paisagismo produtivo na proteção e recuperação de

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paisagismo produtivo na proteção e recuperação de
PAISAGISMO PRODUTIVO NA PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO
DE FUNDOS DE VALES URBANOS
Noemie Nelly Nahum
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas-São Paulo
email – [email protected]
RESUMO
A busca de alternativas para a proteção e recuperação dos bens naturais, em
especial, a água em seu local de origem, tem sido temática de discussão sob diferentes
enfoques, nas diversas áreas de conhecimento. Neste estudo, que se insere na temática
do Paisagismo Produtivo, questiona-se a respeito de riscos e vantagens do plantio de
espécies frutíferas na proteção e recuperação de fundos de vale urbanos.
Este artigo tem como base a tese de dissertação de mestrado de mesmo nome,
defendida em Fevereiro de 2007, sob orientação do Dr. Ricardo Moretti, no Programa
de Mestrado em Urbanismo da PUC- Campinas, São Paulo, Brasil.
A pesquisa foi realizada a partir da análise de trabalhos técnicos que abordam
temas correlatos e a partir dos resultados de entrevistas realizadas com profissionais de
diversas áreas de conhecimento. Nestas entrevistas, os profissionais foram solicitados a
apresentar suas interpretações quanto às possibilidades e limitações da adoção de
técnicas de paisagismo produtivo, como estratégia para proteção e recuperação dos
terrenos situados junto aos corpos de água urbanos.
Tem-se, como objetivo geral, contribuir para a melhoria da qualidade da água e
das condições ambientais dos cursos de água inseridos no tecido urbano e, como
objetivo específico, contribuir para a formulação de projetos de proteção e recuperação
de micro-bacias hidrográficas urbanas, em que estão previstos as qualificações
paisagísticas dos terrenos de fundo de vale.
Palavras-chave: recuperação ambiental; paisagismo produtivo sustentável; áreas de
proteção permanente
ABSTRACT
The search for alternatives in protection and recovery of natural resources, in
special, water and its origin place has been a topic of discussion under different aspects,
into the diverse areas of knowledge. In this study, which insert into the topic of
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Productive Landscape, it’s questioned regarding the risk and advantages in the
plantation of fruits species in protection and recovery in the deep one of urban valleys.
This article is based in the dissertation by the same name, defended on February,
2007, with the orientation of Dr. Ricardo de Sousa Moretti, on the “Programa de
Mestrado em Urbaniso” of PUC- Campinas, São Paulo, Brazil.
The research has been done by the analysis of technical works that approach correlated
subjects and from results of carried through interviews with professionals in diverse
areas of knowledge. In these interviews professionals had been requested to present
their interpretations according to the possibilities and limitations of the adoption of
techniques of productive landscape, as and strategy to protect and recovery of lands
located near the body of urban waters.
It has as general objective, to contribute for the improvement of the water
quality and the environment conditions of the water’s courses insert into urban mesh
and, as an specific objective, contribute for the formulation of protection projects and
recovery of urban hydrographic basis where are foreseen the landscapes qualifications
of the lands in the deep valleys.
pomar do bem
no chão claro da alma
plantar palavras
saborear depois os doces frutos com todos
Tereza Vignoli
INTRUDUÇÃO
A cultura da terra para a produção de alimentos é uma conquista dos homens desde as
primeiras civilizações. As margens dos rios foram por sua vez, um solo cobiçado pela
sua condição de proximidade das águas para a rega do plantio, assim como pela sua
rica constituição fisiológica e facilidade de transporte dos alimentos produzidos. Por
outro lado, a agricultura da terra, inicialmente atrelada a atividade coletiva e
colaboracionista, dependente da mão de obra humana e da força animal para carga,
sofreu o impacto das transformações impostas ao longo das novas tecnologias que
marcaram uma mudança determinante na Revolução Industrial iniciada na Europa no
SEC XIX.
Em decorrência da industrialização da agricultura e com substituição da mão de
obra do lavrador pela máquina, a emigração do contingente humano para as cidades foi
inevitável. A história tem mostrado que esta situação tornou-se irreversível, mediante a
desvalorização da mão de obra do lavrador e a sua perda de condições de vida em seu
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local de origem. Como uma bola de neve, o problema da vida nas cidades avolumou-se
até as condições atuais em que vivemos, com questões sociais, econômicas e ambientais
e políticas engendradas em blocos cristalizados que afetam a vida no planeta como um
todo. Se na antiguidade o alimento para o homem era a principal condição de vida,
atualmente, acrescentam-se às condições mínimas de sobrevivência, a alarmante
qualidade do ar, do solo e das águas.
FUNFAMENTAÇÃO HISTÓRICA
Nesta pesquisa, a busca por alternativas para a qualidade de vida gerada pelo
crescimento das cidades começa pelos estudos disciplinares urbanísticos a partir da
Revolução Industrial.
Na Inglaterra, com o aumento da população, as cidades
necessitaram de maior infra-estrutura de saneamento, abastecimento e moradias. O
assunto despertou o interesse de empresários industriais visionários que com o apoio de
médicos sanitaristas e os primeiros urbanistas traçaram os primeiros planos em busca de
soluções para o cenário de caos que já se instalava nas cidades industriais no final do
século XIX. As primeiras soluções constituíram as Cidade-Jardim, sendo que algumas
abrigaram as chamadas comunidades utópicas. Segundo Jane Jacobs, em seu livro
“Morte e Vida das Grandes Cidades”, os estudiosos da época como Ebenezer Howard,
abordaram este tema segundo a filosofia de análise da época, sempre segundo duas
variáveis: o número de moradias com o número de empregos; a quantidade de moradias
relacionada com o número de escolas, praças, instituições, e finalmente, a cidade com o
seu cinturão verde. Dentro desta ideologia, algumas tentativas vislumbraram diferentes
formas de organização social, buscando uma solução a priori para a população crescente
e desempregada das cidades e, ou para a crescente classe operaria que vivia em
condições insalubres que as fábricas emergentes empregaram. Mas, como diz Marcelo
Lopes de Souza, em ABC do Desenvolvimento Urbano, “Há milhares de anos
coletividades humanas aprenderam a viver em espaços relativamente pequenos e em
condições de grande densidade demográfica, nos quais se foram concentrando as
atividades econômicas não ligadas diretamente ao setor primário da economia, assim
como foram concentrando, também, a produção intelectual e o poder político: as
cidades.” Temos aí portanto, formas diferentes de enfrentar o problema: adaptar a
cidade às novas necessidades e paradigmas, ou então, seguir os novos planos traçados
pelos então visionários planejadores.
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A maior parte dos projetos que implicaram numa nova configuração espacial foi
implantada e se desenvolveu na América, em áreas adquiridas através dos próprios
idealizadores, que viram neste contexto maiores perspectivas de colocar em teste as suas
idéias, tanto do ponto de vista territorial como do ponto de vista dos recursos humanos,
sendo na maioria constituída por pessoas de base espiritual religiosa e pregando também
o respeito à natureza, como um bem divino, o que veio a facilitar o processo de
implantação.
O Quadro 1 apresenta as comunidades que se formaram, algumas ainda
existentes nos dias atuais, sendo auto-sustentáveis quanto ao tratamento com a terra e o
plantio, gerando o próprio alimento, e abastecendo-se de outras necessidades,
inicialmente, na base de trocas.
Período
Hermanos
Moravos
Shakers
1740-1850
1770-em
extinção
Rappistas
Owenistas
Amana
Fourisristas
Perfeccionistas
Icarianos
Hutteristas
1805-1905
1825-1828
1842-1932
1842-1858
1842-1880
1848-1898
1874/até
dias atuais
Alemães
Norteamericanos
Norteamericanos
Franceses
Alemães
Nacionalidade de
origem
Alemães
Ingleses
Norteamericanos
Alemães
Ingleses
Franceses
Norteamericanos
Base
Ideológica
Religiosa
Religiosa
Religiosa
Socialista
Religiosa
Socialista
Religiosa –
Socialista
Socialista
Religiosa
Nº /membros
5000
6000
920
1000
1800
600
306
500
17500
Localização
Cidades da
Pensilvânia
18
sociedades
em diversos
estados
Harmony
New
Harmony
Economy
NewHarmo
ny
(Indiana)
Amana
(Iowa)
7 aldeias
40 grupos
em vários
estados
Oneida
(Nova York)
6 colônias
172 colônias
no Canadá
e EUA
Fundador
Nos EUA:
Zinzedorf e
outros
Ann Lee
Georg Rapp
Robert
Owen
Christian
Metz e
Barbara
Heinemann
Charles
Fourier
John H. Noyes
Etienne
Cabet
Jakob Hutter
Propriedade
Comunitária
nas
primeiras
décadas
Comunitária
Comunitária
Financiada
por Owen e
McLure
Comunitária
Distribuída
em ações
Comunitária
Comunitária
Comunitária
Estrutura
Social
Família
nuclear
Celibato
Celibato
Família
nuclear
Família
nuclear
Família
nuclear
Matrimonio
Complexo
Família
nuclear
Família
nuclear
Quadro 1. Comunidades utópicas nos EUA.
Fonte: NAHUM,N.N, 2005.Adaptado pela autora com base em Liselotte &Ungers, 1977)
O legado destas comunidades que tiveram sua base econômica na agricultura,
marcenaria, artesanato e demais atividades dependentes da mão de obra humana, e com
base espiritual como ideologia, foi mais tarde, nos anos sessenta, inspirar as
comunidades Hippies (*). Assim como as comunidades utópicas, na América, se
opuseram ao sistema imposto pela Revolução Industrial, na Europa, as comunidades
Hippies fizeram o contraponto com a sociedade de consumo, e tiveram como ideologia
o amor livre, a não violência e as formas tradicionais de vida familiar, opondo-se à
guerra e às proibições. O movimento Hippie foi definido como movimento da
contracultura e difundiu o amor à natureza, o que com o passar dos anos também
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definiu um estilo de vida. Apesar de o movimento ter visto seu fim, ele também gerou
centenas comunidades espalhadas pelo mundo que são denominadas por Ecovilas. O
conceito de ecovila foi adotado pelas comunidades que se apóiam nos conceitos de
permacultura, criados pelo australiano Bill Mollison. As ecovilas permaculturais no
Brasil são estrategicamente situadas nos biomas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica,
Campos Sulinos e atuam como institutos de pesquisa. Além dos institutos de
permacultura, a maior parte das ecovilas e comunidades sustentáveis, no Brasil, estão na
periferia das cidades, contribuindo com a formação de um cinturão verde ao redor de
áreas urbanas consolidadas.
(*) Comunidades hippies, formadas a partir do movimento Hippie que se convencionou chamar de
movimento de “contracultura” dos anos 60 do séc XX. Adotavam um modo de vida comunitário, as vezes
nômade, negando o nacionalismo e a guerra como solução de conflitos como a Guerra do Vietnã (19581975); em desacordo com os valores tradicionais da classe média americana capitalista e da sociedade de
consumo, abraçaram aspectos das religiões orientais como o budismo e o hinduismo.
FONTE: Wikipédia, adaptado pela autora
PAISAGISMO PRODUTIVO
Uma alternativa para a proteção e recuperação de fundos de vales urbanos
A articulação entre as comunidades utópicas e as ecovilas passa pelo conceito de
sustentabilidade através do paisagismo produtivo e os valores atribuídos nas suas
diferentes esferas da produção – social,ambiental e econômica, caracterizados pela
continuidade dos processos interdependentes e complementares, inerentes às
potencialidades dos fatores envolvidos:
- os recursos naturais pela biodiversidade e ecossistema estável;
-o meio ambiente urbano pela ação antrópica consciente, não destrutiva, cuidadosa,
equilibrada e produtiva entre a sociedade e seu próprio meio.
No processo de urbanização que se intensificou radicalmente no último século,
rios e córregos foram retificados e canalizados, repercutindo em graves conseqüências,
incluindo-se os impactos na fauna e flora e a ampliação dos problemas de enchentes. As
áreas vagas situadas nos fundos de vale, freqüentemente doadas para o Poder Público
por ocasião da aprovação dos projetos de loteamentos, têm uma forte tendência à
degradação e à ocupação pela população muito pobre, que aí encontra, pela falta de
outras alternativas, uma cruel possibilidade de acesso a terra. Este cenário recorrente nas
capitais e grandes cidades brasileiras, gera situações de riscos ambientais, associados à
remoção da vegetação ciliar, a contaminação dos curso d´água e riscos de vida,
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associados à insalubridade e à alta probabilidade de ocorrência de enchentes. Mesmo
quando se promove a urbanização da favela, envolvendo a remoção de parte da
população situada nos locais de maior risco, persiste a possibilidade de re-ocupação da
área após a intervenção.
Na busca da retomada do equilíbrio ambiental no meio urbano, destaca-se a
importância da recuperação e a proteção dos terrenos situados nos fundos de vale, e, por
conseguinte, a qualidade da água de rios e córregos.
Gradativamente cresce a força das propostas de renaturalização dos cursos
d’água, na perspectiva de retomar parte do ambiente natural perdido. Porém, a
renaturalização dos rios é lenta, e gradativa, dependente das condições ambientais locais
para possibilitar a recomposição dos cursos de água. Há as condicionantes como os
atores espaciais, sociais e econômicos: o processo de retornar os cursos de água às
condições originais exige áreas maiores do que as que resultaram no processo de
canalização (quando a céu aberto) e abertura de avenidas de grande fluxo de transportes
urbanos, o que causaria forte impacto social pelo remanejo de atividades, acarretando
também a altos custos, o que exigiria uma vontade política de grande amplitude e
alcance.
Algumas experiências tendem a contribuir para a recuperação de áreas em
estado de degradação ambiental, entre elas, estão os parques lineares que têm como
objetivo a renaturalização dos cursos d’água e a sua inserção na paisagem e convívio da
população urbana. Em situações específicas, a implantação de hortas comunitárias
também incentiva a proteção e recuperação dessas áreas. Em ambas as situações, há
especificidades legislativas para o uso e a vegetação apropriada. Na primeira, a
especificação de vegetação é exclusivamente nativa, de composição de mata ciliar; na
segunda, há a restrição de uso nas distâncias específicas das margens, o que têm sido
assunto de discussão da legislação específica para rios e córregos urbanos. Atualmente,
hortas comunitárias mantêm-se ao longo de cursos de água urbanos, pois protegem
contra invasões e maus usos, mas as populações que nelas trabalham encontram
dificuldades também para comercializar seus produtos uma vez que a legislação proíbe
o uso da terra pública para benefício privado. Contraditoriamente, há os programas
municipais que incentivam as populações de baixa renda e os aposentados a trabalhar
nestas hortas.
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Para contribuir para a discussão na especificação de usos e vegetação em
projetos de paisagismo ao longo das margens de rios e córregos urbanos, verificou-se a
possibilidade de potencializar a sua vocação urbanística e ambiental, com o plantio de
espécies frutíferas. Como existe pouca bibliografia a respeito deste assunto, buscou-se
junto a especialistas de várias áreas correlatas, a indicação dos aspectos que apontam
riscos e vantagens e uma avaliação das possibilidades de potencializar as vantagens
indicadas e de reduzir os possíveis riscos.
Os Quadros 2 e 3 mostram os fatores de riscos e vantagens apontados e
também indicam respectivamente as precauções e forma de potencializar os benefícios.
Riscos apontados
Precauções recomendadas
Risco de queda ao apanhar fruto em árvores altas
Risco de queda de frutos grandes sobre as pessoas
Arvore próxima ao rio, risco de afogamento ao
apanhar frutos
Esconderijo de bandidos e falta de segurança
pública
Ingestão de frutos contaminados
Falta de costume, resistência da população, pouco
preparo e esclarecimento
Uso de sementes como armas
Usos indevidos e problemas sociais
Atração excessiva de pessoas com pisoteio e
degradação do solo
Ação fitosanitária, decomposição de frutos, mau
cheiro, produção de bactérias
Perda de serrapilheira, importante para a
reprodução voluntária
Emissão de rizomas em excesso
Formação de camada espessa de folhas
Monitoramento adequado por uma zeladoria
Proteção das espécies e/ou uso de espécies adequadas
Plantio com afastamento apropriado
Evitar o uso de maciços, permitir, visibilidade
Controle da qualidade da água e do solo, uso de adubos
orgânicos e controle de pragas sem produtos tóxicos.
Criação de atrativos para a convivência, programas de
educação ambiental associados às entidades de bairro
Monitoramento da zeladoria
Monitoramento, sinalização indicativa e orientadora
Planejamento de trilhas e caminhos adequados, proteção
adequada para as diversas necessidades das espécies
Manejo adequado e contínuo, previsão de composteiras
para produção de adubo orgânico
Manejo adequado das espécies
Perigo de monocultura de espécies frutíferas e
perda de biodiversidade
Atração de fauna nociva
Atração de animais competidores
Manejo adequado
Manejo adequado
Previsão de viveiro, inventário florístico e de espécies
frutíferas nativas
Plantio de diversidade controlada por projetos
aprovados por órgão competentes
Uso adequado das espécies
Uso adequado das espécies
Atropelamento de animais
Sinalização adequada
Falta de mudas para reposição
Não é prioridade administrativa
Falta de controle contínuo
Desarticulação das gerencias
Uso de planos diretores e destaque de regulamentação
específica
Incentivar o controle contínuo através da implantação
de sistema de zeladoria e estratégias de participação da
comunidade local
Desenvolver estruturas adequadas de gerenciamento
com a participação da comunidade
Quadro 2 : Riscos e precauções recomendadas
Fonte: Nahum, N.N. – Paisagismo Produtivo na Proteção e Recuperação de Fundos de Vales Urbanos 1977- Dissertação de mestrado- FAU-PUC-Campinas
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Vantagens apontadas
Como potencializar as vantagens
Potencial para programas de educação sócioambiental; na relação sócio-ambiental; com o
incentivo ao aculturamento; desenvolvimento
cultural, ampliação de valores
Apropriação democrática dos locais públicos pela
população
Qualidade ambiental
Desenvolvimento cultural, ampliação de valores
Desenvolvimento de conhecimento da segurança
alimentar
Diversidade visual
Abastecimento alimentar fresco e local
Aumento de drenagem
Enriquecimento da biodiversidade
Fixação da camada de solo evitando a erosão
Aumento de área de pouso da fauna silvestre e de
polinização
Contribuição para o impedimento de futuros
problemas de enchente
Valorização do meio ambiente urbano
Com a educação ambiental pública continuada; na
compreensão do espaço público como local de
convivência; com o resgate do imaginário da
comunidade
Com o desenho do espaço de fácil entendimento;
caracterização dos espaços e definição de usos; com o
estímulo à participação e a noção de pertencimento;
pelo icentivo a zeladoria pela tutoria da comunidade
Com o aumento de massa verde e oxigenação do ar,
umidade e frescor do ar, áreas de sombreamento,
descanso e lazer
Com o resgate da memória cultural, a convivência com
os frutos da terra, o ambiente vegetal e a água
Através de programas de educação alimentar associados
à consciência ambiental
Associando projetos de intervenção paisagística aos
demais projetos públicos , inserindo cores, tonalidades,
odores, texturas, ritmos, sombras, cheios e vazios
Com o acesso aos frutos,; potencial para processamento
de frutos
Com a inserção das questões ambientais nos processos
de planejamento do município; Incentivo a formação de
bosques
Plantio de maior diversidade de espécies frutíferas para
alimentação humana e animal;
Na associação correta da seleção de espécie inclusive
quanto às disposições de plantio
No monitoramento da diversificação da fauna através da
escolha das espécies da flora;
Com a valorização e reconhecimento da necessidade de
maiores áreas permeáveis; com o aproveitamento e
aplicação do conhecimento técnico-científico; na
articulação das gerencias administrativas; com a
conscientização da população na diminuição do lixo
doméstico e participação dos programas de coleta de
lixo seletivo
Pela discussão na prioridade do assunto; na promoção
de programas específicos de controle e regulamentação
e capacitação para aplicação das legislações
Quadro 3 : Vantagens e Potencialização
Fonte: Nahum, N.N. – Paisagismo Produtivo na Proteção e Recuperação de Fundos de Vales Urbanos 1977- Dissertação de mestrado- FAU-PUC-Campinas
RECOMENDAÇÕES
As seguintes recomendações foram apontadas:
• Conhecimento da bacia hidrográfica pelos pontos de vista fisiológico, social,
ambiental, econômico e político;
• Conhecimento das espécies frutíferas quanto a fixação do solo e necessidades
hídricas de acordo com as propriedades locais e regionais;
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• O controle do uso e o esclarecimento em relação às condições específicas dos
fundos de vale são importantes e merecem a maior atenção, do ponto de vista de
legislação e dos usos e costumes da população;
• Partir de um projeto paisagístico interdisciplinar a partir da contratação de
assessoria, vinculação do projeto a um processo de planejamento de recuperação
ambiental da área no médio prazo;
• Envolver a comunidade vizinha – inclusive na seleção de espécies, Estabelecer
mecanismos de responsabilidade compartilhada e gestão participativa envolvendo a
população e instituições público e privadas das vizinhanças;
• Realização de estudo de viabilidade ambiental, com foco nos possíveis impactos de
ordem, ambiental, econômica e social;
• Incorporar escolas próximas ao projeto, adotando as áreas como laboratórios para
práticas de ensino que extrapolem a educação ambiental;
• Valorizar a compreensão do sistema de espaços livres desde a escala regional até a
micro-escala, tirando partido da conectividade entre estes espaços e ampliando as
possibilidades de sucesso do projeto;
• A integração de espaços públicos e privados, evitando-se possíveis rupturas e
descontinuidades
• Adotar princípios como a recuperação da biodiversidade, a manutenção dos
processos naturais na sua complexidade, a contemplação da natureza, a presença e
uso de espaços de convivência comunitários;
• Preferir as espécies frutíferas nativas locais (regionais) em conjunto com as demais
específicas de APP.
• Evitar as espécies de sombreamento muito forte e grande quantidade de sementes
• A fixação do solo, a biodiversidade e a recuperação do solo dependem das espécies
a serem plantadas;
• Monitorar o escoamento de águas pluviais e o efeito da enxurrada;
• Impedir usos “consorciados” indevidos
CONCLUSÃO
O estudo mostrou que há um consenso quanto às vantagens para integrar os
rios na paisagem urbana. O uso de espécies frutíferas como estratégia de aproximação
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da população e uso adequado destas áreas podem trazer
benefícios tanto para a
qualidade ambiental e urbanística.
As espécies frutíferas em projetos paisagísticos
oferece vantagens sob
aspectos que vão desde a educação ambiental com a ampliação de valores e reforço da
cultura regional até a requalificação do meio urbano como um lugar mais saudável para
a vida. As espécies frutíferas silvestres destacam-se como atrativos para a reabilitação
das áreas degradadas. Segundo os especialistas, não oferecem qualquer tipo de risco,
tanto do ponto de vista ambiental, como paisagístico. Também para a população não
oferece riscos de acordo com as suas características por serem geralmente frutos
pequenos, carnudos, abundantes, acessíveis e de sementes pequenas. Alerta-se para que
a implementação de intervenções paisagísticas sejam estabelecidas e programados
através de projetos específicos, e respeitadas as diretrizes indicadas em relação aos
fatores de risco levantados neste estudo. Segundo os profissionais especialistas das
áreas consultadas, as situações de riscos são passíveis de serem evitadas, e as vantagens
no plantio de espécies frutíferas em fundos de vales podem ser potencializadas.
Atualmente, a recuperação de áreas degradadas ao longo de rios e córregos
urbanos exige um esforço de toda a população sendo fundamental a compreensão de sua
relevância pelo poder público e a inclusão de programas mais eficientes de educação
ambiental. Esses programas ou projetos são factíveis de acontecer nas escolas, centros
de saúde, nos espaços públicos como no interior dos meios de transportes públicos e
suas instalações, nas salas de espera das instituições públicas e privadas, nas áreas de
lazer, enfim, com criatividade e apoio técnico, a educação ambiental leva à qualidade
ambiental e por conseqüência à melhor qualidade de vida.
O paisagismo produtivo inserido nas iniciativas de programas de proteção e
recuperação de áreas ociosas nos centros urbanos atuais merece mais atenção dos
órgãos públicos, pois constitui uma possibilidade emergente de requalificação
ambiental. Dentre essas áreas, os fundos de vale se destacam pela complexidade
associada a fatores de ordem social, econômica, ambiental, e principalmente legal, por
incluírem Áreas de Preservação Permanente (APPs), onde se tem um conjunto de
restrições às intervenções. Entre as restrições está uso exclusivo de espécies nativas para
a recuperação das matas ciliares, sem distinção entre áreas rurais ou nas cidades, em
ambientes já fortemente impactados pela urbanização. O plantio de espécies frutíferas
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nativas pode ser incentivado tanto para recuperação ambiental como para estímulo a
convivência com os cursos de água urbanos, enfatizando o uso social e sustentável das
áreas públicas de APPs.
Agradecimentos
Esta pesquisa contou com a colaboração dos seguintes especialistas:
NOMES
Especialidade profissional
Instituição
Ari Vicente Fernandes
Arquiteto/urbanista
PUC- Campinas
Emília W. Rutkowski
Biólogo/Limnólogo
UNICAMP/ FLUXUS
Elson Roney Servilha
Engº Civil/Saneamento Ambiental
UNICAMP/FLUXUS
Ma Helena Ferreira Machado
Sociólogo/Planejamento
PUC- Campinas
Laura Bueno Machado
Arquiteto/Planejamento
PUC- Campinas
Juleusa Maria Theodoro Turra
Geógrafo/Sociólogo
PUC- Campinas
Nelson Marques da Silva Fº
Arquiteto/Meio Ambiente
PUC- Campinas
Renato Pequeno
Arquiteto/Comunidades/Meio
Ambiente
DAU - UFC
Suely Bettini
Engº Ambiental
PUC- Campinas
Vladimir Bartalini
Arquiteto Paisagista
PUC- Campinas/USP
Stephen Bentley
Planejamento Comunitário
Regional
EYA/ Vancouver-Canadá
Sônia H.Novaes G.Moraes
Advogada Agrartisa
ABRA
Giulio Cesar Stancato
Engº agrônomo
IAC – Pesquisador
Dionete Aparecida Santin
Engª agrônoma
UNiCAMP - NEPAM
Julie Henriette Antoinette Dutilh
Botânica
UNICAMP - Pesquisadora
Bibliografia
NAHUM, Noemie Nelly. Paisagismo Produtivo na Proteção e recuperação de fundos
de vales urbanos. 2007. 217p. Dissertação (Mestrado). Programa da Pós Graduação em
Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo. 2007.
JACOBS, Jane, Morte e Vida de Grandes Cidades, Martins Fontes,SP,2001
SOUZA,Marcelo Lopes de, ABC do Desenvolvimento Urbano, Bertrand Brasil, RJ,2003
- 1335 -