a sustentabilidade e o empreendedorismo no mercado
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A SUSTENTABILIDADE E O EMPREENDEDORISMO NO MERCADO GASTRONÔMICO WERDINI, Marcelo Malta Universidade Anhembi Morumbi (UAM) [email protected] RESUMO: O mercado gastronômico assume um novo mecanismo de gestão que busca o aumento da eficiência econômica sem agredir o meio ambiente e promovendo a igualdade social: o desenvolvimento sustentável. Para isso, mescla o uso de inovações tecnológicas que possibilitam um significativo avanço na economia nos mais variados segmentos do ramo comercial à melhoria significativa das condições de trabalho, da distribuição de renda e da proteção ambiental. A passagem de um modelo de crescimento arcaico ao desenvolvimento sustentável implica em adotar uma nova visão voltada não somente ao aspecto quantitativo na obtenção e acúmulo de bens ou ao usufruto indiscriminado de matérias-primas, mas também há uma preocupação constante com as questões ambientais necessárias para a existência humana. Essa situação exige a conscientização do segmento para o uso racional dos recursos naturais e um novo olhar para uma organização produtiva que seja capaz de levar ao crescimento econômico ao mesmo tempo em que promova a igualdade e o desenvolvimento humano. PALAVRAS-CHAVE: desenvolvimento sustentável, qualidade de vida, globalização. ABSTRACT: The gastronomic market takes over a new manangerment mecanism that looks for the growth of the economic efficiency without affect the environment and promoting social equality: the sustainable development. For this, mix the use of a tecnologic inovation that makes possible a significative advance in the economy in the most different kinds of segments of comercial activity into na important improvement of working conditions, of the income distribution and the enviroment protection. The passage of a arcaic modelo f growth of sustainable development imply in the adoption of a new view turned not only to the quantitative aspect but also in obtaining asset acumulation or the indiscriminated usofruto of raw material, but also there is a permanent concerne with enviroment issues that are necessary for the human existence. This situation demands the counciousness of the segment for a rational use of the natural sources and a new view towards to a productive organization that is capacble of leading to economic grouth promoting at the same time the equality and the human development. KEYWORDS: sustainable development, quality of life, globalization. 1. INTRODUÇÃO As propostas de desenvolvimento sustentável atualmente norteiam as ações estratégicas fundamentais para a promoção do empreendedorismo e para a viabilidade de negócios, cruciais para atender as exigências de estabilidade do mercado gastronômico. Esse desenvolvimento será alcançado se três critérios fundamentais forem atingidos simultaneamente: equidade social, prudência ecológica e eficiência econômica (SACHS, 1993). Dentro dessa contextualização procura-se estabelecer uma relação harmônica do homem com a natureza como centro de um processo capaz de satisfazer às necessidades e às aspirações humanas (IUCN/UNEP/WWF, 1980). O pre- domínio de qualquer um desses critérios desvirtua o conceito de sustentabilidade e torna-se uma manifestação de interesse de grupos, dissociando-se do contexto mais geral que é o interesse da humanidade como um todo (LÉLÉ, 1991). Tal afirmação incorpora-se dentro de um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam assegurando as idéias dos principais objetivos das políticas ambiental e desenvolvimentista, como o meio ambiente e a economia no processo de tomada de decisão (CMMAD, 1991). Em dezembro de 2008 foi inaugurado o primeiro Mc Donald´s sustentável Interciência & Sociedade 95 WERDINI, M. M. da América Latina, localizado em Bertioga, litoral de São Paulo, sendo o começo de um novo conceito, chamado de “Restaurante Verde”, o qual inova várias técnicas de mercado. Além disso, tende a privilegiar o emprego de energia limpa, reutilização e consumo consciente de água e o uso de materiais naturais, recicláveis, renováveis e de produção regionalizada. Com isso, seus resultados foram significativos, permitindo uma redução de 14% do consumo de energia e 50% do consumo de água, considerando que a alimentação é um dos maiores contribuintes para o desperdício, desde a atividade agrícola até as produções culinárias. 2. Objetivo O presente artigo discorre sobre o segmento gastronômico e suas tendências atuais, em razão da grande evidência de mercado que o setor conquistou. Reflete as ações estratégicas e os novos mecanismos de gestão que buscam o aumento da eficiência econômica sem agredir o meio ambiente. O mercado de gastronomia contemporâneo, assim como todos os segmentos profissionais, busca a conscientização da responsabilidade socioambiental. Para isso, os estabelecimentos gastronômicos, mesclam o uso de inovações tecnológicas que proporcionam uma evolução na economia de diversos setores do ramo comercial à melhoria das condições de trabalho, da distribuição de renda e da proteção ambiental. A mudança de um modelo de gestão tradicional para desenvolvimento sustentável implica em adotar uma nova visão voltada não apenas para ao acúmulo de bens ou ao usufruto indiscriminado de matérias-primas, mas também há uma preocupação constante com as questões ambientais necessárias para a existência humana. Essa situação exige das empresas a responsabilidade com atitudes como a reciclagem de lixo, o reaproveitamento de sobras de alimentos, reestruturação das cozinhas, utilização consciente da água, além de um foco especial obtenção de uma organização produtiva que seja capaz de levar ao cresci- 96 mento econômico ao mesmo tempo em que promova a igualdade e o desenvolvimento humano. O restaurante auto-sustentável será um objetivo de reflexão para diversas classes profissionais ligadas à este segmento. 3. Mecanismos de gestão A gestão ambiental é realizada através de mecanismos e instrumentos que estabelecem ações específicas para todas as etapas que participam dos processos produtivos. É a permanente busca pela melhoria da qualidade dos serviços, produtos e ambientes afetados. Este processo de aprimoramento é constante e deve ser estabelecido através de políticas, diretrizes e programas específicos que evitem ou minimizem os impactos ambientais e sociais dos empreendimentos gastronômicos. 3.1. A globalização e a sustentabilidade Para alguns alcançar o desenvolvimento sustentável é obter o crescimento econômico contínuo através de um uso mais racional de recursos naturais e de tecnologias mais eficientes e menos poluentes. Para outros, o desenvolvimento sustentável é antes de tudo um projeto social e político destinado a erradicar a pobreza, elevar a qualidade de vida e satisfazer às necessidades básicas da humanidade que oferece os princípios e orientações para o desenvolvimento harmônico da sociedade, considerando a apropriação e a transformação sustentável dos recursos ambientais (HERCULANO, 1992). Partindo dessa premissa, trata-se de compatibilizar o meio ambiente com um crescimento econômico contínuo, mantendo as condições que produzem e reproduzem as relações de exploração, hierarquização e dominação que permitem a apropriação da capacidade produtiva social para alguns homens. Assim, esse processo implica em criar novas bases, nas quais se sustenta à civilização, através da construção de uma nova racionalidade, uma racionalidade ambiental, dando como sentido e fim da organização produtiva o bem-estar material do Interciência & Sociedade A sustentabilidade e o empreendedorismo no mercado gastronômico ser humano, seu nível de vida, seu desenvolvimento espiritual e sua qualidade de vida (BARONI, 1992). O progresso em direção ao desenvolvimento sustentável é um bom negócio, onde se observa a criação de vantagens competitivas bem como o fomento de novas oportunidades de emprego, porém isso exige mudanças profundas e de amplo alcance da atitude empresarial, incluindo o surgimento de uma nova ética no sistema econômico (SCHMIDHEINY, 1992). Ainda de acordo com o proposto acima, o mundo se move em direção à desregulação, às iniciativas privadas e aos mercados globais, onde as empresas são “obrigadas” a assumir uma maior responsabilidade social, econômica e ambiental ao definir seus papéis e ações. 3.2. Os aspectos gerais da sustentabilidade empresarial Toda e qualquer organização, independentemente do segmento do mercado que atue, gira em torno do desempenho e do desenvolvimento e do comprometimento de seus colaboradores tendo uma estreita relação com a estratégia gestora da organização (LAGEMANN, 2004). O princípio da sustentabilidade relaciona-se com a proteção ambiental, com aspectos sociais e com aspectos econômicos, tendo como escopo principal a proteção da vida da atual e das futuras gerações, devendo ser considerado um aspecto constitucional estruturante ou fundamental (CANOTILHO, 2003). A partir disso, os conceitos de desenvolvimento sustentável e o uso racional dos recursos naturais e de energia assumem um papel importante quando exercidos na prática diária. Assim como, deve-se estimular o relacionamento e as parcerias do setor privado com o governo e com a sociedade em geral, bem como na melhoria contínua dos processos de comunicação. Tais parcerias podem incentivar o desenvolvimento e o fornecimento de produtos e serviços que não produzam impactos inadequados ao meio ambiente e à saúde da comunidade (CNI, 2002). O desenvolvimento sustentável nas organizações apresenta três dimensões: a econômica, a social e a ambiental. Do ponto de vista econômico, a sustentabilidade prevê que as empresas têm que ser economicamente viáveis, onde seu papel na sociedade deve ser cumprido levando em consideração esse aspecto da rentabilidade, ou seja, dar retorno ao investimento realizado pelo capital privado. Considerando o lado social, a empresa deverá proporcionar as melhores condições de trabalho aos seus empregados, dando ênfase à diversidade cultural no segmento em que atua e estabelecer uma promoção de caráter acessível aos deficientes de um modo geral. E, quanto à questão ambiental, deverá a organização estabelecer um equilíbrio dinâmico com os dois requisitos anteriores, adotando uma postura de responsabilidade ambiental, evitando uma contaminação ambiental diante dos procedimentos que forem adotados, e, sobretudo procurar participar de todas as atividades patrocinadas pelas autoridades governamentais locais e regionais no que diz respeito ao meio ambiente natural (DIAS, 2010). Os empresários devem buscar o lucro aceitável, os sindicatos devem buscar reinvidicar o possível, objetivando manter esse equilíbrio, e por último as entidades ambientalistas devem ceder a fim de evitarem prejuízos quando da adoção das medidas de controle para a obtenção do ambiente natural (DIAS, 2010). O fato é que nem sempre as medidas de controle da contaminação geram custos, mas as intervenções do governo que estimulam investimentos de controle ou de prevenção da contaminação é que gera custos iniciais. Todavia contribuem para a melhoria das condições de competitividade das cidades em que se situam, gerando benefícios públicos adicionais como o aumento de emprego e o bem-estar social (DIAS, 2010). Em muitos casos, na sua maioria, a redução da contaminação pode ocorrer sem necessidade de investimento, apenas com a melhoria da gestão e das práticas adotadas ao longo do processo operacional (KINLAW, 1997). Assim, tornar-se uma empresa ambientalmente responsável significa engajarInterciência & Sociedade 97 WERDINI, M. M. -se profunda e completamente num modelo globalizado, onde a integração parcial dentro de uma perspectiva ambiental não se converterá em vantagem competitiva nem a médio e longo prazo, quando muito em curto prazo poderá ocorrer melhoria na convivência social da organização com outros agentes sociais (ALVES, 1996). De qualquer modo, assumindo a necessidade de adoção de estratégias de negócios de médio e longo prazo, deve-se levar em consideração que em termos de competitividade, torna-se cada vez mais importante a previsão das tendências da sociedade e, particularmente, dos mercados de negócios onde a empresa é atuante (ROOME, 1992). 3.3. Gestão ambiental: um modelo de competitividade? O nível de competitividade de uma empresa depende de um conjunto de fatores, variados e complexos, os quais se inter-relacionam e são mutuamente dependentes, como: custos, qualidade dos produtos e serviços, nível de controle de qualidade, capital humano, tecnologia e capacidade de inovação. No entanto, ocorre que nos últimos anos a gestão ambiental tem assumido uma posição de destaque no cenário do marketing e meios de comunicação, e em termos de competitividade empresarial, há duas variáveis ambientais relevantes: a gestão de processos e a de produtos (VIALLI, 2004). Na gestão ambiental de processos, as principais ferramentas com as quais se obtêm os melhores resultados são as tecnologias ambientais e são verificadas por meio de certificação de processos. Em relação à gestão de produtos, as principais ferramentas são as análises do ciclo de vida, a certificação dos produtos (selos ecológicos) e o ecodesign (EPELBAUM, 2004). O ecodesign é uma ferramenta que vem ganhando destaque nos últimos anos e que pode ser definido como um conjunto específico de práticas de projeto, orientadas para a criação de produtos e processos ecoeficientes, respeitando-se os objetivos ambientais, de saúde e segurança durante todo o ciclo de vida destes produtos e processos. Essa ferramenta possibilita reduzir 98 a utilização da matéria-prima, de energia e de água necessárias para a fabricação do produto (FIKSEL, 1996). Assim, um aspecto importante é que o Sistema de Gestão Ambiental incorpora de forma sistemática a inovação como componente fundamental e permanente da estrutura organizacional. E, uma estrutura organizacional visa além da competitividade outros aspectos como a redução de custos através de cortes nos desperdícios observados, com isso pensa-se em melhorar a qualidade dos produtos e serviços, a qual está relacionada à funcionalidade dos operadores, confiabilidade na equipe de produção, durabilidade e maior facilidade para a sua manutenção. Ao mesmo tempo a imagem do produto deve ser levada em consideração, pois um selo ecológico eleva consideravelmente o nível dessa ação. A partir desses pressupostos, a inovação por meio do uso dos recursos tecnológicos busca uma diferenciação em relação aos seus concorrentes, garantindo uma posição de competitividade vantajosa frente ao mercado gastronômico. Senso assim, com o aumento da responsabilidade social devido à conscientização ambiental na sociedade, o nível de preocupação empresarial aumentou no sentido de como conservar o meio ambiente, considerando as necessidades das gerações futuras e os efeitos do processo produtivo na comunidade local. Essa sensibilização certamente deverá impulsionar o fomento de iniciativas voltadas para os processos de implantação de um Sistema de Gestão Ambiental Sustentável dentro do mercado gastronômico (CNI, 2004). Há um crescente aumento das exigências ambientais por parte de clientes e consumidores finais, obrigando as empresas a melhorar sua forma de atuar, modificando seus processos e produtos. A partir daí, muitas empresas de pequeno e médio porte passam a disputar com seus concorrentes contratos das grandes empresas, quando possuem, por exemplo, o certificado ISO 14.000, servindo como parâmetro de controle de qualidade, onde o resultado é a formação de uma cadeia de fornecedores com orientação ambiental, construindo Interciência & Sociedade A sustentabilidade e o empreendedorismo no mercado gastronômico uma cadeia produtiva ambientalmente correta (DIAS, 2010). A Política Nacional do Meio Ambiente institui a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) interdisciplinar para projetos, planos e programas de intervenção no meio ambiente e que foi introduzido no país por meio da Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981 (CONAMA, 1986). É importante ressaltarmos, que dentre os objetivos da Política Nacional podemos destacar no seu artigo 4º a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico, que constituem as bases da dinâmica da sustentabilidade empresarial e industrial. A Confederação Nacional da Indústria considera que para o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social, a indústria deve ter como princípios básicos: a educação, a erradicação da pobreza, a promoção da saúde e a eliminação da exclusão social, os quais constituem os paradigmas fundamentais das bases da sustentabilidade frente ao mercado de trabalho (CNI, 2002). Com isso, uma gestão empreendedora não pode ser considerada de forma fragmentada, sendo imprescindível às tomadas de decisões que estão inter-relacionadas com o crescimento sócio-econômico, com a gestão ambiental e com a infra-estrutura organizacional, as quais são fundamentais para a expansão de um mercado de restauração no segmento gastronômico. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados econômicos e a sustentabilidade de uma empresa estão interligados e dependem direta e primordialmente do desempenho humano, da sua satisfação, da sua motivação, da sua fidelidade e do seu incentivo em amplos aspectos. O sucesso está atrelado à estabilidade e as negociações obtidas com parceiros que tenham o mesmo foco. Com isso, as empresas conseguem seu “sucesso” por meio do alcance das suas ações estratégicas, as quais estão inseridas num contexto globalizado voltado cada vez mais para uma qualidade de vida, e para uma valorização de uma conscientização da sua responsabilidade social e ambiental. A inovação por meio do uso dos recursos tecnológicos busca uma diferenciação em relação aos seus concorrentes, garantindo uma posição de competitividade vantajosa frente ao mercado gastronômico. Desse modo, com o aumento da responsabilidade social devido à conscientização ambiental na sociedade, o nível de preocupação empresarial aumentou no sentido de como conservar o meio ambiente, considerando as necessidades das gerações futuras e os efeitos do processo produtivo na comunidade local. Essa sensibilização certamente deverá impulsionar o fomento das iniciativas voltadas para os processos de implantação de um Sistema de Gestão Ambiental Sustentável dentro do mercado gastronômico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, U. Volvo reaproveita resíduo industrial. Gazeta Mercantil, 15 fev. 1996, p. C-3. ARCOS DOURADOS COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA. Primeiro restaurante McDonald’s verde da América Latina. Disponível em:<http//: www.agendasustentavel.com.br>. Acesso em: 30 mai.2011. BARONI, M. 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Atualmente é Coordenador e docente do Curso de Gastronomia do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas. Mestrando em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi (término em 2012). É Chef de cozinha desde 1991. 100 Interciência & Sociedade