2015-10-11-Geraldo Valim
Transcrição
2015-10-11-Geraldo Valim
Raça de víboras! “Serpentes! Raça de víboras! Como vocês escaparão da condenação ao inferno? ” Mateus 23:33. O capítulo de onde esse versículo foi tirado contém vários “ai de vós” dirigidos aos escribas e aos fariseus. Mais correto é entender esses ais mais como lamentações que como ameaças. Essa sequência pode ser compreendida como uma expansão de Marcos 12:38-40, quando o povo escutava a Jesus no Templo, em Jerusalém, e quando Ele os advertiu contra os “escribas, que gostam de andar cm roupas compridas, de ser cumprimentados em público, gostam dos primeiros assentos nas sinagogas e dos primeiros lugares nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas e, para disfarçar, fazem longas orações. Eles receberão condenação muito maior“. Os escribas eram reconhecidamente expoentes no conhecimento da lei. A maior parte deles, e certamente os que aparecem nos Evangelhos, eram do partido dos fariseus. A lei incluía não apenas os preceitos escritos do Velho Testamento, mas a interpretação e a aplicação desses preceitos – o que Marcos 7:3 descreve como “ a tradição dos anciãos”. Eles eram muito preocupados com a pureza cerimonial. Essa preocupação os proibia de ter contato com gentios, e até mesmo com outros judeus que eles não considerassem a altura deles mesmo no padrão de pureza cerimonial. Do ponto de vista deles, era inevitável ver Jesus como um relaxado liberal nessas matérias, quer seja pela liberdade que Jesus exibia com soberania acerca das regras do sábado e da comida, como na disposição do Senhor em associar-se com pessoas questionáveis ou de até sentar-se para comer com elas. Era inevitável que eles entrassem em conflito com Cristo. Quanto aos fariseus, o Novo Testamento os mostra, de maneira geral, de uma maneira desfavorável, mais nos Evangelhos que no livro de Atos. Em Atos eles não são mostrados tão negativamente na relação com os judeus cristãos de Jerusalém porque em contraste com os saduceus, esses dois grupos tinham em comum a crença na ressureição dos mortos. Os fariseus no sentido mais atual da palavra, de simulação ou fingimento, não eram hipócritas. Mas no sentido que Jesus usou, sim. “Hipócrita” no Novo Testamento significa “ator”. É para designar a pessoa que assume um determinado papel para uma determinada ocasião. É a diferença entre a personagem e a pessoa. O hipócrita não é a expressão real do que a pessoa realmente é. É a denúncia dos que pregam, mas não praticam Mateus 23:3. Agiam como agiam, mas não pelo verdadeiro amor e zelo a Deus. Era para proveito próprio. Então “hipócritas” cai bem. Mas, e “raça de víboras”? Essa expressão foi usada por João Batista, quando ele viu as multidões chegando para ouvir a sua pregação de julgamento de Deus, e seu chamado ao arrependimento: “raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? ”. Lucas 3:7. Aqui ele comparou as multidões às cobras que fogem o mais rápido possível, e por onde der, de uma queimada no campo. E em Mateus 3:7 João dirigiu essas mesmas palavras aos fariseus e saduceus que foram ouvi-lo. O uso por Jesus da mesma figura de linguagem pode conter um aviso a aqueles que ouvem, mas não acatam a sua pregação. Tentam fugir do fogo, mas não conseguem. E pior, atrapalham os outros. É interessante notar que em Mateus 12:34 aqueles que diziam que Jesus expulsava os demônios pelo poder de Belzebu v.24 também são chamados de “raça de víboras”! A serpente, no Paraíso, é a figura que separou o homem de Deus. Os fariseus, com suas 613 ordenanças, e uma enorme quantidade de regras, que seriam 40, mas com cada uma delas se desdobrando em várias outras, colocavam a sua esperança de salvação no cumprimento desses preceitos. Assim como há pessoas fazendo isso até hoje, mesmo entre os evangélicos. Essa era a esperança deles. Mas Jesus veio mostrar que era necessária uma conversão. Do jeito que estava não haveria escapatória. Precisavam mudar, converter-se, da observância de ordenanças para Jesus.