Negocios com a China

Transcrição

Negocios com a China
A EXPOSIÇÃO DO BRASIL NA CHINA
Negócios com a China
1
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Negócios com a China
Negócios com a China
3
SUMÁRIO
Editorial
6
50
Negociar com a China
Como começar 51
9
Visitas de aproximação 51
Apresentação
Participação em eventos 53
Visitas para contatos programados 53
Visitas para negociações 54
12
As razões do crescimento
econômico chinês
Contatos com visitantes chineses no Brasil 56
Importações 57
Evolução da economia chinesa 12
Explicando o impressionante salto chinês
(1979-2005) 13
Investimentos estratégicos 14
Educação 14
Ciência e tecnologia 16
Saúde 18
Proteção ambiental 18
Combate à criminalidade 20
Desemprego 20
Câmbio 21
Comércio exterior 21
Reservas internacionais 21
Relação entre oferta e demanda 22
Taxas de investimento 24
Renda da população 24
Baixa e alta tecnologia 25
Protecionismo e abertura 25
Regulação e desregulação 26
30 anos até as Reformas 28
Princípios e estratégias 30
As principais combinações estratégicas 30
Planejamento e mercado 31
Propriedade social e propriedade privada 31
Metas até 2010 34
O caminho das Reformas 36
Empresas estatais 37
Quebra dos monopólios 38
Competitividade natural 38
Educação, instrumento
indispensável 40
As metas de longo prazo 41
Investimentos na China 58
Pesquisa de mercado 60
Garantias legais 60
Formas de investimentos 60
Solicitação e aprovação do investimento 62
Taxas e impostos 64
As chaves de cooperação nos negócios 65
76
Conhecendo o país
Agricultura mágica 77
Oito vezes a população brasileira 78
Expansão industrial acelerada 80
Investimento permanente em infra-estrutura 81
Antiguidade chinesa 86
Evolução histórica 87
República popular 88
Reações ao domínio estrangeiro 90
Turbulências de 1997-99 91
Políticas anticrise 92
Elevação da renda 92
Estímulo ao consumo doméstico 93
Aprofundamento das reformas 94
Manutenção dos investimentos estatais 96
Estabilidade social e política 96
Estabilidade global para ter estabilidade social 97
Manejo apropriado entre reforma econômica
e reforma política 98
Ritmo apropriado de crescimento 98
to
Fo
: Renato ela s c o
V
4
Negócios com a China
Tesouros
da China
Equilíbrio entre crescimento, reforma
e estabilidade social 100
Abertura econômica ao exterior 102
Comércio internacional 102
Turismo 103
105
Foto: Milton Pomar
Relações Brasil - China
Um ano significativo
Os negócios bilaterais entre o Brasil e a China 105
Intercâmbio com a América Latina 106
Atuação do governo brasileiro 108
Políticas atuais 109
Atração de investimentos estrangeiros 111
Guia de investimentos 111
Turismo exponencial 115
1a Exposição do Brasil na China 116
Avanço qualitativo 120
121
Questões práticas
Estratégia para os primeiros contatos 121
Definir o roteiro 123
Formalizar os convites 125
Sites 126
Filmes para conhecer mais 128
Referências bibliográficas 129
Paciência chinesa para estudantes de mandarim 131
Cursos de mandarim 132
Foto
: Renato Vela s c o
Revista N E G Ó C I O S C O M A
CHINA
Editor: Milton Pomar Editor-assistente: Rogério Chaves Fotos: Milton Pomar (Capa), Luzia Cabreira, Gláuber Queiroz,
Renato Velasco Repórter: Edit Silva Colaboradores: Wladimir Pomar, Liliane Carvalho, Ming Tsung Wu (ideogramas),
Erica Nunes Lima Jornalista Responsável: Sandra Mendes - MTB 3676 Projeto gráfico e diagramação: Editora Publisher
Brasil, fone (11) 3813-1836, www.publisherbrasil.com.br Direção de arte: Carmem Machado Assistente: Carolina
Fernandes Editoração: Editora Publisher Ltda. Gráfica: RR Donelley-Moore Tiragem: 20 mil exemplares
Negócios com a China
é uma publicação do Icooi - Instituto de Cooperação Internacional (www.icooi.org).
Endereço: rua da Assembléia, 51 - 12º andar - Rio de Janeiro - RJ (20011-001) Tel 21 2240 2531 Presidente: Wladimir Pomar
Vice-presidente: Heliete Reschke Secretária-geral: Sandra Mendes
Negócios com a China
5
EDITORIAL
Foto: Milton Pomar
O
6
Negócios com a China
salto necessário nas relações Brasil-China, ocorrido
nos dois últimos anos, cuja expressão maior – além
dos números das respectivas balanças comerciais
– foram as visitas recíprocas dos presidentes dos
dois países em 2004, tornou possível a realização, pelo Instituto de
Cooperação Internacional – Icooi, da primeira Exposição do Brasil
na China, no Centro Internacional de Exposições, em Beijing, em
agosto de 2004, e sua nova edição, em maio de 2006.
As atenções do mundo inteiro estão hoje voltadas para a China,
por diversas razões. Desde a realização das Olimpíadas em 2008,
em Beijing, na qual se supõe a vitória da China, superando o seu
2º lugar geral em 2004, até o seu extraordinário crescimento
econômico, há 25 anos mantendo média próxima a 9% anuais.
Muitos gostariam de saber qual é a fórmula desse crescimento
duradouro combinado com distribuição de renda; outros, ainda,
pelo fato de a China ser o maior mercado consumidor do mundo
há mais de dez anos, gostariam de saber como fazer bons negócios
com os chineses.
A China e o Brasil estavam no mesmo modesto patamar de 1%
do comércio mundial no final dos anos 80. Hoje, o Brasil continua
em 1%, e a China ultrapassa os 6%. Esse novo posicionamento
chinês é resultado de uma política comercial agressiva e de um
conjunto de fatores – alguns aparentemente contraditórios,
como o planejamento estatal e a liberdade de mercado –, cujas
características é fundamental conhecermos. Até porque o Brasil
recebe a concorrência de muitos produtos chineses, com preços
competitivos, enquanto aumenta as suas exportações de soja,
celulose, minérios etc, responsáveis por um superávit considerável.
Parte das informações veiculadas sobre a China na imprensa
brasileira, mesmo às vezes contendo um aspecto de verdade,
distorcem a imagem do país e levam à formação de uma imagem
que não anima a conhecê-la e, muito menos, a tentar fazer negócios
com ela. Quem pretende aproveitar a pujança da economia e do
mercado chineses para fazer negócios, precisa ter conhecimentos
básicos sobre a sua geografia física e humana, a história, cultura
e tradições, a atual dimensão econômica, social e política e quais
as reais possibilidades de negócios.
Diante de tais necessidades, é preciso ir a fundo no
conhecimento da China. Saber as razões do seu crescimento,
as raízes históricas desse crescimento, o caminho das reformas que
os chineses empreendem desde 1979, incluindo reformas em sua
estrutura econômica e social, em sua organização política e no papel
do Estado na condução econômica e nas relações internacionais,
Treze atores
maravilhosos dos
reinados Tongzhi
e Guangxi, quadro
de quatro metros
de comprimento
do pintor Shen
Rongpu, no final
da dinastia Qing.
Museu de Mei
Lanfang
assim como suas metas de longo prazo. Além disso, precisa conhecer
suas políticas atuais para enfrentar as turbulências mundiais e como
isso pode afetar suas relações econômicas e comerciais. Afinal,
fazer negócios com um país do outro lado do mundo exige certeza
em torno da sustentabilidade de seu crescimento econômico e das
políticas estratégicas e conjunturais que adota.
Entretanto, para quem pretende realizar negócios de longo
prazo com a China – e os chineses dão preferência a empresários
estrangeiros que pretendem estabelecer com eles cooperação
nesses termos – será preciso ir além dos pontos básicos acima.
Será necessário saber o que é possível negociar com a China,
por onde e como começar, e quais as estratégias de longo prazo
que devem ser utilizadas.
Para qualquer país, e para o Brasil em particular, a Globalização
nos empurra para a China, tanto como concorrente quanto como
parceira. O Brasil enfrentou, e ainda enfrenta, forte competição
chinesa nas áreas de calçados, tecidos e brinquedos, só para ficar
em três exemplos conhecidos. Por outro lado, ela tem cada vez mais
se tornado um parceiro importante na importação de minérios,
soja e aviões brasileiros, e na cooperação para o desenvolvimento
de nossa indústria aeroespacial, também para só ficar nos exemplos
mais conhecidos.
Graças a um esforço conjunto dos governos federal e de
vários estados com o meio empresarial, pode-se afirmar que
o salto necessário nas relações Brasil-China ocorreu em 2004.
Com a divulgação do Brasil na China há vários anos, os seminários
e palestras sobre a China no Brasil desde 2003, a Exposição do Brasil
na China, em 2004 e 2006, o site www.expobrasilchina.com.br,
e agora com esta revista, o Icooi está fazendo a sua parte, visando
reduzir o desconhecimento recíproco que ainda existe no meio
empresarial brasileiro e chinês a respeito dos dois países.
Wladimir Pomar
Presidente - Icooi
Negócios com a China
7
Foto: Luzia Cabreira
8
Negócios com a China
APRESENTAÇÃO
A
China deverá começar a diminuir a sua população em 2030,
segundo prognóstico elaborado
pela ONU. Esse estudo aponta
ainda para outra alteração demográfica importante: a parcela de idosos da
população, hoje (2005) 7,5%, deve triplicar até
2050, chegando a 22,6%. O 5º Censo Nacional, realizado em 2000, constatou haver 1 bilhão, 265 milhões e 830 mil pessoas, das quais
36,2% nas cidades e 63,8% na área rural. Pelos cálculos da ONU, dentro de 25 anos a área
urbana terá 884 milhões de pessoas, 59% da
população total (1,5 bilhão) da época. Mais do
que a população em si, o inacreditável é a velocidade e as dimensões da urbanização. Afinal,
estamos falando de um acréscimo de quase 500
milhões de pessoas nas cidades, nos próximos
25 anos, mais do que o dobro do que ocorreu
no período 1979-2004.
Essas são características marcantes do país:
grandes números e muita velocidade. A China
é muito grande e tem pressa. Desde o início das
Reformas, em 1980, os números e a velocidade
do seu crescimento econômico foram multiplicados várias vezes, constituindo-se em um fenômeno inédito na história da Humanidade.
A revista “Negócios com a China” foi elaborada com o objetivo de apresentar esse país
para os empresários brasileiros. Procuramos
combinar informações de caráter estrutural
(geografia, economia, história, cultura, política
econômica, comércio exterior, características
do mercado interno), com uma visão geral das
ações dos governos brasileiro e chinês visando
ampliar as relações entre os dois países, mais as
questões práticas para quem quer realizar negócios (investimentos lá, importações, exportações, atração de investimentos em produção
ou infra-estrutura aqui).
A China possui hoje um mercado consumidor pelo menos seis vezes maior do que o brasileiro, e oito vezes mais gente. Tem um milhão
de km2 a mais, entretanto apenas um terço do
país é habitado pra valer – o restante é deserto
ou montanhas geladas. Boa parte de sua população também está no Leste e Centro do país,
em uma faixa de mil por cinco mil km, do Norte
ao Sul. Ao contrário do Brasil, o Sul é quente e
o Norte gelado.
Sua produção de alimentos é incalculável,
porque onde há terra há alguém plantando, e
lá se come muitos vegetais; e onde há água,
há plantação e diversos bichos sendo criados,
porque lá também se come tudo criado na
água ou em volta dela. A diversidade alimentar
é impressionante. Mas o mundo compara apenas produção de grãos: a China está na faixa
dos 500 milhões de toneladas anuais, o que é
aparentemente pouco para tanta gente. A magreza do chinês esconde uma alimentação rica,
farta e barata. Provavelmente são magros por
herança genética de tempos muito difíceis, de
grandes fomes.
Considerando-se apenas os grãos, o incrível
é que eles obtêm essa produção em pouco mais
de 110 milhões de hectares, e dessa área colhem também todo o restante que consomem.
Uma comparação rápida, com a produção de
grãos e a área colhida no Brasil, não nos é nem
um pouco favorável. A diferença mesmo está
na grandeza: lá uma quebra “normal” de safra,
de 10%, resulta em 50 milhões de toneladas de
grãos a menos, metade da safra brasileira. Essa
quantidade desequilibra o mercado mundial e
joga os preços dos grãos nas alturas.
Esse país novo-rico, onde já se encontra
quem fale inglês nas grandes cidades com maior
facilidade do que no Brasil, e consome muito de
tudo, deverá manter o ritmo de seu crescimento
Negócios com a China
9
APRESENTAÇÃO
próximo de 10% ainda durante um bom tempo,
porque não há como parar ou diminuir abaixo
de 6 ou 7%. Diferentemente do Brasil, a China
trabalha com planejamento de médio e longo
prazos, e os próximos 20-25 anos já estão desenhados. O que está ocorrendo hoje foi idealizado há muitos anos, porque em um país com
necessidades de todo tipo e tão gigantescas, é
preciso trabalhar com essa antecedência.
A combinação de planejamento central realizado pelo governo, com liberdade de mercado,
mais distribuição de renda, é, nas palavras deles,
o “Socialismo de Mercado”. Responsável, entre
outras coisas, por tirar mais de 200 milhões de
pessoas da miséria. Ainda que possa não interessar muito a quem deseja realizar negócios,
essa insólita combinação é responsável pelo
mercado consumidor chinês ser do tamanho
que é, e a China fenômeno da economia mundial, às vésperas de empatar em tamanho com
os Estados Unidos.
Muitos empresários
brasileiros têm dúvida
se vale a pena ir à China
para tentar vender lá,
porque – afirmam – os
produtos chineses são
mais baratos. Bebem
apenas chá, por isso não
adianta tentar vender
café. Vendem cerâmica
de revestimento, como
comprariam a nossa?
São grandes produtores
de tantas coisas, e conseguem vender sempre a preços inferiores
aos nossos, não temos
chance de competir com
eles. Tudo isso é verdade, mas não é a verdade
toda. Há um enorme e
diversificado mercado,
cerca de 300 milhões
de consumidores com
poder aquisitivo de classe média. Compra-se e
vende-se de tudo, dos
10
Negócios com a China
produtos baratos aos de maior valor. A lógica
de mercado é a mesma de qualquer outro país:
o que é melhor custa mais, e vice-versa.
O café, por exemplo. O Vietnã, no Sul da
China, é um grande produtor. Entretanto, o
café na China custa muito caro – chega-se a
pagar até 50 yuans (mais de 6 dólares) por uma
xícara pequena no aeroporto de Guangzhou.
Na feira de Cantão, em abril de 2005, com mais
de 100 mil visitantes estrangeiros, o cafezinho
mais barato custava 2,5 dólares. O chinês não
morre de amores pelo chá “inglês”, prefere o
chá verde e muitas outras variedades suaves.
Há, sim, espaço para vender muito, muito café.
Mas quem já está lá? Os cafés colombianos e
de países asiáticos, todos com denominação
própria, a gosto (e bolso) do freguês.
Bebe-se vinho chinês (Grande Muralha, Dinastia) por 78 a 110 yuans (10 a 14 dólares)
em restaurantes razoáveis, e encontra-se por
7 a 10 dólares em lojas simples. Os nossos de
qualidade equivalente podem chegar lá com o
mesmo valor? Só experimentando para saber.
O mesmo deve valer para a cerveja, 2,5 a três
dólares a garrafa de 300ml nos restaurantes
simples, muito consumida, com muitas marcas,
todas sem espuma e em geral servidas à temperatura ambiente. A cerveja brasileira agradaria mais ao paladar?
A construção simultânea de dezenas (centenas?) de milhares de prédios, em todo o país,
gera uma demanda calculável de materiais básicos de construção, elétricos, hidráulicos e de
acabamento. Só indo à China para ver o que
está ocorrendo e achar o seu espaço nesse
mercado inacreditável. Com a vantagem de
poder contar com uma invejável infra-estrutura
de logística, com muitos portos ao longo da
costa conectados à extensa malha ferroviária.
A revista em suas mãos está o mais atualizada possível, incluindo estimativas de 2005,
mas, com certeza, já está defasada (pelo menos
11 horas...). Por isso, incluímos uma extensa
relação de livros, filmes e sites – nos quais poderá obter muito mais informações e atualizar-se
de acordo com as suas necessidades específicas.
Boa leitura!
O editor
Negócios com a China
11
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Evolução da economia chinesa (1979-2005)
US$
7.000.000,00
PIB - Paridade poder de compra
PIB - Paridade cambial
Fonte: Banco Mundial
6.000.000,00
5.000.000,00
4.000.000,00
3.000.000,00
2.000.000,00
12
*Estimativa
Negócios com a China
2005*
2003
2001
1999
1997
1995
1993
1991
1989
1987
1985
1983
1981
0,00
1979
Foto: Milton Pomar
1.000.000,00
Explicando
o impressionante
salto chinês (1979-2005)
Wladimir Pomar
As condições chinesas são muito diferentes das do Brasil, têm suas próprias
peculiaridades e, portanto, não podem ser copiadas. No entanto, o crescimento
chinês, como o de qualquer outro país, pode comportar algum tipo de
ensinamento útil. Historicamente, a China tem se aproveitado das lições
do desenvolvimento dos países mais avançados e adaptado tais lições às suas
próprias condições, conseguindo bons resultados numa série de terrenos, desde
a indústria espacial até gestão ou administração científica.
Além disso, se pretendemos negociar com a China, precisamos saber quais
as tendências principais de seu crescimento e aproveitá-las convenientemente,
seja para descobrir nichos de mercado para os produtos brasileiros, seja para
importar equipamentos, máquinas e outras mercadorias de boa qualidade,
em termos mais competitivos. Ou, ainda, para investir na China e/ou atrair
investimentos chineses para o Brasil.
A
China surgiu perante o mundo,
no final do século XX, como
uma grande potência econômica. Inundou o planeta com uma
quantidade enorme de produtos de consumo de uso corrente, de baixo
custo, e se tornou o principal atrator de investimentos estrangeiros do planeta, superando
os Estados Unidos. Além disso, aos poucos ela
foi mostrando que não era apenas produtora
de bens de consumo corrente, mas também de
tecnologias e de produtos tecnologicamente
avançados.
Em 1978, a China tinha um produto interno
bruto (PIB) de cerca de US$ 45 bilhões. Deve
superar, em 2005, US$ 1,6 trilhão, o que levará a renda per capita a superar o patamar dos
mil dólares, um salto inacreditável em relação
ao de 1978, quando era inferior a US$ 50.
(A revista Desafios, do IPEA, em sua edição de
março de 2005, revela que o centro de informações do The Economist Intelligence Unit tem
previsão de que a renda per capita da China,
medida pela paridade do poder de compra,
vá crescer 45% entre 2005 e 2009, atingindo
US$ 9.138 dólares.)
O comércio externo da China, nesse mesmo
período, saltou de US$ 20 bilhões para mais
de US$ 800 bilhões, gerando com seus saldos
uma reserva de US$ 610 bilhões. Enquanto em
1978 eram praticamente nulos os investimentos estrangeiros na China, os fundos externos
aplicados na economia chinesa em 2004 ultrapassaram o meio trilhão de dólares.
Negócios com a China
13
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Investimentos estratégicos
Além dos números em si, chama a atenção
a quantidade de números diferentes, sobre
qualquer aspecto da China, de acordo com as
fontes das informações. Há que se cuidar também com as datas, porque de um ano para o
outro os números dão saltos tão grandes que
é comum duvidar-se da sua veracidade. Além
disso, o PIB e a renda per capita são citados de
duas formas muito distintas: pela conversão do
yuan para o dólar americano, e pela paridade
do poder de compra, que multiplica por cinco
os números chineses, aproximando a realidade
de sua economia da economia real do mundo.
O PIB da China, calculado pela paridade do poder de compra, coloca a sua economia como a
2ª maior do mundo, atrás apenas da dos EUA.
Como que a China, em apenas 25 anos,
conseguiu produzir uma transformação dessa
magnitude? O que é que explica esses saltos
sucessivos, em todas as áreas, em tão pouco
tempo, se o restante do mundo nesse mesmo
Foto: Milton Pomar
período alternou situações de baixo crescimento, estagnação e crises, inclusive nos países
mais ricos?
Existem várias explicações, do crescimento
exponencial das exportações e dos volumes
crescentes de investimentos estrangeiros, à
combinação de planejamento estatal com liberdade de mercado. O fato de suas exportações terem crescido ano a ano quase 6%, em
média, na década de 1980, o dobro disso na
de 90, e mais de 20% nos anos 2000, levando
a participação do país no comércio mundial de
1% para 6%, é uma das causas dessa transformação, mas é principalmente conseqüência.
Para entender a China de 2005, é necessário voltar a 1950 e conhecer o que fizeram
desde então nas questões centrais para o desenvolvimento de qualquer país.
Educação
Mais de 80% da população era analfabeta
em 1949. Não havia escolas na maior parte do
território, a taxa de matrícula nas escolas primárias era baixíssima e o abandono escolar era
elevado. O Censo realizado no ano 2000 constatou haver na população 6,7% de analfabetos,
34% com o ensino fundamental, 11% com o
nível médio e 3,6% universitário. Na China, a
educação obrigatória compreende nove anos
de estudo. Em 2001, o índice de crianças em
idade escolar atingiu 99,1%. Segundo o Ministério da Educação, em 2002 matricularamse 121 milhões de estudantes em escolas primárias, 94 milhões nas secundárias, 9 milhões
na graduação e 500 mil na pós-graduação. A
esses números, deve-se acrescentar os estudantes que foram para o Exterior a partir de
meados da década de 70: segundo a edição de
abril de 2005 da revista “China Hoy”, teriam
sido 700 mil no total, para cursos técnicos, de
graduação e pós-graduação. Desses, até o final
de 2003 teriam regressado 173 mil.
Ocidentalização dos costumes assemelham os jovens
chineses aos de muitos outros países, inclusive o Brasil,
dos cabelos aos calçados. Lá, o must é aprender inglês.
14
Negócios com a China
Negócios com a China
15
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
“O que estimula os investimentos na China
são suas características positivas. Além do
mercado interno espantosamente grande, as
autoridades conseguem oferecer a quem aplica
um cenário econômico previsível. Conhecem-se
hoje as regras que estarão em vigor daqui a dez,
20, 30 anos.” (Exame, 14/04/2004)
“A demanda chinesa poderá igualar a dos EUA
em 2015, segundo Frederick Lam, do Conselho
de Desenvolvimento do Comércio de Hong
Kong.” (Bloomberg, de Genebra, 09/09/2004)
Ciência e tecnologia
Em 1949, a China contava com apenas 40
instituições de pesquisa científica e menos de
50 mil cientistas, dos quais apenas 500 estavam relacionados com as instituições de pesquisa. Nos 25 anos posteriores, foram fundadas 840 instituições de pesquisa científica,
abrangendo 400 mil cientistas e técnicos. Isso
permitiu ao país: a) desenvolver as pesquisas
geológicas que levaram ao descobrimento dos
campos petrolíferos e de gás natural de Daqing, em 1953; b) desenvolver a construção
do primeiro reator atômico chinês, em 1958;
c) construir e explodir o primeiro artefato atômico chinês, em 1964; d) realizar a síntese artificial da insulina bovina cristalina, em 1965;
construir o primeiro colecionador de positrons
e megatrons, para a realização de pesquisas
físicas, energéticas, materiais, biológicas e químicas; e) construir a primeira central nuclear
do país, em 1970.
A China possuía no ano 2000 mais de 24 milhões de cientistas, técnicos e pessoal administrativo e de apoio envolvido em ciência e tecnologia, dos quais 2,77 milhões eram cientistas e
engenheiros. Esse pessoal trabalhava em 5.856
instalações científicas estatais, 2.550 instituições
científicas filiadas a universidades e 14.400 instituições científicas filiadas a empresas. Com investimentos superiores a US$ 12 bilhões anuais,
essas instituições estão voltadas para planos de
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Negócios com a China
“Em 2003, a taxa de investimento na China foi
da ordem de 47% do PIB.” (Veja, 23/06/2004)
“A economia da China, a sétima do globo,
tem o maior crescimento entre os 20 maiores
PIBs do mundo.” (Valor Econômico, 11/08/04)
“A China se tornou o segundo mercado
mais importante para a Volkswagen, depois
da Alemanha”, segundo a montadora, que
primeiro conseguiu autorização para operar
na China com créditos de sua financeira para
clientes privados.” (EFE, Alemanha, 09/09/2004)
desenvolvimento científico e tecnológico, dos
quais os mais importantes são:
Plano 863 de pesquisa de alta tecnologia
Prioridade para a tecnologia biológica, navegação aeroespacial (foguetes portadores e
lançamento de satélites, principalmente), informática, raios laser, automatização, energéticos, novos materiais e oceanografia.
Plano Chispa
Objetiva introduzir a ciência e a tecnologia
na área rural, difundindo na agricultura as ciências agronômicas e nas indústrias os avanços
tecnológicos.
Plano Tocha
Visa a formação de incubadoras industriais
para acelerar a introdução nas novas e altas
tecnologias na indústria nacional. Um desdobramento desse plano é a constituição de zonas
industriais de novas e altas tecnologias, ampliando o parque existente de 20.000 empresas,
e 1,5 milhão de trabalhadores e técnicos.
Plano de pesquisa básica
Esse plano, para o desenvolvimento de estudos e pesquisas científicas e tecnológicas, tem
permitido avanços significativos nas áreas do
cálculo geométrico, mecânica celeste, dinâmica
molecular, física atmosférica e outros setores.
Negócios com a China
17
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Saúde
“Em 2002, cerca de 18 mil executivos e
empresários visitaram a China atrás de
oportunidades.” (Dinheiro, 22/01/2003)
O salto empreendido pelo sistema de saúde da China pode ser medido pelo números de
centros de saúde, leitos e técnicos existentes, em
três períodos distintos de sua história recente.
Centros de Saúde
Leitos
Profissionais
1949
3.670
85.000
505.000
1978
169.732
2.042.000
2.464.000
Esse sistema tem sua base nas zonas rurais,
onde se localizam as redes de assistência médica, profilaxia e serviços de saúde em nível
distrital, cantonal e de aldeia, cobrindo mais
de 90% das 730.000 aldeias administrativas
do país. Os serviços mais especializados encontram-se nas cidades médias e grandes.
Havia no final de 2001 um total de 4,5 milhões de médicos, enfermeiros e técnicos. A
grande maioria dos 2,1 milhões de médicos
são alopatas, que se utilizam apenas da medicina ocidental ou a combinam com a medicina
tradicional chinesa, e esta é praticada por aproximadamente 400 mil médicos.
Outros exemplos dos avanços chineses na
área da saúde são a redução nas taxas de mortalidade, atualmente 6,51 por 1000 habitantes,
mortalidade infantil, 28 por 1000, e o aumento
da expectativa de vida para mais de 71 anos.
Apesar disso, a China ainda não alcançou os
padrões internacionais do número de médicos
por habitante, havendo chegado ao patamar
de 1,7 médicos por mil habitantes.
Proteção ambiental
A escassez de recursos naturais (água, florestas, solos agricultáveis), características geográficas e dimensões do país, mais a crescente
poluição hídrica e do ar causada pelo crescimento acelerado, levaram a uma atuação preservacionista muito intensa – a China conta
com 932 reservas naturais, totalizando 76,7
milhões de ha, 2.170 estações de monitoramento e 136 mil pessoas.
18
Negócios com a China
2000
310.996
3.140.000
5.591.000
“PIB da China em 2002: US$ 5,56 trilhões.
Taxa anual de crescimento do PIB: 7,3%.
Crescimento da produção industrial: 9,9%.
População total: R$ 1,3 bilhão. População
economicamente ativa: 760 milhões. Taxa de
desemprego: 10%. Renda per capita: US$ 4,3 mil
(Folha de S.Paulo, 26/01/2003)
“Segundo dados oficiais do governo chinês,
a década de 1990 testemunhou crescimento
do número de empresas em 35% ao ano;
o setor privado respondia em 2001 por 25%
da produção industrial do país e empregou 11%
de sua população ativa.” (Folha de S.Paulo,
traduzindo artigo do Le Monde, 15/11/2002)
“O governo chinês pretende dobrar o tamanho
da classe média, que em 2003 representava
18% da população.” (Dinheiro, 22/01/2003)
“O custo de vida na China é 60% inferior
ao do Brasil, essa camada é comparável com
a classe B brasileira. Equivale dizer que a China
possui hoje, em termos absolutos, 150 milhões
de pessoas capazes de consumir, desde que
não tenham que pagar em dólar.”
(CartaCapital, 10/04/2002)
“Superávits comerciais sucessivos permitiram que
a China atingisse reservas superiores a US$ 260
bilhões em 2002.” (Dinheiro, 22/01/2003)
“Segundo cálculos publicados na revista
Business Week, o PIB da China é quase 80% do
da União Européia, e o ultrapassará até 2007.”
(Jonathan Fenby, 2002)
Negócios com a China
19
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Combate à criminalidade
A campanha contra a criminalidade é um
aspecto importante da política da China para
manter um ambiente estável e favorável para
o desenvolvimento econômico e social. Essa
campanha enfoca fundamentalmente a criminalidade econômica, principalmente a corrupção, o narcotráfico, o tráfico humano, os assaltos à mão armada e os crimes hediondos.
Apesar das notícias dos meios de comunicação e da própria divulgação educativa que as
autoridades chinesas promovem, as taxas médias anuais da criminalidade na China são relativamente baixas, se comparadas com as taxas
dos EUA, por exemplo, conforme mostram os
números do ano 2000:
Descrição
Taxa média de crimes
Pessoas assassinadas
Violações contra mulheres
Pessoas cumprindo penas
China
0,06%
8 mil
27 mil
1,28 milhão
EUA
2%
24 mil
500 mil
1,5 milhão
Inflação e crescimento
As taxas de inflação chinesa pós-1949 têm
se mantido estáveis e baixas. Entre 1988 e
1989 elas cresceram abruptamente para 23%
ao ano, mas foram controladas e durante toda
a década de 90 permaneceram em patamares
abaixo de 2% ao ano. Essa realidade de inflação baixa com elevado crescimento econômico,
por mais de duas décadas, é um dos aspectos
centrais do seu desenvolvimento, e contradiz
a política econômica da grande maioria dos
países do mundo.
As taxas de crescimento pós-1949 sempre
foram relativamente elevadas na China, permitindo que se resolvesse parte considerável
da herança histórica de atraso e pobreza da
população. Entre 1966 e 1976, em virtude
dos distúrbios políticos da revolução cultural,
o crescimento da economia chinesa tendeu à
estagnação. Somente após 1978, as taxas de
crescimento voltaram a elevar-se. Entre 1980 e
1990 o produto interno bruto-PIB foi duplicado,
tendo por base o PIB de 1980, alcançando o
patamar de 1 trilhão e 854 bilhões de yuans ou
cerca de US$ 231 bilhões. Ou seja, entre 1980
e 1990, a taxa média de crescimento do PIB situou-se próxima dos 10% ao ano. Em 1990 e
1991, as taxas de crescimento ficaram abaixo
de 5%, em virtude de descontroles macroeconômicos relacionados com atrasos na construção infra-estrutural e aumento da inflação, e
dos distúrbios políticos de 1989. Porém, a partir
de 1992, após os reajustamentos necessários,
as taxas de crescimento voltaram a elevar-se,
atingindo 13,6%. Esse patamar foi mantido em
1993 (13,4%), quando teve início uma redução
do ritmo, para 11,8% (94) e 10,9% (95), mantendo-se em 8-9% anuais até 2004.
Desemprego
As taxas de desemprego chinesas eram residuais até 1978, tendo em vista a política de
pleno emprego adotada até então pelo governo, política que se expressava na idéia de “três
pessoas para um mesmo trabalho”.
A partir especialmente de 1984, quando tiveram início as reformas urbanas visando elevar
“A partir desta quarta-feira a China autoriza operações cambiais com oito moedas estrangeiras
(dólar, euro, libra esterlina, franco suíço, iene, dólar australiano, dólar canadense e dólar de Hong
Kong). Com o novo sistema, o dólar americano, que continuará sendo a moeda de referência, pode ser
negociado com as outras sete divisas mencionadas. Os bancos estrangeiros e locais foram autorizados
a lançar o sistema, desde o holandês ABN Amro ao Banco Popular da China. Segundo as fontes
do BC chinês, além disso, a progressiva liberalização “ajudará a reduzir a pressão sobre o yuan”,
em uma clara referência à grande massa de capital especulativo na China nos últimos anos à espera
de uma apreciação da moeda local.” (EFE Beijing, 18/05/2005)
20
Negócios com a China
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
a produtividade da indústria, do comércio e dos
serviços, as taxas de desemprego começaram
a subir, apesar das diversificadas medidas do
governo para criar novos postos de trabalho,
reciclar os trabalhadores, reduzir a jornada de
trabalho para 40 horas semanais, financiar a
criação de novas empresas, instituir um sistema
universal de seguro-desemprego e um sistema
universal de aposentadoria aos 60 anos.
Deve-se levar em conta que a China, apenas para assimilar o número de pessoas que
acessam ao mercado de trabalho, deve criar
anualmente 12 a 14 milhões de novos postos
de trabalho. Com a reestruturação empresarial
e a migração das áreas rurais, essa pressão sobre o mercado de trabalho urbano elevou-se,
fazendo com que a taxa de desemprego atingisse 4% no ano 2000.
Câmbio
Foto: Milton Pomar
A taxa de câmbio na China tem se mantido
historicamente estável, com uma leve desva-
ANO
1950
1978
1990
2000
lorização do yuan (ou renminbi), a moeda nacional chinesa. Em 1980, a paridade cambial
entre o dólar norte-americano e o renminbi era
de 1 para 8, mantendo-se nesse patamar em
2005, com US$ 1,00 valendo RMB 8,27. Essa
política cambial é, já há algum tempo, alvo de
ataques pesados dos EUA e da União Européia,
principalmente, que consideram-na responsável pela maior competitividade dos produtos
chineses, importados segundo eles a preços inferiores aos custos de produção dos nacionais.
Essa pressão aumentou muito no final de maio
de 2005, com o aumento das vendas chinesas
no primeiro quadrimestre, após o fim do sistema de cotas, no início do ano. Ameaçando
com sobretaxas caso o yuan não seja desvalorizado, e de classificar a China como “parceiro
comercial manipulador de câmbio”, o governo
Bush e a Comissão Européia assumiram postura protecionista que, na opinião do governo
chinês, contrariam o espírito de livre comércio
da OMC.
Comércio exterior
O desempenho do comércio exterior chinês
é o resultado mais visível do desempenho da
sua economia, do desenvolvimento da indústria e da infra-estrutura de logística nos últimos
20 anos. Utilizando-se como parâmetro o ano
de 1950, quando o resultado foi de US$ 1,13
bilhão, não impressionam os US$ 20,6 bilhões
alcançados em 1978. Mas é estonteante saber
que em 2004 a China simplesmente dobrou o
total de US$ 429 bilhões obtido em 2000, atingindo mais de US$ 800 bilhões e situando-se
entre os cinco maiores do comércio mundial.
EXPORTAÇÕES
US$ 550 milhões
US$ 9,75 bilhões
US$ 62,09 bilhões
US$ 232 bilhões
IMPORTAÇÕES
US$ 580 milhões
US$ 10,9 bilhões
US$ 53,4 bilhões
US$ 197 bilhões
TOTAL
US$1,13 bilhão
US$ 20,6 bi
US$ 115,4 bi
US$ 429 bi
Durante toda a década de 90 a balança
comercial chinesa apresentou saldos positivos, permitindo ao país manter altas reservas
internacionais. O crescimento das exportações
situou-se numa média anual de 7% ao ano,
enquanto as importações mantiveram-se em
5% ao ano.
Reservas internacionais
As reservas em moedas internacionais da
China têm crescido de forma consistente desde o início dos anos 90, alcançando US$ 210
bilhões no ano 2000. De acordo com a agência
de notícias EFE, “A reserva de divisas da China
é a segunda maior do
mundo, atrás apenas
DÉFICIT
do Japão, chegando,
US$ 30 mi
no fim de 2004, a
US$ 1,14 bi
US$ 609,9 bilhões.”
US$ 8,74 bi
(Beijing, 18/5/05)
(+) US$ 35 bi
Negócios com a China
21
Fotos: Glauber Queiroz
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Impressionam no comércio a diversidade de oferta,
o movimento permanente e os baixos preços.
22
Negócios com a China
Relação entre oferta e demanda
Até o final dos anos 80 a relação entre
oferta e demanda na China caracterizava-se
pela escassez de artigos de gêneros alimentícios e artigos de uso doméstico. Para fazer
frente a isso, o governo utilizava um sistema
de cupons de racionamento para realizar uma
distribuição razoavelmente equilibrada ante
uma demanda altamente reprimida. Do final
dos anos 80 em diante, essa situação mudou
radicalmente, sendo possível extinguir o sistema de cupons de racionamento. Não só foi
possível elevar a oferta de gêneros alimentícios e artigos de uso doméstico ao mercado,
equilibrando-a com a demanda, como também realizar uma mudança radical no próprio
consumo da população. O peso dos gastos
da população urbana com alimentos caiu de
57,5%, em 1978, para 44,5% em 1998 e
37,9% em 2001, enquanto o da população
rural caiu de 67,7% para 53,4% e 47,7%.
Houve também uma alteração qualitativa importante nos últimos anos, com o aumento
do consumo de produtos de origem animal
(carnes, ovos, leite) e uma diminuição do consumo de cereais.
Paralelamente, elevou-se o gasto com
educação e cultura recreativa, de 6,7% para
10,7% na população urbana, e de 1% para
9,2% na população rural. E na cesta de consumo da população urbana e rural aumentou o
peso das roupas e ingressaram novos tipos de
bens de consumo duráveis, como televisores,
lavadoras, gravadores, geladeiras, ventiladores e máquinas fotográficas, além das “quatro
velhas peças”, constituídas pelas bicicletas,
relógios, máquinas de costura e rádios.
No ano 2000, o consumo de artigos duráveis, como televisores em cores, geladeiras
e lavadoras para cada 100 famílias urbanas e
rurais eram:
Em unidades
Televisores em cores
Geladeiras
Lavadoras
Urbanas
105 ,43
76 ,08
90 ,57
.
.
.
Rurais
32 ,59
9 ,25
22 ,81
.
.
.
Negócios com a China
23
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Taxas de investimento
Em 2001, o total da poupança depositada
nas organizações financeiras da China atingiu
11,0 trilhões de yuans, montante bastante próximo do seu PIB. Esse é o principal componente
dos investimentos para a construção econômica chinesa, que têm constituído 30% a 40%
do PIB entre 1980 e 2000.
Uma parte substantiva na composição
desses investimentos na produção tem sido
representada pelos investimentos diretos e
empréstimos estrangeiros. Entre 1979 e 1998,
tais investimentos diretos somaram US$ 265,6
bilhões. A maior parte desses investimentos
concentrou-se nos anos 90, numa média anual
de US$ 30 a US$ 40 bilhões. Os empréstimos
externos, nesse mesmo período, somaram US$
162 bilhões.
“O relatório State of the World 2004, do WorldWatch Institute,
sediado em Washington, aponta a China como o segundo maior
mercado consumidor, com 239,8 milhões de pessoas, ou 19%
da população.” (Jornal do Comércio, RS, 13/02/2004)
“Um fortíssimo argumento de representantes do governo chinês
ao negociar sua entrada na OMC, em 2001: “no ritmo desta
última década, a China chegará em 2011 com um PIB maior que
o dos EUA e uma classe média de 400 milhões ou 500 milhões
de pessoas” (CartaCapital, 10/04/2002)
Renda da população
Entre 1949 e 1978 a renda média da população das zonas rurais chinesas aumentou
2,9% ao ano. De 1978 a 1998, descontados
os fatores da alta dos preços, essa renda cres-
Trabalho intensivo e capital
intensivo
A
força de trabalho chinesa em 2005 atinge a soma de
mais de 700 milhões de pessoas. A cada ano, a China
precisa criar entre 12 a 14 milhões de vagas de trabalho para
atender a população jovem que ascende ao mercado de trabalho. Nessas condições, a modernização pode transformarse num problema social sério se o desemprego ultrapassar
um certo patamar da população economicamente ativa.
Em vista disso, além de haver estabelecido a idade limite
de 60 anos para aposentadoria e ter reduzido a jornada de
trabalho para 40 horas semanais, a China tem se empenhado
em combinar a utilização do capital intensivo (ampla utilização da ciência e das novas tecnologias para a construção de
máquinas, equipamentos e unidades produtivas de alta produtividade e pouco emprego de mão-de-obra) com a utilização do trabalho intensivo (unidades produtivas tradicionais,
manufaturas e linhas de produção e montagem com ampla e
massiva utilização de mão-de-obra).
24
Negócios com a China
ceu 3,6 vezes, numa média anual superior a
5%. A renda média da população urbana também tem crescido, desde 1984, numa média
anual superior a 6%. Desde 1999, tendo em
vista a instabilidade do mercado internacional,
as autoridades chinesas decidiram incrementar
ainda mais a renda de sua própria população,
com vistas a reforçar o papel do mercado e do
consumo doméstico no desenvolvimento econômico. Nessas condições, a renda per capita
real da população tende a crescer, nos próximos anos, a taxas maiores dos que as experimentadas nos recentes 20 anos.
Isso levou à criação de um amplo setor industrial nas
zonas rurais, que hoje é responsável por mais de 50% do
valor da produção dessas áreas e que emprega mais de 130
milhões de trabalhadores. São empresas industriais que produzem confecções, pequenos motores, implementos agrícolas, materiais de construção, artesanatos e uma série considerável de outras mercadorias, muitas delas inclusive para
exportação. Desse modo, a força excedente da agricultura é
absorvida na indústria, comércio e serviços das próprias zonas rurais, evitando o inchaço ainda maior das cidades.
Mas nas zonas urbanas também existem grandes plantas
industriais de trabalho intensivo, principalmente na produção de artesanatos, brinquedos, materiais de construção e
outros produtos de baixa e média tecnologia. Com isso, o
desemprego tem se mantido relativamente estabilizado em
cerca de 3-4% da população economicamente ativa. Em médio prazo a pressão para a modernização tenderá a atingir
todos os setores da economia. A China acredita, porém, que
quando isso acontecer ela já terá uma capacidade de geração
de riqueza que lhe permitirá reduzir ainda mais a jornada de
trabalho e a aposentadoria, mantendo também reduzidas as
taxas de desemprego.
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Baixa e alta tecnologia
A combinação do uso das tecnologias tradicionais e das novas tecnologias está relacionada tanto ao problema do emprego, quanto
aos problemas históricos. Ainda hoje, a maior
parte das empresas chinesas é constituída de
plantas que se utilizam de tecnologias tradicionais. Na agricultura, em particular, essa situação envolve algumas centenas de milhões de
camponeses, embora com tais técnicas antigas
sua produtividade seja relativamente alta.
Foto: Milton Pomar
Uma transformação abrupta das unidades
industriais e agrícolas de baixa tecnologia poderia criar um caos econômico e social na China. Em tais condições, durante um tempo relativamente longo, será possível encontrar nesse
país ramos, setores e unidades de altíssima tecnologia, como já ocorre nas indústrias espacial,
aeronáutica, farmacêutica, de biotecnologia e
outras. Por outro lado, em alguns desses ramos
e setores e em muitos outros será possível encontrar unidades funcionando com tecnologias
atrasadas e superadas.
Assim, a China se empenha para assimilar a
adaptar as altas e novas tecnologias, possuindo
vários programas estatais com fundos especiais
para estimular as pesquisas e o desenvolvimento nessas áreas. A condição principal, embora
não a única, para a aceitação de investimentos estrangeiros na China é o aporte de novas
e/ou altas tecnologias. Em todo o país estão
sendo construídas zonas econômicas de desenvolvimento tecnológico, de modo a facilitar a
interação entre as diversas empresas que trabalham com tecnologias avançadas.
Por outro lado, as empresas que operam
com tecnologias atrasadas são ajudadas a mudar paulatinamente no sentido geral da modernização tecnológica, através da constante
difusão das novas tecnologias, do trabalho de
incubadoras de empresas e de outras formas
que permitam a transformação tecnológica a
médio e longo prazos.
Protecionismo e abertura
Desde 1978, a China iniciou um amplo processo de abertura ao exterior, com a criação
das Zonas Econômicas Especiais – ZEE, e portos abertos para a recepção de investimentos
estrangeiros e novas tecnologias. Isso permitiu
à China tornar-se um dos grandes receptores
mundiais de capitais externos.
A melhora da qualidade de vida aumenta
a quantidade de idosos na população:
em 2030 eles serão 15% do total.
Negócios com a China
25
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
No entanto, essa abertura não foi geral
Regulação e desregulação
nem indiscriminada. Durante cerca de uma déA China tem realizado um esforço considerácada, os investimentos estrangeiros na China
vel para elaborar e aprovar uma série de leis que
limitaram-se às ZEE, com a condição de se asdêem cobertura e segurança jurídica às atividasociarem a alguma empresa nacional, estatal
des econômicas. A respeito das empresas de caou coletiva, aportarem novas tecnologias e expital misto sino-estrangeiro foram aprovadas leis
portarem toda a sua produção para o mercasobre investimento e funcionamento, registro e
do externo. Ou seja, a China criava condições
administração, administração trabalhista, conpara introduzir novas plantas em parte de seu
tabilidade e imposto de renda. Foram também
território, para apropriar-se de certas tecnoloaprovadas leis sobre o imposto de renda, sobre
gias que podiam ser úteis à modernização de
a redução ou isenção do imposto de renda e do
suas próprias empresas nacionais, para seguir o
imposto comercial e industrial para as empresas
rastro das empresas estrangeiras exportadoras
instaladas nas ZEE, sobre investimento e funciono mercado internacional, mas não abriu seu
namento de empresas de capital puramente esmercado interno à concorrência das empresas
trangeiro, sobre a reestruturação das empresas
estrangeiras com maior poder competitivo.
estatais, sobre a falência das empresas estatais,
Desse modo, praticou abertura
e assim por diante.
INVESTIMENTOS
e protecionismo. À medida
Hoje a China possui uma legislação
ESTRANGEIROS PASSARAM
que suas próprias empresas
que dá segurança e estímulo às atiforam ganhando musvidades econômicas, com canais
A SER MUITO BEM-VINDOS,
culatura, experiência e
abertos para o fluxo interno e
A PARTIR DO INÍCIO DAS REFORMAS, E A
competitividade para
externo de capitais, para a comSUA MULTIPLICAÇÃO AJUDA A EXPLICAR
disputar com as empra e venda de mercadorias,
A CHINA ATUAL. PASSARAM DE MEROS
presas estrangeiras, a
para a contratação e demissão
US$ 57 MILHÕES, EM 1980, PARA US$ 1,258 BI
China abriu paulatide trabalhadores, para finanEM 1984; US$ 11,156 BI EM 1992;
namente seu mercado
ciamento de créditos bancários,
US$ 35,9 BI EM 1995; US$ 40 BI EM 1996;
interno, processo que
para arrendamento de equipaUS$ 44,2 BI EM 1997; US$ 49,3 BI EM
continua até hoje. É possímentos e/ou empresas e para a parti2002; US$ 53,5 BI EM 2003.
vel acompanhar, nos últimos
cipação em licitações públicas. Em certo
20 anos, a abertura de portas para
sentido, a regulação macroeconômica permidiversos tipos de produtos externos, ao
tiu uma ampla desregulamentação microecomesmo tempo em que grande parte das emnômica. Por outro lado, a China possui uma
presas chinesas se jogava no mercado internasérie de válvulas de segurança que lhe permite
cional e conquistavam importantes fatias desse
evitar e coibir abusos de diferentes naturezas.
mercado.
Por exemplo, os lucros das empresas estrangeiAssim, ao mesmo tempo em que solicitava
ras podem ser repatriados e não há nenhuma
seu ingresso na Organização Mundial do Colei regulando tal ato. No entanto, as exigências
mércio – OMC, de modo a evitar retaliações que
sobre os dados contábeis, sobre o cálculo dos
não podia contestar por estar fora daquela orlucros e sobre os porcentuais que devem ser
ganização, a China preparava-se internamente
reinvestidos e exportados estão claramente depara enfrentar a concorrência dos produtos esfinidos em contrato e fraudes nesses terrenos
trangeiros. Atualmente a China começa a abrir
podem ser duramente punidos pela legislação
áreas como seguros, bancos, comércio interno
geral. O mesmo ocorre em relação às demisà participação estrangeira, mas ainda mantém
sões de trabalhadores, aos cuidados ambienalgum tipo de protecionismo sobre aqueles setais e outros pontos da atividade empresarial.
tores em que suas empresas nacionais não esDesse modo, regulação macro, desregulatão suficientemente preparadas para suportar
rão micro e certa regulação micro se combinam
a concorrência externa.
para criar um ambiente econômico favorável.
26
Negócios com a China
Negócios com a China
27
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
30 anos até as Reformas
Entre 1950 e 1978, a nova república – República Popular da China – proclamada a 1º de outubro de 1949, transitou por várias experiências
que lhe permitiram crescer e, ao mesmo tempo,
realizar uma redistribuição menos desigual da
riqueza. Isso era muito complicado, não só porque a China tivera sua infra-estrutura e sua base
econômicas destruídas durante a guerra, como
porque uma e outra eram muito fracas, pouco
desenvolvidas e desequilibradas.
Exceto algumas ferrovias instaladas por capitais estrangeiros para facilitar as exportações
de matérias-primas agrícolas e minerais, e algumas fábricas de tecidos e de alguns outros
produtos de consumo da população, a China
desconhecia outros tipos de indústrias. Sua
siderurgia era insignificante e concentrada na
Manchúria. Não possuía qualquer indústria
de produção de bens de
capital, química, de equipamentos de transportes
e de geração de energia.
Ou seja, do ponto de vista industrial, era extremamente atrasada.
Os primeiros passos
da República Popular,
entre 1950 e 1953, consistiram em recuperar a
economia destruída e
colocá-la no patamar de
antes da guerra. A partir
de 1953, com o primeiro
Plano Qüinqüenal, a China ingressou numa fase
de industrialização rápida, instalando grandes
30 anos após a sua morte,
Mao Zedong ainda é uma
lembrança viva para toda
a população da China.
28
Negócios com a China
complexos industriais de siderurgia, metalurgia, construção de veículos motorizados para
ferrovias e rodovias, máquinas operatrizes,
tratores e produtos químicos. Sob o bloqueio
econômico das principais potências industriais
e com pouco crédito externo, essa industrialização só poderia se dar caso financiada com
parte dos excedentes gerados pelo trabalho na
agricultura e na própria indústria, o que tinha
limites sociais e políticos.
Esses limites apareceram fortemente nas
insatisfações sociais e críticas surgidas em
1957, motivando ajustamentos nos planos de
desenvolvimento. Foram introduzidas medidas
para equilibrar as taxas de crescimento entre
a agricultura e a indústria e, dentro desta, entre a indústria pesada e a indústria leve ou de
bens de consumo de massa. As cargas sobre
os camponeses e os operários também foram
reduzidas. Entretanto, continuavam penden-
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
tes várias divergências sobre os caminhos mais
adequados para um crescimento sustentado
de longo prazo.
A rigor, foram se formando duas tendências ou correntes principais no governo. A primeira, tendo à frente o premier Zhu Enlai, que
defendia o ponto de vista de que era preciso
aproveitar todo o potencial das diversas formas de propriedade possíveis, tanto privadas,
quanto públicas ou sociais, para desenvolver a
capacidade produtiva do país e modernizá-lo.
A segunda, tendo à frente o próprio presidente
Mao Zedong, que defendia a idéia de que as
formas privadas de propriedade eram um entrave ao desenvolvimento da capacidade produtiva do país, devendo ser substituídas pelas
formas públicas ou sociais.
Durante quase vinte anos, entre 1958 e
1976, a corrente representada por Mao Zedong predominou, embora o premier Zhu En-
Deng Xiaoping
entrou para
a História como o
estrategista das
Reformas que
permitiram à China
quadruplicar a sua
Economia em
Foto: Milton Pomar
25 anos.
lai tenha continuado à frente do governo até
falecer, em janeiro de 1976. Pode-se dizer que
as tentativas de implantar as formas sociais de
propriedade e, através delas, elevar a capacidade produtiva do país, foram levadas a seu extremo. Nesse processo, a China sofreu convulsões
sociais e políticas de diferentes tipos, como o
Grande Salto Adiante, entre 1958 e 1960, e a
Revolução Cultural, entre 1966 e 1976, embora surpreendentemente tenha conservado sua
unidade nacional básica.
Ficou evidente, ao longo daquele período, a
incapacidade das formas sociais de propriedade desenvolverem sozinhas a capacidade produtiva do país, no estágio ainda atrasado em
que este se encontrava. Assim, quando o presidente Mao morreu, em setembro de 1976,
a corrente que ainda defendia aquelas idéias
já não tinha qualquer apoio popular. Nessas
condições, estava aberto o caminho para seguir o projeto das quatro modernizações, inicialmente preconizado pelo premier Zhu Enlai. Entre 1977 e 1978, um amplo debate na
sociedade chinesa sedimentou as idéias então
desenvolvidas por Deng Xiaoping, a partir das
experiências das próprias tentativas anteriores,
e transformou-as num grande e prolongado
programa de reformas.
Negócios com a China
29
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Princípios e estratégias
serviços, educação, cultura, política, estrutura
estatal, salários, preços etc.
Aspecto importante é que as reformas ocorrem através de uma série de combinações estratégicas que permitam, ao mesmo tempo,
um desenvolvimento relativamente rápido e a
manutenção da estabilidade econômica, social
e política. As principais combinações são planejamento e mercado, propriedade social e propriedade privada, trabalho intensivo e capital
intensivo, baixa e alta tecnologias, protecionismo e livre comércio, regulação e desregulação.
A China continua se proclamando fiel a
seus quatro princípios: ser um país socialista,
de democracia popular, dirigido pelo Partido
Comunista e tendo como guia filosófico o
marxismo e o pensamento maozedong. Sob o
enquadramento desses princípios, as reformas
pretendem realizar suas três tarefas estratégicas
(modernização, reunificação do país e manutenção da paz e resistência ao hegemonismo),
suas quatro modernizações (da indústria, agricultura, defesa nacional e ciência e tecnologia),
seus quatro trabalhos reformadores (da administração e quadros, da construção de uma civilização espiritual, do combate aos delitos e da
retificação do estilo de trabalho).
Com base nesse conjunto de princípios e
estratégias, a China estabeleceu as linhas mestras de sua construção econômica, consistindo
da aplicação da ciência para o desenvolvimento
da agricultura, da combinação da indústria leve
com a indústria pesada, do desenvolvimento
consistente da energia e dos transportes, da
continuada transformação técnica da economia, da paulatina formação de grupos de empresas, da constituição de fundos financeiros
para a construção econômica, da combinação
da abertura para o exterior com a auto-sustentação, da continuada reforma da estrutura econômica, da elevação do nível cultural e
científico dos trabalhadores e da colocação de
seu próprio povo como principal beneficiário
de todo o processo de reformas.
A rigor, as reformas tiveram início em 1980.
O período de 1978 a 1980 é considerado de reajustamentos na agricultura e início da abertura ao exterior, uma preparação para o processo
seguinte de reformas. Cronologicamente, as
reformas não foram todas implantadas de uma
só vez. Embora suas linhas gerais estivessem
delineadas já em 1978, tiveram início real em
1980, com as reformas apenas na agricultura
e a abertura ao exterior. Em 1984 começaram
as reformas urbanas, num processo sucessivo
de reformas na indústria, comércio, finanças,
30
Negócios com a China
Foto: Milton Pomar
As principais combinações
estratégicas
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Planejamento e mercado
Ao contrário do período anterior, em que
o planejamento centralizado descia a minúcias
e determinava todo o processo produtivo, sem
levar em conta o mercado, a partir de 1978 a
China passou a combinar o planejamento macroeconômico e macrossocial com o mercado.
O mercado é o principal regulador dos preços e das demandas produtivas, mas o Estado,
através do planejamento macro, retifica os desvios do mercado e age sobre ele para orientálo de acordo com as estratégias da construção
econômica e com os princípios, tarefas e trabalhos das reformas. Desse modo, pode-se dizer
que há, por um lado, cooperação entre o planejamento e o mercado e, por outro, tensão e
conflito entre ambos.
Isso ocorre tanto em virtude das heranças
históricas, quanto devido aos novos problemas
decorrentes da modernização. Por exemplo,
ainda subsistem monopólios estatais em áreas
sensíveis do abastecimento e ainda existem
preços administrados para uma série de produtos básicos, como alimentos populares, transportes etc. No entanto, a tendência é que, na
medida em que a escassez seja superada e os
rendimentos elevados, os monopólios sejam
quebrados e o mercado vá paulatinamente determinando todos os preços conforme a relação
entre a oferta e a procura.
Por outro lado, o governo mantém estoques estratégicos e estoques reguladores, assim como sistemas de acompanhamento de
ofertas e preços, de modo a evitar migrações
erráticas de capitais para uns produtos em detrimento de outros. Além disso, o Estado possui uma visão clara das potencialidades do país,
das suas cadeias produtivas e do processo geral
de desenvolvimento técnico-científico, atuando
para completar as cadeias produtivas, instalar
novas cadeias produtivas decorrentes no desenvolvimento tecnológico, evitar a instalação
de novas unidades produtivas em mercados já
saturados e assim por diante.
Ou seja, procurando conhecer os movimentos do próprio mercado, o planejamento
macro o orienta e lhe dá o rumo desejado a
aproveitar suas potencialidades e evitar seus
defeitos e seus males.
Propriedade social
e propriedade privada
Em 1978, quando começaram as experiências para a implantação das reformas no socialismo chinês, existiam apenas duas formas de
propriedade social: a propriedade estatal e a
propriedade coletiva. A propriedade estatal era
tida como propriedade pública sob gestão do
governo. A propriedade coletiva, assemelhada à
propriedade cooperada no Brasil, era uma misNegócios com a China
31
As razões do crescimento econômico
32
Negócios com a China
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
tura de propriedade social e propriedade privafamílias ou grupos privados. Essas empresas,
da, na medida em que pertencia coletivamente,
que hoje representam cerca de 25% do total
mas apenas a uma parcela da sociedade.
existente na China, atuam no mercado com a
Durante o período do planejamento cenmesma liberdade e os mesmos direitos das emtralizado chegou um momento em que ampresas estatais e coletivas.
bos os tipos de propriedade eram confundidos
Existem as unidades familiares camponesas,
como propriedade estatal, visto que deveriam
um tipo especial de propriedade privada que
seguir os planos microeconômicos determinaopera sobre a terra nacionalizada por meio de
dos pelo Estado. As reformas modificaram tocontratos de responsabilidade assinados com
talmente esse cenário.
uma cooperativa, que gerencia o uso do solo
As empresas estatais continuam como propara o governo e à qual os produtores agrícolas
priedade social, gerida pelo Estado. No entanestão associados. Pelo contrato de responsabito, as estatais não têm mais poder monopolista
lidade, o lavrador se compromete a produzir e
(a não ser em alguns casos raros ). Também
vender ao Estado, através da cooperativa, um
não estão mais subordinadas a planos obrideterminado volume de cereais ou
gatórios. Elas têm autonomia para atuar no
outro produto acordado, por
mercado como qualquer outro tipo de
um preço pré-estabeleciAO CONTRÁRIO DO QUE
empresa. São geridas através de condo. Tudo que produzir
SE
IMAGINA,
A
PARTICIPAÇÃO
tratos de responsabilidade assinados
a mais poderá venDO ESTADO NO PIB CHINÊS É INFERIOR
entre as assembléias de empregados
der, ao preço do
e o governo, e devem ter rentabilimercado, tanto ao
A DE MUITOS PAÍSES CAPITALISTAS:
dade suficiente para realizar sua próEstado, quanto diHÁ DEZ ANOS, MANTÉM-SE NA FAIXA
pria acumulação para investimento e
retamente ao próDE 10%. ERA DE 22% EM 1985, DE 32%
expansão. E, como qualquer empreprio mercado.
NO INÍCIO DAS REFORMAS E SUPERIOR
sa que não consegue modernizar-se
A propriedade
A 40% ANTES DE 1978.
e atender ao mercado, podem declarar
camponesa é, assim,
falência e serem fechadas, de acordo com
um tipo de propriedade
a legislação.
mista. Há também inúmeros
A legislação chinesa separou a propriedade
outros tipos de propriedades mistas
da gestão. Uma estatal, dependendo de sua
entre empresas estatais e empresas
importância estratégica, pode ter uma gestão
coletivas, entre empresas estatais e
eleita pelos empregados e funcionários, uma
empresas privadas nacionais ou emgestão escolhida por acordo entre os emprepresas privadas estrangeiras, entre
gados e o governo, ou uma gestão profissional
empresas coletivas e empresas pricontratada fora dos quadros dos empregados
vadas (nacionais e/ou estrangeiras) e
e do governo. As empresas estatais represende empresas privadas nacionais com
tam cerca de 30% do total das empresas. As
empresas privadas estrangeiras.
empresas coletivas são propriedade de seus
Na agricultura é comum uma
empregados e funcionários, que escolhem seus
certa verticalização, com o estabelediretores, gerentes e técnicos, seja em seus prócimento de contratos entre granjas
prios quadros, seja fora deles. Como qualquer
estatais ou coletivas e unidades facooperativa, as empresas coletivas respondem
miliares, para a produção de certos
por seus lucros e perdas, atuando livremente
plantios ou criações que exigem o uso
no mercado. As empresas coletivas represenda ciência agronômica. Essa é, inclusitam cerca de 45% das empresas chinesas.
ve, uma das formas através das quais
A legislação chinesa permite a existência
a ciência e a tecnologia agronômica
de empresas privadas nacionais e estrangeié transmitida aos produtores agrícolas
ras, pertencentes tanto a indivíduos, quanto a
individuais e familiares.
Negócios com a China
33
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Metas até 2010
O governo chinês estabeleceu a meta de
construir uma estrutura de economia de mercado socialista relativamente completa até 2010
e, entre 2010 e 2020, alcançar uma estrutura
econômica razoavelmente madura.
Tendo em vista metas de longo alcance, no
primeiro decênio a China deve aplicar as seguintes políticas macroeconômicas:
Zonas transregionais
Com base na experiência das zonas econômicas especiais e com o fito de estender o
desenvolvimento para todo o país, o processo
de crescimento tomará como base o desenvolvimento das sete zonas transregionais compreendidas pelo 1) Delta do rio Yangtsé; 2) Mar de
Bohai; 3) Litoral Sudeste; 4) Litoral Sul-Sudoeste; 5) Nordeste; 6) Cinco Províncias Centrais; 7)
Noroeste, e a articulação entre elas.
Ritmo de crescimento
Manter uma taxa moderadamente rápida
de crescimento de 7% a 8%, com vistas a não
pressionar a infra-estrutura econômica nem
criar tensões inflacionárias.
Equilíbrio entre oferta e demanda
Manter um equilíbrio adequado entre a
oferta e a demanda, através da elevação do
consumo doméstico e da manutenção de taxas
adequadas de exportações e importações.
Controle macroeconômico
Inflação: manter taxas de um digito;
Investimentos produtivos: sustentar em
30 a 35% do PIB;
Investimentos sociais: aplicar 13 trilhões de
yuans no decênio para erradicar os bolsões
de pobreza, estabelecer os sistemas universais de aposentadoria, seguro-desemprego
e seguro de saúde e o sistema universal de
ensino básico de nove anos;
Estabilidade monetária: manter o renminbi
numa paridade adequada com o dólar norteamericano e torná-lo conversível internacionalmente;
Exportações e importações: manter o equilíbrio entre ambas, de acordo com as necessidades da economia nacional;
Reservas internacionais: continuar a elevação para a segurança do comércio externo,
captação de investimentos e empréstimos
internacionais e estabilidade da moeda;
Taxa de desemprego: evitar que ultrapasse
o patamar de 4%, com a sustentação do seguro-desemprego e o auxílio das políticas de
relocação e reciclagem dos trabalhadores;
Criação de postos de trabalho: criar 40
milhões de novos postos.
Padrão de vida
Foto: Milton Pomar
34
Negócios com a China
Renda média per capita: elevar, no mínimo, para 5.500
yuans;
Salário médio: elevar para
3.236 yuans;
Seguro velhice: ultrapassar
os 87,7 milhões de segurados
atuais;
Fundos sociais: unificar os
fundos sociais como base para
a universalização das garantias sociais aos aposentados,
velhos e acidentados;
Padrão geral de vida de toda
a população: classe média
baixa.
Negócios com a China
35
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
O caminho das reformas
Estratégias orientativas
A prioridade da agricultura
Nos documentos do governo chinês que
conformam os planos de longo prazo e as
ações de curto e médio prazos, é possível notar a persistência de diversas estratégias que se
poderia chamar de orientativas. Estão basicamente relacionadas com a prioridade da agricultura, com o desenvolvimento das empresas
estatais como principais instrumentos da política econômica, com a necessidade de quebrar
os monopólios e evitar seu ressurgimento, com
a construção de cadeias produtivas completas
e com o desenvolvimento da educação como
instrumento fundamental para a construção
material e espiritual do país.
Com 1,3 bilhão de habitantes, em 2005,
cerca de 22% da população do globo, a
China não pode dar-se ao luxo de considerar
a agricultura algo secundário ou de menor importância. Além disso, em seus seis mil anos
de história escrita, foi a agricultura inúmeras
vezes a fonte das instabilidades, distúrbios, insurreições, guerras civil, trocas de dinastias e
mudanças de regimes políticos. Mesmo após a
proclamação da República Popular, foram em
geral problemas relacionados com a agricultura (e, portanto, com os camponeses) a fonte de
muitas das dificuldades governamentais.
A China possui apenas 7% da superfície
agrícola do mundo, ou cerca de 110 milhões
de hectares agricultáveis (embora haja quem
“aumente” essa área para 130 milhões de hectares). Mesmo que este último número seja verdadeiro, existem três tendências no desenvolvimento chinês que pressionam essa superfície.
País agrário, com mais de 800 milhões de habitantes na área rural,
a produção de alimentos na China já não consegue acompanhar
o aumento do poder aquisitivo da população, principalmente
da parcela urbana, hoje mais de 500 milhões de pessoas.
Foto: Milton Pomar
36
Negócios com a China
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
O processo acelerado de construções urbanas e nas zonas rurais tendem a reduzir ainda
mais a área agricultável. Viajando pela periferia
das grandes cidades chinesas é possível verificar como as estradas, novas fábricas e novas
zonas habitacionais avançam sobre as áreas
agrícolas suburbanas, que desempenham um
papel importante no abastecimento urbano.
A elevação da renda da população, de seu
poder de compra e de seu padrão de vida, aumentam a procura por alimentos, sejam os antigos, sejam novos. Há, portanto, uma pressão
crescente pelo aumento da produção agrícola.
Por fim, como a China não têm áreas novas
para estender sua superfície agrícola, só lhe
resta aumentar a produtividade do solo e do
trabalho. E as tecnologias agrícolas tradicionais, ainda em grande parte responsáveis pela
China haver alcançado uma produção anual de
500 milhões de toneladas de grãos, não são
mais capazes de permitir que a produção agrícola chinesa continue crescendo a uma taxa
mínima de 1% ao ano.
Nessas condições, as orientações governamentais reiteram constantemente a necessidade de considerar a agricultura como prioritária.
Embora esteja disposta a considerar a possibilidade de importar alimentos – ela está importando soja e açúcar do Brasil, trigo da Argentina e diversos outros alimentos de outras partes
– a China não pretende perder sua condição de
auto-suficiente em alimentos, com pelo menos
uma safra estocada como reserva estratégica e
outra como reserva reguladora.
Para manter os avanços que obteve e continuar tomando a agricultura como prioritária, os
governos chineses estabelecem preços adequados para a parte da produção vendida ao Estado
pelos camponeses, garantem o fornecimento
de insumos essenciais através das cooperativas,
acodem os camponeses nas situações emergenciais e realizam um esforço constante de pesquisa, desenvolvimento e difusão agronômicas,
através de milhares de centros tecnológicos e
das granjas estatais, espalhados por todo o território. A introdução da ciência e tecnologia na
agricultura chinesa tornou-se a questão essencial para mantê-la como prioridade.
Empresas estatais
As empresas estatais são consideradas na
China um dos principais instrumentos de efetivação das políticas econômicas do Estado. Como
responsáveis pela parte mais considerável da
produção do país, foram elas que sustentaram
as cargas maiores dos primeiros anos da reformas. Eis porque continuam sendo consideradas
instrumentos imprescindíveis para a modernização chinesa, não apenas por serem propriedade
pública, mas principalmente por haverem demonstrado uma capacidade ímpar para garantir
o sucesso das políticas estratégicas do Estado.
Nos anos recentes, as empresas estatais
ingressaram num programa mais intensivo de
modernização, para se tornarem altamente
rentáveis e exemplos de utilização de sistemas
gerenciais e técnico-produtivos científica e tecnologicamente avançados. Várias delas, como
as siderúrgicas Baoshan e Anshan, são exemplos de modernização e capacidade competitiva
internacional.
ELEMENTO ESTRATÉGICO FUNDAMENTAL DE TODO O
PROCESSO DE REFORMA ECONÔMICA, LÁ AS ESTATAIS
SÃO O SETOR ORIENTADOR DA ECONOMIA, QUE PERMITE AO GOVERNO REALIZAR COM SEGURANÇA SEU
PLANEJAMENTO MACROECONÔMICO.
Essa reforma estrutural das estatais não
é, porém, simples. Historicamente, aplicavam
a política de emprego 3:1 (três trabalhadores
para uma função), adotada anteriormente para
manter o pleno emprego no país. Isso, por si
só, era um empecilho para o desenvolvimento tecnológico e o aumento da produtividade.
Elas também não possuíam autonomia para
atuar no mercado, restringindo-se a cumprir
as metas quantitativas estabelecidas pelo plano estatal. Os antigos dirigentes das empresas, apontados pelas autoridades superiores,
formaram-se assim num processo em que as
inovações, os novos métodos gerenciais e administrativos, a contratação e dispensa de trabalhadores e a contabilidade de custos e rentabilidade eram estranhos a sua atividade.
Negócios com a China
37
Defronte à
Cidade Proibida,
a Praça da Paz Celestial
guarda o mausoléu
de Mao Zedong.
Essa praça imensa
teria capacidade
para um milhão
Foto: Milton Pomar
de pessoas.
Assim, a primeira reforma referente às estatais consistiu em dar autonomia a elas para
atuar no mercado. Desse modo, elas tiveram
que aprender com uma situação completamente nova e adaptar-se. Tiveram que articular-se
com o Estado para efetivar políticas de realocação de excedentes de trabalho, introdução da
contabilidade de custos, pesquisas de mercado,
controle da qualidade, oferta de novos produtos
etc. Hoje, mais de 50% das empresas estatais
já são rentáveis e algumas delas alcançaram os
padrões internacionais de competitividade.
De qualquer modo, há muitas que ainda
lutam para alcançar os novos padrões e outras
que se tornaram incapazes disso porque seus
equipamentos e produtos perderam a razão
de ser, exigindo um alto custo para sua modernização.
Nestes casos, tais empresas podem ser arrendadas a proprietários coletivos ou privados, interessados em modernizá-las ou transformá-las,
ou simplesmente serem fechadas por falência.
No caso de falência, não só das estatais,
como de qualquer outro tipo de empresa chinesa, os primeiros direitos a serem contemplados são os dos trabalhadores, inclusive o de
realocação para outras atividades produtivas.
Depois, no correr do processo de falência, vão
sendo atendidos os demais.
Com a entrada da China na OMC, a modernização das empresas estatais chinesas deve
ser acelerada, supondo-se que entre 2005 e
2010 todas alcancem o padrão científico e tecnológico básico.
38
Negócios com a China
Quebra dos monopólios
A China chegou à conclusão, após 30 anos
de monopolização estatal de vários setores de
sua economia, que os monopólios, suas decisões unilaterais e seus preços administrados
são um empecilho para o desenvolvimento
econômico e social. A partir dessa conclusão,
a China vem quebrando seus monopólios, seja
desdobrando os monopólios estatais em várias empresas estatais que concorrem entre si
e com autonomia no mercado, seja permitindo a entrada de empresas coletivas e privadas
nacionais e estrangeiras em diversos ramos e
setores da economia. Desse modo, as empresas são obrigadas a tornarem-se competitivas,
modernizando-se e aumentando sua produtividade e rentabilidade. O que só pode ser feito
rebaixando custos e preços finais.
Competitividade natural
As limitações naturais do território chinês
para a agricultura, a pecuária, a atividade florestal e suas potencialidades naturais permitem
que a China empreenda a política de dominar e
instalar praticamente todas as cadeias produtivas possíveis em seu território. Tal política, perseguida com persistência, transformou a China
numa poderosa exportadora de produtos manufaturados. Em outras palavras, a China só
exporta matérias-primas em certas condições
Negócios com a China
39
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
especiais, preocupando-se principalmente em
agregar valor a seus produtos primários e intermediários. Isso lhe dá um poder competitivo de
primeira ordem no mercado internacional.
Educação, instrumento indispensável
Foto: Milton Pomar
A China entendeu que sem um povo educado não poderia alcançar um alto nível de
desenvolvimento material e espiritual. Com
uma herança deixada pelo passado extremamente perverso (em 1949, cerca de 80% de
sua população era analfabeta), investe pesado
na educação infantil, primária e secundária de
primeiro ciclo, num total de nove anos, obrigatória para todas as crianças em idade escolar.
E através das escolas para adultos, que combinam alfabetização, profissionalização, ensino
técnico secundário e universidades de período
noturno, por TV, rádio e correspondência.
As escolas primárias têm a duração de seis
anos, as secundárias de primeiro ciclo de três
anos e as secundárias de segundo ciclo também de três anos. Após 12 anos de estudo, os
alunos podem candidatar-se a fazer um curso
num dos diversos centros de ensino superior e
universidades do país. Além disso, a China conta com um sistema de escolas vocacionais e de
educação para deficientes, e mais uma ampla
rede de escolas profissionais e técnicas, médias
e superiores.
A reforma educacional tem sido direcionada para garantir vagas para todas as crianças
40
Negócios com a China
Jovens com formação
universitária e
conhecimento de
inglês estão em toda
parte nas grandes
cidades chinesas,
trabalhando
principalmente no
setor de serviços.
do período obrigatório de nove anos (mais de
150 milhões em 2000) e para todos os adultos
ainda analfabetos, e também para ampliar o
número de vagas em oferta nos níveis intermediários e superiores da educação.
Tornou-se um ponto decisivo na reforma
educacional a formação dos professores num
sistema educacional mais aberto, voltado para
ensinar os alunos a raciocinar criticamente e a
resolver os problemas de ordem prática colocados pela vida econômica e social. Além disso,
tendo em vista essa perspectiva, as escolas médias e superiores foram organizadas em sistemas de múltiplos estratos, formas e disciplinas,
correspondentes às necessidades do desenvolvimento nacional e da sociedade.
Nesse sentido, através do “Projeto 21”,
voltado para este século, a reforma educacional da China está concentrando esforços em
100 importantes universidades e grupos de
departamentos e especialidades, de modo a
melhorar em grande escala sua qualidade educativa, a pesquisa científica tecnológica, o nível administrativo e o rendimento econômico
e social, atingindo os padrões internacionais
mais elevados.
Através desse experimento concentrado,
seus resultados devem ser generalizados para
os demais centros de ensino, a partir do ensino
superior, atingindo todos os demais níveis, a
fim de estabelecer um padrão educativo geral
de alta qualidade de saber e realização prática.
As metas de longo prazo
Em seu programa de reformas, previsto para
durar de 50 a 100 anos, as autoridades chinesas estabeleceram duas grandes metas, cada
uma com sub-metas constitutivas e integradas.
As duas grandes metas são: a) construir uma
nova civilização material e, b) construir uma
nova civilização espiritual.
Prédios modernos
e um comércio
movimentado
convivem na China
com bicicletas
antigas e lentas, que
resistem bravamente
à invasão de milhões
de carros.
Construção de uma nova
civilização material
Para construir uma nova civilização material
a China deve manter, entre 2000 e 2010, sua
linha geral de reformas da estrutura econômica.
Deve estabelecer um sistema de regulação e
controle macros, ampliar a autonomia das empresas estatais e introduzir nelas um sistema
empresarial moderno, fundar um sistema de
mercado nacional unificado e aberto e mudar
as formas de administração da economia pelo
Estado. É o que chamam de estrutura de mercado socialista relativamente completa.
Com isso, em termos gerais, a China pretende, em 2010, haver dobrado seu PIB do ano
2000. Isto representará quase 2,5 trilhões de
dólares pela paridade cambial e cerca de 12
trilhões de dólares, pela paridade de poder de
compra. Conformarão assim uma economia
saudável, tendo por base uma forte estrutura
econômica e social, com relações sociais equilibradas e harmoniosas, permitindo a sua população usufruir um nível de vida medianamente
abastado ou confortável.
Essa possibilidade deixou de ser uma utopia
após os chineses haverem dobrado seu PIB entre 1980 e 1990 e o dobrado novamente entre
1990 e 1996. Em termos de paridade cambial, o
Fotos: Glauber Queiroz
PIB chinês alcançou cerca de US$ 1,2 trilhão em
2000. Mas, em termos de paridade de poder de
compra, esse PIB representaria US$ 6 trilhões.
Estrutura econômica - Formas
de propriedade
Para formar uma estrutura de mercado socialista relativamente completa, a China pretende perseverar na construção de uma estrutura
econômica em que convivam diversas formas
de propriedade e em que os diversos setores
da economia mantenham um ritmo seguro e
equilibrado de desenvolvimento.
Na economia urbana, a China possuía, no
ano 2000, mais de 30 milhões de empresas
individuais e privadas, tanto industriais quanto comerciais e de serviços, empregando cerca
de 70 milhões de pessoas, perto de 250 mil
empresas sino-estrangeiras e exclusivamente
estrangeiras e 680 mil empresas cooperativas
por ações, que respondiam por uma parcela
relativamente pequena do emprego, mas já
Negócios com a China
41
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
produziam mais de 10% do PIB e mais de 40%
das exportações. Cerca de 10 milhões de empresas de propriedade pública, estatais e coletivas, respondiam por cerca de 80 milhões de
empregos e 70% do PIB.
Nas zonas rurais, as atividades agrícolas são
desenvolvidas tanto por unidades familiares,
de propriedade camponesa, quanto por unidades individuais, de propriedade privada, e
granjas estatais e coletivas, de propriedade pública. As unidades familiares englobavam mais
de 250 milhões de camponeses, enquanto as
unidades individuais e as granjas públicas cerca de 20 milhões de trabalhadores rurais. Ao
lado disso, operam as empresas de cantões e
povoados, ligadas à indústria, construção civil,
transportes, comunicações, comércio e agroindústria. Somavam mais de 20 milhões de unidades, empregando cerca de 150 milhões de
trabalhadores.
A linha mestra da estrutura de propriedade
chinesa consiste em que o setor público seja o
corpo principal da economia, mas as empresas
individuais e privadas, nacionais e estrangeiras,
também possam se desenvolver, assim como
outros tipos de empresas mistas, resultantes
da cooperação entre aqueles tipos básicos. O
direito à propriedade privada foi introduzido
na Constituição do país em 2004, de modo a
assegurar que esse setor da economia se desenvolva sem discriminações, ao lado do setor
público, estatal e coletivo.
42
Negócios com a China
Estrutura econômica - Setorial
Entre 1978 e 2000, o desenvolvimento preferencial da economia chinesa esteve voltado
para a indústria leve, importação de artigos de
consumo de alta qualidade e construção infra-estrutural de energia, transportes e telecomunicações. Em vista disso, a proporção entre
os setores primário, secundário e terciário da
economia se modificou. O incremento do valor
global da economia, antes baseado nos setores
primário e secundário, passou a ser impulsionado pelos setores secundário e terciário, com o
setor secundário constituindo o principal meio
de crescimento econômico.
No setor agrícola, a participação das lavouras no valor total da produção primária baixou,
enquanto subiu a participação da silvicultura,
pecuária e pesca. Nas lavouras, o peso dos cultivos industriais tornou-se maior do que o dos
cultivos de cereais. Por outro lado, nas zonas
rurais, os setores secundário e terciário tornaram sua participação maior do que a do setor
agrícola. Desde 1987 o valor total da produção
das empresas industriais de cantões e povoados tornou-se superior ao valor total da produção agrícola, eliminando paulatinamente as
diferenças entre o campo e a cidade.
No setor industrial, a composição de tipo
leve das indústrias de bens de consumo de
massa está evoluindo para uma composição de
tipo pesado, cuja principal característica são os
investimentos. Hoje a China tem em funcionamento cadeias completas de produtos industriais dos mais diferentes ramos. Elas compreendem os ramos básicos (siderurgia, energia,
química e mecânica) e suas diversas derivações
(como as indústrias de máquinas e equipamentos pesados), os de alta tecnologia (informática
eletrônica, aeronáutica, aeroespacial, biotecnologia etc) e os leves, compreendendo os mais
de 40 ramos (dos utensílios de uso doméstico e
alimentos aos eletrodomésticos e confecções).
No setor terciário, a proporção dos transportes, comércio e ramos tradicionais está diminuindo em relação aos bens imóveis, finanças, seguros, serviços de telecomunicações e
turismo. Em todos esses setores os monopólios
foram quebrados, com a formação de diversas
Negócios com a China
43
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
companhias, a maior parte estatais, que competem entre si. Os setores de transportes ferroviário, rodoviário, aquaviário e aéreo possuem
hoje uma rede global superior a três milhões
de km, capaz de transportar mais de quatro trilhões de ton/km e 1 trilhão de pessoas/km.
Os serviços de telecomunicações foram o
setor que deu um dos saltos mais impressionantes no processo de crescimento chinês.
Partiram de quase zero em 1978, para um
sistema integrado de redes analógicas digitalizadas, redes de dados e internet, conectadas
através de sistemas de satélites e cabos de fibras ópticas, estes últimos atingindo cerca de
200 mil quilômetros de extensão. Os comutadores de telefonia móvel fornecem mais de
150 milhões de linhas, cobrindo mais de 80%
de todo o território.
O setor financeiro é constituído por um
banco central (Banco Popular da China), encarregado de regular e supervisionar todo o sistema, bancos comerciais de propriedade estatal,
bancos comerciais por ações, bancos privados
de propriedade estrangeira e organizações financeiras de diversos tipos, tanto estatais quanto
privadas. O volume dos recursos depositados no
sistema bancário como poupança atingiu, em
2000, mais de 10 trilhões de yuans (cerca de 1,2
trilhão de dólares), enquanto o volume de empréstimos chegou a mais de 9 trilhões de yuans
(cerca de 1,1 trilhão de dólares).
Desde 1994, a China unificou as taxas de
câmbio e o sistema de compra e vendas de
divisas estrangeiras por meio de um mercado
interbancário. Desde 1996, consolidou-se a
conversibilidade do RMB (reminbi ou yuan) nas
contas correntes, criando as condições para a
conversibilidade completa da moeda chinesa
nos mercados internacionais.
Já o setor de seguros é formado por um Comitê de Administração e Supervisão de Seguros
e por mais de 30 companhias de seguro: estatais, mistas por ações, mistas sino-estrangeiras
e privadas estrangeiras, além das representações de mais de uma centena de organismos
de seguros estrangeiros. Atualmente aquelas
companhias operam com mais de 300 itens:
seguros de vida, saúde, acidentes, bens etc.
44
Negócios com a China
Reforma das estatais
Na linha de enfrentamento dos novos desafios da atualidade, a reforma das estatais chinesas joga um papel decisivo. Essa reforma, na
realidade, vem desde 1978. Passou pela fase
de concessão de mais poder e lucros às empresas, até 1984, e pela fase de separação entre
o direito de propriedade e o poder de gestão,
entre 1984 e 1993, ingressando então na presente fase de estabelecimento de um moderno
sistema empresarial.
As estatais chinesas são as principais contribuintes do Estado (70% da arrecadação),
controlam um enorme montante de ativos e
sua presença tem sido indispensável para o desenvolvimento dos setores não-estatais. Em seu
processo de reforma elas enfrentam dificuldades
para realocar seus trabalhadores excedentes e
para resolver uma série de problemas de ordem
ideológica, política e de segurança do Estado.
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Foto: Milton Pomar
Ao conquistar autonomia e participar do
mercado, tendo que elevar sua eficácia e obter lucros, as estatais precisaram enxugar os
corpos operativos, administrativos e diretivos
das empresas, criar projetos de reemprego e
estabelecer o sistema de seguridade social para
manter o padrão de vida dos trabalhadores
dispensados. Em 1995, o número de funcionários das estatais havia caído de 74 milhões,
em 1978, para cerca de 25 milhões, mantendo
esse mesmo patamar nos anos seguintes. Mas,
apesar do avanço na eficiência e rentabilidade
das estatais, ainda persistem deficiências de
toda ordem. Muitas delas se encontram em setores de baixo conteúdo tecnológico e pouco
peso na economia nacional, sendo necessário
racionalizar sua distribuição e composição.
Persiste a demora em reformar o direito de
propriedade, separar a administração governamental da gestão empresarial e estabelecer um
sistema gerencial dos ativos, no qual os direitos
e responsabilidades estejam claramente definidos. E não são poucas as que têm dificuldade em alcançar estabilidade num ambiente de
mercado.
A atual fase da reforma inclui a reestruturação e elevação técnica e gerencial e a implantação progressiva do sistema empresarial moderno, que inclui o funcionamento de acordo com
os requerimentos da economia de mercado e
de uma produção de massa, a definição dos direitos de propriedade dentro da empresa e dos
direitos e responsabilidades da empresa na sociedade, a separação da administração governamental da gestão empresarial e a adoção da
gestão científica na produção e nos negócios.
Algumas estatais, como as Siderúrgicas
Baoshan e Handan e o Grupo Farmacêutico
do Nordeste, já implantaram esse sistema e estão servindo como referência para as demais.
São essas empresas, na verdade, os principais
instrumentos que a China tem para, após seu
ingresso na OMC, realizar uma disputa competitiva tanto no mercado doméstico, quanto no
mercado internacional. Aliás, a Baoshan já se
encontra no mercado brasileiro, através de um
acordo com a Vale do Rio Doce.
A autonomia e modernização das empresas
estatais têm por escopo adotar o sistema de
responsabilidade da administração contratada,
introduzir mecanismos de gestão científica,
adaptar as empresas às demandas da economia
de mercado e separar a propriedade pública do
tipo de gestão e dos direitos, definindo tanto
tais direitos quanto as responsabilidades.
As empresas estatais devem continuar desempenhando o papel de principais indutoras
do desenvolvimento chinês e instrumentos importantes para a realização das políticas macroeconômicas. Ao mesmo tempo, tendo os
mesmos direitos e deveres dos demais tipos de
empresas, elas devem competir no mercado,
ter eficiência e rentabilidade, o que é garantido pela gestão científica e pelo sistema de responsabilidade. As estatais incapazes de atingir
essas metas podem ter sua falência legalmente
decretada, o que evita que se tornem um peso
inútil para a sociedade.
Negócios com a China
45
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Reforma dos mercados
A administração da economia pelo Estado
deve basear-se em mecanismos de regulação
e controle macroeconômicos, separando as
funções governamentais das empresariais.
Atualmente, apenas algumas poucas mercadorias cuja demanda supera a oferta encontram-se controladas por monopólios estatais
de comercialização. Todas as demais mercadorias têm livre curso no mercado e seus
preços estão, em geral, subordinados à lei da
oferta e da procura.
Paralelamente desenvolve-se o mercado de
capitais, incluindo o crédito, as ações, os bônus
do tesouro e os diversos mecanismos de fluxo
de capitais, a exemplo das taxas de juros, rolagem de empréstimos, redescontos e fundos de
poupança. As bolsas de valores de Shanghai e
Shenzhen são os símbolos mais evidentes da
dimensão do mercado de capitais da China.
O mercado nacional deve realizar a integração entre os mercados urbanos e rural e a
conexão entre os mercados nacional e internacional, estimulando a otimização dos recursos
internos. O mercado doméstico deve estar em
condições de suportar os ritmos de crescimento
da economia nacional, mesmo no caso de turbulências internacionais e, ao mesmo tempo,
deve aproveitar todas as condições para ampliar sua presença no mercado internacional.
Produtos eletroeletrônicos de última geração vendidos
em locais que preservam a arquitetura tradicional: o novo
e o antigo convivendo pacificamente.
Foto: Glauber Queiroz
Reforma dos sistemas fiscal
e financeiro
46
Negócios com a China
A reforma dos sistemas financeiro, de investimentos e dos impostos tem em vista
diversificar a política financeira, alterar o sistema orçamentário do Estado, aumentar a
segurança financeira e estabelecer uma divisão racional dos impostos. A divisão dos impostos compreende a cobrança dos impostos
centrais, locais e os conjuntos cobrados pelas
coletorias locais. Essa divisão tem por base o
sistema de impostos de circulação e o imposto sobre a renda. Os impostos de circulação
compreendem o imposto de valor agregado
(IVA) como base, e os impostos de consumo e
de comércio, como complementos.
No cálculo orçamentário, substitui-se a estrutura unificada de receitas e despesas pelo
sistema de partidas dobradas, que compreende um orçamento constante e um orçamento
construtivo. Desse modo, para realizar a regulação e o controle macroeconômicos, necessários para equilibrar o volume total da economia
e otimizar a estrutura econômica, a administração pública pode valer-se das medidas orçamentárias, da arrecadação, da emissão de
bônus do tesouro, de subvenções, créditos e
outras medidas de caráter financeiro.
Negócios com a China
47
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
Reformas sociais
Com essas reformas na estrutura econômica,
a China pretende estabelecer uma estrutura
social de múltiplos estratos e de ascensão permanente desses estratos. Tal estrutura deve ser
melhorada através das reformas nos sistemas
de moradia, seguridade médica e social, e distribuição das receitas.
Fotos: Milton Pomar
Os investimentos em moradia representaram, entre 1979 e 2000, cerca de 23% do total
em ativos fixos sociais do país, ampliando a superfície de construção de moradias em mais de
18 bilhões de metros quadrados. Nas cidades, a
superfície habitacional per capita passou de 3,8
m², em 1978, para 9,3 m², em 1998, enquanto
nas zonas rurais passou de 8,1 m² para 23,7 m².
As metas de moradia para 2010 prevêem que
os programas de construção habitacional proporcionarão a todas as famílias urbanas do país
moradias com funções completas, constituídas
de 15 a 18 m² de superfície de uso por pessoa.
Os bens imóveis podem ser comercializados
e as famílias são estimuladas a comprar suas
moradias através de sistemas especiais de crédito, gerenciados por companhias imobiliárias
estatais e privadas. Além disso, a administração
pública também promove o uso compensatório
dos terrenos, de modo a multiplicar os investimentos individuais, familiares e privados nos
programas de moradias.
O sistema de seguridade médica, que garantia o tratamento médico gratuito para todos, está sendo paulatinamente substituído
por sistemas em que os segurados em melhores condições de renda pagam em comum os
gastos médicos. Assim, formam-se fundos de
assistência médica cooperativa, cujos fundos
provêm em parte das famílias beneficiadas e
A pressa em construir
novos prédios é tão
grande, que o trabalho
continua noite adentro,
inclusive na capital,
Beijing. Os prédios
pequenos em áreas
centrais são demolidos,
substituídos por
outros muito maiores
e modernos. Esse
processo se dá de forma
planejada, simultânea
e em escala industrial.
48
Negócios com a China
AS RAZÕES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
em parte do Estado. Para o caso de doenças
graves, há um fundo específico formado nas
mesmas condições. Nas regiões mais pobres o
Estado mantém a sistema de seguridade médica, de forma que nenhum setor da população deixe de ser atendido.
O sistema de seguridade social compreende,
além disso, os seguros, o bem-estar, o socorro e
os serviços sociais. Os seguros mais importantes
são o seguro-desemprego, o seguro-velhice e o
seguro-acidente. Todos são constituídos de fundos que combinam recursos sociais com contas
individuais, unificadas em sistemas específicos.
Os serviços de bem-estar, socorro e sociais contam também com fundos unificados.
A mudança dos antigos sistemas para os
novos é realizada paulatinamente e conforme o
ritmo de crescimento da renda da população.
Com uma distribuição de renda baseada no
lema “a cada um de acordo com seu trabalho”,
no qual a eficácia desempenha o fator principal,
mas a eqüidade é garantida através dos sistemas
de garantia social, educacional e de outras formas de qualificação que universalizem as oportunidades, a China pretende passar da estrutura
de garantia de subsistência elementar para uma
nova estrutura de consumo.
Esse processo de melhoria da renda populacional pode ser medido pelas mudanças ocorridas na estrutura de consumo. Em 1978, os
19 milhões de
bicicletas novas
ingressam
anualmente no
mercado chinês,
mas ainda
serão necessários
muitos anos para
trocar todas as
antigas em uso.
gastos com alimentos representavam 57,5%
dos gastos totais dos habitantes das cidades e
povoados e 67,7% dos gastos totais dos habitantes rurais, enquanto os gastos com educação e cultura recreativa representavam 6,7%
dos gastos dos habitantes urbanos e 1% dos
gastos dos habitantes rurais. No ano 2000, os
gastos com alimentos haviam baixado para
44,5% nas cidades e 53,4% nas zonas rurais,
enquanto os gastos com educação e cultura recreativa haviam subido para mais de 13% nas
cidades e mais de 10% nas zonas rurais.
Na estrutura alimentar também ocorre uma
mudança da quantidade para a qualidade. Enquanto diminui o consumo de cereais, cresce o
de carnes, ovos, leite, verduras e frutas.
O consumo de roupas também passou dos
modelos simples para modelos variados, ao
mesmo tempo em que no varejo aumenta o
consumo de roupas prontas e cai o de tecidos.
Das “quatro velhas peças” (bicicleta, relógio,
máquina de costura e rádio), os chineses comuns passaram para as “seis novas peças”
(televisor, geladeira, lavadora, gravador, ventilador e máquina fotográfica) e agora entram
de forma crescente na aquisição de telefones,
computadores pessoais e moradias.
Desse modo, a China acredita estar estabelecendo a base material sobre a qual pode
construir uma nova civilização espiritual.
Negócios com a China
49
Negociar
com a
China
H
oje em dia, cada vez mais empresários e pessoas de diversos segmentos sociais se dão
conta de que negociar com a
China “é um bom negócio”.
No entanto, a maioria não sabe por onde começar. E, em muitos casos, não sabe sequer
o que negociar e não tem qualquer idéia da
necessidade de ter estratégias de longo prazo
nas relações com a China.
50
Negócios com a China
Tudo começa por adquirir uma noção de
onde a China se encontra geograficamente situada, quais suas potencialidades físicas e humanas, costumes, tradições e comportamentos que
sua longa história gerou, os principais indicadores de sua economia, as políticas econômicas e
as metas de desenvolvimento programadas, e
quais as possibilidades reais de negócios. Sem
tais noções básicas será difícil realizar uma primeira abordagem desse mercado tão complexo.
Foto: Milton Pomar
Além disso, é preciso estar preparado para realizar negócios de longo prazo com a China – os
chineses dão preferência para os empresários
estrangeiros que pretendem estabelecer com
eles cooperação de largo fôlego – sabendo o
que é possível negociar com ela, através do estudo de dados e informações sobre as ofertas
e demandas do mercado chinês.
Com esse conjunto de conhecimentos preliminares sobre a China é possível planejar o
lançamento de pontes para o mercado desse
país e se aventurar a estabelecer relações com
uma das grandes potências econômicas do
século XXI.
“O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando
Furlan, acredita que os investimentos chineses
no Brasil possam superar os US$ 5 bilhões até
o final de 2006.” (Foco, junho/2004)
“Segundo informações do embaixador do Brasil
na China, Sr. Luiz Augusto de Castro Neves,
o governo chinês pretende investir 10% de seu
PIB de US$ 1,3 trilhão, ou seja, US$ 130 bilhões
a serem aplicados ao redor do mundo.”
(Correio Brasiliense, 14/02/2005)
“Em 2003, a taxa de investimento na China foi
da ordem de 47% do PIB.” (Veja, 3/06/2004)
Como começar
Visitas de aproximação
Para definir por onde começar os negócios
com a China, tratamos primeiro das pontes que
podemos lançar para ter acesso a seu mercado,
o que pode incluir visitas de aproximação, participação em feiras, exposições e outros eventos,
visitas para contatos programados, contatos
com visitantes chineses no Brasil e convites a potenciais parceiros chineses para visitar o Brasil.
Vistas essas possíveis pontes de acesso ao
mercado chinês, sempre pontes que, depois
de lançadas, terão que comportar duas mãos
(não existe comércio internacional que não seja
em duas vias), vamos tratar do planejamento
necessário para que a construção dessas pontes seja realizada adequadamente. Um erro de
projeto pode botar tudo a perder.
Essas visitas são as que se destinam apenas a conhecer a China, ter um contato direto com o país. Sem uma visita desse tipo
é muito difícil processar aquilo que se leu e
estudou nos livros, artigos, sites da internet
e outras fontes de informação sobre aquele
país. Somente através de uma visita pessoal,
incluindo pelo menos algumas das principais
cidades chinesas e, também, algumas zonas
rurais, é possível distinguir a verdade e o falso
na montanha de informações contraditórias
sobre a China no Ocidente. Somente tendo
contato direto com a população, com produtores, vendedores e compradores, com atendentes de hotel, taxistas e pessoas dos mais
diferentes tipos, com as heranças materiais e
culturais de milhares de anos e com as realizações da modernização atual, pode-se ter uma
idéia aproximada das potencialidades e limitações da China como mercado, assim como da
psicologia social dos chineses.
Os empresários não deveriam considerar
tais visitas de aproximação como turismo sem
compromisso, ou desperdício de tempo e dinheiro. Deveriam considerá-las como investimento inicial, para verificar as informações
obtidas anteriormente para conhecer a China.
Se prepararem tais visitas com objetivos claramente definidos, elas poderão transformar-se
em conhecimento adquirido, muito útil para a
realização dos negócios futuros.
“Entre 2000 e 2006, a indústria química terá investido US$ 6 bilhões
de dólares na China, ao passo que o Brasil e outros países da América
Latina ficarão com US$ 500 milhões.” (Exame, 14/04/2004)
“Mário Garnero, presidente da Brasilinvest, anunciou investimentos da
ordem de US$ 4 bilhões do Citic Group (China International Trust and
Investment Corporation – que opera como uma espécie de banco de
desenvolvimento chinês, com ativos de US$ 80 bilhões). Investimentos
estes destinados a projetos de infra-estrutura ferroviária e portuária
do Brasil. São projetos que envolvem a Ferrovia Norte-Sul, a
Transnordestina e a Ferronorte, atingindo áreas produtoras de soja do
Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia, além da implantação de terminal
graneleiro em Itaqui (MA).” (Gazeta Mercantil, 12/07/2004)
Negócios com a China
51
52
Negócios com a China
Foto: Milton Pomar
Participação em eventos
Cada cidade chinesa realiza pelo menos um
evento anual na forma de feira, exposição, simpósio, seminário, festival ou outro tipo. Algumas grandes cidades, como Beijing, Shanghai,
Tianjing, Chongqing, Guangzhou, Wuhan e
Xian transformaram-se em centros de eventos
nacionais e internacionais, com grande número de feiras, exposições e festivais por ano.
Na verdade, aproveitando-se da experiência
secular dos grandes mercados construídos ao
longo da Rota da Seda, que no passado ligava
a China aos mercados ocidentais, conduzindo
seda, especiarias, jóias e outros produtos, os
chineses transformam qualquer festival ou exposição artística, esportiva, cultural ou científica, num evento de negócios.
Desse modo, tais eventos são uma escola
para os empresários estrangeiros aprenderem
como os chineses negociam, para conhecerem
em maior profundidade a capacidade produtiva da China e as potencialidades dos diversos mercados ou segmentos de mercado desse
país, e para juntarem mais informações sobre
como começar a negociar com os chineses.
Há uma verdade simples do mercado que
às vezes é esquecida pelos mais argutos empresários: não existe um mercado de deman-
da pronto para um determinado produto. Em
geral são os produtos que criam o mercado.
Se não fosse assim, os novos produtos jamais
teriam vez. A história do desenvolvimento da
produção e dos mercados é, principalmente, a
história da oferta de novos produtos que vão
despertar uma demanda inconsciente. Nesse
sentido, os eventos realizados pela China podem ajudar os empresários a descobrir que novos produtos podem ofertar e ingressar naquele mercado em expansão.
Visitas para contatos
programados
Uma forma de construir a ponte com a China é programar visitas para ter contatos específicos com determinadas empresas ou instituições chinesas. Quem deseja comprar tecidos
pode ter contatos diretos com empresas têxteis
e traders que podem lhe vender diretamente.
Quem deseja vender commodities pode ter
contato com as traders que as importam e discutir diretamente volumes, preços, condições
de pagamento e outras questões envolvidas.
Quem quiser investir na China pode procurar
os órgãos ministeriais encarregados de decidir sobre tais investimentos e manter contatos
com eventuais parceiros chineses.
Negócios com a China
53
NEGOCIAR COM A CHINA
Essas visitas têm a vantagem de estabelecer
relações diretas com os executivos que negociam aquilo que se pretende obter. No entanto, se elas não foram precedidas das visitas de
aproximação, o empresário terá alguma dificuldade para negociar com a parte chinesa, por
não ter uma noção básica de sua psicologia,
nem conhecer seus padrões de negociação.
É lógico que nada disso é um fim de mundo e que através desses contatos programados
também será possível aprender a tratar com os
chineses. No entanto, será necessário, acima
de tudo, estar preparado para longas negociações. Excluindo as importações de produtos chineses, em relação às quais os chineses
atuam como vendedores extremamente agressivos e ágeis, para as demais operações eles
atuam com muita cautela, descendo a todos
os detalhes possíveis. Em conseqüência, visitas
para negociações podem ser não só necessárias, como exaustivas.
Visitas para negociações
Nas visitas para negociações é imprescindível ir muito bem preparado com projetos, informações detalhadas e propostas concretas.
Além disso, é preciso estar preparado para
contrapropostas e, principalmente, para procurar entender exatamente o que o interlocutor
ou os interlocutores estão querendo dizer.
As línguas diferentes são uma barreira importante a superar no entendimento. Mesmo
que os interlocutores chineses falem inglês,
o sentido ou significado de seus termos nem
sempre corresponde ao sentido que os brasileiros dão às palavras. O mesmo é verdade
em relação ao que os brasileiros querem dizer
com certos termos e palavras. Quando dizemos
“Tudo bem!”, por exemplo, isso pode significar tanto que concordamos com uma sugestão
ou proposta, quanto ao fato de que estamos
entendendo o que está sendo proposto. Já
quando eles dizem “Tudo bem!“, isso significa
exclusivamente que eles concordaram com a
proposta feita.
A língua chinesa dificilmente possui as
ambigüidades da língua portuguesa falada no
54
Negócios com a China
Brasil. Essa diferença pode causar incompreensões de lado a lado, exigindo um cuidado
extra para evitar mal-entendidos. Será sempre
necessário explicar o significado dos termos e
solicitar que eles expliquem mais detalhadamente as questões que não foram entendidas
devidamente. Essa paciência é imprescindível
para que as negociações tenham, nas reuniões,
o resultado desejado.
Ponto importante nesse processo, assim
como nas visitas de contatos programados, é
observar os horários. Se combinarmos com os
chineses oito horas e quinze minutos, isso não
significa oito e dezesseis ou dezessete. Podemos até estar a postos às oito e quatorze, ou
antes, mas passar do horário combinado é uma
falta grave, que representa perda no conceito
a nosso respeito.
É preciso também estar preparado para os
convites de almoços e jantares. Os chineses
dificilmente fazem suas refeições fora dos horários de 12 horas para o almoço e 18 horas
para o jantar, hábito que não corresponde exatamente ao dos ocidentais. Entretanto, refugar
um convite para jantar nesse horário tão cedo
pode representar uma falta de cortesia.
“Em 2002, cerca de 18 mil executivos e
empresários chineses visitaram a China atrás de
oportunidades.” (IstoÉ Dinheiro, 22/01/2003)
“Estima-se que a China tenha investido entre
US$ 300 bilhões e US$ 350 bilhões no setor de
siderurgia nos últimos 12 anos. Saltou de 82
milhões para 272,4 milhões de toneladas no
período.” “A China produz 10 vezes mais aço
que o Brasil, que é o seu principal fornecedor de
minério de ferro.” (Valor, 17/02/2005)
“Metade do cimento produzido no mundo,
31% do carvão e 21% do aço foram absorvidos
pelos chineses.” (Exame, 14/04/2004)
Negócios com a China
55
NEGOCIAR COM A CHINA
Contatos com visitantes
chineses no Brasil
Convites a parceiros potenciais
chineses
Os empresários brasileiros interessados em
fazer negócios com a China devem preocuparse em manter mais contatos com visitantes chineses no Brasil. Há inúmeras missões chinesas,
comerciais e de outros tipos, visitando o Brasil.
O turismo de negócios dos chineses no Brasil
é um dos que mais cresceu nos anos mais recentes, abrindo condições para aumentar o conhecimento e intercâmbio entre os dois lados.
Assim, procurar contatos com chineses em visita ao Brasil permite não só contribuir para que
eles conheçam melhor o Brasil e nosso próprio
modo de ser e negociar, como para que nós
os conheçamos melhor e obtenhamos uma
idéia mais clara de como nos relacionarmos
com eles. Para tanto, é preciso estar disposto
a convidá-los a visitar empresas, escritórios e
instituições no Brasil, o que pode ser feito colocando-se à disposição para possíveis visitas junto às instituições e empresas que normalmente
organizam as missões chinesas ao Brasil, como
a embaixada chinesa em Brasília e os consulados chineses no Rio de Janeiro e São Paulo.
Ou, como as Câmaras de Comércio e Indústria
Brasil-China, existentes em vários estados. Ou,
ainda, como as empresas de consultoria e as
agências de viagem especializadas em China.
Os empresários brasileiros já em busca de
realização de negócios com a China, em especial, deveriam preocupar-se em convidar potenciais parceiros chineses a visitar o Brasil, para
conhecer sua empresa e o mercado brasileiro.
Em geral, fazer um convite a parceiros chineses não significa ter gastos de viagem com eles,
da mesma forma que convites dos chineses não
significam que eles arcarão com as despesas de
viagem dos brasileiros, a não ser que haja algum
trato explícito de reciprocidade a respeito.
Um convite a potenciais parceiros chineses
significa que estamos dispostos a recebê-los
no Brasil e a organizar uma programação de
visitas que corresponda a seus interesses. Isso
pode significar, ainda, a necessidade de enviar
uma Carta Convite, com o timbre e o CNPJ da
empresa ou instituição brasileira, relacionando
o nome e cargos das pessoas que farão parte
da missão chinesa, de modo a que eles possam
dar entrada no pedido de vistos na embaixada
ou consulado brasileiro na China.
O que está em pauta, em qualquer dos procedimentos acima, é a construção de pontes
entre o mercado brasileiro e o mercado chinês.
Sem a construção dessas pontes não será possível elevar o intercâmbio comercial, econômico, cultural e político ao nível da potencialidade
dos dois países. Entretanto, construir pontes,
como qualquer construção, exige uma preparação adequada, de modo que seu lançamento
seja feito com segurança e tenha uma longa
durabilidade.
Autonomia de decisão
É
preciso levar em conta a crescente descentralização
do desenvolvimento econômico e do comércio internacional da China. O controle macroeconômico dos
investimentos e das exportações e importações, inclusive de capitais, se encontra em mãos do governo central,
mas as empresas, povoados, cantões, bairros, distritos e
províncias ganharam grande autonomia de decisão.
56
Negócios com a China
Podem entabular negociações diretas com investidores,
exportadores e importadores, embora em vários casos
a última palavra seja dada por Beijing. Por outro lado,
como esse comércio bilateral é ascendente e o mercado
chinês apresenta um potencial inigualável na atual conjuntura internacional, o Brasil tem um vasto campo de
complementaridades a desenvolver com aquele país.
NEGOCIAR COM A CHINA
Importações
A rigor, a China se encontra hoje em condições de produzir e vender quase todos os produtos e serviços ofertados no mundo. Ela é não
apenas a maior produtora mundial de grãos,
carvão, aço, bicicletas e outros bens duráveis
e de consumo doméstico, como é grande
produtora de calçados, aparelhos telefônicos,
equipamentos de telecomunicação, guindastes, computadores, equipamentos
aeronáuticos e outras mercadorias.
Para vender, os chineses aceitam
tranqüilamente tanto dispor daqueles produtos que eles já ofertam no
mercado, quanto produzir por encomenda, conforme modelo ou amostra do cliente. Eles também não
oferecem qualquer resistência em
colocar a grife ou marca do cliente
nos produtos que fabricaram.
De qualquer modo, toda importação merece ser realizada com os
cuidados necessários. Como em
toda parte, também na China encontram-se empresários que não
costumam honrar seus compromissos em termos de qualidade, prazos
e contratos. Em tais condições, embora a maioria das empresas chinesas seja responsável, convém verificar com as instituições do comércio
internacional da China, seja com o
Ministério do Comércio Externo (Moftec), seja
com os Conselhos da China para a Promoção
do Comércio Internacional-CCPIT, as informações sobre as empresas com as quais se está
negociando e, ao mesmo tempo, estipular contratos claros.
Nesse sentido, o preenchimento da Proforma Invoice e, posteriormente, da Invoice não é
uma operação sem importância. É preciso verificar a correção dos detalhes e acertá-los todos
antes de emitir a Carta de Crédito (L/C), que
em geral os exportadores chineses exigem que
seja à vista.
Antes de comprar qualquer coisa na China, cujos preços FOB em geral são tentadores,
também convém verificar as alíquotas a serem
pagas à alfândega (Imposto de Importação, Imposto sobre Produtos Industrializados e Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços) e
as taxas a serem pagas aos serviços portuários
e alfandegários. Sem isso, corre-se o risco de
comprar um produto muito barato na China,
mas cujas alíquotas e taxas de importação são
tão altas, que o tornam mais caro do que os
produtos fabricados aqui ou no Mercosul.
Foto: Milton Pomar
Grande entreposto
comercial e
importante centro
financeiro do mundo,
Hong Kong retornou
à China em julho
de 1997, na lógica
de “um país,
dois sistemas”.
“A China apóia o embaixador brasileiro na
disputa pelo cargo de diretor-geral da OMC”
disse o porta-voz do Ministério do Comércio
chinês, Chong Quan, segundo a agência estatal
de notícias chinesa Xinhua. No ano passado, o
governo brasileiro reconheceu a China como uma
economia de mercado e recebeu do governo
chinês uma série de promessas de negócios e
de apoio político e uma lista de intenção de
investimentos. Entre os apoios que o Brasil
disse esperar da China estão a eleição de Luiz
Felipe Seixas Corrêa para diretor-geral da OMC
(Organização Mundial do Comércio) e a ascensão
brasileira a membro permanente do Conselho de
Segurança da ONU.” (Folha Online, 23/03/2005)
Negócios com a China
57
NEGOCIAR COM A CHINA
Investimentos na China
Investir na China é um grande negócio,
como mostra o interesse de 400 das 500 maiores corporações transnacionais, ou das 150 mil
empresas estrangeiras que já investem lá. As
exigências e facilidades são transparentes, e estipuladas no contrato de investimento com as
autoridades chinesas. Além disso, o mercado
chinês continua em expansão e deve continuar
crescendo no ritmo atual pelo menos até 2030.
“O fumo brasileiro é outro produto bem aceito no mercado chinês, a
Souza Cruz foi, em 2002, responsável por 20% das exportações, com
tendência a aumentar significativamente. Nosso produto compete,
no mesmo nível, com os oriundos dos EUA e Zimbábue, porém, com
preço mais competitivo.” (CartaCapital, 10/04/2002)
“Em 2001, a indústria de carrocerias de ônibus Marcopolo, depois de
dois anos de negociação, fechou acordo de exportação de tecnologia
para uma joint venture entre a Iveco e a CBC (fabricante chinesa de
ônibus), num contrato de US$ 12,3 milhões.” (CartaCapital, 10/04/2002)
“O custo de vida na China é 60% inferior ao do Brasil, essa camada é
comparável com a classe B brasileira. Equivale dizer que a China possui
hoje, em termos absolutos, 150 milhões de pessoas capazes de consumir,
desde que não tenham que pagar em dólar.” (CartaCapital, 10/04/2002)
“A Embraco, empresa brasileira fabricante de compressores para
refrigeração, está na China desde os anos 90, depois de negociar
durante dois anos. Desde 1995 possui uma fábrica na China, com
capacidade de produção de 1,7 milhão de unidades, seu faturamento
atinge US$ 50 milhões.” (CartaCapital, 10/04/2002)
Foto: Milton Pomar
58
Negócios com a China
“A Intel, empresa norte-americana e maior
fabricante mundial de chips de computadores,
investiu US$ 500 milhões em pesquisa e
instalações para testes na China. Em visita
do vice-presidente chinês ao EUA em 2002,
representantes da Intel apresentaram um chip
de 3 gigahertz para o Pentium 4, uma nova
caneta com software Intel que reconhece os
caracteres chineses e pode transferi-los para o
computador e um microcomputador que cabe
numa mão para caracteres chineses, sugeridos
para uso nas Olimpíadas de 2008, em Beijing.”
(Gazeta Mercantil, 06/05/2002)
“O Brasil é o maior exportador mundial de fumo
e a China emerge como o maior exportador
de cigarros, em 2001 faturou US$ 320 milhões
correspondentes a 20 bilhões de cigarros.
Em 2005 prevê-se atingir US$ 600 milhões.”
(Gazeta Mercantil, 16/10/2002)
“Segundo dados oficiais do governo chinês,
a década de 1990 testemunhou crescimento
do número de empresas em 35% ao ano; o
setor privado respondia em 2001 por 25% da
produção industrial dos pais e empregou 11%
de sua população ativa.” (Le Monde, publicado
na Folha de S.Paulo, 15/11/2002)
“A Embraco, em 2003, planejou chegar
aos 3 milhões de unidades na fábrica chinesa.”
(IstoÉ Dinheiro, 22/01/2003)
Negócios com a China
59
NEGOCIAR COM A CHINA
Pesquisa de mercado
Garantias legais
No entanto, como qualquer mercado do
mundo, para que essas condições favoráveis
possam ser aproveitadas, é preciso conhecer
o mercado chinês e escolher onde investir. Ou
seja, é preciso realizar pesquisas de mercado e
descobrir aqueles segmentos que apresentam
oportunidade real para a produção que se tem
em vista. Em primeiro lugar, é preciso ter em
conta os próprios planos macroeconômicos
chineses. O Guia de Investimentos Estrangeiros, preparado pelo setor de planejamento do
governo chinês e revisto a cada ano, já é por
si mesmo uma indicação das demandas desse
mercado, principalmente nas áreas de altas e
novas tecnologias. Esse Guia apresenta os setores prioritários, os setores com restrições e,
também, os setores proibidos a investimentos
estrangeiros na China. Mas, se o Guia é um
bom indicativo, ele por si só não responde a
todas as perguntas relacionadas às demandas
do mercado. Então, um passo importante é visitar a China e pesquisar com os próprios olhos
e ouvidos, conversar com empresários chineses
e situar-se naquele mundo de oportunidades.
Uma visita de prospecção na China já em si
mesmo um investimento, mas ela pode ajudar
a esclarecer perguntas que nenhum livro ou catálogo responderá.
A Constituição chinesa de 1982 estipula,
em seu art. 18, a autorização de investimentos
estrangeiros e outras formas de cooperação entre empresas chinesas e estrangeiras. Por outro
lado, a China possui atualmente um conjunto
razoavelmente extenso de leis econômicas e
regulamentos administrativos, abrangendo as
formas de investimentos, registro de empresas
sino-estrangeiras e estrangeiras, administração
da mão-de-obra, imposto de renda das pessoas
jurídicas e pessoas físicas, contratos econômicos,
patentes, marcas comerciais, falências etc, que
constituem um arcabouço jurídico de garantia
dos investidores estrangeiros naquele país.
De acordo com essas leis e regulamentos, as
empresas estrangeiras que investiram na China podem importar matérias-primas e peças
de reposição necessárias para o cumprimento
dos contratos de exportação e funcionamento,
solicitar empréstimos aos bancos chineses na
moeda local, comprar produtos de empresas
chinesas para exportar e obter equilíbrio de divisas, contratar e despedir funcionários e remeter ao exterior seus lucros ou dividendos, após
cumprir com as obrigações previstas nas leis e
nos acordos ou contratos estipulados.
A China também tem firmado acordos de
proteção bilateral e de seguros com grande
número de países de modo a garantir os investidores estrangeiros, ao mesmo tempo em
que permitiu o funcionamento de escritórios
estrangeiros de advocacia em território chinês,
de modo que os investidores possam recorrer
a eles no caso de conflitos de interesses com a
parte chinesa.
“(...) ao fazer seu Mapa do Futuro Global, o Conselho de Inteligência
Nacional dos Estados Unidos previu, em 2005, que até 2020 a
China deverá aumentar em 150% o seu consumo energético (...).”
“A China já foi exportadora de petróleo, mas hoje é o segundo
maior importador de óleo do mundo, importações que atendem
a um terço de suas necessidades internas.” (José Luís Fiori,
CartaCapital, 6/04/2005)
“Segundo previsões oficiais, até 2010, a China deverá importar
de 180 milhões a 200 milhões de toneladas de petróleo, que
corresponderá a 51,4% a 52,6% das necessidades energéticas
chinesas.” (Valor, 15/02/2005)
“Com a construção de usinas, a capacidade geradora de eletricidade
chinesa atingirá 660 milhões de kilowatts em 2010, crescimento de
7,8% ao ano.” (Gazeta Mercantil, 22/07/2004)
60
Negócios com a China
Formas de investimentos
A China adota três formas principais de
investimentos: associação sino-estrangeira,
cooperação sino-estrangeira e exclusivamente
estrangeira.
Os investimentos resultantes de associações
sino-estrangeiras são empresas mistas, com
personalidade jurídica própria, estabelecidas
conjuntamente por empresários estrangeiros e
NEGOCIAR COM A CHINA
chineses. Em geral, a parte chinesa proporciona
o local, prédios, matérias-primas, fundos monetários e técnicas, enquanto a parte estrangeira proporciona tecnologias, equipamentos,
direitos de propriedade industrial e divisas. Segundo proporção estipulada nas negociações
contratuais, a parte estrangeira não pode ser
inferior a 25%.
Os investimentos resultantes de cooperação
sino-estrangeira podem constituir dois tipos de
empresas: a) empresas com personalidade jurídica própria, nas quais os investimentos chineses e estrangeiros pertencem a uma pessoa
jurídica ou empresa independente; b) empresas
que possuem apenas o direito de administração
e uso da propriedade, pertencendo o direito de
propriedade a cada sócio participante na cooperação. Em ambos os casos, trata-se de empresas
mistas, onde os investimentos da parte chinesa
consistem principalmente nos recursos naturais,
enquanto os investimentos estrangeiros ministram a totalidade ou a maior parte dos fundos.
Em compensação, os investidores estrangeiros
podem comprar durante largos períodos cotas
garantidas de produtos por preços mais baratos
e utilizar as instalações da empresa de acordo
com a proporção indicada em contrato.
O sistema de cooperação sino-estrangeira
tem sido predominante na gestão de hotéis de
turismo, construção civil, aqüicultura, pecuária,
cultivos, pesca de alto mar, serviços de táxi, exploração de energéticos, correios e telecomunicações, assistência médica e saúde pública e
centros culturais, educacionais e recreativos,
por apresentarem maior simplicidade e flexibilidade de acordo e operação. Os procedimentos para exame e aprovação dos projetos de
cooperação são mais simples e as condições
de cooperação, formas de administração, proporções dos investimentos e divisão dos lucros
podem ser estipulados com mais flexibilidade
nos contratos entre as partes.
As empresas de investimentos exclusivamente estrangeiros podem adotar qualquer
forma de administração permitida pela legislação chinesa e gozam de maior autonomia
do que as outras duas formas. Por outro lado,
elas podem encontrar maiores dificuldades de
“Até meados dos anos 90, menos de 10%
das mulheres chinesas tinham uma jóia com
diamantes. Atualmente, o número de mulheres
de Shanghai que possuem diamantes é maior
do que todas as japonesas reunidas.”
(Época, 15/12/2003)
“Chineses na internet – O número de
internautas chineses deverá ultrapassar o de
americanos em menos de três anos. Segundo
um estudo realizado pela consultoria Panlogic,
atualmente cerca de 100 milhões de chineses
acessam a rede, o que representa apenas 8%
da população. A China abriga hoje 1,3 bilhão
de habitantes. Nos Estados Unidos, o número
de usuários chega a 137 milhões.”
(IstoÉ Dinheiro, 4/04/2005)
“A China recebeu, em 2002, US$ 52,7 bilhões
de dólares de investimentos estrangeiros.
Sucesso evidente após a entrada do país na
OMC. Foram mais de 26 mil contratos assinados
cumpridos à risca, honrando acordos com as
empresas que acreditaram no país. O capital
das empresas estrangeiras criou 5,5 milhões
de empregos na China nos últimos cinco anos.”
(Veja, 22/01/2003)
“Em janeiro de 2003 mais de 100 churrascarias
com estilo brasileiro estavam presentes na
China. Com investimento inicial de 100 mil
dólares, conquistam facilmente uma clientela
média de 600 pessoas nas superpopulosas
cidades chinesas, atingem faturamento bruto
de até 200 mil dólares/mês.” (Veja, 22/01/2003)
“O presidente da Associação Brasileira das
Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec),
o ex-ministro Pratini de Moraes, revela que
cerca de 400 restaurantes servem o churrasco
brasileiro.” (O Globo, 09/05/2004)
“A China, maior produtora e consumidora
mundial de trigo, pode aumentar as importações
do produto em quase cinco vezes, atingindo
32 milhões de toneladas de grãos até 2005,
o mais alto nível desde 1996.”
(Gazeta Mercantil, 03/11/2004)
Negócios com a China
61
NEGOCIAR COM A CHINA
operação e crescimento por não possuir sócios chineses familiarizados com o mercado
da China.
Solicitação e aprovação
do investimento
Os estrangeiros que pretendem investir na
China devem preparar-se para cumprir pelo
menos três etapas: apresentação do projeto, estudo de viabilidade econômica e elaboração do
contrato e dos regulamentos para a empresa.
Em primeiro lugar, quem deseja investir na
China deve, após decidir em quê e onde investir, elaborar um projeto claro de investimento,
no qual constem o nome da empresa, sua localização, a superfície da planta e dos terrenos, os
produtos a serem fabricados e sua qualidade,
incluindo suas variedades, normas, utilidade e
principais características, a escala da produção,
o investimento total, a proporção de cada sócio no projeto, as fontes dos capitais, a forma
de investimento, a forma de gestão, a forma
de distribuição dos dividendos, a estratégia de
implantação, o número de operários, a fonte
das matérias-primas, mercados de venda e outras informações pertinentes.
Em segundo lugar, é fundamental realizar
o estudo de viabilidade econômica do projeto, investigando as possibilidades do mercado
em confronto com os aspectos tecnológicos e
humanos do processo de produção, com as características dos produtos e com os problemas
de logística (energia, transportes, telecomunicações, matérias-primas e materiais).
Projeto e estudo de viabilidade econômica,
resultado das negociações, estudos e investigações entre as partes chinesa e estrangeira interessadas, devem então ser apresentados ao
departamento governamental imediatamente
responsável pelo exame e aprovação inicial de
ambos. Em geral, após a aprovação local, o
projeto e o relatório de viabilidade devem ser
ratificados por uma autoridade governamental
de nível superior.
Superadas as duas etapas preliminares,
ainda resta ao investidor estrangeiro elaborar,
junto com o parceiro chinês, o contrato e os
62
Negócios com a China
regulamentos da empresa mista, documentos
que devem ser examinados por consultores jurídicos. Após elaborados o contrato e os regulamentos, e definidos os membros da primeira
diretoria, incluídos o presidente e o vice-presidente, esses documentos devem ser reunidos
ao projeto e ao relatório de viabilidade econômica, todos devidamente assinados pelos
representantes de ambas as partes, de modo
que os departamentos responsáveis emitam o
certificado de ratificação.
Obtido esse certificado, a empresa pode
registrar-se no departamento de indústria e
comércio do local aonde vai se instalar, para
receber sua licença de operação.
“A classe média na China corresponderá a
quase metade da população até 2020, afirmou
a imprensa estatal ontem.” “A China classifica
como classe média quem ganha entre 60 mil
iuanes (equivalente a US$7,2 mil) e 500 mil
iuanes por ano, informou a agência Xinhua,
citando a Agência Nacional de Estatísticas.”
(Gazeta Mercantil, 20/01/2005)
“Um fortíssimo argumento de representantes
do governo chinês ao negociar sua entrada
na OMC, em 2001: ‘no ritmo desta última
década, a China chegará em 2011 com um
PIB maior que o dos EUA e uma classe média
de 400 milhões ou 500 milhões de pessoas’”.
(CartaCapital, 10/04/2002)
“A segunda maior fabricante de artigos de luxo
do mundo, a suíça Cie. Financière Richemont
AG, pretende aumentar em um terço o número
de pontos-de-venda na China, 400 lojas até
2006.” “A China se tornou o segundo mercado
mais importante para a Volkswagen, depois da
Alemanha”, segundo a montadora que primeiro
conseguiu autorização para operar na China
com créditos de sua financeira para clientes
privados. (EFE, Alemanha, 09/09/2004)
Negócios com a China
63
NEGOCIAR COM A CHINA
Taxas e impostos
O Governo chinês cobra baixos impostos às empresas instaladas com investimentos externos e oferece políticas fiscais preferenciais aos setores e regiões
onde tais investimentos são encorajados pelo Estado.
1. Imposto de Renda
a) Alíquotas do Imposto de Renda
Essas alíquotas são de 33% para as empresas com
investimentos estrangeiros.
Mas o IR sobre as empresas com investimentos
estrangeiros localizadas nas zonas econômicas especiais, nas zonas industriais de altas e novas tecnologias, ou nas zonas de desenvolvimento tecnológico e
econômico, tem alíquota de 15%.
O IR cobrado das empresas produtivas com investimentos estrangeiros localizadas nas zonas econômicas costeiras abertas, zonas econômicas especiais, ou
nos antigos distritos urbanos das cidades onde existem zonas de desenvolvimento tecnológico e econômico é de 24%.
As alíquotas do IR cobradas de empresas com investimentos estrangeiros engajadas em projetos de
energia, comunicações, portos e docas são de 15%.
b) Isenção e redução de impostos
As empresas de produção com investimentos estrangeiros que possuam um período de operação
superior a 10 anos podem, a partir do ano em que
começam a usufruir lucro, ser isentas do imposto de
renda nos dois primeiros anos e obter uma redução
de 50% nos três anos seguintes.
Empresas com investimentos estrangeiros engajadas na agricultura, silvicultura e pecuária, e empresas
com investimentos estrangeiros instaladas em áreas
remotas e subdesenvolvidas podem, após aprovação
do Birô Estatal de Tributos, obter uma redução de
15% a 30% do IR por um período de mais 10 anos,
após expirar o período de isenção e redução tributária
conforme estipulado acima.
O IR sobre as empresas com investimentos estrangeiros localizadas no Centro-Oeste da China e engajadas em projetos estimulados pelo governo, pode ter
uma redução de 15% pelo período de mais três anos
após a expiração do período de cinco anos de isenção
e redução tributária.
As empresas com investimentos estrangeiros que
adotam tecnologias avançadas podem ser isentas do
64
Negócios com a China
IR nos dois primeiros anos e obter uma redução de
50% nos seguintes seis anos.
Em adição aos dois anos de isenção e aos três anos
de redução tributária, as empresas com investimentos
estrangeiros que produzem para exportar podem obter uma redução de 50% do IR durante o tempo em
que suas exportações anuais representarem 70% ou
mais de seu volume de vendas.
O investidor estrangeiro que reinvista sua parcela
de lucros da empresa num projeto com um período
de operação de não menos do que cinco anos pode
solicitar ao Birô Estatal de Tributação o reembolso de
40% do imposto de renda pago sobre o montante
reinvestido.
2. Impostos sobre a Circulação
de Mercadorias
Desde 1º de janeiro de 1994 o governo chinês tem
cobrado imposto de valor agregado unificado, imposto
de consumo e imposto de negócio sobre as empresas
com investimentos estrangeiros e empresas nacionais.
As empresas estrangeiras e empresas com investimentos estrangeiros que desenvolvem e transferem
tecnologias são isentas do imposto de valor agregado, tendo em vista expandir a demanda doméstica e
estimular a renovação tecnológica das empresas com
investimentos estrangeiros.
Para as empresas com investimentos estrangeiros
engajadas em projetos das categorias estimulada ou
restrita-B, o imposto de valor agregado sobre equipamentos made in China comprados pelas empresas
dentro do montante total de seu investimento poderá
ser totalmente reembolsado se o equipamento estiver
catalogado com isenção de tarifa.
3. Imposto de Valor Agregado
sobre Importados
a) Tarifas:
Desde 1992 o governo chinês reduziu por nove
vezes as tarifas sobre as mercadorias importadas. A
média tarifária atual é de 12%.
b) Isenção tarifária:
Equipamentos importados para projetos com investimentos estrangeiros ou nacionais que são estimulados ou apoiados pelo Estado podem usufruir
isenção tarifária e isenção do imposto de valor agregado sobre importados.
NEGOCIAR COM A CHINA
As chaves da cooperação
nos negócios
Cooperação é uma palavra-chave para os
chineses. Em termos práticos, isso pode significar algum tipo de acordo cooperativo operacional ou uma joint venture, por exemplo.
Entretanto, qualquer que seja o tipo de cooperação escolhida, ela dependerá do grau de
confiança e amizade estabelecido entre os dois
lados, já que confiança e amizade são outras
duas palavras-chaves na cultura chinesa. Qualquer empresário estrangeiro disposto a fazer
negócios com os chineses terá, necessariamente, que conhecer as características da cultura
chinesa, para entender suas formas de negociação e descobrir as chaves para estabelecer a
cooperação e realizar bons negócios.
Algumas características básicas
da cultura chinesa
Qualquer abordagem da cultura chinesa
não pode ignorar o fato de que ela é o produto
de cinco mil a seis mil anos de história escrita,
a maior parte dos quais a China foi uma civilização agrícola. Ainda hoje, apesar do processo
de industrialização urbana e rural, a maior parte da população chinesa vive nas zonas rurais
e se dedica a atividades ligadas à agricultura,
ou a seus diversos ramos. Tendo por base produtiva lotes de terra diminutos, e por desafio a
necessidade de produzir grandes volumes de
grãos e enfrentar calamidades naturais e sociais
de diferentes tipos, a história chinesa moldou
uma população camponesa, na qual o espírito
comunitário tornou-se a base de conservação
da individualidade.
A sobrevivência camponesa na China, seja
a sobrevivência física, seja a sobrevivência econômica e social, sempre dependeu dos laços
de cooperação entre seus indivíduos, principalmente na família e na comunidade. É esse
traço cultural, forjado ao longo da história,
que explica o fato dos camponeses chineses
haverem se transformado, tanto numa força
poderosamente conservadora, de manutenção
de certos valores e comportamentos, quanto
poderosamente transformadora, realizando
mudanças profundas na sociedade chinesa.
Numa paradoxal combinação de transformação e conservação, foram basicamente suas
revoltas que derrubaram antigas e fundaram
novas dinastias, que derrubaram o império e
deram surgimento à república, que derrubaram a velha república e fundaram a república
popular, e que forneceram a base social para
todos os grandes movimentos comunitários e
igualitaristas que a China conheceu na segunda metade do século passado.
É preciso considerar o peso histórico dos
valores morais e políticos confucionistas e
taoístas, que surgiram por volta do século 5
antes de Cristo, e se firmaram na sociedade
chinesa como as principais forças espirituais
ou ideológicas, desde então. As estruturas
hierárquicas e o formalismo nas relações sociais e políticas confucionistas combinam-se
e, ao mesmo tempo, colidem, com a unidade
dos opostos (yin e yang) do taoísmo, conformando uma cultura na qual os métodos e os
processos são mais importantes do que o fim
almejado. Daí deriva, em grande parte, a tradicional “paciência chinesa”, que leva ao desespero muitos empresários ocidentais, ávidos de
fechar contratos com rapidez.
Outra herança histórica do povo chinês consiste em sua escrita pictográfica, na qual um
caractér pode significar, em geral, um conjunto
inteiro de informações e valores, e não apenas
uma palavra, como nas linguagens ocidentais.
Negócios com a China
65
NEGOCIAR COM A CHINA
Foto: Glauber Queiroz
Disso deriva um método de pensamento que
tende a partir do todo para chegar às partes
componentes, ao contrário do método ocidental de partir das partes componentes para
construir o todo. Em tais condições, é muito
comum que as negociações com os chineses
sejam demoradas, às vezes parecendo aos
negociadores ocidentais que eles se atêm a
questões não diretamente relacionadas com o
assunto tratado. Mas eles certamente estão informando aos seus interlocutores que, ao tratar de determinado assunto, estão levando em
conta que ele faz parte de algo muito maior,
que consideram de suma importância e vai determinar sua posição.
Por fim, algo que às vezes os ocidentais se
esquecem ao tratar com os chineses, é o zelo
por sua dignidade nacional e a desconfiança
que ainda nutrem em relação aos estrangeiros.
A humilhação a que os chineses foram submetidos pelas potências ocidentais e o Japão, durante e após a Guerra do Ópio, em 1840, até
a Segunda Guerra Mundial, deitou raízes bem
mais profundas do que séculos de ataques
nômades e de dominação mongol e manchú.
Apesar de mais de 20 anos de política de abertura ao exterior, ainda hoje os chineses olham
com desconfiança os ocidentais e suas regras.
A questão da confiança, nessas condições, é
essencial para a construção de uma cooperação de longo prazo.
Essas características básicas da cultura chinesa têm uma forte influência em todos os
processos de negociação econômica, comercial, tecnológica, científica e política que empreendem com outros povos. Quem deseja negociar com os chineses terá, necessariamente,
que levá-las em conta. Além de entender adequadamente o significado de algumas particularidades que permeiam as negociações com a
parte chinesa, terão de munir-se de paciência
para conquistar, com o tempo, a confiança e
a amizade de seus parceiros e, através delas,
alcançar um alto nível de cooperação.
Parceiros
Para os negociadores estrangeiros dispostos a enfrentar menores dificuldades na China, uma questão-chave consiste em encontrar
pessoas familiarizadas com o mercado, com a
língua e suas nuances, assim como com os costumes, hábitos e tradições, que ainda exercem
grande influência sobre o gosto e os desejos do
povo chinês. Esses pontos, essenciais a qualquer tipo de negócio que se queira empreender com a China, podem ser esclarecidos por
um parceiro local.
Nesse sentido, é preciso ter em conta a existência de pelo menos dois tipos de parceiros.
Um é aquele que pode operar como consultor,
mesmo que isso não envolva contratos específicos de trabalho e/ou remuneração. É alguém
que possui uma visão clara da importância dos
66
Negócios com a China
Negócios com a China
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Negócios com a China
Negócios com a China
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Negócios com a China
NEGOCIAR COM A CHINA
projetos desenvolvidos pelo negociador estrangeiro e se dispõe a estabelecer contatos, fazer
apresentações, abrir portas, dirimir dúvidas e
auxiliar em encontrar soluções para as dificuldades. É o que os chineses em geral denominam de zhongjian ren, ou intermediário. Um
bom parceiro desse tipo deve ter conexões
pessoais sólidas (guanxi), construídas ao longo
de sua vida, com reputação firme. Isso significa
que a configuração de parceiros dessa qualidade também demanda tempo, dependendo das
relações de amizade e confiança estabelecidas
com eles no curso de viagens e encontros de
negócios e intercâmbio.
Outro tipo de parceiro é aquele com o qual
se estabelece um negócio concreto. Este parceiro, um negociador, pode eventualmente
tornar-se um parceiro intermediário no futuro,
mas a natureza imediata das relações com ele é
diferente das relações com aquele que funciona como consultor, mesmo informal.
O parceiro negociador pode ser um comprador ou vendedor, um candidato a associado
numa joint venture ou num contrato de cooperação, mas pode não possuir as qualidades do
parceiro consultor, dadas fundamentalmente
pelo guanxi.
Relações pessoais sólidas (guanxi)
Muitos ocidentais associam, apressadamente, o guanxi, ou as relações pessoais sólidas, a
algum tipo de corrupção. Acostumados a coisificar tudo, colocando as empresas, as corporações, as instituições, as comunicações e as
informações por cima das relações sociais, não
estão preparados para tratar adequadamente
a idéia chinesa de que as relações de amizade,
de grupo, de parentesco e de classe estejam
acima do resto.
O guanxi tem por base o conceito de reciprocidade, isto é, dos interesses recíprocos que
podem unir as pessoas, especialmente aqueles
construídos ao longo do tempo em virtude da
vida na família, na comunidade, na escola e
nos locais de trabalho. O guanxi não é, pois,
uma questão de sangue, mas de prática social, na qual as pessoas se ajudam mutuamente, tendo em vista não apenas seus interesses
pessoais, mas também do grupo familiar, da
comunidade, da empresa, do país e da própria
humanidade.
Embora a mercantilização das relações sociais esteja ganhando força na China, os estrangeiros devem esforçar-se para construir o guanxi
com seus parceiros chineses, se quiserem firmar
relações empresariais de longo prazo com eles.
E parceiros chineses com um forte guanxi, isto
é, com fortes conexões pessoais, são essenciais
para efetivar a confiança nos negócios e estabelecer a justa reciprocidade entre as partes.
Ter em conta a hierarquia política
Os ventos revolucionários, que varreram
a China durante boa parte da última metade do século 20, não conseguiram quebrar o
formalismo hierárquico construído em alguns
milênios de história, especialmente pela escola
confuciana. Nessas condições, a familiaridade
de tratamento, tão comum entre os ocidentais,
ainda é rara entre os chineses e deve ser devidamente levada em conta.
É inexplicável para os chineses que negociações de alto nível sejam realizadas por funcionários de nível inferior. Se algum empresário
estiver mesmo disposto a realizar negócios que
envolvem decisões do nível mais elevado, ele
deve estar disposto a viajar à China com alguns
de seus diretores e realizar negociações diretas,
antes de entregar os aspectos técnicos para o
detalhamento de seus funcionários. E se uma
delegação chinesa, dirigida por um presidente ou vice-presidente de empresa, for recebida
por funcionários de nível mais baixo de uma
empresa estrangeira, certamente isto significará para eles que esta empresa não está interessada em estabelecer qualquer tipo de negócio
entre as duas.
Dar valor ao trabalho
Muitas delegações estrangeiras que se dirigem à China dão pouca atenção aos horários,
aos esforços chineses para mostrar suas realizações, e às negociações detalhadas e duras.
Estão sempre atrasadas para os compromissos, quase não fazem perguntas sobre o que
os empresários chineses estão mostrando, vão
Negócios com a China
71
NEGOCIAR COM A CHINA
despreparados para as negociações, pretendem resolver as questões sem muita discussão
e não estão dispostos a enfrentar negociações
duras. Para os chineses, tudo isso se choca com
sua ética de trabalho.
Eles estão acostumados a trabalhar duro e
dão grande valor ao trabalho. Com as exceções
de praxe, os horários tratados são sagrados.
Gostam não só de elogios, mas também de questionamentos que representem uma valorização
do que realizaram. Preparam-se arduamente
para qualquer negociação, a partir de sua visão
global ou macro sobre o papel que sua parte
desempenha no todo. E estão sempre dispostos
a negociar demoradamente, com um enorme
rol de perguntas, muitas delas repetitivas, se há
interesse real no assunto tratado.
Quem deseja tratar seriamente com os chineses deve adequar-se a essa ética. Ter claro o
que pretende e preparar-se para isso. Elaborar
antecipadamente as questões que quer ver respondidas e preparar-se para voltar a elas quantas vezes seja necessário para vê-las esclarecidas.
O que significa preparar-se para uma maratona
de negociações, que devem ter como cerne o
justo, e como demonstração do desejo de cooperação de longo prazo, alguma concessão.
Todos os aspectos culturais exercem grande
influência sobre a sociedade chinesa, aí incluídos os negócios de diferentes tipos, acordos de
cooperação, em especial acordos de longo prazo envolvendo investimentos mútuos, transferências de tecnologias, intercâmbios científicos
e exportações.
A China consome fração cada vez maior dos
alimentos e commodities agrícolas do mundo:
Algodão
Soja
Carne bovina
Peixes
Carne suína
Aves
1998
22,2%
14,2%
9,8%
22,1%
48,8%
18,6%
2003
32,7%
19,6%
12,6%
32,3%
50,8%
19,2%
(Fonte: Dinheiro Rural, nov/2004)
72
Negócios com a China
“Autoridades chinesas desejam limpar o ar
de Beijing e outras grandes cidades antes
das Olimpíadas de 2008, afirma Mário Garnero,
da Brasilinvest. A expectativa é fornecer 300
milhões de litros de álcool combustível para a
frota de automóveis chineses, que em 12 anos
deverá triplicar. O Brasil tem potencial para
exportar, em pouco tempo, 1,5 bilhão de litros
anuais.” (Exame, 28/04/2004)
“O relatório State of the Word 2004, do
WorldWatch Institute, sediado em Washington,
aponta a China como segundo maior mercado
consumidor, com 239,8 milhões de pessoas, ou
19% da população.”
(Jornal do Comércio, 13/02/2004)
“Entre 1994 e 2000, a China despendeu um
total de 112,7 bilhão de yuans (US$ 13,59
bilhões) para aliviar a pobreza rural. Pretende
gastar outros 30 bilhões de yuans (US$ 3,62
bilhões) por ano na próxima década com
o remanejamento de agricultores de áreas
pobres. Essa determinação foi tomada a partir
da recomendação do Banco Mundial em
relatório de 1999, intitulado “Acelerando a
transformação rural na China”, que sugere a
migração bem-sucedida para a superação da
pobreza.” (Gazeta Mercantil, 20/06/2001)
“Nos últimos tempos, antenados com o
crescimento da economia chinesas, vários
estilistas famosos buscaram inspiração na
cultura oriental. John Galliano, Roberto
Cavalli, Tom Ford e Armani adotaram linhas e
incorporaram detalhes orientais em suas peças.”
(Época, 15/12/2003)
“Segundo cálculos publicados na revista
Business Week, o PIB da China é quase 80% do
da União Européia, e o ultrapassará até 2007.”
(Jonathan Fenby, 2002)
“Superávits comerciais sucessivos permitiram
que a China atingisse reservas superiores a
US$ 260 bilhões em 2002.” “Em 20 anos,
cerca de US$ 500 bilhões entraram no país.”
(IstoÉ Dinheiro, 22/01/2003)
Negócios com a China
73
74
Negócios com a China
Negócios com a China
75
Conhecendo
o País
Wladimir Pomar*
*Colaborou Milton Pomar
Foto: Milton Pomar
P
aís de dimensões continentais, com 1,1 milhão de km2 a
mais do que o Brasil, a China
tem uma área de 9,6 milhões
de km2, o que coloca-a em
terceiro lugar entre os maiores países do
mundo (atrás do Canadá e Rússia). Entretanto, os desertos ao Norte e Oeste e as
regiões elevadas (altitude média de 4 mil
metros) e geladas do Sudoeste, tomamlhe mais da metade do país. A parte habitável e agricultável atraiu nada menos
de 1,3 bilhão de habitantes, que ocupam
principalmente as regiões Leste e Centro,
concentrando-se em suas áreas rurais e em
76
Negócios com a China
algumas poucas cidades e respectivas regiões
metropolitanas, conforme ilustra o mapa das
páginas 78 e 79. Os outros 50 milhões de habitantes estão espalhados nas regiões autônomas, mais ou menos inóspitas, de Xinjiang,
Tibet e Mongólia Interior, e na província de
Qinghai, que somadas possuem 4,7 milhões de
km². Rica em recursos energéticos e minerais e
pobre em densidade demográfica (10 habitantes/ km²), a parte ocidental da China é alvo de
um grande investimento governamental desde
o ano 2000, com muitas obras, visando desenvolver a sua infra-estrutura de transportes,
energia e telecomunicações.
rebanho razoável (159 milhões de bovinos), os
chineses ainda não têm o hábito, nem a produção suficiente, para o consumo de carne, leite
e derivados bovinos. Apesar disso, a pecuária
contribuiu com 30% da receita agrícola em
2001, e deverá aumentar para 33% a sua participação em 2005.
Seguindo o ritmo mundial, a agricultura chinesa perdeu importância na formação do PIB,
caindo de 33% em 1982, para apenas 15%
em 2002, segundo dados do Banco Mundial
– neste mesmo ano, a indústria participava
com 51,7% e o setor de serviços com 33,7%.
Da mesma forma, o seu crescimento médio
no período 1982-2002 foi bastante inferior ao
dos demais setores, com 4,6% em 1982 (contra 11,7% e 11,6%, respectivamente); 3,7%
em 1992 (enquanto a indústria cresceu 11,3%
nesse ano, e os serviços 8,4%); e 2,9% em
2002 (9,9% a indústria e 7,3% os serviços).
Caiu também o número de trabalhadores
na agricultura, dos 70,5% em relação a PEA
total em 1978, para 50% em 2001, cerca de
370 milhões de pessoas.
Agricultura mágica
A China possui apenas 110 milhões de hectares de terras agricultáveis, dos quais cerca de
50 milhões irrigados. Dispõe de 7% do total
agricultável mundial, para alimentar 22% da
população do planeta, esse é o desafio permanente. Mais da metade do seu território são zonas áridas e semi-áridas. A cobertura florestal
em 2001 chegou a 16,5%, o dobro do que havia em 1950. Os principais cultivos são o arroz,
trigo, milho, soja e batata. A produção de arroz representa 40% da produção de cereais do
país, a de trigo 20% e a de milho 25%. O arroz
é plantado principalmente nas bacias irrigadas
dos grandes rios e, em parte, nas planícies do
Norte. O trigo é cultivado principalmente nas
planícies do Norte, enquanto o milho é plantado no Nordeste, Norte e Noroeste, e a soja, nas
planícies do Nordeste. A batata é produzida em
maior escala nas regiões Sul e Central do país.
Os principais cultivos industriais são algodão,
amendoim, colza, gergelim, cana-de-açúcar,
beterraba, chá, fumo, amoras e frutas, relativamente dispersos por todo o país.
Quanto à pecuária, a China possui 300 milhões de hectares de pastagens naturais, situadas principalmente nos planaltos da Mongólia
Interior, Xinjiang e Qinghai-Tibet.
A China é uma grande criadora e consumidora de suínos (441 milhões de cabeças no ano
2000), carneiros, galinhas, patos, gansos, coelhos e produtos aquáticos. Embora tenham um
Evolução da produção agropecuária da China
Produto
Grãos
Algodão
Oleaginosas
Cana-de-açúcar
Beterraba
Carnes
Carne bovina
Produtos aquáticos
Leite
Milhões de toneladas
1978
2000
304 ,70
492 ,00
2 ,16
4 ,40
5 ,21
29 ,50
5 ,21
7 ,80
2 ,70
8 ,10
8 ,56
61 ,30
N.D.
5 ,30
4 ,66
42 ,80
6 ,60
9 ,19
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Negócios com a China
77
CONHECENDO O PAÍS
Oito vezes a população brasileira
Províncias
Anhui
Fujian
Gansu
Guangdong
Guizhou
Hainan (ilha)
Hebei
Heilongjiang
Henan
Hubei
Hunan
Jiangsu
Jiangxi
Jilin
Liaoning
Qinghai
Shaanxi
Shandong
Shanxi
Sichuan
Yunnan
Zhejiang
Municipalidades
Beijing
Chongquing
Tianjin
Shanghai
Regiões autônomas
Guangxi Zhuang
Mongólia Interior
Ningxia Hui
Xinjiang Uygur
Tibet
População em milhões
63 ,4
34 ,7
25 ,9
78 ,6
38 ,4
8 ,0
67 ,4
38 ,1
96 ,1
59 ,9
66 ,3
73 ,8
42 ,2
27 ,0
42 ,0
5 ,3
36 ,7
90 ,8
32 ,9
86 ,7
43 ,3
46 ,5
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
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11 ,4
31 ,2
9 ,2
13 ,3
.
.
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.
Entre a Ásia e a Europa, a China totaliza 22 mil km de
fronteiras terrestres, com nada menos de 15 países. Possui 5.500 km no sentido Norte-Sul e 5.200 km no sentido Leste-Oeste, e fronteira marítima com outros seis
países, em uma costa com 18 mil km, segundo os dados
oficiais. A região Central tem 20 vezes mais habitantes
do que a Ocidental. Já a litorânea, ou Oriental, é onde a
população está mais concentrada, 400 habitantes/km², e
caracteriza-se por possuir intensa atividade em todos os
setores da economia, com zonas econômicas especiais,
78
Negócios com a China
portos marítimos e fluviais e grandes malhas ferroviária
e rodoviária.
Guangdong e Hainan, províncias do Sul do país, convivem a maior parte do ano com temperaturas elevadas e às
vezes com tempestades típicas do clima tropical, enquanto
Harbin, no Norte, enfrenta o frio ártico. Durante os meses
de maio a outubro no Sul, e julho e agosto no Norte, a
China sofre no verão com o calor intenso e muitas chuvas
(mais no Leste e bem menos no Oeste). Já o inverno, com
frio seco, castiga mais o Norte, de dezembro a março.
CONHECENDO O PAÍS
Densidade
demográfica
(hab/km2)
acima de 2.000
até 900
de 300 a 600
de 200 a 300
de 100 a 200
de 50 a 100
Capital do País
Capitais das Províncias
Picos, Passagens
Principais cidades turísticas
Patrimônio Mundial
Negócios com a China
79
CONHECENDO O PAÍS
Expansão industrial
acelerada
A indústria chinesa em 1949 podia ser avaliada pela produção de fios de algodão (327
mil toneladas) e de carvão (32 milhões de toneladas). Mesmo em 1952, após o processo de
recuperação pós-guerra, a produção de carvão
tinha se elevado a apenas 66 milhões de toneladas e a de fios de algodão a 656 mil toneladas. É verdade que haviam surgido novas
indústrias, como a de aço (1,35 milhão de toneladas), cimento (2,86 milhões de toneladas),
petróleo (440 mil toneladas) e fertilizantes (39
mil toneladas), mas isso representava uma indústria ainda débil.
Em 1978, a China possuía indústrias pesadas, de bens intermediários e de consumo
de massas relativamente desenvolvidas, formadas pela mineração, siderurgia, petróleo,
hidrelétrica, tratores, aviões, cimento, têxteis,
automóveis, aparelhos de TV, fibras sintéticas,
agroindústrias, fertilizantes, inseticidas e outros. Entretanto, sua produção mal dava para
atender a demanda interna e ela estava ausente das áreas de novas tecnologias eletrônicas, informáticas, de telecomunicações e de
novos materiais. Entre os anos 1978 e 2000 a
China deu um verdadeiro salto em sua produção industrial, como pode ser visto no quadro
abaixo, e multiplicou algumas vezes esse salto
em 2001-04.
Foto: Milton Pomar
Evolução da produção industrial anual da China
Produto
Carvão
Petróleo
Gás natural
Eletricidade
Aço
Cimento
Tratores
Automóveis
Bicicletas
TV a cores
Fibras sintéticas
Tecidos
Açúcar
Fertilizantes
Telecomunicação móvel
Microcomputadores
Unidade
milhões de ton
milhões de ton
milhões de m3
milhões de kwh
milhões de ton
milhões de ton
mil unidades
milhões de unidades
milhões de unidades
milhões de unidades
mil ton
milhões de m
milhões de ton
milhões de ton
milhões unidades
milhões unidades
1978
618
104
257
31,7
65,2
11,3
0,149
3,8
284,6
11.030
2,27
8,69
0
0
2000
964
163
30.300
1.356
128,5
597
65,4
7,89
19,0
39,3
6.940,0
277.000
7,0
31,86
32,03
6,72
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
Obs.:
(1) A produção de aço estimada para 2005 é de 366 milhões de toneladas.
(2) Demanda estimada em 2005: 800 milhões de toneladas (sendo 200 milhões de cimento
de melhor qualidade)
(3) Acumulado 1990-2001. A produção anual de automóveis, de 700 mil unidades em 1991,
saltou para 1,3 milhão em 1993, dois milhões no ano 2000, e 3,25 milhões em 2002.
(4) Demanda em 2005, praticamente a mesma dos anos anteriores.
(5) A produção chinesa de açúcar na safra 2003-2004 foi de 10,02 milhões de toneladas.
(6) Em 2004, a indústria chinesa produziu 240 milhões de aparelhos, sendo que 146 milhões foram exportados.
A capacidade da indústria chinesa estima chegar, em 2005, a 500 milhões de aparelhos ao ano.
“A China produz 10 vezes mais aço que o Brasil, que é o seu
principal fornecedor de minério de ferro”.“Estima-se que a China
tenha investido entre US$ 300 bilhões e US$ 350 bilhões no setor
de siderurgia nos últimos 12 anos. Saltou de 82 milhões para
272,4 milhões de toneladas no período.” (Valor, 17/02/2005)
80
Negócios com a China
“Entre 2000 e 2006, a indústria química terá
investido US$ 6 bilhões de dólares na China,
ao passo que o Brasil e outros países da América
Latina ficarão com US$ 500 milhões.”
(Exame, 14/04/2004)
CONHECENDO O PAÍS
Investimento permanente
em infra-estrutura
A infra-estrutura energética, de transportes
e comunicações da China em 1949 era formada por uma rede pouco diversificada. Suas
usinas elétricas eram a carvão e atendiam apenas as grandes cidades. Suas ferrovias se estendiam por 21.800 km, mas apenas 11.000
km eram trafegáveis. Suas estradas rodoviárias
mal alcançavam os 80 mil km. Seus aeroportos existiam apenas nas grandes cidades e com
pistas de terra. Os correios também só funcionavam entre as grandes cidades e o número
de telefones e linhas era proporcionalmente
insignificante para o tamanho do país e de sua
população.
Entre 1949 e 1978, a China ampliou e diversificou suas fontes de produção elétrica,
com a construção de novas termoelétricas e hidrelétricas, alcançando uma capacidade instalada de mais de 50 milhões de kw. As ferrovias
se estenderam a mais de 41 mil km, dos quais
11.176 eletrificados. As rodovias alcançaram
mais de 400 mil km, enquanto as principais
municipalidades e capitais provinciais foram
dotadas de aeroportos pavimentados e foram
ampliados os serviços de correios e telecomunicações. Apesar desses avanços, a infra-estrutura era insuficiente para fazer frente a um
crescimento agrícola, industrial e comercial de
porte. Sucessivos planos de investimento no
período 1979-2004, com imensos aportes de
recursos, resultaram em uma poderosa infraestrutura em todas as áreas.
Energia
A situação energética da China é delicada, porque o maior consumo fica no Leste e
a produção, nas regiões Centro e Oeste. Sua
matriz energética depende ainda em grande
medida do carvão (67,7%), com o petróleo
respondendo por 20,6% e a energia hidráulica 8,3%. O gás natural, apesar de existir em
grande quantidade, contribui por enquanto
com apenas 3%. Há cinco centrais nucleares;
58 hidrelétricas, das quais 19 com capacidade
instalada superior a 1 milhão de kw; e em 2001
a produção de energia elétrica atingiu 1.478
bilhões kva/hora.
Existe um esforço enorme para alterar a
matriz energética, diminuindo o peso do carvão e aumentando o de outras fontes, limpas
e renováveis. Nesse sentido, as metas para
2005 incluem reduzir em 3,9% a participação
do carvão, em relação a 2000. O crescimento
da geração de energia pretendido para 2005
supera a estimativa do crescimento do PIB no
período: 30% anuais para energia nuclear, atingindo 60 bilhões de kva/hora; 13,2% anuais
para gás natural, 50 bilhões de metros cúbicos;
8,4% eletricidade hidráulica, com 355,8 bilhões
de kva/ hora; entre outros.
Vulnerável em relação ao petróleo, cuja
produção parou nas 165 milhões de toneladas
obtidas em 2000, a China se vê obrigada a aumentar ano a ano a sua importação, na mesma
medida em que são incorporados à frota nacional de veículos milhões de novas unidades de
automóveis, caminhões, tratores etc.
“A China recebeu, em 2002, US$ 52,7 bilhões de dólares de
investimentos estrangeiros. Sucesso evidente após a entrada do país
na OMC. Foram mais de 26 mil contratos assinados cumpridos à risca,
honrando acordos com as empresas que acreditaram no país. O capital
das empresas estrangeiras criou 5,5 milhões de empregos na China
nos últimos cinco anos.” (Veja, 22/01/2003)
“Metade do cimento produzido no mundo, 31% do carvão e 21%
do aço foram absorvidos pelos chineses.” (Exame, 14/04/2004)
“A China possui os maiores rios da Ásia, estimulando a construção do
maior projeto de hidrelétrica do mundo, Três Gargantas, sobre o Alto
Yangtsé, com capacidade de produção de 18,5 mil MW através das 26
turbinas do complexo.” (Gazeta Mercantil, 28/06/1993)
“Com a conclusão da hidrelétrica Três Gargantas, em 2009,
21 cidades e 365 vilas serão alagadas. O governo chinês iniciou,
devido às obras, o maior e mais audacioso projeto de resgate
arqueológico testemunhado: uma equipe de arqueólogos é
responsável pela remoção e remontagem em outro lugar de 118
monumentos históricos. Serão US$ 12 milhões investidos no resgate
da tradição de até quatro séculos de história.” (Veja, 25/07/2001)
“Com a construção de usinas, a capacidade geradora de
eletricidade chinesa atingirá 660 milhões de kilowatts em 2010.”
(Gazeta Mercantil, 22/07/2004)
Negócios com a China
81
CONHECENDO O PAÍS
Ferrovias
Foto: Glauber Queiroz
Havia em 2002 um total de 72 mil km de
ferrovias, das quais 20% eletrificadas. Esse
meio de transporte vem sofrendo a concorrência, nos últimos anos, de outros modais,
principalmente o rodoviário, dado o grande
aumento das estradas. A comparação de cargas e passageiros transportados por ferrovias,
no período 1980-2001, revela quedas de 48%
para 31,4% e de 60,6% para 36,8%, respectivamente. Mesmo assim, continua sendo o principal meio na matriz de transportes da China.
Os trens de passageiros atualmente são
muito melhores do que há poucos anos. Houve uma sensível modernização, dos banheiros,
cabines e restaurantes. Viajar de trem na China
é barato, agradável e relativamente rápido. As
cabines para quatro passageiros são confortáveis, e quem consegue dormir em situações
assim chega descansado no local de destino.
Houve quatro sucessivos aumentos de velocidade dos trens de passageiros, desde 1997, e
estão planejados mais dois. A meta é atingir
200 km/h em linhas especiais e até 160 km/h
nas linhas comuns mais movimentadas.
82
Negócios com a China
Atualmente está sendo construída a linha
Qinghai-Tibet, com término previsto para 2007,
com o objetivo de atender a única região do
país ainda sem ferrovias. Devem ser construídas
também a ferrovia de alta velocidade BeijingShanghai e as de saída das regiões Noroeste e
Sudoeste, aumentando para 75 mil km o total
de ferrovias em 2005.
Rodovias
Praticamente dobraram de extensão, de
1978 para 2002, saindo de 890 mil km para
1,8 milhão de km. As estradas recém-construídas apresentam boa qualidade em todos os aspectos, do asfalto (ou concreto) à sinalização,
com destaque para a contenção de encostas,
com um acabamento inacreditável.
Aumentaram as rodovias e a sua utilização,
ganhando cargas e passageiros dos trens, entre
1980 e 2001, passando de 6% para 13,8% o
transporte de cargas, e de 32% para 54% o de
passageiros. Existem diferentes tipos de rodovias. As melhores, destinadas a uma quantidade cada vez maior de ônibus de longa distância, caminhões refrigerados e outros especiais,
praticamente inexistentes até 1988, atingiram
25 mil km em 2002.
Negócios com a China
83
CONHECENDO O PAÍS
Fluvial e marítimo
Viajar de avião na China passou, em dez
anos, de algo sofisticado para algo comum,
acessível a parcelas crescentes da população.
Os aeroportos acanhados do início dos anos 90
nas grandes cidades, são hoje mega-aeroportos,
brilhando de novos. Essa expansão acelerada
dos terminais de passageiros e de cargas tenta
acompanhar o crescimento da oferta de aviões,
sempre insuficiente em relação à demanda cada
vez maior, em uma espiral ascendente.
Havia 385 linhas aéreas nacionais em 1990.
Onze anos depois, eram 1.009, mais 134 internacionais. O aéreo respondeu por 8,2% do
total de passageiros transportados em 2001.
Voa-se hoje de Beijing, Shanghai, Guangzhou
e Hong Kong para qualquer parte do país e do
mundo, com uma grande quantidade de freqüências diárias.
Passa de 80 o total de aeroportos com capacidade para receber aviões de grande porte,
e chegam a cinco mil os aeroportos com pistas
pavimentadas.
As duas metas principais para 2005 são chegar a 800 portos de águas profundas no litoral
e atingir um total nos rios interiores de 110 mil
km navegáveis, dos quais 88 mil km com capacidade acima de mil toneladas. Além delas,
pretendem também melhorar as vias fluviais
mais importantes, como a dos rios Changjiang
e Zhujiang e do canal Beijing-Hangzhou.
Analisando-se a evolução de 1980 a 2001,
chama a atenção a importância desse meio
para o transporte de cargas na China, de 42%
para 53,2% do total. Em contrapartida, os
passageiros praticamente abandonaram o barco como meio de transporte, caindo de 5,7%
para 0,8% sua participação. Concorrer com
aviões e ônibus e trens rápidos ficou muito difícil para os lentos barcos e navios.
Mais da metade da carga transportada dentro do país vai pela água, embarcada e desembarcada nos oito mil atracadouros dos portos
fluviais principais, sendo mais de 40 com capacidade superior a dez mil toneladas. DestacamFotos: Milton Pomar
Aéreo
84
Negócios com a China
se os portos fluviais de Harbin, Chongqing,
Wuhan, Shanghai, Nanjing e Guangzhou.
Através de navios, a China realiza mais de
85% do seu comércio exterior, utilizando-se
de grandes portos distribuídos ao longo da
extensa costa, dos quais sete (Dalian, Shanghai, Guangzhou, Ningbo, Tianjin, Qingdao e
Qinhuangdao) com capacidade anual de carga
e descarga acima de 100 milhões de toneladas,
e mais de 60 com um total de quase 700 atracadouros com mais de dez mil toneladas de capacidade. Desses, há oito portos para mais de
um milhão de contêineres movimentados por
ano, destaques para os de Shanghai e Shenzen, entre os dez maiores do mundo.
Logística
Aqui reside um dos principais fatores responsáveis pelos baixos custos dos produtos
made in China: a logística eficaz, com a combinação adequada do transporte de cargas pelos
meios mais baratos, através de portos competitivos e ferrovias e rodovias cada vez mais rápidas e com maior capacidade.
Barcos de todos
Telecomunicações
os tamanhos e
Quase seis milhões de chineses tinham telefone fixo em 1989. Oito anos depois, havia 70
milhões nessa condição. E em 2002 eles faziam
parte de um universo de 214 milhões, pouco
maior do que o de 207 milhões de usuários de
telefonia móvel, categoria inexistente antes de
1989. A meta para 2005 é chegar a 260 milhões de usuários de telefonia móvel.
Esse ritmo também atingiu a Internet, que
quintuplicou os seus 20 milhões de usuários
em 2000, ultrapassando a barreira dos 100 milhões em 2004. A previsão é chegar ao final de
2005 com 60 milhões de computadores e 8%
de acesso à Internet.
Existem mais de três mil estações de TV e
400 milhões de aparelhos de TV, sendo que
nas cidades há, no mínimo, um aparelho a cores
para cada família. A produção de TVs em 2000
alcançou a marca dos 37,4 milhões de aparelhos, e a venda de DVD passou de 50 mil unidades em 1997, para quatro milhões em 2000.
As 673 estações de rádio transmitem para 417
milhões de aparelhos.
modelos fazem
parte da paisagem
e da cultura do país,
em quantidade
inversamente
proporcional à de
caminhões e carros.
Negócios com a China
85
CONHECENDO O PAÍS
Antigüidade chinesa
Fósseis de hominídios encontrados na província de Yunnan e datados de 1,7 milhão de
anos, mostram a possibilidade da evolução do
macaco para o homem haver ocorrido simultaneamente em mais de um lugar da Terra. O
homem de Pequim (homo pekinensis), que vivia na região da atual capital há cerca de 500
mil anos atrás, já era capaz de caminhar ereto,
fabricar e usar instrumentos de madeira e pedra e empregar o fogo.
Há cerca de 11 mil anos, as populações que
habitavam os vales dos rios Amarelo e Iangtsé
iniciaram a domesticação de plantas e animais
selvagens; e por volta de 9.500 anos, a prática
da agricultura e da pecuária. A primeira dinastia da história chinesa, a Xia, constituindo um
Estado territorial, data de 6.100 anos atrás.
Sua divisão social do trabalho tinha por base o
escravagismo agrícola, artesanal e doméstico,
que sustentava uma população livre dedicada
ao comércio e aos negócios do Estado.
Por volta de 3.000 anos atrás, os chineses
já dominavam as técnicas de fabricação de instrumentos de bronze, ferro, cerâmica branca
e esmaltada, e tecidos de seda, inclusive com
motivos em alto-relevo. Há mais de 2.500 anos
os chineses passaram a dominar a técnica de
fabricação de aço e de construção de barragens e grandes canais de irrigação (o complexo
hidráulico de Dujiangyan, em Chengdu, ainda
hoje está em funcionamento).
É desse período o surgimento da filosofia
chinesa, de forma independente e com abordagens semelhantes às da filosofia grega da
mesma época. Como na Grécia de então, competiam “cem escolas de pensamento”, destacando-se Lao Zi, Confúcio, Mao Zi e Sun Wu.
Há 2.220 anos, Qin Shihuang impôs-se aos
dignitários feudais e fundou o primeiro Estado
pluriétnico unificado, com poder centralizado,
a dinastia Qin. Unificou as letras, as unidades
de medida e a moeda, estabeleceu o sistema de
86
Negócios com a China
CONHECENDO O PAÍS
prefeituras e distritos, construiu a Grande Muralha, o palácio imperial e a tumba de Xianyang
e o palácio de verão de Lishan. Em sua tumba
de Xianyang é que foram encontrados os oito
mil “guerreiros e cavalos de terracota”, considerada a oitava maravilha do mundo.
Evolução histórica
Foi durante a dinastia Han, que sucedeu a
dinastia Qin há 2.200 anos, que os chineses
abriram a “Rota da Seda”. Partindo de Xian e
atravessando a Ásia central, essa Rota terrestre
chegava ao Mediterrâneo para vender as sedas
e outras especiarias. Durante a dinastia Tang,
entre os anos 618 e 907 de nossa era, a China
conheceu um auge de prosperidade agrícola,
artesanal e comercial. Mais adiante, sob o domínio mongol da dinastia Yuan (1271 a 1368),
essas relações externas do império chinês ampliaram-se, tendo por base seus avanços na fabricação do papel, da imprensa, da bússola e da
pólvora. Mas foi durante a dinastia Ming (1368 a
1644) que apareceu na China os primeiros sinais
do modo capitalista de produzir, diferente do
feudal. A dinastia Ming não suportou, porém,
o assédio dos manchus, que estabeleceram seu
próprio domínio dinástico (Qing) sobre a China
entre 1644 e 1911. Embora a dinastia Qing também tenha experimentado um certo período de
prosperidade, ela não permitiu a criação de uma
forte burguesia comercial, capaz de aproveitarse de todos os avanços produtivos e lançar-se na
ampliação da Rota Marítima da Seda. Fechou-se
em seu autarquismo e foi incapaz de suportar
a expansão colonial das novas potências industriais e marítimas européias.
Os chineses fizeram contribuições independentes em diversos campos das nascentes
ciências e da tecnologia. Isso ocorreu principalmente na astronomia, com o mapeamento
das estrelas e a construção de instrumentos
de observação e medição do cosmos, nas matemáticas, com o cálculo do valor de Pi e na
construção náutica e na navegação, com a invenção das velas náuticas tríplices, que lhes
permitiam velejar contra o vento, do leme
náutico articulado, que lhes permitia manobras mais seguras, e da bússola. Os chineses
também inventaram os tipos móveis para impressão e os foguetes.
Xi´an, capital da província
de Shaanxi, sete milhões
de habitantes, mais de
três mil anos de história
documentada, ponto
de partida da famosa
Rota da Seda. Tornou-se
mundialmente conhecida
pelas estátuas dos
guerreiros de terracota,
fiel reprodução do
exército do imperador Qin
Shihuang (259 a 210 A.C.).
Negócios com a China
87
CONHECENDO O PAÍS
República Popular
A República Popular nasceu em 1949,
como resultado da Primeira Sessão Plenária da
Conferência Política Consultiva do Povo Chinês, com representantes de diversos partidos e
organizações sociais que, junto com o Partido
Comunista, participaram da guerra civil contra
o Partido Kuomintang. Essa sessão elaborou
o Programa Comum, que funcionou como
Constituição Provisória, e elegeu o Conselho
do Governo Popular da nova República, tendo Mao Zedong como presidente e Zhu Enlai
como primeiro-ministro e ministro das relações
exteriores. A República Popular foi oficialmente
proclamada no dia 1 de outubro de 1949.
De 1949 e 1953, o novo governo dedicouse a reconstruir o país e iniciar seu processo
de industrialização. Em 1953 foi elaborado o
I Plano Qüinqüenal de Desenvolvimento Econômico, durante o qual foram implantadas
indústrias de base não existentes no passado,
incluindo siderurgia, mineração de ferro e carvão, aeronáutica, automobilística, máquinas
pesadas, máquinas de precisão, equipamento de geração elétrica e outras. Entre 1957 e
1966 (segundo e terceiro planos qüinqüenais)
ocorreram vários reajustamentos no processo
de desenvolvimento econômico e social e tentativas massivas de avançar mais rapidamente
no desenvolvimento tecnológico e no processo
de socialização do país. Esses reajustamentos
e tentativas – conhecidas na história contemporânea chinesa como Movimento das Cem
Flores, Grande Salto Adiante e Quatro Modernizações –, refletiram não só os resultados do
crescimento econômico e social do país, mas
também as dificuldades para encontrar o caminho mais adequado para seu desenvolvimento
sustentado.
Essas dificuldades acabaram por desaguar
na chamada Revolução Cultural, um movimento social de envergadura, que pretendia avançar rapidamente no desenvolvimento científico,
tecnológico e produtivo através da participação
conjunta e igualitária da população chinesa,
não só na produção, como nos resultados dessa produção. Apesar dos esforços despendidos
durante 10 anos de Revolução Cultural (1966-
88
Negócios com a China
1976), não foram obtidos os resultados esperados. No final de 1976, os setores do governo
que defendiam a continuidade da Revolução
Cultural foram afastados.
Durante todo o ano de 1977 e parte de
1978, realizou-se na China um extenso debate sobre a experiência histórica do desenvolvimento econômico e social socialista, debate
que resultou na elaboração de um grande programa de reformas, cujos objetivos principais
consistiam no rápido desenvolvimento das
forças produtivas do país, principalmente com
a modernização científica e tecnológica, da indústria, da agricultura e da defesa nacional, na
elevação do padrão de vida da população e na
abertura ao exterior.
Entre 1978 e 1980 foram realizados reajustamentos na agricultura e instaladas as zonas
econômicas especiais para a recepção de investimentos estrangeiros, como preparativos das
reformas, cuja implantação efetiva teve início
em 1980, com as reformas nas zonas rurais.
Em 1984 tiveram início as reformas urbanas
(indústria, comércio, serviços, infra-estrutura).
Em 1990, a China havia dobrado seu produto
interno bruto em relação a 1980 e, em 1996,
havia alcançado a meta para o ano 2000, de
quadruplicar o PIB de 1980. Entre 1980 e o
ano 2000, a China manteve uma taxa média
de crescimento econômico anual de 8% a 9%,
e uma taxa média de crescimento da renda da
população de 5% a 6%.
Negócios com a China
89
Reações ao domínio estrangeiro
A
decisão das potências
industriais na Conferência
de Versailles levou os
representantes chineses a abandoná-la,
e desencadeou, em maio de 1919,
uma série de movimentos populares
na maioria das cidades chinesas.
Esses movimentos tiveram, como
desdobramentos nos anos seguintes,
a instauração de um governo rebelde
do Kuomintang, dirigido pelo
Dr. Sun Iatsen, em Cantão (Guangzhou);
a fundação do Partido Comunista da China,
em Shanghai; a colaboração entre o Kuomintang
e o Partido Comunista para derrotar os senhores
de guerra, instaurar a democracia em todo
o território chinês e acabar com a dominação
estrangeira, a partir de 1924; e a Expedição Militar
do Norte, entre 1924 e 1926, que organizou
um exército moderno e derrotou os senhores
de guerra daquela região, abrindo o terreno para
as reformas da estrutura econômica, social e política
do país.
No entanto, com a morte do Dr. Sun Iatsen,
em 1925, a direção do Kuomintang passou às
mãos de um grupo político aliado a setores dos
senhores de guerra, que pretendia manter as
mesmas estruturas vigentes. Foi nesse contexto,
de abandono pelo Kuomintang das reformas
defendidas pelo Dr. Sun Iatsen, que o Partido
Comunista se apropriou daquelas reformas
e se transformou em seu principal defensor.
A reação do Kuomintang foi o golpe militar
de 1927, eliminando mais de cem mil comunistas,
na suposição de que com isso aniquilaria sua
Guerra do Ópio
A maioria dos historiadores chineses e ocidentais aceita a idéia de que
a história moderna da China teve início em 1840, com a Guerra do
Ópio. Ao recusar-se a aceitar o narcotráfico do ópio em seu território,
em 1840, a China foi atacada e derrotada pela Inglaterra.
Os ingleses impuseram então o narcotráfico do ópio no país,
tomaram-lhe Hong Kong, e obtiveram ainda uma série
de outras concessões extra-territoriais.
De uma potência respeitada, a China transformou-se
num país humilhado. Cães e chineses eram
proibidos de entrar nos condomínios
ocupados pelos estrangeiros em Shanghai
e outras cidades chinesas; e a China
estava proibida de manter
forças armadas próprias.
No final da Primeira
Guerra Mundial, os
chineses acreditaram
que a Conferência de
Versailles revogaria os
chamados tratados desiguais,
impostos no passado pelas
potências industriais.
Entretanto, aquela
conferência das
potências vencedoras
não só manteve
tais tratados,
como aprovou
as pretensões
japonesas de manter
sob seu domínio
as antigas possessões
alemãs em território
chinês, a exemplo
da cidade portuária
de Qindao.
capacidade de lutar pelas reformas preconizadas
pelo Dr. Sun Iatsen.
Entre 1927 e 1937, a China assistiu a uma
guerra civil que tinha como principais atores
o Koumintang, e seu exército branco, e o Partido
Comunista, e seu exército vermelho,
90
Negócios com a China
Foto: Renato Velasco
CONHECENDO O PAÍS
Turbulências de 1997-99
enquanto a China era persistentemente
ocupada pelo Japão desde 1931. As propostas
do PC para uma frente única nacional contra
a agressão japonesa foram liminarmente
rejeitadas pelo general Chiang Kaishek
(Xiang Jeshi), até que seus próprios generais
nacionalistas o prenderam e exigiram que
aceitasse tais propostas, em 1937.
As tropas vermelhas integraram-se ao exército
nacional, de 1937 a 1945, sob o comando
de Chiang Kaishek, embora mantendo sua
autonomia operacional, suas bases de apoio
e suas áreas libertadas. Após a vitória sobre
o Japão, em 1945, tiveram início negociações
tensas para estabelecer a paz. No curso das
negociações, Chiang Kaishek movimentou suas
tropas para posições estratégicas, com o apoio
logístico norte-americano. Seus cálculos eram
de que um milhão de soldados do Exército
Vermelho não resistiriam a uma ofensiva bem
planejada de seus 8 milhões de soldados.
Ele desprezava totalmente o desejo de paz
da população chinesa, a corrosão de seu
Mobilidade
independente,
exército pela corrupção, a aspiração de terra
baixíssimo custo,
dos 350 milhões de camponeses, o sentimento
versátil, de curto
nacionalista do país e a experiência militar
alcance, nãopoluente, baixa
adquirida pelos exércitos vermelhos durante
velocidade, limitada
a guerra contra o Japão. Mesmo sabendo
à força humana...
das movimentações do Kuomintang para atacar
suas forças, o Exército Vermelho adotou apenas
medidas defensivas. Para eles,
meio de transporte
universal na China.
Na primeira metade dos anos 90, o governo
chinês convencera-se de que um incremento de
10% ao ano no PIB exercia pressão demasiada
sobre as matérias-primas e a infra-estrutura,
alimentando tensões inflacionárias, polarizações de renda e outros fenômenos negativos.
Foi isso que o levou a mudar aquele ritmo de
alto crescimento, para um crescimento de 7%
a 8% ao ano, moderadamente rápido, dando
mais atenção à qualidade e à eficiência, e tendo
como forças motrizes as indústrias eletromecânica e de tecnologia de informação. Levou-o
a transferir o centro do desenvolvimento das
zonas litorâneas para as regiões Centro e Oeste
do país, e a adotar estratégias que trouxessem
para primeiro plano a economia de recursos,
sistemas compensatórios de utilização dos recursos naturais e medidas ativas de proteção
e recuperação ambiental. Mas as crises financeiras de 1997-99 apanharam os chineses em
plena mudança de foco.
O programa de modernização do Centro e
do Oeste do país ampliou as facilidades ofertadas aos empresários estrangeiros e domésticos que investiram na região e aos técnicos
e trabalhadores especializados que aceitaram
deslocar-se para lá. Ao lado disso, o governo
central também adotou uma política fiscal
ativa, lançando, na segunda metade de 1998,
Foto: Milton Pomar
era preciso que a população
soubesse que fora
o Kuomintang a iniciar a
guerra. Quando as tropas de
Chiang Kaishek se lançaram ao
ataque, em 1947, suas vitórias
iniciais foram de fôlego curto.
Em setembro de 1949, o novo
Exército Popular de Libertação,
dirigido pelo PC, tomou Beijing,
e em dezembro já havia expulso
as tropas remanescentes
Kuomintang para Taiwan,
que só não foi tomada
em virtude da proteção da
7ª Esquadra dos Estados Unidos.
Negócios com a China
91
CONHECENDO O PAÍS
100 bilhões de yuans (US$ 12,2 bilhões) em
títulos do Tesouro, e estimulando os bancos
a ofertarem outros 100 bilhões de yuans em
créditos para investimentos em infra-estrutura
e na construção de moradias.
20% ganhavam menos do que aquele mínimo,
enquanto em Shanghai e Guangzhou cerca de
60% recebiam mais de 1000 yuans. As estatísticas apontavam que a renda anual média urbana chinesa era de 6.280 yuans (US$ 756), e a
renda rural de 2.253 yuans (US$ 271).
Embora 64% dos pesquisados garantissem
ter alimentação e roupa adequadas, 27% sustentassem ter um melhor padrão de vida e 80%
dissessem estar satisfeitos com suas condições
de vida, as autoridades chinesas não têm dúvida de que só elevarão a demanda doméstica se realizarem um consistente aumento dos
rendimentos da população. Assim, com seu
método passo a passo, o governo voltou a dar
um novo aumento aos funcionários públicos,
cujos salários continuam, em geral, inferiores
Políticas anticrise
Para manter o crescimento do seu PIB a taxas de 7,8% em 2002 e 8% em 2003, num
brutal contraste com o ritmo decrescente do
PIB do resto do mundo, o governo chinês tomou uma série de medidas estratégicas para
expandir seu próprio mercado doméstico e
tomá-lo como suporte principal de seu desenvolvimento, até que a economia mundial supere suas dificuldades.
Além disso, tendo em conta a importância
de um ambiente pacífico para continuar obtendo sucesso em seu processo de crescimento, o
governo chinês também operou silenciosa, mas
eficazmente no sentido de levar os EUA a modificarem sua estratégia política e militar após
os atentados terroristas. Foi nesse quadro conturbado que o governo chinês adotou, desde
o final de setembro de 2001, um conjunto de
medidas para enfrentar os perigos representados pela recessão mundial. Elas abrangeram:
1. Elevação da renda da população urbana
e rural;
2. Estímulo ao consumo doméstico;
3. Continuidade da competição chinesa
no mercado internacional;
4. Aprofundamento das reformas,
especialmente as que dizem respeito
às empresas estatais e aos sistemas fiscal
e financeiro;
5. Perseverança nas políticas fiscais ativas;
6. Manutenção dos investimentos
governamentais nos níveis correntes;
7. Encorajamento aos investimentos
não-estatais.
O crescimento
aumentou a renda
da população,
consolidou um
extraordinário
mercado interno,
deu sustentação
ao crescimento.
Esse círculo
virtuoso diferencia
o desenvolvimento.
Pesquisa realizada em outubro de 2001
pela Chat Magazine, entre trabalhadores de
Shanghai, Guangzhou e Shenyang, mostrou
que 57,6% deles recebiam entre 500 e 1500
yuans/mês (US$ 60 e US$ 181). Em Shenyang,
92
Negócios com a China
Foto: Milton Pomar
Elevação da renda
CONHECENDO O PAÍS
aos dos empregados nas estatais e empresas
coletivas e privadas. Ao mesmo tempo, elevou
em 80 yuans/mês as pensões e subsídios aos
aposentados e desempregados e instituiu o
13º salário anual.
Além de estender aos trabalhadores rurais
os mesmos benefícios dados aos trabalhadores
urbanos e reduzir gradualmente os impostos
agrícolas, o governo está garantindo, aos 30
milhões que ainda vivem abaixo da linha da pobreza, o fornecimento de cupons para sua subsistência. O imposto de renda dos que ganham
entre 50 mil e 100 mil yuans/ano (US$ 6 mil e
US$ 12 mil/ano) também está sendo reduzido
ou sofrendo isenção, ao mesmo tempo que as
barreiras que impediam a adoção do imposto
de renda progressivo estão sendo removidas.
Os governos locais e departamentos estatais têm sido pressionados a elevar o padrão
de vida dos aposentados e desempregados.
Aumenta o número de empresas estatais com
centros de reemprego e há um esforço redobrado para que o sistema de seguridade social,
que nos últimos três anos gastou US$ 8,7 bilhões com 90% dos desempregados, abranja
todo o país. No início de 2001, um total de
100 milhões de trabalhadores participavam
do seguro-desemprego, 4 milhões de residentes urbanos do sistema de renda mínima, e
106 milhões eram atendidos pelo sistema de
seguro da velhice. Elevando principalmente a
renda dos níveis inferiores, o governo chinês
pretende fazer com que essas camadas desempenhem um papel importante no crescimento
do consumo doméstico.
Estímulo ao consumo doméstico
Para transformar o aumento da renda em
consumo e dinamizar a economia, o governo
chinês ampliou para uma semana inteira os
principais feriados nacionais (1º de maio – Dia
do Trabalhador, 1º de outubro – Dia Nacional,
Ano Novo e Ano Novo Lunar – Festival da Primavera), criou estímulos ao turismo interno e
à educação, aumentou os programas de construção de moradias e intensificou os investimentos em infra-estrutura e ativos fixos.
Pesquisa realizada nas 100 maiores lojas de
departamento da China, no feriado da primeira
semana de outubro de 2001, mostrou que as
vendas totais tiveram um crescimento de 17%
em relação ao mesmo período de 2000.
As ofertas de cursos de reciclagem, especialização, pós-graduação, doutorado e de
outros tipos, em períodos diurnos e noturnos,
têm crescido consideravelmente, de modo
que o aumento da renda reverta no sentido
de criar condições ainda mais favoráveis para
o acesso a rendas maiores no futuro. Por
outro lado, as novas facilidades de crédito
a juros baixos para a aquisição de moradias
modernas e mais amplas transformaram-se
numa poderosa alavanca para elevar o nível
habitacional da população e impulsionar a
construção civil.
Negócios com a China
93
CONHECENDO O PAÍS
A China considera necessário aprofundar as
Reformas para enfrentar com sucesso a crise
mundial. Em especial, avançar na reforma das
estatais, estabelecendo nelas o sistema empresarial moderno, e realizar as reformas fiscal e
financeira, que tenham como escopo o reforço
do mercado de capitais, a fim de estabelecer
uma estrutura regulatória racional e melhorar a
governança das empresas financeiras. As estatais devem funcionar de acordo com os requerimentos do mercado e a produção em escala, a
definição dos direitos de propriedade das estatais, a definição dos direitos e responsabilidades
das empresas diante da sociedade, a separação
da administração governamental da gestão empresarial e a adoção da gestão científica.
Nas áreas fiscal e financeira a China enfrentava pelo menos quatro grandes problemas
em 2002: a participação do governo central na
arrecadação global do país era relativamente
baixa; as taxas extra-orçamentárias concorriam com os impostos; havia cerca de US$ 58
bilhões de créditos irrecuperáveis dos bancos
comerciais estatais; e o mercado de capitais
precisava de uma estrutura regulatória. A participação do Estado na produção da riqueza
do país se contraíra nos últimos anos. Ela foi
de 40% durante os anos da economia de comando, baixou para 31,8% em 1978, 22,4%
em 1985 e para 10,7% em 1995, cabendo ao
governo central apenas metade desse total. Em
termos internacionais, essa participação é muito reduzida, contribuindo para enfraquecer a
capacidade do Estado de implementar o macro
controle sobre o desenvolvimento do país.
As tentativas de incrementar os investimentos públicos através dos governos provinciais e
locais têm falhado, porque esses governos tendem a alocar recursos apenas em setores que
tragam retornos econômicos rápidos, o que
não é o caso de setores estratégicos como a
agricultura, a educação e a saúde. Nessas condições, para fazer frente à escassez de fundos,
o governo central tem lançado títulos para sustentar o desenvolvimento, o que pode colocálo em situação difícil quando tiver que saldar
seus débitos.
94
Negócios com a China
Foto: Milton Pomar
Aprofundamento das reformas
CONHECENDO O PAÍS
A verticalização
das áreas centrais
das cidades
chinesas ganhou
as alturas, em
uma escala
e velocidade
inacreditáveis.
Além disso, o governo central tem tido pouco controle sobre as taxas extra-orçamentárias
estipuladas pelos departamentos governamentais. Esses recursos, sem gerenciamento estrito e supervisão eficiente, transformam-se em
alimento para a corrupção. Nessas condições,
as atuais reformas fiscais tenderão a eliminar a
maior parte das taxas, transformar algumas em
impostos, redistribuir a participação dos governos central e locais na arrecadação e estabelecer um sistema fiscal que cubra todas as atividades econômicas. Com isso, o governo chinês
pretende realizar uma política fiscal ativa, para
ampliar a demanda doméstica, sustentar um
crescimento moderado em créditos monetários
e monitorar as flutuações nas condições fiscais
e econômicas internas e internacionais.
Para solucionar o problema dos créditos irrecuperáveis, um evidente risco financeiro, tido
como custo inevitável na transformação de
uma economia centralmente planificada numa
economia de mercado, o governo não só está
reduzindo seus gigantescos ativos não-realizáveis (NPL’s), pertencentes aos quatro maiores
bancos comerciais chineses, a uma média de
2% a 3% ao ano, como transferiu para companhias de administração de ativos o tratamento dos empréstimos irrecuperáveis, que
representam 7% de todos os empréstimos em
moeda local e estrangeira. Ao mesmo tempo,
o governo estimulou o estabelecimento de empresas de avaliação de risco para supervisionar
o sistema de crédito.
Os fundos de investimentos ainda são considerados a parte mais débil do sistema financeiro chinês. Após a falência da Guangdong
International Trust & Investment Co. (GITIC) em
1998, incapaz de pagar débitos no valor de US$
3,38 bilhões no mercado internacional, seguida
da quebra de fundos semelhantes em Hainan,
Dalian e Tianjin e mais outras 116 companhias
de investimentos (metade das existentes) o setor pareceu haver ingressado numa crise sem
retorno. Esses fundos haviam se envolvido em
atividades não relacionadas com investimentos,
aceitaram ilegalmente depósitos de pessoas físicas e lançaram bônus internacionais sem aprovação das autoridades monetárias centrais.
Negócios com a China
95
CONHECENDO O PAÍS
Apesar da profundidade da crise, em grande parte decorrente da ausência de leis que
regulassem esse mercado, o Banco Central
chinês lançou uma campanha para reestruturar o setor, tomando como base os 120 fundos
que não haviam sucumbido e a nova Lei sobre
Fundos de Investimento. Regras estipulando as
condições para o lançamento de novos produtos somente após avaliação de risco feito por
um grupo de especialistas do Banco Central e a
separação das empresas de seguros dos fundos
de investimento fazem parte do conjunto de
medidas para tirar lições daquela crise e montar
um forte mercado de capitais na China, considerado um instrumento indispensável para enfrentar os desafios do ingresso na OMC.
Manutenção dos investimentos
estatais
Apesar dos problemas fiscais e financeiros,
a China não diminuiu em nada seu gigantesco ritmo de investimentos em infra-estrutura.
O ritmo febril na construção de prédios, moradias, avenidas, viadutos e outras utilidades
públicas, com um planejamento voltado para
criar amplos espaços urbanos, com volume
proporcional de construções, áreas verdes e
distâncias entre construções, transformam as
cidades chinesas em sítios modernos e arejados, a tal ponto que criou uma polêmica em
torno da conservação de algumas áreas hutongs, bairros com construções antigas típicas.
A conquista de Beijing como sede dos Jogos
Olímpicos em 2008 tornou-se outro pretexto
para modernizar ainda mais essa cidade já moderna. Estão projetados US$ 13,9 bilhões de
investimentos para preparar a cidade até 2007,
podendo chegar a US$ 22 bilhões os investimentos adicionais em projetos de desenvolvimento urbano e utilidades públicas no mesmo
período. Apenas para os Jogos, a cidade deve
preparar 22 ginásios, estádios e piscinas, 15
outros locais para competições, além dos alojamentos da Vila Olímpica, num boom de construções superior ao que já transformou Beijing
nos últimos anos.
O metrô, por onde trafegam atualmente
meio bilhão de passageiros por ano, em 2008
96
Negócios com a China
deverá ser capaz de conduzir 1,7 bilhão de passageiros, atingindo 100 km de extensão. Apenas os projetos do aeroporto, metrô, metropolitano de superfície e avenidas expressas devem
absorver US$ 10,8 bilhões. Enquanto o distrito
central de Beijing deve receber investimentos
de US$ 2,5 bilhões, o meio ambiente da capital receberá US$ 5,4 bilhões para reajustar a
matriz energética, melhorar a qualidade do ar,
reconstruir o sistema de coleta e tratamento do
lixo e ampliar a área verde per capita para 10
metros quadrados, o que significa cerca de 100
milhões de metros quadrados reflorestados.
Estabilidade social e política
Para realizar seu ambicioso programa de
reformas e desenvolvimento, as autoridades
chinesas consideram fundamental manter a
estabilidade social e política da sociedade chinesa. Para tanto, eles se baseiam naquilo que
chamam de “as três condições favoráveis”, isto
é, “promover o crescimento das forças produtivas”, “realizar o desenvolvimento social e cultural” e “incrementar o padrão de vida de todo
o povo”.
Estabilidade global para ter
estabilidade social
Para criar um ambiente global de estabilidade, a China adotou uma série considerável de
medidas legais a fim de rever casos históricos
considerados injustos, tanto anteriores à Revolução Cultural, quanto nos dez anos de duração desta, e de reajustamento das relações sociais. Por exemplo, os rótulos de latifundiários
e camponeses ricos foram retirados, o status
de classe dos antigos industriais e homens de
negócios foi modificados sem exceção para o
de quadros e trabalhadores e os intelectuais
passaram a ser considerados parte da classe
trabalhadora. Com isso, foi removida a maioria
dos preceitos legais que estimulavam as diferenciações e os conflitos sociais.
Ganhou importância fundamental o combate à corrupção, especialmente a corrupção no
seio dos altos funcionários do Estado e do Partido Comunista, sem o qual toda a política de
reforma e desenvolvimento poderia sucumbir.
Negócios com a China
97
CONHECENDO O PAÍS
Reafirmando sua adesão ao socialismo
como sistema social e considerando importante realizar de forma adequada a passagem das
gerações mais velhas para as gerações mais novas, a China aboliu o sistema de liderança vitalícia, estabelecendo a obrigatoriedade de mudança a cada dois mandatos, no máximo, e de
aposentadoria dos quadros de liderança após
60-65 anos de idade. Hoje a maioria dos quadros dirigentes do Estado e das mais diversas
instituições da sociedade chinesa é composta
por pessoas de idade intermediária e jovens.
complementado por mais de seis mil decretos
e regulamentos estipulados pelas assembléias
populares locais, em conformidade com a
Constituição.
Em termos gerais, a China tem seguido os
seguintes princípios na reforma de sua estrutura política: a) proceder de acordo com a realidade chinesa, ao invés de copiar os sistemas
políticos ocidentais e instaurar o sistema de
eleições multipartidárias; b) avançar a reforma da estrutura política em ordem e passo a
passo; c) tomar como critérios para a adoção
de um tipo ou outro de reforma política se tal
reforma reforça a situação de estabilidade, se
contribui para reforçar a unidade nacional e o
padrão de vida do povo e se intensifica o desenvolvimento das forças produtivas de forma
sustentável.
Manejo apropriado entre reforma
econômica e reforma política
98
Negócios com a China
Ritmo apropriado de crescimento
Fotos: Glauber Queiroz
Embora o foco principal da reforma esteja
voltado para o sistema econômico, a reforma
política está sendo conduzida concomitantemente, inclusive como condição para o desenvolvimento suave das reformas econômicas e
sociais. Entretanto, como no próprio processo
de reforma econômica, o método de reforma
gradual deve ser observado como condição importante para a manutenção da estabilidade.
Na verdade, o início do processo de reformas teve início com uma reforma ideológica e
política, que consistiu na chamada emancipação das mentes, tomando a prática como critério da verdade, e de redirecionar o foco da ação
política da luta de classes para a construção
econômica. Desse modo, entre 1978 e 1986
o foco da reforma política esteve voltado para
os sistemas de liderança partidária e estatal. A
partir de 1986, a reforma da estrutura política
voltou-se para três grandes metas: consolidar o
sistema socialista, desenvolver as forças produtivas socialistas e expandir a democracia socialista para desenvolver ao máximo a iniciativa e
participação popular.
Isso significava que a reforma da estrutura
política deveria voltar-se contra o burocratismo
e a ineficiência e estimular a iniciativa das unidades de base, como condição para avançar
na expansão democrática. Entre 1980 e 2000,
a APN discutiu e aprovou 339 leis, econômicas, civis, penais e administrativas, construindo a base para o ordenamento da sociedade
de acordo com as leis. Esse sistema legal foi
A experiência chinesa mostra que tanto
ritmos muito rápidos, quanto ritmos lentos
de desenvolvimento, causam instabilidade social. Em termos concretos, para sustentar uma
média anual de crescimento de 14 milhões de
pessoas, a China precisa de um crescimento
mínimo anual de 2%. Se for levada em conta a
necessidade de aumentar o padrão de vida da
maior parte da população, serão necessários
pelo menos mais 2% anuais de crescimento.
Se forem considerados, ainda, os problemas
relacionados com os excedentes de trabalhadores em virtude do aumento da produtividade
urbana e rural e outros fatores recorrentes, será
preciso acrescentar mais 2% a 3% no crescimento anual, estipulando uma meta mínima
de 6% a 7% anual para atender o crescimento
populacional e a elevação do padrão de vida.
Níveis mais baixos do que esses no processo
chinês de desenvolvimento certamente poderão causar instabilidades sociais e colocar em
risco a estabilidade política.
O crescimento médio de 9,7% obtido entre
1980 e 2000 permitiu melhorar consideravelmente o padrão de vida do povo chinês e tornar mais sólidos os fundamentos econômicos
do país. No entanto, esse alto ritmo de crescimento, os mais elevados da história chinesa
Negócios com a China
99
CONHECENDO O PAÍS
após 1949 e da história mundial no período de
1980-2000, causaram um superaquecimento
na economia, tensionando a infra-estrutura
existente, pressionando os preços de matériasprimas, energia e transportes, causando pressões inflacionárias sérias e, portanto, criando
condições para o surgimento de surtos de instabilidade, como ocorreu em 1989.
Em vista disso, foi necessário um sério esforço de regulação macroeconômica, desde
1993, para evitar grandes flutuações no desenvolvimento econômico e impedir o surgimento
de instabilidades sociais. A política de enriquecimento em ondas tem sido conduzida de
modo que os que enriquecem primeiro ajudem
os mais lentos a ascender a novos patamares
de riqueza. Além disso, o processo de erradicação da pobreza sofreu uma importante mudança de enfoque. O Estado chinês passou a
investir em infra-estrutura e em criar as condições para que, através do próprio trabalho, os
beneficiários pudessem passar a criadores de
sua riqueza. Foi desse modo que, entre 1993
e 2000 a China reduziu de 250 milhões para
menos de 30 milhões o número daquela parcela de sua população que vivia abaixo da linha
da pobreza.
Equilíbrio entre crescimento,
reforma e estabilidade social
A experiência da China na manutenção do
equilíbrio entre crescimento, reforma e estabilidade social tem tomado por base os seguintes
parâmetros:
a) As medidas de reforma são adotadas de
acordo com a situação e os possíveis impactos nos diferentes aspectos da sociedade. Se
as condições não estão dadas, elas são criadas e aguarda-se o tempo certo para efetiválas, de modo que avance suavemente e com
apoio social.
b) Coloca-se ênfase em evitar campanhas globais, que afetem múltiplos interesses e criem
reações em cadeia, mesmo que as reformas
não sejam muito potentes.
c) Cada reforma é acompanhada de mecanismos compensatórios em relação ao sistema de baixos salários e baixas rendas ain-
100
Negócios com a China
da prevalecente em áreas urbanas e rurais,
de modo que tais salários e os preços dos
produtos dos agricultores sejam elevados e
acompanhem a evolução geral dos preços.
d) O processo geral de modernização empresarial, que produz desemprego, é seguido do
estabelecimento de um novo sistema de seguridade social, que inclui um sistema básico
de seguro de vida para os trabalhadores das
estatais, um sistema geral de seguro contra
o desemprego e um sistema de seguro de
vida para a população rural, de modo que os
segmentos de menor renda tenham garantias sociais bem definidas.
e) A extensão da abertura externa é acompanhada de modo adequado por salvaguardas
relacionadas com a segurança da economia nacional, de modo que sejam fortalecidos seu desenvolvimento sustentado e sua
competitividade global. Esta é a chave para
potencializar as vantagens comparativas do
país, participar da divisão internacional do
trabalho e do comércio e fazer uso dos mercados doméstico e internacional.
“O presidente da Associação Brasileira das
Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), o exministro Pratini de Moraes, revela que cerca de
400 restaurantes chineses servem o churrasco
brasileiro.” (O Globo, 09/05/2004)
“Em 1996, a China participava de apenas 0,4%
do volume de soja brasileira exportada, apenas
15 mil toneladas. Em 2001 esse índice atingiu
20,4% ou 3,192 milhões de toneladas.”
(Gazeta Mercantil, 05/07/2002)
“A China consome fração cada vez maior dos alimentos e
commodities agrícolas do mundo:
1998
2003
Algodão
22,2%
32,7%
Soja
14,2%
19,6%
Carne bovina
9,8%
12,6%
Peixes
22,1%
32,3%
Carne suína
48,8%
50,8%
Aves
18,6%
19,2%”
(Fonte: Dinheiro Rural, nov/2004)
Negócios com a China
101
CONHECENDO O PAÍS
Abertura econômica
ao exterior
A abertura diplomática em relação
ao mundo exterior foi acompanhada,
a partir dos anos 1980, de uma ampla
e gradual política de abertura econômica, compreendendo a instalação de zonas
econômicas especiais e cidades abertas, comércio internacional, utilização de fundos internacionais, turismo e cooperação econômica
e tecnológica.
Zonas Econômicas Especiais
e Cidades abertas
No início dos anos 1980 foram implantadas
cinco zonas econômicas especiais em Shenzhen,
Zhuhai e Shantou, nas províncias de Guangdong,
Xiamen, antiga Amoy, Fujian e em Hainan, uma
província inteira no mar Meridional da China.
Em 1984, foram abertas ao exterior 14 cidades e
portos litorâneos: Dalian, Qinhuangdao, Tianjin,
Yantai, Qingdao, Lianyungang, Nantong, Shanghai, Ningbo, Wenzhou, Fuzhou, Guangzhou,
Zhanjiang e Beihai. Em 1985, foram abertos os
deltas dos rios Changiang (Yangtsé) e Zhujiang
(Pérolas), a região triangular ao Sul de Fujian, as
penínsulas de Shandong e Laiodong, a província
de Hebei e a região autônoma da etnia Zhuang
de Guangxi. Desse modo, praticamente todo o
litoral chinês constituiu uma faixa econômica
aberta ao exterior.
Nos anos 1990, o governo chinês decidiu
abrir e explorar um grupo de cidades da bacia
do rio Chanjiang, tomando como “cabeça do
dragão” a nova zona de Pudong, em Shanghai;
abrir um grupo de cidades de fronteira e todas
as capitais provinciais do interior, instalando 15
zonas livres de direitos aduaneiros, 32 zonas
de desenvolvimento econômico e tecnológico
e 53 zonas de desenvolvimento industrial de
alta e novas tecnologias.
Esse conjunto de zonas abertas ao exterior
executam diversas políticas preferenciais visando
desenvolver a economia orientada para as exportações e assimilar tecnologias avançadas do
exterior. As cinco zonas econômicas especiais,
tendo por base o processamento de produtos e
as exportações, combinam indústria, comércio e
102
Negócios com a China
Fo
to
:
Gla
ube
r
Que
iroz
ciências e tecnologias, servindo
como laboratórios na absorção
de investimentos
e tecnologias, na
criação de novas
estruturas industriais e na disputa do
comércio internacional.
Shezhen e Pudong, por exemplo, realizam experimentos relacionados com
a gestão em moeda chinesa (renminbi ou
yuan) nas operações bancárias dos bancos estrangeiros, com os investimentos estrangeiros
não só na indústria, mas também no comércio
e serviços, e com o funcionamento de bolsas
de valores tendo, pois, ampliadas as políticas
preferenciais de atração de investimentos externos, que em geral consistem na redução e
isenção de impostos aduaneiros e impostos
sobre a renda.
Comércio internacional
Com a política de abertura ao exterior, o
comércio internacional da China saltou do US$
1,13 bilhão de dólares em 1950, para US$ 851
bilhões de dólares em 2003 e US$ 1,16 trilhão
em 2004. A exportação de produtos primários,
como agrícolas e minerais, baixou de 53,5%
em 1958, para 11,2% em 1998, enquanto a
dos produtos industriais subiu de 46,5% para
88,8%. Entre os produtos industriais atualmente exportados destacam-se os elétricos e
os mecânicos, com incidência cada vez maior
dos eletroeletrônicos.
Atualmente, o comércio exterior da China
deixou de ser realizado apenas por empresas
monopolistas do Estado, estabelecendo-se um
sistema através do qual o comércio exterior é
regulado pelos métodos econômicos de impostos alfandegários, taxas de divisas, créditos,
cotas etc. A grande maioria das empresas pode
exportar diretamente, sem grandes entraves
burocráticos, aumentando a confiança da China de que elas serão capazes de enfrentar os
desafios representados pela entrada do país na
Organização Mundial do Comércio – OMC.
CONHECENDO O PAÍS
Os imperadores
chineses mandaram
construir uma imensa
muralha, para
impedir a entrada
dos estrangeiros. Há
apenas 55 anos era
proibida a entrada
no Palácio Imperial.
Hoje, a Cidade
Proibida e a Muralha
da China são
utilizadas para atrair
turistas estrangeiros
de todo o mundo.
Para aproveitar ao máximo esses atrativos,
a China construiu uma diversificada infra-estrutura de turismo. Esta inclui uma variada gama
de meios de transportes turísticos aéreos, terrestres, marítimos e fluviais, internacionais e domésticos, mais de quatro mil hotéis classificados
por estrelas, uma imensa e diversificada gama
de restaurantes de todos os tipos e um comércio de peças artísticas e de artesanato capaz de
atender aos diferentes gostos. Com a multiplicação das agências de turismo, estatais, coletivas e
privadas, tem sido possível ofertar um receptivo
capaz de atender tanto ao crescimento do turismo proveniente do exterior (mais de 70 milhões
de visitantes anuais), quanto ao crescimento do
turismo interno (mais de 600 milhões anuais).
Foto: Milton Pomar
O setor turístico é hoje um dos mais importantes da economia chinesa. Com recursos turísticos muito variados, incluindo atrativos naturais (montanhas, rios, lagos, locais pitorescos
etc), históricos (cidades, museus, monumentos, sítios, ruínas, tumbas, palácios, templos,
estátuas etc), econômicos (negócios, zonas de
desenvolvimento, feiras, exposições etc), culturais (seminários, simpósios, universidades,
festivais, festas das etnias etc), entre os quais
se encontram alguns mundialmente famosos,
como a Grande Muralha, a Cidade Proibida e
o Exército de Terracota; a China pode oferecer
roteiros bastante diversificados pelas várias
regiões do país.
Foto: Glauber Queiroz
Turismo
Negócios com a China
103
104
Negócios com a China
RELAÇÕES BRASIL - CHINA
Um ano
significativo
Milton Pomar
A
pós 30 anos do estabelecimento
de relações diplomáticas, completados em 2004, o Brasil e a
China intensificaram de maneira
muito significativa a cooperação
comercial e em outras áreas, estabelecendo
contatos e intercâmbios universitários, culturais,
de ciência e tecnologia, esportivos, turísticos.
Desde o final dos anos 90, aumentaram de maneira impressionante as viagens de delegações
de governos e empresários entre os dois países,
e, causa e efeito, também o comércio exterior,
ano após ano, saindo de US$ 2 bilhões em 1997,
e devendo atingir US$ 10 bilhões em 2005.
Com as visitas recíprocas dos presidentes
Luiz Inácio Lula da Silva e Hu Jintao e as suas
respectivas missões empresariais, o ano de
2004 representou uma mudança importante
de patamar nas relações Brasil-China. Nesse
ano, ocorreram ainda duas outras iniciativas
importantes: a formação do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), e a 1ª Exposição do
Brasil na China, promovida pelo Instituto de
Cooperação Internacional (Icooi), com a participação de mais de 100 empresas.
Diversas entidades promoveram seminários
em 2004 – e continuam agora em 2005 – sobre
a China no Brasil, ou sobre o Brasil na China,
além do Icooi: as Câmaras de Comércio de São
Paulo (Câmara de Desenvolvimento Econômi-
co Brasil-China) e Rio de Janeiro (Câmara de
Indústria e Comércio Brasil-China), a Bolsa de
Mercadorias & Futuros, a Aduaneiras, a Internews, o Instituto Ícone, federações e sindicatos
da indústria e da agricultura, entre outras.
Os negócios bilaterais entre
o Brasil e a China
Embora tenham crescido nos anos mais recentes, ainda estão longe de fazer jus ao potencial de ambos os países. Isso se deve, em grande
medida, à desinformação que existe a respeito
das possibilidades de negócios entre os dois lados. Em termos gerais, como nas relações com
quaisquer outros países, as possibilidades de
negócios residem nas possibilidades de importações, investimentos na China, exportações e
atração de investimentos chineses para o Brasil.
Há um aspecto crucial nas relações entre o
Brasil e a China, que diz respeito às muitas e
enormes diferenças entre o desenvolvimento
econômico e social dos dois países nos últimos
25 anos. Entender essas diferenças é fundamental para a compreensão do que interessa
a ambos, em termos de cooperação econômica e em todas as outras áreas. A Federação
das Indústrias de São Paulo (Fiesp), em estudo
recém-elaborado a esse respeito, compara o
desenvolvimento do Brasil com o da China e
Negócios com a China
105
RELAÇÕES BRASIL-CHINA
Visão de longo prazo
P
ioneira na relação com a China, a CBMM
(Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) realizou em maio de 1979, em Beijing,
o primeiro de uma série de seminários e contatos
visando vender o mineral nióbio, para as siderúrgicas chinesas. A China já produzia muito aço (30
milhões de toneladas na época), mas pouco sabia
do nióbio. Antevendo o potencial desse mercado,
hoje 12 vezes maior (a estimativa para 2005 é da
produção chinesa alcançar 366 milhões de toneladas), a empresa decidiu investir na construção
de uma relação sólida e duradoura com a China.
Na publicação da empresa “CBMM na China
– 25 anos de cooperação técnica e comercial no
país que mais cresce no mundo”, editada em
maio de 2004, informa-se que a sua primeira
venda para a China “quase simbólica” só viria a
ocorrer em 1985, e somente a partir de 1995 ganharia um ritmo crescente.
A experiência peculiar da CBMM com esse
cliente tão especial ilustra bem o modus operandi
necessário para se trabalhar com a China (“Questões Práticas”, página 121): foram 63 missões à
China ao longo desses 25 anos, desenvolvendo
um programa de marketing tecnológico que consistiu em visitas freqüentes às usinas siderúrgicas
em todo o país; promoção de simpósios e seminários técnicos; concessão de bolsas de estudos
em universidades estrangeiras e no próprio país;
cooperação tecnológica com siderúrgicas, universidades e o Instituto de Pesquisas de Ferro e
Aço (CISRI); entre outras ações de cooperação.
A CBMM recebeu nesse período nada menos de
44 delegações da China, com mais de 200 integrantes – autoridades, dirigentes empresariais,
pesquisadores.
Ao investir dessa forma, estabelecendo parcerias com centros de pesquisa metalúrgica e a
indústria siderúrgica da China, a empresa brasileira CBMM fez muito mais do que apenas vender
um produto pouco conhecido e tão necessário
para o avanço tecnológico do aço. Ela fez parte,
desde o início, do processo de desenvolvimento
do país cujos resultados hoje causam espanto em
todo o mundo. Graças à sua persistência e visão
de longo prazo, a CBMM conquistou a China de
maneira duradoura.
106
Negócios com a China
a Índia, e procura explicar as razões das diferenças. Os números que apresenta revelam ter
havido uma redução da importância brasileira
no cenário mundial, com a sua participação no
PIB mundial caindo de 3,4% para 2,6%, entre
1980 e 2004, enquanto a China, no mesmo
período, teria passado de 3,2% para 13,6%, e
a Índia de 3,3% para 6%.
Intercâmbio com a
América Latina
A China mantém relações comerciais com
46 países da América Latina e seu comércio exterior com essa região vem crescendo, nos últimos anos, à taxa de 30% a.a. Em 1995, o comércio exterior da China com a região atingiu
US$ 6,1 bilhões. Passados dez anos, esse montante deverá chegar a mais de US$ 20 bilhões
em 2005. Entretanto, isso ainda representa um
comércio muito restrito, se considerarmos o
potencial econômico dos dois lados.
“Depois de dez anos de carreira e de rodar o mundo, Gisele
Bündchen tem agora um novo desafio: embarca hoje para
a China, onde fará uma sessão de fotos para a primeira revista
Vogue a ser lançada no país comunista. A modelo se mostrou
otimista. “Sempre quis conhecer a China”, disse ela durante
entrevista coletiva, após encerrar o quarto dia de desfiles
no Fashion Rio.” (Agência Estado, 13/06/2005)
A partir de 1996, a China vem adotando
uma nova orientação em seu comércio com
a América Latina, orientação que pode ser
sintetizada nos seguintes pontos: a) não limitar o comércio bilateral às importações e exportações; b) combinar esse comércio com a
cooperação bilateral nos setores industrial e
agrícola e na transferência tecnológica; c) realizar investimentos para estabelecer fábricas
de montagem (televisores, rádios, ventiladores, motocicletas e tratores) e processamento
(materiais farmacêuticos e vestuário) e para
exportar serviços; d) investir fundos e tecnologias em projetos de exploração de recursos
minerais, florestais, agropecuários e pesqueiros que a China necessita, para incrementar a
Negócios com a China
107
RELAÇÕES BRASIL-CHINA
importação desses recursos pela China e a exportação de produtos chineses para a América
Latina; e) estabelecer centros de distribuição
de mercadorias em cidades portuárias chinesas, para o transporte para a América Latina, e
oferecer serviços financeiros aos exportadores
e importadores, através do Banco da China, de
modo a facilitar inclusive a compra de pequenas quantidades de mercadorias chinesas; e f)
incrementar o conhecimento da China pelos
países latino-americanos.
Atuação do governo
brasileiro
Apesar do crescimento no comércio bilateral, seu volume é extremamente modesto para
o potencial econômico dos dois países. Há
muitos canais através dos quais o Brasil pode
acessar o mercado chinês e se beneficiar de sua
dinâmica de crescimento. Os empresários brasileiros deveriam programar-se com estratégias
de longo prazo, que combinassem a realização
de investimentos na China com a exportação
de produtos de demanda crescente. Ao mesmo
tempo, preparar-se para a inevitável tendência
de empresas chinesas investirem no Brasil e exportarem para o mercado brasileiro.
Missão empresarial
Os 460 empresários, de 315 firmas nacionais, que acompanharam a visita da comitiva
presidencial à China, no período de 24 a 27/05
de 2004, contribuíram para a realização bemsucedida da maior missão empresarial organizada pelo governo brasileiro em um país estrangeiro, segundo o Ministério das Relações
Exteriores (MRE). A avaliação positiva desses
empresários expressa nas respostas ao questionário do Departamento de Promoção Comercial do Ministério das Relações Exteriores
(DPC/MRE), e publicadas no relatório respectivo, confirma a importância de eventos assim
para intensificar a cooperação com empresas
daquele país: 72% declararam ter efetuado ou
encaminhado negócios com parceiros chineses, sendo 57,7% parceria, 34,6% exportação
e 7,7% importação.
108
Negócios com a China
“O setor têxtil já reclama dos produtos chineses
há tempos e ontem pediu ao governo brasileiro,
mais uma vez, a adoção de salvaguardas para
proteger empresas nacionais. O embaixador
da China no Brasil, Jinang Yuande, criticou
o reajuste de 71,5% no preço do minério
de ferro fornecido pela empresa brasileira
Vale do Rio Doce à chinesa Baosteel, que
negociou a compra do produto para uma
associação que reúne 13 siderúrgicas da China.
‘Para quem importou 200 milhões de toneladas
de minério de ferro no ano passado, esse
aumento significa muita coisa’, disse.
Segundo ele, o governo chinês não reclamou
para mostrar que é uma economia de mercado.
Mas ao lembrar que a Índia já ultrapassou
o Brasil como fornecedor desse produto para
a China e cobrar das empresas brasileiras mais
agilidade e agressividade de suas políticas com
o país, Yuande deu a entender que a Índia
poderia substituir o Brasil como fornecedora
de minério para os chineses.”
(Gazeta Mercantil, 02/05/2005)
“O Conselho da Indústria Têxtil chinesa admitiu
que as empresas locais terão que ‘fazer um
sacrifício’ em prol de uma ‘transição suave
para o comércio têxtil mundial’, depois da
eliminação das cotas da Organização Mundial
de Comércio em 1º de janeiro. Do conjunto de
148 grupos sobre os quais a China impôs, no
início do ano, uma tarifa inicial média de 1,3%,
um total de 74 categorias de produtos sofrerá
as novas restrições. Uma ampla variedade de
itens de vestuário terá a atual tarifa de 0,2 yuan
elevada para 1 yuan por unidade. Em algumas
categorias especialmente problemáticas, como
os agasalhos e capas femininas, Pequim elevou
para 4 yuans a tarifa unitária, alta de 1.233%
em cima da atual, de 0,3 yuan. A exportação
de fio de linho também será restrita, tal como
havia solicitado a União Européia. Com as
medidas, a China tenta acalmar os temores dos
EUA e da UE, que nos últimos dias reiteraram a
necessidade de colocar um freio na avalanche
de produtos têxteis chineses despejados em
seus mercados, onde ameaçam ‘provocar graves
distorções’”. (EFE, Beijing, 22/05/2005)
O atual excesso de capital (mais de US$ 620 bilhões de reservas) dificulta segurar
o crescimento chinês no patamar desejado de 7-8% ao ano, mas, por outro lado,
permite comprarem empresas gigantescas e investirem em todo o mundo.
Foto: Milton Pomar
Políticas atuais
Na primeira metade dos anos 90, o governo
chinês convencera-se de que um incremento de
10% ao ano no PIB exercia pressão demasiada
sobre as matérias-primas e a infra-estrutura,
alimentando tensões inflacionárias, polarizações de renda e outros fenômenos negativos.
Foi isso que o levou a mudar aquele ritmo de
alto crescimento para um crescimento de 7%
a 8% ao ano, moderadamente rápido, dando
mais atenção à qualidade e à eficiência e tendo
como forças motrizes as indústrias eletromecânica e de tecnologia de informação.
Também isso o levou a transferir o centro
do desenvolvimento das zonas litorâneas para
o Centro e o Oeste do país, que compreendem
cerca de 80% do território e onde viviam 64%
da população. E a adotar estratégias que trouxessem para primeiro plano a economia de recursos, sistemas compensatórios de utilização
dos recursos naturais e medidas ativas de proteção e recuperação ambiental.
Mas as crises financeiras de 97 a 99 apanharam os chineses em plena mudança de
foco. Além de abalarem a maioria dos países
asiáticos e terem efeitos devastadores sobre
a maior parte dos países em desenvolvimento
“A participação da Eletrobrás na Expo Brasil China,
evento realizado entre 31 de agosto e 3 de setembro,
em Beijing, marcou o início dessa nova fase de
consolidação de sua marca no estrangeiro. Dentro
dessa estratégia, a China apresenta oportunidades
ímpares, tanto pelo crescimento acelerado de sua
economia, como pelo desafio enfrentado pelo país
para expandir a sua capacidade energética.”
“O encerramento foi marcado pela presença
da ministra das Minas e Energia do Brasil, Dilma
Rousself, com uma breve análise sobre as relações
sino-brasileiras na área da energia. Falando em nome
do presidente Lula, a ministra ressaltou a importância
concedida pelo governo brasileiro ao potencial
de intercâmbios entre os dois países no setor do
turismo, agricultura, economia e na ascensão
do papel internacional da China”.“Minha presença
na China é uma continuidade da visita oficial que
o presidente Lula realizou a este País no mês
de maio. Naquele momento, os dois governos
entenderam que o setor de energia merecia uma
visita específica. Isto se deve, sobretudo, ao grande
potencial de complementaridade existente entre
os dois países e à atenção que concede o governo
brasileiro ao crescente papel da China no cenário
político e econômico internacional, pois se trata
de uma país dinâmico com uma economia capaz
de puxar o crescimento mundial.”
(Revista Eletrobrás, novembro de 2004)
Negócios com a China
109
110
Negócios com a China
RELAÇÕES BRASIL-CHINA
e atrasados, elas respingaram sobre a China,
obrigando-a a adotar medidas complementares
para manter o fluxo de investimentos externos,
o crescimento de suas exportações e a ampliação do mercado doméstico.
O programa de modernização do Centro e
do Oeste do país ampliou as facilidades ofertadas aos empresários estrangeiros e domésticos que investiram na região e aos técnicos
e trabalhadores especializados que aceitaram
deslocar-se para lá. Ao lado disso, o governo
central também adotou uma política fiscal ativa, lançando, na segunda metade de 1998,
100 bilhões de yuans (US$ 12,2 bilhões) em
títulos do Tesouro, e estimulando os bancos
a ofertarem outros 100 bilhões de yuans em
créditos para investimentos em infra-estrutura
e na construção de moradias.
Atração de investimentos
estrangeiros
A China possui uma política definida sobre investimentos estrangeiros em seu território, desde o final dos anos 70. O Conselho de
Estado aprovou um Guia para Investimentos
Estrangeiros, compreendendo três blocos de
investimentos: a) incentivados – aqueles para
os quais o Ministério do Comércio e Cooperação Econômica Internacional, a Comissão
Estatal de Economia e Comércio, e Comissão
Estatal de Planejamento estabelecem uma série
de incentivos e garantias; b) restritos – podem
ser aceitos dentro de determinadas condições.
Exemplo: investimentos estrangeiros em postos de gasolina só são permitidos para as autoestradas; e c) proibidos – relacionados com a
maior parte da indústria militar e com indústrias
e serviços que agridam ao meio ambiente.
Essa política é responsável, em grande medida, pela atração de investimentos diretos estrangeiros (IED) em volume recorde e direcionados para a produção industrial, em primeiro
lugar. Nesse período, o IED totalizou US$ 560
bilhões, e hoje quase 60% das exportações
chinesas são feitas por empresas estrangeiras,
percentual ainda maior (quase 90%) em produtos de alta tecnologia.
Guia de investimentos
Em 29/12/1997, entrou em vigor um novo
Guia revisado pelo Conselho de Estado. Por ele,
os investidores estrangeiros podem ser isentos
de tarifas e taxas de importações nos produtos
de valor agregado, para projetos que o governo
chinês encoraja e apóia. Dos 329 itens que compõem o Guia, 270 envolvem isenção de taxas,
constituindo as principais áreas incentivadas:
I – Agricultura, Silvicultura, Pecuária,
Piscicultura e Indústrias correlatas
1) recuperação de solos; 2) novas variedades agrícolas de alta produtividade (frutas, vegetais, flores); 3) cultivos sem solo; 4) florestas
e espécies de alta qualidade; 5) pecuária de
raças nobres, avicultura e piscicultura; 6) frutos aquáticos; 7) pesticidas; 8) fertilizantes de
alta concentração; 9) mantas protetoras; 10)
antibióticos; 11) anti-helmínticos; 12) aditivos
alimentares e recursos protéicos; 13) equipamentos para armazenagem, preservação,
congelamento e processamento de produtos
agrícolas e pecuários; 14) técnicas e produtos
mecânicos e químicos para o aproveitamento
de rejeitos florestais e bambus; 15) controle e
aproveitamento das águas; 16) equipamentos
de irrigação que economizam água; 17) maquinário agrícola; 18) melhoria e construção de
ambientes ecológicos.
“Em 2001, a indústria de carrocerias de ônibus
Marcopolo, depois de dois anos de negociação,
fechou acordo de exportação de tecnologia
para uma joint venture entre a Iveco e a CBC
(fabricante chinesa de ônibus), num contrato de
US$ 12,3 milhões.” (CartaCapital, 10/04/2002)
“A Embraco, empresa brasileira fabricante de
compressores para refrigeração, está na China
desde os anos 90, depois de negociar durante
dois anos. Desde 1995 possui uma fábrica na
China, com capacidade de produção de 1,7
milhão de unidades, seu faturamento atinge
US$ 50 milhões.” (CartaCapital, 10/04/2002)
Negócios com a China
111
RELAÇÕES BRASIL-CHINA
II – Indústria Leve
1) moldes para produtos não-metálicos; 2)
polpa de papel; 3) processamento de couro; 4)
baterias alcalinas e de lítio; 5) máquinas de costura; 6) filme poliamido; 7) preparados enzimáticos; 8) condimentos sintéticos; 9) tecnologia
de substituição do freon; e 10) diacetato.
Foto: Milton Pomar
III – Indústria Têxtil
1) polpa de lã; 2) têxteis especiais para uso
industrial; 3) fibra química de alta emulsão; 4)
aditivos, graxa e tintura para têxteis.
IV – Comunicação, Transportes
e Serviços de Correios e
Telecomunicações
1) equipamentos de transporte ferroviário
(locomotivas, sinalização, monitoração, instrumentação etc); 2) ferrovias alimentadoras e locais; 3) equipamentos mecânicos para rodovias
e portos; 4) subways urbanos e trens leves; 5)
rodovias e portos; 6) docas; 7) aeroportos civis;
8) equipamentos DCS/CDMA; 9) equipamentos de transmissão digital de sincronização fotônica e por microondas de 2,6 Gbs ou acima;
10) dispositivos de medição de 2,5 Gbs para
fotocomunicação, comunicação sem fio e comunicação de dados; 11) boards AMT.
O Brasil manteve-se em um patamar de exportações entre US$ 47 bilhões e US$ 57 bilhões, no período 1995-2001,
segundo a publicação “Balança Comercial Brasileira”, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do MDIC. A partir de
2002, a receita com as exportações ultrapassou a barreira
dos US$ 60 bilhões, saltando para US$ 75 bilhões em 2003
e US$ 100 bilhões em 2004, com saldos também crescentes,
respectivamente de US$ 15 bilhões, US$ 26 bilhões e US$ 35
bilhões. Essa performance positiva revelou a China como um
parceiro comercial de peso para o Brasil, 4º lugar nas compras
e vendas em 2004, com 6% de participação e um movimento
total próximo de US$ 10 bilhões. A publicação da Secex revela também que as exportações quase triplicaram a sua importância no PIB brasileiro, passando de 6,6% em 1995 para
16% em 2004. No mesmo período, o Brasil reduziu a sua participação nas importações mundiais, de 0,99% para 0,72%, e
aumentou nas exportações, de 0,92% para 1,11%.
112
Negócios com a China
“A Embraco, em 2003, planeja chegar aos
3 milhões de unidades na fábrica chinesa.”
(IstoÉ Dinheiro, 22/01/2003)
V – Indústria Carbonífera
1) minas de carvão; 2) minas de carvão por
lavagem; 3) carvão liquefeito; 4) recuperação
do carvão; 5) utilização de combustíveis de
baixo valor térmico; 6) dutos de transporte de
carvão; 7) gás dos leitos de carvão.
VI – Indústria Energética
1) usinas a vapor; 2) usinas hidrelétricas; 3)
usinas nucleares; 4) usinas a carvão com tecnologia limpa; 5) usinas com fontes alternativas
de energia (solar, eólica etc).
VII – Indústria Metalúrgica
1) fornos elétricos de alta potência; 2) fundição de aço inoxidável; 3) bobina de aço a frio;
4) chapas de aço a frio e a quente; 5) tubos de
aço para transporte de petróleo; 6) tratamento
de escaras de aço; 7) minas de ferro e manganês; 8) ferro gusa; 9) minas de terras afins; 10)
coque metalúrgico pesado; 11) coque seco.
VIII – Indústria de Metais não-ferrosos
1) silicone mono-cristalino; 2) ligas de zinco
e antimônio; 3) novos tipos de ligas não-ferrosas; 4) minas de cobre, chumbo e zinco; 5)
minas de bauxita; 6) aplicação de terras raras.
IX – Indústrias Petrolífera, Petroquímica
e Química
1. Mantas de soda cáustica; 2) etileno; 3)
corvic; 4) derivados do etileno; 5) ligas plásticas
6) matérias-primas para materiais sintetizados;
7) matérias-primas de química orgânica básica;
8) borracha sintética; 9) química fina; 10) titânio
clorídrico; 11) química do carvão como matéria-prima; 12) emprego dos gases de exaustão,
líquidos de descarga e rejeitos; 13) depuradores, catalisadores e outros dispositivos para gás
automotivo; 14) recuperação do óleo terciário
para emprego na recuperação petrolífera; 15)
tubulações, depósitos e piers de óleo e gás.
Foto: Milton Pomar
RELAÇÕES BRASIL-CHINA
X – Indústria Mecânica
1) robôs de alta performance para solda e
montagem em linhas de produção; 2) material isolante de altas temperaturas; 3) equipamentos de extração, carga de transporte em
minas em poço; 4) impressoras off-set multicolor; 5) equipamentos para limpeza em poços
e na produção de medicamentos; 6) conjuntos
compressores a turbina e máquinas de produção de amônia, uréia e etileno; 7) máquinas de
corte e fabricação de novos tipos de papel; 8)
instrumentos de medição de precisão on-line;
9) equipamentos e instrumentos para segurança e proteção ambiental; 10) medidores para
peças sobressalentes e materiais (chaves, sensores etc); 11) centro de pesquisa, desenho e
desenvolvimento de maquinaria básica; 12)
tecnologia servo-hidráulica e de selos e válvulas de controle pneumático; 13) instrumentos
de medição de furos e componentes matrizes
standard; 14) equipamentos de tratamento de
rejeitos industriais e biológicos; 15) rolamentos para motores; 16) peças para veículos; 17)
moldes para veículos e motocicletas; 18) peças
moldadas e forjadas para veículos e motocicletas; 19) centro de pesquisa, desenho e desenvolvimento para veículos e motocicletas; 20)
veículos para propósitos especiais (deserto etc);
21) sobressalentes para motocicletas; 22) instrumentos de detecção da qualidade da água;
O Programa Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres teve início em julho de 1988, quando foi assinado um acordo de cooperação entre Brasil e China para o desenvolvimento conjunto
de dois satélites de observação da Terra. O programa previa o
uso de recursos financeiros e da capacidade técnica dos dois
países para estabelecer um sistema de sensoriamento remoto
compatível com as necessidades de ambos. O Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Academia Chinesa de Tecnologia Espacial são as instituições responsáveis pela construção
e operação do satélite sino-brasileiro. O primeiro, CBERS-1, foi
lançado na China em outubro de 1999 e operou com sucesso
até agosto de 2003. O segundo satélite, CBERS-2, lançado em
outubro de 2003, já produziu mais de 100 mil imagens, usadas
em diferentes setores, servindo, por exemplo, para mapear o
reflorestamento da região amazônica, para detectar queimadas e dimensionar safras.
“O fumo brasileiro é outro produto bem aceito
no mercado chinês, a Souza Cruz foi, em 2002,
responsável por 20% das exportações, com
tendência a aumentar significativamente.
Nosso produto compete, no mesmo nível,
com os oriundos dos EUA e Zimbábue, porém,
com preço mais competitivo.”
(CartaCapital, 10/04/2002)
23) máquinas e equipamentos para prevenção
de enchentes e resgate de emergência; 24)
máquinas para movimentação de terra úmida
e encharcada; 25) equipamentos integrados de
processos de alimentação; 26) instrumentos e
equipamentos para a exploração petrolífera.
XI – Indústria Eletrônica
1) circuitos integrados de .35 micron ou
menores; 2) peças sobressalentes eletrônicas;
3) componentes fotoelétricos e sensores; 4)
computadores de grande e média capacidade;
5) TV digitais compatíveis, HDTV, vídeo tape
digital; 6) materiais semi-condutores e fotoeletrônicos; 7) novos tipos de displays; 8) CAD,
CAT, CAM, CAE de 3-dimensões e outros sistemas computadorizados; 9) equipamentos e
instrumentos eletrônicos especiais; 10) equipamentos e instrumentos de coleta de dados
hidrológicos; 11) equipamentos de comunicação por satélite; 12) equipamento digital
cross-linking; 13) equipamentos de controle
de tráfego aéreo; 14) discos e discos laser de
alta capacidade de estocagem; 15) novos tipos
de impressoras; 16) sistemas multimídia de comunicação; 17) fibra óptica single mode; 18)
equipamento de sistema de comunicação cutin; 19) novo equipamento de suporte para rede
de comunicação; 20) ISDN.
XII – Indústrias de Materiais de
Construção, Equipamentos e outros
Produtos Minerais não-ferrosos
1) vidro de qualidade fina; 2) porcelana sanitária; 3) novos materiais de construção; 4) cimento a seco; 5) facilidades para estocagem e
transporte de cimento; 6) fibra de vidro; 7) materiais e produtos não-orgânicos e não-metálicos; 8) materiais refratários; 9) vidro plano; 10)
Negócios com a China
113
RELAÇÕES BRASIL-CHINA
máquina de abertura de túneis subterrâneos;
11) equipamentos para esgotamento sanitário
de cidades; 12) plantadores de árvores; 13) máquinas para nivelamento e reparo de rodovias.
XIII – Indústria Farmacêutica
1) remédios químicos; 2) analgésicos e antipiréticos; 3) vitaminas; 4) anticancerígenos,
cárdio-vasculares e cérebro-vasculares; 5) novas
drogas medicinais; 6) aminoácidos; 7) materiais
de embalagem e contêineres para novos remédios e equipamentos farmacêuticos avançados;
8) novos remédios e dispositivos anticontraceptivos efetivos e econômicos; 9) tecnologia,
equipamentos e instrumentos de controle de
qualidade dos medicamentos tradicionais chineses; 10) tecnologia e equipamento de análise e extração da parte efetiva da medicina
tradicional; 11) medicamentos produzidos por
meio da engenharia genética; 12) novos tipos
de adjuvant; 13) reagentes para diagnóstico de
hepatite, Aids e doenças rádio-imunológicas.
“O Brasil é o maior exportador mundial de fumo e a China emerge
como o maior exportador de cigarros, em 2001 faturou US$ 320
milhões correspondentes a 20 bilhões de cigarros. Em 2005, prevê-se
atingir US$ 600 milhões.” (Gazeta Mercantil, 16/10/2002)
“A China Shipping Conteiner Lines (CSCL), iniciou operações no Brasil em 2005, segundo Valor Online. A empresa estatal de navegação, com sede em Shanghai, é a 8ª maior do
mundo no segmento de contêineres. Abriu escritório em São
Paulo e fechou parceria com a Oceanus, empresa de agenciamento marítimo da Lachmann, para representá-la nos portos
brasileiros. O início da operação da CSCL no Brasil está respaldada por uma joint venture entre os chineses, a francesa CMA
CGM, empresa que já atua no Brasil com escritório próprio, e
a argentina Maruba. Juntas, as três empresas vão operar uma
linha de navios “full container”, entre o Extremo Oriente e o
Brasil – portos de Rio Grande, Paranaguá, Santos e Rio de Janeiro. Na China, os navios farão escalas em Shanghai, Ningbo,
Hong Kong e Chiuwan.
O mercado nacional passa a contar agora com duas empresas
chinesas de grande porte – a recém-chegada CSCL, e a Cosco,
com escritórios em São Paulo e Santos, acordo de intercâmbio
de espaço nos navios com a Evergreen, de Taiwan, e operando
entre América do Sul, África do Sul e Extremo Oriente.
114
Negócios com a China
XIV – Indústria de Equipamentos
Médicos
1) máquinas de Raio-X computadorizadas;
2) endoscópio eletrônico; 3) tubos para uso
médico.
XV – Indústria Aeroespacial
1) motores de aviões; 2) sobressalentes para
aviões civis; 3) equipamentos de air-borne; 4)
turbinas a gás leve; 5) satélites civis; 6) cargas
de satélites civis; 7) sobressalentes para satélites civis; 8) técnica aplicada de satélites civis; 9)
foguetes portadores de satélites.
XVI – Novas Indústrias
1) tecnologia microeletrônica; 2) novos materiais; 3) engenharia genética; 4) técnicas de
redes de informação e comunicação; 5) técnicas de irradiação isotópica e laser; 6) tecnologia
de desenvolvimento da energia oceanográfica
e dos oceanos; 7) tecnologias de dessalinização
e uso da água do mar; 8) tecnologias de economia de energia; 9) tecnologias de reciclagem
e reaproveitamento dos recursos; 10) projetos
de despoluição ambiental e monitoramento
tecnológico.
XVII – Serviços
1) consultoria de informação sobre a economia internacional, ciência e tecnologia e
proteção ambiental; 2) manutenção pós-venda
de instrumentos e equipamentos de precisão;
3) construção de centros de nova e alta tecnologia e de desenvolvimento de novos produtos
e incubadoras de novas empresas.
XVIII – Projetos cujos produtos são
totalmente exportados
Qualquer projeto pode ser apreciado.
Novidades nos negócios
Várias empresas brasileiras instalaram fábricas na China, em associação com empresas e/ou governos locais. Muitas outras têm
comprado lá parte dos produtos que vendem,
a exemplo dos casos noticiados há pouco, da
Gradiente, que trouxe em 2004 um total de R$
175 milhões em aparelhos eletrônicos chineses
RELAÇÕES BRASIL-CHINA
Foto: Milton Pomar
Turismo exponencial
O moderno e o
tradicional convivem
prontos, vendidos com a marca da empresa; a
Gulliver, com metade do faturamento obtido
com brinquedos que ela mesma importou da
China; e a Hering, com jaquetas devidamente
etiquetadas com os dois peixinhos, feitas pelos
chineses.
Esses casos são uma pequena amostra
do que está ocorrendo nos Estados Unidos e
União Européia, cujas empresas se instalaram
na China há muitos anos, e hoje vendem para
os seus países os produtos que fabricam made
in China. Por que fazem isso? – Porque na China os custos de vida e de produção são muito
menores, a mão-de-obra jovem tem bom nível
educacional, a infra-estrutura de logística atende às necessidades exportadoras... (Certamente as empresas brasileiras WEG e Embraer, por
exemplo, levaram esses aspectos em consideração ao decidirem-se por formar joint-ventures com empresas chinesas).
na China em tudo,
dos carros de
última geração
às construções
milenares
– restauradas com
alta tecnologia
para atender ao
turismo crescente.
A Organização Mundial do Turismo estima
que a China seja, até 2020, o quarto maior
emissor de turistas do planeta, enviando ao
mundo 100 milhões de visitantes/ano, e o primeiro país em destino turístico do mundo. Com
o ADS (Status de Destino Aprovado), concedido
pelo governo chinês ao Brasil no final do ano
passado, o Ministério do Turismo estima que o
país passe a receber 100 mil chineses por ano
até 2007, segundo a assessoria de comunicação
da Embratur. (Isso se alguma empresa aérea nacional fizer ao menos um vôo direto diário para
a China, para multiplicar por sete o fluxo de
14.456 visitantes chineses em 2003, de acordo
com o Anuário Estatístico da Embratur.)
O ADS já foi concedido pela China à União
Européia e a 34 outros países, e permite que
empresas de turismo montem e vendam pacotes a chineses para visitarem o País, o que
no caso brasileiro só poderá ocorrer a partir de
agosto, ocasião da assinatura do documento.
Ainda de acordo com a Embratur, Lawrence Reinisch, responsável pela implantação do
Escritório de Turismo do Mercosul no Japão,
considera haver um interesse mundial no mercado chinês perfeitamente justificável: “A demanda reprimida é fortíssima. A China está se
tornando um país muito rico e o turismo de
lazer acompanhará o turismo de negócios. Um
bom termômetro é o aumento de frota e de
linhas das companhias aéreas chinesas, como
Air China, China Southern, China Eastern, Air
Shanghai e várias outras”.
Já foram escolhidas 25 agências brasileiras
para trabalhar na recepção aos turistas chineses no Brasil, através de comissão formada pelos ministérios do Turismo, Relações Exteriores e
Trabalho, mais a Embratur, Braztoa (Associação
Brasileira das Operadoras de Turismo) e a ABAV.
São elas: a Brasif, Tunibra, Travel shop, New line,
Odara, Blumar, Felline, Ambiental, Nascimento,
Ucb turismo, Go 4 brazil, Easing going, The way
travel, Brazilian fiesta, Del bianco, Happy holiday,
Golden foz, Biosfera eco-brasil, Opco tours, Tours
brasil, Itiquira turismo, Latinsina, Master turismo,
Orion travel e Yoshida agência de turismo.
Negócios com a China
115
RELAÇÕES BRASIL-CHINA
1ª Exposição do Brasil
Milton Pomar
Fotos: Glauber Queiroz
116
Negócios com a China
O
ano de 2004 foi marcado também
pela primeira Exposição do Brasil
na China, em Beijing, no Centro
Internacional de Exposições da
China (CIEC), o mais importante e bem estruturado centro de eventos de Beijing, de 31 de
agosto a 3 de setembro. Promovida pelo Instituto de Cooperação Internacional (Icooi), em
parceria com a empresa chinesa Beiao – responsável pela organização das Olimpíadas 2008
– e contando com o apoio da Embaixada do
Brasil, a 1ª Expobrasilchina foi realizada com
o patrocínio da Vale do Rio Doce, Grupo Eletrobrás, BWP, Petrobrás, Banco do Brasil, Embraer,
Infraero, Caixa Econômica Federal, Governo do
Mato Grosso do Sul e Aracruz Celulose.
Além dessas empresas, participaram da Expobrasilchina com estandes e nas demais atividades a APEX, os governos dos estados do Acre,
Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Tocantins,
o governo federal, Alimentos Fronteira, Cemil
– Cooperativa Mineira de Laticínios, Coocachaça, Garça Branca, Globaltek, Goiabrás, Madeireira Sorocaba, Marchetaria do Acre, Miragina,
Sulatina, Teralternat, TWI, os ministérios da Ciência e Tecnologia e dos Esportes, a Secretaria
Especial de Aqüicultura e Pesca, Unimex, BM&F,
Eletrobrás, Cgtee, Chesf, Eletronorte, Eletrosul,
Furnas, Itaipu Binacional, Eletronuclear, WTrade, Atrade Cargo do Brasil, Infraero, São Paulo
na China
Futebol Clube, Albar, Associação Brasileira de
Criadores de Zebu, e Track Link.
Participaram exclusivamente em workshops,
rodadas de negócios e seminários, também o
Coppe, MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Biblioteca Nacional,
Biscoito Fino, CV Ferreira Móveis, Cooperativa
Industrial e Comercial Ltda, Globaltek Comércio e Representação Ltda, Goiabrás – Associação
Brasileira dos Produtores de Goiaba, Lâminas e
Compensados TWI, Madeireira Garça Branca,
Madeireira Sorocaba, Nutriara Export, Petiplast Indústria e Comércio Plástico Ltda, RGS
Importadora, Sanesul, Tauil, Chequer & Mello
Advogados, Trade Point Campinas, e Wilfrido
Advogados.
O pioneirismo dessas empresas, entidades e
governos possibilitou ao Brasil iniciar em 2004
um ciclo de exposições dos seus produtos e
serviços na China. O fato da Expobrasilchina
apresentar-se ao meio empresarial e político
chinês na capital do País, ao invés de fazê-lo
em outra cidade importante, como Shanghai e
Guangzhou, por exemplo, contribui para isso, na
medida em que um dos seus objetivos é justamente o de apresentar o Brasil à China, e não
apenas um segmento da economia, um estado
ou região.
José Fritsch, secretário especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP), participou da 1ª Expo-
brasilchina representando o governo brasileiro junto com a ministra de Minas e Energia
(MME), Dilma Roussef. Para ele, “(...) foi importante a participação, como também de outras
áreas do governo. (...) vamos observar um
crescente processo de interação entre Brasil e
China, na área governamental, e também do
ponto de vista empresarial, das empresas que
estarão indo, daquelas que já foram e muitas
outras que irão participar desses eventos. Na
semana seguinte em que voltei da Expo, ouvi
de um empresário que ele já ia começar a exportar produtos para a China no mês seguinte.” O evento em Beijing proporcionou resultados importantes para a SEAP: “Tivemos a
oportunidade de realizar um seminário sobre
a área da pesca dentro da feira, apresentamos
aos empresários chineses e ao governo chinês
o nosso potencial de desenvolvimento do setor
pesqueiro e aqüícola no Brasil”. Fritsch destacou
ainda ter havido interesse significativo com relação ao desenvolvimento da piscicultura de
água doce: “A China é, hoje, o maior produtor
de peixe de água doce do mundo, tem tecnologia, conhecimento, práticas desenvolvidas
em várias espécies, e nós temos espécies que
são produzidas aqui e também na China. E oferecemos aos empresários e ao governo chinês,
a possibilidade de aproveitamento dos nossos
lagos, reservatórios de barragens, que hoje são
Negócios com a China
117
usados praticamente para geração de energia e
que poderão ser usados através da sistemática
de tanques-redes. A China já importa especialmente peixes produzidos no litoral brasileiro,
os quais nós, só agora, começamos a exportar”. “(...) Eles vão comprar o nosso pescado,
porque precisam consumir cada vez mais.”
Essa possibilidade de cooperação mútua
ocorre também na área de Energia, conforme
avaliação da ministra Dilma Roussef: “Existe um
grande potencial de intercâmbio entre os dois
países, no âmbito específico do MME podemos
destacar os seguintes itens: P&D em eficiência
energética; cooperação em projetos de G&T&D;
intercâmbio de tecnologias em energias renováveis; grandes hidrelétricas, biodiesel, etanol,
biodigestores, PCH’s e geração eólica; desenvolvimento acadêmico, formação e capacitação;
conservação e compensação ambiental; planejamento energético, comércio e investimentos;
universalização do acesso à energia elétrica; mineração e estudos geológicos; e construção de
infra-estrutura nesses setores.”
A ministra informou ainda ser o Brasil um
grande exportador de energia de forma indireta para a China, na venda de produtos minerais
e siderúrgicos.
Resultados concretos das ações brasileiras
na China em 2004, a Petrobrás e a Sinopec (sua
equivalente chinesa) assinaram um acordo de
cooperação estratégica, com vistas à identificação e desenvolvimento de oportunidades em
diversos segmentos da indústria de petróleo e
de gás natural no Brasil, como o projeto Gasene. Ainda na área de mineração, Dilma Roussef
destaca as parcerias da Companhia Vale do Rio
Doce para a exploração de alumínio no Pará e
Maranhão, e da Cosipa, na planta de pelotização de minério de ferro e alumínio.
Ao mostrar o potencial de negócios do Brasil na China, não poderia ficar de fora o “knowhow” brasileiro da “cadeia produtiva” do futebol. Por isso, o Ministério dos Esportes foi à
Expobrasilchina em parceria com o Clube dos
13 – Cruzeiro, Palmeiras, Atlético Paranaense,
Flamengo, Santos, alguns dos que enviaram
seus dirigentes ou materiais de divulgação produzidos especialmente para o evento. Newton
118
Negócios com a China
Fotos: Glauber Queiroz
RELAÇÕES BRASIL-CHINA
“O Banco Itaú BBA anunciou ontem a abertura de um escritório de
representação em Xangai, na China. ‘Estamos seguindo o movimento
dos clientes que, cada vez mais, estão fazendo negócios com a China’,
afirmou o vice-presidente da área internacional e de tesouraria do Itaú
BBA, braço de atacado do Banco Itaú, Eduardo Vassimon.
Das 1,1 mil empresas brasileiras que têm negócios com a China,
cerca de 180 são clientes do Itaú BBA, calculou o diretor de comércio
exterior, Luiz Henrique Campiglia.” (Valor, 15/06/2005)
RELAÇÕES BRASIL-CHINA
Oliveira, do Ministério dos Esportes, analisa a
participação dos grandes clubes na Expobrasilchina como uma iniciativa estratégica em
direção “(...) ao quarto mercado brasileiro de
exportações” e que esse trabalho com a China,
iniciado através do evento “(...) pode ser uma
ponte estratégica de ações bilaterais para a
cadeia produtiva do futebol” com aquele país.
Oliveira chama a atenção para importância do
futebol brasileiro “(...) uma das maiores expressões da identidade nacional”, destacando que
ele “(...) mostrou sua cara, de forma organizada, atraiu parcerias – “joint venture” na cidade
de Shenyang, formando o Liaoning São Paulo
Futebol Clube, já disputando o campeonato
nacional; centro de treinamento do Atlético
Paranaense em Shenzen, inaugurado na sequência da Expobrasilchina – e avançou em
questões como a regulação na oferta de jogadores e regras para intercâmbios de formação
em futebol de jovens atletas, temas sugeridos
na pauta da visita de reciprocidade do presidente Hu Jintao ao Brasil, em novembro”.
Lawrence Reinisch, gerente de turismo de
negócios da Embratur, concorda haver uma
grande oportunidade para a área esportiva brasileira na China: “Assim como já acontece com
o Japão, que traz meninos para aprender futebol aqui, também os chineses têm interesse em
fazer isso. E assim como o futebol, em outros
esportes, como o náutico, no qual o Brasil tem
um potencial enorme”. Destino competitivo a
partir da segunda viagem dos chineses ao Exterior, na opinião de Reinisch, o Brasil destaca-se, por suas opções de ecoturismo. “Sol e
mar, que é um grande atrativo do turismo no
Brasil, não o é para o turista chinês, ele não
tem o hábito de pegar sol” diz Reinisch, acrescentando: “O ecoturismo brasileiro é o diferencial (...). O interesse deles é a cultura, o futebol
do Brasil, além do ecoturismo, destinos como
Pantanal, Amazônia, Lençóis Maranhenses, Jalapão, Chapada Diamantina e tantos outros”.
Para Reinisch, “O grande problema é a questão
do transporte aéreo. Enquanto não houver um
vôo direto, apenas com escalas, entre Brasil e
China, fica muito difícil desenvolver um fluxo
turístico considerável”. “No ano passado, rece-
bemos 4,8 milhões de turistas do mundo todo.
Se conseguirmos 100 mil chineses, até daqui a
dois anos, será muito bom”, conclui Reinisch.
Outra área importante, para Eduardo de
Oliveira Martins, gerente da divisão de gestão
de parcerias e convênios da Diretoria de Comércio Exterior do Banco do Brasil, é o agronegócio, “setor isento de pirataria, e no qual
o Brasil é muito competitivo. Em função do
crescimento da importância das commodities
brasileiras na balança comercial, há uma demanda muito forte de investidores chineses,
inclusive com interesse de investir direto junto
às próprias empresas no Brasil, com o objetivo
de estabelecer um fluxo de fornecimento de
commodities para a China.” No ano passado,
o Banco do Brasil estabeleceu escritório em
Shanghai, e entende que sua presença física na
China representa um importante apoio para as
empresas brasileiras. Por isso, a sua participação na 1ª Expobrasilchina, no ano passado,
nas palavras de Martins: “a idéia era exatamente essa, a de prospectar o mercado local, fazer
contatos com banqueiros chineses interessados em manter parcerias com o banco, que
desenvolve uma série de ações voltadas para a
China especificamente”. Martins explica que o
Banco é membro do Conselho Empresarial Brasil-China, tem cadeira ativa no conselho, participa das decisões, das orientações estratégicas.
Está bem próximo do trabalho que vem sendo
feito, a partir do Brasil e junto com os parceiros
chineses, para identificar oportunidades de negócios para o empresariado brasileiro.
Negócios com a China
119
RELAÇÕES BRASIL-CHINA
Avanço qualitativo
R
elações entre países continentais,
populosos, com línguas totalmente
distintas, e tão distantes um
do outro, são naturalmente complexas.
Os serviços diplomáticos sempre são
insuficientes para dar conta de todas as
demandas, principalmente as de
natureza empresarial. Também
nesse aspecto, houve um
avanço qualitativo importante
em 2004, com a constituição
do Conselho Empresarial
Brasil-China (CEBC –
www.cebc.org.br).
120
Negócios com a China
Formalizado em julho, inicialmente com
45 empresas chinesas e brasileiras, um ano
depois já está com mais de 80 empresas e
entidades empresariais associadas.
Quando a secretaria executiva começou
a funcionar, em novembro, uma das
primeiras iniciativas foi elaborar uma
publicação da entidade, a “Carta da
China”, de periodicidade mensal (a nº 8
foi lançada no início de junho de 2005).
Renato Amorim, secretário-executivo
do CEBC, informa que o papel da entidade
é o de aproximação empresarial, produção
e difusão de informações (através do site,
da “Carta...”, dos seminários etc)
e elaboração de análises e estudos
econômicos, jurídicos e políticos,
visando a subsidiar a sua atuação
institucional nos dois países.
O Conselho “não faz negócios”,
enfatiza Renato Amorim.
Há interesse em trabalhar com
as universidades, em perspectivas
de médio e longo prazos, para
contribuir na formação de
profissionais com conhecimento
de China (a esse respeito,
Renato Amorim ilustra com uma
comparação: enquanto o Canadá
tinha 2.500 estudantes na China,
o Brasil se fazia presente com dez
estudantes), e na elaboração teórica
a respeito de diversos aspectos do
país. A programação de eventos para
2005 inclui ainda um seminário sobre
Competitividade Industrial, e, no final
do ano, uma conferência com especialistas
em Economia chinesa, na qual será
debatido como introduzir o fator China no
Planejamento Estratégico das empresas.
Estratégia
para os
primeiros contatos
Wladimir Pomar
E
laborar a estratégia de contatos
iniciais requer definir com precisão os objetivos que se pretende
alcançar, e para isso, o programa a ser cumprido, incluindo o
roteiro de visitas, a formalização dos convites
e, principalmente, a preparação dos projetos,
materiais informativos e propostas concretas.
Seja em visitas de aproximação, participação em
feiras, exposições e outros eventos, ou em visitas para contatos programados na China, sejam
contatos com visitantes ou potenciais parceiros
chineses em visita ao Brasil, os cuidados na preparação do programa devem ser os mesmos.
Nesse programa devem estar incluídos os
dias e horas despendidos em trânsito aéreo e
aeroportos, para embarque, desembarque, conexões e traslados. Dependendo da duração da
viagem em cada local, o tempo real para os contatos pode ser mais curto do que o desejado.
Então, a programação deve ser preparada de
acordo com as possibilidades de tempo real.
Negócios com a China
121
Fotos: Glauber Queiroz
QUESTÕES PRÁTICAS
QUESTÕES PRÁTICAS
Para ter uma idéia do mercado e das potencialidades gerais da China e do povo chinês será
importante, em cada cidade ou região visitada,
andar ao máximo. Visitar bairros centrais e também afastados. Pegar táxis e metrô. Entrar em
supermercados modernos e também em supermercados de bairro e mercados públicos. Visitar
lojas de departamento e pequenas lojas especializadas. Ir a campus de universidades e aos
estádios e ginásios esportivos. Comer em restaurantes de tipo ocidental e oriental, e em fast
foods ocidentais e chineses. Visitar pontos turísticos para ter uma idéia do turismo internacional
e do turismo interno. Ir a espetáculos circenses e
musicais. Enfim, ir a toda parte onde seja possível ter uma noção mais geral da China.
Para ter uma idéia específica sobre tal ou
qual mercado será necessário partir do interesse concreto. Por exemplo, para empresários das
áreas de confecções e calçados, talvez seja mais
vantajoso, além de andar pelas ruas, observando as modas, visitar as lojas de departamento, que apresentam uma grande variedade
de confecções, estilos, tecidos e preços praticados pelos produtores e consumidores chineses.
Para empresários da área eletrônica e computacional certamente será mais interessante visitar
lojas especializadas nesses produtos. E assim,
sucessivamente.
No entanto, para ampliar ainda mais o conhecimento dos mercados específicos, provavelmente é mais vantajoso combinar uma visita
de aproximação com a participação em alguma
feira, exposição ou outro evento relacionado
com a especialidade desejada. Ou, ainda, com
algum contato na área de interesse.
O importante, em qualquer dos casos, é definir e preparar o programa com antecedência.
O que pode exigir contatos com especialistas
em China e/ou guias chineses que possam organizar em detalhe o programa desejado, o que
inclui a definição do roteiro.
Fotos: Milton Pomar
Se o objetivo da viagem consiste em realizar uma aproximação com a China, ter um
conhecimento mais geral dela e de seu povo,
a programação deverá estar mais voltada para
o máximo de visitas representativas, isto é, visitas que dêem ao viajante uma idéia não só do
mercado e das potencialidades gerais da China
e de seu povo, mas também uma idéia do mercado específico de interesse do viajante.
122
Negócios com a China
Viajantes experientes movimentam-se nas grandes
cidades chinesas (metrô, táxi, lojas, restaurantes),
com mais facilidade do que se imagina, graças
à sinalização com o Pinyin, e, em muitos locais,
também em inglês. Com um intérprete é melhor, claro...
QUESTÕES PRÁTICAS
Definir o roteiro
A definição do roteiro inclui, além da rota
de viagem, as cidades onde o programa desejado deverá ser realizado. Para sair do Brasil com destino à China, há três rotas básicas,
apropriada para a região de destino: a) através
do Oceano Pacífico, via a costa Oeste dos Estados Unidos e o Japão ou a Coréia – quem tem
Beijing, ou outra cidade do Norte ou Nordeste
do país, como ponto de entrada na China, essa
rota de mais de 28 horas no ar pode ser utilizada com vantagem, tendo em vista o número de
vôos dos Estados Unidos para a região; b) via
Europa (Frankfurt, Paris, Londres, Milão, Roma
ou Zurique), com entrada pelo Centro-Norte
da China e duração de 25 a 27 horas no ar; e c)
pelo Sul da China (Hong Kong ou Guangzhou),
a rota mais apropriada é pelo Atlântico Sul, via
Johannesburg, na África do Sul, com 21 a 22
horas no ar.
É evidente que os preços ofertados pelas
companhias aéreas podem compensar viagens
mais longas ou mais curtas. De qualquer modo,
qualquer que seja a opção final da rota, vale a
pena dar uma parada na cidade de conexão
para um descanso e adaptação à mudança do
fuso horário.
Ao chegar, deve-se levar em conta que,
mesmo visitando-se todo o país e tendo contato com as mais diferentes nacionalidades e
grupos sociais e culturais, a visão do país e de
seu povo serão parciais, em virtude de sua ex-
Hong Kong e Macau são “regiões
administrativas especiais”, e devem
permanecer nessa condição ainda por
muitos anos. Para viajantes estrangeiros, significa na prática que há necessidade de solicitar mais uma entrada no
visto, caso se pretenda visitá-las e depois voltar para a China continental.
As cidades de Beijing, Chongqing,
Tianjin e Shanghai são municípios administrados pelo governo central. Guangxi
Zhuang, a Mongólia Interior, Ningxia
tensão territorial, número e diversidade de sua
população.
Nessas condições, reduzir a visita a uma
cidade aos contatos de negócios agendados.
Nossa sugestão é que sejam visitadas pelo
menos duas grandes cidades (acima de 10 milhões de habitantes, como Shanghai, Beijing,
ou Chongqing), uma cidade média (de 2 a
10 milhões de habitantes, como Hong Kong,
Guangzhou, Hangzhou, Shenzhen, Shaoxing,
Tianjin, Xian, Shenyang ou outras 12 semelhantes) e, a partir de uma delas, excursionar
até a zona rural próxima, onde será possível
encontrar desde povoados ou cantões de 50
mil pessoas até “pequenas” cidades de cerca
de 500 mil habitantes.
RAROS PAÍSES NO MUNDO REÚNEM TANTA DIVERSIDADE
CULTURAL E TANTOS ATRATIVOS TURÍSTICOS. VIAJAR À
CHINA E RESTRINGIR-SE AOS CONTATOS DE NEGÓCIOS,
DESPERDIÇANDO A OPORTUNIDADE DE CONHECER UM
POUCO O PAÍS, É RUIM INCLUSIVE PARA OS NEGÓCIOS.
A escolha das cidades deve ser realizada
com antecedência, assim como as passagens
aéreas (ou ferroviárias) e reservas de hotéis em
cada uma delas, devem ser acertadas juntamente com a aquisição das passagens internacionais. Isso reduz custos e permite sair do Brasil com todas as principais indicações de vôos e
locais de estadia definidos.
Hui, Xinjiang Uygur e o Tibet são regiões autônomas. Finalmente, há ainda
23 províncias (estados), com enormes
diferenças étnicas e de tamanho da população, grau de desenvolvimento econômico e social, distância das maiores
cidades com portos marítimos etc.
O quadro a seguir apresenta as populações (2002) das províncias e respectivas sedes de governo, com as distâncias e o tempo de vôo direto de Beijing
a cada uma delas.
Foto: Milton Pomar
Negócios com a China
123
QUESTÕES PRÁTICAS
Províncias
População
Governo
milhões
Anhui
63,4
Fujian
34,7
Gansu
25,9
Guangdong
78,6
Guizhou
38,4
Hainan (ilha)
8,0
Hebei
67,4
Heilongjiang
38,1
Henan
96,1
Hubei
59,9
Hunan
66,3
Jiangsu
73,8
Jiangxi
42,2
Jilin
27,0
Liaoning
42,0
Qinghai
5,3
Shaanxi
36,7
Shandong
90,8
Shanxi
32,9
Sichuan
86,7
Yunnan
43,3
Zhejiang
46,5
Taiwan (ilha)
Municipalidades
Beijing
11,4
Chongquing
31,2
Tianjin
Shanghai
13,3
Regiões autônomas
Guangxi Zhuang
Mongólia Interior
Ningxia Hui
Xinjiang Uygur
Tibet
Sede do
governo
Hefei
Fuzhou
Lanzhou
Guangzhou
Guiyang
Haikou
Shijiazhuang
Harbin
Zhengzhou
Wuhan
Changsha
Nanjing
Nanchang
Changchun
Shenyang (1)
Xining
Xi´an
Jinan
Taiyuan
Chengdu
Kunming
Hangzhou
Taipé
Beijing
Chongquing
Tianjin
Shanghai
Nanning
Hohhot
Yinchuan
Urumqi
Lhasa
População
milhões
4,5
6,0
3,0
7,2
3,4
0,6
9,0
9,5
6,5
7,7
6,0
5,6
4,5
7,1
6,9
2,0
7,0
5,8
3,2
10,3
5,0
6,4
9,2
3,0
2,1
1,3
1,8
n.d.
Tempo
de vôo
02h00
02h00
02h00
03h00
03h00
05h00
- de 1h
01h40
01h00
02h00
02h00
01h40
02h00
01h30
01h00
Distâncias (km)
Ferrovia
Rodovia
1.106
1.100
2.344
2.183
2.000
1.780
2.400
2.480
2.600
2.458
02h30
01h50
01h00
03h00
03h00
02h30
295
1.392
722
1.300
1.650
1.141
1.609
1.100
780
2.260
1.200
457
622
2.400
3.510
1.520
270
1.296
720
1.230
1.640
1.099
1.574
1.030
698
2.010
1.117
420
500
2.097
3.108
1.490
02h10
- de 1h
02h00
2.400
137
1.490
2.087
120
1.394
2.650
594
1.300
3.768
2.660
540
1.277
3.820
3.890
01h00
04h10
(Fonte: Elaboração a partir da Síntese Estatística da China 2003, in “Como Exportar para a China, 2ª edição, 2004”.)
Se o viajante ou viajantes brasileiros tiverem
domínio da língua inglesa, a rigor não precisarão de receptivos nos aeroportos ou de guias em
suas andanças, principalmente para as visitas de
aproximação. Basta obter nos balcões de informações dos aeroportos o nome e o endereço
do hotel em Pinyin e mostrá-lo para o motorista
do táxi. As ruas e avenidas têm placas bilíngües
(chinês e inglês), há mapas também nas duas
línguas, e os recepcionistas dos hotéis estão
sempre prontos a escrever em chinês os nomes
e endereços dos locais para onde se quer ir.
124
Negócios com a China
No entanto, se os viajantes desejarem guias
para facilitar seus deslocamentos e contatos
em cada cidade, também é possível contratálos com antecedência através de empresas especializadas e das agências de viagem. Guias
chinês-inglês são encontráveis em toda a China
e na maioria das grandes empresas. Guias chinês-português são mais fáceis de encontrar em
Beijing e Shanghai. Nas outras cidades é mais
fácil encontrar guias chinês-espanhol.
Assim, com o programa e o roteiro definidos, é preciso formalizar os convites.
QUESTÕES PRÁTICAS
Formalizar os convites
Para brasileiros entrarem na China, assim como
para chineses entrarem no Brasil, é necessário obter o
visto de entrada na embaixada da China, em Brasília,
ou nos consulados daquele país no Rio de Janeiro ou
São Paulo. Em ambos os casos, brasileiros e chineses
precisam cartas-convite para que os serviços consulares emitam os vistos. Os brasileiros precisam solicitar à
instituição ou empresa chinesas, com a qual iniciaram
algum tipo de contato, a carta-convite, contendo o
nome, data de nascimento, cargo ou função e número
do passaporte, de cada uma das pessoas que viajarão.
A carta também pode ser providenciada através das
empresas especializadas nos contatos com a China ou
das agências de viagem.
Com a carta-convite (que pode ser enviada via fax),
o passaporte e uma foto 3x4, basta preencher o formulário de solicitação para visto, fornecido pelos serviços consulares chineses, e dar entrada, pagando a
respectiva taxa. Geralmente os vistos são concedidos
em uma semana.
Preparar os projetos, informações e
propostas
Nos casos de viagens visando entabular conversações de negócios, principalmente quando tais negócios
se referem a investimentos ou acordos de cooperação
de qualquer tipo, é essencial preparar os projetos respectivos, organizar todas as informações necessárias
para fundamentá-los e definir claramente as propostas
a serem feitas em relação ao que se pretende.
Isso não significa viajar com todos os materiais
que compõem um projeto, que muitas vezes incluem
plantas, planilhas e uma série de outros documentos.
Quando nos referimos a preparar um projeto para as
conversações iniciais, estamos falando de algumas
poucas páginas que tenham, de forma sintética, a descrição do objeto, objetivo, justificativa, capital envolvido, viabilidade e forma de associação ou cooperação
prevista para o projeto. Ou seja, um tipo de documento que dê uma visão sintética, mas clara, do projeto.
As informações que justificam e embasam o projeto também devem estar reunidas de forma resumida,
mas organizadas de tal modo que possam responder
prontamente às questões-chaves relacionadas com o
mercado que o projeto pretende atender, os custos
de produção e preços competitivos, os concorrentes,
a legislação, os possíveis incentivos e outros itens
pertinentes.
Quanto às propostas, elas se referem principalmente às formas de cooperação ou associação entre empresas brasileiras e chinesas. Estas têm preferência por
acordos de cooperação e pelo estabelecimento de joint
ventures. Em qualquer dos casos, será necessário ter
claro as diversas opções possíveis de serem negociadas,
de modo que as negociações possam fluir com mais
transparência e segurança. As cópias dos projetos,
informações e propostas devem ser apresentadas em
inglês. No caso de algum tipo
de acordo, será necessário
prepará-lo em versões
nas línguas chinesa
e portuguesa,
o que exigirá a
participação
de um
brasileiro
que domine
bem o mandarim.
Negócios com a China
125
QUESTÕES PRÁTICAS
Sites
Embaixada da República Popular da China no Brasil – www.embchina.org.br
Consulados
Rio de Janeiro – www.consulado-china-rj.org.br
São Paulo – www.embchina.org.br
Brasil
Embaixada do Brasil na China
www.emb-brazil.org.cn
China
Centro de Cooperação Econômica da China
[email protected]
Corporação Geral de Agricultura, Indústria e Comércio
[email protected]
Administração Nacional de Turismo – www.cnta.com
Birô Nacional de Estatística (em chinês)
www.stats.gov.cn
China Central Television – www.cctv.com
Informações Gerais (em espanhol) – www.china.org.cn
Ministério da Ciência e Tecnologia – www.most.gov.cn
Ministério das Relações Exteriores – www.mre.gov.br,
www.braziltradenet.gov.br e www.braziltradenet.com
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
– MDIC – www.portaldoexportador.gov.br
www.desenvolvimento.gov.br
www.aliceweb.desenvolvimento.gov.br
Agência de Promoção de Exportações do Brasil
www.apexbrasil.com.br
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social – www.bndes.gov.br
Sistema de Informações Barreiras Técnicas (Sisbatec)
www.barreirastecnicas.com.br
Informações sobre a China e links para jornais
www.chinatoday.com
Ministério da Cultura (em chinês) – www.ccnt.gov.cn
BWP – Projetos e Consultorias Brasil-China
www.bwpsa.com.br
Ministério da Educação (em chinês) – www.moe.edu.cn
Informações sobre a China – www.negocioschina.com.br
Ministério das Comunicações (em chinês)
www.moc.gov.cn
Informações sobre a Cultura da China
www.chinaonline.com.br
Ministério das Relações Exteriores – www.fmprc.gov.cn
2ª Exposição do Brasil na China
www.expobrasilchina.com.br
Ministério do Comércio Exterior e Cooperação
Econômica – www.moftec.gov.cn
Projeto Governo On-line (em chinês)
www.govonline.cn
Estatísticas – www.stats.gov.cn
Bureau Estatal de Cereais – www.chinagrain.gov.cn
Bureau de Assuntos Expert Foreign
www.safea.gov.cn
Informações Econômicas – www.cei.gov.cn
Macroeconomica – www.macrochina.com.cn
Agricultura – www.agri.gov.cn
Oferta e Demanda Agrícola – www.agrisd.gov.cn
Agric Guide – www.agro-guide.com.cn
Cooperação Econômica e Comércio Exterior Agrícola
www.cafte.gov.cn e www.fecc.agri.gov.cn
Exposições e Feiras –
www.2t2.net; www.chinafair.com.cn; www.cce.net.cn
Feira de Cantão – www.cantonfair.org.cn
126
Negócios com a China
Icooi – Instituto de Cooperação Internacional
www.icooi.org
Conselho Empresarial Brasil-China – www.cebc.org.br
Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China
www.ccibc.com.br
Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico
www.cbcde.org.br
Outros
Organização Mundial do Comércio (OMC)
www.wto.org
Negócios com a China
127
PARA CONHECER MAIS
Filmes chineses ou sobre a China
A Casa das Adagas Voadoras (Shi mian mai fu). Direção: Zhang Yimou. China, 2004.
Plataforma (Shijie). Direção: Jia Zhang-Ke. China, 2004.
Guerreiros do Céu e da Terra (Tian Di Ying Xiong). Direção: He Pingi. China, 2003.
Lembrança de Taiwan (Taiwan wangshi). Direção: Zheng Dongtian. China, 2003.
Prazeres Desconhecidos (Ren xiao yao). Direção: Jia Zhang-Ke. China, 2002.
Herói (Ying xiong). Direção: Zhang Yimou. China, 2002.
Happy Times (Xingfu Shiguang). Direção: Zhang Yimou. China, 2002.
Chefe (Shouxi zhixingguan). Direção: Wu Tianming, China, 2002.
Voltando da Amazônia (Chongchu Yamaxun). Direção: Song Yeming. China, 2002.
Balzac e a Costureirinha Chinesa. Direção: Sijie Dai. China/França, 2002.
A Certidão de Casamento (Shui shuo wo bu zai hu). Direção: Huang Kianxin. China, 2001.
Pavilhão de Mulheres. Direção: Yim Ho. China, 2001.
O Tigre e o Dragão (Wo hu cang long). Direção: Ang Lee. China, 2000.
Amor Azul. Direção: Huo Jianqi, China, 2000.
Suspiro (Yi sheng tan xi). Direção: Feng Xiaogang. China, 2000.
Amor do Rio Amarelo (Huang He Jue Lian). Direção: Feng Xiaoning, China, 1999.
O Caminho para Casa (Wo de fu qin mu qin). Direção: Zhang Yimou. China, 1999.
Meu 1919 (Wode 1919). Direção: Huang Jianzhong. China, 1999.
Nenhum a Menos (Yige dou buneng shao). Direção: Zhang Yimou. China, 1999.
Banhos (Xizhao). Direção: Zhang Yang. China, 1999.
Quebrando o Silêncio (Piao liang ma ma). Direção: Sun Zhou. China, 1999.
Carteiros das Montanhas (Nashan Naren Nagou). Direção: Huo Jianqi. China, 1998.
A Guerra do Ópio (Yapian zhanzheng). Direção: Xie Jin. China, 1997.
Cores dos Cegos (Hei yanjing). Direção: Chen Guoxing, China, 1997
Keep Cool (You hua haohao shuo). Direção: Zhang Yimou. China, 1997.
O Rio (He liu). Direção: Tsai Ming-liang. Taiwan, 1996.
Operação Shanghai (Yao a yao yao dao waipo qiao). Direção: Zhang Yimou. China, 1995.
Tempos de Guerra (Nan Jing yi jiu san qi). Direção: Wu Ziniu. China, 1995.
Tempos de Viver (Huozhe). Direção: Zhang Yimou. China, 1994.
Comer, Beber, Viver (Yin shi nan nu). Direção Ang Lee. Taiwan, 1994.
Adeus à Minha Concubina (Ba Wang Bie Ji). Direção: Chen Kaige. China, 1993.
O Banquete de Casamento (Hsi yen). Direção: Ang Lee. Taiwan, 1993.
A História de Qiu Ju (Qiu Ju da guansi). Direção: Zhang Yimou. China, 1992.
A Vida sobre um Fio (Bian Zou Bian Chang). Direção: Chen Kaige. China, 1991.
Lanternas Vermelhas (Da hongdenglong gaogao gua). Direção: Zhang Yimou. China, 1991.
Amor e Sedução (Ju dou). Direção: Zhang Yimou. China, 1990.
Codinome Cougar (Daihao meiguobao). Direção: Zhang Yimou. China, 1989.
O Último Imperador. Direção: Bernardo Bertolucci. Itália, 1988.
O Império do Sol. Direção: Steven Spielberg. EUA, 1987.
O Sorgo Vermelho (Hong gaoliang). Direção: Zhang Yimou. China, 1987.
O Império do Meio. Direção: Walter Salles. Brasil, 1986.
Terra Amarela (Huang Tu Di). Direção: Kaige Chen. China, 1984.
128
Negócios com a China
Referências bibliográficas
A bibliografia existente no Brasil sobre a
China é pequena, com “duas fases” nítidas: a
dos anos 1960-80, mais voltada para a análise
histórica e política do que ocorrera e do que estava ocorrendo, e a dos anos 1990 em diante,
analisando o fenômeno das Reformas iniciadas em 1980 e, principalmente, descrevendo
a China atual, isoladamente, ou no contexto
asiático ou mundial.
As grandes livrarias em Beijing,
Shanghai e Guangzhou têm seções
de livros estrangeiros. Nelas é possível comprar livros novos sobre
a China em espanhol, inglês e
em outras línguas. Nas livrarias
do aeroporto de Hong Kong há
muitos títulos sobre a China em
inglês, inclusive guias do país.
AIPING, Yuan. Ouça, fale, leia e escreva chinês para brasileiros. Rio de Janeiro :
Editora Brasil-China, 2004.
AIPING, Yuan. Eu vou para a China. Rio de Janeiro : Editora Brasil-China, 2005.
AMIN, Samir. O futuro do maoísmo. São Paulo : Ed. Vértice, 1986.
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BEAUVOIR, Simone de. A longa marcha. São Paulo : IBRASA, 1963.
BEZERRA, Holien Gonçalves. A revolução chinesa: a China contemporânea. São Paulo : Atual, 1986.
BLOODWORTH, Dennis. A imagem da China. Rio de Janeiro : Bloch, 1969.
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Negócios com a China
129
QUESTÕES PRÁTICAS
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Press, 2005.
ZHIHONG, Pan & CHI, Pan. Investing in China: Questions and Answers. Beijing : Foreign Language Press, 1999.
Mapas à venda no Brasil:
China – World Map / Geocenter – Escala 1.4.000.000
China – Periplus / TravelMaps – Escalas: China – 1.8.000.000 / Beijing Área – 1:500.000 / Shanghai Área – 1:2.000.000 / Pearl
River Delta – 1:1.000.000; apresenta ainda as plantas das cidades de Beijing, Shanghai, Hangzhou, Suzhou e Guangzhou
130
Negócios com a China
Paciência chinesa
para estudantes
de mandarim
Tudo bem? Ou, em mandarim, nĭ hăo ma?
O
filme “Herói”, lançado no início de 2005
nos cinemas brasileiros, revela um aspecto fascinante da complexa cultura chinesa: a
sua escrita. O imperador chinês, no filme, se
pergunta como conseguir unificar um país, no
qual uma mesma palavra poderia ser escrita de
vinte maneiras diferentes.
A comunicação oriental, baseada em caracteres (ideogramas), tem lógica muito distinta
da ocidental. Suas construções são carregadas
de sentido e combinações. No caso chinês, o
mandarim (língua oficial do país, falada por
mais de 800 milhões de pessoas) antigo tem
um conjunto de 50 mil caracteres, e o moderno
resume-se hoje a sete mil caracteres, o que ainda é muito. Para se entender bem o que se fala
e escreve na China atual, há necessidade de se
dominar de três a quatro mil ideogramas.
O computador colocou a necessidade de
traduzir essa linguagem de caracteres para o
teclado. Para resolver este problema, e colaborar com o aprendizado em grande escala, os
chineses criaram o método Hànyŭ Pīnyīn (ou
simplesmente Pinyin), que utiliza o alfabeto
romano e acentos na escrita. Na digitação, associado às letras, estão os números de 1 a 4,
após as partículas das palavras, para distinguir
os tons. Na China, o Pinyin é usado em placas
de rua, mapas, livros educacionais e livros didáticos para estrangeiros.
Curiosamente, no mandarim o verbo não
é conjugado. Fácil, não? Nada disso, entre as
principais dificuldades está a fonética, para cada
partícula da palavra há até quatro tons diferentes. Às vezes encontramos grafias idênticas,
com tons diferentes, o que resulta em significados também diferentes. A pronúncia requer um
certo esforço dos ocidentais, para diferenciar os
tons; o mesmo vale para o que se ouve: a “sin
tonia fina” dos ouvidos deve permitir a
exata compreensão do
que foi dito. Não há, no
mandarim, absolutamente
nenhum som conhecido para
quem fala línguas latinas.
Atualmente há cursos de
mandarim nas maiores
cidades, com professores particulares, em
escolas de idiomas, e em
algumas universidades. Os alunos são
profissionais liberais, executivos de empresas de
segmentos variados, universitários com interesse na Ásia, ou na China em particular, e profissionais e esportistas interessados em participar
das Olimpíadas 2008, em Beijing. Infelizmente,
ainda não há dicionário mandarim-português.
Segundo Ming Tsung Wu, professor da Escola Mandarim, em São Paulo, as novas vagas
estão disputadas. Sua escola preparou um curso de quatro anos, com material próprio, sendo
quatro módulos para o nível básico, dois para o
intermediário e mais dois para o avançado. Totalizam 288 horas/aula, com a orientação para
o mesmo número de horas em estudos fora da
sala de aula.
Para os brasileiros que, a exemplo dos orientais, procuram fazer planos de longo prazo, o
mandarim é uma boa opção de investimento
no futuro profissional, em qualquer área. Requer apenas paciência, muita paciência, e perseverança para ir até o final, porque, como dizia um antigo líder chinês, uma longa marcha
começa com o primeiro passo.
Rogério Chaves
Bacharel em Ciências Sociais pela PUC-SP,
atualmente estuda mandarim.
Negócios com a China
131
Cursos de Mandarim
Essa lista está incompleta. Novos cursos estão surgindo, em várias cidades
do Brasil, em universidades ou escolas livres. Acesse o site da 2ª Exposição do
Brasil na China (www.expobrasilchina.com.br) e atualize-se.
Aprender Chinês – www.aprendachines.com.br
Centro Social Chinês do Rio de Janeiro – (21) 222 1012
Centro Social Chinês de São Paulo – (11) 3104 6442
Centro Taoísta Chinês – www.centrotaoista.com – (11) 3341 7569 e 8164 1338
Chinbra – www.chinbra.com.br – (11) 3675 6898 e 3672 5881
Cia. de Idiomas – www.companhiadeidiomas.com.br – (11) 5549 5349 - 5572 2447
Escola Mandarim – www.mandarim.net – (11) 5904 3388
Mandarim Comunicação – www.mandarim.com.br – (11) 3337 5366 e 3337 5633
Senac RS – www.senacrs.com.br – (51) 3212 4444
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – www.ufrgs.br – (51) 3316 6701
Unisinos – www.unisinos.br – (51) 591 1122
Universidade de Caxias do Sul – www.ucs.br – (54) 218 2435
Universidade Federal de Minas Gerais – www.ufmg.br – (31) 3499 5000
Universidade de Brasília – www.escoladelinguas.unb.br – (61) 323 2939/1091
Universidade de São Paulo – www.fflch.usp.br – (11) 3091 4645
“Os nomes chineses são muito difíceis de serem pronunciados pelos ocidentais. A dificuldade
aumenta com os dois sistemas de romanização
dos caracteres chineses: Wade-Giles e Pinyin.
O Wade-Giles, o primeiro sistema amplamente
utilizado, foi criado entre o final do século 19 e
começo do século 20 por dois sinólogos britânicos. Criado para um público europeu, ele era relativamente fácil para os ocidentais. Na primeira
metade dos anos 1900, a China começou a desenvolver um sistema de romanização baseado
no dialeto de Pequim que refletiria mais precisamente as pronúncias chinesas. Após a criação da
República Popular da China em 1949, o trabalho
se intensificou. A nova versão, chamada Pinyin, se
tornou oficial em 1979. (Taiwan adotou o Pinyin
apenas em 2002). Durante a década de 1980, o
Pinyin se tornou amplamente usada pela comunidade internacional, inclusive pela mídia falada e
132
Negócios com a China
escrita e pelo governo dos EUA. Foi nessa época
que Pequim - a grafia original britânica para a cidade - mudou para Beijing.
Outros fatores complicam a transliteração dos
nomes e palavras chinesas. Por exemplo, Yangtze
(ou Yangzi), derivado do antigo feudo de Yang,
é o nome mais reconhecido no ocidente para o
famoso rio da China. Em Pinyin ele é chamado
Chang Jiang, em Wade-Giles Ch’ang Chiang, ambos significando “rio comprido”.
Enquanto o método chinês da escrita de um
nome segue a regra do sobrenome antes do nome,
naturalizados americanos geralmente preferem ter
o sobrenome por último - como os arqueólogos K.
C. Chang e Zhichun Jing. Se você encontrar um
nome de uma sílaba, como Tang ou Jing, ele é
um sobrenome. Um nome com duas sílabas, como
Jigen ou Zhichun, é um primeiro nome.” (National
Geographic, www.nationalgeographic.pt)
Negócios com a China
133
Foto: Milton Pomar
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Negócios com a China
Negócios com a China
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A EXPOSIÇÃO DO BRASIL NA CHINA
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w w w. e x p o b r a s i l c h i n a . c o m . b r
Negócios com a China

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