A homenagem da FAAN a um dos maiores ícones da literatura

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A homenagem da FAAN a um dos maiores ícones da literatura
A homenagem da FAAN a um dos maiores ícones da literatura africana
No passado dia 22 de Março, o mundo viu desaparecer diante de si, numa postura inerte,
aquele que é tido como um dos pais da literatura moderna produzida por africanos, trata-se do
nigeriano Chinua Achebe.
O célebre escritor e professor universitário morreu, aos 82 anos, nos Estados Unidos de
América num hospital de Boston (Massachusetts) onde residia há muitos anos.
Chinua Achebe é o autor do romance Quando Tudo se Desmorona. Escreveu em inglês, mas
com uma babel na cabeça. A das palavras que se dizem na transmissão oral das coisas num
país de 250 etnias e onde se falam 500 línguas.
Chinua Achebe
O escritor nigeriano levou para os seus livros as 500 falas do seu país e com elas contou o
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colonialismo europeu como nunca antes fora contado. Morreu sem Nobel, mas com seguidores
que continua a pôr a Nigéria em destaque na geografia da literatura mundial.
Ele era o sábio passador de experiências, o que dá nome às coisas e ao mesmo tempo é
capaz de as traduzir para prosa, construindo narrativas sobre uma identidade em mudança e
dando a cada leitor a ilusão de estar entre os que se sentam à volta da tal grande árvore a
ouvir o sábio.
A carreira literária e ficcional deste homem natural de Ojidi, sudeste da Nigéria, onde nasceu
em 1930 teve como base um contágio civilizacional onde é difícil falar de inocentes – sempre
foi um crítico de corruptos e de quem se deixava corromper – mas onde o Ocidente e a
literatura que a Europa ia produzindo sobre África ao longo do século XX não saem bem na
fotografia.
Chinua Achebe, então professor de Estudos Africanos na Universidade norte-americana de
Brown, revelou-se como um dos africanistas mais incomodados com os problemas que desde
então afligem o continente berço. Tal era, que periodicamente organizava um colóquio com seu
próprio nome na Universidade Brown na qual era, reitera-se, professor. Numa de suas edições,
o escritor, dentre muitos representantes de instituições de países africanos, convidou a
Fundação Dr. António Agostinho Neto.
De recordar que o Colóquio Chinua Achebe sobre África, no qual participou a FAAN, aconteceu
em 2012 entre os dias 7 a 8 de Dezembro, em Providence, Rhode Island, Estados Unidos da
América, e teve como tema central "Governação, Segurança e Paz em África".
Através deste evento, o famoso escritor congregou um grupo internacional de académicos,
membros de governos africanos, as Nações Unidas, os Estados Unidos da América, a União
Europeia e outras organizações que em dois dias debatiam intensamente e trocavam ideias
sobre a importância do reforço da democracia e da paz em África.
No Colóquio de 2012, a FAAN participou no IV painel junto com a Fundação Nelson Mandela, e
esteve representada pela PCA da FAAN, Irene Neto, que dissertou o tema: África Austral:
Raça, Política e Construção da Paz.
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Dra. Irene Neto Presidente do Conselho de Administração da FAAN
Esta é apenas um dos grandes feitos que este filho do continente berço e do mundo legou aos
africanos em particular e a outros povos em todo globo.
Quando se fala de Chinua Achebe, é fundamental sublinhar, fala-se de um dos mais lúcidos
narradores do colonialismo europeu em África e, depois da descolonização, um homem pouco
desejado não apenas durante a Guerra Civil, como pelo regime ditatorial que se seguiu e que
colou a Nigéria numa das mais trágicas nações africanas da História recente.
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Exilado, primeiro na Inglaterra e mais tarde nos EUA, continuou a escrever e a falar sobre a
corrupção e a violência no continente africano. Chinua Achebe, o escritor que gostava de
outros nomes do panorama literário mundial como Yeats e de T. S. Eliot e que morreu em
Boston, não se limitava a contemplar a paisagem à sobra da tal árvore.
Foi o intermediário dessa paisagem em transformação, inaugurando um estilo que haveria de
ser seguido por muitos autores africanos que, como ele, ou a partir dele, foram capazes de
fazer a síntese entre um continente oral que tenta sobreviver com mais ou menos prejuízo da
sua identidade, e um mundo comandado pela palavra escrita. Era assim em 1958, ano da sua
estreia literária. Terá assim começado na escrita, a partir da necessidade de criar uma narrativa que, para ele,
era uma forma de ganhar e preservar identidade. No caso de Chinua Achebe, fortemente
marcada pelas origens. Por um continente e pela sua pluralidade de vozes, tragédias e sonhos.
Essa tradição, hoje seguida por muitos nomes celebrados da literatura, foi iniciada com Things
Fall Apart – no português vernáculo Quando o Mundo se Desmorona (Mercado das Letras,
2008) – o primeiro dos cinco romances que escreveu e intercalou com mais de uma dezena de
livros de ensaio ou poesia, e que continua a ser uma das mais vivas e inovadoras da
actualidade.
Achebe era considerado um dos mais influentes escritores de língua inglesa e os seus livros
constituíam uma referência para quem queria perceber a cultura centro-africana. A tal ponto
que o mundo literário não se espantaria se a Academia Sueca o tivesse premiado com um
Nobel.
Se, pelo menos, a Academia o fizesse a título póstumo, o prêmio fundado pelo químico sueco
Alfred Bernard Nobel, sem quaisquer dúvidas, colocaria o nome deste africano nos anais dos
mais célebres cultores literários já laureados, todavia, o nome Chinua Achebe é em si um
simbólico prêmio legado aos africanos.
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