VisãO Verde FalandO de VinhO PensandO Bem
Transcrição
VisãO Verde FalandO de VinhO PensandO Bem
Edição 02 ano I edição 02 ano I PensandO Bem manoel beato discorre sobre o vinho branco VisãO Verde O cultivo orgânico no Vale do São Francisco outubro/novembro 2008 Viagem DiVina Alentejo e douro: berço dos vinhos portugueses FalandO de VinhO Ed motta revela sua paixão por vinhos da bourgogne R$ 12,90 Carta aO Leitor Diretora Geral Daniela Graicar El Kalay Redação Diretora: Heloisa Whately [email protected] Editora: Carolina Hanashiro [email protected] Repórter: Camila de Oliveira [email protected] VinhO, terra e arte E continuamos comemorando! Mas agora os brindes se multiplicaram. São muitas pessoas participando, destacando aquilo de que mais gostaram, falando daquilo de que sentiram falta, criticando e elogiando... em resumo, compartilhando a diVino conosco, que é o mais importante. Nesta segunda edição, podemos dizer que o coração continua acelerado como em início de namoro. É forte o desejo de superar as expectativas, de atender a pedidos e de conquistar mais e mais confrades. Durante a produção deste número já um pouco mais “envelhecido” da revista, quando nos demos conta, estávamos mergulhados numa combinação de vinho com arte mais forte do que poderíamos prever – ligada ora à música, ora ao design, ora à arquitetura, ora ao cinema. A arte mostrou ser mesmo inerente ao universo dessa bebida. E talvez nem pudesse ser diferente, dado que a enologia é, por si mesma, uma expressão artística. Pudemos ver um exemplo vivo dessa harmoniosa relação na vinícola italiana Donnafugata, por exemplo, que trazemos em nossa seção Histórias que o Vinho Conta. E um terceiro elemento saiu dos bastidores para ser revelado com toda a sua importância em várias das páginas desta revista: a terra. Do Vale do Rio São Francisco à Borgonha, passando pelo Alentejo e pelo Douro, por onde passamos pudemos confirmar a ligação entre a terra e as características dos povos, evidente nas vinhas por eles cultivadas. Como disse nosso colunista Carlos Hakim, os borgonheses afirmam que não produzem a uva Pinot Noir, apenas a utilizam como veículo de expressão de seu terroir. Ou, como reforçou Alexandre Gama em seu artigo sobre a Confraria diVino em torno dos supertoscanos: “A cultura de um povo está também no que ele é capaz de tirar da terra. E tirar da terra o que provamos nessa degustação é, sem dúvida, algo bravo, bravíssimo”. Arte Diretor: Káfeja Cavalcante Designer: Bruno Buzzoni Projeto Gráfico: Flavio Giannotti Colaboradores Alexandra Corvo, Alexandre Gama, Carlos Hakim, Carlos Marcondes, Claudia Zani, Cristiane Duarte, Erick Scoralick, Jeriel da Costa, José Henrique Vieira, Luciana Reis, Manoel Beato, Marcos Santo Mauro, Pepe Casals, Régis Queiroz, Simon Knittel, Tadeu Brunelli, Thais Nicoletti, Veridiana Mercatelli e Weberson Santiago Conselho Editorial Carlos Hakim, Carolina Hanashiro, Daniela Graicar El Kalay, Fabio Liberman, Heloisa Whately, Manoel Beato e Renata Lobo. Publicidade Tel. (11) 3225-1215 Leonardo Gonçalves [email protected] Flavia Santos [email protected] Shirly Cohen [email protected] CTP e Impressão Pancrom Indústria Gráfica R. dos Alpes, 381/405, São Paulo, SP. CEP 01520-030. Tel. (11) 3340-6800 www.pancrom.com.br Assinaturas Tel. (11) 3225-1215 [email protected] Contato www.revistadivino.com.br Rua Fradique Coutinho, 1235, São Paulo, SP CEP 05416-011. Tel. (11) 3585-0100 [email protected] A diVino não se responsabiliza por conceitos ou opiniões emitidas em artigos assinados. Fica aqui uma homenagem da equipe diVino a todos esses artistas da terra e do vinho. Heloisa Whately 4 diVino Tiragem auditada por 30.000 exemplares OutubrO/NoVembrO 2008 Casamento Perfeito 24 Brasil Divino No restaurante Parigi, quatro sommeliers desvendam a carta de vinhos para uma harmonização com o Bolito Misto, prato servido por “Seu Ático” há mais de 50 anos. Falando de Vinho Visitamos as vinícolas do Vale do Rio São Francisco: a região é o berço de vinhos tropicais de qualidade internacional. 28 Sensações – Pinot Noir 32 Conversa de Confrades Fomos beber direto da fonte nas regiões vinícolas do alentejo e do douro, em portugal. Especial Azeite 40 Mergulhamos no universo do azeite e mostramos porque este produto conquista cada vez mais espaço nas rodas da gastronomia, no mercado e na cozinha. Confraria Divino 44 Os encantadores toscanos da safra 1997 são os escolhidos para o segundo encontro de nossos confrades com o mestre Manoel Beato. 62 Em nossa degustação às cegas, procuramos comparar a Borgonha ao resto do mundo, provando 10 vinhos: cinco deles da tradicional região francesa e cinco do novo mundo. Em uma conversa descontraída, o cantor e enófilo Ed Motta revela que prefere deixar as notas para a música e fala da sua paixão pela delicadeza dos Bourgogne. Viagem Divina 52 Rolhas de cortiça versus “screw-caps”: tradição e modernidade conversam sobre esta polêmica. 68 Artigos Pensando Bem, por Manoel Beato Espumantes, por Alexandra Corvo 16 38 Seções Degustação De Olho na Uva Barril de Compras Wine Business Na Mídia Eu Recomendo 12 18 22 50 56 72 Minha Cave LordVino Histórias que o Vinho Conta Monte sua Adega Boas Idéias Biblioteca Bebendo e Aprendendo Fique Sabendo Onde Encontrar Momento diVino 76 78 82 84 86 89 92 95 96 98 DegustaçãO Um rótulo só para você Na onda da customização, até tradicionais rótulos de bebidas têm perdido seu lugar para outros totalmente personalizados e exclusivos. Garrafas de água, vinho, espumante e vodca, entre outras, podem ganhar a cara do anfitrião e ficar como lembrança de celebrações ou mesmo de eventos corporativos. A Boutique de Detalhes e a Just 4 You são duas das empresas de São Paulo que oferecem esse serviço. Elas trabalham com um mínimo de 50 unidades e precisam receber as encomendas com cerca de dez ou 20 dias de antecedência. Quanto custa a brincadeira? Varia conforme a quantidade, o tamanho do rótulo e o tipo de bebida. Para se ter uma idéia, os valores para uma garrafa de água giram em torno de R$ 4, enquanto, para o Chandon Rosé, podem chegar a R$ 24. Boutique de Detalhes: (11) 3895-8550; Just 4 You: (11) 5051-2687, www.just4yousg.com.br Um luxo só! Que tal um Porsche para guardar seus vinhos? Uma parceria entre a Veuve Clicquot e o Porsche Design Studio resultou em uma adega feita a mão em aço escovado, com desenho futurista, 2,10 m de altura por 60 cm de largura e 12 prateleiras iluminadas individualmente. Essa é a Vertical Limit, que, assim como as adegas da Veuve Clicquot, na França, mantém a temperatura das garrafas sempre em 12º C. E, para aumentar o desejo de consumo, a peça vem recheada com 12 garrafas de uma coleção rara da marca, das safras de 1955 a 1989. Mas, se você se animou com a possibilidade de ter uma delas em casa, é bom saber que a edição é limitadíssima. A empresa fez apenas dez peças para serem vendidas no mundo todo. No Brasil, ela pode ser encontrada na loja-conceito da Veuve Clicquot, que estará no Shopping Iguatemi, em São Paulo, até o final de dezembro. Quanto custa o mimo? R$ 237 mil. Self-service Chegou à Vinoteca do Empório Santa Maria a primeira máquina para degustação de vinhos do país. A Enomatic é italiana e já conhecida dos europeus, que a encontram em aeroportos, estações de trem e mesmo em restaurantes. Com capacidade para 48 garrafas – são seis módulos com oito unidades cada um –, a máquina funciona com um cartão que debita os pedidos do cliente. Os preços variam de R$ 2 a R$ 53, dependendo do rótulo e da dose – 30 ml, 60 ml ou 120 ml – selecionados. Inserido o cartão e escolhido o item, é só posicionar a taça. Graças a um sistema de preservação a nitrogênio, as características dos vinhos permanecem intactas por até um mês depois de a garrafa ter sido aberta, o que permite que grandes rótulos sejam provados sem o risco de perda caso não sejam consumidos dentro de um ou dois dias. A seleção de vinhos deverá ser renovada a cada mês, sempre com opções para diferentes bolsos e gostos. FOTOS: DIVULGAÇÃO; José Henrique Vieira Novidades para 2009 12 diVino A importadora paulistana Mr. Man realizou no último dia 25 de agosto, em seu novo espaço, na Vila Beatriz, uma exclusiva degustação vertical do vinho argentino Enzo Bianchi. Foram apresentadas as safras 1997, 1999, 2001, 2002 e também a safra 2003, que só será comercializada no Brasil a partir de 2009. O evento foi conduzido por Francisco Antonio Martinez – “Pancho”–, enólogo-chefe da vinícola Valentin Bianchi. O vinho, bem elaborado e com bom potencial de guarda, mostrou muita qualidade e personalidade. O preço de lançamento da safra 2003 deve ficar em torno de R$ 220. diVino 13 DegustaçãO Detetive na área O universo do vinho acaba de ganhar mais um aliado contra falsificações. Cientistas catalães divulgaram na renomada revista científica The Analyst, da Royal Society of Chemistry, a criação de uma “língua eletrônica” capaz de identificar as variedades de uvas e as safras dos vinhos. Tudo para dificultar ainda mais possíveis fraudes nos produtos. Segundo a pesquisadora que liderou os estudos, Cecília Jiménez-Jorquera, do Instituto de Microeletrônica de Barcelona, a idéia surgiu depois de conversas com especialistas da indústria vinícola que necessitavam de um mecanismo de avaliação mais rápido. A “língua eletrônica”, que possui uma série de sensores treinados para distinguir os tipos de casta e as safras, tem a vantagem de ser portátil, além de ser uma opção mais barata que o envio de amostras aos tradicionais laboratórios de análise. Os cientistas programaram os sensores para identificar as principais categorias do paladar, tais como doce, salgado, amargo e ácido. As primeiras experiências foram feitas com o suco de quatro uvas populares na Catalunha – Airén, Chardonnay, Malvasia e Macabeu – e com os vinhos produzidos na Espanha entre 2004 e 2005. Mas a novidade ainda está em fase de testes. O próximo passo será ampliar o número de amostras analisadas para obter resultados mais precisos e garantir a confiabilidade total do aparelho. Bafômetro de bolso Todo o prazer de degustar um bom vinho pode ir por água abaixo se, ao sair com seu carro do restaurante ou da casa dos amigos, você for parado por uma blitz policial. Para evitar contratempos e, principalmente, acidentes, a Tocave lançou um bafômetro digital que em poucos segundos informa se você está apto a dirigir. Não é o mesmo usado pelos órgãos fiscalizadores, mas pode ser uma mão na roda. O aparelho funciona com duas pilhas e utiliza a tecnologia de semicondutores, que dispensa refis e a necessidade de encostálo na boca. Sua versão mini ainda pode ser usada como chaveiro. O produto está à venda nos sites www.americanas.com.br, www.submarino.com.br e www.bestshoptv.com, por apenas R$ 59. 4 diVino 14 diVino Vinhosites www.rippon.co.nz Na opinião da crítica inglesa Jancis Robinson, a neozelandesa Rippon é uma das vinícolas mais bonitas do mundo. São 15 hectares de uvas Pinot Noir, Riesling e também Gewurztraminer, Sauvignon Blanc, Gamay e Osteiner. O lugar é cenário para casamentos e palco para o Rippon Music Festival, importante festival de música da Nova Zelândia. Vale uma viagem pelo site e quem sabe, depois, uma visita de verdade ao local. www.cellartracker.com A maior comunidade de vinhos do mundo foi criada por Eric LeVine em 2003, então funcionário da Microsoft. A página foi oficialmente colocada no ar em 2004 para acesso livre e, graças ao seu sucesso, Eric desligou-se da maior produtora mundial de softwares. Atualmente, a confraria online é referência para os amantes do vinho. Conta com mais de 58 mil usuários do mundo todo e avaliação de 9 milhões de rótulos. Cada um faz o seu registro e dá suas opiniões neste espaço onde o principal é a troca de informações entre os usuários. Para participar não há custo algum, mas as contribuições são bem-vindas. PensandO Bem... por Manoel Beato Brancos cheios de Vida O mundo do vinho se aprofunda dia a dia no estudo e na compreenção de si mesmo. É regido por uma série de regras, remotas e modernas, que servem de bússola e nos orientam em meio a um rio, sempre extenso, mas que agora abre novos braços. São múltiplos meandros que se expandem no que se refere aos vinhos de qualidade e deságuam sua cultura pelas mais diversas regiões do planeta. Assim, certas teses embasadas na ciência e na prática milenar, que nos mostram o que e como beber com qualidade, são cada vez mais bem-vindas. É prudente, porém, não nos atermos a conclusões definitivas e generalizantes. Isto ocultaria um outro modo de chegar ao coração do conhecimento: a valorização das divergências, os descaminhos do vinho. Uma das idéias mais difundidas pelos praticantes e comentadores do assunto é que vinho branco seco não envelhece bem, já que o tanino é o principal conservante natural do vinho e o branco é praticamente isento dessa substância. Existem, porém, além dos brancos leves e primários – que são agradavelmente leves e refrescantes, concebidos para serem bebidos jovens –, duas outras categorias de vinho branco. Manoel Beato é sommelier há 22 anos, responsável pelos vinhos do Grupo Fasano e apresentador do programa Adega Musical da rádio Eldorado FM Há aqueles que esbanjam vivacidade e são suficientemente estruturados para, sem perder o poder de seu frescor peculiar, fazer desabrochar, depois de alguns anos de envelhecimento, aromas mais cativantes que se fundem aos jovens já presentes. Nesse grupo, estão os vinhos franceses da região de Chablis, os Riesling da Alsace, Chenin Blanc e Sauvignon Blanc do Loire. Também fazem parte muitos alemães relativamente leves ou de corpo médio e muitos estruturados de Friuli, uma das melhores regiões para brancos da Itália. Destacam-se ainda alguns espanhóis sem esquecer espumantes brancos, como os Champagne não safrados, que se tornam mais ricos depois de alguns anos. Longe de serem grandes maratonistas, esses vinhos podem durar cinco ou seis anos. 16 diVino FOTOS: tadeu brunelli Além dos leves e primários – que são agradavelmente leves e refrescantes, concebidos para serem bebidos jovens – há duas outras categorias de branco. A outra categoria é a de imponentes brancos de alma negra (tinta), que, como os melhores tintos do mundo, chegam a durar décadas e aos quais só o envelhecimento trará a desejada complexidade aromática. Quando jovens, sugere-se até mesmo que sejam decantados para que se beneficiem com a aeração e, dessa forma, soltem seus sabores e nos excitem com o amplo panorama de aromas que se ressaltam com um tempo na jarra ou mesmo no copo. Entre esses potentes e longevos vinhos, encontramos vários das regiões de Puligny e Chassagne Montrachet, Corton Charlemagne, Hermitage e alguns do Vale do Loire, todos franceses. Na Espanha, o Tondonia é surpreendente, pois dura décadas, sendo que os das safras de 70 e 80 exalam vida velha, cheiram ambiente de casa antiga, sabores evoluídos, próprios da sua nobre oxidação. Não raro também se encontram vidas vivazes em alemães antigos, de sabores pungentes que, clarinhos quando moços, mostram um imponente amarelo dos pintores préimpressionistas, que transita entre o luminoso e o opaco. De Portugal, provei vários e vitoriosos Buçaco, brancos com 30 ou 40 anos de idade, talvez até mais velhos. Não me lembro bem. Nesse caso, restou apenas a memória gustativa desses vinhos vovôs. Quando provo um bom branco, saudável, cheio de personalidade e que não se deixa prender pelas idéias feitas, me vem à mente a canção “Tiranizar”, de Caetano Veloso: “Me prenda e você me perdeu/ Me deixe solto e eu sou todo seu”. diVino 17 De OlhO na UVa por Carlos Hakim OurO em cachos Alguns Riesling que provamos: Vinhedos de Riesling à margem do rio Mosel A pesar de alguns acharem que os tempos áureos da Riesling passaram, a maioria dos especialistas a considera hoje a melhor uva para vinhos brancos graças à sua faculdade de reter acidez, aos seus altos níveis de açúcar, à sua fidelidade ao terroir e à sua longevidade. Cultivada em muitas regiões, a Riesling atinge sua excelência entre a Alemanha e a Alsácia, às margens dos rios Reno e Mosel, onde provavelmente surgiu. 18 diVino Não se sabe ao certo quando, mas foi no século 14 que ela começou a se popularizar, pois muitos registros datam dessa época. No início do século 20, produtores alemães passaram a experimentar novas uvas, como a Silvaner, reduzindo consideravelmente a produção da Riesling. Mas, no decorrer do mesmo século, a produção se recuperou e se expandiu para novas regiões, como Pfalz e Rheinhessen. Hoje os alemães a reconhe- FOTOS: clay mclachlan/getty images Até há pouco desvalorizada, a Riesling é hoje reconhecida por muitos como a melhor uva branca existente. cem como um verdadeiro “tesouro nacional”. A Alsácia é a única região francesa com permissão oficial para o cultivo da Riesling. Áreas como Kamptal, Kremstal e, principalmente, Wachau são responsáveis pela ótima reputação de seus vinhos secos, puros, perfumados e cheios de mineralidade. Para a Master of Wine Jancis Robinson, vem de lá o melhor Riesling seco: o Clos Ste Hune, do produtor Trimbach. Amante da uva, a especialista chegou a afirmar: “Acho a melhor uva de vinhos brancos do mundo, porém muitos acham que sou louca”. Também bastante reconhecidos são os Riesling da Áustria, em geral secos e untuosos, tendo como característica um final longo com toques de pimenta-branca. Podemos citar também a Suíça e a Itália (Alto Adige) como produtores substanciais. Anakena Single Vineyard 2006 Aromas de maçã verde e floral. Em boca, boa acidez, pouca complexidade e amargor marcante. DV 86 (R$ 48 – Mercovino) Hugel & Fils Riesling 2006 – Riquewihr, Alsácia Aromas de frutas brancas (pêra) e cítrico. Em boca média acidez, toques minerais, secura, médio corpo e amargor final. DV 85 (R$ 83 – World Wine) Domdeschant Werner Riesling Spätlese Trocken 2005 – Rheingau, Alemanha Aromas finos, fruta madura, querosene e mineral. Boca fresca, equilibrada, leve e fácil com boa acidez, dulçor aparente e final persistente. DV 88 (R$ 97 – Mistral) Pegasus Bay Aria 2006 – Waipara Valley, Nova Zelândia Mel, casca de laranja no nariz. Em boca, untuoso, boa acidez equilibrando a doçura, complexo e com longo final. Para acompanhar sobremesa. DV 90 (R$ 109 – Premium Wines) diVino 19 Schloss Johannisberg e seus vinhedos de Riesling Com cepas de Rielsing datadas de 1720 (provavelmente as mais antigas do mundo), essa tradicional vinícola da região de Rheingau, na Alemanha, reivindica o título de “criadora” do vinho de colheita tardia. Conta a tradição que, no ano de 1775, os papéis que liberavam a colheita tardaram a chegar e com isso as uvas foram atacadas pela podridão nobre (Botrytis cinerea). As tais uvas foram doadas aos camponeses, que produziram vinhos de alta qualidade. Também os húngaros reivindicam essa invenção com os chamados Tokaji (vinho doce botrytisado). Conquistando o Novo Mundo No século 19, a Riesling era a uva branca mais plantada na Austrália, quando foi superada pela Chardonnay. Hoje, além de ser o segundo maior produtor mundial de Riesling, o país elabora bebidas excelentes, principalmente nas frias regiões de Clare Valley e Eden Valley, onde têm surgido vinhos de perfil moderno e de bom custo/benefício. Na vizinha Nova Zelândia, a uva adaptou-se bem ao clima mais frio da ilha sul, nas regiões de Marlborough e Nelson. Seus vinhos de colheita tardia são considerados de muito boa qualidade, e os secos, mais leves e delicados que os australianos. Nos Estados Unidos, a Riesling é plantada na Califórnia, no Oregon, em Washington e em Nova York, apesar da demanda por Chardonnay ainda limitar muito sua produção. Uma das uvas mais cultivadas aqui no Brasil, a Riesling Itálica não possui parentesco com a Riesling Renano (alemã). Considerada inferior, é emblemática das Serras Gaúchas e utilizada, com muito sucesso, nos espumantes. Ao contrário da Itálica, a Renano não se adaptou bem ao terroir brasileiro. A África do Sul, o Canadá e o Chile também possuem considerável cultivo da Riesling alemã. 20 diVino Decifrando os rótulos Os Riesling superiores, Qualitätswein (vinho de qualidade), distinguem-se de acordo com o grau de maturação da uva. Há duas categorias: QbA – Vinhos regionais de qualidade – e QmP – Vinhos de qualidade com distinção. Estes são superiores e dividem-se nos seguintes tipos: Kabinett (Gabinete ou Reserva) – fermentados secos, têm baixo teor de álcool e corpo leve. Harmonizam-se com peixes, frutos do mar e queijos leves. Spätlese (Colheita tardia) – ricos e levemente mais adocicados. Vão bem com peixes e frutos do mar mais condimentados e também com queijos amarelos. Auslese (Colheita selecionada) – mais doces, feitos de uvas selecionadas que concentram mais açúcar. Bons para acompanhar queijos fortes, foie gras e tortas doces. Nessas três primeiras categorias, os vinhos podem ainda ser designados como Trocken (seco) e Halbtrocken (semi-seco). Beerenauslese (Bagos selecionados) Trockenbeerenauslese (Bagos ressecados selecionados) Eiswein (Vinhos de gelo ou congelados) Os vinhos destas três últimas categorias são bem mais doces, em geral botrytisados (Botrytis cinerea é um fungo que resseca as uvas, deixando-as com grande concentração de açúcar). FOTOS: plainpicture/grupo keystone/pnp-p2682609 Schloss Johannisberg e a descoberta do “Late Harvest” Barril de Compras por Camila de Oliveira 3 2 Menu de Cristais Brancos Os brancos preservam seus aromas finos em copos um pouco menores e boca mais estreita. 4 1 5 1. Taça de cristal Schott Zwiesel (R$ 37,63 cada peça - Presentes Mickey) 2. Taça de cristal Krosno (R$ 750 o conjunto com 18 peças - Roberto Simões) 3. Taça de cristal Strauss (R$ 766,90 o conjunto com 30 peças - Espaço Santa Helena) 4. Taça de cristal Imperattore (R$ 22,98 cada peça - Hipermercado Zaffari) 6 2 5. Taça de cristal Da Vinci (R$ 1.502 o conjunto com 36 peças - Presentes Mickey) 6. Taça de cristal GS (R$ 237 o conjunto com 18 peças - Presentes Mickey) 3 Tintos 1 Vinhos tintos pedem taças mais bojudas com espaço para o líquido respirar e, assim, liberar todas as suas nuances. 1. Taça de cristal Strauss (R$ 61 cada peça - Mickey Presentes) 5 2 3 4 Espumantes 2. Taça de cristal Hering para vinho Bourdeaux (R$ 51,90 cada peça - Hipermercado Zaffari) Já os espumantes ressaltam seu sabor com a produção contínua de bolhas finas em copos de formato mais alto e esguio. 3. Taça de cristal Strauss para vinho Bourgogne Grand Cru (R$ 84,30 o conjunto com duas peças - Cia de Copos) 1. Taça de cristal Versace por Rosenthal (R$ 4.121,90 o conjunto com seis peças - Espaço Santa Helena) 4. Taça de cristal Mikasa (R$ 1.187 o conjunto com 36 peças - Presentes Mickey) 6 1 20 diVino 3. Taça de cristal Blumenau (R$17,90 cada peça - Hipermercado Zaffari) 7 FOTOS: JOSé HENRIQUE VIEIRA 7. Taça de cristal para vinho do porto Strauss (R$ 54,50 o conjunto com duas peças - Cia de Copos) 5 2. Taça de cristal Krosno (R$ 890 o conjunto com 18 peças - Roberto Simões) 5. Taça de cristal Krosno (R$ 650 o conjunto com 18 peças - Roberto Simões) 6. Taça de vidro Bormiolli Rocco (R$ 28,90 cada peça - Hipermercado Zaffari) 4 4. Taça de cristal (R$ 173,90 o conjunto com seis peças - Espaço Santa Helena) 5. Taça de cristal Mikasa (R$ 1.187 o conjunto com 36 peças - Presentes Mickey) *Preços pesquisados em agosto de 2008. diVino 21 CasamentO PerfeitO Bolit O com tradiçãO Como escolher um vinho “curinga” para um prato que apresenta sete tipos de carne, seis legumes diferentes e três molhos especiais? Para encarar esse desafio, convocamos um respeitado time de sommeliers. por Carlos Marcondes fotos José Henrique Vieira Q 2 diVino uarta-feira no restaurante Parigi, em São Paulo, hora do almoço. Entre uma mesa e outra, lá esta o experiente “Seu Ático”. No auge dos seus 82 anos, ele passa com seu belo carrinho de prata oferecendo o Bolito Misto, tradicional cozido italiano. Difícil não se encantar com a simpatia desse “PhD” em Bolito Misto. Tanta experiência tem uma explicação: Seu Ático serve esse prato há mais de 50 anos, desde a época em que trabalhava no restaurante Ca’d’Oro, no centro da cidade. “O Bolito é minha vida, devo muito a ele. Amo o que faço e meus clientes sentem isso”, revela. Naquele dia, era dele a missão de montar os pratos para a prova de um time de feras formado pelos sommeliers Manoel Beato (Fasano), Rogério Moura (Parigi), Eliana Araújo (Capim Santo) e Ezequiel Rodrigues (La Fronteira e Martín Fierro). Depois de cortar as carnes e distribuí-las nos pratos com o cuidado de um artista, Seu Ático explica que o Bolito é, na verdade, uma refeição pouco gordurosa e muito saudável, ao contrário do que parece. O chef francês Eric Berland, que comanda a cozinha clássica ítalo-francesa do Parigi há dez anos e é o responsável pelo preparo do Bolito Misto, confirma. A especialidade é composta por sete tipos de carne: paleta de vitela, galinha caipira, músculo, carne-seca, língua bovina defumada e os embutidos zampone e cotechino. O carrinho de Seu Ático também traz para o cliente hortaliças como cenoura, batata-bolinha, batata-doce, mandioquinha, repolho e cebola. E ainda caldo de pirão à base de tutano e farinha de rosca, além dos molhos de salsa verde, raiz-forte e mostarda de cremona. “Acrescentamos ingredientes regionais como a mandioquinha e a carne-seca para dar um toque brasileiro ao nosso Bolito”, conta Berland. O segredo para que o cozido seja servido “no ponto” é acrescentar vinho branco na hora de refogar os legumes e deixar as carnes por cerca de três horas e meia na panela, até atingirem a maciez ideal. O chef, apaixonado pelo Bolito, também se arrisca na sugestão de vinhos e abre a seção de harmonização indicando o respeitado tinto Château Figeac safra 1989 – Seu Ático orgulha-se do prato que serve há mais de 50 anos um Bordeaux caloroso que contrasta com as diversas carnes do prato. Manoel Beato, admirador de Seu Ático e do Bolito do chef, comenta que, se o sommelier for extremamente rigoroso, torna-se quase impossível harmonizar o prato apenas com um vinho, já que a combinação perfeita depende sempre da bocada do prato que a pessoa vai degustar. “É realmente um desafio, pois o comensal vai encontrar sensações de diversos pratos em apenas um!” Contudo, segundo ele, é possível eleger vinhos “curinga” de leve a médio corpo, com ótimo frescor e uma certa acidez para harmonizar com os dois embutidos da receita. Suas sugestões seriam o Barbera D’Asti – jovem, produzido pela família Icardi, na Itália – ou ainda o Valpolicella, feito por Sergio Zenato, mais maduro e um pouco mais encorpado. Entre os produtores nacionais, sua indicação é o Pinot Noir 2005 da vinícola Quinta da Neve, de Santa Catarina. Já Eliana Araújo acredita que as carnes, legumes e notas picantes e agridoces do Bo- lito possam integrar-se perfeitamente aos aromas inusitados do Estate Wildflower, da produtora Jerry Lorh, que trocou seu trabalho na Nasa (agência espacial americana) pelo cultivo de excelentes uvas nos EUA. Outra indicação é o ÁN/2, da espanhola Ànima Negra, um tinto elegante e versátil, capaz de casar com toda a diversidade do prato. Como o cozido é italiano, ela sugere ainda o Edizione Cinque Autoctoni, feito pela vinícola Vini Farnese. “Esse vinho é um corte de cinco uvas que proporcionam uma explosão de aromas e sabores”, explica ela. Ezequiel Rodrigues também pensou na Espanha, só que na uva Tempranillo, com o Viña Alberdi 2001, de taninos finos e grande prestígio. “Ingredientes leves cozidos no caldo de brodo necessitam de um vinho com frescor equilibrado para casar com carnes como a língua salitrada, o músculo e o cotechino”, comenta. Ele recomenda ainda um Pinot Noir do novo mundo como o Errazuriz 2006, da região de Casa Blanca no Chile, que possui um toque de madeira interessante No Parigi, o Bolito Misto de Seu Ático é um desafio para a carta de Vinhos diVino 3 CasamentO PerfeitO Grand Bolito Misto Da esquerda para a direita: Manoel, Seu Ático, Ezequiel, Eric, Rogério e Eliana para provar com os legumes. Como terceira opção, vem o italiano de médio corpo e muito distinto Regaleali 2006, da emblemática uva Nero D’Avila. Prata da Casa, Rogério Moura já realizou dezenas de testes com o Bolito e está acostumado com as dúvidas e anseios de seus clientes. “É um prato difícil e poucos se arriscam na escolha do vinho sem antes consultar nosso conselho.” Devido à diversidade de sabores, Rogério acredita que é fundamental eleger um vinho de médio corpo e de ótima acidez, que exalte as carnes e os embutidos. Sua sugestão é o Chianti 2001, do italiano Parri, um Sangiovese equilibrado e com toque de carvalho bem agradável. Da França, ele indica o Château Campuget Tradition Rouge 2005, redondo, com mais especiarias e um toque de pimentão. Por fim, fecha seu trio de indicações com um chileno elaborado com Syrah – do produtor Loma Larga –, bem elegante, expressivo, com notas de jabuticaba e ameixa. É fácil notar a felicidade no rosto de Seu Ático enquanto especialistas buscam grandes vinhos para o prato que marcou sua vida. Ele se preocupa em colocar cada um dos 17 elementos da receita para que a avaliação seja completa. Mas prefere não se arriscar a sugerir um vinho. Já se sente realizado por saber que estão tratando com respeito o carrinho do qual ele vem cuidando por mais de cinco décadas. 4 diVino Vinhos Sugeridos Eric Berland Château Figeac 2004, R$ 465 – Grand Cru Manoel Beato Barbera D’Asti Tabaren 2006, R$ 106 – Enoteca Fasano Valpolicella Clássico Superiore 2005, R$ 35 – Cellar Pinot Noir Quinta da Neve 2005, R$ 52 – Decanter Eliana Araújo Estate Wildflower Valdiguie 2004, R$ 82 – In Vino Amici ÀN/2 Ànima Negra 2005, R$ 105 – Mistral Edizione 07 Cinque Autoctoni, R$ 145 – World Wine Ezequiel Rodrigues Vinã Alberdi Reserva 2001, R$ 53 – Zahil Errazuriz Pinot Noir 2006, R$ 79 – Vinci Regaleali Nero D’Avola 2006, R$ 65 – Mistral Rogério Moura Chianti Montespertoli Parri 2001, R$ 106 – Enoteca Fasano Château de Campuget Tradition Rouge 2005, R$ 66 – Enoteca Fasano Loma Larga Syrah 2004, R$ 145 – Terramatter 10 porções Ingredientes 1kg de carne seca (coxão mole) 1 língua defumada 1kg de músculo de boi 1 cotechino 1 zampone 1kg de paleta de vitela 1 frango caipira 1 repolho 500g de batata doce 500g de cenoura 1 kg de cebolinhas 1 kg de batatinhas 500g de mandioquinhas 500g de farinha de rosca 100g de tutano de vitela Sal e pimenta-do-reino Para o caldo 1 cebola média 1 cenoura média 2 talos de salsão 2 folhas de louro 1 ramo de alecrim e de tomilho 100ml de vinho tinto seco Para os molhos 2 ovos cozidos 1 maço de salsinha picada 50ml de vinagre de vinho branco 250ml de azeite extra virgem Sal e pimenta-do-reino 50g de creme de leite 100g de raiz forte 200g de mostarda de cremona Preparo • Deixe a carne seca de molho em água por pelo menos 24h (troque a água diversas vezes para eliminar totalmente o sal). • Limpe as carnes retirando eventuais nervuras e gorduras. Limpe a língua defumada, retirando a “pele” mais áspera. • Em um caldeirão grande, refogue todos os temperos do caldo e acrescente o vinho tinto. Arrume as carnes e legumes no caldeirão (os legumes por cima pois cozinham antes). • Coloque água suficiente para cobrir todas as carnes e legumes. Leve à fervura branda. Acerte o tempero de sal e pimenta do reino. • Teste sempre o ponto de cozimento dos ingredientes e retire-os do caldeirão à medida que estiverem prontos. • Após cozidos, separe 0,5l do caldo e prepare um pirão com a farinha de rosca e o tutano. Reserve. Molhos Salsa verde: pique em pedaços pequenos os ovos cozidos, a salsinha picada. Misture o vinagre com o azeite extra virgem e tempere com sal e pimenta-do-reino. Raiz forte: Misture o creme de leite com a raiz forte para deixá-la mais cremosa. Mostarda: Pique as verduras da mostarda de cremona em cubos de 0,5 cm de lado. Montagem • Coloque em uma travessa grande as carnes, os legumes e regue com um pouco do caldo de carne por cima. Reserve em local aquecido. • Arrume o pirão e os molhos preparados à parte. • Bata no liquidificador o caldo com os temperos iniciais, retorne ao fogo e cozinhe até atingir consistência de molho. • Sirva imediatamente acompanhado de capelletti de vitela em caldo de carne. O Bolito Misto é servido no almoço do Parigi às quartas-feiras e aos domingos. R$ 78. diVino 5 FalandO de VinhO por Carlos Marcondes fotos Fabiano Cerchiari Ed Bourgogne Declaradamente apaixonado por vinhos franceses, o “cantorenófilo” Ed Motta começou a se interessar pela bebida inspirado por sua esposa, há quase duas décadas. E le não se prende a clichês, nem gosta de avaliar vinhos por notas. Seu negócio é provar. E, de preferência, um aromático Bourgogne. Novo mundo não é sua praia, ele se arrisca com poucos californianos e raros brasileiros especiais. Para ele, a França é, com toda certeza, a matriz dos vinhos mais complexos e delicados do mundo. Ed Motta veio a São Paulo para finalizar seu mais novo trabalho, o álbum Chapter 9, com faixas inéditas. Além de compor e cantar, neste disco ele também toca piano, bateria, baixo e guitarra. E a diVino esteve com ele e sua esposa, Edna Lopes, para falar sobre sua paixão por vinhos. O encontro se deu no restaurante italiano Vecchio Torino, do chefe Giuseppe La Rosa, uma escolha do próprio músico. Em homenagem ao artista, o chef criou um prato especial: o “Papardela com Pernice a la Ed Motta”, uma massa com pedaços de perdiz que leva também sálvia, tomilho e tartufo nero. Para os brindes e harmonizações, levamos dois vinhos biodinâmicos franceses da importadora De La Croix: o Beaune ler Cru 2000 – um Pinot Noir da Bourgogne feito por Domaine J.C. Rateau – e o Champagne Fleury, do primeiro produtor da região a transformar seus vinhedos em biodinâmicos e que encantou Ed Motta. Seu amigo e nosso colunista Manoel Beato levou ainda um suntuoso Quinta do Ribeirinho, do produtor português Luis Pato, safra 1995. É verdade que você não bebia nem uma gota de álcool antes de se casar? Nada, só refrigerante! Na minha família ninguém bebia e eu via aquilo como algo estranho, fora da minha realidade. Até que conheci minha esposa Edna, há 18 anos, e então, movido pela paixão, resolvi quebrar o gelo e experimentar. Como estréia, tomei um chileno, um Santa Helena Reservado. E a fissura pelos Bourgogne? É incrível, mas no início eu era fanático por Bordeaux, até que comecei a provar beldades bordalesas e aquilo mudou minha vida. Trocava garrafas valiosíssimas de Bordeaux 82 por vinhos da Bourgogne com colecionadores. Atraia-me o fato de eles serem delicados, aromáticos, sem tanta fruta e bem com a “cara” de cada produtor. Creio que os Bordeaux são hoje muito lineares, excessivamente parecidos entre eles, algo mais comercial. E como começou a paixão por rótulos franceses? Quando fui morar em Nova York, havia uma loja chamada Gotham Wine and Spirits, especializada em Bourgogne, Rhône e Vale do Loire. Virei cliente, ficava atento às promoções, comprava livros e revistas, estudava muito sobre o tema. Isso explica sua adega de quase mil Bourgogne? Creio que sim. Meu negócio é Pinot Noir e Chardonnay. Em nossa adega temos mil garrafas, com cerca de cinco nacionais, uma Quinta do Ribeirinho, uma Opus One dos EUA, umas 10 do Vale do Loire e do Rhône, e o resto é tudo Bourgogne. É disco arranhado total! 2 diVino diVino 3 FalandO de VinhO Você já esteve na região? Não. Sou muito urbano, não me atrai muito a idéia de visitar um châteaux. Sou do tipo que gosta do resultado final, de comprar a garrafa que veio trazida por um caminhão de uma importadora. Trouxemos dois exemplos interessantes de biodinâmicos. O que você acha desta filosofia? É algo muito artístico. Eu admiro a forma como esses caras enxergam e conduzem suas vidas. São produtores que não pensam apenas no comercial. Há grandes rótulos de qualidade, basta provar o Coullée de Serrant do psicodélico do vinho, Nicolas Joly, e confirmar que a bebida é incrível. Este Champagne Fleury também é sensacional. Como você enxerga os nacionais? Gosto mais de alguns brasileiros do que a maioria feita no Chile ou na Argentina. A Cave Ouvidor, de Garopaba, SC, faz um dos melhores brancos do novo mundo, eu diria que é o Coullée de Serrant do Brasil. O Tannat, da Vallontano, RS, também é delicado como ótimos franceses. Outro especial é o Cabernet Sauvignon, do enólogo gaúcho Werner Schumacher, que lembra um Bordeaux antes da modernização. Destaco ainda o Minimus Anima, do produtor Marcos Danielle, capaz de fazer um vinho parecido com um Amarone, fantástico. Estes são caras que fazem excelências com quase nada de estrutura. Além destes, gosto também do Sauvignon Blanc da Villa Francioni, SC. por XXXXXXXXXXXXXXX de terno e que é um pseudoconhecedor e quer mostrar seu conhecimento da pior maneira possível. E tem o enochato tânico, iniciante, que gasta um mar de dinheiro em chilenos fraquíssimos, fala besteiras e “dá foras” incríveis – estes são legais, me divirto com eles. Hoje muitos vinhos são precificados e qualificados Wine Spectator e Decanter e de críticos como Robert Parker e Jancis Robinson. Qual sua visão sobre isso? Como um colecionador, eu não poderia ser desrespeitoso ao cataloguismo, porém não gosto de notas. Acho que diminui o prazer da escolha e da degustação e cria uma legião de seres humanos que adoram ser “gados”, que reverenciam vinhos sem conhecê-los de verdade. Considero fundamental ter opinião, independente do que diz a crítica. de acordo com notas emitidas por revistas como O bom vinho no Brasil é algo para a elite? Infelizmente sim. Eu vim da periferia do Rio de Janeiro e sou um dos poucos negros no país que conhece vinho. Mas não por algum tipo de ascensão ou porque queria fazer parte de um seleto grupo, é porque gosto mesmo da bebida. espaço na competição com os importa- Quais vinhos você dispensaria? Não me agradam as características do vinho espanhol. Parece um Bordeaux mais grosseiro, com muita madeira. Sou um sujeito estranho que não gosta de Vega Sicília – e olha que já bebi várias safras. Também dispenso totalmente o Malbec argentino e não me interesso por novo mundo, como Austrália e Nova Zelândia. Não sei, eu vejo as classes média e alta com um certo esnobismo em relação ao nacional. Sabe o cara que se veste de blazer branco, calça branca e acha que está no sul da Itália? Estas figuras olham o vinho nacional com certo desdém e, de certa forma, atrapalham o desenvolvimento do setor de grandes rótulos por aqui. Qual o melhor vinho que você já tomou? Sem dúvida o La Tâche 78 é um vinho que me tira do prumo. Se eu o tomasse agora, seria capaz de ficar nu aqui no meio da avenida Faria Lima e passar a controlar o fluxo de carros (risos). Mas, infelizmente não tenho padrão para tomá-lo sempre. Bebo, algumas vezes, pois sou meio maluco. Estes seriam enochatos? Acho que há dois tipos deles. O que vai a uma degustação E qual sonha em tomar? Um Romanée Conti 7. Experimentá-lo seria uma loucura. Ganharemos dos? 4 diVino Acha que há sinergia entre a arte do vinho e a da música? Há arte nos dois processos, mas talvez seja uma ingenuidade minha querer buscar no mundo do vinho uma alternativa ao pragmatismo da arte. No vinho, o tradicionalismo é ainda maior, é um setor mais careta, com certos dogmas absolutos. Os dois têm um discurso altamente artístico, porém muitos envolvidos, no final, só querem saber de lucro (risos). Mas ambos são prazeres sensuais, ligados ao senso, ao prazer da vida. Você costuma beber ao compor? Nunca. Não consigo tocar piano profissionalmente após uma ou duas taças de vinho. Compor é uma necessidade psicológica e espiritual. O vinho é para celebrar o que foi realizado. Você é um artista ligado ao setor de entreteQual sua opinião sobre a Lei Seca? Eu defendo a punição por considerar um ato de cidadania e de responsabilidade. Talvez seja mais fácil concordar já que não dirijo, mas não há dúvidas que o álcool altera os reflexos e ficamos menos precisos. Não dá para ser contra algo que ajuda a preservar vidas. nimento. O que é o vinho para Ed Motta? É um misto de uvas que me dá muito prazer! Adoro comer e beber com ele, alimenta minha alma. Há uma dose de poesia, uma dose que o faz extrapolar os limites do encantamento, mas apenas raríssimos vinhos proporcionam essa sensação. Que conselho daria para quem está entrando agora nesse mundo? Procure enxergar os detalhes, seja ótimo observador e fique atento ao que você come e bebe. Seja interessado. A vida passa rápido e é feita de detalhes, Deus mora no detalhe. diVino 5 Viagem DiVina Nosso colaborador Erick Scoralick esteve nas regiões vinícolas portuguesas do Alentejo e do Douro e revela um roteiro que combina turismo histórico e cultural com uma bela carta de vinhos. Aquapura Spa & Resort, eleito o melhor hotel de Portugal 32 diVino A capital portuguesa Lisboa foi nosso ponto de partida. A 120 km dali – o que significa cerca de uma hora de carro –, nossa primeira parada foi Évora, uma das principais cidades do Alentejo. Declarada Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco em 1986, Évora tem um centro histórico repleto de atrações turísticas, além de ser uma ótima base para se explorar a região, incluindo tanto pequenas quanto importantes vinícolas. Évora começou a ganhar importância na época dos romanos, mas foi na Idade Média que se tornou um importante centro de estudos e arte, o que pode ser constatado hoje por sua riqueza arquitetônica e cultural. Para conhecê-la, vale começar passeando por suas ruas estreitas e então visitar alguns de seus pontos turísticos, todos marcados por importantes fatos históricos. A Catedral da Sé, a antiga Universidade – desativada desde 1759 –, a agitada Praça do Giraldo, a Capela dos Ossos, o Aqueduto da Água de Prata, o Museu de Évora e o Templo Romano são alguns deles. A rua 5 de outubro, com suas lojas que vendem antiguidades e artesanato, também faz valer uma caminhada. Ao redor de Évora, pode-se fazer um passeio pelos megálitos, pedras monumentais que, estimam os arqueólogos, tenham surgido entre 4000 e 2000 a.C. Em Montemor-o-Novo, cidade próxima dali e também fortificada pelos romanos e pelos mouros, há inclusive o Museu Regional de Arqueologia. foto: www.leonardo.com/slh BebendO da fonte por Erick Scoralick diVino 33 Viagem DiVina O que é bom pode ficar melhor? A primeira vinícola que visitamos foi a Casa de Sabicos, do casal Graça Santana Ramalho e Joaquim Madeira. Uma das linhas leva o nome de Graça, enquanto a outra leva o nome de seu marido e uma terceira linha – a que é considerada top da vinícola – é chamada Avó Sabica. Fomos recebidos pelo novo enólogo, Jorge Rosado, na própria casa da vinícola. Há também a possibilidade de se hospedar na cidadezinha de Regengos, bem próxima dali e também da vinícola Herdade do Esporão, que visitamos em seguida. Com cerca de 550 hectares de vinhas, ela possui o maior vinhedo do país, resultado de uma década de investimento do banqueiro e empresário José Roquette. Fomos recebidos pelo enólogo David Baverstock, um australiano que vive há 25 Onde ficar: A diVino teve o privilégio de hospedar-se no Convento do Espinheiro, em Évora. Membro da Luxury Collection, é um magnífico hotel de 59 quartos, inserido num suntuoso jardim de 8 hectares. O edifício original, um convento do século 15, é considerado Patrimônio Nacional, e as suas origens remontam ao ano de 1400 aproximadamente, quando Virgem Maria teria aparecido sobre um espinheiro. Posteriormente, dada a crescente importância do local como ponto de peregrinação, foi fundada a igreja e o convento. O Convento dos Lóios, outro mosteiro do século 15, é hoje uma luxuosa pousada estatal, onde os hóspedes dormem em celas e jantam em claustros. Com apenas 32 quartos, fica no centro histórico de Évora. Próximo a Évora, na cidadezinha de Montemoro-Novo, o Hotel da Ameira é uma charmosa opção ao estilo rural com 60 quartos, no alto de uma colina. Ao norte de Évora, na cidade de Crato, fica a Pousada Flor da Rosa, um hotel medieval com ar sofisticado, membro da rede Historical Hotels of the anos em Portugal, muito simpático e atencioso. Ficamos para um almoço harmonizado na casa-sede da vinícola, com direito a uma degustação de azeites varietais, outro produto fabricado pelo Esporão. A vinícola tem ainda a Casa do Enoturismo, abrigada em uma edificação medieval que tem no primeiro andar um centro pré-histórico, montado com a ajuda de arqueólogos que estudam o local. A principal marca da vinícola em termos de volume, Monte Velho, possui vinhos tintos e brancos que estão presentes nas cartas de vinho de praticamente todos os restaurantes de Portugal. Mas é a marca Herdade do Esporão que melhor os representa entre os apreciadores de vinho. Seu rótulo top “Garrafeira”... um desejo! World. O antigo mosteiro foi construído em 1048 e virou hotel em 1995. Serviu de cenário para parte do filme “O Nome da Rosa”, que se passa na Idade Média. Onde comer: Évora tem dois restaurantes que são paradas gastronômicas obrigatórias. Um deles é o Fialho – consagrado com duas estrelas no Guia Michelin, além de vários prêmios – que serve comida regional alentejana em um ambiente receptivo e caloroso. A sugestão do chef na data de nossa visita foi a “bochecha de porco preto”, um prato 34 diVino Erick scoralick Erick e o enólogo da Herdade do Esporão, David Baverstock um tanto exótico, mas muito leve apesar de parecer o contrário. Uma das marcas registradas do Fialho é a fartura e variedade de entradas e acepipes, sendo que merecem destaque a lula e o bacalhau em patanisca. E aqui vai a dica: é melhor não se distrair com tantas delícias, ou estará satisfeito quando o prato principal chegar à mesa. O outro é o Tasquinha de Oliveira. Pequeno, tem apenas 13 lugares, mas grande reputação. É comum ver o Oliveira, chef e dono do restaurante, dispensando clientes quando a casa está lotada. Oliveira trabalhava no Fialho quando resolveu abrir seu próprio negócio com a mulher, Carolina, há cerca de dez anos. Aqui se repete o festival de entradas e também merecem destaque as sobremesas típicas portuguesas. Partimos então rumo ao Douro, talvez a região vinícola mais bonita do mundo e declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. De Évora até Porto são cerca de 400 km de autopista e no caminho ficam as cidades de Fátima e Coimbra, que podem ser também duas paradas. A cidade do Porto é segunda mais importante de Portugal e o berço do vinho do Porto. Ao mesmo tempo que é cosmopolita e moderna, tem um passado muito rico. Uma boa maneira de se familiarizar com a cidade é explorar suas ruazinhas estreitas e seu centro histórico, também considerado Patrimônio Histórico pela Unesco. A Catedral da Sé, a Estação São Bento, a Casa do Infante, a Casa-Museu Guerra Junqueiro, a Igreja do Carmo, o Jardim do Palácio de Cristal e o Mosteiro da Serra do Pilar são alguns de seus pontos turísticos. Caminhar pela orla do rio também é um dos atrativos da cidade. O bairro de Matosinhos, na costa, é repleto de restaurantes de peixe e frutos do mar. Os passeios de barco que saem da cidade também são uma ótima maneira de se conhecer a paisagem da região. E as praias, como a de Espinho, são a principal atração da costa sul. Do outro lado do rio, em Vila Nova de Gaia, avistam-se os armazéns onde envelhece o precioso vinho do Porto. Há visitas guiadas em todos os armazéns, que normalmente são encerradas com degustações. Mais de 50 empresas têm galpões lá, como Cockburn, Graham, Sandeman e Taylor. Para ligar as duas margens, a majestosa ponte Dom Luis I foi construída em 1886 por um assistente de Gustave Eiffel e também é um marco no cenário local. A região vinícola do Douro está a 180 km da cidade do Porto e se subdivide em três partes: Baixo Corgo, Alto Corgo e Douro Superior. Pode-se viajar de carro ou de trem para ir a várias cidades do norte e do vale do Douro. Os armazéns de Vila Nova de Gaia vistos da Ponte Dom Luis I Age fotostock/keystock b29-636090 Rumo aos vinhedos diVino 35 Viagem DiVina A caminho da fonte Onde comer: No pitoresco bairro de Matosinhos, há vários restaurantes especializados em peixes e frutos do mar, como o Esplanada dos Mariscos. Na praia de Espinho fica o Terraço Atlântico, com uma deslumbrante vista panorâmica, que faz as mesas próximas às janelas serem muito disputadas. O Casa Aleixo, dirigido pela mesma família desde 1948, é conhecido por seus pratos de tripas. No Dom Tonho, instalado em um armazém do século 17, à sombra da Ponte Dom Luis I, o menu respeita as tradições culinárias do norte de Portugal. Já o Bull and Bear, um dos restaurantes mais renomados de Portugal, oferece cozinha moderna, com pratos refinados e leves. Onde ficar: Aqui nós optamos por um hotel Mercure em Vila Nova de Gaia, que tem ótimo custo-benefício. O interessante do local é que No Velho Douro, vários tipos de uvas são plantadas misturadas e então vinificadas juntas 36 diVino Nova, cujo vinho ganhou na Expovinis deste ano como o “Melhor Vinho do Velho Mundo”. E um detalhe: não há mais garrafas dele à venda em Portugal. A vinícola tem uma estrutura completa para receber o turista: passeios para acompanhar as atividades vínicas e agrícolas; restaurante com o melhor da gastronomia tradicional da região; e o Hotel Rural Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, inaugurado em 2005, com 11 quartos e vista panorâmica para o vinhedo e para o rio. fica em um complexo que incluiu um grande shopping center, ao lado da auto-estrada de chegada à cidade do Porto e é bem próximo dos armazéns de vinho do Porto. Mas fica na região do Douro o hotel eleito o melhor de Portugal: o Aquapura Spa & Resort. Com ambiente moderno e luxo despojado, foi projetado pelo arquiteto português Luis Revelo de Andrade. A vista dos quartos não podia ser outra: videiras, oliveiras e laranjeiras compõem o cenário. No spa, as salas têm vista panorâmica para as vinhas e para o rio. Fica na margem sul do rio Douro, próximo à cidade Peso da Régua e a pouco mais de uma hora do aeroporto internacional do Porto. E no distrito de Vila Real, também às margens do Douro, o hotel boutique Quinta da Romaneira combina turismo rural de luxo com uma inspiração cosmopolita. Tem 19 quartos e vista espetacular das montanhas com plantações de uvas. foto: www.leonardo.com/slh Nossa primeira visita foi à vinícola Quinta do Crasto, cujo dono, Jorge Roquette é irmão de José Roquette, da Herdade do Esporão. Situada na margem direita do rio Douro, entre Régua e o Pinhão, esta é uma das vinícolas mais antigas da região, com 70 hectares de vinhas, sendo 14 deles ocupados por vinhedos muito antigos. Apesar disso, os engarrafamentos com marcas próprias só se iniciaram em 1987 para os vinhos do Porto, e em 1994, para os vinhos de mesa. Logo à sua frente, na outra margem do rio, fica a Quinta Espumantes por Alexandra Corvo Borbulhas: os estilos escondidos em palavras misteriosas Champagne, Prosecco, espumante, brut, doce, suave, demi-sec... Essas palavras, que a princípio parecem ser apenas nomes, escondem – ou revelam – valores e sabores importantes. Geralmente esses termos estão relacionados à região de produção, ao tipo de uva ou ao grau de açúcar da bebida. Mas que informações úteis essas nomenclaturas nos trazem? Tomemos o exemplo de Champagne: o nome da bebida é o da região demarcada. Isso quer dizer que, para tê-lo no rótulo, todas as uvas usadas na produção do célebre espumante devem ser originárias dali. Mas não é só isso: as uvas em questão só podem ser das três variedades autorizadas: Pinot Noir, Chardonnay e Pinot Meunier. E mais: o vinho deve ser produzido pelo complexo método champenoise, aquele cuja espuma vem da segunda fermentação na própria garrafa. Todos esses fatores imprimem ao vinho as características típicas de Champagne, como os aromas minerais – que vêm do solo específico da região – e os de pão tostado e brioche, que surgem do contato com as leveduras. Os espumantes brasileiros, quando são produzidos pelo método de Champagne, como não podem usar essa denominação, costumam levar no rótulo as expressões “método tradicional” ou “clássico”. Se lemos Prosecco no rótulo, o primeiro fator a se considerar é que esse termo é o nome da uva, originária do Vêneto, na Itália. E o método de produção normalmente utilizado para a sua produção – conhecido como Charmat – é o da segunda fermentação em grandes tanques, e não na própria garrafa. Os grandes Proseccos têm tons verde-claros e aromas de frutas muito frescas e flores brancas, que são privilegiados pelo método Charmat. Esqueçam o conceito de espumante barato “de evento”. O Prosecco é um vinho respeitável quando vindo das mãos de produtores sérios. O problema é que muitos vinhos de pouca qualidade foram produzidos com essa uva e seu nome estava, é claro, impresso nos rótulos. O termo Cava indica um espumante produzido também pelo método champenoise, mas na Espanha – a palavra “cava”, em espanhol, significa adega subterrânea em espanhol. O coração da produção desse espumante é a Catalunha, de onde vêm 85% da produção, mas hoje são 160 as localidades produtoras, espalhadas por todo o país. A utilização das uvas locais Macabeo, Parellada e Xarel-lo e o clima mais quente conferem ao Cava sabor e aromas particulares. É claro que o resultado final depende, mais uma vez, de cada produtor, mas o estilo é geralmente menos fresco, menos ácido, mais maduro e leve. E é essencial que seja tomado muito jovem. A tendência para o futuro é a busca de variedades tintas – Monastrell, Garnacha, Teprat – para adicionar mais corpo, volume e capacidade de envelhecimento. Mais palavrinhas mágicas Alexandra Corvo é sommelière formada pela École d'ingénieurs Oenologiques de Changins, na Suíça. Ensina sobre o vinho em sua escola Ciclo das Vinhas, em São Paulo. 6 diVino Para entender outras palavras comumente encontradas em rótulos, seguem algumas dicas que valem para espumantes de todas as regiões: Brut Nature: até seis gramas de açúcar por litro, ou seja, muito pouco. São os mais secos. Brut: até 15 gramas de açúcar por litro. É seco, mas tem um certo volume, uma textura maior, dada pela presença do açúcar. Extra-dry: de 12 g a 20 g de açúcar por litro. Sentimos um pouco do açúcar, mas essa quantidade não é suficiente para chamá-lo de doce. Sec: por mais que engane, a palavra indica um vinho já com um teor de 17 g a 35 g de açúcar, ou seja, uma doçura bem perceptível. Demi-sec: chega a ter 55 g de açúcar por litro e é um espumante doce. Acima disso, os “Doux” (ou doces) já são praticamente considerados vinhos de sobremesa. Com essas ferramentas, você pode escolher aquele que gosta mais. Especial Azeite Azeitona E a peso de u a V Durante a Expoazeite, produtores mostraram as novidades do setor e afirmaram que, assim como ocorreu com o vinho há alguns anos, o azeite vem ganhando o respeito dos brasileiros FOTOS: JOSé HENRIQUE VIEIRA por Camila de Oliveira 2 diVino le já foi utilizado para iluminar caminhos. Um archote embebido de azeite dentro de uma lamparina combatia a escuridão de lugares públicos e residências, entre os romanos. Hoje, seria um pecado fazer tal uso do melhor das azeitonas. Para os catadores, os “sommeliers do azeite”, uma heresia! Afinal, assim como ocorreu com o vinho há algumas décadas, o azeite vem conquistando seu espaço gourmet em solo nacional. O chamado “ouro líquido” está presente não só nas prateleiras dos supermercados, como, nos últimos anos, pode ser encontrado em lojas exclusivas, freqüentadas por amantes da boa gastronomia. Nos restaurantes, o leque de opções também é maior. E não foi apenas o hábito do consumidor que mudou. O mercado produtor cresceu e, com ele, a variedade de azeite disponível em todo o mundo. Foi este o novo cenário que se viu na segunda edição da Expoazeite, feira realizada em São Paulo, no mês de setembro. Segundo a Oliva (Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira), nosso país está entre os dez maiores consumidores do mundo, com vendas anuais de 35 mil toneladas e consumo per capita de 0,4kg/ ano. Comparado aos gregos (25kg/ano), espanhóis e italianos (12kg/ano), nosso consumo ainda é modesto. No entanto, o Brasil é considerado um mercado com muito potencial, que registra um crescimento anual de 7%. Segundo Patrícia Lafuente, da Azeite de Oliva Espanhol – um dos principais divulgadores do azeite no mundo – esse aumento reflete o maior poder aquisitivo do brasileiro, o que resulta na melhora dos hábitos alimentares. Se por um lado o consumo está cada vez mais sábio e qualitativo, por outro a produção brasileira ainda está em experiência. Regiões de clima mediterrâneo – como Maria da Fé, em Minas Gerais, e Caçapava do Sul e Pelotas, no Rio Grande do Sul – possuem plantações de oliveiras há algum tempo, mas somente este ano extraiu-se o óleo de suas azeitonas. Enquanto a produção nacional dá seus primei- ros passos, os brasileiros consomem importados provenientes do mundo todo. Por razões históricas, Portugal continua no topo da lista das importações, seguido de Espanha, que lidera os rótulos de azeite extra-virgem no nosso país. No espaço cultural A valorização do azeite em solo nacional é sentida também no sucesso das chamadas boutiques. Em 2002, La Table O&Co foi a primeira a introduzir no país o conceito de um ambiente misto de restaurante e loja, onde o apreciador pode degustar e aprender sobre azeites do mundo todo, de tradicionais mediterrâneos a novos argentinos. Isaac Azar, catador da boutique e restaurante Azait, também vem sentindo o maior interesse por azeites de qualidade. No Azait, a escolha do azeite que complementa a criação do chef é tão importante quanto a eleição do vinho que acompanhará o prato. Da entrada à sobremesa. ”Sempre que as possibilidades de combinação de aromas e sabores são bem explicadas e demonstradas, a aceitação é grande”, acredita Azar. Os aromáticos – de limão, tangerina ou manjericão, por exemplo – são os preferidos para a sobremesa. O que não quer dizer que não harmonizem bem com uma carne. “Tudo depende da criação do chef.” E foi para propagar a cultura desses dois produtos tão próximos que foi criada a importadora D’olivino, há três anos no mercado especializado. Com o conceito de difundir os dois protagonistas da dieta mediterrânea, é um local dedicado exclusivamente ao azeite e ao vinho. A alimentação voltada à saúde e ao melhor do paladar é o foco do espaço, com influências da gastronomia européia espanhola, portuguesa, italiana e também da grega e marroquina. Em tais culturas, o azeite é base para o preparo de quaisquer pratos, sempre acompanhados do vinho. Para decidir qual o melhor rótulo, é possível degustar e aprender mais sobre o produto com o catador Marco Antônio Guimarães. diVino 3 Especial Azeite Reconhecendo um bom azeite A difusão do azeite traz também a necessidade de informação. Afinal, ao aumentar a oferta, crescem também as dúvidas na hora de comprar. Elena Vecino, catadora e produtora espanhola, veio à Expoazeite nos ensinar aquilo que aprendemos há mais de vinte anos com o vinho: ler o rótulo, saber distinguir aromas e sabores, conhecer as variedades de olivas. Elena lembra que um azeite extra-virgem é o “suco da oliva”, ou seja, o azeite de primeira prensa, sem qualquer tipo de mistura, com acidez menor do que 0,8%. Os azeites obtidos com a ajuda de solventes na extração ou misturados a outros óleos são os chamados de segunda prensa. Estes podem ser virgens (acidez entre 0,8 e 2%) ou simplesmente azeites (acidez maior do que 2%). Além desta informação, segundo as normas da União Européia, o rótulo deve trazer o nome da oliva, a região produtora e a data de fabricação do produto. Elena destaca ainda as denominações de origem. Na Europa, duas siglas já são bastante comuns: DOP (Denominação de Origem Protegida) e IGP (Indicação Geográfica Protegida). Também da Europa vem outro fenômeno que está se tornando mais conhecido por aqui: os clubes de degustação. Em São Paulo, o Azeite Club monta sessões em casa, com a presença de um especialista que ensina técnicas básicas de degustação e fala sobre a origem e a cultura do azeite. A degustação, acreditam os produtores, é algo essencial, pois assim como o vinho, o azeite é obtido a partir de diferentes tipos de oliva. Há 300 delas registrados no COI (Conselho Oleícola Internacional), e o terroir, da mesma forma que altera as características da uva, modifica a azeitona e cria novos tipos por mutação. E não são todas as que chegam aos lagares. Boa parte delas são as chamadas azeitonas de mesa, incluindo a preta, que é a oliva em um No cinema Se ao comprar pipoca no cinema o máximo em opçoes que você espera encontrar é “com ou sem manteiga”, saiba que a rede Cinemark abriu duas novas salas no Shopping Cidade Jardim e, com elas, ofertas mais gourmet. A pipoca agora pode ter cobertura de azeite extra-virgem, ao alecrim, alho ou trufa. Uma parceria com o grupo World Wine também garante sete rótulos de vinhos para serem degustados no lounge exclusivo ou na sala de projeção 4 diVino Para aprender O site da Azeite de Oliva Espanhol (www.azeite.com.br) é um espaço de difusão cultural do produto, com informações e dicas de como utilizálo. Há também novidades chegando, como o livro “Segredos Revelados”, de grandes chefs espanhóis que não deixam o azeite de lado ao entrar na cozinha. Mas nome e data de lançamento só serão divulgados no site daqui a um tempo. de seus últimos estágios de maturação. Se para os enófilos é comum pedir seu Cabernet ou o seu Merlot preferido, para os amantes do azeite os nomes Arbequina e Picual são bem familiares. A similaridade com o vinho também está na forma de produção: há azeites feitos de uma só variedade de oliva – os monovarietais – e os que trazem misturas numa mesma garrafa, os chamados blends. No entanto, enquanto um vinho pode melhorar e evoluir com a guarda, um bom azeite será sempre o mais jovem. A luz, a temperatura e a oxidação diminuem a qualidade do óleo com o tempo e lhe trazem sabor e aroma de ranço. Por isso é importante saber qual o melhor recipiente para armazená-lo. Garrafas de vidro escuro, locais frescos e com pouca luz são os mais indicados. Outra diferença marcante é que, se no vinho pode-se identificar uma média de 52 compostos aromáticos, no azeite – único óleo comercial sem refino, extraído de uma única fruta – o número sobe para 105. Durante a cata, ou degustação, usa-se um recipiente pequeno, opaco e que, ao ser aquecido entre as mãos, libera os aromas. Num bom azeite, eles podem remeter a folhas e tomates verdes, frutados, ervas, alcachofras e notas frescas em geral. O toque amargo ou picante indica a presença de polifenóis, poderosos antioxidantes e antiinflamatórios. Marcos Pimentel, catador da La Table O&Co, afirma ainda que os azeites refletem a sua região produtora. Sendo assim, o azeite da Espanha, de características amargas e fortes, lembram um povo guerreiro. Já o proveniente de Portugal, tem muito do português extrovertido em sua densidade e sensação aveludada. O marroquino, por sua vez, traz o mistério nos seus múltiplos sentidos. Isaac Azar, da Azaït, concorda: “A oliveira é uma árvore que acompanha a história de uma terra e de um povo.” História que também acompanha seus consumidores e da qual, cada vez mais, fazemos parte. Confraria diVinO por XXXXXXXXXXXXXXX Hiper Toscanos? Em seu segundo encontro, nossos confrades realizam uma verdadeira viagem de sabores pela Toscana e se encantam com as super produções da safra de 1997. por Manoel Beato fotos Tadeu Brunelli N 2 diVino ão é preciso subir e descer o vasto relevo ondulado, vasculhar os fulvos campos adornados de imponentes ciprestes, nem visitar as vistosas catedrais renascentistas, românicas, barrocas, de Brunelleschi ou Donatello, as tantas pitorescas torres e as cores de Leonardo, Rafael e Michelangelo para sentir-se em parte ou totalmente banhado pela deslumbrante luz da Toscana. Basta querer uma vez mais se reunir com confrades afins, para saborear alguns dos melhores tintos da região – porque não dizer do país – e então ser envolvido pela atmosfera artisticamente exuberante dos vinhos e da vida dessa abençoada região. Foi justamente isso que aconteceu na segunda Confraria diVino, também ambientada no restaurante Fasano. Melhor ainda que foi agora, época em que a Toscana produz uma considerável gama de grandes vinhos, o que seria impensável há 15 anos. Esses modernos vinhos foram cunhados “super toscanos” e beberam declaradamente da beleza dos impecáveis Bordeaux, cuja região é exemplo puro de perfeição na forma – considerada clássica no sentido de ter influenciado sobremaneira inúmeras regiões vinícolas mundo afora, incluindo a Toscana do renascimento clássico. Ao encontro da autóctone Sangiovese, uva emblemática da região, vieram as nobres Cabernet Sauvignon e a Merlot, além de uma pequena quantidade de outras castas estrangeiras, como a Syrah. Alguns desses super vinhos são varietais, elaborados com apenas uma uva – como o Masseto, Merlot “in purezza” – enquanto outros mesclam diversas castas para compor a sinfonia de sabores, como se cada uma delas desempenhasse o papel de um instrumento dentro de uma orquestra. Nesta degustação, os instrumentos foram executados com maestria por cada produtor, o que nos deixou uma impressão das mais auspiciosas em relação ao presente e futuro da região. Claro que muito ajudou o fato da safra – eram todos 1997 – ter sido excepcional. A prazerosa prova teria sido perfeita não fosse o imenso desconsolo ao sabermos que uma garrafa estava oxidada, defeito proveniente de descuidos no armazenamento. E não apenas uma garrafa, mas justamente a de Masseto, considerado o Château Petrus da Toscana. Mesmo assim, os demais protagonistas da prova prometiam uma maravilhosa paleta de cores, aromas e sabores. E assim foi. diVino 3 Confraria diVinO Os protagonistas da prova prometiam uma maravilhosa paleta de cores, aromas e sabores. E assim foi. A começar pelo Lamaione, elaborado pela Frescobaldi, vinícola tradicional que possui um imenso portifólio. Um vinho raçudo, nervoso pelo frescor e pela firmeza de sua estrutura tânica; quente, que precisa de um certo tempo no copo para soltar os seus sabores. Nos aromas, eloqüente com cítricos, frutado tropical e pimenta do reino. O Tignanello, um pouco mais fechado – lembrando o Brunello di Montalcino, vinho clássico da região – se apresentava um pouco duro, apesar de certo frutado maduro e do álcool relativamente caloroso, mas que não impedia a rugosidade no “fim de boca”. O Solengo, da vinícola Argiano, também lembrava o Brunello, com aromas animais como couro, além de cereja e seu licor, e tanino marcante no final. O Safredi, da vinícola Pupille – talvez o melhor produtor da zona de Marema, região que produz vinhos caracteristicamente mais maduros – destacou-se pela sensualidade. Sedoso, com sabores deliciosos de caramelo e café semelhantes aos do Mouton Rothschild, além de abrir o timbre típico da Cabernet Sauvignon, com aromas de pimentão, ponta de lápis e couro finíssimo, algo como Louis Vuitton ou Prada. Fora a persistência: longa, lenta e memorável. Intenso já na primeira sensação de boca – o que chamamos de “ataque” – o Sassicaia apresentava-se ainda discreto, mas com um certo tempo no copo abria sua complexa cauda de pavão cheia de sabores como os de ervas, feijão cozido, pimentão e o distinto mineral. O corpo fino era aerado pela 4 diVino linda acidez e taninos sofisticados. O Solaia curiosamente também me lembrou um Brunello. Apesar de serem feitos de uvas distintas, a semelhança pode vir do fato de serem da mesma região e, por isso, carregarem o mesmo sotaque. Revelava cereja, rum e sua estrutura de aço unida ao toque terroso tinha algum paralelo com o Château Latour. No todo, ele seduziu menos do que se esperava. Será que ainda vai se abrir e amaciar-se? O Ornellaia faz parte, definitivamente, da família dos Bordeaux, com cheiro de madeira fina, couro e frutas na base de seus aromas complexos. Já maduro no ataque, nos cativou com sabores de compota de frutas de lambuzar a boca, internamente, é claro. O Redigafi do modernoso Tua Rita, ao mesmo tempo que nos remete aos afáveis californianos, com sabores extremamente frutados e maduros (suco de manga?!), tem também a tipicidade toscana, com aromas de evolução (tabaco, couro, chá, terra...). Apresentou textura macia, com o brilho da acidez final. Terminada a degustação, vieram os pratos e com eles uma garrafa magnum de Ceparello da mesma safra, também digno de nota, além de um belo Porto 30 anos, Quinta do Estanho. Tudo isso fluiu acompanhado de concentrada, porém descontraída conversa sobre vinhos e, sobretudo, sobre a vida. E assim fomos, embevecidos de vinho e vida, levados pelo tapete mágico desses sublimes sabores para essa breve, mas eterna viagem por terras toscanas. Os vinhos • Lamaione (Frescobaldi) • Tignanello (Antinori) • Solengo (Argiano) • Safredi (Pupille) • Sassicaia (Tenuta di San Guido) • Solaia (Antinori) • Ornellaia (Tenuta dell’Ornellaia) • Redigafi (Tua Rita) • Ceparello (Isole e Olena) diVino 5 Confraria diVinO por Alexandre Gama Mamma Mia! Sempre identifiquei dois ingredientes indefectíveis na alma italiana. Um, mais siciliano, hollywoodianamente exacerbado na seqüência antológica entre Christopher Walken e Dennis Hopper no filme “True Romance”, de Tony Scott, com roteiro de Quentin Tarantino. Dennis Hopper, no papel de um policial aposentado, está sentado em uma cadeira, imobilizado e cercado por mafiosos que querem saber do paradeiro de seu filho, interpretado por Christian Slatter, que por sua vez fugiu com Patricia Arquette levando a droga dos gângsteres. Christopher Walken – conseglieri do chefe da máfia roubado – inicia com Dennis Hopper um interrrogatório, polido como o lado de cima de uma lixa, mas que deixa implícita o tempo todo a abrasividade do lado de baixo. Dennis Hopper sabe que, se não revelar o paradeiro do filho, morre, e que, se o entregar, morre do mesmo jeito em seguida. Então, combinando a resignação dos condenados com a disposição de auto-sacrifício de um pai, resolve responder ao carrasco com uma história: pede um cigarro e, calmamente começa a contar a Christopher que a “Sicília foi, no passado, invadida pelos mouros”. Christopher, sem entender bem aonde ele quer chegar, mas curioso, deixa que continue. “Nessa época” – prossegue Dennis com uma tragada no cigarro –, “os sicilianos eram como os italianos do norte: louros de olhos azuis. Mas os mouros treparam tanto com as mulheres sicilianas que mudaram a genética do povo para sempre”. Christopher tenta manter o sorriso irônico, apesar de o ressentimento começar a se depositar no ambiente como borra no fundo da garrafa. Dennis Hopper, então, finaliza com os incisivos e caninos típicos do texto de Tarantino: “Como os mouros tinham sangue da raça negra, isso significa que Christopher e todos os outros mafiosos ali na sala ao redor dele têm sangue de negro nas veias e são, na verdade, crioulos. Sendo que a própria “tá-tá-tá-tá-tá-ra-vó” do conseglieri tinha, com certeza, dado para um negro.” Christopher Walken então, perdendo a pose diante do que, para ele, é um insulto de dimensões ancestrais, atira na cabeça de Dennis Hopper, amaldiçoando em seguida o fato de ter tido de quebrar um jejum de anos sem matar ninguém com as próprias mãos. Mamma mia. A cultura de um povo está também no que ele é capaz de tirar da terra. E tirar da terra o que provamos nessa degustação é, sem dúvida, algo bravo, bravíssimo. Alexandre Gama é publicitário e um grande amante de vinhos 48 diVino mundialmente famosa – e 5% Cabernet Franc. Raçudo, concentrado, quase viscoso e, ao mesmo tempo, equilibrado e de grande classe. E estava bom de tomar com os taninos integrados, embora deixasse claro que ainda tinha potencial para evoluir. Bebendo da taça do Tignanello, a seguir, lembrei-me da relação quase romântica que tenho com esse vinho: provei-o pela primeira vez com minha mulher quando a levei à Itália, muitos anos atrás. O fenômeno dos vinhos toscanos estava começando e eu me lembro até hoje da surpresa que minha boca teve. Com 80% Sangiovese, 15% Cabernet Sauvignon e 5% Cabernet Franc (um assemblage quase oposto ao do Solaia), esse Tignanello 97 tem boa concentração, vivacidade e nariz de compota. Uma delícia e também no ponto para tomar agora. Mas aí me encontrei frente a frente com o Redigaffi. Ele foi um caso sério na mesa. Uma bomba de puro Merlot explodindo no palato. Esse é um vinho sem filtragem, flagship da Tua Rita e todos os confrades ficaram ali, maravilhados, trocando impressões sobre ele. Um vinho “full body”, mastigável, com a persistência de um sustain de tenor italiano. Nas minhas anotações, constam palavras como “curry”, “couro”, “frutas secas”. Dono de um estilo que, na falta de vocabulário mais enológico, descrevi como “sexy”. Foi minha escolha número 1 da noite. Incrível. Outro que me deixou desnorteado foi o Ornellaia. Feito do triunvirato Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, ele acabou sendo minha escolha como segundo melhor supertoscano da noite. Grande estrutura, elegantérrimo, equilibrado, sóbrio, um vinho masculino. Nesse sentido, para mim, foi o mais bordelês da degustação. É do mesmo produtor do Masseto – Tenuta dell’Ornellaia – e não fica atrás. Recomendo muito. Por fim, outro que me causou grande impressão foi o Saffredi, que também impressionou Robert Parker, que lhe deu 96 pontos nessa safra. Posso entender o encantamento do Parker, sendo ele um grande fã de Bourdeaux. O Saffredi tem essa coisa bordelesa também, embora, para mim, apesar da pontuação até abaixo dele, eu tenha preferido Ornellaia e Redigaffi. Mas qual o problema? Eu não bebo pontos mesmo. No fim, fiquei com o Lamaione, do Frescobaldi, e o Solengo, do Argiano em uma lista de preferência um pouco atrás. Mas são dois grandes vinhos, principalmente o Solengo, que na garrafa deve alcançar estatura ainda maior do que a que tem hoje. É claro que a Itália, em termos de vinho, não pode ser reduzida a uma região apenas, mesmo que esta seja tão especial quanto a Toscana. Afinal, até a Sicília, famosa por sua farta inspiração aos filmes de gângsteres, tem produzido mais que drama policial. Tem produzido vinhos de uma característica toda própria, interpretando a personalíssima variedade Nero D’Avola. Mas acho que ao adentramos verticalmente na expressão toscana do vinho italiano como fizemos nessa degustação, todos aprendemos um pouco mais da alma italiana na sua profundidade. A cultura de um povo está também no que ele é capaz de tirar da terra. E tirar da terra o que provamos nessa degustação é, sem dúvida, algo bravo, bravíssimo. Mas, além da vendetta típica da “cosa nostra” siciliana, o outro ingrediente que, para mim, compõe fortemente a alma italiana é toscano. Mais precisamente, supertoscano. E estava representado na última degustação da Confraria diVino, na sala privé do Fasano, pelos mais emblemáticos supertoscanos: Tignanello, Sassicaia, Solaia, Saffredi, Ornellaia, Redigaffi, Lamaione, Solengo, Masseto e Cepparello. Todos da safra de 1997. De cara, entretanto, tivemos uma baixa: Masseto, supostamente o cappo dos vinhos daquela noite, tombou emboscado pela oxidação. “Catzo!” Eu, que ainda não tinha tido a chance de beber esse 100% Merlot de grande estrutura, produto de um vinhedo de apenas sete hectares em Bolgheri, tive de postergar o prazer e as minhas impressões. Mas tomba um, assume outro. No caso, outros, porque a degustação seguiu e, um por um, fui aferindo o nível da Toscana. Sassicaia, embora presente, deixou-me a impressão de que estava só de meio-corpo presente. Esperava mais desse sempre profundo supertoscano, produto nobre da Tenuta San Guido, que me pareceu menos encorpado do que tenho registrado na memória gustativa. Solaia, no entanto, estava magnífico. 75% Cabernet, 20% Sangiovese – a uva que a Toscana tornou diVino 49 Wine Business por Carlos Marcondes DO Brasil para O mundO Exportações alcançam marca histórica e país continua focado em consolidar-se como um importante produtor mundial de vinhos de qualidade. N 2 diVino em o dólar baixo segura nossos embarques. O ritmo de crescimento das exportações brasileiras é tal que o país aumentou seu faturamento em quase 530% entre 2003 e 2007. Segundo dados do Ibravin - Instituto Brasileiro do Vinho –, neste ano deveremos atingir o patamar recorde de US$ 6 milhões em vendas externas, o que representa um incremento de quase 50% em comparação com 2007. Boa parte desses resultados deve-se ao trabalho realizado pelo projeto Wines From Brazil, parceria entre o Ibravin e a Apex – Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos. Criado em 2002, ele visa contribuir para que o produtor consiga viabilizar seus embarques, oferecendo assessoria em comércio exterior e capacitação profissional e projetando os vinhos do país em feiras internacionais. Segundo projeções, as exportações dos produtores que fazem parte do Wines From Brazil deverá alcançar, até o final do ano, a histórica marca de US$ 5 milhões, mais que o dobro do obtido em 2007. A quantia representaria cerca de 80% do total exportado pelo país. Já em litros, o volume deverá permanecer estável, pois o ganho vem ocorrendo com a ampliação da venda de vinhos finos, de maior valor agregado, que são enviados a 22 países. As 33 vinícolas participantes do projeto possuem vinhos finos em seu portifólio, já que essa é uma das condições para poder se associar a ele. “Para exportar, não é necessário ser uma grande empresa, basta investir em qualidade e acreditar que a iniciativa vá abrir excelentes oportunidades para sua marca”, explica Andréa Milan, gerente de promoção do projeto. Competitivos A ViniBrasil, vinícola pernambucana que pertence ao grupo português Dão Sul, é uma das principais responsáveis pelo sucesso dos rótulos nacionais no exterior. Eles são responsáveis por cerca de 35% do total de vinhos exportados pelo país. “Nosso foco é conquistar visibilidade internacional e crescer em condições de agradar aos mais exigentes mercados”, comenta João Santos, diretor da ViniBrasil. Há décadas na estrada da exportação, a Cooperativa Vinícola Aurora obteve, nos primeiros oito meses de 2008, um crescimento de 85% nas vendas externas, em comparação com o mesmo período de 2007 e de 175% em relação a 2006. Já a Salton iniciou seu processo de internacionalização em 2003, investindo na promoção de bebidas de qualidade, com envio para oito países. Até o último mês de agosto, foram embarcados 35 mil litros de vinhos e espumantes finos, o que significa um crescimento de 90% sobre toda a exportação do ano de 2007. A meta é fazer com que as exportações representem 5% de seu faturamento até 2012. Brasil DivinO Carlos Marcondes porpor XXXXXXXXXXXXXXX fotos Sérgio de Sá Vinhos dO“VelhO ChicO” Um lugar com parreirais repletos de uvas o ano todo, com água e sol abundantes, é o berço de vinhos tropicais de qualidade internacional. U 2 diVino ma mistura curiosa que deu certo: gaúchos produzindo vinhos com um inconfundível “sotaque” nordestino. Sim, eles se encantaram com as condições naturais de um pedaço do sertão baiano e pernambucano, encontraram um terroir especial e inseriram o Vale do Rio São Francisco no mapa da vitivinicultura mundial. Os primeiros desbravadores dispostos a se aventurar no plantio de uvas viníferas na região chegaram no fim da década de 70 movidos pelas pesquisas de agricultura irrigada e pelas condições climáticas tão distintas das encontradas no sul do país. Logo enólogos perceberam que, nessa área chamada de Submédio São Francisco, era possível obter duas safras e meia de uvas por ano, livres da dependência de chuvas – graças à disponibilidade de água bombeada do rio – e com sol durante quase todo o ano. A combinação deu origem a ótimos vinhos jovens, frutados e aromáticos. Segundo estatísticas recentes do Sebrae, há hoje mais de 12 mil hectares de vinhedos plantados, sendo 800 hectares usados no processamento de mais 8 milhões de litros de vinho por ano, o que representa algo entre 15% e 20% de toda a produção nacional. Seus rótulos vêm conquistando importantes prêmios internacionais e seus embarques já correspondem a 35% do total exportado do país. O diretor da ViniBrasil, João Santos, explica que a empresa já investiu R$ 2 milhões em pesquisas em conjunto com a Embrapa. “Chegamos há cinco anos e, desde então, estudamos alternativas para aproveitar ainda mais os benefícios desta região”, conta. Enoturismo Criado há poucos anos, o Roteiro do Vinho do Vale do São Francisco tem grande potencial para se transformar em uma das mais interessantes rotas do setor na América do Sul, mas ainda há muito que fazer para sua consolidação. Já foram investidos milhões em estradas que dão acesso às vinícolas, mas algumas propriedades não possuem estrutura para receber o turista. A vinícola Garziera é uma das mais preparadas para esse tipo de receptivo. Possui uma sala de degustação, disponibiliza vídeos sobre o histórico da região e promove visitas monitoradas aos vinhedos. Jorge Garziera, proprietário e um dos primeiros gaúchos a firmar-se no Vale do São Francisco, acredita que a região ainda se transformará em exemplo mundial, não só pelos rótulos de qualidade mas por sua estrutura turística. Entre as novidades que devem estimular a visitação, está prevista para o próximo ano a inauguração da Enoteca, no município de Lagoa Grande, PE, considerada a capital da uva e do vinho do Nordeste. O espaço comercializará os vinhos do Vale, além de disponibilizar livros para pesquisa e de promover exposições fotográficas. Também serão implementadas novas placas de sinalização rodoviária para orientar melhor quem visita as vinícolas. Municípios que compõem o Roteiro do Vinho do Vale do São Francisco: Petrolina, Lagoa Grande, Santa Maria da Boa Vista e Orocó, em Pernambuco. Juazeiro, Sobradinho, Curaçá e Casa Nova, na Bahia. diVino 3 Brasil DivinO As vinícolas do “Velho Chico” Vinícola Vale do São Francisco (Grupo Milano) Pioneiros do sertão, chegaram à região há quase 30 anos. Comercializam vinhos finos de seis varietais com a marca Botticelli, além de um espumante Asti. No total, são processados mais de 2 milhões de litros por ano. Em breve, lançarão a linha 1501. ViniBrasil (Grupo Dão Sul, de Portugal) Surgiu de um projeto entre a importadora Expand e o grupo Dão Sul. Os rótulos Rio Sol já são encontrados em mais de 21 países e tornaram-se motivo de orgulho para o Brasil. Com 200 hectares de vinhedos e uma produção anual de 1,5 milhão de garrafas, a ViniBrasil deverá chegar a 500 hectares em três anos e pretende construir um sofisticado projeto para receber turistas. Vinícola Garziera Atenta ao enoturismo, tem planos de ampliar sua estrutura com a construção, à margem do rio, de um hotel que ofereça passeios de charrete nos vinhedos e almoços harmonizados. A produção de 1 milhão de garrafas anuais está dividida entre as linhas Garziera e Carrancas. Até o final do ano, a vinícola lançará um vinho bem estruturado, com foco no consumidor que busca bebidas mais encorpadas. Vinícola Garziera, que produz 1 milhão de garrafas por ano Adega Bianchetti Tedesco O casal de enólogos gaúchos Izanete e Ineldo Tedesco aposta na produção de vinhos orgânicos. São os primeiros no nordeste a investir nesse tipo de cultivo. Saiba mais sobre o projeto nesta edição, na reportagem da seção “Visão Verde” desta edição. Château Ducos Fundada pelo enólogo francês Humbert Pommier, a vinícola está localizada no município de Lagoa Grande e possui cerca de 125 hectares de vinhas, que produzem as uvas Cabernet Sauvignon, Syrah e Petit Verdot. Fazenda Ouro Verde (Miolo e Louvara) Localizada na Bahia, no município de Casa Nova, tem 700 hectares, dos quais 200 cobertos com vinhedos. A Miolo pretende dobrar a plantação até 2012, chegando à produção de 7,5 milhões de litros anuais. Em breve, deverá inaugurar um receptivo que permitirá ao turista conhecer melhor o projeto da empresa gaúcha no nordeste do país. Vinícola Vale do São Francisco, pioneira no sertão 4 diVino *A reportagem da diVino visitou a região a convite da Secretaria de Turismo de Pernambuco. Na Mídia Lágrimas e risos Confira algumas notícias que tiveram destaque na imprensa internacional durante o verão europeu Montalcino Vineyards Damaged by Hail on Cusp of Harvest Castello Banfi is among Brunello producers to suffer losses in freak pre-harvest hailstorm (Revista “Wine Spectator”, Nova York) Vinhedos de Montalcino são danificados às vésperas da colheita Castello Banfi entre produtores de Brunello que sofreram perdas na louca tempestade de granizo pré-colheita parece que a bruxa realmente anda solta na região de Montalcino, na Toscana. Após o escândalo que tomou conta dos Brunello (como pudemos acompanhar na edição anterior), agora foi a vez de uma tempestade atacar a região. Conta a reportagem que uma severa chuva de granizo acompanhada de ventos de até 100km/h atacou a parte sul de Montalcino às 16h do último dia 15 de agosto. Com duração de aproximadamente sete minutos, atingiu áreas localizadas entre as vilas de Sant’Angelo Scalo, Sant’Angelo in Colle and Castelnuovo dell’Abate. Não se sabe ainda o tamanho do prejuízo, mas produtores estimam perdas entre 35% e até 100%, no caso de pequenos vinhedos. Fatal fungus threatens vines across southwest France (Revista “Decanter”, Londres) Fungo fatal ameaça vinhas no sudoeste da França Um fungo chamado Esca, mais conhecido como “câncer de vinhas” está se espalhando cada vez mais por algumas regiões francesas. A doença ataca a madeira das vinhas podendo até matá-las. Alguns sugerem que seja declarado estado de emergência na região, enquanto outros clamam por ajuda governamental para replantação das vinhas. “Você pode ver a planta literalmente degenerando-se na sua frente”, disse um produtor de Gascony, comentando que vinhas de mais de 15 anos de idade terão de ser replantadas. Vitivinicultores de Bordeaux, Champagne e Cognac reportaram um alastramento 2 diVino da doença, estimando que sejam afetadas 20% de todas as vinhas da França.Parece que a única cura possível seria através de arsenito de sódio, se o uso desse produto não tivesse sido proibido em 2001 por questões de saúde publica. Doenças na madeira são muito difíceis de serem tratadas e estão cada vez mais proeminentes. South Africa Shines, Germany Astounds (www.jancisrobinson.com, Purple Pages) África do Sul brilha, Alemanha surpreende O texto do site fala sobre o “Decanter World Wine Awards”, a mais influente competição de vinhos do mundo, realizada pela revista inglesa Decanter. Para se ter uma idéia, na edição de 2008 competiram 9.219 rótulos. Do Brasil, o Rio Sol Reserva 2005 foi o único que saiu como recomendado. A reportagem destaca que, surpreendentemente, o vencedor de melhor Pinot Noir foi um vinho alemão do produtor Meyer-Näkel. A África do Sul foi a grande vencedora da noite ganhando seis dos 26 troféus internacionais além de vários prêmios regionais. O produtor que mais se destacou foi Cederberg, o único sul-africano que ganhou três troféus e também o único que conquistou troféus com vinhos branco e tinto. World’s Most Expensive Champagne (www.luxury-insider.com) O Champagne mais caro do mundo Foram encontradas em um naufrágio na costa da Finlândia mais de 200 garrafas intactas de champagne Heidsieck & Co Monopole da safra de 1907. O Hotel Ritz-Carlton de Moscow, onde uma suíte top chega a custar US$ 15 mil a noite, oferece a garrafa desse champagne a cerca de US$ 32 mil cada, fazendo dela a mais cara do mundo. Conta o jornal russo “Kommersant” que as garrafas eram destinadas à familia imperial russa quando o navio que as transportava naufragou, em 1916, depois de ser atacado por um submarino alemão. VisãO Verde por Carlos Marcondes fotos Sérgio de Sá certificação reconhecida internacionalmente. No solo, são usados apenas fertilizantes naturais. No lugar de fósforo químico, é aplicado pó de rocha. A adubação é feita por meio de compostagem, realizada dentro da fazenda, utilizando-se capim, cana-de-açúcar e o próprio bagaço da uva. Nos frutos, são aplicadas pequenas camadas de argila, que ajudam a proteger a casca contra o ataque de pragas. Já os defensivos agrícolas são feitos à base de macerados de plantas da caatinga, como pereiro, jurema, faveleiro e canudo-de-pito. Até própolis de abelha entra na receita para fortalecer a planta. “Também colocamos caixas de madeira e de papelão para decompor e depois usar na terra como adubo. Com esforço e criatividade, tiramos da fazenda 30% dos insumos necessários para o cultivo”, conta a enóloga. Ao serem realizadas colheitas manuais e serem empregados processos naturais de cultivo, automaticamente a vida se renova no vinhedo e alguns insetos acabam se tornando aliados no combate a pragas. É o caso das simpáticas joaninhas, muito bem-vindas, pois comem pulgões e ácaros. Já para afastar os pássaros que costumam “beliscar” as uvas em busca do açúcar, Izanete construiu no meio das videiras uma pequena torre em cujo topo há um prisma rotativo de espelhos que refletem a luz do sol e projetam raios que incomodam a visão dos passarinhos. “É simples e eficiente e não prejudica a visão deles, apenas faz com que desistam de experimentar nossas uvas”, conta. Em 2004, a Adega Bianchetti Tedesco decidiu implantar o cultivo orgânico em 100% de seus vinhedos. Hoje, 80% da produção da vinícola possui o selo de garantia do IBD. Naturalmente dO sertãO Conhecemos a pequena Bianchetti Tedesco, primeira vinícola do nordeste a investir na produção de vinhos orgânicos. T 58 diVino ransformar seus vinhedos em plantas fortes, resistentes, capazes de superar os desafios impostos pela natureza, sem utilizar-se de produtos químicos ou de alta tecnologia como forma de prevenção. Essa filosofia orgânica foi adotada por um casal de enólogos gaúchos, que, há anos, abandonou o frio do sul do país para se aventurar no calor do interior de Pernambuco e inaugurar a “era” dos vinhos orgânicos do Vale do São Francisco. Izanete e Ineldo Tedesco chegaram ao município de Lagoa Grande em 1985, convidados para trabalhar no projeto da vinícola Milano, a primeira da região. Seis anos depois, decidiram comprar um pedaço de terra às margens do “Velho Chico” e fundaram sua própria empresa, a Adega Bianchetti Tedesco. Durante muitos anos, trabalharam com vinhos de mesa, passando depois a investir também em uvas viníferas. Mas foi apenas em 2004 que decidiram desviar o rumo de seus negócios e inovar: implantaram o cultivo orgânico em 100% de seus vinhedos. “O início foi muito difícil”, explica a enóloga Izanete, responsável por gerenciar as vinhas no campo. “Perdia-se em produtividade, pois as plantas reagiam como um dependente químico e sofriam bastante para se desintoxicar.” O processo foi lento: foram necessários entre 18 e 24 meses para conseguir comprovar que seus 17 hectares de vinhedos estavam livres de qualquer tipo de agrotóxico, a fim de obter o selo do Instituto de Biodinâmica – IBD, empresa brasileira de diVino 59 VisãO Verde Na garrafa Somente em 2007, depois de conseguir o selo do IBD e o registro de orgânico no Ministério da Agricultura, a Bianchetti pôde engarrafar os primeiros lotes com quatro tipos de tinto orgânico e lançá-los, em julho deste ano, nas seguintes opções: Cabernet Sauvignon, Barbera, Tempranillo e Ruby Cabernet. Em 2009, outras novidades chegarão ao mercado, como o Petit Syrah, o Sauvignon Blanc e os espumantes Moscatel, Brut e Rosé. Depois de investir muito trabalho e recursos na mudança de cultivo, o casal espera agora obter retorno financeiro com a venda de um produto de maior valor agregado, já que as 60 diVino garrafas da nova linha custam entre R$ 45 e R$ 50. Atualmente, 80% dos vinhos Bianchetti possuem a garantia de cultivo orgânico. Para Izanete, foi empreendedora e estratégica a escolha de atuar em um nicho ainda novo no Brasil e que proporciona a satisfação pessoal de produzir uma bebida de melhor qualidade, mais aromática e ecologicamente correta. “O vinho orgânico é realmente diferente. Nele transparece mais a verdadeira alma da bebida. Degustá-lo é como retroceder no tempo e passar a entender melhor o que a natureza pode oferecer.” Sensações – Pinot Noir por Carlos Hakim Uva emblemática da França, a Pinot Noir atinge altos níveis de qualidade em várias partes do mundo. A melhor Pinot Noir ou Pergunte a um especialista de onde vem a melhor Pinot Noir e ele certamente lhe dirá: vem de Borgonha. Mas estará isso certo? Será que somente lá se conseguem vinhos de qualidade? Referência no cultivo e vinificação dessa cepa, a Borgonha, região localizada no leste da França, tem o que muitos dizem ser o casamento perfeito entre a uva e o terroir, numa relação que perdura provavelmente desde o século 4. Os borgonheses afirmam que não produzem a uva Pinot Noir, apenas a 2 diVino utilizam como veículo de expressão de seu terroir. De certa forma, isso é verdade. De casca fina e muito sensível ao calor, a uva requer muito cuidado em seu cultivo e manuseio, o que geralmente encarece a produção e, conseqüentemente, o produto final. Por isso, para muita gente, os vinhos da Borgonha são desconhecidos e de difícil acesso. Espalhada pelo mundo em países como Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Chile, a Pinot Noir freqüentemente O melhor Terroir? resulta em vinhos de alta qualidade, mas de diferentes expressões. Por se tratar da mesma uva, algumas características se mantêm e são facilmente reconhecidas. Levemente adocicados, os seus vinhos têm menor nível de tanino, menos pigmentos e, em geral, são mais claros e charmosos. Aí entra a questão do terroir. Será então que a Borgonha tem mesmo o melhor terroir? Existe melhor terroir? Existe melhor Pinot Noir? A idéia, nesta seção, foi justamente comparar a Borgonha ao resto do mundo, provando dez vinhos de até R$ 100: cinco deles da Borgonha e outros cinco do novo mundo. Reunimos novamente nosso animado grupo e, desta vez, quem nos recebeu foi o amigo Rezende, proprietário do restaurante Aguzzo, em Pinheiros - São Paulo, que não poupou esforços para que tudo transcorresse perfeitamente. Em um espaço isolado do restaurante, sob os cuidados do tranqüilo e conhecedor sommelier Eric, degustamos às cegas tais vinhos. O resultado pode ser conferido a seguir. diVino 3 Sensações – Pinot Noir Sentidos Visão Olfato Paladar Guarda Beber Beber ou guardar Guardar Notas diVino 0-100 Custo-benefício 1-5 taças (1-ruim / 5-excelente) Hautes Cotês de Nuits “La Vacherotte” 2004 Guy Dufouleur – 100% Pinot Noir – FRANÇA (Borgonha) Rubi claro e brilhante Típicidade e complexidade lembrando morangos, especiarias e pimenta. Elegante e equilibrado. Boa fruta, taninos firmes, acidez na medida. Bem elaborado e com boa persistência. DV 90 pts R$ 78 (World Wine) Hunter’s Pinot Noir 2006 Hunter’s Wines – 100% Pinot Noir – NOVA ZELÂNDIA (Marlborough) Rubi intenso e brilhante. Pinho, cereja negra, couro e tostado. Equilibrado, com boa fruta, acidez correta e taninos finos. Meio de boca cheio, madeira bem colocada e leve sobra de álcool. Final longo. DV 88.50 pts R$ 84 (Premium Wines) Marimar Estate “Don Miguel” 2003 Marimar Estate (Torres) – 100% Pinot Noir – EUA (Califórnia) Rubi fechado, pequeno halo aquoso. Fino, interessante, apresentando fruta madura, compota, tostado e lácteo. Equilibrado. Boa fruta, acidez refrescante, taninos finos e numerosos. Destaque para especiarias, frutos vermelhos e baunilha. Final de média persistência. DV 88.50 pts R$ 99 (Reloco) Calvet Pinot Noir 2006 Calvet – 100% Pinot Noir – FRANÇA (Borgonha) Rubi de média intensidade Frutado, remete a cerejas, framboesas, banana e especiarias. Macio, sem arestas e bem equilibrado. Fruta limpa, taninos finos, boa acidez. Simples, persistente e fácil de beber. DV 88 pts R$ 51 (Interfood) Masson Dubois Bourgogne 2006 Masson Dubois – 100% Pinot Noir – FRANÇA (Borgonha) Rubi médio. Morangos, funghi, pitanga e um leve mofo. Harmônico. Alta acidez, boa fruta e taninos firmes. Especiarias, casca de laranja e leve agulha (picante). Final bastante agradável. DV 87.50 pts R$ 40 (Casa Flora) Bourgogne Cuvée Margot 2005 Morandé Edicion Limitada 2005 Olivier Leflaive – 100% Pinot Noir – FRANÇA (Borgonha) 4 diVino FOTOS: JOSé HENRIQUE VIEIRA Viña Morandé – 100% Pinot Noir – CHILE (Vale de Rapel) Rubi intenso e brilhante. Cerejas, framboesas, torrefação evoluindo para couro e café. Leve, ligeiro e equilibrado com taninos corretos e uma boa acidez. Casca de laranja e tostado no final de média persistência. DV 88 pts R$ 98 (Wine Premium) Rubi claro e translúcido Curioso. Defumado, goiaba branca, borracha e pimenta do reino. Leve desequilíbrio. Jovem, boa fruta, alta acidez e bastante amargor final com traços de mofo lembrando botrytis. DV 85.50 pts R$ 69 (Carvalhido) diVino 5 Sensações – Pinot Noir Bourgogne Château de Dracy 2006 Albert Bichot – 100% Pinot Noir – FRANÇA (Borgonha) Rubi brilhante, traços violáceos. Inexpressivo destacando framboesa e geléia de frutos vermelhos. Pouca complexidade. Taninos marcantes, baixa acidez, fruta rala. Amargor final com toques de pimenta. DV 83 pts R$ 78 (Expand) Aurora Pinot Noir 2008 Vinícola Aurora – 100% Pinot Noir – BRASIL (Bento Gonçalves) Rubi claro. Jaboticaba, cravo, especiarias e morangos. Leve, limpo, equilibrado e fácil de beber. Média acidez, fruta correta. Final de boa persistência marcado por cravo e especiarias. DV 86 pts R$ 13,60 (Aurora) Saurus Pinot Noir Patagonia 2005 Família Schroeder – 100% Pinot Noir – ARGENTINA (Patagônia) Rubi intenso. Morangos, cogumelos, minerais, notas balsâmicas e de baunilha. Boa acidez, taninos verdes e madeira destacada lembrando especiarias. Toque químico com sobra de álcool e sutil amargor. DV 85 pts R$ 74 (KMM) Talvez alguns digam que nessa faixa de preço os vinhos da Borgonha não podem competir, mas o fato é que pudemos comprovar um grande equilíbrio entre todos. Fica então a questão: se fossem vinhos mais caros será que os da Borgonha se sobreporiam? E os outros, sendo também mais caros, não competiriam? Fica aí a idéia para uma futura degustação. A prova foi às cegas sem ordem pré-determinada e sem o conhecimento de rótulos e preços. Participaram: Carlos Hakim, Erick Scoralick, Jeriel da Costa, Marcos Santo Mauro, Regis Queiroz e Simon Knittel. Destaques diVino: A incrível surpresa ficou por conta do nosso brasileiro Aurora Pinot Noir 2008 por R$ 13,60. Destacaram-se também o Guy Dufouleur Hautes Cotes de Nuits “La Vacherotte” 2004 da Borgonha, o Hunter’s Pinot Noir 2006 da Nova Zelândia e o Marimar Estate “Don Miguel” 2003 dos Estados Unidos. 6 diVino ConVersa de Confrades A Nova Zelândia, a Austrália e os EUA lideram o movimento de troca da cortiça pelas “screw-caps”. Inclusive tradicionalistas franceses já oferecem vinhos que usam esse sistema de vedação. Pode-se dizer que é uma tendência? Josimar É salutar. Não há no mundo rolha de qualida- de em quantidade suficiente para todos os vinhos. A cortiça pode ser reservada para os grandes vinhos de guarda, enquanto não se chega a uma conclusão sobre os efeitos das tampas alternativas no caso de décadas de armazenamento da bebida. Para os correntes, que são a maioria esmagadora, não vejo problema em usar outras tampas que protejam bem a bebida e ainda barateiem o produto para o consumidor. E isso pode ser conseguido não apenas com rolhas artificiais mas também com embalagens alternativas, como as caixinhas do tipo “bag-in-box”. Sacar ou desrosquear? 2 diVino Hakim Preocupo-me, acima de tudo, com o vinho. Não me oponho a diferentes tipos de vedação desde que isso não altere o líquido e mantenha a segurança de conservação. Argumentos de praticidade e ecologia também podem contribuir para uma possível tendência. Afrânio Por várias questões, inclusive ambientais, acreditamos que seja uma tendência que veio para ficar. É uma alternativa segura, moderna, de grande facilidade de manejo e que traz diversos benefícios aos consumidores. Que razões podem impulsionar o crescimento da adoção das “screw-caps”? Fatores técnicos, econômicos, culturais? Josimar Técnicos e econômicos. Os culturais, pelo contrá- rio, podem barrar o crescimento. Hakim Rolhas de cortiça são mais limitadas, pois são enconFOTO: JOSé HENRIQUE VIEIRA É exemplo, já utiliza esse sistema em mais de 90% de seus vinhos, promovendo seus benefícios e incentivando outros grandes vitivinicultores, como a vizinha Austrália. No Brasil, há ainda muitas barreiras culturais à adoção da “screw-cap”. O Almadén Sunny Days foi o primeiro e um dos poucos vinhos brasileiros que apostaram na idéia e obtiveram ótima aceitação de seus consumidores. Para debater essa questão, convidamos três apaixonados por vinho: o crítico gastronômico da Folha de São Paulo, Josimar Melo, nosso colunista e enófilo Carlos Hakim e Afrânio Moraes, gerente da vinícola responsável pelos vinhos Almadén, do Rio Grande do Sul. tagens mesmo depois de aberta a garrafa, principalmente para a vedação de frisantes. Quanto à questão econômica, com a produção em maior escala e também em razão da escassez da matéria-prima tradicional (cortiça), as “screw-caps” devem tornar-se mais acessíveis. Esse não é, porém, um fator tão determinante quanto a qualidade agregada. E, em relação ao aspecto cultural, naturalmente o consumidor vai se adaptar à tendência, principalmente porque existem questões qualitativas e ambientais envolvidas. As tampas de rosca podem servir como solução para o grave problema de contaminação pelo TCA, o componente químico que infecta a rolha e que pode estragar a bebida? Josimar Sem dúvida. A questão é saber se elas conservam bem o vinho, e tudo indica que, sendo tampas de boa qua- Substituir a cortiça por roscas de metal pode ofuscar parte do encanto de abrir uma garrafa de vinho? Rolhas de cortiça com séculos de tradição ou as modernas e práticas roscas de metal, também conhecidas como “screw-caps”? próprio do ser humano estranhar mudanças. Para muitos enólogos e enófilos, substituir a cortiça por roscas de metal ofusca parte do encanto de beber algo marcante e condena a bebida a uma previsibilidade “não-romântica”. Para outros, é a vitória da praticidade, da economia e da certeza de poder comprar um vinho livre da chamada “doença da rolha”, que contamina entre 3% e 10% dos vinhos, segundo estimativas da indústria vitivinícola. Apesar de a utilização da rolha natural ainda ser a mais adotada no mundo – cerca de 80% das garrafas são fechadas com rolhas –, as tampas de rosca se tornaram as preferidas entre os produtores da Oceania. A Nova Zelândia, por Afrânio Sobre qualidade e conservação, o sistema traz van- tradas quase exclusivamente em Portugal e na Espanha. Isso onera a vinícola. As “screw-caps” podem baratear e facilitar. Além disso, com a crescente produção de vinhos, fica difícil obter rolhas de qualidade a preços competitivos. Por outro lado, a rolha se sobrepõe no aspecto cultural, por carregar um tradicionalismo milenar, difícil de ser modificado. lidade, inclusive com microporos laterais para respiração, a resposta é sim. Hakim Seguramente. Ela elimina o problema de oxidação que, muitas vezes, estraga vinhos caríssimos. Afrânio Em nossa experiência de utilização em vinhos frisantes, jamais detectamos qualquer tipo de problema. Ainda sobre a guarda, o que dizer sobre o argumento de que as tampas de rosca só poderiam ser usadas para vinhos brancos ou para aqueles “prontos para beber”? Josimar Não sei. Creio que os produtores de vinhos caríssi- mos, de longa guarda, já tenham garrafas guardadas há anos, em teste. Em pouco tempo, saberemos a resposta. De toda forma, para os vinhos correntes, as novas tampas e embalagens são bem adequadas. Hakim É difícil responder, pois ainda não há como avaliar o que acontecerá a longo prazo. Os resultados mostram que, para os vinhos de pouca guarda, a “screw-cap” funciona bem e já pode ser utilizada com segurança. Só o tempo dirá sobre os de longa guarda. Afrânio Parece que há outro paradigma a ser enfrentado diVino 3 ConVersa de Confrades quanto a essa questão. Porém vários vinhos em todo o mundo já estão aderindo ao sistema com bastante sucesso. Por que as vinícolas BRASILEIRAS não ampliam o uso da nova opção em mais rótulos? Josimar Não sei. Deveriam fazê-lo. Especialmente por se- Vocês acreditam que haja diferenças entre os aromas e paladares de um vinho fechado com cortiça e de outro fechado com tampa de rosca? Josimar Para um jovem, de pouca guarda, não há diferen- rem vinhos modestos. Assim se barateia o produto, o que é mais um bom motivo. Hakim Já é difícil fazer com que o consumidor invista em vinhos nacionais, devido à concorrência sul-americana. Se adotassem a “screw-cap”, os produtores esbarrariam em fatores culturais e de tradição que podem prejudicar ainda mais as vendas. Há qualidade nos nacionais, porém muitos acreditam – erroneamente – que tampas de rosca são para garrafas inferiores, e esse estereótipo poderia denegrir a imagem de bons vinhos. Afrânio A tendência é que haja um aumento na utilização da tampa pelas empresas, sempre com muita cautela, pois depende de investimento. ça. Contudo, com as novas técnicas (que permitem a respiração dos vinhos por microporos nas rolhas artificiais ou nos revestimentos internos e laterais da “screw-cap”), se essa diferença existia, tende a desaparecer. Hakim Creio que sim. Os de “screw-cap” provavelmente se mantêm mais iguais, enquanto os outros sofrem pequenas influências da cortiça, que é uma matéria-prima natural. Outro ponto é que dizem que garrafas do mesmo vinho, da mesma safra, nunca são iguais. O vinho é uma bebida viva, com “alma”. Se com a “screw-cap” as garrafas se tornam idênticas, algo se perde, fica monótono. Deixa de existir a surpresa de abrir um vinho, e isso, a meu ver, é um prejuízo. Afrânio Nossa experiência com o Sunny Days apenas apontou melhoras. Além de não percebermos diferenças nas características organolépticas do produto, não tivemos mais incidência de problemas com contaminação da rolha. Com a rolha, eventualmente acontecia alguma alteração; já com a “screw-cap”, não. É difícil quebrar o paradigma de que grandes vinhos devem vir com a rolha de cortiça? Josimar Talvez, não sei qual será a reação dos consumi- dores. Provavelmente o produtor dos grandes vinhos será prudente nessa mudança, mantendo rolhas (mas usando somente as melhores). Hakim Creio que sim. Se muitos tradicionalistas já não aceitam a maneira como o vinho vem sendo feito hoje, como aceitar uma tampa de alumínio? Existe beleza na tradição, assim como na modernidade. Deve-se respeitar a opinião de todos. Eu defendo a bebida, ela deve ser a mesma, seja lá como for vedada. Afrânio É um trabalho de paciência, de mostrar ao consumidor as vantagens que terá com a nova concepção do produto. Como mudar uma cultura é um processo lento, dependerá também de muito acesso à informação. 4 diVino Perde-se o romantismo ao abrir um vinho com a tampa de rosca? Você levaria um vinho com “screw-cap” a um jantar romântico? Josimar Eu levaria para um jantar romântico uma bela mu- lher e, para ela, levaria eu mesmo. A rolha tanto faz. (E, provavelmente, quando ela chegasse, o vinho já estaria aberto, repousando num decanter). Hakim Levaria. Se amanhã Mouton Rothschild e Antinori Tignanello passarem a vir com “screw-cap”, não deixarei de bebê-los em ocasiões especiais. O importante é o vinho! Gosto de rolhas, mas não deixaria de tomar vinhos que aprecio por causa do tipo de vedação. Afrânio Eu levaria, pois há muita praticidade na tampa de rosca. Há países bem mais abertos a elas e com um grande índice de utilização. Voltamos à questão cultural, que, se bem trabalhada, deixará de ser uma barreira. O vinho com rolha não desaparecerá, mas seus problemas continuarão a existir e poderão, eventualmente, atrapalhar um jantar especial. O jornalista George M. Taber escreveu um livro para falar com profundidade sobre os diferentes tipos de vedamento – revelando os prós e os contras de cada um – e a luta para achar a solução ideal. A questão do TCA é um dos temas abordados com destaque. To Cork or not to Cork (ed. Scribner, US$ 17, Amazon.com). Eu recomendO Eu recomendO O melhor Vinho é aquele que faz parte de momentos importantes... primeira viagem para Itália foi “Aemminha 1996. Eu tinha acabado de concluir o curso de Somellier e não imaginava visitar o produtor do Brunello di Montalcino, o mais famoso vinho italiano. Para meu delírio, numa bela manhã ensolarada estava o Sr. Franco Biondi Santi em pessoa nos recebendo, explicando tudo sobre seu trabalho, tirando pequenas amostras das barricas e degustando conosco. Inesquecível! “ Latour 82, pela “Chateau indescritível gama de sensações que tive o prazer de viver ao longo do jantar. Sua riqueza, elegância e, ao mesmo tempo, capacidade de nos envolver e acarinhar é fascinante. Meus olhos marearam todas as vezes que a taça trazia outra linda novidade sensorial. Sempre me refiro a ele como “o vinho que já me fez chorar. Nem preciso dizer que estava acompanhada por pessoas tão fascinantes quanto ele. Juscelino Pereira Sommelier e proprietário do restaurante Piselli vinho marcante foi o Amarone, da região do Veneto, “Um do produtor Masi. Eu comemorei com ele a impressão de meu primeiro livro, “Entre a Sombra e a Luz”. Era dezembro, nevava em Verona e eu estava no restaurante Bottega del Vino, que recomendo muito. ” Marcio Scavone Fotógrafo ” Isabela Raposeiras Barista e proprietária da Academia de Barismo vinho “de “Meu cabeceira” é o Clos “ ” 2 diVino de la Roche Domaine Dujac 85. Ele vem me acompanhando em vários momentos da minha vida; quando quero comemorar algo, é ele que procuro. Às vezes não dá para ser a safra de 85, mas mesmo assim é o Clos de la Roche. vinho marcante? Foi o que “Um servimos na festa de 20 anos do Bistrô Charlô: Rutini Cabernet-Malbec 05. Foi emocionante brindar com clientes que acompanham a nossa história desde o começo. requisitos é um maravilhoso vinho branco da Ilha de Bozcaada, Turquia – local onde os locais fazem seus vinhos há 4.500 anos – degustado com minha mulher, em um exuberante fim de tarde, tendo como paisagem a baía onde os gregos ancoraram e esconderam seus navios enquanto esperavam os troianos levarem o cavalo de madeira para dentro das muralhas. Ana Maria Carvalho Pinto Promoter Charlô Whately Chef e proprietário do Bistrô Charlô Paulo Cleto Ex-jogador e técnico de tênis e comentarista da ESPN ” mim, vinho memorável é um mélange de uvas, “Para companhia e ambiente. Um que preenche esses ” “ diVino 3 Minha Cave por Veridiana Mercatelli foto José Henrique Vieira Mistura Fina Pequeno e aconchegante, o espaço reservado para a adega ganhou ares de tecnologia com a simplicidade da madeira de demolição U 2 diVino ma adega que combinasse perfeitamente o rústico e o high tech foi a proposta das arquitetas da Maria Brasil Arquiteturas – as irmãs Maria Claudia Brasil e Maria Paula Brasil – para este projeto. A idéia era ter a adega aparente, mas não na sala de TV ou no living e sim em um cantinho delimitado, espaço que antes da reforma era um banheiro, com 3,80 m². “Fizemos algo conjugado, embutindo a adega para 40 garrafas e uma geladeirinha em um móvel de madeira de demolição. Ficou uma mistura de moderno com rústico”, conta Maria Claudia. O móvel também possui gavetas para guardar os apetrechos do bar e serve como aparador para as taças e outros objetos. “Pensamos tudo de acordo com o estilo de vida da família, que costuma receber pessoas em casa. Escolhemos peças despojadas, práticas, para usar no dia-a-dia”, explica ela. Outro detalhe importante ficou por conta da iluminação. As arquitetas optaram por uma luz amarelada e aconchegante, não muito forte, para colocar na área do bar. Rústico e high-tech se combinam em ambiente dedicado ao bar e o toque final fica por conta da iluminação aconchegante diVino 3 LordVinO Em ares franceses nosso crÍtico lordvino assina sua segunda coluna inspirado na culinÁria francesa, tanto original como adaptada La Brasserie Erick Jacquin + R$ 80 Cozinha: Francesa Clássica Número de visitas 13 Avaliadores diferentes (alguns repetiram a visita) 8 Na primeira edição da diVino, apresentamos aos leitores a figura de LordVino, que assina esta seção de crítica gastronômica na revista graças a um levantamento realizado por um grupo de experientes apreciadores da boa mesa. Desta vez, foram avaliados dois restaurantes, ambos localizados em São Paulo: o cativante À Côté e o premiado La Brasserie Erick Jacquin. Mas adiantamos que LordVino e seus confrades estão preparando novidades para a terceira edição, quando pretendem incluir em seu roteiro restaurantes de outras cidades, estados e mesmo outros países. À Côté + R$ 80 Número de visitas 10 Avaliadores diferentes (alguns repetiram a visita) 7 Gasto médio em 13 visitas: R$ 228 Serviço de rolha*: R$ 50 por garrafa Cozinha: Influência Francesa Gasto médio em 10 visitas: R$ 102 Serviço de rolha*: R$ 30 por garrafa *O LordVino é a favor de uma cobrança justa por garrafa. O valor de referência ideal é o preço do vinho mais barato da carta do restaurante. *O LordVino é a favor de uma cobrança justa por garrafa. O valor de referência ideal é o preço do vinho mais barato da carta do restaurante. Acima de R$ 80 por pessoa – couvert, entrada, prato principal, sobremesa, café e serviço, sem bebidas. Acima de R$ 80 por pessoa – couvert, entrada, prato principal, sobremesa, café e serviço, sem bebidas. Ambiente (nota: obtida I máxima) Localização (acesso, manobristas etc) 3 3 Ruído 3 3 Conforto das cadeiras 3 3 Disposição/distância das mesas 3 3 Decoração/iluminação 3 3 Público (em harmonia com a proposta da casa) 3 3 TOTAL 18 18 Comida Menu (variedade, combinações etc) Temperatura Cocção Paladar Apresentação Preços TOTAL SERVIÇO (nota: obtida I máxima) Eficiência do garçom 3 3 Eficiência do maître 3 2 Discrição 3 3 Presteza/atenção a detalhes 3 3 Assertividade 3 2 Reservas (facilidade, política, mesa pronta) 3 3 TOTAL 16 18 (nota: obtida I máxima) Vinhos 5 5 Variedades/Regiões Produtoras 3 3 Política de rolha 2 3 Vinho em taça (opções, preço etc) 3 3 Temperatura do vinho 5 5 Serviço de vinho 3 Conhecimento técnico sommelier 1 3 3 Taças adequadas 3 5 Preços 25 30 TOTAL Experiência e custo/benefício (nota: obtida I máxima) 9 10 La Brasserie Erick Jacquin Rua Bahia, 683, Higienópolis – São Paulo Tel.: 11 3826-5409 – www.brasserie.com.br 96 – 100 Divino 78 diVino 91 – 95 Excelente resultado final 81 – 90 Ótimo 71 – 80 Muito Bom 61 – 70 Bom (nota: obtida I máxima) 5 3 3 6 4 2 23 lv 5 3 3 6 4 3 24 91 51 – 60 Regular Ambiente (nota: obtida I máxima) Localização (acesso, manobristas etc) 3 3 Ruído 3 2 Conforto das cadeiras 3 3 Disposição/distância das mesas 3 3 Decoração/iluminação 3 3 Público (em harmonia com a proposta da casa) 3 3 TOTAL 17 18 Comida Menu (variedade, combinações etc) Temperatura Cocção Paladar Apresentação Preços TOTAL SERVIÇO (nota: obtida I máxima) Eficiência do garçom 3 2 Eficiência do maître 3 1 Discrição 3 2 Presteza/atenção a detalhes 3 2 Assertividade 3 2 Reservas (facilidade, política, mesa pronta) 3 2 TOTAL 11 18 (nota: obtida I máxima) Vinhos 3 5 Variedades/Regiões Produtoras 3 3 Política de rolha 2 3 Vinho em taça (opções, preço etc) 3 3 Temperatura do vinho 3 5 Serviço de vinho 3 Conhecimento técnico sommelier 1 2 3 Taças adequadas 4 5 Preços 21 30 TOTAL Experiência e custo/benefício (nota: obtida I máxima) 8 10 À Côté Rua Bela Cintra, 1709, Jardim Paulista – São Paulo Tel.: 11 3842-7177 – www.acote.com.br 96 – 100 Divino 91 – 95 Excelente 81 – 90 Ótimo resultado final 71 – 80 Muito Bom 61 – 70 Bom (nota: obtida I máxima) 3 3 3 4 3 2 18 lv 5 3 3 6 4 3 24 75 51 – 60 Regular diVino 79 Histórias que O VinhO Conta Gabriella e José Rallo celebram a colheita da uva Zibibbo na ilha de Pantelleria Sabor e arte Em uma atmosfera de música e poesia, Donnafugata quer mostrar ao mundo a qualidade do vinho siciliano por Carolina Hanashiro No início de agosto, com a ajuda da luz da Lua e das estrelas cadentes, ao som de jazz e bossa nova, diversos homens davam início à sua jornada de trabalho nos vinhedos de Contessa Entellina, um pequeno povoado no interior da Sicília. A cena, embora bastante cinematográfica, era real e marcava o início da décima colheita noturna na vinícola Donnafugata – um perfeito exemplo da poesia e da paixão que envolvem o mundo do vinho. Fundada pelo casal Giacomo e Gabriella Rallo, a Donnafugata é uma das vinícolas mais expressivas da Itália, reconhecida não só pela qualidade de seus vinhos como também pela capacidade de misturar, com louvor, conceitos como inovação e tradição, tecnologia e arte. Giacomo é representante da quarta geração de vinicultores da família Rallo, uma das grandes produtoras dos populares Marsala. Em 1983, depois de uma partilha de bens da família, transformou a antiga e enorme vinícola erguida em 1851 e criou sua própria marca. Sua idéia era construir uma empresa que valorizasse a identidade territorial e utilizasse o que houvesse de melhor em tecnologia. Em poucos anos, alcançou seu objetivo e, com a ajuda dos filhos, José e Antonio, viu a empresa crescer. Trocaram os 82 diVino fortificados Marsala por tintos e brancos secos; imensos tanques deram lugar a pequenas barricas; aos métodos tradicionais foram se incorporando tecnologias como fermentação com temperatura controlada, uso de tanques de aço inoxidável e aproveitamento da energia solar; as garrafas ganharam lindos rótulos; os vinhedos se encheram de música; e conceitos como responsabilidade social passaram a ressoar pela produção. “O desenvolvimento das comunicações e dos meios de transporte permite que estejamos presentes em mais de 50 países. Ao mesmo tempo, acreditamos que nossa força esteja na valorização do nosso território e de suas extraordinárias peculiaridades vinícolas e culturais”, diz José Rallo, filha do casal e responsável pelo marketing e pelo sistema de qualidade da empresa. José é também a voz de Donnafugata, literalmente. Ao lado do marido, o músico percursionista Vincenzo Favara, e do grupo que leva o nome da empresa, já se apresentou em templos do jazz mundial, como o Blue Note, de Nova York, e o Four Seasons, de Xangai. “Acredito profundamente que cada vinho tenha sua própria música”, diz José, que propõe degustações musicais em bares e no site da vinícola Colheita noturna durante o verão siciliano “Acredito profundamente que cada vinho tenha sua própria música” FOTOS: Pasquale Modica, Shobha e DIVULGAçÃO. José e Vincenzo em show do projeto Music & Wine (www.donnafugata.it). “Tento encontrar a harmonia entre as notas musicais e as notas de degustação.” Para o Ben Ryé Passito di Pantelleria, “um vinho rico em cores, sensualidade e paixão”, José propõe “Branquinha”, de Caetano Veloso, ou “Meditação”, de Tom Jobim. Os músicos têm também dois CDs gravados com os quais, além de difundirem o nome da vinícola, apóiam projetos sociais. A renda arrecadada com a venda do primeiro disco, “Donnafugata Music & Wine”, foi revertida para o Hospital Cívico de Palermo. A venda do atual CD, “Donnafugata per il Futuro”, terá recursos destinados a um fundo para microcrédito. “O objetivo é financiar, em poucos anos, ao menos cem projetos de trabalho autônomo ou de microempresas, ajudando muitas pessoas a construir seu próprio futuro”, diz José. “Esta é uma fórmula com poucos precedentes na Itália: reúne vinho, música e solidariedade.” Outro exemplo de responsabilidade social é a adoção de energia solar em boa parte da produção, o que permitiu à vinícola entrar para o Clube de Kyoto, uma associação italiana que reúne empresas fiéis ao protocolo assinado nessa cidade. A própria colheita noturna, citada no começo do texto, é outra iniciativa com reflexos positivos no meio ambiente. Ao evitar as altas temperaturas diurnas do mês de agosto na região (ao redor dos 35°C), a vinícola não só diminui os riscos de uma fermentação indesejada durante o transporte da uva como também garante uma redução de 70% da energia utilizada para a refrigeração nessa etapa. “Há anos somos guiados pelos pilares ‘empresa’, ‘natureza’ e ‘cultura’”, diz José. Além da música, a vinícola apóia a literatura, as artes plásticas e a preservação de patrimônios históricos. Seu próprio nome – inspirado no romance “Il Gattopardo”, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, depois transformado em filme por Luchino Visconti – é mais uma prova da estreita relação da família com as artes. “Donnafugata é uma empresa jovem, dinâmica, voltada para o futuro e que fala ao coração e à mente de quem ama o vinho. Nos nossos vinhedos, nas nossas vinícolas, em todos os lugares, mostramos como nasce o vinho, unindo regras e criatividade, emoção e técnica”, resume José, embalada por notas musicais e aromáticas. Grandes autóctones sicilianas Os vinhos de Donnafugata vêm ganhando o respeito de muitos enófilos mundo afora. As uvas locais predominam nos 260 hectares da produção em Contessa Entellina, interior da Sicília. O tinto Sedàra, por exemplo, é 100% Nero d’Avola, e o branco Vigna di Gabri, 100% Ansonica. No Mille e Una Notte, principal vinho de Donnafugata, predomina a uva Nero d’Avola (90%). Para seus blends, a vinícola investe também em cepas francesas, como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Merlot, Shiraz e Cabernet Sauvignon. A cantina possui ainda alguns hectares de vinhedos na pequena ilha de Pantelleria, próxima à costa siciliana, onde estão as uvas Zibibbo, nome dado localmente à Moscatel de Alexandria. Dessa cepa, saem os vinhos Kabir e Ben Ryé. diVino 83 Monte sua Adega À italiana Os vinhos italianos são geralmente considerados os melhores para acompanhar refeições. Desta vez, então, sugerimos uma adega toda italiana, com uma variedade que vai desde o tradicional Prosecco, passando pelos brancos e tintos, até a sobremesa. Também buscamos atentar para o custo/benefício, trazendo indicações perfeitas para acompanhar tanto as refeições do dia-a-dia como ocasiões especiais. TINTOS Chianti clássico Le Corti 2004 R$ 79/Grand Cru Principe Corsini produz azeites há mais de 500 anos. Seu Chianti, um clássico Toscano de ótimo custo-benefício, é ideal para acompanhar massas e carnes. Poliziano Vino Nobile de Montepulciano 2004 R$ 88/Mistral Da cidade toscana de Montepulciano, esse interessante vinho é elaborado com a uva Sangiovese. Fácil de beber, fácil de gostar e com preço justo. Altesino Brunello di Montalcino 2002 R$ 159/Mistral Com vinhedos localizados em local privilegiado, essa vinícola constantemente recebe notas altas da crítica especializada por seus Brunello de alta qualidade. Barolo, com a vantagem de serem relativamente mais baratos. Travaglini é um grande produtor e as belas garrafas são sua marca registrada. Pio Cesare Barbera d’Alba 2004 R$ 105/World Wine Gattinara é um DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida) do Piemonte. Lembram os 84 diVino Um dos mais famosos e reconhecidos vinhos da Itália, este supertoscano do produtor Antinori dispensa comentários. Tem alto custo, mas é perfeito para uma ocasião especial. R$ 107,50/Decanter Tradicional produtor piemontês que elabora vinhos em família desde 1881. Seus vinhos todos têm qualidade reconhecida, incluindo esse gostoso e versátil Barbera, que pode ser bebido tanto na refeição como sozinho. Mazzi Valpolicella ‘Cru Poiega’ 2002 R$ 80/Vinci Na bela propriedade, é produzido esse vinho chamado de “pequeno Amarone”. Um Valpolicella que prima por grande equilíbrio e elegância, além de ter ótimo preço. Batasiolo Barbaresco 2004 Falesco Vitiano 2006 De um dos maiores produtores da região do Piemonte, esse vinho é consistente, estruturado, de ótimo preço e perfeito para refeições. R$ 64/World Wine Ceretto Barolo Zonchera 2004 Difícil encontrar no mercado um Barolo dessa qualidade e a esse preço, ainda por cima de um grande produtor e de uma safra grandiosa como foi a de 2004 na região. acompanhamento para peixes, massas, frutos do mar e carnes brancas. A safra de 2006 foi agraciada com 89 pontos na revista Wine Advocate. Marisa Cuomo Costa d’Amalfi Furore Bianco “Fiorduva” 2006 R$ 180/Cellar Vinho branco elaborado apenas com uvas autóctones da bela região da Costa Amalfitana, no sul da Itália. Complexo e refrescante, é ideal para dias quentes. ESPUMANTE Bedin Prosecco Extra Dry R$ 52,90/Decanter R$ 98/Expand R$ 150/Cellar Travaglini Gattinara 2001 Antinori Tignanello 2001 R$ 345/Expand Mais um grande custo/ benefício. Da região da Úmbria, o produtor elabora excelentes vinhos e o Vitiano é um deles, ótimo para o dia-a-dia, acompanhando refeições. BRANCOS Valle Reale Vigne Nuove Trebbiano d’Abruzzo 2005 R$ 51/Zahil Macio, refrescante e aromático, elaborado com a uva Trebbiano. Excelente Desse pequeno produtor encontramos esse espumante fácil, saboroso e de qualidade, que costuma superar outros mais caros em degustações às cegas. SOBREMESA Planeta Moscato di Noto R$ 160/Interfood Botrytisado, esse néctar combina complexidade, doçura, acidez e equilíbrio. Ideal para acompanhar queijos fortes, sobremesas ou mesmo para ser bebido sozinho. Boas Idéias por Carolina Hanashiro Brinde às avessas De um lado, Viktor & Rolf, dupla de estilistas acostumada a inverter a ordem das coisas e surpreender. De outro, PiperHeidsieck, tradicional casa de Champagne conhecida pela qualidade de sua bebida e por suas extravagâncias ao longo de mais de dois séculos de história. O resultado desse encontro não poderia ser menos que inusitado: um divertido conjunto de garrafa, balde e taça com proporções invertidas, dando a idéia de que tudo está de cabeça para baixo! Criado em edição limitada para o champagne Rosé Sauvage, o set é conhecido como Upside-Down, mesmo nome da loja que os estilistas mantêm em Milão (onde lustres estão no chão e cadeiras e tapetes no teto) e da coleção apresentada em um desfile que começava pelos agradecimentos. No quesito criatividade, os franceses não ficam atrás. Exemplos? Em 1965, criaram a maior garrafa de champanhe do mundo, com 1,82 m, altura do ator inglês Rex Harrison, vencedor do Oscar daquele ano por “My Fair Lady”. Quase 40 anos depois, a maison convidou o estilista Karl Lagerfeld para vestir um de seus Cuvées. Em 2000, lançou uma pequena garrafa e a moda de saborear seu conteúdo com canudinho. O conteúdo da garrafa segue a mesma linha de sua apresentação. Segundo os produtores da bebida, trata-se da perfeita associação de fantasia com equilíbrio. Elaborado com as uvas Pinot Noir e Pinot Meunier, este rosé tem forte aroma de frutas vermelhas secas, especialmente cerejas, e notas de tangerina, ameixa, canela, figo e grapefruit. www.piper.viktor-rolf.com Não me lembro de nada! Como nossos avós A idéia de mesclar sabores antigos com novos vem ganhando algumas taças mundo afora. Na Argentina, a moda é a combinação de Coca-Cola com Fernet, uma antiga bebida italiana de gosto amargo, elaborada com vários tipos 86 diVino de erva macerados em álcool de uva e armazenados em tonéis de carvalho por até 12 meses. Nos Estados Unidos, contrariando os que acreditam ser um pecado misturar destilados com fermentados, a moda é tomar bourbon com Pabst Blue Ribbon, uma cerveja local de quase 130 anos. Por aqui, as misturas com vodcas continuam fortes, mas os bons de copo garantem que o revival virá por meio de outras bebidas, como as cachaças e os vinhos artesanais. IMAGENS: DIVULGAÇÃO; JOSÉ HENRIQUE VIEIRA. Foi a um restaurante, gostou de um vinho e quer voltar a prová-lo algum dia, mas a memória não ajuda? A empresa de etiquetas Collotype, da Austrália, encontrou a solução para facilitar a vida dos enófilos mais esquecidos: um rótulo destacável, o chamado Wine Find. A idéia, concebida há alguns anos, está se popularizando, principalmente entre produtores sulafricanos, ingleses, neozelandeses e australianos. www.collotype.com Biblioteca O Brasil, O DourO e a Real Companhia Velha Fernando de Sousa e Conceição Meireles Pereira – CEPESE (Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade) Ideal para quem gosta de história e de vinho. Ao contar a trajetória da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro ou Real Companhia Velha, fundada em 1756 pelo marquês de Pombal, os autores explicam a relação comercial entre o Brasil e Portugal nos séculos 18 e 19, quando comercializavam vinho (do Porto), aguardente e vinagre. A Real Companhia Velha foi criada para destinar, garantir e promover a produção e a comercialização dos vinhos do Alto Douro, o que veio a ser uma das maiores fontes de receita do Estado português. Naquela época, o Brasil era o mercado mais importante para o escoamento dos vinhos do Nigella Express Receitas rápidas e saborosas Nigella Lawson – Editora Ediouro Você adora receber os amigos para jantar em casa durante a semana, mas fica arrepiado só em pensar no tempo que gastará para preparar o menu e na dificuldade para levantar cedo no dia seguinte? Acredita que ter uma despensa gourmet é para quem tem tempo sobrando para passear pelos supermercados? Em seu mais recente livro, a jornalista e apresentadora inglesa Nigella Lawson dá a receita para estas e outras questões. Ao longo de 13 capítulos, 88 diVino a bela e divertida chef apresenta mais de 130 receitas para o dia-a-dia e dá dicas para apressados – porém exigentes – cozinheiros. “Escolhi os pratos que fazem parte de minhas refeições semanais há anos. Sou uma obcecada por comida, vou fazendo anotações e fotografando enquanto cozinho e, um dia, estava tomando chá na minha cozinha quando resolvi olhar meus papéis e percebi: isto é um livro!” disse Nigella, que também pode ser vista na TV, no canal GNT. Douro, mas foi só com a vinda da família real para cá que o hábito de tomar vinho começou a ganhar as mesas brasileiras. Ricamente ilustrado e documentado, o livro nos leva a conhecer o relevante papel que a Companhia desempenhou na economia brasileira no final do antigo regime e que volta a desempenhar nos dias de hoje, quando o Brasil reassume o posto de mercado mais importante para Portugal. Os autores traçam um curioso paralelo entre esses dois momentos da história dos dois países, mostrando a rota comercial Brasil-Portugal como a mais profícua e a mais duradoura já criada até agora. BebendO e AprendendO A arte da descoberta Milhares de rótulos, produtores, uvas, safras... São tantas informações que a simples idéia de montar uma adega pode assustar. Mas não se deixe intimidar! Além de aprender muito, você verá que esta pode ser uma prazerosa experiência. por Claudia Zani 1) gaste todo o tempo que for preciso para achar o local ideal para sua adega. O mais importante é que esteja protegido dos raios solares, umidade e vibrações contínuas. A temperatura e a forma de armazenamento são essenciais para preservar a qualidade da bebida. Hoje, com as adegas climatizadas, isso ficou mais fácil. O ideal é manter uma temperatura em torno de 15 ºC e a umidade a 18%, conforme o vinho e a recomendação do produtor. A garrafa deve ser sempre guardada na posição horizontal para manter a rolha em contato com o líquido, evitando seu ressecamento e, conseqüentemente, a entrada de ar na garrafa, o que é fatal para o vinho. 2) Busque referências em revistas, livros, confrarias e com amigos. Discutir sobre o assunto é fundamental para aprofun92 diVino 5) dar os conhecimentos. Mas lembre-se: a sua opinião é a que vale. Afinal, uma cave personalizada deve refletir as preferências de seu dono. Inicialmente, pode ser difícil identificá-las, por isso, tome como base algum vinho que tenha gostado, procure saber suas características e compre algumas garrafas similares. Não se deixe influenciar por preço ou fama. Neste momento, descubra quais países produzem a melhor uva e busque mais informações sobre a composição do vinho, produtor e região, etc. Muitos acreditam que, no início, é bom voltar as atenções a exemplares do novo mundo, principalmente da Argentina e do Chile, devido à grande oferta no mercado e ao fato destes se harmonizarem perfeitamente com o paladar dos brasileiros. “Geralmente esses países produzem vinhos mais diretos e macios, prontos para beber, que possuem uma ótima relação custo-benefício”, revela Nelson Luiz Pereira, diretor de degustação da Associação Brasileira de Sommeliers, que sugere uvas como a Cabernet Sauvignon e a Carmenère do Chile, bem como a Malbec da Argentina. Os clássicos, porém, devem sempre estar presentes, como aqueles de regiões tradicionais de Portugal (Douro, Porto, Alentejo, Dão, Setúbal e Madeira), França (Champagne, Bordeaux e Bourgogne), Itália (Piemonte, Veneto e Toscana) e Espanha (Rioja, Ribera del Duero e Jerez). 2) Pergunte-se por que você vai comprar o vinho. Uma ocasião especial? Para acompanhar um prato sofisticado? Simplesmente degustá-lo? Com essas perguntas em mente, você tende a definir melhor suas compras e sempre terá em casa vinhos para diversas situações. 3) Tente equilibrar sua adega com: • vinhos para serem consumidos rapidamente, como brancos secos com baixo teor alcoólico; tintos como os nouveau e champanhes e espumantes sem safra mencionada. • vinhos para serem guardados de 1 a 2 anos, isto é, brancos e tintos que evoluem na garrafa, como alguns Pinot Noir, Sangiovese e Bordeaux brancos. • vinhos para serem guardados de 2 a 5 anos, como Chiantis clássicos, Rhône e Alsace, e tintos da Borgonha. • vinhos para longa guarda, como espanhóis Reserva e Gran Reserva, safras especiais, super Toscanos. 4) Tenha opções variadas de uvas, que podem acompanhar diferentes pratos, eventos e até mesmo seu humor. A Chardonnay, por exemplo, faz vinhos brancos mais frutados e com moderada acidez; já a Pinot Noir, faz vinhos com aromas delicados lembrando frutas vermelhas, flores e especiarias, com boa acidez e tanicidade moderada. Na hora da compra Escolhida a uva, aventure-se entre os diversos produtores e regiões. n n n n 6) Durante o ritual da compra, observar as safras é muito importante. Para ajudar, procure uma importadora ou loja com boa variedade, onde é possível encontrar a tabela de cotação das melhores safras. Caso queira pesquisar antes, na internet há bons sites para buscar informações. IlustraçÃo: WEBERSON SANTIAGO Há poucos anos, era comum a idéia de que boas adegas estavam ao alcance apenas de grandes entendedores ou pessoas decididas a investir um bom dinheiro em um espaço especial da casa. Hoje, ter uma adega interessante e coerente não só é viável como também representa uma boa oportunidade para mergulhar no encantador mundo dos vinhos. “Ao montar uma adega, você faz uma verdadeira viagem; tanto de auto-conhecimento, observando e respeitando seus gostos pessoais, quanto de descoberta das infinitas opções existentes no mercado”, diz Everson Luiz, sommelier da importadora Mr. Man. “Quanto mais profundo for o conhecimento de si mesmo, melhores serão as suas escolhas.” Há quem diga também que o prazer de compor a própria cave é quase tão intenso quanto o de degustar seus vinhos. Por isso, selecionamos algumas dicas que vão ajudá-lo nesta divertida viagem de descobrimento. 7) Faça um minidiário sobre suas impressões a cada degustação. Se você provar o mesmo vinho em duas ocasiões diferentes, com certeza terá sensações diferentes. Além disso, existem vários softwares que facilitam o controle de sua adega, permitindo a catalogação de cada garrafa, sua história, comentários de especialistas e, claro, suas impressões pessoais. n De preferência, compre suas garrafas em locais com boa variedade e rotatividade, como importadoras, lojas especializadas, grandes redes de supermercado ou os próprios produtores. Tenha em mente que garrafas pequenas (375 ml) tendem a acelerar o envelhecimento. Certifique-se de que o nível do líquido na garrafa esteja perfeito. Evaporação e vazamento indicam defeito na rolha. Tenha cuidado com vinhos de safras antigas, principalmente os brancos. A evolução dos vinhos brancos secos de maneira geral é mais rápida do que a dos tintos. Por isso, devem ser consumidos num prazo mais curto. Existem algumas exceções, como os grandes brancos da Borgonha, por exemplo. Pressione a rolha e veja se não está afundando. Se estiver, o vinho pode apresentar sérios problemas, pois significa que a rolha perdeu sua função de protegê-lo de uma eventual oxidação. Algumas causas disso são: mau arrolhamento, armazenamento de garrafas em pé, temperatura muito acima dos padrões de conservação, manipulação inadequada, entre outras. Fique SabendO Eventos 9 de outubro Vinho & Chocolate Degustação de chocolates e vinhos, a difícil harmonização entre eles e uma palestra ministrada por membros da Associação dos Profissionais do Cacau Fino e Especial, na escola Mar de Vinho, no Rio de Janeiro. www.mardevinho.com.br 17 a 19 de outubro The Gourmet Institute Um fim de semana em Nova York para conhecer a editora da revista “Gourmet”, Ruth Reichl, e seu poderoso time de sommeliers, encontrar personalidades do mundo da gastronomia – como a chef Sara Moulton e o consultor de vinhos Michael Green –, provar os deliciosos pratos dos grandes chefs durante os seminários e degustar vinhos do mundo inteiro. E mais: um jantar de gala no sábado, organizado pelo restauranter Danny Meyers. www.gourmetinstitute.com 25 a 27 de outubro Miami International Wine Fair Os amantes do vinho voltam suas atenções para uma das maiores feiras especializadas da América. São cerca de 1.500 rótulos, de 15 países, disponíveis para degustação. A troca de experiência gustativa terá um público estimado de 7 mil pessoas entre profissionais da área e enófilos. A programação também conta com seminários sobre vinhos italianos, californianos e indianos e sobre temas que fazem parte do universo da degustação, como o saquê. www.miamiwinefair.com 3 a 6 de novembro IV Concurso Internacional de Vinhos do Brasil A Associação Brasileira de Enologia promove o concurso pela quarta vez, incentivando o conhecimento e a divulgação dos vinhos nacionais. Bento Gonçalves será o local de encontro das vinícolas de 13 diferentes países que têm como objetivo a troca de experiências profissionais e técnicas. O concurso é importante para o reconhecimento da produção brasileira no exterior e, conseqüentemente, para o crescimento da exportação. www.enologia.org.br 94 diVino 2 a 4 de dezembro Vinitech O evento será realizado em Bourdeaux, região francesa que produz um dos melhores vinhos do mundo. Será voltado à troca de informações atualizadas sobre assuntos que rodeiam o universo da vitivinicultura e dos apreciadores de vinho. www.bourdeaux-expo.com Cursos Harmonização Enogastronômica Como harmonizar tintos, brancos e rosés da entrada à sobremesa; como montar uma carta de vinhos; ordem de serviço e etiqueta são alguns dos pontos discutidos nesse curso de extensão universitária do Senac Campus Santo Amaro-SP, de 21/10 a 2/12/08. www.sp.senac.com.br Champanhe e Espumantes do Mundo O tema é espumantes no Ciclo das Vinhas, espaço de estudo do vinho da sommelière Alexandra Corvo. A uva, o método de produção, bem como estilos e sabores do mundo todo serão analisados nos dias 8 de outubro e 19 de novembro. R$ 119 por pessoa. www.alexandracorvo.com.br Curso de Iniciação ao Vinho e à Degustação Em quatro dias o aluno é iniciado no universo dos vinhos por meio de conversas que visam apresentá-lo à linguagem e aos assuntos mais abordados. Entre os temas, um pouco de história, as técnicas de degustação e os serviços do vinho, como aprender a ler um rótulo e armazená-lo, quais as taças apropriadas para cada tipo de vinho e como fazer harmonizações. As palestras serão ministradas por Daniel Pinto, presidente da SBAV (Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho) e professor de enologia da FAAP e Edécio Armbruster de Moraes, membro nobre da Confraria dos Enófilos da Região D’Óbidos (CERO) de Portugal. O curso acontece nos dias 5, 12, 19 e 26/11. R$ 360 por pessoa. Mais informações: (11) 3814-7905 www.sbav-sp.com.br Onde encontrar Restaurantes Aguzzo (11) 3083-7363 www.aguzzo.com.br Azait (11) 3063-5799 www.azait.com.br Capim Santo (11) 3068-8486 www.capimsanto.com.br Dom Tonho www.dtonho.com Fasano (11) 3062-1399 www.fasano.com.br La Table O & CO (11) 3063-4433 www.latable-co.com.br Martin Fierro (11) 3814-6747 www.martinfierro.com.br Parigi (11) 3167-1575 www.fasano.com.br Vecchio Torino (11) 3816-0592 Outras Empresas Collotype www.collotype.com Shopping Iguatemi www.iguatemisaopaulo.com.br Convento do Espinheiro www.conventodoespinheiro.com Terraço Atlântico www.praiagolfe.com/restaurantes.php Convento dos Loios www.pousadas.pt/historicalhotels/pt Tocave 0800-7707666 www.tocave.com.br Donnafugata www.donnafugata.it D’Olivino (11) 5532-1820 www.dolivino.com.br Vinícola Bianchetti Tedesco (87) 3991-2019 www.vinhosbianchetti.com.br Vinícola Quinta do Crasto www.quintadocrasto.pt KMM (11) 3819-4020 www.kmmvinhos.com.br Mercovino (16) 3635-5412 www.mercovino.com.br Mistral (11) 3372-3400 www.mistral.com.br Espaço Santa Helena (11) 3675-5007 www.suxxar.com.br Vinícola Quinta Nova www.quintanova.com Mr. Man (11) 2249-9000 www.mrman.com.br Empório Santa Maria (11) 3706-5211 www.emporiosantamaria.com.br Wines from Brasil (54) 3455-1800 www.winesfrombrasil.com Premium Wines (31) 3282-1588 www.premiumwines.com.br Expoazeite www.expoazeite.com.br Importadoras Reloco (21) 2215-8055 www.reloco.com.br Herdade do Esporão www.esporao.com Hipermercado Zaffari (11) 3874-5000 www.zaffari.com.br Hotel da Ameira www.hoteldaameira.pt Aurora (11) 3845-3484 www.aurora.com.br Carvalhido (21) 2584-1392 www.carvalhido.com.br Casa Flora (11) 3327-5199 www.casaflora.com.br Aquapura Hotels Villas Spa www.aquapurahotels.com Maria Brasil Arquitetura (11) 3057-1392 www.mariabrasilarquitetura.com.br Azeite Club (11) 2841-0542 www.azeiteshop.com.br Mercure Hotel www.mercure.com Azeite de Oliva Espanhol www.azeite.com.br Piper-Heidsieck www.piper.viktor-rolf.com Boutique Veuve Clicquot (11) 3032-4766 Pousada Flor da Rosa www.pousadas.pt/historicalhotels/pt Casa de Sabicos www.casadesabicos.pt Presentes Mickey (11) 3088-0577 www.mickey.com.br Cia de Copos (11) 3819-4588 www.ciadecopos.com.br Quinta da Romaneira www.quintadaromaneira.pt Grand Cru (11) 3062-6388 www.grandcru.com.br Ciclo das Vinhas (11) 3284-3626 www.alexandracorvo.com.br Roberto Simões (11) 3071-1963 www.robertosimoes.com.br Interfood (11) 2602-7255 www.interfood.com.br 96 diVino In Vino Amici (11) 3071-1902 www.invinoamici.com Cellar (11) 5531-2419 www.cellar-af.com.br Decanter (47) 3326-3959 www.decanter.com.br Expand (11) 3874-4700 www.expand.com.br Enoteca Fasano (11) 3074-3959 www.enotecafasano.com.br Terramatter (21) 3860-6565 www.terramatter.com.br Vinci (11) 2797-0000 www.vincivinhos.com.br Wine Premium (11) 3040-3434 www.winepremiumstore.com.br World Wine (11) 3383-7477 www.worldwine.com.br Zahil (11) 3070-2900 www.zahil.com.br FOTO: dan kenyon/getty images MomentO 98 diVino