Fungos queratinofílicos em areia de parques escolares de Boa Vista
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Fungos queratinofílicos em areia de parques escolares de Boa Vista
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS NATURAIS TATIANE PATRÍCIA SILVÉRIO RIBEIRO FUNGOS QUERATINOFÍLICOS EM AREIA DE PARQUES ESCOLARES DE BOA VISTA, RORAIMA. BOA VISTA 2009 TATIANE PATRÍCIA SILVÉRIO RIBEIRO FUNGOS QUERATINOFÍLICOS EM AREIA DE PARQUES ESCOLARES DE BOA VISTA, RORAIMA. Monografia apresentada como pré-requisito para conclusão do Curso de Especialização em Recursos Naturais. Orientadora: Profa. Dra. Silvana Túlio Fortes BOA VISTA 2009 Dados Internaionais de Catalogação-na-publicação (CIP) R 383 f RIBEIRO, Tatiane Patrícia Silvério Fungos Queratinofílicos em areia de parques escolares de Boa Vista, RR/ Tatiane Patrícia Silvério Ribeiro. Boa Vista, 2007. Orientadora: Profa. Dra. Silvana Tulio Fortes. Monografia (Especialização) – Curso de Especialização em Recursos Naturais. Universidade Federal de Roraima. 1- Micologia. 2- Fungos. 3- Areia de parques escolares. 4Roraima. I – Título. II – Fortes, Silvana Tulio. CDU 631.466 TATIANE PATRÍCIA SILVÉRIO RIBEIRO FUNGOS QUERATINOFÍLICOS EM AREIA DE PARQUES ESCOLARES DE BOA VISTA, RORAIMA. Monografia apresentada como pré-requisito para conclusão do curso de Especialização em Recursos Naturais da Universidade Federal de Roraima, defendida em 02 de agosto de 2007 e avaliada pela seguinte banca examinadora: ______________________________________________ Profa. Dra. Silvana Túlio Fortes (Orientadora)/Universidade Federal de Roraima ______________________________________________ Dr. Jerri Edson Zilli Embrapa- Roraima ______________________________________________ Dra. Kátia de Lima Nechet Embrapa- Roraima ______________________________________________ Profa . MSc Eneida Jucente dos Santos Cavalcanti Curso Biologia- UFRR DEDICO Ao meu marido Wesley, Mamãe e irmãos pelo incentivo. AGRADECIMENTOS Á Deus em primeiro lugar, por me dar a vida; Á professora Dra. Silvana Túlio Fortes, minha orientadora sinceros agradecimentos pelo convívio, incentivo, apoio, pela compreensão, paciência e amizade. Sua dedicação em ler, corrigir e apresentar sugestões durante todo o processo de elaboração, foram essenciais, além de transmitir conhecimentos valiosos repassados durante todo o processo de realização deste trabalho; Ao meu marido Wesley Costa de Oliveira pelo amor que me faz ser forte e persistente em busca da minha felicidade, com muito carinho e apoio não mediu esforços para que eu pudesse chegar nesta etapa, compreendendo e incentivando durante todo o processo; A minha família, meus pais Ava e Altair (in memorian), e meus irmãos pelos ensinamentos, pela confiança, proteção e muito amor com que sempre me envolveram. A estagiária do laboratório de micologia da UFRR Márcia Phelipe pelo apoio, envolvimento e predisposição em ajudar-me, muitíssimo obrigada. As colegas do laboratório Léa, Arléia e Marcelle pela convivência; A Maria Aparecida Neves pelo acolhimento e amizade, encaminhando pessoas e abrindo portas para que esse trabalho pudesse ser concluído; Aos meus colegas do curso de especialização, Severino e Valmir pelo incentivo e amizade; Aos diretores das escolas que autorizaram a coleta de material para realização deste trabalho; Ao fotografo da UFRR Caleffi, que quando solicitado esteve disposto a colaborar; MUITO OBRIGADA! "A felicidade não está em viver, mas em saber viver. A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade" Drummond RESUMO Os parques escolares são amplamente utilizados como recurso de lazer pelas crianças. Geralmente revestidos por areia podem representar um reservatório de fungos, incluindo os queratinofílicos, encontrados na natureza nos estágios finais da decomposição de carapaças, cascos, pele, pêlo ou penas, mas têm a habilidade de invadir os tecidos mais superficiais queratinizados do homem e outros animais, causando as chamadas dermatomicoses. Desta forma, foram estudadas amostras de areia de oito parques escolares com o objetivo de verificar a ocorrencia de fungos queratinofílicos em Boa Vista. Para o isolamento dos fungos foi utilizada a técnica da isca de cabelo e de unha, onde cerca de 15 gramas de areia foram depositadas em placas de Petri esterilizadas, sobre o qual foram depositados tufos de cabelo e fragmentos de unha sob incubação à temperatura ambiente por até 30 dias após o que foram transferidas para meio Mycobiotic agar e posteriormente meio Sabouraud, incluindo microcultivo em lâmina. A análise dos resultados revelou a presença de nove taxa, sendo todos fungos mitospóricos (Deuteromycetes) à exceção de um representante da classe Ascomycetes, ordem Eurotiales, família Trichocomaceae, gênero Byssochlamys cf. Os fungos mitospóricos foram representados pela ordem Agnomycetales (Mycelia sterilia) e pela ordem Moniliales, família Dematiaceae, espécie Fonsecaea pedrosoi, além da família Moniliaceae, com os representantes Aspergillus do grupo flavus, Emonsia parva, Fusarium sp., Paecilomyces sp., Penicillium subgênero Biverticillium e Penicillium subgênero Penicillium. Todos estes taxa são referidos pela primeira vez em areia de parque escolar em Boa Vista, Roraima, enquanto Byssochlamys cf. é referido pela primeira vez em areia de parque escolar. Além disso, areia de parque escolar é uma fonte potencial de contaminação por Fonsecaea pedrosoi, agente etiológico de cromoblastomicose. Palavras-chave: Fungo queratinofilico; Parque escolar; Areia; Fonsecaea pedrosoi. ABSTRACT The school parks are widely used as resource of leisure for the children. Generally coated for sand they can represent a reservoir of fungi, including the keratinophilic fungi that are found in the nature at final process of carapace, hooves, skin, coat or penalty decomposition. These fungi have the ability to invade the most superficial keratinized tissues of the man and other animals being causing dermatomicoses. Aiming to contribute for the knowledge for the diversity of keratinophilic fungi in Boa Vista sand samples of eight school parks had been studied. For the isolation of the fungi was utilized the method using hair and nail us a bait, where about 15 grams of sand were deposited in sterilized Petri dish, over the which hair and nail fragments and kept under incubation at the environmental temperature for until thirty days. After this the baits had been transferred Mycobiotic and later to Sabouraud agar medium including blade micro culture. The analysis of the results disclosed to the presence of nine taxa, being all mitosporic fungi (Deuteromycetes) to the exception of a representative of the Ascomycetes phylum, Eurotiales order, Trichocomaceae family, Byssochlamys cf. genera. The mitosporic fungi had been represented by the Agnomycetales order (Mycelia sterilia) and the Moniliales order, Dematiaceae family, species Fonsecaea pedrosoi, beyond the Moniliaceae family with the Aspergillus flavus group, Emonsia parva, Fusarium sp., Paecilomyces sp. Penicillium subgenus Biverticillium and Penicillium subgenus Penicillium representatives. All of this taxa are referred for the first time in school park sand in Boa Vista, Roraima. Byssochlamys cf. is referred for the first time in school park sand. Moreover, school park sand is a potential contamination source of Fonsecaea pedrosoi, etiologic agent of cromoblastomycosis. Word keys: Keratinophilic fungi; School park; Sand; Fonsecaea pedrosoi. SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT 1. INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 2. MATERIAL E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.1. Local de Coleta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.2. Amostragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.3. Isolamento de Fungos Queratinofilicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.4. Identificação de fungo queratinofilico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.5. Freqüência de Fungos Queratinofílicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.6. Análise de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 3.1. Sinopse das espécies . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 3.2. Isolamento de fungos em isca de queratina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.3. Fungos identificados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.3.1. Aspergillus do grupo flavus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.3.2. Byssochlamys cf. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.3.2. Emmosia parva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 3.3.4. Fonsecae pedrosoi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3.3.5. Fusarium sp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 3.3.6. Mycelia sterilia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 3.3.7. Paecilomyces sp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 3.3.8. Penicillium subgênero Biverticillium . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 3.3.9. Penicillium subgênero Penicillium . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3.4. Frequência e diversidadede fungos queratinofílicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 4. CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 REFERENCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 1 INTRODUÇÃO O solo é um recurso natural formado por um sistema complexo que possui um grande número de propriedades, sendo resultante da ação do clima e dos organismos vivos sobre o material de origem ao longo de uma escala temporal e distribuído em função do relevo, podendo sofrer modificações pela ação antrópica. A simples presença de material inconsolidado e intemperizado na superfície da crosta terrestre não o qualifica como solo, sendo obrigatória à presença de organismos vivos ali se mantendo (NASCIMENTO; GIASSON; INDA JR., 2004). Sendo assim, o solo é o habitat de um número imenso de espécies de organismos, dentre eles os fungos, cuja dispersão é feita pelo homem e por outros animais, água e através dos ventos, entre outros (COSTA et al., 2002). Tais seres são eucarióticos e classificam-se como heterotróficos, visto que para sua existência retiram matéria-prima e energia proveniente de matéria orgânica (SIDRIM; DIOGENES; PAIXÃO, 1999). Estes microrganismos habitam os mais variados substratos, mas a grande maioria das espécies é sapróbia e habita o solo, tendo um predominante papel na reciclagem da matéria orgânica na natureza. No seu hábitat natural, a partir de nutrientes e condições ambientais adequadas, como temperatura e umidade, dentre outras, se desenvolvem e reproduzem-se assexuada e/ou sexuadamente de acordo com a espécie e com as necessidades de seu ciclo de vida (ZAITZ et al., 1998). Desta maneira, o solo se constitui em um grande reservatório de fungos, inclusive os de interesse médico (MAGALHÃES et al., 1998). Das 100.000 espécies de fungos identificadas, cerca de 100 são causadoras de infecções humanas conhecidas como micoses. Estas infecções fúngicas, de acordo com a via de entrada e com a resposta imunológica do hospedeiro, são classificadas em superficiais, cutâneas, subcutâneas e sistêmicas (BORGES; AZEVEDO, 2002). Em muitas atividades de lazer as pessoas mantêm um contato direto com o solo, em algumas situações há contato estreito com a areia, que neste caso será tratada como um tipo de solo, configurando uma das principais fontes de contaminação por fungos potencialmente agentes de micoses. O próprio homem e os outros animais transmitem à areia os microrganismos de que são portadores ao mesmo tempo em que produzem resíduos que funcionam como substrato ideal para o desenvolvimento destes microrganismos potencialmente patogênicos (MAIER et al., 2003). 11 Alguns fungos habitantes do solo possuem enzimas capazes de degradar queratina e são encontrados na natureza nos estágios finais da decomposição de carapaças, pele, pêlos, penas ou cascos de animais, e cabelo, pele, pêlos e unhas de humanos. Desse modo, os chamados fungos queratinofílicos costumam estar presentes em áreas densamente populosas como jardins, parques , praças públicas, além de parques escolares (DEACON, 1998). Os dermatófitos, um grupo de fungos taxonomicamente relacionados, agrupados nos gêneros Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton, são fungos queratinofílicos com habilidade especial de invadir os tecidos mais superficiais queratinizados do homem e outros animais e causar diferentes quadros clínicos de infecção cutânea, as dermatomicoses, e eventualmente subcutânea. Este grupo de organismos apresenta uma predileção ecológica no que diz respeito a sua adaptação ao meio ambiente, isto é, com relação ao habitat e conseqüente afinidade pelo substrato, sendo classificados em: a) antropofilicos – dermatofitos que sofrem influência de fatores étnicos, sociológicos, ambientais, antropogênicos (higiene e modo de vestir) e afinidade por diferentes tipos de queratina; estão em equilíbrio com o hospedeiro; b) zoofilicos – dermatófitos que podem ter hospedeiro específico ou ser infectantes universais, tanto do homem quanto de outros animais, sendo que os animais infectados podem servir de reservatório para a dermatomicose humana; c) geofílicos – dermatófitos que não causam doença no homem ou em outros animais (COSTA et al., 2002). Dermatofítos podem ser isolados de diversos animais domésticos, principalmente cães e gatos, provocando as chamadas micoses de origem animal. Estes animais, quando apresentam lesões cutâneas e de pêlos, podendo transmitir dermatomicoses por contato direto, principalmente para crianças. Assim, o contágio pode ser feito direto com seres humanos, animais ou solo contaminado (LACAZ; PORTO; MARTINS, 1998). Alguns estudos foram realizados visando elucidar a correlação de dermatomicoses com a presença de cães e gatos em área urbana, dos quais se destacam o trabalho de Colin et al., 2000 no México; Pinheiro, Moreira e Sidrim, 1997 e Paixão et al., 2001 em Fortaleza Ceará, além do trabalho de Mantovani et al., 1982 sobre o papel de animais silvestre na ecologia dos dermatofitos. No que diz respeito à saúde humana, as dermatomicoses apresentam uma distribuição geográfica universal (MURRAY; ROSENTHAL; ROBAYASHI, 1994), com predileção por regiões tropicais e subtropicais com variações de prevalência nas diversas regiões do mundo e dentro de um mesmo país, devido a fatores geoclimáticos, condições socioeconômicas e 12 higiênicas da população, urbanização, sistema imunológico do hospedeiro, características fúngicas e ações terapêuticas (BRILHANTE et al., 2000). Já na distribuição por faixas etárias, há predileção por crianças, o que pode ser explicado pelo fato destas estarem mais expostas a fatores de risco, tais como: precários hábitos higiênicos e aglomerações em colégios e creches; não menos importante a literatura cita que contato direto das crianças com animais domésticos e brincadeiras com areia também contribuem para uma maior ocorrência de dermatomicoses nesse grupo populacional (PROENÇA; ASSUMPÇÃO, 1991). Com elevada prevalência na América Latina, os relatos fragmentados e dados epidemiológicos indicam que estas micoses estão entre as zoonoses mais comuns do mundo, sendo consideradas o terceiro distúrbio de pele mais freqüente entre as crianças menores de 12 anos e o segundo da população adulta (MURRAY et al., 1994). Estima-se que 10 a 15% da população humana poderá ser infectada por estes microorganismos no decorrer de sua vida (COSTA et al., 2002). Inúmeros são os estudos sobre aspectos epidemiológicos das dermatomicoses no meio urbano nas diferentes regiões brasileiras, principalmente Sul, Sudeste e Nordeste (MEZZARI, 1998), (LOPES et al., 1999), (BRILHANTE et al., 2000), (FERNANDES; AKITE; BARREIROS, 2001), (COSTA et al., 2002), (AQUINO et al., 2003). Na região Norte, contudo, a literatura é escassa e há relato de um estudo sobre a ocorrência de Tinea capitis, dermatomicose do couro cabeludo, em Manaus – Amazonas, realizado há mais de 25 anos (FURTADO; ILHARA; MARÓJA, 1985) e outro mais recente em Boa Vista (Roraima) baseado no atendimento ambulatorial de pacientes com diagnóstico sugestivo de dermatomicose no Hospital Coronel Mota, sendo 24% dos casos em crianças entre dois e 14 anos (JOSÉ JÚNIOR, 2000). A distribuição de fungos queratinofílicos tem sido estudada em vários habitats em diferentes partes do mundo, incluindo solos cultivados tais como jardins, parques, escolas, clínicas veterinárias, os quais são fontes de resíduos de queratina humana ou animal (MANCIANTI; PAPINI, 1996), (DESHMUKH; AGRAWAL, 2003); (OYEKA; OKOLI, 2003). Na Índia, foi observada a incidência de fungos queratinofilicos em solo de escolas primarias e parques da cidade de Madras, com o registro de nove dermatofitos dentre 31 espécies isoladas (RAMESH; HILDA, 1999), além da identificação de 32 espécies distribuídas em 21 gêneros, isolados de solos próximo a um hospital e praças públicas em Gulbarga, os quais apresentam potencial de infectar humanos e outros animais (VIDYASAGAR; HOSMANI; SHIVKUMAR, 2005). 13 No Brasil, os relatos sobre isolamento de fungos queratinofílicos em areia enfatizam regiões litorâneas, visando à qualidade das praias, podendo ser mencionados os trabalhos nas areias das praias mais freqüentadas de Recife, Pernambuco (MAGALHÃES et al., 1998) e do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (MAIER et al., 2003). Além disso, cabe ressaltar o estudo de fungos queratinofílicos na areia de um parque escolar na cidade de Recife (COSTA et al., 2002), em parques de recreação de instituições públicas de ensino em Maceió/AL (ARAUJO; SANTOS, 2001), bem como um levantamento de espécies de fungos queratinofílicos e resistentes a cicloheximida de solo de escolas de educação infantil em São Bernardo do Campo, SP (SOUZA; ARRUK, 2003). Em Roraima, o estudo de fungos queratinofílicos em areia vem sendo realizado desde 2003, com o trabalho de Costa no ano de 2003 em parques e praças públicas de Boa Vista e posteriormente com o trabalho de Castro no ano de 2004 em areia de balneários dos Rios Branco e Cauamé, em Boa Vista. Em ambos estudos, foi possível o isolamento do dermatófito Trichophyton sp. e do agente de cromomicose Fonsecae sp, constatando-se que a areia é reservatório de fungos queratinofílicos potencialmente patogênicos para o homem e animais e representam uma fonte de contaminação em Boa Vista, Roraima. Desta forma, considerando o uso da areia como cobertura de parques escolares, que por sua vez são utilizados como recurso de lazer pelas crianças, as quais mantêm um contato direto e intenso com este substrato, o que representa uma fonte potencial de contaminação, o objetivo geral do presente trabalho foi verificar a diversidade de fungos queratinofílicos em areia de parques de recreação em escolas de Boa Vista – Roraima. Os objetivos específicos deste trabalho foram: 1. Identificar fungos queratinofilicos e/ou dermatófitos a partir de amostras de areias de parques escolares; 2. Determinar a freqüência de fungos queratinofilicos em parques escolares de Boa Vista; 3. Verificar a ocorrência de fungos queratinofilicos em areias de parques de recreação de Boa Vista, RR; 4. Alertar a população sobre as possíveis fontes de contaminação por fungos dermatófitos e os fatores de risco de aquisição de dermatomicoses por crianças em Boa Vista, Roraima. 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Local de coleta O trabalho foi realizado na cidade de Boa Vista, Roraima em areia de parques escolares da rede municipal, estadual e particular de ensino. Os estudos foram conduzidos no Laboratório de Micologia e Laboratório de Biologia do Departamento de Biologia (DBIO), no Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Federal de Roraima (UFRR). A cidade de Boa Vista capital do estado de Roraima foi criada em 1890. Hoje se constitui em um centro urbano médio, com cerca de 250 mil habitantes situado à margem direita do Rio Branco, localizada a uma altitude de 90 m, apresentando clima quente e úmido, com temperatura média anual em torno de 30ºC e pluviosidade média anual de 1751 mm com um período bem definido de seca entre os meses de outubro a março, aonde a pluviosidade acima de 100mm, e outro período chuvoso que vai de abril a setembro (FREITAS, 1997). O município de Boa Vista possui 22 escolas de Ensino Fundamental, quatro de Educação Infantil, seis creches, seis Casas Mãe, uma escola que oferece curso pré-vestibular e um Centro de Educação Especial (PREFEITURA MUNICIPAL DE BOA VISTA, 2005). A última estatística revela que, em 1995, o Estado dispunha de 450 prédios escolares, onde estudaram 79.514 alunos em 1407 salas de aula. Esses estudantes estavam assim distribuídos: 9.990 no Pré-escolar, 58.424 no ensino fundamental, 9.420 no ensino médio e 1.630 no Supletivo Especial (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE RORAIMA, 2005). 2.2 Amostragem As sete escolas incluídas neste estudo são escolas de ensino fundamental da rede estadual, municipal e particular do município de Boa Vista, com presença de parques de recreação revestido de areias (tabela 01, figura 02) localizadas em bairros da zona oeste, zona sul e zona norte e centro do município de Boa Vista, RR (figuras 02 a 05). 15 Amostras compostas de areia foram coletadas em novembro de 2005 de cada parque com o auxílio de uma colher de plástico descartável. O material coletado foi acondicionado em frascos tipo coletor universal estéril, devidamente etiquetado, transportado e armazenado a temperatura ambiente no Laboratório de Micologia – DBIO/UFRR. A identificação das amostras foi realizada de acordo com a seqüência numérica das coletas, seguida das iniciais ES (escola); no caso de escola com mais de um parque, foi adicionada uma letra do alfabeto (tabela 01). Tabela 01 - Localização e nome da amostra coletada em escolas de Boa Vista, Roraima. Escola Numero de alunos Bairro Nome da amostra Estadual 01 2277 Sílvio Botelho 01ES a e 01ES b Municipal 01 205 Nova Cidade 02ES Estadual 02 220 13 de Setembro 03ES Estadual 03 400 Centro 04ES Estadual 04 517 Buritis 05ES Municipal 02 150 Paraviana 06ES Particular 01 52 Aeroporto 07ES Legenda 1 – Escola Estadual 01 2 – Escola Municipal 01 3 – Escola Estadual 02 4 – Escola Estadual 03 5 – Escola Estadual 04 6 – Escola Municipal 02 7 – Escola Particular 01 7 1 5 6 4 2 3 N 16 Figura 01. Mapa da cidade de Boa Vista mostrando a localização das escolas estudadas (PMBV, 2007) 17 a b Figura 02. Vista parcial dos parques da escola localizada no bairro Silvio Botelho, na cidade de Boa Vista, RR, onde foram obtidas as amostras 01ES (a) e 01ES (b). a b Figura 03. Vista parcial dos parques das escolas, localizadas nos bairros Nova Cidade e 13 de setembro, na cidade de Boa Vista, RR, onde foram obtidas as amostras 02ES (a) e 03ES (b) respectivamente. 18 a b Figura 04. Vista parcial dos parques das escolas, localizadas nos bairros Centro e Buritis, na cidade de Boa Vista, RR, onde foram obtidas as amostras 04ES (a)e 05ES(b) respectivamente. a b Figura 05. Vista parcial dos parques das escolas, localizadas nos bairros Paraviana e Aeroporto, na cidade de Boa Vista, RR, onde foram obtidas as amostras 06ES(a) e 07ES (b) respectivamente. 2.3 Isolamento de Fungos Queratinofílicos 19 Para o isolamento de fungos queratinofílicos foi empregada a metodologia descrita por Vanbreuseghem em 1949 (LACAZ et al., 2002), modificada por Costa em 2003, como segue: Cerca de 15 gramas de areia, provenientes de cada local de coleta, foram distribuídas em placas de Petri previamente esterilizadas, às quais foram adicionadas 3ml de água destilada esterilizada. Pequenos tufos de cabelos e fragmentos de unhas finamente cortados e esterilizados foram delicadamente distribuídos em seis pontos da placa, sendo três tufos de cabelos e três fragmentos de unhas, com duas repetições por amostra, totalizando 16 placas. As placas foram mantidas à temperatura ambiente e após cinco dias foi observada, diariamente, a presença de estruturas fúngicas assexuadas ou sexuadas por até 30 dias. Fragmentos de cabelo e/ou unha que apresentavam sinal de crescimento fungico foram transferidos para placas de Petri contendo meio mycosel Agar – My (Becton, Dinckinson and Company), acrescido de cloranfenicol 400 mg.L.‾¹ e amicacina de 200 mg. L.‾¹, e mantidos a temperatura ambiente por um período de 10 a 15 dias. Após esse período, as colônias fúngicas foram repicadas para placas de Petri contendo meio Ágar Sabouraud - Sc (Becton, Dinckinson and Company), quando então foi realizada a descrição macromorfológica dos fungos; e em seguida foi efetuado o micro-cultivo dos espécimes isolados. 2.4 Identificação de Fungos Queratinofílicos A identificação taxonômica dos fungos foi baseada fundamentalmente na morfologia dos esporos, na inserção dos esporos nos esporóforos e na inserção do esporóforo na hifa. A técnica do micro-cultivo em lâmina, método de Riddall (LACAZ et al., 2002) preserva a integridade das estruturas fúngicas e proporciona o estudo detalhado da disposição de diferentes estruturas ao longo das hifas. A cultura foi montada mediante o corte, com bisturi, de blocos de cerca de 2cm2 de Ágar Sabouraud, os quais foram transferidos para lâminas de microscopia. O bloco de ágar foi então depositado nas quatro laterais com pequenos fragmentos da colônia do fungo a ser estudado e identificado. Os blocos foram cobertos com uma lamínula e o conjunto colocado dentro de uma placa de Petri com tampa, sob condições assépticas, sendo a umidade mantida através de bolinhas de algodão com água destilada, autoclavadas e mantido em uma estufa de 20 crescimento, por um período de tempo que variou de 3 a 15 dias. Quando houve crescimento suficiente, a lamínula, com o micélio aderido, foi removida do bloco de ágar e montada sobre uma lâmina de vidro para microscopia contendo o corante Azul de Amann para montagem. As estruturas fungicas foram examinadas ao microscópio óptico OLYMPUS BX 41 e realizado o registro fotográfico. Os espécimes isolados através do crescimento no cabelo e/ou unhas e subseqüente desenvolvimento das colônias em meio My, as quais foram submetidas ao micro-cultivo em lâmina, foram identificadas pelos seus aspectos macromorfológicos e micromorfológicos. A posição sistemática dos espécimes isolados foi realizada com base em CHARMICHAEL et al., 1979; ONION; ALLSOPP; EGGINS, 1981, BARNETT e HUNTER, 1987; KLICH e PITT, 1994, GUARRO et al., 1999; LACAZ et al., 2002, SIDRIM et al., 2004. Depois de identificados os espécimes isolados foram depositados no acervo de cultura de fungos do Laboratório de Micologia – DBio-CCBS/UFRR. 2.5 Frequência de Fungos Queratinofílicos A freqüência absoluta (FA) dos gêneros de fungos queratinofílicos, isolados de areia de parques escolares de Boa Vista, foi calculada de acordo com a fórmula abaixo (CENTENO, 1981), sendo expressa em porcentagem no total de parques escolares: FA = nº de amostras no qual o gênero ocorreu nº total de amostras x 100 ; onde FA= freqüência absoluta A freqüência relativa (FR), também expressa em porcentagem, foi obtida a partir da seguinte fórmula (CENTENO, 1981): FR = FA do gênero considerado ________________________ _ FA de todos os gêneros x 100 21 ; onde FR= freqüência relativa FA= freqüência absoluta 2.6 Analise dos Dados Os dados da ocorrência das diferentes espécies de fungos queratinofilicos foram tabulados em um banco de dados do Microsoft Excel e utilizados para a obtenção do índice de diversidade de Shannon-Weaver (H´) que considera igual peso entre as espécies raras e abundantes (COELHO, 2000). H'= -∑ (ni/ N) log (ni/N) Onde: N = número total de indivíduos observados; n i = número de indivíduos amostrados da i-ésima espécie; S = número de espécies amostradas; log = logaritmo de base neperiana (e). Alem disso, foi analisada a correlação entre numero de alunos e o índice de diversidade de fungos queratinofilicos por parque escolar. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1. Sinopse das espécies Reino: Fungi Classe: Ascomycetes Ordem: Eurotiales Família: Trichocomaceae Byssochlamys WESTLING, 1909 Classe: Deuteromycetes (Fungos mitospóricos) Ordem: Agnomycetales (Mycelia sterilia) Ordem: Moniliales Família: Dematiaceae Fonsecaea pedrosoi NEGRONI, 1936 Família: Moniliaceae Aspergillus grupo flavus LINK, 1809 Emmonsia parva CIFERRI et MONTEMARTINI 1959 Fusarium LINK ex FRIES, 1809 Paecilomyces BAINIER, 1907 Penicillium LINK, 1809 Subgênero Biverticillium Penicillium 23 3.2. Isolamento de fungos em isca de queratina Em todas as amostras de areia, obtidas dos parques das escolas estudadas em Boa Vista, foi possível isolar fungos queratinofilicos em pelo menos uma das repetições nos tufos de cabelo e/ou fragmentos de unha (Figura 06). A técnica utilizando iscas de queratina, cabelo e unha humanos, para o isolamento de fungos queratinofílicos foi proposta originalmente em 1949 por Vanbreuseghem (LACAZ; PORTO; MARTINS, 1991) e, embora pouco utilizada nos dias atuais, revelou-se eficiente neste estudo. a b Figura 06 – Placa de Petri mostrando crescimento micelial em tufos de cabelo (a) e fragmentos de unha (b) em areia proveniente da amostra de areia 03 ES. Em alguns casos observou-se a formação de estruturas reprodutivas em fragmentos de cabelos (Figura 07) Os resultados obtidos mostram 100% de positividade nas amostras estudadas, isto é, presença de fungos queratinofílicos, inclusive com formação de estruturas reprodutivas (Figura 07). As figuras 08 e 09 mostram crescimento micelial nas iscas após a transferência para o meio My. 24 Figura 07 – Fragmentos de cabelo evidenciando a formação de estruturas de reprodução assexuada (seta branca) de fungo filamentoso. Figura 08 – Fragmentos de cabelo com desenvolvimento de diferentes fungos filamentosos em meio Mycosel Agar . Figura 09 – Fragmento de cabelo com crescimento micelial em meio Mycosel Agar. 25 Na tabela 02 são apresentados os tipos de isca no qual foi isolado cada fungo identificado. Dos nove gêneros isolados, apenas Byssochlamys cresceu apenas em unha e Emmonsia parva apenas em cabelo. Os demais gêneros não apresentaram preferência pelo tipo de isca. Não há registros na literatura sobre este tipo de preferência, especialmente no tocante à Byssochamys e Emmonsia parva. Tabela 02 – Fungos isolados de areia de parque escolar em Boa Vista em diferentes tipos de isca de queratina. ISCA TAXA CABELO UNHA Aspergillus grupo flavus + + Byssochlamys cf. - + Emmonsia parva + - Fonsecaea pedrosoi + + Fusarium sp. + + Mycelia sterilia + + Paecilomyces sp. + + Penicillium subgênero Biverticillium + Penicillium subgênero Penicillium + + + + crescimento - não crescimento A metodologia empregada no presente trabalho utilizou, além dos fragmentos de cabelo comumente utilizados nos trabalhos para isolamento de fungos dermatófitos e outros queratinofílicos, isca de unha na tentativa de isolar o dermatófito Epidermophyton, que se desenvolve apenas na queratina presente em unhas (SIDRIM; DIOGENES; PAIXÃO, 1999). 26 3.3. Fungos identificados 3.3.1. Aspergillus do grupo flavus As colônias apresentaram coloração verde amarelado em meio Sabouraud, textura rugosa, aveludada; reverso variando de amarelo à laranja. Em microscópio optico, observou-se micélio septado; conidióforos hialinos, eretos, não ramificados, ásperos, com célula-pé basal, sustentando uma vesícula na extremidade; cabeça conidial bisseriada, radiada; cadeia de fialoconidios sub-hialinos a levemente esverdeados, globosos, ligeiramente rugosos (Figura 10). Figura 10 – Conidióforo (a) e fealoconidios (b) de Aspergillus do grupo flavus obtidos através do microcultivo em meio Sabouraud, corado com Azul de Amann; isolado de areia de parques infantis de escolas de Boa Vista, RR. Os representantes de Aspergillus do grupo flavus são comuns em regiões de clima quente e geralmente encontrados no solo, em matéria orgânica em decomposição, sendo sapróbios; contudo, são potentes agentes carcinogênicos visto que podem produzir aflatoxinas em gêneros alimentícios, especialmente em grãos e nozes estocados, além de rações. Há vários registros de aflatoxicoses agudas ou crônicas na espécie humana após consumo de amendoim, milho e arroz contaminados. Agentes patogênicos oportunistas podem causar aspergilose com localização muito variada, 27 podendo ser encontrado na cavidade pulmonar ou ainda em unhas que sofrem traumatismos, em lesões isquêmicas, em portadores de psoríase e em pacientes com lesões eczematosas crônicas, utilizando-se nestes casos dos resíduos orgânicos como fonte nutricional (LACAZ et al., 2002). 3.3.2. Byssochlamys cf. Colônia pulverulenta, coloração bege quando jovem, passando a castanho acinzentado com o tempo, reverso bege em meio Sabouraud. Em microscópio opitico observou-se a presença de cleistotécio formado a partir de uma rede de hifas (Figura 11); asca evanescente; ascosporos hialinos, unicelulares, esféricos, de parede lisa; anamorfo filídico do tipo Paecilomyces. Figura 11 – Cleistotecio de Byssochlamys corado com Azul de Amann; isolado de areia de parque escolar (amostra 05ES) de Boa Vista, RR. 3.3.3. Emmonsia parva Colônia de coloração branca, com delicados sulcos radiais no centro, reverso marrom claro em meio Sabouraud. Em microscópio óptico observou-se conídios hialinos, globosos, isolados, sendo produzidos diretamente nas hifas em curtas protusões ou em conidióforos da hifa vegetativa (Figura 12). 28 Figura 12 – Conidios de Emmonsia parva, corado com Azul de Amann; isolado de areia de parque escolar (amostra 01ES A) de Boa Vista, RR. Espécie patógena ao homem é dimórfica, agente de adiasporomicose, que é uma micose predominantemente oportunística, que afeta geralmente animais inferiores e raramente o homem; a doença ocorre após inalação dos esporos no trato respiratório permanecendo confinada ao pulmão, pois os esporos infectantes não se multiplicam nos tecidos do hospedeiro, ao contrário, os conídios encontrados no solo ou em suspensão no ar, ao serem inalados aumentam gradativamente de tamanho no tecido pulmonar, originando os adiasporos (LACAZ et al., 2002). 3.3.4. Fonsecaea pedrosoi Colônias apresentaram crescimento lento, textura veludosa, coloração preta , relevo plano e reverso negro. Em microscópio optico (Figura 13) foi possível observar hifas demácias com cada um dos blastoconidios primários situados nas pontas dos conidióforos sustentando um a quatro conídios secundários que, por sua vez, apresentaram de um a quatro conídios terciários, em arranjo que culminou em cabeças de conídios esparsos. 29 Figura 13 - Conidióforos e conideos de Fonsecaea pedrosoi,corado com Azul de Amann, isolado de areia de parques infantis de escolas de Boa Vista, RR. Fonsecaea pedrosoi é um fungo dematiáceo e agente de feo-hifomicose, sendo considerado agente etiológico mais freqüente nos casos cromomicoses (LACAZ et al., 1998). A literatura relata que é relativamente fácil isolar fungos dematiáceos do solo e de diferentes fontes naturais, incluindo material em decomposição encontrado no solo (GEZUELE; MACKINNON; CONTI-DIAZ, 1972). Salgado et al (2004), em recente estudo isolaram F. pedrosoi da planta Mimosa pudica, demonstrando uma fonte natural de infecção deste fungo. 3.3.5. Fusarium sp. No material estudado foram observadas colônias de crescimento rápido, textura algodonosa, com três padrões de coloração: i. colônia de coloração branca, reverso bege, sem pigmento difuso no meio; ii. micélio bege, reverso com matizes de castanho, pigmento levemente acastanhado difuso no meio; iii. micélio púrpura, reverso púrpura escuro com pigmento da mesma coloração difuso no meio. Contudo, em microscópio óptico (Figura 14) há um mesmo padrão de desenvolvimento com formação de clamidósporos hialinos, globosos, geralmente de parede verrucosa, isolados, em cadeias 30 ou em pequenos grupos, em algumas culturas; microconidios normalmente abundantes, cilíndricos a ovais com uma a duas células; macroconídeos usualmente com três septos, fusiformes com extremidades afiladas. a b Figura 14 – A. Clamidósporos (a), macroconidios (b) microconidios (c) em lâmina de Fusarium sp., B. detalhe de conidióforo com microconídios de Fusarium sp (b), corado com Azul de Amann; isolado de areia de parques infantis de escolas de Boa Vista, RR. O fungo pode comportar-se como agente oportunista e penetrar pela pele ou conjuntiva ocular, levando os efeitos sistêmicos, principalmente em imunocomprometidos. As lesões provocadas por Fusarium nos seres humanos podem ser locais ou sistêmicas; as primeiras ocorrem principalmente em decorrência de lesões traumáticas ou infecções secundarias à queimaduras, sendo que as manifestações mais freqüentes são queratites, ulceras de pele, micetomas, osteomielites e osteoartrites. Muitas espécies de Fusarium têm sido relatadas como causas de queratomicoses, micetomas e onicomicoses; as queratomicoses são doenças causadas por fungos que invadem o estroma da córnea, sendo frequentemente relatadas em trabalhadores rurais, principalmente em lesões pós-traumáticas (LEAL et al.,2005). 3.3.6. Mycelia sterilia 31 Colônias de coloração bege e textura aveludada. O microcultivo em lâmina em meio Sabouraud revelou desenvolvimento apenas de estruturas filamentosas septadas e por não produzirem esporos, foram incluídas na ordem Agnomycetales (Mycelia sterilia). Esporos ausentes, clamidósporos presentes em alguns gêneros, podem ser encontrados em estágios de Basidiomycetes, Ascomycetes e Fungi Imperfect. (LACAZ et al., 2002). 3.3.7 - Paecilomyces sp. Colônia aveludada com coloração acinzentada e reverso variando de incolor a castanho. Em microscópio óptico (Figura 15) revelou filiades esguias, solitárias, peniciliformes , conidioforos hialinos compridos, solitários, terminando em fiálides peniciliformes sustentando longas cadeias de conídios ovais, lisos, sub-hialinos.(Figura 15). Figura 15 – Estruturas de Paecilomyces sp., corado com Azul de Amann; isolado de areia de parques infantis de escolas de Boa Vista, RR. Microscopicamente o gênero tem grande semelhança com os oportunistas Penicillium e Verticillium, o que dificulta a identificação taxonômica, embora estes últimos não apresentem fiálides esguias com extremidade afilada (KERN, BLEVINS, 1999). 32 Paecilomyces sp. é considerado ubíquo no solo sendo um fungo sapróbio. É oportunista por excelência; gente de lesões humanas, provocando lesões oculares, cutâneas, endocardite, infecções do saco lacrimal em pacientes imunocompetentes (LACAZ et al., 1998). Além disso, tem sido isolado em diversas partes do mundo causando paecilomicose em cães, gatos e caprinos (ROSSER, JR; 2003). 3.3.8. Penicillium subgênero Biverticillium No material estudado algumas colônias apresentaram coloração variando de bege a marron esverdeado em meio Sabouraud; outras variando de tons claros no centro e bordas verde-amareladas com setores brancos, reverso bege claro a escuro; textura tipicamente veludosa, plana. Em microscópio óptico foi observado um padrão predominantemente biverticilado de ramificação do conidióforo (Figura 16); conidióforos e fialoconideos apresentando pigmentação de cor verde; conidios subhialinos a esverdeados, lisos a levemente rugosos, arredondados e simétricos. Figura 16 – Microcultivo em lâmina de Penicillium subgênero Biverticillium, corado pelo Azul de Amann, isolado de areia de parques infantis de escolas de Boa Vista, RR. 33 3.3.9 – Penicillium subgênero Penicillium Colônias de textura aveludada a pulverulenta, setorizada de coloração verde a oliva com setores brancos a bege, reverso bege a castanho claro, pigmento castanho difusível no meio. Em microscópio óptico foi observado um padrão predominantemente terverticilado de ramificação do conidióforo (Figura 17); conidióforo pigmentado, ruguso; fiálides ampuliformes sustentando longas cadeias de conídeos esféricos a subesfericos, levemente pigmentados, lisos. Figura 17 – Conidióforos, fialides e conideos de Penicillium subgênero Penicillium, corado com Azul de Amann, isolado de areia de parques infantis de escolas de Boa Vista, RR. O gênero Penicillium é comumente encontrado no solo, sendo mais freqüente em regiões onde predominam temperaturas baixas. Muitas espécies de Penicillium são psicotróficas e capazes de deteriorar alimentos em temperaturas de refrigeração (ARAÚJO,2002) contudo existem espécies xerofílicas. Pode comprometer a segurança de alimentos devido a produção de micotoxinas como a ocratoxina A, a patulina e a citrinina. As propriedades bioquímicas de espécies do gênero Penicillium foram amplamente estudadas a partir de 1929, com a descoberta da penicilina. Entretanto, o primeiro uso de Penicillium para beneficio humano data de tempos remotos, na produção de queijos, como Camembert, Roquefort e Gorgonzola (ALEXOPOULOS, MINS; BLACKWELL, 1996). 34 Um dos exemplos mais impressionantes de melhoramento genético, utilizando técnicas de genética clássica, incluindo seleção e mutação, ocorreu no fungo filamentoso do gênero Penicillium (CHALFOUN, 2003). Clinicamente estão envolvidos em casos de ceratites, otites, sinusites, infecções urinárias, infecções pulmonares, quadros alérgicos, micotoxicoses e diversos quadros de hialohificose (SIDRIM et al., 2004). 3.4. Freqüência e diversidade de fungos queratinofílicos Das oito amostras de areia provenientes de parques escolares de Boa Vista, foram isolados 132 espécimes de fungos filamentosos, distribuídos em nove taxa (Tabela 03), sendo todos fungos mitospóricos (Classe Deuteromycetes) à exceção de um representante da classe Ascomycetes, ordem Eurotiales, família Trichocomaceae, gênero Byssochlamys cf. Os fungos mitospóricos foram representados pela ordem Agnomycetales (Mycelia sterilia) e pela ordem Moniliales, família Dematiaceae, espécie Fonsecaea pedrosoi, e família Moniliaceae, com os representantes Aspergillus do grupo flavus, Emonsia parva, Fusarium sp., Paecilomyces sp. Penicillium subgênero Biverticillium e Penicillium subgênero Penicillium. Ressalta-se que todos estes fungos foram isolados pela primeira vez em areia de parque escolar em Boa Vista, além de ser este o primeiro registro de Byssochlamys em Boa Vista, Roraima. Estudos anteriores, envolvendo isolamento de fungos queratinofílicos em areia de Boa Vista, mostram maior número de taxa; Costa (2003) identificou 14 taxa de fungos queratinofilicos nas areias de parques e praças públicas e Castro (2004), em seu estudo sobre fungos queratinofilicos em areias de praias do Rio Cauamé e Rio Branco, registrou 15 taxa. Em ambos os casos foram registrados apenas fungos mitospóricos. 35 Tabela 03 – Distribuição do número de espécimes de fungos queratinofílicos e freqüência relativa por taxa, isolados em areia de parques escolares em Boa Vista, Roraima. Nºde espécimes isolados Freqüência relativa Aspergillus grupo flavus 21 18,750 Byssochlamys cf. 01 3,125 Emmonsia parva 01 3,125 Fonsecaea pedrosoi 03 9,375 Fusarium sp. 71 25,000 Mycelia sterilia 01 3,125 Paecilomyces sp. 11 12,500 Penicillium subgênero Biverticillium 09 Penicillium subgênero Penicillium 13 15,625 132 99,995 TAXA TOTAL 9,375 De acordo com os dados da Tabela 03, observa-se que o gênero Fusarium apresentou o maior número de espécimes isolados, representado com uma freqüência relativa de 25%, seguido dos gêneros Aspergillus, Penicillium e Paecilomyces, com cerca de 18,750; 25,00 e 12,500% respectivamente. Os demais, em conjunto representaram pouco mais de 18 % da freqüência relativa. Estes resultados podem ser justificados pela ubiquidade dos gêneros Fusarium, Aspergillus, Penicillium e Paecilomyces como sapróbios no solo (DEACON, 2006). Com relação à diversidade de fungos queratinofílicos isolados dos parques escolares de Boa Vista, conforme os dados apresentados na Tabela 04, verifica-se que o parque A da Escola Estadual 01, localizada no bairro Silvio Botelho apresentou a maior riqueza, com seis taxa, seguido do parque B da mesma escola, com cinco taxa, 36 da mesma forma que os parques da escola estadual 03 e Escola Estadual 04, localizadas nos bairros 13 de Setembro e Centro, respectivamente. Os resultados de freqüência absoluta, mostrados na Figura 18, apontam que os taxa de maior relevância foram os gêneros Fusarium, presente em todos os parques estudados, seguido da espécie Aspergillus flavus, registrada em 6/8 amostras analisadas. Em contrapartida, Byssochamys cf. e Emmonsia parva foram os taxa registrados com menor freqüência absoluta, sendo isolados em apenas uma das oito amostras estudadas. Frequência absoluta 100,00 80,00 60,00 40,00 Pe ni c As 12,50 12,50 12,50 37,50 37,50 50,00 62,50 pe rg Fu sa riu m illu illi s um fla te vu rv s er tic Pa ila ta ec Fo il o ns m Pe ec yc ae es ni ci pe lliu dr m os bi oi ve r ti cil By at ss a oc ha Em m on ys sia M pa yc rv el a ia st er ilia - 75,00 100,00 20,00 Taxa Figura 18 – Freqüência dos gêneros de fungos queratinofilicos isolados de parques de escolas infantis de Boa Vista, RR. Os resultados do presente trabalho são corroborados por Costa (2003) e Castro (2004) visto que Fusarium, Aspergillus, Penicillium e Paecilomyces figuram entre os mais freqüentes, tendo sido registrados em pelo menos 50% das amostras estudadas. Em areia de praias dos Rios Branco e Cauamé, Castro (2004) mostrou que o gênero Penicillium foi mais freqüente, sendo referido em 86,67% das amostras estudadas, seguido de Paecilomyces e Fusarium, em 66,67% . 37 Os parques das escolas localizadas nos bairros Buritis e Aeroporto apresentaram menor diversidade de fungos queratinofílicos, com apenas dois taxa ( Tabela 04). Tabela 04. Fungos queratinofílicos isolados em amostras de areia proveniente de diferentes parques escolares em Boa Vista, Roraima. TAXA AMOSTRA 01ES A 01ES B 02ES 03ES 04ES 05ES 06ES 07ES Aspergillus grupo flavus + (2) + (6) + (3) + (5) + (2) - - + (3) Byssochlamys cf. - - - - - + (1) - - Emmonsia parva + (1) - - - - - - - Fonsecaea pedrosoi + (1) - + (1) + (1) - - - - Fusarium + (3) + (2) + (7) + (16) + (4) + (22) + (9) + (8) Mycelia sterilia - - - - + (1) - - - Paecilomyces sp. - + (2) - - + (5) + (2) + (2) - + (5) + (1) - + (3) - - - - + (1) + (3) - + (3) + (6) - - - Penicillium subgrupo Biverticillium Penicillium subgrupo Penicillium + = Ocorrência - = Ausência ( )= número entre parênteses indica o numero de espécimes obtidos de cada amostra Vale ressaltar que a Escola Estadual 01 figura como a maior escola em numero de alunos, 2277, dentre as estudadas e, consequentemente, com maior circulação de crianças, sendo constatado inclusive um acúmulo de lixo nos parques. Os parques das escolas localizadas nos bairros Buritis e Aeroporto apresentaram menor diversidade de fungos queratinofilicos, com apenas dois taxa (Tabela 04). 38 Em seu estudo em areias de parques e praças públicas de Boa Vista, RR Costa (2003) registrou fungos queratinofilicos dos gêneros Acremonium, Aspergillus, Chaetophoma, Cladosporium, Cladophialophora, Fonsecaea, Fusarium, Gliocadium, Penicillium, Paecilomyces, Scedosporium, Stemphylium e o dermatófito Trichophyton. No ano seguinte Castro (2004), registrou a presença dos queratinofílicos Acremonium sp., Aspergillus sp., Cladophialophora sp., Curvularia lunata, Dactylaria gallopava, Emmonsia parva, Fonsecaea pedrosoi, Fusarium sp., Gliocoadium sp., Lecythophora sp, Madurella grisea, Paecilomyces spp., Penicillium spp., Scedosporium sp., além do dermatófito Trichophyton sp.,em amostras de areia de praias do Rio Cauamé e Rio Branco em Boa Vista, RR. A diversidade de espécies de um grupo taxonômico pode ser medida por intermédio de índices matemáticos, os quais levam em consideração informações taxonômicas na definição das unidades de medida, ou seja, os taxa. Alguns índices, como o índice de diversidade de Shannon-Weaver, fornecem informações importantes acerca do padrão de distribuição de espécies microbianas dentro do ecossistema (Kennedy, 1999). O índice de Shannon-Weaver, calculado para cada taxa de fungo queratinofilico isolado em areia proveniente de diferentes parques escolares em Boa Vista, Roraima, está apresentado na tabela 05 sendo que foi considerado o número de indivíduos de cada taxa na população total para a normalização. Assim, quanto mais alto é o valor do índice maior o número de espécies e menor o domínio da comunidade por uma ou poucas espécies (Odum, 1975). Tabela 05. Índice de diversidade de fungos queratinofílicos em areia proveniente de diferentes parques escolares em Boa Vista, Roraima. Escola Nº total de espécimes de fungos queratinofilicos Índice de ShannonWeaver (H`) 39 Estadual 01 27 4,36 Municipal 01 11 1,24 Estadual 02 28 1,77 Estadual 03 18 2,11 Estadual 04 25 0,64 Municipal 02 11 0,68 Particular 01 11 0,85 Total 131 No entanto, a própria riqueza de espécies pode ser utilizada como uma medida geral da diversidade (Connell, 1978). Uma vantagem do uso da riqueza de espécies é que ela fornece uma ampla medida da complexidade das comunidades e talvez da sua resiliência. Essa flexibilidade no conceito de diversidade é bastante útil no estudo de comunidades de solo, reconhecidamente muito diversas (CORREIA; OLIVEIRA,2000). Os resultados do presente trabalho mostraram menor riqueza de fungos queratinofílicos em areia em relação aos anteriores realizados em Boa Vista (Tabela 05). Isto pode ser justificado pelo fato daqueles estudos terem sido realizados em áreas públicas de lazer, áreas abertas, com grande circulação de pessoas e animais, estes figurando como importantes reservatórios de fungos dermatófitos (COSTA, 2003; CASTRO, 2004). Embora a areia dos parques escolares apresente menor diversidade de fungos queratinofílicos de uma maneira geral, não apresenta fungos dermatófitos. Contudo, observa-se a presença constante de um dos principais agentes de cromoblastomicose, Fonsecaea pedrosoi, indicando que as areias de Boa Vista são fontes potencial de contaminação por este agente patogênico. A escassez de relatos sobre o isolamento ambiental de fungos queratinofilicos no Brasil reflete dois outros trabalhos realizados na cidade de Recife, Pernambuco, onde Costa e colaboradores (2002) registram o isolamento de espécies pertecentes a Aspergillus, Chrysosporium, Cunninghamella, Curvularia, Fusarium, Humicola e Trichophyton em solo de um parque escolar, ao passo que Magalhães e colaboradores (1998) referiram-se a fungos filamentosos de interesse médico pertencentes aos gêneros 40 Aspergillus, Penicillium, Cladosporium, Curvularia, Fusarium e Trichophyton entre outros, isolados de areia de diferentes praias. Além desses, figura ainda na literatura o relato do isolamento de Aspergilus, Penicillium, Fusarium, Acremonium, Chrysosporium, Sincephalastrum e Verticillium em amostras de solo provenientes de parques de recreação de quatro instituições de ensino público em Maceió, Alagoas (ARAÚJO, SANTOS; 2001). Para fins de melhor vizualização, a Tabela 06 apresenta uma comparação dos resultados do presente trabalho com os resultados do isolamento de fungos queratinofílicos do solo em diferentes cidades e/ou épocas no Brasil. Tabela 06 – Fungos queratinofílicos referidos para o Brasil. REFERÊNCIA / CIDADE TAXA Magalhães et al., 1998 RECIFE Araújo e Santos, 2001 MACEIÓ Costa et al., 2002 RECIFE Costa, 2003 BOA VISTA Castro, 2004 BOA VISTA o presente trabalho BOA VISTA 41 Acremonium - + - + + - Aspergillus + + + + + + Byssochlamys cf. - - - - - + Chaetophoma - - - + - - Chrysosporium - + + - - - Cladophialophora - - - + + - Cladosporium + - - + - - Cunninghamella - - + - - - Curvularia + - + - + - Dactylaria gallopava - - - - + - Emmonsia parva - - - - + + Fonsecaea pedrosoi - - - + + + Fusarium + + + + + + Gliocladium - - - + + - Humicola - - + - - - Lecythophora - - - - + - Madurilla grisesa - - - - + - Mycelia sterilia - - - - - + Paecilomyces - - - + + + Penicillium + + - + + + Scedosporium - - - + + - Sincephalastrum - + - - - - Stemphylium - - - + - - Trichophyton + - + + + - Verticillium - + - - - - + = Ocorrência - = Ausencia As informações contidas na Tabela 06 mostram que os gêneros Aspergillus e Fusarium estiveram presentes em todas as situações estudadas; por outro lado, Fonsecaea pedrosoi, Paecilomyces e Penicillium foram sempre presentes em Boa Vista. De fato, segundo Deacon (2006), estes fungos são sapróbios comumente encontrados no solo, à exceção de F. pedrosoi, que parece ser comum na areia de Boa Vista. 4 CONCLUSÕES 1. A metodologia empregando as iscas de queratina humana foi eficiente para o isolamento de fungos queratinofílicos de areia de parques escolares de Boa Vista; 2. Pela metodologia empregada não se detecta o dermatofito Tricophyton em parques escolares de Boa Vista; 3. A areia dos parques estudados em Boa Vista não é reservatório do dermatófito Thricophyton, mas é reservatório de outros fungos queratinofílicos potencialmente patogênicos para o homem e outros animais e representam uma fonte de contaminação; 4. Os taxa Aspergillus do grupo flavus, Byssochlamys cf., Emonsia parva, Fonsecaea pedrosoi, Fusarium sp., Paecilomyces sp., Penicillium subgênero Biverticillium e Penicillium subgênero Penicillium são registrados pela primeira vez em areia de parques escolares em Boa Vista; 5. O taxa Byssochlamys cf. é referido pela primeira vez para Boa Vista; 6. Os taxa Fusarium, Aspergillus do grupo flavus e Penicillium ocorrem com maior freqüência em areia de parques escolares de Boa Vista; 7. O parque da escola com maior número de alunos, 2.277, representa maior risco de contaminação por agente de cromoblastomicose e adiasporimicose. REFERÊNCIAS ALEXOPOULOS,C.J.; MINS, C.W. Introductory mycoly. 4. ed. New York: John wiley and sons, 1996.869p. AQUINO, Patricia Marques; LIMA, Edeltrudes; FARIAS, Nilma . Tinea capitis em João Pessoa: visão socioeconômica. Anais Brasileiros de Dermatologia. v. 78, n..6, p. 713-117, 2003. ARAUJO, Wagner. Genética e melhoramento de fungos na biotecnologia.4.ed.Viçosa: editora UFV, 2002.43 p. ARAUJO, M.A.S.; SANTOS J.L. Fungos queratinofílicos isolados de solo de parques de recreação de instituições públicas de ensino de Maceió, Alagoas. Anais da I semana Acadêmica FCBS. v.1, n.1, p32-33,2001. BARNETT H.L.; HUNTER B.B. 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