Apostila de Homilética EBTL – Pr Lucas Lima – 2º Bimestre 2011 1

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Apostila de Homilética EBTL – Pr Lucas Lima – 2º Bimestre 2011 1
Apostila de Homilética EBTL – Pr Lucas Lima – 2º Bimestre 2011
ESCOLA TEOLÓGICA BATISTA LIVRE
Curso de
HOMILÉTICA E ORATÓRIA
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Descrição do Curso: O curso oferece ao aluno uma visão geral sobre a história e significado
da homilética. Apresenta os tipos de sermão mais comumente utilizados, com especial ênfase
ao sermão expositivo, além de ensinar o aluno a preparar o seu sermão a partir de métodos
homiléticos e dos elementos básicos do sermão. Concluindo com as prerrogativas de vida do
pregador.
Objetivo: ao final do curso o aluno deverá
1. Entender o que vem a ser um sermão;
2. Preparar um sermão expositivo;
3. Utilizar ilustrações com eficácia e cuidado;
4. Entender o papel do pregador no processo de apresentação e recepção do sermão.
Esboço do Curso
1. Introdução a Homilética
1.1 Origem da Homilética
1.2 O Porquê da Homilética
2. O Sermão
2.1 As formas sermônicas – 1ª parte (Expositivo / Textual / Temático)
2.2 Objetivo Geral do Sermão
(Evangelístico / Doutrinário / Pastoral / Exortativo / Devocional / Avivalístico...)
2.3 Os Elementos Básicos do Sermão
2.4 Preparando e Organizando o Sermão (exemplos de sermão)
2.5 Formas de Exposição do Sermão
2.6 Ilustração – Uma Valiosa Ferramenta
3. O Pregador e a Pregação
3.1 A Vida do Pregador
3.2 O Cuidado com a pregação
3.3 Os Riscos da Pregação
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1. INTRODUÇÃO
Como a maioria das demais matérias, a homilética é essencial em qualquer currículo
teológico. Ela trata exatamente de como elaborar e apresentar com eficiência um sermão
bíblico.
É através dela que o estudante aprenderá a desenvolver seus sermões de forma que seus
ouvintes sejam tocados pela mensagem que Deus deseja transmitir através dele.
A diferença da Homilética para as demais matérias está justamente no fato de que,
enquanto a maioria das matérias está relacionada ao conhecimento propriamente dito, a
homilética está diretamente ligada à exposição do conhecimento de forma ordenada,
profunda, objetiva e compreensível.
Alguns escritores gostam de chamar a HOMILÉTICA de a "Arte de Pregar". Jesus Cristo
usou a expressão pregar para o processo em que o homem transmite uma verdade
divina. “Ide, pregai...”
1.1 DEFINIÇÃO E ORIGEM DA HOMILÉTICA
O termo (homilética) deriva do substantivo grego "homilia", que significa literalmente
"associação", "companhia", e do verbo homileo, que significa "falar", "conversar". O Novo
Testamento emprega o substantivo homilia em 1 Coríntios 15.33 ...as más conversações
corrompem os bons costumes. Segundo o dicionário Aurélio, homilética é a arte de
preparar sermões religiosos.
A palavra "homilética" surgiu durante o Iluminismo, entre os séculos XVII e XVIII,
quando as principais disciplinas teológicas receberam nomes gregos, como, por
exemplo, dogmática, apologética e hermenêutica.
A arte de falar em publico nasceu na Grécia antiga com o nome de retórica. A palavra
grega rêtos significa palavra falada e o rétor, na Grécia, era o orador de uma assembléia.
Para nós, rétor tomou o significado de mestre de oratória. Oratória foi o nome dado à
retórica no mundo romano. O Cristianismo passou a usar essa “arte” como meio da
pregação evangélica com o nome de oratória sacra, que no século XVII passou a ser
chamada nos meios acadêmicos de Homilética.
A Homilética propriamente surgiu, como discurso religioso, quando os pregadores
cristãos começaram a estruturar suas mensagens segundo as técnicas da retórica Grega
e da oratória romana. Através dela os pregadores passaram a buscar alternativas para
organização do sermão, ordenando o conteúdo para que este fosse compreendido pelos
ouvintes.
Podemos definir Homilética como arte, quando considerada em seus aspectos estéticos
(a beleza do conteúdo e da forma); ciência, quando considerada sob o ponto de vista de
seus fundamentos teóricos (históricos, psicológicos e sociais); e é técnica, quando
considerada pelo modo específico de sua execução ou ensino."
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1.2 DISCUSSÃO (O porquê da Homilética)
Por que devemos estudar Homilética, se Deus é quem capacita, por meio de seu Espírito
que habita em nós? Será que se não estudarmos, o Espírito não nos revela o quê e como
transmitir uma mensagem bíblica? Será que os métodos não impedem o fluir do
Espírito?
2. O SERMÃO
O Senhor deixou-nos um livro especial que é a sua Palavra, a Bíblia. Nela podemos
conhecer a história da humanidade, da redenção e da vida com Cristo. Para podermos
ser conhecedores da Palavra é necessário lermos e estudarmos durante toda a nossa
vida (antes crescei na graça e no conhecimento).
Porém, quando vamos preparar um sermão, este estudo precisa ser profundo e
específico. É preciso adentrar na história que se passou, entender o contexto, a
linguagem, a forma didática dentre outros aspectos. Visto isso, fica impossível um
pregador ser relevante, sem um estudo profundo.
O estudo é um assessório ao sermão, que se inicia no coração de Deus, o qual, coloca no
coração do pregador, quando este está em oração e comunhão com Ele. O pregador
então aplica a mensagem à sua vida, prepara o sermão e transmite à congregação ou
grupo específico de pessoas. Enquanto tudo isso acontece, o Espírito Santo age na vida
dos ouvintes (convencendo), para que estes abram suas mentes e corações, a fim de
serem transformados pelo poder da Palavra.
Se fôssemos traduzir a palavra, diríamos que sermão é um golpe, é atravessar a pessoa
com um golpe. No contexto espiritual, seria uma mensagem direta, com uma finalidade
específica, dita por uma pessoa, usada por Deus, a fim de que os ouvintes sejam
influenciados pelo poder de Deus.
O sermão pode ser entendido também pela figura de um embaixador, representando seu
país em outro lugar do mundo. Ele fala em nome do Rei, do Presidente, em nome da
nação, e não por si só. Sermão é a palavra que o pregador traz ao povo, não por si, mas
em nome de Deus. Enquanto o pregador seria a boca de Deus, o sermão seria a
mensagem em si.
Como dito anteriormente, o pregador é como se fosse a boca de Deus, por isso, cabe a ele
ser um fiel transmissor da palavra (II Tm 2:2) e manter o padrão das sãs palavras (II Tm
1:13). Paulo disse a Timóteo que, mesmo que as pessoas não suportassem ouvir, era
preciso que ele pregasse a todo tempo a palavra, repreendendo, exortando e ensinando
a sã doutrina (II Tm 4:1-5). Mas Paulo também mostrou a Timóteo a necessidade do
pregador se tornar um padrão de amor, pureza, palavra, procedimento e fé aos fiéis (I
Tm 4:12). Tudo isso, para que o nome do Senhor fosse glorificado. A leitura constante
das cartas pastorais, manterão o pregador sempre alerta às suas responsabilidades
diante de Deus.
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2.1 CLASSIFICAÇÃO DO SERMÃO QUANTO AO MÉTODO (as formas sermônicas)
Um sermão pode ser estudado e transmitido de várias formas. Com isso, queremos dizer
que o método de estudo e transmissão do sermão pode variar. Estas variações podem
ser chamadas de formas sermônicas Através da forma escolhida o pregador dirige seu
estudo, organização e transmissão do mesmo. As principais formas sermônicas são:
2.1.1 SERMÃO EXPOSITIVO – Consiste na explicação de uma porção das escrituras. É
aquele cujas divisões principais se derivam do texto, e consistem em ideias progressivas
que giram em torno de uma ideia principal. O sermão expositivo, assim como o sermão
temático e o textual, gira em torno de um tema, mas na mensagem expositiva o tema é
extraído de vários versículos em vez de um único. Por isso mesmo os vários versículos
de uma passagem que dão origem ao tema único do sermão devem formar uma unidade
expositiva.
VANTAGENS: é o método preferido dos teólogos e estudiosos sérios da Palavra de Deus.
Quando usado de forma séria é o melhor método de ensino e, com ele, corre-se menos
risco de desvios doutrinários, principalmente porque exige um estudo profundo do texto
(exegese) para a compreensão de seu propósito original (ou o mais próximo disso).
PERIGOS: não existem grandes perigos na utilização deste tipo de sermão, exceto
quando o pregador passa a priorizar a técnica e os conceitos em detrimento de sua
aplicabilidade à vida dos ouvintes.
Exemplo – Sermão Expositivo
O encontro com a vida - Lucas 7:11-17
I - A multidão que seguia a Jesus
a) Pessoas desejosas
b) Pessoas com esperanças
c) Pessoas alegres
II - A multidão que seguia a viúva
a) Pessoas entristecidas
b) Pessoas sem esperanças
c) Pessoas inconformadas
III - O encontro da vida com a morte
a) A vida é uma autoridade
b) A morte se curva ante a vida
IV - O resultado do encontro
a) A ressurreição do jovem
b) A alegria da multidão entristecida
c) A edificação da multidão que seguia Jesus
d) A conversão de muitos
2.1.2 SERMÃO TEMÁTICO (Topical) - É aquele cujas divisões principais derivam do
tema, e não diretamente do texto bíblico. Isso não quer dizer que o tema não seja bíblico,
mas sim que o sermão gira em torno do tema e não de uma passagem específica. Porém
para que o sermão temático seja bíblico, o tema deve ser extraído da Bíblia.
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Um tema, por exemplo, poderia ser a fé evangélica. O sermão, então não se basearia em
apenas um texto bíblico, mas em diversos versículos da Bíblia, pois a palavra fé se
prolifera por toda a Escritura. O sermão baseado neste tema poderia expor a fé dos
patriarcas, a fé dos mártires, a fé dos apóstolos, e assim por diante.
A fonte inicial do sermão temático pode não ser, necessariamente a Palavra de Deus,
mas seu desenvolvimento deve estar totalmente baseado nela e nas mais diversas
passagens que mostrem o tema propriamente dito e as subdivisões do mesmo. Outros
exemplos de sermões temáticos seriam: O relacionamento conjugal; A depressão; O
Amor, etc. Estes temas são tratados pela Palavra de Deus, por isso, podem ser
desenvolvidos sem necessariamente um texto base, no entanto, mesmo que sejam
usados inúmeros textos, faz-se necessário um ponto de partida que dê a direção para a
exposição.
VANTAGENS: o sermão temático tem algumas vantagens frente a outras formas
sermônicas. Dentre elas estão: a possibilidade de aperfeiçoamento do pregador, visto
que deverá trabalhar bem na organização do material, percorrendo vários textos
bíblicos relacionados. É de fácil preparação. Dizem ser o tipo preferido dos grandes
pregadores. Chama a atenção das pessoas que tem interesse no tema. Quando bem
organizado, dá uma visão bem ampla aos ouvintes sobre o tema escolhido.
PERIGOS: atrair a atenção ao pregador, dando-se maior ênfase à capacidade do
pregador, além de permitir que ele apresente inverdades, defenda-as e faça seguidores;
desconsiderar o valor da interpretação correta das passagens escolhidas.
Exemplo – Sermão Temático
Confissão - I João 1:9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos
perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.
I - O que devemos confessar ?
a) Nossos pecados
b) O Nome de Jesus
c) O poder de Deus
II - Como confessar ?
a) Com sinceridade
b) Com fé
III - Quando devemos confessar ?
a) Agora mesmo
b) Ao ouvir a Palavra de Deus
IV - Qual o resultado da confissão ?
a) Paz
b) Perdão
c) Comunhão
2.1.3 SERMÃO TEXTUAL - O sermão textual é aquele cujas divisões principais derivam
de um texto bíblico, constituído de uma porção mais ou menos breve das Escrituras. O
tema é extraído do próprio texto, e por isso o esboço das divisões deve manter-se
estritamente dentro dos limites do texto.
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CARACTERÍSTICAS DO SERMÃO TEXTUAL
1. Deve girar em torno de uma única ideia principal da passagem, e as divisões principais
devem desenvolver essa ideia.
2. As divisões podem consistir em verdades sugeridas pelo texto.
3. As divisões devem, preferencialmente e quando possível, vir em sequência lógica e
cronológica.
4. As próprias palavras do texto podem formar as divisões principais do sermão, desde
que elas se refiram à ideia principal.
Exemplo – Sermão Textual
A entrada - João 10:9: Eu sou a porta, se alguém entrar por mim, salvar-se-á
I - Eu sou a porta.
a) Da Salvação
b) Da felicidade
c) Estreita
II - Se alguém entrar por Mim
a Não há acepção de pessoas
b A única entrada
III - Salvar-se-á
a Uma decisão própria
b Da perdição eterna
Outro exemplo: "Cristo, o único mediador entre Deus e o Homem" (João 14.6): I - O
CAMINHO; II - A VERDADE; III – A VIDA
VANTAGENS: pode ser melhor utilizado como ferramenta de meditações mais singelas
ou em mensagens para grupos que não possuem tanto conhecimento da Palavra de Deus
ou em momentos mais curtos, apenas como lembrança de temas já conhecidos.
PERIGO: por ser mais simples em sua estrutura, corre-se o risco de se tornar pouco
edificante ou impactante. Não devemos esquecer que é Deus que fala aos corações mas,
uma boa preparação prévia deve ser feita pelo pregador. Entendendo a quem vai falar e
onde quer chegar em sua mensagem.
DIFERENÇA ENTRE SERMÃO EXPOSITIVO E TEXTUAL - De certa forma, todos os
sermões acabam sendo expositivos, quando são organizadas com base bíblica. No
entanto, a divisão em formas sermônicas, faz com que, muitas vezes, o sermão
expositivo seja confundido com o textual. No sermão textual as divisões principais
oriundas do texto são usadas como uma linha de sugestão, isto é, indicam a tendência do
pensamento a ser seguido no sermão, permitindo ao pregador extrair as subdivisões ou
ideias de qualquer parte das Escrituras. Já no sermão expositivo o pregador é forçado a
extrair todas as subdivisões e divisões principais, da própria passagem que pretende
explicar ou expor.
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2.2 CLASSIFICAÇÃO DO SERMÃO QUANTO AO OBJETIVO GERAL (Assunto)
Quando da escolha do texto, o pregador deve identificar qual é o objetivo geral de sua
exposição. Chamamos de objetivo geral o assunto principal do sermão. Seguem abaixo
alguns dos principais tipos de objetivo geral de um sermão:
- Doutrinário: é o sermão que expõe um ensinamento da palavra. Ex.: Soberania de Deus;
- Ocasional: é o sermão que se destina a ocasiões especiais (Aniversário, Casamento, etc);
- Apologético: tem a finalidade de defender os ensinamentos cristãos;
- Ético: sermão que dá ênfase à conduta do cristão e à moralidade;
- Evangelístico: fala sobre o plano de salvação;
- Pastoral: tem o objetivo de apascentar o rebanho;
- Exortativo: exorta e propõe a correção de fatos errados;
- Devocional: propõe uma reflexão sobre determinado tema;
- Avivalístico: busca o despertar espiritual do povo de Deus; - dentre outros.
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES IMPORTANTES NA PREPARAÇÃO DO SERMÃO
OBJETIVO ESPECÍFICO: apresenta a necessidade ou desafio aos ouvintes, e delimita o
assunto e objetivo a ser alcançado dentro da comunidade em que o sermão será
pregado.
IDEIA CENTRAL DO TEXTO: apresenta um mini resumo da passagem.
TESE (PROPOSIÇÃO): é o fundamento de toda a estrutura do sermão. Apresenta a
finalidade do mesmo e o resultado de se aceitar ou negar a mensagem pregada,
EXERCÍCIO: escolha um texto de preencha os tópicos abaixo:
TEXTO: ______________________________________
Ideia Central do Texto: _________________________________________________________________________
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Objetivo Geral: __________________________________________________________________________________
Objetivo Específico: _____________________________________________________________________________
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Tese: ______________________________________________________________________________________________
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Forma Sermônica: ______________________________________________________________________________
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2.3 OS ELEMENTOS BÁSICOS DO TEXTO - O Sermão deve possuir alguns elementos
que são essenciais, os quais permitem um melhor andamento e aproveitamento do tema
a ser abordado:
1. Introdução (Exórdio) - Tem por finalidade chamar a atenção dos ouvintes para o
assunto que vai ser apresentado e também para o pregador. Deve ser breve e estar
relacionada ao tema, sem antecipar o sermão.
Neste momento o pregador vai se familiarizar com o auditório, convocando o auditório
para aproveitar aquele momento em que a Palavra de Deus será ministrada.
Pode conter: o anúncio do tema, texto a ser lido, uma ilustração ou análise de fatos
recentes da sociedade. Via de regra, é a última parte a ser elaborada quando se prepara
o sermão.
2. Texto - É trecho lido pelo orador, podendo ser um capítulo, uma história, uma frase
ou até mesmo uma palavra. Um texto, por si só, pode despertar nos ouvintes o desejo de
conhecer mais a Palavra de Deus. Não devemos escolher textos proferidos por homens
ímpios ou por Satanás. Escolha textos que tragam estímulo, lição etc. Evite textos que
provoquem repugnância, gracejos ou que descrevam cenas constrangedoras. Ex.: ênfase
na vida sexual que pode levar os ouvintes a alegorizar o texto e direcionar sua atenção
para o erro e não para a mensagem do texto.
3. O corpo - É a parte mais profunda do sermão porque aqui se revela a Mensagem
como Deus que dar. É o desenvolvimento do sermão. O corpo é a sequência das divisões
do sermão e pode ter de 2 a 5 divisões (quanto mais divisões mais complexo ficará o
sermão) e ainda conter subdivisões. Deve chamar à consciência dos ouvinte para colocar
em prática os argumentos expostos. O pregador deve saber colocar em ordem as
divisões ou seja os pontos que vão ser incluídos na mensagem; geralmente, convém
ordenar os pontos a fim de que progressivamente traga uma compreensão da proposta.
Obs.: O próprio texto é que trás estas divisões e subdivisões, mesmo que de forma indireta.
Não se pode inventar divisões para justificar posições pessoais. Esta é uma regra geral que
pode e deve ser aplicada a todos os pontos de ensinamento.
4. Conclusão - A conclusão é o fechamento do sermão e deve ser preparada com o
mesmo carinho que as outras partes. É inadmissível que um sermão não possua
conclusão ou possua uma conclusão simplista. Ela pode e deve ser breve e objetiva, sem
necessariamente ser medíocre. É um resumo do sermão, uma recapitulação e
reafirmação dos argumentos apresentados. Durante a conclusão pode conter um apelo
de acordo com a mensagem transmitida. John Stott, em seu livro O Perfil do Pregador,
acha inadmissível uma mensagem sem apelo (aplicação final). Sobre esta posição,
apenas é importante uma colocação no sentido de compreender o apelo, não
simplesmente como um momento onde pessoas são convocadas para se ajoelhar ou ir
até a frente da igreja, e sim, o momento em que o ouvinte e desafiado a aplicar a
mensagem de forma direta à sua vida, quer seja de forma visível ou somente
interiorizada.
5. Ilustração - A ilustração ajuda na exposição tornando claro e evidente as verdades da
Palavra de Deus. A ilustração atrai a atenção, quebrando a sequência teórica, e faz com
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que a mensagem seja gravada nos corações com mais facilidade. As ilustrações fazem
parte do embelezamento do sermão tornando-o mais atraente, porém o pregador deve
ter o cuidado de não ficar o tempo todo contando "histórias" e “piadas”. Não são
momentos com um fim em si mesmos. Deve-se ter um banco de ilustrações, lidas de
livros ou até mesmo de situações vividas no cotidiano. Assim como a introdução, as
ilustrações podem ser feitas por último, conforme orientado por Russel Shedd em sua
aula sobre Homilética no CD-ROM, a Bíblia em Ação – Ed. Vida Nova.
2.4 PREPARANDO UM SERMÃO (ALGUNS EXEMPLOS)
EXERCÍCIO: dê continuidade à sua preparação. Você já fez a escolha de um texto e
organizou a parte de preparação (ICT, Objetivos e Tese). Agora você deverá preparar a
introdução, o título, corpo (desenvolvimento) e conclusão. Escolhendo pelo menos uma
ilustração a ser utilizada.
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MODELO DE SERMÃO EXPOSITIVO
Texto: Êxodo 17:1-7
Título: Água, fonte de vida!
Ideia Central do Texto: Moisés clamou ao Senhor para que desse água para o povo
beber. Deus ordena que Moisés fira a rocha para que dela saísse a água para o povo
beber. A rocha é um tipo de Cristo, do qual, brota a água que dá vida ao povo, não física,
mas espiritual.
Objetivo Geral: Evangelístico
Objetivo Específico: Mostrar aos ouvintes a necessidade de bebermos da água que
Cristo dá, para que nunca mais tenhamos sede
Tese/Proposição: Todo aquele que beber da água viva que só Cristo pode dar, nunca
mais terá sede.
Forma Sermônica: expositivo
Introdução: Bebe-se um copo d´água. A água é reconhecidamente o líquido da vida.
Podemos ficar sem comer por um bom tempo, mas não sem bebermos água. A água dá
vida ao homem, aos animais, às plantações. Nosso planeta é reconhecidamente o planeta
água (3/4 de água e 1/4 de terra). Muitas vezes fazemos mau uso da bênção de Deus que
é a água. Por isso, discorreremos hoje sobre o
Título: Água, fonte de vida!
Desenvolvimento: Vemos na história do povo de Israel no deserto algumas
características interessantes e que servem de exemplo para a vida espiritual do homem.
1ª Não havia água (v.1) – muitas pessoas encontram-se hoje sem solução para suas
vidas. Procuram a resposta e não encontram. Na história da humanidade, o homem
estava perdido, sem algo que lhes desse vida.
2ª O povo tinha sede (v.3) – as pessoas têm sede, estão sempre em busca de algo que
mate sua sede e que lhes dê vida, paz e alegria.
3ª Deus se importava com eles (v. 5/6) – Deus os amava e deu-lhes água para beber.
Água que matou a sede física do povo. Mas Ele amou o mundo de tal maneira (Jo 3:16)
que forneceu a todos a água que mata a sede espiritual e acaba com a busca da
humanidade por algo que preencha todo o seu ser. Em João 4, Jesus disse à mulher
samaritana: quem beber da água que eu lhe der jamais terá sede.
Conclusão e Apelo: Deus se importou conosco. Ele viu que tínhamos sede e não
tínhamos água. Então, com seu grande amor, feriu a seu próprio Filho para que dele
jorrasse a água da vida eterna. Em João 7:38 Jesus diz que quem crer nele, do seu
interior fluirão rios de água viva. Jesus é a rocha que foi ferida na cruz para matar a sede
espiritual da população. A rocha da qual fluiu a água viva, a salvação que reconcilia-nos
com o Pai. Ler João 1:12 e fazer o apelo.
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MODELO DE SERMÃO TEMÁTICO (João 3:16)
INTRODUÇÃO – As dádivas e os presentes são muito apreciados por todos os homens.
Essa apreciação vai a tal ponto de existirem casas comerciais que exploram artigos
especiais para presentes. De fato, a vida social perderia muito de seu encanto e beleza se
os amigos e parentes não se presenteassem uns aos outros. Os homens aprenderam ou
herdaram isso de Deus. Deus é o autor das dádivas. “Toda boa dádiva e todo dom
perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra
de variação” (Tiago 1:17). E entre as dádivas que descem de Deus, há uma que é
suprema, a qual muitos não quiseram receber, embora lhes tenha sido diariamente
oferecida.
Título: A DÁDIVA SUPREMA DE DEUS.
Vejamos primeiramente:
I – EM QUE CONSISTE ESSA DÁDIVA
1) Não consiste apenas em valores materiais ou nas ricas e abundantes coisas criadas
por Deus à nossa disposição, como:
a) Os animais que nos servem de alimento, o aumento de nossos haveres e a ajuda no
trabalho;
b) O rios, os mares, os lagos e as florestas, donde extraímos a subsistência, o conforto e
os recursos para viver;
c) Os minerais e as pedras preciosas com que nos enriquecemos.
2) Consiste sim numa pessoa – Jesus Cristo, Seu Unigênito Filho! Em seguida
consideremos:
II – O VALOR DESSA DÁDIVA
1) Não há nada maior do que ela, visto que se trata do Filho de Deus.
a) Quem dá um filho que ama, dá o melhor que possui;
b) Quem dá um filho que ama, dá a própria vida.
2) Não há nada mais precioso do que ela, visto que Deus deu o melhor que possuía.
3) Não há nada melhor do que ela, visto que Jesus encerra as divinas e humanas
perfeições.
Prosseguindo, focalizemos:
III – A FINALIDADE DESSA DÁDIVA
1) Toda dádiva tem um fim em vista:
a) Agradar;
b) Horar;
c) Beneficiar;
d) Provar o grau de amor ou amizade;
e) Retribuir favores recebidos;
f) Demonstrar gratidão.
2) A dádiva de Deus aos homens, porém, tem finalidade suprema:
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a) Visa demonstrar Seu grande amor aos homens. “Deus amou o mundo”.
“Deus prova seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós,
sendo nós ainda pecadores” (Rom. 5:8);
b) Visa revelar Sua misericórdia e santo propósito aos homens — “para que não
pereçam”;
c) Visa, finalmente, enriquecer com a posse do tesouro mais precioso da vida — a
salvação — "para que tenha a vida eterna”.
Abordemos, por fim, mais um pensamento importante.
IV – A QUEM É OFERECIDA ESSA DÁDIVA
1) A quem costumam os homens oferecer seus preciosos presentes:
a) Aos melhores amigos;
b) Aos homens mais dignos;
c) Aos parentes mais queridos.
2) Deus, porém, oferece Sua dádiva suprema:
a) Não aos melhores homens do mundo — "se vós sendo maus”;
b) Não aos justos — "Não há justo, nenhum só”; “Não vim chamar os justos” Mt 9:13
3) “Mas os pecadores perdidos”. “Não vim chamar os justos, mas os pecadores ao
arrependimento” (Mat. 9:13). “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se
havia perdido” (Luc. 19:10). “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de
Deus” (I Tim. 1:15; Rom. 3:23).
4) A dádiva suprema de Deus é, portanto, para quem não é digno dela e de
modo
algum a merece. “Porque todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo
justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (Rom.
3:23,24). “Pela graça sois salvos por meio da fé; e isso não vem de vós, é Dom de Deus;
não vem das obras para que ninguém se glorie” (Ef. 2: 8,9).
CONCLUSÃO: Meditando sobre a SUPREMA DÁDIVA DE DEUS, vimos:
a) Em que essa dádiva consiste; b) O valor dessa dádiva;
c) A finalidade dessa dádiva; d) A quem essa dádiva é oferecida?
Por fim, a suprema dádiva de Deus, prezados amigos, vos está sendo agora mesmo
oferecida. Se a vossa consciência vos acusa de pecado e se sentis que, por esta causa,
estais espiritualmente perdidos, sem “esperança, sem fé e sem Deus no mundo”, então
podeis agora mesmo vos arrepender e, estendendo, em seguida, a mão da fé para Deus,
receber neste instante a dádiva suprema. Aceitai-a, pois, agora mesmo. Amém.
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O USO DO MATERIAL ILUSTRATIVO NO SERMÃO
1. Definição de "material ilustrativo" - A palavra "ilustrar" vem do latim, ilustrare, e
significa "lançar luz ou brilho, ou tornar algo mais evidente e claro". Os educadores
reconhecem que uma das principais leis de ensino, para alcançar a mente e o coração é a
ASSOCIAÇÃO DE IDEIAS. O material ilustrativo tem sido comparado a janelas, que
deixam a luz entrar e iluminar uma casa. A ilustração visa ajudar os ouvintes a "VER A
VERDADE".
2. O uso de material ilustrativo na Bíblia
a. Natã: usou a ilustração de um homem pobre com uma cordeirinha para levar o Rei
Davi a condenar-se a si mesmo (II Sm 12:1-14);
b. Aías: rasgou a sua roupa nova em doze pedaços e deu dez para Jeroboão,
representando o fato de que Deus havia determinado que dez das doze tribos de Israel
seriam tiradas de Roboão (I Rs 11:26-40);
c. Isaías: enquanto pregava durante certa época de seu ministério, andou descalço e
despido como sinal de como o povo de Deus seria levado preso pelos Assírios, Egípcios e
Etíopes (Isaías 20:1-6);
d. Jeremias: usou muitos sermões visuais, como a parábola do cinto de linho (13:1-11),
o jarro quebrado (13:12-14), o vaso do oleiro (18:1-17), a botija quebrada (19:1-15), os
canzis simbólicos (27:1-22), além da compra de um terreno que simbolizava a esperança
na restauração de Israel depois do exílio (32:1-25);
e. Ezequiel: usou tanto o método visual e ilustrativo que chegou a se queixar com Deus:
"Ah Senhor Deus! eles dizem de mim: não é este um fazedor de alegorias?" (20:49)
f. Jesus Cristo: quase sempre usava material ilustrativo para apresentar profundos
conceitos de natureza espiritual. As parábolas (52% do Ev de Lc é composto de
parábolas). O uso de uma moeda para ensinar o dever do bom cidadão (Mt 22:19). A
pregação significativa através de uma bacia e de uma toalha (Jo 13:1-17). Jesus também
falou das aves dos céus, dos lírios do campo, do pão, da água. Jesus, também usou uma
criança para mostrar que é preciso se tornar como uma criança para entrar no Reino de
Deus.
3. Os propósitos para o emprego de material ilustrativo
a) despertar o interesse e prender a atenção dos ouvintes.
b) aclarar, iluminar e explicar as verdades apresentadas.
c) confirmar, fortalecer os argumentos apresentados e persuadir os ouvintes a
aceitarem estas verdades.
d) ajudar os ouvintes a gravarem bem as ideias do sermão.
e) tocar nos sentimentos dos ouvintes.
f) dar mais vida ao sermão.
g) ornamentar e embelezar o sermão.
h) tornar o sermão mais agradável, proporcionando descanso mental aos ouvintes.
i) ajudar com a repetição da verdade.
4. Tipos de ilustrações e fontes de bom material ilustrativo
i. a própria Bíblia é um verdadeiro tesouro de ilustrações. Elas dão até mais
autoridade ao sermão. São autênticas e atuais!
ii. o mundo da literatura:
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Apostila de Homilética EBTL – Pr Lucas Lima – 2º Bimestre 2011
a) biografias e autobiografias;
b) obras de ficção;
c) poesia;
d) dramas (como de Shakespeare), mitologia (egípcia, grega, romana), fábulas, lendas e
folclore relacionadas à vida de países e regiões, etc.
iii. a história. Aquilo que aconteceu no passado e também aquilo que está
acontecendo em nossos dias, como aparece nos jornais, revistas como Veja, etc.
iv. experiências pessoais.
v. a ciência e a medicina.
vi. obras de arte, como pinturas de quadros e obras de escultura servem como
ilustração. Exemplo: Miguel Ângelo certa vez encontrou uma grande pedra que tinha
sido jogada fora num terreno baldio. Ele inspecionou a pedra e depois mandou removêla para o seu estúdio, onde fez daquela pedra suja de mármore uma famosa obra de
escultura: a estátua de Davi! Deus muitas vezes vê em alguém uma obra de arte
escondida em uma pedra suja como aquela, e a transforma em uma obra prima de Sua
graça e misericórdia.
vii. citações que ouvimos ou lemos.
viii. artigos que lemos ou outros sermões que ouvimos.
ix. acontecimentos esportivos.
x. o trabalho secular do povo da igreja e da comunidade.
xi. a leitura em geral de jornais, revistas e livros.
xii. ilustrações criadas por nós mesmos.
5. Advertências quanto ao uso de ilustrações
a) não é necessário ilustrar as coisas óbvias.
b) ilustrações que tem pouco a ver com o ponto que está sendo focalizado no sermão ou
cuja relação com ela é vaga, ou que esclarece pouco, não devem ser utilizadas.
c) evite ilustrações cujas bases não têm nenhuma relação com a vida dos ouvintes.
d) evite ilustrações que parecem exageradas ou improváveis, mesmo que tenham
acontecido.
e) não faça o seu sermão somente de ilustrações.
f) evite ilustrações que exijam muitas explicações para entendê-las.
g) não use ilustrações somente para mostrar o seu grande conhecimento ou
impressionar os ouvintes.
h) não é bom destacar uma só ilustração ao ponto de deixar o resto do sermão
prejudicado.
i) não se deve usar uma ilustração somente para fazer o povo rir.
j) não utilize ilustrações que não entenda bem. Tenha certeza dos detalhes das suas
ilustrações. (Dr. Key fez referência a um sermão que ouviu, onde o pregador contou de
um soldado, do século 16, que saiu para uma batalha com a metralhadora na mão!)
l) nunca conte a experiência de outrem como se fosse sua.
m) tenha muito cuidado em elogiar pessoas não crentes em suas ilustrações.
n) evite o se desculpar pelo uso de qualquer ilustração pessoal.
o) varie o tipo de ilustração que você utiliza.
p) tenha cuidado com ilustrações "enlatadas".
EXEMPLOS DE ILUSTRAÇÃO
1. FÉ Jo 1.9
O grande ganhador de almas, Moody, um dia ofereceu seu relógio de ouro aos
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Apostila de Homilética EBTL – Pr Lucas Lima – 2º Bimestre 2011
meninos de sua classe bíblica. Desconfiados, recusaram o presente. Finalmente, um
garotinho de seis anos estendeu a mão, pegou o relógio, e disse: - Muito obrigado!
Sem um momento de hesitação, Moody respondeu:
- Não há de que. E Espero que ele seja tão fiel em marcar as horas para você, como
foi para mim!
Os outros meninos ficaram espantados:
- O senhor vai mesmo deixar que ele fique com o relógio?
- Como não? - respondeu Moody - Eu Iho dei, porque creu na minha oferta. E dele
porque teve fé em mim.
Como o relógio que Moody ofereceu aos meninos, as vestes brancas podem
pertencer-nos pelo simples fato de crermos nas promessas de Deus e estendermos a
mão, aceitando-a pela fé. Jesus, através de sua morte, se encarrega de nosso passado tão
repleto de pecados e erros. Cabe-nos a nós confessar e crer. Jesus afiança a sua
erradicação. No instante em que nós cumprirmos a nossa parte, Jesus cumpre a dEle.
Todas as providências foram tomadas por Deus, a fim de apagar o nosso passado
pecaminoso (1 Jo 1.9). Este é, na verdade, um "pensamento precioso".
2. CONFIANÇA - FE - UNIDADE DO CORPO DE CRISTO
Durante a visita do rei da Itália à cidade de Nápoles, nove pastores protestan-tes da
cidade apresentaram-se a ele. Este era metodista, aquele era batista, um terceiro
presbiteriano, e assim por diante. "Não posso compreender" - disse o Rei - "como, sendo
todos ministros do mesmo evangelho, tendes tantas divisões." O ministro valdense
explicou: "No exército de vossa majesta-de há muitos regimentos, com uniformes
diferentes e designados por nomes diversos; não obstante, estão todos sob um só
comando e debaixo de uma única bandeira. Do mesmo modo nós nos sentimos:
separados em várias de-nominações, temos o Chefe Único - nosso Senhor Jesus Cristo - e
estamos debaixo de uma única bandeira - a do evangelho redentor". Agradeceu o Rei, e
disse: "Agora entendo. Quer dizer que, embora existam diferenças entre vós em matérias
secundárias, há uma unidade em tudo o que é essencial".
3. CONFIANÇA NO PODER DE DEUS - FÉ, A FORÇA DA VIDA - RESIGNAÇÃO
Mt 6.28-33
Em vão fui buscar os restos mortais de meus pais, vítimas do bombardeio em
Hiroshima. Tudo, no local onde Outrora florescera uma grande cidade, era agora uma
grande devastação. Nada foi deixado que denotasse vida, não havia uma folha verde nas
árvores, nem um pássaro voando. Senti-me como se estivesse no reino da morte. Depois
de permanecer alguns minutos no local onde meus queridos pais tinham vivido,
indaguei de mim mesmo se seria possível aquela cidade levantar a cabeça, algum dia, e
seu povo entregar-se à obra de reconstrução pessoal e nacional. De repente, encontreime, olhar pasmado, fixando uma cena inspiradora. Da raiz de uma bananeira crestada
pelo fogo saía um broto verde, magnífico. O fato me fez recordar o poder criador, a força
vital que havia lutado contra a ação destruidora da bomba atômica, nos dez dias
anteriores, e que aparecia agora, despontando de uma raiz daquela planta ressecada na
superfície, mas cheia de vida interior. Aquela força tinha estado operando, ocultamente,
sob o solo sapecado pelo fogo, enquanto nós estávamos desolados. Ouvi, então, a voz de
Cristo: "Ora, se Deus veste assim a erva do campo... quanto mais a vós outros, homens de
pouca fé? (Mt 6.30).
Cheguei a Hiroshima desesperado, saí cheio de fé e de esperança.
Jiri lshii (Japão)
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Apostila de Homilética EBTL – Pr Lucas Lima – 2º Bimestre 2011
Dicas aos Pregadores
Jorge Schutz Dias
Professor de Homilética da Faculdade Teológica Batista de S. Paulo
O propósito desta breve lista de sugestões homiléticas não é minimizar, sintetizar ou
banalizar o estudo sério acerca da atuação do pregador no púlpito. O uso do púlpito e a
postura do pregador diante dos ouvintes merecem estudo aprofundado tanto sob o
prisma da autoridade espiritual de quem anuncia a Palavra, quanto dos aspectos que
envolvem a comunicação verbal e gestual modernas.
Não pense, portanto, que em cumprindo as "Dicas" o sucesso será imediato. Elas
servirão mais para identificar deficiências do que superá-las. Por esta razão, ao
reconhecer vícios no seu desempenho como pregador procure ajuda imediatamente,
antes que os maus hábitos sejam incorporados a sua personalidade pública. E a um
pregador desprestigiado, sobra-lhe somente um lugarzinho obscuro entre os de terceira
linha.
É possível mudar; melhorar é um desafio diário. Esforço pessoal, vontade de servir
melhor ao Senhor e ao Seu povo, são alicerces que sustentam os bons propósitos do
pregador evangélico sério em nossos dias. DICAS:
1. Extensão do Sermão
O Sermão deve ser curto ou longo? Como decidir entre os dois? Observe a fisionomia dos
ouvintes, se eles aparentam cansaço e apatia é bom caminhar para a conclusão. O que é
melhor? - Um sermão curto sem conteúdo, ou um sermão longo com profundidade
bíblica? Nenhum dos dois. Observe o auditório!
2. Ilustrações
As ilustrações jocosas, alegres e descontraídas cabem melhor no início do sermão. Seja
mais solene ao concluir. Use preferivelmente ilustrações verdadeiras, colhidas na
experiência do dia-a-dia.
3. Dicção Correta
Comer os "s" finais e introduzir sons vocálicos refletem pouca cultura e desprestígio à
língua portuguesa. Exemplos: Jesus, não Jesuis. Fomos, não fômu. ... e muitos outros.
4. Tom de Voz
Com sua voz o pregador denuncia sua convicção. Gritar e esmurrar o púlpito não
convencem, nem escondem o caráter do pregador. Module a voz. Fale alto, baixo, rápido,
vagarosamente. Voz monótona dá sono!
5. Anúncio do Texto Bíblico
Ao enunciar o texto bíblico seja claro quanto ao livro e preciso na referência. Aguarde
até que o auditório tenha localizado o texto.
6. Aplicação Prática
Seja prático nas aplicações. O que é melhor dizer? - "Levemos Jesus ao mundo"
(genérico), ou "Ao chegar em sua casa hoje, pegue o telefone, ligue para sua mãe que não
é crente e diga-lhe: mamãe eu amo você e Jesus a ama também..."
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Apostila de Homilética EBTL – Pr Lucas Lima – 2º Bimestre 2011
7. Esboço do Sermão
Decore o esboço do sermão. Cada vez que o pregador deixa de "olhar no olho" dos
ouvintes, parcela deles se desliga. Mantenha os ouvintes plugados!
8. Gestos
Os gestos do pregador reforçam os verbos. Gesticulação sem propósito denuncia o
nervosismo do pregador, e não causa bom efeito nos ouvintes.
9. O Uso do Microfone
O microfone é um amigo do pregador! Não dê pancada nele antes de usá-lo. No caso de
dificuldades em conviver com ele, faça um curso e aprenda a usar o recurso.
10. Autenticidade
Pregue, de preferência, os seus sermões. Pregue sermões de outros pregadores, quando
desejar. Ao fazê-lo, diga a fonte. Não é feio omitir, é desonesto! Alguém descobrirá o
plágio e você cairá em descrédito.
11. Apelo
Apele sem apelação. Diga claramente o que você pretende que o ouvinte faça em reação
ao sermão recém apresentado. No caso de não haver manifestações , não ameace o
auditório com "pragas infernais".
12. Expressão Facial
Mantenha uma fisionomia tranquila. Não é preciso sorrir sempre... O auditório vê o
sermão no semblante do pregador, antes de ouvi-lo através de sua voz.
13. Movimentação
Caminhar na plataforma é um bom exercício para o pregador e uma excelente maneira
de arremessar o auditório para fora do sermão. Procure aquietar-se!
14. Clareza
Ao ler o texto básico do sermão, respeite a pontuação e enfatize os termos que serão
explicados e aplicados durante a mensagem.
15. Emoção
O pregador pode chorar. Há ocasiões em que isto é inevitável durante o sermão. É
espontâneo e natural, não mero artifício de comunicação. Mas, se o chorar se tornar um
hábito do pregador é preciso averiguar a real origem dessa emoção, e sugere-se ao
pregador que procure ajuda com profissional especializado.
16. Chavões
A grande massa evangélica produz a sua gíria. Chavões circulam no meio do povo como
"axioma teológico". Cabe ao pregador fugir dessas expressões inócuas, tais como:
"Amém, irmãos!" - "Uma bênção... Uma Maravilha!", "O toque de Deus", e outras . Usá-las
no sermão reflete pobreza de exegese bíblica e falta de vocabulário.
17. Desculpas
Ao pregador não cabe o pedir desculpas pelo conteúdo da mensagem que foi, ou será
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Apostila de Homilética EBTL – Pr Lucas Lima – 2º Bimestre 2011
apresentada. Desculpar-se não é bom nem antes, nem depois do sermão. A falsa
humildade revela verdadeiro desleixo.
18 Tiques
O pregador, nervoso, repete o mesmo gesto. Leva a mão ao nó da gravata, pigarreia,
arruma os óculos no rosto... Todo o gesto repetido desperta a atenção do ouvinte e
desvia-o do sermão. Controle-se. Observe-se a si mesmo!
Antes que os adolescentes façam piadas de você!
19. Dirigindo-se a todos
Há templos com galeria, e em muitos templos outros o coral fica postado na plataforma
atrás do pregador Temos assim uma dificuldade para o contato visual! Não raro o
mensageiro se esquece destes dois segmentos do auditório, e em nenhum momento se
quer dirige-lhes o olhar. Você não fará assim! Vire-se suave e cortesmente, e fale aos
coristas. Olhe para o alto e demonstre que você reconhece a presença, e agradece a
atenção dos presentes apinhados na galeria.
20. O início do sermão
Os cinco minutos iniciais do sermão são cruciais, e dão duas certezas aos ouvintes.
A primeira: O pregador sabe o que vai dizer. Ele domina o assunto. (ou, não sabe o que
dizer!)
A Segunda: O pregador conhece texto no qual vai pregar (ou, está usando o texto por
pretexto).
Lembre-se: Você tem 300 segundos para justificar a sua presença diante da
congregação!
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Apostila de Homilética EBTL – Pr Lucas Lima – 2º Bimestre 2011
Uma análise das características dos grandes pregadores e seus
sermões
Dr. Jerry Stanley Key
1. Os grandes pregadores em qualquer época levam muito a sério a chamada de Deus
para pregar a Boa Nova. Reconhecem que são porta-vozes de Deus e devem a Ele sua
lealdade e obediência. (I Cor 9:6 e Jr 20:9)
2. Eles entendem que a pregação é a atividade mais importante do seu ministério. O
preparo e pregação de sermões é uma prioridade em suas vidas.
3. Eles são evangelistas fervorosos e têm fé que Deus vai usá-los na conversão de
pessoas sem Cristo.
4. São íntegros e autênticos, e a pregação não é somente o que fazem, mas antes é o que
são. Têm a confiança do povo, de que são "homens de Deus".
5. Eles continuam a crescer e a ter experiências novas com Deus.
6. Os grandes pregadores são caracterizados pela sua fé, entusiasmo e gozo em Cristo.
7. Eles procuram se identificar com o povo, amam o povo e em seus sermões procuram
satisfazer as necessidades do povo.
8. O estudo dos grandes pregadores demonstra como eles gostam de pregar, e como
aproveitam todas as oportunidades possíveis para anunciar a Palavra.
9. São estudantes da Palavra de Deus, com o desejo insaciável de ler e juntar
informações e ideias sobre os textos escolhidos para seus sermões. Eles têm certeza de
que a Bíblia é a Palavra de Deus.
10. Os grandes pregadores de todas as épocas pregam com ideias lógicas e simples.
11. Usam de imaginação, criatividade e humor. Sempre estão procurando ideias e
ilustrações para sermões.
12. Suas mensagens não são teóricas e abstratas, somente com fatos e detalhes do texto
bíblico. Pregam mensagens práticas, aplicáveis à vida dos ouvintes. Envolvem o povo em
suas mensagens, com aplicações objetivas, práticas, pessoais e dinâmicas.
13. Utilizam suas próprias personalidades e desenvolvem seus próprios métodos de
proferir sermões. Não imitam os outros, mas deixam uma marca distinta em seus
ministérios de púlpito.
14. São interessados na técnica da comunicação, no uso da voz, na gesticulação e em
toda a arte da comunicação com o corpo.
15. Dão muita ênfase à boa música nos cultos.
16. A maioria dos grandes pregadores em todas as épocas são escritores. Blackwood
ensina que se quiser pregar bem, você deve desenvolver a arte da palavra escrita,
aprendendo a colocar suas ideias no papel. A arte de escrever envolve disciplina,
precisão de ideias, aumento do poder descritivo, capacidade de auto-crítica, atenção a
detalhes da gramática, concordância, etc. Mas os sermões escritos não devem ser lidos.
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