Grifo1. Baixa, vai.

Transcrição

Grifo1. Baixa, vai.
quem não é visto não é lembrado
Prim e ira e d içã o d e u m a re vist a q u e se
p re t e n d e e xp e rim e n ta l. N ã o se i p o r q u e ,
m a s a p a la vra e xp e rim e n t a l m e su g e re
n o vid a d e , o u p e lo m e n o s u m a o u sa d ia
ca p a z d e p r o d u zir/ criar u m a n o v id a d e; o
n o vo . N o v o ? Prim e ira d ificu ld a d e : d e cid ir
por
um
f o rm a t o
p re ssu p õ e
m a le á ve l.
e str u t u ra
e
F o rm a
e str u t u ra
me
le m b ra a q u e la s b a rra s d e f e rro q u e se
e n ca ixa m
p a ra
M a le a b ilid a d e
fo rm a r
é
um a
a r q u ib a n ca d a s.
co isa
que
me
le m b ra o m o le . U m a a rq u ib a n ca d a m o le
d e sa b a .
C o n clu são
d if icu ld a d e :
nã o
p a ra
a
p rim eira
q u er em o s
se r
um a
re vista a rq u ib a n ca d a. M a s e st a m o s lo n g e
de
n o s co n sid e ra r
a p e íro n
é
in v e n ta d a
a
por
um
a p e íro n
su b st a n cia
um
filo so fo
p le n o ;
m e t a físic a,
g re g o , se m
fo rm a , co r o u ch e iro , o rig e m d e to d a s a s
fo rm a s, co re s e ch e iro s. So m o s p e sso as,
p o r isso co n st it u íd o s p o r f o rm a s, c o re s,
ch e iro s, cre n ça s, h ist o ricid ad e s, d e sejo s,
fa n t a sia s,
so n h o s...
n e ce ssá r ia
p a ra
q u a n ta
c o n st it u ir
co isa
um
é
H om e m
e / o u u m a M u lh e r? So m o s jo ve n s e p a ra
o s ve lh o s isso sig n ifica fu t u r o . F u t u r o é
uma
co isa
q ue
a
g en t e
e sp e ra ,
lo g o
jo ve m é u m a p e sso a e m fa se d e e sp er a.
Po r a lg u m a ra z ã o fu t u ro t a m b é m sig n if ica
u m a co isa q u e n ão a lca n ço u a p e rf e içã o .
Q u e re r p e r fe içã o é u m a co isa d e ve lh o .
V e lh ic e é u m a f a se h u m an a d o s q u e já
ch e g a ra m ,
se
a p o se n ta r a m
e
a g o ra
e sp e r am n a s p ra ça s q u e o jo ve m / f u t u ro
in v e n te o n o vo . N o vo ? Q u e st õ e s co m o
e st a s e st ão e m f o co n a G rifo .
Impressão – Gráfica UFMT. Projeto gráfico,
redação e edição - Agência Laboratório.
Diagramação - Vitor Torres. Correção ortográfica
- Guilherme Souto. Editora Chefe – Talyta Singer.
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65 3615-8378
Quem somos
Vitor Torres – o pedreiro,
Talyta Singer – a chatona,
João pede Feijão – o poeta,
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Guilherme Souto – o Carioca,
André Victor Gorayeb – o Claudão
e Luciano Buiuzinho – o estagiário.
Apoio institucional: Coordenação de Cultura,
ASCOM, Provivas e Seo Luiz.
Colaboradores
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da Filosofia, da correria e da Giullia.
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Mikhail Favalessa – da Volume Comunicação,
do Snorks e da Caju.
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Fernanda Quevedo – da Favela Comunicação,
da CUFA e do Serviço Social da UFMT.
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do Black Drawing Chalks.
Roubamos a ilustração dele do
www.flickr.com/dougrinhasdosteclados.
Projetos irmãos (igualmente filhos do Panamby)
– Quilombo Angola, Escola de Circo da UFMT,
Cinema na OCA, Rede Literária,
Núcleo de pesquisas Observatório, Parangolé,
Matri África, GAT (Galpão de Armazenagem e Triagem)
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Parceiros:
Casa Fora do Eixo, Circuito Fora do Eixo
Conexões de Saberes, Cufa MT
Editora Cativa, Emaz
Espaço Cubo, Imprensa de Zine
MIC – Mídias Integradas Cuiabanas
MISC – Museu da Imagem e do Som de Cuiabá
Movimento de Teatro, Mules, Padam
Próxima Cena, Sindicatto, Volume, Zeiss
R
GRIFARIA
que é acompanhada de um silêncio lúcido. E morrer por quê? A pergunta que sempre acompanha
aquele que fica é por quê? Quais os motivos? Ainda que as “mensagens do adeus”1 possam nos trazer
ressonâncias das ‘pretensas’ razões, elas nos parecem inúteis. Se há algo de impenetrável no suicídio, são
suas causas. O motivo que leva ao ato é coberto com flores, juntamente com a terra molhada que cobre os
corpos.
E se a vida não tem sentido qualquer, para viver ou morrer não há razões. Posso dizer sim ou não. E não
há razões para uma ou outra decisão. Se decido viver, afirmo o meu querer – a decisão é uma afirmação
do meu querer – e se decido morrer, afirmo o meu querer.
As razões que justificam o ato, viver ou morrer, são apenas argumentos para que os outros possam
avaliar o ato. O suicida, ao decidir, decide por fazer cessar, se as causas que o levam nos soam banais ou
heróicas, não importa-nos. São apenas argumentos que justificam para aqueles que ficam que o ato não foi
em vão, ou que tinha um motivo que nos faça compreender e nos familiarizar com o mundo e nos
harmonizar. Se foi por amor, por tristeza, por felicidade, por pobreza, pelo próximo, o que podemos dizer é
GRIFARIA
Semana do Calouro
– Foi entre 17 e 28 de março e tinha o slogan “Todo Mundo, Tudo
Muda”. Choveu às pampas no dia do Sarau do Calouro, juntou gente pra fazer campanha
na Aula Inaugural, o slogan foi copiado pela Kuat, os veteranos ainda acham que cara
pintada muda o mundo e teve fratura exposta do trote da Geologia. Em agosto tem mais
e a gente acha que vale a pena.
Aniversário de Cuiabá - Foram 289 ações em comemoração aos 289 anos da Villa Real
do Senhor Bom Jesus do Cuyaba. Não tem espaço na revista pra falar de todas elas,
mas o momento mais emocionante, com certeza, foi ver o Racionai’s MC tocar pra mais
de 20 mil pessoas e ver mais de oito bombas de efeito moral (que eu contei) lançadas
pela polícia sobre as 20 mil pessoas que viam o Racionai’s MC. O momento mais chique
foi a Orquestra Sinfônica da UFMT tocar no Pedra 90.
Conselho Municipal de Cultura - As entidades culturais se movimentaram com as eleições
para a próxima gestão do Conselho Municipal de Cultura. Geral nas reuniões, coisa boa
de ver. Todos os segmentos representados e o pau quebra daqui a pouco, quando
começar a aprovação de projetos.
que: não é mais possível continuar, esgotaram-se as possibilidades.
Werther em um diálogo com Alberto2 sobre o suicídio argumenta contra o senso comum que afirma o
ato como uma covardia ou coragem, dizendo que a natureza humana é limitada e suporta a alegria, a
tristeza e a dor até certo ponto. Se ultrapassar esse ponto limite – que cada homem tem o seu – sucumbe
e por esse fato, não é possível falar em covardia ou coragem.
É assim, não há como universalizar o ato, nem achar razões iguais para todos os suicidas, nem ao
menos prevenir o ato. As políticas de prevenção acabam se tornando tirania social e moral. Quando alguém
se determina a morrer, é porque algo nele transborda.
Há uma frase que me acompanha a algum tempo: “O suicídio é belo”, e explico: belo por que é um
ato humano que denuncia o trágico da existência, o esgotamento de todas as possibilidades e ao mesmo
Reinauguração da Casa Fora do Eixo - A menina tem 15 anos, os caras que se
tempo é a ação decisiva de um ser que toma pra si sua própria vida e se recusa a ser um condenado. É
aquele que definitivamente quer morrer.
apresentam com ela têm 15 só de carreira (talvez mais) e juntos eles fizeram o show
FOFO que reabriu Casa Fora do Eixo. Mallu, você é linda, se tiver um tempo, liga pro
Vitão.
Para além de incitar ao ato, enxergar a morte voluntária por outros olhos, é libertar os suicidas das
frondes das árvores, da condenação eterna que nossa sociedade os encerrou. É retirar daqueles que ficam,
uma culpa, uma vergonha que os acompanha.
1
2
DIAS, Maria Lu iza. Suicíd io. Testem unh os do ade us. São Paulo: Brasiliense, 1991.
GOETHE, J. W. Os sofrimentos do jovem Werther. São Paulo: Abril Cu ltural 1989.
EREA – Encontro Regional dos estudantes de Arquitetura - Foi em Chapada.
Padre que (não) voou com os balões – torcedor do Corinthians, aposto.
GRIFARIA
I
ndivíduo,
indivíduos,
gente nova, idéias
novas...O novo! Pessoas
que vêm para acrescentar,
juntar,
agregar,
inovar,
vitalizar, revitalizar. Momento
de um começo. Recomeço.
Momento de dar continuidade
àquilo que já existe. Projetos,
extensões, pesquisas. Um lugar
de
diversidade:
cidade
universitária.
Instituição!
Amigos e colegas mobilizados
por uma só causa: educação de
qualidade.
Agora saudemos. Saudemos a
quem chega. Saudemos à que
chega.
Apresentem-se!
Apresente-a! Falem das músicas,
falem das idéias, falem das
mudanças. Falem do que de se
passa na cabeça. Exponham-se!
Saudemos novamente. Aquilo
que deixa intrigado, aquilo que
deixa irritado, aquilo que
satisfaz. Brinquemos com
aqueles que não fazem parte de
nosso cotidiano, de nossa roda.
Convidemos para discutir, para
conversar
sobre
nossas
diferenças.
Diferenças! Em conjunto, uma
totalidade. Qualidade de ser
diferente.
Variedade,
diversidade. Como seria se
todos fossem iguais? Como seria
se os vizinhos vestissem do
mesmo modo? Como seria se
todos tivessem as mesmas
idéias e os mesmos ideais?
Talvez
não
existissem
preconceitos.
Talvez
não
acontecessem genocídios. Mas o
que conversaríamos? O que
discutiríamos?
O
que
ensinaríamos? O que diríamos
às novas gerações? De quem
falaríamos mal? (hehehe) Não
sendo radicais, nada melhor do
que falar mau! Falemos,
falemos.... Mas não esqueça
você tambémé diferente
O
que fazer quando as
mídias ligadas a grandes
corporações não abrem
espaços (ou simplesmente não
têm estes espaços) para as
produções
independentes?
Opção a: choramingar um
emprego
nestas
grandes
corporações. Opção b: mudar de
ramo. Opção c: criar sua própria
mídia alternativa.
Se sua escolha foi a
opção ‘a’, talvez você não deva
sequer se dar ao trabalho de
terminar a leitura deste texto,
afinal ele irá contradizer todo o
seu modo de vida. Ou talvez por
isso mesmo você deva lê-lo.
Talvez você ainda tenha uma
chance. Mas se você respondeu
‘b’ ou ‘c’, especialmente ‘c’,
vamos ao que interessa.
Com a internet e todo
o movimento de expansão dos
espaços de divulgação e mídia,
uma grande lacuna surgiu no
mercado, restando às pequenas
cooperativas, coletivos, etc. de
comunicação a tarefa de ocupála. E foi neste momento em que
alguns cuiabanos vislumbraram
a
possibilidade
de
potencializarem as ações de
seus coletivos e atingirem o
público com informações muitas
vezes mais relevantes que as
das mídias de massa.
A partir daí surgiram Cubo
Comunicação (Espaço Cubo),
Volume Comunicação (Volume),
Favela Comunicação (CUFA MT) e
Agência Laboratório (sim, esta
GRIFARIA
mesma que produz as páginas
que você lê neste momento).
Estas quatro frentes de
comunicação tomaram para si a
tarefa de debater políticas
públicas para a cultura, e outras
maneiras para ocuparem cada
vez mais espaços na divulgação
de ações culturais. Além disso,
visualizaram também que
necessitavam trocar tecnologia
entre si, para que pudessem
melhorar cada uma de suas
respectivas produções. Tudo isso
feito através do Mídias
Integradas Cuiabanas, que nada
mais é do que a junção das
quatro frentes de comunicação
citadas, e que cria o ambiente
favorável para que possam
atender as necessidades citadas
acima.
O
MIC
(Mídias
Integradas Cuiabanas) se reúne
agora semanalmente, e divulga
em
seu
blog
(www.midiasintegradascuiabana
s.blogspot.com) e em sua web
rádio (postada na rádio hell city,
www.hellcity.podomatIc.com), as
ações dos coletivos que
integram-se neste, que é o
primeiro passo para a
democratização da informação.
O
plano era falar do caso
“Pequena Isabella”, mas
já estou de saco cheio
deste assunto. Alémdo mais,
tudo já foi dito. Já falaramaté
que os meios de comunicação,
como de costume,
transformaramesta barbaridade
num grande espetáculo com a
ajuda da polícia e da população
adoecida de uma curiosidade
mórbida, para venderem
detergente. Tudo parece muito
Julgar é avaliar algo, para avaliar tenho que estabelecer a partir de que perspectiva se avalia.
Responder se a vida tem sentido – ter sentido, é ter uma direção, um fim, uma finalidade que justifique,
no caso, a existência – é saber se ela merece ou não ser vivida. Depois dessa resposta, a vida passa a
ser resultado de uma avaliação, e não mais um hábito. Aquele que se mata, confessa com seu ato que
“a existência não vale a pena”, confessa que a vida não tem sentido. É absurda.
O que Camus pretende investigar é se o suicídio é conseqüência obrigatória do absurdo. O
absurdo é a ausência de sentido na vida, que diante da crueza do mundo ficamos expostos a nascer e
morrer, sem razão, explicação ou lógica qualquer. Para ele, viver é um hábito e adquirimos o hábito de
viver antes do de pensar. É esse hábito que faz com que o corpo recue diante do aniquilamento. É a
pulsão pela vida, ainda que miserável. “Morrer voluntariamente implica reconhecermos o carácter irrisório
desse hábito, a ausência de qualquer razão profunda de viver, o carácter insensato dessa agitação
cotidiana e a inutilidade do sofrimento”1.
Mas Camus, escapa ao suicídio pela revolta. Viver o absurdo é viver instalado na revolta. A revolta é a
negação da racionalidade do mundo e é a afirmação da vida absurda. Para se afirmar o absurdo do
mundo é preciso viver, mesmo sabendo que é inútil. É a afirmação da condição humana de estar
condenada à morte, ao aniquilamento, mas viver porque é a única possibilidade de ser humano possível,
já que a morte é a opção pelo nada. A revolta é a recusa em morrer. O suicídio a renúncia de viver.
Ao recusar a viver, “o suicídio resolve a sua maneira o absurdo”. E o homem revoltado morre
“irreconciliado e não de bom grado. O contrário do suicida é, precisamente, o condenado à morte”2.
Todos nós estamos condenados à morte, mas há uma outra inversão possível. Ser condenado à
vida. Ser obrigado a viver, ainda que tenha esgotado todas as possibilidades.
Ao considerar o suicídio como uma conduta, que envolve uma decisão individual, afirmo a voluntariedade
dessa decisão. Vontade é uma força vital que deseja. O suicídio é um querer (vontade, desejo) que se
afirma no aniquilamento do corpo.
Decidir por morrer é ser consumido por um desejo que vai se apossando do indivíduo e é no
coração do homem, no lugar que metaforicamente se aloja a pulsão de vida, que esse movimento vai se
dando até a determinação pela própria morte e consumação do ato. Ninguém se mata de repente, de
uma hora pra outra, há uma trajetória, um percurso que o suicida realiza: decidir o método, escolher o
ambiente, a hora solitária, adquirir os instrumentos.
Não importa as causas infindas que o move a isso, que são inumeráveis. Não nos importar valorar essas
causas, já que metrificar a dor do outro nos é impossível. O que nos importa é a decisão individual
1
CA MUS, Al ber t. O mito de sísifo. Ensaio sobre o absurdo. E diç ão li vros B rasil Li sb oa.
2
CA MUS, Al ber t. O Home m R ev oltado. Rio de Janei ro: R ec ord, 1996.
GRIFARIA
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Suicídio é o ato de aniquilar o próprio corpo por voluntariedade. É, para além de decidir morrer,
preparar e executar um ato que elimina a vida. É essa constatação que causa um desconforto social,
moral, uma indisposição cultural, que se evidencia nos discursos da prevenção e da cura, no interdito
social velado de que é proibido matar-se.
O suicídio é um prato indigesto - assim como as pedras. É um assunto que tem sua dureza, a
crueza de evidenciar aquilo que todos querem esconder: a fatalidade, o destino, a parte que cabe a cada
um de nós em vida. Se a arte do filósofo é saborear1 , degustar para discernir, tudo no mundo é um
cardápio a ser degustado e na maioria das vezes, é um prato indigesto.
O sabor amargo da morte, principalmente dessa, que se quer morrer, nos leva ao mais profundo problema
moral, que segundo Nietzsche foi Anaximandro quem formulou:
“Como algo que tem direito a existência pode perecer? De onde vem esse incessante devir e parturir, de
onde procede essa contracção dolorosa no rosto da natureza, essa lamentação fúnebre infindável que
ressoa através de todas as esferas da existência? [...] qual o valor da vossa existência? E se nada vale
porque existis?”2
Aqui está exposta a pergunta trágica da existência humana. Trágico é aquilo contra qual não é
possível vencer, o terrível, o destino, “é a parte que te cabe deste latifúndio”. E aquilo que não é
possível vencer é justamente o vir–a-ser constante a que tudo está submetido. É a fatalidade, o destino
que é fiado, enrolado e cortado pelas Moiras. O inevitável da vida: a morte.
É aterrorizante para o homem que tem a consciência desse movimento absurdo, de vir a ser e
perecer a que toda a existência está submetida, que ele não pode fixar – e para conhecer é preciso
fixar. Tudo se torna fugaz e momentâneo, mas ao mesmo tempo, belo. É através do reconhecimento
dessa tragédia, que o homem se afirma enquanto um homem que deve ultrapassá-la, encarar seu destino
e afirmar a sua existência como um herói, que enfrenta, ainda que saiba que irá perder.
De outro modo Camus faz a mesma pergunta e traz o suicídio enquanto um problema filosófico,
uma questão moral. Uma questão moral é aquela que diz respeito à conduta, à ação e está suscetível de
avaliação. O que Camus propõe como um problema filosófico é justamente essa avaliação de uma conduta:
a de continuar ou não, vivendo.
1
Ni etz sche, Fried ric h. A filosofia na id ade trágica d os gregos. Ri o de Janei ro: elfos Ed. Lisboa ed içõ es 70, 1995.
2
NI ETZS CHE. A filosofia n a id ad e trágica d os gregos. Ri o de Jane iro: elfos E d. Lisboa e diç ões 70, 1995.
óbvio, a despeito das tragédias
cotidianas que obrigam os
transeuntes a se desviarem.
Outro dia eu dormia,
na segurança meu do quarto, e
um louco ( provavelmente
bêbado) passou pela rua
gritando, como um vendedor de
pamonhas: “compro crianças,
joguem seus filhinhos pelas
janelas”. Honestamente, isso me
divertiu. O mundo não se
sensibiliza com nada mais! Tudo
é um grande estereótipo,
mesmo. As pessoas demonstram
luto pelo orkut, defendem pena
de morte para os acusados, mas
continuam com seus hábitos
cruéis, continuam comendo suas
criançinhas com biscoito.
Me parece que a coisa
mais importante a se dizer é que
somos, cada umemsua represa,
uma banana de dinamite mal
acondicionada e logo tudo vai
pelos ares!
D
epois da chuva pegue a
curva, olhe pro céu e tente
alguma palavra... se ela
engasgar vomite uma bola de
pêlos e teça uma bandeira. Se
demore no secreto das coisas. A
consciência é misteriosa naquilo
que ela alcança também. Abrace
a loucura com cuidado:
- Não há como saber quanto lodo
cresceu em sua represa... - Mas
não tema a enxurrada e quando
ela vier, dedique sua atenção às
cores que explodem contra o sol.
A solução é uma mentira. O
mundo continuará assim e se
você não puder suportar aperte
o gatilho contra a cabeça. Mas se
você decidir viver saiba: - Não
há preparação nem garantias.
Não existem ensaios e se você
continuar esperando o diretor
com as suas falas sua mudez
será perpétua! - Procure
aprender sobre as raízes,
procure saber sobre plantações
de alface, não ignore o tédio que
as máquinas e embalagens te
causam; isso é um dado
importante. Deseje os corpos
para que te possam desejar. A
feiúra também está repleta de
calor e gozo. Fique acordado no
escuro, não se preocupe em
tropeçar. Isso de ser visto é uma
meia verdade. Não há nada mais
misterioso que observar alguém
que nada esconde. A vida
murcha na cara da gente e tudo
vivo morre. Tente acariciar um
crânio, mergulhe neste tonel de
carbono e esqueça as frases...
francamente, envelheça e morra
logo, não procrie; o futuro só é
imprevisível para os que
nasceram!
que tende a se espalhar
viralmente.
Mas as tevês não
existem
sozinhas.
Elas
funcionamintegradas a coletivos
de comunicação e produção
audiovisual que pensam na
formação de novos agentes, na
produção e distribuição dos
conteúdos, formando a (ben)dita
rede. Múltiplas pela variedade
dos assuntos, únicas pelos
formatos de produção que vão
além das técnicas consagradas,
as web tevês são criativas pela
vontade de experimentar, e
assim, meio que sem querer,
livremente
criar
novas
linguagens para a velha
televisão.
A facilidade
de
produzir e veicular mata o mito
da ausência de mercado-alémdo-mercado e já é possível ver
uma rede de comunicadores
desvinculados dos grandes
grupos de comunicação de
massa,
engajados
em
movimentos
sociais
sobrevivendo do que produzem
e das trocas que realizam.
A
Máxima
"Câmera-namão-idéia-na-cabeça"
unida à banda larga, ao
YouTube e à necessidade de
falar do que não é dito cria a
produção independente. O
coletivo dá o conteúdo e a
comunicação transforma tudo
em programa de tevê.
A
necessidade (e o direito) de se
informar cria o público, que se
abastece com informação sem
(ou commuito) ruído.
Nessa lógica funciona
uma rede de programas de web
tv
produzidas
pela
movimentação autoral em
Cuiabá. Tv Cubo, Tv Favela, Tv
Próxima Cena, Tv Fora do Eixo,
Tv Panamby e Tv Berohokã são
as primeiras de uma linhagem
U
óston era vigia noturno
de casa funerária. Tinha
33 anos e não havia
formalizado os estudos, tendo
na verdade largado a escola
para trabalhar ainda no primeiro
ano do segundo grau.
Apesar disso, tinha
como traço nato a paixão pelo
conhecimento, o qual buscava
incessantemente, fosse através
de conversas compessoas
instruídas, livros de bolso, horas
e horas embibliotecas públicas
ou até mesmo as maravilhosas
GRIFARIA
mídias à disposição de qualquer
um.
Quanto
a
essa
peculiaridade
de
nosso
protagonista havia
quem
dissesse que ultrapassava os
limites
da
sanidade,
classificando como obsessão.
Alguns falavam de seu
agravamento após o súbito
término de seu casamento.
Ao que parece o ponto
final foi dado quando em
determinada noite a esposa de
Uóston reclamava de algumas
rachaduras
que haviam
aparecido no teto da sala. Como
resposta Uóston, em sua
invencível hiper-valorização do
saber , discorreu por quarenta
minutos a respeito da influência
das mudanças climáticas na
estrutura de edificações antigas,
mostrando como a dilatação e a
contração do concreto gerava a
desagregação do mesmo. Em
seu monólogo chegou a
esmiuçar até o comportamento
dos átomos quando sob a
influência de diferentes graus de
umidade e concluiu discorrendo
sobre "o que é mais
interessante...". Nesse caso a
atração gravitacional que todos
os corpos exercem entre si, o
que poderia acabar resultando
no fechamento natural das
ranhuras do teto, caso
pudessem observar o processo
durante alguns milhares de
anos.
Assim, pouco disposta
a ficar mais alguns dias, quanto
mais alguns milhares de anos
sob o mesmo teto que aquele
"avoado", fez as malas e voltou
para a casa da mãe.
Bem, era isso que
diziam à boca miúda.
Mas, concreto é que as
prestações do lar recém
construído tornaram-se pesadas
demais para uma só pessoa e o
salário de Uóston, insuficiente.
Com isso acabou indo parar na
funerária...a trabalho é claro!
Decidiu largar sua
função de empacotador em loja
de departamento, quando viu
em frente à "Funerária Vai com
Deus", uma placa que oferecia
bom salário para o cidadão que
se dispusesse a organizar a loja
e o seu estoque.
Uóston foi aceito no cargo e
passou a conviver pacificamente
com seus colegas...até o
conhecerem melhor. Quando
viam o homem de olhos
sonhadores se aproximar,
rapidamente procuravam se
ocupar profundamente de
alguma tarefa ou, no caso dos
mais gozadores, dar investidas
cômicas para dentro de algum
caixão.
Ecom isso, Uóston foi,
não pela primeira vez, relegado
ao isolamento.
Além
disso,
na
funerária, assim como em
qualquer outro lugar habitado
por seres humanos, havia a
famosa "fofoca". Esta o rotulava
de exibido, sonhador, chato de
galochas e até mesmo
vagabundo, baseando esta
última alegação na hipótese de
que o indivíduo se aproveitaria
das longas explanações para
fugir do serviço. Como toda
fofoca que se preza, estas
acabavam chegando aos ouvidos
de seu objeto. Edoíam.
No fim das contas,
nosso herói não era suportado
por ninguém e só se mantinha
no cargo por que era
competente, inteligente e
realmente trabalhador.
Os
níveis
de
intolerância dos amigos de
Uóston chegaram a níveis
críticos. Não vendo solução, o
chefe optou por um rearranjo
"de todo o quadro de
funcionários". Este rearranjo
implicava que Uóston ocuparia
GRIFARIA
um novo cargo. De agora em
diante nosso herói seria vigia
noturno. Trabalharia só...e todos
os
outros
funcionários
permaneceriam nos lugares de
antes.
Sentindo-se
incompreendido,
o
rapaz
começou uma nova rotina de
vida. Acordado de noite,
acompanhado de seus adorados
livros, às vezes acompanhado
também de um ou outro caixão
recheado e sempre indo para a
cama com o sol, praguejou
contra seus malfeitores. Mas
sofreu em silêncio, não
encontrando remédio para essa
dor em livro algum.
------Naquela noite de
quinta-feira do ano de 1973
estava Uóston sentado na sala
apelidada de "papa-defunto"
pelos funcionários mais antigos.
Enão estava só.
Pelo que tinha ouvido,
seu acompanhante era um
comerciante rico e pelo que
podia constatar do tamanho do
caixão era uma espécie de
gigante.
Com os caixões vazios
encostados ao longo das
paredes, a bancada sustentando
o contêiner no meio da sala e a
cadeira de vigia voltada para
uma pequena janela, o local
parecia muito mórbido, mas
mais do isso, estático. Osilêncio
sepulcral da plena madrugada
de terça para quarta-feira
combinava coma imagem.
Aquela seria uma
longa noite...talvez a mais longa
da vida de Washington. E se
pudesse imaginar o que estaria
por vir, provavelmente não se
preocuparia com filosofia tão
cedo. Pelo menos não até que
seu turno acabasse...
Continua na proxima edição...
O
utro dia vi pela primeira
vez o show dos
Racionais Mc’s e fiquei
chocada. Fiquei chocada não com
o show emsi, mas como público
que foi lá só para ver os caras
se apresentarem. Eram 20 mil
pessoas cantando todas as
músicas, durante quase duas
horas. Tinha pessoas de todos
os tipos: meninas, meninos,
adultos, cadeirantes, gestantes,
drogados, patricinhas, pretos,
brancas...
Mas o que me chocou
mesmo foi presenciar toda a
discussão que eles provocam.
Todo mundo discutindo que eles
são muito “estrelas”, que são
contraditórios, outros falando
que eles são realmente os caras.
Enfim, todo mundo discutindo
Racionais: os pretos, favelados e
polêmicos.
O grupo que abriu o
show, Linha dura e Dj Taba,
parou de tocar 3 vezes por conta
de brigas, a policia nada de
intervir, e ai pensei: imagina
quando Racionais tocar, não vai
sobrar ninguém!. Mas as brigas
logo
pararam
quando
ameaçaram cancelar o show. As
brigas cessaram e tudo
continuou na mais perfeita
ordem, tirando o atraso de
quase 50 minutos dos Racionais.
Até então, o que eu
conhecia do trabalho do grupo
era “Diário de um Detento” e
Mágico de Oz”, que tem clipes
que passam na MTV. Mas lá
escutei a música “Mulheres
Vulgares” e fiquei com ódio da
musica e da cena que vi ali: as
meninas
cantando,
rindo,
dançando.
Outra coisa foi ver o
público
cantando
“Negro
Drama”, uma puta música com
uma puta mensagem. Comecei a
lembrar dos jovens que são
atendidos no Complexo Pomeri,
(Centro Sócio Educativo para
menores em conflitos com a lei
de Cuiabá,) nos alunos do
Projeto
Consciência
Hip
Hop,(Projeto desenvo,vido pela
CUFA MT,com oficinas dos
elementos do hip hop em um
bairro de Cuiabá) nas historias
que eles nos contam, e pensar:
putz, porque eles não mudam?
Quanta tolice a minha, como se a
transformação dependesse única
e
exclusivamente
dos
adolescentes e da musica dos
Racionais.
Ainda durante show,
discuti com duas pessoas: uma
que defendia o Brown que não
da entrevistas, e outra porque
disse que o público era
composto de ladrão. A primeira
disse que o Brown não da
entrevistas porque a imprensa é
uma filha da puta e que os
brancos não mereciam a atenção
dele. Ai eu, muito grilada disse:
“porra, eu sou preta, faço parte
de um núcleo de comunicação
independente, e ele tambémnão
falou comigo”. Mas tudo bem,
essa questão é mais fácil de
entender, afinal a mídia de
massa é complicada mesmo.
Agora, o cara que me
disse que ali só tinha ladrão e
que todo mundo tinha que estar
na cadeia e não no evento, foi o
fim para min. Primeiro porque
não era verdade e depois
porque
senti
ali
um
reacionarismo, um fascismo, um
ódio puro de preto e favelado.
Eu e uma amiga ficamos horas
ali argumentando que ele estava
enganado, que era preconceito e
tudo mais de negativo na fala
dele.
Complicado mesmo é
saber que partes das pessoas
que estavam ali eram realmente
de facções criminosas da cidade,
e que depois de tudo, a
contraditória e filha da puta era
eu: defendendo essas pessoas.
Não, não se trata de apologia ao
crime, ao tráfico de drogas,
tampouco da violência, menos
ainda a defesa “teórica” dos
favelados e coitadinhos. Tratase de uma certa frustração de
alguém que luta por coisas ou
pessoas que nem sei se querem
ser mudadas, por coisas, que
talvez eu não viva o suficiente
para ver acontecer. Mas uma
coisa é certa: a revolução já
começou com um numero
razoável de pessoas, e que
estamos fazendo do nosso jeito.
Acredite se quiser!