REVISTA EAS - Volume 23 - Numero 1 - 2008
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REVISTA EAS - Volume 23 - Numero 1 - 2008
Revista Educação Agrícola Superior Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior- ABEAS - v.23, n.1,p.64-70, 2008 QUALIDADE DO LEITE PRODUZIDO POR CABRAS ALIMENTADAS COM NÍVEIS CRESCENTES DE FENO DE FLOR DE SEDA Francisco C. Fernandes Jr, Nerandi L. Camerini¹, Francisco das Chagas Estevam da Fonseca ², Genildo P. Fonseca³, José Wallace Barbosa do Nascimento4 Mestrando em Engenharia Agrícola, UFCG. E-mail: [email protected], [email protected]. ²Professor do Departamento de Agropecuária, Curso de Zootecnia da UFRN. ³Zootecnista, Economista, Extensionista da EMATER-RN –E-mail: [email protected] 4 Professor, Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola, E-mail: [email protected] RESUMO Com o objetivo de avaliar os parâmetros físico-químicos do leite produzido por cabras alimentadas com níveis crescentes de feno de flor de seda (Calotropis procera (Ait) R. Br.) em substituição ao concentrado, foi conduzido no Centro Profissionalizante em Produção Animal do Seridó o experimento utilizando-se um delineamento em quadrado latino 5 x 5, em que as linhas e as colunas constaram de 5 cabras e 5 períodos, respectivamente. Os tratamentos utilizados consistiram na utilização de cinco níveis crescentes (0, 18, 36, 54 e 72%) de feno de flor de seda, introduzidos na fração referente ao concentrado, cuja relação volumosoconcentrado era 50:50. Foram analisadas as variáveis proteína bruta (PB), gordura (G), lactose (L), pH, extrato seco total (EST), extrato seco desengordurado (ESD) e densidade (D). Para os parâmetros determinados obteve-se valores médios e erros padrão (X ± SX) de: 2,60% ± 0,05 para a proteína, 2,57% ± 0,11 para a gordura e 3,69% ± 0,06 para a lactose. Para as características determinadas os valores médios foram: 1,0285 ± 0,0003 para a densidade a 15ºC, 6,64 ± 0,02 para o pH a 25ºC, 9,67% ± 0,18 para o extrato seco total e 7,09% ± 0,13 para o extrato seco desengordurado. Não se constatou diferença significativa para nenhuma das variáveis acima, exceto para densidade. Portanto os níveis de feno de flor de seda utilizados não alteraram os parâmetros físicoquímicos do leite de cabra. Palavras-chave: Alimentação; Proteína Bruta; Densidade; Extrato Seco; Flor de Seda. INTRODUÇÃO A caprinocultura de leite é uma atividade que vem crescendo acentuadamente. Segundo Wander e Martins (2004), o rebanho efetivo mundial de caprinos em 2003 estava em torno de 768 milhões de cabeça, sendo 19%, aproximadamente, voltados para a produção de leite. Em 2005, o Brasil contabilizava nove milhões de cabeças em seu rebanho, segundo dados da FAO (2006), com uma produção diária de 85 mil litros. A região nordeste do país concentra 90% do rebanho caprino e é detentora de 26% da produção de leite, mas a sudeste se destaca com mais de 50% da produção nacional em função de melhor organização dos produtores, animais especializados, processo industrial e garantia de comercialização do leite e seus derivados. A produção de leite de cabra depende da aptidão leiteira do animal, do valor nutritivo do alimento, do nível de ingestão de matéria seca pelo animal, além de fatores ambientais e de manejo. No entanto, para melhorar o desempenho na produção de leite, torna-se necessário utilizar estratégias de alimentação durante os diferentes estágios fisiológicos dos animais (ZAMBOM, 2003). De um modo geral, o desempenho da pecuária na Região Semi-árida do Nordeste do Brasil tem sido limitado pela baixa disponibilidade de forragens, principalmente nos períodos de estiagens prolongadas, além de manejo inadequado dos animais, pouca utilização dos recursos forrageiros existentes na região, pequeno aproveitamento de forragens, nas formas de feno e silagem e o alto custo das rações. Araújo Filho e Silva (1994) reforçam que a produção de alimentos para o rebanho constitui, provavelmente, o maior desafio que enfrenta a pecuária da região, tornando a cultura de forrageiras uma atividade de alto risco, além de competir em área com a agricultura tradicional. Araújo et al. (2003) consideram que o cultivo diversificado de opções forrageiras, nativas e/ou introduzidas, anuais e/ou perenes para a produção de feno e/ou silagem, somadas a outras opções como resíduos agroindustriais, utilizados de forma planejada, principalmente no período crítico do ano, podem elevar a eficiência dos sistemas de produção pecuária e em particular da caprinocultura do semiárido nordestino. Ressalte-se que as alternativas de alimentação devem levar em conta uma participação mínima de concentrados e o máximo de ingredientes com alta possibilidade de serem produzidos ou adquiridos pelos próprios criadores, nos mais distintos sistemas de produção. O rebanho caprino na região desempenha papel de suma importância econômica, sendo esta atividade explorada por todas as camadas sociais. Em função do estreito 65 relacionamento entre o homem e esta espécie, historicamente com intuito produtivo, grande parte do rebanho pertence às populações de baixa e média renda, exercendo, dessa forma, importante papel sócio-cultural, tendo em vista a manutenção do homem no campo. Outro aspecto importante refere-se à sustentabilidade dos sistemas, que está sempre buscando meios apropriados para intensificar a produtividade com o mínimo de prejuízo para as condições ambientais, uma vez que estes interferem diretamente na capacidade de utilização dos recursos naturais da caatinga. Na busca por uma alternativa alimentar que possa suprir as necessidades do rebanho caprino durante o período de escassez de alimento, possibilitando uma melhoria na qualidade do rebanho e da produção no semi-árido do Rio Grande do Norte, objetivou-se com este trabalho avaliar as características qualitativas do leite produzido por cabras leiteiras alimentadas com níveis crescentes de feno de flor de seda, durante a lactação, avaliando o efeito de médias de feno de flor de seda sobre os parâmetros físico-químicos do leite de cabra. Figura1 - Calotropis procera REVISÃO DE LITERATURA Características botânicas da flor de seda (Calotropis procera Air. R. Br.) Na busca de plantas que suportem os rigores das regiões semi-áridas, a Calotropis procera, da família Asclepiadaceae, conhecida vulgarmente como algodão de seda, leiteiro, queimadeira, flor de seda e ciúme, tem se destacado na adaptação às áreas semi-áridas. Nesta família são incluídos 280 gêneros e 2000 espécies, sendo encontradas comumente em áreas degradadas. É uma planta conhecida desde os tempos remotos, possuindo ampla distribuição geográfica, especialmente em regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo (particularmente Ásia e África), desenvolvendo-se em solos de baixa fertilidade e locais com baixos níveis de pluviosidade (SHARMA, 1934). De acordo com Corrëa (1939), a Calotropis procera foi introduzida no Brasil, provavelmente em época desconhecida, como ornamental. Posteriormente, esta planta passou a se comportar como invasora de áreas de pastagens, devido à grande disseminação de suas sementes pelo vento, sendo encontrada nos estados da região Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, especialmente, nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, e Distrito Federal (FERREIRA, 1973; FERREIRA e GOMES 1974/76). Oliveira (2002) afirma que a Calotropis procera (Figura 1) desenvolve-se bem nas mais diversas regiões do planeta, onde a precipitação anual varia de 150 a 1000 mm e, algumas vezes, é encontrada crescendo em solos excessivamente drenados, com precipitação superior a 2000 mm. Em relação às características botânicas da Calotropis procera, a planta pode atingir de 2,5 a 6,0 metros de altura, possuindo uma ou poucas hastes e poucos galhos. A casca é corticiforme, sulcada, de coloração cinza, apresentando abundante fluxo de seiva branca (látex), que pode ser observado sempre que o caule e as folhas são cortados (FRANCIS, s.d). Segundo Little et al. (1974), o florescimento e a frutificação ocorrem durante o ano todo, onde centenas a milhares de sementes podem ser produzidas por planta a cada ano. As sementes são disseminadas pelo vento, podendo alcançar vários quilômetros. Composição química da flor de seda Quanto à composição química da Calotropis procera, Abbas et al. (1992) observou que a planta é um arbusto sempre verde e abundante nas regiões áridas do Sudão e que a análise bromatológica das folhas da planta apresentaram os seguintes resultados: 94,62% de matéria seca (MS) e 19,46% de proteína bruta (PB). Vaz et al. (1998) verificaram ao determinar a composição química dos fenos de Calotropis procera, valores de 29,55% de FDN, 21,03% de FDA, 8,54% de hemicelulose, 11,13% de celulose e 21,23% de PB. Já Oliveira (2002) encontrou um percentual de 14,30; 14,00; 31,53 e 18,24% respectivamente para PB, Matéria Mineral (MM), FDN e FDA. Andrade (2005), estudando os aspectos fenológicos, produtivos e qualitativos da flor de seda, relatou, com base nos resultados da composição química determinada para a flor de seda aos 60 dias de rebrota, que os sistemas de manejo do solo e as densidades de plantio não influenciaram a matéria orgânica, MM, FDN, extrato etéreo, lignina, celulose, carboidratos não fibrosos e carboidratos totais. A densidade de plantio afetou os teores de MS, hemicelulose e FDA. Os teores de PB foram influenciados pelo sistema de manejo do solo e que a produção de MS/ha da flor de seda decresceu quando se utilizou uma menor densidade de plantio. Utilização da flor de seda (Calotropis procera) na alimentação animal Ainda são poucos os estudos direcionados para o cultivo da flor de seda como forrageira; no entanto, alguns trabalhos na literatura demonstram viabilidade, a exemplo de Fall (1991), Revista Educação Agrícola Superior - v.23, n.1,p.64-70, 2008 66 que na busca de novas espécies forrageiras disponíveis em pastagens naturais do Senegal, desenvolveu trabalho para testar a digestibilidade in vitro e a degradabilidade in situ. As folhas de Calotropis procera apresentaram 72 e 68% de digestibilidade na MS e matéria orgânica, respectivamente. Estudando a digestibilidade da Brachiaria decumbens tratada com hidróxido de sódio, amônia anidra, ou em associação com o feno de Calotropis procera, Moreira et al (1996) não observaram diferença significativa para o uso dessa forragem e o hidróxido de sódio, além de constatar que esta pode ser consumida por caprinos, promovendo aumento na digestibilidade da PB e retenção de nitrogênio, sem prejuízo da matéria orgânica. Estes mesmos resultados foram observados por Vaz et al. (1998) que, avaliando a digestibilidade dos componentes de dietas contendo folhas de Calotropis procera nos níveis de 0; 20; 40; e 60% em substituição ao feno de Coastcross, observaram aumento nos coeficientes de digestibilidade de todos os nutrientes para os referidos tratamentos com inclusão do feno de Calotropis procera, além de proporcionar melhor ingestão e maior retenção de nitrogênio. Nesse contexto, avaliando os resultados de pesquisas efetuadas por diversas instituições, observa-se que a flor de seda (Calotropis procera) pode ser considerada como um recurso forrageiro de boa qualidade e que pode ser cultivada de forma sistemática, para essa finalidade, se tornando uma alternativa alimentar na produção de pequenos ruminantes, principalmente em áreas de pequenos agricultores, ou seja, agricultura familiar. RAÇA Alpina Americana (RIBEIRO, 1997): A alpina americana é uma raça especializada na produção de leite, muito apreciada nos Estados Unidos e Canadá, de onde foram feitas algumas importações por criadores brasileiros. Sua cabeça é média, triangular e alongada, com a testa bem proporcionada e ligeiramente escavada; o perfil é subcôncavo e as orelhas pequenas ou médias e eretas. Os animais podem apresentar chifres ou não. Sua pele é solta, macia e flexível, com a coloração de acordo com a pelagem; suas mucosas são escuras. Sua pelagem é policromada, apresentando diversas combinações de cores, como branco com negro, passando por tonalidade creme e parda amarelada, até o pardo avermelhado. Toggenburg (RIBEIRO, 1997): A toggenburg também é uma raça especializada na produção de leite e originária da Suíça, com animais um pouco menores que os da raça alpina e saanen e relativamente menos produtivos, com presença ou não de barba, chifres e brincos. No Brasil, existem linhagens inglesas e, mais recentemente, canadenses, com produções leiteiras bastantes expressivas. Sua cabeça é média, cônica e alongada, com a fronte larga, notadamente nos machos. A pelagem é acinzentada, variando do claro ao escuro, com duas faixas brancas (contínuas nas fêmeas) que, partindo da orelha e passando próximo aos olhos, vão terminar ao lado da boca. A ponta do focinho e as bordas da orelha também são brancas, assim como a parte distal dos membros, sendo que, na face interna, esta mancha continua até a inserção com o tronco. Apresenta um triângulo branco na inserção da cauda. Os animais suíços possuem pêlos longos e os ingleses e canadenses, pêlos curtos, sendo estes últimos mais apreciados pelos criadores brasileiros e certamente mais adequados ao nosso clima. As orelhas são pequenas ou médias, levantadas e dirigidas para frente. A pele é solta, flexível, macia, clara e acinzentada, e as mucosas, escuras. Existem algumas linhagens que apresentam coloração creme onde normalmente seriam brancas, como as listras da face e membros. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O LEITE CAPRINO O leite é considerado um dos alimentos mais completos por apresentar vários elementos importantes para a nutrição humana como matérias orgânicas e nitrogenadas, caseína e albumina, necessárias à constituição dos tecidos e sangue, sais minerais para a formação do esqueleto e ainda, vitaminas, certas diástases e fermentos láticos, estes últimos muito favoráveis à digestão e que defendem o intestino da ação nociva de muitas bactérias patogênicas (MESQUITA et al., 2004). A excelente qualidade nutricional do leite de cabra está representada pela sua composição química, constituída de proteínas de alto valor biológico e ácidos graxos essenciais, ressaltando-se também o seu conteúdo mineral (QUEIROGA e COSTA, 2004). Segundo Haenlein (2004), o leite de cabra, possui características próprias, como: alta digestibilidade, alcalinidade distinta e maior capacidade tamponante. A maior digestibilidade do leite caprino deve-se ao percentual mais elevado de ácidos graxos de cadeia curta e média, facilitando a digestibilidade e favorecendo o esvaziamento gástrico e, em conseqüência, reduzindo o aparecimento de refluxo gastroesofágico. Da mesma forma, Fisberg et al. (1999) em seu trabalho relatam a importância digestiva do leite de cabra, assim como também as suas características dietéticas e terapêuticas. O leite de cabra tem sido bastante utilizado como alternativa para alimentação de crianças e adultos sensíveis ou alérgicas ao leite de vaca. Isto se deve às diferenças existentes entre a estrutura dos aminoácidos das proteínas do leite das duas espécies (BUENO, 2005). Pesquisadores de várias partes do mundo têm estudado a composição do leite de cabra, entretanto, pouco se sabe a respeito da sua composição em regiões tropicais e menos ainda nas suas microrregiões, sobretudo a influência dos múltiplos fatores como raça, mestiçagem, fatores ambientais e período de lactação sobre a qualidade do leite produzido (QUEIROGA et al, 2003). A composição bioquímica e as propriedades do leite podem apresentar variabilidade tecnológica ocasionadas por fatores genéticos, fisiológicos e ambientais. Dentre estes, a alimentação tem sido um fator preponderante na manipulação dos componentes do leite (MESQUITA et al., 2004). As características do leite de cabra, tanto do ponto de vista nutricional quanto social são inestimáveis, especialmente nas regiões semi-áridas do Nordeste. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no setor de Caprinocultura do Centro Profissionalizante em Produção Animal do Seridó, pertencente à Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte – EMPARN, localizado no município de Cruzeta-RN, no período de dezembro de 2005 a fevereiro de 2006. Revista Educação Agrícola Superior - v.23, n.1,p.64-70, 2008 67 Localização, animais e instalações experimentais O município apresenta clima, segundo classificação de Köeppen BShw', semi-árido com curta estação chuvosa no verão-outono, com concentração das chuvas nos meses de março e abril (ARAÚJO FILHO, 2004). Está localizado a 6° 26' longitude Sul e 36° 35' longitude Oeste, apresenta temperatura média anual de 27,5 °C, umidade relativa do ar em torno de 64% (média anual) e pluviosidade média anual de 578,4 mm (Chuvas: Março e Abril), dados proveniente da estação climatológica da base. Foram utilizadas cinco cabras de aptidão leiteira, sendo quatro da raça Alpina Americana e uma Toggenburg, multíparas, com média de 46 kg de peso vivo. Os animais foram mantidos em regime de confinamento, em um galpão coberto com baias individuais, nas dimensões de 1,5 x 3m, providas de comedouro e bebedouro, conforme a Ilustração 5. Período experimenta O experimento teve duração de 65 dias, sendo composto de cinco períodos de 13 dias. Os primeiros 10 dias de cada período foram utilizados para adaptação dos animais às dietas experimentais e os três dias seguintes destinados à coleta de amostras do leite, sendo as mesmas feitas em dias intercalados (11º e 13º dia). Todos os ingredientes das rações experimentais, foram submetidos a análise bromatológica no Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e os resultados obtidos encontram-se em anexo. As dietas foram formuladas para serem isoprotéicas (12% de proteína bruta), balanceadas para atender as exigências de mantença e lactação, de acordo com o National Research Council (1981), fornecidas duas vezes ao dia, às 7h e às 16h, logo após a ordenha, e ajustadas de forma a manter sobras em torno de 20% do fornecido, com disponibilidade irrestrita de água para os animais. Os tratamentos utilizados foram: Tratamento 1 (T1): 38,42% feno de tifton + 61,58% de concentrado; Tratamento 2 (T2): 38,90% feno de tifton + 8,86% de feno de flor de seda + 52,24% de concentrado (15,17% de substituição); Tratamento 3 (T3): 38,80% feno de tifton + 18,17% de feno de flor de seda + 43,03% de concentrado (30,12% de substituição); Tratamento 4 (T4): 38,80% feno de tifton + 27,01% de feno de flor de seda + 34,19% de concentrado (44,48% de substituição); Tratamento 5 (T5): 39,19% feno de tifton + 36,21% de feno de flor de seda + 24,60% de concentrado (60,05% de substituição). Tratamentos Os tratamentos consistiram de dietas contendo feno de capim tifton para todos os tratamentos e feno de flor de seda em substituição ao concentrado para quatro dos tratamentos. A flor de seda utilizada para a confecção do feno foi de origem cultivada, com 90 dias de rebrota, como também de ocorrência natural. Colhidas, as plantas foram trituradas em máquina forrageira e em seguida expostas ao sol, em secador solar para o processo de fenação. Após a fenação, todo material foi moído em um DMP (desintegrador, moedor e picador) para, em seguida, ser misturado aos outros ingredientes (Milho grão, Farelo de soja, Farelo de algodão, Farelo de Trigo e Sal mineral) das rações experimentais (Tabela 1). A produção individual de leite de cada animal foi acompanhada mediante pesagem após cada ordenha. Durante todo o período experimental, as amostras de leite foram coletadas, congeladas e armazenadas em recipiente plástico esterilizado, contendo aproximadamente 300 mL. Para compor a amostra foi coletado pela manhã e pela tarde um volume que correspondia a 20% do total produzido em cada ordenha, homogeneizado e acondicionado no mesmo frasco, por animal, por dia de coleta. Tabela 1 – Composição das dietas experimentais, com base na matéria seca Componentes Ingredientes T1 T3 T4 T5 ----------------------------------(%)------------------------------------ Feno de tifton Feno de Flor de seda Milho grão Farelo de soja Farelo de algodão Farelo de Trigo Sal mineral Composição química T2 38,42 0,00 48,64 4,86 3,89 2,43 1,76 38,90 8,86 40,62 4,92 2,46 2,46 1,78 38,80 18,17 33,40 3,93 2,46 1,47 1,77 38,80 27,01 26,03 2,46 2,46 1,47 1,77 39,19 36,21 17,36 2,48 1,49 1,49 1,78 -----------------------------------(%)----------------------------------- Proteína bruta Nutrientes digestíveis totais Cálcio Fósforo Fibra detergente neutro Extrato etéreo Matéria mineral Carboidratos não fibrosos 12,65 68,65 0,67 0,43 36,80 2,75 2,68 45,11 12,62 66,75 0,76 0,42 39,20 2,58 3,78 5,29 12,63 64,87 0,84 0,42 41,66 2,45 4,94 8,34 12,51 62,96 0,92 0,42 44,05 2,34 6,09 11,36 12,65 61,02 1,10 1,45 46,52 2,17 8,07 30,59 Revista Educação Agrícola Superior - v.23, n.1,p.64-70, 2008 68 MÉTODOS Extrato Seco Total Análises físico-químicas As amostras de leite de cabra foram submetidas a análises de proteína bruta (PB), gordura (G), lactose (L), densidade (D), pH, extrato seco total (EST) e extrato seco desengordurado (ESD). Todas as análises físico-químicas foram realizadas no Laboratório de Qualidade dos Alimentos do Colégio Agrícola Viana Negreiros (CAVN) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em triplicatas, de acordo com a metodologia descrita a seguir. O extrato seco total (EST) compreende todos os componentes do leite, menos a água, e representa em média 12 a 13,5% do leite. Foi determinado por Gravimetria, onde a amostra a ser analisada é submetida à evaporação a 105°C até peso constante (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 1985). Extrato Seco desengordurado O extrato seco desengordurado (ESD) é estimado pela diferença entre extrato seco total e a porcentagem de gordura. %ESD = %EST - %G Proteína Bruta A análise de proteína bruta consiste na dosagem total do nitrogênio pelo método Kjeldhal (micro), em porcentagem da matéria seca, multiplicando pelo fator 6,38 (AOAC, 1998). Gordura Para análise da gordura utilizou-se o método volumétrico de Gerber (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 1985), que tem como principio a destruição do material não gorduroso do leite, pelo emprego do ácido mineral forte, que neste caso foi o ácido sulfúrico. O procedimento consiste em colocar no butirômetro, 10ml do ácido sulfúrico, adicionar a amostra em questão (11ml de leite) sobre o ácido vagarosamente. Adicionar 1ml de álcool amílico, limpar o gargalo com papel absorvente e colocar a rolha. Fechar o butirômetro enrolá-lo na toalha e agitar vigorosamente até dissolução da amostra. Centrifugar por 5 minutos. E fazer imediatamente, a leitura da porcentagem de gordura na escala do butirômetro. Lactose Lactose (L) utilizou-se o método de redução de FEHLING (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 1985). Densidade 3.4.2 Análises estatísticas O delineamento experimental utilizado foi um Quadrado Latino 5x5. De forma que, cada animal passou por todos os tratamentos, ocorrendo rodízio entre os cinco animais e os cinco tratamentos a cada 13 dias. As análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa SAS – Statistic Analysis System (SAS, 1999), e os resultados foram interpretados estatisticamente por meio de análise de variância e as médias comparadas através do teste de Tukey, adotando-se o nível de 5% de significância. RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme Zambom (2003) a qualidade do leite está relacionada com o tipo e a qualidade das dietas que os animais consomem, não havendo grandes variações durante o estádio de lactação. Nessa pesquisa observou-se que não houve diferença significativa para gordura, proteína e lactose do leite dos animais avaliados. Os tratamentos com feno de flor de seda em substituição ao concentrado, nesse trabalho, não influenciaram a composição do leite. Pode-se inferir que a substituição do feno de flor de seda pelo concentrado ate a ordem de 36% não altera a composição do leite de cabra. Caracterização físico-química dos leites de cabra Para a determinação da densidade usa-se o termolactodensímetro, que nada mais é que um densímetro próprio para leite. Este contém duas escalas: uma para a densidade e outra para temperatura. A escala para densidade varia geralmente de 1.015 a 1.045 e para facilidade de construção são registrados apenas os dois últimos algarismos (15 a 45). Desta forma, quando se faz a leitura da densidade deve-se acrescentar 1,0 à esquerda dos dois algarismos lidos diretamente na haste do termo-lactodensímetro. Assim, quando se lê na escala, 27, significa que a densidade é 1,027. O procedimento consiste em transferir para a proveta a amostra previamente homogeneizada, deixando o leite escorrer lentamente pelas paredes do cilindro sem formar espuma. Mergulhar o densímetro lentamente na amostra, até sentir resistência, deixar flutuar livremente. Esperar o tempo suficiente para a estabilização do densímetro e da temperatura. Fazer a leitura no menisco, na superfície livre do liquido. pH O pH foi mensurado pela medida direta do potenciômetro digital. A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos para o leite de cabra nos tratamentos com feno de flor de seda. O teor médio de gordura do leite das cabras alimentadas com os tratamentos foi 2,57% ± 0,11 (X ± SX). As porcentagens médias de proteína bruta e de lactose foram 2,60% ± 0,05 e 3,69% ± 0,06, respectivamente. Tais valores estão aquém dos valores relatados por Prata et al. (1998), que trabalharam com três grupos de animais predominantemente da raça Saanen, sendo esses grupos criados e alimentados de maneiras diferentes, que registraram valores para gordura e proteína bruta de 3,74 e 3,27%, respectivamente. Assim como os valores relatados por Zambom (2003), que trabalhando com cabras da raça Saanen alimentadas com Feno de Aveia, Milho, Farelo de soja, Óleo vegetal, Fosfato Bicálcico, Calcário e Suplemento Mineral, registrou valores para gordura, proteína e lactose de 3,52, 2,91 e 4,53%, respectivamente. MBA et al (1975), na Nigéria, trabalharam também com animais da raça Saanen alimentados com pastagem de capim estrela gigantesca (Cynodon) “ad libitum” e 1 kg de concentrado/cada litro de leite, registraram 3,4% para a proteína, 3,34% para a gordura e 4,56% para a lactose. Na literatura, poucos são os dados com os quais esses resultados podem ser comparados Revista Educação Agrícola Superior - v.23, n.1,p.64-70, 2008 69 Tabela 2 - Composição físico-química do leite produzido por cabras, alimentadas com feno de flor de seda: comparação de médias das variáveis Tratamento 1 2 3 4 5 Média PB 2,634a* 2,654a 2,660a 2,566a 2,508a 2,604 G 2,402a 2,556a 2,578a 2,550a 2,772a 2,571 L 3,760a 3,706a 3,808a 3,630a 3,584a 3,697 Parâmetros D 1,02932ª 1,02908ª 1,02880ª 1,02828a b 1,02724b 1,028544 pH 6,656a 6,648a 6,648a 6,674a 6,606a 6,6464 EST 9,530a 9,724a 9,804a 9,598a 9,708a 9,6728 ESD 7,126a 7,164a 7,224a 7,044a 6,934a 7,0984 (*) Médias, em um mesmo parâmetro, seguidas de letras iguais não diferem, entre si, pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de significância. O teor médio de gordura do leite das cabras alimentadas com os tratamentos foi 2,57% ± 0,11 (X ± SX). As porcentagens médias de proteína bruta e de lactose foram 2,60% ± 0,05 e 3,69% ± 0,06, respectivamente. Tais valores estão aquém dos valores relatados por Prata et al. (1998), que trabalharam com três grupos de animais predominantemente da raça Saanen, sendo esses grupos criados e alimentados de maneiras diferentes, que registraram valores para gordura e proteína bruta de 3,74 e 3,27%, respectivamente. Assim como os valores relatados por Zambom (2003), que trabalhando com cabras da raça Saanen alimentadas com Feno de Aveia, Milho, Farelo de soja, Óleo vegetal, Fosfato Bicálcico, Calcário e Suplemento Mineral, registrou valores para gordura, proteína e lactose de 3,52, 2,91 e 4,53%, respectivamente. MBA et al (1975), na Nigéria, trabalharam também com animais da raça Saanen alimentados com pastagem de capim estrela gigantesca (Cynodon) “ad libitum” e 1 kg de concentrado/cada litro de leite, registraram 3,4% para a proteína, 3,34% para a gordura e 4,56% para a lactose. Na literatura, poucos são os dados com os quais esses resultados podem ser comparados. Os resultados de Middleton e Fitz-Gerald, citados por Prata et al. (1998) refletem a situação de rebanhos Australianos para essa mesma raça. Mostram teores de: 3,20% (2,4 – 4,2) para a gordura, 8,22% (7,9 – 9,1) para sólidos desengordurados e 11,44% (10,7 – 13,1) para sólidos totais. De Chang e Kim, citados por Prata et al. (1998), na Coréia, têm-se os dados de: 3,65% (3,09 – 4,36) para proteína, 3,27% (2,3 – 4,7) para gordura, 3,91% (3,79 – 4,0) para lactose e 11,61% (10,12 – 13,6) para sólidos totais. Brasil et al. (2000) avaliando os efeitos do estresse térmico sobre a produção e a composição química do leite de cabras alpinas verificaram que os animais estressados produziram menos leite, com menores teores de gordura, proteína, lactose e sólidos totais. Podendo ser uma das prováveis respostas aos valores baixos para a composição química do leite encontrado nesta pesquisa (Tabela 2). As características físico-químicas são importantes na avaliação da idoneidade e integridade do leite. Todos os resultados dessas características foram submetidos a analises estatísticas, não sendo observadas diferenças para os parâmetros citados, exceto para a densidade (Tabela 2). A média para o valor de pH a 25ºC foi de 6,646 ± 0,02. O extrato seco total com média 9,67% ± 0,18. O extrato seco desengordurado com média de 7,098% ± 0,13. O valor do pH, 6,65, aqui obtido está de acordo com o relatado por Prata et al (1998). Porém os valores do extrato seco total e do extrato seco desengordurado são inferiores, 12,45% para o extrato seco total e 8,90% para o extrato seco desengordurado. A densidade apresentou média de 1,0285 ± 0,0003. A densidade comportou-se de forma inversamente proporcional à quantidade de feno de flor de seda, apresentando a seguinte equação: DENSIDADE = 1,02954 – 0,00002756 TRATAMENTO. A variação da densidade obtida está de acordo com a apresentada por Prata et al (1998) de 1,0282 a 1,0355 com média de 1,0324. A análise de variância revelou efeito significativo entre tratamentos para a densidade, mostrando que os tratamentos de um a quatro não diferiram entre si, assim como os tratamentos quatro e cinco, porém houve diferença significativa entre os tratamentos de um a três e o tratamento cinco, pelo teste de Tukey com 5% de significância (Tabela 2). CONCLUSÃO Os resultados alcançados neste trabalho levam a concluir que: · Os tratamentos com flor de seda não influenciaram na composição do leite produzido, exceto para a densidade. REFERÊNCIAS ABBAS, B., EL-TAYEB., SULLEIMAN, Y.R., 1992. Calotropis procera: feed potencial for arid zones. Veterinary-record. V. 131, n.6, p. 132. 1992. ARAÚJO FILHO, J. A.; SILVA, N.L. Alternativas para o aumento da produção de forragem na caatinga. In: SIMPÓSIO NORDESTINO DE ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES, 5., 1994, Salvador. Anais... 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