N - Arautos em Portugal
Transcrição
Número 87 Agosto 2010 Um tesouro desconhecido A Festa da Transfiguração convida-nos a dirigir o olhar para “o alto”, para o Céu. Na narração evangélica da Transfiguração no monte, é-nos dado um sinal premonitório, que nos permite lançar um rápido olhar para onde também nós, no final da nossa existência terrena, poderemos participar na glória de Cristo, que será completa, total e definitiva. Então todo o universo será transfigurado e realizar-se-á finalmente o desígnio divino da salvação. (Bento XVI, Angelus, 5/8/2007) Gustavo Kralj, per concessione del Ministero dei Beni Culturali della Repubblica Italiana “Transfiguração do Senhor”, por Fra Angelico Museu de San Marco, Florença (Itália) SumáriO Flashes de Fátima Boletim da Campanha “O Meu Imaculado Coração Triunfará!” Ano XII nº 87 - Agosto 2010 Director: Manuel Silvio de Abreu Almeida Conselho de redacção: Guy Gabriel de Ridder, Juliane Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto Blanco Cortés, Mariana Morazzani Arráiz, Severiano Antonio de Oliveira Editor: Associação dos Custódios de Maria R. Dr. António Cândido, 16 1050-076 Lisboa I.C.S./D.R. nº 120.975 Dep. Legal nº 112719/97 Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959 www.arautos.pt / www.arautos.org.br E-mail: [email protected] Assinatura anual: 24 euros Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Inesgotáveis tesouros a nosso alcance (Editorial) . . . . . . . . . . . . . . . . 5 A voz do Papa – Memorial do Sacrifício de Cristo e testemunho . . . da . . .caridade .................. 6 10 Os sacramentais Um tesouro desconhecido ...................... ...................... 32 São Pedro Julião Eymard – Apóstolo da Eucaristia Comentário ao Evangelho – Antídoto para a vanglória? ...................... Atualidade do pensamento de São Tomás de Aquino 18 ...................... 36 Aconteceu na Igreja e no mundo ...................... 40 História para crianças... O poço do milagre ...................... 46 Com a colaboração da Associação Privada Internacional de Fiéis de Direito Pontifício Arautos do Evangelho Impressão e acabamento: Pozzoni - Istituto Veneto de Arti Grafiche S.p.A. Arautos no mundo ...................... Os santos de cada dia 24 ...................... 48 Via L. Einaudi, 12 36040 Brendola (VI) Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos, desde que se indique a fonte e se envie cópia à Redacção. O conteúdo das matérias assinadas é da responsabilidade dos respectivos autores. Membro da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã Tiragem: 40.000 exemplares A hora do xeque-mate O Rio da Grandeza ...................... 29 ...................... 50 E screvem Exemplo de ação evangelizadora Recebi o DVD Arautos do Evangelho, juntamente com a revista de abril, correspondente ao exemplar número 100 de minha assinatura. Muito grato e parabéns pelo DVD! Tenho grande admiração pelos Arautos e por sua magnífica revista. Esta associação é um excelente exemplo de ação evangelizadora. As características de sua disciplina e a beleza de suas ações litúrgicas encantam pela perfeição. O bem que a existência desta instituição faz à Igreja é uma graça divina, não há dúvida. Temístocles Xavier de Menezes Recife – Brasil Júbilo e ação de graças Com muita honra e bastante agradecido, acuso o recebimento da Revista Arautos do Evangelho de número 100, veículo de comunicação internacional que goza de grande aceitação em várias partes do mundo, por suas agradáveis mensagens de fé e esperança em cada edição, através do valor de seus artigos. Foi de uma felicidade ímpar a ideia de colocar no número 100 o artigo intitulado Júbilo e ação de graças, uma retrospectiva dos oito anos de vida da revista, elaborada pela Ir. Carmela Werner Ferreira, onde aparece a aprovação da instituição por parte de tantas autoridades e personagens da Igreja, ao longo deste tempo. Como católico, vejo a Revista Arautos do Evangelho, como uma dádiva de Deus. A beleza da revista está fundamentada na riqueza de suas mensagens, envolvendo grandes personagens que dedicaram sua vida à Igreja. Assim como o Mons. João Scognamiglio Clá Dias, uma cabeça pensante na revista, que não 4 Flashes de Fátima · Agosto 2010 os leitores pode ser separado da mesma, pois, além de ser seu criador, tem a importante tarefa de comentar o Evangelho. Seus artigos são tão esclarecedores, que têm se tornado matéria especial para todo católico ler com bastante carinho. Antônio Carlos Catão Osasco – Brasil Ordem, disciplina e respeito à Hierarquia A revista é excelente, pois nos ajuda a aprender mais sobre nossa Igreja e faz crescer nossa Fé, sendo um bálsamo para a vida conturbada dos dias de hoje. A qualidade da revista demonstra a ordem, a disciplina e o respeito à Hierarquia, por parte dos Arautos. Isso é um reflexo do que deve ser em conjunto nossa Igreja Católica, Apostólica e Romana. Edgar Prieto Guatemala – Guatemala Artigos que nos enriquecem Há algum tempo estava para mandar um e-mail para comentar a qualidade da revista mensal dos Arautos do Evangelho. No mês de junho, li algumas matérias das quais gostei bastante como: Os doze frutos do Espírito Santo, Entrevista com Dom Mário Marquez, O Deus que me chama é Amor e Reconstruir com Deus no centro pela salvação das almas. Que maravilha podermos contar com artigos tão brilhantes, que nos enriquecem o conhecimento e a alma! José Tarcísio Oliveira Rosa Via e-mail – Brasil Pregar a unidade com os irmãos separados Vossa revista é simplesmente maravilhosa. Por isso gostaria de sugerir a publicação de artigos que mostrem aos católicos de rito latino a beleza e a riqueza espiritual e histórica das Igrejas Orientais Católicas (Melquita, Armênia, Copta, Caldeia), com ênfase na espetacular história dos cristãos na Índia, seguidores fiéis da Fé cristã pregada pelo Apóstolo Tomé. Acredito que divulgar esta realidade se alinhe com a vontade de Sua Santidade, o Papa, de pregar a unidade da Igreja Católica, sobretudo com os irmãos separados que se encontram na Igreja Ortodoxa. A unidade em Cristo virá em breve! Que Deus abençoe vosso serviço à Igreja de Deus e que Maria Santíssima vos guarde! João Abud São Paulo – Brasil Temas interessantes e atuais Esta revista me encanta. Leio-a com fruição, por seus artigos sobre temas tão interessantes e atuais, pela retransmissão de acontecimentos muito caros a nós, que veneramos a Virgem Maria, e pelas simpáticas histórias para crianças e adultos. Tudo isso ilustrado com belíssimas gravuras. María Luz Tejerina Canal Reus – Espanha Aumento do amor a Nossa Senhora Gostaríamos de parabenizá-los pelo excelente trabalho de evangelização e propagação da devoção mariana por meio de veículos de comunicação impressos e sonoros. Após a visita dos Arautos do Evangelho à nossa paróquia, é perceptível o aumento do amor a Nossa Senhora. Muitos passaram a receber o Oratório do Imaculado Coração de Maria em suas casas ou se fizeram assinantes desta revista. Gostaríamos de veicular no site da paróquia o clipe referente ao “Hino de Fátima” que vocês fizeram, e está muito bonito. Renata Maria Bourguignon Torres Equipe do site da Paróquia de São Francisco de Assis Vila Velha – Brasil Editorial Inesgotáveis tesouros a nosso alcance D 87 Número 0 201 Agosto hecido ro descon Um tesou Sacerdote arauto abençoando jovens da catequese (Foto: Sérgio Miyazaki e Otávio de Melo) ispôs a Providência uma regra arquitetônica segundo a qual, na natureza, o que é valioso tende a ser raro, ou, em outros termos, a qualidade costuma ser inversamente proporcional à quantidade. Com efeito, no reino mineral, o ouro é bem menos abundante do que o ferro. E, no vegetal, constituem as plantas floridas uma agradável exceção no meio do panorama das monótonas savanas, bosques e selvas que cobrem boa parte da superfície da terra. A ordem sobrenatural, entretanto, não é regida por essa lei, suplantada que foi pela infinita misericórdia divina. Assim, os cristãos temos à nossa disposição um tesouro a um tempo acessível, valioso e inesgotável. Compõem-no, em primeiro lugar, os sete Sacramentos, instituídos pelo próprio Cristo, indispensáveis para alcançar a vida eterna. Destaca-se entre eles a Eucaristia, cuja doutrina nos foi lembrada recentemente pelo Papa, ressaltando não ser ela devidamente compreendida em todo o seu valor e relevância (ver p.6-9). Contudo, além dos Sacramentos — as mais preciosas joias desse bendito tesouro —, existem “gemas” e “pérolas” de menor valor, mas nem por isso dignas de menosprezo: são os sacramentais (ver p.18-23). Não importa que se trate de um advogado ou de uma professora, de uma dona de casa ou de um trabalhador manual, de um médico ou de uma cientista. Qualquer que seja nossa profissão ou situação, todos os católicos devemos viver cientes da nossa condição de batizados, membros da Santa Igreja, procurando, em consequência, santificar todos os atos da vida diária: trabalho, estudos, conversas, refeições, viagens e até os momentos de lazer. Não em vão tem insistido o Magistério eclesiástico recente na necessidade de sacralizar todos os aspectos da nossa existência terrena: Pio XII convidou os leigos para a árdua tarefa da consecratio mundi; Paulo VI fez sua essa expressão, utilizando-a em diversos documentos; e o Concílio, através da Lumen gentium, convoca todos a agirem santamente, como adoradores que consagram a Deus o próprio mundo (cf. Lumen gentium, n.34). Trata-se, em palavras de João XXIII, de “impregnar de Cristianismo” a ordem temporal (cf. Mater et magistra, n.231). Para a realização dessa tarefa, proporciona a Igreja, entre outros instrumentos, o inestimável auxílio dos sacramentais. Eles santificam desde os acontecimentos mais solenes da vida, como a profissão religiosa ou a consagração das virgens, até os atos mais corriqueiros, como são as refeições. Figuram também, entre eles, certos objetos como os sinos das igrejas, as palmas do Domingo de Ramos ou a água benta. Se é verdade que, estritamente, não são os sacramentais indispensáveis à nossa salvação, contudo, se alguém os desprezar, não estará negligenciando sua santificação e se comportando como o estulto que, diante de uma arca cheia de peças de ouro, diamantes, safiras, rubis e esmeraldas, lhe volta as costas? Agosto 2010 · Flashes de Fátima 5 A voz do Papa Memorial do Sacrifício de Cristo e testemunho da caridade A doutrina sobre a Eucaristia, mistério central no qual está contido todo o bem espiritual da Igreja, não é hoje compreendida de modo suficiente. É necessário que se difunda o empenho de anunciá-la. E stou ao corrente do grande trabalho que as paróquias, as associações e os movimentos [da Diocese de Roma] realizaram, através de encontros de formação e de confronto, para aprofundar e viver melhor estes dois componentes fundamentais da vida e da missão da Igreja e de cada crente individualmente. Isto favoreceu esta corresponsabilidade pastoral que, na diversidade dos ministérios e dos carismas, deve difundir-se cada vez mais se desejamos que o Evangelho alcance realmente o coração de cada habitante de Roma. Muito já foi feito, e por isso damos graças ao Senhor; mas ainda falta fazer muito, sempre com a Sua ajuda. Doutrina não suficientemente compreendida A Fé nunca pode ser pressuposta, porque cada geração precisa receber este dom mediante o anúncio do Evangelho e conhecer a verdade que Cristo nos revelou. Por conseguinte, a Igreja está sempre comprometida a propor a todos o de6 Flashes de Fátima · Agosto 2010 pósito da Fé; nele está contida também a doutrina sobre a Eucaristia — mistério central no qual “está contido todo o bem espiritual da Igreja, ou seja, o próprio Cristo, nossa Páscoa” (Conc. Vat. II, Decr. Presbyterorum ordinis, n.5) — doutrina que hoje, infelizmente, não é compreendida de modo suficiente no seu valor profundo e na sua relevância para a existência dos crentes. Por isso é importante que um conhecimento mais aprofundado do mistério do Corpo e do Sangue do Senhor seja sentido como uma exigência pelas diversas comunidades da nossa Diocese de Roma. Ao mesmo tempo, no espírito missionário que queremos alimentar, é necessário que se difunda o empenho de anunciar esta fé eucarística, para que cada homem encontre Jesus Cristo que nos revelou o Deus “próximo”, amigo da humanidade, e a testemunhe com uma eloquente vida de caridade. Memorial que reproduz a força e eficácia salvífica do Sacrifício Em toda a Sua vida pública Jesus, mediante a pregação do Evangelho e dos sinais milagrosos, anunciou a bondade e a misericórdia do Pai em relação ao homem. Esta missão alcançou o ápice no Gólgota, onde Cristo crucificado revelou o rosto de Deus, para que o homem, contemplando a Cruz, possa reconhecer a plenitude do amor (cf. BENTO XVI, Deus caritas est, n.12). O Sacrifício do Calvário é misteriosamente antecipado na Última Ceia, quando Jesus, partilhando com os Doze o pão e o vinho, os transforma no Seu Corpo e no Seu Sangue, que pouco depois Ele ofereceria como Cordeiro imolado. A Eucaristia é o memorial da morte e Ressurreição de Jesus Cristo, do Seu amor até ao fim por todos nós, memorial que Ele quis confiar à Igreja para que fosse celebrado nos séculos. Segundo o significado do verbo hebraico zakar, o “memorial” não é simples recordação de algo que aconteceu no passado, mas celebração que atualiza aquele acontecimento, de modo a reproduzir a sua força e a eficácia salvífica. Assim “torna-se presente e atual o sacrifí- L'Osservatore Romano uma adequada valorização da riqueza dos sinais e dos gestos, favorece e promove o crescimento da fé eucarística. Na Celebração Eucarística nós não inventamos algo, mas entramos numa realidade que nos precede, aliás, que abraça céu e terra e, portanto, também passado, futuro e presente. Esta abertura universal, este encontro com todos os filhos e filhas de Deus é a grandeza da Eucaristia: vamos ao encontro da realidade de Deus presente no Cristo está verdadeira, Corpo e Sangue do Ressusreal e substancialmente citado entre nós. presente Por conseguinte, as na Eucaristia prescrições litúrgicas ditadas pela Igreja não são coiNa oferta que Jesus faz sas exteriores, mas expride Si mesmo encontramos mem concretamente esta toda a novidade do culto realidade da revelação do cristão. Na Antiguidade os Vista geral da Basílica de São João de Latrão, Corpo e Sangue de Crishomens ofereciam em saCatedral de Roma, durante o discurso com que Bento to, e assim a oração revecrifício às divindades os XVI abriu o Congresso Eclesial Diocesano la a fé, segundo o antigo animais ou as primícias da terra. Jesus, ao contrário, oferece- quela ocasião foram inseridas na princípio lex orando – lex credendi. E Se a Si mesmo, o Seu Corpo e toda profissão de fé as seguintes expres- por isso podemos dizer que “a mea Sua existência: Ele mesmo em pes- sões: “o Seu Corpo e o Seu Sangue lhor catequese sobre a Eucaristia é soa Se torna sacrifício que a Litur- estão verdadeiramente contidos no a própria Eucaristia bem celebrada” gia oferece na Santa Missa. De fato, Sacramento do altar, sob as espé- (BENTO XVI, Exort. Ap. pós-sinocom a consagração, o pão e o vinho cies do pão e do vinho, porque o dal Sacramentum caritatis, n.64). É necessário que na Liturgia sotornam-se o Seu verdadeiro Corpo e pão é transubstanciado no Corpo, e o vinho no Sangue pelo poder divi- bressaia com clareza a dimensão Sangue. transcendente, a do Mistério, do enSanto Agostinho convidava os no” (DS, 802). Portanto, é fundamental que nos contro com o Divino, que ilumina e seus fiéis a não se deterem sobre o que tinham diante dos olhos, mas a itinerários de educação das crianças, eleva também a “horizontal”, ou seolhar para mais longe: “Reconhe- dos adolescentes e dos jovens na Fé, ja, o vínculo de comunhão e de solicei no pão — dizia — aquele mesmo assim como nos “centros de escuta” dariedade que existe entre quantos Corpo que foi pregado na Cruz, e da Palavra de Deus, se ressalte que pertencem à Igreja. De fato, quando no cálice aquele mesmo Sangue que no Sacramento da Eucaristia Cristo prevalece esta última não se comestá verdadeira, real e substancial- preende plenamente a beleza, a prosaiu do Seu lado” (Disc. 228 b, 2). fundidade e a importância do mistéPara explicar esta transforma- mente presente. rio celebrado. ção, a teologia cunhou a palavra “A melhor catequese sobre Queridos irmãos no sacerdócio, a “transubstanciação”, palavra que a Eucaristia é a própria vós o Bispo confiou, no dia da Orressoou pela primeira vez nesta BaEucaristia bem celebrada” denação sacerdotal, a tarefa de presílica durante o IV Concílio Lateranense, do qual daqui a cinco anos A Santa Missa, celebrada no res- sidir à Eucaristia. Tende sempre a se celebrará o VIII centenário. Na- peito das normas litúrgicas e com preocupação pela prática desta mis- cio que Cristo ofereceu ao Pai, de uma vez para sempre, na Cruz em benefício da humanidade” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n.280). Queridos irmãos e irmãs, no nosso tempo a palavra sacrifício não é apreciada, aliás parece pertencer a outras épocas e a outro modo de entender a vida. Mas ela, se for bem compreendida, é e permanece fundamental, porque nos revela com que amor Deus, em Cristo, nos ama. Agosto 2010 · Flashes de Fátima 7 E tenhamos presente também que a Eucaristia, ligada à Cruz, à Ressurreição do Senhor, ditou uma nova estrutura ao nosso tempo. O Ressuscitado manifestou-Se no dia depois do sábado, o primeiro dia da semana, dia do sol e da criação. Desde o início os cristãos celebraram o seu encontro com o Ressuscitado, a Eucaristia, neste primeiro dia, neste novo dia do verdadeiro Sol da História, Cristo Ressuscitado. E assim o tempo começa sempre de novo com o encontro com o Ressuscitado e este encontro dá conteúdo e força à vida de cada dia. Por isso é muito importante, para nós cristãos, seguir este ritmo novo do tempo, encontrar-nos com o Ressuscitado no domingo e assim “levar” conosco esta Sua presença, que nos transforme e transforme o nosso tempo. Além disso, convido todos a redescobrir a fecundidade da Adoração Eucarística: diante do Santíssimo Sacramento experimentamos de modo muito particular aquele “permanecer” de Jesus, que Ele mesmo, no Evangelho de João, põe como condição necessária para dar muito fruto (cf. Jo 15, 5) e evitar que a nossa ação apostólica se reduza a um estéril ativismo, mas seja ao contrário testemunho do amor de Deus. que partimos não é a comunhão do Corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão” (I Cor 10, 16-17). De fato, é a Eucaristia que transforma um simples grupo de pessoas em comunidade eclesial: a Eucaristia faz a Igreja. Portanto, é fundamental que a celebração da Santa Missa seja efetivamente o ápice, a “estrutura portante” da vida de cada comunidade paroquial. Exorto todos a cuidar do melhor modo, também através de grupos litúrgicos apropriados, a preparação e a celebração da Eucaristia, para que quantos nela participam possam encontrar o Senhor. É Cristo ressuscitado, que Se torna presente no nosso hoje e nos reúne à Sua volta. Alimentando-nos d’Ele, somos libertados dos vínculos do individualismo e, através da comunhão com Ele, tornamo-nos nós próprios, juntos, uma só coisa, o Seu Corpo Místico. Deste modo são superadas as diferenças devidas à profissão, à classe, à nacionalidade, porque nos descobrimos membros de uma única grande família, a dos filhos de Deus, na qual a cada um é concedida uma graça particular para utilidade comum. O mundo e os homens não têm necessidade de uma ulterior agregação social, mas precisam da Igreja, que é em Cristo como um Sacramento, “ou seja, sinal e instrumento da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (Lumen gentium, n.1), chamada a fazer resplandecer sobre todas as nações a luz do Senhor ressuscitado. É a Eucaristia que faz a comunidade eclesial O amor de Deus modifica radicalmente o nosso coração A comunhão com Cristo é sempre também comunhão com o Seu corpo que é a Igreja, como recorda o Apóstolo Paulo dizendo: “O pão Jesus veio para nos revelar o amor do Pai, porque “o homem sem amor não pode viver” (João Paulo II, Redemptor hominis, são: celebrar os divinos mistérios com intensa participação interior, para que os homens e as mulheres da nossa cidade possam ser santificados, postos em contato com Deus, verdade absoluta e amor eterno. Missa dominical e Adoração Eucarística 8 Flashes de Fátima · Agosto 2010 n.10). De fato, o amor é a experiência fundamental de cada ser humano, isto é, que dá significado ao viver cotidiano. Alimentados pela Eucaristia, também nós, a exemplo de Cristo, vivemos para Ele, para sermos testemunhas do amor. Recebendo o Sacramento, nós entramos em comunhão de sangue com Jesus Cristo. Na concepção judaica, o sangue indica a vida; assim podemos dizer que alimentando-nos do Corpo de Cristo acolhemos a vida de Deus e aprendemos a ver a realidade com os Seus olhos, abandonando a lógica do mundo para seguirmos a lógica divina da doação e gratuidade. Santo Agostinho recorda que durante uma visão pareceu-lhe ouvir a voz do Senhor, o qual dizia: “Eu sou o alimento dos adultos. Cresce, e alimentar-te-ás de Mim, sem por isso Me transformares em ti, como o alimento da tua carne; mas tu transformar-te-ás em Mim” (cf. Confissões VII, 10, 16). Quando recebemos Cristo, o amor de Deus expande-se no nosso íntimo, modifica radicalmente o nosso coração e torna-nos capazes de gestos que, pela força divulgadora do bem, podem transformar a vida de quantos estão ao nosso lado. A caridade é capaz de gerar uma mudança autêntica e permanente da sociedade, agindo nos corações e nas mentes dos homens, e quando é vivida na verdade “é a principal força propulsora para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira” (Caritas in veritate, n.1). O testemunho da caridade para o discípulo de Jesus não é um sentimento passageiro, mas ao contrário é o que plasma a vida em qualquer circunstância. Encorajo todos, em particular a Caritas e os Diáconos, a comprometerem-se no delicado e fundamental campo da educação na caridade, como dimensão L'Osservatore Romano permanente da vida pessoal e comunitária. Sejamos solidários com aqueles que vivem na indigência Esta nossa cidade pede aos discípulos de Cristo, com um renovado anúncio do Evangelho, um testemunho mais claro e límpido da caridade. É com a linguagem do amor, desejosa do bem integral do homem, que a Igreja fala aos habitantes de Roma. Nestes anos do meu ministério como vosso Bispo, tive ocasião de visitar vários lugares onde a caridade é vivida de modo intenso. Estou grato a quantos se comprometem nas diversas estruturas caritativas, pela dedicação e generosidade com que servem os pobres e os marginalizados. As necessidades e a pobreza de tantos homens e mulheres interpelam-nos profundamente: é o próprio Cristo que todos os dias, nos pobres, nos pede que Lhe seja saciada a fome e a sede, visitado nos hospitais e nas prisões, acolhido e vestido. A Eucaristia celebrada impõe-nos e ao mesmo tempo torna-nos capazes de nos transformarmos, por nossa vez, em pão repartido para os irmãos, indo ao encontro das suas exigências e doando-nos a nós mesmos. Por isso, uma Celebração Eucarística que não faz encontrar os homens lá onde eles vivem, trabalham e sofrem, para lhes levar o amor de Deus, não manifesta a verdade que contém. Para sermos fiéis ao mistério que se celebra nos altares devemos, como nos exorta o Apóstolo Paulo, oferecer os nossos corpos, a nós mesmos, em sacrifício espiritual agradável a Deus (cf. Rm 12, 1) naquelas circunstâncias que exigem que se faça morrer o nosso eu e constituem o nosso “altar” cotidiano. Bento XVI durante o discurso, tendo à sua direita o Vigário Geral para a Diocese de Roma, Cardeal Agostino Vallini Os gestos de partilha criam comunhão, renovam o tecido das relações interpessoais, orientando-as para a gratuidade e para o dom, e permitem a construção da civilização do amor. Num tempo como o atual, de crise econômica e social, sejamos solidários com aqueles que vivem na indigência, para oferecer a todos a esperança de um amanhã melhor e digno do homem. Se vivermos realmente como discípulos do Deus-Caridade, ajudaremos os habitantes de Roma a descobrirem-se irmãos e filhos do único Pai. Escolher o amor como regra suprema de vida A própria natureza do amor exige opções de vida definitivas e irrevogáveis. Dirijo-me em particular a vós, caríssimos jovens: não tenhais medo de escolher o amor como a regra suprema da vida. Não tenhais medo de amar Cristo no sacerdócio e, se sentirdes no coração a chamada do Senhor, segui-O nesta extra- ordinária aventura de amor, abandonando-vos com confiança a Ele! Não tenhais medo de formar famílias cristãs que vivem o amor fiel, indissolúvel e aberto à vida! Testemunhai que o amor, tal como o viveu Cristo e o ensina o Magistério da Igreja, de nada priva a nossa felicidade, mas ao contrário doa aquela alegria profunda que Cristo prometeu aos Seus discípulos. A Virgem Maria acompanhe com a Sua materna intercessão o caminho da nossa Igreja de Roma. Maria, que de modo totalmente singular viveu a comunhão com Deus e o sacrifício do próprio Filho no Calvário, nos obtenha que vivamos cada vez mais intensa, piedosa e conscientemente o mistério da Eucaristia, para anunciar com a palavra e com a vida o amor que Deus sente por todos os homens. (Excerto do discurso ao Congresso Eclesial da Diocese de Roma, 15/6/2010) Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana. A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va Agosto 2010 · Flashes de Fátima 9 Comentário ao Evangelho – XXII Domingo do Tempo Comum Antídoto para a vanglória? Sobretudo na hora suprema de sua Paixão e Morte, foi Jesus predominantemente o Divino Cordeiro Repetidas vezes nos alerta o Divino Mestre contra o orgulho, de cujos efeitos todos padecemos, infelizmente. Como combatê-lo com eficácia? No que consiste a verdadeira humildade? Muitos, por equívoco, a confundem com mediocridade. Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP I – Choque entre dois modos de ser Nesta terra de exílio, um dos melhores modos de nos comunicarmos com Deus e termos, assim, algum antegozo da visão beatífica é contemplar os símbolos do Criador postos no universo, pois “as perfeições invisíveis de Deus, o Seu sempiterno poder e divindade, tornam-se visíveis à inteligência, por suas obras” (Rm 1, 20). Ou seja, desde que queiramos, é-nos dado discernir o Invisível no visível, o Infinito no finito, o Criador nas criaturas. “Eis o Cordeiro de Deus” Por isso, a Divina Providência dispôs na natureza uma abundância de símbolos de grande expressão, alguns dos quais foram aplicados ao próprio Filho de Deus, a fim de melhor O conhecermos e mais O amarmos. Ele mesmo Se apresenta como a videira cujos ramos produzem muito fruto (cf. Jo 15, 1-5), ou como o Bom Pastor, que dá a vida por Suas ovelhas (cf. Jo 10, 11-16). Também é o Messias chamado de Leão da tribo de Judá (Ap 5, 5), e como tal Se mani10 Flashes de Fátima · Agosto 2010 festa ao repreender com severidade os fariseus (cf. Mt 23, 13-33), e ao “expulsar os que no templo vendiam e compravam” (Mc 11, 15). Entretanto, ao longo de Sua vida e, sobretudo, na hora suprema de Sua Paixão e Morte, foi Jesus predominantemente o Divino Cordeiro. Não sem razão, durante a Celebração Eucarística, memorial do Sacrifício do Calvário, o sacerdote apresenta aos fiéis a Hóstia consagrada, antes da Comunhão, dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Dentre os inúmeros símbolos de Nosso Senhor Jesus Cristo, escolheu a Santa Igreja esse como sendo o mais significativo para tão sagrado momento. Humildade e mansidão A liturgia, ora comentada, põe em realce esse aspecto da Alma de Nosso Senhor, e a aclamação do Evangelho nos convida a imitá-Lo: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” (cf. Mt 11, 29). Na verdade, Ele é muito mais do que isso, pois essas virtudes, que o homem luta por praticar, a “Jesus com os Apóstolos e os fariseus”, Catedral de Hamilton (Canadá) “Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles O observavam. 7 Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: 8 ‘Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, 9 e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: ‘Dá o lugar a ele’. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar. 10 Mas quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’. E 1 isto vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados. 11 Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado’. 12 E disse também a quem O tinha convidado: ‘Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. 13 Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. 14 Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos’” (Lc 14, 1.7-14). Agosto 2010 · Flashes de Fátima 11 Timothy Ring a Evangelho A Presunçosos cumpridores de incontáveis preceitos formais, os fariseus utilizavamse da Antiga Lei para se sobressair e ocupar os primeiros lugares Segunda Pessoa da Santíssima Trindade as possui em essência: Jesus é a humildade e a mansidão. Quem é verdadeiramente humilde, é também manso, tem flexibilidade de espírito, está disposto a servir ou a obedecer a seu irmão, preocupase mais com os outros do que consigo mesmo, aceita qualquer humilhação ou ofensa com alegria, e quando nota um defeito na atitude de outro, reza por ele e procura não deixar transparecer o que percebeu. Pratica, assim, uma elevada e nobre forma de caridade para com o próximo. Em sentido contrário, o orgulhoso gosta de assumir posição de superioridade, tende a desprezar os demais e deixa-se levar pela inveja, quando percebe uma qualidade nos outros. Com seu temperamento difícil e implicante, acaba tornando-se uma pessoa de convívio problemático, evitada por todos. Tal era o caso dos fariseus do Evangelho que comentamos. Presunçosos cumpridores de incontáveis preceitos formais, utilizavam-se da Antiga Lei para se sobressair e ocupar os primeiros lugares na sociedade. Entre eles e o resto do povo havia um verdadeiro abismo, todo feito de discriminação e desdém. II – “Quem se humilha, será elevado” Num sábado anterior ao episódio referido neste trecho do Evangelho, ou talvez nesse mesmo dia, Nosso Senhor restituíra a saúde a uma mulher que “andava curvada e não podia absolutamente erguer-se” (Lc 13, 11) havia dezoito anos. Essa cura produzira entre os fariseus verdadeira celeuma, pois, na concepção deles, teria Jesus desprezado a Lei, violando o repouso sabático. Mas o Divino Mestre deulhes uma resposta que os encheu de confusão: “Hipócritas! Não desamarra cada um de vós no sábado o seu boi ou seu jumento da manjedoura, para levá-los a beber?” (Lc 13, 15). O povo, ao contrário, se entusiasmava à vista dos milagres por Ele realizados (cf. Lc 13, 17). 12 Flashes de Fátima · Agosto 2010 Crescia, em consequência, em toda a Palestina, o prestígio de Jesus de Nazaré, e muitos O consideravam um grande profeta, surgido afinal depois de quatrocentos anos de silêncio do Céu. Convite mal-intencionado “Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles O observavam”. 1 Este Evangelho nos apresenta Nosso Senhor indo almoçar na casa de um dos chefes dos fariseus, certamente a pedido deste. Honroso na aparência, o convite fora feito, porém, com o objetivo de poder analisá-Lo mais de perto para preparar-Lhe uma cilada. “Eles O espreitavam insidiosamente, na esperança de encontrar algo de repreensível em Sua palavra ou em Seu procedimento: convidam-No como quem quer prestar honras, e O espionam como a um inimigo”, nota o Cardeal Gomá.1 Bem diversa era a atitude do Cordeiro de Deus: aceitou o convite, movido pelo desejo de fazer-lhes bem. Conhecia desde toda a eternidade a cena que lá ia se desenrolar e ansiava por chegar o momento em que pudesse indicar a essas almas, cegas pelo orgulho, o verdadeiro caminho para o Reino dos Céus.2 Como assinala o padre Duquesne, “Jesus teve a terna complacência de comparecer, com intenção de aproveitar a oportunidade para edificar, instruir, convencer e, se possível, conquistar para a verdade aqueles com os quais iria comer”.3 Delírio farisaico pelos primeiros lugares “Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares”. 7 Naqueles banquetes dispunham-se as mesas em forma de “u”, para facilitar o serviço, acomodando-se os comensais ao longo da parte externa. O principal lugar, bem ao centro, estava reservado para a autoridade ou a pessoa a quem se desejava homenagear. À sua direita sentavase o anfitrião, à sua esquerda, o primeiro dos convidados e assim iam se instalando os convivas, por ordem decrescente de importância, até os extremos da mesa. Naturalmente, nenhum escriba ou fariseu queria ocupar esses últimos lugares; pelo contrário, disputavam sem inibição e com avidez os postos de honra. Os problemas de prece- Modo delicado de repreender “Então contou-lhes uma parábola: ‘Quando tu fores convidado para uma festa de casamento ...’”. 7b 8a Talvez tenha de fato ocorrido, nesse banquete, uma cena semelhante à descrita pouco adiante na parábola, motivo pelo qual Jesus preferiu falar em tese, fazendo referência a uma hipotética festa de casamento; dessa forma, evi- Victor Toniolo dência eram tão vivos entre eles que Nosso Senhor chegara a recriminá-los publicamente por esse defeito: “Ai de vós, fariseus, que gostais das primeiras cadeiras nas sinagogas e das saudações nas praças públicas!” (Lc 11, 43). Para ilustrar a exacerbada ânsia de prestígio que os dominava, Fillion relata um curioso episódio, extraído do próprio Talmud: “Certo dia, o rei asmoneu Alexandre Janeu dava um banquete a vários sátrapas persas, e entre os convidados estava o rabino Simeão ben Shetach. Logo que entrou no salão, foi ele sentar-se no lugar de honra, entre o rei e a rainha. Ao ser repreendido por essa arrogante intrusão, respondeu de pronto: ‘Não está escrito no livro de Sirac: Honra a sabedoria e ela te honrará’? Chegava a este ponto o enfatuamento dos doutores israelitas naquela época!”.4 Ora, sendo os convidados desse banquete membros da seita dos fariseus, chegando, começavam logo a manobrar para ficar o mais próximo possível do anfitrião, a fim de satisfazer seu incontido orgulho. Tomados pelo delírio de aparecer, disputavam entre si a precedência, sem o mínimo recato, alegando cada qual em seu favor critérios como idade, relevância da sua linhagem ou a própria sabedoria, como acima vimos. Pouco se preocupavam em ouvir algum ensinamento ou admirar a quem quer que fosse; o único critério que lhes interessava era serem objeto dos elogios e da consideração dos presentes. Assim ofuscados pelo egoísmo, passara-lhes despercebida na sala do banquete a presença de Alguém que, enquanto homem, era de estirpe real, descendente de Davi; e, enquanto Deus, era o Criador do Céu, da Terra, do alimento que ia ser servido e até dos próprios comensais. Cristo, entretanto, senta-Se despretensiosamente à mesa, sem exigir em nenhum momento uma manifestação do respeito devido à Sua Pessoa. Quem é humilde, é também manso, tem flexibilidade de espírito, está disposto a servir ou a obedecer a seu irmão, preocupa-se mais com os outros do que consigo mesmo "Cordeiro de Deus", Abadia de Monte Oliveto Maggiore (Itália) tava constrangimentos para os demais convidados. Assim opina o Cardeal Gomá, o qual qualifica de “delicada maneira de repreender os fariseus” o uso desse recurso literário.5 Segundo Santo Ambrósio, o Salvador os admoesta “com doçura, para que a força da persuasão conseguisse suavizar a aspereza da correção, e objetivando também que a razão ajudasse a persuasão, e a advertência corrigisse o orgulho”.6 Analisando sob outro prisma o fato, observa Fillion: “Jesus imagina de propósito a cena numa festa de bodas porque em tais circunstâncias, nas classes abastadas, observa-se mais rigorosamente a etiqueta”.7 E o padre Tuya acrescenta: “O banquete de casamento ao qual Jesus faz menção é o Reino Messiânico [...]. Ali, os primeiros lugares estão reservados para os que foram mais humildes”.8 “Quem se eleva será humilhado” “ConvidaramNo como quem quer prestar honras, e O espionam como a um inimigo” “...não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, 9 e o dono da casa, que convidou os dois, venha te 8b Agosto 2010 · Flashes de Fátima 13 dizer: ‘Dá o lugar a ele’. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar”. Não vigoravam ainda no convívio social os princípios de cortesia introduzidos pela benéfica influência do Cristianismo Para realçar os inconvenientes do orgulho, Nosso Senhor começa por mostrar aos fariseus o quanto a ânsia de ocupar os primeiros postos era-lhes contraproducente, mesmo do ponto de vista meramente natural. Porque, conforme ensina São Cirilo de Alexandria, “o elevar-se prontamente a honras que não merecemos, denota que somos temerários e torna nossas ações dignas de vitupério”.9 Melhor entenderemos esta parábola se considerarmos que não vigoravam ainda no convívio social os princípios de cortesia introduzidos pela benéfica influência do Cristianismo. Naquela época, a ausência de bondade fazia-se sentir nas relações humanas, regidas pelos princípios da Lei de Talião: “Olho por olho, dente por dente”. E o trato entre os homens era, portanto, marcado pelo egoísmo e a dureza, buscando cada um apenas seus próprios interesses. Se o convidado da parábola tivesse, por precaução, escolhido o último lugar, teria sido honrado pelo anfitrião. Entretanto, a procura imprudente da vanglória, acarretou-lhe ser publicamente humilhado. Aliás, neste sentido, é interessante notar, com o Cardeal Gomá, “o contraste entre aquele que baixa, coberto de confusão, e o que sobe, cheio de honra; e entre as duras palavras ditas ao primeiro e as suaves com as quais o segundo é convidado a ocupar um lugar melhor”.10 Muito além das normas de cortesia terrena 10 “Mas quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados. 11 Porque 14 Flashes de Fátima · Agosto 2010 quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado”. Bem observa Fillion que, por certo, não quis Jesus dar com esta parábola simplesmente “uma regra de cortesia mundana e de boas maneiras, baseada em motivos egoístas, ou seja, substituir uma vaidade grosseira por um orgulho requintado”.11 Para o Venerável Beda, sob o invólucro da parábola revela-se uma clara admoestação: “Todo aquele que, convidado, venha às bodas de Jesus Cristo e da Igreja, unido pela fé aos membros da Igreja, não se exalte como se fosse superior aos outros, nem se glorie por seus méritos; mas ceda seu lugar àquele que, convidado depois, é mais digno e progrediu mais no fervor dos que seguem a Jesus Cristo, e ocupe com modéstia o último lugar, reconhecendo que os demais são melhores do que ele em tudo quanto se julgava superior”.12 Envoltos, muitas vezes, em linguagem figurada, os ensinamentos do Divino Mestre ultrapassam de longe as meras normas de cortesia terrena, como põe em evidência esse santo monge beneditino: “Porque nem todos os que se exaltam diante dos homens são humilhados, e nem todos os que se humilham em sua presença são por eles exaltados; quem, porém, se extasia por seus méritos, será humilhado pelo Senhor, e quem se humilha por seus benefícios será exaltado por Ele”.13 Quem se humilha, será elevado. O melhor exemplo disso ali estava diante dos fariseus, tratando-os com a suavidade de um cordeiro: Aquele que “sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-Se ainda mais, tornando-Se obediente até a morte, e morte de Cruz. Por isso Deus O exaltou soberanamente e Lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes” (Fl 2, 8-9). Quem se exalta, será humilhado. Entretanto, aqueles que, ensoberbecidos, disputavam os primeiros lugares e procuravam estender armadilhas a Nosso Senhor, corriam o risco de serem humilhados já nesta vida, ou, pior ainda, na eternidade, pelo justo Juízo de Deus. III – Procurar a recompensa no próprio Deus “E disse também a quem O tinha convidado: ‘Quando tu deres um 12 Depois de corrigir o orgulho dos fariseus, Nosso Senhor volta-Se para o anfitrião a fim de lhe dar um conselho. Havia este, sem dúvida, convidado apenas aqueles dos quais poderia tirar depois algum proveito. Mesmo o convite a Nosso Senhor teria sido feito, na opinião de Eutimio, com o desejo de apresentar-se como “diferente daqueles fariseus que pareciam querer-Lhe mal”.14 Além do mais, segundo explica o padre Truyols, a presença de Jesus de Nazaré naquela casa prestigiava o anfitrião diante do povo, dado o alto conceito de que gozava então o Divino Mestre.15 Nosso Senhor, entretanto, ensina o dono da casa a não proceder em relação aos outros movido por cálculos pragmáticos e interesseiros. Porque qualquer ação que o homem faça, visando satisfazer apenas seu próprio egoísmo, recebe a recompensa neste mundo, ao obter o aplauso ou a aprovação dos demais, e perde qualquer mérito para a vida eterna.16 Por isso, bem nos aconselha São João Crisóstomo: “Não nos perturbemos, pois, quando não recebermos recompensa pelos nossos benefícios, mas sim quando a recebermos; porque se a recebermos aqui, nada receberemos depois; mas se os homens não nos pagarem, Deus nos pagará”.17 “Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. 14 Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. 13 Ao incentivar esse chefe dos fariseus a convidar “os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos”, Nosso Senhor o recrimina com toda suavidade por seu egoísmo. Mais do que isso, estabelece o princípio de que, para receber a recompensa no Reino dos Céus, é preciso ser genero- Gustavo Kralj a lmoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa’”. Quando firzermos bem aos outros sem esperar pagamento, o prêmio nos será dado pelo próprio Deus "Jesus ensinando", Museu de Santo Isaac, São Petersburgo (Rússia) so com o próximo nesta terra, sem esperar dele a restituição do benefício feito.18 Praticar o bem visando retribuição, transforma o relacionamento humano em mero negócio regido pelos princípios dos antigos contratos romanos pagãos: “do ut des” (dou para que me dês), ou “do ut facias” (dou para que faças). Com efeito, pergunta o padre Duquesne: “O que é a liberalidade exercida pelos mundanos? Uma liberalidade interesseira: dá-se apenas para receber, dá-se só a quem sabe pagar na mesma moeda. Uma liberalidade costumeira que com frequência leva a murmurar quem a ela se vê obrigado, na qual não entra motivo algum de caridade ou de religião; enfim, uma liberalidade de prazer e ostentação”.19 Pelo contrário, quando fizermos o bem a outro, sem esperar pagamento, o prêmio nos será dado pelo próprio Deus. E Ele nunca Se deixa vencer em generosidade. Duríssima resultava esta doutrina para aqueles homens materialistas, orgulhosos e oportunistas. Mas tinham diante de si, como exemplo vivo, Aquele que a praticaria até os últimos extremos, ao aceitar como cordeiro os sofrimentos da Paixão e deixar-Se crucificar, sem um lamento, por aquele povo a quem tanto bem fizera e em favor do qual tantos milagres realizara. Agosto 2010 · Flashes Duríssima resultava a doutrina de Jesus para aqueles homens materialistas, orgulhosos e oportunistas de Fátima 15 IV – Humildade e admiração Um modo muito eficaz e pouco ensinado de combater o amor-próprio consiste em admirar aquilo por onde os outros são superiores a nós Ao criar os homens com o instinto de sociabilidade, desejava Deus que eles se apoiassem mutuamente na prática do bem, tornando o convívio social uma contínua fonte de afervoramento espiritual. Assim, numa sociedade toda voltada para a prática da virtude, os inferiores admirariam e venerariam os seus superiores e estes lhes retribuiriam com afeto e ternura. Reinaria entre todos a união, a harmonia e a paz. Ora, o pecado original introduziu no homem uma virulenta tendência à soberba, a qual está na raiz de todos os pecados. Quando essa inclinação não é combatida, o relacionamento entre os homens decai ao nível de uma feira de vaidades e de egoísmos, verdadeira cascata de desprezos, como a que vemos retratada no banquete descrito no Evangelho. Sutil forma de orgulho Para bem entendermos em que consiste a prática da virtude da humildade, aqui recomendada por Nosso Senhor, são necessários alguns esclarecimentos, pois não é raro encontrar pessoas que, em nome de uma despretensão mal entendida, tornam-se medíocres, não fazendo render os talentos recebidos de Deus. A humildade consiste em “andar em verdade”,20 escreveu Santa Teresa de Jesus. Ora, “andamos em verdade” quando nos submetemos a Deus com espírito de religião, somos-Lhe gra- tos, reconhecendo a nossa total dependência do Criador e compreendendo que tudo quanto temos de bom foi-nos dado por Ele. Pois se de um lado, infelizmente, há em nós defeitos culposos ou meras limitações da natureza, de outro lado, por certo a Divina Providência a ninguém deixou desprovido de qualidades e dons, ora maiores, ora menores. A propósito, ensina-nos São Tomás não haver oposição entre a humildade e a magnanimidade: “A humildade reprime o apetite, para que ele não busque grandezas além da reta razão, ao passo que a magnanimidade o estimula para o que é grande, segundo a reta razão. Fica claro, portanto, que a magnanimidade não se opõe à humildade, mas, ao contrário, ambas coincidem em que agem segundo a reta razão”.21 São virtudes complementares. Não caiamos, portanto, numa sutil forma de orgulho que se traduz em apresentar-se como o último dos homens, um ser incapaz de realizar qualquer ação de valor... São Tomás afirma que isso constitui falsa humildade, cognominada por Santo Agostinho de “grande soberba”, porque, na verdade, com esse tipo de fingimento, a pessoa pretende obter uma glória superior.22 Além disso, é também ingratidão em relação aos dons recebidos de Deus. Pelo contrário, aceitemos com mansidão e ânimo aquilo que realmente somos, analisemo-nos com toda objetividade e não nos revoltemos peran- 1 GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Casulleras, 1930, v.III, p.272. 2 Por não estar incluídos nesta liturgia, não comentaremos aqui os versículos 2 a 6, que narram a cura do hidrópico. Mas convêm notar como Jesus, mesmo enquanto dá essa magnífica prova de seu poder divino, mantém a suavidade do Cordeiro no seu trato com aqueles fariseus. Em lugar de increpá-los, como fez em anteriores ocasiões, fala-lhes nessa ocasião com linguagem interrogativa, quase como quem pede conselho. DUQUESNE. L’Évangile médité. Lyon-Paris: Perisse Frères, 1849, v.III, p.92. 3 16 Flashes de Fátima · Agosto 2010 4 FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Vida pública. Madrid: Rialp, s/d., v.II, p.394. 5 GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.273. 6 SAN AMBROSIO, Exposit. in Lucas 7, 195, apud ODEN, Thomas C. e JUST Jr., Arthur A. La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia – Nuevo Testamento, San Lucas. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, v.III, p.325. 7 FILLION, op. cit., p.395. 8 TUYA, OP, Manuel de. Biblia comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v.II, p.864. Gustavo Kralj, por concessão do Ministério dos Bens Culturais da República Italiana te eventuais adversidades ou mesmo injustiças, mas saibamos utilizá-las como meio de reparar nossas próprias faltas. Um dos melhores meios de praticar a humildade Entretanto, um modo muito eficaz e pouco ensinado de combater o amor-próprio consiste em admirar aquilo por onde os outros são superiores a nós, reconhecendo nessas qualidades reflexos das perfeições divinas. Sendo todo homem superior aos demais sob determinado ângulo, único e personalíssimo, procurar admirar essas qualidades dos outros é um dos melhores e mais eficientes meios de combater o amor desregrado a si mesmo e à vanglória. Quem assim agir, praticará de maneira excelente a virtude da humildade e, ao mesmo tempo, o Primeiro Mandamento da Lei de Deus, pois o amor a todas as superioridades está no cerne da prática da virtude da caridade. Por isso, quem quiser ser manso de coração, admire as qualidades dos outros; quem quiser ser desapegado, admire a generosidade dos outros; quem quiser ser santo, admire a virtude dos outros. Enfim, admiremos tudo quanto é admirável e teremos já a recompensa da paz de alma nesta terra, e a bem-aventurança eterna no Céu! A admiração, eis a grande lição deste Evangelho. 9 SAN CIRILO DE ALEJANDRÍA, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea. 10 11 12 GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.274. 13 Idem, p.351. 14 EUTIMIO, apud MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y de San Lucas. Madrid: BAC, 1951, v.II, p.637. “Anunciação”, por Fra Angelico, Museu de São Marcos, Florença 15 Cf. FERNÁNDEZ TRUYOLS, SJ, Andrés. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. 2.ed. Madrid: BAC, 1954, p.447-448. 16 Sobre este assunto, ver comentários do mesmo autor em Arautos do Evangelho, n.98, fev. 2010, p.11-18. FILLION, op. cit., p.395. SAN BEDA, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., p.350. “Andamos em verdade” quando, como Maria no Magníficat, reconhecemos a nossa total dependência do Criador 17 SAN JUAN CRISÓSTOMO, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., p.352. 18 Note-se, entretanto, que “não se proíbe, nessa parábola, cumprir os deveres de família ou de amizade” (GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.274). Por outro lado, “cairia em singular erro quem procurasse in- terpretar ao pé da letra todas as circunstâncias. Não passou pela mente de Jesus alterar as relações sociais no que estas têm de legítimo” (FILLION, op. cit., p.395). 19 DUQUESNE, op. cit., p.96. 20 SANTA TERESA DE JESÚS. Moradas sextas, c.10, 7. In: Obras Completas. 3.ed. Burgos: El Monte Carmelo, 1939, p.617-618. 21 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, II-II, q.161, a.1, ad.3. 22 Cf. Idem, II-II, q.161, a.1, ad.2. Agosto 2010 · Flashes de Fátima 17 Os sacramentais Um tesouro desconhecido Nosso dia a dia está pervadido por uma multidão de atos, muitas vezes simples, que santificam as mais variadas circunstâncias da vida. Eles atraem para nós, pela ação da Igreja, abundantes benefícios espirituais e até materiais. Q uantas vezes o amigo leitor não fez o sinal da cruz, usou água benta ou recebeu a bênção de um ministro de Deus? Atos aparentemente simples, tão habituais no transcurso da vida diária do católico, sem dúvida já foram praticados por nós muitas vezes movidos pela piedade e convicção de serem meios para uma união mais íntima com Deus. Ora, os gestos acima mencionados fazem parte de uma realidade bem mais profunda e maravilhosa: os sacramentais. Em que consistem? Quais as suas diferenças com os Sacramentos, ou com os meros atos piedosos? Santificação das mais variadas circunstâncias da vida cristã Os sacramentais são definidos pelo Catecismo como “sinais sagrados pelos quais, à imitação dos Sacramentos, são significados efeitos principalmente espirituais, obtidos pela impetração da Igreja”.1 Eles “compreendem sempre uma oração, acompanhada de determina18 Flashes de Fátima · Agosto 2010 Ignacio Montojo Magro do sinal, como a imposição da mão, o sinal da cruz ou a aspersão com água benta”.2 Adiante, nos deteremos em explicar melhor alguns elementos desta definição, como sua semelhança com os Sacramentos e a força de impetração da Igreja para lhes obter os efeitos. Mas, por enquanto, prestemos atenção no fato de terem sido “instituídos pela Igreja em vista da santificação de certos ministérios seus, de certos estados de vida, de circunstâncias muito variadas da vida cristã, bem como do uso das coisas úteis ao homem”.3 Os sacramentais oferecem, aos fiéis bem dispostos, a possibilidade de santificar quase todas as ações da vida Com efeito, no termo sacramental, inclui-se uma grande quantidade de ações e coisas, pois “existe uma gama inteira de situações que afetam os indivíduos, as famílias, as sociedades e as nações, que necessitam da oração da Igreja e da bênção de Deus. Algumas delas não são direta e necessariamente abarcadas pelos Sacramentos. Uma profissão religiosa, um funeral, a bênção de uma nova casa, a dedicação de uma igreja paroquial, são alguns dos significativos momentos de mudança na vida do fiel. A Igreja os acompanha não somente com a Eucaristia e os Sacramentos, mas também com a celebração de sacramentais”.4 Oferecem eles, pois, aos fiéis bem dispostos a possibilidade de santificar quase todas as ações da vida. Hoje em dia, explica Vagaggini, “tende-se a reservar a noção de sacramentais a certos ritos da Igreja que, por si, não fazem parte da celebração do sacrifício e da administração dos sete Sacramentos, mas são de estrutura similar àquela dos Sacramentos e que a Igreja costuma Victor Toniolo Uma profissão religiosa, um funeral, a bênção de uma nova casa, a dedicação de uma igreja são alguns dos momentos da vida do fiel que necessitam da oração da Igreja e da bênção de Deus Aspectos da Dedicação da Igreja Nossa Senhora do Rosário do Seminário dos Arautos do Evangelho, em Caieiras, Brasil, presidida pelo Cardeal Franc Rodé, em 24/2/2008 usar para obter com sua impetração efeitos principalmente espirituais”.5 Mas, de fato, os sacramentais podem ser tantos quantas sejam as necessidades dos homens de todas as épocas.6 “Para os fiéis bem dispostos”, ensina o Catecismo, “quase todo acontecimento da vida é santificado pela graça divina que flui do mistério pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, do qual todos os Sacramentos e sacramentais adquirem sua eficácia. Quase não há uso honesto de coisas materiais que não possa ser dirigido à finalidade de santificar o homem e louvar a Deus”.7 Assim, como já vimos, entre os sacramentais se incluem ações como a profissão religiosa, a consagração das virgens, os exorcismos, as exéquias e as bênçãos de pessoas ou de lugares. Mas também certos objetos (ou coisas) como a água benta, os sinos, ou as velas bentas. Três categorias de sacramentais Dessa distinção entre ações e objetos, emana uma primeira classificação dos sacramentais. Há alguns que não permanecem, tais como ritos ou cerimônias, que cessam com a própria ação que os constituiu. Fazem parte dos chamados sacramentais ação e compreendem as diversas bênçãos invocativas — como as bênçãos nupciais, dos doentes, das casas, etc. — feitas sobre coisas ou pessoas para atrair um especial auxílio ou determinados benefícios celestes; bem como certos ritos que acompanham a administração dos Sacramentos, tais como a imposição do sal e o Éfeta do Batismo; e os exorcismos, pelos quais a Igreja invoca Até o séc. XII, usava-se o termo Sacramento para designar o que hoje chamamos de sacramentais a proteção divina para afastar a influência do demônio. De outro lado, existem ações que, sendo sacramentais, tornam também sacramental aquilo sobre o qual se aplicam. Tais são, por exemplo, a dedicação de uma igreja ou a consagração de uma virgem, pelas quais a Igreja entrega a Deus e a Seu culto, de modo permanente, pessoas ou coisas; ou as bênçãos constitutivas, cuja execução produz um efeito que perdura. Dessas ações surgem os chamados sacramentais permanentes — ou sacramentais coisa — sobre os quais é impresso, pela consagração ou bênção constitutiva, um quase-caráter que os faz aptos para que deles possam fazer uso os fiéis, especialmente em ordem a efeitos espirituais; e que continuam sendo perpetuamente sacramentais após a ação que os constitui. Nesta categoria inclui-se a água benta, que, após a realização do rito pelo qual deixa de ser água comum, permanece por si mesma como um sacramental com diversos efeitos para o fiel que dela faz uso. O Agosto 2010 · Flashes de Fátima 19 Otávio de Melo Eficácia da água benta C onta Santa Teresa no seu Livro da vida como, em certa ocasião, o demônio por duas vezes lhe apareceu e fugiu tão logo ela fez o sinal da cruz, mas retornou pouco depois. Entretanto, quando ela acrescentou a água benta ao sinal da cruz, ele desapareceu definitivamente. Por isso, muitas vezes, a fim de fazer suas orações em paz, a santa reformadora do Carmelo pedia às suas freiras que a aspergissem reiteradamente. esmo acontece com certos escapum lários e medalhas, com as velas bentas no dia da Apresentação, ou com as palmas abençoadas no Domingo de Ramos, entre muitos outros.8 Sacramentos e sacramentais Vimos, na definição dada pelo Catecismo, que os sacramentais produzem efeitos “à imitação dos Sacramentos” e que ambos estão compostos por sinais sagrados. Ora, a semelhança entre eles é tal que nos primeiros tempos da Igreja incluíam-se, sob o termo Sacramento, os sete instituídos por Cristo e os que hoje chamamos de sacramentais. No século XII, essa imprecisão terminológica ainda se mantinha. “São Bernardo chama de sacramento o lava-pés, e o Concílio Lateranense, de 1179, inclui nesse nome a entronização dos Bispos e dos abades, as exéquias e a bênção de bodas”, lembra o liturgicista beneditino Manuel Garrido.9 O teólogo dominicano, padre Barbado, conceituado comentarista de São Tomás, acrescenta que, até aquele século, “o conceito de Sa20 Flashes de Fátima · Agosto 2010 Os sacramentais não conferem a graça como os Sacramentos, mas, pela oração da Igreja, nos preparam para recebê-la cramento não se utilizava com o mesmo rigor de hoje. Os Sacramentos e os sacramentais, ao mesmo tempo que designavam coisas sagradas, misturavam-se indistintamente na terminologia”.10 Pedro Lombardo e o autor desconhecido da Summa Sententiarum serão os primeiros a unir o conceito escolástico de causa eficiente ao de signo sensível, deixado por Santo Agostinho, estabelecendo assim um primeiro critério válido para diferenciar entre sacramentais e Sacramentos, no sentido próprio do termo.11 É, entretanto, São Tomás de Aquino quem, cem anos depois, delimita os campos com sua habitual precisão e clareza ao ensinar: “Deve-se dizer que a água benta e outras consagrações não se chamam sacramentos, porque não levam ao efeito do Sacramento, que é a obtenção da graça. Mas dispõem para os Sacramentos, ou porque removem o que os impede, como a água benta que se dirige contra as insídias do demônio e contra os pecados veniais; ou tornam os objetos dignos da recepção do Sacramento: consagram-se o altar e os vasos sagrados por reverência pela Eucaristia”.12 Sem chegar a definir o conceito de sacramental, traçava o Angélico Doutor uma linha divisória ao explicitar que, enquanto os Sacramentos produzem diretamente a graça, os sacramentais apenas dispõem-nos para ela.13 Esse critério permanece válido até nossos dias, e é recolhido pelo Catecismo nos seguintes termos: “Os sacramentais não conferem a graça à maneira dos Sacramentos, mas, pela oração da Igreja, preparam para receber a graça e dispõem à cooperação com ela”.14 Convém esclarecer, entretanto, que, embora os teólogos tenham demorado séculos em diferenciar conceitualmente os sete Sacramentos de outras realidades mais ou menos semelhantes, a Igreja os conhecia e ministrava desde o início como instituídos por Cristo.15 Pela ação da Igreja, em união com Cristo Embora acreditemos que a cerimônia de dedicação torna sagrada uma igreja, que a medalha de São Bento tem poderes especiais contra as ciladas do maligno, que o uso da Sagrada Correia nos auxilia e protege nas tentações contra a castidade, ou que a água benta, além de perdoar os pecados veniais, também sos, eles agem, principalmente pela impetração da Igreja, independentemente das disposições do ministro e, em muitos casos, também do próprio sujeito que os recebe. Pio XII, colhendo o fruto de um largo período de dissertações teológicas a este respeito, deu um desfecho genial a esta querela, na Encíclica Mediator Dei, expressando a eficácia da ação santificadora dos sacramentais enquanto operada pela Igreja e incorporando ao Magistério o conceito ex opere operantis Ecclesiæ. Assim, explica esse Papa, a eficácia santificadora dos sacramentais e outros ritos instituídos pela hierarquia eclesiástica “deriva principalmente da ação da Igreja (ex opere operantis Ecclesiae), enquanto es- “É Cristo que vive na sua Igreja, por ela ensina, governa e santifica” ta é santa e opera sempre em íntima união com a sua Cabeça”.18 Com efeito, sendo Nosso Senhor Jesus Cristo “a Cabeça do corpo que é a Igreja” (Cl 1, 18), forma uma só unidade com Ela. “Cabeça e membros são, por assim dizer, uma só e mesma pessoa mística”, afirma São Tomás.19 Um famoso biblista jesuíta, padre Bover, acrescenta: “o Corpo Místico de Cristo é, à maneira do corpo humano, um organismo espiritual que, unido a Cristo como sua cabeça, vive a vida mesma de Cristo, animado pelo Espírito de Cristo”.20 “É preciso que nos acostumemos a ver na Igreja o próprio Cristo”, aconselha Pio XII. “Pois que é Cristo que vive na sua Igreja, por ela ensina, governa e santifica”.21 Assim, as obras da Igreja são atos do próprio Cristo, e a prece da Igreja não é senão a oração de Cristo, à direita do Pai, à qual ela se associa e da qual participa, ou melhor, à qual Cristo a associa e a faz participar.22 De fato, enquanto signos da Fé intercessora e orante da Santa Igreja e dos efeitos que essa oração produz, os sacramentais estão dota- Héctor Mattos / Otávio de Melo / Gustavo Kralj a fugenta os anjos maus, convém analisarmos de onde provém a eficácia para que realmente sejam obtidos tais efeitos. Ensina-nos a Teologia que os Sacramentos produzem seu efeito ex opere operato (“pela obra realizada”), quando devidamente ministrados e recebidos. Isto é, sua eficácia provém, antes de tudo, do valor da ação em si mesma.16 Eles “têm uma intrínseca virtude enquanto são ações do próprio Cristo que comunica e difunde a graça da Cabeça divina nos membros do Corpo Místico”.17 Outras ações produzem os seus efeitos ex opere operantis (“pela ação daquele que a opera”), isto é, elas não possuem virtude própria, mas dependem das disposições da pessoa que as realiza. É o que acontece com a comunhão espiritual ou com a oração pessoal, e, assim por diante, com todos os atos sobrenaturais dos justos. Entretanto, nenhuma destas duas opções explica exatamente o que acontece com os sacramentais. Não se enquadrando em nenhum dos ca- Após a bênção constitutiva, sinos, certas medalhas e escapulários, e as velas bentas passam a ser sacramentais permanentes Agosto 2010 · Flashes de Fátima 21 N o dia 3 de fevereiro, muitos fiéis procuram suas paróquias para receber a bênção de São Brás, implorando a proteção de Deus contra os males da garganta. Enquanto pronuncia a fórmula, o sacerdote ou diácono aplica-lhes junto ao pescoço duas velas abençoadas no dia anterior — festa da Apresentação do Menino Jesus no Templo e de Nossa Senhora da Candelária — atadas em forma de cruz. A origem deste belo rito é atribuída pela tradição a fato acontecido com o venerado Bispo de Sebaste (atual Armênia) que viveu no século IV. Certo dia, foi levado até ele um menino em estado delicado, com uma espinha de peixe atravessada em sua garganta. Vendo isto, o santo tomou duas velas, oferecidas havia pouco pela mãe da criança à Igreja, e colocou-as cruzadas sobre o pescoço do pequeno que, ao ser abençoado, ficou subitamente aliviado do mal. dos de uma eficácia superior à de qualquer boa obra privada. A intercessão da Igreja outorga-lhes, em maior ou menor medida, a dimensão comunitária da ação litúrgica de que nos fala o Concílio Vaticano II.23 mente da fé, esperança e caridade —, assim como para obter o perdão dos pecados veniais, a melhor preparação da recepção dos Sacramentos e a proteção contra os demônios. As indulgências também são sacramentais e, como tais, é através do poder impetratório da Igreja — administradora, enquanto ministra da Redenção, do tesouro dos méritos de Cristo e dos Santos — que obtêm a remissão das penas temporais a serem satisfeitas no Purgatório. O mesmo acontece com as bênçãos duradouras, aquelas que consagram de maneira permanente uma coisa ou uma pessoa para o serviço de Deus. Mas, quem diz efeitos “principalmente espirituais” está admitindo implicitamente a possibilidade de obter graças materiais, desde que estas cooperem para a obtenção de um bem espiritual maior. Tais pedidos poderão ser, por exemplo, o alívio de nossos sofrimentos, o afastamento dos castigos divinos, a cura de doenças, uma abundante colheita, uma viagem bem-sucedida, etc., sempre que sejam conformes à vontade do Pai Celeste e, insistimos, pa- Riqueza espiritual e material colocada à nossa disposição Ao atribuir ao sacramental um determinado efeito e invocar seu poder de impetração sobre esse sinal sagrado, a Santa Igreja espera obter através dele principalmente graças atuais e, secundariamente, graças temporais outorgadas com vistas a um bem espiritual. Com efeito, lembra Santo Afonso Maria de Ligório, “quando pedimos a Deus bens temporais, devemos pedi-los com resignação e sob a condição de aproveitarem à alma. Se vemos que o Senhor não os concede, tenhamos por certo que os nega [...] porque prevê que vão prejudicar a salvação de nossa alma”.24 Assim, seguindo as mesmas leis gerais que regulam a oração, os efeitos dos sacramentais são “principalmente de ordem espiritual”.25 Através deles, a Igreja pede graças atuais para auxiliar o exercício da virtude — especial22 Flashes de Fátima · Agosto 2010 Ivan Teffel Bênção de São Brás ra a maior santificação da alma. Estas condições fazem com que tais pedidos materiais, seguindo as regras da oração expostas acima, embora não sejam infalíveis, venham a ser atendidos, se feitos com reta intenção e justa causa. Dentro desta perspectiva, não existe uso das coisas materiais (conforme a reta moral) que não possa ser dirigido à santificação dos homens e ao louvor de Deus, pois os méritos redentores de Cristo deitam, felizmente, sua benéfica influência sobre toda criatura e não apenas sobre a humanidade. Auxílio nos nossos embates espirituais Finalmente, é preciso considerar, que, embora os efeitos dos sacramentais não dependam principalmente da disposição com que são administrados ou recebidos, tal disposição pode concorrer para uma superior eficácia. De fato, Deus outorga Seus dons em quantidade e qualidade maior em virtude de nosso mérito ao nos identificarmos, por nossa religiosidade profunda e enlevada, com a Igreja 1 Catecismo da Igreja Católica, n.1667. 2 Idem, n.1668. 3 Idem, ibidem. 4 CHUPUNGCO, OSB, Anscar J. (Editor). Sacraments and Sacramentals. In: Handbook for liturgical studies. Collegeville (Minn.): The liturgical Press, 1977, v.IV, p.xxivxxv. 5 6 VAGAGGINI, OSBCam, Cipriano. O sentido teológico da liturgia. São Paulo: Loyola, 2009, p.96. A Sacrosantum concilium menciona especificamente as bênçãos em geral (SC 79), ritos de profissão religiosa e consagração das virgens (SC 80) e exéquias (SC 81). Mas muitos outros sacramentais foram acrescentados à lista pela publicação de rituais separados: a bênção dos abades e abadessas, a instituição de leitores e acólitos, a dedicação de uma igreja e de um altar, a bênção dos sagrados óleos, a coroação de imagens da Santíssima Virgem, e muitas outras bên- Otávio de Melo santa e imaculada que opera através deles. Porque somos filhos de Deus, somos também e necessariamente, por condição dessa filiação divina, inimigos do primeiro e pior dentre os inimigos de Deus, que é o demônio. Portanto, do sincero e filial amor a Deus, só pode brotar a disposição para viver em estado de luta, neste campo de batalha que é a Terra, e alcançar o Reino dos Céus, que só os violentos arrebatam (Cf. Mt 11, 12). Assim, lancemos mão dessas “armas” sobrenaturais que nos auxiliam a ser vitoriosos nas duras, incessantes e, sobretudo, santificantes refregas que temos de travar inevitavelmente a cada dia e, como o Apóstolo, possamos dizer ao término desta vida: “Combati o bom combate, concluí a carreira, guardei a fé” (II Tm 4, 7). Dai-me, Senhor, o prêmio de vossa glória! Embora os efeitos dos sacramentais não dependam principalmente da disposição com que são administrados ou recebidos, tal disposição pode concorrer para uma superior eficácia çãos contidas no respectivo ritual (Cf. CHUPUNGCO, OSB, op. cit., p.xxiv). 13 Cf. ROGUET, A.-M. Notas de rodapé. In: Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2006, v.IX, p.90. 7 Catecismo da Igreja Católica, n.1670. 14 Catecismo da Igreja Católica, n.1670. 8 Cf. VAGAGGINI, OSBCam, op. cit., p.96. 15 Cf. MARTIN, op. cit., p.1650. 16 Cf. Mediator Dei, n.24. 17 Idem, n.28. 18 Idem, ibidem. 19 SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.48, a.2, ad.1. 20 BOVER, José María. Teología de San Pablo. 4.ed. Madrid: BAC, 1961, p.484. 21 Mystici corporis, n.91. 22 Cf. VAGAGGINI, OSBCamp., op.cit., p.98. 23 Sacrosanctum concilium, n.26. 24 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. A oração, o grande meio da salvação. 4.ed. Aparecida: Santuário, 1992, p.62. 25 Catecismo da Igreja Católica, n.1667. 9 GARRIDO BONAÑO, OSB, Manuel. Curso de liturgia romana. Madrid: BAC, 1961, p.418. Ver outros exemplos em AIGRAIN, René (Editor). Enciclopedia litúrgica. Alba: Paoline, 1957, p.702-703. 10 11 12 BARBADO VIEJO, Francisco et al. Introducción a la cuestión 65. In: Suma Teológica. BAC: Madrid, 1957, v.XIII, p.137. Cf. MARTIN, María del Mar. De sacramentalibus. In: MARZOA, Ángel; MIRAS, Jorge; RODRÍGUEZ-OCAÑA, Rafael. Comentario exegético al Código de Derecho Canónico. 3.ed. Pamplona: Eunsa, 2002, v.III-II, p.1650. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, III, q.65, a.1, ad.6. Agosto 2010 · Flashes de Fátima 23 Dom José Policarpo ordena sacerdotes e diáconos N o último domingo de junho, o Cardeal-Patriarca de Lisboa, Dom José Policarpo, presidiu a ordenação de seis sacerdotes e quatro diáconos permanentes na igreja do Mosteiro dos Jerónimos. Durante a homilia, o cardeal encorajou os futuros presbíteros com estas palavras: “Vós, queridos ordinandos, sereis sacerdotes de Jesus Cristo para a Igreja, sereis a expressão do seu amor de esposo pela Igreja sua esposa.” E, dirigindo-se aos fiéis ali presentes, asseverou: “Queremos entregar toda a nossa vida, tudo o que somos e temos, a este ministério de amor”. “Não tenhais medo do despojamento total por causa do vosso ministério”, continuou o Patriarca interpelando os padres e ordinandos. “Queremos ser focos de comunhão, para que toda a Igreja seja comunhão: na família, na catequese, nas associações de fiéis, mas sobretudo em cada Eucaristia celebrada como Povo Sacerdotal”, sustentou. “Queremos ser para vós, queridos irmãos e irmãs, arautos incansáveis da verdade, não da nossa verdade mas do Evangelho de Jesus Cristo”. Membros da orquestra dos Arautos do Evangelho tiveram a alegria de participar na cerimônia litúrgica. Guimarães – Para assinalar o início das férias escolares, os jovens Arautos e as suas famílias, reuniram-se para uma Celebração Eucarística e um almoço de confraternização. Foi também projectado um vídeo, resumindo as actividades desenvolvidas nos últimos 12 meses. 24 Flashes de Fátima · Agosto 2010 Braga – As festividades de São João Baptista foram encerradas com a solene procissão presidida por D. Manuel Linda. A população deu mais uma demonstração de fé e fervor enchendo as ruas do centro histórico. Maia – A procissão em honra de Nossa Senhora Mãe dos Homens percorreu todas as ruas de Moreira. Além da imagem de Nossa Senhora, seguiu em cortejo, sob pálio, a relíquia do Santo Lenho. Núncios Apostólicos visitam Arautos do Evangelho P or ocasião da abertura do Campo de Férias, os Arautos do Evangelho receberam na sua quinta, em Palmela, duas ilustres personalidades: Dom Rino Passigato, atual Núncio Apostólico em Portugal e Dom Alfio Rapisarda, Núncio Apostólico emérito. Cumprindo a promessa feita aos Arautos, aquando da sua despedida de Portugal, Dom Alfio fez questão de aproveitar a sua passagem pelo nosso país para visitar os seus amigos, e trouxe consigo Dom Passigato. Num ambiente de agradável convívio, foi servido aos ilustres visitantes e às famílias convidadas, cerca de cem pessoas, um suculento churrasco à brasileira, tão apreciado pelo antigo Núncio, que passou naquele país perto de dez anos. Agosto 2010 · Flashes de Fátima 25 Moçambique – Os pescadores de Maputo celebraram a solenidade de seu padroeiro, São Pedro, com Missa e procissão marítima. Espanha – Cooperadores participaram da tradicional procissão de Corpus Christi, em Valência, que partiu da Catedral e percorreu as principais ruas da cidade. Brasil – Em São Paulo, na Paróquia N. Sra. Aparecida da Boa Viagem, cooperadores dos Arautos do Evangelho realizaram um dia de intensa Missão Mariana, visitando residências e estabelecimentos comerciais, levando o conforto da presença materna de Maria. Os fiéis encheram a igreja na Missa de encerramento. Canadá – Em Toronto, os Arautos abriram o Encontro “Lift Jesus Higher Rally 2010” com uma solene coroação da Imagem Peregrina de Nossa Senhora. 26 Flashes de Fátima · Agosto 2010 Itália – A adoração eucarística das 40 horas na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, contou com ativa participação dos Arautos do Evangelho. Evangelização nas escolas Colômbia – Mais de 700 alunos em formação no pátio no Colégio Ateneu Integral Ana B. de Flórez, em Fontibón, acolheram a Imagem Peregrina. Peru – Para comemorar o mês de maio, os Arautos promoveram a recitação do Santo Rosário entre os alunos de 20 colégios de Lima. Paraguai – Arautos realizaram atividades religiosoculturais no Colégio de São José, em Assunção. Espanha – Por motivo da Missão Mariana realizada na Paróquia do Bom Sucesso, em Madri, a Imagem Peregrina visitou o Colégio das Irmãs Concepcionistas. Nicarágua – Cooperadores dos Arautos levaram a Imagem Peregrina a diversos centros educacionais em Chinandega, entre eles o Mántica Berio (foto). Brasil – Alunos participam ativamente do Projeto Futuro e Vida na Escola Estadual Dr. George Keller. Agosto 2010 · Flashes de Fátima 27 Itália – Nos dias 28 e 29 de maio, foram organizados Encontros Marianos, nas cidades de Gela e Messina, sob o tema: “A mensagem de Fátima e o Apostolado do Oratório”. As conferências foram precedidas por Missa, procissão, adoração eucarística e momentos de veneração da Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria. Missão Mariana em Nova Friburgo Procissão na Paróquia N. Sra. das Graças E m vinte dias de intensa ação evangelizadora, missionários dos Arautos do Evangelho percorreram 1.458 residências e estabelecimentos comerciais de três paróquias da diocese friburguense: São Roque, N. Sra. das Graças e N. Sra. da Assunção. A pedido dos respectivos párocos, Pe. Flávio Vieira Jacques, Pe. Gelcimar Petinati Celeste e Pe. Genival Nunes Fernandes, foi feito, durante as visitas, um levantamento dos fiéis que precisavam de sacramentos: 101 pessoas pediram o Batismo; 255, a Primeira Comunhão; 257, o Crisma; e 59, a Unção dos Enfermos. O Sacramento do Matrimônio foi solicitado por 93 casais, enquanto 74 paroquianos manifestaram o desejo de serem dizimistas. Foram 17 os novos Oratórios do Imaculado Coração de Maria implantados. Os missionários arautos participaram também do encontro “Unidade Diocesana”, que reuniu cerca de 5 mil fiéis provenientes de diversas cidades. Paróquia São Roque Paróquia N. Sra. da Assunção 28 Flashes de Fátima · Agosto 2010 O Rio da Grandeza As gigantescas vastidões e riquezas postas por Deus no Amazonas parecem simbolizar uma realidade espiritual e, ao mesmo tempo, visível: a Santa Igreja Católica. Marcos Eduardo Melo dos Santos A paisagem é serena, porém, estuante de vida, luz e calor. Na floresta amazônica tudo é superlativo, exuberante e forte. Ocultas sob o denso arvoredo abundam maravilhas do reino mineral, da flora e da fauna. O luxuriante manto vegetal é rasgado por intrincado labirinto fluvial que forma o maior rio do mundo. Suas volumosas águas, inconteníveis, obrigam o próprio oceano a recuar. De fato, o Amazonas é o maior rio do mundo, tanto em caudal quanto em extensão. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sua bacia hidrográfica, formada por 25 mil quilômetros de rios navegáveis, é a mais extensa do planeta, com cerca de 6,9 mil quilômetros quadrados. Em alguns trechos, seu leito atinge 100 metros de profundidade e, em outros, sua largura chega a 50 quilômetros. Mais de mil afluentes concorrem para lançar em seu leito um quinto das águas fluviais do globo terrestre, dando-lhe um volume igual ao da soma de dez dos maiores rios do mundo. Sua nascente se encontra no Peru, nas encostas do Nevado Mismi, a aproximadamente 5 mil metros de altitude. Dali percorre quase 7 mil quilômetros até desembocar no Oceano Atlântico, onde, junto com o Tocantins e o Xingu, cria um estuário de 330 quilômetros de largura, no qual se encontram duas capitais de Estado, Belém e Macapá, e a maior ilha marítimo-fluvial do mundo, a Ilha de Marajó, com mais de 40 mil quilômetros quadrados. Por todos esses predicados, ele é chamado the River Sea — o Rio Oceano. Por fatores outros que não o das proporções físicas, bem poderia deno- minar-se também Rio da Grandeza, pois até mesmo o seu descobrimento é cercado pela aura do heroísmo. O reino onde o sol não se punha O rei Felipe II da Espanha afirmava que em seus extensos domínios o sol não se punha. E era verdade. No Velho Continente, o monarca governava toda a Península Ibérica, além de numerosas regiões da Península Itálica e da Europa central. Foi, durante quatro anos, soberano da Inglaterra. Possuía territórios na África, na Índia e no Extremo Oriente, entre os quais o arquipélago das Filipinas, assim denominado em sua honra. Reinava também sobre a maior parte da América. A amplidão desse território deviase em larga medida a um destemido corpo de exploradores que, principalmente na época de seu pai, o im- Agosto 2010 · Flashes de Fátima 29 Colômbia Macapá Quito Manaus EquadorNa Am po azo Santarém na s Belém Imperatriz Brasil Rio Branco Lima Peru Porto Velho Partindo do rio Napo, nas proximidades de Quito, Francisco de Orellana demorou sete meses em percorrer os 4,8 mil quilômetros que o separavam do Oceano Atlântico perador Carlos V, dedicaram-se a estender infatigavelmente os já vastos territórios da coroa espanhola. Entre eles estava Vicente Yáñez Pinzón, comandante da caravela “La Niña” na primeira viagem de Cristóvão Colombo. No ano de 1500, retornou para a América, sendo o primeiro cristão a avistar o Amazonas e percorrer sua desembocadura. Ao descomunal curso de água — tão assombroso que lhes permitiu fazer aguada em alto mar, a muitas léguas da costa — deu o nome de Río Santa María del Mar Dulce, em homenagem Àquela que o havia protegido de tantos perigos ao longo da expedição. Todavia, Pinzón não navegou pelo Amazonas adentro e não pôde avaliar sua extensão, os perigos e as riquezas da região como o fez, em 1541, Francisco de Orellana. Após atravessar os Andes junto com o Governador de Quito, Gonzalo Pizarro, foi obrigado pelas circunstâncias a embarcar 30 Flashes de Fátima · Agosto 2010 no Rio Napo com cinquenta homens num bergantim por eles mesmos construído. Seu objetivo era transportar os feridos a um lugar seguro e conseguir mantimentos para a expedição, mas a força da correnteza o impediu de retornar. Teve início, assim, uma incrível viagem de sete meses através do emaranhado de rios e afluentes que percorrem a selva amazônica, até atingir, em agosto de 1542, a desembocadura do rio no Oceano Atlântico. Em certo ponto dessa navegação, Orellana travou acirrado combate com um grupo de “mulheres guerreiras” que disparavam contra os espanhóis flechas e dardos de zarabatana. De regresso à Europa, narrou o fato a Carlos V e este — inspirado no nome das mitológicas guerreiras hititas passou a chamar o rio de Amazonas. Orellana descreveu-as como sendo mulheres altas e adestradas ao combate. Habitavam casas de pedra e acumulavam metais preciosos. Na reali- dade, eram homens da tribo dos Yaguas, indígenas que usavam uma longa cabeleira e ainda hoje habitam a região da confluência dos rios Napo e Negro. Diz-se também que o nome Amazonas deriva da palavra indígena amassunu, cujo significado é: “ruído de águas” ou “água retumbante”. Vida em abundância No ingente e sereno leito desse rio existem extraordinárias riquezas. Mais de 3 mil espécies de peixes foram encontradas no Amazonas, superando em variedade o Oceano Atlântico. Dentre elas, algumas se destacam pela beleza, sendo usadas como peixes ornamentais em aquários de todo o mundo. Outras, pelo contrário, devem sua fama a características nada simpáticas, como as terríveis piranhas, peixes carnívoros, e os poraquês, cujos músculos caudais geram descargas elétricas de até 1.500 volts. Temos também os botos- Barcroft Media via Getty Images MadMaven/T.S.Heisele Mais de 3 mil espécies de peixes foram encontradas no Amazonas, superando em variedade o Oceano Atlântico. Entre elas o botovermelho (direita) e as terríveis piranhas (acima) vermelhos, cetáceos semelhantes aos golfinhos, que atingem 2,6 metros de comprimento e revestem-se de uma característica cor rosada. E o maior peixe de água doce do mundo, o pirarucu, que pode atingir três metros de comprimento e 250 quilos de peso. Sua carne, muito apreciada, faz parte do cardápio popular da região. Isto sem falar dos milhares de espécies de mamíferos, répteis, pássaros ou anfíbios que povoam suas margens. Ou das inumeráveis famílias de plantas, entre as quais se destaca a vitória-régia, um gigantesco nenúfar cujas folhas podem alcançar dois metros e meio de diâmetro. Ou ainda dos recursos minerais, pouco explorados. Impressionante é também a Pororoca, nome com o qual se denomina, no maior rio do mundo, o fenômeno do macaréu. Consiste ele em uma elevação repentina de grandes massas de água junto à foz, provocadas pelo movimento das marés. Existe em todas as grandes desembocaduras fluviais do planeta, mas no Amazonas toma uma dimensão colossal. Ele empurra as águas do oceano por cerca de 160 quilômetros, mas, por ocasião das grandes marés, é vencido pelo oceano, formando ondas que podem atingir seis metros de altura e velocidade de cinquenta quilômetros por hora. O caudaloso rio recua ante a impetuosa vingança do mar, para, em seguida, sereno e vitorioso, retomar seu curso normal. “A sua bênção é como um rio que trasborda” As incomensuráveis riquezas naturais postas por Deus nas vastidões da selva amazônica parecem simbolizar uma realidade espiritual e, ao mesmo tempo, visível: a Santa Igreja Católica. Esta é como um imenso rio sobrenatural que percorre há dois mil anos as tortuosas e infindá- veis distâncias da História tornando fértil tudo o que dela se aproxima. Como o grande “oceano de água doce”, a Esposa de Cristo avança serena e invencível, fecundando com as ricas águas da graça divina todas as personalidades, instituições e nações que se abrem à sua benfazeja influência. Graças a ela, solos áridos se transformam em terras fecundas e produzem para a humanidade flores e frutos de incalculável valor, tais como os hospitais, as universidades, as obras assistenciais e tantas outras instituições completamente desconhecidas no mundo antigo. Tudo quanto de grandioso se contempla na civilização ocidental procede, em última análise, deste canal de graças, desta fonte de bênçãos que é a Igreja, o grande Amazonas espiritual da humanidade. A ela pode-se aplicar, sem dúvida, esta frase da Escritura: “A sua bênção é como um rio que transborda” (Eclo 39, 27). Agosto 2010 · Flashes de Fátima 31 Entrevista com o vice-reitor da Università Pontificia Salesiana Atualidade do pensamento de São Tomás de Aquino Como situar o tomismo no contexto atual? Se o Doutor Angélico vivesse hoje, o que acrescentaria à sua obra? Para a filosofia dele, existe uma “via da beleza”? O padre Mauro Mantovani, SDB, decano da Faculdade de Filosofia do “Salesianum”, de Roma, responde a estas e a outras questões. Claudio José Imperatrice Como se deu sua identificação com o carisma salesiano, levando-o a tornar-se um filho de Dom Bosco? Encontrei os salesianos e os conheci cada vez melhor na minha paróquia em Moncalieri, onde nasci, porque os estudantes salesianos de teologia do centro de estudos turinense da “Cruzinha” vinham ajudar nosso pároco, aos sábados e domingos, nas atividades pastorais. Eu tinha 17 anos e o contato com eles suscitou em mim o crescente desejo de empenhar o melhor de minhas energias e de minha juventude no serviço dos jovens, primeiro no oratório e depois também nas atividades externas, descobrindo aos poucos — graças inclusive ao acompanhamento espiritual, à oração e à vida sacramental, e ao crescente contato com a palavra de Deus — a beleza da experiência de viver até o fundo a própria Fé. No decurso dos anos seguintes e, depois, nos da formação salesiana, procurei aprofundar cada vez 32 Flashes de Fátima · Agosto 2010 mais o sentido do chamado a ser — como afirma nossa Regra de vida — um sinal e um testemunho do amor de Deus aos jovens, sobretudo os mais pobres. Concretamente, isso se configurou sempre mais como serviço à formação espiritual e cultural dos jovens, de modo especial os universitários, tanto religiosos quanto leigos. Em que o estudo da obra de São Tomás de Aquino ajudou-o a crescer e se aprofundar na via salesiana? Entrei pouco a pouco nos estudos sobre São Tomás de Aquino, levado, sobretudo, pela importância a ele atribuída em alguns dos cursos filosóficos fundamentais que segui na Universidade onde agora leciono. O que logo me impressionou foi o fato de, à medida que aprofundava o conhecimento nesses estudos, dar-me conta da grande significação e atualidade do seu pensamento; não porque se deva repetir hoje seu conteúdo de maneira acrítica e ininterrup- ta, com o risco de fazer apenas “arqueologia” fora do contexto, mas, ao contrário, especialmente pelo estímulo a fazer do próprio estudo sério um serviço cultural, pela utilização — por parte do Doutor Angélico — do método filosófico realista, pela abordagem positiva e dialogal com outras tradições religiosas e culturais, pela profundidade de algumas argumentações fundamentais, quer de cunho metafísico quer antropológico. O ponto particular que assinalo, inclusive porque pode ser resumitivo de vários outros elementos, está propriamente naquela harmonia entre fé e razão, que a própria encíclica Fides et ratio lhe reconhece. Como situar o pensamento de São Tomás de Aquino num mundo marcado pelo espírito materialista, consumista e voltado para o imediato? Respondendo diretamente à pergunta, sem entrar no mérito das considerações sociológicas a respeito da Sérgio Miyazaki afastadas da sua, e fazendo o esforço crítico de discernir entre o que nelas se encontra de complementar, integrativo e harmonizável com a sua, e aquilo que, pelo contrário, mostra-se simplesmente inconciliável. Embora hoje tenha aumentado a justo título a atenção aos comentários escriturísticos do Doutor Angélico, colhendo-se neles inclusive seu significado metafísico e antropológico, na minha opinião o Aquinate nos apresentaria ainda hoje o seu De ente et essentia como texto que, mesmo brevemente, contém a chave fundamental para a comEm certos segmentos da preensão do seu enfoque sociedade encontra-se metafísico e da sua originauma sede do metafísico As questões atualmente mais vivas no debate lidade, que — mesmo com que produz grande cultural remetem a temas metafísicos e diferenças relevantes na sua antropológicos vivacidade intelectual. O interpretação por parte dos senhor é desta opinião? Nas fotos, Pe. Mauro Mantovani, na Igreja do Seminário dos comentadores, tanto clássiArautos, em Caieiras, São Paulo cos como modernos — foi Concordo quanto à existência desses “fermentos culturais” bate cultural (a bioética, o respeito justamente identificada com a douque demonstram grande vivacidade ao meio ambiente, as neurociências, trina da distinção real, nas criaturas, intelectual: naquilo em que não são para mencionar apenas algumas) do ato de ser e da essência, e da repreconceituais ou autorreferenciais não fazem outra coisa senão reme- lativa indicação filosófica do Absoe mostram-se abertos à dimensão ter a temas metafísicos e antropoló- luto como o Ipsum Esse Subsitens. Num estudo recente, procurei mais autêntica da procura da verda- gicos fundamentais. demonstrar, por exemplo, como se de, dado existencial que acompanha Se São Tomás vivesse hoje, o poderia assinalar uma ligação direta todo homem, abrem-se efetivamenque acrescentaria à sua obra? entre a impostação metafísica prete novos espaços, até agora inexploCertamente o Doutor Angélico sente no De ente et essentia e as carados, para o encaminhamento na não hesitaria em enfrentar hoje os racterísticas próprias das assim chadireção da Transcendência. De resto, já superamos dentro do novos temas e não recuaria ante as madas “cinco vias” presentes na Supróprio debate epistemológico uma quæstiones disputatæ que lhe fossem ma Teológica (I, q.II, a.3). Sob o ponto de vista da ética, pavisão reducionista de ciência — em- apresentadas pelos seus eventuais alubora, infelizmente, algumas formas nos. Procederia, com certeza, evitan- rece-me também significativo ressalde reducionismo continuem a do- do a superficialidade e a improvisa- tar como a reflexão moral do Doutor minar os horizontes de certa cultura ção, provavelmente não se apresen- Angélico está hoje em condições de que invoca a abertura, mas se mos- tando com frequência na mídia ou nos suscitar particular interesse, por ser tra, ela mesma, ainda bastante fe- programas de entrevista para abordar capaz de aprofundar e de desenvolchada —, assim como fica evidente todo tipo de assunto, mas estudando, ver de modo muito adequado a relatambém que quem continua a sus- antes, a fundo cada autor e interlocu- ção entre os conceitos de felicidade, tentar a existência da “crise da me- tor, e evidenciando todo aspecto apre- de vida reta e de virtude, fundamentafísica” não percebe que as ques- ciável — pelo seu conteúdo de verda- tando em última análise uma ética da tões atualmente mais vivas no de- de — inclusive das perspectivas mais “primeira pessoa”, como demonssituação contemporânea, parece-me poder dizer que o tomismo — empregando este termo numa acepção ampla e geral — pode fornecer hoje um importante contributo cultural também a este respeito. Com efeito, ele defende e valoriza de modo autêntico a dimensão terrena e material das realidades criadas, acrescentando, porém, a necessidade de lhes atribuir o justo valor, de colocá-las no seu devido lugar, segundo uma ordem que está sempre à disposição do sujeito e de sua consciência, mas que, em si, não é subjetiva, e sim objetiva. Agosto 2010 · Flashes de Fátima 33 tram, entre outros, vários estudos do Prof. Giuseppe Abbà, docente de filosofia moral na Faculdade de Filosofia Salesiana de Roma, que me alegro de ter como amigo e colega. Viver e trabalhar em Roma representa, com efeito, uma ocasião única de enriquecimento também para aqueles que se interessam pelos estudos tomistas, tendo a possibilidade de interagir frequentemente com colegas e pesquisadores da Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino (Angelicum) e de outras universidades, sobretudo pontifícias e, além disso, com vários membros da Pontifícia Academia São Tomás e da Sociedade Internacional Tomás de Aquino. Ainda nos últimos anos não faltaram atividades comuns, de grande interesse científico e de ampla divulgação. Como o pensamento tomista vê a experiência estética enquanto um caminho rumo ao Absoluto? Existe uma “via da beleza”? Sérgio Miyazaki O tema da beleza é particularmente significativo e sugestivo hoje, porque, dentro de uma situação cultural que parece mostrar-se menos sensível e atenta à dimensão trans- cendental (portanto, objetiva) da verdade e da bondade, a experiência estética e o encontro com tudo quanto é caracterizado pela beleza e sublimidade, sejam elas naturais ou artísticas, representam em várias ocasiões uma “via” privilegiada para elevar as próprias considerações, abrir-se à dimensão transcendente da existência e encaminhar-se rumo Àquele que é o “sumamente Belo”. Nesse sentido são muito interessantes os episódios biográficos daqueles que alcançaram uma abertura para o Absoluto a partir — ou por meio — de uma forte experiência estética, por exemplo, a musical. Basta pensar em intelectuais como Paul Claudel ou Gabriel García Morente. Quanto à pergunta se existe uma específica “via da beleza”, eu responderia que, na medida em que o pulchrum é reconhecido como um transcendental do ser — como fica evidente na Suma Teológica (I, q.5, a.4), onde Tomás de Aquino afirma que “pulchrum et bonum in subiecto sunt idem, sed ratione differunt” —, a via pulchritudinis pode tornar-se transitável. Não, entretanto, como uma via ulterior e específica, mas se- O Doutor Angélico não hesitaria em enfrentar hoje os novos temas e não recuaria ante as “quæstiones disputatæ” que lhe fossem apresentadas 34 Flashes de Fátima · Agosto 2010 gundo aquela mesma perspectiva da quarta via, ou seja, ex gradibus perfectionis. Por tal perspectiva, depois de haver-se individuado e reconhecido ao menos algumas perfeições, pode-se também afirmar que elas não encontram a razão última de sua “distribuição” nos graus diversos das realidades criadas senão remontando à afirmação da existência daquela Realidade que possui essa perfeição no seu sumo grau, ou melhor, é a própria perfeição subsistente, identificando-se com o Ipsum Esse Subsistens. O filósofo tomista padre Battista Mondin escreveu acertadamente que “permanecemos extasiados na presença da beleza. A beleza olhase, fixa-se, contempla-se, escuta-se silenciosamente. A beleza se apodera de todo o nosso ser. Um belo sol no oceano, o panorama dos Alpes, a Capela Sistina, o espetáculo de um bom filme ou de uma obra musical... nos arrebatam de tal forma que gostaríamos que nunca terminasse. Há na beleza algo de prodigioso, extraordinário, sublime, sobrenatural que não pode provir da matéria. Por isso filósofos, teólogos e poetas viram na beleza uma perfeição divina”. O presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Dom Gianfranco Ravasi, criou recentemente uma fundação para promover o encontro da Igreja com os não crentes e agnósticos. Poderia nos indicar outros projetos orientados ao diálogo entre Religião e Ciência? As atividades do Pontifício Conselho para a Cultura e as iniciativas tomadas por Dom Gianfranco, que o senhor menciona, representam uma experiência muito profícua de diálogo entre a Igreja e a cultura contemporânea, quer na sua caracterização puramente científica, quer na diretamente humanística, na qual a arte tem um Sérgio Miyazaki – Temas, experiências, persespaço muito importante e pectivas (em conjunto com privilegiado. C. Desbouts, Libreria EdiEntre os mais frutuosos trice Vaticana, 2010). No toexemplos de diálogo ental, foram editados até agotre ciência e religião, prora nove volumes da STOQ priamente na perspectiProject Research Series. va de promover um renoGostaria de concluir vado encontro e colaboracom uma citação do nosção entre a “cultura cienso pranteado Dom Cartífica” e a “humanística”, lo Chenis, secretário da encontra-se sem dúvida o Pontifícia Comissão para Projeto STOQ (Science, os Bens Culturais da IgreTheology and the Ontologija, Bispo de Civitavecchiacal Quest), do qual tenho a Tarquinia e docente de Eshonra e a alegria de partitética durante mais de 25 cipar como Coordenador e anos na Pontifícia Univerrepresentante da Pontifísidade Salesiana, que nos cia Universidade Salesiadeixou prematuramente na. em 19 de março de 2010: Este projeto, lançado “Diz-se Deus com a palanos primeiros anos do tervra, com a imagem, com o ceiro milênio graças à cosilêncio. Envolve-se Deus ordenação e ao apoio do nas palavras humanas, Pontifício Conselho para a que se tornam mágicas, Cultura, abarca, junto com Há na beleza algo de prodigioso, extraordinário, ou anuncia-se Sua inefável a nossa, sete outras unisublime, sobrenatural que não pode provir da matéria presença mediante oráversidades pontifícias roculos e profecias. ‘Dizer manas, como a Lateranense, a Gregoriana, o Ateneo Regina nhecendo um espaço importante, Deus’ é o mais significativo emApostolorum, a Santa Cruz e a São no âmbito epistemológico e inter- penho do existir humano, pois é Tomás de Aquino, com a funda- disciplinar, ao papel e à mediação também ‘dizer o próprio eu’ chegando ao fim da vida. Em compamental sustentação da John Tem- da filosofia. pleton Foundation. Além de pesquisas e congressos, ração com Ele, discursos e imaO contributo específico da Pon- convites a docentes de fama inter- gens são totalmente inadequados tifícia Universidade Salesiana ao nacional para aulas ou conferências e ao mesmo tempo são símbolos Projeto STOQ está voltado — em e colaboração com outras univer- d’Ele. A aventura de ‘dizer Deus’ relação à identidade cultural, ecle- sidades no campo da relação entre repropõe o diário de toda a humasial e carismática da nossa institui- teologia, filosofia e disciplinas cien- nidade, cujas páginas são manusção acadêmica — para a considera- tíficas, já realizamos duas publica- critas com incerteza ou com segução do âmbito educativo como lu- ções: Fé, Cultura e Ciência – Disci- rança, com tumulto ou com seregar particularmente significativo plinas em diálogo (em conjunto com nidade, com exultação ou com ande encontro entre religião, ciências M. Amerise, Libreria Editrice Vati- gústia, com desespero ou com fehumanas e ciências naturais, reco- cana, 2008) e Didática das ciências licidade”. N ascido em Moncalieri (Turim), no ano de 1966, Pe. Mauro Mantovani é Vice-reitor da Pontifícia Universidade Salesiana, de Roma, e Decano da sua Faculdade de Filosofia. Desde 1986 pertence à Congregação Salesiana. Foi ordenado sacerdote em 1994 e obteve o Doutorado em Filosofia (eclesiástico e civil) na Pontifícia Universidade de Salamanca, Espanha. É membro da Pontifícia Academia São Tomás de Aquino e conselheiro da Sociedade Internacional Tomás de Aquino. Agosto 2010 · Flashes de Fátima 35 © Santiebeati.it São Pedro Julião Eymard, SSS Apóstolo da Eucaristia “É preciso fazer Jesus Eucarístico sair de Seu retiro para pôr-Se de novo à testa da sociedade cristã que há de dirigir e salvar. É preciso construir-Lhe um palácio, um trono, rodeá-Lo de uma corte de fiéis servidores, de uma família de amigos, de um povo de adoradores”. Eis a grande missão de São Pedro Julião Eymard. Irmã Juliane Vasconcelos Almeida Campos, EP N a igreja da pequena cidade francesa de La Mure d’Isère, próxima de Grenoble, estava um menino de cinco anos, sentado numa pequena escada atrás do altar, com o corpo inclinado e a fronte quase encostada no sacrário. Foi ali que o encontrou sua irmã, depois de tê-lo procurado aflita por todo o povoado. — O que faz você aqui? — perguntou ao vê-lo. — Ora — respondeu ele com candura —, apenas converso com Jesus. — Mas, por que desse modo tão singular?! — Porque assim O escuto melhor! Ainda não sabia este prematuro devoto do Santíssimo Sacramento a grande missão que a Providência lhe tinha reservado e quão cheia de lutas, mas também de glórias, seria a vida que o aguardava. Sua precoce atração 36 Flashes de Fátima · Agosto 2010 por Cristo Hóstia não era senão uma incipiente preparação para ela.1 “Peço-Vos a graça de ser sacerdote” Filho de Julião Eymard e Maria Madalena Pelorse, Pedro veio ao mundo em 4 de fevereiro de 1811. Sua família estava reduzida aos pais e a uma meia-irmã, Mariana, doze anos mais velha; os outros filhos do casal haviam falecido em tenra idade e um pereceu nos exércitos de Napoleão. Na igreja paroquial da cidade havia o piedoso costume da bênção com o Santíssimo Sacramento, depois da Missa diária. Sua mãe não faltava a esta um dia sequer e oferecia devotamente o filho a Jesus nessa hora. Assim, a presença de Cristo no ostensório e no sacrário lhe foi familiar desde muito cedo. Seu pai se estabelecera em La Mure d’Isère com uma pequena indús- tria de azeite de nozes. O jovem Pedro o ajudava, entregando aos clientes o produto. Mas sentia-se tão atraído por Jesus no tabernáculo que, passando pela igreja, sempre ia fazer-Lhe uma visita. E quando a irmã voltava do Sagrado Banquete, procurava ficar bem junto dela, para sentir a presença eucarística em sua alma. Aos doze anos de idade, finalmente deu-se o momento tão esperado de sua Primeira Comunhão. Quantas graças recebeu naquele dia! Uma delas foi a de sentir na alma o chamado ao sacerdócio. Mas quando falou ao pai do seu firme desejo de seguir essa vocação, recebeu como resposta uma categórica negativa. A mãe, do seu lado, calava e rezava, sem perder as esperanças de ver o filho junto ao altar. Inteligente e de caráter resoluto, o jovem Pedro continuou a ajudar o pai nas lides da indústria caseira, mas pôs-se a estudar latim, às es- Pároco e religioso Entretanto, quando tudo parecia conduzi-lo à realização da grande aspiração de sua vida, uma grave enfermidade o obrigou a voltar para casa, deixando-o à beira da morte. Ao ser-lhe levado o Viático, pediu a Jesus Sacramentado que lhe concedesse a graça de recuperar a saúde para poder ser sacerdote e celebrar pelo menos uma Missa. Sua prece foi atendida. Curouse e ingressou no Seminário Maior de Grenoble, sendo apresentado ao reitor pelo próprio fundador dos Oblatos de Maria, Santo Eugênio de Mazenod, na época Bispo de Marselha. Em 20 de julho de 1834, festa de Santo Elias, recebia a ordenação sacerdotal, aos 23 anos de idade. Durante os primeiros cinco anos de ministério, foi coadjutor em Chatte e depois pároco em Monteynard. Como autêntico pastor, tinha por meta santificar-se e santificar “suas ove- Sergio Hollmann condidas. Aos dezesseis anos, obteve dele licença para prosseguir esses estudos, primeiramente em La Mure e depois em Grenoble. Foi nessa cidade que recebeu a notícia do repentino falecimento da mãe. Entre lágrimas, pôs-se aos pés de uma imagem de Nossa Senhora, rogando-Lhe: “Por favor, a partir de agora sede minha única Mãe! Mas antes de tudo, peço-Vos a graça de chegar um dia a ser sacerdote”.2 Esse amor à Santíssima Virgem não fez senão aumentar até o fim de sua vida. Foi apenas depois de completar dezoito anos, não sem muitas dificuldades, mesmo contando com ajuda do padre Jose Guibert — nessa época jovem sacerdote dos Missionários Oblatos de Maria Imaculada e mais tarde Cardeal e Arcebispo de Paris —, que conseguiu convencer o pai de permitir seu ingresso no noviciado dessa Congregação, em Marselha. Pela primeira vez, dava passos firmes rumo ao cumprimento de sua vocação. A devoção à Sagrada Eucaristia era o meio de solucionar os intricados problemas nos quais imergia o mundo e renovar a vida cristã Adoração Eucarística na Basílica do Santíssimo Sacramento, Buenos Aires lhas”, seguindo os métodos de outro santo pároco, o Cura d’Ars, do qual era grande amigo: diariamente rezava o Ofício Divino na igreja e depois saía para o átrio a fim de conversar com os fiéis. Dotado de um forte carisma para atrair, instruía e animava a todos, obtendo notáveis conversões. Contudo, a vida de pároco não o satisfazia inteiramente: desejava ser religioso. Apesar dos protestos de sua grei e das lágrimas de sua irmã Mariana, obteve autorização do ordinário para deixar o cargo e entrou em 1839 no noviciado dos Padres Maristas, em Lyon.3 Os membros desse Instituto, fundado três anos antes pelo padre Jean Claude Colin, receberam por missão evangelizar os povos do Pacífico e, em consequência, padre Pedro Julião preparava-se para ser enviado como apóstolo à longínqua Oceania. Outros, porém, eram os desígnios para ele reservados: foi nomeado diretor espiritual do Colégio Marista de Belley, superior provincial, visitador apostólico e, mais tarde, diretor da Ordem Terceira de Maria, em Lyon. Nessa cidade, exerceu um intenso apostolado, sobretudo com encar- cerados, enfermos e operários. Enfrentou com destemor os ventos do século XIX, impregnado de utilitarismo, bafejado por um anticlericalismo obstinado que procurava relegar ao segundo plano, ou mesmo ao desprezo, a Religião e os valores sobrenaturais. Aquele jovem sacerdote cheio de zelo pela causa de Deus notava o quanto a sociedade de sua época se afastava de Cristo e de Sua Igreja, e ardia em desejo de fazer algo para reverter essa situação. A grande missão de sua vida Com tudo isso, a Providência ia aos poucos preparando-o para a realização da grande missão de sua vida. Duas insignes graças o levaram definitivamente a entregar-se a ela. Portando a custódia com o Santíssimo Sacramento durante uma procissão em 1845, sentiu-se pervadido por uma grande força e pediu a Deus que lhe desse o zelo apostólico de São Paulo, para difundir como ele o nome de Jesus Cristo. Mais decisiva, porém, foi a graça recebida em 1851, quando rezava diante da imagem da Virgem Santíssima, no santuário mariano de FourvièAgosto 2010 · Flashes de Fátima 37 Vitor Toniolo re. Em certo momento, ouviu com clareza no fundo da alma a voz de Nossa Senhora, que lhe expunha a necessidade de haver uma congregação religiosa destinada a honrar de modo especial a Sagrada Eucaristia, e apontava esta devoção como meio de solucionar os intricados problemas nos quais imergia o mundo, renovar a vida cristã e promover a autêntica formação de sacerdotes e leigos. Assim, quem o impeliu nas sendas de sua missão eucarística foi Aquela que, mais tarde, ele passou a venerar sob o título de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, modelo dos adoradores. Padre Pedro Julião deixou registradas algumas das cogitações que nessa época enchiam sua alma de apóstolo: “Tenho refletido amiúde sobre os remédios para esta indiferença universal, que se apodera de tantos católicos de maneira assombrosa, e só encontro um: a Eucaristia, o amor a Jesus Eucarístico. A perda da fé provém da perda do amor”.4 Algum tempo depois, acrescentou: “É preciso pôr-se imediatamente à obra, salvar as almas com a Eucaristia, despertar a França e a Europa, submersas no sono da indiferença, porque não conhecem o dom de Deus, Jesus, o Emanuel da Eucaristia. É preciso espalhar esta centelha do amor nas almas tíbias que se julgam piedosas e não o são, porque não fixaram o centro de suas vidas em Jesus no tabernáculo”.5 “Nós não pregamos senão a Jesus Cristo, e Jesus Cristo Sacramentado”, dizia ele, parafraseando a célebre afirmação de São Paulo (cf. I Cor 1, 23). Nasce a Congregação dos Sacramentinos Disposto a “pôr-se imediatamente à obra”, expôs ao Superior Geral dos Padres Maristas seu desejo de fundar uma nova congregação. Es38 Flashes de Fátima · Agosto 2010 essa a obra que faltava na Arquidiocese de Paris. Nasceu assim a Congregação do Santíssimo Sacramento, em 13 de maio de 1856. Em seu primeiro encontro com o Beato Pio IX, a 20 de dezembro de 1858, este foi ainda mais caloroso e categórico que o Arcebispo de Paris: “Estou convencido de que sua obra vem de Deus e a Igreja dela necessita” 6 — afirmou. Cinco anos mais tarde, em 1863, o mesmo Pontífice enviou-lhe um Breve Laudatório, aprovando oficialmente o novo Instituto. Os sofrimentos consolidam a obra Por meio de uma clara voz interior, Nossa Senhora lhe expôs a necessidade de haver uma congregação religiosa destinada a honrar de modo especial a Sagrada Eucaristia "Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento", Igreja de Santi Andrea e Claudio dei Borgognoni, Roma te examinou com vagar o projeto e o dispensou dos seus votos de religioso, dando-lhe assim plena liberdade para agir. Logo depois, porém, julgou melhor submeter o caso ao Arcebispo de Paris, Dom Marie-Dominique-Auguste Sibour. Apresentou-se, pois, no Palácio Arquiepiscopal o padre Pedro Julião, acompanhado de seu primeiro discípulo, o Conde Raimundo de Cuers, excapitão de fragata, que receberia mais tarde a ordenação sacerdotal na nova Congregação. Explicou a Dom Sibour seu plano de fundar uma instituição religiosa contemplativa de adoradores do Santíssimo Sacramento e ao mesmo tempo de vida ativa, com uma frente de apostolado voltada, sobretudo, para a classe operária, ocupando-se em incrementar a devoção à Sagrada Eucaristia, preparar adultos para a Primeira Comunhão e outras atividades correlatas. O Arcebispo se entusiasmou com a ideia, declarando ser A comunidade inicial — formada por apenas três membros: padre Pedro Julião, padre Cuers e padre Champion — instalou-se numa casa posta à sua disposição pelo próprio Dom Sibour. Na festa dos Reis Magos de 1857, expôs-se pela primeira vez o Santíssimo Sacramento na Capela. Um ano depois, foi conseguida a segunda casa no subúrbio de Saint-Jacques, a qual ficou conhecida pelo nome de Capela dos Milagres, por causa de todas as graças ali derramadas ao longo de nove anos. A obra desenvolvia-se com lentidão, enfrentando dificuldades de toda ordem. O Santíssimo Sacramento devia permanecer exposto perpetuamente, mas os adoradores inscritos logo davam sinais de cansaço, sobretudo diante da dificuldade da vigília noturna, e houve algumas deserções. O próprio padre Cuers pediu a Roma a supressão dos votos para fundar outro instituto. Também não lhe faltaram as provações decorrentes das calúnias e incompreensões. Diante de tudo isso, dizia ele com grande espírito sobrenatural: “Tenho medo de que cessem as provações”.7 Assim, não foi apenas a dor física — das penitências voluntárias e das enfermidades — que purificou sua alma e a sua fundação, mas também o sofrimento moral. Fecundidade da Adoração Apesar disso, as vocações continuavam chegando, graças, sobretudo, aos sermões cheios de entusiasmo eucarístico do fundador, que os preparava diante do tabernáculo. Não em vão, afirmava o padre Eymard, uma hora aos pés de Jesus Sacramentado vale mais do que uma manhã inteira de estudos em livros. Como São Paulo, era o amor de Cristo que o impelia a pregar. Ardia em seu coração o enorme desejo de incendiar o mundo com o fogo d’Aquele que está presente em cada sacrário. Era preciso tirá-Lo dali, expô-Lo, prestar-Lhe adoração, reconhecendo ser Ele o único capaz de sanar todos os problemas, tanto dos indivíduos quanto da sociedade. Em seu desejo de levar as almas à Sagrada Eucaristia, fundou também a Congregação das Servas do Santíssimo Sacramento, contemplativas dedicadas à Adoração Perpétua, e uma espécie de Ordem Terceira, à qual deu o nome de Agregação do Santíssimo Sacramento. Inspirador dos Congressos Eucarísticos “É preciso fazer Jesus Eucarístico sair de seu retiro para pôr-Se de novo à testa da sociedade cristã que há de dirigir e salvar. É preciso construir-Lhe um palácio, um trono, ro- 1 Recordando este fato, mais tarde, João XXIII diria as seguintes palavras: “Aquele menino de cinco anos, que encontraram no altar com a fronte apoiada no sacrário, é o mesmo que, tempos depois, chegaria a fundar a Sociedade dos Sacerdotes do Santíssimo Sacramento, assim como a das Servas do Santíssimo Sacramento, irradiando em inumeráveis legiões de sacerdotes-adoradores seu amor e sua ternura para com Cristo vivo na Eucaristia” (Homilia de Canonização dos santos: Pedro Julião Eymard, deá-Lo de uma corte de fiéis servidores, de uma família de amigos, de um povo de adoradores”.8 Eis a grande missão de São Pedro Julião. Os Congressos Eucarísticos surgiram como fruto deste poderoso anelo. Foram eles uma iniciativa pioneira da Srta. Emilia Tamisier, uma jovem que ingressara na Congregação das Servas do Santíssimo Sacramento e lá permanecera quatro anos, sob o nome de Irmã Emiliana. Depois, com a bênção do santo fundador, saiu do convento para ser no mundo uma missionária itinerante da Eucaristia. Assim, em 1881, inspirada por seu mestre e vencendo numerosos obstáculos, organizava ela o primeiro Congresso Eucarístico da História, que se realizou em Lille, sob o tema A Eucaristia salva o mundo e contou com especial bênção do Papa Leão XIII. Para sua efetivação, recebeu ajuda dos Padres Sacramentinos, de diversos Bispos e numerosas personalidades leigas. A partir daí, multiplicaram-se congressos semelhantes, não só regionais, mas também nacionais e internacionais. Uma instituição que tomou vulto e perdura até nossos dias. Extenuado por suas intensas atividades, emagrecido e com dificul- dades de se alimentar, o padre Eymard recebeu estritas ordens médicas de repouso. Na segunda quinzena de julho de 1868, dirigiu-se a La Mure, onde podia contar com os cuidados da irmã. Em caminho, celebrou sua última Missa em Grenoble, na capela consagrada à Adoração Perpétua. Poucos dias depois, os médicos diagnosticaram uma hemorragia cerebral. Sua última confissão foi feita por sinais, pois já não conseguia falar. No dia 1º de agosto, recebeu a Unção dos Enfermos, e o padre Chanuet, sacramentino, celebrou a Missa no seu próprio quarto, ministrando-lhe a Sagrada Comunhão. Era a derradeira! — Morreu um santo! — exclamavam os habitantes da pequena cidade. Antes de completar-se um ano de seu falecimento, beneficiou com vários milagres os fiéis que rezavam ante sua sepultura. Quase cem anos depois, no dia seguinte do término da primeira sessão do Concílio Vaticano II, 9 de dezembro de 1962, João XXIII o elevou à honra dos altares em presença de 1.500 padres conciliares. Passados mais trinta e três anos, era inscrito no Calendário Romano e apresentado à Igreja Universal com o título de “Apóstolo da Eucaristia”. Antonio Maria Pucci, Francisco Maria da Camporrosso, 9/12/1962). los Religiosos Sacramentinos: http:// es.ssseu.net. Ocaso de uma vida santa 2 BEAUCHEF, OSB, Antoine Marie. Carta espiritual - sobre São Pedro Julião Eymard. In: Abbaye Saint Joseph de Clairval à Flavigny: http:// www.clairval.com/index. 3 Instituto afim e inspirador dos Irmãos Maristas, fundados por São Marcelino Champagnat. 4 Carta de 22 de outubro de 1851, apud PEDRETTI, SSS, Antonio. El fundador. In: Página Europea de 5 Carta de 11 de fevereiro de 1852, apud PEDRETTI, op. cit. 6 BEAUCHEF, op. cit. 7 BAIGORRI, SSS, Luis. San Pedro Julián Eymard. In: ECHEVERRÍA, L., LLORCA, B., BETES, J. (Org.). Año Cristiano. Madrid: BAC, 2005, v.VII, p.55. 8 EYMARD, SSS, São Pedro Julião. Obras Eucarísticas. Madrid: Ediciones Eucaristia, 1963, p.XX. Agosto 2010 · Flashes de Fátima 39 Sacerdote apunhalado durante Missa, no Chile O Pe. José Francisco Núñez Calisto (42 anos), pároco da Igreja São Miguel Arcanjo, na cidade chilena de Calbuco, foi vítima de uma sacrílega tentativa de assassinato no dia 18 de junho, quando distribuía aos fiéis a Comunhão. Na Missa vespertina, um homem de 30 anos, que estava na fila aparentemente para receber o Santíssimo, desferiu-lhe um golpe de faca no pescoço. Os fiéis dominaram o agressor e o entregaram à polícia. Levado sem demora para o Hospital Base de Puerto Montt, o sacerdote foi submetido a uma delicada intervenção cirúrgica e ali permaneceu em estado grave, se bem que fora de perigo vital. Reinaugurado Monumento ao Cristo Redentor Completamente renovado, após quatro meses de meticulosas obras de restauração, o Monumento ao Cristo Redentor, no Morro do Corcovado, Rio de Janeiro, foi reinaugurado em 30 de junho. De manhã, o Secretário Geral da CNBB e Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio, Dom Dimas Lara Barbosa, celebrou a Missa de reabertura. Ao meio-dia, o Arcebispo, Dom Orani Tempesta, OCist, presidiu a oração do Angelus, ressaltando, nessa ocasião, que “a restauração do Monumento recorda a necessidade da restauração da pessoa: assim como a imagem do Cristo, a so40 Flashes de Fátima · Agosto 2010 Cardeal Marc Ouellet Congregação para os Bispos tem novo Prefeito O Cardeal Marc Ouellet, Arcebispo de Quebec, Canadá, foi nomeado pelo Papa Bento XVI, em 30 de junho, Prefeito da Congregação para os Bispos e Presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina. Sucede, em ambos os cargos, ao Cardeal Giovanni Battista Re, cuja renúncia foi aceita por limite de idade. Nascido em 1944, o Cardeal Marc Ouellet recebeu a ordenação sacerdotal em 1968. Doutorouse em Teologia Dogmática, foi professor de vários institutos superiores de ensino e exerceu funções de alta responsabilidade na Companhia dos Padres de São Sulpício, até ser elevado à dignidade arquiepiscopal e nomeado Presidente do Pontifício Conselho para Promoção da Unidade dos Cristãos, em 2001. O Papa João Paulo II o nomeou Arcebispo de Quebec, em novembro de 2002, e conferiu-lhe a púrpu- ra cardinalícia no Consistório de 21 de outubro de 2003. “Significativo passo adiante” nas relações entre Santa Sé e Vietnã Como resultado do encontro entre a delegação do Vietnã e a do Vaticano, nos dias 23 e 24 de junho, foi dado um “significativo passo adiante” nas relações entre a Santa Sé e esse país asiático — informa a agência Fides. Ao término das conversações, a Secretaria de Estado do Vaticano divulgou um comunicado no qual afirma que, como “primeiro passo” para aprofundar as relações entre Santa Sé e Vietnã, foi acordada “a nomeação, por parte do Papa, de um representante não residente da Santa Sé nesse país asiático”, que conta com cerca de seis milhões de católicos. Por ocasião desse encontro, os membros da delegação vietnamita fizeram visitas de cortesia a Dom Dominique Mamberti, Secretário das Relações com os Estados, ao Cardeal Ivan Dias, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, e ao Vicariato da Diocese de Roma. HogardelaMadre.org Gustavo Kralj ciedade precisa estar cada vez mais bela e restaurada”. Além das autoridades eclesiásticas, participaram do evento autoridades civis e diversas outras personalidades. Pe. Félix López, Servo Geral Lar da Mãe recebe aprovação pontifícia O Lar da Mãe, instituição eclesial surgida na Espanha em 1982, foi reconhecida, em 21 de junho, como Associação Internacional Pública de Fiéis de Direito Pontifício. Bento XVI cria o Pontifício Conselho para a Nova Evangelização E m sua homilia na celebração das Primeiras Vésperas da Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, no dia 28 de junho, o Papa Bento XVI anunciou sua decisão de criar o Pontifício Conselho para Promoção da Nova Evangelização, cuja principal tarefa será “promover uma renovada evangelização nos países onde já ressoou o primeiro anúncio da Fé e estão presentes Igrejas de antiga fundação, mas que estão passando por uma progressiva secularização da sociedade e vivendo uma espécie de eclipse do sentido de Deus”. Dois dias depois, a Sala de Imprensa da Santa Sé noticiou a nomeação de seu primeiro Presidente: o Arcebispo Dom Salvatore Fisichella, até então Presidente da Pontifícia Academia para a Vida e Reitor da Pontifícia Universidade Lateranense. Dom Fisichella nasceu em 1951, foi ordenado sacerdote em 1976 e Bispo em 1998. É professor de Teologia Fundamental, foi Bispo Auxiliar de Roma e cape- te cessou ao ser ele imobilizado por um policial. Felizmente, apesar da violência do ataque, os danos ocasionados são “reparáveis”, segundo afirma o Irmão Maior da Confraria do Gran Poder, Enrique Esquivias. A imagem danificada é uma das mais veneradas na Semana Santa sevilhana. De tamanho natural, foi entalhada em madeira, em 1620, pelo célebre escultor Juan de Mesa. Carlos Aguirre Em cerimônia na sede do Pontifício Conselho para os Leigos, o Cardeal Stanisław Ryłko fez a entrega do Decreto ao seu fundador, Pe. Rafael Alonso Reymundo. Além deste, encontravam-se em Roma, nessa ocasião, numerosos membros do Lar da Mãe, entre os quais o Pe. Félix López, Servo Geral dos Servos dessa instituição, e Madre Ana María Campo, Serva Geral das Servas. Num breve encontro no final da Audiência Geral de quarta feira, dia 23, o Santo Padre dirigiu-lhes paternais palavras de saudação. Espalhado atualmente em vários países da Europa e das Américas, o Lar da Mãe tem por missão propagar o culto e a devoção à Sagrada Eucaristia; defender os títulos da Santíssima Virgem Maria, de modo especial o privilégio de Sua Virgindade; e a conquista dos jovens para Jesus Cristo. lão da Câmara dos Deputados da Itália, além de ocupar vários cargos na Conferência Episcopal Italiana. Para substituí-lo no cargo de Presidente da Pontifícia Academia para a Vida, Sua Santidade designou o Mons. Ignacio Carrasco de Paula, 73 anos, sacerdote do Opus Dei, ordenado em 1966. Doutor em Filosofia e Medicina, foi diretor do Instituto de Bioética na Faculdade de Medicina e Cirurgia “Agostino Gemelli” (2002-2009) e diretor da Universidade Santa Cruz, do Opus Dei (1984-1994). Como novo Reitor da Pontifícia Universidade Lateranense, a escolha do Sumo Pontífice recaiu sobre o Pe. Enrico dal Covolo, religioso salesiano nascido em 1950 e ordenado sacerdote em 1979. Laureado em Letras Clássicas e doutor em Teologia e Ciências Patrísticas, é professor de Literatura Cristã Grega Antiga, membro da Pontifícia Academia de Teologia e da Pontifícia Comissão de Ciências Históricas. Atentado sacrílego contra o Cristo do “Gran Poder” Novas provas da autenticidade do Santo Sudário A imagem de Jesús del Gran Poder, exposta à veneração dos fiéis na basílica do mesmo nome em Sevilha, Espanha, foi vítima de um sacrílego atentado no dia 20 de junho. Terminada a Missa das 20h30, um homem, de cerca de 40 anos, golpeou a imagem repetidas vezes, rasgou-lhe as vestes e acabou por arrancar-lhe um dos braços. A agressão somen- A recente exposição do Santo Sudário, em Turim — 10 de abril a 23 de maio —, levantou no mundo inteiro nova onda de interesse pela história dessa valiosa relíquia. Numerosos estudiosos e cientistas publicaram trabalhos a respeito da autenticidade da mortalha que envolveu o Corpo Sagrado de Nosso Senhor Jesus Cristo. Agosto 2010 · Flashes de Fátima 41 Entre estes, destaca-se o livro Botânica do Sudário – História das imagens florais no Sudário de Turim (Danin Publishing, 2010, 104p.), do Dr. Avinoam Danin, professor emérito do Departamento de Evolução Sistemática e Ecologia da Universidade Hebraica de Jerusalém. Em cem páginas ilustradas, a obra do Prof. Danin acrescenta alguns dados interessantes para comprovar a autenticidade do Santo Sudário, entre os quais o seguinte: cen- tenas de imagens de plantas, que ficaram impressas no precioso tecido de linho, contribuem para determinar onde e quando as flores originais foram postas em contato com ele; essas imagens são irretorquivelmente verdadeiras, não foram criadas mediante artifício; a região onde se podia colher as três espécies de flores, selecionadas por ele para análise, situa-se entre as cidades de Jerusalém e Hebron. O leitor poderá encontrar estes e vários outros dados no ar- tigo Se la botanica studia la Sindone – La primavera di Gerusalemme, de Tania Mann, publicado em L’Osservatore Romano de 12 de maio (http://www.vatican.va/news_services/or/or_quo/ cultura/2010/108q05b1.html). Beato José de Anchieta: “Herói da Pátria” O Apóstolo do Brasil, Beato José de Anchieta, foi inscrito no Livro de Heróis da Pátria, em virtude de lei sancionada em 7 de julho pe- 4º Centenário da Ordem da Visitação E divino beneplácito. Desejamos de todo coração chegar a ser FILHAS DE ORAÇÃO, profundamente contemplativas do mistério de Deus, participando, desta maneira, na evangelização do mundo”. Dentre as celebrações realizadas em todo o mundo, cabe destacar a Missa presidida por Dom Benoît Rivière, Bispo de Autun, na Capela das Aparições da Basílica de Paray-le-Monial, França, onde Santa Margarida Maria Alacoque recebeu as revelações místicas do Sagrado Coração de Jesus. Em Portugal, no Mosteiro da Visitação situado em Batalha, as comemorações foram presididas por Dom António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima, que destacou em sua homilia o amor apaixonado de São Francisco de Sales e de Santa Joana de Chantal pelo Sagrado Coração de Jesus e o misericordioso amor do Coração de Jesus por todos os seus filhos e filhas. Em Bogotá, a Missa comemorativa foi celebrada pelo Núncio Apostólico na Colômbia, Dom Aldo Cavalli. No Mosteiro de Rio Cuarto, Argentina, presidiu a Eucaristia de ação de graças o Diretor Nacional das Pontifícias Obras Missionárias, Pe. Osvaldo Leone. Os mosteiros de vida contemplativa “são como os ‘pulmões verdes’ de uma cidade: fazem bem a todos, inclusive a quem não os frequenta e talvez até ignore sua exis tência” — ressaltou ele, em declaraMissa comemorativa no Mosteiro da Visitação da Batalha ções à agência AICA. Nuno Moura m 6 de junho de 1610, São Francisco de Sales, Bispo de Genebra-Annecy, entregou a Santa Joana de Chantal o esboço das Regras de uma nova ordem religiosa, dizendo-lhe: “Segue este caminho, minha filha muito querida, e conduze nele todas aquelas que Ele elegeu para seguir suas pegadas”. Nascia assim a Ordem da Visitação de Santa Maria, que comemora seu 400º aniversário de fundação nos 154 mosteiros, espalhados por 30 países, com que conta hoje em dia. Nesses quatro séculos, as freiras visitandinas beneficiaram o mundo inteiro com sua vida de recolhimento, contemplação e oração. Agora, na Oração para o Quarto Centenário da Fundação, assumem um compromisso e manifestam um desejo: “Comprometemo-nos a viver só para Deus e buscar sempre Seu 42 Flashes de Fátima · Agosto 2010 Cardeal Tarcisio Bertone comemora jubileu de ouro sacerdotal ara festejar o jubileu de ouro sacerdotal do Cardeal Tarcisio Bertone, SDB, o Papa Bento XVI o recebeu no dia 5 de julho em sua biblioteca privada, em audiência especial, junto com outros cinco salesianos que receberam na mesma data a ordenação presbiteral. O Cardeal Secretário de Estado foi homenageado no dia seguinte com uma Missa celebrada no Altar Papal da Basílica de São Pedro. “A única coisa que dura para sempre é a caridade, querer-se bem, ajudar, perdoar e servir uns aos outros” — afirmou diante de 30 Cardeais, cerca de 40 Arcebispos, centenas de sacerdotes e grande número de fiéis presentes na grande Basílica. O Papa, na carta de felicitação enviada, rememora os bons serviços prestados pelo lo Presidente em exercício, José de Alencar. Este livro existe desde 1986, quando foi construído em Brasília o Panteão da Pátria e da Liberdade. Nele estão inscritos os nomes de 19 personalidades de destaque na História do Brasil. Cardeal Bertone no cargo de Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, e posteriormente como Arcebispo de Gênova, e acrescenta: “Mais recentemente, desejei ter-vos como um mais próximo colaborador, para compartilhar, como Secretário de Estado, minhas tarefas e decisões”. O Cardeal Tarcisio Bertone ingressou na Congregação Salesiana aos 16 anos, em 1950, sendo ordenado sacerdote em 1960. João Paulo II o nomeou Arcebispo de Vercelli, em 1991, Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, em 1995, e Arcebispo de Gênova, em 2002. Ali exerceu seu múnus episcopal até ser convocado por Bento XVI para Secretário de Estado, em 2006, e Camerlengo da Santa Igreja, em 2007. Pertence ao Colégio Cardenalício desde 21 de outubro de 2003. verteu-se em fervorosa devota de Nossa Senhora, e hoje é uma ativista incansável da comunidade religiosa Laços de Amor Mariano. Reza o Rosário, vai à Missa diariamente e confessa-se com frequência. Ex-modelo colombiana luta agora pela santidade Em 2005, Amada Rosa Pérez era uma das modelos mais cotadas da Colômbia, desfilando em passarelas de Miami, Milão e Veneza. Naquele ano, desapareceu do noticiário, para só retornar um quinquênio depois, totalmente mudada. Agora, declara ela em entrevista concedida ao jornal colombiano El Tiempo, “só procuro e só luto pela santidade”. Tocada pela graça de Deus, por ocasião de uma enfermidade, con- Pe. Marcus Vinícius e Cardeal Martino Sacerdote brasileiro lança livro em Madri Foi apresentado recentemente em Madri o livro A Diplomacia pontifícia como serviço petrino e sua participação na Organização das Na- L’Osservatore Romano P ções Unidas, de autoria do Pe. Marcus Vinícius Brito de Macedo, sacerdote da Diocese de Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Editado pela Libreria Editrice Vaticana, a obra reproduz a tese de doutorado em Ciências Políticas defendida pelo autor na Universidade de Navarra (Espanha). “A autoridade moral da Santa Sé, com o status de observador permanente na ONU, não é um ato de covardia ou omissão”, pois ela prefere manterse nessa posição para “ser a voz da consciência para todos os governos” — assinalou o jovem doutor. A apresentação contou com intervenções do Cardeal Renato Raffaele Martino, Presidente Emérito do Pontifício Conselho Justiça e Paz; do Dr. Giuseppe Costa, diretor da Editrice Vaticana; e do Prof. Pedro Lozano Bartolozzi, da Universidade de Navarra. Agosto 2010 · Flashes de Fátima 43 Participaram do evento o Embaixador do Brasil na Espanha, Paulo César de Oliveira Campos e diversos membros do Corpo Diplomático, além de numeroso público. CNBB prepara documento sobre Igreja e Comunicação A série Estudos da CNBB deverá ser enriquecida em breve com mais um documento. Seu Conselho Permanente aprovou, em 23 de junho, a publicação de um texto que servirá de base para a elaboração de um diretório de comunicação para a Igreja no Brasil. Trata-se de “um trabalho que tem a participação de muitas pessoas e deve ser uma referência no campo das comunicações sociais”, decla- rou Dom Orani Tempesta, OCist, Arcebispo do Rio de Janeiro e Presidente da Comissão Episcopal para a Educação, Cultura e Comunicação da CNBB. O texto definitivo deverá ser submetido à Assembleia Geral da entidade, à qual compete aprovar sua última versão, para tornar-se um documento oficial da Igreja no Brasil. 50º aniversário de ordenação do Cardeal Franc Rodé Fotos: L’Osservatore Romano ra a Doutrina da Fé; Cláudio Hummes, Prefeito da Congregação para o Clero; Giovanni Lajolo, Presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano; Raffaele Farina, Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Romana; Eduardo Martínez Somalo, Prefeito Emérito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica; Paul Poupard, Presidente Emérito do Pontifício Conselho para a Cultura; e Renato Raffaele Martino, Presidente Emérito do Pontifício Conselho Justiça e Paz. Destacou-se também a presença de grande número de Bispos e sacerdotes, entre os quais Mons. Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, além de uma nutrida representação de fiéis da Eslovênia, terra natal de Sua Eminência. A homilia foi pronunciada pelo Ministro Geral dos Franciscanos Menores, Fr. José Rodríguez Carballo. O Cardeal Franc Rodé foi ordenado em 1960, como sacerdote da Congregação da Missão (Padres Lazaristas). Em 1997, foi nomeado Arcebispo de Liubliana, Eslovênia, e, em 2005, o Papa João Paulo II o designou Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Foi criado Cardeal em 24 de março de 2006. C om uma Missa no Altar da Cátedra, na Basílica de São Pedro, foi comemorado em Roma o 50º aniversário de ordenação presbiteral do Cardeal Franc Rodé, CM, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. No fim da celebração, foi lida uma carta de felicitações do Papa, na qual, após realçar a dedicação e a fidelidade do Cardeal Rodé à Igreja e ao Magistério Pontifício, conclui: “Desejamos nesta oportunidade comemorar os méritos de vosso sacerdócio e episcopado, e a dignidade cardinalícia, pois a justo título mereceis estar entre os fiéis colaboradores de nosso Ministério”. Participaram do solene ato litúrgico os Cardeais Angelo Sodano, Decano do Colégio Cardinalício; William Levada, Prefeito da Congregação pa- 44 Flashes de Fátima · Agosto 2010 U Fundo Misericórdia coleta ajuda para dispensário no Ceará ros da cidade. Entre as reparações mais urgentes está a troca do telhado e a reforma das instalações sanitárias. É preciso, também, financiar a compra de material escolar para os cursos profissionalizantes. O Fundo Misericórdia, dos Arautos do Evangelho, foi criado com o objetivo de arrecadar e redistribuir recursos financeiros para obras sociais e de caridade da Igreja Católica em todo o Brasil. Fotos: Sérgio Miyazaki ma campanha destinada a resolver as mais prementes necessidades do Dispensário Nossa Senhora das Dores, de Juazeiro do Norte, Ceará, foi iniciada neste mês pelo Fundo Misericórdia, dos Arautos do Evangelho. Regido pelas Irmãs Missionárias de Cristo Crucificado, esse dispensário provê assistência social, educativa e religiosa a crianças carentes de vários bair- Papa impõe o Pálio a 38 novos Arcebispos N Fotos: L’Osservatore Romano a Missa da Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, 29 de junho, o Papa Bento XVI fez a imposição do Pálio a 38 novos Arcebispos metropolita- Dom Antônio Fernando Saburido nos: 14 da Europa, 12 da América, 8 da África e 4 da Ásia. Entre eles, encontram-se dois brasileiros: Dom Antônio Fernando Saburido, OSB, de Olinda e Recife, e Dom Alberto Taveira Corrêa, de Belém do Pará. Ante os milhares de fiéis reunidos na Basílica de São Pedro, o Santo Padre abordou em sua homilia o tema da liberdade da Igreja ao longo dos séculos e ressaltou que “a comunhão com Pedro e com os seus sucessores, de fato, é garantia de liberdade para os Pastores da Igreja e para as próprias Comunidades que lhes estão confiadas”. O pálio, uma espécie de estola de lã branca com seis cruzes bordadas, simboliza o poder do Arcebispo e sua comunhão com o Papa. Dom Alberto Taveira Corrêa Agosto 2010 · Flashes de Fátima 45 História para crianças... ou adultos cheios de fé? O poço do milagre Consuelo puxou distraidamente a corda para retirar água. Mas o balde escorregou para o fundo, fazendo-a perder o equilíbrio... Irmã Ana Ximena del Rosario Fernández Granados, EP P erto de uma pitoresca aldeia, situada em região montanhosa e um tanto árida, um poço abastecia com fartura os seus habitantes. De suas águas serviam-se para beber, cozinhar e lavar as roupas, como costumavam fazer as mulheres na esplanada onde ele fora cavado. Nesse tranquilo lugarejo, todos se conheciam, eram muito amigos e participavam animadamente das grandes festas preparadas pelo Sr. Antônio, o corpulento dono da confeitaria; ninguém faltava às incontáveis comemorações religiosas promovidas pelo pároco, às quais aquela boa gente assistia com espírito de oração e recolhimento. Tudo era ocasião de encontro e convívio, inclusive ao redor do poço, onde os moradores entabulavam animadas conversas ou sussurravam confidências, aproveitando o tempo gasto em tirar a água necessária. Assim, eles formavam quase que uma grande família. 46 Flashes de Fátima · Agosto 2010 Consuelo era uma camponesa que lá ia com frequência. Sua casinha sempre estava bem arranjada, e ela fazia questão de cultivar viçosas flores para agradar seu marido, Norberto, um pequeno agricultor que passava o dia no duro trabalho do campo. Ambos tinham muita devoção à Virgem das Mercês, padroeira da aldeia, e nunca deixavam de honrá-La no dia de sua festa. Quase todas as manhãs, Consuelo ia ao poço, para aproveitar bem o sol e poder levar de volta para casa, já secas, as roupinhas de seus pimpolhos: Estevão, de onze anos, que cuidava de seus irmãos menores com muita responsabilidade; Catarina, de nove, de inteligência viva, mas discreta; e Benjamin, com apenas cinco, aliás, muito travesso. Enquanto trabalhava, a diligente mãe cantava hinos a Maria Santíssima ou rezava o Rosário com suas amigas. Por fim, com um zelo todo maternal, recolhia e dobrava cuidadosamente a roupa se- ca, enchia uma grande tina de água para o abastecimento da casa e regressava ao lar, não sem antes despedir-se alegremente das companheiras. O tempo foi passando, e o parapeito do poço deteriorava-se aos poucos, até que um dia as intempéries acabaram por destruí-lo completamente. A partir daí, não era possível tirar água sem correr certo risco: era preciso puxar com habilidade a corda do balde, sem se deixar levar por ela. Uma manhã, Consuelo acordou muito cedo e chegou ao poço bem antes de suas amigas. Enquanto contemplava no céu as belas cores do amanhecer, puxou distraidamente a corda, o balde voltou para o fundo, fazendo-a perder o equilíbrio. Ela procurou instintivamente apoiar-se no parapeito que já não estava mais ali... E caiu a vinte metros de profundidade! — Virgem das Mercês, ajudaime! Nossa Senhora das Mercês. Não sem antes providenciar a construção de um novo e resistente parapeito, para evitar novos acidentes... Na inauguração da ermida, o padre organizou uma bela procissão — que percorreu um bom caminho, desde a matriz até a esplanada do poço —, e ali foi entronizada a encantadora imagem de Maria Santíssima, que passou a ser venerada pelos moradores do povoado como a “Virgem do Milagre”. E para marcar ainda mais o grande feito, colocaram uma placa alusi- va ao prodígio, dando àquele lugar o nome de “Poço do Milagre”. A notícia propagou-se pelos arredores da aldeia. Assim, a fé e a confiança na Rainha dos Céus cresceram ainda mais nos habitantes da região, pois novamente ficou comprovada a verdade das inspiradas palavras de São Bernardo, dirigidas à Mãe de Deus: “Nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tenha recorrido à Vossa proteção, implorado Vossa assistência e reclamado Vosso socorro, fosse por Vós desamparado”. Edith Petticlerc Nem havia terminado a invocação a Nossa Senhora, quando sentiu debaixo de seus pés um apoio suave. Fixando os olhos, percebeu que se tratava de algo semelhante a uma pequena nuvem luminosa, que foi descendo lentamente e parou antes de tocar na água. — Socorrei-me! Valei-me, Virgem Maria! — suplicou de novo. Enquanto continuava sustentada pela graciosa nuvenzinha, uma voz cheia de ternura e compaixão lhe respondeu: — Minha filha, não tenha medo! Eu nunca abandonei nenhum daqueles que invocaram o Meu auxílio. Ao ouvir essa voz tranquilizadora, a boa camponesa percebeu de Quem se tratava, e ficou de tal modo encantada que nem se lembrava mais do apuro no qual se encontrava... Passada meia hora, chegaram suas amigas. Estas, vendo o sabão e a roupa na tina, mas não a companheira, logo desconfiaram do que tinha acontecido, correram para a boca do poço e lançaram-lhe uma corda. Como se estivesse auxiliada por uma força misteriosa, Consuelo agarrou-se a ela e, apoiando-se nas paredes de pedra, empreendeu a escalada até a superfície. Estava sã e salva! As amigas a abraçaram e, passado o susto, perguntaram o que tinha acontecido. Ela narrou-lhes o fato com detalhes, deixando patente que havia sido um grande milagre da Virgem das Mercês, sem cujo socorro teria certamente morrido afogada. Juntas, se ajoelharam ali mesmo, para rezar uma oração em ação de graças a Nossa Senhora, que jamais, em nenhuma circunstância, desampara os filhos que a Ela recorrem. Em seguida, foram contar o fato ao pároco e visitar a Santa Padroeira, na igreja matriz. O bom sacerdote ficou comovido e mandou erigir naquele lugar uma ermida dedicada a Consuelo procurou instintivamente apoiar-se no parapeito que já não estava mais ali... E caiu a vinte metros de profundidade! Agosto 2010 · Flashes de Fátima 47 ________ Os Santos de cada dia 1. XVIII Domingo do Tempo Comum. Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo e doutor da Igreja (†1787). Beata Maria Estela do Santíssimo Sacramento, virgem e mártir (†1943). Superiora do convento das Irmãs da Congregação da Sagrada Família de Nazaré em Nowogródek, Bielorrússia, foi fuzilada junto com outras dez freiras da comunidade. 2. Santo Eusébio de Vercelli, Bispo (†371). São Pedro Julião Eymard, presbítero (†1868). Santo Estêvão I, Papa (†257). Proibiu rebatizar os hereges que procuravam a plena comunhão com a Igreja, afirmando que a união dos cristãos com Cristo deve ser realizada uma única vez. Gustavo Kralj 3. São Pedro de Anagni, Bispo (†1105). Descendente de família principesca, foi monge beneditino e depois Bispo de Anagni, Itália. Empenhou-se na reforma de vida do clero e dos leigos. “São Francisco de Sales e Santa Joana Francisca de Chantal” Mosteiro da Visitação, Gênova (Itália) 4. São João Maria Vianney, presbítero (†1859). São Raniero, Bispo e mártir (†1180). Foi monge e depois Bispo de Cagli, Itália, onde muito sofreu por defender os direitos da Igreja. Morreu apedrejado em Split, Croácia. 5. Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior. Beato Francisco Zanfredini (†1350). Terciário Franciscano que distribuiu seus bens aos pobres e viveu cerca de cinquenta anos no êremo de Montegranaro, Itália, por ele construído. 6. Transfiguração do Senhor. Beato Jocelino (ou Gezerino), eremita (†1138). Nasceu em Luxemburgo e viveu como eremita num bosque, confiando somente em Deus. 7. São Sisto II, Papa, e companheiros, mártires (†258). São Caetano de Thiene, presbítero (†1547). Santo Alberto de Trapani, presbítero (†cerca de 1306). Sacerdote carmelita italiano que, por suas ardorosas pregações, obteve a conversão de muitos judeus ao Cristianismo. 8. XIX Domingo do Tempo Comum. São Domingos de Gusmão, presbítero (†1221). Santo Eusébio de Milão, Bispo (†cerca de 462). Trabalhou pela verdadeira Fé e reconstruiu a Catedral de Milão, destruída pelos hunos. 9. Santa Teresa Benedita da Cruz, virgem e mártir (†1942). Beata Cândida Maria de Jesus Cipitria, 48 Flashes de Fátima · Agosto 2010 virgem (†1912). Fundou em Salamanca, Espanha, a Congregação das Filhas de Jesus, dedicada à instrução cultural e espiritual de crianças e jovens. 10. São Lourenço, diácono e mártir (†258). Beato José Toledo Pellicer, presbítero e mártir (†1936). Sacerdote de Valência, Espanha, morto durante a perseguição religiosa nesse país. 11. Santa Clara de Assis, virgem (†1253). Santa Susana, mártir (†séc. IV). Jovem cristã decapitada em Roma por ordem do imperador Diocleciano. 12. Santa Joana Francisca de Chantal, religiosa (†1641). Beato Carlos Leisner, presbítero e mártir (†1945). Preso no campo de concentração de Dachau, morreu poucos meses após sua libertação, em consequência dos sofrimentos que teve de suportar durante o cativeiro. 13. Santos Ponciano, Papa, e Hipólito, presbítero, mártires (†cerca de 236). São Cassiano, mártir (†cerca de 300). Professor de taquigrafia, foi morto a golpes de estilete pelos seus alunos na atual Ímola, Itália, durante a perseguição de Maximiano. 14. São Maximiliano Maria Kolbe, presbítero e mártir (†1941). São Facanano, Bispo (†séc. VI). Fundou em Ross, na Irlanda, um mosteiro célebre por sua escola, onde se ensinavam ciências divinas e humanas. 15. XX Domingo do Tempo Comum. Assunção de Nossa Senhora. Santo Alípio de Tagaste, Bispo (†cerca de 430). Discípulo de Santo Agostinho, do qual foi também companheiro na conversão, no mi- ____________________ Agosto 16. Santo Estêvão da Hungria, rei (†1038). Beata Petra de São José, virgem (†1906). Freira espanhola que cuidou com solicitude dos anciãos solitários e fundou em Málaga, Espanha, a Congregação das Irmãs Mães dos Desamparados de São José da Montanha. por ele fundado na cidade de Agde, França. “Santo Estevão da Hungria”, Praça dos Heróis, Budapeste Victor Domingues nistério pastoral e na luta contra os hereges. Governou a diocese de Tagaste, em Numídia (atual Argélia). 17. São Mamede de Cesareia, mártir (†275). Humilde pastor da Capadócia (atual Turquia), morto durante a perseguição de Aureliano. 18. São Macário, abade (†850). Hegúmeno do mosteiro de Pelecete, na Bitínia (atual Turquia), defensor das sagradas imagens. 19. São João Eudes, presbítero (†1680). Santo Ezequiel Moreno Díaz, Bispo (†1906). Religioso agostiniano espanhol, missionário nas Ilhas Filipinas e mais tarde Bispo de Pasto, Colômbia. Foi apresentado como modelo de evangelizador pelo Papa João Paulo II. 20. São Bernardo de Claraval, abade e doutor da Igreja (†1153). São Máximo, monge (†séc. V). Discípulo de São Martinho de Tours, foi monge na Abadia de Île-Barbe, em Lyon, França. De lá saiu para fundar um mosteiro perto de Chinon, onde passou o resto de sua vida. 21. São Pio X, Papa (†1914). São Quadrado, Bispo e mártir (†séc. III ou IV). Martirizado em Útica, na atual Tunísia. 22. XXI Domingo do Tempo Comum. Nossa Senhora Rainha. Beato Tomás Percy, mártir (†1572). Conde de Northumberland, na Inglaterra, decapitado durante o reinado de Isabel I. 23. Santa Rosa de Lima, virgem (†1617). São Zaqueu, Bispo (†séc. II). Quarto sucessor de Santiago no governo da Igreja de Jerusalém. 24. São Bartolomeu, Apóstolo. Santa Maria Micaela do Santíssimo Sacramento, virgem (†1865). Freira espanhola, de família nobre e abastada. Fundou as Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento e da Caridade, para adoração perpétua a Jesus Sacramentado e recuperação de jovens transviadas. 25. São Luís, Rei de França (†1270). São José de Calasanz, presbítero (†1648). São Severo, abade (†séc. V). Governou com sabedoria o mosteiro 26. Santa Teresa de Jesus Jornet Ibars, virgem (†1897). Freira espanhola, fundou em Valência, Espanha, o Instituto das Irmãzinhas dos Anciãos Desamparados. 27. Santa Mônica (†387). São Cesário, Bispo (†542). Depois de ter levado vida monástica na Ilha de Lérins, foi nomeado Bispo de Arles, França. Escreveu um livro de sermões para ajudar os sacerdotes na catequese e compôs regras para disciplinar a vida monástica. 28. Santo Agostinho, Bispo e doutor da Igreja (†430). Santo Alexandre, Bispo (†cerca de 336). Como Bispo de Constantinopla, lutou denodadamente em defesa da Fé, atacada pela heresia ariana. 29. XXII Domingo do Tempo Comum. Martírio de São João Batista. Beata Bronislava, virgem (†1259). Religiosa do mosteiro premonstratense de Cracóvia, Polônia. Destruído este pelos tártaros, retirou-se para uma cabana numa colina próxima. 30. Beato João Juvenal Ancina, Bispo (†1604). Jovem médico que ingressou na Congregação do Oratório e destacou-se como ardoroso pregador em Nápoles, Itália, antes de ser nomeado Bispo de Saluzzo. 31. São Paulino de Trier, Bispo e mártir (†358). Apoiou corajosamente Santo Atanásio na luta contra a heresia ariana no Sínodo de Arles, e por isso foi exilado para a Frígia (atual Turquia), onde morreu. Agosto 2010 · Flashes de Fátima 49 A hora do xeque-mate Uma partida de xadrez proporciona ao homem atraente repouso e o ajuda a desenvolver o raciocínio. Mas pode também nos levar a considerar a grande batalha da vida. Marcelo Rezende Costa N as longínquas paragens do Oriente, envoltas em mistérios e grandezas, com palácios que parecem aflorar do mundo dos sonhos, nasceu um dos mais interessantes passatempos: o jogo de xadrez. Surgido na Índia, segundo consta, antes da Era Cristã, atravessou as vastidões da distância e do tempo: de lá passou para a China, o Japão, a Coreia, e também para a Pérsia e a Arábia, chegando por fim à Europa, de onde acabou se espalhado por todos os países da Terra. Os lances desse duelo travado por dois “exércitos” de 16 peças, sobre um tabuleiro de 64 quadrados pretos e brancos, bem podem simbolizar os combates que todo cristão precisa vencer ao longo da sua vida. A bem dizer, cada uma das peças deste jogo parece querer transmitir algum ensinamento para o nosso espírito. Postados na primeira linha de batalha, os peões avançam decididos diante das dificuldades da luta, dispostos a qualquer sacrifício, sem se deixar intimidar pelas ameaças dos 50 Flashes de Fátima · Agosto 2010 adversários. São, assim, exemplo de como deve agir todo cristão perante as provações, neste vale de lágrimas. O movimento profundo e retilíneo das torres simboliza a integridade de alma do homem honesto, o qual trilha o caminho do dever sem em nada se desviar. Estas peças dão-nos também o exemplo do holocausto: no lance denominado roque, trocam de posição com o rei para protegê-lo das ameaças do adversário, oferecendo para isto, se necessário, a própria “vida”. A presença dos bispos nos traz à mente a importância da oração, meio seguro para o homem atravessar as mais duras provas sem se deixar manchar pelo pecado. Esgueirando-se em sentido diagonal, estas pedras transpassam agilmente as fileiras do adversário, atingindo eficazmente o seu objetivo. Capazes de saltar em forma de “L”, os cavalos evocam o modo de agir dos missionários enviados pela Santa Igreja a todas as partes do mundo. Quantos obstáculos devem eles superar em sua pugna por conquistar almas para Cristo! A mais versátil, elegante e forte das peças do xadrez é a rainha. Ela avança em qualquer direção para todas as posições do tabuleiro, sem que nenhuma outra possa superála em agilidade ou poder. Ela se assemelha assim à Auxiliadora dos Cristãos, sempre pronta a socorrer quem A invoca nos momentos de perigo ou necessidade. Entretanto, todos os lances de defesa ou de ataque se dão em função do rei. Ele é a peça central deste jogo, e a luta por defendê-lo conduz-nos a uma bela comparação: no grande “xadrez” da vida, o “rei” a ser resguardado é a nossa própria alma. Cabe a nós conservar íntegra essa valiosíssima peça, utilizando para isto a perseverança dos peões, a retidão de espírito das torres, a impostação sobrenatural dos bispos, a agilidade missionária dos cavalos e, sobretudo, a força e prontidão da rainha, sempre disposta a proteger como extremosa Mãe cada um dos seus queridíssimos filhos. Então, não percamos tempo! A partida já começou. Para alguns, até, talvez esteja próxima a hora de dar, ou de receber, o “xequemate”... Fotos: Gustavo Kralj Peças de xadrez em marfim, de origem alemã, italiana e flamenga (secs. XIII a XVI), Metropolitan Museum of Art, Nova York Agosto 2010 · Flashes de Fátima 51 N umerosos motivos forçam-nos a amar nossa amabilíssima Rainha. Em toda parte louvassem-Na, d’Ela somente falassem em todos os sermões, a vida dessem por Ela todos os homens — tudo isso ainda pouco seria em comparação da gratidão e amor que Lhe devemos. Pois é terníssimo o amor que Ela consagra a todos os homens, mesmo aos mais infelizes pecadores. (Santo Afonso Maria de Ligório, As Glórias de Maria) Gustavo Kralj “Nossa Senhora da Bondade”, Igreja do Corpo de Cristo, Cracóvia (Polônia)
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