Mick Ronson salva o dia

Transcrição

Mick Ronson salva o dia
CLASSIC TRACKS
G R AVA N D O ‘J A C K & D I A N E ’
Mick Ronson salva o dia
No Criteria, as sessões para American Fool
foram realizadas no novíssimo Studio E.
Projetado por John Storyk, ele incluía uma
área de gravação que combinava cerâmica
cubana e madeira de cipreste com vitrais e
tetos de 8m de altura, além de uma sala de
controle abrigando um enorme console MCI
customizado de 56 canais e dois gravadores
MCI de 24 tracks que eram sincronizados.
“Era um console com som horrível, como
todo equipamento MCI da época,” Gehman
afirma. “Muitas pessoas gostavam dele, mas,
em comparação com um ótimo equipamento
da Neve ou API, ele não se saía muito bem.
Dito isto, com certeza eu conseguia fazê-lo
funcionar, mas, naquela época, eu dependia
de muitas coisas que as pessoas usavam
para obter sons, fossem elas microfones
valvulados ou compressores Fairchild. Eu
112
John Mellencamp e a sua banda no programa
American Bandstand, em 1982..
Foto: Michael Ochs Archives/Getty Images
construindo o seu próprio estúdio e me
ofereceram um cargo de engenheiro lá, eu
aceitei. Um dos primeiros projetos que eu
fiz com eles foi o álbum Guilty [de 1980] da
Barbra Streisand, para o qual eles escreveram
todo o material e eu fui um dos produtores,
apesar de não ter sido creditado.”
Produzido oficialmente por Barry Gibb,
Karl Richardson e Albhy Galuten, Guilty
vendeu mais de 20 milhões de cópias.
Enquanto isso, incapaz de garantir os serviços
de Don Gehman para o seu próprio álbum,
John Mellencamp fez Nothin’ Matters &
What If It Did com o lendário guitarrista de
soul Steve Cropper tomando as rédeas da
produção, e agora Gehman considera isto
“uma sorte disfarçada”.
“Cropper é um ótimo compositor,
arranjador e guitarrista,” ele diz, “e realmente
preencheu várias lacunas no estilo de
composição do John e do seu som. Tudo
bem, ele não gostou do resultado daquele
som, mas isto realmente o ensinou a compor
e arranjar, e ele cresceu bastante a partir daí.
Depois, ao fazer o álbum seguinte, ele me
procurou novamente e eu disse ‘Sim, vou
fazê-lo’. As coisas estavam mais devagar com
os Bee Gees, eu mais do que nunca queria
ser produtor, e achei que esta podia ser a
minha chance de deslanchar na carreira. Então
começamos a fazer American Fool.”
Embora os dois primeiros tracks do
álbum, ‘Hurts So Good’ e ‘Jack & Diane’,
também sejam os seus destaques, o restante
do álbum se compara favoravelmente aos
seus antecessores, por conta da versátil
musicalidade mais precisa dos guitarristas
Mick Ronso, Mike Wanchic e Larry Crane, dos
baixistas George Perry e Robert Frank, do
baterista/percussionista Kenny Aronoff e do
tecladista Eric Rosser.
estava começando a aprender sobre muita
coisa que não tínhamos no Criteria, e eu
tinha todo um novo mundo disponível para
mim conforme eu conhecia pessoas que
faziam álbuns de rock.”
Embora a maioria dos músicos de
American Fool tocando no Studio E estivesse
em cabines, o baixista gravado com DI ficava
na sala principal com o baterista Kenny
Aronoff que, de acordo com Gehman, foi
gravado “com vários microfones ambientes
que não funcionavam.”
“Provavelmente era [um AKG] no bumbo,”
ele diz, “[AKG] 451s no chimbal e como
overheads, [Sennheiser] 421s nos tom-tons
e microfones Schoeps para a sala, junto
com [Neumann] U87s e PZMs. Entretanto,
nenhum deles fez qualquer diferença. Eu
achei que podia obter ótimos sons naquela
sala moderna, mas John Storyk colocou tanta
absorção que, não importa o que fizéssemos,
não conseguíamos obter nenhum reflexo. Ela
era simplesmente morta e eu ficava, em vão,
tentando obter um som de bateria ambiente.
“Veja bem, um das nossas referências para
‘Jack & Diane’ era ‘In The Air Tonight’ do Phil
Collins. Um dia, John chegou e, depois de se
sentar e tocá-la, disse ‘É isto que eu quero
criar. Eu quero alguns versos que soem como
uma pequena canção folk e depois eu quero
a grande e bombástica entrada de alguma
bateria, levando a um novo patamar.”
Não que Mellencamp ou Gehman
soubessem como recriar o som de bateria
que era marca registrada de Collins e que,
graças ao inovador uso de reverb com gate
e ambiência de sala bastante comprimida
do produtor-engenheiro Hugh Padgham,
caracterizou tantas produções dos anos 1980.
“Esta foi uma das coisas que realmente
nos deteve,” Gehman confirma. “Eu não sabia
Setembro 2011 / w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r
nada sobre sons de bateria de rock – eu nem
sabia como fazer um som com gate. Mesmo
assim, tendo sido originalmente empresariado
por Tony DeFries, empresário do David
Bowie, John conheceu pessoas naquele
departamento, incluindo Mick Ronson,
guitarrista do Bowie. Então pedimos para ele
vir um dia e nos ajudar com o arranjo de um
track chamado ‘Weakest Moments’. Depois,
quando mencionamos como estávamos
tentando obter um som de rock na bateria,
ele disse ‘Bom, você precisa fazer um eco
com gate usando um plate.’ Eu disse ‘Hein?
O que você está dizendo?’. Ele disse ‘Deixe o
plate meio curto, coloque gates nos retornos
e coloque um gate nas mandadas’, e quando
eu fiz isto foi um daqueles momentos de
‘Aha!’ – ‘Meu Deus, então é assim que
você faz algo soar como se estivesse sendo
batido com força.’ Aquele foi o começo
das coisas começando a se encaixarem.
Só aquela coisinha fez parecer que éramos
uma banda de rock. O que Mick nos falou
foi um presente.
“Também usamos uma LinnDrum
emprestada dos Bee Gees em uma época em
que existiam apenas duas delas em todo o
país. Kenny programou a batidinha de bateria
eletrônica para a primeira metade de ‘Jack
& Diane’ e, durante dois meses, tínhamos
a introdução, os três primeiros versos e
todas as coisas até onde entra a bateria
verdadeira. Todo dia mudávamos o som,
tentando fazer isso dar certo. Em seguida,
depois que tínhamos o som de bateria,
Kenny criou a entrada da bateria que está
no álbum. Logo depois, fizemos a ponte
de fundo ‘let it rock, let it roll’ e tudo se
encaixou muito rapidamente.”
“Eu devo a música de sucesso ‘Jack &
Diane’ a Mick Ronson,” John Mellencamp

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