Grifo1. Baixa, vai.
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Grifo1. Baixa, vai.
quem não é visto não é lembrado Prim e ira e d içã o d e u m a re vist a q u e se p re t e n d e e xp e rim e n ta l. N ã o se i p o r q u e , m a s a p a la vra e xp e rim e n t a l m e su g e re n o vid a d e , o u p e lo m e n o s u m a o u sa d ia ca p a z d e p r o d u zir/ criar u m a n o v id a d e; o n o vo . N o v o ? Prim e ira d ificu ld a d e : d e cid ir por um f o rm a t o p re ssu p õ e m a le á ve l. e str u t u ra e F o rm a e str u t u ra me le m b ra a q u e la s b a rra s d e f e rro q u e se e n ca ixa m p a ra M a le a b ilid a d e fo rm a r é um a a r q u ib a n ca d a s. co isa que me le m b ra o m o le . U m a a rq u ib a n ca d a m o le d e sa b a . C o n clu são d if icu ld a d e : nã o p a ra a p rim eira q u er em o s se r um a re vista a rq u ib a n ca d a. M a s e st a m o s lo n g e de n o s co n sid e ra r a p e íro n é in v e n ta d a a por um a p e íro n su b st a n cia um filo so fo p le n o ; m e t a físic a, g re g o , se m fo rm a , co r o u ch e iro , o rig e m d e to d a s a s fo rm a s, co re s e ch e iro s. So m o s p e sso as, p o r isso co n st it u íd o s p o r f o rm a s, c o re s, ch e iro s, cre n ça s, h ist o ricid ad e s, d e sejo s, fa n t a sia s, so n h o s... n e ce ssá r ia p a ra q u a n ta c o n st it u ir co isa um é H om e m e / o u u m a M u lh e r? So m o s jo ve n s e p a ra o s ve lh o s isso sig n ifica fu t u r o . F u t u r o é uma co isa q ue a g en t e e sp e ra , lo g o jo ve m é u m a p e sso a e m fa se d e e sp er a. Po r a lg u m a ra z ã o fu t u ro t a m b é m sig n if ica u m a co isa q u e n ão a lca n ço u a p e rf e içã o . Q u e re r p e r fe içã o é u m a co isa d e ve lh o . V e lh ic e é u m a f a se h u m an a d o s q u e já ch e g a ra m , se a p o se n ta r a m e a g o ra e sp e r am n a s p ra ça s q u e o jo ve m / f u t u ro in v e n te o n o vo . N o vo ? Q u e st õ e s co m o e st a s e st ão e m f o co n a G rifo . Impressão – Gráfica UFMT. Projeto gráfico, redação e edição - Agência Laboratório. Diagramação - Vitor Torres. Correção ortográfica - Guilherme Souto. Editora Chefe – Talyta Singer. [email protected] [email protected] 65 3615-8378 Quem somos Vitor Torres – o pedreiro, Talyta Singer – a chatona, João pede Feijão – o poeta, Hewandro Rezende – o caubói, Guilherme Souto – o Carioca, André Victor Gorayeb – o Claudão e Luciano Buiuzinho – o estagiário. Apoio institucional: Coordenação de Cultura, ASCOM, Provivas e Seo Luiz. Colaboradores Flavianny Tiemi – do Movimento Panamby, da Filosofia, da correria e da Giullia. [email protected] Mikhail Favalessa – da Volume Comunicação, do Snorks e da Caju. [email protected] Fernanda Quevedo – da Favela Comunicação, da CUFA e do Serviço Social da UFMT. [email protected] Douglas Pereira – do Bicicleta Sem Freio e do Black Drawing Chalks. Roubamos a ilustração dele do www.flickr.com/dougrinhasdosteclados. Projetos irmãos (igualmente filhos do Panamby) – Quilombo Angola, Escola de Circo da UFMT, Cinema na OCA, Rede Literária, Núcleo de pesquisas Observatório, Parangolé, Matri África, GAT (Galpão de Armazenagem e Triagem) e Mapa Ambiental. Parceiros: Casa Fora do Eixo, Circuito Fora do Eixo Conexões de Saberes, Cufa MT Editora Cativa, Emaz Espaço Cubo, Imprensa de Zine MIC – Mídias Integradas Cuiabanas MISC – Museu da Imagem e do Som de Cuiabá Movimento de Teatro, Mules, Padam Próxima Cena, Sindicatto, Volume, Zeiss R GRIFARIA que é acompanhada de um silêncio lúcido. E morrer por quê? A pergunta que sempre acompanha aquele que fica é por quê? Quais os motivos? Ainda que as “mensagens do adeus”1 possam nos trazer ressonâncias das ‘pretensas’ razões, elas nos parecem inúteis. Se há algo de impenetrável no suicídio, são suas causas. O motivo que leva ao ato é coberto com flores, juntamente com a terra molhada que cobre os corpos. E se a vida não tem sentido qualquer, para viver ou morrer não há razões. Posso dizer sim ou não. E não há razões para uma ou outra decisão. Se decido viver, afirmo o meu querer – a decisão é uma afirmação do meu querer – e se decido morrer, afirmo o meu querer. As razões que justificam o ato, viver ou morrer, são apenas argumentos para que os outros possam avaliar o ato. O suicida, ao decidir, decide por fazer cessar, se as causas que o levam nos soam banais ou heróicas, não importa-nos. São apenas argumentos que justificam para aqueles que ficam que o ato não foi em vão, ou que tinha um motivo que nos faça compreender e nos familiarizar com o mundo e nos harmonizar. Se foi por amor, por tristeza, por felicidade, por pobreza, pelo próximo, o que podemos dizer é GRIFARIA Semana do Calouro – Foi entre 17 e 28 de março e tinha o slogan “Todo Mundo, Tudo Muda”. Choveu às pampas no dia do Sarau do Calouro, juntou gente pra fazer campanha na Aula Inaugural, o slogan foi copiado pela Kuat, os veteranos ainda acham que cara pintada muda o mundo e teve fratura exposta do trote da Geologia. Em agosto tem mais e a gente acha que vale a pena. Aniversário de Cuiabá - Foram 289 ações em comemoração aos 289 anos da Villa Real do Senhor Bom Jesus do Cuyaba. Não tem espaço na revista pra falar de todas elas, mas o momento mais emocionante, com certeza, foi ver o Racionai’s MC tocar pra mais de 20 mil pessoas e ver mais de oito bombas de efeito moral (que eu contei) lançadas pela polícia sobre as 20 mil pessoas que viam o Racionai’s MC. O momento mais chique foi a Orquestra Sinfônica da UFMT tocar no Pedra 90. Conselho Municipal de Cultura - As entidades culturais se movimentaram com as eleições para a próxima gestão do Conselho Municipal de Cultura. Geral nas reuniões, coisa boa de ver. Todos os segmentos representados e o pau quebra daqui a pouco, quando começar a aprovação de projetos. que: não é mais possível continuar, esgotaram-se as possibilidades. Werther em um diálogo com Alberto2 sobre o suicídio argumenta contra o senso comum que afirma o ato como uma covardia ou coragem, dizendo que a natureza humana é limitada e suporta a alegria, a tristeza e a dor até certo ponto. Se ultrapassar esse ponto limite – que cada homem tem o seu – sucumbe e por esse fato, não é possível falar em covardia ou coragem. É assim, não há como universalizar o ato, nem achar razões iguais para todos os suicidas, nem ao menos prevenir o ato. As políticas de prevenção acabam se tornando tirania social e moral. Quando alguém se determina a morrer, é porque algo nele transborda. Há uma frase que me acompanha a algum tempo: “O suicídio é belo”, e explico: belo por que é um ato humano que denuncia o trágico da existência, o esgotamento de todas as possibilidades e ao mesmo Reinauguração da Casa Fora do Eixo - A menina tem 15 anos, os caras que se tempo é a ação decisiva de um ser que toma pra si sua própria vida e se recusa a ser um condenado. É aquele que definitivamente quer morrer. apresentam com ela têm 15 só de carreira (talvez mais) e juntos eles fizeram o show FOFO que reabriu Casa Fora do Eixo. Mallu, você é linda, se tiver um tempo, liga pro Vitão. Para além de incitar ao ato, enxergar a morte voluntária por outros olhos, é libertar os suicidas das frondes das árvores, da condenação eterna que nossa sociedade os encerrou. É retirar daqueles que ficam, uma culpa, uma vergonha que os acompanha. 1 2 DIAS, Maria Lu iza. Suicíd io. Testem unh os do ade us. São Paulo: Brasiliense, 1991. GOETHE, J. W. Os sofrimentos do jovem Werther. São Paulo: Abril Cu ltural 1989. EREA – Encontro Regional dos estudantes de Arquitetura - Foi em Chapada. Padre que (não) voou com os balões – torcedor do Corinthians, aposto. GRIFARIA I ndivíduo, indivíduos, gente nova, idéias novas...O novo! Pessoas que vêm para acrescentar, juntar, agregar, inovar, vitalizar, revitalizar. Momento de um começo. Recomeço. Momento de dar continuidade àquilo que já existe. Projetos, extensões, pesquisas. Um lugar de diversidade: cidade universitária. Instituição! Amigos e colegas mobilizados por uma só causa: educação de qualidade. Agora saudemos. Saudemos a quem chega. Saudemos à que chega. Apresentem-se! Apresente-a! Falem das músicas, falem das idéias, falem das mudanças. Falem do que de se passa na cabeça. Exponham-se! Saudemos novamente. Aquilo que deixa intrigado, aquilo que deixa irritado, aquilo que satisfaz. Brinquemos com aqueles que não fazem parte de nosso cotidiano, de nossa roda. Convidemos para discutir, para conversar sobre nossas diferenças. Diferenças! Em conjunto, uma totalidade. Qualidade de ser diferente. Variedade, diversidade. Como seria se todos fossem iguais? Como seria se os vizinhos vestissem do mesmo modo? Como seria se todos tivessem as mesmas idéias e os mesmos ideais? Talvez não existissem preconceitos. Talvez não acontecessem genocídios. Mas o que conversaríamos? O que discutiríamos? O que ensinaríamos? O que diríamos às novas gerações? De quem falaríamos mal? (hehehe) Não sendo radicais, nada melhor do que falar mau! Falemos, falemos.... Mas não esqueça você tambémé diferente O que fazer quando as mídias ligadas a grandes corporações não abrem espaços (ou simplesmente não têm estes espaços) para as produções independentes? Opção a: choramingar um emprego nestas grandes corporações. Opção b: mudar de ramo. Opção c: criar sua própria mídia alternativa. Se sua escolha foi a opção ‘a’, talvez você não deva sequer se dar ao trabalho de terminar a leitura deste texto, afinal ele irá contradizer todo o seu modo de vida. Ou talvez por isso mesmo você deva lê-lo. Talvez você ainda tenha uma chance. Mas se você respondeu ‘b’ ou ‘c’, especialmente ‘c’, vamos ao que interessa. Com a internet e todo o movimento de expansão dos espaços de divulgação e mídia, uma grande lacuna surgiu no mercado, restando às pequenas cooperativas, coletivos, etc. de comunicação a tarefa de ocupála. E foi neste momento em que alguns cuiabanos vislumbraram a possibilidade de potencializarem as ações de seus coletivos e atingirem o público com informações muitas vezes mais relevantes que as das mídias de massa. A partir daí surgiram Cubo Comunicação (Espaço Cubo), Volume Comunicação (Volume), Favela Comunicação (CUFA MT) e Agência Laboratório (sim, esta GRIFARIA mesma que produz as páginas que você lê neste momento). Estas quatro frentes de comunicação tomaram para si a tarefa de debater políticas públicas para a cultura, e outras maneiras para ocuparem cada vez mais espaços na divulgação de ações culturais. Além disso, visualizaram também que necessitavam trocar tecnologia entre si, para que pudessem melhorar cada uma de suas respectivas produções. Tudo isso feito através do Mídias Integradas Cuiabanas, que nada mais é do que a junção das quatro frentes de comunicação citadas, e que cria o ambiente favorável para que possam atender as necessidades citadas acima. O MIC (Mídias Integradas Cuiabanas) se reúne agora semanalmente, e divulga em seu blog (www.midiasintegradascuiabana s.blogspot.com) e em sua web rádio (postada na rádio hell city, www.hellcity.podomatIc.com), as ações dos coletivos que integram-se neste, que é o primeiro passo para a democratização da informação. O plano era falar do caso “Pequena Isabella”, mas já estou de saco cheio deste assunto. Alémdo mais, tudo já foi dito. Já falaramaté que os meios de comunicação, como de costume, transformaramesta barbaridade num grande espetáculo com a ajuda da polícia e da população adoecida de uma curiosidade mórbida, para venderem detergente. Tudo parece muito Julgar é avaliar algo, para avaliar tenho que estabelecer a partir de que perspectiva se avalia. Responder se a vida tem sentido – ter sentido, é ter uma direção, um fim, uma finalidade que justifique, no caso, a existência – é saber se ela merece ou não ser vivida. Depois dessa resposta, a vida passa a ser resultado de uma avaliação, e não mais um hábito. Aquele que se mata, confessa com seu ato que “a existência não vale a pena”, confessa que a vida não tem sentido. É absurda. O que Camus pretende investigar é se o suicídio é conseqüência obrigatória do absurdo. O absurdo é a ausência de sentido na vida, que diante da crueza do mundo ficamos expostos a nascer e morrer, sem razão, explicação ou lógica qualquer. Para ele, viver é um hábito e adquirimos o hábito de viver antes do de pensar. É esse hábito que faz com que o corpo recue diante do aniquilamento. É a pulsão pela vida, ainda que miserável. “Morrer voluntariamente implica reconhecermos o carácter irrisório desse hábito, a ausência de qualquer razão profunda de viver, o carácter insensato dessa agitação cotidiana e a inutilidade do sofrimento”1. Mas Camus, escapa ao suicídio pela revolta. Viver o absurdo é viver instalado na revolta. A revolta é a negação da racionalidade do mundo e é a afirmação da vida absurda. Para se afirmar o absurdo do mundo é preciso viver, mesmo sabendo que é inútil. É a afirmação da condição humana de estar condenada à morte, ao aniquilamento, mas viver porque é a única possibilidade de ser humano possível, já que a morte é a opção pelo nada. A revolta é a recusa em morrer. O suicídio a renúncia de viver. Ao recusar a viver, “o suicídio resolve a sua maneira o absurdo”. E o homem revoltado morre “irreconciliado e não de bom grado. O contrário do suicida é, precisamente, o condenado à morte”2. Todos nós estamos condenados à morte, mas há uma outra inversão possível. Ser condenado à vida. Ser obrigado a viver, ainda que tenha esgotado todas as possibilidades. Ao considerar o suicídio como uma conduta, que envolve uma decisão individual, afirmo a voluntariedade dessa decisão. Vontade é uma força vital que deseja. O suicídio é um querer (vontade, desejo) que se afirma no aniquilamento do corpo. Decidir por morrer é ser consumido por um desejo que vai se apossando do indivíduo e é no coração do homem, no lugar que metaforicamente se aloja a pulsão de vida, que esse movimento vai se dando até a determinação pela própria morte e consumação do ato. Ninguém se mata de repente, de uma hora pra outra, há uma trajetória, um percurso que o suicida realiza: decidir o método, escolher o ambiente, a hora solitária, adquirir os instrumentos. Não importa as causas infindas que o move a isso, que são inumeráveis. Não nos importar valorar essas causas, já que metrificar a dor do outro nos é impossível. O que nos importa é a decisão individual 1 CA MUS, Al ber t. O mito de sísifo. Ensaio sobre o absurdo. E diç ão li vros B rasil Li sb oa. 2 CA MUS, Al ber t. O Home m R ev oltado. Rio de Janei ro: R ec ord, 1996. GRIFARIA GRIFARIA Suicídio é o ato de aniquilar o próprio corpo por voluntariedade. É, para além de decidir morrer, preparar e executar um ato que elimina a vida. É essa constatação que causa um desconforto social, moral, uma indisposição cultural, que se evidencia nos discursos da prevenção e da cura, no interdito social velado de que é proibido matar-se. O suicídio é um prato indigesto - assim como as pedras. É um assunto que tem sua dureza, a crueza de evidenciar aquilo que todos querem esconder: a fatalidade, o destino, a parte que cabe a cada um de nós em vida. Se a arte do filósofo é saborear1 , degustar para discernir, tudo no mundo é um cardápio a ser degustado e na maioria das vezes, é um prato indigesto. O sabor amargo da morte, principalmente dessa, que se quer morrer, nos leva ao mais profundo problema moral, que segundo Nietzsche foi Anaximandro quem formulou: “Como algo que tem direito a existência pode perecer? De onde vem esse incessante devir e parturir, de onde procede essa contracção dolorosa no rosto da natureza, essa lamentação fúnebre infindável que ressoa através de todas as esferas da existência? [...] qual o valor da vossa existência? E se nada vale porque existis?”2 Aqui está exposta a pergunta trágica da existência humana. Trágico é aquilo contra qual não é possível vencer, o terrível, o destino, “é a parte que te cabe deste latifúndio”. E aquilo que não é possível vencer é justamente o vir–a-ser constante a que tudo está submetido. É a fatalidade, o destino que é fiado, enrolado e cortado pelas Moiras. O inevitável da vida: a morte. É aterrorizante para o homem que tem a consciência desse movimento absurdo, de vir a ser e perecer a que toda a existência está submetida, que ele não pode fixar – e para conhecer é preciso fixar. Tudo se torna fugaz e momentâneo, mas ao mesmo tempo, belo. É através do reconhecimento dessa tragédia, que o homem se afirma enquanto um homem que deve ultrapassá-la, encarar seu destino e afirmar a sua existência como um herói, que enfrenta, ainda que saiba que irá perder. De outro modo Camus faz a mesma pergunta e traz o suicídio enquanto um problema filosófico, uma questão moral. Uma questão moral é aquela que diz respeito à conduta, à ação e está suscetível de avaliação. O que Camus propõe como um problema filosófico é justamente essa avaliação de uma conduta: a de continuar ou não, vivendo. 1 Ni etz sche, Fried ric h. A filosofia na id ade trágica d os gregos. Ri o de Janei ro: elfos Ed. Lisboa ed içõ es 70, 1995. 2 NI ETZS CHE. A filosofia n a id ad e trágica d os gregos. Ri o de Jane iro: elfos E d. Lisboa e diç ões 70, 1995. óbvio, a despeito das tragédias cotidianas que obrigam os transeuntes a se desviarem. Outro dia eu dormia, na segurança meu do quarto, e um louco ( provavelmente bêbado) passou pela rua gritando, como um vendedor de pamonhas: “compro crianças, joguem seus filhinhos pelas janelas”. Honestamente, isso me divertiu. O mundo não se sensibiliza com nada mais! Tudo é um grande estereótipo, mesmo. As pessoas demonstram luto pelo orkut, defendem pena de morte para os acusados, mas continuam com seus hábitos cruéis, continuam comendo suas criançinhas com biscoito. Me parece que a coisa mais importante a se dizer é que somos, cada umemsua represa, uma banana de dinamite mal acondicionada e logo tudo vai pelos ares! D epois da chuva pegue a curva, olhe pro céu e tente alguma palavra... se ela engasgar vomite uma bola de pêlos e teça uma bandeira. Se demore no secreto das coisas. A consciência é misteriosa naquilo que ela alcança também. Abrace a loucura com cuidado: - Não há como saber quanto lodo cresceu em sua represa... - Mas não tema a enxurrada e quando ela vier, dedique sua atenção às cores que explodem contra o sol. A solução é uma mentira. O mundo continuará assim e se você não puder suportar aperte o gatilho contra a cabeça. Mas se você decidir viver saiba: - Não há preparação nem garantias. Não existem ensaios e se você continuar esperando o diretor com as suas falas sua mudez será perpétua! - Procure aprender sobre as raízes, procure saber sobre plantações de alface, não ignore o tédio que as máquinas e embalagens te causam; isso é um dado importante. Deseje os corpos para que te possam desejar. A feiúra também está repleta de calor e gozo. Fique acordado no escuro, não se preocupe em tropeçar. Isso de ser visto é uma meia verdade. Não há nada mais misterioso que observar alguém que nada esconde. A vida murcha na cara da gente e tudo vivo morre. Tente acariciar um crânio, mergulhe neste tonel de carbono e esqueça as frases... francamente, envelheça e morra logo, não procrie; o futuro só é imprevisível para os que nasceram! que tende a se espalhar viralmente. Mas as tevês não existem sozinhas. Elas funcionamintegradas a coletivos de comunicação e produção audiovisual que pensam na formação de novos agentes, na produção e distribuição dos conteúdos, formando a (ben)dita rede. Múltiplas pela variedade dos assuntos, únicas pelos formatos de produção que vão além das técnicas consagradas, as web tevês são criativas pela vontade de experimentar, e assim, meio que sem querer, livremente criar novas linguagens para a velha televisão. A facilidade de produzir e veicular mata o mito da ausência de mercado-alémdo-mercado e já é possível ver uma rede de comunicadores desvinculados dos grandes grupos de comunicação de massa, engajados em movimentos sociais sobrevivendo do que produzem e das trocas que realizam. A Máxima "Câmera-namão-idéia-na-cabeça" unida à banda larga, ao YouTube e à necessidade de falar do que não é dito cria a produção independente. O coletivo dá o conteúdo e a comunicação transforma tudo em programa de tevê. A necessidade (e o direito) de se informar cria o público, que se abastece com informação sem (ou commuito) ruído. Nessa lógica funciona uma rede de programas de web tv produzidas pela movimentação autoral em Cuiabá. Tv Cubo, Tv Favela, Tv Próxima Cena, Tv Fora do Eixo, Tv Panamby e Tv Berohokã são as primeiras de uma linhagem U óston era vigia noturno de casa funerária. Tinha 33 anos e não havia formalizado os estudos, tendo na verdade largado a escola para trabalhar ainda no primeiro ano do segundo grau. Apesar disso, tinha como traço nato a paixão pelo conhecimento, o qual buscava incessantemente, fosse através de conversas compessoas instruídas, livros de bolso, horas e horas embibliotecas públicas ou até mesmo as maravilhosas GRIFARIA mídias à disposição de qualquer um. Quanto a essa peculiaridade de nosso protagonista havia quem dissesse que ultrapassava os limites da sanidade, classificando como obsessão. Alguns falavam de seu agravamento após o súbito término de seu casamento. Ao que parece o ponto final foi dado quando em determinada noite a esposa de Uóston reclamava de algumas rachaduras que haviam aparecido no teto da sala. Como resposta Uóston, em sua invencível hiper-valorização do saber , discorreu por quarenta minutos a respeito da influência das mudanças climáticas na estrutura de edificações antigas, mostrando como a dilatação e a contração do concreto gerava a desagregação do mesmo. Em seu monólogo chegou a esmiuçar até o comportamento dos átomos quando sob a influência de diferentes graus de umidade e concluiu discorrendo sobre "o que é mais interessante...". Nesse caso a atração gravitacional que todos os corpos exercem entre si, o que poderia acabar resultando no fechamento natural das ranhuras do teto, caso pudessem observar o processo durante alguns milhares de anos. Assim, pouco disposta a ficar mais alguns dias, quanto mais alguns milhares de anos sob o mesmo teto que aquele "avoado", fez as malas e voltou para a casa da mãe. Bem, era isso que diziam à boca miúda. Mas, concreto é que as prestações do lar recém construído tornaram-se pesadas demais para uma só pessoa e o salário de Uóston, insuficiente. Com isso acabou indo parar na funerária...a trabalho é claro! Decidiu largar sua função de empacotador em loja de departamento, quando viu em frente à "Funerária Vai com Deus", uma placa que oferecia bom salário para o cidadão que se dispusesse a organizar a loja e o seu estoque. Uóston foi aceito no cargo e passou a conviver pacificamente com seus colegas...até o conhecerem melhor. Quando viam o homem de olhos sonhadores se aproximar, rapidamente procuravam se ocupar profundamente de alguma tarefa ou, no caso dos mais gozadores, dar investidas cômicas para dentro de algum caixão. Ecom isso, Uóston foi, não pela primeira vez, relegado ao isolamento. Além disso, na funerária, assim como em qualquer outro lugar habitado por seres humanos, havia a famosa "fofoca". Esta o rotulava de exibido, sonhador, chato de galochas e até mesmo vagabundo, baseando esta última alegação na hipótese de que o indivíduo se aproveitaria das longas explanações para fugir do serviço. Como toda fofoca que se preza, estas acabavam chegando aos ouvidos de seu objeto. Edoíam. No fim das contas, nosso herói não era suportado por ninguém e só se mantinha no cargo por que era competente, inteligente e realmente trabalhador. Os níveis de intolerância dos amigos de Uóston chegaram a níveis críticos. Não vendo solução, o chefe optou por um rearranjo "de todo o quadro de funcionários". Este rearranjo implicava que Uóston ocuparia GRIFARIA um novo cargo. De agora em diante nosso herói seria vigia noturno. Trabalharia só...e todos os outros funcionários permaneceriam nos lugares de antes. Sentindo-se incompreendido, o rapaz começou uma nova rotina de vida. Acordado de noite, acompanhado de seus adorados livros, às vezes acompanhado também de um ou outro caixão recheado e sempre indo para a cama com o sol, praguejou contra seus malfeitores. Mas sofreu em silêncio, não encontrando remédio para essa dor em livro algum. ------Naquela noite de quinta-feira do ano de 1973 estava Uóston sentado na sala apelidada de "papa-defunto" pelos funcionários mais antigos. Enão estava só. Pelo que tinha ouvido, seu acompanhante era um comerciante rico e pelo que podia constatar do tamanho do caixão era uma espécie de gigante. Com os caixões vazios encostados ao longo das paredes, a bancada sustentando o contêiner no meio da sala e a cadeira de vigia voltada para uma pequena janela, o local parecia muito mórbido, mas mais do isso, estático. Osilêncio sepulcral da plena madrugada de terça para quarta-feira combinava coma imagem. Aquela seria uma longa noite...talvez a mais longa da vida de Washington. E se pudesse imaginar o que estaria por vir, provavelmente não se preocuparia com filosofia tão cedo. Pelo menos não até que seu turno acabasse... Continua na proxima edição... O utro dia vi pela primeira vez o show dos Racionais Mc’s e fiquei chocada. Fiquei chocada não com o show emsi, mas como público que foi lá só para ver os caras se apresentarem. Eram 20 mil pessoas cantando todas as músicas, durante quase duas horas. Tinha pessoas de todos os tipos: meninas, meninos, adultos, cadeirantes, gestantes, drogados, patricinhas, pretos, brancas... Mas o que me chocou mesmo foi presenciar toda a discussão que eles provocam. Todo mundo discutindo que eles são muito “estrelas”, que são contraditórios, outros falando que eles são realmente os caras. Enfim, todo mundo discutindo Racionais: os pretos, favelados e polêmicos. O grupo que abriu o show, Linha dura e Dj Taba, parou de tocar 3 vezes por conta de brigas, a policia nada de intervir, e ai pensei: imagina quando Racionais tocar, não vai sobrar ninguém!. Mas as brigas logo pararam quando ameaçaram cancelar o show. As brigas cessaram e tudo continuou na mais perfeita ordem, tirando o atraso de quase 50 minutos dos Racionais. Até então, o que eu conhecia do trabalho do grupo era “Diário de um Detento” e Mágico de Oz”, que tem clipes que passam na MTV. Mas lá escutei a música “Mulheres Vulgares” e fiquei com ódio da musica e da cena que vi ali: as meninas cantando, rindo, dançando. Outra coisa foi ver o público cantando “Negro Drama”, uma puta música com uma puta mensagem. Comecei a lembrar dos jovens que são atendidos no Complexo Pomeri, (Centro Sócio Educativo para menores em conflitos com a lei de Cuiabá,) nos alunos do Projeto Consciência Hip Hop,(Projeto desenvo,vido pela CUFA MT,com oficinas dos elementos do hip hop em um bairro de Cuiabá) nas historias que eles nos contam, e pensar: putz, porque eles não mudam? Quanta tolice a minha, como se a transformação dependesse única e exclusivamente dos adolescentes e da musica dos Racionais. Ainda durante show, discuti com duas pessoas: uma que defendia o Brown que não da entrevistas, e outra porque disse que o público era composto de ladrão. A primeira disse que o Brown não da entrevistas porque a imprensa é uma filha da puta e que os brancos não mereciam a atenção dele. Ai eu, muito grilada disse: “porra, eu sou preta, faço parte de um núcleo de comunicação independente, e ele tambémnão falou comigo”. Mas tudo bem, essa questão é mais fácil de entender, afinal a mídia de massa é complicada mesmo. Agora, o cara que me disse que ali só tinha ladrão e que todo mundo tinha que estar na cadeia e não no evento, foi o fim para min. Primeiro porque não era verdade e depois porque senti ali um reacionarismo, um fascismo, um ódio puro de preto e favelado. Eu e uma amiga ficamos horas ali argumentando que ele estava enganado, que era preconceito e tudo mais de negativo na fala dele. Complicado mesmo é saber que partes das pessoas que estavam ali eram realmente de facções criminosas da cidade, e que depois de tudo, a contraditória e filha da puta era eu: defendendo essas pessoas. Não, não se trata de apologia ao crime, ao tráfico de drogas, tampouco da violência, menos ainda a defesa “teórica” dos favelados e coitadinhos. Tratase de uma certa frustração de alguém que luta por coisas ou pessoas que nem sei se querem ser mudadas, por coisas, que talvez eu não viva o suficiente para ver acontecer. Mas uma coisa é certa: a revolução já começou com um numero razoável de pessoas, e que estamos fazendo do nosso jeito. Acredite se quiser!