Ataques de pânico

Transcrição

Ataques de pânico
Publicado no Jornal Cidade Viva em Maio de 2007
ATAQUES DE PÂNICO
Os ataques de pânico vão, hoje em dia, surgindo com muita frequência em toda a população e
constituem um dos sintomas mais frequentes nos pacientes que recorrem a apoio
psicoterapêutico.
Independentemente da personalidade ou da história pessoal de cada um, o ataque de pânico é
descrito como algo que surge repentinamente, por isso sem razão aparente, facto que favorece
o medo perante o fenómeno. Enquanto sensações como o calor, as dificuldades respiratórias,
os suores frios, a taquicardia, os tremores, as náuseas ou as tonturas invadem o corpo, a falta
de controlo sobre o que se sente traduz-se num pânico de proporções usualmente
avassaladoras.
Perante tais sensações, dá-se a tentativa de colocar no que se sente algum sentido lógico e
racional, pelo que na altura apenas parece que se está a morrer ou que se vai, no mínimo,
desmaiar.
Um dos factos mais importantes a ter em conta é de que os ataques de pânico ou qualquer
outro distúrbio são sintomas que chamam por ajuda e que derivam de algo que, em termos do
desenvolvimento e principalmente ao nível emocional, ficou prejudicado. Torna-se, então,
relevante a procura de um técnico especializado que possa servir de veículo de compreensão
do sofrimento que aparece quase como que oculto perante a intensidade do sintoma.
Não deixa de ser curioso que seja a ideia de morte a que pareça mais racional no momento do
ataque, isto tendo em conta factores inconscientes que se relacionam com esta sintomatologia.
Algo que é muito comum nos indivíduos com sintomatologia de pânico é a sensação de
desamparo, vivida e sentida frequentemente numa fase muito precoce da sua vida. Na
verdade, as teorias psicodinâmicas apontam como explicação as experiências infantis
importantes ou mesmo fundamentais para a criança, onde não lhe foi dado o suporte funcional
ou emocional suficientemente necessário à sensação de segurança, à certeza da
disponibilidade dos outros para si e à capacidade de compreender os seus sentimentos nesses
momentos, ou seja, à descodificação emocional. Como todos sabemos, enquanto se cresce não
conseguimos enfrentar tudo sozinhos, pelo que a certeza de que alguém estará lá para nos
ajudar, acudir, amparar, proteger, ensinar, ouvir acalma-nos, sossega o medo do vazio, traz a
segurança de que alguém existe para nós e que tal sentimento é recíproco e inquebrável. Daí,
quando tal falha básica se faz sentir, parecer que se vai morrer de desamparo, que não se vai
conseguir sobreviver sozinho.
E porque surge o ataque de pânico mais tarde, tantas vezes na fase adulta? A sensação de
desamparo fica como que gravada a um nível inconsciente e é reactivada em circunstâncias ou
contextos onde o suporte de alguém volte a ser importante, tais como locais caóticos e
repletos de pessoas estranhas, situações absolutamente novas, desconhecidas ou imprevistas,
momentos de uma solidão e de um silêncio profundos, ou simplesmente quando o que se
sente seja tão intenso que não se consigam encontrar palavras para nomear os sentimentos.
Mas, é isso que os ataques de pânico são: sentimentos ou memórias de sentimentos que não se
reconhecem, não se conseguem pensar e objectivar, e que então apenas se conseguem analisar
na sua repercussão no corpo.
Se tal também lhe acontece, tente no momento centrar-se nesta ideia e procurar na situação o
que o fez sentir ou assustado, ou triste ou zangado, pois isso acalmá-lo-á, e procure ajuda
especializada pois esta é uma problemática de resolução rápida e eficaz mas que, não sendo
tratada, tornar-se-á progressivamente incapacitante.
Paula Barbosa
Psicóloga Clínica
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