e técnico de tênis e comentarista da ESPN
”
mim, vinho memorável é um mélange de uvas,
“Para
companhia e ambiente. Um que preenche esses
”
“
diVino 3
Minha Cave
por Veridiana Mercatelli
foto José Henrique Vieira
Mistura
Fina
Pequeno e aconchegante, o espaço
reservado para a adega ganhou ares
de tecnologia com a simplicidade da
madeira de demolição
U
2 diVino
ma adega que combinasse perfeitamente
o rústico e o high tech foi a proposta das
arquitetas da Maria Brasil Arquiteturas
– as irmãs Maria Claudia Brasil e Maria
Paula Brasil – para este projeto. A idéia
era ter a adega aparente, mas não na sala
de TV ou no living e sim em um cantinho
delimitado, espaço que antes da reforma
era um banheiro, com 3,80 m². “Fizemos
algo conjugado, embutindo a adega para
40 garrafas e uma geladeirinha em um
móvel de madeira de demolição. Ficou
uma mistura de moderno com rústico”,
conta Maria Claudia. O móvel também
possui gavetas para guardar os apetrechos
do bar e serve como aparador para as taças e outros objetos. “Pensamos tudo de
acordo com o estilo de vida da família,
que costuma receber pessoas em casa.
Escolhemos peças despojadas, práticas,
para usar no dia-a-dia”, explica ela. Outro
detalhe importante ficou por conta da iluminação. As arquitetas optaram por uma
luz amarelada e aconchegante, não muito
forte, para colocar na área do bar.
Rústico e high-tech se combinam em
ambiente dedicado ao bar e o toque final
fica por conta da iluminação aconchegante
diVino 3
LordVinO
Em ares franceses
nosso crÍtico lordvino assina sua segunda coluna inspirado
na culinÁria francesa, tanto original como adaptada
La Brasserie Erick Jacquin
+ R$ 80
Cozinha: Francesa Clássica
Número de visitas 13
Avaliadores diferentes (alguns repetiram a visita) 8
Na primeira edição da diVino, apresentamos aos leitores a figura
de LordVino, que assina esta seção de crítica gastronômica na
revista graças a um levantamento realizado por um grupo de experientes apreciadores da boa mesa. Desta vez, foram avaliados
dois restaurantes, ambos localizados em São Paulo: o cativante À
Côté e o premiado La Brasserie Erick Jacquin. Mas adiantamos
que LordVino e seus confrades estão preparando novidades para
a terceira edição, quando pretendem incluir em seu roteiro restaurantes de outras cidades, estados e mesmo outros países.
À Côté
+ R$ 80
Número de visitas 10
Avaliadores diferentes (alguns repetiram a visita) 7
Gasto médio em 13 visitas: R$ 228
Serviço de rolha*: R$ 50 por garrafa
Cozinha: Influência Francesa
Gasto médio em 10 visitas: R$ 102
Serviço de rolha*: R$ 30 por garrafa
*O LordVino é a favor de uma cobrança justa por garrafa. O valor de referência ideal é o preço do vinho mais barato da carta do restaurante.
*O LordVino é a favor de uma cobrança justa por garrafa. O valor de referência ideal é o preço do vinho mais barato da carta do restaurante.
Acima de R$ 80 por pessoa – couvert, entrada, prato principal, sobremesa, café e serviço, sem bebidas.
Acima de R$ 80 por pessoa – couvert, entrada, prato principal, sobremesa, café e serviço, sem bebidas.
Ambiente
(nota: obtida I máxima)
Localização (acesso, manobristas etc)
3
3
Ruído
3
3
Conforto das cadeiras
3
3
Disposição/distância das mesas
3
3
Decoração/iluminação
3
3
Público (em harmonia com a proposta da casa) 3
3
TOTAL
18 18
Comida
Menu (variedade, combinações etc)
Temperatura
Cocção
Paladar
Apresentação
Preços
TOTAL
SERVIÇO
(nota: obtida I máxima)
Eficiência do garçom
3
3
Eficiência do maître
3
2
Discrição
3
3
Presteza/atenção a detalhes
3
3
Assertividade
3
2
Reservas (facilidade, política, mesa pronta)
3
3
TOTAL
16 18
(nota: obtida I máxima)
Vinhos
5
5
Variedades/Regiões Produtoras
3
3
Política de rolha
2
3
Vinho em taça (opções, preço etc)
3
3
Temperatura do vinho
5
5
Serviço de vinho
3
Conhecimento técnico sommelier 1
3
3
Taças adequadas
3
5
Preços
25 30
TOTAL
Experiência
e custo/benefício
(nota: obtida I máxima)
9
10
La Brasserie Erick Jacquin
Rua Bahia, 683, Higienópolis – São Paulo
Tel.: 11 3826-5409 – www.brasserie.com.br
96 – 100 Divino
78 diVino
91 – 95 Excelente
resultado final
81 – 90 Ótimo
71 – 80 Muito Bom
61 – 70 Bom
(nota: obtida I máxima)
5
3
3
6
4
2
23
lv
5
3
3
6
4
3
24
91
51 – 60 Regular
Ambiente
(nota: obtida I máxima)
Localização (acesso, manobristas etc)
3
3
Ruído
3
2
Conforto das cadeiras
3
3
Disposição/distância das mesas
3
3
Decoração/iluminação
3
3
Público (em harmonia com a proposta da casa) 3
3
TOTAL
17 18
Comida
Menu (variedade, combinações etc)
Temperatura
Cocção
Paladar
Apresentação
Preços
TOTAL
SERVIÇO
(nota: obtida I máxima)
Eficiência do garçom
3
2
Eficiência do maître
3
1
Discrição
3
2
Presteza/atenção a detalhes
3
2
Assertividade
3
2
Reservas (facilidade, política, mesa pronta)
3
2
TOTAL
11 18
(nota: obtida I máxima)
Vinhos
3
5
Variedades/Regiões Produtoras
3
3
Política de rolha
2
3
Vinho em taça (opções, preço etc)
3
3
Temperatura do vinho
3
5
Serviço de vinho
3
Conhecimento técnico sommelier 1
2
3
Taças adequadas
4
5
Preços
21 30
TOTAL
Experiência
e custo/benefício
(nota: obtida I máxima)
8
10
À Côté
Rua Bela Cintra, 1709, Jardim Paulista – São Paulo
Tel.: 11 3842-7177 – www.acote.com.br
96 – 100 Divino
91 – 95 Excelente
81 – 90 Ótimo
resultado final
71 – 80 Muito Bom
61 – 70 Bom
(nota: obtida I máxima)
3
3
3
4
3
2
18
lv
5
3
3
6
4
3
24
75
51 – 60 Regular
diVino 79
Histórias que O VinhO Conta
Gabriella e José Rallo
celebram a colheita da uva
Zibibbo na ilha de Pantelleria
Sabor e arte
Em uma atmosfera de música e poesia, Donnafugata
quer mostrar ao mundo a qualidade do vinho siciliano
por Carolina Hanashiro
No início de agosto, com a ajuda da luz da Lua e das estrelas cadentes, ao som de jazz e bossa nova, diversos homens davam início à sua jornada de trabalho nos vinhedos
de Contessa Entellina, um pequeno povoado no interior da
Sicília. A cena, embora bastante cinematográfica, era real
e marcava o início da décima colheita noturna na vinícola
Donnafugata – um perfeito exemplo da poesia e da paixão
que envolvem o mundo do vinho.
Fundada pelo casal Giacomo e Gabriella Rallo, a Donnafugata é uma das vinícolas mais expressivas da Itália, reconhecida não só pela qualidade de seus vinhos como também
pela capacidade de misturar, com louvor, conceitos como
inovação e tradição, tecnologia e arte. Giacomo é representante da quarta geração de vinicultores da família Rallo,
uma das grandes produtoras dos populares Marsala. Em
1983, depois de uma partilha de bens da família, transformou a antiga e enorme vinícola erguida em 1851 e criou sua
própria marca. Sua idéia era construir uma empresa que valorizasse a identidade territorial e utilizasse o que houvesse
de melhor em tecnologia.
Em poucos anos, alcançou seu objetivo e, com a ajuda dos
filhos, José e Antonio, viu a empresa crescer. Trocaram os
82 diVino
fortificados Marsala por tintos e brancos secos; imensos tanques deram lugar a pequenas barricas; aos métodos tradicionais foram se incorporando tecnologias como fermentação
com temperatura controlada, uso de tanques de aço inoxidável e aproveitamento da energia solar; as garrafas ganharam lindos rótulos; os vinhedos se encheram de música; e
conceitos como responsabilidade social passaram a ressoar
pela produção. “O desenvolvimento das comunicações e dos
meios de transporte permite que estejamos presentes em
mais de 50 países. Ao mesmo tempo, acreditamos que nossa
força esteja na valorização do nosso território e de suas extraordinárias peculiaridades vinícolas e culturais”, diz José
Rallo, filha do casal e responsável pelo marketing e pelo sistema de qualidade da empresa.
José é também a voz de Donnafugata, literalmente. Ao lado
do marido, o músico percursionista Vincenzo Favara, e do
grupo que leva o nome da empresa, já se apresentou em
templos do jazz mundial, como o Blue Note, de Nova York,
e o Four Seasons, de Xangai. “Acredito profundamente que
cada vinho tenha sua própria música”, diz José, que propõe degustações musicais em bares e no site da vinícola
Colheita noturna durante
o verão siciliano
“Acredito profundamente que cada vinho tenha
sua própria música”
FOTOS: Pasquale Modica, Shobha e DIVULGAçÃO.
José e Vincenzo em show
do projeto Music & Wine
(www.donnafugata.it). “Tento encontrar a
harmonia entre as notas musicais e as notas
de degustação.” Para o Ben Ryé Passito di
Pantelleria, “um vinho rico em cores, sensualidade e paixão”, José propõe “Branquinha”, de Caetano Veloso, ou “Meditação”,
de Tom Jobim.
Os músicos têm também dois CDs gravados
com os quais, além de difundirem o nome
da vinícola, apóiam projetos sociais. A renda
arrecadada com a venda do primeiro disco,
“Donnafugata Music & Wine”, foi revertida
para o Hospital Cívico de Palermo. A venda
do atual CD, “Donnafugata per il Futuro”,
terá recursos destinados a um fundo para
microcrédito. “O objetivo é financiar, em
poucos anos, ao menos cem projetos de trabalho autônomo ou de microempresas, ajudando muitas pessoas a construir seu próprio futuro”, diz José. “Esta é uma fórmula
com poucos precedentes na Itália: reúne
vinho, música e solidariedade.”
Outro exemplo de responsabilidade social é
a adoção de energia solar em boa parte da
produção, o que permitiu à vinícola entrar
para o Clube de Kyoto, uma associação italiana que reúne empresas fiéis ao protocolo
assinado nessa cidade. A própria colheita
noturna, citada no começo do texto, é outra iniciativa com reflexos positivos no meio
ambiente. Ao evitar as altas temperaturas
diurnas do mês de agosto na região (ao redor
dos 35°C), a vinícola não só diminui os riscos de uma fermentação indesejada durante
o transporte da uva como também garante
uma redução de 70% da energia utilizada
para a refrigeração nessa etapa.
“Há anos somos guiados pelos pilares ‘empresa’, ‘natureza’ e ‘cultura’”, diz José. Além
da música, a vinícola apóia a literatura, as artes plásticas e a preservação de patrimônios
históricos. Seu próprio nome – inspirado no
romance “Il Gattopardo”, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, depois transformado
em filme por Luchino Visconti – é mais uma
prova da estreita relação da família com as
artes. “Donnafugata é uma empresa jovem,
dinâmica, voltada para o futuro e que fala ao
coração e à mente de quem ama o vinho. Nos
nossos vinhedos, nas nossas vinícolas, em
todos os lugares, mostramos como nasce o
vinho, unindo regras e criatividade, emoção
e técnica”, resume José, embalada por notas
musicais e aromáticas.
Grandes
autóctones
sicilianas
Os vinhos de Donnafugata
vêm ganhando o respeito de
muitos enófilos mundo afora.
As uvas locais predominam
nos 260 hectares da
produção em Contessa
Entellina, interior da Sicília.
O tinto Sedàra, por exemplo,
é 100% Nero d’Avola, e o
branco Vigna di Gabri, 100%
Ansonica. No Mille e Una
Notte, principal vinho de
Donnafugata, predomina
a uva Nero d’Avola (90%).
Para seus blends, a vinícola
investe também em cepas
francesas, como Chardonnay,
Sauvignon Blanc, Merlot,
Shiraz e Cabernet Sauvignon.
A cantina possui ainda alguns
hectares de vinhedos na
pequena ilha de Pantelleria,
próxima à costa siciliana,
onde estão as uvas Zibibbo,
nome dado localmente à
Moscatel de Alexandria.
Dessa cepa, saem os
vinhos Kabir e Ben Ryé.
diVino 83
Monte sua Adega
À italiana
Os vinhos italianos são geralmente considerados os melhores para acompanhar refeições. Desta vez, então, sugerimos uma
adega toda italiana, com uma variedade que vai desde o tradicional Prosecco, passando pelos brancos e tintos, até a sobremesa. Também buscamos atentar para o custo/benefício, trazendo indicações perfeitas para acompanhar tanto as refeições
do dia-a-dia como ocasiões especiais.
TINTOS
Chianti clássico
Le Corti 2004
R$ 79/Grand Cru
Principe Corsini produz
azeites há mais de 500
anos. Seu Chianti, um
clássico Toscano de ótimo
custo-benefício, é ideal
para acompanhar massas
e carnes.
Poliziano Vino Nobile de
Montepulciano 2004
R$ 88/Mistral
Da cidade toscana de
Montepulciano, esse
interessante vinho é elaborado
com a uva Sangiovese.
Fácil de beber, fácil de gostar
e com preço justo.
Altesino Brunello di
Montalcino 2002
R$ 159/Mistral
Com vinhedos localizados
em local privilegiado, essa
vinícola constantemente
recebe notas altas da crítica
especializada por seus
Brunello de alta qualidade.
Barolo, com a vantagem
de serem relativamente
mais baratos. Travaglini
é um grande produtor
e as belas garrafas são
sua marca registrada.
Pio Cesare Barbera
d’Alba 2004
R$ 105/World Wine
Gattinara é um DOCG
(Denominação de Origem
Controlada e Garantida) do
Piemonte. Lembram os
84 diVino
Um dos mais famosos e
reconhecidos vinhos da
Itália, este supertoscano do
produtor Antinori dispensa
comentários. Tem alto custo,
mas é perfeito para uma
ocasião especial.
R$ 107,50/Decanter
Tradicional produtor
piemontês que elabora
vinhos em família desde
1881. Seus vinhos todos
têm qualidade reconhecida,
incluindo esse gostoso e
versátil Barbera, que pode
ser bebido tanto na refeição
como sozinho.
Mazzi Valpolicella ‘Cru
Poiega’ 2002
R$ 80/Vinci
Na bela propriedade,
é produzido esse vinho
chamado de “pequeno
Amarone”. Um Valpolicella
que prima por grande
equilíbrio e elegância,
além de ter ótimo preço.
Batasiolo Barbaresco 2004
Falesco Vitiano 2006
De um dos maiores
produtores da região do
Piemonte, esse vinho é
consistente, estruturado,
de ótimo preço e perfeito
para refeições.
R$ 64/World Wine
Ceretto Barolo
Zonchera 2004
Difícil encontrar no mercado
um Barolo dessa qualidade e
a esse preço, ainda por cima
de um grande produtor e de
uma safra grandiosa como
foi a de 2004 na região.
acompanhamento para
peixes, massas, frutos
do mar e carnes brancas.
A safra de 2006 foi
agraciada com 89 pontos
na revista Wine Advocate.
Marisa Cuomo Costa
d’Amalfi Furore Bianco
“Fiorduva” 2006
R$ 180/Cellar
Vinho branco elaborado
apenas com uvas autóctones
da bela região da Costa
Amalfitana, no sul da Itália.
Complexo e refrescante, é
ideal para dias quentes.
ESPUMANTE
Bedin Prosecco Extra Dry
R$ 52,90/Decanter
R$ 98/Expand
R$ 150/Cellar
Travaglini Gattinara 2001
Antinori Tignanello 2001
R$ 345/Expand
Mais um grande custo/
benefício. Da região da
Úmbria, o produtor elabora
excelentes vinhos e
o Vitiano é um deles,
ótimo para o dia-a-dia,
acompanhando refeições.
BRANCOS
Valle Reale Vigne Nuove
Trebbiano d’Abruzzo 2005
R$ 51/Zahil
Macio, refrescante e
aromático, elaborado com a
uva Trebbiano. Excelente
Desse pequeno produtor
encontramos esse
espumante fácil, saboroso
e de qualidade, que costuma
superar outros mais caros
em degustações às cegas.
SOBREMESA
Planeta Moscato di Noto
R$ 160/Interfood
Botrytisado, esse néctar
combina complexidade,
doçura, acidez e equilíbrio.
Ideal para acompanhar
queijos fortes,
sobremesas ou mesmo
para ser bebido sozinho.
Boas Idéias
por Carolina Hanashiro
Brinde às avessas
De um lado, Viktor & Rolf, dupla de
estilistas acostumada a inverter a ordem
das coisas e surpreender. De outro, PiperHeidsieck, tradicional casa de Champagne
conhecida pela qualidade de sua bebida e
por suas extravagâncias ao longo de mais
de dois séculos de história. O resultado
desse encontro não poderia ser menos
que inusitado: um divertido conjunto de
garrafa, balde e taça com proporções
invertidas, dando a idéia de que tudo está
de cabeça para baixo! Criado em edição
limitada para o champagne Rosé Sauvage,
o set é conhecido como Upside-Down,
mesmo nome da loja que os estilistas
mantêm em Milão (onde lustres estão
no chão e cadeiras e tapetes no teto) e
da coleção apresentada em um desfile
que começava pelos agradecimentos. No
quesito criatividade, os franceses não ficam
atrás. Exemplos? Em 1965, criaram a maior
garrafa de champanhe do mundo, com
1,82 m, altura do ator inglês Rex Harrison,
vencedor do Oscar daquele ano por “My
Fair Lady”. Quase 40 anos depois, a maison
convidou o estilista Karl Lagerfeld para
vestir um de seus Cuvées. Em 2000, lançou
uma pequena garrafa e a moda de saborear
seu conteúdo com canudinho.
O conteúdo da garrafa segue a mesma linha
de sua apresentação. Segundo os produtores
da bebida, trata-se da perfeita associação de
fantasia com equilíbrio. Elaborado com as
uvas Pinot Noir e Pinot Meunier, este rosé
tem forte aroma de frutas vermelhas secas,
especialmente cerejas, e notas de tangerina,
ameixa, canela, figo e grapefruit.
www.piper.viktor-rolf.com
Não me lembro de nada!
Como nossos avós
A idéia de mesclar sabores antigos com
novos vem ganhando algumas taças
mundo afora. Na Argentina, a moda é a
combinação de Coca-Cola com Fernet,
uma antiga bebida italiana de gosto
amargo, elaborada com vários tipos
86 diVino
de erva macerados em álcool de uva e
armazenados em tonéis de carvalho
por até 12 meses. Nos Estados Unidos,
contrariando os que acreditam ser
um pecado misturar destilados com
fermentados, a moda é tomar bourbon
com Pabst Blue Ribbon, uma cerveja
local de quase 130 anos. Por aqui, as
misturas com vodcas continuam fortes,
mas os bons de copo garantem que o
revival virá por meio de outras bebidas,
como as cachaças e os vinhos artesanais.
IMAGENS: DIVULGAÇÃO; JOSÉ HENRIQUE VIEIRA.
Foi a um restaurante, gostou de um vinho e quer
voltar a prová-lo algum dia, mas a memória não ajuda?
A empresa de etiquetas Collotype, da Austrália,
encontrou a solução para facilitar a vida dos enófilos
mais esquecidos: um rótulo destacável, o chamado
Wine Find. A idéia, concebida há alguns anos, está se
popularizando, principalmente entre produtores sulafricanos, ingleses, neozelandeses e australianos.
www.collotype.com
Biblioteca
O Brasil, O DourO e a Real
Companhia Velha
Fernando de Sousa e Conceição Meireles Pereira – CEPESE (Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade)
Ideal para quem gosta de história
e de vinho. Ao contar a trajetória
da Companhia Geral da Agricultura
das Vinhas do Alto Douro ou Real
Companhia Velha, fundada em 1756
pelo marquês de Pombal, os autores
explicam a relação comercial entre
o Brasil e Portugal nos séculos 18 e
19, quando comercializavam vinho
(do Porto), aguardente e vinagre.
A Real Companhia Velha foi criada
para destinar, garantir e promover a
produção e a comercialização dos
vinhos do Alto Douro, o que veio a ser
uma das maiores fontes de receita do
Estado português. Naquela época, o
Brasil era o mercado mais importante
para o escoamento dos vinhos do
Nigella Express
Receitas rápidas e saborosas
Nigella Lawson – Editora Ediouro
Você adora receber os amigos para
jantar em casa durante a semana,
mas fica arrepiado só em pensar no
tempo que gastará para preparar o
menu e na dificuldade para levantar
cedo no dia seguinte? Acredita que
ter uma despensa gourmet é para
quem tem tempo sobrando para
passear pelos supermercados? Em
seu mais recente livro, a jornalista e
apresentadora inglesa Nigella Lawson
dá a receita para estas e outras
questões. Ao longo de 13 capítulos,
88 diVino
a bela e divertida chef apresenta
mais de 130 receitas para o dia-a-dia
e dá dicas para apressados – porém
exigentes – cozinheiros. “Escolhi os
pratos que fazem parte de minhas
refeições semanais há anos. Sou uma
obcecada por comida, vou fazendo
anotações e fotografando enquanto
cozinho e, um dia, estava tomando
chá na minha cozinha quando resolvi
olhar meus papéis e percebi: isto é
um livro!” disse Nigella, que também
pode ser vista na TV, no canal GNT.
Douro, mas foi só com a vinda da
família real para cá que o hábito
de tomar vinho começou a ganhar
as mesas brasileiras. Ricamente
ilustrado e documentado, o livro nos
leva a conhecer o relevante papel
que a Companhia desempenhou na
economia brasileira no final do antigo
regime e que volta a desempenhar
nos dias de hoje, quando o Brasil
reassume o posto de mercado mais
importante para Portugal. Os autores
traçam um curioso paralelo entre
esses dois momentos da história
dos dois países, mostrando a rota
comercial Brasil-Portugal como a
mais profícua e a mais duradoura
já criada até agora.
BebendO e AprendendO
A arte da descoberta
Milhares de rótulos, produtores, uvas, safras... São tantas
informações que a simples idéia de montar uma adega pode
assustar. Mas não se deixe intimidar! Além de aprender muito,
você verá que esta pode ser uma prazerosa experiência.
por Claudia Zani
1) gaste todo o tempo que for preciso para
achar o local ideal para sua adega.
O mais importante é que esteja protegido dos raios solares, umidade e vibrações contínuas. A temperatura e a
forma de armazenamento são essenciais para preservar a
qualidade da bebida. Hoje, com as adegas climatizadas,
isso ficou mais fácil. O ideal é manter uma temperatura
em torno de 15 ºC e a umidade a 18%, conforme o vinho
e a recomendação do produtor. A garrafa deve ser sempre
guardada na posição horizontal para manter a rolha em
contato com o líquido, evitando seu ressecamento e, conseqüentemente, a entrada de ar na garrafa, o que é fatal
para o vinho.
2)
Busque referências em revistas, livros,
confrarias e com amigos.
Discutir sobre o assunto é fundamental para aprofun92 diVino
5)
dar os conhecimentos. Mas lembre-se: a sua opinião é a
que vale. Afinal, uma cave personalizada deve refletir as
preferências de seu dono. Inicialmente, pode ser difícil
identificá-las, por isso, tome como base algum vinho que
tenha gostado, procure saber suas características e compre algumas garrafas similares. Não se deixe influenciar
por preço ou fama.
Neste momento, descubra quais países produzem a melhor
uva e busque mais informações sobre a composição do vinho,
produtor e região, etc. Muitos acreditam que, no início, é bom
voltar as atenções a exemplares do novo mundo, principalmente da Argentina e do Chile, devido à grande oferta no mercado
e ao fato destes se harmonizarem perfeitamente com o paladar dos brasileiros. “Geralmente esses países produzem vinhos
mais diretos e macios, prontos para beber, que possuem uma
ótima relação custo-benefício”, revela Nelson Luiz Pereira, diretor de degustação da Associação Brasileira de Sommeliers,
que sugere uvas como a Cabernet Sauvignon e a Carmenère
do Chile, bem como a Malbec da Argentina. Os clássicos, porém, devem sempre estar presentes, como aqueles de regiões
tradicionais de Portugal (Douro, Porto, Alentejo, Dão, Setúbal
e Madeira), França (Champagne, Bordeaux e Bourgogne), Itália (Piemonte, Veneto e Toscana) e Espanha (Rioja, Ribera del
Duero e Jerez).
2) Pergunte-se por que você vai comprar
o vinho.
Uma ocasião especial? Para acompanhar um prato sofisticado? Simplesmente degustá-lo? Com essas perguntas
em mente, você tende a definir melhor suas compras e
sempre terá em casa vinhos para diversas situações.
3) Tente equilibrar sua adega com:
• vinhos para serem consumidos rapidamente, como brancos secos com baixo teor alcoólico; tintos como os nouveau e champanhes e espumantes sem safra mencionada.
• vinhos para serem guardados de 1 a 2 anos, isto é, brancos e tintos que evoluem na garrafa, como alguns Pinot
Noir, Sangiovese e Bordeaux brancos.
• vinhos para serem guardados de 2 a 5 anos, como Chiantis clássicos, Rhône e Alsace, e tintos da Borgonha.
• vinhos para longa guarda, como espanhóis Reserva e
Gran Reserva, safras especiais, super Toscanos.
4)
Tenha opções variadas de uvas, que podem
acompanhar diferentes pratos, eventos e
até mesmo seu humor.
A Chardonnay, por exemplo, faz vinhos brancos mais frutados e com moderada acidez; já a Pinot Noir, faz vinhos
com aromas delicados lembrando frutas vermelhas, flores
e especiarias, com boa acidez e tanicidade moderada.
Na hora da compra
Escolhida a uva, aventure-se entre os
diversos produtores e regiões.
n
n
n
n
6)
Durante o ritual da compra, observar as
safras é muito importante.
Para ajudar, procure uma importadora ou loja com boa variedade, onde é possível encontrar a tabela de cotação das
melhores safras. Caso queira pesquisar antes, na internet
há bons sites para buscar informações.
IlustraçÃo: WEBERSON SANTIAGO
Há poucos anos, era comum a idéia de que boas adegas estavam ao alcance apenas de grandes entendedores ou pessoas decididas a investir um bom dinheiro em um espaço
especial da casa. Hoje, ter uma adega interessante e coerente
não só é viável como também representa uma boa oportunidade para mergulhar no encantador mundo dos vinhos. “Ao
montar uma adega, você faz uma verdadeira viagem; tanto
de auto-conhecimento, observando e respeitando seus gostos
pessoais, quanto de descoberta das infinitas opções existentes no mercado”, diz Everson Luiz, sommelier da importadora Mr. Man. “Quanto mais profundo for o conhecimento de
si mesmo, melhores serão as suas escolhas.” Há quem diga
também que o prazer de compor a própria cave é quase tão
intenso quanto o de degustar seus vinhos. Por isso, selecionamos algumas dicas que vão ajudá-lo nesta divertida viagem
de descobrimento.
7)
Faça um minidiário sobre suas impressões
a cada degustação.
Se você provar o mesmo vinho em duas ocasiões diferentes,
com certeza terá sensações diferentes. Além disso, existem
vários softwares que facilitam o controle de sua adega, permitindo a catalogação de cada garrafa, sua história, comentários de especialistas e, claro, suas impressões pessoais.
n
De preferência, compre suas garrafas
em locais com boa variedade e
rotatividade, como importadoras, lojas
especializadas, grandes redes de
supermercado ou os próprios produtores.
Tenha em mente que garrafas pequenas
(375 ml) tendem a acelerar o envelhecimento.
Certifique-se de que o nível do líquido
na garrafa esteja perfeito. Evaporação
e vazamento indicam defeito na rolha.
Tenha cuidado com vinhos de safras
antigas, principalmente os brancos.
A evolução dos vinhos brancos secos
de maneira geral é mais rápida do que a
dos tintos. Por isso, devem ser consumidos
num prazo mais curto. Existem algumas
exceções, como os grandes brancos da
Borgonha, por exemplo.
Pressione a rolha e veja se não está
afundando. Se estiver, o vinho pode
apresentar sérios problemas, pois significa
que a rolha perdeu sua função de protegê-lo
de uma eventual oxidação. Algumas causas
disso são: mau arrolhamento, armazenamento
de garrafas em pé, temperatura muito acima
dos padrões de conservação, manipulação
inadequada, entre outras.
Fique SabendO
Eventos
9 de outubro
Vinho & Chocolate
Degustação de chocolates e vinhos, a difícil
harmonização entre eles e uma palestra ministrada
por membros da Associação dos Profissionais
do Cacau Fino e Especial, na escola Mar de Vinho,
no Rio de Janeiro.
www.mardevinho.com.br
17 a 19 de outubro
The Gourmet Institute
Um fim de semana em Nova York para conhecer
a editora da revista “Gourmet”, Ruth Reichl, e seu poderoso
time de sommeliers, encontrar personalidades do mundo
da gastronomia – como a chef Sara Moulton e o consultor
de vinhos Michael Green –, provar os deliciosos pratos
dos grandes chefs durante os seminários e degustar vinhos
do mundo inteiro. E mais: um jantar de gala no sábado,
organizado pelo restauranter Danny Meyers.
www.gourmetinstitute.com
25 a 27 de outubro
Miami International Wine Fair
Os amantes do vinho voltam suas atenções
para uma das maiores feiras especializadas da
América. São cerca de 1.500 rótulos, de 15 países,
disponíveis para degustação. A troca de experiência
gustativa terá um público estimado de 7 mil
pessoas entre profissionais da área e enófilos.
A programação também conta com seminários
sobre vinhos italianos, californianos e indianos
e sobre temas que fazem parte do universo
da degustação, como o saquê.
www.miamiwinefair.com
3 a 6 de novembro
IV Concurso Internacional de Vinhos do Brasil
A Associação Brasileira de Enologia promove o concurso
pela quarta vez, incentivando o conhecimento e a
divulgação dos vinhos nacionais. Bento Gonçalves será
o local de encontro das vinícolas de 13 diferentes países
que têm como objetivo a troca de experiências
profissionais e técnicas. O concurso é importante para
o reconhecimento da produção brasileira no exterior
e, conseqüentemente, para o crescimento da exportação.
www.enologia.org.br
94 diVino
2 a 4 de dezembro
Vinitech
O evento será realizado em Bourdeaux, região
francesa que produz um dos melhores vinhos do
mundo. Será voltado à troca de informações atualizadas
sobre assuntos que rodeiam o universo da vitivinicultura
e dos apreciadores de vinho.
www.bourdeaux-expo.com
Cursos
Harmonização Enogastronômica
Como harmonizar tintos, brancos e rosés
da entrada à sobremesa; como montar uma
carta de vinhos; ordem de serviço e etiqueta
são alguns dos pontos discutidos nesse curso
de extensão universitária do Senac Campus
Santo Amaro-SP, de 21/10 a 2/12/08.
www.sp.senac.com.br
Champanhe e Espumantes do Mundo
O tema é espumantes no Ciclo das Vinhas,
espaço de estudo do vinho da sommelière
Alexandra Corvo. A uva, o método de produção,
bem como estilos e sabores do mundo todo
serão analisados nos dias 8 de outubro
e 19 de novembro. R$ 119 por pessoa.
www.alexandracorvo.com.br
Curso de Iniciação ao Vinho e à Degustação
Em quatro dias o aluno é iniciado no
universo dos vinhos por meio de conversas
que visam apresentá-lo à linguagem e aos
assuntos mais abordados. Entre os temas,
um pouco de história, as técnicas de degustação
e os serviços do vinho, como aprender
a ler um rótulo e armazená-lo, quais as taças
apropriadas para cada tipo de vinho e como
fazer harmonizações. As palestras serão
ministradas por Daniel Pinto, presidente da
SBAV (Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho)
e professor de enologia da FAAP e Edécio
Armbruster de Moraes, membro nobre da
Confraria dos Enófilos da Região D’Óbidos (CERO)
de Portugal. O curso acontece nos dias 5, 12, 19
e 26/11. R$ 360 por pessoa.
Mais informações: (11) 3814-7905
www.sbav-sp.com.br
Onde encontrar
Restaurantes
Aguzzo
(11) 3083-7363
www.aguzzo.com.br
Azait
(11) 3063-5799
www.azait.com.br
Capim Santo
(11) 3068-8486
www.capimsanto.com.br
Dom Tonho
www.dtonho.com
Fasano
(11) 3062-1399
www.fasano.com.br
La Table O & CO
(11) 3063-4433
www.latable-co.com.br
Martin Fierro
(11) 3814-6747
www.martinfierro.com.br
Parigi
(11) 3167-1575
www.fasano.com.br
Vecchio Torino
(11) 3816-0592
Outras Empresas
Collotype
www.collotype.com
Shopping Iguatemi
www.iguatemisaopaulo.com.br
Convento do Espinheiro
www.conventodoespinheiro.com
Terraço Atlântico
www.praiagolfe.com/restaurantes.php
Convento dos Loios
www.pousadas.pt/historicalhotels/pt
Tocave
0800-7707666
www.tocave.com.br
Donnafugata
www.donnafugata.it
D’Olivino
(11) 5532-1820
www.dolivino.com.br
Vinícola Bianchetti Tedesco
(87) 3991-2019
www.vinhosbianchetti.com.br
Vinícola Quinta do Crasto
www.quintadocrasto.pt
KMM
(11) 3819-4020
www.kmmvinhos.com.br
Mercovino
(16) 3635-5412
www.mercovino.com.br
Mistral
(11) 3372-3400
www.mistral.com.br
Espaço Santa Helena
(11) 3675-5007
www.suxxar.com.br
Vinícola Quinta Nova
www.quintanova.com
Mr. Man
(11) 2249-9000
www.mrman.com.br
Empório Santa Maria
(11) 3706-5211
www.emporiosantamaria.com.br
Wines from Brasil
(54) 3455-1800
www.winesfrombrasil.com
Premium Wines
(31) 3282-1588
www.premiumwines.com.br
Expoazeite
www.expoazeite.com.br
Importadoras
Reloco
(21) 2215-8055
www.reloco.com.br
Herdade do Esporão
www.esporao.com
Hipermercado Zaffari
(11) 3874-5000
www.zaffari.com.br
Hotel da Ameira
www.hoteldaameira.pt
Aurora
(11) 3845-3484
www.aurora.com.br
Carvalhido
(21) 2584-1392
www.carvalhido.com.br
Casa Flora
(11) 3327-5199
www.casaflora.com.br
Aquapura Hotels Villas Spa
www.aquapurahotels.com
Maria Brasil Arquitetura
(11) 3057-1392
www.mariabrasilarquitetura.com.br
Azeite Club
(11) 2841-0542
www.azeiteshop.com.br
Mercure Hotel
www.mercure.com
Azeite de Oliva Espanhol
www.azeite.com.br
Piper-Heidsieck
www.piper.viktor-rolf.com
Boutique Veuve Clicquot
(11) 3032-4766
Pousada Flor da Rosa
www.pousadas.pt/historicalhotels/pt
Casa de Sabicos
www.casadesabicos.pt
Presentes Mickey
(11) 3088-0577
www.mickey.com.br
Cia de Copos
(11) 3819-4588
www.ciadecopos.com.br
Quinta da Romaneira
www.quintadaromaneira.pt
Grand Cru
(11) 3062-6388
www.grandcru.com.br
Ciclo das Vinhas
(11) 3284-3626
www.alexandracorvo.com.br
Roberto Simões
(11) 3071-1963
www.robertosimoes.com.br
Interfood
(11) 2602-7255
www.interfood.com.br
96 diVino
In Vino Amici
(11) 3071-1902
www.invinoamici.com
Cellar
(11) 5531-2419
www.cellar-af.com.br
Decanter
(47) 3326-3959
www.decanter.com.br
Expand
(11) 3874-4700
www.expand.com.br
Enoteca Fasano
(11) 3074-3959
www.enotecafasano.com.br
Terramatter
(21) 3860-6565
www.terramatter.com.br
Vinci
(11) 2797-0000
www.vincivinhos.com.br
Wine Premium
(11) 3040-3434
www.winepremiumstore.com.br
World Wine
(11) 3383-7477
www.worldwine.com.br
Zahil
(11) 3070-2900
www.zahil.com.br
FOTO: dan kenyon/getty images
MomentO
98 diVino