Artigos Técnico-Científicos

Transcrição

Artigos Técnico-Científicos
Artigos Técnico-Científicos
Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro
Aferição dos limites da Mata Atlântica
na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior
compreensão e proteção de um mosaico
vegetacional fortemente ameaçado
Kátia Torres Ribeiro1
• ICMBio
Jaqueline Serafim do Nascimento
• Conservação Internacional do Brasil
João Augusto Madeira
• ICMBio
Leonardo Cotta Ribeiro
• Instituto Guaicuy / SOS Rio das Velhas
RESUMO. A Serra do Cipó (Cadeira do Espinhaço, MG) é famosa pela riqueza e endemismo dos
campos rupestres, complexo vegetacional sobre solos quartzosos, incluídos oficialmente no Bioma
Cerrado. Forte contraste climático é imposto pelo maciço montanhoso – fitofisionomias de Cerrado
predominam nas partes baixas a oeste, e as vertentes orientais sustentam fragmentos de Mata
Atlântica, antes contínua em todo o vale do rio Doce, com embaúbas-brancas (Cecropia hololeuca), palmitos-juçara (Euterpe edulis) e indaiás (Attalea oleifera). Mesmo sem espécies características do
Cerrado, mapas oficiais consideram essas encostas como campos limpos ou sujos, erro devido, possivelmente, ao difícil discernimento em imagens de satélite de fisionomias abertas sobre solos arenosos, à degradação das matas ou à escala empregada na delimitação dos biomas. Com base em testemunhos científicos antigos e recentes, mapeamento em campo da distribuição das espécies arbóreas citadas acima, indicadoras de Mata Atlântica, de fácil visualização, da contigüidade das matas
e posicionamento de frentes estacionárias, redelimitamos o bioma Mata Atlântica na região em escala 1:100.000, com acréscimo de 49.856 ha (Parque Nacional da Serra do Cipó: 8.067 ha; APA Morro da
Pedreira, que o circunda: 41.789 ha), ainda sob forte pressão de desmatamento, recomendando sua
inclusão nas ações e planejamentos dirigidos à Mata Atlântica e subsidiando o zoneamento e gestão
das duas UCs. Enxergar os campos rupestres, já considerados como fitocória autônoma, como inseridos entre dois biomas ricos e dinâmicos auxilia, ainda, na compreensão da sua evolução.
Palavras-chave: Biogeografia, Campos Rupestres, Legislação Ambiental, Mata de Neblina,
Sensoriamento remoto.
nição de categorias e a distribuição dos elementos nas categorias criadas é uma atividade
complexa e com forte componente de subjetividade, o que a torna sujeita a debates e discordâncias recorrentes (Durkhein & Mauss,
1981). Tal consideração não é nenhuma novidade, mas freqüentemente as categorias e suas
delimitações são entendidas como verdades
INTRODUÇÃO
A classificação do mundo natural é uma tarefa essencial e básica para a construção do conhecimento, seja ele científico ou não. A defi-
1
[email protected]
Artigos Técnico-Científicos
30
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão
e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado
em si, e não como tentativas humanas de organizar sua compreensão do mundo natural,
problema agravado quando estas classificações precisam servir de base para leis. Mas os
componentes do mundo natural não costumam respeitar fronteiras por nós criadas, de
modo que as revisões com base em novas informações são sempre necessárias.
do o domínio acima referido da Mata
Atlântica, confirmaram a afinidade florística
de todas as matas atlânticas – montanas, interioranas, litorâneas; do sul ao nordeste – distanciadas das amostras de floresta amazônica
e cerradão, fosse no conjunto de espécies, de
gêneros ou de famílias de plantas arbóreas.
Não foram encontrados argumentos para deixar as matas estacionais fora dos limites do
domínio da Mata Atlântica, uma vez que elas
constituem um continuum na distribuição das
espécies em direção ao interior do continente
(Oliveira-Filho & Fontes, 2000). Em Minas
Gerais, esta posição foi reiterada em 2005 no
workshop “Definição e delimitação dos domínios e subdomínios das paisagens naturais do
estado de Minas Gerais” (Oliveira-Filho et al.,
2006). Apesar de aceitarem, de forma pragmática, os limites propostos no mapa de biomas
do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), os autores defenderam claramente que as disjunções florestais nos domínios
do Cerrado e da Caatinga deveriam ser considerados como partes integrantes da Mata
Atlântica devido à afinidade florística e estrutural e à alta relevância destas formações disjuntas para a conservação da biodiversidade
(Oliveira-Filho et al., 2006).
No caso da Mata Atlântica, bioma extremamente diverso e dos mais ameaçados do
mundo (Myers et al., 2000), tema deste trabalho, afirma Câmara (2005) que se trata de “um
termo popular sem significado científico preciso”. O nome faz alusão à sua proximidade
com o Oceano Atlântico, em toda a costa brasileira, mas não é suficiente para contemplar
toda a variedade de situações encontradas.
Para fins legais e conservacionistas, desde a
década de 1980 são muitos os esforços em
busca de consensos quanto à delimitação da
Mata Atlântica, processo este dificultado por
sua característica diversidade de composições e fisionomias, por sua devastação, que
dificulta ou impede a reconstituição da continuidade florestal ou das fisionomias originais, e pelas pressões políticas pela restrição
da abrangência da denominação.
Em 1990, foi realizado um workshop com 40
especialistas que concordaram que a expressão ‘mata atlântica’ deveria designar as “florestas pluviais do litoral, as matas sulinas mistas com araucária e lauráceas, as florestas estacionais decíduas e semidecíduas interioranas; e os ecossistemas associados (...)”
(Câmara, 2005). A definição ampla de Mata
Atlântica foi incorporada à legislação, e o
Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) incluiu em 1993, através da
Resolução 010/93, todas as referidas formações no Domínio da Mata Atlântica. Esta compreensão, que se apoiava em dados consistentes de flora e fauna, foi posteriormente corroborada de forma ainda mais sólida pelo trabalho analítico de Oliveira-Filho & Fontes (2000)
que, comparando no âmbito de espécies, gêneros e famílias a composição florística de 125
levantamentos fitossociológicos realizados na
Amazônia, no domínio dos Cerrados e em to-
Artigos Técnico-Científicos
Muitos pesquisadores concordam que porções expressivas da Mata Atlântica ficaram
fora dos limites oficiais do bioma, como se depreende de Hirota (2005), quando diz que “é
importante destacar os esforços da Fundação
SOS Mata Atlântica e do INPE no sentido de
mapear os remanescentes florestais das áreas
anteriormente não avaliadas, como as matas
secas, especialmente os encraves e as florestas
estacionais decíduas e semidecíduas, nos estados do Piauí, Bahia e Minas Gerais”.
Como enfatiza Sutherland (2000), o conhecimento da abundância e distribuição dos diferentes tipos de hábitat e seu grau de conservação, em diferentes escalas, é uma das ferramentas essenciais de gestão e definição de
prioridades. Tal tarefa exige definição precisa
de cada hábitat, o que não é tarefa tão banal,
e requer o reconhecimento em campo na
maior quantidade possível de áreas, de modo
31
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro
a se conhecer a gama de ambientes e sua correspondência em imagens.
bacia do São Francisco, recebem a umidade
proveniente do oceano Atlântico, umidade
esta que permite o crescimento de florestas e
florestas anãs até mesmo sobre superfícies rochosas no estado de Minas Gerais (OliveiraFilho et al., 2006). A América do Sul como um
todo se destaca pela riqueza de epífitas da vegetação, e justamente na faixa nebular há
grande diversificação, mesmo em locais com
baixa precipitação (Sugden & Robins, 1979),
uma vez que a contribuição da nebulosidade
para o balanço geral de umidade da vegetação é muito elevada (Cavelier & Goldstein,
1989), principalmente para formas de vida
com maior capacidade de absorver a umidade atmosférica (Smith, 1972; Lüttge, 1997).
As matas estacionais são muito diversificadas, e agrupadas em um único conjunto em
função da devastação – dos 635.552 Km2 estimados de cobertura original (ou 48,65% da
área total de Mata Atlântica), restam apenas
3%, que recobrem desde as ricas terras roxas
até solos quartzosos extremamente pobres e
arenosos (Câmara, 2005), como é o caso da
vertente oriental do Espinhaço. Esta antiga
cadeia montanhosa se estende por 1.000 km
na direção N-S, desde a porção central de
Minas Gerais até o estado da Bahia, na
Chapada Diamantina. Nela predominam solos arenosos originados de rochas quartzosas.
Ao longo destas montanhas, de composição
geológica heterogênea e complexa (AlmeidaAbreu, 1995), a distinção de fisionomias vegetacionais é uma tarefa árdua, tanto pela heterogeneidade em si, com amplas variações em
pequenos espaços, como pelo fato de a reflectância observada nas imagens de satélite
combinar os efeitos de um amplo conjunto de
tipos de solos e formações vegetacionais, cuja
rarefação dos elementos lenhosos pode ser relacionada tanto a fatores antrópicos quanto a
influências edáficas, e combinações destas. As
formações abertas de toda a região foram incluídas no Domínio do Cerrado, seja como
‘campos’, ‘campos rupestres’ ou ‘cerrado típico’ no recente mapeamento apresentado por
Scolforo & Carvalho (2006), independentemente da composição florística, imprecisão
relacionada ao fato deste mapeamento ter recoberto todo o estado, de grandes dimensões,
utilizando sensoriamento remoto.
A importância da umidade como explicadora
de limites até certo ponto abruptos entre
Cerrado e Mata Atlântica se depreende do trecho a seguir, extraído de Rizzini (1997):
“Cerrado e Mata Atlântica vegetam sob o mesmo
clima geral dominado por uma estação seca. Por isso, tão freqüentemente ocorrem juntos, em mosaico.
No segundo, porém, o ambiente aéreo é muito mais
úmido. (...) A floresta atlântica é indiscutivelmente
uma formação climática nas serras litorâneas; no
Planalto Central, as suas porções são formações
edáficas – porque, sendo o ambiente mais seco, ela aí
subsiste nos pontos onde o solo é favorável: neste caso o solo compensa o clima”. Na Serra do Cipó encontram-se os dois tipos de contraste – seja pela variação abrupta em umidade, seja pela distribuição em mosaico dos tipos de solo, gerando um mosaico vegetacional.
Toda a região é afetada por incêndios (Ribeiro,
2007), mas os remanescentes florestais, além
do fogo, estão sob forte pressão de desmatamento para produção de carvão para indústria
siderúrgica e conversão da vegetação nativa
em pastos de capim-braquiária e outras gramíneas africanas, bem como plantios de eucalipto, transformações observadas até mesmo em
áreas onde antes predominava a exploração de
candeia (Eremanthus erythropappa e E. incanus),
espécie nativa comum nos solos pedregosos e
alvo de planos de manejo florestal (Scolforo et
al., 2006). Tais explorações são facilitadas por
se considerar esta região como bioma
Na Serra do Cipó, ao sul da Serra do
Espinhaço, a delimitação oficial dos biomas
começou a ser questionada e revista a partir
dos primeiros estudos para elaboração dos
planos de manejo do Parque Nacional da
Serra do Cipó e da Área de Proteção
Ambiental Morro da Pedreira, as duas unidades de conservação federais da região. As vertentes orientais, a barlavento, que englobam
vales integrantes da bacia hidrográfica do Rio
Doce bem como alguns vales integrantes da
Artigos Técnico-Científicos
32
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão
e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado
Cerrado, mas os programas de fomento para o
Cerrado não são adequados, por outro lado, a
esta região.
Itabira, Nova União e Taquaraçu de Minas
(FIGURA 1). O Parque abarca partes dos quatro primeiros municípios e sua sede, em
Jaboticatubas, dista apenas 100 Km do centro
da capital do estado, Belo Horizonte, cuja região metropolitana tem cinco milhões de habitantes. A região montanhosa é bem delimitada
ao sul por um breve hiato nas elevações, seguido pelas montanhas da Serra do Caraça, e
ao norte o maciço montanhoso se estende continuamente até a região de Diamantina (18oS).
Neste estudo propõe-se uma revisão da fronteira entre a Mata Atlântica e o Cerrado na região da Serra do Cipó. Não existe neste caso
um conflito entre conceitos e definições correntes e aceitas, mas sim a possibilidade de
trabalhar localmente com maior nível de precisão, visando melhor conhecimento da vegetação, subsídios à expansão da pesquisa e ferramentas mais adequadas para proteção de
uma porção surpreendentemente pouco conhecida da famosa Serra do Cipó. Os seguintes indicadores e ferramentas foram utilizados
como base para a redelimitação: A. relatos antigos sobre a cobertura vegetal original e épocas de destruição; B. testemunhos de pesquisadores contemporâneos; C. localização de espécies indicadoras da Mata Atlântica que sejam facilmente observáveis a distância; D. distribuição da canela-de-ema gigante (Vellozia
gigantea), indicadora de região diretamente
afetada pela condensação da umidade; E. presença de remanescentes de matas; F. formação
de nebulosidade estacionária ao longo da vertente oriental do maciço montanhoso.
A complexidade geológica da região
(Almeida-Abreu, 1995) se reflete na heterogeneidade de solos e tipos vegetacionais.
Latossolos são comuns sobre as formações
cársticas a oeste do maciço montanhoso
(Formação Bambuí), entremeados com solos
rasos e inférteis, que sustentam campos sujos
e outras formações abertas. As montanhas são
edificadas principalmente por rochas do
Supergrupo Espinhaço, com preponderância
de quartzitos, que geram solos arenosos e de
baixíssima fertilidade, e com padrões de drenagem bastante variáveis conforme a existência de diques rochosos e conforme a declividade. Exceções nos planaltos são os solos
mais férteis e desenvolvidos formados sobre
dispersas intrusões de rochas metabásicas
(Almeida-Abreu, 1995). A leste do maciço
montanhoso, cambissolos e latossolos se desenvolvem sobre rochas do embasamento
cristalino. Não há estações meteorológicas
oficiais na região, mas o clima é classificado
de forma genérica como tropical de altitude
(Cwb de acordo com Köppen), com verões
muito chuvosos e invernos secos, com precipitação concentrada entre os meses de novembro e março, e média anual em torno de
1.500 mm (Madeira & Fernandes, 1999). No
entanto, situações muito contrastantes são encontradas ao longo da região, considerando
as diferenças entre vertentes a barlavento e a
sotavento do maciço e o efeito da variação altitudinal de 800 a 1670 m a.s.l. Nebulosidade
quase constante prevalece nas vertentes
orientais (FIGURA 2), enquanto as vertentes
ocidentais enfrentam até sete meses de seca.
Da Serra do Cipó, à altura do paralelo 19oS,
em direção ao norte, o relevo montanhoso di-
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
O nome Serra do Cipó vem sendo apropriado
por crescente número de localidades por razões turísticas e de mercado, daí a necessidade de se delimitar a área aqui enfocada.
Considerou-se como Serra do Cipó toda a região abrangida pelo Parque Nacional da Serra
do Cipó, com 31.632 ha, e pela Área de
Proteção Ambiental Morro da Pedreira, com
100.107 ha (coordenadas: 19o03’-36’S; 43o22’42’W), que circunda inteiramente o Parque
Nacional, funcionando como sua “zona-tampão”, como já previsto em seu decreto de criação. Inclui as partes mais elevadas dos municípios de Jaboticatubas, Santana do Riacho,
Morro do Pilar, Itambé do Mato Dentro,
Artigos Técnico-Científicos
33
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro
Rodovia MG 010
Limite de Municípios
Limite PARNA
Limite APA
Vegetação-GEOMINAS
Classificação
Caatinga
Campo Rupestre
Cerrado
Floresta Atlântica
Bimas IBGE
Classificação
Cerrado
Caatinga
Floresta Atlântica
Fonte: Limite Municípios e UC’s – IBAMA
Proteção UTMSAD69: Fuso 23K
Limites Biomas: IBGE
FIGURA 1: Localização da região da Serra do Cipó, com limites dos municípios e das duas unidades de conservação federais:
Parque Nacional da Serra do Cipó e APA Morro da Pedreira. Representa-se ainda o limite oficial atual entre os biomas Mata
Atlântica e Cerrado na região conforme o IBGE (zonas hachuradas) e limites vegetacionais conforme GEOMINAS (em cores).
No mapa menor, no canto superior esquerdo, apresentam-se as duas unidades de conservação em relação aos biomas Cerrado
(verde-claro), Mata Atlântica (verde-escuro) e Caatinga (laranja), no estado de Minas Gerais.
Artigos Técnico-Científicos
34
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão
e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado
A
D
B
E
C
F
FIGURA 2: Prancha de fotografias – A. Fragmento florestal cercado por pastagens de capim-braquiária, em Cabeça de Boi, no
município de Itambé do Mato Dentro, porção leste da APA Morro da Pedreira; B,C. Epífitas sobre a canela-de-ema gigante
(Vellozia gigantea), ilustrando a alta umidade comumente verificada – musgos no alto dos ramos e um exemplar de Sophronites
brevipedunculata, característica de Mata Atlântica, indicada pela seta preta; D. Fragmento de mata a 1200 metros de altitude
no município de Morro do Pilar com Cecropia hololeuca (embaúba-branca), indicada pela seta branca e Attalea oleifera (indaiá) despontando no dossel. E. Árvore queimada, junto a indivíduo de candeia, testemunhando conversão da paisagem de
mata para candeial, sobre solos arenosos. F. Visão do Travessão, no fundo do Vale da Bocaina (Parque Nacional da Serra do
Cipó), que divide as drenagens do Rio das Velhas e Rio Doce. Podem-se ver as nuvens provenientes da vertente leste, que se
rarefazem na vertente oeste, de onde se tirou a fotografia (fotos de K.T. Ribeiro)
das e corrigidas com informações de campo.
vide a Mata Atlântica, para leste, dos
Cerrados, para oeste. Os municípios de
Itabira, Itambé do Mato Dentro, Morro do
Pilar e Conceição do Mato Dentro são parcialmente incluídos nos limites oficiais da Mata
Atlântica (de acordo com critérios do
Ministério do Meio Ambiente, baseados em
dados do IBGE e Fundação SOS Mata
Atlântica), mas todo o território incluído na
APA Morro da Pedreira ficou fora desta delimitação, sendo justamente a região com
maior porcentagem de vegetação preservada
na vertente leste.
Relatos antigos e testemunhos
contemporâneos
Procedeu-se a um levantamento de relatos de
naturalistas que percorreram a região, sobretudo no século XIX, que contivessem informações de interesse para uma tentativa de reconstituir um quadro da paisagem original da
região, sobretudo da vertente leste da Serra
do Cipó. Da mesma forma, procurou-se levantar informações científicas atuais, seja na
literatura ou em contatos pessoais.
As análises e mapas foram feitos em ambiente ArcGIS® 9.0 (ESRI). A base vetorial para altimetria, hidrografia, sistema viário e divisão
política foi obtida a partir das cartas topográficas do IBGE em escala 1:100.000, digitaliza-
Artigos Técnico-Científicos
Mapeamento de espécies indicadoras
Utilizou-se um conjunto pequeno de espécies
indicadoras da Mata Atlântica, mas que, por
35
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro
serem conspícuas, permitiram uma varredura
extensa e suficientemente homogênea da região de estudo. Foram elas o palmito-juçara
(Euterpe edulis), a embaúba-branca (Cecropia
hololeuca), e a palmeira indaiá (Attalea oleifera),
esta última comum nas matas semidecíduas.
A palmeira macaúba (Acrocomia aculeata), associada a solos férteis (Motta et al., 2002), porém não claramente afetada pela variação em
precipitação dentro da área de estudo, e comum nas formações mesofíticas nos domínios da Mata Atlântica e do Cerrado, também
foi incluída no mapeamento como uma comparação com as duas outras palmeiras, indicativas de mata atlântica, mas sem associação
exclusiva com solos férteis.
Esta área foi por sua vez subdividida em quatro porções, de acordo com delimitação derivada da proposta do GEOMINAS (SEA, 1980;
ver FIGURA 1): Mata Atlântica (64.218,8 ha),
faixa de Cerrado a leste dos campos rupestres
(Cerrado Leste: 61.334,9 ha), Campos
Rupestres (217.638,7 ha) e faixa de Cerrado a
oeste (Cerrado Oeste: 158.141,2 ha).
Não se trata de uma divisão de biomas, e sim
uma proposta de divisão de grandes conjuntos vegetacionais. Utilizou-se a classificação
da vegetação de Scolforo & Carvalho (2006;
Mapa de Vegetação do estado de Minas
Gerais), e calculou-se a proporção de cobertura florestal em cada uma destas faixas. Para as
análises, considerando a baixa acurácia da
classificação, foi feito o agrupamento de todas as feições florestais - matas secas, semidecíduas e mesmo matas que podem vir a ser
consideradas como ombrófilas, após estudos
pertinentes.
Todas as trilhas e estradas no interior do
Parque, bem como trilhas e estradas que conectam o Parque a vilas no sopé da montanha, foram percorridas e mapeadas entre janeiro de 2003 e julho de 2006, durante os estudos para os planos de manejo ou em ações
cotidianas de gestão das unidades de conservação. A ocorrência das espécies indicadoras
ao longo de cada pequena drenagem cortada
pelas trilhas foi registrada com uso de GPS,
sendo os pontos marcados no leito da própria
trilha, no ponto de onde a planta foi avistada.
A precisão é razoável, uma vez que o terreno
é bastante acidentado, e os pontos marcados
não são muito distantes da localização mesma das plantas. A partir destes dados fez-se
um mapeamento da região de ocorrência de
cada espécie, considerando as drenagens acima referidas, inventariando todos os vales em
torno do parque nacional.
Distribuição geográfica de Vellozia gigantea
A canela-de-ema gigante (Vellozia gigantea) é a
maior dentre as Velloziaceae (Menezes &
Mello-Silva, 1999), família com grande número de espécies endêmicas dos campos rupestres e estreitamente associada a ambientes rochosos (Ayensu, 1973). V. gigantea tem hábito
dracenóide e sustenta grande densidade de
epífitas em seus muitos ramos, inclusive orquídeas de gêneros característicos da Mata
Atlântica como Grobya (Barros & Lourenço,
2004) e Sophronites, ausentes ou escassas na
vertente ocidental. Era conhecida até recentemente por uma única população, ocupando
área de cerca de 1 ha, em afloramentos rochosos próximos à rodovia MG-010, dentro do
Parque Nacional da Serra do Cipó (Menezes
& Mello-Silva, 1999), em drenagem já inserida
na bacia do Rio Doce. Mapeamento detalhado
desta espécie ao longo das vertentes orientais
da Serra do Cipó começou em 2004 (L.C.
Ribeiro et al., em preparação), e os resultados
elevaram sua distribuição conhecida para cerca de 2.200 ha, em áreas descontínuas de difícil acesso. Consideramos esta espécie, endêmica da Serra do Cipó, como indicadora de
Proporção de remanescentes florestais
Para caracterizar a distribuição espacial dos
remanescentes florestais na região da Serra
do Cipó, e avaliar a importância e urgência de
conservação dos remanescentes inseridos nas
duas unidades de conservação em estudo,
calculou-se a área absoluta e a proporção dos
remanescentes dentro de uma área de
501.333 há, correspondente à faixa de 20 km
em torno da APA Morro da Pedreira.
Artigos Técnico-Científicos
36
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão
e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado
vegetação associada à neblina na região (FIGURA 2), e sua ocorrência ajuda a localizar a
área diretamente afetada pela condensação
da umidade.
jantes dirigiam-se em sua maioria ao Arraial
do Tejuco, atual Diamantina, seja pelo caminho a oeste, cruzando os cerrados, seja pela
vertente leste da Serra, passando pelos atuais
municípios de Itambé do Mato Dentro e
Morro do Pilar, chegando então a Conceição
do Mato Dentro (FIGURA 1).
Frente de nebulosidade estacionária
Linhas delimitadoras da nebulosidade estacionária foram definidas para 10 imagens
Landsat 7, sensor TM (Thematic Mapper), obtidas entre 2000-2003, disponíveis em formato
.jpg na internet (http://www.engesat.com.br),
escolhidas por apresentarem elevada cobertura por nuvens. Extraiu-se uma linha representando a posição média no limite de nebulosidade, para subsidiar a definição do limite entre biomas.
A cidade de Morro do Pilar, sede do município de mesmo nome, era então conhecida como Gaspar Soares, ou Morro do Gaspar.
Auguste de Saint-Hilaire, em seu trajeto de
Itambé à vila do Príncipe, diz que: “Toda a região que se estende até Vila do Príncipe é ainda montanhosa, e as florestas, que a cobriam
outrora, deram lugar, em muitos pontos, a
imensas pastagens de capim-gordura. Não se
vislumbra, por assim dizer, o menor sinal de
cultura”. Entre a localidade de Ponte Alta e o
Morro do Gaspar Soares, diz ainda: “ (...) não
se avistam senão imensas campinas de capim-gordura com alguns feixes de bosques.
Por estas pastagens vêem-se, de um lado, alguns indaiás, cujas folhas largas se agitam à
menor aragem. Esse lugar não apresenta o
menor vestígio de lavagens, e, pelo que me
disseram, foi outrora cultivado; a aparição,
porém, do capim-gordura decidiu os proprietários a procurar alhures matos ainda por
destruir”.
Para verificar o limite proposto com uso de
outra técnica, a cobertura por nuvens foi extraída de três imagens CBERS (China-Brazil
Earth Resources Satellite), sensor CCD
(Charge-Coupled Device), dos anos de 2003,
2004 e 2005 (http://www.cbers.inpe.br). Elas
foram modeladas com uso do algoritmo
NDVI (normalized difference vegetation index),
com a intenção de amplificar o contraste entre
os elementos vegetacionais, as nuvens e outros elementos físicos (técnica em Chuvieco,
1996). Com uso do programa Multispec as
nuvens foram extraídas da imagem por meio
de classificação não supervisionada, e nestas
imagens fez-se outra delimitação da linha de
nebulosidade estacionária, bastante coincidente com a anterior.
Seguindo o mesmo caminho de Saint-Hilaire,
Spix e Martius, que visitaram o Brasil entre
1817 e 1820, informam que “há quarenta anos
passados [toda a região de montanhas entre
Gaspar Soares e a referida Vila] era revestida
de densa mata virgem sem interrupções, continuando as matas do Rio Doce”, mas que
àquela altura, grandes trechos já haviam sido
abatidos. Gardner, que viajou pelo Brasil de
1836 a 1841, ao se dirigir a Gaspar Soares a
partir de Conceição do Mato Dentro, diz ter
atravessado uma região “de densas florestas
virgens semelhantes às da Serra dos Órgãos e,
como nesta, abundantes em fetos arborescentes, pequenas palmeiras e grandes bambus”.
Ao passar pelo Arraial de Gaspar Soares,
Gardner registra que “não havia sinal de
plantações, embora ao que me informam, todos estes campos nus tivessem sido cultiva-
RESULTADOS
Relatos antigos sobre as formações
florestais e sua destruição
Em artigo que trata da ocupação histórica da
região de Santana do Riacho, como parte da
contextualização das pesquisas arqueológicas
realizadas na região, Guimarães (1991), resgatou informações sobre a ocupação do território a partir principalmente dos relatos de naturalistas e viajantes do século XIX. Estes via-
Artigos Técnico-Científicos
37
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro
dos até que o capim gordura os invadiu.
Derrubando florestas virgens, fizeram-se a alguma distância novas plantações, que por sua
vez terão de ser abandonadas pela mesma
causa” (textos citados em Guimarães, 1991).
Cipó poderia ser considerada como um divisor biogeográfico de espécies de Callithrix,
com C. penicilata a oeste e C. geoffroyi a leste.
Recentemente, no I Seminário Interdisciplinar
de Pesquisadores da Serra do Cipó (maio de
2007), organizado para estruturar a consulta à
comunidade científica acerca das propostas
dos planos de manejo do Parque Nacional da
Serra do Cipó e da APA Morro da Pedreira, os
pesquisadores presentes, muitos com dados
inéditos, ratificaram unanimemente a proposta de considerar a vertente leste como
Mata Atlântica, incluindo os vales de Nova
União e Taquaraçu de Minas, que drenam para a bacia do rio das Velhas, mas são voltados
para sul/ sudeste (ICMBio, 2007).
Fortes transformações da paisagem (FIGURA
2) também podem ser depreendidas do depoimento de Georg von Langsdorff ao passar
pela Serra do Cipó em 1824: “No inverno, ou
seja, julho e agosto, as matas se congelam; árvores, gramíneas e folhas mortas e secas estão
prontas para serem queimadas, como preparação para futuras plantações. O fogo, no entanto, atinge proporções terríveis e acaba arrasando e destruindo matas, campos e terras.
(...) Era até perigoso sair de casa. O fogo ardia
em toda a região, espalhando-se até mesmo
sobre o Rio Cipó, que tem 20 braças de largura, e sobre outros menores. Não há canais,
água, leis, nada que proteja a região contra as
queimadas” (Silva, 1997).
Mapeamento de espécies indicadoras e dos
remanescentes florestais
O palmito-juçara (Euterpe edulis), pode ser encontrado, de forma esparsa, em toda a vertente oriental da Serra do Cipó, principalmente
junto aos cursos d’água que drenam as vertentes de Conceição do Mato Dentro, Morro
do Pilar e Itambé do Mato Dentro. Nas encostas de Itabira torna-se mais raro. A embaúbabranca (Cecropia hololeuca) é encontrada em todos os vales voltados para leste, inclusive
aqueles cujos rios drenam para a bacia do Rio
das Velhas, afluente do São Francisco. É o caso dos vales de Altamira (município de Nova
União) e do Sete (município de Taquaraçu de
Minas), totalmente recobertos por mata semidecídua ou capoeiras destas, ou ainda por extensos bananais que evidenciam a maior umidade nestes vales em comparação com a banda ocidental. A palmeira indaiá (Attalea
oleifera) é encontrada apenas na região do
Município de Morro do Pilar e parte setentrional do município de Itambé do Mato Dentro,
e é bastante conspícua em locais onde a cobertura florestal foi claramente removida, terrenos em grande parte ocupados por pastagens
de braquiária (Urochloa spp.). Já a palmeira
macaúba (Acrocomia aculeata) tem ampla ocorrência em todas as porções mais baixas da
área de estudo, sempre associada a solos mais
férteis, como apontado por Motta et al. (2002),
em avaliação das preferências da espécie no
Testemunhos recentes
Do amplo conjunto de pesquisadores que trabalharam na Serra do Cipó, alguns se dirigiram aos vales que drenam para a bacia do Rio
Doce, distanciando-se um pouco da estrada
principal (MG-010), ou estudaram os capões
de mata em elevada altitude, dispersos na
matriz graminóide, e reconheceram a afinidade florística e faunística destes com a Mata
Atlântica. Giulietti et al. (1987), ao sintetizarem e apresentarem os levantamentos florísticos realizados durante décadas na região, caracterizaram explicitamente as vertentes
orientais como afins à Mata Atlântica. MeloJunior et al. (2001) realizaram um amplo levantamento ornitológico na Serra do Cipó, e
nas matas com grande predominância de candeias, que consideraram como transição entre
campos rupestres e mata atlântica, encontraram 14 espécies de aves endêmicas da Mata
Atlântica, representando 5,1% das espécies
registradas, e enfatizaram o elevado grau de
destruição das formações florestais na região.
Oliveira et al. (2003) encontraram o sagüi
Callithrix geoffroyi nos capões de mata altimontanos e conjecturaram que a Serra do
Artigos Técnico-Científicos
38
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão
e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado
Estado. Na direção oeste, está sempre presente sobre solos associados às formações calcárias do Grupo Bambuí, que bordejam o maciço montanhoso; na direção leste, associa-se
aos solos mais ricos oriundos de rochas do
embasamento cristalino (FIGURA 3).
anãs, um correspondente da mata de neblina
associado aos afloramentos rochosos e solos
quartzosos, ou nas palavras de Oliveira-Filho
et al. (2006) para ambientes comparáveis em
Minas Gerais, “representam uma transição
dinâmica [dos campos rupestres ou de altitude] para as florestas Ombrófila Densa,
Ombrófila Mista e Estacional Semidecidual”.
Ocorre em todos os municípios a leste, com
exceção daqueles com drenagem para o rio
das Velhas.
Em relação à distribuição dos remanescentes
florestais ao longo das faixas de vegetação
conforme a classificação do GEOMINAS
(Mata Atlântica, Cerrado Leste, Campo
Rupestre e Cerrado Oeste), tem-se respectivamente as seguintes porcentagens de leste para oeste: 46%; 35%, 20% e 1%, e 19% da área
total analisada (FIGURA 4).
Limite estacionário de nuvens
A análise das imagens com maior nebulosidade mostrou uma constância na região de condensação de umidade na porção leste da
Serra do Espinhaço. O efeito orográfico resulta em uma linha de disposição de nebulosidade a barlavento da Serra (FIGURA 3), desde o
município de Itabira, seguindo sempre o contorno do maciço até o município de
Diamantina. O acúmulo de nuvens se deve à
influência da massa tropical atlântica, com
expressão variável ao longo do ano. A menor
ou maior atuação da massa tropical atlântica
leva a maior ou menor incidência de nebulosidade, no decorrer das estações do ano. No
entanto, a umidade permanece estacionária
com condensação de nebulosidade, mesmo
nos períodos secos, com registro de chuviscos, evidenciando um caráter totalmente orográfico do clima na região, em intenso contraste com a região melhor estudada, que fica
na sombra das chuvas, com menor precipitação que a capital Belo Horizonte.
Evidencia-se a concentração dos remanescentes a leste e o contraste entre as faixas consideradas como de cerrado a leste e a oeste da faixa classificada como de campo rupestre (35% e
1% respectivamente). Esta comparação ficaria
ainda mais enfática se não houvesse equívocos
no mapa de vegetação elaborado por Scolforo
& Carvalho (2006), em função da abrangência
do estudo (todo o estado). Em vistorias em
campo do referido mapa e a partir de comparações com mapa de vegetação elaborado especificamente para o plano de manejo das unidades de conservação a partir de classificação
não supervisionada de imagem ICONOS
(agosto de 2005) e verificações em campo
(ICMBio, 2008), pode-se constatar que no mapa para o estado, diversas áreas de floresta semidecidual em regeneração foram classificadas como cerrado típico, e as áreas invadidas
por samambaia (Pteridium aquilinum), características de solos anteriormente sob mata, não
foram classificadas, ou foram interpretadas como áreas de campo, genéricas. Os capões de
mata sobre solos férteis no seio dos campos rupestres também foram interpretados como encraves de vegetação de cerrado.
Proposição de novos limites entre biomas
A proposta de novo limite entre os biomas
considera conjuntamente a série de fatores e
indicadores analisados. A linha de condensação de umidade localizou-se ligeiramente a
oeste da linha de cumeada que divide as duas
grandes bacias hidrográficas da região – São
Francisco a oeste e Doce a leste. O posicionamento de linha de nebulosidade, que corresponde a uma média entre várias imagens, pode variar dependendo das imagens usadas
para compô-la. Já a linha de cumeada apre-
Mapeamento de Vellozia gigantea
A ocorrência de V. gigantea está associada a
afloramentos rochosos quartzíticos entre 1200
e 1400m de altitude, faixa em que há a condensação da umidade proveniente de leste
(FIGURA 3). Podem ser vistas como florestas
Artigos Técnico-Científicos
39
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro
INDICADORES
Embaúba
Indaiá
Macaúba
Palmito
INDAIÁ
PALMITO
MACAÚBA
EMBAÚBA
VELLOZIAS
PARMA Cipó
Limite APA
Neb. Estacionária
MA - Limite proposto
Projeção UTMASD69 - Fuso 23K
FIGURA 3: Apresentação do novo limite entre os Biomas Mata Atlântica e Cerrado na região da Serra do Cipó, Minas Gerais,
baseado nos divisores de águas, e o conjunto de variáveis que apoiaram a delimitação. Representa-se a distribuição das espécies indicadoras de Mata Atlântica na região de estudo conforme mapeamento: palmito: Euterpe edulis, embaúba: Cecropia
hololeuca, indaiá: Attalea oleifera, bem como a macaúba: Acrocomia aculeata, esta indicadora de fisionomias florestais sobre
solos mesotróficos, na região da Serra do Cipó. As manchas sólidas indicam as populações mapeadas de Vellozia gigantea e
pode-se ver sua associação com a nebulosidade. Os hachurados em diferentes padrões referem-se às áreas de ocorrência das
espécies indicadoras tendo como referência os vales visitados. A oeste só se registra a ocorrência da macaúba. A mancha em
tom de cinza indica o limite da nebulosidade estacionária proveniente de leste, que foi usada com auxílio, mas não como única base para delimitação entre biomas, uma vez que o limite por bacias não é fluido como as nuvens, e mais facilmente reconhecível em campo e em mapas.
Artigos Técnico-Científicos
40
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão
e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado
Limite PARNA
Limite APA
Vellozias
Divisor de Bacias
VEGETAÇÃO-IEF
Classificação
Cerrado Denso
Cerrado Ralo
Cerrado Típico
Floresta Semidecídua
Source: Instituto Estadual de florestas _ IEF/2005
Protection UTMSAD69: Fuso 23K
FIGURA 4: Apresentação do novo limite entre Mata Atlântica e Cerrado na região da Serra do Cipó, Minas Gerais, e sua relação com
a distribuição de remanescentes florestais. A figura apresenta os limites do Parque Nacional da Serra do Cipó, da APA Morro da
Pedreira além de uma ampla zona no entorno das duas unidades de conservação para permitir sua contextualização. Vê-se a distribuição dos remanescentes de acordo com classificação de Scolforo & Carvalho (2006), e as manchas em cor-de-rosa mostram a área
de ocorrência da Vellozia gigantea. A linha em azul limita as duas grandes bacias hidrográficas – dos rios Doce e São Francisco. A área
marcada em cinza, na porção direita da figura, refere-se à área total a ser considerada como Mata Atlântica na cena visualizada, conforme presente proposta. Observação: na bacia do Rio São Francisco, a oeste, vêem-se áreas de vegetação de cerrado. O mesmo padrão a leste, na bacia do Rio Doce, embora classificado como cerrado, corresponde na verdade a áreas com dominância de candeia,
possivelmente antigas áreas de mata atlântica. As grandes áreas brancas no centro do mapa correspondem à região de predomínio
dos campos rupestres, pontuados por capões de mata com freqüência classificados erroneamente como cerrado – há enclaves de cerrado, mas geralmente as áreas assim classificadas naquela porção do território são matas em estágios iniciais de regeneração.
Artigos Técnico-Científicos
41
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro
senta maior facilidade de identificação em
campo e não tem o problema da fluidez das
nuvens (ver TABELA 1). Já os demais fatores
(ocorrência de espécies indicadoras) coincidiram perfeitamente com este limite por grandes bacias hidrográficas. As exceções são os
vales do Sete e de Altamira (municípios de
Taquaraçu de Minas e Nova União, respectivamente), ambos na bacia do São Francisco,
porém voltados para leste, também sob forte
influência da massa de umidade verificada.
12.055 ha no Parque Nacional da Serra do
Cipó e 46.574 ha na APA Morro da Pedreira.
O cálculo da área a ser inserida na Mata
Atlântica a partir de nova delimitação foi feito, a título de exercício, para a região da Serra
do Cipó, até o município de Diamantina (paralelo 18oS). Na porção analisada, a Mata
Atlântica passaria de 810,9 mil para
914,1 mil ha, constituindo um acréscimo de
12,7%, utilizando-se os divisores de águas como limites entre os biomas, e passaria para
949,5 mil ha, se fosse utilizada a frente estacionária de nebulosidade como referência para a delimitação dos biomas.
Assim, optou-se por delimitação definida pelas cumeadas, sendo que nos vales do Sete e
de Altamira foram usadas as cumeadas de
seus respectivos vales, o que concorda tanto
com a linha de condensação de umidade
quanto com a fitofisionomia florestal ali verificada (FIGURA 3). Apresenta-se a área de
bioma Mata Atlântica a ser acrescida às duas
Unidades de Conservação conforme as duas
formas de delimitação (TABELA 1).
DISCUSSÃO
Fortes contrastes vegetacionais entre vertentes montanhosas é fenômeno comum, como é
o caso emblemático das Ilhas Canárias
(Fernández-Palacios & de Nicolás, 1995), mas
também de tantas outras regiões como as
montanhas andinas (Smith, 1972; Lüttge,
1997), as ilhas do Havaí (Nogushi, 1992), florestas subtropicais asiáticas (e.g. Chen et al.,
1997), dentre outras. Em geral, as vertentes a
barlavento, que recebem maior umidade,
apresentam vegetação de maior porte, e com
maior diversidade. Em outros casos, a intensidade do vento, como nas altas montanhas,
Com a divisão dos biomas, tendo como base
as drenagens, o Parque Nacional da Serra do
Cipó conteria 8.067 hectares de Mata
Atlântica (25% da área da UC) e a APA Morro
da Pedreira conteria 41.722 hectares (41,7%).
Uma eventual delimitação com base na nebulosidade estacionária resultaria em valores
maiores, uma vez que a umidade avança sobre os extensos planaltos, não se limitando
exatamente às vertentes orientais: seriam
Tabela 1. Área a ser acrescida ao bioma Mata Atlântica na porção sul da Serra do Espinhaço de acordo com a nova delimitação proposta, apresentando separadamente os cálculos para o Parque Nacional da Serra do Cipó, Área de Proteção Ambiental
Morro da Pedreira e Região desde a Serra do Cipó até a altura da cidade de Diamantina.
Região
A. Parque Nacional
da Serra do Cipó
(31.632 ha)
B. Área de Proteção
Ambiental Morro da Pedreira
(100.007 ha)
C. Serra do Cipó
até Diamantina
Proposta formalizada por este estudo:
limites de acordo com divisão entre bacias
(ha); (% da unidade de conservação)
Limites de acordo com a nebulosidade
como base par ao limite entre biomas
(ha); (% da unidade de conservação)
0
8.067 ha (25,5%)
0
12.055 ha (38,5%)
968
41.722 ha (41,7%)
968
46.574 ha (46,5%)
810.869
914.119 ha
810.869
949.448 ha
Artigos Técnico-Científicos
42
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão
e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado
que causam estresse mecânico e dessecação,
ou o efeito da salinidade em ambientes a beira-mar, levam à situação oposta - formações
mais complexas e estruturadas são encontradas em locais mais protegidos (Crawford,
1989; Nogushi, 1992; Lüttge, 1997). Ao longo
de uma mesma vertente podem ocorrer fortes
contrastes vegetacionais/ climáticos entre a
faixa diretamente afetada pela condensação
de umidade (faixa nebular) e a faixa acima
desta, em geral caracterizada por forte dessecação (e.g., Fernández-Palacios & de Nicolás,
1995).
no município de Itabira, resultem em tão pouco conhecimento biológico na região diretamente afetada.
A Vellozia gigantea e sua comunidade de epífitas, com espécies características da Mata
Atlântica, parcialmente protegida do fogo por
crescer em afloramentos rochosos diferencialmente alcançados pelos incêndios, e não afetada diretamente pela demanda por carvão e
lenha, persiste como testemunho da vegetação potencial associada à faixa nebular, com
espécies capazes de absorver a umidade atmosférica, favorecidas pelas chuvas orográficas. Nesta faixa podem ser encontradas variadas fisionomias, conforme condições edáficas
e climáticas (Sugden & Robins, 1979).
Os caminhos a leste utilizados pelos antigos
naturalistas não são mais usados com freqüência pelos pesquisadores contemporâneos, o que também explica a concentração
das pesquisas a oeste. Nas últimas décadas, o
acesso mais utilizado para a Serra do Cipó, a
partir de Belo Horizonte, é o que segue pela
rodovia MG-010, atravessa a região cárstica
de Lagoa Santa em meio à mais famosa vegetação de cerrado, estudada por Eugene
Warming (Warming, 1973), até a borda da serra, quando então uma estrada sinuosa e estreita segue até Diamantina, passando por extensas áreas de campos rupestres, e pelas cidades de Conceição do Mato Dentro e Serro.
Esta é a região mais conhecida e estudada da
Serra do Cipó, que concentrou levantamentos
botânicos (ver Giulietti et al., 1987, 1997 e
Pirani et al., 2003), bem como diversos estudos de fauna (e.g., Câmara & Murta, 2003;
Eterovick & Sazima, 2004, Rodrigues et al.,
2005). A estrada margeia os limites ocidentais
do Parque Nacional da Serra do Cipó e atravessa toda a porção ocidental da APA Morro
da Pedreira (FIGURA 1). O levantamento e
georreferenciamento de dados de pesquisa da
Serra do Cipó (Madeira et al., 2008) mostram
que das coletas listadas por 513 publicações,
com pontos que puderam ser georreferenciados, 75% foram realizadas nas proximidades
de estradas, principalmente a MG-010, que
cruza o cerrado e os campos rupestres a oeste, o que resulta em grande lacuna na vertente oriental, e apenas 17% dos pontos no interior do Parque Nacional.
Tais formações na faixa nebular e as matas
montanas na Serra do Cipó permanecem bastante desconhecidas pela comunidade científica, lacuna alarmante considerando o grau
de devastação das vertentes orientais em função da exploração mineral e carvão. É compreensível que em país das dimensões do
Brasil persistam lacunas imensas no conhecimento, mas é inaceitável que décadas de exploração mineral pela Cia Vale do Rio Doce,
As vertentes orientais da Serra do Cipó, estendendo-se em grande parte até Diamantina,
sempre foram incluídas no Bioma Cerrado
(SEA, 1980, SOS Mata Atlântica, 1990, SOS
Mata Atlântica/ISA/INPE, 1998, SOS Mata
Atlântica/INPE, 2002, IBGE 1988, 1993,
Scolforo & Carvalho, 2006). De acordo com os
mapas acima referidos, a cobertura por floresta atlântica deveria começar aproximadamente no ponto de inflexão entre o fim das ver-
Na Serra do Espinhaço, e especificamente na
Serra do Cipó, é bem claro que formações florestais, arbustivas e campestres são favorecidas pela umidade proveniente do atlântico, a
leste. O padrão torna-se um pouco mais complexo em função da influência edáfica, resultando por vezes no desenvolvimento de campos a leste, mesmo onde há maior umidade, e
de florestas estacionais a oeste, associadas a
latossolos. Contribui para o mosaico a elevada degradação das formações florestais.
Artigos Técnico-Científicos
43
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro
tentes montanhosas e as porções mais planas
deste território. Mas esta suposta linha não
tem qualquer correspondência com uma
eventual mudança na geologia, na tipologia
dos solos, no clima ou qualquer outro parâmetro objetivo. Não há tampouco descontinuidade vegetacional a leste ou a oeste desta
linha delimitadora que a justifique.
proposta, que se pauta na linha de cumeada
da serra, levaria a um acréscimo de 41.722 ha
na área considerada como Mata Atlântica na
APA Morro da Pedreira e 8.067 ha no interior
do Parque Nacional da Serra do Cipó.
Aumenta-se a área do bioma Mata Atlântica
dos municípios de Itabira, Itambé do Mato
Dentro e Morro do Pilar e dois municípios antes não incluídos no Bioma – Nova União e
Taquaraçu de Minas – passariam a ter extensa representatividade deste em seus territórios. O exercício feito para toda a vertente leste da Serra do Espinhaço meridional, desde a
Serra do Cipó até o paralelo 18oS, à altura de
Diamantina, com base na nebulosidade e divisores de bacias, aponta um incremento de
ca. 100.000 hectares ao bioma Mata Atlântica
(TABELA 1) nesta região. Aferições em campo, detalhadas, com informações sobre espécies indicadoras e solos em toda esta extensão
podem levar a ajustes mais finos na área até
Diamantina. O presente estudo mostra que o
uso do palmito-juçara e da palmeira indaiá
como indicadores de Mata Atlântica mostrase uma opção efetiva de balizamento, porém
mais conservadora do que o uso da embaúbabranca, que ocorre de forma também abundante nas áreas mais transicionais. Na presente proposta consideramos as áreas vastamente ocupadas pela embaúba-branca como
parte do domínio da Mata Atlântica em função, inclusive, da total continuidade com
áreas nele já oficialmente incluídas.
Na região da Serra do Cipó, a fronteira entre
o Cerrado e a Mata Atlântica pode ser, em alguns trechos, bastante abrupta, e coincide em
geral com o divisor de águas entre as bacias
dos rios Doce e das Velhas, como reconhecem
de modo trivial os moradores dos diversos
vales, por exemplo, ao mostrar saudades de
frutos que existem em apenas uma das vertentes (K.T. Ribeiro, obs. pess.). Nas cumeeiras das vertentes orientais, mesmo nas partes
mais altas da serra, vêem-se esparsos indivíduos remanescentes de palmito-juçara
(Euterpe edulis) junto aos pequenos córregos,
inteiramente ausentes do lado ocidental (capões florestais a oeste inventariados por
Meguro et al., 1996), atestando a mudança
drástica nas condições ambientais. Nas encostas orientais não são encontradas quaisquer
das espécies mais características do Cerrado,
como pequi (Caryocar brasiliense) ou cagaiteira
(Eugenia dysentherica), abundantes a oeste.
Já nos locais com planaltos mais extensos, as
descontinuidades verificadas já não se dão na
forma de transição abrupta e visível entre
Cerrado e Mata Atlântica. Na ampla faixa de
Campos Rupestres, constituídos por um conjunto de fisionomias que variam de campos
graminóides a feições arbustivas, com pontuações de capões de mata, fisionomias estas
determinadas por fatores predominantemente edáficos e muito afetadas por incêndios há
mais de 200 anos (Warming, 1973; Silva, 1997;
Ribeiro, 2007), tem-se uma gradação florística
de leste para oeste ainda não documentada
de forma sistemática – por exemplo, arbustos
de Myrsine spp. a leste e de Sthryphnodendrum
adstringens a oeste, pontuando os campos
abertos (K.T.Ribeiro, obs. pess.).
O Decreto No 750 de 1993, conhecido como
Decreto da Mata Atlântica, trouxe indiscutíveis avanços em termos de conservação do
bioma ao reduzir amplamente as possibilidades de uso direto, remoção da floresta e das
formações sucessionais. Levantamentos subseqüentes dos remanescentes florestais, realizados a cada cinco anos, que utilizaram tecnologia progressivamente melhor, permitiram detalhar o mapeamento e o reconhecimento de remanescentes (SOS Mata
Atlântica/ INPE: 1991 – 1:250.000; 1995 –
1:50.000), mas manteve-se sempre a delimitação originalmente proposta entre os biomas,
delineada em escala de 1:1.000.000 (Hirota,
2005). Nesta escala, uma linha já representa
A nova delimitação da Mata Atlântica aqui
Artigos Técnico-Científicos
44
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão
e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado
grande imprecisão, e ampliações de cartas deveriam idealmente ser acompanhadas por estudos e amostragens em campo, ou pelo menos, interpretadas com parcimônia. Na ação
cotidiana em campo, para a aplicação da lei,
estas linhas, corretas ou não, acabam se consagrando.
deira e para extração de óleo. Dada a intensidade da exploração e os incêndios freqüentes,
é muito provável que esta seja uma formação
não-climácica, e que na ausência de distúrbios uma formação florestal mais diversa a
suceda.
O esquecimento de que esta região era recoberta por mata atlântica pode ser entendido
pelo que Jared Diamond (2005) chamou de
‘amnésia de paisagem’, para denominar a
acomodação com a degradação e com a modificação contínua dos locais que habitamos.
Como visto nos relatos dos naturalistas do século XIX, o capim-gordura ou meloso
(Mellinis minutiflora), de origem africana, foi
um problema grave na região, porque ocupava as áreas de lavoura e os sitiantes não dispunham de ferramentas para combatê-lo. Por
outro lado, ainda havia muita mata a derrubar e terra a ocupar com gado - o que era condição para se pleitear sua posse - alimentando-se assim o desmatamento. Atualmente, no
início do século XXI, o capim-gordura já é visto como espécie nativa por toda a população
rural e novos processos de invasão biológica
extremamente agressivos estão ocorrendo. Os
campos nativos antropizados estão sendo
ocupados por capim-braquiária (Urochloa
spp.) e outras forrageiras de origem africana.
Esse processo é alimentado pelo imenso êxodo rural que leva à substituição da agricultura pela pecuária, de baixo rendimento, mas
menos trabalhosa que a lavoura.
Do ponto de vista conservacionista, a delimitação atual entre os biomas já representa um
ganho imenso em contraste a situação anterior (Pinto et al., 1996), uma vez que inclui as
florestas estacionais, as florestas mistas de
araucária e diversos ambientes ‘marginais’ da
Mata Atlântica (sensu Scarano, 2002), como os
costões rochosos, vegetação de restingas e
campos de altitude. Mas na Serra do Cipó esta imprecisão na delimitação resulta em omissão e falta de instrumentos adequados para se
lidar com o intenso processo de desmatamento de matas montanas e matas de neblina ainda não inventariadas, de diversidade sequer
estimada (Madeira et al., 2008), vizinha aos ricos campos rupestres do Parque Nacional da
Serra do Cipó.
As limitações existentes na interpretação de
imagens de satélite sem a verificação detalhada das verdades de campo e as dificuldades
impostas pelas escalas de trabalho, e que se
justificam muitas pela falta de recursos e dimensão do território, devem ser explicitadas
ao se publicarem mapas de vegetação, para
que o leitor tenha noção do grau de incerteza
envolvido no mapeamento. Neste ponto, surge a questão de como foram classificadas e de
como tratar as áreas recobertas pela candeia
(Eremanthus spp. ). As candeias são plantas
heliófitas, pioneiras, que tendem a crescer em
formações densas nas áreas desmatadas,
principalmente em regiões de solos com pouca umidade e menor fertilidade (Perez et al.,
2004). Nas imagens de satélite, a textura dos
candeais se assemelha à encontrada para fisionomias de Cerrado, tendo sido classificadas no mapeamento de Scolforo & Carvalho
(2006) em grande parte como campos (FIGURA 4). Os candeais ocupam quase toda a encosta oriental da Serra do Cipó, e são intensamente explorados para fornecimento de ma-
Artigos Técnico-Científicos
Campos rupestres ou campos de altitude?
Um fator que dificulta discussão sobre a inclusão da vertente leste da Serra do Cipó no
bioma Mata Atlântica é o entendimento, com
respaldo na legislação, de que os Campos
Rupestres estão inseridos no Cerrado e os
Campos de Altitude na Mata Atlântica, estes
associados a topos de morro e temperaturas
baixas. Neste caso, teríamos na Serra do Cipó
uma situação peculiar, que não pode ser entendida por estes conceitos – na bacia do Rio
Doce teríamos campos de altitude que, virando a linha divisória, se transformariam em
campos rupestres. Outro exemplo de que as
45
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro
categorias e suas definições são tantas vezes
insuficientes para abarcar as situações reais.
A terminologia proposta por Semir (1991) auxilia a tarefa de classificação - propõe que os
campos rupestres sejam chamados de ‘complexos vegetacionais sobre quartzito’, vegetação sob forte influência edáfica, composta pelas mais diversas fitofisionomias – campos
graminóides, vegetação arbustiva, capões de
mata; cuja fisionomia varia de acordo com a
qualidade e profundidade do solo, a disposição das rochas, padrões de drenagem, clima e
intrusões de rochas distintas, que favorecem
o desenvolvimento de encraves de cerrado ou
de mata. A influência do clima sobre esta vegetação e sobre a distinção das fitofisionomias é secundária em relação aos efeitos edáficos, mas também pode ser mensurada e refletida na composição florística.
ção específica da mata atlântica em toda a
borda leste.
Existe ainda uma especificidade na região – o
decreto de criação da APA Morro da Pedreira,
de 1990, estabelece que os campos rupestres
sejam considerados como Zona de Vida
Silvestre, não sendo permitidas construções a
não ser com caráter de proteção. Para o manejo das unidades de conservação tornou-se
fundamental também, portanto, a delimitação dos campos rupestres, e em consulta à comunidade científica referendou-se o limite
tendo como referência a cota de 900 m de altitude a oeste e de 1200 m a leste (ICMBio,
2007). Com base nestes limites, tem-se que
apenas 12,5% da área de 130 mil hectares das
duas unidades de conservação corresponderiam a fisionomias de Cerrado propriamente.
Apesar de toda a preocupação, justificada,
com a Mata Atlântica, percebe-se, mais uma
vez, que a proteção do Cerrado é negligenciada, e mesmo sem se ter consciência, a Mata
Atlântica foi favorecida na delimitação das
unidades de conservação no mosaico vegetacional da Serra do Cipó.
Por fim, têm-se já fortes evidências de que os
campos rupestres devem ser vistos como uma
vegetação bem individualizada tanto pela fisionomia como pelas características florísticas
de elevada riqueza de espécies e, principalmente de elevada especificidade e endemismo, mas que incorpora influências múltiplas,
sendo transição entre Cerrado e Mata
Atlântica e afetada por forte variação altitudinal, que lhe confere por vezes características
de vegetação tropical e também traços de vegetação com características temperadas.
Tamanha variação climática, aliada à diversidade topográfica e edáfica, pode explicar em
parte a destacada riqueza dos campos rupestres, sem considerar os mecanismos evolutivos subjacentes à forte especiação simpátrica,
ainda pouco compreendidos.
Agradecimentos:
Este trabalho é parte dos estudos para elaboração dos planos de manejo do Parque
Nacional da Serra do Cipó e da Área de
Proteção Ambiental Morro da Pedreira, conduzidos pelo ICMBio/IBAMA em parceria
com Conservação Internacional do Brasil,
Instituto Guaicuy / SOS Rio das Velhas
(Projeto Manuelzão) e Fundação O Boticário
de Proteção à Natureza (projeto no 0624 20042). As discussões com Carlos Schaefer,
Mauro Ribeiro, Marcos Rodrigues e Paulo T.
Sano em muito enriqueceram a compreensão
do sistema estudado, e as contribuições de
três revisores anônimos foram importantes
para maior clareza do trabalho.
Mesmo nesta gradação é possível uma delimitação mais precisa entre Mata Atlântica e
Cerrado, como a aqui proposta. Tal aumento
de precisão pode e deve resultar em ações
mais adequadas para cada um dos biomas
que compõem a Serra do Cipó, sejam de fiscalização e adequação da legislação, sejam de
estímulo de práticas sustentáveis considerando as especificidades biológicas e culturais.
No plano de manejo das duas unidades de
conservação, propõe-se a aplicação da legisla-
Artigos Técnico-Científicos
46
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão
e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado
vas.[or. fr. 1903]. In: Mauss, M. Ensaios de
Sociologia. Perspectiva. São Paulo.
REFERÊNCIAS
Almeida-Abreu, P.A. 1995. O Supergrupo
Espinhaço na Serra do Espinhaço Meridional
(Minas Gerais): O rifte, a bacia e o orógeno.
Geonomos 3 (1): 1-18.
Eterovick, P.C., Sazima, I. 2004. Anfíbios da
Serra do Cipó Minas Gerais, Brasil. Editora
PUCMinas, Belo Horizonte.
Ayensu, E.S. 1973. Biological and morphological aspects of the Velloziaceae. Biotropica 5:
135-149.
Fernández-Palacios, J.M.; de Nicolas, J.P.
1995. Altitudinal pattern of vegetation variation on Tenerife. Journal of Vegetation Science 6:
183-190.
Barros, F. de; Lourenço, R.A. 2004. Synopsis
of the Brazilian orchid genus Grobya, with the
description of two new species. Botanical
Journal of the Linnean Society 145: 119-127.
Giulietti, A.M., Menezes, N.L., Pirani, J.R.,
Meguro, M.; Wanderley, M.G.L. 1987. Flora
da Serra do Cipó: Caracterização e lista de espécies. Boletim de Botânica da Universidade de
São Paulo 9: 1-151.
Câmara, E.M.V., Murta, R. 2003. Mamíferos da
Serra do Cipó. Editora PUCMinas, Belo
Horizonte.
Giulietti, A.M., Pirani, J.R.; Harley, R.M. 1997.
Espinhaço range. In: Davis, S.D.; Heywood,
V.H.; Herrera-MacBryde, O; Villa-Lobos, J.
(eds.) Centres of Plant Diversity, Vol. 3. The
Americas. Pp. 397-404. National Museum of
Natural History, Smithsonian Institution.
Washington.
Câmara, I.G. 2005. Status do hot-spot da Mata
Atlântica, uma síntese. In: Galindo-Leal, C.;
Câmara, I. G. (eds.) Mata Atlântica –
Biodiversidade, Ameaças e Perspectivas. Pp. 3-11.
Fundação SOS Mata Atlântica/ Conservação
Internacional. Belo Horizonte.
Guimarães, C.M. 1991. A ocupação histórica
da região de Santana do Riacho. Arquivos do
Museu de História Natural 23: 13-32.
Cavelier, J.; Goldstein, G. 1989. Mist and fog
interception in elfin cloud forest in Colombia
and Venezuela. Journal of Tropical Ecology 5:
309-322.
Hirota, M.M. 2005. Monitoramento da cobertura da Mata Atlântica brasileira. In: GalindoLeal, C.; Câmara, I. G. (eds.) Mata Atlântica –
Biodiversidade, Ameaças e Perspectivas. Pp. 6065. Fundação SOS Mata Atlântica/
Conservação Internacional. Belo Horizonte.
Chen, Z.; Hsieh, C; Jiang, F., Hsieh, T.; Sun, I.
1997. Relations of soil properties to topography and vegetation in a subtropical rain forest
in southern Taiwan. Plant Ecology 132: 229-241
Chuvieco, E. 1996. Fundamentos de
Teledetección Espacial. Ediciones RIALP S.A.
Madrid.
Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio). 2007. Texto base para
a oficina de pesquisadores do plano de manejo do
Parque Nacional da Serra do Cipó e zoneamento
da APA Morro da Pedreira. Madeira, J.A.;
Ribeiro, K.T. (orgs.). I Seminário
Interdisciplinar de Pesquisadores da Serra do
Cipó, 11 a 14 de junho de 2007. Jaboticatubas.
Crawford, R.M.M. 1989. Studies in Plant
Survival. Blackwell, Oxford.
Diamond, J. 2005. Colapso. Editora Record.
Rio de Janeiro.
Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio). 2008. Plano de
Manejo do Parque Nacional da Serra do Cipó.
Madeira, J.A. (coord.). Em preparação.
Durkhein, E.; Mauss, M. 1981. Algumas formas primitivas de classificação: contribuição
para o estudo das representações coleti-
Artigos Técnico-Científicos
47
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Kátia Torres Ribeiro - Jaqueline Serafim do Nascimento - João Augusto Madeira - Leonardo Cotta Ribeiro
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). 1988. Mapa de Vegetação do Brasil.
Escala 1:5.000.000. IBGE. Rio de Janeiro.
Nogushi, Y. (1992) Vegetation asymmetry in
Hawaii under the trade wind regime. Journal
of Vegetation Science, 3: 223-230.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). 1993. Mapa de Vegetação do Brasil.
Escala 1:1.000.000. IBGE. Rio de Janeiro.
Oliveira, L.C., Câmara, E.M.V.C., Belarmino,
M.G.; Hirsh, A. 2003. Callithrix geoffroyi
(Primates: callithrichidae) and Alouatta caraya
(Primates: Atelidae) in the Serra do Cipó
National Park, Minas Gerais, Brazil.
Neotropical Primates 11(2): 86-89.
Lüttge, U. 1997. Physiological Ecology of
Tropical Plants. Springer, Berlin.
Madeira, J.A.; Fernandes, G.W. 1999.
Reproductive phenology of sympatric taxa of
Chamaecrista (Leguminosae) in Serra do Cipo,
Brazil. Journal of Tropical Ecology 15: 463-479.
Oliveira-Filho, A.T.; Fontes, M.A.L. 2000.
Patterns of Floristic differentiation among
Atlantic Forests in Southeastern Brazil, and
the influence of climate. Biotropica 32 (4b):
793-810.
Madeira, J.A., Ribeiro, K.T., Oliveira, M.J.R.,
Nascimento, J.S.; Paiva, C.L. 2008.
Espacialização da Informação Biológica sobre
a Serra do Cipó, Minas Gerais: Subsídios ao
Manejo das Unidades de Conservação da
Região. Megadiversidade (submetido).
Oliveira-Filho, A.T., Scolforo, J.R.S., Oliveira,
A.D.; Carvalho, L.M.T. 2006. Workshop para
definição e delimitação de domínios e subdomínios das paisagens naturais do estado de
Minas Gerais. In: Scolforo, J.R.; Carvalho,
L.M.T. (eds.) Mapeamento e Inventário da Flora
Nativa e dos Reflorestamentos de Minas Gerais.
Pp. 21-35. UFLA. Lavras.
Meguro, M., Pirani, J.R., Mello-Silva, R.,
Giulietti, A.M. 1996. Caracterização florística e
estrutural de matas ripárias e capões de altitude da Serra do Cipó, Minas Gerais. Boletim de
Botânica da Universidade de São Paulo 15: 13-29.
Perez, J.F.M., Scolforo, J.R.S., Oliveira, A.D.,
Mello, J.M., Borges, L.F.R.; Camolesi, J.F. 2004.
Sistema de manejo para a candeia –
Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish – a
opção do sistema de corte seletivo. Cerne,
Lavras 10 (2): 257-273.
Melo-Junior, T.A.; Vasconcelos, M.F;
Fernandes, G.W.; Marini, M.A. 2001. Bird
species distribution and conservation in Serra
do Cipó, Minas Gerais. Bird Conservation
International 11: 189-204.
Pinto, L.P., Costa, J.P.O.; Fonseca, G.A.B. 1996.
Workshop científico sobre a Mata Atlântica.
Belo
Horizonte.
Disponível
em
http//:www.aliancamataatlantica.org.br/lim
ites.thml. Acesso em 28/12/2006.
Menezes, N. L.; Mello-Silva, R. 1999. Two new
Brazilian Velloziaceae, Vellozia auriculata and
Vellozia gigantea and key to the related dracenoid species of Vellozia. Novon 9: 536-4541.
Pirani, J.R., Mello-Silva, R.; Giulietti, A.M.
2003. Flora de Grão-Mogol, Minas Gerais.
Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo
21 (1): 1-24.
Motta, P.E.F da, Curi, N., Oliveira-Filho, A.T.;
Gomes, J.B.V. 2002. Ocorrência da macaúba
em Minas Gerais: relação com atributos climáticos, pedológicos e vegetacionais. Pesquisa
Agropecuária Brasileira 37 (7): 1023-1031.
Ribeiro, L.C., Filippo, D.C.; Madeira, J.A.,
Nascimento, J.S. e Ribeiro, K.T. Distribuição
Geográfica e comunidade epifítica de Vellozia
gigantea (Velloziaceae): espécie endêmica restrita à faixa nebular oriental da Serra do Cipó,
MG. Em preparação.
Myers, N., Mittermeier, R.A., Mittermeier,
C.G., Fonseca, GAB; Kent, J. 2000.
Biodiversity Hotspots for Conservation
Priorities. Nature 403:853–858.
Artigos Técnico-Científicos
48
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49
Aferição dos limites da Mata Atlântica na Serra do Cipó, MG, Brasil, visando maior compreensão
e proteção de um mosaico vegetacional fortemente ameaçado
Ribeiro, K.T. 2007. História de Sísifo ou de
Odisseu? Aspectos biológicos, sociais, ideológicos e estratégicos do combate ao fogo na
Serra do Cipó, Minas Gerais, Brasil. Palestra.
Anais do IV Simpósio Sul-Americano de
Incêndios sobre Prevenção e Combate a Incêndios
Florestais. UFV. Belo Horizonte.
SOS Mata Atlântica. 1990. Atlas dos
Remanescentes Florestais e Ecossistemas
Associados da Mata Atlântica.
SOS Mata Atlântica; Instituto Sócio Ambiental (ISA); Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE). 1998. Atlas da Evolução dos
Remanescentes Florestais da Mata Atlântica:
1990-1995.
Rizzini, C.T. 1997. Tratado de Fitogeografia do
Brasil: aspectos ecológicos, sociológicos e florísticos. Âmbito Cultural Edições LTDA. Rio de
Janeiro.
SOS Mata Atlântica; Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE). 2002. Atlas da
Evolução dos Remanescentes Florestais da
Mata Atlântica: 1995-2000.
Rodrigues, M.; Carrara, L.A.; Faria, L.P.;
Gomes, H.B. 2005. Aves do Parque Nacional
da Serra do Cipó: o Vale do Rio Cipó, Minas
Gerais, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 22
(2): 326–338.
Sugden, A.M.; Robins, R.J. 1979. Aspects of
the ecology of vascular epiphytes in
Colombian cloud forests, I. The distribution
of the epiphytic flora. Biotropica 11: 173-188.
SEA. 1980. Atlas de zoneamento agroclimático do
estado de Minas Gerais. Digitalizado pela
EMATER, compilado pela PRODEMGE 1996
(www.geominas.mg.gov.br).
Sutherland, W.J. 2000. The Conservation
Handbook – Research, Management and Policy.
Blackwell Science Ltda, Oxford.
Warming, E. 1973. Lagoa Santa. EDUSP/
Itatiaia. São Paulo.
Scarano, F.R. 2002. Structure, function and
floristic relationships of plant communities in
stressful hábitats marginal to the brazilian
Atlantic Rainforest. Annals of Botany 90: 517524.
Scolforo, J.R.; Carvalho, L.M.T. (eds.) 2006.
Mapeamento e inventário da flora nativa e dos reflorestamentos de Minas Gerais. UFLA. Lavras.
Scolforo, J.R., Oliveira, A.D.; Davide, A.C.
2006. Manejo sustentado das candeias
Eremanthus erythropappus (DC.) e Eremanthus
incanus (Less.) Less. Disponível em
http://www.nucleoestudos.ufla.br/manual_
simplificado.pdf, consultado em 21/12/2006.
Semir, J. 1991. Revisão taxonômica de
Lychnophora Mart. (Vernoniaceae: Compositae).
Tese de Doutorado. UNICAMP, Campinas.
Silva, D.G.B. da (org.). 1997. Os diários de
Langsdorff, Vol. 1. In: Komissarov, B. et al.
(eds.). Associação Internacional de Estudos
Langsdorf. Campinas. Fiocruz. Rio de
Janeiro.
Artigos Técnico-Científicos
49
Natureza & Conservação - vol. 7 - nº1 - Abril 2009 - pp. 30-49