art34 - logística reversa na reciclagem de lodo de esgoto da estação
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art34 - logística reversa na reciclagem de lodo de esgoto da estação
LOGÍSTICA REVERSA NA RECICLAGEM DE LODO DE ESGOTO DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE PARANAVAÍ CASTELEIRA, Luan Francisco Rodrigues1 MAZZEI, Bianca Burdini2 Ciências Sociais Aplicas – Administração. RESUMO A atual situação dos resíduos gerados das atividades modernas tem despertado a preocupação de diversas áreas, devido às suas implicações ecológicas, políticas, econômicas e sociais. Assim, o objetivo deste artigo é descrever os processos utilizados pela logística reversa para reciclagem de lodo de esgoto e suas utilidades econômicas da Sanepar, unidade de Paranavaí. Para chegar a esse ponto, foi pesquisado sobre as definições e utilidades das atividades logísticas, em especial a logística reversa de pós-consumo, responsável pelo retorno dos materiais ao ciclo produtivo após seu descarte. Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva, de natureza qualitativa, com coleta de dados por meio de entrevistas não estruturada, e tendo a Estação de Tratamento de Esgoto de Paranavaí como unidade de análise. Uma das principais considerações é que, apesar de apresentar vários resíduos resultantes do tratamento de esgoto, o lodo de esgoto é o único que apresenta valor econômico e social para a empresa em questão. Palavras-chave: Logística reversa. Resíduos. Lodo de esgoto. ABSTRACT The current situation of waste generated in modern activities has aroused the concern of several areas due to its ecological, political, economic and social implications. So, the objective of this article is to describe the processes used by reverse logistics for recycling of sewage sludge and its economical utilities of Sanepar, unit Paranavaí. To get to that point, was researched on the definitions and utilities of logistics activities, in especial the reverse logistics of post-consumer, responsible by the return of materials to production cycle after its discard. It's a research of descriptive type, of qualitative nature, with data collected through unstructured interviews, and having the Paranavaí Sewage Treatment Plant as the unit of analysis. One of the main considerations is that, despite having several residues resulting from the treatment of sewage, the sewage sludge is the only one that has economic and social value to the company in question. 1 2 Acadêmico do curso de Administração da Universidade Estadual do Paraná, Campus de Paranavaí. Professora Orientadora do Curso de Administração da Universidade Estadual do Paraná, Campus de Paranavaí. Keywords: Reverse logistic. Residues. Sewage sludge. 1 INTRODUÇÃO A influência ecológica e as consequentes transformações que ela gera nos negócios estão cada vez mais presentes e com efeitos econômicos cada vez mais profundos. As organizações que, atualmente, conseguem mais vantagens competitivas, redução dos custos e aumento nos lucros, são aquelas que tomam decisões estratégicas integradas à questão ambiental e ecológica. Assim, essas empresas terão mais chances de sobreviver ao mercado o quanto antes passarem a encarar o meio ambiente como seu principal desafio e oportunidade competitiva (TACHIZAWA, 2011). Nunca antes a história registrou uma preocupação tão intensa com a preservação do meio ambiente como aquela vista entre o final do século XX e início do XXI. Preservar o meio ambiente e adotar políticas de desenvolvimento sustentável não mais visto como modismo ou ideologia de ecologistas. Hoje em dia, essas questões são uma necessidade universal para a preservação da espécie humana na Terra (DONATO, 2008; MAGERA, 2013). Dentre tantas formas de preocupação ambiental que as empresas apresentam, estão as operações logísticas que, na atualidade, são conduzidas por regras em que as pressões ambientais, como poluição do ar, água e solo, eficiência energética dos combustíveis e minimização dos desperdícios, são fatores determinantes nas decisões de negócio (DONATO, 2008). A logística reversa e a sustentabilidade propõem um novo modo de gestão de negócios, no qual leva em consideração os impactos ambientais e sociais, além das questões econômicas. Neste sentido, as empresas que vendem tanto bens quanto serviços, possuem atividades que podem ser nocivas ao meio ambiente em que vivem. Porém, organizando essas atividades, serão observados benefícios, com melhoria significativa nos padrões de vida das comunidades (TADEU et al., 2012). Deste modo, o objetivo deste artigo é descrever o processo de gestão da logística reversa em uma estação de tratamento de esgoto na cidade de Paranavaí. A cidade em questão é uma cidade de médio porte, que possui em sua estrutura de abastecimento de água e recolhimento de esgoto uma configuração que pode muito bem ser usada como exemplo em qualquer outro lugar que possua estes mesmos sistemas. A presente pesquisa também contribui ao demonstrar a importância do tema logística reversa, ressaltando que, no mundo moderno, é essencial para a sobrevivência de empresas a adoção de uma visão de preservação e cuidados ambientais. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 ORIGEM E OBJETIVO DA LOGÍSTICA Como mostra Martins e Alt (2006), a logística tem origem militar. Ela foi desenvolvida tendo para colocar os recursos certos no local certo, na hora certa, com o único objetivo de vencer batalhas. No caso do Brasil, a logística apareceu nos anos 1970, tendo como característica principal a distribuição física, tanto interna quanto externa. Leite (2009) aponta a logística como uma das mais antigas e inerentes atividades humanas, tendo como principal missão disponibilizar bens e serviços gerados por uma sociedade, nos locais, no tempo e nas quantidades em que são necessários. Martins e Alt (2006, p. 326) definem a logística como a "responsável pelo planejamento, operação e controle de todo o fluxo de mercadorias e informação, desde a fonte fornecedora até o consumidor". Deste modo, o básico da atividade logística é atender o cliente, começando no instante em que este cliente resolve transformar um desejo em realidade. Complementando essa ideia, Bowersox e Closs (2011) afirmam que a logística integra informações, transporte, estoque, armazenamento, manuseio de materiais e embalagens. Para os autores, as funções da logística são combinadas em três áreas operacionais, sendo elas a distribuição física, apoio à manufatura e suprimento. Assim, para ter uma integração interna, é necessário coordenação dos fluxos de estoque e informações entre essas áreas. Foi a partir da década de 1990 que o desenvolvimento e a importância da logística empresarial ficaram evidentes, uma vez que a redução das tarifas de importação proporcionou maior internacionalização do país, alterando o panorama empresarial nacional. Já em 1994, com a estabilização da moeda, observou-se um grande aumento do tema no Brasil, ocorrido pelo expressivo desenvolvimento e aumento das transações empresariais em diversas cadeias industriais e agropecuárias e também pela maior participação do país no cenário internacional (LEITE, 2009). 2.2 LOGÍSTICA REVERSA E SUA IMPORTÂNCIA A nova consciência ambiental, que surgiu devido às transformações culturais durante as décadas de 1960 e 1970, ganhou dimensão e pôs o meio ambiente como um dos princípios fundamentais do homem moderno. Já em 1980, os gastos com proteção ambiental passaram a não ser mais vistos como custos por parte das empresas, mas como investimentos no futuro e como vantagem competitiva (TACHIZAWA, 2011). Ainda nos anos 1980, o tema "logística reversa" passa a ser explorado intensamente tanto no ambiente acadêmico como nos meios empresarial e público. Há, em todos os países, inúmeras publicações e estudos sobre o tema, não tratando apenas de questões ambientais ou ecológicas, mas também de questões de ordem legal, econômica, entre outras. (TADEU et al., 2012). Anteriormente a isso, conforme Tachizawa (2011), até a década de 60 prevalecia a ideia de que seriam infinitas as fontes de recursos naturais e de que o livre mercado aumentaria o bem-estar social. A natureza não era vista como fator de limitação e o meio ambiente era irrelevante para a economia. Apesar de, hoje em dia, essa convicção ser considerada absurda, percebe-se ainda a predominância desse conceito em certos segmentos da sociedade. O autor continua, dizendo que na década de 1990, o conceito de desenvolvimento sustentável consolida-se a partir da constatação de que os sistemas naturais do planeta são limitados para absorver os efeitos da produção e consumo. Isso mostra a inviabilidade de manter as políticas econômicas causadoras de danos ambientais irreversíveis, bem como a necessidade de um sistema de produção que respeite a obrigação de preservar a base ecológica do desenvolvimento econômico do país. Confirmando essas informações, Tadeu et al. (2012) mostra que essas evidências afirmam que o crescente descarte de resíduos sólidos, líquidos e de outros tipos contribuem com o aumento da degradação ambiental. Após a fabricação, manuseio e uso dos materiais, sobras, desperdícios e resíduos são gerados em suas diversas formas. Muitos desses resíduos são descartados irregularmente, sem qualquer tipo de cuidado ou tratamento. Strauch (2008), afirma que o aumento de resíduos reflete a velocidade com que os recursos da natureza são retirados sem reposição, consumindo partes deles e transformando a outra parte em sobras com características prejudiciais, superando a capacidade de absorção e reposição da natureza. Essa evolução da tecnologia e das atividades humanas é acompanhada, apesar de forma lenta, pela evolução da gestão dos resíduos gerados. São nesses fatos que se fundamenta a logística reversa. Tadeu et al. (2012, p. 14) afirma que: o conceito de logística reversa como uma das áreas da logística empresarial engloba o conceito tradicional de logística, agregando um conjunto de operações e ações ligadas, desde a redução de matérias-primas primárias até a destinação final correta de produtos, materiais e embalagens com o seu consecutivo reuso, reciclagem e/ou produção de energia. Já Donato (2008), conceitua logística reversa como a área da logística que diz respeito ao retorno de produtos, embalagens ou materiais ao seu centro produtivo. O autor afirma ainda que esse processo já ocorre há alguns anos nas indústrias de bebidas e de gás de cozinha, que reutilizam seus vasilhames, no qual o produto chega ao consumidor e a embalagem retorna ao seu centro produtivo para que possa ser reutilizada e volte ao consumidor final em um ciclo produtivo. Complementando, Donato (2008) afirma que o processo de logística reversa movimenta materiais reaproveitados que retornam ao processo tradicional de suprimento, produção e distribuição. É composta por uma série de atividades que a empresa tem que realizar para atendê-lo, como nas coletas, embalagens, separações e expedições até os locais de reprocessamento dos materiais quando necessário. O autor enfatiza também o fato de muitas pessoas confundirem o conceito de logística reversa com o de logística verde. Para ele, a logística verde é a parte da logística que se preocupa com os aspectos e impactos ambientais gerados por meio da atividade logística. Ou seja, enquanto a logística reversa se preocupa apenas com o retorno de materiais e embalagens ao processo produtivo, a logística verde tem por foco a produção sustentável durante toda a cadeia produtiva, inclusive durante o retorno dos materiais. Assim, percebe-se que o conceito e foco da logística verde é muito mais complexo e mais abrangente que o de logística reversa. Entretanto, essa pesquisa tratará exclusivamente do tema logística reversa. Também é importante apresentar a gestão da logística reversa que se divide em duas partes: logística reversa de pós-venda e logística reversa de pós-consumo. Segundo Leite (2009), os canais de distribuição reversos de pós-venda se constituem pelas diferentes formas e possibilidades de retorno de uma parcela de produtos, com pouco ou nenhum uso, que fazem seu fluxo no sentido inverso, do consumidor ao vendedor ou fabricante, do vendedor ao fabricante, entre as empresas, causados por problemas relacionados à qualidade em geral ou a processos comerciais entre as empresas, retornando ao ciclo de negócios de alguma maneira. Para Tadeu et al. (2012), os canais de distribuição reversos de pós-venda são feitos pelas diferentes modalidades de retorno de uma parcela de produtos com pouca ou nenhuma utilização à sua origem, ou seja, têm fluxo inverso do comprador, consumidor, usuário final ao atacadista, varejista ou fabricante pelo simples fato de defeitos, não conformidades ou erros de emissão de pedido. Ou seja, essa parte da logística reversa trata-se, por exemplo, do benefício da garantia dos produtos, que retornam a seu fabricante, devido a defeitos, para que possa ser reparado e então devolvido ao consumidor. No que se refere à logística reversa de pós-consumo, Leite (2009) afirma que a alta visibilidade atual da logística reversa se explica pela grande quantidade e variedade de produtos que vão para o mercado visando satisfazer seus diversos micro segmentos. São elaborados produtos com reduzidos ciclos de vida para satisfazer pessoas de diferentes sexos, idades e etnias, em diferentes localizações geográficas, com costumes distintos. Isso propicia rápida obsolescência, complexos sistemas logísticos de distribuição e controle, bem como o aumento de produtos de pós-consumo a serem retornados. Assim, o autor define que os canais de distribuição reversos de pós-consumo englobam o fluxo reverso de uma parcela de produtos e de materiais originados no descarte de produtos, após finalizada sua utilidade original, retornando ao ciclo produtivo de alguma maneira. Há, neste caso, três subsistemas reversos: os canais reversos de reuso, remanufatura e de reciclagem. Para Tadeu et al. (2012), os canais de distribuição de pós-consumo se constituem por diferentes modalidades de retorno ao ciclo produtivo de matéria-prima de uma parcela de produtos ou de seus materiais constituintes após o fim de sua vida útil. Entretanto, como afirma Strauch (2008), alguns resíduos não podem ser simplesmente reciclados ou reutilizados, nem dispostos em aterro sem tratamento. São resíduos com características que o tornam perigosos, e que devem ser gerenciados de forma a minimizar os riscos que representam e, somente quando a segurança estiver garantida, deve-se buscar o aproveitamento dos recursos materiais que oferecem. Assim, comparando as duas definições de logística reversa, percebe-se que enquanto a primeira diz respeito ao retorno dos bens ao setor produtivo devido a alguma falha, para que possa ser reparado, a segunda atenta-se ao retorno dos resíduos finais gerados após o uso dos produtos, para que sejam reutilizados ou descartados corretamente. Como o foco desse artigo é estudar sobre os resíduos finais gerados do abastecimento público de água, que retornam ao seu produtor para que possam ser tratados, reciclados e/ou descartados corretamente, trata-se de um estudo sobre logística reversa de pós-consumo. 2.3 AS POLÍTICAS NACIONAIS DE SANEAMENTO BÁSICO E DE RECURSOS HÍDRICOS Toneto Júnior, Saiani e Dourado (2014), constatam que o aumento da população, e a consequente urbanização e utilização de materiais não recicláveis no processo produtivo, tem transformado a questão do lixo urbano num dos grandes desafios atuais. Um dos problemas mais urgentes está no fato de que tanto a geração, quanto a disposição inadequada dos resíduos geram efeitos adversos sobre o meio ambiente, a saúde coletiva e a do indivíduo. Isso, por si só, já justifica a preocupação que há em torno desse assunto. Os autores destacam também que, apesar da nomenclatura, os resíduos sólidos podem ser também líquidos ou gasosos, devido ao seu conceito jurídico-legal. A definição do que são resíduos sólidos envolve diversos materiais, que podem ser sólidos, semissólido, gás e, ainda, líquido. Entretanto, não se caracteriza nessa definição o esgoto sanitário ou outro tipo de efluente que, após o tratamento, possa ser coletado na rede pública de esgotos ou lançados em corpos d'água. Todavia, conforme descreve o Instituto Ethos (2015, on line), em busca de rapidez para aprovar uma política de resíduos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos “incorpora conceitos modernos de gestão de resíduos sólidos e contempla diretrizes de leis vigentes relacionadas ao tema, como as contidas na Lei do Saneamento Básico (14.445/07)”. A Política Nacional de Saneamento Básico, em seu artigo 3º, considera como saneamento básico o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, de esgotamento sanitário, de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e de drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. A respeito do esgotamento sanitário, a lei o define como sendo constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final dos esgotos sanitários, desde a coleta, até seu lançamento final no meio ambiente (BRASIL, 2007). Além disso, a lei 9.433-97, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, em seu artigo 11 aponta a outorga de direitos de uso de recursos hídricos, dizendo que esta tem como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água (BRASIL, 1997). O artigo 12 desta lei descreve que estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos recursos hídricos, dentre os quais, segundo o inciso III, o lançamento, em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, tendo por objetivo sua diluição, transporte ou destinação final. Entretanto, o inciso IV do artigo 15 afirma que essa outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em casos de necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental. 2.4 RESOLUÇÃO SOBRE LODO DE ESGOTO A Resolução CONAMA nº 375/2006, que define critérios e procedimentos para o uso agrícola de lodos de esgoto sanitário e seus produtos derivados, define lodo de esgoto como o resíduo gerado nos processos de tratamento de esgoto sanitários. A resolução afirma também que os lodos gerados em sistemas de tratamento de esgoto deverão ser submetidos a processo de redução de patógenos (bactérias, protozoários, fungos e outros) e da atividade de vetores, para só então terem aplicação agrícola. Conforme já afirmado anteriormente, o aumento da população fez do problema do lixo uma das maiores preocupações dos dias atuais. Da mesma forma, a quantidade de lodo de esgoto gerado também acompanha esse aumento. Logo, buscar meios de tratar esse lodo e como reutilizá-lo é uma questão que merece atenção de toda sociedade e governantes. 3 MATERIAIS E MÉTODOS Este artigo é um estudo do tipo descritivo e de natureza qualitativa. Richardson (2011) afirma que as pesquisas descritivas são utilizadas quando se pretende descrever o fenômeno social estudado e que as pesquisas qualitativas não empregam instrumentos estatísticos para análise dos problemas, não tendo por finalidade numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas. A coleta de dados se deu por meio de uma entrevista não estruturada, realizada no dia 1º de outubro de 2015, com o responsável pelo processo de tratamento de esgoto, da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Paranavaí, e por observação in loco. Na entrevista, buscou-se conhecer todo o processo que envolve o tratamento de esgoto, desde a sua chegada na estação, as etapas empregadas, todos os resíduos gerados e a destinação final de cada um deles, até a produção de lodo de esgoto, foco maior desse artigo. 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS A organização em questão produz uma enorme quantidade de resíduos, que, se não tivessem a destinação final correta, trariam diversas consequências nocivas a toda a comunidade. Segundo o entrevistado, estima-se que de toda a água que é tratada e distribuída pela Estação de Tratamento de Água da Sanepar (ETA) para a cidade de Paranavaí, 80% retorna à Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) para tratamento e descarte. Depois de tratado, todo o volume de água gerado é devolvido ao meio ambiente, descartado no Rio Paranavaizinho, um pequeno riacho presente no interior da cidade. Esse processo de tratamento do esgoto, separando o lodo, a água e demais resíduos resultantes ocorre por meio de várias etapas. Primeiramente, todo o volume de esgoto que é coletado por toda a cidade chega à estação e é submetido a um pré-tratamento por meio de processos físicos, consistente por um sistema de peneiras que retiram todos os materiais em suspensão, como pedaços de madeiras, plásticos ou pedras. Nesse primeiro processo são separadas cerca de 25 a 30 toneladas de areia por mês, que são descartadas no aterro municipal, juntamente com os demais resíduos sólidos resultantes. No segundo momento, o esgoto livre desses materiais sólidos é então submetido ao tratamento biológico, que, por meio de microrganismos, decompõem as partículas orgânicas presentes, retendo cerca de 70% da carga de efluentes, dentre eles, o lodo de esgoto. Esse processo leva cerca de 8 horas para ser realizado. O lodo resultante é então retirado e posto para secar, reduzindo seu volume. Após, ele passa pelo processo de estabilização alcalina, no qual seu pH (o nível de acidez) é neutralizado. Esse procedimento leva 20 dias para se completar, uma vez que é necessário esse tempo para ocorrer a higienização do produto. Passado esse tempo, o lodo é submetido à análise laboratorial, no qual são avaliados a presença de metais, materiais orgânicos, microrganismos, vírus, potencial agronômico e fatores patogênicos. Caso os valores de cada um destes elementos estejam de acordo às legislações previstas, o material é enviado ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP), no qual é solicitado o seu uso como fertilizante agrícola. Se autorizado, ele poderá ser aplicado como fertilizantes em solos analisados pelo engenheiro agrônomo especialista, contratado pela SANEPAR. A atividade é duplamente proveitosa, pois ao mesmo tempo em que retira do ambiente toneladas de resíduos que seriam descartadas de modo incorreto, prejudicando o ambiente, há o ganho monetário resultante da venda do lodo aos agricultores da região. Conforme já descrito anteriormente, Tachizawa (2011) aponta que, atualmente, os gastos com proteção ambiental começaram a ser vistos pelas empresas não primordialmente como custos, mas como investimentos no futuro e como vantagem competitiva. Se não autorizado o uso do lodo como fertilizante agrícola, ele é também descartado no aterro municipal, juntamente com todos os outros resíduos, já que não apresenta utilidade comercial. Segundo o entrevistado, este fato já aconteceu na estação de tratamento de Loanda, pequeno município localizado no noroeste paranaense, já que as amostras analisadas continham uma elevada quantidade de metais pesados, resultante das indústrias metalúrgicas presentes na cidade, sendo esta a principal atividade econômica do local. O entrevistado destaca também sobre os demais resíduos gerados, mas que não são utilizados. Encontram-se entre eles as toneladas de areia, plásticos em suspensão, gordura, gás metano e água. Os plásticos, a areia e o lodo quando não aprovado o uso são descartados no aterro municipal, sendo que a SANEPAR paga R$ 250,00 ao município para cada tonelada de resíduo descartado no local; O gás metano é queimado, e o gás resultante é eliminado na atmosfera; a água resultante, que não pode ser reutilizada, é descartada num pequeno riacho da região. Este processo de descarte final de produtos que não podem ser reutilizados também é uma atividade de logística reversa. Conforme já mencionado, Strauch (2008) afirma a existência de resíduos que não podem ser simplesmente reciclados ou reutilizados, nem descartados em aterro sem tratamento. São resíduos perigosos que, depois de gerados, devem ser gerenciados a fim de minimizar os riscos que representam, para só então serem descartados. Ao ser debatido sobre o uso do gás metano, o entrevistado comentou que não é possível o seu aproveitamento devido à falta de estrutura presente para isso. Como exemplo contrário a essa realidade, ele cita a cidade de Foz do Iguaçu, oeste paranaense, que coleta todo o metano produzido na estação, o utilizando como fonte de energia, abastecendo toda a estação com a energia produzida, sendo totalmente autossustentável. Entretanto, apenas esta cidade em todo o Paraná realiza esse processo. Ao conversar sobre a água resultante e o seu descarte, foi afirmado que o processo atende a todos os parâmetros federais exigidos, realizando o descarte corretamente. A água produzida não pode ser utilizada para consumo humano, uma vez que o tratamento utilizado não a torna pura, somente a deixa sem riscos ambientais, a tornando apta a ser descartada no meio ambiente. Finalizando a entrevista, foi afirmado que futuramente há a expectativa de mudar a forma com a água é tratada, permitindo então que ela seja utilizada para consumo humano, como por exemplo, na lavagem de calçadas. Entretanto, este processo tem um custo dez vezes mais caro do que aquele que é atualmente utilizado, o que, no momento, torna inviável a sua criação. Essa ideia de reutilizar a água resultante para o consumo humano, de acordo com Strauch (2008), reflete a velocidade com que são retirados os recursos da natureza sem reposição, no qual parte deles é consumido e parte é transformado em sobras com características prejudiciais, superando a capacidade de absorção e reposição da natureza. O autor aponta o fato de a evolução da tecnologia acarretar, embora de forma lenta, na evolução da gestão dos resíduos gerados. Assim sendo, de acordo com a pesquisa realizada, percebe-se que, apesar de ser uma atitude devagar e que é implantada aos poucos, uma gestão de resíduos que permita a sua reutilização, não pode ser vista apenas como uma atividade complementar, mas sim, uma obrigação de qualquer empresa ou pessoa que queira continuar utilizando os escassos recursos naturais existentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste artigo foi descrever o processo de logística reversa empregado na Estação de Tratamento de Esgoto de Paranavaí, e como são gerenciados os resíduos resultantes, buscando entender como acontece todo esse processo, desde a volta do produto à estação, até sua reciclagem e descarte. Percebeu-se que a atividade de reciclar o lodo de esgoto e transformá-lo em fertilizante agrícola traz inúmeros benefícios à sociedade e ao meio ambiente, uma vez que evita que toneladas de resíduos sejam descartadas e tragam malefícios ao ambiente, além de gerar valor econômico, já que o mesmo é vendido aos agricultores, para utilizá-lo no agronegócio. Além disso, o lodo é um composto totalmente natural, sendo utilizado em substituição aos fertilizantes industriais, que podem trazer riscos ao seu consumo. Entretanto, este não é o único resíduo gerado, e todos os outros produzidos (água, areia, metano e outros) também podem, e devem ser reciclados, buscando um melhor resultado com o meio ambiente e a sociedade. O gás metano, por exemplo, altamente tóxico se liberado na atmosfera, pode ser utilizado como gerador de energia elétrica e tornar a estação de tratamento autossustentável, assim como um dos exemplos apresentados ao longo do texto. Por fim, ressaltando a importância do processo da logística reversa que foi debatida por todo o texto, demonstrou-se que dar a devida importância às questões ambientais no dia-adia empresarial é dever de todos, no qual deve ser buscado um futuro com não apenas interesses econômicos, mas também sociais e ambientais. REFERÊNCIAS BOWERSOX, Donald J; CLOSS, David J. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo: Atlas, 2011. BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de Janeiro de 1997. 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