Expediente
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Expediente A Revista Brasileira de Física Médica (RBFM) é uma publicação editada pela Associação Brasileira de Física Médica. Criada em 2005, tem como objetivo publicar trabalhos originais nas áreas de Radioterapia, Medicina Nuclear, Radiologia Diagnóstica, Proteção Radiológica e Dosimetria das Radiações, incluindo modalidades correlatas de diagnóstico e terapia com radiações ionizantes e não-ionizantes, além de Ensino e Instrumentação em Física Médica. Os conceitos e opiniões emitidos nos artigos são de inteira responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos, desde que mencionada a fonte e mediante permissão expressa da RBFM. Corpo editoral Editor Científico Marcelo Baptista de Freitas – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Editores Associados Ana Maria Marques da Silva – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Denise Yanikian Nersissian – Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP) Lorena Pozzo – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN-CNEN) Patrícia Nicolucci - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) www.abfm.org.br/rbfm - [email protected] Conselho editorial Adilton de Oliveira Carneiro Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) Alessandro André Mazzola Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre (RS) Alessandro Martins da Costa Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) Diretoria Presidente Edmário Antônio Guimarães Costa Vice-Presidente Ilo de Souza Baptista Secretário Geral Luiz Flávio Kalil Telles Tesoureira Josemilson de Menezes Bispo Diretorias setoriais Diretoria da Área de Medicina Nuclear Daniel Coiro da Silva Diretoria da Área de Radiologia Diagnóstica Renato Dimenstein Diretoria da Área de Radioterapia Aluísio José de Castro Neto Secretários regionais Região Sul Marcus Vinicius Bortolloto Região Centro-Sudeste Roberto Salomon de Souza Região Norte-Nordeste Francisco Luciano Viana Endereço Rua Brigadeiro Galvão, 262 Barra Funda CEP 01151-000 São Paulo (SP), Brasil www.abfm.org.br - [email protected] PRODUÇÃO EDITORIAL Alexandre Bacelar Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS) Caridad Borrás School of Medicine and Health Sciences, Washington University, USA Carla Rachel Ono Centro de Medicina Nuclear do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) Carlos Eduardo de Almeida Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Carlos Malamut Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear, Comissão Nacional de Energia Nuclear de Minas gerais (CDTN/CNEN-MG) Leonardo Paschino Centro de Diagnóstico e Análises Clínicas, São Paulo (SP) Letícia Lucente Campos Rodrigues Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Comissão Nacional de Energia Nuclear de São Paulo (IPEN/CNEN-SP) Linda Viola Ehlin Caldas Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Comissão Nacional de Energia Nuclear de São Paulo (IPEN/CNEN-SP) Luiz Antonio Ribeiro da Rosa Instituto de Radioproteção e Dosimetria, Comissão Nacional de Energia Nuclear do Rio de Janeiro (IRD/CNEN-RJ) Cecil Chow Robilotta Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) Cecília Kalil Haddad Hospital Sírio Libanês, São Paulo (SP) Martha Aurélia Aldred Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) Cláudio Hissao Sibata East Carolina University, USA Martin Eduardo Poletti Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) Cleber Nogueira de Souza TomoTherapy Incorporated, USA Dráulio Barros de Araujo Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) Edmário A.G. Costa Radioterapia do Hospital São Rafael, Salvador (BA) Elisabeth Mateus Yoshimura Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) Emico Okuno Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) Gabriela Hoff Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Gian-Maria A.A. Sordi Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Comissão Nacional de Energia Nuclear de São Paulo (IPEN/CNEN-SP) Helen Jamil Khoury Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Helvécio Correa Mota East Carolina University, USA Rua Bela Cintra, 178, Cerqueira César São Paulo/SP - CEP 01415-000 Tel.: 55 11 2978-6686 www.zeppelini.com.br Laura Natal Rodrigues Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Comissão Nacional de Energia Nuclear de São Paulo (IPEN/CNEN-SP) Maria Inês Calil Cury Guimarães Centro de Medicina Nuclear do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) Gunther Drexler Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Uma empresa do Grupo ZP Laura Furnari Beneficência Portuguesa, São Paulo (SP) Homero Lavieri Martins Hospital A.C. Camargo, São Paulo (SP) José Carlos da Cruz Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo (SP) José Willegaignon de Amorim de Carvalho Centro de Medicina Nuclear (HC-FMUSP) Michael Stabin Vanderbilt University, USA Oswaldo Baffa Filho Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP) Paulo Roberto Costa Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) Regina Bitelli Medeiros Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Ricardo Tadeu Lopes Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ) Simone Kodlulovich Dias Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Tânia Aparecida Correia Furquim Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE/USP) Teógenes Augusto da Silva Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear, Comissão Nacional de Energia Nuclear de Minas Gerais (CDTN/CNEN-MG) Thomaz Ghilardi Netto Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/USP) Walter Siqueira Paes Serviço de Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho da Universidade de São Paulo (USP) Sumário Editorial 19 XVII Congresso Brasileiro de Física Médica Edmario Antonio Guimarães Costa Artigos Originais 21 Determinação de parâmetros de Tongue and Groove de colimadores de multilâminas Determination of Tongue and Groove parameters for multileaf collimators Aluísio Castro, Bihn Nguyen e Carlos E. de Almeida 25 Comparação entre Dispositivos Eletrônicos de Imagens Portais e matriz de câmaras de ionização para garantia da qualidade de radioterapia de intensidade modulada Comparison between Electronic Portal maging Devices and ion chamber matrix for intensity-modulated radiotherapy quality assurance Thiago B. Silveira , Marilia B. Lima e Luiz A. R. da Rosa 29 Espectros e deposição de dose em profundidade em phantom de mama de polimetilmetacrilato: obtenção experimental e por método de Monte Carlo Spectra and depth-dose deposition in a polimetilmetacrilate breast phantom obtained by experimental and Monte Carlo method Mariano G. David, Evandro J. Pires, Marcos A. Albuquerque, Luís A. Magalhães, Mario A. Bernal, José G. Peixoto, Carlos E. de Almeida e Carlos F. E. Alves 35 Avaliação do efeito de volume parcial na quantificação de atividade em imagens de PET/CT Evaluation of the partial volume effect in the activity quantification in PET/CT images Alexandre R. Krempser, Silvia M. Velasques de Oliveira e Sérgio A. de Almeida 41 Caracterização de um detector planar de múltiplos fios para controle de qualidade diário de tratamentos com IMRT Multi-wire detector characterization for daily quality control on IMRT Vilma A. Ferrari, Érika Y. Watanabe, Gabriela R. Santos e Gisela Menegussi 45 Caracterização de um sistema eletrônico de aquisição de imagem portal para dosimetria em radioterapia Characterization of an electronic system for Image acquisition portal to open field dosimetry Gustavo L. Barbi , Harley F. Oliveira, Edenyse C. Bertucci, Leonardo L. Amaral e Leandro F. Borges 51 Calibração de diodos semicondutores para dosimetria in vivo em tratamentos de irradiação de corpo inteiro Calibration of semiconductors diodes for in vivo dosimetry in total body irradiation treatments Fernanda F. Oliveira, Leonardo L. Amaral, Alessandro M. Costa e Thomaz G. Netto 55 Comparação entre o cálculo da dose no XiO® e medidas dosimétricas em feixes de fótons com filtro virtual Comparison between dose calculation in XiO® and dosimetric measurements in virtual wedge photon beams Laila G. Almeida, Leonardo L. Amaral, Harley F. Oliveira e Ana F. Maia 61 Objeto de teste de baixo custo para radiologia computadorizada Low cost phantom for computed radiology Paulo Cesar B. Travassos, Fernando M. Augusto, Thalis L. A. Sant´Yves, Elicardo A. S. Gonçalves, Luis Alexandre G. Magalhães e Marina A. Botelho 65 Índice de qualidade em radiologia médica Quality index in medical radiology Paulo Cesar B. Travassos, Luís Alexandre G. Magalhães, Marcus V. Navarro, Gunter G. Drexler e Carlos E. de Almeida 69 Avaliação comparativa entre as propriedades de atenuação de blocos de concreto com hematita e blocos de concreto convencional Comparative study of the shield of concrete blocks with hematite in relation to common concrete blocks Paulo R. Costa, André A. Bürger, Veronica K. Naccache e Simão Priszkulnik 73 Verificação da blindagem construída para um acelerador do tipo Cíclotron Verification of the shielding built for a Cyclotron accelerator Heber S. Videira, Bruno M. Pássaro, Julia A. Gonzalez, Maria Inês C. C. Guimarães e Carlos A. Buchpiguel 77 Análise crítica do posicionamento de um sistema de monitoramento de acelerador Cíclotron Critical analysis of the positioning of monitoring system of the cyclotron accelerator Julia A. Gonzalez, Bruno M. Pássaro, Maria Inês C. C. Guimarães, Carlos A. Buchpiguel e Heber S. Videira Associação Brasileira de Física Médica® 79 Desenvolvimento de um programa de controle de qualidade em ressonância magnética baseado nas recomendações do Colégio Americano de Radiologia Development of a magnetic resonance quality control program based on the American College of Radiology recommendations Alexandre S. Capaverde, Cássio S. Moura e Ana Maria M. Silva 87 Obtenção de sementes de braquiterapia pelo processo de selagem com polímero Obtention of brachytherapy seeds by sealing process using polymer Diogo Alberto P. D. Lana, Luiz Cláudio F. M. Garcia Carvalho, Wilmar B. Ferraz e Ana Maria M. Santos 91 Uso do MCNP para comparação das respostas de dose depositada nos TLD 100, TLD 600 e TLD 700 em campos de irradiação devido a fontes de Co e AmBe Use of MCNP to compare the response of dose deposited in the TLD 100, TLD 600 and TLD 700 in radiation fields due to Co and AmBe source Tássio A. Cavalieri, Vinícius A. Castro e Paulo T. D. Siqueira 95 Avaliação de Amostras Termoluminescentes de BeO em Feixes Padrões de Radioterapia Evaluation of Thermoluminescent BeO Samples in Standard Radiotherapy Beams Daniela P. Groppo, Jonas O. Silva e Linda V. E. Caldas 99 Uso do método fuzzy c-means para segmentação de imagens dermatoscópicas de lesões de pele Use of the c-means fuzzy method to skin lesion dermatoscopic image segmentation Talita S. Coelho, Marco A. R. Fernandes , Hélio A. Miot e Hélio Yoriyaz 103 Aplicação de contornos ativos para a segmentação de nódulos em imagens de ultrassonografia da mama Application of active contours for nodules segmentation in breast ultrasound images Karem D. Marcomini, Homero Schiabel e Luciana B. Verçosa 109 Síntese e caracterização bioinspirada de partículas superparamagnéticas Bioinspired synthesis and characterization of superparamagnetic particles Vinícius F. Castro e Alvaro A. A. Queiroz Editorial Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):19. XVII Congresso Brasileiro de Física Médica F oi com muita honra que aceitamos o convite do editor da Revista Brasileira de Física Médica (RBFM) para escrever este editorial sobre os trabalhos apresentados no XVII Congresso Brasileiro de Física Médica, realizado entre os dias 8 e 11 de agosto de 2012, no Centro de Convenções do Bahia Othon Palace Hotel em Salvador, Bahia. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Comissão Científica, presidida pelo Dr. Carlos Eduardo Veloso de Almeida, que trabalhou arduamente para preparar uma programação atual e em sintonia com as necessidades dos profissionais da área, tendo como palestrantes renomados especialistas do país e do exterior. Durante o evento foram realizados nove minicursos sendo três na área de Física da Radioterapia, três na área de Física de Radiodiagnóstico e três na área de Física de Medicina Nuclear. Foi realizado, como atividade especial, um curso sobre “Implementação de sistema de qualidade em serviços de Medicina Nuclear: extensão do Projeto ARCAL CXI – AIEA” e também foram lançados dois livros: Bases Físicas de um Programa de Garantia de Qualidade em IMRT, do editor científico Prof. Dr. Carlos Eduardo Veloso de Almeida, e Controle de Qualidade em Radioterapia, de Laura Furnari e colaboradores. Foram apresentados ainda 20 trabalhos orais e 125 na forma de pôsteres. Durante aqueles dias tivemos a oportunidade de discutir os avanços na área de Física da Radioterapia, Radiodiagnóstico, Medicina Nuclear e temas de relevância na área de educação, pesquisa e os relativos à formação e profissão do físico médico. Foi realizado também o primeiro encontro de estudantes de Física Médica, organizado pelo estudante Renan Garcia de Passos, formando do curso de Bacharelado em Física Médica, da Universidade Federal de Sergipe, e coordenado pela Prof.ª Ana Figueiredo Maia, docente na mesma instituição. O encontro contou com a presença de estudantes de diversos estabelecimentos de ensino de graduação e pós-graduação, além de professores e membros da Associação Brasileira de Física Médica (ABFM). O objetivo da reunião foi possibilitar um momento de debate, visando iniciar um processo de interação mais estreito entre os alunos, a troca de experiências e a discussão de problemas comuns. Tivemos como patrocinadores do XVII CBFM 12 empresas, muitas delas expondo materiais e serviços. Dentre elas destacaram-se a Elekta e a Varian, como patrocinadores másters. Foi fundamental também o apoio e a colaboração de órgãos de fomento, como a FAPESB, CNPQ e CAPES, pois sem eles não seria possível a realização do evento. O Congresso da ABFM também é um momento de confraternização e troca de experiências, importante para o fortalecimento e o crescimento da nossa especialidade. E como não poderia ser diferente nessa cidade alegre e de gente tão hospitaleira, congregamos, e congregamos muito! Acredito que foi um evento marcante em todos os aspectos, e que será sempre lembrado por seus participantes. A ABFM tem uma história, uma história de pessoas que se dedicaram e se dedicam a esta instituição, cuja missão é “Desenvolver a prática da Física em Medicina e ciências correlatas, incentivando a pesquisa e o desenvolvimento, disseminando informação técnico-científica e promovendo o aprimoramento profissional dos Físicos Médicos”. Nosso objetivo maior que oferecer aos pacientes serviços médicos de alta qualidade. Sinto-me com o dever cumprido e feliz por poder colaborar com a nossa Associação e com toda a comunidade da física médica brasileira. Para finalizar, gostaria de agradecer à Comissão Organizadora do evento pelo apoio e dedicação, e a toda a diretoria da ABFM. Edmario Antonio Guimarães Costa Presidente do XVII Congresso Brasileiro de Física Médica – Salvador, Bahia Presidente da Associação Brasileira de Física Médica, biênio 2012–2013 Associação Brasileira de Física Médica® 19 Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):21-4. Determinação de parâmetros de Tongue and Groove de colimadores de multilâminas Determination of Tongue and Groove parameters for multileaf collimators Aluísio Castro1, Bihn Nguyen2 e Carlos E. de Almeida1 Laboratório de Ciências Radiológicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2 Prowess Inc. – Concord (CA), Estados Unidos. 1 Resumo O efeito Tongue and Groove (T&G) caracteriza-se por uma atenuação adicional entre lâminas opostas e adjacentes de colimadores multileaf ou multilâminas (MLCs) em campos adjacentes ou complementares. Essa é uma situação típica em tratamentos de radioterapia de intensidade modulada. O objetivo deste trabalho foi medir o largura e a transmissão do efeito (T&G) para dois MLCs comerciais: Varian Millennium 120 (com feixe de 6 MV e 16 MV) e BrainLab m3 (apenas para 6 MV). A metodologia utilizada baseou-se na criação de formatos de campos que evidenciassem o efeito T&G, a irradiação desses campos em filme radiocrômico e a avaliação sensitométrica dos filmes para determinação da largura e transmissão T&G. Os resultados para largura T&G para os MLCs estudados foram 2,5, 1,8 e 2 mm, respectivamente, com valores de transmissão T&G 87, 90 e 85%. Palavras-chave: radioterapia conformal, aprovação de equipamentos, controle de qualidade. Abstract The Tongue and Groove effect (T&G) is characterized by an additional attenuation between adjacent and opposing leaves on multileaf collimators (MLCs) in adjacent or complementary fields. This is a typical situation in of intensity-modulated radiotherapy treatments. The aim of this study was to measure the width and transmission of T&G effect for two commercial MLCs: Varian Millennium 120 (6 MV and 16 MV beams) and BrainLab m3 (only for 6 MV). The methodology used was based on the creation of MLC shapes that emphasizes T&G effect, the irradiation of these fields on radiochromic film and the sensitometric evaluation of the films in order to determine the T&G width and transmission. The results for T&G width for studied MLCs were 2.5, 1.8 and 2 mm, respectively, whit transmission T&G values of 87, 90 and 85%. Keywords: conformal radiotherapy, device approval, quality control. Introdução O colimador de multilâminas (MLC) é um dispositivo usualmente empregado em aceleradores lineares que permite colimar o feixe de radiação no formato do tumor, evitando a exposição desnecessária de tecidos sadios. É composto por dois bancos de lâminas metálicas que se movimentam perpendicularmente ao feixe de radiação, como ilustrado na Figura 1. Cada lâmina pode deslizar em relação às outras do mesmo banco, avançando em relação ao eixo central do feixe e o bloqueando ou retraindo e permitindo a exposição do feixe. Para minimizar a transmissão entre as lâminas adjacentes, a maioria dos MLCs utiliza do artifício de Tongue & Groove (T&G), característico de cada projeto de MLC, no qual a face de uma lâmina tem uma porção sobressalente chamada tongue enquanto a face da lâmina adjacente possui uma porção rebaixada denominada groove (Figura 2). Embora T&G reduza a transmissão entre lâminas, cria outro efeito dosimétrico que, apesar de menor, também é importante1. A transmissão do feixe pela lâmina se torna mais complexa e depende de onde o feixe atravessa o seu perfil: centro, face do tongue ou do groove. As diferenças de transmissão pelo T&G são ilustradas na Figura 3, que representa um filme radiográfico (B) duplamente exposto com duas configurações de MLC (A e C). As duas formas MLC são complementares entre si, isto é, as áreas abertas em A são fechadas em C e vice-versa. Na Figura 3, as regiões de subdosagem (linhas mais claras em B) aparecem onde o tongue é exposto à radiação, demonstrando o efeito T&G. A magnitude da redução da dose nessas linhas é de 17 e 25% para os aceleradores Autor correspondente: Aluísio Castro – Centro de Oncologia Rede D’Or – Rua Almirante Baltazar, 435, Prédio anexo – CEP: 20941-150 – Rio de Janeiro (RJ), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 21 Castro A, Nguyen B, Almeida CE lineares Siemens (MXE) e Varian (CL2300 C/D) aceleradores lineares, respectivamente2. O efeito T&G é mais evidente nos tratamentos de radioterapia de intensidade modulada (IMRT), nos quais um campo de irradiação é composto por vários subcampos que podem possuir configurações complementares de MLC. Segundo estudo de Deng et al.3, para um campo de tratamento de intensidade modulada, o maior efeito T&G poderia ser de até 10% da dose máxima nas distribuições de dose. Para um tratamento IMRT com vários ângulos de gantry (≥5), a diferença entre as distribuições de dose com e sem o efeito T&G foi pouco evidente, menos de 1,6% para os dois casos clínicos típicos estudados. Depois de analisar os erros de posicionamento diário do paciente, as distribuições de dose foram suavizadas e as diferenças entre os planos com e sem o efeito T&G reduzidas e insignificantes. Portanto, para um plano de IMRT de vários campos (≥5), o efeito T&G sobre as distribuições de dose IMRT foi, em geral, clinicamente insignificante devido ao efeito de manchas de campos individuais. O efeito T&G em um plano de IMRT com pequeno número de campos (<5) pode ser significativo (>5% da dose Beam Groove Tongue Tongue and groove Y1 X1 X2 Varian Tertiary MLC Leaf Bi Leaf Ai 50% y1n xAi, n xBi, n y2n x2n x1n Figura 2. Vista do colimador de multilâminas mostrando o detalhe do Tongue & Groove. Figura 1. Esquema de colimadores de multilâminas típico. A B C Figura 3. Duas configurações de colimador de multilâminas complementares (A e C) quando expostas a um filme radiográfico (B) geram um padrão não uniforme no qual as linhas de subdosagens (mais claras) evidenciam o efeito Tongue & Groove. 22 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):21-4. Determinação de parâmetros de Tongue and Groove de colimadores de multilâminas máxima) em alguns casos, especialmente quando a incerteza de posicionamento do paciente é pequena (≤2 mm). O sistema de Planejamento Prowess Panther 5.10 usa dois parâmetros T&G no cálculo da dose: 1. Transmissão T&G (TT&G): empregado para modelar a transmissão por meio de tongue ou groove da lâmina. O parâmetro padrão é 1,0, o que significa que há transmissão total e sem atenuação T&G e retrata a transmissão percentual da junção tongue e groove. Por exemplo: 0,1=10% de transmissão por meio da “língua” ou groove. Esse parâmetro pode ser medido diretamente e foi avaliado neste estudo. 2. Largura T&G (LT&G): corresponde à largura pela qual a fluência precisa ser atenuada no plano do isocentro. Esta não é a largura física do tongue and groove. Quando é zero, significa que não há efeito de T&G. Este valor pode ser configurado para qualquer número menor que a largura da lâmina física. Este parâmetro deve ser obtido tomando-se a largura média a meia altura do perfil de dose ortogonal as linhas de T&G no filme. determinou-se, pela análise dosimétrica do filme, a transmissão de T&G, sendo TT&G definida como: TT&G = DT&G / Dcentro em que DT&G é a dose média das linhas de subdosagem do filme, representada na Figura 5 pela linha tracejada O objetivo deste trabalho foi obter experimentalmente os parâmetros T&G para posterior modelamento no sistema de planejamento. Material e Métodos Estabeleceu-se uma configuração geométrica de MLC que evidencia o efeito T&G. Sykes e Williams2 sugeriram uma configuração em sua investigação, como apresentado na Figura 4 e utilizado neste estudo. Os MLCs estudados foram: Varian Millenium 120 (feixe de 6 e 16 MV) e Brainlab M3 (feixe de 6 MV). Para cada MLC, irradiou-se um filme radiocrômico Radiograph EBT2 com as configurações do MLC citados acima. A geometria de exposição foi: gantry a 0°, filme perpendicularmente ao eixo central, distância fonte filme 100 cm, 5 placas de água sólida sobre e sob o filme (cada placa medindo 1x30x30 cm3). Além disso, Figura 5. Localização no filme radiográfico das linhas de subdosagem (verdes) e do perfil sob o centro das lâminas (amarelas), de onde se obtêm, respectivamente, DT&G e Dcentro. Figura 4. Exemplo de formatos complementares de colimadores de multilâminas que evidenciam o efeito Tongue & Groove utilizado neste estudo. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):21-4. 23 Castro A, Nguyen B, Almeida CE verde, e Dcentro é a dose média sob o centro das lâminas (linhas tracejadas amarelas). de planejamento Prowess Panther 5.10. O modelamento será posteriormente submetido à validação4,5. Resultados Agradecimentos Os valores TT&G e LT&G medidos para cada MLC estudado são apresentados na Tabela 1. Ao Centro de Oncologia da Rede DOr no Rio de Janeiro por permitir as medidas em seus MLCs e à Prowess Inc. por orientar e apoiar este estudo. Discussão e Conclusões Os resultados obtidos neste trabalho serão expandidos para outros MLCs comerciais e modelados no sistema Tabela 1. Valores de transmissão Tongue & Groove (TT&G) e de largura Tongue & Groove (LT&G) medidos nos colimadores multilâminas estudados. Colimador de multilâminas Varian Millennium 120 6MV Varian Millennium 120 16MV BrainLab m3 6MV 24 TT&G (%) 87 90 85 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):21-4. LT&G (mm) 2,5 1,8 2,0 Referências 1. Galvin JM, Smith AR, Lally B. Characterization of a multi-leaf collimator system. Int J Radiat Oncol Biol Phys. 1993;25(2):181-92. 2. Sykes JR, Williams PC. An experimental investigation of the tongue and groove effect for the Philips multileaf collimator. Phys Med Biol. 1998;43(10):3157-65. 3. Deng J, Pawlicki T, Chen Y, Li J, Jiang SB, Ma CM. The MLC tongue-and-groove effect on IMRT dose distributions. Phys Med Biol. 2001;46(4):1039-60. 4. Low DA, Harms WB, Mutic S, Purdy JA. A technique for the quantitative evaluation of dose distributions. Med Phys. 1998;25(5):656-61. 5. Low DA, Moran JM, Dempsey JF, Dong L, Oldham M. Dosimetry tools and techniques for IMRT. Med Phys. 2011;38(3):1313-38. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):29-33. Espectros e deposição de dose em profundidade em phantom de mama de polimetilmetacrilato: obtenção experimental e por método de Monte Carlo Spectra and depth-dose deposition in a polimetilmetacrilate breast phantom obtained by experimental and Monte Carlo method Mariano G. David1, Evandro J. Pires1, Marcos A. Albuquerque2, Luís A. Magalhães1, Mario A. Bernal3, José G. Peixoto4, Carlos E. de Almeida1 e Carlos F. E. Alves1 Laboratório de Ciências Radiológicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2 Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 3 Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Campinas (SP), Brasil. 4 Instituto de Radioproteção e Dosimetria da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 1 Resumo Este trabalho enfoca a obtenção, experimental e por método de Monte Carlo (MMC), de espectros de fótons a diversas profundidades e de curvas de deposição de dose para feixes de raios-x empregados em mamografia, obtidos em phantom de mama de polimetilmetacrilato (PMMA). Foram adquiridos espectros referentes a feixes de 28 e 30 kV e calculados os valores de energia média (Emed) correspondentes. Para a aquisição experimental foi empregado um espectrômetro de Si-PIN fotodiodo e para as simulações por MMC foi empregado o código PENELOPE. Os espectros experimentais e os simulados mostram uma boa concordância, o que foi corroborado pela baixa diferença entre os valores de Emed encontrados. Um aumento na Emed e uma forte atenuação dos feixes com o incremento da profundidade no phantom de PMMA também foram observados. Palavras-chave: radiologia, mamografia, raios X, método de Monte Carlo, Penelope. Abstract This paper focuses on the obtainment, using experimental and Monte Carlo-simulated (MMC) methods, of the photon spectra at various depths and depth-dose deposition curves for x-rays beams used in mammography, obtained on a polimetilmetacrilate (PMMA) breast phantom. Spectra were obtained for 28 and 30 kV quality-beams and the corresponding average energy values (Emed) were calculated. For the experimental acquisition was used a Si-PIN photodiode spectrometer and for the MMC simulations the PENELOPE code was employed. The simulated and the experimental spectra show a very good agreement, which was corroborated by the low differences found between the Emed values. An increase in the Emed values and a strong attenuation of the beam through the depth of the PMMA phantom was also observed. Keywords: radiology, mammography, X-rays, Monte Carlo method, Penelope. Introdução A mamografia, método mais eficaz de diagnóstico precoce do câncer de mama, emprega feixes de raios-x de baixa energia cujo potencial de dano vem sendo objeto de diversas pesquisas1,2. Com o intuito de estudar os efeitos desta radiação, foram obtidos os espectros de energia dos feixes de radiação mamográficos de 28 e 30 kV em profundidade, em phantom de mama de polimetilmetacrilato (PMMA), bem como as curvas de percentual de dose em profundidade (PDD). O conhecimento sobre os espectros é também útil para estudos sobre a melhoria da qualidade da imagem na mamografia3. Os espectros foram obtidos de duas formas: experimentalmente, com espectrômetro, e por simulação, pelo método de Monte Carlo (MMC), e os resultados verificados no presente Autor correspondente: Mariano Gazineu David – Laboratório de Ciências Radiológicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Rua São Francisco Xavier, 524, PHLC, sala 136 – CEP: 20550-900 – Rio de Janeiro (RJ), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 29 David MG, Pires EJ, Albuquerque MA, Magalhães LA, Bernal MA, Peixoto JG, Almeida CE, Alves CFE estudo foram empregados na área da microdosimetria na avaliação de danos causados pela radiação ao DNA4. Esta pesquisa constitui o desdobramento de um trabalho realizado com a espectrometria dos feixes padrão de mamografia empregados em metrologia no Laboratório de Ciências Radiológicas (LCR)5 e foi realizada no mesmo arranjo experimental de calibração de dosímetros6. Material e Métodos Obtenção experimental dos espectros Os feixes de radiação estudados foram emitidos por um tubo de raios-x Philips, modelo PW 2185/00 com alvo de Mo e janela de Be, alimentado por um gerador de alta-voltagem Saifert (ripple<1%). Durante a aquisição dos espectros, a corrente do tubo foi ajustada para o menor valor permitido, que é 2 mA6. Os espectros foram medidos experimentalmente por meio de um conjunto espectrométrico composto por detector, amplificador de sinal e analisador multicanal fabricado pela Amptek. O detector de Si-PIN fotodiodo (XR-100CR), com volume sensível de 6 mm2 x 0,5 mm e janela de Be de 1 mm de espessura, apresenta, na faixa de energia da mamografia, alta resolução (145–165 eV para 5,9 keV) e baixa eficiência de detecção, o que evita a necessidade de diminuição da taxa de kerma no ar além do valor permitido pelo gerador de tensão. O conjunto espectrométrico foi conectado a um PC, que adquiriu dados pelo software Amptek-ADMCA. Um colimador tipo pinhole de 1 mm de diâmetro foi colocado na entrada do detector5. Foram estudados feixes emitidos com 28 e 30 kV filtrados por 0,03 mm de Mo, de modo a reproduzirem as qualidades de radiação mamográficas. O phantom de mama completo é composto por nove placas de poli(metilmetacrilato) (PMMA) de 5 mm de espessura, totalizando 45 mm. Os espectros de fótons foram adquiridos a 60 cm do ponto focal com quatro espessuras diferentes de PMMA (5, 15, 30 e 45 mm), bem como sem o phantom. As aquisições foram realizadas de modo a totalizar 106 fótons, com tempo morto inferior a 1%. Os espectros foram calibrados pelas linhas espectrais do Mo e corrigidos pela eficiência do detector para cada faixa de energia. Para fins de comparação, todos os espectros foram plotados adotando-se faixas de energia (bins) de 0,5 keV. A fim de levantar uma curva experimental de PDD foram realizadas medidas de kerma no ar com câmara de ionização de placas paralelas Radcal 10X5-6M em todas as espessuras do phantom de 5 a 45 mm. Simulação dos espectros A simulação dos espectros de fótons com o MMC empregou o código PENELOPE (versão 2008), sendo realizada a partir de espectros obtidos em trabalho anterior logo após a janela do tubo (a 1,5 cm do ponto focal)5. Tais espectros foram empregados como fonte de fótons para atravessar uma geometria que simula as mesmas condições 30 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):29-33. do arranjo experimental. Detectores com 1,5 cm de raio e 0,1 cm de espessura foram situados no centro do feixe primário, em diferentes profundidades do phantom, de forma a reproduzir as mesmas distâncias foco-detector e espessuras de PMMA usadas na obtenção experimental. Foram acompanhados 1,2x109 fótons primários para a obtenção dos espectros a diferentes profundidades, empregando os seguintes valores para os parâmetros do código PENELOPE: C1=C2=0,1 e WCC=WCR=0,25 keV. As simulações foram realizadas no cluster de computadores instalado no LCR (PCs com processadores Intel i7 980X de 3,33 GHz com 12 núcleos de processamento), em 10 máquinas paralelizadas por meio do script clonEasy7 (totalizando 120 jobs), tendo sido consumidas cerca de 2 horas para cada qualidade de radiação. Foram obtidas as curvas de PDD no phantom de PMMA para as qualidades de radiação de mamografia correspondentes a 28 e 30 kV a partir dos resultados de depth-dose fornecidos pelo aplicativo penmain do código PENELOPE com intervalos de profundidade de 0,1 cm. As curvas foram obtidas calculando-se o percentual de dose depositado em cada profundidade em relação à dose máxima dentro do phanton, que se dá a 0,05 cm de PMMA. Energia média dos espectros de fótons Uma vez que constitui uma informação relevante sobre o espectro de fótons, a energia média (Emed) de cada um dos perfis de energia foi calculada analiticamente. Com os valores de Emed também é possível comparar os espectros obtidos pelo método experimental e por simulação. Esta grandeza foi obtida pela média ponderada das energias dos fótons no centro de cada bin com as frequências normalizadas das faixas de energia, segundo a relação: n Emed = ∑ ƒi . Ei (1) i=1 em que fi são as frequências normalizadas de fótons e Ei as energias dos n bins correspondentes. A incerteza associada à determinação da Emed (uEmed) foi calculada por: n uE = ∑ uƒ . Ei(2) med i=1 i em que ufi são as incertezas nas frequências de fótons para as n faixas de energia. As incertezas expandidas relatadas correspondem a um fator de abrangência k=2, para nível de confiança de aproximadamente 95%. Para os espectros experimentais, as incertezas associadas à determinação das frequências de fótons foram obtidas considerando o número de fótons detectados em cada faixa de energia como sendo resultado de uma distribuição de Poisson. Assim, a incerteza em cada frequência foi igualada à raiz quadrada do número de fótons normalizado pelo total de fótons detectados no espectro5. Já considerando os espectros simulados, as incertezas associadas à determinação das frequências de fótons foram obtidas dos valores de incerteza estatística (tipo A) Espectros e deposição de dose em profundidade em phantom de mama de polimetilmetacrilato: obtenção experimental e por método de Monte Carlo Resultados Em virtude do número de espectros e PDDs obtidos e do curto espaço disponível, serão apresentados neste trabalho apenas exemplos de resultados gráficos, assegurando-se que os espectros das demais qualidades de radiação e profundidade de PMMA exibem perfis semelhantes aos aqui mencionados. Os espectros experimentais para 28 kV obtidos em diferentes profundidades, superpostos, são apresentados na Figura 1. Como as contagens foram normalizadas para o total de fótons de cada espectro, é possível observar aumento relativo das frequências de fótons nas energias mais altas conforme cresce a profundidade de aquisição. Por outro lado, uma vez que os espectros simulados foram obtidos a partir de um número fixo de fótons primários (1,2x109), torna-se possível mostrá-los não com frequências Frequência normalizada 0,30 Sem phantom 0,5cm PMMA 1,5cm PMMA 3,0cm PMMA 4,5cm PMMA 0,25 0,20 0,30 Experimental Simulado 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 0,15 6 0,10 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 Energia (keV) Figura 3. Comparação entre os espectros experimental e simulado para 28 kV à profundidade de 1,5 cm de polimetilmetacrilato (frequências normalizadas para os totais de fótons). 0,05 0,00 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 Energia (keV) Figura 1. Espectros experimentais para 28 kV com frequências normalizadas para os totais fótons, obtidos a diferentes profundidades de polimetilmetacrilato. 8x107 Sem phantom 0,5cm PMMA 1,5cm PMMA 3,0cm PMMA 4,5cm PMMA 7x107 6x107 Número de fótons normalizadas, mas com os números absolutos de fótons que chegam a cada profundidade. Esta forma de apresentação permite a visualização do efeito de atenuação causado pelo PMMA. Desta maneira, os espectros simulados para 30 kV, superpostos, podem ser visualizados na Figura 2. Para a comparação entre os espectros obtidos experimentalmente e os simulados, entretanto, torna-se necessário apresentar ambos com as frequências de fótons normalizadas para os totais. Observam-se na Figura 3 (28 kV com 1,5 cm de PMMA) pequenas discrepâncias entre os espectros. A Emed calculada para cada um deles, além de constituir uma informação sobre a distribuição energética, pode ser usada para fins de comparação dos perfis de frequência de energia obtidos pelos métodos experimental e por Frequência normalizada fornecidos pelo código PENELOPE (também normalizados), juntamente com 0,5% de incerteza estimada (k=2) para os componentes tipo B8. 5x107 4x107 Tabela 1. Valores de Emed (keV) para os espectros de 28 kV, com as diferenças percentuais entre os valores obtidos pelos métodos experimental e por simulação. Sem placa 0,5 cm PMMA 1,5 cm PMMA 3,0 cm PMMA 4,5 cm PMMA Experimental 16,89±0,15 17,63±0,14 18,46±0,14 19,28±0,14 20,11±0,14 Simulado 16,63±0,13 17,40±0,13 18,28±0,13 19,19±0,14 20,07±0,16 Diferença (%) 1,5 1,3 1,0 0,5 0,2 PMMA: polimetilmetacrilato. Tabela 2. Valores de Emed (keV) para os espectros de 30 kV, com as diferenças percentuais entre os valores obtidas pelos métodos experimental e por simulação. 3x107 2x107 1x107 0 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 Energia (keV) Figura 2. Espectros simulados para 30 kV com número de fótons detectados, obtidos a diferentes profundidades de polimetilmetacrilato. Sem placa 0,5 cm PMMA 1,5 cm PMMA 3,0 cm PMMA 4,5 cm PMMA Experimental 17,28±0,15 18,00±0,15 18,94±0,15 19,93±0,15 21,00±0,15 Simulado 17,01±0,10 17,78±0,10 18,72±0,11 19,85±0,12 20,99±0,14 Diferença (%) 1,6 1,2 1,2 0,4 0,0 PMMA: polimetilmetacrilato. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):29-33. 31 David MG, Pires EJ, Albuquerque MA, Magalhães LA, Bernal MA, Peixoto JG, Almeida CE, Alves CFE simulação. Nas Tabelas 1 (28 kV) e 2 (30 kV) podem ser vistos os valores de Emed obtidos pela equação (1), juntamente com as incertezas estimadas para estes valores, além da diferença percentual para cada par de espectros de mesma qualidade de radiação e profundidade de PMMA. As curvas de PDD relativas à dose a 0,05 cm de profundidade, determinadas por simulação, constam na Figura 4. Para fins de comparação, foram determinadas também as curvas de PDD relativas à dose a 0,5 cm de profundidade obtidas por medida do kerma no ar com câmara de ionização e por simulação. A curva comparativa para 28 kV pode ser verificada na Figura 5. Discussão e Conclusões As pequenas diferenças observadas entre os espectros de fótons obtidos por ambos os métodos utilizados indicam a 100 28 kV 30 kV Percentual de dose (%) 80 60 40 20 0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 Profundidade em PMMA (cm) 4,0 4,5 Figura 4. Curvas de percentual de dose em profundidade em polimetilmetacrilato (PMMA) elativas à dose a 0,05 cm das qualidades de radiação de 28 e 30 kV obtidas por simulação. adequação dos instrumentos, dos parâmetros e das metodologias empregados. Da mesma forma, as baixas diferenças nos valores de Emed (máximo de 1,6%) corroboram a referida adequação, bem como resultados obtidos anteriormente5, sobretudo se levarmos em conta as dificuldades envolvidas tanto na aquisição experimental quanto na simulação de espectros, conforme relatado na literatura9-11. A acentuada degradação dos espectros e da dose depositada em profundidade no phantom de PMMA sugere que a dose entregue pelos feixes de mamografia é majoritariamente depositada nas camadas mais próximas da superfície. O pequeno aumento da energia média do feixe em profundidade é compensado pela grande diminuição do número de fótons presentes. Os dados obtidos neste artigo podem ser usados, como de fato já o foram4, em estudos sobre o mecanismo de deposição de energia da radiação de qualidade mamográfica e sobre os danos causados por esta radiação aos tecidos que compõem a mama. O intenso trabalho de pesquisa na área da microdosimetria que vem sendo realizado em todo mundo1,2,4 pode vir a contribuir com o aprimoramento desta importante ferramenta diagnóstica que é a mamografia, tanto em termos de melhoria da imagem, quanto de redução da dose média depositada na mama. Como desenvolvimento do presente documento, estão sendo obtidos, por simulação, os espectros de elétrons correspondentes aos de fótons aqui apresentados, bem como a simulação dos espectros substituindo o material do phantom pelos tecidos glandular e adiposo que compõem a mama. Tais espectros fornecem informações adicionais sobre os mecanismos de deposição de energia envolvidos. Também estão sendo avaliados, em trabalhos experimentais, os danos causados pela radiação de qualidade mamográfica em termos de apoptose (morte celular). Agradecimentos Dose ou Kerma em rel a 0,5 cm (%) 100 Os autores agradecem ao Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD) pelo empréstimo do espectrofotômetro, sem o qual este trabalho não poderia ter sido realizado. Simulado (depth-dose) Kerma medido com C.I. 80 60 Referências 40 20 0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 Profundidade em PMMA (cm) 4,0 4,5 Figura 5. Curvas de percentual de dose em profundidade em polimetilmetacrilato relativas à dose a 0,5 cm para 28 kV obtidas por simulação e por meio de medidas com câmara de ionização (C.I.). 32 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):29-33. 1. Frankenberg D, Kelnhofer K, Bär K, Frankenberg-Schwager M. Enhanced neoplastic transformation by mammography X rays relative to 200 kVp X rays: indication for a strong dependence on photon energy of the RBE(M) for various end points. Radiat Res. 2002;157(1):99-105. 2. Göggelmann W, Jacobsen C, Panzer W, Walsh L, Roos H, Schmid E. Reevaluation of the RBE of 29 kV x-rays (mammography x-rays) relative to 220 kV x-rays using neoplastic transformation of human CGL1-hybrid cells. Radiat Environ Biophys. 2003;42(3):175-82. 3. Meyer P, Buffard E, Mertz L, Kennel C, Constantinesco A, Siffert P. Evaluation of the use of six diagnostic X-ray spectra computer codes. Br J Radiol. 2004;77(915):224-230. Espectros e deposição de dose em profundidade em phantom de mama de polimetilmetacrilato: obtenção experimental e por método de Monte Carlo 4. Bernal MA, deAlmeida CE, David M, Pires E. Estimation of the RBE of mammography-quality beams using a combination of a Monte Carlo code with a B-DNA geometrical model. Phys Med Biol. 2011;56(23):7392-403. 5. David MG, Pires EJ, Bernal MA, Peixoto JG, Dealmeida CE. Experimental and Monte Carlo-simulated spectra of standard mammography-quality beams. Br J Radiol. 2012;85(1013):629-35. 6. Pires EJ, David MG, Peixoto JG, Dealmeida CE. Establishment of radiation qualities for mammography according to the IEC 61267 and TRS 457. Radiat Prot Dosimetry. 2011;145(1):45-51. 7. Badal A, Sempau J. A package of Linux scripts for the parallelization of Monte Carlo simulations. Comput Phys Comm. 2006;175(6):440-50. 8. ISO/IEC. Guide to the expression of uncertainty in measurement (GUM). Guide 98. ISO, IEC; 1995. 9. Künzel R, Herdade SB, Terini RA, Costa PR. X-ray spectroscopy in mammography with a silicon PIN photodiode with application to the measurement of tube voltage. Med Phys. 2004;31(11):2996-3003. 10. Ay MR, Shahriari M, Sarkar S, Adib M, Zaidi H. Monte Carlo simulation of x-ray spectra in diagnostic radiology and mammography using MCNP4C. Phys Med Biol. 2004;49(21):4897-917. 11. Wilkinson E, Johnston PN, Heggie JC. A comparison of mammography spectral measurements with spectra produced using several different mathematical models. Phys Med Biol. 2001;46(5):1575-89. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):29-33. 33 Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):35-40. Avaliação do efeito de volume parcial na quantificação de atividade em imagens de PET/CT Evaluation of the partial volume effect in the activity quantification in PET/CT images Alexandre R. Krempser1, Silvia M. Velasques de Oliveira2 e Sérgio A. de Almeida3 Programa de Engenharia Biomédica do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2 Instituto de Radioproteção e Dosimetria do Instituto de Radioproteção e Dosimetria da Comissão Nacional de Energia Nuclear (IRD/CNEN) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 3 Centro de Imagens PET/CT do Hospital Samaritano – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 1 Resumo O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do efeito de volume parcial (EVP) na quantificação de atividade em imagens de um equipamento de tomografia por emissão de pósitrons e tomografia computadorizada (PET-CT) e na capacidade do equipamento de identificar lesões. Foram calculados coeficientes de recuperação utilizando um simulador com 12 cilindros de diâmetros entre 4 e 30 mm e um simulador de espalhamento padrão da National Electrical Manufactures Association, ambos preenchíveis com concentrações conhecidas de 18F. As imagens foram adquiridas para tempo de aquisição de 3 e 5 minutos e razões cilindro-fundo de n=8:1 e n=4:1. Foram encontrados coeficientes de recuperação entre 0,01 e 0,91 em função do diâmetro. Não foram observadas variações significativas por conta dos parâmetros de aquisição de imagem. Erros na quantificação de atividade acima de 70% foram verificados para cilindros com diâmetros menores do que 10 mm. Os cilindros com diâmetros menores do que 8 mm não foram identificados nas imagens e os simuladores se mostraram adequados para a avaliação do EVP em imagens de PET/CT. O EVP teve maior impacto sobre os cilindros com diâmetros de 6 e 4 mm. É necessário utilizar técnicas de correção do efeito de volume parcial nas imagens com o intuito de aumentar a acurácia quantitativa do equipamento estudado. Palavras-chave: PET-CT, efeito de volume parcial, quantificação de atividade, coeficientes de recuperação. Abstract The aim of this work was to evaluate the influence of partial volume effect (PVE) in the quantification of activity in images of a PET-CT scanner and its ability to identify lesions. Recovery coefficients were calculated using a phantom containing 12 cylinders with diameters between 4 and 30 mm and a National Electrical Manufactures Association scattering phantom, both fillable with known concentrations of 18F. The images were acquired for acquisition time of 3 and 5 minutes, and cylinder to background ratio of n=8:1 and n=4:1. The recovery coefficients were calculated between 0.01 and 0.91 depending on the diameter. Significant variations were not found in function of image acquisition parameters. Errors in the activity quantification above 70% were found for cylinders with diameters smaller than 10 mm. The cylinders with diameters smaller than 8 mm were not identified in the images. The phantoms were adequate for PVE evaluation in the PET/CT images. The PVE had the greatest impact on the cylinders with diameters of 6 and 4 mm. It’s necessary to use partial volume correction techniques in the images in order to increase the quantitative accuracy of the studied equipment. Keywords: PET-CT, partial volume effect, activity quantification, recovery coefficient. Introdução A quantificação de atividade em imagens de tomografia por emissão de pósitrons e tomografia computadorizada (PET/CT) com fluordeoxiglucose (FDG[18F]) é cada vez mais reconhecida como uma ferramenta importante para diagnóstico, determinação do prognóstico e avaliação da resposta do paciente à terapia em oncologia1. Entretanto, a quantificação é fortemente afetada por diversos fatores técnicos e fisiológicos, principalmente pelo efeito de volume parcial2. O efeito de volume parcial (EVP) é definido como um erro inerente à medida da concentração do radiotraçador em imagens de estruturas com dimensões Autor correspondente: Alexandre Rodrigues Krempser – COPPE/UFRJ – Programa de Engenharia Biomédica – Avenida Horácio Macedo, 2030 – Cidade Universitária – Centro de Tecnologia – Bloco H – Sala 327 – CEP: 21941-914 – Rio de Janeiro (RJ), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 35 Krempser AR, Oliveira SMV, Almeida SA geralmente menores do que duas vezes a resolução espacial do equipamento. O EVP é um fenômeno complexo, observado em todas as técnicas de diagnóstico por imagem e está diretamente relacionado à resolução espacial, à amostragem da imagem, ao tamanho e forma da lesão3, e ao método de medida da concentração do radiotraçador na lesão. Dessa forma, uma parte das contagens das aniquilações e létron-pósitron originadas na lesão é detectada como proveniente dos tecidos ao seu redor. Como consequência, uma lesão parecerá maior na imagem e com menor captação do que realmente possui. O contrário também ocorre: parte das contagens provenientes dos tecidos ao redor da lesão é detectada como proveniente da própria lesão4,5. Ambos os fenômenos se compensam parcialmente. Entretanto, é difícil quantificar essa compensação. Conhecer o quanto a quantificação de atividade nas imagens é influenciada pelo EVP é importante para estudos clínicos com PET/CT nos quais a medida da concentração de atividade verdadeira em lesões seja fundamental, tais como no planejamento e acompanhamento radioterápicos e em dosimetria interna de pacientes em medicina nuclear6. Este trabalho teve como objetivo avaliar a influência do EVP na quantificação de atividade em imagens de um equipamento de PET/CT e na capacidade do equipamento de identificar lesões, utilizando um arranjo de simuladores. Material e Métodos Equipamento de PET/CT O estudo foi realizado em um equipamento de PET/ CT modelo Biograph 2 (Siemens Medical Solutions), com sistema CT de 2 canais, espessura de corte de 1 a 10 mm, tempo de rotação do tubo de 0,8 a 1,5 s, A corrente de tubo ajustável para 30 a 240 mA, tensão de alimentação do tubo ajustável para 80, 110 ou 130 kVp, velocidade de mesa de 1 a 25 mm por rotação do tubo, tempo máximo de varredura de 100 s e resolução espacial de 0,32 mm. O sistema PET possui detector de oxiortossilicato de lutécio (LSO) formado por 24 anéis com 384 cristais por anel, cristais de 6,45x6,45x25,00 mm3, modo de aquisição apenas em 3D, campo de visão (field of view – FOV) axial de 162,00 mm, espessura de corte de 3,38 mm, janela de coincidência temporal em 4,5 ns, janela de energia de 350 a 650 keV e resolução espacial de 6,50 mm. Simuladores utilizados Foram utilizados dois simuladores para a aquisição das imagens. Um deles foi desenvolvido por um dos autores especialmente para o estudo do EVP em imagens de PET/CT. Denominado simulador Krempser, é constituído por um corpo cilíndrico feito de acrílico (PMMA) com diâmetro interno de 210 mm, diâmetro externo de 220 mm, comprimento de 210 mm, volume total de 7.273 mL, contendo 12 cilindros acoplados à tampa destinados ao preenchimento com soluções do radiotraçador, espessura de parede de 2 mm, comprimento de 64 mm e diâmetros internos de 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20, 22, 25 e 30 mm (Figura 1). O outro é o simulador de espalhamento padrão da National Electrical Manufactures Association (NEMA) 7, composto por um cilindro de polietileno (PEAD) com 700 mm de comprimento e diâmetro de 203 mm, atravessado por um orifício paralelo ao eixo de 6,4 mm de diâmetro e a 45 mm do centro do simulador. No orifício é inserida uma fonte linear composta por um tubo flexível de polietileno com diâmetro interno de 3,2 mm e externo de 4,8 mm. O simulador de espalhamento simula a contribuição da radiação proveniente de fora do FOV do equipamento, comum em exames clínicos com pacientes. A ausência do B Figura 1. (A) Simulador Krempser; (B) lado interno da tampa do simulador exibindo os cilindros. 36 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):35-40. Avaliação do efeito de volume parcial na quantificação de atividade em imagens de PET/CT simulador de espalhamento tende a superestimar as contagens de eventos verdadeiros e aleatórios, e a subestimar a fração de espalhamento medida pelo equipamento 8,9. Preparação dos simuladores O corpo do simulador Krempser foi preenchido com soluções de 18F com concentração de atividade de 5,3 kBq/mL (concentração de fundo), valor correspondente ao encontrado em exames com FDG[18F] em paciente padrão (370 MBq injetados em paciente de 70 kg). Os cilindros foram sequencialmente preenchidos com concentrações de atividade 8 e 4 vezes maior do que a concentração de fundo (razões cilindro-fundo de n=8:1 e n=4:1), correspondendo a 42,4 kBq/mL e 21,2 kBq/mL, respectivamente. Para o simulador de espalhamento, a fonte linear foi preenchida com 116 MBq, segundo recomendação do protocolo NEMA. Os valores de atividade das soluções de 18F inseridas nos simuladores foram medidos utilizando um calibrador de doses modelo Atomlab 300 (Biodex Corp.), com resolução de 0,001 MBq, linearidade de 2,6%, reprodutibilidade de 1,2%, precisão de 2,1% e exatidão de 2,8%, segundo testes de controle de qualidade realizados periodicamente. O decaimento radioativo entre o início da preparação dos simuladores e o momento da aquisição de imagens foi corrigido segundo a Equação: A(t) = Ao exp(–λt) (1) onde: A(t) é a atividade final após decorrido o tempo t; A0 é a atividade inicial; e l é a constante de decaimento radioativo do radionuclídeo. O tempo decorrido entre o início da preparação dos simuladores e a aquisição de imagens foi de aproximadamente uma hora. Os valores conhecidos de concentração de atividade presentes nos cilindros e no fundo do simulador Krempser, no momento da aquisição das imagens, são apresentados na Tabela 1. Aquisição, reconstrução e quantificação das imagens Os simuladores foram posicionados e alinhados sobre a mesa de exames, centralizados nos FOVs transversal e axial (Figura 2). As imagens foram adquiridas e reconstruídas conforme o protocolo clínico utilizado na rotina do serviço para exame oncológico de corpo inteiro, com apenas uma posição de mesa (um “bed”). Para cada razão cilindro-fundo foram adquiridas duas imagens, para tempos de aquisição de três e cinco minutos, respectivamente, totalizando quatro imagens. Estas foram reconstruídas pelo método iterativo Fourier rebining/ordered subset expectation maximization (FORE/OSEM), com 4 iterações e 8 subsets, matriz 128 x 128, pixel de 5,3 mm e filtro gaussiano (5,0 mm). A quantificação da atividade nas imagens foi realizada via o software OsiriX, versão 4.0, que analisou o corte que passa pelo centro dos cilindros em cada Tabela 1. Valores conhecidos de concentração de atividade no simulador Krempser no momento das aquisições. Local Cilindros Fundo Razão 8:1 Concentração de atividade (kBq/mL) 27,25±1,20 3,40±0,15 Razão 4:1 Concentração de atividade (kBq/mL) 14,50±0,63 3,63±0,15 Figura 2. Posicionamento dos simuladores sobre a mesa de exames. Figura 3. Regions of interest (ROIs) traçadas para medida da concentração de atividade nos cilindros e no fundo vista em um corte axial da imagem de tomografia por emissão de pósitrons (PET) do simulador Krempser. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):35-40. 37 Krempser AR, Oliveira SMV, Almeida SA Coeficiente de Recuperação (CR) aquisição. A concentração de atividade neles foi medida por meio de regiões de interesse (region of interest – ROI) traçadas manualmente no interior da imagem de cada cilindro. Guiou-se a delineação de cada ROI na imagem de PET pela informação anatômica proveniente da correspondente imagem de CT. Cinco conjuntos concêntricos de ROIs com diâmetros iguais aos dos cilindros foram traçados para medida da concentração de atividade de fundo (Figura 3). Para os cilindros, registraram-se os valores máximos medidos de concentração de atividade por serem estes menos dependentes da metodologia para delineação das ROIs e, portanto, considerados a melhor forma de medida da captação em lesões 10, enquanto para o fundo foram registrados os valores médios. Para quantificar a magnitude do efeito de volume parcial em cada imagem, os valores medidos de concentração de atividade no interior dos cilindros e do fundo foram comparados aos conhecidos por meio do cálculo do coeficiente de recuperação (CR), dado pela equação: 1,00 0,90 0,80 0,70 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20 0,10 0,00 n=8:1; 03 min n=8:1; 05 min n=4:1; 03 min n=4:1; 05 min 0 5 10 15 20 25 Diâmetro do cilindro (mm) 30 35 Figura 4. Curvas dos coeficientes de recuperação em função do diâmetro dos cilindros. 10 mm CR = med med A CIL − A BG conh A conh CIL − A BG (2) em que: med A CIL =concentração de atividade medida no cilindro; med =concentração de atividade medida no fundo; A BG =concentração de atividade conhecida no A conh CIL cilindro; conh =concentração de atividade conhecida no fundo. A BG O conceito do uso de CRs já foi descrito na literatura e utilizado em outros estudos 11. Resultados Os CRs calculados para as quatro aquisições de imagem são apresentados na Tabela 2. O valor máximo foi de 0,91, encontrado para o cilindro com diâmetro de 20 mm, n=8:1 e tempo de aquisição de 5 minutos. E para o cilindro com diâmetro de 16 mm, n=8:1 e tempo de aquisição de 3 minutos. O valor mínimo foi de 0,01, encontrado para o cilindro com diâmetro de 4 mm, n=4:1 em ambos tempos de aquisição. A Figura 4 apresenta as curvas geradas a partir dos valores dos CRs em função do diâmetro dos cilindros. É possível observar claramente que os CRs aumentaram até o diâmetro de 16 mm, correspondente a aproximadamente 2,5 vezes a resolução espacial do equipamento, e a partir do qual permaneceram entre 0,79 e 0,91. Note que para o diâmetro de 30 mm, os CRs convergiram para valores bem próximos (0,86 e 0,88). A Figura 5 exibe um corte da imagem vista por CT e por PET, para n=8:1 e tempo de aquisição de 5 minutos. 12 mm 8 mm 14 mm 16 mm 6 mm 4 mm 18 mm 20 mm 30 mm A 25 mm 22 mm B Figura 5. Corte da imagem vista por computed tomography (CT) (A) e por tomografia por emissão de pósitrons (PET) (B), para n=8:1 e tempo de aquisição de 5 minutos. As setas na imagem vista por PET apontam a localização dos cilindros com diâmetros de 8, 6 e 4 mm, respectivamente. 38 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):35-40. Avaliação do efeito de volume parcial na quantificação de atividade em imagens de PET/CT Tabela 2. Coeficientes de recuperação (CRs) em função dos diâmetros do cilindros para diferentes tempos de aquisição e razões cilindro-fundo. Diâmetro (mm) 30 25 22 20 18 16 14 12 10 8 6 4 n=8:1 3 minutos 0,86 0,80 0,82 0,88 0,82 0,91 0,73 0,64 0,40 0,19 0,10 0,03 n=4:1 5 minutos 0,86 0,82 0,90 0,91 0,88 0,89 0,79 0,62 0,42 0,18 0,08 0,04 Discussão e Conclusões Conforme esperado, a acurácia na quantificação de atividade apresentou forte dependência com o diâmetro dos cilindros. Entretanto, é fracamente dependente da razão cilindro-fundo e do tempo de aquisição de imagem. Para os diâmetros menores do que 10 mm, foram encontrados CRs abaixo de 0,30. Isso corresponde a discrepâncias acima de 70% entre os valores verdadeiros e medidos pelo equipamento. Uma avaliação qualitativa de um corte específico da imagem de PET (Figura 5B) mostrou que os cilindros aparentam diferentes graus de intensidade, sendo o de 8 mm o menor identificável. O mesmo padrão se repetiu nas demais imagens. A não identificação dos cilindros com diâmetros de 6 e 4 mm na imagem de PET era previsível e justificável por serem menores do que a resolução espacial do equipamento e da ordem do tamanho do pixel. Entretanto, isso corresponde a uma limitação do equipamento estudado e que pode comprometer a sua capacidade de diagnosticar lesões em imagens de pacientes com diâmetros menores do que 8 mm. Nenhum dos CRs calculados atingiu o valor 1, que corresponderia a 100% de recuperação de contagens, mesmo para o cilindro de diâmetro igual a 30 mm (4,6 vezes maior do que a resolução espacial do equipamento). Os valores dos CRs encontrados neste estudo podem ser usados como base para avaliação do EVP na quantificação de atividade nas imagens do equipamento de PET/CT em questão. Entretanto, não se pode afirmar que uma lesão real encontrada em imagem com paciente tenha CR igual ao calculado para o cilindro com mesmo diâmetro, a menos que a lesão tenha forma e volume semelhantes aos do cilindro 3 minutos 0,88 0,89 0,89 0,79 0,84 0,82 0,75 0,63 0,38 0,27 0,11 0,01 5 minutos 0,88 0,86 0,86 0,84 0,79 0,86 0,77 0,60 0,33 0,27 0,07 0,01 Incerteza 0,04 0,04 0,04 0,03 0,03 0,03 0,02 0,02 0,02 0,01 0,01 0,01 com diâmetro correspondente, visto que o EVP pode ser mais ou menos intenso de acordo com a forma da lesão. Novos estudos serão conduzidos utilizando-se o equipamento de PET/CT avaliado com o intuito de desenvolver e/ou aprimorar técnicas de correção para o EVP. Agradecimentos Ao professor Miguel Bastos, do Instituto de Engenharia Nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear (IEN/CNEN) pela colaboração. Referências 1. Weber WA. Use of PET for monitoring cancer therapy and for predicting outcome. J Nucl Med. 2005;46(6):983-95. 2. Boellaard R. Standards for PET image acquisition and quantitative data analysis. J Nucl Med. 2009;50(Suppl 1):11S-20S. 3. Hoffman EJ, Huang SC, Phelps ME. Quantitation in positron emission computed tomography: 1. Effect of object size. J Comput Assist Tomogr. 1979;3:299-08. 4. Kessler RM, Ellis JR, Eden M. Analysis of emission tomographic scan data: limitations imposed by resolution and background. J Comput Assist Tomogr. 1979;3(3):299-308. 5. Soret M, Bacharach SL, Buvat I. Partial-volume effect in PET tumor imaging. J Nucl Med. 2007;48(6):932-45. 6. Siegel JA, Thomas SR, Stubbs JB, Stabin MG, Hays MT, Koral KF, et al. MIRD pamphlet no. 16: Techniques for quantitative radiopharmaceutical biodistribution data acquisition and analysis for use in human radiation dose estimates. J Nucl Med. 1999;40(2):37S-61S. 7. National Electrical Manufacturers Association. Standards Publication NU2-2001: performance measurements of positron emission tomography. Rosslyn: National Electrical Manufacturers Association; 2001. 8. Erdi YE, Nehmeh SA, Mulnix T, Humm JL, Watson CC. PET performance Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):35-40. 39 Krempser AR, Oliveira SMV, Almeida SA measurements for an LSO-based combined PET/CT scanner using the National Electrical Manufacturers Association NU 2-2001 standard. J Nucl Med. 2004;45(5);813-21. 9. Matheoud R, Secco C, Della Monica P, Leva L, Sacchetti G, Inglese E, et al. The effect of activity outside the field of view on image quality for a 3D LSO-based whole body PET/CT scanner. Phys Med Biol. 2009;54(19):5861-72. 40 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):35-40. 10.Krak NC, Boellaard R, Hoekstra OS, Twisk JW, Hoekstra CJ, Lammertsma AA. Effects of ROI definition and reconstruction method on quantitative outcome and applicability in a response monitoring trial. Eur J Nucl Med Mol Imaging. 2005;32(3):294-301. 11. Knoop BO, Geworski L, Hofmann M, Munz DL, Knapp WH. Use of recovery coefficients as a test of system linearity of response in positron emission tomography (PET). Phys Med Biol. 2002;47(8):1237-54. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):41-4. Caracterização de um detector planar de múltiplos fios para controle de qualidade diário de tratamentos com IMRT Multi-wire detector characterization for daily quality control on IMRT Vilma A. Ferrari, Érika Y. Watanabe, Gabriela R. Santos e Gisela Menegussi Setor de Radioterapia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) – São Paulo (SP), Brasil. Resumo Diversos equipamentos de dosimetria estão sendo desenvolvidos para o controle de qualidade de tratamentos de radioterapia utilizando técnicas modernas como, por exemplo, a Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT). A principal função desses equipamentos está voltada ao controle da qualidade diário dos tratamentos dos pacientes submetidos à técnica de IMRT. O objetivo deste trabalho é caracterizar um tipo de detector planar de múltiplos fios — DAVID (PTW) — para uso na rotina clínica. Nele, foi avaliada a influência do sistema de medida no feixe de radiação por meio de medidas dos fatores de absorção e dose superficial. Também analisaram-se a linearidade com a dose, a reprodutibilidade e a dependência com a taxa de dose e com o ângulo do cabeçote. Pequenos erros na posição das lâminas foram inseridos para avaliar a sensibilidade do sistema. Os resultados demonstraram que o detector pode absorver até 6,7% da dose, variando com a energia do feixe e o tamanho de campo. Houve aumento significativo na dose superficial, o que indica que uma análise individual deve ser realizada para cada paciente. O sistema mostrou boa reprodutibilidade, apresentou comportamento linear com a dose, baixa dependência com a taxa de dose e baixa dependência com o ângulo do cabeçote. Quando pequenos erros foram inseridos na posição das lâminas, foi possível verificá-los. Dessa forma, o detector DAVID se mostrou adequado para a verificação diária dos tratamentos com IMRT. Palavras-chave: controle de qualidade, radioterapia de intensidade modulada, dosimetria. Abstract Several dosimetry devices are being developed for quality control of radiation treatments using modern techniques as, for example, the Intensity Modulated Radiation Therapy (IMRT). The main function of these devices are to daily quality control of treatments of patients submited to IMRT technique. The aim of this study is to characterize a type of planar multi-wire detector — DAVID (PTW) — for use in clinical practice. It was evaluated the influence of the system in the radiation beam by measuring the absorption factors and surface dose. We also analyzed the dose-linearity, reproducibility, the dependence with the dose rate and the angle of the linac head. Small errors in the position of the multi-leaf were inserted to evaluate the sensitivity of the system. The results showed that the detector can absorb up to 6.7% of the dose, depending of the energy beam and the field size. A significant increase in surface dose was observed, indicating that individual analysis is necessary for each patient. The system showed good reproducibility, linear response with dose, low dependence with dose rate and low dependence with the angle of the linac head. When small errors were inserted in the position of the multi-leaf, the system was able to detect them. Thus, the detector DAVID proved to be suitable for daily verification of IMRT treatments. Keywords: quality control, intensity-modulated radiotherapy, dosimetry. Introdução Diversos equipamentos de dosimetria estão sendo desenvolvidos para o controle de qualidade de tratamentos de radioterapia utilizando técnicas modernas como, por exemplo, a Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT). A principal função desses equipamentos está voltada para o controle da qualidade diário dos tratamentos dos pacientes submetidos à técnica de IMRT1. O detector DAVID2 (Device for the Advanced Verification of IMRT Deliveries, PTW) se enquadra nesta categoria (Figura 1). Trata-se de um detector bidimensional constituído de câmaras de ionização em forma de fios, com design Autor correspondente: Vilma A. Ferrari – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – Setor de Radioterapia – Avenida Dr. Arnaldo, 251 – CEP: 01246-000 – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 41 Ferrari VA, Watanabe ÉY, Santos GR, Menegussi G Resultados Figura 1. Detector DAVID (PTW, Freiburg, Alemanha). específico para diferentes colimadores multilâminas. No caso do instalado no acelerador linear Synergy (Elekta), possui 40 fios, um para cada par de lâminas do colimador. Após ser devidamente alinhado, pode ser utilizado para avaliação e registro da deposição de dose para as frações do tratamento, sendo capaz de detectar a posição das lâminas em tempo real. O sistema é montado no cabeçote do acelerador linear, geralmente no suporte de bandeja, entre o colimador multilâminas e o paciente. Caracterizar este tipo de detector para uso na rotina clínica foi o objetivo deste trabalho. Material e Métodos As medidas foram realizadas pelo sistema DAVID (PTW) em um acelerador linear clínico Synergy (Elekta). Utilizaram-se feixes de fótons de energia nominal 6 MV e 15 MV. Um objeto simulador cúbico de água de dimensões 40x40x40 cm3 (1D Scanner, SunNuclear) foi usado para medidas de dose com câmara de ionização de placas paralelas Rooss (PTW). Analisaram-se a influência do detector no feixe de radiação por meio da determinação dos fatores de transmissão e das variações na dose superficial causadas pela presença do detector durante a irradiação. A profundidade foi de 10 cm para as medidas de transmissão e, para a determinação da dose superficial, de 0 e 2 mm (profundidades reais iguais a 1 e 3 mm, uma vez que o ponto efetivo de medida da câmara se encontrava 1 mm abaixo da janela de entrada). Os campos avaliados foram quadrados de lados iguais a 5, 10, 15, 20, 25, 30, 35 e 40 cm. Em todas as medidas, foi levada em consideração a distância fonte-superfície (DFS) de 90 cm. Foram ainda analisadas: a reprodutibilidade do sistema dosimétrico, a influência da angulação do cabeçote do acelerador linear na resposta do dosímetro e a dependência com a taxa de dose e a linearidade com a Unidade Monitora (UM). Erros pequenos (de 1 a 5 mm) foram inseridos propositalmente na posição de uma das lâminas a fim de determinar a sensibilidade do sistema em detectar tais deslocamentos. 42 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):41-4. Os resultados do fator de transmissão demonstraram que o sistema DAVID absorve de 3,6 a 6,7% da dose, variando conforme o tamanho de campo e a energia do feixe de radiação. A Tabela 1 apresenta os resultados dos fatores de transmissão para os tamanhos de campo e energias avaliados. As variações na dose superficial devido à presença do detector são apresentadas na Figura 2 para as duas energias e as duas profundidades analisadas. Os fatores representam o quociente entre a transmissão na profundidade em questão e a transmissão na profundidade de 10 cm para o mesmo tamanho de campo. Para avaliar a reprodutibilidade do sistema, um campo de dimensões 40x40 cm2 foi irradiado 10 vezes, e o desvio padrão encontrado foi de 0,179%, quando analisada a soma dos sinais de cada fio. A fim de averiguar a influência do ângulo do cabeçote no sistema de medida, irradiou-se o campo de 40x40 cm 2 variando a posição do mesmo em intervalos de 45º. A medida realizada com o gantry a 0º foi utilizada como referência. O desvio máximo apresentado foi de 1,8% para o ângulo de 225º. A Figura 3 apresenta os resultados para as posições de cabeçote analisadas. Na análise da taxa de dose, utilizou-se 300 UM/min como referência, e a mesma irradiação foi aplicada para as taxas de dose 75, 150 e 600 UM/min. O maior desvio encontrado foi de 0,2%, para a taxa de 75 UM/min. Na de 600 UM/min, houve saturação do sistema, não sendo possível a realização da medida. O campo utilizado para este teste foi de 40x40 cm2. A Figura 4 apresenta a resposta do sistema com o aumento da UM. Observa-se comportamento bastante linear, com R2=1. Com o objetivo de verificar a sensibilidade do sistema, foram inseridos erros de 1 a 5 mm na extremidade do campo de 10x10 cm2. A Tabela 2 apresenta o desvio relativo do sinal do fio pertencente à lâmina modificada, bem como do sinal total. As discrepâncias entre o campo de referência e um campo com deslocamento de 2 mm em uma das lâminas estão apresentadas na Figura 5. Discussão e Conclusões Observou-se que é necessário determinar um fator de absorção para cada tamanho de campo e para cada energia a ser utilizada. No entanto, alguns sistemas de planejamento não permitem a inserção desta forma. Nestes casos, pode-se determinar um fator médio para as diferentes energias ou, ainda, corrigir as UM manualmente. Nossos resultados mostram que a escolha de um fator médio para cada energia acarretará num erro menor do que 1% na determinação da dose. Fator de aumento da dose superficial Fator de aumento da dose superficial Caracterização de um detector planar de múltiplos fios para controle de qualidade diário de tratamentos com IMRT 6 MV 1,300 1,250 referência erro de 2 mm na lâmina nº 21 1,200 1,150 1,100 1,050 1,000 0,950 2 mm 0 mm 0 10 20 30 40 Lado do campo quadrado (cm) Figura 5. Sinais medidos com o DAVID após inserir um erro de 2 mm na lâmina nº 21. 15 MV 1,450 1,400 1,350 1,300 1,250 1,200 1,150 1,100 1,050 1,000 0,950 2 mm 0 mm 0 10 20 30 40 50 Lado do campo quadrado (cm) Desvio relativo à posição do gantry = 0º Figura 2. Aumento da dose superficial devido à presença do detector DAVID. Tamanho do campo (cm2) 5x5 10 x 10 15 x 15 20 x 20 25 x 25 30 x 30 35 x 35 40 x 40 6 MV 0,933 0,934 0,935 0,937 0,939 0,942 0,951 0,946 15 MV 0,949 0,951 0,952 0,953 0,956 0,958 0,964 0,960 1 0,998 Tabela 2. Relação entre o deslocamento da lâmina e a alteração percentual no sinal individual do fio e na soma de todos os fios. 0,996 0,994 45º 90º 135º 180º 315º 270º 225º 0,992 0,99 0,988 0,986 0,984 0,982 0,98 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Figura 3. Influência do ângulo do cabeçote na resposta do DAVID. Intensidade do sinal Tabela 1. Fatores de transmissão do DAVID obtidos para cada tamanho de campo e energia. 8.000 7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 0 R2 = 1 200 400 600 800 1.000 1.200 Unidade motora Figura 4. Linearidade da resposta do detector com a unidade monitora (UM). Deslocamento (mm) 1 2 3 5 Desvio do sinal no fio (%) 0,73 1,07 1,42 3,67 Desvio do sinal total (%) 0,05 0,15 0,28 1,18 Um parâmetro importante a ser considerado é o aumento na dose na superfície do paciente com a presença do detector. Observou-se incremento de até 35% com a presença do detector. No entanto, se considerarmos que na maioria dos tratamentos a dose na superfície é bem inferior à do alvo, esta alta percentual pode representar uma dose clinicamente irrelevante. Outro ponto importante é que os maiores aumentos na dose superficial foram encontrados para os maiores tamanhos de campo. Na técnica IMRT, no entanto, os subcampos são pequenos, assim como o crescimento da dose superficial. O sistema DAVID apresentou boa reprodutibilidade e baixa dependência com a taxa de dose e mostrou comportamento linear com o aumento da UM. Diferenças encontradas na resposta do dosímetro com a angulação do cabeçote podem não ser devidas ao detector, mas sim a variações do acelerador. Medidas adicionais devem ser feitas para investigar tal comportamento. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):41-4. 43 Ferrari VA, Watanabe ÉY, Santos GR, Menegussi G Com relação à capacidade do sistema em detectar pequenas variações na posição das lâminas, houve resultados aceitáveis, com sensibilidade a erros de até 1 mm, quando analisado o sinal individual de cada fio. No entanto, um erro pequeno (1 a 2 mm) inserido em apenas uma lâmina não foi verificado no sinal total do dosímetro. Com base nos resultados, afirmamos que o detector planar de múltiplos fios DAVID pode ser adequado para a verificação diária dos tratamentos de IMRT. 44 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):41-4. Referências 1. Poppe B, Looe HK, Chofor N, Rühmann A, Harder D, Willborn KC. Clinical performance of a transmission detector array for the permanent supervision of IMRT deliveries. Radiother Oncol. 2010;95(2):158-65. 2. Poppe B, Thieke C, Beyer D, Kollhoff R, Djouguela A, Rühmann A, Willborn KC, Harder D. DAVID – a translucent multi-wire transmission ionization chamber for in vivo verification of IMRT and conformal irradiation techniques. Phys Med Biol. 2006;51(5):1237-48. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):45-9. Caracterização de um sistema eletrônico de aquisição de imagem portal para dosimetria em radioterapia Characterization of an electronic system for Image acquisition portal to open field dosimetry Gustavo L. Barbi1,2, Harley F. Oliveira1, Edenyse C. Bertucci1, Leonardo L. Amaral1 e Leandro F. Borges1 Centro de Ciências das Imagens e Física Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) – Ribeirão Preto (SP), Brasil. 2 Serviço de Radioterapia do Hospital Amaral Carvalho – Jaú (SP), Brasil. 1 Resumo O objetivo do trabalho foi caracterizar e viabilizar um sistema eletrônico de imagem portal (Electronic Portal Imaging Device – EPID) para uso como portal dosímetro (PDI) na modalidade non-transit, ou seja, sem interposição de meio espalhador entre o feixe e EPID para medidas de campos abertos. As imagens, bem como os dados do cabeçalho DICOM, foram extraídos pelo software ImageJ e utilizados no algoritmo básico de conversão de pixel para dose. A linearidade e reprodutibilidade da resposta foram analisadas, encontrando-se um desvio máximo de 2,3% para 800 unidades monitoras (UM) na linearidade e -0,9% para reprodutibilidade de sinal, medida diariamente. Uma matriz de 512x512 com resolução de 0,8 mm foi criada para restabelecer a forma de campo dosimétrico após a aquisição da imagem. A resposta relativa à dependência de tamanho de campo foi avaliada mediante obtenção da razão de fatores de espalhamento total entre a câmara de ionização e o EPID. Finalmente, um fator de calibração de 28470,88±170,73 pixel/cGy foi estabelecido para a região central da imagem. Análises comparativas entre o PDI, filme radiocrômico e matriz de câmaras de ionização (MatriXX), mostraram boa concordância para campos maiores que 5x5 cm2 no restabelecimento da forma de campo e dose, no entanto, para campos entre 3x3 cm2 e 5x5 cm2, a concordância para forma de campo foi melhor estabelecida por filme em relação à matriz de câmaras de ionização. Palavras-chave: Dosimetria, EPID, imagem, radioterapia. Abstract The objective was to characterize and enable an electronic portal imaging device (EPID) to use like a portal dosimetry device – PDI, in nontransit mode, without interposition of scattering between the beam and EPID for measurement to open fields. The images as well as the DICOM header data are extracted from software ImageJ and the information are used in the basic algorithm for converting pixel to dose. The linearity and reproducibility of response were analyzed, and the maximum deviation found of 2,3% to 800 monitor units (MU) for linearity and -0,9% for reproducibility of signal measured daily. A 512x512 matrix with a resolution of 0,8mm was established to restore the shape of beam from the image. The field size dependence was evaluated, by obtaining the ratio of total scattering of ionization chamber and EPID. Finally, a calibration factor of 28470.88±170.73 pixel/cGy was established for the central area of the image. Comparative analyzes between the PDI, radiochromic film and array of ionization chambers (MatriXX) showed good agreement for fields greater then 5 x 5 cm2 to reestablishment of form field and dose, however, for fields between 3x3 cm2 and 5x5 cm2, the agreement to shape of beam was best established by film. Keywords: Dosimetry, EPID, image, radiotherapy. Introdução Electronic portal imaging devices (EPID’s) substituem filmes radiográficos convencionais na aquisição de imagens em radioterapia, por meio de detectores de silício amorfo (a-Si), para a formação da imagem digital1. Originalmente, os EPID’s foram criados para verificação de posicionamento de pacientes em tratamento, e aplicação em radioterapia guiada por imagem (IGRT), sendo seu uso, atualmente, expandido para a verificação da distribuição da Autor correspondente: Gustavo Lazzaro Barbi – Centro de Ciências das Imagens e Física Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) – Avenida Bandeirantes, s/n – Campus Universitário – CEP: 14048-900 – Ribeirão Preto (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 45 GL Barbi, Oliveira HF, Bertucci EC, Amaral LL, Borges LF dose em feixes externos de radioterapia. Mecanismos de correção específicos podem transformar um EPID comercial em um equipamento apto a aplicações dosimétricas, inclusive na análise pré-tratamento de radioterapia de intensidade modulada (IMRT)2. A performance de um acelerador linear clínico (LINAC) e suas características dosimétricas são avaliadas, rotineiramente, por meio de detectores como: câmaras de ionização, semicondutores, filmes dosimétricos e a associação destes. Tais detectores também são utilizados no controle de qualidade pré-tratamento de pacientes submetidos a radioterapia. A câmara de ionização e detectores de estado sólido, quando isolados, fornecem informações de dose pontual, e a acurácia depende da sua resolução espacial. Filmes possuem boa resolução espacial, entretanto, necessitam de calibração e cuidados de manipulação durante a leitura, pois a relação dose/resposta é fortemente afetada pelas condições de processamento. Mais recentemente, a introdução de filmes radiocrômicos, que não necessitam de revelação, contribuíram intensamente para a otimização dos procedimentos de controle de qualidade em radioterapia, o que não dispensa atenção especial ao processamento, leitura e análise dos mesmos. Por outro lado, matrizes ou arranjos de câmaras de ionização e diodos, quando associados a softwares comerciais, permitem a obtenção da distribuição da dose 2D em tempo real, bem como a análise comparativa mediante aplicação de critérios de diferença de dose e distância dos pontos de concordância, como a função Gamma. Entretanto, estes sistemas comerciais são de alto custo, necessitando de um número elevado de detectores para adequada resolução espacial. A utilização do EPID, como ferramenta no controle de qualidade dosimétrico, diminui o tempo necessário de procedimento, com resolução espacial alta suficiente para emprego em técnicas de IMRT, por exemplo. Como as referências de distribuição de dose, obtidas nos LINAC’s, são baseadas em câmaras de ionização, as diferenças de resposta entre o EPID e estas devem ser estabelecidas em calibração e processos de caracterização. EPID’s de a-Si possuem forte dependência com o espectro de energia de fótons, produzindo resposta superestimada para fótons de baixa energia, principalmente se aplicado objeto simulador entre o feixe e o detector, portanto, medidas incorretas de dose serão obtidas se correções adequadas não forem realizadas3. Por outro lado, feixes de altas energias, associados ao não uso de objeto simulador (non-transit), reduzem este efeito. No entanto, o uso do método non-transit impossibilita a dosimetria in-vivo4. O uso do EPID para aplicações dosimétricas exige a implementação de procedimentos que estabeleçam a relação entre a intensidade do pixel e a dose absoluta. A calibração do EPID é mais complexa que uma simples calibração cruzada. Esta complexidade está associada ao fato de que a estrutura física do EPID é constituída de 46 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):45-9. múltiplas camadas de diferentes materiais, acima e abaixo da camada de detecção, o que resulta em deposição de dose com propriedades distintas em relação a um meio homogêneo. A presença de materiais de alto número atômico na composição das camadas do EPID favorece uma sobrerresposta a fótons de baixa energia e à radiação espalhada, o que resulta em dependência com o tamanho do campo irradiado5,6. No entanto, conhecendo e corrigindo tais efeitos, a incorporação da dosimetria por EPID contribui para a obtenção de resultados comparáveis aos sistemas utilizados rotineiramente no controle de qualidade de tratamentos em LINAC’s. Material e Métodos O modelo do EPID estudado é o OptiVue 500, com matriz de 512x512 pixels, instalado em um LINAC modelo Oncor Plus, com feixes de fótons de 6 e 15 MV, ambos os equipamentos fabricados pela Siemens Medical Solutions [Siemens Co., Munich-GER]. Para este estudo, aplica-se o feixe de 6MV. A área ativa de imagem deste EPID consiste em 41x41 cm, com resolução de pixel de 0,8 mm. A aquisição de imagens e dados relativos ao protocolo DICOM dá-se por meio do software Siemens Coherence Therapist Workspace. Os resultados obtidos são imagens 2D, onde a escala de cinza acumulada (valor do pixel) é resultado dos valores médios deste sinal. A formação da imagem fina é resultante de subimagens denominadas frames, sendo o seu número, determinado pelo tempo de irradiação e taxa de dose. As imagens adquiridas são obtidas sem a interposição de objetos simuladores entre o feixe e o EPID, com a distância fonte / detector de 145 cm. Após a aquisição, as imagens são exportadas e analisadas inicialmente pelo software ImageJ e o cabeçalho DICOM aberto para a extração do número de frames, valores de pixel, perfis de sinal, redimensionamento, unidades monitoras (UM) e coordenadas do colimador multilâminas (MLC). As medidas de dose absoluta foram realizadas com câmaras de ionização modelo FC65G, CC13 e CC01, fabricadas pela IBA Dosimetry, em combinação a um eletrômetro Dose One. Medidas para a caracterização de buid-up do EPID foram realizadas em objeto simulador de água sólida RW3 e câmara de placas paralelas PPC05 da IBA Dosimetry. Para as medidas off-axis, foram utilizados objetos simuladores constituídos de múltiplas placas de água sólida e sistema de comissionamento Blue-Phanton, também da IBA Dosimetry. Os dados de distribuição, a partir de planos para o restabelecimento da forma do campo, foram obtidos com um arranjo constituído de 1.020 câmaras de ionização modelo MatriXX e software de análise OmniPro-I’mRT, de fabricação da IBA Dosimetry, sob um campo de 25x25 cm2, constituindo a matriz de restauro de forma de campo. A reprodutibilidade de sinal do EPID é determinada mediante a aquisição de uma imagem diária de um Caracterização de um sistema eletrônico de aquisição de imagem portal para dosimetria em radioterapia ( pxyn) 0,4 0,2 0,0 Desvio Percentual (%) campo 10x10 cm2 e 100 UM, sendo avaliado o sinal médio do valor de pixel em uma área central da imagem de 0,5x0,5 cm2. Para a caracterização da linearidade, a relação de resposta do EPID com a dose é obtida a partir de uma série de irradiações de campo 10x10 cm2, variando as UM’s de 1 a 800, sendo a leitura proporcional ao número de frames da imagem e o resultado comparado aos valores medidos com a câmara de ionização (CI) nas mesmas condições. A calibração no eixo central foi feita em objeto simulador de água na profundidade de buil-up, onde os fatores de espalhamento total foram determinados para a câmara de ionização e o EPID para a correção de resposta entre os detectores. Finalmente, a dose Dx,y pode ser obtida por meio da Equação 1. Para a validação da calibração, são comparados os perfis de dose obtidos pelo EPID aos perfis de dose medidos com o MatriXX, filme radiocrômico Gafchromic® EBT2 e na água, sendo todos obtidos na profundidade de buil-up do EPID definido a 2,0 cm. -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0 0 Onde, px,y é o valor do pixel, n o número de subimagens, FCx,y o fator de correção para forma do campo, e SEPID/CI a razão entre os fatores de espalhamento total. 600 Resultados A reprodutibilidade do sinal, avaliada em 21 dias, apresentou desvio percentual máximo de -0.9% em relação ao sinal médio, conforme Figura 1, constituindo um excelente resultado. A Figura 2 demonstra a resposta de linearidade do EPID avaliado para um campo de 10x10 cm2, desde um valor mínimo de 1 UM até 800 UM, e associada às mesmas condições para a CI tipo Farmer. Portanto, quando se normaliza o sinal com relação à resposta de 1 UM, o desvio máximo encontrado na linearidade é de 2,3% para 800 UM. A calibração do sinal, na região central de detecção da imagem, para o campo 10x10 cm2 resultou no valor de 28470,88±170,73 pixel/cGy, sendo a dose medida com a CI de 49,00 cGy nas mesmas condições do EPID, mas em buil-up equivalente de 2,0 cm. Devido às diferenças de resposta entre a CI e o EPID, houve a necessidade de definir a relação entre estes sinais. A Tabela 1 ilustra os valores dos fatores encontrados pela razão do espalhamento total Sc,p entre a CI CC01 e o EPID. A Figura 3 apresenta o perfil relativo do campo 10x10 cm2 para o EPID, comparado ao MatriXX e o Blue Phantom, sem as correções de restauro da forma de campo, calibração e espalhamento, onde se nota a discrepância na forma do campo devido à característica de flatness que não ocorre na imagem do EPID. Embora o tamanho de campo seja definido Dose (cGy) 800 FCFcSESPID/CI 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 Dia Figura 1. Reprodutibilidade diária do sinal. (1) Dx,y = 2 EPID CI 400 200 0 0 200 400 600 Unidade Monitora (UM) 800 Figura 2. Comparação de linearidade entre EPID e câmara. Tabela 1. Razão dos fatores de espalhamento total SC,P. Campo (cm2) SC,P EPID/CI 1x1 0.905 2x2 0.910 3x3 0.931 4x4 0.947 5x5 0.964 8x8 0.988 10x10 1.000 12x12 1.010 15x15 1.022 18x18 1.031 20x20 1.036 22x22 1.041 25x25 1.048 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):45-9. 47 GL Barbi, Oliveira HF, Bertucci EC, Amaral LL, Borges LF no isocentro de 100 cm, as aquisições foram realizadas à distância fonte / detector (DFC) de 145 cm e correções de redimensionamento aplicadas para os resultados a DFC=100 cm. Após a aplicação dos fatores de correção e da matriz de restauro da forma de campo, o EPID torna-se um portal dosímetro (PDI), neste contexto, para campos abertos. Os resultados para os campos 3x3 cm2, 5x5 cm2, 10x10 cm2 e 15x15 cm2 apresentados nas Figuras 4 a 7 para a DFC de 100 cm são comparados ao MatriXX e ao filme radiocrômico. Nota-se a discrepância para o perfil do campo 3x3 cm2, onde a largura a meia altura medida por meio do MatriXX é de 2,14 cm e 2,99 cm para o filme e PDI. As doses medidas no eixo central são apresentadas na Tabela 2, com desvio máximo de -3,1% para o campo 5x5 cm2, medido com filme radiocrômico. Discussão e Conclusões A utilização do método descrito para uso do EPID em dosimetria oferece boa concordância com relação aos dispositivos planares de dose já consolidados, apresentando vantagem na resolução espacial em relação aos arranjos matriciais de detectores. A utilização do filme radiocrômico para validação se fez necessária devido à equiparação na resolução, uma vez que o arranjo de câmaras apresentou discrepância significativa na definição da forma do campo para tamanhos menores que 5x5 cm2, o mesmo podendo ser observado por este sistema na perda de informação das bordas de campo. Outras considerações deverão ser incorporadas futuramente ao PDI apresentado, no que diz respeito à 200 100 Filme MatriXX PDI 150 60 Dose (cGy) Dose Relativa (%) 80 EPID sem correção MatriXX Blue Phamtom 100 40 50 20 0 -20 -10 0 10 Posição cross line (cm) 0 20 Figura 3. Perfis relativos ao campo 10x10 obtidos com EPID, MatriXX e Blue Phamtom. -6 -4 -2 0 2 Posição cross line (cm) 4 6 Figura 5. Perfis de dose do campo 5x5 obtidos com filme, MatriXX e PDI. 200 200 100 50 0 -6 100 50 0 -4 -2 0 2 Posição cross line (cm) 4 6 Figura 4. Perfis de dose do campo 3x3 obtidos com filme, MatriXX e PDI. 48 Filme MatriXX PDI 150 Dose (cGy) Dose (cGy) 150 Filme MatriXX PDI Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):45-9. -10 -5 0 5 Posição cross line (cm) 10 Figura 6. Perfis de dose do campo 10x10 obtidos com filme, MatriXX e PDI. Caracterização de um sistema eletrônico de aquisição de imagem portal para dosimetria em radioterapia dependência com o tempo de irradiação, principalmente para baixas UM’s e efeitos de sobreposição de informação de imagens adquiridas subsequentemente, como ghosting e lag7,8. O desenvolvimento de ferramentas de análise comparativa será necessário para a validação do método no controle de qualidade dosimétricos de campos irregulares e, posteriormente, planos de tratamento. 60 50 Matrixx PDI Dose (cGy) 40 30 Referências 20 10 0 -15 -10 -5 0 5 Posição cross line (cm) 10 15 Figura 7. Perfis de dose do campo 15x15 com MatriXX e PDI. Tabela 2. Doses no eixo central para os diferentes detectores. 3x3 Método Calculada Filme MatriXX PDI 186,61 191,16 185,41 185,94 Tamanho de campo (cm2) 5x5 10x10 Dose (cGy) 193,21 206,2 187,26 201,2 193,76 205,79 192,47 205,76 15x15 53,15 – 53,05 53,01 1. Herman MG, Kruse JJ, Hagness CR. Guide to clinical use of electronic portal imaging. J Appl Clin Med Phys. 2000;1:38-57. 2. Van Esch A, Vanstraelen B, Verstraete J, Kutcher G, Huyskens D. Pretreatment dosimetric verification by means of a liquid-filled electronic portal imaging device during dynamic delivery of intensity modulated treatment fields. Radiother.Oncol. 2001;60:181-90. 3. Greer PB. Correction of pixel sensitivity variation and off-axis response for amorphous silicon EPID dosimetry. Med Phys. 2005;32:3558-68. 4. Pasma KL, Kroonwijk M, Quint S, Visser AG, Heijmen BJM. Transit dosimetry with an electronic portal imaging device (EPID) for 115 prostate cancer patients. Int J Radiat Oncol Biol Phys. 1999;45:1297-303 . 5. Nijsten SMJJG, van Elmpt WJC, Jacobs M, Mijnheer BJ,Dekker ALAJ, Lambin P, et al. A global calibration model for a a-Si EPIDs used for transit dosimetry. Med Phys. 2007;34:3872-84. 6. Valentín OR, Romero AG, Vitoria AH, Albericio JJ, Rodicio JC, Cebrián EM, et al. Dosimetric characterization of an electronic portal imaging device (EPID) and development of a portal dosimetry simple model. Rev Fis Med. 2010;11(3):199-210. 7. McDermott LN, Louwe RJW, Sonke JJ, van Herk MB, Mijnheer BJ. Doseresponse and ghosting effects of an amorphous silicon electronic portal imaging device. Med Phys. 2004;31:285-95. 8. Peter GB, Philip V. Vial. Epid Dosimetry. AIP Conf. Proc; 2010 Sept 15-18; Wollongong, Austrália;1345:129-44. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):45-9. 49 Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):51-4. Calibração de diodos semicondutores para dosimetria in vivo em tratamentos de irradiação de corpo inteiro Calibration of semiconductors diodes for in vivo dosimetry in total body irradiation treatments Fernanda F. Oliveira1, Leonardo L. Amaral2, Alessandro M. Costa1 e Thomaz G. Netto1 Departamento de Física da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP) − Ribeirão Preto (SP), Brasil. 2 Serviço de Radioterapia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP) − Ribeirão Preto (SP), Brasil. 1 Resumo Este trabalho apresenta os resultados de dosimetria in vivo com diodos semicondutores tipo-p, EDP-15 (Scanditronix Wellhöfer), em tratamentos de irradiação de corpo inteiro de dois pacientes, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP). Os diodos foram previamente calibrados e os fatores de calibração foram determinados com o auxílio de uma câmara de ionização de referência (FC065, IBA Dosimetry, volume sensível de 0,65 cm3). A calibração foi realizada em um setup de Irradiação de Corpo Inteiro (TBI), utilizando objetos simuladores de água sólida. Diferentes espessuras do diâmetro latero-lateral (DLL) de um paciente foram simuladas e, posteriormente, determinados os fatores de calibração com base nas leituras de dose na profundidade de máxima dose (metade da espessura do DLL). A diferença na resposta do diodo para a dose prescrita nos dois tratamentos foi inferior a 4%. Assim, ficou demonstrado que essa diferença está dentro do recomendado pelo International Comission on Radiation Units (ICRU), que é igual a ±5%. Palavras-chave: dosimetria, semicondutores, irradiação corporal total. Abstract This paper presents the results of in vivo dosimetry with p-type semiconductors diodes, EDP-15 (Scanditronix Wellhöfer) of two patients who underwent total body irradiation treatments, at Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto University of Sao Paulo (HCFMRPUSP). The diodes were well calibrated and the calibration factors were determined with the aid of a reference ionization chamber (FC065, IBA dosimetry, sensitive volume of 0.65 cm3).The calibration was performed in a Total Body Irradiation (TBI) setup, using solid water phantoms. Different lateral thicknesses from one patient were simulated and then the calibration factors were determined by means of maximum depth dose readings (half of the lateral thickness). The response difference between diode readings and the prescribed dose for both treatments was below 4%. This difference is in agreement as recommended by International Comission on Radiation Units (ICRU), which is ±5%. Keywords: dosimetry, semiconductors, whole-body irradiation. Introdução A Irradiação de Corpo Inteiro (TBI, do inglês Total Body Irradiation) usa fótons de alta energia e é frequentemente utilizada para preparar os pacientes para transplante de medula óssea, vítimas das doenças malignas do sangue, tais como a leucemia. A finalidade da TBI é auxiliar na destruição das células da medula, imunossuprimindo o paciente para que este possa receber a nova medula óssea1. Incertezas na determinação da taxa de dose nas condições de irradiação e na determinação da dose em profundidade, no posicionamento do paciente entre frações e na definição da homogeneidade da dose, são fatores que contribuem para a complexidade do tratamento. A não homogeneidade da dose no volume de tratamento, devido a não homogeneidade dos tecidos presentes no campo de radiação, ao contorno irregular do paciente e à energia do feixe, pode comprometer os órgãos de risco do tratamento, como pulmão, podendo levar ao desenvolvimento de pneumonitis radio-induzida ou a síndrome gastrointestinal2,3. Para garantir a homogeneidade de dose em TBI, é necessário realizar medidas de dosimetria in vivo para cada Autor correspondente: Fernanda Ferretti de Oliveira − FFCLRP-USP − Avenida Bandeirantes, 3.900 − CEP: 14040-901 – Ribeirão Preto (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 51 Oliveira FF, Amaral LL, Costa AM, Netto TG fração do tratamento. Este trabalho descreve os procedimentos de calibração de diodos semicondutores para dosimetria in vivo TBI. Material e Métodos As irradiações foram realizadas no Acelerador Linear Oncor-Siemens, de 6 MV, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP). Foram utilizados diodos semicondutores tipo-p, IBA Dosimetry DPD-3 da empresa Scanditronix Medical AB-Germany. Para a calibração dos diodos utilizaram-se várias combinações diferentes de placas de água sólida de dimensão 30x30x1 cm e densidade de 1g/cm3, um objeto simulador cúbico de água de dimensões 18x18x18 cm. Um conjunto formado por uma câmara de ionização (FC065, de volume sensível 0,65 cm3, IBA) e eletrômetro (Dose1, IBA) foi usado como dosímetro de referência nas determinações de dose durante a caracterização e calibração do sistema dosimétrico, para posterior aplicação e validação da técnica de dosimetria in vivo para tratamentos de TBI. Para a calibração, utilizou-se um setup de TBI (SAD=393 cm, campo de 40x40 cm, gantry a 270º, colimador a 45º, taxa de dose de 100 UM/min) com o auxílio da câmara de ionização e do objeto simulador (OS) de água sólida (Figura 1). Além disso, avaliou-se a resposta do diodo com a temperatura, taxa de dose e angulação do gantry. Para a análise da dependência com a taxa de dose e angulação, o diodo foi posicionado a 100 cm da fonte, na superfície do OS. A câmara de ionização foi inserida na profundidade de máxima dose (10 cm). Um campo de 10x10 cm foi usado. Para a análise da temperatura, o diodo foi fixado na parede de uma cuba com água. Variou-se a temperatura da água no interior da cuba e monitorou-se a mesma com um termômetro. Para que o equilíbrio térmico fosse atingido, cinco minutos foram aguardados. Para se determinar os fatores de calibração (Equação 1), o diodo foi mantido em uma posição fixa e foi-se variando, lateralmente, a profundidade da câmara de ionização dentro do objeto simulador, ou seja, variou-se a distância da câmara em relação ao diodo. O objetivo nesse caso era simular várias espessuras DLL, onde o diodo assumia fatores de calibração diferentes, de acordo com a dose verificada com a câmara em cada profundidade. Uma vez que os pacientes candidatos ao tratamento TBI podem ser de qualquer idade, obteve-se fatores de calibração para distâncias de 4 a 23,5 cm. Para cada distância do diâmetro latero-lateral (DLL) considerada, o sistema dosimétrico fornecia um fator de correção que era alocado na unidade dosimétrica. Isso permite que, no momento da dosimetria in vivo, o valor DLL do paciente seja medido e então o fator de correção correspondente aquele valor, e já previamente calculado na dosimetria com objeto simulador, seja acessado. Temperatura e pressão foram monitoradas ao longo do procedimento. Fcal = ( LCJ L diodo ( (1) referência! Para homogeneizar a dose ao longo do corpo, uma espessura de chumbo foi fixada à bandeja, próxima ao gantry, em uma posição que blindava parte da radiação que chegava a cabeça do paciente, uma vez que essa região possui uma espessura (DLL) menor que o restante do corpo e por isso, pode receber maiores níveis de dose. A espessura utilizada foi de 4 mm. Doses de 150 cGy foram aplicadas, sendo 75 cGy no campo lateral direito e outros 75 cGy no campo lateral esquerdo, após o giro de 180º da mesa, mantendo-se a posição do isocentro. Posteriormente a calibração, medidas de dosimetria in vivo foram realizadas em dois pacientes candidatos ao tratamento TBI. Cada paciente recebeu uma dose total de 1200 cGy, por um período de 4 dias (1 fração de 300 cGy por dia). O diodo foi posicionado dentro de um isopor (para isolamento de temperatura) na superfície do paciente, na altura da pelve. Para cada paciente, tivemos um DLL específico e consequentemente um fator de calibração diferente. O tratamento foi realizado nas mesmas condições de calibração. Temperatura e pressão foram monitoradas. Resultados Figura 1. Setup de irradiação de corpo inteiro para calibração do diodo. 52 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):51-4. Os fatores de dependência com a taxa de dose, angulação e temperatura estão nas tabelas a seguir. Verifica-se que o diodo apresenta pouca variação de resposta para esses parâmetros. Os fatores de calibração são apresentados na Tabela 4. Nesta tabela são apresentados apenas os fatores de calibração que foram utilizados posteriormente na dosimetria in vivo, visto que os pacientes submetidos ao TBI tinham medidas pequenas de DLL. As medidas de dosimetria in vivo foram realizadas e obteve-se baixa diferença entre a dose prescrita no Calibração de diodos semicondutores para dosimetria in vivo em tratamentos de irradiação de corpo inteiro planejamento do tratamento e a dose obtida com o diodo. Os resultados para o primeiro paciente encontram-se na Tabela 5 e para o segundo, na Tabela 6. O primeiro paciente apresentou espessura DLL de 20,0±0,05 cm. Dessa forma, como o planejamento é feito na profundidade de referência que corresponde à metade da espessura DLL (10,0 cm), usamos o fator de calibração de 0,84, correspondendo a CORR 18. No caso do segundo paciente, que tinha DLL de 23,0±0,05 cm, usamos a CORR 20. Para os dois casos de dosimetria in vivo, a taxa de dose utilizada foi de 7 cGy/min. No entanto, não foi necessário a correção da dose pelo fator taxa de dose uma vez que, baseando-se nos valores da Tabela 3, observamos que o diodo apresenta uma diferença menor que 2% entre o máximo e o mínimo valor de leitura. Discussão e Conclusões Pelos resultados apresentados, verifica-se que o sistema dosimétrico apresenta-se bem calibrado, uma vez que a variação entre a dose prescrita e a dose obtida a partir do diodo está dentro do recomendado pelo ICRU (International Comission on Radiation Units), que é de ±5%4. O diodo apresentou baixa dependência em relação à taxa de dose e angulação do gantry (Tabelas 1 e 2). A baixa dependência com a taxa de dose pode ser compreendida, uma vez que, para diodos que não foram previamente irradiados ou para diodos pouco utilizados na clínica (como foi o caso), a baixa variação de resposta com a taxa de dose é verificada. O sistema dosimétrico do HCFMRP-USP não havia sido usado previamente em nenhuma medida de dose e, portanto, teve sua caracterização e calibração realizada como objetivo deste projeto de pesquisa. Ainda, podemos ressaltar que a baixa dependência angular pode ser verificada pela geometria do diodo. O diodo apresenta capa de build-up própria que garante uma geometria cilíndrica ao volume alvo, diminuindo variações de resposta com a angulação. Quanto à dependência com a temperatura, apesar de baixa (Tabela 3), decidiu-se por usar o diodo no interior de uma semiesfera de isopor para que o mesmo pudesse ficar isolado termicamente em relação ao paciente. Uma vez que na dosimetria in vivo o diodo fica em contato direto com a superfície do paciente, estando o mesmo dentro do isopor, garante que trocas de calor entre o paciente e o dosímetro sejam menos eficazes e interfiram menos na resposta do diodo5. Podemos concluir que, para tratamentos de Irradiação de Corpo Inteiro, onde a complexidade do setup dificulta a deposição homogênea de dose ao longo do volume alvo, é extremamente necessário que um controle da dose liberada ao paciente seja realizado. Os dosímetros semicondutores mostraram-se adequados para a dosimetria in vivo, apresentando valores dentro do recomendado. Este trabalho obteve aprovação do comitê de ética da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP). Tabela 1. Fator taxa de dose para o diodo. Dose (cGy/min) 100 200 300 Ldiodo (cGy) 83,97±0,06 83,97±0,06 82,98±0,08 LCI (cGy) 84,01±0,01 84,01±0,01 83,04±0,01 Fcal 1,01±0,01 1,01±0,01 1,00±0,01 Ldiodo: leitura do diodo; LCI: leitura da câmara de ionização; Fcal: fator de calibração. Tabela 2. Fator dependência angular para o diodo. Gantry (o) 270 300 330 30 60 90 Ldiodo (cGy) 99,49±0,07 100,01±0,02 100,07±0,04 99,94±0,02 100,03±0,03 99,93±0,02 Ldiodo: leitura do diodo. Tabela 3. Fator dependência com a temperatura para o diodo. Temp (ºC) 26,5±0,5 31,0±0,5 35,7±0,5 36,5±0,5 38,8±0,5 Ldiodo(cGy/min) 41,71±0,07 42,14±0,07 42,31±0,08 42,40±0,06 42,63±0,11 Ldiodo: leitura do diodo. Tabela 4. Fatores de calibração para o diodo. DLL (±0,05 cm) 8 12 18 20 22 23 PR (±0,05 cm) 4 6 9 10 11 11,5 LCI(cGy) Ldiodo Fcal CORR 13,65 11,65 10,54 10,32 9,88 9,73 12,1 12,1 12,2 12,3 12,2 12,2 1,14 0,97 0,87 0,84 0,81 0,79 15 16 17 18 19 20 DLL: diâmetro latero-lateral; PR: profundidade de referência; LCI: leitura da câmara de ionização; Ldiodo: leitura do diodo; Fcal: fator de calibração; CORR:fator de correção. Tabela 5. Dosimetria in vivo para o primeiro paciente. Fração diária (cGy) 300 300 300 300 Ddiodo (cGy) 293,45 291,32 292,51 294,39 Variação (%) 2,2 2,9 2,5 1,87 Ddiodo: dose obtida com diodo. Tabela 6. Dosimetria in vivo para o segundo paciente. Fração diária (cGy) 300 300 300 300 Ddiodo (cGy) 298,41 299,32 289,51 293,42 Variação (%) 0,5 0,2 3,5 2,2 Ddiodo: dose obtida com diodo. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):51-4. 53 Oliveira FF, Amaral LL, Costa AM, Netto TG Agradecimentos À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e ao serviço de Radioterapia do HCFMRP-USP. Referências 1. 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Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro − COPPE/UFRJ; 2003. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):55-60. Comparação entre o cálculo da dose no XiO® e medidas dosimétricas em feixes de fótons com filtro virtual Comparison between dose calculation in XiO® and dosimetric measurements in virtual wedge photon beams Laila G. Almeida1, Leonardo L. Amaral1, Harley F. Oliveira1 e Ana F. Maia2 Serviço de Radioterapia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP) − Ribeirão Preto (SP), Brasil. 2 Departamento de Física da Universidade Federal de Sergipe (UFS) − São Cristovão (SE), Brasil. 1 Resumo O filtro virtual (FV) constitui ferramenta útil no planejamento de tratamentos em radioterapia visto que apresenta uma série de vantagens em relação ao filtro físico. Testes de controle da qualidade asseguram correta execução do planejamento realizado no sistema de planejamento do tratamento (TPS). Este estudo objetivou comparar doses calculadas por TPS com doses medidas por câmara de ionização (CI) e matriz de CI em feixes de fótons de 6 MV com FV. Realizaram-se medidas no acelerador linear Primus com objeto simulador de água sólida e dosímetro posicionado a 10 cm de profundidade com gantry a 0° em diversos tamanhos de campos e de angulações de FV. Medidas no eixo central utilizaram uma CI como dosímetro, enquanto as fora do eixo central utilizaram uma matriz de CI. A simulação virtual no TPS XiO-CMS utilizou as imagens tomográficas do objeto simulador na mesma configuração da irradiação. Valores de máximo e mínimo das diferenças percentuais entre as doses fornecidas pelo TPS e as medidas com a CI no eixo central foram 1,43 e -0,10%, respectivamente, com diferença percentual média de 0,08% e limite de confiança de ∆=1,72%. Na região fora do eixo central, a diferença percentual média foi de 0,04%, com valor máximo de 1,9%, mínimo de 0% e limite de confiança de ∆=1,91%. Todos os valores das diferenças percentuais de dose ficaram abaixo de 2% e do limite de confiança inferior a 3% estando, assim, de acordo com as recomendações do Technical Report Series - TRS-430. Palavras-chave: radioterapia, planejamento da radioterapia assistida por computador, dosimetria. Abstract The virtual wedge is useful tool in the radiation treatment planning since it has series of advantages over the hard wedge. Quality control tests ensure correct performance of the planning done in treatment planning systems (TPS). This study aimed to compare doses calculated by TPS and doses measured by ionization chamber (CI) and an ionization chambers array in virtual wedge photon beams of 6 MV. Measures carried out in Primus linear accelerator with a solid water phantom and dosimeter positioned at 10 cm depth with gantry at 0° in many fields sizes and angles in the virtual wedge. Measurements on the central axis used as dosimeter an IC and on off-axis used an IC array. The simulation in CMS-XiO used the CT images of the phantom in the same configuration of the irradiation. Maximum and minimum values of the percentage differences between the doses provided by TPS and measurements with ionization chamber on the central axis were 1.43 and -0.10%, respectively, with average percentage difference of 0.08% and confidence limit of ∆=1.72%. In the region off-axis, the average percentage difference was 0.04%, with a maximum of 1.9%, minimum of 0% and confidence limit of ∆=1.91%. All values for dose percentage differences were below 2% and lower confidence limit of 3% are thus, according to the recommendations of the Technical Report Series - TRS-430. Keywords: radiotherapy, computer-assisted radiotherapy planning, dosimetry. Autor correspondente: Laila Galvão Almeida − Instituição Oncobeda − Rua Saldanha Marinho, 422 – CEP: 20810-272 – Campos dos Goytacazes (RJ), Brasil − E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 55 Almeida LG, Amaral LL, Oliveira HF, Maia AF Introdução Estima-se que só no ano de 2012 surja cerca de 520.000 casos novos de câncer no Brasil1 e a radioterapia se destacará pela maioria dos tratamentos destes tumores. A Radioterapia é uma técnica de tratamento que utiliza radiação ionizante a fim de eliminar células não desejadas do organismo humano. As diferentes metodologias se baseiam na destruição do tumor pela absorção da energia da radiação incidente e tendo como princípio maximizar o dano ao tumor e minimizar o dano em tecidos vizinhos, normais, o que é conseguido através de diversas técnicas, pois depende da localização e do tipo da doença envolvida2. O sistema de planejamento do tratamento (TPS) é uma ferramenta importante em radioterapia, o qual possibilita simular rapidamente as interações do feixe radioativo no organismo humano. A base de cálculo de um sistema de planejamento são as imagens radiológicas por ele recebidas. Os dados da imagem radiológica, geralmente produzidas por tomografia computadorizada, são usados em conjunto com uma descrição matemática que através de um modelo anatômico detalhado do paciente, ilustra a distribuição de dose com elevado grau de exatidão. O planejamento de tratamentos radioterápicos utilizando TPS é um procedimento elaborado que envolve diversas etapas. Para utilização das inúmeras ferramentas disponíveis nos TPS é necessário realizar um processo de comissionamento do acelerador linear (AL), onde parâmetros apropriados e dados medidos nos AL da instituição são transcritos pelo usuário ao TPS a fim de obter o cálculo da dose3. A utilização de filtros físicos nos planejamentos para obtenção de distribuições de dose em formato de cunha é uma prática bastante comum. Os filtros físicos apresentam alguns inconvenientes como: manipulação e intervenção do operador em cada campo de tratamento, introdução de efeitos dosimétricos (endurecimento do feixe e fator filtro), geração de mais dose espalhada e limitação da utilização das cunhas apenas para as angulações de filtros presentes na clínica. Visando evitar tais ocorrências, foram introduzidos os filtros não físicos que produzem distribuições de dose similares aos filtros físicos por meio do movimento dinâmico do colimador durante a irradiação4. A geração dos gradientes de dose do filtro virtual (FV) da Siemens baseia-se na combinação do movimento do colimador da posição fechada para a aberta a uma velocidade constante e da variação da taxa de dose5. O processo de modelagem do feixe com FV é bastante complexo e consiste da caracterização do modelo dosimétrico do feixe com FV no TPS através da combinação de parâmetros matemáticos para reproduzir no sistema a mesma configuração do feixe real do AL. Um parâmetro importante é o fator de calibração do coeficiente de atenuação linear médio, chamado de “fator c”, o qual deve ser multiplicado pelo coeficiente de atenuação efetivo padrão, µpad, fornecido pelo fabricante da máquina para obtenção do coeficiente de atenuação efetivo µ6: μ = cμpad (1) 56 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):55-60. A modelagem é produzida pelo usuário e, portanto, para avaliar se a modelagem foi obtida satisfatoriamente é importante realizar verificações no TPS como parte de um programa de controle da qualidade. Sendo assim, o trabalho teve como objetivo avaliar as doses calculadas por um TPS a partir da comparação com doses medidas utilizando CI para a implementação do FV no serviço de Radioterapia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP). Material e Métodos Medidas de dose no eixo central foram realizadas no AL Primus (Siemens, Alemanha) com objeto simulador de água sólida e CI do tipo Farmer modelo FC065-G (Iba Dosimetry, Alemanha) posicionada perpendicularmente a cunha na profundidade de 10 cm com feixes de fótons de 6 MV e gantry a 0°, conforme ilustrado na Figura 1A. As angulações de FV utilizadas foram 15°; 30°; 45° e 60° e os tamanhos de campo para tais medidas foram: 6x6 cm; 10x10 cm, 6x20 cm, 20x6 cm, máximo tamanho (30x25 cm para ângulos de 15°, 30° e 45° e 30x20 cm para 60°) e 20x20 cm. Realizaram-se duas irradiações com colimador a 90° e outras duas a 270°, com distância foco superfície de 100 cm e 100 unidades monitoras. Converteu-se cada leitura em dose absorvida obtendo-se o valor médio e o desvio padrão. Foi calculada, então, a diferença percentual entre a dose medida e a dose fornecida pelo XiO para cada tamanho de campo e ângulo de filtro analisado, segundo o TRS-4303: δ =100 × ( Dcalc − Dmed ) Dmed (2) onde δ é a diferença percentual; Dcalc é a dose calculada num determinado ponto do objeto simulador; a) A b) B Figura 1. Arranjo experimental com A) câmara de ionização e B) matriz de câmara de ionização. Comparação entre o cálculo da dose no XiOÒ e medidas dosimétricas em feixes de fótons com filtro virtual Dmed é a dose medida no mesmo ponto do objeto simulador. Para casos onde muitos pontos são comparados, pode-se utilizar o conceito de limite de confiança definido por Venselaar et al7 como: No processo de modelagem do feixe, obteve-se o valor de “fator c”=1,020 com coeficiente de atenuação efetivo µ=0,056. Para simulação virtual das medidas no eixo central com obtenção dos valores calculados de dose, utilizou-se o TPS XiO-CMS e imagens tomográficas do objeto simulador com a CI na mesma configuração da irradiação adquiridas no tomográfico computadorizado Brilliance Big Bore (Philips, EUA). Também foram realizadas medidas utilizando uma matriz de CI, Matrixx (Iba Dosimetry, Alemanha), posicionada a profundidade de 10 cm para os seguintes tamanhos de campo: 6x6 cm; 10x10 cm e 20x20 cm e ângulos de FV: 15°; 30°; 45° e 60°, conforme ilustrado na Figura 1B. Tomografia computadorizada no Brilliance Big Bore do objeto simulador junto com a matriz de CI foi realizada para simulação virtual das medidas realizadas com o Matrixx. Utilizando o software OmniPro (Iba Dosimetry, Alemanha), obteve-se o valor de dose fora do eixo central calculado pelo TPS e o medido pelo detector. As distâncias, em cm, do eixo central a partir da origem para obtenção dos valores de dose foram: -7, -3, -2, 2, 3 e 7, quando aplicável para o tamanho de campo analisado. Dessa forma, calculou-se a diferença percentual entre a dose medida e a dose fornecida pelo TPS de acordo com a Equação 2. ∆ = |desvio médio|+1,5 SD(3) onde SD é o desvio padrão. Sendo assim, calculou-se o desvio médio e o desvio padrão das diferenças percentuais obtidas para determinação do limite de confiança. O TRS-4303 fornece valores de limites de tolerância para diferentes localizações de medida: eixo central, build-up, penumbra, fora do eixo central, fora dos limites do campo, entre outras, e para diferentes complexidades de geometria: geometrias simples (homogênea), complexa (filtro, assimetria e heterogeneidade) e bastante complexa (combinação de simples com complexa). Dessa maneira, o valor do limite de tolerância para as configurações usadas neste estudo é de 3%, que é aquele para medidas com geometria complexa (filtro) tanto no eixo central como fora do eixo central (alta dose e baixo gradiente de dose). Resultados Os resultados das medidas no eixo central obtidos para cada ângulo de FV são apresentados nas Tabelas 1 a 4. Tabela 1. Resultados obtidos para ângulo de filtro virtual 15°. Média Doses Medidas (cGy) Desvio Padrão Doses (cGy) Dose XiO (cGy) Diferença Percentual 6X6 61,6 0,04 61,0 -0,99 10X10 67,1 0,10 66,8 -0,39 20X20 73,5 0,07 73,0 -0,67 30X25 75,4 0,03 75,3 -0,10 6X20 66,0 0,00 66,1 0,22 20X6 65,7 0,08 66,1 0,56 Média Doses Medidas (cGy) Desvio Padrão Doses (cGy) Dose XiO (cGy) Diferença Percentual 6X6 61,6 0,14 61,1 -0,76 10X10 67,0 0,16 66,8 -0,27 20X20 73,6 0,07 73,2 -0,54 30X25 75,5 0,21 76,1 0,84 6X20 65,7 0,15 66,2 0,77 20X6 65,6 0,20 66,2 0,91 Campo (cm2) Tabela 2. Resultados obtidos para ângulo de filtro virtual 30°. Campo (cm2) Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):55-60. 57 Almeida LG, Amaral LL, Oliveira HF, Maia AF Tabela 3. Resultados obtidos para ângulo de filtro virtual 45°. Média Doses Medidas (cGy) Desvio Padrão Doses (cGy) Dose XiO (cGy) Diferença Percentual 6X6 61,6 0,14 61,1 -0,76 10X10 67,0 0,16 66,8 -0,27 20X20 73,6 0,07 73,2 -0,54 30X25 75,5 0,21 76,1 0,84 6X20 65,7 0,15 66,2 0,77 20X6 65,6 0,20 66,2 0,91 Média Doses Medidas (cGy) Desvio Padrão Doses (cGy) Dose XiO (cGy) Diferença Percentual 6X6 61,7 0,21 61,2 -0,79 10X10 67,1 0,19 66,9 -0,24 20X20 73,5 0,05 73,7 0,21 30X25 74,3 0,47 75,3 1,31 6X20 65,3 0,38 66,2 1,43 20X6 65,6 0,35 66,2 0,91 Campo (cm2) Tabela 4. Resultados obtidos para ângulo de filtro virtual 60°. Campo (cm2) Os valores de máximo e mínimo das diferenças percentuais entre as doses fornecidas pelo TPS e as medidas com a CI foram 1,43 e -0,10%, respectivamente, com diferença percentual média de 0,08%. Analisaram-se 24 valores de diferença percentual para as medidas de dose no eixo central, com desvio médio de 0,63% e desvio padrão de 0,73%, obtendo-se, assim, um valor de limite de confiança ∆=1,72%. O ângulo de FV de 15° apresentou valores de diferenças percentuais máxima e mínima de 0,99 e -0,10% com valor médio de -0,23%. O ângulo de FV de 30° teve diferenças percentuais máxima e mínima de -0,92 e 0,18% com valor médio de -0,09%. Já para o ângulo de FV de 45°, os valores de diferenças percentuais máxima e mínima foram -0,91 e -0,27% com valor médio de 0,16%. E o ângulo de FV de 60° apresentou valores de diferenças percentuais máxima e mínima de 1,43 e 0,21% com valor médio de 0,47%. As diferenças percentuais encontradas para as medidas fora do eixo central são apresentadas na Tabela 5. Para as medidas fora do eixo central, a diferença percentual média encontrada foi de 0,04%, com valor máximo de 1,9% e mínimo de 0%. Utilizando 48 valores de diferença percentual de dose, determinou-se 58 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):55-60. o valor do limite de confiança ∆=1,91%, com desvio médio de 0,67% e desvio padrão de 0,83%. Discussão e Conclusões As diferenças percentuais dos quatro ângulos de FV não apresentam um padrão de variação à medida que o tamanho de campo ou o valor do ângulo de FV varia. Nota-se que, de uma maneira geral, o tamanho de campo 10x10 cm apresentou as menores diferenças percentuais para as medidas no eixo central, provavelmente devido ao fato de este tamanho de campo ser utilizado como referência durante o comissionamento do FV no AL. Medidas dosimétricas têm sido discutidas em diversos artigos. Camargo et al.8 apresentaram resultados de testes dosimétricos para diversas geometrias e complexidades de medidas obtendo, para feixes com filtros, valores de limite de confiança menores que 3%. Saminathan, Manickam e Supe9 realizaram várias análises, entre elas: comparação de fator filtro, medidas de “output” de campo aberto e campo com filtro assim como aquisição de perfis de dose com avaliação de mapas de intensidade de dose. No nosso estudo, foram obtidos, no eixo central, valores de diferença Comparação entre o cálculo da dose no XiOÒ e medidas dosimétricas em feixes de fótons com filtro virtual Tabela 5. Resultados obtidos para medidas fora do eixo central. Diferença Percentual Ângulo de Filtro 15° 30° 45° 60° Distância a partir da origem (cm) Tamanho de campo (cm2) 6x6 10x10 20x20 -2 -1,2 1,2 -0,6 -3 – 0,8 -0,5 -7 – – 0,8 2 0,4 1,3 -0,2 3 – 1,9 0,6 7 – – -0,2 -2 -0,3 -0,3 0,4 -3 – -0,7 -0,4 -7 – – 0,4 2 0,4 -1,1 -0,1 3 – -0,4 1,2 7 – – 0,7 -2 -0,2 -0,3 0,0 -3 – -1,0 -0,3 -7 – – -0,2 2 0,2 -1,7 -0,1 3 – -0,4 -0,4 7 – – 0,5 -2 -0,8 0,3 -0,5 -3 – -0,9 -0,6 -7 – – 1,6 2 0,8 -1,5 0,1 3 – 1,3 0,4 7 – – 1,8 percentual entre a dose medida por CI e a dose calculada pelo TPS inferiores a 1,5% com valor de limite de confiança ∆=1,72%, estando em concordância adequada com o TRS-430 3. A maior parte dos valores de diferença percentual obtidos para este caso foram menores que 1% (apenas 2 de 24 valores foram superiores) mostrando que o cálculo realizado pelo TPS foi satisfatório. As medidas fora do eixo central também apresentaram valor de limite de confiança dentro do estabelecido pelo TRS-4303, ∆=1,91%, com valores de diferença percentual da dose não superiores a 2%. Algumas medidas adicionais em outras localizações de medida (outras profundidades, região de penumbra, entre outras) bem como a análise de perfis de dose ainda são necessárias para completo comissionamento do FV no TPS analisado. No entanto, os valores de diferença percentuais de dose e do limite de confiança obtidos indicam cálculo apropriado do XiO no HCFMRP-USP, uma vez que os valores ficaram dentro dos limites de tolerância adotados. Referências 1. INCA. Estimativa 2012; incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2011. 2. Okuno E, Caldas I, Chow L. Física para Ciências Biológicas e Biomédicas. São Paulo: Habra, 1986. 3. International Atomic Energy Agency. Commissioning and quality Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):55-60. 59 Almeida LG, Amaral LL, Oliveira HF, Maia AF assurance of computerized planning systems for radiation treatment of cancer. Technical Report Series N° 430. Vienna: IAEA, 2004. 4. Miften M, Zhu XR, Takahashi K, Lopez F, Gillin MT. Implementation and verification of virtual wedge in a three-dimensional radiotherapy planning system. Med Phys. 2000;27(7):1635-43. 5. Digital Linear Accelerator, Physics Primer. Siemens Medical Solutions. (USA, 2008). 6. Van Santvoort J. Dosimetric evaluation of the Siemens Virtual Wedge. Phys Med Biol.1998;43(9):2651-63. 60 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):55-60. 7. Venselaar J, Welleweerd H, Mijnheer B. Tolerances for the accuracy of photon beam dose calculations of treatment planning systems. Radiother Oncol. 2001;60(2):191-201. 8. Camargo PR, Rodrigues LN, Furnari L, Rubo RA. Implementation of a quality assurance program for computerized treatment planning systems. Med Phys. 2007;34(7):2827-36. 9. Saminathan S, Manickam R, Supe SS. Comparison of dosimetric characteristics of physical and enhanced dynamic wedges. Rep Pract Oncol Radiother. 2012;17(1):4-12. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):61-4. Objeto de teste de baixo custo para radiologia computadorizada Low cost phantom for computed radiology Paulo Cesar B. Travassos1, Fernando M. Augusto2, Thalis L.A. Sant´Yves2, Elicardo A.S. Gonçalves2, Luis Alexandre G. Magalhães1 e Marina A. Botelho3 Laboratório de Ciências Radiológicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IBRGA/UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2 Instituto Nacional de Câncer (INCA) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 3 Hospital Universitário Pedro Ernesto (UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 1 Resumo O presente trabalho apresenta os resultados da aplicação de um objeto de teste para avaliação da qualidade das imagens obtidas por meio de radiografia computadorizada (CR). Foi construído a partir de materiais com baixo custo, no valor total de aproximadamente U$ 100,00. O objeto de teste mostrou ser bastante viável como auxiliar no controle de qualidade, possibilitando avaliação dos seguintes parâmetros: kVp, mAs, resolução de alto e baixo contraste, relação sinal ruído SNR, contraste radiográfico, uniformidade, acurácia na medida de comprimento. Palavras-chave: radiologia, controle de qualidade, raios X, tecnologia de produtos. Abstract This article presents the results obtained from a low cost phantom, used to analyze Computed Radiology (CR) equipments. The phantom was constructed to test a few parameters related to image quality, as described in [1-9]. Materials which can be easily purchased were used in the construction of the phantom, with total cost of approximately U$100.00. A bar pattern was placed only to verify the efficacy of the grids in the spatial resolution determination, and was not included in the budget because the data was acquired from the grids. Keywords: radiology, quality control, x-rays, products technology. Introdução O presente trabalho apresenta os resultados obtidos a partir de um objeto de teste de baixo custo, utilizado para analisar equipamentos de Radiologia Computadorizada (CR). O objeto de teste foi construído para testar alguns parâmetros relacionados à qualidade de imagem1-6. No objeto de teste, foram utilizados materiais que podem ser encontrados facilmente no mercado. O custo desses materiais ficou em cerca de U$100,00. Foi colocado um padrão de barras para conferir a eficácia das grades na determinação da resolução espacial. Esse componente não foi incluído no orçamento, pois as medidas de resolução espacial foram realizadas com as grades. chumbo, um padrão de barras e um conjunto de sete grades de aço inox com medidas variadas. As estruturas encontram-se dispostas em uma caixa de acrílico cuja Material e Métodos O objeto de teste (Figura 1) possui quatro estruturas básicas: um stepwedge feito em cobre, um atenuador de Figura 1. Fotografia do objeto de teste. Autor correspondente: Paulo Cesar Baptista Travassos – Universidade Cândido Mendes, Instituto Universitário Candido Mendes – Rua Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro, 517 – CEP: 24016-900 – Niteroi (RJ), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 61 Travassos PCB, Augusto FM, Sant´Yves TLA, Gonçalves EAS, Magalhães LAG, Botelho MA tampa removível é fixada por quatro parafusos em aço inox, com porcas do tipo borboleta, confeccionadas em latão, e arruelas de aço inox. Sobre a face superior, foram fixadas duas placas de cobre. Stepwedge: feito a partir de uma placa de cobre de 0,15 mm de espessura. Possui 25 degraus, com uma diferença de espessura de 0,15 mm entre eles, comprimento de 8 mm e largura de 20 mm. Atenuador de chumbo: consiste em uma folha de chumbo com espessura de 0,01 mm. É utilizado para determinação da relação sinal-ruído. Padrão de barras: é utilizado para a determinação da resolução espacial, medida em pares de linhas por milímetro. Sua função é servir como parâmetro de comparação para avaliar a viabilidade de se utilizar grades de aço para esta finalidade. Conjunto de grades: cada grade possui fio com uma determinada espessura e espaçamento. Considerando cada fio como uma linha, temos a resolução em pares de linha por milímetro, conforme indica a Tabela 1. Estrutura de suporte: confeccionada a partir de uma placa de acrílico transparente com 5 mm de espessura, medindo 170x230 mm. As dimensões externas da caixa são 170x230x150 mm. É fixada por quatro parafusos de aço, que prendem a tampa. A caixa oferece proteção e sustentação mecânica à montagem; as arruelas possuem a função adicional de servirem como marcadores para que sejam feitas medidas de distância. A distância entre a borda das arruelas é de 150 mm, horizontalmente, e de 180 mm, verticalmente. Placas atenuadoras: feitas em cobre, servindo como atenuadores para o feixe primário. Possuem a função de possibilitar o uso do objeto de teste com feixes mais energéticos (i.e. maiores kVp). A espessura total é de 1,35 mm e as dimensões da largura e altura são, respectivamente, 170 e 230 mm. Critérios de qualidade O objeto de teste foi radiografado com diversas técnicas radiográficas. Foram obtidas imagens com 3480x3480 pixels, profundidade de 12 bits (4096 tons de cinza) para cada técnica. A distância foco-filme utilizada foi de 1 m. Foi obtida a curva de resposta referente a cada imagem, analisando-se a região referente ao stepwedge. Os valores médios de número de pixel foram obtidos selecionando-se uma região de interesse (ROI) retangular para Tabela 1. Pares de linha por milímetro. Grade 1 2 3 4 5 6 7 62 Espessura do fio (mm) 0,46 0,30 0,20 0,18 0,12 0,10 0,08 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):61-4. Pares de linhas /mm 1,1 1,7 2,5 2,8 4,2 5,0 6,3 cada degrau. As espessuras de cada um dos degraus foram convertidas em intensidade relativa de radiação transmitida. A curva de resposta é formada pelos valores de pixel médios referentes a cada degrau, em função da exposição relativa correspondente. A resposta para uma placa de imagem CR é linear7-13. No sistema utilizado, o sinal é submetido a um pré-amplificador que possui ganho proporcional à raiz quadrada do sinal de entrada. Por isso, para obter uma resposta linear, é necessário que seja feita uma correção nos valores do número de pixel, elevando-se esses valores ao quadrado. O coeficiente angular da reta plotada a partir da regressão linear com os dados de resposta é chamado de contraste. Avaliando-se as curvas de resposta para um dado mAs, e diversos valores de kVp, é possível obter o gráfico do contraste em função do kVp. De forma análoga, mantendo-se fixo um dado kVp, variando-se o mAs, é possível obter o gráfico do contraste em função do mAs. Esses gráficos possibilitam que o objeto de teste seja utilizado em futuras análises de kVp ou mAs com uma única exposição. A camada semirredutora (HVL) em milímetros de cobre pode ser avaliada a partir da curva de resposta. Deve ser considerada a influência da placa atenuadora colocada sobre o objeto de teste. Por esse motivo, para essa medida é recomendado retirar as placas atenuadoras. A relação sinal-ruído (SNR)12, dada pela Equação 1, é o quociente entre a intensidade do sinal e o ruído. Foi obtida selecionando-se uma ROI retangular sobre a região da imagem referente ao atenuador de chumbo. SNR=√σ (1) Aqui, σ é o desvio padrão dos valores de pixel para cada ROI. A resolução espacial foi determinada com a visualização do padrão de barras e das grades, utilizando uma ampliação de dez vezes, com a janela de cores que permitiu a melhor visualização. Adotou-se o critério de avaliação descrito na Tabela 28. Foi medida a distância entre as imagens dos espaçadores (parafusos) para posterior comparação com o objeto real. Resultados O gráfico da Figura 2 representa a curva de resposta do sistema para a técnica de 66 kVp e 6,4 mAs. A partir de gráficos análogos, determinou-se a dependência entre o kVp e o contraste (Figura 3) e entre o mAs e o contraste Tabela 2. Resolução espacial: resultado. Resolução Rhor/FNyquist Rver/FNyquist R45º/(1,41 FNyquist) Valor >0,9 >0,9 >0,9 Objeto de teste de baixo custo para radiologia computadorizada (Figura 4). A partir desses gráficos, é possível estimar o valor de kVp para uma exposição qualquer, com uma acurácia de ±4% kVp, e o mAs, com acurácia de ±0,2 mAs . A relação sinal-ruído obteve variação linear com o valor da exposição. Conforme era esperado, quanto maior for a intensidade do sinal, maior será a SNR, coeficiente de N2/105 16 14 12 10 8 6 4 2 0 correlação de 0,976 (Figura 5). Pode ser criado um critério para a avaliação de SNR em radiologia convencional. A resolução espacial manteve-se constante para todas as imagens, 2,8 pares de linhas por milímetro, tanto horizontalmente quanto verticalmente, utilizando as grades ou o padrão de barras comercial (Tabela 3). Na medida de comprimento, utilizando-se a região da imagem correspondente às arruelas, foi encontrada difrença, entre a imagem e o objeto real, menor do que 0,5 mm, o que demonstra grande acurácia na medição desse parâmetro. Discussão e Conclusões R2=0,9902 0 20 10 30 40 Exposição Relativa Figura 2. Curva de resposta para 66 kVp, 6,4 mAs. Contraste de 0,2846. Contraste 2,5 2 1,5 1 Com o objeto de teste, é possível uma avaliação do sistema de imagem. Medidas de kVp realizadas com equipamento eletrônico comercial estão em conformidade com as estimativas obtidas a partir do objeto de teste. O mesmo ocorre para a medida de comprimento. As grades tiveram um desempenho satisfatório, com resultados idênticos aos obtidos com o padrão de barras comercial. Nas imagens, existe grande quantidade de radiação espalhada. Este seria um fator a ser melhorado em um futuro trabalho. A relação entre a dose e a qualidade da imagem seria outro trabalho. Observando-se o conjunto de grades, existe um grande intervalo de resolução espacial entre as grades de 2,8 e 4,2 pares de linha por milímetro, assim como entre as grades de 5 e 6,3 pares de linha por milímetro. Esse problema poderia ser resolvido colocando-se mais duas grades, com as dimensões adequadas para superar essa falha. SNR 6 0,5 5 0 4 60 70 80 90 KVp Figura 3. Variação contraste em função do kVp para 6,4 mAs. R2=0,976 2 1 Contraste 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 3 0 0 2 1 3 Exposição (mR) Figura 5. Variação da SNR com a taxa de exposição para 66 kVp. Tabela 3. Resolução espacial. R2=0,9973 10 20 30 mAs Figura 4. Variação do contraste com mAs para 70 kVp. Resolução Rhor/FNyquist Rver/FNyquist R45º/(1,41 FNyquist) (padrão de barras) Rhor/FNyquist (padrão de barras) Rver/FNyquist (padrão de barras) Valor 1,12 1,12 1,13 1,13 1,13 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):61-4. 63 Travassos PCB, Augusto FM, Sant´Yves TLA, Gonçalves EAS, Magalhães LAG, Botelho MA Agradecimentos Ao Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, Brasil. Referências 1. Travassos P. C. B. Objeto de teste de baixo custo para avaliação da qualidade em radiografia computadorizada [Dissertação de pós-graduação]. Rio de Janeiro: MS/Brasil/INCA, 2010. 2. Brasil. Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria de Vigilância Sanitária. Diretrizes de proteção radiológica em radiodiagnóstico médico e odontológico: Portaria 453. Brasília: Diário Oficial da União; 1998. 3. International Atomic Energy Agency (IAEA). Applying radiation safety standards in diagnostic radiology and interventional procedures using X-ray. Viena: IAEA; 2006. (Safety Reports Series, 39) 4. Drexler, G. Eriskat, H. and Schilla H. Criteria and methods for quality assurance in medical X-ray diagnosis. Br J Radiol. 1985; Suppl 18. 5. American Association of Physicists in Medicine (AAPM). Assessment of display performance for medical imaging systems: executive summary of AAPM TG18 report. Med Phys. 2005;32:1205-25. 64 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):61-4. 6. Magalhães L. Implantação do laboratório para controle de qualidade dos filmes radiográficos [Tese]. Rio de Janeiro: IB/UERJ; 2007. 7. AAPM. An exposure indicator for digital radiography: executive summary of AAPM TG116 report. Med Phys. 2009;36(7):2898-914. 8. AAPM [Internet]. Acceptance testing and quality control of photostimulable storage phosphor imaging systems: AAPM TG10 report. Maryland: AAPM; 2006 [acesso em 2013 abr 24]. Disponível em: http://www.aapm.org/pubs /reports/RPT_93.pdf 9. Seibert JA, Alvarez RE. Tools for statistical quality control of diagnostic X-ray equipamment. University of California Davis, Department of Radiology; 2008. 10. Oliveira DF. Análise da radiografia computadorizada em condições de águas profundas [Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro: COPPE/ UFRJ, 2007. 11. Correa SCA. Correlação de grandezas utilizadas para a determinação de kVp com o contraste da imagem [Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ; 2005. 12. Bushong SC. Radiologic science for technologists. Washington: The C.V. Mosby Company; 1975. 13. Bushberg JT, Seibert JA, Leidholdt EM, Boone J M. The essential Phisics of Medical Imaging. Williams e Wilkins; 1994. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):65-8. Índice de qualidade em radiologia médica Quality index in medical radiology Paulo Cesar B. Travassos1, Luís Alexandre G. Magalhães1, Marcus V. Navarro2, Gunter G. Drexler1 e Carlos E. de Almeida1 1 Laboratório de Ciências Radiológicas do Instituto de Biologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IBRAG/UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) – Salvador (BA), Brasil. Resumo Na literatura, existem métodos para o cálculo do Risco Potencial em instalações de radiodiagnóstico médico: Modelo de Avaliação de Risco Potencial (MARP). Esses trabalhos apresentam resultados baseados na avaliação documental das instalações, mas sugerem que dados quantitativos provenientes do controle da qualidade dos equipamentos podem ser incluídos. No presente trabalho, é apresentada uma proposta para a avaliação das instalações de radiologia médica, apresentando uma variação do modelo de risco potencial, que considera, além dos fatores administrativos, resultados quantitativos provenientes do controle da qualidade dos equipamentos: o índice de qualidade. Em seguida, apresentam-se resultados da aplicação dessa proposta em 42 serviços, com 52 aparelhos de raios X convencionais avaliados, localizados no estado do Rio de Janeiro, Brasil. Palavras-chave: gestão de qualidade, diagnóstico, radiologia, risco, medição de risco. Abstract In the literature there are articles with methods for the calculation of potential risk in medical radiodiagnostics institutions: Evaluation Model for Potential Risk (MARP). These articles present results based on documental evaluation of the institutions, but they suggest that quantitative data from the equipment’s quality assurance can be included. This article proposes an evaluation of medical radiology institutions with a variation of the Potential Risk model, which considers, besides the administrative factors, quantitative results from equipment’s quality assurance: the quality index. Results of the application of this proposition in 42 institutions are presented, with 52 evaluated conventional X-Ray equipments, located in the state of Rio de Janeiro, Brazil. Keywords: quality management, diagnosis, radiology, risk, risk assessment. Introdução Existe uma crescente preocupação por parte das entidades reguladoras em se manter a exposição à radiação dentro dos níveis de segurança. Ações, que podem ser aplicadas de forma direta ou indireta pelos serviços de radiologia, são classificadas como ações de controle de risco. Nesse contexto, a definição de risco deve levar em consideração a probabilidade de um evento indesejado ocorrer e o dano que esse evento irá causar. Para a determinação do risco, é fundamental que se leve em conta a dose recebida pelos pacientes e trabalhadores, assim como seus efeitos. Um grande problema consiste em se determinar o dano devido a baixas doses de radiação, situação que ainda é objeto de estudo. Porém, manter as doses, em exames radiológicos, tão baixas quanto for razoavelmente exequível vem sendo uma busca constante. Além desses fatores, existem outras situações não relacionadas diretamente ao aumento de dose nos pacientes e nos trabalhadores, que são também indesejáveis, sobretudo em um processo de regulação. Em contrapartida, o termo risco não deve ser tratado exclusivamente como sinônimo de probabilidade, pois este pode assumir significados diferentes em contextos diferentes1. O Risco Potencial2,3 diz respeito à possibilidade de ocorrer algum dano à saúde, sem necessariamente descrever o agravo ou a sua probabilidade de ocorrer. As ações de controle de risco potencial devem incluir fatores relacionados à qualidade de imagem, segurança do trabalhador, legislação, dentre outros. Essas ações podem ser avaliadas a partir do Modelo de Avaliação de Risco Potencial (MARP)2,3. O Índice de Qualidade é uma modificação no conceito de Risco Potencial, que tem por objetivo avaliar a qualidade em uma instalação de Radiologia Médica, fornecendo um valor dentro de uma escala percentual como resultado final dessa avaliação. Foram definidos critérios para classificar a instalação de acordo com o grau obtido. Autor correspondente: Luis Alexandre Gonçalves Magalhães – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Biofísica e Biometria, Laboratório de Ciências Radiológicas – Rua São Francisco Xavier, 524, Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha, sala 136 – CEP: 20550-013 – Rio de Janeiro (RJ), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 65 Travassos PCB, Magalhães LAG, Navarro MV, Drexler GG, Almeida CE O modelo foi aplicado em 42 serviços de radiologia convencionais, com um total de 52 tubos de raios X, localizados no estado do Rio de Janeiro, Brasil. Material e Métodos O MARP separa os indicadores de qualidade em dois grupos: indicadores críticos e indicadores não críticos. Atribui-se um valor inteiro a cada indicador, que varia de zero (para o pior caso) a cinco (para o melhor caso). Calcula-se a média geométrica com os graus atribuídos aos indicadores críticos e o resultado é indicado por IC ; Calcula-se a média aritmética entre os indicadores não críticos e o resultado é indicado por INC . As Equações 1 e 2 demonstram essa operação: IC = n n ∏ InC (1) 1 onde InC representa cada um dos n indicadores críticos. INC = ∑m 1 ImNC m (2) Calcula-se o risco potencial RP = e IC INC RP pela Equação 3: (3) Nota-se que, se para qualquer indicador crítico for atribuído grau zero, a média geométrica entre os indicadores críticos também assumirá um grau zero, assim como o expoente na Equação 3. Uma vez que a função exponencial terá expoente zero, o risco potencial terá o seu valor máximo, um. Para o caso dos indicadores não críticos, atribuir um grau zero não necessariamente fará com que o risco assuma seu valor máximo. O risco potencial será um valor alto apenas se uma quantidade de indicadores não críticos relativamente grande for classificada com graus baixos. Portanto, classificar um indicador como crítico ou não crítico deve ser feito de maneira muito criteriosa. Um novo conceito, com base em RP , pode ser apropriado: O Índice de Qualidade Q , definido pela Equação 4. Dessa forma, quando o risco potencial é máximo, o índice de qualidade é mínimo, e vice-versa. O expoente da Equação 3, chamado de Controle de Risco CR (Equação 5), pode ser utilizado para esse fim. Primeiramente, define-se qual será o nível de exigência adotado na avaliação. No caso de menor exigência, adota-se o controle de risco nível 1, ou seja, quaisquer valores de risco potencial correspondentes ao controle de risco maior ou igual a 1 serão classificados como aceitáveis ou como toleráveis; abaixo de 1, inaceitáveis. No caso de maior exigência, adota-se controle de risco de nível 3. O valor 3 é utilizado para o indicador que cumpre o mínimo exigido pelas agencias de regulação4, então, quando o controle de risco assume valor igual a 3, indica que, em média, todos os indicadores cumprem a exigência da legislação. Ainda foram estabelecidas margens de tolerância para essas classificações. CR = IC INC (5) Com base nesses conceitos, a margem de aceitação para o valor de Q pode ser, a priori, definida conforme mostra a Tabela 1. Valores de CR iguais a 2,7 (3 menos 10%) e menores que 3,6 (3 mais 20%) serão definidos como toleráveis; acima de 3,6, serão aceitáveis; abaixo de 2,7 (3 menos 10%), serão inaceitáveis. Para uma escala de valores mais intuitiva, utiliza-se o índice de qualidade normalizado QN , definido pela Equação 6, que pode assumir valores de 0 a 100%. QN = CR 5 x 100 (6) Definições dos Indicadores Quatro áreas distintas foram avaliadas: Gestão; Processamento da imagem; Aparelho de raio X convencional; Tomógrafo computadorizado. Os indicadores utilizados em cada área estão listados abaixo. Na área Gestão, foi feita avaliação em nível documental, sendo verificado, por exemplo, se os profissionais possuem formação técnica adequada ou se utilizam monitores de dose. Nas outras áreas, foram feitos diversos testes de qualidade, principalmente análises quantitativas nos aparelhos, além de uma verificação dos procedimentos adotados pelos profissionais do serviço, e avaliação das condições gerais das salas da instalação. Os indicadores foram definidos com base nas normas de regulação4 e em testes de qualidade definidos na literatura1,5-9. Tabela 1. Margens para os valores de Q e de QN . Q=1 RP (4) Foram desenvolvidos critérios para que sejam definidos para quais valores de Q teremos uma situação desejável e quais valores representariam situações indesejáveis. 66 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):65-8. CR 0 <2,7 >2,7 e <3,6 >3,6 Q QN Classificação 0 <0,933 >0,933 e <0,973 >0,973 0 <54% >54 e <72% >72% Inaceitável Inaceitável Tolerável Aceitável Índice de qualidade em radiologia médica Indicadores de qualidade para a área Gestão Indicadores críticos: licença sanitária; responsabilidade técnica; testes de aceitação; monitoração de dose nos trabalhadores; registro de equipamentos. Indicadores não críticos: programa de garantia de qualidade; programa de manutenção preventiva; uso de equipamentos de proteção individual; os monitores de dose são utilizados de forma correta; alvará de funcionamento está afixado no estabelecimento em local visível ao público; a instituição possui cálculo de blindagem desenvolvido; a instituição implementou o Controle de Qualidade em Radiodiagnóstico; os funcionários ocupacionalmente expostos participam de treinamentos de proteção radiológica periodicamente; relatório mensal de dose está exposto em local visível; existe exemplar da portaria 453 acessível. Indicadores de qualidade para a área de processamento da imagem Indicadores críticos: teste de velamento; sensitometria; existe vedação suficiente contra a entrada de luz; as condições de higiene e limpeza da câmara escura são adequadas; os filmes (de base verde) em uso estão dentro do prazo de validade, armazenados em posição vertical, afastados de fontes de radiação e em condições de temperatura e umidade recomendadas pelo fabricante; os chassis e os écrans de terras raras estão íntegros; existe negatoscópio em boas condições. Indicadores não críticos: mistura correta dos produtos químicos; temperatura dos produtos químicos; reposição dos produtos químicos; partículas em suspensão; revestimentos no piso e paredes; o sistema de iluminação de segurança está localizado a distância não inferior a 1,2 m do ponto de manipulação; existe sistema de exaustão de ar adequado; a instituição possui sistema próprio acoplado a processadora ou contrato com firma terceirizada para tratamento e descarte dos rejeitos químicos de processamento; a iluminação da sala de laudos é adequada. Indicadores de qualidade para a área Aparelho de raios X convencional Indicadores críticos: levantamento radiométrico; camada semirredutora; sistema de colimação e alinhamento; tensão do tubo (exatidão e reprodutibilidade); taxa de kerma no ar (reprodutibilidade. e linearidade); radiação de fuga; tempo de exposição (exatidão e reprodutibilidade); reprodutibilidade da tensão variando-se mAs; as portas de acesso são mantidas fechadas durante as exposições; existe apenas um equipamento instalado na sala; o técnico pode visualizar e comunicar-se com o paciente quando está no comando; o cabeçote está íntegro (sem rachaduras e sem vazamento de óleo); o sistema de suporte do cabeçote permite que o tubo permaneça estável durante a exposição; o equipamento possui diafragma regulável com localização luminosa para limitar o campo de radiação à região de interesse clínico (distância foco-filme variável); os indicadores de tensão (kV), tempo, mA ou mAs são claros e permitem a escolha dos parâmetros desejados; a instalação elétrica (lâmpadas indicadoras e do colimador, cabos, conectores, etc.) está intacta; o botão disparador funciona corretamente e não permite exposição acidental. Indicadores não críticos: sinalização (cinco cartazes); existe cabine de comando fixa, preferencialmente em forma de “L”, para proteção do técnico; o visor plumbífero oferece campo de visão e transparência adequados à sala de exame; as dimensões e a localização da cabine de comando são adequadas (altura 2,10 m); a cabine de comando está posicionada de modo que, durante as exposições, nenhum indivíduo possa entrar na sala sem ser notado pelo operador; existe, na sala, vestimenta de proteção individual (VPI) acondicionados corretamente; há indicação do centro do campo e da perpendicularidade do raio central; ocorre emissão de sinal luminoso e sonoro no painel de controle quando o feixe de raios X é acionado; junto ao painel de comando existe um protocolo de técnicas radiográficas (tabela de exposição); existe um espessômetro disponível para a correta determinação dos valores de kVp a serem utilizados nas técnicas radiográficas. Indicadores de qualidade para classificação final da instituição Indicadores críticos: índices de qualidade e índices de qualidade normalizados de cada uma das áreas analisadas. Para a aplicação do modelo, foram desenvolvidas planilhas eletrônicas para o cálculo de Q e , QN assim como planilhas para a análise dos indicadores que necessitam de medições ou análises estatísticas. Resultados O Q e o QN foram avaliados em 42 serviços, com 52 aparelhos de raio X convencionais, em três setores distintos: Aparelho de raio X convencional (I); Processamento de imagens (II); Gestão (III); Avaliação geral (IV). Um exemplo de resultado obtido em uma única instituição pode ser visto na Figura 1. Nesse caso, identifica-se um problema na área Gestão, que pode ser detalhado rapidamente quando a planilha dessa área específica for analisada. Nas Figuras 2 a 5, são mostrados gráficos em que se relaciona o número de instituições que foram classificadas como aceitáveis, toleráveis ou inaceitáveis. Nota-se que apenas duas foram classificadas como inaceitáveis, na área raio X. Discussão e Conclusões Com este modelo, é possível, de forma relativamente simples, obter uma visão de todas as instituições que trabalham com radiologia médica, sendo facilmente identificados os pontos em que as condições forem mais críticas. Também pode servir para que cada instituição individualmente consiga determinar quais pontos poderão ser aprimorados. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):65-8. 67 Travassos PCB, Magalhães LAG, Navarro MV, Drexler GG, Almeida CE QN 100 30 Instituições 20 50 10 0 0 I II III IV Figura 1. Resultados para uma instituição, reprovada na área Gestão. Instituições 40 30 20 10 0 Inaceitável Tolerável Aceitável Figura 2. Resultado geral para todas as instituições avaliadas. Inaceitável Tolerável Aceitável Figura 5. Resultado para todas as instituições avaliadas para a área Raio X. Contudo, dado o caráter subjetivo da avaliação de cada indicador, a melhor definição para as margens de aceitação, utilizada como referência para classificação das instituições, será feita quando o modelo for aplicado a um número maior de instituições, a partir do valor de Q e QN atribuídos a cada uma delas. Dessa forma, poderá ser feita a classificação de aceitável, tolerável e inaceitável a partir de uma análise estatística, comparando-se os valores de Q e QN daqueles serviços considerados centros de excelência, com aqueles considerados medianos e, ainda, com aqueles que foram reprovados pelo órgão regulador. O modelo pode ser perfeitamente aplicável como auxiliar nos processos de regulação, auditoria ou acreditação. Agradecimentos 40 30 Instituições Ao Suporte Financeiro da FAPERJ. 20 Referências 10 0 1. Inaceitável Tolerável Aceitável 2. Figura 3. Resultado para todas as instituições avaliadas para a área Gestão. 3. 4. 30 Instituições 5. 20 6. 10 7. 0 Inaceitável Tolerável Aceitável Figura 4. Resultado para todas as instituições avaliadas para a área Processamento. 68 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):65-8. 8. 9. International Commission on Radiological Protection (ICRP). Recommendation of the ICRP on Radiological Protection. Oxford: Pergamon Press; Publication 60; 1991. Oxford. Navarro M. Controle e riscos em radiodiagnóstico: uma abordagem de vigilância sanitária na Bahia [Tese]. Salvador: ISC/UFBA; 2007. Navarro M. Risco, radiodiagnóstico e vigilância sanitária. Salvador: EDUFBA; 2009. Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria de Vigilância Sanitária. Diretrizes de proteção radiológica em radiodiagnóstico médico e odontológico: Portaria 453. Brasília: Diário Oficial da União; 1998. International Atomic Energy Agency (IAEA). Applying radiation safety standards in diagnostic radiology and interventional procedures using X-ray. Viena: IAEA; 2006.(Safety Reports Series, 39). Drexler G, Eriskat, H, Schilla H. Criteria and methods for quality assurance in medical X-ray diagnosis. Br J Radiol. 1985;Suppl 18. ICRP. Diagnostic reference levels in the 1990 and 1996. Radiation Protection Dosimetry. 1998;80(1-3):7-10. American Association of Physicists in Medicine (AAPM). Assessment of display performance for medical imaging systems: executive summary of AAPM TG18 report. Med Phys. 2005;32:1205-25. Magalhães L. Implantação do laboratório para controle de qualidade dos filmes radiográficos [Tese]. Rio de Janeiro: IB/UERJ; 2007. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):69-72. Avaliação comparativa entre as propriedades de atenuação de blocos de concreto com hematita e blocos de concreto convencional Comparative study of the shield of concrete blocks with hematite in relation to common concrete blocks Paulo R. Costa1, André A. Bürger1, Veronica K. Naccache2 e Simão Priszkulnik2 Laboratório de Dosimetria do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo (SP), Brasil 2 Departamento de Engenharia da Universidade Mackenzie – São Paulo(SP), Brasil 1 Resumo O presente trabalho mostra resultados empíricos das propriedades de dois materiais que podem ser usados em radioproteção: o concreto comum e uma mistura de concreto comum com hematita. Para isto foram utilizadas as técnicas de espectroscopia e medidas de kerma no ar transmitido através de cada um desses materiais com o objetivo de comparar suas propriedades de transmissão. Palavras-chave: proteção radiológica, blindagem contra radiação, espectropia de raios X, construção. Abstract The present work shows results of an empirical evaluation of the transmission properties of two radioprotection materials: an ordinary concrete and an ordinary concrete mixed with hematite. It was used techniques of x-ray spectroscopy and measurements of the air-kerma transmitted through these two materials in order to compare the transmission properties for each one. Keywords: radiation protection, shielding against radiation, x-ray spectroscopy, construction. Introdução A Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP) requer a otimização dos métodos utilizados em radioproteção visando garantir o mínimo de exposição do público à radiação, levando em conta fatores sociais e econômicos1. A proteção utilizada em locais que possuem fontes radioativas para aplicações médicas deve seguir esta filosofia de trabalho. Portanto, barreiras de proteção utilizadas em Radiologia Diagnóstica, Radioterapia e Medicina Nuclear devem ser corretamente dimensionadas e revestidas com o material atenuador visando garantir níveis de radiação nos arredores compatíveis com os níveis de restrição de dose de acordo com o tipo de ocupação presente em determinada área. No presente trabalho é comparada a atenuação da radiação-X proporcionada por concreto com hematita em relação a um bloco de concreto comum através da obtenção dos espectros transmitidos e medição dos valores de kerma no ar. Material e Métodos Neste experimento foram utilizados um tubo de raios X Philips MG450 com filtração adicional de 2 mm de alumínio, uma câmara de ionização Radcal com volume sensível de 180 cm³ para medir o kerma no ar e um espectrômetro de CdTe da Amptek para obter o espectro transmitido. Autor correspondente: Paulo Roberto Costa – Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) – Rua do Matão, travessa R, 187 – Cidade Universitária – CEP: 05508-050 – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 69 Costa PR, Bürger AA, Naccache VK, Priszkulnik S Os blocos de concreto foram organizados em dois diferentes grupos: um de concreto comum (OC, para ordinary concrete em inglês) e outro grupo de concretos com hematita adicionada (HC). Um exemplar dessas placas pode ser vista na Figura 1. Diversos blocos de ambos os grupos foram confeccionados com diferentes espessuras possibilitando a obtenção de curvas de transmissão. Valores de kerma no ar foram obtidos para as diferentes espessuras de cada material visando obter as curvas de transmissão. A geometria adotada para obter essas curvas de transmissão é demonstrada na Figura 2. Neste procedimento, a técnica de irradiação utilizada consistiu em corrente anódica de 15 mA e 30 s de tempo de exposição. Os dados de kerma no ar que compõem as curvas de transmissão, para uma melhor comparação gráfica, foram normalizados e então nelas ajustaram-se curvas que obedecem à Equação de Archer2. Visando comparar ambos os tipos de blocos para diversas energias, foram obtidas curvas de transmissão para 60, 80, 100, 120, 140 e 150 kV. Nestas tensões também foram obtidas espectros através do espectrômetro de CdTe. Também foi feita uma comparação entre o kerma no ar por mAs para uma determinada espessura e tensão. Resultados A. Curvas de Transmissão As curvas de transmissão para o concreto comum e o concreto com hematita, obtidos com tensões diferentes, estão presentes na Figura 3 e na Figura 4. Os dados de cada curva de transmissão foram ajustados pela equação de Archer. B. Espectros 1 80kV (OC) 80kV (HC) 0,1 K/K0 0,01 1E-3 1E-4 1E-5 0 (2) 20 30 Espessura (mm) 40 50 Figura 3. Curvas de Transmissão correspondentes à atenuação do concreto comum (curva vermelha) e do concreto com hematita (curva preta) para a tensão de 80kV. Figura 1. Exemplo dos blocos de concreto. (1) 10 (3) 1 140 kV (OC) 140 kV (HC) K/K0 0,1 0,01 1E-3 1m 2,5 m Figura 2. Geometria utilizada para obter as curvas de transmissão. (1) representa o tubo de raios-X, (2) representa onde os blocos de concreto ficavam localizados e (3) representa a câmara de ionização. 70 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):69-72. 0 10 20 30 40 Espessura (mm) 50 Figura 4. Curvas de Transmissão correspondentes à atenuação do concreto comum (curva vermelha) e do concreto com hematita (curva preta) para a tensão de 140 kV. Avaliação comparativa entre as propriedades de atenuação de blocos de concreto com hematita e blocos de concreto convencional O espectro primário para tensão de 140 kV aplicada no tubo de raios X está mostrado na Figura 5. As Figuras de 6 e 7 mostram o espectro transmitido após a passagem pelos blocos de espessura de 20 e 50 mm, respectivamente. A Tabela 1 mostra uma comparação entre os dados da razão de kerma no ar transmitido por mAs para os diferentes materiais. O sobrescrito OC e o subscrito HC indicam que a razão entre os valores de OC por HC. As incertezas estão expressas com fator de abrangência k=1 e são principalmente devidas ao monitor da câmara de ionização que apresenta um desvio percentual sobre o valor mensurado. 1,0 Espectro (mGylmAs) 0,8 0,0 0 40 60 80 Energia (K e V) 100 120 140 x(10-2) Espectro (mGylmAs) x(10-1) 8 Espectro (mGylmAs) 20 Figura 6. Espectro para 140 kV e 20 mm de atenuação. A curva vermelha representam o espectro transmitido pelo concreto com hematita e a curva preta para o concreto comum. Das Figuras 3 e 4 pode-se observar que o kerma no ar para a espessura de atenuador de 50 mm para o OC chega a ser, aproximadamente, 100 vezes maior do que o kerma no ar transmitido pelo HC. Por outro modo, observando o espectro para a irradiação de 140 kV, notamos que a HC atenua com maior eficiência os fótons de energia menor que 50keV. Este fenômeno 80kV 140kV 6 0,4 0,2 Discussão e Conclusões 7 0,6 5 7 7 6 6 5 5 4 4 3 3 2 2 4 1 1 3 0 2 1 0 0 25 50 75 100 Energia (K e V) 125 0 20 40 60 80 100 Energia (K e V) 120 140 0 Figura 7. Espectro para 140 kV e 50 mm de atenuação. A curva vermelha representam o espectro transmitido pelo concreto com hematita e a curva preta para o concreto comum. A ordenada em vermelho (lado direito e que corresponde à curva de concreto com hematita) está em uma escala 10 vezes menor que a preta, utilizada para os dados do concreto comum. 150 Figura 5. Espectros de 80 e 140 kV com filtração adicional de 2 mmAl. Tabela 1. Comparação entre os dados da razão de kerma no ar transmitido por mAs para os diferentes materiais. Espessura Comparada (mm) 30 20 Tensão (kV) 60 80 100 120 140 150 OC OC 50 OC K mA.s HC Incerteza K mA.s HC Incerteza K mA.s HC Incerteza 311,6 76,63 24,03 12,47 8,189 6,977 32,0 4,51 1,54 0,76 0,485 0,410 92,47 161,4 44,32 18,86 10,91 8,911 12,94 12,9 2,61 1,08 0,69 0,547 21,89 133,3 149,2 64,34 31,07 23,43 3,06 15,1 10,7 3,84 1,79 1,34 O sobrescrito OC e o subscrito HC indicam que a razão entre os valores de OC por HC. As incertezas estão expressas com fator de abrangência k=1. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):69-72. 71 Costa PR, Bürger AA, Naccache VK, Priszkulnik S ocorre devido à maior probabilidade de ocorrência do efeito fotoelétrico provocada pela presença do elemento químico Ferro na Hematita, com alto numero atômico. Na Tabela 1 pode ser observada uma maior eficiência em 20 mm de concreto com hematita usado para 60kV, porém deve-se ressaltar que essa eficiência relativa depende da tensão utilizada. Agradecimentos Os autores agradecem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo-FAPESP 72 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):69-72. (processo 2010/12237-7) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq (processos 312029/2009-8 e 501988/2010-6) para a realização do presente trabalho. Referências 1. ICRP Publication 103: Recommendations of the ICRP. Annals of the ICRP; 2007;37(2-4). 2. Archer BR, Thornby JI, Bushong SC. Diagnostic x-ray shielding design based on an empirical model of photon attenuation. Health Phys. 1983;44:507. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):73-6. Verificação da blindagem construída para um acelerador do tipo Cíclotron Verification of the shielding built for a Cyclotron accelerator Heber S. Videira1, Bruno M. Pássaro2, Julia A. Gonzalez2, Maria Inês C. C. Guimarães2 e Carlos A. Buchpiguel2 CYCLOPET Radiofármacos LTDA – Curitiba (PR), Brasil. Centro de Medicina Nuclear (CMN) do InRad HCFMUSP – São Paulo (SP), Brasil. 1 2 Resumo De acordo com a resolução da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) 112/2011, devem ser aplicados controles administrativos durante a construção de uma instalação radiativa e elaborados documentos que comprovem que ela tem condição suficiente de operar sem risco radiológico, referindo-se, inclusive, à eficiência da blindagem. Este trabalho teve como objetivo realizar a análise da construção e da eficiência do bunker construído para a blindagem do Cíclotron do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Isto foi possível pelas medidas realizadas em um levantamento radiométrico em condições normais de operação, além de por testes relacionados à resistência à compressão e à densidade. Com os resultados, observou-se que o valor da resistência à compressão do concreto utilizado está acima do esperado e que o valor de densidade média está dentro dos limites de tolerância. Os resultados do levantamento radiométrico mostraram que os níveis de radiação ionizante estão bem abaixo dos limites estabelecidos. Palavras-chave: proteção radiológica, medicina nuclear, ciclotrons, blindagem contra radiação. Abstract According to the National Nuclear Energy Commission (CNEN) resolution 112/2011, administrative controls must be applied during the construction of a cyclotron and documents must be created showing that the facility can operate without radiological risks, referring even to the shielding efficiency. This study aimed to perform the analysis of the construction and efficiency of the bunker built for shielding, in the cyclotron of University of São Paulo Medical School Health System. This was possible through the measurements of a radiometric survey in normal working conditions, and testing related to compression resistance and density. The results showed that the compression resistance of the concrete used is higher than the expected value and the average density value obtained is within the tolerated limits. The radiometric survey results showed that the levels of ionizing radiation are well below the established limits. Keywords: radiation protection, nuclear medicine, cyclotrons, shielding against radiation. Introdução De acordo com a norma da resolução da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) 112/20111, que trata sobre o licenciamento de instalações radiativas, devem ser aplicados controles administrativos durante a construção de um cíclotron. Para se obter a autorização de operação devem ser enviados documentos à CNEN comprovando que a instalação tem condição suficiente de operar sem risco radiológico. Entre eles, um se refere à eficiência da blindagem. Este documento pode ser elaborado por meio de dados obtidos nos testes de resistência à compressão e densidade no concreto utilizado para a construção da blindagem, em conjunto com dados do levantamento radiométrico realizado em condições normais de operação. Material e Métodos Neste estudo foram usados os seguintes materiais e equipamentos: moldes de corpos de prova NBR 57382, cilíndricos de 10x20 cm, concha de seção U, balança com tara 20 kg, prensa, balança hidrostática, panela de pressão industrial e estufa, monitor de taxa de exposição Geiger Muller Ludlum modelo 78 C, monitor de nêutrons Ludlum modelo 2341-4. Autor correspondente: Heber S. Videira – Cyclopet Radiofármacos – Rua Cezinando Dias Paredes, 367 – CEP: 81730-090 – Curitiba (PR), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 73 Videira HS, Pássaro BM, Gonzalez JA, Guimarães MICC, Buchpiguel CA Inicialmente foi coletada uma amostra de concreto que seria utilizado na construção da parede do bunker, de acordo com a norma NBR NM 333. Em seguida, revestiram-se os moldes dos corpos de prova (CP) com óleo mineral segundo a norma NBR 5738. Logo após isso, a amostra de concreto foi homogeneizada para garantir a uniformidade e o concreto colocado dentro dos moldes dos CP utilizando-se a concha de seção U. A cada 2 conchas era feita uma seção de 12 golpes para o adensamento manual da amostra. Este procedimento foi repetido até o completo enchimento do molde do CP. Após o procedimento descrito, os moldes foram colocados sobre uma superfície horizontal rígida e livre de vibrações. Durante as primeiras 24 horas, os CP foram armazenados em local protegido de intempéries e cobertos com uma fina camada de óleo, com a finalidade de evitar a perda de água do concreto. Após o processo de cura inicial, os moldes foram levados para o laboratório, onde foram desmoldados, devidamente identificados e armazenados em câmara úmida (23±2ºC), na qual permaneceram até o momento do ensaio, 28 dias depois. Depois desse período, prepararam-se as bases dos CP de acordo com o estabelecido na norma NBR 5738 e os posicionaram na prensa conforme a Figura 1. Em seguida, aplicou-se a força necessária para que ocorresse a ruptura dos CP. A análise dessa ruptura, bem como o cálculo da resistência à compressão, foram feitos de acordo com a norma NBR 57394. Para o ensaio de densidade, os CP foram retirados da câmara úmida e, em seguida, colocados na estufa, onde permaneceram por três dias. Após o período, foi realizada a medida da massa dos CP secos. Na sequência, eles foram armazenados submersos em água por três dias. Após serem retirados da submersão, houve a medição das massas dos CP saturados. Eles foram cozidos em uma panela de pressão industrial por um período de seis horas e, após isso, tiveram sua massa medida em uma balança hidrostática. A densidade foi calculada pela seguinte equação: Figura 1. Posicionamento do corpo de prova na prensa para o ensaio de compressão simples. 74 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):73-6. D= massa do CP seco (1) (massa do CP saturado - massa do CP hidrostático) Após o período de construção, realizou-se a conferência das medidas internas e externas do bunker e o levantamento radiométrico em condições normais de operação (isto é, 50 µA, 120 minutos e feixe duplo). A Figura 2 apresenta a área monitorada. Resultados Na Tabela 1 podemos verificar as características do concreto entregue na construção da instalação. Já as Tabelas 2 e 3 apresentam os resultados obtidos no ensaio de resistência à compressão. A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos no ensaio de densidade utilizando as medidas das massas e a Equação 1. Enquanto a Tabela 5 se refere aos resultados obtidos no levantamento radiométrico. Discussão e Conclusões Por meio dos resultados obtidos, concluímos que o valor da resistência do concreto à compressão está acima Figura 2. Croqui de monitoração. Verificação da blindagem construída para um acelerador do tipo Cíclotron Tabela 1. Características do concreto. Tabela 5. Resultados do levantamento radiométrico. Volume 66 m³ Consistência 8±1 cm Pontos de monitoramento Volume máximo Betonada 8±1 m³ 7h40 Início do lançamento Gama Nêutron A 0 0 B 0 0 C 0 1 D 0 0 Resistência (MPa) E 0 0 Tabela 2. Ensaio de resistência à compressão. Corpo Idade do corpo de Diâmetro Força (kgf) de prova prova (dias) (cm) Taxa de dose (μSv/h) F 0 0 01 28 100,15 26.300 32,76 G 0 0 02 28 100,35 32.680 40,54 H 0 0 03 28 99,80 27.220 34,14 I 0 0 04 28 99,97 23.640 29,55 J 0 0 05 28 99,75 28.500 35,78 L 0 0 06 28 100,85 28.480 34,98 M 0 2 07 28 100,52 29.100 35,97 08 28 100,72 31.140 38,35 N 0 0 09 28 100,90 25.800 31,66 O 0 0 10 28 101,25 25.100 30,59 P 0 0 Q 0 1 R 0 0 S 0 0 T 0 0 U 0 0 V 1 0 X 0 0 Z 0 0 AA 0 1 BB 0 0 CC 0 0 DD 0 0 EE 0 0 Tabela 3. Resultados do ensaio de resistência à compressão. Resistência média (MPa) 34,43 Desvio-padrão 3,44 Coeficiente de variação do ensaio 0,1 Nível do ensaio Excelente Tabela 4. Ensaio de densidade. Corpo Massa Massa Massa de prova seca (g) hidrostática (g) saturada (g) Densidade (g/cm³) 01 3.512 2.134 3.697 2,25 02 3.553 2.152 3.711 2,28 03 3.548 2.162 3.732 2,26 04 3.526 2.153 3.721 2,25 FF 0 0 05 3.601 2.190 3.756 2,30 GG 1 0 06 3.638 2.213 3.813 2,27 HH 1 1 07 3.569 2.157 3.730 2,27 II 1 0 08 3.550 2.157 3.730 2,26 JJ 0 0 09 3.637 2.227 3.805 2,30 LL 0 0 10 3.643 2.231 3.821 2,29 MM 0 0 2,27 OO 0 0 Média Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):73-6. 75 Videira HS, Pássaro BM, Gonzalez JA, Guimarães MICC, Buchpiguel CA do esperado, que era 25 MPa. A densidade média apresentou desvio de 3,5% em relação à aguardada, de 2,35 g/cm³. Todavia, está dentro dos limites de tolerância. O levantamento radiométrico apresentou que, nas condições normais de operação e para o instrumento utilizado, o equipamento monitorado não apresentou níveis de radiação ionizante acima de 2 µSv/h. Isso mostra que a dose fica bem abaixo dos valores limite estabelecidos. 76 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):73-6. Referências 1. Brasil. Comissão Nacional de Energia Nuclear. Resolução n° 112, de 24 de agosto de 2011. Brasília: Diário Oficial da União; 1º de setembro de 2011. 2. ABNT. NBR 5738: Concreto – Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova. Rio de Janeiro: ABNT; 2003. 3. ABNT. NBR NM 33: Concreto – Amostragem de concreto fresco. Rio de Janeiro: ABNT; 1998. 4. ABNT. NBR 5739: Concreto – Ensaios de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro: ABNT; 2007. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):77-8. Análise crítica do posicionamento de um sistema de monitoramento de acelerador Cíclotron Critical analysis of the positioning of monitoring system of the cyclotron accelerator Julia A. Gonzalez1, Bruno M. Pássaro1, Maria Inês C. C. Guimarães1, Carlos A. Buchpiguel1 e Heber S. Videira2 Centro de Medicina Nuclear do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InRad HCFMUSP) – São Paulo (SP), Brasil. 2 CYCLOPETRadiofármacos LTDA – Curitiba (PR), Brasil. 1 Resumo Desde que surgiram as primeiras preocupações com a possibilidade de as radiações ionizantes induzirem detrimentos à saúde humana, apareceram os métodos de produção, caracterização e medição da radiação, bem como de definição de grandezas que expressassem com realismo a sua interação com o tecido humano. A partir dessa questão, o programa de monitoração da instalação de um cíclotron deve ser realizado continuamente, além de conter os pontos críticos de contaminação de acordo com a norma CNEN N.E. 3.02 - Serviço de Radioproteção, para evitar as contaminações radioativas e manter as taxas de exposição tão baixas quanto razoavelmente exequíveis. Os resultados obtidos durante as análises mostraram que o posicionamento dos monitores é adequado, exceto os monitores do laboratório de controle físico-químico que foram instalados ao lado da capela de manipulação e embaixo do calibrador de dose. A leitura obtida no sistema de monitoração na posição em que se encontra a câmara de ionização da porta do bunker deve ser levada em consideração, pois a intensidade da radiação emitida pela ativação dos alvos é ligeiramente atenuada pelo cíclotron. Palavras-chave: proteção radiológica, medicina nuclear, cíclotron, detectores. Abstract Ever since the first concerns arose about the possibility that the ionizing radiation induced detriment to human health, were created the methods of production, characterization and measurement of radiation, as well as definition of quantities that realistically express its interaction with human tissue. From this point, the monitoring program of the installation of a cyclotron must be continuously performed and contain the critical points of contamination according to the CNEN standard N.E. 3.02 - Radioprotection Service to avoid contamination and maintain radioactive exposure rates as low as reasonably achievable. The results obtained during the analysis showed that the positioning of monitors is suitable, except for the physicochemical control laboratory monitors, which were installed next to the chapel of manipulation and below the dose calibrator. The answer obtained from the monitoring system in the position that the ionization chamber is in the door of the bunker should be taken into account, because the intensity of radiation emitted by the activation of the targets is slightly attenuated by the cyclotron. Keywords: radiation protection, nuclear medicine, radiation oncology, instrumentation. Introdução O objetivo maior da radioproteção é evitar a exposição desnecessária do indivíduo à radiação ionizante. Para isso, as normas básicas devem ser obedecidas a fim de se reduzir a exposição externa e evitar tanto a contaminação como a incorporação de material radioativo, seja por inalação ou ingestão. Para tal finalidade, qualquer exposição à radiação deve ser otimizada, ou seja, deve ser tão baixa quanto razoavelmente exequível1,2. Por isso, deve existir um programa de monitoração contínua de acordo com a norma CNEN N.E. 3.02 Serviço de Radioproteção3, o qual deve conter os pontos críticos de contaminação para tal exposição, cumprindo assim com o princípio ALARA. O objetivo desse trabalho foi analisar o posicionamento dos monitores que compõem o sistema de monitoramento dos níveis de radiação do Centro Integrado de Produção de Radiofármacos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Autor correspondente: Heber S. Videira – Cyclopet Radiofármacos – Rua Cezinando Dias Paredes, 367 – CEP: 81730-090 – Curitiba (PR), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 77 Gonzalez JA, Pássaro BM, Guimarães MICC, Buchpiguel CA, Videira HS Material e Métodos Tabela 2. Análise do posicionamento das câmaras de ionização. Na execução deste trabalho, foi utilizado um sistema de Monitoramento Radiológico da Medismarts composto por sete monitores fixos Geiger-Müller Rotem GM-42 Model BAK-1210, duas câmaras de ionização fixas da Rotem model IC-10-02 e um detector a cintilação fixo da Rotem Modelo PM-11-M, fonte-padrão de Cs-137 da North American Scientific. Verificou-se inicialmente a condição da radiação de fundo medida por detector. Logo depois, colocou-se a fonte-padrão próxima aos monitores de radiação e mediram-se as respectivas taxas de dose. Para a análise do posicionamento das câmaras de ionização dentro do bunker, em um primeiro momento, preparou-se o cíclotron para uma irradiação de cinco minutos com 10 mA com o alvo H2O (16). Após a irradiação, realizou-se a medida da taxa de dose em diferentes posições, como na posição da câmara de ionização da porta, no centro da porta do bunker, a três metros do alvo, na posição de manipulação do alvo e no alvo. Para a análise do sistema de monitoração da exaustão, preparou-se o cíclotron para uma irradiação de 10 minutos com 25 mA com o alvo H2O (16). Durante a irradiação, foram realizadas medidas da taxa de dose e as contagens de partículas por segundo. Código Posição Background (µSv/h) IC-01 BeamLine (Interno) Error IC-02 Cíclotron interno/ porta do bunker 0,3 Posição da Taxa de dose medida (µSv/h) (m) No detector 3,0±0,1 (3,2) No centro da 5,0±0,1 porta A 3 m da direção da 75,0±1,5 porta Na posição de 800,0±16,0 manipulação do alvo No alvo 10000,0±200,0 Tabela 3. Análise do sistema de monitoração da exaustão. Código GM-07 Cintilador GM-07 Cintilador Posição do detector Chaminé 1 Chaminé 2 Background (µSv/h) 0,1 26,5 cont/s 0,1 26,5 cont/s Fluxo de ar (m3/s) 0,32 3,2 Taxa de dose média (µSv/h) 0,2 41,4 cont/s 0,1 32,5 cont/s Resultados A Tabela 1 mostra os níveis de radiação obtidos a partir da fonte-padrão. A Tabela 2 mostra os níveis de radiação medidos em diferentes posições dentro do bunker após a irradiação. A Tabela 3 mostra a análise do sistema de monitoração da exaustão. Conclusão Os resultados obtidos durante as análises mostraram que os monitores estão em condições de uso, com exceção da câmara de ionização da linha externa que apresentou um defeito. A câmara da linha externa está posicionada Tabela 1. Análise da condição dos monitores de radiação. 78 Código Posição GM-01 GM-02 GM-03 GM-04 GM-05 GM-06 GM-07 IC-01 IC-02 Cíclotron externo Pesquisa Paramentação Físico-químico Produção Expedição Chaminé BeamLine Cíclotron interno Background (µSv/h) 0,2 0,3 0,1 0,0 0,0 0,0 0,1 Error 0,0 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):77-8. Taxa de dose (µSv/h) 359,0±89,8 338±84,5 336±84,0 330±82,5 481±120,3 325±81,3 350±87,5 – 123±30,75 adequadamente, assim como os outros detectores da instalação, exceto os monitores do laboratório de controle físico-químico, que foram instalados ao lado da capela de manipulação e embaixo do calibrador de dose. A leitura obtida no sistema de monitoração na posição em que se encontra a câmara de ionização da porta do bunker deve ser levada em consideração, pois a intensidade da radiação emitida pela ativação dos alvos é ligeiramente atenuada pelo cíclotron. Isso implica a determinação de um nível de taxa de dose a partir do procedimento que resultou nos valores da Tabela 2 para permitir a abertura da porta do bunker. O estudo realizado com o sistema de exaustão apresentou um erro no projeto, o qual era evidente, pois existiam duas saídas. Foi então sugerida a união das duas em uma para que houvesse um único caminho para a liberação do efluente radioativo, desde que dentro dos limites estabelecidos. Referências 1. Podgorsak EB. Radiation oncology physics: a handbook for teachers and students. Vienna: IAEA; 2005. 2. Tauhata L, Salati IPA, Prinzio MAR Di. Radioproteção e dosimetria: Fundamentos (5ª revisão). Rio de Janeiro: Comissão Nacional de Energia Nuclear – Instituto de Radioproteção e Dosimetria (CNEN-IRD); 2003. 3. Comissão Nacional de Energia Nuclear. CNEN N.E. 3.02 - Serviço de Radioproteção. Brasil: Comissão Nacional de Energia Nuclear; 1988. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):79-85. Desenvolvimento de um programa de controle de qualidade em ressonância magnética baseado nas recomendações do Colégio Americano de Radiologia Development of a magnetic resonance quality control program based on the American College of Radiology recommendations Alexandre S. Capaverde, Cássio S. Moura e Ana Maria M. Silva Faculdade de Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) − Porto Alegre (RS), Brasil. Resumo No Brasil ainda não existe uma legislação ou norma regulamentadora que exija o controle da qualidade (CQ) em equipamentos de ressonância magnética. Com o objetivo de suprir esta ausência, este trabalho apresenta a adaptação do programa de CQ em imagens por ressonância magnética, seguindo as recomendações do Colégio Americano de Radiologia. Para validação do programa, os testes foram realizados em dois equipamentos de um grande hospital da cidade de Porto Alegre. Foram realizados os testes de distorção geométrica, resolução espacial de alto contraste, espessura de corte, posição de corte, uniformidade da imagem, percentual de artefato fantasma e detecção de objetos de baixo contraste. Após o desenvolvimento e aplicação do programa, o hospital passou a contar com uma rotina semestral de CQ de seus equipamentos de ressonância magnética. Palavras-chave: ressonância magnética, controle da qualidade, colégio americano de radiologia. Abstract In Brazil there is still no legislation or regulatory norm that requires quality control (QC) in magnetic resonance equipments. With the objective of supplying this absence, this study presents the adaptation of the program for magnetic resonance imaging QC following the recommendations of the American College of Radiology. For the program validation, the tests were performed in two equipments of a large hospital at Porto Alegre. Geometric distortion, high-contrast spatial resolution, slice thickness, cutting position, image uniformity, percentage of ghost artifacts and detection of low contrast objects tests were performed. After the development and implementation of the program, the hospital now has a routine six-monthly magnetic resonance QC in their equipments. Keywords: magnetic resonance, quality control, american college of radiology. Introdução Instituições como a American Association of Physicists in Medicine (AAPM), American College of Radiology (ACR), National Electrical Manufacturers Association (NEMA), dentre outras, vêm promovendo e elaborando novas normas para o controle de qualidade (CQ) em equipamentos de Ressonância Magnética (RM). No Brasil, ainda não há legislação, norma ou recomendação por parte do governo federal ou estadual quanto às exigências da realização de testes de CQ em equipamentos de RM. Este trabalho apresenta o desenvolvimento e aplicação de um programa de CQ em RM, seguindo as recomendações do ACR. Material e Métodos Com base nas recomendações do ACR sobre o controle de qualidade em RM1,2, estudos foram realizados sobre cada dispositivo de teste do simulador. Foi desenvolvido um protocolo de aquisição e análise para cada teste. Autor correspondente: Alexandre da Silva Capaverde − Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) − Avenida Ipiranga, 6.681 – Prédio 10, Faculdade de Física − CEP: 90619-900− Porto Alegre (RS), Brasil – E-mail: [email protected] ou [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 79 Capaverde AS, Moura CS, Silva AMM O simulador utilizado, recomendado pelo ACR, Figura 1, consiste em um cilindro com 20,4 cm de diâmetro e 16,5 cm de comprimento, preenchido com uma solução de 10 mM de cloreto de níquel e 45 mM de cloreto de sódio2. Ao longo do comprimento do simulador estão distribuídos os diferentes dispositivos para avaliação da: distorção geométrica; resolução espacial de alto contraste; espessura de corte; posição de corte; uniformidade da imagem; percentual de artefato fantasma e detecção de objetos de baixo contraste. Os testes foram realizados em dois equipamentos de RM fabricados pela General Electric (GE,) modelos Signa HDxT e Signa Excite, com um campo magnético de 1,5 Tesla. Estes equipamentos estão localizados em um grande hospital de Porto Alegre. A primeira sequência, denominada ACR Localizador Sagital, consiste em uma aquisição do simulador para posicionar os cortes das demais sequências (Figura 2). O simulador é posicionado no centro de uma bobina para exames de crânio e no centro do magneto. Quatro sequências são adquiridas: ACR Axial T1, ACR Axial T2, Axial T1 de rotina e Axial T2 de rotina. Cada uma apresenta 11 cortes do simulador, para visualizar todos os dispositivos de teste. Os parâmetros utilizados são aqueles das rotinas de exames de crânio do equipamento. As sequências utilizadas, bem como os seus parâmetros de aquisição, são apresentadas na Tabela 1. No caso dos equipamentos avaliados, os protocolos de aquisição são idênticos, com o objetivo de comparar os Figura 1. Simulador ACR. Figura 2. Posicionamento dos cortes no localizador. Tabela 1. Parâmetros de aquisição das imagens. Sequência de Pulso TR (ms) TE (ms) FOV (cm) Número de cortes Espessura de Corte (mm) NEX Matriz Largura de banda (kHz) Tempo de Aquisição (min:seg) ACR Localizador Sagital Spin-Eco 200 20 25 1 N/A 1 256x256 31,25 00:56 ACR Axial T1 Spin-Eco 500 20 25 11 5 1 256x256 31,25 02:16 ACR Axial T2 Duplo-Eco Spin-Eco 2000 20/80 25 11 5 1 256x256 31,25 08:56 Axial T1 de rotina* Spin-Eco 425 11 25 11 5 1 320x192 31,25 02:53 Axial T2 de rotina* Fast Spin-Eco 2100 101 25 11 5 1 320x192 31,25 01:20 *Sequências utilizadas no serviço sem alteração 80 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):79-85. Desenvolvimento de um programa de controle de qualidade em ressonância magnética baseado nas recomendações do Colégio Americano de Radiologia resultados obtidos e avaliar as condições dos equipamentos. Para a análise das imagens, foi utilizado o programa de código aberto ImageJ3. Os testes disponíveis no simulador, bem como a análise e critérios de avaliação, são descritos a seguir. Distorção Geométrica O teste de distorção geométrica avalia a precisão com a qual a imagem do simulador reproduz o seu comprimento real. Para isso, são realizadas medidas do seu comprimento sobre a imagem, entre pontos de referência. As medidas são comparadas com os valores conhecidos do simulador2. O procedimento consiste em: 1. Medir o comprimento, em milímetros, das imagens correspondentes em diversas direções, conforme a Figura 3. 2. Anotar os valores, comparando-os aos valores reais de comprimento do simulador, que são: 148 mm no localizador e 190 mm nas demais medidas. Todas as medidas devem estar dentro de uma variação de ±2 mm em relação ao valor medido. Resolução Espacial de Alto Contraste A resolução espacial de alto contraste mede a capacidade de um sistema em separar objetos quando não existe uma contribuição significativa do ruído que possuem um valor de contraste semelhante2. O procedimento consiste em: 1. Realizar uma avaliação visual do dispositivo de resolução, (Figura 4). Da esquerda para a direita, os furos possuem resolução 1,1 mm - 1,0 mm - 0,9 mm. 2. Avaliar o valor correspondente para o menor conjunto de furos distinguíveis, comparando-os ao valor fornecido pelo equipamento. Espessura de corte O teste de espessura de corte avalia a precisão da espessura alcançada, comparando-a com o valor da espessura especificada pelo equipamento2. O procedimento consiste em: 1. Posicionar duas ROIs retangulares no dispositivo de teste (Figura 5). 2. Avaliar a intensidade de sinal dos dispositivos de teste superior e inferior. 3. Ajustar, agora, o nível de brilho e contraste da janela para a metade do valor médio da intensidade anterior, a fim de visualizar o comprimento total dos dispositivos de teste. 4. Medir o comprimento superior e inferior, que são denominados CS e CI, respectivamente. Para calcular o valor da espessura de corte, a Equação 1 é utilizada. BB AA CC Figura 3. Imagens do simulador ACR na região para avaliação da distorção geométrica. BB A hole array pair C resolution insert Figura 4. Imagem do simulador ACR na região para avaliação da resolução espacial. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):79-85. 81 Capaverde AS, Moura CS, Silva AMM AA BB ROIs C Figura 5. Imagem do simulador ACR na região para avaliação da espessura de corte. CS × CI (1) EC = 0 , 2 × CS + CI Posição de corte A posição do corte é o valor de localização de um corte, utilizando como referência a imagem do localizador4. Esta posição é verificada com relação ao final do corte anterior e início do corte posterior. O procedimento consiste em: 1. Utilizando as imagens (a) e (b) da Figura 6, magnificar os dispositivos de teste da posição de corte. 2. Medir a diferença de comprimento entre as barras da esquerda e da direita, (Figura 7). 3. Sendo a barra da esquerda mais longa (Figura 7b), utilizar o módulo da diferença de comprimento. 4. A diferença absoluta entre o comprimento das barras deve ser ±5 mm. Uniformidade da imagem A uniformidade (U) da imagem reflete a habilidade de um equipamento de RM representar regiões similares com a mesma intensidade em um volume homogêneo2. O procedimento consiste em: 1. Utilizando a imagem da Figura 8, posicionar uma ROI que preencha 75% da imagem do simulador. 82 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):79-85. 2. Diminuir o nível de brilho e contraste da janela até que somente a imagem dentro da ROI esteja saturada na intensidade máxima. 3. Continuar diminuindo lentamente até que uma região com pixels pretos comece a aparecer dentro da ROI (Figura 8a). 4. Com outra ROI pequena, registrar a intensidade de sinal nesta região, denominada região de menor sinal. 5. Repetir o procedimento elevando o nível de brilho e contraste até que apareça somente uma pequena região no centro do ROI com pixels brancos (Figura 8b). 6. Com outra ROI pequena registrar a intensidade de sinal nesta região, denominada região de maior sinal. Para calcular a uniformidade (U), utilizar a Equação 2. MaiorSinal − MenorSinal MaiorSinal + MenorSinal U =100% × 1− (2) A uniformidade da imagem deve ser ≥87,5% para equipamentos de RM de campo magnético menor do que 3T. Percentual de artefato fantasma Os artefatos fantasmas são produzidos por erros relacionados à fase. Geralmente, são caracterizados por áreas de maior intensidade de sinal2. Desenvolvimento de um programa de controle de qualidade em ressonância magnética baseado nas recomendações do Colégio Americano de Radiologia A B bars bars Figura 6. Imagem do simulador ACR na região para avaliação da posição do corte. BB AA Figura 7. Medida das barras. AA BB CC Small ROl Large ROl Small ROl Figura 8. Imagem do simulador ACR na região para avaliação da uniformidade. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):79-85. 83 Capaverde AS, Moura CS, Silva AMM O procedimento consiste em: 1. Utilizando a imagem do teste anterior, posicionar uma ROI que cubra 75% da imagem do simulador, denominada Large ROI. 2. Registrar o valor médio da intensidade de sinal. 3. Posicionar quatro ROIs elípticas nas periferias do objeto e registrar o valor médio de intensidade de sinal. Estas ROIs são denominadas TOP, Left, Right e BTM, respectivamente (Figura 9). Para calcular o percentual de artefato fantasma (PAF), utilizar a Equação 3, que deve ser ≤0,025%. ( TOP − BTM ) − ( Left + Rigth ) PAF = 2 × L argeROI (3) Detecção de objetos de baixo contraste O teste de detecção de objetos de baixo contraste avalia o quanto dois objetos de contraste semelhante são distinguíveis2. O procedimento consiste em: 1. Utilizar a imagem da Figura 10, magnificando os objetos de baixo contraste. 2. Contar os conjuntos de furos visualizados, começando pelo conjunto com maior diâmetro em 12h. 3. Contar os conjuntos até que um ou mais furos não sejam diferenciados do fundo. 4. Realizar o somatório de furos em cada um dos cortes visualizados. O valor do somatório deve ser de, no mínimo, nove furos para um equipamento com de campo magnético menor que 3T. top Resultados Large ROl left right Após a aquisição das imagens nos dois equipamentos avaliados, os diferentes parâmetros foram verificados conforme as recomendações do ACR. Cada um dos testes foi analisado e avaliado de forma separada e por fim os resultados foram comparados entre as sequências obtidas no mesmo equipamento e depois entre os dois equipamentos. Os resultados obtidos a partir da aplicação do programa de CQ encontram-se na Tabela 2. Discussão e Conclusões btm Figura 9. Imagem do simulador ACR na região para avaliação do percentual de artefato fantasma. A O CQ em RM é fundamental para avaliar as condições de qualidade dos equipamentos. Mesmo sem uma legislação nacional, deve-se levar em conta protocolos de órgãos B lowcontrast objects Figura 10. Imagem do simulador ACR na região para avaliação dos objetos de baixo contraste. 84 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):79-85. Desenvolvimento de um programa de controle de qualidade em ressonância magnética baseado nas recomendações do Colégio Americano de Radiologia Tabela 2. Resultados das análises. Distorção Geométrica Eq. Signa Excite Eq. Signa HDxT Sequência L (mm) C (mm) ACR Localizador 147,74 Sagital ACR Axial T1 190,13 191,75 190,51 190,52 ACR Axial T2 191,35 190,40 190,27 191,95 Axial T1 de rotina 190,52 191,15 190,69 190,12 Axial T2 de rotina 191,06 190,30 189,96 190,32 ACR Localizador 148,64 Sagital ACR Axial T1 190,45 190,32 190,98 198,31 ACR Axial T2 190,74 190,97 190,36 190,40 Axial T1 de rotina 191,32 191,45 190,20 190,48 Axial T2 de rotina 190,53 190,13 198,89 191,26 internacionais e adaptá-los às rotinas dos serviços de diagnóstico por imagens. O programa de CQ recomendado pelo ACR m ostrou-se uma ferramenta útil para avaliar a integridade dos equipamentos de RM. No entanto, este programa exige a adaptação dos procedimentos a cada tipo de equipamento de RM. Como consequência deste trabalho, atualmente, os dois equipamentos avaliados contam com uma rotina semestral de CQ. Maiores estudos são necessários para verificar a constância de tais resultados. Agradecimentos Ao Hospital Mãe de Deus pela disponibilização dos equipamentos para a realização deste trabalho. Espessura de Corte (mm) Pos. de Corte Uniformidade PAF Detec. Obj. baixo Conforme? contraste Sim 5,54 4,99 4,82 4,78 -1,96 0,96 2,05 1,42 95,26 93,42 102,36 99,57 0,020 0,018 28,00 27,00 25,00 25,00 Sim Sim Sim Sim Sim 5,32 5,03 5,51 4,63 -2,34 1,58 1,32 2,64 92,31 96,20 91,89 89,42 0,021 0,023 18,00 23,00 20,00 20,00 Sim Sim Sim Sim Referências 1. ACR, American College of Radiology. Site scanning instructions for use of the MR program for the ACR MRI accreditation program. V. 2. Virginia. 2002-2004. [cited 2013 Jul 28]. Available from: http://www.acr.org/~/media/ACR/Documents/Accreditation/MRI/ LargePhantomInstructions.pdf. 2. ACR, American College of Radiology. Phantom test guidance for the acr mri accreditation program. Virginia. 2005. [cited 2013 Jul 28]. Available from: http://www.acr.org/~/media/ACR/Documents/Accreditation/MRI/ LargePhantomGuidance.pdf. 3. Software livre. ImageJ. [cited 2013 Jul 28]. Available from: http://rsbweb. nih.gov/ij/download.html. 4. AAPM, Nuclear Associates, MRI Phantons. 3D Resolution and Slice (3DRAS) Phantom. Uniformity and Linearity (UAL) Phantom. Carle Palce: Victoreen, 2005. [cited 2013 Jul 28]. Available from: http://assets.fluke. com/manuals/76_907__umeng0300.pdf. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):79-85. 85 Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):87-90. Obtenção de sementes de braquiterapia pelo processo de selagem com polímero Obtention of brachytherapy seeds by sealing process using polymer Diogo Alberto P. D. Lana1, Luiz Cláudio F. M. Garcia Carvalho2, Wilmar B. Ferraz1 e Ana Maria M. Santos1 1 Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/CNEN – MG) – Belo Horizonte (MG), Brasil. 2 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Belo Horizonte (MG), Brasil. Resumo A braquiterapia é uma técnica avançada para tratamento de câncer em que sementes ou fontes radioativas são colocadas próximas ou inseridas diretamente no tumor, reduzindo a exposição de tecidos sadios à radiação. Vários tipos de sementes têm sido desenvolvidos com objetivos de melhorar a distribuição de dose e reduzir o custo de produção. Essas sementes consistem de um encapsulamento (tubos de titânio ou aço inoxidável), de carregador de radionuclídeo e de marcador de raios-X. A selagem a laser é um processo usual utilizado na fabricação das sementes; porém, além de ter elevado custo, ela pode promover a volatilização do radionuclídeo. Neste trabalho apresentamos um novo processo de selagem com uso de polímero (resina epóxi) e caracterizações realizadas em dois tipos de resinas epóxis. Essas resinas foram caracterizadas por espectroscopia nas regiões do infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), do ultravioleta-visível (UV-vis) e por calorimetria diferencial de varredura (DSC). Interações das resinas e das sementes seladas em contato com uma solução simuladora do fluido corporal (SBF) foram avaliadas por microscopia eletrônica de varredura (MEV), por energia dispersiva de raios-X (EDS) e por contagens de radiação gama. Palavras-chave: braquiterapia, semente, resina epóxi. Abstract Brachytherapy is an advanced cancer treatment where radioactive seeds or sources are placed near or directly into the tumor thus reducing the radiation exposure in the surrounding healthy tissues. Several kinds of seeds have been developed in order to obtain a better dose distribution around them and with a lower cost manufacturing. These seeds consist of an encapsulation (titanium or stainless steel tube), a radionuclide carrier, and X-ray marker. The usual sealing process of the seeds is done with laser welding, but this process can promote radionuclide volatilization. In this paper, we present a new sealing process using epoxy resin and characterizations of two epoxy resins. These resins were characterized by Fourier transform infrared spectroscopic (FTIR), ultraviolet-visible spectroscopy (UV-vis) and differential scanning calorimetry (DSC). Interactions of the resins and of the sealed seeds in a simulated body fluid (SBF) were evaluated by scanning electron microscopy (SEM), energy dispersive X-ray spectroscopy (EDS), and by a counting gamma-rays. Keywords: brachytherapy, seed, epoxy resin. Introdução A braquiterapia intersticial é uma modalidade de tratamento in situ de cânceres em diferentes regiões do corpo, como cérebro, próstata, glóbulo ocular etc., em que pequenas sementes radioativas são utilizadas1-3. A vantagem de implantes intersticiais dessas sementes é a oportunidade de concentrar a radiação na região tumoral, minimizando a exposição da radiação em tecidos com células sadias. As sementes de braquiterapia são cilíndricas, do tamanho aproximado ao de um grão de arroz, e são constituídas de um material opaco aos raios-X, de um material carregador de radionuclídeo e de encapsulamento (tubo de titânio ou aço inoxidável), em geral, selado com solda a laser1,2. A Figura 1 mostra uma semente típica de iodo-125. Cápsula de titânio I-125 (iodeto de prata) Marcador radiopaco (ouro) Ø 0,8 mm 4,5 mm Figura 1. Semente comercial (Amersham 6711-Oncoseed®). Autor correspondente: Ana Maria Matildes dos Santos – Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/CNEN) – Avenida Antônio Carlos, 6.627 – CEP: 31270-901 – Belo Horizonte (MG), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 87 Lana DAPD, Carvalho LCFMG, Ferraz WB, Santos AMM Materiais e Métodos Foram investigados dois tipos de resinas epóxi biocompatíveis com estruturas químicas diferentes e referidas como EPOX-01 e EPOX-02. Inicialmente a resina e respectivo endurecedor foram homogeneizados durante 5 min, a mistura foi colocada sob vácuo e, em seguida, vertida em moldes de plástico, originando amostras com tamanhos aproximados de 10 mm de diâmetro. As amostras foram tratadas termicamente na faixa de temperatura de 40 a 100°C por 10 minutos e analisadas por FTIR com o acessório ATR (Thermo Scientific, Nicolet 6700), por UV-Vis (Shimadzu, UV-2401PC) e DSC analysis (TA Instruments, Q20). Para a investigação in vitro, amostras ficaram em contato com a solução SBF, simuladora do plasma sanguíneo6, à temperatura de 36,5°C durante 1, 7, 14, 30 e 60 dias. A solução foi preparada com as seguintes concentrações: 59,64 g de KCl/L, 116,88 g de NaCl/L, 45,37 g de NaHCO3/L, 49,30 g de (MgSO4 7H2O)/L, 121,16 g de tris-hidroximetil-aminometano/L, 100 g de NaN3/L e 27,22 g de KH2PO4/L. Todos os reagentes foram adicionados sequencialmente em água destilada com o pH final da solução ajustado em 7,25. Após os ensaios na solução SBF, a presença de precipitados foi avaliada por MEV (equipamento JEOL, modelo JSM-5310) e por EDS (equipamento Thermo Electron Corporation, modelo Noran System Six). 88 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):87-90. A partir dos resultados de caracterização das resinas, uma delas foi escolhida para os testes de selagem das sementes. Esses testes foram realizados colocando-se a resina em contato com tubos de titânio com 4 mm de comprimento, contendo em seu interior uma cerâmica em formato cilíndrico impregnada com iodo-125. Foi utilizado um sistema de vácuo para a entrada da resina nas extremidades dos tubos de titânio. Optou-se por sementes com baixa atividade de iodo-125 para facilitar os cuidados de radioproteção. As sementes seladas foram lixadas com lixas de carbeto de silício e polidas com pastas de diamante para observação de sua estrutura interna. Algumas sementes foram colocadas em contato com solução SBF nas mesmas condições das resinas. As estanqueidades das sementes foram avaliadas medindo-se suas atividades antes e após contato com a solução SBF durante sete dias com espectrômetro gama (PerkinElmer Wallac WIZARD 3 Automatic Gamma Counter). Resultados A resina EPOX-01 curou na temperatura de 60°C, enquanto a resina EPOX-02 não curou nessa temperatura, mesmo num tempo maior de permanência. As Figuras 2 e 3 mostram os resultados de FTIR para diferentes temperaturas de cura das resinas, e as Figuras 4 e 5 apresentam os espectros obtidos por UV-vis. Os termogramas obtidos por DSC não são mostrados aqui. Micrografias das superfícies das resinas obtidas no MEV após contato com solução SBF são mostradas na Figura 6. Já os resultados de análise química dos precipitados por EDS são apresentados na Figura 7 e na Tabela 1. Na Figura 8, são mostradas as estruturas internas das sementes após o processo de selagem. A Tabela 2 mostra as atividades das sementes medidas antes e após o contato com a solução SBF durante 7 dias. T.A. 40ºC 50ºC 60ºC 100ºC Absorbância (U.A.) A diferença entre as sementes está no tipo de selagem do tubo de titânio e na sua estrutura interna, onde existem vários tipos de materiais responsáveis pela opacidade e carregamento do radionuclídeo, como também diferentes opções de radionuclídeo4. Resinas do tipo epóxi podem ter potencial para uso na selagem de sementes de braquiterapia em substituição ao processo de selagem a laser. Essa possibilidade permite que o processo de fabricação da semente tenha menores custos de produção e uma melhor distribuição de dose5. Como as sementes ficam em contato direto com os fluidos corporais, essas resinas devem ser biocompatíveis. Neste trabalho é apresentado um processo de obtenção de sementes de braquiterapia pelo processo de selagem de tubos de titânio com resina epóxi. São ainda apresentados resultados de caracterização de dois tipos de resinas epóxi para uso no processo de selagem pelas técnicas de espectroscopias na região do infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), na região do ultravioleta-visível (UV-vis) e de calorimetria diferencial de varredura (DSC). Interações da resina com solução simuladora do fluido do corpo humano (SBF) foram avaliadas por microscopia eletrônica de varredura (MEV) e por energia dispersiva de raios-X (EDS). Também sementes seladas foram colocadas em solução SBF para verificação da estanqueidade das sementes com o novo processo de selagem. 700 900 1.100 1.300 1.500 Número de Onda (cm-1) Figura 2. Espectros FTIR da resina EPOX-01. 1.700 1.900 Obtenção de sementes de braquiterapia pelo processo de selagem com polímero 40ºC 50ºC 60ºC 100ºC Absorbance (U.A.) RT EPO-01-30d EPO-02-30d Figura 6. Micrografias obtidas no MEV das resinas após 30 dias em solução SBF. 20 Resin EPOX-02 900 1.100 1.300 1.500 Número de Onda, cm-1 1.700 Figura 3. Espectros FTIR da resina EPOX-02. 40ºC 50ºC 60ºC 100ºC 15 1.900 Ca (% em peso) 700 Resin EPOX-01 10 T.A. Intensidade (U.A.) 5 200 0 0 20 40 Tempo (dias) 60 80 Figura 7. Evolução dos teores de cálcio nas resinas após contato com solução SBF. 220 240 260 280 300 320 Comprimento de Onda (cm-1) 340 360 Resina transparente Cerâmica Impregnada com Iodo Resina transparente Figura 4. Espectros UV-Vis da resina EPOX-01. 40ºC 50ºC 60ºC 100ºC Tubo de Titânio T.A. 0,5 mm Figura 8. Estrutura interna das sementes. Intensidade (U.A.) Tabela 1. Teores de cálcio analisados por EDS. Resina EPOX-01 Tempo 7 14 30 60 Ca (% em peso) 0,05 0,07 2,8 5,0 Resina EPOX-02 200 220 240 260 280 300 320 Comprimento de Onda (cm-1) Figura 5. Espectros UV-Vis da resina EPOX-02. 340 360 Tempo 7 14 30 60 Ca (% em peso) 1,1 5,2 7,6 16 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):87-90. 89 Lana DAPD, Carvalho LCFMG, Ferraz WB, Santos AMM Tabela 2. Atividades das sementes (nCi). Início (0 dias) Final (7 dias) Semente-1 6,4 6,3 Semente-2 11,3 11,1 Semente-3 8,4 8,1 Semente-4 10,5 10,5 Semente-5 8,0 8,0 Semente-6 9,7 9,7 Os resultados apresentados na Tabela 2 demonstram que as sementes possuem uma excelente estanqueidade com pequenas variações nos valores observados. A resina do EPOX-01 apresentou um tempo de cura com melhor desempenho e uma boa estabilidade térmica. Os resultados de selagem de sementes com esse tipo de resina mostram que esse processo de selagem é viável, podendo futuramente substituir o processo de selagem com solda a laser. Agradecimentos Discussão e Conclusões Resultados de FTIR para diferentes temperaturas de cura das resinas mostram que nenhuma alteração significativa ocorreu nas bandas de absorbância. Já nas Figuras 4 e 5, para os espectros UV-vis, observou-se um pequeno deslocamento na direção de menores comprimentos de onda para ambas as resinas. Os termogramas de DSC mostraram que as temperaturas de transição vítrea permaneceram constantes em 64 e 60°C, respectivamente, para as resinas EPOX-01 e EPOX-02. Precipitados foram observados no MEV nas superfícies das resinas (Figura 6) como regiões brancas que, quando analisadas por EDS, se revelaram ricas em cálcio (Figura 7). Os maiores precipitados apareceram na resina EPOX-02 com teores de cálcio mais elevados. Através de inspeções visuais com microscopia óptica observou-se a ausência de bolhas de ar nas extremidades das sementes após o processo de selagem. Observa-se na Figura 8 que a cerâmica interna impregnada com iodo-125 deslocou-se do centro do tubo de titânio para uma das extremidades. Isso indica que melhorias são necessárias no processo de selagem para manter uma geometria mais simétrica no interior das sementes. 90 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):87-90. Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo auxílio financeiro ao projeto. Referências 1. Godden TJ. Physical aspects of brachytherapy. Bristol: Adam Hilger; 1998. (Medical Physics Handbooks 19). 2. Suntharalingam N, Podgorsak EB, Tölli H. Brachytherapy: physical and clinical aspects. In: Podgorsak EB. Radiation Oncology Physics: a handbook for teachers and students. Vienna: International Atomic Energy Agency; 2005. p. 451-84. 3. Shields CL, Mashayekhi A, Sun H, Uysal Y, Friere J, Komarnicky L, et al. Iodine 125 plaque radiotherapy as salvage treatment for retinoblastoma recurrence after chemoreduction in 84 tumors. Ophthalmology. 2006;113:2087-92. 4. Rostelato MECM. Estudo e desenvolvimento de uma nova metodologia para confecção de sementes de iodo-125 para aplicação em braquiterapia. [Tese de Doutorado]. São Paulo: Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da Universidade de São Paulo; 2005. 5. Paixão L, Facure A, Santos AM, dos Santos AM, Grynberg SE. Monte Carlo study of a new I-125 brachytherapy prototype seed with a ceramic radionuclide carrier and radiographic marker. J Appl Clin Med Phys. 2012;13:3741. 6. Kokubo T. Apatite formation on surfaces of ceramics, metals and polymers in body environment. Acta Materialia. 1998;46(7):2519-27. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):91-4. Uso do MCNP para comparação das respostas de dose depositada nos TLD 100, TLD 600 e TLD 700 em campos de irradiação devido a fontes de 60Co e 241AmBe Use of MCNP to compare the response of dose deposited in the TLD 100, TLD 600 and TLD 700 in radiation fields due to 60Co and 241AmBe source Tássio A. Cavalieri, Vinícius A. Castro e Paulo T. D. Siqueira Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da Comissão Nacional de Energia Nuclear (IPEN- CNEN) – São Paulo (SP), Brasil. Resumo O sucesso da Terapia por Captura de Nêutron por Boro (BNCT - Boron Neutron Capture Therapy) depende da habilidade de entregar um adequado campo de irradiação nas células alvo. Os feixes de nêutrons utilizados no BNCT são comumente originados de reatores nucleares e, portanto, não há apenas nêutrons na faixa térmica, há também nêutrons de outras faixas energéticas, e alto componente de gama. Então a caracterização e a dosimetria dos feixes são, consequentemente, um dos procedimentos essenciais a serem superados para a aplicação correta desta técnica. Um dos métodos atualmente utilizados na caracterização de campos mistos (campos contendo nêutron e gama) encontra-se no uso de pares de detectores com respostas distintas para cada componente do campo. Mas esta técnica precisa de um melhor entendimento de como cada dosímetro termoluminescente (TLD) se comporta em campos mistos ou em campos puros. Este trabalho apresenta o resultado de um conjunto de simulações realizadas para analisar as respostas de três comuns tipos de TLDs – TLD 100, TLD 600 e TLD 700 – submetidos a diferentes campos de irradiação provenientes de uma fonte de Cobalto e de uma fonte de Amerício-Berílio dentro de um cilindro de parafina. É também um possível método para a realização das seleções e calibrações destes TLDs. Palavras-chave: método Monte Carlo, nêutrons, dosimetria termoluminescente, fótons, terapia por captura de nêutron por Boro. Abstract The successes of Boron Neutron Capture Therapy (BNCT) depend on the ability to deliver an adequate irradiation field to the target cells. Neutron beams used in BNCT are mostly driven from reactors and therefore, not only have a neutron energy range which far exceeds the thermal region but also do have a great gamma component. Beam characterization and dosimetry are consequently one of the essential procedures to be overcome to properly apply this technique. One of the methods currently used in mixed field (field containing both neutron and gamma) characterization, lies on the use of a pair of detectors with distinct responses to each beam component. But this technique needs to be better understood of how each thermoluminescent dosimeter (TLD) behaves in a mixed field or in a pure field. This work presents the results of a set of simulations performed in order to analyze the response of three ordinary types of TLDs - TLD 100, TLD 600 and TLD 700 – submitted to different irradiation fields from a Cobalt source and an Americium-Beryllium source inside a paraffin disk. And is also a possible method for performing the selection and calibration of theses TLDs Keywords: Monte Carlo method, neutrons, thermoluminescent dosimetry, photons, boron neutron capture therapy. Autor correspondente: Tássio Antonio Cavalieri – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – Avenida Lineu Prestes, 2242 – Cidade Universitária – CEP: 05508-000 – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 91 Cavalieri TA, Castro VA, Siqueira PTD Introdução A Terapia por Captura de Nêutron por Boro (BNCT - Boron Neutron Capture Therapy) é uma técnica de micro-radioterapia bimodal, que consiste em entregar certa quantidade de átomos de Boro nas células cancerígenas, e então expor a região a uma irradiação com campo de nêutrons térmicos. Assim, a energia proveniente da reação B(n,α)Li é depositada nas células ao redor do átomo de Boro, fazendo com que estas sejam destruídas ou enfraquecidas1. Para o correto funcionamento da técnica de BNCT, um fluxo suficiente de nêutrons térmicos deve ser entregue na região do tumor, sem haver altos fluxos de outras faixas energéticas de nêutrons e de radiação gama. Então se faz necessário a correta caracterização do campo de irradiação. Uma instalação de BNCT foi construída no reator IEA-R1 no IPEN/CNEN em São Paulo2. Como em qualquer instalação de BNCT, seu campo de irradiação tem que ser caracterizado, e para isso se faz o uso dos dosímetros termoluminescentes (TLD). Porém, antes de utilizar este dosímentro para a realização da caracterização do campo de irradiação, é necessário entender como o TLD responde a diferentes campos de irradiação, além de realizar a sua seleção e a calibração. Portanto o objetivo deste trabalho é analisar como a dose é depositada no TLD 100, TLD 600 e TLD 700 devido a duas fontes distintas (60Co e 241AmBe), e propor então um método para a realização da seleção e calibração destes TLDs utilizando estas fontes. Simulação com fonte de 60Co Nesta simulação, os TLDs estavam colocados dentro de um suporte de acrílico que continha 9 TLDs em uma matriz 3x3 cm, com dimensões de 11x3,4x1 cm, onde os TLDs da linha central se encontravam exatamente na altura média da fonte (Figura 1). A distância entre cada TLD era de 0,8 cm, e a distância entre o suporte e a fonte era de 11 cm. A fonte foi simulada como sendo cilíndrica e com emissão isotrópica, conforme espectro mostrado na Tabela1. Simulação com fonte de 241AmBe A fonte de AmBe é uma fonte de campo misto (nêutrons e gama) com predominância de emissão de nêutrons rápidos. E como a sensibilidade a nêutrons dos TLDs vem da presença do isótopo 6Li, e este tem uma alta seção de choque para nêutrons térmicos, tanto a fonte como os TLDs foram simulados no interior de um cilindro de parafina com 9 cm de raio e 10 cm de altura, que serviria para diminuir a energia dos nêutrons (Figura 2). AA) Suporte BB) Fonte Ar + Suporte Ar Fonte Figura 1. Geometria da simulação com fonte de 60Co. Material e Métodos Este trabalho é todo baseado em simulações realizadas pelo código de Monte Carlo MCNP53. As simulações representam os TLDs imersos em campos de irradiação de duas fontes diferentes: 60Co e 241AmBe. Estes casos foram estudados na tentativa de criar um método para analisar as respostas dos TLDs, a reprodutibilidade das respostas de cada TLD e criar uma metodologia para a calibração destes TLDs. Para a realização deste trabalho as bibliotecas utilizadas pelo MCNP5 foram: ENDF-VI.0, ENDF-VI.1, ENDF-VI.6 e ENDF/B-VI. Os três diferentes tipos de TLD (TLD 100, TLD 600 e TLD 700) foram simulados como sendo cristais de 0,32x0,32x0,089 cm, conforme os vendidos pela Harshaw Chemical Co. Este tipo de TLD é do tipo LiF:Mg,Ti, e a diferença entre cada um dos tipos está nas diferentes concentrações dos isótopos de Lítio (6Li e 7Li) presente em cada um, sendo que o TLD 100 tem a abundância natural dos isótopos de Li (7,5% de Li6), o TLD 600 é enriquecido com 6 Li (95,6%), e o TLD 700 é enriquecido com 7Li (99,93%)4. Os TLDs foram simulados como sendo formados por Flúor e Lítio, nas devidas proporções de cada isótopo de Lítio em cada tipo de TLD. 92 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):91-4. A) A Parafina B) B TLDs Fonte + TLDs Parafina Fonte Figura 2. Geometria da simulação com fonte de 241AmBe. Tabela 1. Espectro de emissão de raios gama da fonte de 60Co 5. Energy (keV) 346.93 826.28 1173.237 1332.501 2158.77 2505 Intensity (Yield %) 0.0076 0.0076 99.9736 99.9856 0.00111 2.0E-06 Uso do MCNP para comparação das respostas de dose depositada nos TLD 100, TLD 600 e TLD 700 em campos de irradiação devido a fontes de 60Co e 241AmBe Tallies das simulações O interesse das simulações era identificar a dose depositada em cada TLD devido aos nêutrons e aos fótons. Para o caso da dose depositada devido aos fótons foi utilizado a o tally *F83, que fornece a energia depositada (MeV) por fóton simulado. Já para o caso da dose devido aos nêutrons, foi utilizado o tally F4 com o cartão FM para a reação (n,3H) no átomo de Lítio3, o que fornecia a dose (MeV) por nêutrons gerados. Resultados Simulação com fonte de 60Co A deposição de dose devido aos fótons se mostrou semelhante nos três tipos de TLD, não havendo discrepâncias entre eles. E a dose depositada devido à posição ocupada pelo TLD no suporte está representada na Tabela 2, com a intensidade de dose depositada relativa à posição central. Simulação com fonte de 241AmBe A dose depositada nos TLDs devido aos fótons é proveniente tanto da própria emissão de fótons gerados pela fonte, como pela geração de fótons devido à interação dos nêutrons com a parafina. Porém, a maior parte da dose de fótons depositada vem da própria produção da fonte, sendo que os fótons da interação dos nêutrons são desprezíveis. Como no caso da fonte de Cobalto, a dose depositada nos TLDs pelos fótons é semelhante para os três tipos de TLD, e a dose em cada um dos nove TLDs simulados relativo ao TLD central está representado na Tabela 3. Como era esperada, a dose depositada pelos nêutrons foi diferente em cada tipo de TLD. A Tabela 4 mostra a dose depositada em cada tipo de TLD em relação à dose depositada pelos nêutrons no TLD 100. A dose em cada TLD da matriz 3x3 cm é diferente. Porém quanto menor a resposta de certo tipo de TLD para nêutrons, maior é a diferença de dose depositada nos diferentes TLD da matriz: no caso dos TLDs 700 a diferença de dose entre diferente TLDs com o TLD central chega a 4,5%; para os TLDs 100 a diferença chega a 2,8%; e nos TLDs 600, 2,5%. 0,40 0,35 0,30 Intensidade Os TLDs foram simulados estando em uma matriz 3x3 há 6 cm da fonte, com a linha central exatamente na altura média da fonte. Esta fonte emite fótons com energia de 4,4 MeV6, e seu espectro de emissão de nêutrons está representado na Figura 37. Porém as interações dos nêutrons com a parafina geram fótons, que também foram considerados para o cálculo de dose depositada por fótons no TLD. 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 0 5 10 15 Energia (MeV) 20 25 30 Figura 3. Espectro energético dos nêutrons da fonte de AmBe.7 Tabela 2. Energia depositada pelos fótons, da fonte de 60Co, relativa à energia depositada no TLD central. Energia depositada pelos fótons do Co 0,95±0,02 0,96±0,02 0,97±0,02 0,95±0,02 1,00±0,02 0,97±0,02 1,01±0,02 0,96±0,02 0,97±0,03 Tabela 3. Energia depositada pelos fótons, devido a fonte de 241 AmBe, relativa à energia depositada no TLD central. Energia depositada pelos fótons do AmBe 0,98±0,01 0,97±0,01 0,98±0,01 1,00±0,01 1,00±0,01 1,00±0,01 0,97±0,01 0,99±0,01 0,99±0,01 Tabela 4. Dose depositada pelos nêutrons da fonte de 241AmBe em cada tipo de TLD, relativa a dose depositada no TLD 100. TLD 100 1,00±0,01 TLD 600 3,50±0,03 TLD 700 (3,00±0,05)E-04 Discussão e Conclusões Nas simulações para a fonte de 60Co, a diferença entre as doses devido a fótons nos TLDs podem ser consideradas praticamente as mesmas, não importando o tipo de TLD e sua posição no suporte (Tabela 2). Sendo assim, um sistema contendo uma fonte de 60Co no centro de um anel, e os suportes de TLDs colocados ao redor deste anel, serviria para a realização da seleção para fótons destes TLDs. A calibração também poderia ser feita deixando os TLDs expostos por diferentes tempos. Para o caso do sistema criado para a fonte de AmBe, a dose devido aos fótons foram muito semelhantes entre os TLDs de tipos diferentes. E a dose depositada devido Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):91-4. 93 Cavalieri TA, Castro VA, Siqueira PTD a posição dos TLDs na matriz 3x3 cm dentro do cilindro de parafina pode também ser considerada a mesma para todas as posições do suporte, segundo a simulação. Considerando a dose devido aos nêutrons na simulação com a fonte de AmBe, foi possível analisar que grande parte da dose depositada, 90%, era devido aos nêutrons térmicos, o que já era o esperado, uma vez que a sensibilidade a nêutrons dos TLDs vem da presença do isótopo 6Li que tem alta seção de choque para nêutrons térmicos. E a dose em cada diferente tipo de TLD foi diferente, uma vez que cada tipo de TLD tinha uma concentração diferente do isótopo 6Li (Tabela 3). Em comparação ao TLD 100 e TLD 600, a resposta do TLD 700 a nêutrons é desprezível. Porém se o TLD 700 for utilizado como sendo um dos pares de detectores para a dosimetria de campos mistos, e estes campos conterem uma alta componente de nêutrons em relação aos fótons, esta técnica pode superestimar a dose gama e subestimar a dose de nêutrons, uma vez que o TLD 700 não é totalmente invisível aos nêutrons. Já ambos os TLDs, TLD 100 e TLD 600, mostraram uma alta dependência com os nêutrons, porém se for analisado a relação da deposição de dose destes TLDs com a concentração do isótopo 6Li, é possível verificar que a deposição de dose no TLD 600 não é tão mais alta quanto maior é sua concentração de 6Li em relação ao TLD 100. O TLD 600 apresenta uma deposição de dose 3,5 vezes maior que a do TLD 100, enquanto a sua concentração de 6Li é 12,75 maior que no TLD 100. Esta diferença entre concentração e reposta entre o TLD 100 e TLD 600, vem da autoblindagem do TLD devido a presença do 6Li. O TLD 600 sofre uma maior a autoblindagem pois há nele mais átomos de 6Li, o que está de acordo com o observado no trabalho realizado por Méndez et al8. Então, como o TLD 100 apresenta também uma boa resposta a nêutrons térmicos, o método de utilização de pares de detectores para dosimetria de campos mistos poderia ser realizado com o par TLD 100 – TLD 700, no lugar do par TLD 600 – TLD 700 mais comumente utilizados. Quando comparadas as respostas dos TLDs da matriz devido aos nêutrons, o TLD 700 é o que apresenta a maior discrepância, porém como sua sensibilidade a nêutrons é 94 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):91-4. muito baixa em relação aos fótons, esta discrepância não será importante na resposta final deste TLD. Já para o TLD 100 e TLD 600 a discrepância é menor, mas é possível ver que dependendo da posição do TLD na matriz ele pode receber mais ou menos dose, chegado a diferenças de quase 3%. Esta diferença não é muito significativa quando forem levadas em conta todas as incertezas a que o TLD estará exposto em todo seu ciclo de tratamento – leitura – irradiação. Portantoo sistema para irradiação com o AmBe proposto por este trabalho pode ser utilizado para a realização dos selecionamentos e calibrações dos TLDs para nêutrons e fótons. Agradecimentos Os autores agradecem o apoio financeiro da Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Referências 1. Sweet WH. Early history of development of boron neutron capture therapy of tumors. J Neurooncol. 1997;33:19-26. 2. Ferreira Jr DBM, Zahn GS, Rogero JR, Maiorino JR, Damy MA, Camillo MAP, et al. Estudo para a implantação de uma instalação de NET no reator IEA-R1 do IPEN-CNEN/SP.6ª CGEN, 1996; Rio de Janeiro; Brasil. 3. X-5 Monte Carlo Team. MCNP – A General Monte Carlo N-Particle Transport Code, Version 5, User’s Guide; 2003. 4. McKeever SWS, Moscovitch M, Townsend PD. Thermoluminescence Dosimetry Materials: Properties and Uses. Ashford: Nuclear Technology Publishing; 1995. 5. Nuclear Data Evaluation Lab [homepage on the Internet]. Korea: Korea Atomic Energy Research Institute. c 2000. [cited 2011 Jul 22]. Available from: http://atom.kaeri.re.kr/ 6. Vega-Carrilo HR, Manzanares-Acuña E, Becerra-Ferreiro AM, CarrilloNuñez A. Neutron and gamma-ray spectra of 239PuBe and 241AmBe. Appl Radiat Isot. 2002;57:167-70. 7. International Atomic Energy Agency. Compendium of Neutron Spectra and Detector Responses for Radiation Protection Purpose Vienna; 2001. 8. Méndez R, Iñiguez MP, Barquero R, Mañanes A, Gallego E, Lorente A, et al. Response components of LiF:MG,Ti around a moderated AM-Be neutron Source. Radiat Prot Dosimetry. 2002;98(2):173-78. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):95-8. Avaliação de Amostras Termoluminescentes de BeO em Feixes Padrões de Radioterapia Evaluation of Thermoluminescent BeO Samples in Standard Radiotherapy Beams Daniela P. Groppo, Jonas O. Silva e Linda V. E. Caldas Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Comissão Nacional de Energia Nuclear (IPEN-CNEN/SP) – São Paulo (SP), Brasil. Resumo Amostras termoluminescentes de BeO foram avaliadas em feixes padrões de radiação X aplicados em radioterapia de energias baixas. Foram realizados os testes de reprodutibilidade, curva dose-resposta e dependência energética, além de ser determinado o limite inferior de detecção. As pastilhas de BeO apresentaram boa resposta para utilização em dosimetria de feixe. Palavras-chave: dosimetria, raios X, dosímetro termoluminescente, berílio. Abstract Beryllium oxide thermoluminescent samples were evaluated in standard radiotherapy beams of low energy. Results for response reproducibility, dose-response curve and energy dependence were obtained. The lower detection limit was determined. The pellets of BeO showed their usefulness for beam dosimetry. Keywords: dosimetry, X-rays, thermoluminescent dosimeter, beryllium. Introdução Certos cristais retêm parte da energia absorvida durante a irradiação em estados metaestáveis de energia; quando essa energia é perdida posteriormente na forma de luz ultravioleta (UV), infravermelha ou visível, ocorre o fenômeno da luminescência1. A luminescência se divide em fluorescência, se a emissão de luz se dá entre 10-10 e 10-8 s após a irradiação, e fosforescência, que pode ser estimulada pelo calor ou pela luz, quando recebe o nome de termoluminescência (TL) e luminescência opticamente estimulada (OSL), respectivamente. A partir de 1960, o uso da dosimetria TL aumentou rapidamente devido às inúmeras vantagens da técnica e da disponibilidade de fósforos comerciais e a facilidade da instrumentação2. O óxido de berílio (BeO) tem sido extensivamente estudado usando a técnica da TL, tendo em vista a aplicação do material para dosimetria das radiações ionizantes. Em particular, o BeO é um grande atrativo para dosimetria pessoal por apresentar número atômico efetivo baixo (Zefetivo=7,13), que é muito próximo ao do tecido biológico (Zefetivo=7,42). As amostras de BeO apresentam três picos TL de 75, 220 e 340ºC para curvas de emissão até 400ºC de aquecimento; o pico de 220ºC é considerado como o principal pico dosimétrico3. A radioterapia é uma das modalidades de tratamento mais empregadas para doenças malignas como o câncer. A garantia de que o paciente esteja recebendo a dose real prescrita e de que os indivíduos ocupacionalmente expostos durante o tratamento não estejam recebendo doses efetivas superiores aos limites de dose anuais, requer o emprego de uma técnica dosimétrica eficiente. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho de amostras TL de BeO para dosimetria de feixes de radiação X (energias baixas) aplicados à radioterapia4. Materiais e Métodos Neste trabalho foram selecionadas 20 pastilhas de óxido de berílio, com dimensões de 0,8 mm de espessura e 4,0 mm de diâmetro. Autor correspondente: Daniela Piai Groppo – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN-SP) – Gerência de Metrologia das Radiações – Avenida Prof. Lineu Prestes, 2242 – Cidade Universitária – CEP: 05508-000 – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 95 Groppo DP, Silva JO, Caldas LVE Tabela 1. Características dos feixes padronizados de radiação X para radioterapia implantados no equipamento Pantak/Seifert, de acordo com o BIPM4. Tensão do Tubo (kV) T-10 T-25 T-30 T-50(a) T-50(b) 10 25 30 50 50 Camada Semirredutora (mmAl) 0,043 0,279 0,185 2,411 1,079 As pastilhas foram irradiadas nos feixes de radiação X no equipamento de marca Pantak/Seifert, modelo ISOVOLT 160HS, que opera até 160 kV, do Laboratório de Calibração de Instrumentos do IPEN (LCI). Nesse equipamento estão implantadas as qualidades de feixes de radiação específica para radiologia convencional, radioterapia, mamografia e radioproteção, de acordo com as recomendações internacionais. Para este estudo foram utilizadas as qualidades de radioterapia recomendadas pelo Bureau International des Poids et Mesures (BIPM)5. Cinco qualidades de feixe de radiação X de energias baixas, radioterapia, estão implantadas no LCI, suas principais características encontram-se na Tabela 1. As medições foram realizadas na leitora RISØ TL/OSL, modelo TL/OSL-DA-20 (Figura 1) com a técnica TL, imediatamente após as irradiações. Os parâmetros utilizados para obtenção da curva TL foram: taxa de aquecimento linear de 10ºC/s, temperatura final de 450ºC e fluxo constante de nitrogênio de 1 l/min. A curva de emissão foi integrada no intervalo de temperatura entre 100 e 300°C, em que o pico dosimétrico se fez presente. Após as avaliações TL, as pastilhas foram tratadas termicamente a 750ºC durante 15 minutos, para reutilização. Os testes de caracterização realizados consistem em: curva de emissão TL, limite inferior de detecção (LID), reprodutibilidade da resposta TL, curva dose-resposta e dependência energética. Esses testes são determinantes para utilização do material como dosímetro. Resultados Neste trabalho, as amostras de BeO foram testadas usando feixes de radiação X de qualidades de radioterapia. Para todos os testes, as pastilhas foram posicionadas a uma distância de 50 cm, como para a padronização no feixe de radioterapia. As condições foram mantidas ao longo de todo o arranjo experimental. Convém ressaltar que foi descontada a leitura de amostras não irradiadas para os valores médios das respostas TL. Curva de Emissão termoluminescência A curva de emissão TL representa a variação da resposta TL em função da temperatura de aquecimento. Uma curva de emissão obtida para as amostras de óxido de berílio está representada na Figura 2. 96 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):95-8. Filtração Adicional (mmAl) – 0,372 0,208 3,989 1,008 Taxa de Kerma no Ar (mGy.min-1) 3,229±0,003 2,753±0,002 9,492±0,005 0,834±0,002 3,878±0,002 Figura 1. Leitora RISØ TL/OSL, modelo TL/OSL-DA-20. 60000 Resposta TL (cps) Qualidade da Radiação 40000 20000 0 0 100 200 300 Temperatura (ºC) 400 Figura 2. Curva de emissão TL de uma pastilha de BeO exposta à qualidade de radiação X (T-30), radioterapia, para uma dose absorvida de 1 Gy. Limite Inferior de Detecção Por meio da medição da resposta TL de dosímetros não irradiados foi possível determinar o valor do limite inferior de detecção. O valor obtido foi de 2,2 mGy. Reprodutibilidade Para o teste de reprodutibilidade, as 20 amostras foram submetidas 10 vezes ao mesmo procedimento de Avaliação de Amostras Termoluminescentes de BeO em Feixes Padrões de Radioterapia irradiação para qualidade padrão T-30, com dose de 1 Gy, medição da resposta TL e tratamento térmico. O desvio padrão relativo máximo foi de 4,9%. Curva dose-resposta A curva dose-resposta do detector de radiação é representada pela resposta TL em função da dose absorvida (Figura 3). As amostras foram irradiadas com várias doses no intervalo de 10 mGy a 10 Gy, no feixe de qualidade de radiação T-30. No intervalo de 0,1 a 5 Gy a curva apresenta linearidade. Esses dados foram plotados em escala linear e realizou-se uma regressão linear; os parâmetros obtidos foram: coeficiente linear de -0,080±0,053 e coeficiente angular de 1,131±0,018. O coeficiente de correlação linear R2 é de 0,99974. Dependência Energética A fim de se determinar a dependência energética de resposta dos dosímetros de BeO, as pastilhas foram posicionadas à distância de 50 cm do tubo e irradiadas nos feixes das qualidades de radioterapia implantadas no LCI. Esse procedimento foi utilizado para determinar o coeficiente de calibração para cada energia, sendo normalizado para o feixe de qualidade T-30, determinando-se então o fator de correção. O coeficiente de calibração e o fator de correção para cada qualidade de radiação estão representados na Tabela 2. A dependência energética das pastilhas está ilustrada na Figura 4. Discussão e Conclusões Os primeiros resultados apresentados são referentes à curva de emissão das amostras de BeO. Pode-se notar que o pico dosimétrico está na região de 150 a 300ºC. Foi possível observar também que o terceiro pico desse material está localizado em cerca de 375ºC. O primeiro pico característico para o BeO, aproximadamente a 75ºC, não pôde ser observado, pois sua intensidade pode ser considerada desprezível em relação às outras. Não foi constatada variação significativa na curva de emissão das 20 amostras TL estudadas, o desvio padrão máximo obtido de 4,9, portanto dentro do recomendado pela TRS 3986. 2,0 1000 Fator de correção Resposta TL relativa (u.a.) 10000 1,5 100 10 1,0 0,5 0,0 10 100 1000 10000 0,5 1,0 1,5 2,0 Camada semirredutora (mmAl) 2,5 Dose absorvida (mGy) Figura 3. Curva dose-resposta das pastilhas de BeO para qualidade de radiação X (T-30), radioterapia, para doses de 0,01; 0,1; 1; 5 e 10 Gy. Figura 4. Dependência energética da resposta dos detectores de BeO, em feixes de qualidade de radioterapia. Tabela 2. Coeficientes de calibração e fatores de correção das pastilhas de BeO utilizando feixes padrões de qualidade radioterápica. Qualidade da Radiação T-10 T-25 T-30 T-50(a) T-50(b) Camada Semirredutora (mmAl) 0,043 0,279 0,185 2,411 1,079 Coeficiente de Calibração (mGy/cps) 4,817 2,424 2,590 1,902 2,089 Fator de Correção Desvio Padrão Relativo (%) 1,860 0,936 1,000 0,734 0,806 9,8 8,4 8,9 7,7 8,2 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):95-8. 97 Groppo DP, Silva JO, Caldas LVE Foi determinado também o limite inferior da curva de detecção para as amostras de BeO, aproximadamente 2,2 mGy. A curva de dose-resposta do BeO à radiação X de energias baixas (Figura 3) apresentou linearidade entre as doses de 100 mGy e 5 Gy, sendo a linearidade comprovada pelo valor de R2 obtido na regressão linear. Ao analisar a Figura 4, os dosímetros apresentaram alta dependência energética considerando a qualidade de radioterapia T-10. Entretanto, ao se desconsiderar a qualidade cuja camada semirredutora é 0,043 mmAl, a dependência energética obtida para as demais qualidades de radioterapia, T-25, T-30, T-50(a) e T-50(b), é de apenas 13,9%. Este fato é pouco importante para dosimetria de feixe, uma vez que o conhecimento da sua dependência permite o uso de fatores de correção para adequação da dosimetria termoluminescente para as diferentes qualidades. As amostras TL de BeO para dosimetria de radiação X de radioterapia de energias baixas apresentaram respostas satisfatórias para o emprego da técnica em dosimetria de feixe. 98 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):95-8. Agradecimentos Os autores são gratos pelo apoio financeiro parcial da CAPES, FAPESP, CNPq e MCT (Projeto INCT de Metrologia das Radiações na Medicina), Brasil. Referências 1. International Atomic Energy Agency. Radiation oncology physics: A handbook for teachers and students. Vienna; 2005. 2. McKeever SWS, Moscovitch M, Townsend PD. Thermoluminescence dosimetry materials: Properties and uses. Ashford: Nuclear Technology Publishing; 1995. 3. Bulur E, Göksu HY. OSL from BeO ceramics: new observations from an old material. Radiat Meas 1998; 29(6):639-50. 4. Metcalfe P, Kron T, Hoban P. Physics of radiotherapy X-rays from linear accelerators. Madinson: Medical Physics Publishing; 2007. 5. Bureau International des Poids et Mesures. Measuring condition used for the calibration of ionization chambers at the BIPM. Sèvres; 2004. 6. International Atomic Energy Agency. Absorbed dose determination in external beam radiotherapy TRS 398. Vienna; 2000. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):99-102. Uso do método fuzzy c-means para segmentação de imagens dermatoscópicas de lesões de pele Use of the c-means fuzzy method to skin lesion dermatoscopic image segmentation Talita S. Coelho1, Marco A. R. Fernandes 2, Hélio A. Miot 2 e Hélio Yoriyaz1 Centro de Engenharia Nuclear do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) – São Paulo (SP), Brasil. 2 Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB-UNESP) – Botucatu (SP), Brasil. 1 Resumo Este trabalho consiste em apresentar um método de clusterização chamado fuzzy c-means, utilizado na segmentação de imagens dermatoscópicas de lesões de pele. Este tipo de segmentação é baseada no método de crescimento de região que o difere dos métodos convencionais de clusterização por utilizar o conceito de números fuzzy, uma vez que são apropriados para lidar com incertezas referentes as regiões (clusters) de uma dada imagem. O método consiste em calcular o grau de pertinencia de um dado pixel em relação as regiões que ele pode pertencer, definida por uma determinada vizinhança. Neste trabalho este método foi aplicado em três imagens de lesão de pele sendo, dois melanomas e um nevo, obtendose três classes de clusters para cada imagem. Estes clusters foram utilizados para calcular dois valores de limiar. Estes limiares foram aplicados no algoritmo de binarização, para a segmentação da imagem. Com o intuito de se verificar a eficiência deste método nestes tipos de imagem, as imagens segmentadas por meio do método fuzzy c-means foram comparadas com as mesmas imagens segmentadas por meio do algoritmo de Otsu, obtendo-se assim uma segmentação visivelmente melhor do algoritmo FCM em relação ao de Otsu, isto ocorre devido à influência dos números fuzzy, onde um pixel pode pertencer a mais de uma região, porém com diferentes graus de pertinência. Palavras-chave: imagens dermatoscópicas, segmentação, fuzzy c-means. Abstract This work describes a clustering method called c-means fuzzy, utilized for skin lesion dermatoscopic image segmentation. This type of segmentation is based on the method of region grow that differs from conventional clusterization methods by the use of the concept of fuzzy numbers, once that it is appropriate to deal with uncertainties referent to image regions (clusters). The method consists in calculating the pixel pertinence degree in relation to the regions that it can pertain, defined by a given neighborhood. In this work this method was applied in three images of skin lesion that are: two melanomas and one nevu; obtaining three clusters class to each image. These clusters were used to calculate two threshold values. These thresholds were applied in the binarization algorithm to image segmentation. With aim of verify the efficiency of the method, the segmented images through c-means fuzzy method was compared with same images segmented by Otsu algorithm. The segmentation obtained by the FCM algorithm was visibly better than that obtained by Otsu algorithm, this occurs due to the fuzzy numbers influence, where a pixel can pertain to more than one region, but with different pertinence degree. Keywords: dermoscopic images, segmentation, c-means fuzzy. Introdução O câncer de pele é a neoplasia maligna mais incidente no Brasil, correspondendo aproximadamente a 25% de todos os tumores diagnosticados1. O melanoma maligno (MM) é sua apresentação menos frequente, sendo responsável por cerca de 4% de todos os diagnósticos. Um melhor prognóstico da doença está associado ao seu diagnóstico precoce, ou seja, detecção no seu estágio inicial (melanoma in situ). A lesão em fase mais avançada, isto é, após sua infiltração nas camadas inferiores da pele, acarreta numa grande possibilidade de metástase com cura praticamente nula. Isto faz com que o câncer de pele tenha o maior índice de mortalidade em comparação com os outros tumores não melanomas. A grande maioria dos métodos de diagnóstico do melanoma baseia-se na chamada regra do ABCD, em que são Autor correspondente: Talita Salles Coelho – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/USP) – Avenida Prof. Lineu Prestes, 2242 – Cidade Universitária – CEP: 05508-000 – São Paulo (SP), Brasil – [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 99 Coelho TS, Fernandes MAR, Miot HA, Yoriyaz H analisados fatores físicos observados nas lesões, tais como: assimetria, borda, coloração e diâmetro. Esta metodologia foi proposta inicialmente por Wilhelm Stolz em 19942, devido à dificuldade do diagnóstico precoce do melanoma e sua comum confusão com nevos e pintas benignas (nos estágios iniciais). A dermatoscopia é uma técnica não invasiva de reconhecimento das estruturas superficiais da pele, servindo então para a magnificação (em até 400x) e avaliação de imagens do tecido cutâneo. Os parâmetros da regra do ABCD podem ser observados através do dermatoscópio, exigindo certo grau de experiência e conhecimento de seu operador, que é um fator diferencial, mas subjetivo na tarefa de classificação dos tumores de pele com base em sinais visuais (imagens). Visto que cada apresentação de câncer de pele possui características próprias quanto à forma e coloração, cada exame tem como primeiro passo diferenciar lesões melanócitas de não melanócitas, e posteriormente, classificá-las em benignas, malignas ou suspeitas. A proposta do emprego de métodos de processamento digital de imagens (PDI), aliado a dermatoscopia digital pode auxiliar no saneamento do possível problema inerente na dermatoscopia, ou seja, o nível de subjetividade imposto pelo dermatologista e clínico avaliador. Neste sentido, o sistema de PDI pode ser usado para análise computacional das imagens de lesão de pele adquiridas, classificando-as e produzindo resultados baseados em suas informações de cor, forma e aspectos geométrico-morfológicos associados3. Um sistema de PDI é constituído de várias etapas e possui a capacidade de produzir uma resposta com base em um domínio do problema, no qual cada etapa é executada por uma série de algoritmos computacionais a fim de se obter um resultado ideal a partir da imagem digital. As etapas básicas de um sistema de PDI são: aquisição da imagem, pré-processamento, segmentação, extração de características e reconhecimento/interpretação. A segmentação é uma das etapas mais importantes, uma vez que segmentada uma imagem erroneamente, a extração das características não será feita de maneira correta, principalmente quando se extrai fatores associados a regiões de borda. Segmentar uma imagem consiste no processo de subdividir seus elementos (pixels) em múltiplas regiões, mediante a análise de suas características comuns, ou seja, extrai-se os objetos ou áreas de interesse presente na imagem. Normalmente as técnicas de segmentação estão associadas ao conceito de região. Esta caracterização pode, muitas vezes, estar completamente relacionada com a aplicação. Assim a região pode ser vista como um conjunto de pixels conectados e envolvidos por uma borda também de pixels criando um contorno. Técnicas recentes têm caracterizado a detecção de borda como um problema de raciocínio fuzzy. A ideia de utilizar números fuzzy para detecção de bordas foi inspirada nos trabalhos de Jawahar e Ray4,5, os quais aplicam estes números para definir histogramas e matrizes de coocorrência fuzzy. Estas técnicas têm mostrado bons resultados na área de processamento de imagens e visão computacional. 100 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):99-102. As técnicas fuzzy permitem uma maneira diferente de lidar com as incertezas devido à imprecisão dos valores de tons de cinza presentes na imagem, sendo possível utilizar a pertinência fuzzy para estes valores. Várias abordagens fuzzy para a segmentação de imagens têm surgido, tais como algoritmos de classificação fuzzy, medidas de fuzzificidade e informação da imagem e geometria fuzzy. A classificação fuzzy é lida essencialmente como particionar um conjunto de dados em um determinado número de clusters homogêneo, com relação a uma medida de similaridade adequada. A diferença deste em relação ao algoritmo K-means está na forma com que se trabalha com as incertezas, isto é, um dado pixel pode pertencer a mais de um cluster com graus de pertinências diferentes, enquanto que no convencional ele pertence somente a um cluster. O método mais conhecido de clusterização fuzzy, é o algoritmo fuzzy c-means (FCM), que foi proposto por Dunn e generalizado por Bezdez6,7. Neste trabalho foi proposta a utilização do algoritmo FCM, implementado no toolbox de sistemas fuzzy presente no software Matlab versão 7.98, no qual se aplica este algoritmo em imagens de lesões de pele, e calcula-se um limiar (threshold), com base nos resultados da clusterização, e então se obtém a imagem binarizada (segmentada). Este método é comparado com o algoritmo de Otsu, a fim de se averiguar qual é o método mais adequado à segmentação destas imagens. Material e Métodos As imagens utilizadas neste trabalho foram cedidas pelo departamento de dermatologia da faculdade de Medicina de Botucatu. Estas imagens dermatoscópicas foram obtidas por meio de uma câmera digital na qual possui um dermatoscópio acoplado, com capacidade de ampliação de até 100x do tamanho da lesão. O algorítmo FCM foi aplicado à imagem com o objetivo de segmentá-la, ou seja, detectar a borda da lesão. Este processo consiste em dividi-la em classes de clusters, onde estes são calculados determinando-se os agrupamentos e seus centros segundo a norma euclidiana existente entre um dado e os centros dos agrupamentos. Desta forma, quanto mais próxima do centro de um agrupamento o dado estiver, maior será seu grau de pertinência a esse agrupamento. Dado um conjunto de entradas xmn= {x11,x12,...,xmn}. Um grupo de matrizes reais kxn é representado por Ukn, onde c é um inteiro obedecendo à relação 2≤k≤n, a partição fuzzy definida para x é: k n Mƒcn = {U ∈ Ukn:uci ∈ [0,1], ∑ uci = 1< ∑ uci < n} (1) c=1 i=1 na qual uci é o grau de pertinência para xmn em um agrupamento c = (1,...,k). A forma de determinar se o algorítmo FCM encontra uma partição fuzzy ótima é definida pela função objetivo: n k M Jm= ∑ ∑ uci χmn − νmc i=1 c=1 2 (2) Uso do método fuzzy c-means para segmentação de imagens dermatoscópicas de lesões de pele na qual vmc = (v11,...,vmc) é a matriz que contém os centros dos agrupamentos, M é o coeficiente fuzzy responsável pelo grau de fuzzificação dos elementos xmn e vmc, e o centroide do c-ésimo cluster. Esta função objetivo é utilizada para obtenção dos clusters, calcula a distância euclidiana, entre os dados da imagem e os centros dos clusters. O centro vmc(t) de cada agrupamento c (c=1,..., k) para uma iteração t, pode ser calculado pela equação: n (t) νmc= ∑ i=1 n ∑ i=1 (t) M uci χmn (3) (t) M uci Os novos centros vmc(t) e os valores de pertinência podem ser obtidos pela Equação 4. O critério de parada do algoritmo deve estar relacionado ao momento quando se chega num estado em que as posições dos centros dos clusters calculadas num dado instante não diferem das posições num instante anterior. (t+1) 1 uci = 2 • • 2 (t) 2 χmn − νc c=1 1. • (t) χmn − νmc k M-1 2. Gera-se aleatoriamente a partição fuzzy u0, obedecendo as restrições impostas pela Equação 1. 3. Atribui-se ao contador de iterações (t) o valor 0. 4. Atribui-se Jm(t)=0. 5. Calcula-se os centroides dos clusters (vmc(t)), segundo a Equação 3. 6. Calcula-se a função objetivo Jm(t+1) por meio da Equação 2. 7. Atualiza-se a matriz de pertinência uci(t+1) para os novos centros dos clusters, onde: 2 se χmn − νmc >0 , calcula-se o grau de pertinência uci, pela Equação 4, senão se (t) O algoritmo FCM foi aplicado neste trabalho, tendo como parâmetros: a imagem de uma lesão e a quantidade de classes de clusters desejados. No presente caso foram definidas três classes, sendo que na classe 1, foram obtidos valores de tonalidades baixos; na classe 2, valores de tonalidades médios e na classe 3, valores de tonalidades altos. Para os demais parâmetros, foram utilizados os valores de default, fornecidos pelo Matlab, que são: ε= 1 e -5, M=2 e tmáx.=100. Uma vez executado o algoritmo, foram obtidas as três classes de clusters. Para a segmentação da imagem, foi aplicada a binarização e para isto foi calculado o limiar por meio dos 3 clusters obtidos do algoritmo anterior. Foram calculados dois limiares: level0 e level1. Um dos limiares foi obtido utilizando-se os clusters 1 e 2 que contêm os valores de intensidades baixas e médias. O outro limiar foi obtido utilizando-se os clusters 2 e 3, com valores de intensidades médias e altas. Uma vez obtido o valor de limiar, a imagem foi binarizada, obtendo-se assim duas imagens binarizadas, cada uma com um valor de limiar, level0 e level1. (4) O algorítmo fuzzy apresenta-se da seguinte maneira9: Inicializa-se os seguintes parâmetros: número de clusters c, que é a quantidade de grupos a serem formados. número máximo de iterações e taxa de erro mínimo (ε) que são os critérios de parada. coeficiente fuzzy M, responsável pelo grau de fuzzificação, sendo M ∈ (1,¥). (t) 9. Se a condição de parada é falsa (δ< ε) finaliza-se o algoritmo, senão t = t + 1 e volta-se ao passo 5. 2 χmn − νmc =0 então u = 1 ci senão uci = 0. 8. A cada execução do algoritmo, é verificado se os critérios de parada são atendidos (iteração e taxa de erro). -Calcula-se δ = Jm(t+1) - Jm(t) (cálculo da função erro). Resultados Para avaliação de desempenho, a técnica de FCM foi testada em três imagens diferentes, dois melanomas e um nevo e, comparada com os resultados obtidos pelo algoritmo de Otsu, que consiste em encontrar um limiar global automático e a partir deste binarizar a imagem. As Figuras 1 a 3 apresentadas abaixo, correspondem às três imagens analisadas: melanoma1, melanoma2 e nevo. Cada uma destas figuras é composta por quatro imagens: a primeira é a imagem dermatoscópica da lesão de pele original, a segunda é a imagem segmentada pelo algoritmo de Otsu, a terceira é a imagem segmentada, utilizando um limiar calculado por meio do algoritmo FCM0 e a quarta é a imagem segmentada, utilizando um limiar calculado por meio do algoritmo FCM1. Observa-se nas Figuras 1 e 2 que a imagem melhor segmentada foi a de FCM0, por delinear melhor a região de borda da lesão. Isto ocorre pelo fato das imagens originais possuírem uma grande diferença de tonalidade entre as regiões de lesão (baixa intensidade) e a de fundo (alta intensidade), assim, o FCM0, utiliza os clusters 1 (com valores de baixas intensidades) e 2 (com valores de intensidades médias) para calcular o valor do limiar. Nestes casos, quanto mais baixos forem os valores de limiar melhor é o resultado. O algoritmo de Otsu também apresenta uma imagem segmentada, porém com uma borda menos refinada do que com o FCM0, este fato é devido ao valor do limiar calculado, pelo algoritmo FCM0 ser menor do que o de Otsu. Provando desta forma que este algoritmo apresenta melhor resultado em relação ao de Otsu. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):99-102. 101 Coelho TS, Fernandes MAR, Miot HA, Yoriyaz H No caso do algoritmo FCM1 o valor do limiar encontrado foi muito alto, devido a utilização dos clusters 2 (com valores de intensidades médios) e 3 (com valores de intensidades altos) e, com isso, a segmentação torna-se ruim para este tipo de imagem, não sendo possível separar a borda da lesão. A Figura 3 difere das Figuras 1 e 2 pela proximidade nas intensidades dos pixels, isto é, a lesão em relação ao fundo não apresenta uma alta variação nas intensidades dos pixels, ambos possuem altos valores de intensidades, desta forma o algoritmo que apresenta um melhor resultado é o FCM1, pois o seu cálculo é realizado por meio dos clusters de médias e altas intensidades, o que gera um valor de limiar alto. Neste caso, o algoritmo de Otsu é melhor do que o do FCM0, devido ao seu valor de limiar ser maior. Discussão e Conclusões Figura 1. Segmentação de imagem do melanoma 1. Este trabalho apresenta uma abordagem para detecção de bordas em imagens dermatoscópicas de lesões de pele, por meio do algoritmo FCM, que utiliza a teoria dos números fuzzy para extrair borda. Nestes tipos de imagens, pode ou não haver uma grande diferença de contraste entre a região da pele e a região da lesão, sendo assim, a ideia de se trabalhar com três classes de clusters se torna plausível, uma vez que, se a imagem analisada possuir grande diferença de contraste entre a região da lesão e da pele, o algoritmo FCM0 vai apresentar um melhor resultado de segmentação, devido ao seu valor de limiar ser baixo. Porém, se a imagem possuir uma pequena diferença de contraste o algoritmo FCM1 será mais adequado, pois trabalha com um valor de limiar alto. Observa-se bons resultados deste método em relação ao método de Otsu. Isto ocorre devido à influência dos números fuzzy, onde um pixel pode pertencer a mais de uma região, porém com diferentes graus de pertinência. Agradecimentos Os autores agradecem o apoio financeiro da CAPES. Referências Figura 2. Segmentação de imagem do melanoma 2. Figura 3. Segmentação de imagem de um nevo. 102 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):99-102. 1. Faria SL, Salvajoli JV, Souhami L. Radioterapia em Oncologia. Rio de Janeiro: Medsi; 1999. 2. Stolz W, Riemann A, Cognetta AB, Pillet l, Abmayr W, Holzel D. ABCD rule of dermatoscopy: a new practical method for early recognition of malignant melanoma. Eur J Dermatol. 1994;4:521-7. 3. Gonzalez RC, Woods RE. Digital Image Processing. New Jersey: Edgard Blücher; 2002. 4. Tolias YA, Panas SM. Image Segmentation by a fuzzy clustering algorithm using adaptive spatially constrained membership functions.IEEETransations on Systems, Man, and Cybernetics - Part A: Systems and Humans.1998;28(3):359-69. 5. Liang LR, Basallo E, Looney CG. Image detection with fuzzy classifier. Proceedings of the ISCA 14th Las Vegas: International Conference; 2001;279-83. 6. Dunn JC. A fuzzy relative of the ISODATA process and its use in detecting compact well-separated clusters. J Cybernetics. An International Journal. 1973;3(3):32-57. 7. Bezdek J, Hathaway R. Recent convergence results for the fuzzy c-means clustering algorithms. J Classif. 1988;5(2):237-47. 8. Matsumoto EY. Matlab 7: fundamentos. São Paulo: Érica; 2004. 9. Santos MO. Armazenamento e recuperação de documentos XML heterogêneos: aplicando técnicas de KDD para apoiar o projeto físico em SGBD’s XML Nativos. [Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia; 2007. Artigo Original Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):103-7. Aplicação de contornos ativos para a segmentação de nódulos em imagens de ultrassonografia da mama Application of active contours for nodules segmentation in breast ultrasound images Karem D. Marcomini1, Homero Schiabel1 e Luciana B. Verçosa1 Departamento de Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP) – São Carlos (SP), Brasil. 1 Resumo Ultrassom é uma ferramenta de diagnóstico muito útil na distinção de massas benignas e malignas da mama, além de proporcionar avaliação mais detalhada em mamas densas. Diante da subjetividade na interpretação das imagens, os esquemas de diagnóstico auxiliado por computador têm oferecido alto desempenho, fornecendo ao médico uma segunda opinião de forma mais precisa e confiável. Com esse intuito, propomos a aplicação de um método de segmentação dado de forma automática, por meio da técnica de contorno ativo, para fornecer precisamente informações relativas à localização e determinação dos limites de possíveis achados suspeitos em exames de ultrassonografia da mama. Os testes de segmentação foram aplicados num total de 50 imagens clínicas, contendo algum tipo de lesão evidenciada em exames de rotina. A partir do contorno, o radiologista poderia ter maior compreensão dos aspectos morfológicos, possibilitando, portanto, um diagnóstico mais conciso. Com a finalidade de verificar a exatidão dos limites demarcados pela segmentação automática, as segmentações foram comparadas por meio de métricas de avaliação quantitativa com a área delineada manualmente por uma radiologista. Os resultados obtidos com os valores médios revelaram taxas de aproximadamente 92% na acurácia, 73% em sensibilidade e 94% referente ao valor preditivo positivo. Palavras-chave: câncer de mama, ultrassom, segmentação, contorno ativo, avaliação. Abstract Ultrasound is a useful diagnostic tool to distinguish benign from malignant masses of the breast, providing more detailed evaluation in dense breasts. Due to the subjectivity in the images interpretation, computer-aid diagnosis schemes have offered high performance, providing a second opinion more accurately and reliably to the physician. Thus, we propose to apply an automatic segmentation method by using the technique of active contour, which could provide precise information on localization and determination of the limits of possible suspicious findings in breast ultrasound exams. The segmentation was applied to 50 clinical images containing some type of lesions evidenced in routine exams. From the contour, the radiologist could have a greater knowledge of the morphological features, which allows a more accurate diagnosis. In order to verify the accuracy of the edges obtained by segmentation technique, the results were compared with the area manually delineated by a radiologist by using quantitative evaluation metrics. The results showed average rates of approximately 92% in accuracy, 73% in sensitivity and 94% relative to the positive predictive value. Keywords: breast cancer, ultrasound, segmentation, active contour, evaluation. Introdução O câncer de mama é um dos maiores problemas de saúde pública, por ser uma das doenças de maior impacto devido à elevada e preocupante incidência, enormes custos sociais, elevadas consequências físicas e psicológicas, altas taxas de mortalidade. Este tipo de neoplasia ocupa o primeiro lugar entre os cânceres mais incidentes em mulheres. Conforme a previsão do Instituto Nacional do Câncer (INCA)1 para 2012, estima-se a ocorrência de 52.680 novos casos no Brasil. Com isso, uma das maiores preocupações concentra-se na detecção precoce de lesões na mama, fator esse de extrema importância, pois permite o aumento das chances de sobrevida das pacientes e possibilita a realização de tratamentos menos agressivos (redução da mastectomia)2. Atualmente, o instrumento mais efetivo para o diagnóstico precoce é a mamografia, principal modalidade por imagem para avaliação de alterações clínicas na mama3,4. No entanto, mesmo apresentando alta sensibilidade na Autor correspondente: Karem Daiane Marcomini – Departamento de Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP) – Avenida Trabalhador São-carlense, 400 – CEP: 13566-590 – São Carlos (SP), Brasil – Email: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 103 Marcomini KD, Schiabel H, Verçosa, LB detecção, sua especificidade é baixa em se tratando de casos de mamas densas. Dessa forma, são altas as chances de um falso-positivo levar a biópsias desnecessárias e, por conseguinte, é necessário investigar modalidades alternativas que aumentem a precisão diagnóstica e auxiliem a detecção precoce no exame mamário. Com os avanços tecnológicos, a ultrassonografia vem despontando como valioso complemento diagnóstico para a mamografia. Atualmente, é a principal técnica de triagem adjunta à mamografia4, com eficácia de 95–100% na diferenciação de nódulos sólidos e císticos e proporcionando a redução de 25–35% no número de biópsias desnecessárias5, além de permitir a avaliação em pacientes jovens e em mamas densas. No entanto, não deve substituir a mamografia, devido a suas limitações na detecção e caracterização de calcificações, distorções arquiteturais e nódulos localizados em áreas nas quais predominem tecido adiposo3. Com a finalidade de combater o agravo clínico da doença, têm surgido sistemas computacionais úteis no auxilio ao diagnóstico, os quais permitem identificar e caracterizar anormalidades encontradas em um exame de imagem médica, do qual advém o termo CAD (Computer-Aided Diagnosis). Contudo, um dos maiores problemas desse tipo de sistema, quando consideradas imagens de ultrassom, advém da baixa qualidade da imagem, influenciada pelo speckle, e o baixo contraste entre as áreas de interesse, que dificulta a segmentação (etapa essencial do processamento). A elevada taxa de insucesso na determinação dos limites e na caracterização do tecido se deve, frequentemente, a falha na segmentação6. Em virtude disso, este trabalho investiga um algoritmo que permite a detecção e delimitação, de maneira automática, de possíveis achados ultrassonográficos, bem como a eficiência do método apresentado, comparando-o com o delineamento manual realizado por um radiologista. Material e Métodos Para a realização dos presentes testes, houve necessidade da formação de um banco de imagens ultrassonográficas de mama, que acabou consistindo em 83 imagens clínicas adquiridas durante procedimentos de rotina para o diagnóstico da mama, procedentes do Centro Integrado de Diagnóstico por Imagem, na Irmandade Santa Casa da Misericórdia de São Carlos – São Paulo. A aquisição foi realizada pelo aparelho Siemens G50, com transdutor de matriz linear de 7.5 MHz modo-B. A imagem foi capturada com sinal de vídeo de 8 bits de resolução (256 níveis de cinza). Com o auxílio do software ImageJ 1.45, uma radiologista determinou a localização de uma ou mais massas suspeitas, presentes em cada imagem, e realizou os recortes que julgou necessários. Esses recortes, ou regiões de interesse (ROIs – Regions of Interest), possuem 104 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):103-7. formato retangular e incluem a lesão e os tecidos adjacentes. No total, foram determinadas 50 ROIs. Depois de obtidas as ROIs, foram aplicadas técnicas de processamento digital, utilizando o ambiente de desenvolvimento MATLAB 7.11.0 (2010b), com a finalidade de identificar a região que possui algum tipo de achado suspeito e delimitar, de forma mais precisa possível, seus limites. Dessa forma, efetuou-se então a segmentação, utilizando a técnica de contorno ativo, também chamada de snakes, cujo objetivo é minimizar a energia através da deformação de um contorno inicial em um conjunto de forças internas e externas7,8. A energia interna depende da forma do contorno e sua localização; já a energia externa depende do gradiente da imagem9,10. A energia funcional é a adição de uma função de energia interna do contorno (Eint) e a energia externa da imagem (Eext) no conjunto de pontos (v(s)) que compõem o contorno ativo nas coordenadas x e y desses pontos11. A energia funcional (Esnake) é mais bem exemplificada na Equação 1. Esnake (v(s)) = ∫ 1 S=0 {Eint (v(s)) + Eext(v(s))}ds (1) Ao substituir a função da energia interna da imagem, temos a soma de diferenciais de primeira e segunda ordem para cada ponto procurado na vizinhança local do ponto de contorno selecionado. Já a energia externa remete a características de borda11. Portanto, a Equação 1 pode ser reescrita na Equação 2. ∫ Esnake= dv(s) + α(s) ds S=0 1 2 β(s) d v(s) ds2 2 + − ( ) ∇Gσ(x,y)*I(x,y)2 ds (2) O contorno é definido parametricamente como v(s)=[x(s),y(s)] onde s � [0,1] é o comprimento do arco normalizado ao longo do contorno. A energia elástica de alongamento é controlada pelo espaçamento de ponto α(s), que rege a continuidade do contorno (espaçamento dos pontos representados — quanto mais alto for seu valor, mais espaçados serão os pontos representados). Já a energia de curvatura é controlada por β(s), o qual, se representado por alto valor, implica formas com cantos mais agudos, enquanto baixo valor remete a contornos mais suaves9-11. A energia externa atrai o snake para característica de baixo nível, como brilho ou informações referentes à borda11. Isso é dado pelo nível de cinza da imagem (I(x,y)) e pela função de borramento (Gσ(x,y)) perpendicular à orientação do contorno nas coordenadas (x,y)10. O fluxo do vetor gradiente, obtido por meio do cálculo de um campo de forças, conduz o contorno ativo ao alongamento e flexão, mediante a aplicação das equações apresentadas, criando um mapa de borda da imagem. A Figura 1 representa o exemplo dado12,, da evolução do contorno ativo após algumas interações, quando aplicado a um objeto ruidoso. Aplicação de contornos ativos para a segmentação de nódulos em imagens de ultrassonografia da mama O contorno ativo foi desenvolvido com base no algoritmo apresentado13, em que o contorno inicial é dado por meio de um retângulo localizado no centro da imagem, cuja dimensão varia de acordo com o tamanho da imagem, pois significa que, quanto maior for a ROI, maior deverá ser o nódulo presente. O tamanho do retângulo utilizado aqui foi de 60% da quantidade de pixels correspondentes à altura e largura, ou seja, para uma imagem de 160x200 pixels, o retângulo apresenta-se disposto em seu centro e deverá corresponder a 96x120 pixels. Após definido o tamanho, o contorno tende a ser alongado ou flexionado, de acordo com a similaridade encontrada na região. Para que fosse possível obter maior adequação do contorno ao objeto, o processo se constituiu de mil interações, com energia de curvatura equivalente a 0,005. Após a definição dos limites do objeto, foi aplicado um pós-processamento, buscando eliminar os pixels indesejados. Para isso, levou-se em consideração que cada ROI deveria possuir apenas uma lesão, e que esta seria a região com maior área (região em branco). A partir daí, seriam analisados todos os componentes conectados. Caso o pixel vizinho ao pixel sob análise possuísse conectividade com a região de maior área, ele seria mantido na imagem resultante; caso contrário, seria considerado como ruído e removido. Também foi verificada a presença de vales internos na região assinalada: em os havendo, esses pixels seriam adicionados à área segmentada, formando, dessa forma, uma única região. Buscando medir quantitativamente a precisão do método de segmentação proposto, além de reduzir a subjetividade visual da análise, foram utilizadas algumas métricas. Uma radiologista traçou manualmente o contorno sobre a massa suspeita. Essa área é denominada ground truth (GT), e foi comparada com a obtida automaticamente pelo segmentador proposto. Caso a região segmentada coincidisse com o GT, era denominada como verdadeiro-positivo (VP); se o classificador, porém, a considerasse como região negativa, contava-se como falso-positivo (FP). Por outro lado, se os pixels não pertenciam ao GT e assim foram classificados, contavam como verdadeiros-negativos (VN); por fim, estando presentes na segmentação (incorreta, portanto), foram definidos como resultados falsos-negativos (FN). A partir disso, derivaram-se três métricas de avaliação: acurácia, sensibilidade e valor preditivo positivo (VPP)14. A acurácia mede a proporção de classificações corretas em relação ao total de elementos classificados, conforme Equação 3. Acurácia = (VP+VN)|(VP+VN+FP+FN)(3) A sensibilidade representa a proporção de elementos apresentados no GT que foram identificados corretamente, conforme Equação 4. Sensibilidade = VP|(VP+FN)(4) Por fim, foi calculado o VPP, o qual mede a proporção de pixels da região segmentada que foi classificada corretamente, exibida na Equação 5. VPP = VP|(VP+FP)(5) Resultados As ROIs foram submetidas à técnica de segmentação por contorno ativo, objetivando a localização automática e delimitação precisa dos limites das massas suspeitas apresentadas. A Figura 2 destaca uma lesão suspeita em uma ROI clínica de ultrassonografia da mama, seguida pela segmentação, aplicação do pós-processamento e, por fim, sobreposição do contorno sobre a imagem original. Buscando minimizar a subjetividade dada pela inspeção visual promovida por especialistas, foram utilizadas métricas para avaliar o resultado de forma quantitativa. Este processo verificou a exatidão da segmentação nas 50 imagens selecionadas, nas quais a radiologista traçou manualmente o contorno de cada massa suspeita. A partir do contorno, pôde ser demarcada sua área (a Figura 3 apresenta o traço da especialista e a determinação da área), a qual posteriormente foi comparada com a adquirida pelo segmentador proposto. O resultado obtido com a aplicação das métricas comparativas é exposto na Tabela 1, que exibe os valores médios percentuais obtidos por cada método de avaliação. Tabela 1. Métricas de avaliação da segmentação. Contorno Ativo Acurácia 91,76% Sensibilidade 72,59% VPP 93,93% Figura 1. Curso evolutivo do contorno ativo. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):103-7. 105 Marcomini KD, Schiabel H, Verçosa, LB Discussão e Conclusões A segmentação é uma difícil tarefa em imagens de ultrassom devido à presença do ruído speckle, que degrada significativamente a sua qualidade e dificulta a discriminação de alguns detalhes. Por isso, a grande maioria dos métodos de segmentação apresentados para realizar tal atividade é aplicada após o emprego de técnicas de pré-processamento, com a finalidade de tentar minimizar o ruído. O uso desse procedimento torna a imagem de saída mais uniforme para que possa, então, ser submetida à segmentação. Alguns testes de pré-processamento foram aplicados. Contudo, ao utilizar o contorno ativo para segmentar essas imagens, a borda da lesão deixava de ser reconhecida, na maioria dos casos. Isso se deve ao fato de que a imagem passava a apresentar fronteiras mais suaves e níveis de cinza mais uniformes entre o objeto e o fundo, tornando o método não tão eficiente quanto o desejado. Diante disso, a técnica passou a ser aplicada diretamente sobre a ROI de entrada, ou seja, com ausência de qualquer tipo de processamento inicial. Isso fez com que não ocorressem distorções quanto aos limites da massa suspeita, bem como em seu aspecto morfológico. Contudo, A B C D Figura 2. Imagem de entrada (A), aplicação da segmentação (B) e remoção das regiões adjacentes (C); em seguida, o contorno é sobreposto à imagem original (D). A B Figura 3. Delimitação do contorno pela especialista (A) e extração da área da lesão demarcada (B). 106 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):103-7. Aplicação de contornos ativos para a segmentação de nódulos em imagens de ultrassonografia da mama a imagem ficou mais suscetível ao ruído, o que permitiu a representação de bordas mais irregulares e espiculadas. A grande dificuldade encontrada no método apresentado dá-se na escolha do tamanho do retângulo, o qual dará início ao snake. Todavia, considera-se que a dimensão escolhida foi adequada para o processo retratado, além de permitir que ele ocorra automaticamente. Outro problema apresentado se deve à complexidade algorítmica, na qual o processo decorre do uso de muitas operações numéricas, e requer uma grande quantidade de interações, até atingir a convergência dos dados. Com isso, é uma técnica que exige um alto custo computacional e torna o processo relativamente lento, levando em torno de 30 segundos para processar cada ROI. O resultado apresentado pela comparação da imagem delineada pela radiologista com a obtida pelo segmentador apresentou-se satisfatório e, com isso, verifica-se que a segmentação por contorno ativo desponta como uma interessante ferramenta no processo de segmentação de massas mamárias em imagens clínicas ultrassonográficas digitais. Agradecimentos Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo apoio financeiro; e ao Hospital Irmandade Santa Casa da Misericórdia de São Carlos, pelo fornecimento das imagens. Referências 1. Instituto Nacional do Câncer (INCA). Estimativa 2012: incidência do câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Inca; 2011. 2. Yap MH, Edirisingue EA, Bez HE. Object boundary detection in ultrasound images. IEEE 3rd Canadian Conference on Computer and Robot Vision 2006. 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Centro de Estudos e Inovação em Materiais Biofuncionais Avançados/UNIFEI – Itajubá (MG), Brasil. 2 Resumo Esse trabalho aborda a síntese bioinspirada de ferritas do tipo YFeAl encapsuladas em dendrímeros de poliglicerol (PGLD) de geração 3. A estrutura e as propriedades morfológicas do sistema YFeAl/PGLD foi caracterizado por difração de raios-X (DRX) e microscopia eletrônica de transmissão (MET). As propriedades magnéticas foram estudadas através das técnicas de magnetização e espectroscopia Mössbauer. A citotoxicidade das nanopartículas encapsuladas nos dendrímeros PGLD G3 no nível de membrana celular foi estudada contra células de mamíferos da linhagem CHO.K1, medindo-se quantidade de lactato desidrogenase (LDH) liberado pelo dano celular. A microscopia MET e a análise DRX indicam que foram obtidas nanopartículas esféricas altamente cristalinas e monodispersas com tamanho 20 nm<d<100 nm. A espectroscopia Mössbauer e o estudo da magnetização das nanopartículas frente a um campo magnético indicaram comportamento superparamagnético do sistema YFeAl/PGLD. Os resultados de citotoxicidade indicaram que o nanossistema YFeAl/PGLD é adequado para utilização em nanomedicina. Palavras-chave: neoplasias, dendrímeros, nanopartículas. Abstract This paper discusses the bioinspired synthesis of type YFeAl ferrites encapsulated into polyglycerol dendrimers (PGLD) generation 3. The structure and morphological properties of the system YFeAl/PGLD was characterized by X-ray diffraction (XRD) and transmission electron microscopy (TEM). The magnetic properties were studied through the techniques of Mössbauer spectroscopy and magnetization. The cytotoxicity of the nanoparticles encapsulated in dendrimers PGLD G3 at the cell membrane was studied against mammalian cell line CHO.K1 measuring the amount of lactate dehydrogenase (LDH) released by the cell damage. Microscopy TEM and XRD analysis indicate that spherical nanoparticles were obtained highly crystalline and monodisperse with size 20 nm<d<100 nm. Mössbauer spectroscopy analysis and study of magnetization of the nanoparticles compared to a magnetic field indicated superparamagnetic behavior of the system YFeAl/PGLD. The cytotoxicity results indicated that YFeAl / PGLD nanosystem is suitable for use in nanomedicine Keywords: neoplasms, dendrimers, nanoparticles. Introdução A aplicação da nanotecnologia na área da saúde proporcionou o surgimento nesse século da nanomedicina, as ciências médicas que utilizam materiais na escala de dimensão inferior a 100 nm e que atuam em nível subcelular e elevada especificidade no nível da biologia molecular. Uma especial atenção tem sido dada a nanopartículas magnéticas de tamanho inferior a 35 nm que exibem propriedades superparamagnéticas ou àquelas que possuem tamanho entre 100 nm que exibem um momento magnético estável na presença de um campo magnético externo. Recentemente nossos estudos demonstraram as propriedades superparamagnéticas de nanopartículas (20 nm<d<100 nm) de óxidos mistos de ferro (Fe), ítria (Y) e alumínio (Al) de estequiometria controlada e encapsulada em matriz polimérica biocompatível [1-2]. As nanoesferas transportadoras do óxido de ferro superparamagnético (YFeAl) encontram múltiplas aplicações na nanomedicina, que se estendem desde o diagnóstico de diversas Autor correspondente: Vinícius Fortes de Castro – Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) – Avenida Benedito Pereira dos Santos, 1303 – CEP: 37500-903 – Itajubá (MG), Brasil – E-mail: [email protected] Associação Brasileira de Física Médica® 109 Castro VF, Queiroz AAA enfermidades que afligem a espécie humana nesse século a exemplo das neoplasias malignas (Figura 1). Diversas técnicas têm sido utilizadas para a obtenção de nanopartículas magnéticas, sendo as metodologias que envolvem a utilização dos sistemas micelares as mais promissoras uma vez que tais sistemas permitem a obtenção de nanopartículas com baixo índice de polidispersão [1-2]. Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho foi a obtenção de nanopartículas magnéticas através da utilização de dendrímeros de poliglicerol (PGLD) como sistema mimetizante dos sistemas micelares biológicos. O PGLD é uma macromolécula orgânica, sintética, cuja estrutura 3D mimetizante das proteínas globulares possui cavidades internas que permitem a obtenção de nanopartículas monodispersas (Figura 2). Nossos estudos, empregando métodos de primeiros princípios, indicam que o PGLD possui cavidades dentro do intervalo 0,5 nm<d<10 nm e orbitais de fronteira que podem propiciar a obtenção de nanopartículas superparamagnéticas de YFeAl. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho foi a obtenção de partículas superparamagnéticas de YFeAl bioinspirados nas proteínas globulares. Nanoesferas de YFeAl Sensor IM Tumor Hipertermia Sistemas de Liberação Controlada de Fármacos Terapia RMI Diagnóstico IM: sensor de impedância magnética, RMI: ressonância magnética de imagem. Figura 1. Ilustração das principais aplicações das nanoesferas transportadoras de YFeAl [2]. A O O O O HO HO O HO O O O O O O O HO O O dendrímero de PGLD foi sintetizado em nosso laboratório, utilizando a reação de Williamson modificada e caracterizado por ressonância magnética nuclear de prótons e carbono de acordo com nossas publicações anteriores1. O encapsulamento de nanopartículas de YFeAl nas cavidade do PGLD foi promovida após mistura dos íons Y+3, Fe+3 e Al+3 com o dendrímero em solvente orgânico. Após a reação de coordenação os íons metálicos sofreram redução, formando nanopartículas metálicas de YFeAl nas cavidades dendríticas (Figura 3). A fim de se caracterizar as fases cristalinas, as nanopartículas de YFeAl foram caracterizadas por difratometria de RX (difratômetro Bruker AXS D8 ADVANCE, operando a 40 kV e 20 mA, com radiação Kα de cobre de l=0,154 nm e com uma matriz de detectores SOLX funcionando em modo contínuo). O tamanho do cristal a partir do difratograma foi calculado através da equação de Scherrer2. O tamanho e a forma das nanopartículas foram determinados através da microscopia eletrônica de transmissão (MET). As imagens MET foram obtidas com um microscópio JEOL 200O FX, operando a 200 KV. Os espectros de transmissão Mössbauer do isótopo de 57Fe foram obtidos em um espectrômetro convencional de aceleração constante com uma fonte do isótopo 57Co imerso em una matriz de Rh. As medidas magnéticas foram feitas em um magnetômetro de amostra vibrante MLVSM9, MagLab 9T, Oxford Instruments. Os valores da magnetização de saturação (Ms) e campos coercitivos (HC), foram obtidos a partir das curvas de magnetização saturadas a 5 Teslas. As medidas de susceptibilidade com campo alternado foram feitas em um magnetômetro comercial Lake Shore 7020, com um campo aplicado de 2 Oe a frequências de 10 Hz, 100 Hz, 500 Hz, 1000 Hz em um intervalo de temperaturas desde 5 K a temperatura ambiente. A citotoxicidade das nanopartículas encapsuladas nos dendrímeros PGLD no nível de membrana celular foi estudada contra células de mamíferos da linhagem CHOK1 B HO HO Material e Métodos O O O O O O O HO O OH OH OH Figura 2. Ilustrações da estrutura química do PGLD G3 (A) e de sua superfície equipotencial (B) demonstrando sua estrutura globular. 110 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):109-112. Síntese e caracterização bioinspirada de partículas superparamagnéticas medindo-se espectrofotometricamente a quantidade de lactato desidrogenase (LDH) liberado pelo dano celular a 340 nm. O consumo de NADH, medido cineticamente no sobrenadante da suspensão celular após incubação com o sistema YFeAl/PGLD foi correlacionado com a quantidade de LDH liberada. A viabilidade celular é inversamente proporcional à quantidade de LDH liberada. Resultados A Figura 4A mostra o DRX das nanopartículas obtidas. O difratograma evidencia a obtenção de nanopartículas de YFeAl de elevadas cristalinidade e pureza. As micrografias MET indicaram a formação de nanopartículas de YFeAl no intervalo de 15 a 30 nm (Figura 4B). As nanopartículas obtidas são bem dispersas e com formato esférico. O espectro Mössbauer de 57Fe à temperatura ambiente (25ºC) das nanopartículas de YFeAl é mostrado na Figura 5A. Os espectros exibem linhas muito largas e assimétricas que indicam a presença de fenômenos de relaxação magnética. O espectro Mössbauer obtido se ajusta a um dubleto quadrupolar que se associa a uma fração de partículas de espinélio com tamanho de partículas suficientemente pequeno para exibir comportamento superparamagnético à temperatura ambiente. Na Figura 5B são mostradas as curvas de magnetização frente ao campo magnético. É observada relaxação superparamagnética (remanência nula), não sendo observada histerese. Ao mesmo tempo, nota-se claramente na Figura 5B que à temperatura ambiente (temperatura na qual se utilizam os agentes de contraste) e a campos baixos o comportamento magnético é dominado pela nanoferrita. A atividade da enzima intracelular lactato desidrogenase (LDH) foi medida em sobrenadante isento de células. A Figura 6 mostra a viabilidade celular das nanopartículas de YFeAl encapsuladas no dendrímero PGLD contra células CHO. A citotoxicidade das nanopartículas de YFeAl encapsuladas no PGLD pode ser avaliada através da quantificação da enzima intracelular lactato desidrogenase (LHD) que é rapidamente liberada das células danificadas para o sobrenadante da cultura de células. Como pode Y+3 •= Fe+3 BH Al+3 4 Figura 3. Ilustração do processo de formação de nanopartículas de YFeAl nas cavidades do dendrímero de dendrímeros de poliglicerol. 20 30 40 50 116 122 024 202 012 104 113 B 110 A 60 20 100 nm Figura 4. Difração de raios-X (A) e micrografia TEM (B) das nanopartículas de YFeAl com 28.200 X de aumento. Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):109-112. 111 Castro VF, Queiroz AAA A B 30 20 M (emu g-1) 10 0 -10 -20 -30 -10 -5 0 5 10 -50000 -25000 0 25000 H (Oe) Velocidade (mm/s) Figura 5. Espectro Mössbauer (A) e curva de magnetização em função do campo (B) obtidos à temperatura ambiente para as amostras de YFeAl obtidas por síntese bioinspirada. Discussão e Conclusões 1,4 As nanopartículas superparamagnéticas de YFeAl/PGLD podem ser utilizadas para aplicações na medicina diagnóstica, sendo que suas propriedades magnéticas e morfológicas são elementos diferenciáveis na caracterização do tecido neoplásico. Através das análises MEV observou-se uma distribuição de tamanhos numa faixa de 20 nm <d<100 nm, com superfícies lisas e aparentemente sem a presença de poros, indicando que o nanocompósito YFeAl/PGLD preenche o volume livre entre as cadeias do polímero epoxídico sem causar a deformação das nanoesferas. As nanoesferas superparamagnéticas preparadas demonstraram, através dos ensaios in-vitro realizados, que a introdução de receptores tumorais em sua superfície possibilitará uma variedade de aplicações na medicina terapêutica e diagnóstica do câncer. 1,2 Abs340 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 Agradecimentos 0,0 PBS PGLD YFeAI PGLD* Azida Figura 6. Avaliação da citotoxicidade do nanossistema YFeAl/ PGLD (PGLD*) através do ensaio LDH. O ensaio foi realizado em triplicata. O controle positivo é o próprio meio de cultura (PBS). ser observado, após 48 h de incubação no meio celular, não foram observadas diferenças na quantidade de LDH produzida comparativamente ao controle negativo (meio de cultura puro), indicando que as nanopartículas produzidas são adequadas para utilização em medicina. 112 Revista Brasileira de Física Médica.2012;6(2):109-112. Os autores agradecem ao CNPq pelo fomento. Referências 1. Castro VF, de Queiroz, Alvaro AA. Pontos quânticos magneto ativos: uma nova fronteira para a medicina terapêutica e diagnóstica. Rev Bras Fís Méd. 2011;4(3):15-8. 2. Castro VF. Nanocompósitos para utilização em magneto-hipertermia. [Dissertação de Mestrado em Materiais para Engenharia]. Itajubá: Universidade Federal de Itajubá, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior; 2012. Instruções aos autores Informações gerais A Revista Brasileira de Física Médica (Rev Bras Fis Med. ISSN 1984 9001 - versão eletrônica; ISSN 2176-8978 - versão impressa) é uma publicação da Associação Brasileira de Física Médica (ABFM). Criada em 2005, tem como objetivo publicar trabalhos originais nas áreas de Radioterapia, Medicina Nuclear, Radiologia Diagnóstica, Proteção Radiológica e Dosimetria das Radiações, incluindo modalidades correlatas de diagnóstico e terapia com radiações ionizantes e não-ionizantes, além de Ensino e Instrumentação em Física Médica. O Conselho Editorial da RBFM é composto por especialistas reconhecidos de origem nacional e internacional, atuantes em instituições de ensino e pesquisa, bem como em estabelecimentos de saúde. A revisão e aprovação das contribuições são realizadas por membros do conselho editorial, com procedimentos e prazos estabelecidos formalmente. Todo trabalho enviado para publicação será avaliado por pelo menos dois membros do Conselho Editorial que opinarão sobre o trabalho, reservando-se o direito de sugerir modificações aos autores, de modo que adéquem os artigos aos critérios editoriais da revista, ou recusá-los para publicação. Um Editor Associado auxiliará no processo de revisão, verificando a adequação do trabalho submetido aos critérios estabelecidos pela Revista e o cumprimento dos prazos estabelecidos. Os conceitos e opiniões expressos no trabalho são de total responsabilidade dos autores. Em caso de desempate, o Editor Científico se encarregará de emitir um parecer final recomendando ou não a publicação do trabalho em questão. Quando um artigo é submetido à RBFM, os autores confirmam que o texto, ou parte dele, não foi publicado ou aceito para publicação em alguma outra revista. O artigo só poderá ser enviado a outra revista após decisão final da RBFM. Após aceite para publicação, os direitos de copyright passarão a pertencer à Associação Brasileira de Física Médica, não havendo nenhum custo de publicação. Atualmente, os fascículos da RBFM apresentam uma periodicidade trimestral, com a publicação de artigos de revisão e tutoriais, artigos originais, comunicações técnicas, cartas ao editor, resenhas de teses, resenhas de livros técnicos e científicos. Artigos de Revisão e Tutoriais São artigos das áreas ou tópicos relacionados à especialidade da revista que se encaixem em uma perspectiva didática ou de atualização profissional. Sempre que possível, é conveniente traçar uma avaliação do estado da arte do tema abordado dentro do país. A submissão deste tipo de artigos deve ser efetuada a partir de convite da Revista, ou precedida de consulta ao Conselho Editorial. Tais artigos devem ser limitados a 25 páginas de texto (papel A4, fonte Arial 12, espaçamento duplo), incluindo figuras e tabelas. Artigos Originais Manuscritos contendo resultados de pesquisa básica e/ou aplicada originais e relevantes para as áreas de interesse da RBFM. Esses manuscritos terão prioridade para publicação. Comunicações Técnicas São trabalhos que constituem uma forma importante de disseminação de soluções para problemas de projeto, manutenção, técnicas experimentais e informática aplicada. Ainda que não constitua um artigo científico completo, tais soluções permitem aos profissionais da área se beneficiarem da engenhosidade e criatividade de seus colegas. São limitadas a quatro páginas de texto (papel A4, fonte Arial 12, espaçamento duplo), incluindo figuras e tabelas. Cartas ao Editor São comentários ou discussões não apenas acerca de artigos previamente publicados, mas também de outros temas de interesse para a comunidade de leitores. A decisão e a escolha das cartas para publicação será atribuição específica do Corpo Editorial, que considerará a propriedade, a extensão e a disponibilidade de espaço para o material submetido. Sempre que necessário, será dada a oportunidade de resposta aos autores, entidades ou indivíduos citados na carta. Resumos de Tese Resumos originais de dissertações de Mestrado e teses de Doutorado defendidas e aprovadas há, no máximo, três anos, e respectivos abstracts são publicados na íntegra, à medida que são recebidos pela Revista. Somente serão publicados resumos de trabalhos que se relacionem à especialidade da Revista. Os resumos devem ser enviados eletronicamente, preferencialmente já estruturados no formato final de edição: título no idioma original e título em inglês, autor, orientador(es), título obtido (mestrado, doutorado, livre-docência), departamento, instituição, mês e ano da defesa, resumo completo, palavras-chave, abstract e keywords. Como não passarão pelo processo de revisão, devem necessariamente ser enviados pelo autor ou orientador, desde que as teses já tenham sido defendidas. No caso de defesas de brasileiros que estejam no exterior, o resumo deverá ser traduzido para o português. Resenhas de Livros Técnicos e Científicos O autor ou a editora do livro deve enviar um exemplar do livro ao editor da revista, solicitando uma análise. A decisão pela publicação e a escolha do autor da resenha são prerrogativa do Corpo Editorial, embora nomes de especialistas do tema possam ser sugeridos. Forma e preparação dos manuscritos Os artigos devem ser preparados segundo as Normas da Revista. O texto deve ser editado em espaçamento duplo, em papel A4 com margens de 2 cm e as páginas devem Associação Brasileira de Física Médica® I ser numeradas. As sessões devem abranger os seguintes aspectos, quando aplicados: Resumo (200 a 300 palavras) e até 6 palavras-chave para indexação, a fim de possibilitar a busca de trabalhos no banco de dados da revista. Recomendam-se os descritores presentes em Physics and Astronomy Classification Scheme (PACS, disponível em http://www.aip.org/pacs/ index.html), Descritores em Ciências da Saúde (DeCS, http://decs.bvs.br/) ou, ainda, Medical Subject Headings (MeSH) da National Library of Medicine (http://www.nlm. nih.gov); Abstract e keywords correspondentes ao Resumo e às palavras-chave; Introdução (justificativa do trabalho e objetivo); Material e Métodos; Resultados; Discussão; Conclusão; Agradecimentos, quando houver; Referências; Figuras e Tabelas (com as respectivas legendas). Os artigos podem ser redigidos em português, espanhol ou inglês. Cada original deve ser precedido de uma folha de rosto, apresentar o título do trabalho em português e em inglês, nomes completos dos autores sem abreviaturas, nome da instituição onde o trabalho foi desenvolvido, titulação dos autores, afiliação institucional dos autores. Indicar o nome, endereço, telefone, fax e e-mail do autor responsável pela correspondência. Título resumido para impressão no cabeçalho de cada página (running title). O título do artigo deve reaparecer na página seguinte, juntamente com o resumo. O artigo deve ser estruturado em sessões hierárquicas, não excedendo três níveis de cabeçalhos sem numeração. Trabalhos envolvendo experimentos com seres humanos ou animais devem citar o parecer favorável de um Comitê de Ética. Figuras e Tabelas O uso de cores é permitido na versão eletrônica. Gráficos e figuras devem ter fundo branco, evitando-se o emprego de caracteres pequenos (tamanho mínimo = 9), de difícil leitura após a eventual redução para visualização. Também deve ser evitado o emprego de molduras. As tabelas devem ser simples, sem linhas excessivas, com a indicação clara de cada variável envolvida e a respectiva unidade. Tabelas e figuras devem ser citadas no corpo do texto e enviadas ao final do artigo. As legendas das figuras devem ser inseridas abaixo delas e os títulos das tabelas, acima delas. Equações Deverão ser numeradas sequencialmente, com os números entre parênteses e justificados à direita: A(t) = A0e-lt(1) As unidades do Sistema Internacional de Unidades (SI) devem ser utilizadas para todas as grandezas no texto, nas figuras e nas tabelas. Referências As referências devem ser formatadas no estilo Vancouver, numeradas no texto em ordem de citação, usando algarismos arábicos sobrescritos1. Devem ser II Associação Brasileira de Física Médica® listadas nesta mesma ordem na última seção do artigo. As abreviaturas utilizadas para os periódicos citados nas referências devem seguir o padrão da base de dados PubMed. Para referências com dois ou mais autores, citar até seis nomes (seguidos da expressão et al. se o trabalho possuir mais de 6 autores)2. Para citar artigos de periódicos1,2, livros3, eventos4, relatórios técnicos5, dissertações e teses6, página na internet7, consulte o artigo8. 1. Heshmati HM, Hofbauer LC. Multiple endocrine neoplasia type 2. Eur J Endocrinol. 1997;137(6):572-8. 2. Krummer SC, Giulkiani ER, Susin LO, Folleto JL, Lermen NR, Wu VY, et al. Evolução do padrão de aleitamento materno. Rev Saúde Pública. 2000;34(2):143-8. 3. Naisman HA, Kerr GR. Fetal growth and development. New York: Mc Graw-Hill; 1970. 4.Kimura J, Shibasaki H, editors. Recent advances in clinical neurophysiology. Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical Neurophysiology; 1995; Kyoto; Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996. 5. Instituto da Criança. Hospital das Clínicas. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Relatório Anual de atividades, 1993. São Paulo; 1994. 6. 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Os autores devem indicar a seção que julgarem mais apropriada ao seu artigo, de acordo com a classificação dada a seguir: • Artigos de Revisão e Tutoriais; • Artigos Originais; • Comunicações Técnicas; • Cartas ao Editor; • Resenhas de Teses; • Resenhas de livros técnicos e científicos. O recebimento do trabalho será prontamente confirmado por comunicação eletrônica. A partir daí, todas as informações serão transmitidas desta forma. Os manuscritos que não estiverem de acordo com as normas serão devolvidos aos autores.
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