Nutrition News for Africa Junho de

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Nutrition News for Africa Junho de
Nutrition News for Africa
Junho de
2011
Rastreio de desnutrição infantil aguda durante a Semana Nacional de
Nutrição no Mali, aumenta os encaminhamentos para tratamento.
Nyirandutiye DH, Ag Iknane A, Fofana A, Brown KH. PLoS ONE 6: e14818.
doi:10.1371/journal.pone.0014818, 2011.
Introdução
A experiência inicial do programa de gestão da desnutrição baseado na comunidade (CMAM), no Mali,
indicou que um número menor do que esperado de crianças afectadas apresentaram-se para
tratamento. Possíveis explicações para a fraca taxa de utilização deste serviço foram que as crianças não
participavam nas actividades de rastreio dos níveis nutricionais ou, uma vez identificadas como
desnutridas, não se dirigiam aos centros de tratamento. Numa tentativa de aumentar as oportunidades
de rastreio e encaminhamentos para tratamento, as autoridades do Mali decidiram introduzir o rastreio
da desnutrição aguda durante a Semana Nacional de Nutrição, evento semi-anual (conhecido localmente
como “SIAN”). Crianças presentes nos postos SIAN foram também convidadas a participar no rastreio da
desnutrição aguda, que incluiu a medição da perímetro braquial (MUAC) e inspecção do edema bipedal.
O NNA deste mês descreve os resultados de uma pesquisa realizada subsequentemente com o intuito de
avaliar os resultados deste novo programa de rastreio.
Métodos
Um estudo de corte transversal, em múltiplos estágios, com amostragem por conglomerados, foi
concluído nos distritos de saúde de Nara e Kolokani, no sudoeste do Mali, aproximadamente 4-5 meses
após a primeira experiência de realização do rastreio dos níveis nutricionais durante as actividades SIAN.
Foram feitas entrevistas a um total de 1741 mães e familiares responsáveis pelas crianças de 6-59 meses
de idade na altura do último SIAN. Informações foram obtidas sobre se as crianças elegíveis tinham
participado na fase anterior do SIAN e se elas estavam incluídas no rastreio nutricional. Entre aquelas
que foram devidamente identificadas como sofrendo de desnutrição aguda na altura do SIAN, informação
foi também recolhida sobre a sua utilização dos serviços de tratamento. Finalmente foi recolhida
informação acerca das mães e familiares responsáveis pela criança e sobre os profissionais dos centros
de saúde, relativamente à sua satisfação quanto às actividades de rastreio de nutrição.
Resultados e Conclusões
As mães e familiares responsáveis pelas crianças reportaram que 83% das suas crianças elegíveis
participou na fase anterior da SIAN. Entre os participantes na SIAN, 98% recebeu suplementos de
vitamina A, 84% recebeu medicamentos desparasitantes e 52% foram rastreados para detectar
desnutrição aguda. Apesar do número de crianças rastreadas para detectar desnutrição ter sido inferior
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às que receberam os outros serviços, a percentagem de crianças rastreadas, mesmo assim, excedeu a
cobertura combinada alcançada pelo rastreio de rotina baseado na comunidade (22%), e as avaliações
dos centros de saúde (5%) durante os 4-5 meses anteriores à pesquisa (desde a fase anterior de SIAN).
Porque a preparação para o rastreio nutricional iniciou-se relativamente tarde no ciclo das actividades
SIAN, os funcionários de saúde acharam que seria possível aumentar ainda mais a cobertura do rastreio
em fases subsequentes.
Das crianças que foram rastreadas durante a SIAN, 27% foram identificadas e reportadas como sendo
desnutridas durante a pesquisa, de acordo com as declarações das mães e familiares responsáveis por
elas. Entre as crianças inicialmente identificadas como sendo desnutridas, 57% foram
subsequentemente consultadas num centro de saúde para mais avaliações e tratamento. A grande
maioria das mães e failiares responsáveis pelas crianças, voluntários responsáveis pelo rastreio baseado
na comunidade e funcionários dos centros de saúde que foi entrevistada achou que o rastreio nutricional
durante a SIAN é viável e benéfico.
Programa e Implicações da Políticas
Esta pesquisa confirmou a viabilidade de incluir o rastreio da desnutrição aguda no conjunto de
actividades realizadas durante a realização periódica dos dias/semanas nacionais de saúde da criança, na
África subsariana. Apesar de apenas cerca de metade das crianças elegíveis terem sido rastreadas
durante a semana de saúde da criança, essa proporção de crianças mesmo assim excedeu a cobertura
atingida por todas as outras formas de rastreio de rotina durante os anteriores 4-5 meses. Por
conseguinte, rastreio nutricional durante as semanas de saúde da criança deviam continuar a ser
expandidas, ao menos até estas outras estratégias de rastreio de rotina serem reforçadas. De acordo
com informação recolhida durante a pesquisa, estas outras oportunidades de rastreio não estão a
funcionar eficientemente devido a inadequado treino do pessoal, supervisão e motivação financeira, e
porque um número insuficiente de pessoal de saúde e voluntários comunitários está disponível para
implementar estas actividades.
A percentagem de mães e familiares responsáveis por crianças com desnutrição aguda que
aproveitaram a oportunidade dos serviços e tratamentos disponíveis foi decepcionantemente baixa,
possivelmente porque eles não tinham transporte ou recursos financeiros para se deslocarem ao centro
de saúde ou porque não perceberam o valor potencial do tratamento. É necessária mais informação
sobre porque razão as mães e familiares responsáveis pelas crianças não utilizam os serviços que estão
actualmente disponíveis.
Comentários dos Editores do NNA*
Os dias/semanas de saúde da criança tornaram-se uma parte essencial do sistema de saúde num
número cada mais maior de países da África subsariana e já demonstraram uma notável capacidade de
prestarem um serviço chave nas intervenções de sobrevivência infantil a quase todas as crianças de 6-59
meses de idade, duas vezes por ano. A institucionalização dos dias/semanas de saúde da criança é
apoiada por uma declaração de consenso da reunião Pan-Africana da Aliança Global para a Vitamina A
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(GAVA - http://www.hki.org/press-room/archive/2009/03/23/global-alliance-for-vitamin-a-issuesconsensus-statement/ ), e a resolução sobre nutrição da Assembleia dos Ministros da Saúde da
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS - http://www.hki.org/pressroom/archive/2009/07/24/groundbreaking-nutrition-resolution-passed-in-west-africa/).
Os resultados da presente pesquisa indicam que os programas de saúde podem tirar vantagem da
elevada cobertura já atingida pelos dias/semanas de saúde da criança para melhorar a cobertura de
outros programas, tais como o programa de gestão da desnutrição baseado na comunidade (CMAM).
Logo, o conjunto de outros possíveis serviços de nutrição e de saúde que podem ser prestados, incluindo
a suplementação preventiva com nutrientes e/ou aconselhamento sobre alimentação de bebés e crianças
de tenra idade, devia também ter sido explorado. Contudo, será importante não sobrecarregar estes
mecanismos de prestação de serviços de saúde até ao ponto em que a prestação de serviços
fundamentais, tais como a distribuição de vitamina A e distribuição de vacinas suplementares, comecem
a ressentir-se.
Foi surpreendente ver que tão grande percentagem de crianças com desnutrição aguda não beneficiaram
dos serviços de tratamento. Em alguns países, instalações para pernoita são disponibilizadas e refeições
oferecidas às mães e familiares responsáveis por crianças hospitalizadas com desnutrição grave e aguda
e complicações, assim encorajando a participação da família quando esta não pode de outra forma
suportar as despesas decorrentes de levar a criança ao centro de saúde para internamento e
tratamento. A prestação deste tipo de assistência familiar pode ajudar a aumentar a utilização do
serviço.
*Estes comentários foram adicionados pela equipa editorial e não fazem parte da citada publicação.
Referências
1. World Health Organization. Guidelines on Infant feeding and HIV. Principles and recommendations
for infant feeding in the context of HIV and a summary of evidence. World Health Organization, Geneva,
2010.
2. Cames C, Saher A, Ayassou KA, Cournil A, Meda N, Simondon KB. Acceptability and feasibility of
infant-feeding options: experiences of HIV-infected mothers in the World Health Organization Kesho Bora
mother-to-child transmission prevention (PMTCT) trial in Burkina Faso. Matern Child Nutr 6: 253-265,
2010.
3. Cames C, Mouquet-Rivier C, Traoré T, Ayassou KA, Kabore C, Bruyeron O, Simondon KB. A
sustainable food for non-breastfed infants: implementation and acceptability within a WHO mother-tochild transmission prevention trial in Burkina Faso. Public Health Nutr 13:779-786, 2010.
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4. Cames C, Cassard F, Cournil A, Mouquet
Mouquet-Rivier C, Ayassou K, Meda N, Bork K. Non-breastfed HIV-1exposed Burkinabe
inabe infants have low energy intake between 6 and 11 months of age despite free access
to infant food aid. J Nutr, in press 2011.
Nutrition News for Africa é um boletim electrónico mensal que
procura disseminar os resultados das pesquisas mais avançadas e as
mais recentes políticas, junto dos cientistas, programadores de
programas, entidades responsáveis pela definição de políticas e líderes
de opinião que trabalham
trabalham nas áreas de saúde pública e nutrição em
África. Este boletim é resultado da estreita colaboração entre a Helen
Keller International (HKI) e o Program in International and Community
Nutrition (PICN – Programa em Nutrição Internacional e Comunitária)
da University of California, Davis. Os funcionários regionais da HKI, os
estudantes e os membros da faculdade do PICN identificam e resumem
os artigos mais importantes assim como as políticas relevantes da
literatura científica e das publicações das agências internacionais. Os
membros desta rede são também convidados a fazer sugestões quanto
a possíveis documentos de interesse e a reagir aos artigos
seleccionados.
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