A Igreja Apostólica, 30-100 a.D. Quarta Parte. A Era Sombria

Transcrição

A Igreja Apostólica, 30-100 a.D. Quarta Parte. A Era Sombria
A ERA SOMBRIA
Desde o Martírio de Paulo, 68 a.D.
Até à Morte de João, 100 a.D.
À última geração do primeiro século, a que vai do ano 68 a 100, chamamos de "Era
Sombria", em razão de as trevas da perseguição estarem sobre a igreja, e também porque de
todos os períodos da História é o que menos conhecemos. Para iluminar os acontecimentos
desse período, já não temos a luz do livro dos Atos dos Apóstolos. Infelizmente, nenhum
historiador da época preencheu o vácuo existente. Gostaríamos de ler a descrição dos fatos
posteriores relacionados com os auxiliares de Paulo, principalmente de Tito, Timóteo e
Apolo. Entretanto, estes e outros amigos de Paulo, após a morte do apóstolo, permanecem
ausentes dos comentários e registros.
Após o desaparecimento de Paulo, durante um período de cerca de cinquenta anos uma
cortina pende sobre a igreja. Apesar do esforço que fazemos para olhar através da cortina,
nada se observa. Finalmente, cerca do ano 120, nos registros feitos pelos "Pais da Igreja",
deparamos com uma igreja em vários aspectos, muito diferente da igreja apostólica dos dias
de Pedro e de Paulo.
A queda de Jerusalém no ano 70 impôs grande transformação nas relações existentes
entre cristãos e judeus. De todas as províncias dominadas pelo governo de Roma, a única
descontente e rebelde era a Judéia. Os judeus, de acordo com a interpretação que davam às
profecias, consideravam-se destinados a conquistar e a governar o mundo; baseados nessa
esperança, somente forçados pelas armas e pelas ameaças é que se submetiam ao domínio dos
imperadores romanos. Temos de admitir, também, que muitos procuradores e governadores
romanos fracassaram inteiramente na interpretação dos sentimentos e caráter judaicos, e, por
essa razão, tratavam os judeus com aspereza e arrogância.
Por volta de 66, os judeus rebelaram-se, abertamente, apesar de não terem, desde o
início, condição de vencer. Que poderia fazer uma das mais pequenas províncias, cujos
homens desconheciam o adestramento militar, contra um império de cento e vinte milhões de
habitantes, com duzentos e cinquenta mil soldados disciplinados e peritos na arte de guerra?
Além disso, os próprios judeus estavam uns contra os outros, e matavam-se entre si, com tanta
violência como se a luta fosse contra Roma, o inimigo comum. Vespasiano, o principal
general romano, conduziu um grande exército até à Palestina. Entretanto, logo depois foi
chamado a Roma, para ocupar o trono imperial. Ficou então na Palestina, chefiando o exército
romano, o general Tito, filho de Vespasiano. Após prolongado cerco, agravado pela fome e
pela guerra civil dentro dos muros, a cidade de Jerusalém foi tomada e destruída pelos
exércitos romanos. Milhares e milhares de judeus foram mortos, e outros milhares foram
feitos prisioneiros, isto é, escravos. O famoso Coliseu de Roma foi construído pelos judeus
prisioneiros, os quais foram obrigados a trabalhar como escravos, e alguns deles trabalharam
até morrer. A nação judaica, depois de treze séculos de existência, foi assim destruída. Sua
restauração deu-se no dia 15 de maio de 1948.
Na queda de Jerusalém morreram poucos cristãos; quiçá, nenhum. Atentos às
declarações proféticas de Cristo, os cristãos foram admoestados e escaparam da cidade
ameaçada; refugiaram-se em Pela, no Vale do Jordão. Entretanto, o efeito produzido na igreja,
pela destruição da cidade foi que pôs fim, para sempre, nas relações entre o Judaísmo e o
Cristianismo. Até então, a igreja era considerada pelo governo romano e pelo povo, em geral,
como um ramo da religião judaica. Mas, dali por diante judeus e cristãos separaram-se
definitivamente. Um pequeno grupo de judeus-cristãos ainda perseverou durante dois séculos,
porém em número sempre decrescente. Esse grupo eram os ebionitas, somente reconhecidos
pela igreja no sentido geral, porém desprezados e apontados como apóstatas, pelos judeus,
gente da sua própria raça.
Cerca do ano 90, o cruel e indigno imperador Domiciano iniciou a segunda perseguição
imperial aos cristãos. Durante esses dias, milhares de cristãos foram mortos, especialmente
em Roma e em toda a Itália. Entretanto, essa perseguição, como a de Nero, foi esporádica,
local e não se estendeu a todo o império. Nessa época, João, o último dos apóstolos, que vivia
na cidade de Éfeso, foi preso e exilado na ilha de Patmos, no Mar Egeu. Foi em Patmos que
João recebeu a revelação que compõe o livro do Apocalipse, o último do Novo Testamento.
Muitos eruditos, entretanto, afirmam que foi escrito mais cedo, isto é, provavelmente no ano
69, pouco depois da morte de Nero. É provável que João tenha morrido em Éfeso por volta do
ano 100.
Foi durante esse período que se escreveram os últimos livros do Novo Testamento —
Hebreus e talvez a Segunda epístola de Pedro, as três epístolas e o evangelho de João, epístola
de Judas e o Apocalipse.
Contudo, o reconhecimento universal destes livros, como inspirados e canônicos, só
aconteceu mais tarde.
É interessante notar o estado do Cristianismo no fim do primeiro século, cerca de
setenta anos depois da ascensão de Cristo. Por essa época havia famílias que durante três
gerações vinham seguindo a Cristo.
No início do segundo século, os cristãos já estavam radicados em todas as nações e em
quase todas as cidades, desde o Tibre ao Eufrates, desde o Mar Negro até ao norte da África, e
alguns crêem que se estendia até a Espanha e Inglaterra, no Ocidente. O número de membros
da comunidade cristã subia a muitos milhões. A famosa carta de Plínio ao imperador Trajano,
escrita lá pelo ano 112, declara que nas províncias da Ásia Menor, nas margens do Mar Negro
os templos dos deuses estavam quase abandonados, enquanto os cristãos em toda parte
formavam uma multidão, e pertenciam a todas as classes, desde a dos nobres, a até a dos
escravos, sendo que estes últimos, no império, excediam em número à população livre.
Acontecia, porém, que na igreja o escravo era tratado igualmente como o livre. Um escravo
podia chegar a ser bispo, enquanto seu amo e senhor não passava de simples membro.
No final do primeiro século, as doutrinas ensinadas pelo apóstolo Paulo na epístola aos
Romanos eram aceitas por toda a igreja, como regra de fé. Os ensinos de Pedro e João,
exarados nas respectivas epístolas, concordam com os de Paulo. Surgiam nesse tempo idéias
heréticas e formavam-se seitas, cujos germens foram descobertos e expostos pelos apóstolos;
contudo, o desenvolvimento dessas heresias só aconteceu mais tarde.
O batismo, principalmente por imersão, era o rito de iniciação na igreja em toda parte.
Contudo, no ano 120 aparecem menções do costume de batismo por aspersão; isso quer dizer
que nesse tempo já estava em uso. O dia do Senhor era observado de modo geral, apesar de
não o ser de forma estrita, como um dia absolutamente separado. Enquanto a igreja fora
composta de maioria judaica, se observava o sábado; agora o primeiro dia da semana pouco a
pouco tomava o lugar do sétimo. Já nos dias de Paulo havia igrejas que se reuniam no
primeiro dia da semana, e no livro do Apocalipse esse dia é chamado "o dia do Senhor".
A Ceia do Senhor era observada universalmente. A Ceia, no início, era celebrada no lar,
assim como a páscoa, da qual se originou. Entretanto, nas igrejas gentílicas apareceu o
costume de celebrar-se uma reunião da igreja como se fosse uma ceia qualquer, para a qual
cada membro levava a própria provisão. O apóstolo Paulo repreendeu a igreja em Corinto
pelo abuso que esse costume havia causado. No fim do século a Ceia do Senhor era celebrada
onde os cristãos se reuniam, porém (talvez, por causa da perseguição), não em reuniões
públicas. Somente os membros da igreja eram admitidos nas reuniões em que celebravam a
Ceia, que era considerada como um "mistério". O reconhecimento do domingo da
ressurreição como aniversário da ressurreição de Cristo fora sancionado e aumentava dia a
dia; contudo, nessa época ainda não era de guarda universal.
O último sobrevivente dos apóstolos foi João, que morou na cidade de Éfeso até ao ano
100. Não se lê em nenhum documento que houvesse sucessores para o cargo de apóstolo.
Contudo, no ano 120 faz-se menção de "apóstolos", que parece haverem sido evangelistas que
visitavam as igrejas, porém sem autoridade apostólica. Evidentemente não eram muito
respeitados, pois às igrejas recomendava-se que os hospedassem somente durante três dias.
No livro dos Atos dos Apóstolos e nas últimas epístolas, os títulos anciãos (presbíteros)
e bispos são mencionados como se fossem aplicados alternadamente à mesma pessoa. No
entanto, no fim do primeiro século aumentava a tendência de elevar os bispos, acima de seus
companheiros, os anciãos, costume que mais tarde conduziu ao sistema eclesiástico. Os
diáconos são mencionados nas últimas epístolas de Paulo como funcionários da igreja. Na
epístola aos Romanos, escrita no ano 58, aproximadamente, Febe de Cencréia é chamada
diaconisa, e uma referência em 1 Timóteo pode haver sido feita a mulheres que
desempenhavam esse cargo.
O plano das reuniões nas assembléias cristãs era uma derivação das reuniões das sinagogas
judaicas, Liam-se as Escrituras do Antigo Testamento e porções das cartas apostólicas, os
evangelhos; os salmos da Bíblia e os hinos cristãos eram cantados; as orações diferiam das
que se faziam nas sinagogas, porque nas assembléias cristãs eram espontâneas; o uso da
palavra era oferecido, sem restrições, aos irmãos visitantes. No final das reuniões era
frequente participarem da Ceia do Senhor. Quando lemos as últimas epístolas e o livro do
Apocalipse, encontramos misturadas luz e sombra, nos relatos que se referem às igrejas. As
normas de caráter moral eram elevadas, porém o nível da vida espiritual era inferior ao que se
manifestara nos primitivos dias apostólicos. Contudo, por toda parte a igreja era forte, ativa,
próspera e se esforçava por predominar em todos os extremos do Império Romano.
Jesse Lyman Hurlbut
Digitalização: Luis Carlos
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