O Aprendiz nº 15

Transcrição

O Aprendiz nº 15
Ano 4 • Nº 15
julho / setembro 2005
RAUL TEIXEIRA EM ENTREVISTA EXCLUSIVA
FALA DA VIOLÊNCIA DE NOSSOS DIAS
O orador e médium conta porque é necessário que o mal chegue ao excesso
para despertar no homem o desejo da transformação moral
Pg 6
ALMAS GÊMEAS:
REENCARNAÇÃO É TEMA DE NOVELA
Como a Doutrina Espírita explica esta questão tão polêmica.
Leia entrevista com Cláudio Conti
Pg 8
TRABALHO VOLUNTÁRIO:
FAZER O BEM FAZ BEM Pg 3
E MAIS:
„
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„
„
Grupo Bezerra de Menezes,
o novo trabalho do Cema
pg 2
Mente sã em corpo são
como funciona o apoio
médico da Casa pg 2
Você conhece o Lara 1 ?
pgs 4 e 5
Inveja , um sentimento que
todos ainda carregamos
pg 7
CENTRO ESPÍRITA MARIA ANGÉLICA
O APRENDIZ
1
EDITORIAL
EDITORIAL
T
odo trabalho voltado para o bem traz
as bênçãos do mais Alto, diz-nos a querida mentora Irmã Maria Angélica.
É por isso que todas as novas oportunidades que surgem para auxiliarmos nossos irmãos mais necessitados vêm sempre
acompanhadas de trabalhadores prontos
para abraçar a tarefa.
Em julho de 2005, abrimos as portas
para o Portal do Futuro, uma parceria com
o Senac que prepara 35 jovens para o primeiro emprego. Os resultados são tão animadores que novas turmas virão.
Em agosto, iniciamos mais uma frente de trabalho, o Grupo Bezerra de
Menezes, formado por profissionais da
área médica para cuidar das crianças subnutridas que ainda são uma triste realidade em nossa sociedade.
Muitas pessoas que freqüentam as palestras e cursos não conhecem ainda o Lara
1 e o Lara 2, as unidades do Cema de
Vargem Pequena onde são realizadas a
maior parte das atividades sociais. Nas
páginas centrais trazemos um apanhado
do que acontece ali de segunda a segunda
e convidamos a todos para uma visita.
Amparados pela espiritualidade amiga que
sempre nos aponta os caminhos, sabemos
que o trabalho apenas começou. Ainda há
muito por fazer, mas qualquer caminho,
para ser trilhado, apenas precisa que seja
dado o primeiro passo.
Um abraço fraterno,
A direção.
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irão acontecer.
MENTE SÃ EM CORPO SÃO
SERVIÇO MÉDICO DÁ APOIO AO ATENDIMENTO SOCIAL NO CEMA
U
ma pesquisa realizada
pelo Serviço Social do
CEMA constatou que um
dos maiores problemas das
famílias que moram em
áreas carentes de Vargem
Pequena, Vargem Grande
e Terreirão está a dificuldade de acesso a consultas
médicas nos ambulatórios
e pronto-socorros públicos.
Para orientar e encaminhar os adultos e crianças a um atendimento mais específico, quando necessário, foi criada uma estrutura
de apoio formada pelos médicos voluntários que freqüentam a Casa.
O Serviço Médico atua de segunda a sábado nos diversos grupos
de ação social desenvolvidos no Lara I, unidade do CEMA que fica
em Vargem Pequena, e aos domingos na Sede do Recreio, no Grupo
de Trabalho Domingo de Paz.
O acompanhamento da saúde das pessoas que chegam ao CEMA
começa no Grupo Paulo Tarso. Depois de cadastradas, é feita uma
avaliação por um médico clínico, que abre uma ficha com os seus
dados, problemas de saúde e medicamentos utilizados. Todos os setores de atividades recebem a preciosa colaboração de profissionais dedicados e carinhosos de diversas especialidades.
O Serviço Social do CEMA também busca outras fontes de ajuda
para consultas e exames auxiliares de laboratórios e raios X nos postos
de saúde e hospitais.
Os profissionais da área médica que desejarem se engajar no trabalho voluntário podem procurar a Terezinha, do Serviço Social, ou obter
maiores informações na Secretaria ou pelo telefone 2437-5947.
CEMA INAUGURA O GRUPO BEZERRA DE MENEZES PARA
TRATAR DE CRIANÇAS SUBNUTRIDAS
N
o dia 29 de agosto de 2005, o CEMA abriu mais uma frente de
trabalho, com a formação do Grupo Bezerra de Menezes, que vai
fazer a distribuição de um composto alimentar a todas as crianças que
estiverem abaixo do peso compatível com a sua idade.
O Grupo é formado por médicos, nutricionistas, pediatras, cardiologistas, psicólogas, fisioterapeutas profissionais de outras áreas,
que ajudarão na arrecadação de alimentos, cartilha sobre alimentação
e divulgação do trabalho.
Esta atividade será desenvolvida no LARA 1, unidade do Cema em
Vargem Pequena e abrangerá todos os grupos de assistência da Casa.
Maiores informações: Dr. Hélio Nogueira de Sá – Tel: 3325-5031
O CENTRO ESPÍRITA
DULCE ALCIONE
S
omos energeticamente classificados pela natureza das
vibrações que irradiamos, e quanto mais buscamos ambientes que nos estimulem à melhoria da qualidade dessas
vibrações, mais preservaremos nossa saúde e bem-estar.
Nesse processo de transformação, vamos nos harmonizando gradativamente com as Leis de Deus, sentindo dia-adia o benefício dessa harmonia.
O Centro Espírita é o melhor ambiente que podemos eleger para nossas vidas.
Na Casa Espírita, somos estimulados à renovação das
nossas vibrações mais íntimas, aprendendo a movimentar
nossa vontade para a conquista de valores maiores.
Inicialmente freqüentando as Reuniões Públicas e
depois buscando os estudos através dos cursos regulares,
vamos aos poucos acalmando nossas almas, esclarecendo as questões que nos atormentam e
valorizando pequenas coisas importantes que antes passavam despercebidas.
Com o tempo, sentimos a necessidade de nos
engajarmos em uma tarefa. É nesse momento que mais
intimamente gozaremos do convívio salutar dos mentores
e nos sentiremos mais felizes.
Todo aquele que presta serviço voluntário coloca-se em
sintonia com as forças do bem e libera enzimas de felicidade.
É fácil perceber que, quando freqüentamos a Casa Espírita, sorrimos mais, temos pensamentos mais serenos e
encaramos com mais otimismo os desafios da vida.
Nela reúnem-se almas necessitadas de esclarecimento, orientação, consolo, atenção e afeto, mas os que se vinculam à Casa Espírita são aqueles que acima de tudo são
movidos pela vontade de transformação íntima e para
isso enfrentarão seus piores inimigos com garra e coragem. E é preciso muita força para esse processo,
pois nossos piores inimigos encontram-se em nós
mesmos.
É muito comum vermos irmãos que chegam
à Casa Espírita portando os mais diferentes sofrimentos e cheios de dúvidas existenciais se afastarem da Casa logo após sentirem-se melhores.
Alguns chegam a se engajar nas tarefas, mas com
o tempo perdem o estímulo e também se afastam.
Estejamos atentos e sejamos sempre vigilantes. Não nos encontramos aqui reunidos por
mero acaso. Estamos onde pedimos e precisamos estar.
O Centro Espírita é como um Ponto de Luz
na Terra, irradiando do Alto o Amor de Nosso
Divino Mestre sobre Sua amada, mas ainda
indisciplinada humanidade.
Que essa Luz possa irradiar em nossas almas,
nos reabastecendo e encorajando sempre, a fim
de que nunca nos afastemos desse meio que nos
levará à conquista da nossa própria luz.
EXPEDIENTE
O jornal O APRENDIZ é uma publicação trimestral do CEMA - Centro Espírita Maria Angélica
Rua Odilon Duarte Braga, nº 240 - Recreio dos Bandeirantes – Rio de Janeiro – CEP 22.790-220 - CNPJ - 35.799.030/0001-94
Telefone: (21) 2437-5947 - Este jornal foi impresso gratuitamente. Distribuição interna – 3.000 exemplares
Ilustrações: Fabíola Zonno, Rosita Furtado – Edição: Regina Laginestra – Editoração: Fatima Agra – Jornalista responsável: Gustavo Poli - DRT/RJ: 9019198
CENTRO ESPÍRITA MARIA ANGÉLICA
O APRENDIZ
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AÇÃO SOCIAL NO LAR DE ANGÉLICA
P
ara facilitar o atendimento às comunidades carentes, o CEMA transferiu há
dois anos as atividades assistenciais para
Vargem Pequena, na Estrada do Fontela,
onde funciona a unidade Lar de Angélica,
chamado de LARA 1.
Próximo dali funciona o Lara 2, em
uma casa dentro da Comunidade César
Maia, que também atende às famílias
daqueles bairros.
Para quem só conhece a sede do
Recreio do Cema através dos cursos e
palestras, apresentamos algumas fotos
e informações sobre os trabalhos do Lara 1
e Lara 2, convidando a todos para conhecer
os trabalhos feitos por voluntários que
dedicam algumas horas de seu dia ao
exercício do amor ao próximo e à prática
da caridade cristã.
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Orientação às mães de crianças a partir dos 3 anos. São ministradas aulas
sobre problemas relativos às dificuldades do processo de educação, responsabilidades dos pais, como lidar
com a questão das drogas, gravidez na
adolescência, violência doméstica e
outros temas de interesse do grupo.
As mães têm assistência médica, psicológica, recebem cesta básica e leite
em pó. As crianças têm atendimento
médico/odontológico e nutricional.
Freqüência: semanal
Participantes durante o ano: 85assistidas.
Local: LARA 1
CENTRO ESPÍRITA MARIA ANGÉLICA
Grupo de atendimento às pessoas que chegam
ao CEMA necessitadas de auxílio. Durante sete
semanas, elas recebem todos os esclarecimentos
sobre a Doutrina Espírita e o funcionamento
da Casa, para conhecerem o objetivo do
trabalho e as condições para terem direito aos
benefícios materiais e assistência social nas áreas
de saúde e educação. Depois deste período,
são encaminhadas aos setores específicos
Freqüência: semanal
Total de cadastros no ano: 110
Local: LARA 1
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CONHEÇA O TRABALHO DOS VOLUNTÁRIOS
QUE ESTÃO CONJUGANDO O VERBO AMAR
APOIO ESCOLAR - Pedagogos voluntários fazem
o reforço de ensino para as crianças da classe de alfabetização à 4ª série, que apresentam dificuldade
de aprendizado e que estejam freqüentando regularmente a rede de ensino.
Total de cadastrados no ano: 20 crianças
Local: LARA 2
Atendimento às gestantes e mães de crianças de 0 a 3 anos de idade, orientando-as, à luz dos ensinamentos da Doutrina Espírita, quanto à sua responsabilidade
e cuidados necessários para a educação e
formação moral da criança. Recebem
também cesta básica, leite em pó, atendimentos de emergência e orientação médica, odontológica e nutricional , visando basicamente atitudes de prevenção da
doença e manutenção da saúde.
Freqüência : semanal .
Participantes durante o ano : 139 mães
Local: LARA 1
Atendimento às pessoas
com idade superior a 60
anos oferecendo atividades
lúdicas como dança, canto , artesanato e orientações sobre seus direitos
como cidadão. As atividades visam despertar sua
auto-estima, valorizando
suas experiências de vida.
Frequência: semanal
Participantes: 49 idosos
Local: LARA 1
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Recepção aos moradores de rua que são
contatados através das caravanas de rua
(quentinhas). Eles recebem cuidados
para o asseio e higiene pessoal, roupas
limpas, café da manhã e almoço, atendimento médico e odontológico e participam de oficinas de saúde e palestras realizadas pelos Alcoólicos
Anônimos.
Frequência: semanal
Participantes : 30 a 35 por semana
Local: LARA 1
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O APRENDIZ
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Entrevista
RAUL TEIXEIRA
“A sociedade está colhendo os resultados do seu materialismo”
Em sua visita ao Cema para uma palestra sobre o livro “O Céu
e o Inferno”, o orador espírita Raul Teixeira falou para a equipe
do nosso jornal sobre as causas da violência que atinge hoje
todas as camadas sociais.
O Aprendiz: Você nasceu em uma família espírita?
Raul Teixeira: Não, eu nasci numa família híbrida, que era
ligada tanto ao catolicismo quanto às crenças espiritualistas da
época. Mas eu sou filho de médium: minha mãe era médium
de efeitos físicos, só não chegou a conhecer a Doutrina Espírita, mas se dedicava ao trabalho do bem, da assistência, da caridade. Eu nasci neste “caldo de cultura”.
O Aprendiz: Quando se iniciou a sua mediunidade?
Raul Teixeira: Se falarmos em percepções mediúnicas, desde
que eu me entendo, porque ao tempo em que minha mãe realizava em casa o atendimento às pessoas num ambiente propício, eu já registrava os espíritos descendo pelo telhado, atravessando as paredes. Eu tinha menos de 4 anos de idade. Diante
de minhas perguntas, minha mãe respondia que eram os nossos irmãos da luz que vinham fazer o bem.
Quando me tornei adolescente, com a continuação dos
fenômenos da visão dos espíritos, eu conheci a Doutrina Espírita, levado pelas mãos de um amigo que estudava comigo. A
partir daí, eu conheci uma juventude espírita e me tornei espírita naquele mesmo dia. Antes, eu não tinha nenhum trabalho
de orientação mediúnica. A partir do meu contato com a Doutrina Espírita, passei a ser atendido com este trabalho que a
causa espírita tem, que é o de disciplinar a mediunidade, orientar os médiuns, de desenvolver a mediunidade, como costumamos dizer. E foi aí que eu comecei conscientemente a trabalhar
a mediunidade.
O Aprendiz: Nestes dias tão turbulentos em que vivemos, com
tanta violência e drogas, que mensagem você deixa para nós espíritas, que aprendemos que a lei é de progresso?
Raul Teixeira: Há um ensinamento de Jesus Cristo: “Quando
ouvirdes falar de guerra e de rumores de guerra, não vos
atormenteis, porque ainda não terá chegado o fim”. Nós estamos
vivendo na nossa sociedade contemporânea a conseqüência de
nossa sementeira ainda muito recente. Trabalhamos nas nossas
religiões tradicionais com o espírito de dominar e enganar a
consciência popular, dizendo coisas que não foram ditas por
Cristo e misturando as coisas por Cristo ensinadas nas nossas
conjecturas pessoais, nas nossas maneiras pessoais, políticas e
politiqueiras, criando uma filosofia muito personalista para
ensinar as coisas divinas.
Com isso, geramos no seio da sociedade as almas incrédulas,
frustradas, aquelas que passaram a ser incrédulas em Cristo por
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O APRENDIZ
CENTRO ESPÍRITA MARIA ANGÉLICA
causa da nossa incúria como líderes religiosos, como orientadores
que desorientavam.
Durante muito tempo, nós partimos para um discurso
muito bonito a respeito das coisas de Deus e da vida e uma
prática muito mesquinha, muito negativa. Essas criaturas e nós,
como as pedras de um rio, fomos rolando através das reencarnações. E neste exato momento, estamos tendo que suportar o
resultado da ação do materialismo na vida social. Há pessoas
descrentes, mesmo muitas que freqüentam templos, igrejas e
centros espíritas, mas o fanal delas é materialista, é o materialismo e a indiferença, o preconceito, todas estas misérias que vão
se alastrando por nossa sociedade acabam sendo patrocinadoras
deste caldo de cultura, de tormento, de violência que nós estamos
acompanhando.
De modo que o mundo espiritual não está vendo nenhum
absurdo neste estado de coisas porque é o esvurmar de um tumor, é o arrebentar de um tumor que estamos presenciando. A
fase mais danosa da tumoração não é quando o tumor arrebenta, é quando ele estava oculto no organismo social. Estas coisas
não eram vistas e a gente fazia de conta que elas não existiam. O
que está acontecendo agora é o pus de uma tumoração que já
existia, e nós estamos apavorados de ver o resultado, este
“carnegão” que a gente vai tirando pouco a pouco.
Enquanto um tumor não vem a furo, não se pode pensar na sua
cura. Agora que este tumor veio a furo, estamos começando a
sentir, como está em O Livro dos Espíritos, “a necessidade do
bem e das reformas”. Os Espíritos dizem que é necessário que
“o mal chegue ao excesso, para que o ser humano sinta a necessidade do bem e das reformas”. Agora que os assaltos, os seqüestros chegam às nossas famílias, batem às nossas portas, nossos
lares são invadidos, começamos a pensar no bem e nas reformas. Neste momento que nos aturde tanto, a solução está em
nossas mãos, quando resolvermos colocar o Evangelho de Cristo na nossa prática e não apenas na nossa cultura.
A INVEJA NO ESPELHO
LEILA BRANDÃO
sobrevivência, que é irracional e muitas vezes cruel. Sob o império dessa paixão, o ser não percebe o quanto pode agir insensatamente. Se conseguíssemos identificá-la e olhá-la sob a ótica
do aprendizado, a inveja poderia até se tornar auto-estimulante, impulsionando o indivíduo às conquistas que valorize no
outro. Encará-la frente a frente sob essa ótica faz com que compreendamos melhor as limitações que nos caracterizam. Fingir
que não a possui é permanecer na ignorância de si mesmo.
Segundo o dicionário do Aurélio: a inveja é o desgosto ou No velho testamento está escrito que a inveja tem origem no
pesar pelo bem ou felicidade de outrem. Desejo violento de possuir orgulho. Mas o que é o orgulho senão a ignorância de si meso bem alheio. Definição muito próxima à de Descartes no seu mo e do seu destino? Concordamos com os ensinamentos bílivro “As paixões da Alma” : “A inveja é um desgosto ( mescla de blicos e estamos certas de que um bom caminho seria desenvoltristeza e ódio) com o bem que se vê acontecer a outros.”
ver projetos que desmascarasse o orgulho e diminuísse o egoísmo,
Mas, por que a felicidade de alguém poderia causar sofri- enfraquecendo, assim, as raízes de todos os males desse mundo.
mento em quem quer que seja? Não faz senO afastamento, ainda que inconsciente, do
tido sofrer-se com as conquistas alheias. Ao
sentido verdadeiro da vida, tem trazido pecontrário, deveria ser um estimulo à espesados ônus ao progresso individual.
inveja é, entre tantas,
rança perceber que alguém foi capaz de con“O reino de Deus está dentro de vós” assequistar um bem desejado por muitos... No
verou o Mestre. Afirmativa inquietante, uma
uma das muitas dores
entanto, faz sentido se entendermos que esse
que nos remete ao oceano (Inconscientransitórias (Kardec chamou, vez
sentimento acontece na zona do inconscite) de Jung e nos leva a perguntar: Como
ente. O sentimento de insuficiência (eu não
também, de “tortura da
navegar nesse oceano desconhecido, povoasei se mereço ou se sou capaz), que se desendo de monstros e sombrios labirintos ?
alma”) daqueles que ainda
volve através da educação ética deficiente torComo não se deixar afogar nas ondas desse
na-se tão fortemente incorporado ao
não tomaram consciência
mar bravio? Como conseguir sair dos abispsiquismo do invejoso que ele sente a sua alma
mos escuros e frios dos desafetos (os traudas próprias emoções.
arder ao julgar-se incapaz de realizar os feitos
mas sofridos)? Como olhar para o retrato
de outrem. Assim, ameniza o seu “estado feque se vê no espelho de si mesmo e gostar
bril “ projetando sobre o invejado o veneno produzido por esse do que se vê? Diz sabiamente Amélia Rodrigues que o caminho
tormento íntimo.
do Reino é uma longa subida2, sim, porque após descer à
Diz Jung que a consciência é como uma rolha boiando em profundidade do próprio psiquismo, é preciso fazer o caminho de
um oceano1.O oceano representa o inconsciente. O que pensa- volta e trabalhar no “Ego”( Personalidade) as crises da mudança.
mos que somos está muito distante do que realmente somos...
Qual brasileiro que ainda não ouviu falar do “olho gorEssa analogia é perfeita porque existe mesmo um oceano mis- do”, do uso da “figa”, do “galho de arruda”, da “espada de S.
terioso a ser explorado no íntimo de cada ser. Podemos com- Jorge” para proteger-se do famoso “mau olhado” e até do “feprovar isso frente aos desafios do cotidiano...Quantas e quantas char os olhos dos mortos” para que não invejem a vida dos que
vezes cada um de nós se surpreende com as próprias ações e se ficaram vivos?
pergunta: - Por que agi assim? A inveja tem muitas máscaras!
A sabedoria popular fala, de forma simbólica, dessa enerA inveja entre irmãos, entre marido e mulher, entre profissio- gia destruidora que consome o íntimo do invejoso e prejudica
nais, mascaradas em zelo, prudência ou outro artifício qual- o invejado, que nem sempre se encontra atento às forças negaquer. Essa frase “ falo isso porque quero o seu bem” nem sem- tivas da alma.
pre é bem assim...
Precisamos urgentemente aprender a pensar, a valorizar a
Portanto, poderíamos acrescentar que a inveja é, entre tan- energia que estamos exteriorizando e recebendo! “Orai e Vigiai”.
tas, uma das muitas dores transitórias (Kardec chamou, tam- Eis a advertência do Mestre Jesus mais atual que nunca!
bém, de “tortura da alma”) daqueles que ainda não tomaram
1
Psicologia do Inconsciente – C.G. Jung
consciência das próprias emoções.
2
Primicias do Reino – Amélia Rodrigues ( Psicografia Divaldo Franco)
Ela se apresenta como uma herança atávica nos seres huLeia este artigo na íntegra no site www.cema.org.br
manos. Faz parte do seu mecanismo de defesa porque, ao construirmos um mundo competitivo, exacerbamos o instinto de
CENTRO ESPÍRITA MARIA ANGÉLICA
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O APRENDIZ
“...Inveja e ciúme! Felizes aqueles que não conhecem
esses dois vermes vorazes. Com a inveja e o ciúme
não há calma, não há repouso possível...
O invejoso e o ciumento vivem em estado febril...
A inveja é o ciúme aliado à mediocridade...”
(Q.933 – L.dos Espíritos – Kardec)
A
ALMAS GÊMEAS:
O QUE DIZ A DOUTRINA ESPÍRITA ?
CLAUDIO C. CONTI
M
uitas pessoas que acompanham a novela das seis na TV Globo, Almas Gêmeas, têm questionado sobre o encontro
das “metades”, um assunto que desperta tanta curiosidade e estimula um estudo mais aprofundado sobre a reencarnação. Para esclarecer melhor estas dúvidas, entrevistamos Cláudio Conti, trabalhador de nossa Casa, palestrante e
professor do Curso de Orientação Mediúnica.
O APRENDIZ: Cláudio, existem
almas gêmeas, isto é, todos nós temos a nossa “metade da laranja”?
Cláudio Conti: Como todo
e qualquer questionamento
sobre
questões
concernentes à nossa existência como seres espirituais, devemos nos reportar
à obra básica da Doutrina
Espírita. A resposta dada
pelos espíritos a Kardec, na
questão 298 de O Livro
dos Espíritos, deixa claro
que não existem almas predestinadas a união ou que se completam como se fossem
duas metades, pois cada ser é único e completo. Os seres se
buscam mutuamente devido à sintonia de pensamento e
de pendores. Portanto, é importante ter sempre em mente que a “mágica” de qualquer união, findo os momentos
iniciais da paixão, dependerá do empenho dedicado à manutenção do amor e da compreensão entre o casal.
forma, devendo nascer, em geral, nove meses depois.
O APRENDIZ: Porque sentimos uma atração à primeira vista por determinadas pessoas e
uma antipatia também à primeira vista por outras?
Cláudio Conti: Como já o
dissemos na primeira pergunta, os espíritos se buscam devido à sintonia mútua de pensamentos. Quando nos
encontramos com aqueles que
mantém um padrão mental
em concordância com o nosso, e somos capazes de reconhecer esta concordância, sentimos uma simpatia imediata. Em contrapartida, sempre que reconhecemos aqueles
cujo padrão mental é oposto ao que esposamos, surge um
sentimento de aversão ou antipatia. Qualquer que seja o
caso, porém, devemos sempre lembrar que aquele que se
encontra diante de nós também é um filho de Deus, nosso irmão, por isso não devemos cultivar animosidades.
O APRENDIZ: Na novela, a história conta que o espírito
da moça que desencarnou em um assalto imediatamente
reencarnou no corpo de uma índia. Isto é possível? Qual é o
tempo que um espírito leva para reencarnar?
O APRENDIZ: O ditado popular “pólos opostos se atraem”
serve para os casamentos de pessoas com temperamentos inteiramente diferentes?
Cláudio Conti: Segundo as questões 223 e 224 de O Livro dos Espíritos, não existe um padrão que deva ser seguido. O intervalo entre a desencarnação e a subseqüente
encarnação pode variar desde algumas horas até milhares
de séculos. Tudo dependerá da necessidade particular de
cada um. O espírito poderá, inclusive, reencarnar imediatamente. Todavia, é preciso lembrar que o processo
reencarnatório tem início na fecundação do óvulo, momento em que o espírito se liga ao novo corpo que se
Cláudio Conti: Temperamentos diferentes não significa
forçosamente que possuam objetivos de vida diferentes.
Somente com a convivência as duas pessoas poderão descobrir o que as atraiu e desenvolverem um amor duradouro. No entanto, é preciso estar atento para não buscar uma
união que se baseia apenas na satisfação do orgulho ou no
interesse pessoal, pois pode se transformar em motivo para
muitos dissabores e, ainda pior, acreditar ser resgate do
passado uma atitude impensada no presente.
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