2ª GUERRA MUNDIAL

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2ª GUERRA MUNDIAL
2ª GUERRA MUNDIAL
Novos estudos feitos por um historiador norte americano, revelam
que os Estados Unidos teriam cogitado que as forças militares brasileiras,
então em combate na Italia, ocupassem a Austria depois do fim da 2ª Guerra
Mundial.
Frank McCann, da Universidade de New Hampshire, revela que o
Brasil recusou gestões dos EUA para participar da ocupação aliada da Áustria
após a 2ª Guerra (1939-1945). A sugestão, rejeitada por motivos ainda hoje
não esclarecidos, poderia, se aceita, ter modificado substancialmente o papel
brasileiro nas relações internacionais no pós-guerra e facilitado o caminho para
o País obter a almejada cadeira permanente no Conselho de Segurança da
ONU, acredita o professor.
Ele vai comentar suas pesquisas sobre o assunto no I Seminário de
Estudos sobre a Força Expedicionária Brasileira (FEB), dia 15, no Instituto de
Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCSUFRJ). “O general (Mark) Clark (comandante aliado na Itália) foi mandado para
a Áustria como chefe de ocupação e, conhecendo os brasileiros, pensou que
seria interessante tê-los”, revela o historiador, autor de Soldados da Pátria História do Exército Brasileiro 1889-1937 (Companhia das Letras). “Mas, sem
documentos, não posso dizer por que o Brasil não entrou nisso. Não sei até que
nível o governo brasileiro foi consultado.”
O historiador ainda procura pelos relatórios anuais de atividades do
Exército de 1945 e 1946, nos quais espera achar pistas do motivo da recusa.
Os volumes são os únicos que não estavam nem na Biblioteca do Exército, nem
em seu Arquivo, nem em seu comando, em Brasília.
McCann conta que, no imediato pós-guerra, os americanos
desmobilizaram rapidamente suas tropas na Europa. Para a ocupação, seria
necessário recrutar mais gente, por meio de convocação de cidadãos dos EUA.
Os militares que combateram não foram os mesmos que depois ocuparam o
território europeu.
Nesse panorama, o comando aliado lembrou que, dos 25 mil
pracinhas enviados pelo Brasil à Itália, 10 mil, por falta de tempo para receber
o treinamento, não entraram em combate - tinham passado o tempo no ciclo
de instrução preparatória. No fim do confronto, foram consideradas tropas
“descansadas”, logo, prontas para participar da ocupação.
“Durante a guerra, uma divisão não era grande coisa, mas, como
os EUA se desmobilizaram muito rapidamente, uma divisão brasileira na
Europa após a guerra teria sido, sim, grande coisa, de fato”, diz ele. A Áustria
teve importância central no conflito. Remanescente do Sacro Império Romano
Germânico e do Império Austro-Húngaro sob a Dinastia Habsburgo, além de
terra natal do ditador nazista Adolf Hitler, o país foi anexado pelos alemães em
1938, como parte da tentativa de construir a “Grande Alemanha” sob o 3.°
Reich.
Após a 2ª Guerra, foi dividida entre EUA, Grã-Bretanha e URSS, que
permitiram que os austríacos formassem um governo provisório. Os aliados
estabeleceram que o país seria separado da Alemanha e não poderia aderir a
tratados militares, o que a levou à neutralidade na Guerra Fria. Em 1955, sua
ocupação foi suspensa.
O pesquisador relata ainda que o diplomata Vasco Leitão da Cunha
ouviu, em Roma, que o general britânico Harold Alexander teria dito: “O
brasileiro é um belo soldado. Lamento saber que eles querem voltar para casa
e não ir para a Áustria.” Leitão da Cunha, relata, telegrafou para o Itamaraty
dizendo que “o Brasil tinha de ficar”, ouvindo como resposta: “Isso é cavação
deles para ganhar ouro.” O Brasil temeria pagar despesas da ocupação.
McCann diz ainda que o comandante do 4º Corpo do 5º Exército
dos EUA, do qual a FEB era parte, general Willis Crittenberger, consultou o
então coronel Castello Branco (que, em 1964, seria o primeiro presidente do
regime militar) sobre a possibilidade de o Brasil participar da ocupação da
Itália, em 10 de maio de 1945 - pouco depois do Dia da Vitória, quando a
Alemanha se rendeu. “Castello disse algo sobre o Brasil não participar do
conselho aliado para governar a Itália, então não deveria ter tropas
envolvidas”, diz. “Acho que, se o Brasil tivesse participado da ocupação, teria
ganho o assento no novo Conselho de Segurança e no pós-guerra teria tido um
status muito, muito maior.”
ENCONTRO:
O I Seminário de Estudos sobre a FEB será promovido pelos
Programas de Pós-Graduação em História Social das universidades federais do
Rio de Janeiro e de Londrina e terá dez sessões temáticas.
Além de McCann, participarão do encontro os pesquisadores Celso
Castro, da Fundação Getúlio Vargas, José Murilo de Carvalho, da UFRJ, e Vagner
Camilo, da Universidade Federal Fluminense, entre outros. O evento será no
IFCS/UFRJ,no Largo de São Francisco, 1, no Centro do Rio.
EUA temiam invasão nazista no Brasil:
Analista diz que bases instaladas no território brasileiro tiveram
importância fundamental na 2ª Guerra Mundial
Para o pesquisador americano Frank McCann, a contribuição feita
pelo Brasil ao esforço aliado durante a 2ª Guerra Mundial foi maior do que se
imagina. As bases americanas instaladas em território brasileiro, afirma, foram
fundamentais para os aliados na África, na ex-União Soviética e até na China
durante o conflito, que poderia ter tido outra história se elas não existissem.
McCann lembra ainda que os Estados Unidos chegaram a temer
que, assegurado o norte africano, os alemães atravessassem o Atlântico para
invadir o Brasil, com apoio de revoltas das comunidades germânicas e italianas
do Sul do país.
O pesquisador também relata que ocorreu, na 2ª Guerra, um
choque de culturas, no qual os norte-americanos tiveram uma visão negativa
dos brasileiros por causa da falta de condições de saúde dos soldados do
Brasil.
Segundo ele, após o fim da Guerra Fria, e desde que foi superada a
tensão que precedeu o rompimento, em 1977, do acordo militar de 1952, há
mais respeito mútuo entre os dois países. “Havia alguma suspeita entre oficiais
brasileiros de que os americanos estavam interessados demais na Amazônia”,
disse McCann. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por ele
ao Estado:
- O senhor diz que o Brasil na 2ª Guerra foi um dos primeiros
exemplos do uso de civis em projetos militares. Como isso ocorreu?
R: Eu estava me referindo à construção das bases aéreas. Os
militares americanos não poderiam fazê-lo, então foram à Pan American
Airways, cuja subsidiária Pan Air do Brasil foi encarregada de obter as terras, os
trabalhadores, e organizar as construção. O contrato da Pan Am com o Exército
dos EUA estabelecia que construiria bases de Miami a Natal e então, através da
África, de Dacar à Somália.
- Quando a Europa estava sob domínio alemão, e os japoneses
dominavam o Pacífico, essa rede abasteceu os britânicos no Norte da África, a
União Soviética e até o crucial teatro da China, Burma e Índia. Sem as bases
brasileiras, a Segunda Guerra Mundial teria tido uma história diferente.
Qual foi o peso que teve, para a entrada do Brasil na guerra, a Operação Pote
de Ouro, invasão planejada do Nordeste por 100 mil americanos para garantir a
área para as operações dos EUA?
R: Não acredito que tenha tido alguma influência na tomada de
decisão. Franklin Delano Roosevelt e o Exército americano não desejavam
combater brasileiros. Em vez disso, temiam que a Alemanha, após assegurar o
norte da África, lançasse um ataque no Nordeste brasileiro e que as
comunidades alemãs e italianas no Sul se revoltassem em apoio ao esforço
alemão. A vitória alemã contra a França e o ataque aéreo à Grã-Bretanha
assustaram todo mundo.
- Houve um choque de culturas entre brasileiros e americanos na 2ª
Guerra?
R: O Brasil deu aos americanos uma visão negativa do País.
Grandes recursos, maravilhosa hospitalidade, mas uma população doente.
Embora o intenso treinamento tenha irritado alguns oficiais brasileiros, não era
diferente daquele aos quais os soldados americanos eram submetidos. A regra
era simples, soldados subtreinados poderiam logo ser mortos. Minha impressão
é que oficiais como Castello Branco logo entenderam que o contínuo
treinamento era necessário.
- Por que a FEB teve apenas 25 mil homens? O que faltou?
Dinheiro?
R: Não, foi simplesmente uma questão de não ter homens jovens
saudáveis em número suficiente. Um dos problemas foi que o processo
decisório no Brasil era muito lento. As decisões certas foram tomadas muito
tarde para tirar vantagens das oportunidades que passavam rapidamente. Se o
Brasil tivesse estado pronto para enviar suas forças em 1943 como parte da
campanha no Norte da África, mesmo que tivesse tido somente um par de
divisões, seu status teria sido diferente.
-Como ficou a relação Brasil-EUA na área militar após o fim da
Guerra Fria?
R: Acho que há mais respeito mútuo. Havia alguma suspeita entre
oficiais brasileiros de que os americanos estavam interessados demais na
Amazônia. O Brasil negou permissão para pouso aos EUA em alguns campos
em Roraima no fim dos anos 80, mesmo em missões humanitárias. E, com pelo
menos um treinamento envolvendo paraquedistas brasileiros em Roraima, os
EUA foram advertidos para que mantivessem distância. Recentemente, o Brasil
lançou um extenso programa de compras militares. Comprou equipamentos da
Rússia e da França.
- Os americanos continuarão distantes ou Obama poderia mudar
esse quadro?
R: Ouvi que o presidente Obama estava impressionado com o
presidente Lula. Mas ficaria surpreso se ele tivesse uma ideia clara sobre o que
o Brasil é hoje. Espero que ele venha logo e consiga ver muito do País. Como
regra, os americanos têm poucas ideias concretas sobre o Brasil. Quanto mais
Obama ver, melhor será.