Rito de Maioridade Feminina

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Rito de Maioridade Feminina
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CAPÍTULO XLIII
Rito de Maioridade Feminina
Uma garota deve passar pelo rito de maioridade durante sua primeira menstruação, se for
possível, ou logo após.
Da mesma forma que o objetivo de um rito de maioridade masculino é o jovem provar seu
valor como homem, o propósito do rito feminino é para a jovem aceitar seu valor como mulher. Nos
dias passados, para a mulher tomar parte na sociedade da forma normal - que era se casar ou ter
filhos - era tão valoroso quanto a batalha era para o homem. Naqueles tempos o parto era
extremamente perigoso e geralmente doloroso; cesarianas não eram desconhecidas, apesar de
normalmente serem seguidas da morte da mulher. Apesar da medicina ter evoluído muito, os riscos
ainda existem - e é mais provável a jovem iniciada nos dias de hoje darem a luz do que um jovem ir à
uma guerra.
Como a literatura Germânica tende a focar em batalhas e feitos de guerra, e a maior parte
dela foi provavelmente escrita por homens (que não costumavam saber o que as mulheres faziam em
seus mistérios) as fontes de iniciações femininas são muito menos do que as de homens - na verdade,
elas são praticamente inexistentes. Não podemos sequer dizer ao certo se existiram; dificilmente a
menstruação é mencionada nas fontes nórdicas, e quando o é, é no contexto da mulher troll como a
filha de Geirröðr, aumentou o volume de um rio com seu sangue mentrual e urina com a intenção de
afogar Þórr. Isso pode sugerir um relacionamento particular entre a mulher e natureza, como dito
por Diana Paxson no seu artigo sobre Etins (veja o capítulo), e se o poder dos grandes rios glaciais
da Islândia é visto como provindo de um útero (apesar de ser um de uma mulher etin), isso sugere
que o povo germânico, como muitos dos povos tradicionais, podem ter visto a menstruação como
um período onde a mulher era especialmente poderosa, e também perigosa. Todavia, já que não há
nenhuma evidência em relação ao forte tabu sobre o período menstrual em qualquer saga ou folclore
escandinavo recente, uma comparação na cultura não pode ser feita tão profundamente. Sob as
condições que prevaleceram no Norte, de fato, o isolamento menstrual que era comum em culturas
tradicionais mais tropicais (Buckley and Gottlieb, Blood Magic) devia ser extremamente impraticável:
uma comunidade simplesmente nao podia suportar perder cinco dias de trabalho feminino todos os
meses.
Sabemos que as mulheres passavam a cultura adiante enquanto realizavam trabalho têxtil
contando histórias e cantando tradicionais canções de fiar e tecer. De fato, Hans Christian
Andersson aprendeu a maior parte das histórias que tornaram-se seus contos indo, quando garoto, às
salas de tricô com sua mãe e ouvindo as mulheres conversar enquanto tricotavam. Afora isso, pouco
mais é conhecido.
Our Troth - Capítulo XLIII - Rito de Maioridade Feminina (Kveldulf Gundarsson)
Tradução por Lomyrald, do Kindred Striðshundar. Revisão por Skavis Wodensigr.
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Entretanto, como podemos supor, da mesma forma que o rito de maioridade masculino, um
rito de maioridade feminino germânico concentraria-se no isolamento da candidata em relação ao
sexo oposto; na demonstração de qualidades que cabem à mulher; a passagem do conhecimento
feminino, e finalmente na sua reintegração na sociedade geral. Um modelo então pode ser construído.
Enquanto a maioria das iniciações masculinas acontece em lugares abertos, o das mulheres
provavelmente acontecia dentro de casa, onde os homens eram proibidos de entrar desde o
amanhecer. A jovem era cercada pelas suas kinswomen e outras mulheres do grupo, que ajudavam-na
a se vestir, pentear seu cabelo e outras coisas, enquanto falavam pra ela todas as alegrias de ser mulher
e da beleza e poder das mudanças em seu corpo que estão acontecendo. Ao inves de se isolar, a jovem
está sempre cercada de mulheres, vivenciando por completo a comunidade feminina.
Se alguma mulher do grupo souber como fiar, tecer, ou tricotar, uma parte do dia deverá ser
gasto fazendo isso, para que a jovem tenha um tecido inteiro ou um bom trabalho até a noite. Outros
ofícios que se encaixam na situação em particular são a produção de cerveja, costura, e cozinha (ainda
mais tipos tradicionais de culinária como a panificação). Uma viagem em grupo a uma loja de
tecidos na qual a jovem pode escolher tecido para sua vestimenta ritualística é uma ótima ideia; bem
como irem à mercearia comprar comida para a festa que se seguirá. Embora os últimos itens pareçam
mundanos, um dos elementos mais profundamente enraizados do feminino é prover alimento: o ato
ordinário de trazer comida para casa e cozinhar refeições é um ato muito espiritualizado pelo qual as
jovens percebem sua unidade com deusas como Gefjon e Fulla.
Se alguma das mulheres mais velhas tiver treinamento de guerreira, e a jovem for interessada
neste aprendizado, a atividade também se encaixa neste dia: embora as mulheres germânicas
geralmente lutavam apenas em tempos de grande necessidade, elas eram aptas a lutar. Além do mais,
uma mulher adulta, bem como o homem, deve ser bem autônoma, o que significa que aqueles que
são robustos, sejam homem ou mulher, não tem direito de depender da força de outro para se
proteger em tempos de perigo.
A cura era uma das habilidades particularmente femininas (embora não exclusivamente); as
mulheres eram vistas como capazes de curar tanto pelas ervas quanto pela magia. A jovem precisa ser
ensinada tudo o que for relevante, e que as outras mulheres estejam aptas a ensiná-la. Se nenhuma for
especialista em herbalismo ou cura, o básico da cura mágica ou através das ervas pode ser aprendido
nos livros "Mrs. M. Grieves' A modern Herbal" e Dr. G. Storm. "Anglo Saxon Magic, for starters".
Deveria haver um lugar natural próximo que cairia bem ao poder da mulher (como uma
caverna, um grande trecho de água, um bosque ou uma pedra que as mulheres do grupo tenha
clamado para si), a jovem deve ser posta ali para meditação sobre o poder selvagem da mulher: Não
deve-se deixá-la esquecer que ela é irmã de Gerðr e Ran, bem como Frija e Frowe.
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No crepúsculo, a casa precisa estar escura, iluminada apenas pela luz de tochas ou velas; as
mulheres se juntam no centro da casa para chamar as deusas e as idises. Diferentes mulheres podem
passar para a jovem os ensinamentos das diferentes deusas que seguem, dando seus conselhos e
sabedoria desses caminhos. Se ela terminou de fiar, tecer, costurar ou tricotar, ela deverá por sobre o
ancinho para a benção de Frija; como guerreira, as bençãos de Skaði e Freyja são melhores neste caso;
como curandeira, Eir, e assim por diante. A mulher mais velha deve dar a mulher uma colher de prata
e uma esfera de cristal envolvida em prata para serem penduradas juntas no cinto. Outras mulheres
podem dar presentes como - caldeirões, castiçais, óleos e incensos para magia e uso pessoal, roupas
finas, jóias ritualísticas. Um colar de âmbar é um dos melhores presentes neste momento, como os
broches de "casco de tartaruga" que eram partes marcantes da vestimenta das mulheres da Era viking.
Se uma das mulheres mais velhas for uma guerreira e a jovem tiver interesse nesse aprendizado, pode
presenteá-la com uma espada ou outra arma neste momento.
A primeira tarefa da jovem como mulher pode ser então a de encher o chifre com bebida e
fazer sua própria benção aos deusas e idises. Quando terminar, aspergir e abraçar as outras mulheres,
e depositar as oferendas da tigela de oferendas na terra, os homens podem ser chamados e serem
informados que podem voltar para a casa. A nova mulher deve estar pronta com um chifre cheio para
oferecer quando o primeiro deles (preferencialmente o pai ou o mais próximo kinsman adulto do
grupo) entrar pela porta.
Quando todos os homens estiverem dentro e tanto homens quanto mulheres tiverem se
sentado em círculo, a mulher mais anciã então guiará a nova adulta entre eles e anunciara que agora
ela é adulta e está na companhia das idises, das deusas, e de suas irmãs na terra. Se não tiver sido
dado a ela uma espada antes, mas desejar portar uma, deverá ser concedida a ela por um dos
guerreiros. Então ela vai ao redor do círculo, servindo bebida para cada pessoa ali, que, por sua vez,
fará um brinde a ela e lhe dá um presente (se ainda não o fizeram, na parte anterior do rito), como se
fosse seu aniversário. No fim da rodada, ela é aplaudida e a festa continua.
Pode ser notado que a iniciação da mulher parece menos traumática que a do homem, com
menos ênfase na mudança abrupta de status, nos elementos de morte e renascimento, e assim por
diante. Isso ocorre porque todas estas coisas já estão em transformação no corpo da mulher.
Enquanto o rito masculino é uma intensa e única mudança espiritual/social marcando o lento
processo de mudança física de garoto a homem, o rito da mulher é uma espécie de mudança mais
lenta e sutil, realizado para integrar ao intenso evento físico que transforma a garota em mulher.
Colaboradores
Elisabeth
Melodi Lammond
Laurel Olson
Diana Paxson
Our Troth - Capítulo XLIII - Rito de Maioridade Feminina (Kveldulf Gundarsson)
Tradução por Lomyrald, do Kindred Striðshundar. Revisão por Skavis Wodensigr.
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