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A íntegra da revista Financeiro está disponível em arquivo pdf, cuja
conteúdofinanceiro
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Capa - Entrevista do Mês
50
Acrefi debate o que muda com
como administra uma das maiores câmaras de
a nova regulamentação
pagamentos do mundo
16
Basileia III
Joaquim Kavakama, superintendente da CIP, conta
Especial Veículos Importados
Importadoras comemoram boom
60
Certificação Digital
Bancos ganham agilidade, redução
de custos e segurança nos negócios
e apontam estratégias
22
Mercado
Boa Vista Serviços chega para competir
30
Educação Financeira
Lições da Mastercard
36
46
Por Dentro do Varejo
seções
12 Rápidas Tudo o que acontece no mercado
15 Livros Obras que não podem faltar
artigos
28 Renato Meirelles Consumidor Emergente
34 Nicola Tingas Desenvolvimento
Confira entrevista com Antônio Machado,
39 Milton Santos Universo Financeiro
CIO do Grupo Dadalto
42 Sérgio Conforto Reflexão
Cartões
49 Angelo Garcia Mercado Estratégico
54 Salvatore Milanese Questão Jurídica
Players internacionais avançam no
64 Alberto Borges Matias Análise e Perspectivas
mercado nacional
66 José Ricardo Alves Última Palavra
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 3
expediente
financeiro
ISSN 1809-8843
Rua Líbero Badaró, 425 – 28o andar – São Paulo – SP
Tel: (11) 3107–7177 Fax: (11) 3106–6082 – www.acrefi.org.br
Presidente
Érico Sodré Quirino Ferreira
Vice-Presidentes
Arnaldo Alves Vieira, José Renato Simão Borges, Marcio Ronconi de Oliveira, Marco Ambrógio C. Bonomi, Sérgio Antonio Cipovicci,
Aquiles Leonardo Diniz, Odílio Figueiredo Neto, Bartholomeu Ribeiro e Ricardo Annes Guimarães
Secretários
Paulo Tabaquim e Sérgio Marra Pereira Capella
Tesoureiros
Cláudio Messias Ferro e Marcus André de Oliveira
Diretores Regionais
Athaide Vieira dos Santos, Carlos Alberto Samogim, Elcio Antonio de Azevedo, Felicitas Renner, José Antonio Rodrigues, José Newton Lopes de Freitas, Laécio Barros Junior,
Leonardo Marcondes Dadalto, Paulo Henrique Pentagna Guimarães, Pedro Costa Carvalho e Teófilo Newton Mattos
Diretores-Executivos
Gunnar Murillo, Morris Dayan, Sandro Alexandre de Almeida, Edson Froes Castilho, Luis Felix Cardamone Neto , Marc Camp, Mateus Affonso Bandeira,
Rubens Bution e Leonel Dias de Andrade Neto
Diretores Conselheiros
Eduardo Tavares Nobre Varella, Élcio Jorge dos Santos, Giovani Cataldi Neto, Roberto Bronzere, Paulo Sérgio Borsatto, Nelson Aguiar Junior, Marcelo Barp,
Odilon Pereira Guerra e Joelcyr Carmello Filho
Conselho Consultivo
Membros Natos: Alkindar de Toledo Ramos, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon
Membros: Alencar Burti, Ricardo Loureiro, Jorge Hilário Gouveia Vieira, Luiz Horácio da Silva Montenegro, Miguel José Ribeiro de Oliveira,
Sergio Antonio Reze e Ilídio Gonçalves dos Santos
Conselho Fiscal
Efetivos: Domingos Spina, Edson Ueda, David Figueiredo
Suplentes: Elpídio Hoffmann, Maria Madalena Américo Marinho, Gilson de Oliveira Carvalho
Diretor Superintendente
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Economista-Chefe
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Publisher
Roberto Meir
REDAÇAO
Editora-executiva
Karin Fuchs
Editora-assistente
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Reportagem
Theo Carnier (colaborador)
Fotografia
Douglas Luccena
Gustavo Oliveira (colaborador)
Arte
Editora de Arte Marina Martins
Designers Érika Bernal e Marcelo Kilhian
Pré-Impressão Alexandre Lima
Revisora Dora Wild
Publicidade
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Gerentes de Negócios Adriana Próspero e Fabiana Zuanon
Facilitadoras Ana Chiesi, Fabiana Martins e Patrícia Pinheiro
Impressão IBEP Gráfica Ltda.
4 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
editorial
C
Com o aumento da concessão de crédito ao consumidor, em um País de dimensões continentais, torna cada vez mais importante a participação direta de pessoas físicas vinculadas a promotores de financiamentos ou correspondentes bancários. Diante do movimento crescente, em que
novos públicos passam a demandar recursos, a força de vendas das operações de crédito precisa
ser qualificada e certificada, garantindo um padrão mínimo de atuação junto ao público.
Em meio a esse cenário de prosperidade do crédito e a necessidade de mão de obra cada vez
mais qualificada, a Acrefi decidiu implantar, de forma pioneira, o CertiCrefi (Certificação de Funcionários de Correspondentes, Promotoras de Financiamentos e de Instituições Financeiras),
em parceria com o Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração). Como entidade
que congrega as instituições voltadas ao crédito pessoal, queremos garantir o melhor padrão
nessas operações.
É essencial a profissionalização da força de vendas do setor, que passa a estar devidamente identificada e qualificada, com conhecimentos gerais e específicos sobre as operações de
crédito e a atuação das instituições financeiras, além de normas legais e regulamentares sobre
empréstimos e financiamentos. Enquanto empresas e entidades promovem a capacitação por
meio de cursos presenciais ou a distância, impõe-se a necessidade da existência de entidades
certificadoras, as quais devem examinar rigorosamente os conhecimentos adquiridos pela força
de vendas e poder atestar o grau de aproveitamento dessas pessoas em cursos de capacitação
que serão oferecidos pelo mercado. Somente após a avaliação será expedido o respectivo certificado de conclusão.
Avanço de qualidade
É justamente essa a proposta da Acrefi ao criar o CertiCrefi, que representa um avanço no
escopo de preparar a certificação dos profissionais, depois de concluírem os respectivos cursos.
Em breve, a Acrefi vai examinar os profissionais vinculados às promotoras de financiamentos ou
correspondentes e atestar seu grau de conhecimento adquirido nos cursos de capacitação. O
primeiro exame será oferecido no início deste segundo semestre de forma abrangente, atingindo
50 cidades brasileiras. A certificação de conhecimentos profissionais constitui uma tendência
internacional, aplicada no Brasil em relação aos agentes autônomos de investimento e corretores
de imóveis. Vemos esse movimento como algo positivo e, por meio dessa iniciativa, esperamos
contribuir para a maior profissionalização do mercado de crédito.
Érico Sodré Quirino Ferreira
Presidente da Acrefi
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 5
capaentrevistadomês
Por Theo Carnier
Foram dois bilhões de transações realizadas pela Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP) no ano de 2010,
em mais de 110 bancos. Este ano, a meta é avançar para a
conquista da certificação BS-25999, referência em continuidade de negócio, e priorizar a participação no IPFA
(Institute Payments Framework Association).
Revista Financeiro Como é o ritmo de trabalho da
Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP)?
Joaquim Kiyoshi Kavakama Desde a criação da CIP
pelos bancos, em 2001, o ritmo de trabalho tem sido frenético. No ano passado, a entidade processou dois bilhões de
transações, no valor de R$ 7,3 trilhões, ou seja, no mesmo
nível das maiores câmaras de pagamentos do mundo. Fazemos a compensação e a liquidação de pagamentos interbancários em tempo real e oferecemos produtos e serviços
acessíveis a toda a cadeia do mercado financeiro.
Financeiro Para atender à demanda dos 116 bancos
clientes, a entidade tem recebido tarefas com prazo cada
vez mais exíguo, como aconteceu mais recentemente com
a implantação do Sistema de Controle de Garantia, em julho do ano passado?
Kavakama Foram dois meses e meio para estruturar e
colocar em funcionamento o sistema. Foi um esforço e
tanto, mas vale a pena, já que conseguimos cumprir nossos
objetivos também dessa vez e, mais do que isso, atender os
nossos clientes.
Financeiro Quais são os trabalhos de maior destaque da CIP?
Kavakama Todos nossos trabalhos foram de alto
nível, por questão de filosofia de trabalho e da demanda dos clientes. A CIP é uma entidade dos bancos,
que atende às crescentes necessidades do mercado
Entre as maiores
6 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
financeiro. Viabilizamos inovações como o Débito Direto Autorizado (DDA), lançado em outubro de 2009,
desenvolvido em 11 meses, e o Sistema de Controle de
Garantias (SCG), de julho de 2010, que ficou pronto
em apenas dois meses e meio.
Financeiro É possível dimensionar o tamanho desses
trabalhos?
Kavakama Em 2010 processamos dois bilhões de transações, com volume total de R$ 7,3 trilhões, equivalentes
a 2,3 PIBs do Brasil. Assim, estamos já no mesmo nível
das maiores câmaras de pagamentos internacionais e com
uma equipe enxuta. Atualmente, temos 64 funcionários e
planejamos chegar ao final de 2011 com 84.
Financeiro Qual o segredo para fazer tanta coisa com tão
pouca gente?
Kavakama Não existe segredo. Trabalhamos com base
na eficiência em processos, qualidade na condução de
atividades com os clientes, uso de métricas para avaliação
do desempenho operacional e alto grau de comprometimento das pessoas que trabalham na CIP com os valores
da câmara.
Financeiro O que o senhor considera como os pontos
fortes da CIP?
Kavakama Desde que entrou em operação, há quase dez
anos, a CIP utiliza infraestrutura e sistema robustos para
o processamento de seus produtos, o que reforça nossa
reconhecida eficiência na entrega de soluções inovadoras
para o sistema financeiro. A CIP oferece em seu portfólio,
do mundo
Entrevista exclusiva
com Joaquim
Kiyoshi Kavakama,
superintendente-geral da
Câmara Interbancária
de Pagamentos
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 7
capaentrevistadomês
de forma eletrônica, produtos e serviços cada vez mais integrados, convenientes e seguros.
Financeiro O trabalho da CIP sempre foi feito em prazos curtos?
Kavakama Sempre. Felizmente, conseguimos atender
à demanda entregando produtos de qualidade. Foi o
caso do Sitraf (Sistema de Transferência de Fundos), que
faz a compensação e oferece a certeza de liquidação aos
pagamentos bancários, em tempo real. O Sitraf processa
uma média diária de 390 mil TED (Transferência Eletrônicas Disponíveis), que corresponde a R$ 25 bilhões.
O recorde foram 697.428 transações realizadas no dia
20 de dezembro de 2010. Também foi bem-sucedida a
implantação do Siloc, o Sistema de Liquidação Diferida
das Transferências Interbancárias de Ordens de Crédito.
Empresas como TecBan, Mastercard, Visa e Cielo são
clientes da CIP nesse sistema.
“Em 2010 processamos
2 bilhões de transações,
com volume total de
R$ 7,3 trilhões, equivalentes
a 2,3 PIBs do Brasil”
Financeiro Mas o que faz o Siloc?
Kavakama O sistema faz a compensação dos pagamentos bancários em D0 (no mesmo dia) e realiza a liquidação
dos saldos multilaterais em D+1. Além disso, estende as
vantagens da compensação multilateral a instrumentos de
pagamentos com liquidação diferida para DOCs, TECs e
boletos de cobrança. Nesse sistema também é processada
a liquidação dos títulos registrados em cartório pelo Serviço de Liquidação de Títulos em Cartório (Seltec).
Financeiro Qual a atuação da CIP em relação aos bloquetos de cobrança?
Kavakama Além do Siloc, trabalhamos com o Sistema
de Processamento de Bloquetos de Cobrança (Siproc),
que apura os valores bilaterais a serem pagos pelos participantes do sistema correspondentes aos boletos de co8 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
brança com valor igual ou superior a R$ 5 mil, utilizando o
Sistema de Transferência de Reservas do Banco Central do
Brasil. Vale lembrar que temos o Regime Especial de Processamento em Contingência de Participante para Bloquetos de Cobrança (Reproc), serviço de contingenciamento
aos sistemas Siproc e Siloc.
Financeiro Um dos trabalhos mais falados da CIP foi o
Débito Direto Autorizado (DDA), que foi adotado pelos
bancos há relativamente pouco tempo.
Kavakama É verdade, esse trabalho teve destaque. O
DDA viabiliza a apresentação eletrônica de boletos de cobrança nos canais eletrônicos dos bancos. E foi diferenciado em relação aos projetos anteriores. Quando se tratava de
TEDs, DOCs e boletos estávamos no núcleo do negócio.
Já o DDA passou a ser um grande depositário de dados. Foi
um marco significativo, uma plataforma que pode fazer outros serviços para os bancos. Possibilita aos participantes do
sistema apresentar e consultar eletronicamente os boletos
de cobrança registrados, de seus clientes cadastrados como
sacado eletrônico. As informações são consultadas e atualizadas pelos bancos por meio de trocas de arquivos ou de
mensagens com a CIP.
Financeiro Existe outro caso de destaque da CIP?
Kavakama Gostaria de lembrar do Sistema de Controle
de Garantias, o SGC. Ele controla as garantias destinadas
à realização de operações de crédito, para assegurar que
os recebíveis do estabelecimento sejam creditados no domicílio bancário escolhido, de comum acordo entre o estabelecimento e a instituição, independentemente do credenciador que processar as transações. A CIP implantou o
SGC em apenas dois meses e meio, atendendo à demanda
dos bancos que operam com cartões de crédito e estavam
atentos à antecipação de recebíveis, operação de crédito
comum principalmente para estabelecimentos comerciais.
Desde junho de 2010 acabou a exclusividade no mercado
de adquirência e os bancos perceberam que necessitavam
de uma centralizadora que mantivesse a certeza de recebimento do fluxo de caixa no domicílio bancário do banco
credor do estabelecimento comercial. A CIP conseguiu
cumprir essa tarefa.
Financeiro Pode-se dizer que a CIP é uma empresa?
Kavakama Sim, a CIP é uma sociedade civil sem fins
lucrativos, com 42 bancos cotistas. Oferecemos acesso
rápido, simples e ininterrupto a serviços bancários básicos de milhões de clientes dos bancos, a partir dos
diferentes canais de acesso disponibilizados pelas instituições financeiras.
Financeiro E por que foi criada a CIP?
Kavakama Quando se intensificaram as discussões sobre a reforma do Sistema de Pagamentos Brasileiro, o Banco Central avaliou como funcionava o sistema em outros
países e verificou que, além do BC, adotava-se uma câmara
privada que fazia grande parte das operações. Ao Banco
Central ficavam reservados os grandes valores transacionados entre bancos. Para as demais operações, que formam
o “varejão”, entra a câmara privada. Foi aí que os bancos
concluíram que precisavam de uma entidade como a CIP.
Financeiro Como está estruturada a CIP?
Kavakama A câmara tem um Conselho de Administração formado por membros do Banco do Brasil, Banco Industrial e Comercial, Bradesco, Caixa Econômica Federal,
HSBC, Itaú Unibanco e Santander, que representam os 42
bancos cotistas. Cabe ao conselho estabelecer a orientação
estratégica das operações, fixando as políticas e diretrizes
gerais da CIP. O conselho conta com o apoio das comissões de assessoramento; acompanhamento contábil e
orçamentário; risco operacional, auditoria e compliance;
serviços; e tecnologia. Essas comissões são formadas por
representantes dos bancos associados.
Financeiro Até que ponto a governança é levada em conta pela CIP?
Kavakama A CIP é reconhecida pelo sistema financeiro como referência de governança e conformidade com
normas, regulamentos e legislação no Brasil. A certificação
ISO/IEC 27.001, por exemplo, define os sistemas de gestão de segurança e envolve o mais abrangente escopo de
auditoria na América Latina. Além disso, desde sua origem
os gestores da CIP realizam mapeamento de riscos, indicadores, medidas de contenção e acompanham os trabalhos
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capaentrevistadomês
dos responsáveis envolvidos em cada processo. A documentação descreve todos os procedimentos das atividades técnicas de TI (Tecnologia da Informação) às
condutas pessoais de todos os funcionários.
Financeiro Então a governança tem papel de destaque...
Kavakama Sem dúvida. Temos como linhas mestras
implementar serviços inéditos com prazos exíguos,
garantir plena disponibilidade e segurança, agregar resultados e operar com modelo de governança exemplar. Quero lembrar também que, em consequência da
importância da segurança da informação para nosso
negócio, a CIP é certificada na norma internacional ISO
27.001, como já mencionado.
“Cerca de 53% dos clientes
se disseram satisfeitos
com o trabalho da CIP
e 44% garantiram
estar encantados”
Financeiro E como a CIP faz para medir a satisfação
dos clientes?
Kavakama Desde que foi criada, a CIP tem entre suas
prioridades a satisfação e a manutenção de atendimento
e qualidade. Essa responsabilidade constante exige monitaração e suporte 24 horas por dia. O resultado positivo
dessa postura é mostrado na pesquisa de satisfação realizada com os participantes que utilizam seus sistemas.
Financeiro Qual é o grau de satisfação mostrado pelos
clientes?
Kavakama Para citar o levantamento mais recente, 53%
dos clientes se disseram satisfeitos com o trabalho da CIP
e nada menos que 44% garantiram estar encantados conosco. Foi um resultado muito gratificante.
Financeiro E quanto aos custos?
Kavakama A CIP sempre deu prioridade à eficiên10 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
cia e consegue repassar seus ganhos de escala aos
clientes. Desde a sua criação, a CIP vem diminuindo
os valores cobrados dos seus clientes em função do
aumento do número de transações e ganhos de produtividade. Nosso modelo é este: ser eficiente e ter
ganhos de escala.
Financeiro Quais os planos da CIP para 2011?
Kavakama Há projetos importantes em vista que
serão divulgados em breve. Como meta para 2011
a CIP avança, por exemplo, para obter a certificação
BS-25999, norma britânica para Gestão da Continuidade do Negócio. A certificação apresenta um conjunto detalhado de controles baseados nas melhores
práticas de continuidade de negócios, englobando
todo seu ciclo de vida. E define a potencialidade estratégica e tática da organização para planejar e responder aos incidentes e às rupturas do negócio, para
dar continuidade às operações em nível predefinido
como aceitável. A CIP vai, também em 2011, continuar a trabalhar em nível internacional com a IPFA.
Financeiro Como é esse trabalho internacional?
Kavakama Estamos priorizando nossa participação
no IPFA (Institute Payments Framework Association), uma instituição internacional da qual somos
membros, além de fazer parte do conselho. O IPFA
tem como conceito gerar padronização para que se
possa fazer transferência de recursos no mundo. Essas
transferências seriam feitas em um só padrão global.
Financeiro Finalizando, o IPFA já está funcionando
a plena carga?
Kavakama Sim. Há trabalhos importantes já em prática. As primeiras transações entre Estados Unidos e
União Europeia foram feitas, por exemplo. O modelo
já está com os bancos daquelas regiões. As transações
de baixo valor passam a transitar por essa via, utilizando um padrão global para envio e recebimento de
moedas de outros países. É como se houvesse a possibilidade de se criar um “DOC internacional”. f
notasmercado
Classe C
Bancos
Domínio
do mercado
Acesso
ainda é limitado
As famílias da classe
C representarão 41% da
população em 2020 e terão
maior poder de consumidor. É
o que aponta um levantamento
realizado pela consultoria Plano
CDE, especializada no universo
das classes C, D e E. Hoje, as
classes B e C formam o grupo
de maior representatividade,
responsáveis por mais de
R$ 270 bilhões da decisão de compra.
A explicação se deve tanto ao crescimento das famílias
desse grupo, que serão 28,7 milhões em 2020, quanto ao
aumento constante da massa de renda, cuja participação saltou
de 28% para 32%, entre 2002 e 2008.
Aproximadamente 39,5% dos brasileiros
não têm conta bancária, o equivalente a
53 milhões de pessoas. A conclusão é do
Sistema de Indicadores de Percepção Social
(SIPS), do Ipea.
A maior fatia desbancarizada está no
Nordeste, com 52,6% dos entrevistados. Já
do total de brasileiros que não têm conta
em banco, 40,6% declararam que gostariam
de abrir uma e 26,6% se consideram em
condição financeira para isso.
O levantamento também aponta que,
para a população, as instituições bancárias
têm como função primordial movimentar
e guardar dinheiro (62,1%), enquanto que
apenas 4,5% enxergam os empréstimos
como papel principal dos bancos.
Expectativa
Inovação
Otimismo do brasileiro
recua em janeiro
Pagamento
por celular
A maioria da população (60%) acredita que a inflação vai
subir e o número de pessoas que aposta no aumento da renda
caiu de 44%, em dezembro de 2010, para 36%, em janeiro de
2011. Os dados são da pesquisa “Índice Nacional de Expectativa
do Consumidor” (INEC) feita pela
Confederação Nacional da Indústria
(CNI). Realizada entre os dias
13 e 18 de janeiro, o estudo
mostra que a confiança do
consumidor caiu 1,5% em
relação a dezembro de 2010.
Endividamento
Brasileiro
paga as contas
O otimismo do brasileiro em relação ao
endividamento futuro melhorou em janeiro deste ano,
de acordo com o Índice Nacional de Expectativa do
Consumidor. O índice passou de 109,5 pontos em
dezembro para 112,1, o que representa um aumento de
2,4%. A pontuação acima de cem significa otimismo e,
abaixo da marca, pessimismo.
Questionados sobre qual a expectativa para os
próximos meses, em relação ao próprio endividamento,
46% dos consumidores afirmaram que terão o mesmo
número de dívidas dos últimos três meses.
12 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
A cidade de São José dos
Campos, no interior de São
Paulo, foi a escolhida para o
lançamento da plataforma da
Mastercard para pagamentos
por celular. Em parceria
com o Itaú, Redecard e Vivo,
o projeto inicial prevê o
credenciamento de mais de
mil estabelecimentos para
atender cerca de 300 mil consumidores,
portadores de cartões Mastercard do
banco Itaú.
O principal objetivo da nova plataforma
é oferecer comodidade aos consumidores e
a iniciativa é inédita no mundo. “A escolha
pelo Brasil se deve às características da
população brasileira, jovem e conectada”,
explica Gilberto Caldart, presidente da
Mastercard, acrescentando que o potencial
de crescimento é grande, incluindo os
consumidores desbancarizados que
utilizam celular.
A partir do sucesso da experiência
em São José dos Campos, escolhida por
ser um polo de tecnologia e pela importante
participação no PIB do Estado, o
projeto será expandido para as demais
cidades brasileiras.
Consumidor brasileiro
Poder de
compra aumenta
O poder de compra da população
ocupada brasileira apresentou crescimento de
19%, entre 2003 e 2010, equivalente a pouco
mais de R$ 238, conforme um estudo realizado
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística) nas seis principais regiões
metropolitanas do País.
Nestes oito anos, os destaques foram
Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador,
cujos trabalhadores tiveram um aumento do
rendimento médio mensal de 26,5%, 27,5%
e 24,4%, espectivamente.
Indústria
Indústria paulista
cresce 10% em 2010,
segundo Fiesp
Com o melhor desempenho em oito anos,
a indústria paulista de transformação fechou
o ano de 2010 com alta de 9,9% no Indicador
de Nível de Atividade (INA), desenvolvido
pela Fiesp/Ciesp. Esse desempenho fica atrás
apenas do obtido no ano de 2004 (13,2%).
Parte desse resultado deveu-se à recuperação
da queda ocorrida em 2009 (-8,2%), ano
que contabilizou os prejuízos da crise
financeira mundial.
Superávit
Governo central
fecha 2010 com
saldo positivo de
R$ 78,96 bilhões
As contas do governo
central (Banco Central,
Tesouro Nacional e
Previdência Social)
apresentaram
superávit de
R$ 14,44 bilhões
em dezembro, levando
o resultado de 2010 a ficar
positivo em R$ 78,96 bilhões.
O montante representa 2,16% do
PIB do ano passado, ficando acima
da meta de 2,15%.
Investidor
Bovespa móvel
Em janeiro, a BM&FBovespa levou para o litoral
paulista o Bolsa Móvel – veículo itinerante da Bolsa – para
sanar dúvidas a respeito do mercado de ações. O veículo
é equipado com estações de trabalho, ponto de internet
com acesso on-line às cotações dos ativos pelo Mega
Bolsa (plataforma de negociação para ações da Bolsa),
folhetos explicativos e outros materiais didáticos. Com
início em 2003, o programa já atendeu 130 mil pessoas
no litoral brasileiro.
Educação
USP lança MBA a
distância em gestão
de negócios
A Universidade de São Paulo (USP), um dos
principais centros de pesquisa e uma das prestigiosas
instituições do país, por meio da Fearp (Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade de
Ribeirão Preto) inicia seu primeiro MBA a distância em
negócios. O curso é voltado a executivos de diversas
áreas e possui 360 horas de duração. Foi estruturado,
contando com um conteúdo inovador, de modo a unir
finanças, gestão de pessoas e estratégia. O início do
curso se dará em 16 de maio de 2011 e as aulas ao vivo
serão realizadas nas quartas-feiras das 20 às 22 horas.
O curso foi oficialmente aprovado e será certificado pela
Universidade de São Paulo. Foi elaborado no âmbito
do NPT (Núcleo de Pesquisa Tecnológica), que fará sua
gestão pedagógica.
A coordenação do programa é de responsabilidade
dos professores Alberto Borges Matias, da área de
finanças, Irene Miura, da área de gestão de pessoas
e David Forli Inocente, de desenvolvimento de
executivos. As inscrições vão até o dia 30 de março.
Mais informações em www.mbausp.org.br ou via fone
(16) 2111–0250.
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 13
notasmercado
No mundo
Segurança
País será a
7ª maior economia
Tentativas de fraude
aos consumidores
atingem R$ 7,2 bilhões
Confirmada a previsão do Banco Central, o Brasil deve
assumir o posto de sétima maior economia mundial, atrás de
Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França e Reino Unido.
Nas estimativas da 25ª edição do “O Mundo em 2011”,
do “The Economist”, considerando as taxas de crescimento
anuais dos Estados Unidos (1,5%), da China (8%), da Índia
(6%), do Japão (1%), da Alemanha (1%), da Rússia (4%) e do
Brasil (5%), a economia nacional ultrapassaria a da Alemanha
por volta de 2018, tornando-se a quinta maior em poder de
compra. Indo além, o estudo avalia que, caso a Índia mantenha
a sua moeda desvalorizada, o Brasil poderá se tornar a quarta
maior economia.
Economia Global
Brasil é o terceiro país
que mais cresceu
No ano de 2010, o Brasil foi a terceira economia mundial que
mais cresceu, com 7,3% de alta do PIB, atrás de Cingapura e
China que, respectivamente, tiveram uma alta de 14,7% e 10,3%,
conforme aponta o relatório “Perspectiva econômica mundial”, do
Fundo Monetário Internacional (FMI).
Para 2011, o FMI projeta que a economia
global crescerá 4,5%, 0,25% a mais que no
ano passado, impulsionada principalmente
pelos países em desenvolvimento, com
uma projeção média de crescimento
de 6,5%, enquanto que nos países
desenvolvidos essa média será de 2,5%,
um baixo crescimento motivado pelo retrocesso
econômico de 2009.
As tentativas de fraude envolvendo
consumidores atingiram o total de
R$ 7,2 bilhões em 2010. Em dezembro
do ano passado, as tentativas de fraudes
atingiram R$ 691,1 milhões, crescendo
8,1% em relação a novembro
de 2010, conforme dados do
Indicador Serasa Experian de
Risco de Fraude ao Consumidor.
De acordo com o indicador
esse foi maior valor mensal do ano,
superando os R$ 662,5 milhões
registrados em maio do ano
passado. Para os técnicos
da Serasa Experian, as
vendas de final de ano
aumentam o fluxo
dos consumidores
em praticamente
todos os canais de
negócios, ampliando
as oportunidades
para os fraudadores
aplicarem
seus golpes.
Crédito
Expansão perante o PIB
País bate recorde
Com uma participação de 46,6% do PIB no
final de 2010, a oferta de crédito no País totalizou
R$ 1,703 bilhão. Na última década, o saldo
das operações de crédito no Brasil mais do que
quadruplicou, considerando que no ano 2000 foram
disponibilizados R$ 418,258 bilhões em crédito, ou
24,6% do PIB.
O Brasil bateu recorde de investimento estrangeiro
produtivo, com a soma de US$ 48,4 bilhões injetados na
economia nacional, 86,7% a mais que em 2009. O valor
superou as previsões do governo federal para o ano de 2010,
estimada em US$ 38 bilhões. O setor que mais atraiu o
investimento estrangeiro em 2010 foi o industrial (US$ 19,3
bilhões), seguido pelo primário (agropecuária, mineração e
petróleo), que atraiu US$ 18,1 bilhões.
Neste ano, conforme projeções da Federação
Brasileira de Bancos (Febraban), a maior oferta de
crédito será para as empresas, com um crescimento
de 17,6%, enquanto que para pessoas físicas a alta
ficará em 16,7%. O motivo é o aumento da demanda
das empresas por financiamentos de projetos
de infraestrutura, visando à Copa do Mundo, às
Olimpíadas e ao pré-sal.
Segundo o Banco Central, o país com mais investimento
estrangeiro direto no Brasil no ano passado foi Luxemburgo
(US$ 8,6 bilhões), seguido da Holanda (US$ 6,6 bilhões) e da
Suíça (US$ 6,4 bilhões).
No ano de 2010, o número de empresas que
buscou crédito cresceu 7,6% em relação a 2009,
com destaque para as micro e pequenas empresas
(alta de 8,5%).
Investimentos estrangeiros
14 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
livros
>
Lições de
quem entende
A obra busca proporcionar uma visão aprofundada e realista sobre o mundo financeiro e traz lições, experiências,
opi niões e dicas da carreira de um gestor de
fundos multimercados. Aborda também
técnicas de gestão de recursos e seus novos
conceitos de mercado, além de trazer dicas
para os que iniciam sua trajetória profissional no mercado de investimentos.
Livro “Mundo Financeiro – O Olhar
de um Gestor”
Autor Alexandre Póvoa
Editora Saraiva
Páginas 568
Preço sugerido R$ 64
Economia
verde
>>
Regras do
mercado
>>
Até 2015 aumentará para cinco
milhões o número de investidores,
incorporando segmentos das classes
B e C, que tenham rendimentos de até
R$ 6 mil mensais. Nesse contexto, é
preciso entender as principais normas
desse mercado. O título trata, assim, da
lei das sociedades anônimas brasileira,
considerada uma das mais abrangentes, inovadoras e avançadas do mundo.
O consultor jurídico Jorge Lobo une
a bibliografia nacional e estrangeira à
prática de médias e grandes empresas
e do mercado de valores mobiliários
do País e do exterior.
Livro “Direitos dos Acionistas”
Autor Jorge Lobo
Editora Campus Elsevier
Páginas 456
Preço sugerido R$ 119
O livro esmiúça entraves ambientais comuns
em diversos países, apontando soluções para
questões como qualidade do ar, água e gestão
de resíduos sólidos. Focado nos âmbitos político e econômico, ele detalha ainda métodos
analíticos que auxiliam no planejamento e
na gestão ambiental global, como modelos
de mercado, análise de custo–benefício e de
risco para avaliar impactos ambientais.
Livro “Economia Ambiental:
Fundamentos, Políticas e Aplicações”
Autores Janet M. Thomas
e Scott J. Callan
Editora Cengage Learning
Páginas 549
Preço sugerido R$ 92,90
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 15
veículosimportados
Por Juliana Jadon
Crescimento
acelerado
Com uma elevação de 144% nas vendas no
ano passado, as marcas de carros importados
comemoram o período. Ainda assim, a
participação no mercado de veículos brasileiro
(3,18%) é pequena. Para aumentar esse número,
as importadoras tentam quebrar barreiras
Um sol escaldante esquenta as ruas da cidade de São Paulo.
Ficar parado no trânsito já conhecido pelos
moradores da capital é quase uma rotina. O
cenário não incomoda nenhum pouco o comprador,
que sai radiante dirigindo seu carro novo, com câmbio automático e ar condicionado ligado, de uma das
lojas da Kia Motors, na avenida das Nações Unidas. A
esposa achou o veículo interessante, pois é espaçoso e
possui um porta-malas grande para colocar as coisas
das crianças. Os dois filhos, um de quatro e outro de
sete anos, também gostaram, uma vez que dá para ver
o céu pelo teto solar. Ele fez o gosto da família com a
aquisição de seu primeiro automóvel importado.
16 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
A importadora brasileira da Kia é a maior no mundo
e representa cerca de 3% do total em vendas globais.
Somente no ano passado foram cinco novos modelos
da coreana colocados no mercado brasileiro. O Cerato
foi o modelo da marca mais vendido do ano.
Em 2010, as vendas de veículos importados no
Brasil cresceram 144,1% em relação a 2009, totalizando
mais de 105 mil unidades contra 43 mil do ano anterior. Com isso, a participação dos carros trazidos ao País
por empresas importadoras – e não pelas montadoras
aqui instaladas – passou de 1,44% do mercado total em
2009 para 3,18% em 2010. Os dados são da Associação
Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos
Automotores (Abeiva). Somente em dezembro, as vendas dos associados cresceram 39,6% e os concessionários comemoram o crescimento inesperado.
O advento foi espantoso até para as importadoras. Na
Audi Brasil, em janeiro de 2010 os gestores estimavam
um crescimento de vendas de cerca de 30%. Passados 12
meses, a marca ultrapassou em duas vezes a expectativa,
com aumento de 61% em relação ao ano anterior. O crescimento em porcentual está acima de outros mercados que
também se destacaram, como a China, por exemplo, com
um incremento de vendas 43% superior ao ano anterior.
As expectativas da associação também se superaram. No início do ano, a estimativa era terminar
Dos caros, o
mais barato
Audi A1:
Veículo que
chega ao País
em março,
é o primeiro
modelo da
marca a ser
comercializado
por menos de
R$ 100 mil.
Foco é atrair
novos nichos
de clientes
2010 com 56 mil unidades emplacadas, quase a metade do recorde alcançado. O presidente da Abeiva e
da Kia Motors do Brasil, José Luiz Gandini, lembra
que até o início dos anos 90 o mercado automobilístico brasileiro basicamente só tinha produtos das
marcas Volkswagen, Ford, Chevrolet e Fiat, num
total de cem modelos. Com a chegada dos importados, o consumidor teve mais opções: são mais de
800 versões. “Hoje o consumidor não tem qualquer
tipo de restrição na aquisição de veículos importados. Além disso, são mais completos nos quesitos
luxo, premium e esportivo, e possuem inovação
tecnológica, design e preços competitivos”, diz.
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 17
veículosimportados
O BMW Group Brasil – que
representa as marcas BMW, Mini e
vendas comparado
Motorrad – trouxe novos produtos
ao ano anterior
ao mercado e desenvolveu estratégias
referentes às vendas e ao marketing
Audi................................ 61%
no País. Em comparação com 2009, a
BMW............................... 55%
Kia Motors................. 125,5%
alta nas vendas foi de 55% para a marca
BMW no ano passado, 68% na de
Ary Jorge
Mini e 117% na de Motorrad – a divisão de motocicletas.
Ribeiro, da
Kia Motors
“Com isso, assumimos a liderança no segmento premium
“Importadora
em 2010, tendo entregue aos clientes mais de 8,1 mil unibrasileira é
dades de BMW, 1,7 mil Mini e 3,5 mil motocicletas”, diz o
a maior no
mundo e
diretor-presidente do grupo, Henning Dornbusch.
representa 3%
A marca, conta Dornbusch, passou a oferecer produdas vendas
globais”
tos de financiamentos em parceria com a BMW Serviços
Crescimento nas
Financeiros (divisão financeira do grupo), inaugurou novos pontos de vendas e nomeou outros concessionários
no País. “Esses fatores, aliados a diversas reuniões com as
revendas objetivando transparência, além da realização
de treinamento com as equipes de vendas, contribuíram
para o crescimento das vendas no País”, considera.
Para 2011, a estimativa para o mercado é bem
otimista. Diante dos resultados, a Abeiva projeta um
crescimento de 57%, passando de 105 para 165 mil
unidades vendidas. “Queremos repetir a dose e dobrar
o número de veículos comercializados para seis mil
unidades entregues”, diz o diretor comercial da Audi,
Leandro Radomile.
Segundo Ary Jorge Ribeiro, diretor de vendas da Kia
Motors, o planejamento estratégico da marca no Brasil,
José Luiz
Gandini, da
Abeiva
“Hoje não há
restrições para
o consumo
de veículos
importados”
Henning
Dornbusch,
da BMW
“Descobrimos
uma fórmula
para aumentar
as vendas
sem perder
os valores
da marca”
nos últimos anos e para os próximos, aponta um crescimento maior do que o mercado irá apresentar. Em 2009,
a empresa cresceu 25%; em 2010, 125,5% e em 2011
deve crescer cerca de 85%, enquanto que a indústria
automobilística nacional cresceu 10,6% em 2010 e, neste ano, deve ter elevação entre 5 e 6%. “Isso é viável por
conta do lançamento de novos produtos, aliado a preços
competitivos e benefícios, como a garantia estendida de
cinco anos ou cem mil quilômetros”, avalia.
Gosto nacional
“O consumidor brasileiro gosta de carros bonitos,
equipados e que chamam atenção pelo design”, assinala
Ribeiro, da Kia. Cerca de 60% dos compradores de carros da marca são homens, mas, muitas vezes, o carro sai
da loja com um nome masculino, mas é a mulher quem
o dirige. Segundo Ribeiro, o grau de influência das mulheres na decisão de compra chega a 75%. As crianças
também opinam. Preferem carros espaçosos e com teto
solar. O pai evidentemente quer fazer o gosto da família,
como no exemplo do início desta matéria. Atualmente, a
Kia Motors do Brasil possui 142 concessionárias plenas.
Até março serão 165. O Sudeste concentra a maior
parcela das vendas.
Para chegar aos clientes é preciso estar perto. A Audi
investiu na capilaridade dos pontos de vendas que passa-
ram de 17 para 22 unidades. Além disso, num projeto ambientação, todos os showrooms foram reformulados, com
novas mobílias e iluminação. O carro mais vendido em
2010 foi o A4. O modelo de entrada sai por R$ 134,9 mil
e pode chegar a R$ 229 mil. Cerca de 99% das vendas
estão concentradas no modelo de menos valor.
Os carros que vem para o Brasil são selecionados
dentro de um leque de ofertas oferecidas na matriz
alemã, de acordo com as características que o consumidor brasileiro preza. “Os brasileiros gostam de carros
repletos de funcionalidades e tecnologia. Incluímos nos
modelos que vem ao Brasil conexões bluetooth para
celular, por exemplo. Na Europa, os carros que trafegam nas ruas não possuem tantos acessórios quanto os
daqui”, compara o diretor da Audi.
veículosimportados
Tecnologia, design e atendimento personalizado
não bastam. As importadoras perceberam que também
é preciso conquistar pelo bolso. A aposta do ano para a
marca no Brasil é o novo A1. Na Alemanha – país-sede
da empresa –, ele foi o grande protagonista do bom desempenho em 2010, quando a empresa entregou por lá
cerca de 229 mil unidades. O veículo que começa a ser
comercializado em março deste ano é o primeiro da marca que pode ser encontrado por menos de R$ 100 mil.
O “modelo de entrada”, assim como são chamados
os carros com valor mais baixo, custa R$ 89,9 mil e já é
vendido para os brasileiros que se propõem a aguardar
a chegada ao País. O A1 está exposto em toda a rede de
concessionários Audi. Existe um em cada ponto de venda. “No mercado de veículos, R$ 1 mil de diferença no
preço ofertado atrai novos nichos de clientes. Até o ano
passado, o nosso modelo mais barato custava R$ 110 mil.
Esperamos que esse carro seja a porta de entrada de
muitas pessoas para a marca Audi”, estima o executivo.
Após uma pesquisa com os clientes, a BMW criou
pacotes mais econômicos, colocando teto solar como
opcional em alguns modelos, misturando couro com
tecido e incluindo um motor menos potente nos carros,
antes não utilizado pelos veículos da marca. “Descobrimos uma fórmula para aumentar as vendas sem perder
os valores da marca e a percepção da mesma pelos nossos clientes”, revela Dornbusch.
Em todas as marcas verificadas nesta reportagem
(Kia, BMW e Audi), os clientes trocam de carro, em média, a cada dois anos. Essa periodicidade muda de acordo
com o valor do bem. Segundo Radomile, carros mais
caros são usados menos vezes pelo cliente – geralmente
aos fins de semana ou em ocasiões especiais – e, assim, o
Leandro
Radomile,
da Audi
“Em 2011
queremos
repetir a dose e
dobrar o número
de veículos
comercializados”
No ato da compra
Os carros importados geralmente são comprados à vista,
tendo como entrada outro veículo. Na Audi, cerca de 80% das
vendas são dessa maneira e o restante (20%) são financiados.
Atualmente, na BMW, metade da compra é feita à vista e a
outra parte financiada. A Kia também possui a maioria dos
consumidores pertencente às classes A e B. Cerca de 55%
compram o carro à vista. E o restante (45%) a prazo, em 24
meses. O consumidor que compra a prazo dá uma entrada
equivalente entre 45 e 60% do valor total do automóvel.
20 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
usuário fica com o produto cerca de três ou quatro anos.
“Com um ritmo acelerado de lançamentos, pretendemos
abrir oportunidades para os clientes que trocam rapidamente seus carros”, expõe o executivo.
O diretor-presidente da BMW explica que o público consumidor da marca é extremamente exigente e bem informado. Não apenas por se tratar de um
produto premium, mas porque, em sua ótica, o valor
agregado é primordial. Preço, tecnologia, design, capilaridade e atendimento personalizado. As importadoras
de veículos vão se focar nestes pilares para conquistar
o brasileiro. “Esse consumidor valoriza o atendimento
recebido no momento da compra e principalmente na
área de pós-vendas sempre que necessitar reparos em
seu veículo. Ele quer e deve se sentir especial, receber
atenção personalizada, além de ‘mimos’ inesperados, o
que causa satisfação a ele”, encerra. f
entrevistaboavistaserviços
Serviços
personalizados
Dorival Dourado, presidente da Boa Vista Serviços,
conta como a recém-criada empresa, que passa
a gerir o Serviço Central de Proteção ao
Crédito (SCPC), pretende conquistar mercado
Por Juliana Jadon
22 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
e o incentivo à inovação são fatores-chave para a criação
e manutenção de uma empresa sólida, confiável, parceira
dos clientes e com capacidade de levar soluções inovadoras ao mercado. Acompanhe entrevista exclusiva com o
gestor à Financeiro.
Revista Financeiro A Boa Vista Serviços já nasce com
o apoio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP),
empresa com mais de cem anos de mercado. Quais são os
principais pontos que demonstram seu potencial?
Dorival Dourado Um dos nossos valores é a qualidade
e a competência dos acionistas. Por um lado temos a
Associação Comercial de São Paulo, entidade com referência na defesa da livre iniciativa e do empreendedorismo
no Brasil. Muito do que foi conquistado nesses 116 anos
de existência é fruto do envolvimento associativo representado por ela. A Boa Vista nasce, assim, com o envolvimento associativo ao lojista brasileiro, e esse é um fator de
diferenciação. Temos também o fundo TMG Capital, considerado jovem dentro do mercado de private equity, porém
com uma história de realização significativa que, junto ao
corpo diretivo, trabalha com posicionamento estratégico.
Outros parceiros são o Clube dos Dirigentes Lojistas
do Rio de Janeiro e de Porto Alegre, e a Associação Comercial do Paraná, que trazem uma parcela significativa
Foto: Douglas Luccena
São somente três meses de vida e ela já quer competir com as
maiores. A favor, a Boa Vista Serviços tem uma bagagem de conhecimento, história, participação e envolvimento com o mercado de mais de 116 anos. Criada
em novembro de 2010, a empresa nasce com o apoio
da centenária Associação Comercial de São Paulo
(ACSP), tendo como sócio-gestor o fundo brasileiro
de private equity, TMG Capital. Inicialmente foram
investidos R$ 220 milhões na empresa.
A nova organização reúne informações comerciais
de mais de 130 milhões de consumidores e empresas dos
mais variados segmentos e portes, espalhadas pelo território brasileiro, devido à gestão do SCPC. Por mês, são
realizados cerca de 145 milhões transações por meio do
SCPC, atendendo um milhão de clientes.
No comando da companhia está Dorival Dourado,
executivo brasileiro que foi destaque global na Experian
e possui experiência no setor de serviços, tecnologia
e crédito. Com uma rotina de trabalho que pode levar 12
horas, devido à sua dedicação Dourado assume que se sente
realizado no posto. Ele, diariamente, faz a “evangelização” da
empresa por meio de conversas com clientes que levam na
pauta os sonhos e desafios da recém-criada empresa.
Na Boa Vista Serviços, a diretoria trabalha num ambiente aberto e interativo. Para Dourado, o capital humano
Dorival
Dourado,
da Boa Vista
Serviços
“Cerca de
80% da nossa
verba será
direcionada à
ampliação da
capacidade de
atendimento”
entrevistaboavistaserviços
de informações de outras regiões do Brasil. Trabalhamos
para ampliar essa rede de parceiros, que conta com 2,2
mil entidades. Temos cerca de 700 funcionários, com um
parque tecnológico de última geração e um portfólio de
34 produtos. Até o final no ano devemos lançar de 15 a
20 novos produtos.
Financeiro Você foi um dos executivos com grande destaque na Experian. Como pretende repetir o feito na presidência da Boa Vista Serviços?
Dourado Qualquer empresa do setor deve se mover com
a premissa de entender como ajudar os clientes a melhorar
o ciclo de negócios, a serem mais efetivos nas decisões, tomando-as com mais qualidade no menor prazo possível e
com boa relação custo–benefício. O meu trabalho sempre
foi pautado nesse pensamento. Aqui na Boa Vista Serviços
não será diferente. A empresa está se posicionando como
uma provedora de informações, com um portfólio de serviços de valor agregado.
“A nova organização reúne
informações comerciais de mais
de 130 milhões de consumidores
e empresas dos mais variados
segmentos e portes”
Financeiro Que diferenciais essa empresa passa a
oferecer ao mercado?
Dourado Nossa capacidade de conquistar mercado
está na característica de entender o cliente, seu porte, o
segmento em que atua e em que momento do ciclo de
negócios ele se encontra para, a partir disso, prover a solução. Não trabalharemos com uma solução para qualquer
tipo de problema, como normalmente as grandes empresas fazem. O mercado não é pasteurizado. As empresas
podem ter os mesmos problemas para resolver, mas devido a características únicas precisam de soluções personalizadas. Nós focamos nessa capacidade de construção
partilhada com o cliente. Acredito que com o nosso conhecimento e tecnologia e os dos clientes somados, dois
mais dois será igual a sete.
24 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
Financeiro Os novos produtos serão voltados somente
ao mercado creditício ou a Boa Vista tentará conquistar
novos nichos?
Dourado Nossos clientes estão separados por porte e segmento. Eles apresentam necessidades diferenciadas que podem ser atendidas por outros tipos de soluções desenvolvidas pela Boa Vista. Temos a capacidade de entender o núcleo
do modelo tecnológico para crédito, mas ele é composto por
tecnologias, soluções e software que podem ser transportados para outras áreas de negócios. É nesse sentido que trabalhamos. Já estamos capacitados e estaremos ainda mais a
prestar um serviço chamado de end-to-end. Vamos cobrir
diversas necessidades e demandas de negócios.
Financeiro Dê exemplos.
Dourado O mais clássico é uma empresa, seja do varejo,
da indústria ou do sistema financeiro em que identificamos aplicações complementares que ajudam a ter uma
decisão mais correta. São soluções que visam fazer com
que o cliente aumente de maneira significativa o desempenho do seu negócio. A característica da Boa Vista é a
possibilidade de desenvolver soluções sob medida, baseadas no seu acervo de conhecimento, de tecnologias e,
entendo, a demanda do nosso cliente.
Financeiro Quais os seus principais desafios no cargo?
Dourado Os principais desafios estão centrados principalmente na criação de um modelo que priorize o
foco no cliente e a geração de valor para o mesmo, incentivando ao mesmo tempo o desenvolvimento de
talentos. Somos uma empresa de capital humano centrado no conhecimento. Outro fator relevante é crescer
de forma sustentada. Bolhas de crescimento de receita e
de ampliação do nosso mercado são fáceis de criar. Mas
não estamos nele de maneira transitória. A Boa Vista é
uma empresa que chegou para se posicionar e ter uma
longa vida na prestação de serviços, sendo reconhecida
por qualidade e inovação.
Financeiro Como a Boa Vista Serviços está equipada
tecnologicamente?
Dourado O nosso negócio é direcionado para as inovações nas mais diferentes dimensões que a palavra permite.
Desde a gestão para produtos, serviços, relacionamento e,
principalmente, inovação em modernidade tecnológica.
A nossa indústria está estruturada em três pilares: pessoas
(capital intelectual), tecnologia (inovação) e dados. Investimos significativamente na modernização da infraestrutura tecnológica. Cerca de 80% da nossa verba ao longo
do ano será direcionada a evoluções e modernizações
que envolverão, entre outras coisas, a ampliação da capacidade de atendimento.
Financeiro Qual o papel da tecnologia na Boa Vista?
Dourado Tecnologia é um ponto-chave para essa indústria e procuramos trazê-la para a frente do negócio. Essa
junção da tecnologia com as áreas de negócios pode ser
o nosso fator de diferenciação com o mercado. Cada um
cumprindo o seu papel, mas trabalhando de forma integrada. Estamos capacitados a ampliar de maneira significativa
nossa oferta para o mercado. No final do ano, triplicamos
a capacidade de processamento com a última versão das
tecnologias disponíveis para processamento transacional.
Numa transação típica de negócio, reduzimos em 60% o
tempo de processamento e resposta. Essa é a principal medida que o cliente tem como percepção na ponta. Aproveitamos a mesma janela de tempo para ampliar o número de
interações e simulações que o cliente executa.
Financeiro Outros fundos, além do TGM Capital, se
interessaram na companhia?
Dourado Sou um executivo contratado para administrar
a Boa Vista, e comecei a trabalhar junto à inauguração da
empresa em 1º de novembro. Como um estudioso do
meio, digo que o número de players internacionais no setor
é maior do que o de empresas que temos no Brasil, e ainda
existem muitas barreiras para entrarem. Envolvem questões regulatórias e o entendimento das demandas específicas de cada região. As características que se encontram na
economia de outros países e também no processo de aquisição de dados também são divergentes. O mercado brasileiro apresenta nesse momento crescimento de dois dígitos, só comparado com o da Ásia. A relação crédito–PIB
ainda está fora do benchmark mundial. O Brasil está com
menos de 50% nessa relação, sendo que, na maior parte do
mundo, e sem o crédito imobiliário, chega a 100% do PIB.
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 25
entrevistaboavistaserviços
O mercado brasileiro está num momento de inflexão com
relação ao crescimento e à expansão do crédito. Assim, é
natural que entre na rota de empresas que operam nesse
segmento. Várias que não estão no País avaliam formas de
participar desse desenvolvimento.
Financeiro A Boa Vista Serviços pretende abrir capital
na BM&FBovespa nos próximos anos?
Dourado Os acionistas possuem no planejamento um
projeto de sete anos com essa perspectiva de abertura de
capital, por meio de uma Oferta Pública Inicial (IPO).
Financeiro Estão abertos a fusões?
Dourado Trabalhamos com modelo de inovação
aberta. Uma empresa como a nossa precisa estar antenada com o que está ocorrendo no mercado e em
como, cada vez mais, incorporar novas tecnologias e
conhecimentos específicos, desenvolvidos no mercado nacional e internacional. Temos pessoas dedicadas a
pensar e a pesquisar o que acontece na indústria que de
alguma maneira tem relação com o mercado de crédito.
O grupo de pesquisa e desenvolvimento está atento. E,
claro, sempre que fizer sentido, vamos
capturar esse valor.
“O mercado está
polarizado, o que
não é benéfico. Os
clientes precisam
de alternativas e
queremos ser uma”
Financeiro Como pretendem ganhar mercado perante
os concorrentes?
Dourado Nós não temos no Brasil nenhum método
efetivo que dê percepção real de market share das empresas que operam nesse segmento, pela diversificação de
produtos e complexidade. Dependendo do ângulo em que
você olha, pode haver conclusões diferentes de market share.
No geral, somos o segundo colocado. Já no que se relaciona
às informações de pessoa física e de população não bancarizada, temos a base de dados mais completa no Brasil.
Financeiro Quais as principais expectativas da empresa?
Dourado Este ano teremos um crescimento significativo, com a ampliação da base de clientes, renovação de
portfólio de produtos e o mercado ficará surpreso com
a nossa capacidade de inovar. Isso não é uma promessa,
mas uma avaliação do trabalho que é feito. No médio e
longo prazo esperamos consolidar a Boa Vista como a
empresa genuinamente brasileira, criadora da rede verde
e amarela de informações, alinhada à demanda do mercado brasileiro, com um grande foco no varejo, no qual está
o nosso DNA. Nossos planos estão estruturados para
atender a esses objetivos. O mercado está polarizado, o
que não é benéfico. Os clientes precisam de alternativas
e queremos ser uma.
Financeiro Como você avalia o Cadastro Positivo no País?
Dourado Houve a aprovação do Cadastro Positivo
no início de dezembro, quando o governo federal vetou
e criou uma Medida Provisória (MP). Esse processo
aconteceu justamente por não seguirmos uma linha a
qual defendemos, que é uma discussão ampla e irrestrita com relação aos benefícios do Cadastro Positivo no
longo prazo e como a sociedade brasileira como um
todo (cidadãos, entidades de classe, órgão de defesa do
consumidor, iniciativa provada, birô de informação)
podem construir essa realidade. Não discutimos um
projeto brasileiro, mas algo genérico. Perdemos, assim,
uma oportunidade para mudar de patamar e elevar o
nível de discussão. Existe uma Medida Provisória que
precisa ser regulamentada. Defendemos uma abordagem de construção coletiva de conhecimento, com a
definição de um modelo brasileiro. f
artigoconsumidoremergente
O consumidor de
verdade é da classe C
A classe C ou a nova classe média brasileira,
responsável pelo consumo de R$ 881, 2 bilhões
em 2010, ainda representa um enigma para
parte dos executivos, que insisPor Renato Meirelles
tem em vender seus produtos
para o topo da pirâmide, como se os consumidores emergentes fossem um nicho de
mercado, ao invés do que realmente são, o
próprio mercado.
Essa transformação não aconteceu da
noite para o dia, e de oito anos
para cá foi possível constatar
o aumento do poder de
consumo entre as
classes sociais.
A estabilidade econômica permitiu
o aumento
dos empregos
formais, da renda e possibilitou o acesso ao crédito, que
colocou nas mãos dos emergentes a oportunidade de transformar seus sonhos em realidade palpável. Os programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família, também
contribuíram para tirar muitas famílias da linha
da miséria. O resultado foi uma intensa migração entre as classes sociais, com mais ênfase
entre as famílias da classe E que subiram para a
D e da D para C, criando uma classe de novos
consumidores ávidos para comprar bens antes
nunca cogitados.
28 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
A TV de plasma, a geladeira duplex, o
computador e o celular duo chip passaram a
integrar a lista de consumo dos emergentes
e hoje em dia já são itens frequentes nos lares da nova classe média, como nós do Data
Popular chamamos o “Brasil de verdade”. Do
montante de R$ 2,2 trilhões gastos pelos brasileiros em 2010, a classe C se destaca com seus
R$ 881,2 bilhões, quase o total gasto pelas classes A e B juntas, de R$ 910,7 bilhões. A base
da pirâmide, representada pelas
classes D e E, gastou
R$ 408,5 bilhões.
Um volume bastante representativo,
se ainda considerarmos que a massa
salarial, especificamente da população da
classe D, já ultrapassa a da B
em 16%. Famílias que ganham
entre R$ 511 a R$ 1.530 têm para
gastar aproximadamente R$ 381,2 bilhões, enquanto que os pertencentes à classe B, com renda entre R$ 5.101 e R$ 10.200,
dispõem de R$ 329,5 bilhões para o consumo.
Todo esse volume destinado às compras
tem como fonte a renda dos consumidores,
bem como seus rendimentos e benefícios e,
em grande parte, o crédito concedido no mercado que, atualmente, são exatamente as famílias de baixa renda quem mais o utiliza. Para
se ter uma ideia, apenas em relação ao cheque
especial e cartão de crédito, a participação da
classe D e E é de 25% e 23,2%, respectivamente, enquanto que entre os membros da classe
A e B essa participação fica em 15,8% e 13,5%.
Em maior porcentual, a classe média responde por
61,5% do crédito utilizado no cheque especial e
por 61% no cartão de crédito.
Com crédito farto e grande participação
da baixa renda na sua contratação, muito se especula sobre o endividamento da população.
É fato que os índices de endividamento aumentam ano a ano em relação ao PIB. Porém
isso não significa um crescimento do endividamento individual, mesmo porque deve ser
considerado que houve uma expansão na base
de tomadores de crédito. Na prática, os índices
de inadimplência não têm aumentado.
O crédito é uma
corda que pode servir
para o consumidor
alcançar patamares
mais altos do seu
desenvolvimento
Porém o que deve haver são iniciativas de
caráter educativo para que os consumidores
sejam tomadores de crédito conscientes, sem
comprometerem suas rendas. Iniciativas como
a da Febraban, com o portal Meu Bolso em Dia,
trazem grandes lições nesse sentido. É preciso
haver um novo papel do crédito sem que isso
signifique privação. A nova classe de consumidores não quer esperar. Quer ter o bem.
O desafio é fazer bom uso do crédito como
um indutor da economia, sem que seja um
complicador para a população, acarretando
endividamento. Em outras palavras, o crédito é
uma corda que pode servir para o consumidor
Participação do crédito
Conta
corrente
Cartão
de crédito
13,5%
15,8%
23,2%
25%
61%
61,5%
Classes A e B
Classe C
Classes D e E
Potencial de compras
do consumidor
Ano de 2002
Ano de 2010
16%
19%
40%
58%
26%
41%
Classes A e B
Classe C
Classes D e E
alcançar patamares mais altos do seu desenvolvimento profissional ou para ele se enforcar.
O consumidor precisa saber usar o crédito
para comprar bem e poder comprar sempre.
A dica é ensiná-lo a fazer um planejamento
financeiro, despertá-lo para a necessidade de
poupar de forma que as suas compras sejam
prazerosas, sem aquele receio de não saber
como arcar com os compromissos assumidos.
E esse é um papel de toda a sociedade! f
Renato Meirelles
é sócio-diretor do Data Popular
Twitter.com/DataPopularRM
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 29
educaçãofinanceira
Réplic
Depois de a Mastercard
levar o programa
“Consumidor
Consciente” à
comunidade de
Paraisópolis, o desafio
é multiplicar a ação
em outros locais e
cativar parceiros para
se unirem à iniciativa
Por Juliana Jadon
Andréa
Denadai, da
Mastercard
“Em 2010,
encontramos
o caminho
para a
educação
financeira.
Agora
daremos
continuidade”
30 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
Carros de som e cartazes convidavam os moradores da comunidade de Paraisópolis, em São Paulo (SP), a fazer aulas de educação financeira. A euforia chamou a atenção
da população, mas poucos compareceram nas palestras
realizadas no final de 2007. Dessa época, Andréa Denadai,
vice-presidente de comunicação da Mastercard e a principal responsável pelo programa “Consumidor Consciente”
no Brasil, aprendeu a lição: “É melhor levar a educação até
as pessoas, de maneira focada, do que esperar que venham
para um evento desses”, ensina.
No ano passado, o programa ultrapassou essa barreira. Andréa e a equipe envolvida conversaram com a
diretoria das oito escolas da região e levaram educação financeira para onde estava o público-alvo. Os escolhidos
foram jovens, do segundo ano do ensino médio, que começavam a entrar no mercado financeiro e a conquistar
o primeiro emprego. Com as palestras ministradas nas
próprias escolas, a Mastercard atingiu diretamente cerca
de 300 adolescentes. Agora, Andréa e a empresa querem
multiplicar o feito em outras comunidades, nas instituições financeiras e no comércio, por meio de parcerias.
as do bem
Algumas delas já foram seladas. Uma com a rede varejista Pernambucanas. Os executivos da cadeia de lojas
selecionaram três temas relacionados ao uso do cartão e
criaram uma brochura do “Consumidor Consciente” que
passou a ser enviada junto com fatura do cartão da loja.
Numa outra parceria, essa com o Banco de Brasília (BRB),
a instituição colocou cerca de 30 mil cartilhas na rede de
agências, com as informações vindas do projeto.
Segundo Andréa, o objetivo é mais amplo do que ensinar o uso correto do cartão. “Queremos educar no sentido
de mostrar que não se deve gastar mais do que se ganha e
que é preciso economizar e poupar para o futuro. Estando,
assim, preparado para eventualidades que possam influenciar a vida financeira”, explica.
Lições
Quando a Mastercard iniciou o programa no Brasil, o México também foi beneficiado. Andréa e os envolvidos percebiam que as economias nos dois países
estavam amadurecendo e saindo de um patamar de
pobreza para a geração de uma sociedade ao consumo
maior em que uma nova faixa da população começava
a ter acesso a bens e a crédito.
Embora a Mastercard não seja uma empresa financeira, mas, sim, uma rede tecnológica que está
no meio de uma cadeia formada por consumidores
e estabelecimentos comerciais, Andréa explica que
é importante para toda a sociedade trabalhar com a
educação financeira.
educaçãofinanceira
Ricardo
Pereira e
Conrado
Navarro,
do Blog
Dinheirama,
ministram
palestra sobre
educação
financeira
Nos estudos feitos antes do lançamento do programa na América Latina, a conclusão foi que a cultura
financeira era muito baixa no Brasil. “Isso ocorre porque viemos de anos de inflação alta em que não existia a ideia de investimento para o futuro. As pessoas
recebiam o salário e gastavam porque o papel perdia
o valor rapidamente. Hoje, à medida que a classe C
inflou, precisamos pensar nesse tema”, avalia a vicepresidente. A internet é um dos principais canais de
comunicação e aprendizado do projeto. Em 2009, foi
Dicas
“As pequenas e médias instituições financeiras que querem ter um
projeto semelhante ao nosso devem fazer parcerias com empresas
ou ONGs que já atuam nesse sentido. Começar do zero pode
acarretar em gastos desnecessários e não dar certo”, aponta Andréa.
32 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
criado um blog no portal “Consumidor Consciente”,
com os consultores Ricardo Pereira e Conrado Navarro. Eles fazem parte de um dos blogs mais conhecidos
do País em finanças pessoais, o Dinheirama. Os dois
atualizam a página da marca semanalmente com o intuito de levar novidades relevantes aos leitores.
Um segundo passo dado com sucesso no ano
passado foram as gincanas de educação financeira.
Os especialistas também ministram as palestras nas
escolas e divulgaram o site e o blog para os alunos se
prepararem para a ocasião. A Mastercard premiou os
representantes das escolas com aulas de inglês. Das 20
perguntas só erraram duas. “Isso envolveu os alunos
as escolas e a comunidade. Em 2010, encontramos o
caminho para a educação financeira. Agora daremos
continuidade”, finaliza. f
artigo
artigoeconomia
A dinâmica do crédito
nos próximos anos
O mundo se transforma radical e velozmente. A dinâmica da mundança
Por Nicola Tingas
global não poupa nada e nem ninguém. A concorrência é intensa e
crescente, demandando dos agentes econômicos, sociedades e países uma permanente
transformação de valores, princípios, formas,
conteúdos, tecnologia e muita inovação.
No Brasil, os desafios são amplos e as
prioridades múltiplas, requerendo um novo
padrão de educação e formação profissional,
o incentivo ao empreendorismo e às novas
34 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
formas de trabalho e renda, a redução do
custo Brasil, a refundação e redução da carga
tributária nacional, a estruturação e implantação rápida de novos modelos de negócio.
As agendas de investimento, tecnologia
e inovação são extensas. Priorizam a realização de grandes projetos e/ou focos de produção e serviços, tais como: infraestrutura,
energia, exploração de petróleo, transportes, estradas, portos, aeroportos, química,
construção, telecomunicações, hotelaria,
serviços etc.
A ampliação da capacidade de oferta agregada da economia brasileira (PIB potencial)
depende de avanços efetivos nessa extensa
agenda de investimentos, avanços institucionais e estruturais. Realizado isso, nos próximos
anos será atingido um patamar de crescimento
sustentado de 7 a 9% ao ano, contra estimados
4,5% no ano atual. A mudança da oferta estrutural da economia brasileira permitirá que esse
maior crescimento do PIB absorva a crescente
demanda de consumo doméstico, sem prejudicar os parâmetros de estabilidade e crescimento econômico no longo prazo.
Para tanto, será determinante ter firme disposição, assertividade e racionalidade nas políticas públicas, forte investimento privado e o
estabelecimento de ampla confiança entre os
agentes econômicos para, assim, condicionar
um ambiente de expectativas favorável à realização do ciclo de investimento para desenvolvimento da economia.
O cenário mais provável para a economia
brasileira nos próximos anos é de ocorrer uma
escalada na expansão do investimento produtivo e de serviços, e manter-se a continuidade
da forte ampliação do consumo doméstico. O
financiamento desse ciclo de expansão será
amplamente possível, dada a abundância de
capital financeiro global em busca de oportunidades de alto retorno com baixo risco, como
é o caso do Brasil.
Para o investimento, o setor financeiro tem
sinalizado, por meio dos bancos de atacado e
do mercado de capitais, que as fontes locais
são insuficientes e que os recursos terão, em
grande parte, origem internacional: investimento direto, fusões e aquisições, colocação
de dívida soberana e privada, organismos multilaterais de fomento etc.
Para o consumo doméstico, o financiamento continuará sendo essencialmente por meio
de fontes de recurso local: por meio de emissões de títulos de direito sobre crédito futuro
para lastro de captações, aportes de capital pelos acionistas, cessão de créditos etc.
Na prática, a questão principal não é de
obter mais recursos; mas, sim, onde e como
distribuí-los melhor ao longo desta nova década. O desafio atual é identificar o perfil, a
dinâmica e os nichos da demanda de crédito
para investimento e demanda de crédito para
Nos próximos anos será atingido um
patamar de crescimento sustentado
de 7 a 9% ao ano, contra estimados
4,5% no ano atual
consumo doméstico. O mercado precisa entender toda essa nova demanda e estruturar
antecipadamente o que será oferecido aos
investidores e consumidores em termos de
crédito: perfil de risco, custo, prazo, garantias,
volume etc.
Este é o momento vital para que o setor
financeiro público e privado, o Banco Central e demais organismos financeiros atuem
com vontade e determinação na identificação do perfil futuro da demanda, no planejamento e na estruturação de um sistema de
crédito capaz de atender com transparência
e eficiência a realização do ciclo de expansão e desenvolvimento social da economia
brasileira dos próximos anos. Estão todos
convidados. Principalmente o investidor e o
consumidor brasileiro. f
Nicola Tingas
é economista-chefe da Acrefi
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 35
pordentrodovarejo
Crescimento
Consistente
Novo CEO do Grupo Dadalto traz na bagagem
vasta experiência do mercado corporativo. Pessoal bem
treinado e alinhado com as metas das empresas
são os focos do sucesso da sua gestão
Por Karin Fuchs
No mercado corporativo, cada executivo tem um perfil de gestão
e, em comum, o que os move são os desafios.
No caso de Antônio Machado, que, desde o segundo
semestre de 2010, é o CEO do Grupo do Dadalto, grandes desafios não apenas fazem parte de seu currículo como
também estão no seu DNA.
Primeiro foi na American Express, na qual comandou o
processo de abertura dos centros de operações nos Estados
da Bahia e do Rio de Janeiro. Em seguida, liderou na Tim a
construção e estruturação de empresas do grupo no País,
nos Estados da Bahia, de Sergipe e de Minas Gerais. O sucesso rendeu a ele a participação em um megaprojeto da Vivo,
quando a Telefônica Celular se unia à Portugal Telecom, em
mais um processo de reestruturação de uma empresa.
Antes de chegar ao Grupo Dadalto, Machado foi vicepresidente de operações do Ponto Frio. Após 30 anos seguindo o mesmo modelo, mudaria totalmente a sua gestão,
substituindo toda a sua equipe de executivos. Ao longo dessa
trajetória profissional e de muita bagagem, a principal lição
aprendida, segundo o executivo, foi que times, quando estão bem qualificados, com boa atitude e bem direcionados,
são capazes de fazer qualquer coisa. Eis a experiência que ele
levou para o Grupo Dadalto. Confira nesta entrevista quais
são as metas e objetivos no comando do grupo.
Revista Financeiro Como foi essa nova transição em
sua carreira para o Grupo Dadalto?
36 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
Antônio Machado Nos últimos dois anos, o grupo está
passando por um processo de transformação profunda,
para um modelo de consolidação e modernização que envolve os conselhos de sócios e administrativo (formado por
membros externos e acionistas). Primeiro foi com a contratação de uma consultoria especializada e, depois, com a contratação do time de executivos, do qual eu sou o CEO.
Financeiro Quais são as principais metas e desafios?
Machado Os desafios são o crescimento consistente, com
rentabilidade, e garantir que durante o processo de transição
não haja dispersão, de forma que o grupo tenha foco e se
mantenha alinhado com o direcionamento.
Financeiro Da sua experiência, o que colocará em prática
para manter esse foco?
Machado Aplicarei no grupo o aprendizado de que times
qualificados, com boa atitude e bem direcionados, são capazes de fazer tudo. A mobilização de pessoas é o caminho certo, com pragmatismo no acompanhamento de resultados
para fazer com que os desafios sejam concretizados.
Financeiro Quais as complexidades em gerir um grupo
que opera ao mesmo tempo no varejo e como financeira?
Machado Tudo começa pelo entendimento da dinâmica
de resultado. A partir do momento que você identifica
como gerar valor e a quais pontos devem se atentar já está
estabelecendo as bases de gestão. No dia a dia, as empresas do
Grupo Dadalto são vistas e tratadas como universos de negócios independentes e os resultados têm métricas próprias.
Já a estrutura de apoio é única para todas.
consignado também cresce junto aos empréstimos
pessoais. Ambos são empréstimos pessoais, o que
muda é a forma de pagamento.
Financeiro Há similaridades?
Machado O que muda é o que se comercializa. No varejo
mercantil, são produtos tangíveis e, na financeira, são produtos financeiros. Em ambos os casos você lida com o grande
público. Porém os resultados das operações, assim como a
dinâmica, são diferentes, o que requer gestões próprias.
Financeiro Quais são os principais benefícios aos clientes
em contratar crédito diretamente na Dacasa?
Machado Temos capilaridade, com a maior rede de lojas
nas regiões que atuamos como financeira, no Espírito Santo
e na Bahia. Além de atendermos o cliente com rapidez, nossa
financeira é a única na qual ele sai da loja com o dinheiro no
ato e, logo na vitrine, já se depara com simulações de valores
de empréstimos e das prestações.
Financeiro Quais as linhas de crédito disponíveis
pela Dacasa Finaceira?
Machado Temos os cartões com bandeira própria,
linhas de financiamento como empréstimo pessoal,
CDC e crédito consignado e cartões com
outros varejistas.
Financeiro Das linhas citadas
acima, quais as que têm maior
participação nos negócios da
Dacasa Financeira?
Machado Cartão de
crédito é o que tem
maior participação e
o que mais cresce. O
mundo está migrando para o dinheiro
eletrônico e seguimos
essa tendência. O crédito
‘‘
‘‘
Financeiro No segmento varejista, presenciamos movimentos de fusões e aquisições. Esse tipo de transação faz parte dos planos do grupo?
Machado Não queremos adquirir empresas. Mas pode
acontecer, conforme a oportunidade. O plano atual é de
consolidação das nossas práticas e crescimento das bases nas
regiões em que atuamos. Temos campo para crescer e
se tivermos algum movimento nesse sentido será de
aquisição. Fusões não estão em nossos planos.
CERCA DE 60% DO VOLUME DE
NEGÓCIOS GERADOS PELO GRUPO
PROVÉM DA DACASA FINANCEIRA
Financeiro Qual é a participação da Dacasa Financeira nos
negócios do grupo?
Machado Cerca de 60% do volume de negócios são gerados pela Dacasa.
Financeiro Fale sobre a venda de empréstimos on-line.
Machado Há dois anos, concedemos empréstimos online. As propostas pela web são avaliadas pelos
nossos analistas e os dados são confirmados por telefone. Quando liberado,
creditamos o valor na conta do
cliente. A procura não é pequena,
mas não se compara à presencial. É uma alternativa a mais
para os clientes.
Financeiro Quais
precauções evitam a
inadimplên cia?
Machado Utilizamos
um sistema de credit
scoring e contratamos
uma consultoria para trabalhar
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 37
pordentrodovarejo
no treinamento das equipes de análise de crédito. Também
investimos em um sistema de gerenciamento do call center
para aumentar a produtividade, tanto na gestão de crédito
como na cobrança. Foi desenvolvido pela Promov, empresa
do grupo. Hoje, está em torno de 3,5%, mas nos precaver de
mudanças de cenário.
um endividamento baixo; o País cresce e a tendência é que
esse endividamento aumente. Em conjunto a ele, deverá
haver um processo de aprendizado, de como lidar com isso.
Como, por exemplo, tomar cuidado em elevar de forma
acelerada os prazos de financiamento para que não se perca
o controle. Ele deve ser feito de forma gradual e responsável.
Financeiro Uma iniciativa do grupo foi a criação do programa “Planejamento Financeiro”. Como ela surgiu ?
Machado Clientes começaram a nos procurar para pedir
dicas de como manter o controle de suas finanças e implementamos esse programa há cerca de cinco anos. As ações
compreendem palestras, cartilhas orientativas que são entregues em nossas filiais e conteúdo específico no nosso portal.
Financeiro O que pode dar errado nesse cenário?
Machado O pior seria uma elevação súbita do nível de endividamento das famílias que estão crescendo, das classes D
para C e da C para a B. Temos um grande potencial de concessão de crédito para a realização de sonhos. Porém temos
de estar atentos de que forma se dará essa evolução.
Financeiro Economistas preveem que o aumento do consumo acarretará em aumento da inadimplência. Qual a sua
visão sobre esse tema?
Machado O nível de endividamento no Brasil em relação
ao PIB é pequeno se comparado a países desenvolvidos – o
que para nós, como financeira, é uma posição privilegiada.
O ponto de atenção deve estar na gestão do crédito. Existe
Grupo Dadalto
Empresas Dadalto Lojas de departamento, Dacasa Financeira,
D&D Home Center da Construção, Promov (call center,
análise de crédito e cobrança) e FEAD – Fundação Educacional
Antonio Dadalto.
Número de lojas 25 lojas Dadalto, 26 unidades da Dacasa
Financeira e 4 lojas D&D.
Regiões de atuação Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia e
Minas Gerais.
Número de funcionários 2.500.
Número de clientes 2,5 milhões.
Cartão de crédito Dacasa Distribuído em mais de 18 mil pontos
de vendas.
Cartões emitidos 1,5 milhão.
38 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
Financeiro E a taxa de juros no Brasil continua sendo a
mais alta do mundo..
Machado A maior oportunidade que temos para reduzir
os juros é a redução de custo. Quanto mais “bons pagadores” tivermos, com uma gestão de crédito eficiente, melhores
serão as taxas de juros. Podemos ter uma sofisticação nesse
sentido e, de certa forma, nós temos. Os que honram seus
compromissos já conseguem melhores condições.
Financeiro O que acha que falta para atingirmos uma oferta de crédito que supere100% do PIB?
Machado O conjunto oferta de crédito + inadimplência reflete na taxa de juros. Com o movimento de redução da taxa
Selic, dinheiro mais barato e queda da inadimplência, teremos taxas mais competitivas e maior volume de crédito. É o
que acontece nos países desenvolvidos nos quais as taxas de
juros são baixas. O volume de concessão de crédito evoluirá
com o crescimento do País, o que já ocorre ano após ano. Os
movimentos macroeconômicos farão com que o crédito
evolua a patamares dos países desenvolvidos. f
artigouniversofinanceiro
Inovação, pesquisa
e desenvolvimento
O Estado de São Paulo é líder no setor de pesquisa,
inovação tecnológica e desenvolvimento. A informação é baseada em estudos da Associação Nacional de
Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e da Fundação Seade. Porém parte
desse conhecimento ainda está dentro dos muros
acadêmicos. Mesmo assim, segundo pesquisa da fundação Seade, a economia paulista
Por Milton Luiz de Melo Santos
acumulava crescimento de 8,5% até o
terceiro trimestre de 2010.
A inovação tecnológica tem de vir acompanhada de investimento e conhecimento. De acordo
com pesquisa realizada pela Anprotec, São Paulo é o
Estado que reúne o maior número de incubadoras
implantadas, são cem ao todo. O Cietec USP (Centro Incubador de Empresas Tecnológicas) é um dos
maiores polos incubadores da América Latina, com
mais de cem empreendimentos em gestação, seguido do Rio Grande do Sul, com 61 incubadoras. Elas
oferecem apoio desde infraestrutura até serviços de
assessoria jurídica, marketing, serviços de capacitação,
treinamento e atendimento ao cliente.
O formato colabora para o crescimento e geração
de empregos. Porém ainda há espaço para a ampliação
do desenvolvimento no Estado e é o que a Agência
de Fomento Paulista, alinhada à política de desenvolvimento de São Paulo, pretende fazer com força em
2011. Investir no fomento dos setores que se utilizam
das pesquisas e bases tecnológicas e que tenham fortes
características de geradores de empregos. Fomentar a
expansão das pequenas e médias empresas – que são
as que mais empregam em todo o País – por meio
de ofertas de crédito a juros muito baixos e a prazos
longos. Dessa forma é possível impulsionar o desenvolvimento de um Estado, por meio de apoio ao investimento para que as empresas ganhem competitivida-
de, avançar nas pesquisas e desenvolver produtos de
maior valor agregado, além de gerar emprego.
Nas últimas décadas, o Brasil vive um avanço
científico que tem colaborado para construir a competência nacional em alguns segmentos, por causa
dos investimentos em pesquisas. Como exemplo,
podemos citar nosso know-how na exploração de
petróleo em águas profundas, o que nos permite
exportar tecnologia e capital humano qualificado .
Investimentos pesados, de forma contínua e de
longo prazo, são necessários para expandirmos conhecimento também em outras áreas. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), ligada
à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e
Tecnologia, é uma das principais instituições de investimento em pesquisas científicas e tecnológicas do Estado.
Em 2009, por exemplo, os desembolsos da Fapesp para
concessão de bolsas e auxílio a pesquisas, em todas as
áreas de conhecimento, chegaram a R$ 345 milhões.
Apesar do avanço brasileiro em pesquisas científicas e do reconhecimento dos empresários sobre
a necessidade de investimentos nesse setor, é sabido
que a produção tecnológica não é imediata. Há um
tempo de maturação para o resultado da pesquisa se
transformar em produto. Por isso é importante estarmos alinhados aos avanços tecnológicos para não
ficarmos na rabeira do desenvolvimento.
Um Estado só consegue ser grau de “estado desenvolvido” quando investe de forma contínua e no longo
prazo em desenvolvimento tecnológico, inovação, pesquisas e formação de capital humano qualificado, de
maneira que isso possa transformar a sociedade. f
Milton Luiz de Melo Santos
é economista e diretor-presidente da
Agência de Fomento Paulista/Nossa
Caixa Desenvolvimento
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 39
desafioscerticrefi
Certificação Acrefi
Funcionários de correspondentes, promotoras de
financiamento e de instituições financeiras serão
certificados pelo CertiCrefi
A Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito,
Financiamento e Investimento), entidade que
há mais de meio século congrega instituições voltadas, na sua grande maioria, ao crédito direto
ao consumidor, passará a contar com a atividade
de certificação, implantando para isso o Exame
CertiCrefi (Certificação de Funcionários de Correspondentes, Promotoras de Financiamento e de Instituições Financeiras) em parceria com o
Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em
Objetivo
Administração), propondo-se a examinar,
O CertiCrefi se
rigorosamente, os conhecimentos adquidestina a certificar
ridos pela força de vendas e, assim, poder
profissionais que se
vinculam a empresas
atestar o grau de aproveitamento dessas
denominadas
pessoas em cursos de capacitação que secorrespondentes,
promotoras de
rão oferecidos pelo mercado.
financiamento e
Com efeito, a certificação de conhede instituições
cimentos profissionais constitui nos dias
financeiras.
atuais uma tendência internacional, aliás,
já aplicada no Brasil em relação aos agentes autônomos de investimento e atos corretores de imóveis.
Nesse sentido, a certificação vincula-se à necessidade de proteger o público e os próprios profissionais,
garantindo um padrão mínimo de atuação.
Necessidade da certificação
A realidade brasileira no campo da concessão de empréstimo pessoal e de crédito ao consumidor, que passou
a ser um case de caráter internacional, apresenta uma modelagem de difusão do crédito com alcance nacional, pela
qual ganhou importância a participação direta de pessoas
físicas, espalhadas pelo País, as quais se vinculam a empresas denominadas promotoras de financiamentos ou correspondentes. Considerado esse quadro, o Banco Central
do Brasil tem, com plena razão, insistido com a profissionalização da força de vendas, com o que se alcançaria, primeiro, a completa identificação e localização dessas pessoas e
dotando-as de conhecimentos gerais e específicos sobre as
operações de crédito; atuação das instituições financeiras; e
noções das normas legais e regulamentares de regência da
matéria vinculada aos empréstimos e financiamentos.
Ora, a par das empresas e entidades que oferecerão
cursos de capacitação presenciais ou a distância, impõe-se
a existência de entidades certificadoras, as quais avaliarão
os conhecimentos obtidos pelos profissionais, expedindo,
após exames, o respectivo certificado de conclusão. Logo, o
CertiCrefi é a proposta da Acrefi, avançando no escopo de
estar preparada para a certificação dos profissionais, depois
de concluírem os respectivos cursos. f
Dados do exame
O Exame CertiCrefi não vincula qualquer pré-requisito quanto à formação acadêmica.
A data da primeira avaliação é no dia 9 de julho de 2011.
O exame será realizado em 50 cidades brasileiras. Veja cidades atendidas no portal www.certicrefi.com.br.
Aprovação no exame: Aproveitamento igual ou superior a 70% das questões.
Número de questões: 60 questões de múltipla escolha, com 4 alternativas.
Duração do exame: 2 horas.
Taxa de inscrição: R$ 300 (pagamento após a inscrição via boleto bancário).
40 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
artigoreflexão
Despesa
de defesa
Há dias, eu ouvi uma pessoa séria dizer que
não compreendia a justificativa para um gasto de
cerca de US$ 10 bilhões na aquisição de 36 caças
a jato de última geração
Por Sérgio Ernesto Alves Conforto
para a Força Aérea Brasileira. Discordei na ocasião, embora entenda que
seja normal as pessoas pensarem por que gastar
dinheiro em aviões, navios e veículos de combate
em um País que tanto precisa de hospitais, escolas,
estradas e tantas coisas mais, e que não tem inimigos aparentes e vizinhos incômodos.
Meus argumentos, que foram ouvidos com
atenção pelos presentes, deram lugar ao pedido
que elaborasse este modesto e sucinto trabalho, o
que faço com grande satisfação. Os estudiosos da
política e estratégia tomam conhecimento da chamada Teoria do Poder (é um assunto largamente
estudado no curso de estratégia militar para a gestão de negócios, da Fundação Armando Álvares
Penteado) que, de forma muito abreviada, trata-se
do seguinte: poder é a capacidade que uma pessoa,
uma empresa, uma organização ou um país tem
de alcançar aquilo que almeja. Não confundir com
“potencial”, que é aquilo que pode vir a se transformar em “poder”, mas que não está efetivamente
disponível no momento considerado. O poder
nacional é a capacidade de uma nação conquistar
seus objetivos (denominados objetivos nacionais).
Democracia, saúde para todos, educação, autossuficiência energética, erradicação da pobreza, ser
hexacampeão mundial de futebol, dentre tantas
42 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
outras coisas, são objetivos perfeitamente enquadrados nas aspirações da nação brasileira.
Quando os objetivos de um país colidem com
os de outro surgem as divergências, os antagonismos, os conflitos e até mesmo as guerras.
Quando uma nação deixa de exercer o seu poder, o espaço é ocupado por outra. Fronteiras despovoadas são um atrativo para a expansão dos vizinhos. Exemplo eloquente disso é a enorme perda
de território que o México experimentou em face
do vizinho mais poderoso, os Estados Unidos. Os
portugueses ultrapassaram o limite do Tratado das
Tordesilhas, dando ao Brasil o seu atual perímetro
no Oeste, reconhecido por tratados de validade
incontestável. Para efeito de estudo, divide-se o poder em cinco componentes, a saber:
Poder político Instituições, estrutura de governo, capacidade de influir nos organismos internacionais, alianças etc.
Poder econômico Recursos de toda natureza, produção de bens, capacidade de exportação, indústrias e agricultura, reservas, atitude
comercial, circulação de riquezas, emprego para
a população etc.
Poder científico-tecnológico Capacidade
de desenvolver atividades científicas, aproveitar
os recursos que dispõe para agregar valor, transformá-los em coisas avançadas, indispensáveis
ao progresso, saúde e bem-estar da população;
independência de fontes externas para prover
necessidades de toda ordem.
Poder psicossocial O efetivo, cultura, educação, saúde, tradições, temperamento, religiosidade
e aspirações de um povo. A capacidade de congregação em torno de um objetivo, solidariedade,
convergência de vontades, espírito de sacrifício,
tudo voltado para objetivos comuns.
Poder militar Possibilidade de, se necessário,
empregar a força para alcançar os objetivos nacionais, ou de protegê-los de antagonismos e ameaças
externas ou internas.
A despeito da apreciação didática acima, o poder é um só, é indivisível, e os componentes deverão ser harmônicos e equilibrados. Não deve haver
preponderância de um sobre as outros, sob pena
de haver elos fracos.
Um exemplo eloquente é a antiga União
Soviética, gigante nos campos militar, científicotecnológico, de política internacional, mas fraca
no campo psicossocial, fruto de um regime unipartidário e coercitivo, constituída de diversas nacionalidades, bem como no campo econômico,
uma vez que os recursos disponíveis não eram suficientes para enfrentar os desafios da Guerra Fria
e, ao mesmo tempo, concorrer para o bem-estar da
população. Um gigante de pés de barro que desabou quando os povos que o constituiu, finalmente,
rejeitaram a hegemonia do partido comunista.
Os desequilíbrios existentes entre os componentes do poder de uma nação são fragilidades por
onde penetram as ações do poder antagônico.
Ser rico e fraco é expor-se à cobiça dos ambiciosos. O Brasil é um país pacífico por excelência,
satisfeito com o território e recursos, e amparado
por tratados incontestáveis. As guerras de que participou foram fruto de agressões recebidas e suas
forças armadas desempenham importante papel
na manutenção da paz e no apoio ao desenvolvimento não só daqui mas também de outros povos.
O País é também uma nação que está em processo
de desenvolvimento, exploração de suas riquezas e
conquista de mercados.
As jazidas de petróleo em terra e no mar, a
biodiversidade amazônica, as reservas de minerais estratégicos e as águas que possui constituem
um patrimônio inestimável. Olhos cobiçosos
não faltam e sintetizo dizendo da assertiva tão em
moda que busca convencer a nós e o mundo de
que “a Amazônia é patrimônio da humanidade”.
A estratégia militar predominante no Brasil é
denominada “dissuasão”. Isso significa que não nos
passa pela cabeça agredir, invadir ou conquistar.
Mas se trata de acenar, de forma convincente, para
aqueles que pensem tentar, com uma reação que
fará com que o custo da aventura não compense o
lucro pretendido.
Poder é a capacidade que uma
pessoa, uma empresa, uma
organização ou um país tem de
alcançar aquilo que almeja
Quanto mais ricos e pacíficos, mais fortes
teremos de ser para defender as riquezas e a paz.
Por isso, faz-se necessário termos aviões, navios,
submarinos capazes de demonstrar que podemos
defender-nos de qualquer ameaça.
E que ameaças seriam essas? É perigoso elegê-las. É importante estar pronto para a pior eventualidade, pois assim exige a estatura de uma nação
a caminho da grandeza pacífica. Vis pacem, para
bellum, diziam os romanos. Isso continua verdadeiro.
Para assegurar a paz é necessário estar pronto para a
indesejável guerra. E como forças armadas não podem ser improvisadas ou obtidas no mercado, há
que se buscar permanentemente o equipamento e
o adestramento indispensáveis. f
General Sérgio
Ernesto Alves Conforto
é do Centro de Estudos
Estratégicos da Fundação Armando
Álvares Penteado (FAAP)
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 43
experiênciaglobal
Tecnologia que
Uma tela amigável, que disponibiliza todas as informações úteis
sobre cada cliente, otimizando o tempo do agente e aumentando a produtividade. Foi para isso que a
GM Financial, empresa com uma carteira de crédito de
US$ 8 bilhões nos Estados Unidos, contratou a ferramenta de script Lyrical, da Aspect. O caso foi apresentado no 1o Tivit Customer Experience.
Com operações de atendimento a clientes nos Estados do Texas, Arizona, Carolina do Norte e Ontário, no
Canadá, a GM Financial tem 1,8 mil agentes, com forte
atuação na área de cobrança. E a Lyrical, um braço direito das operações, permite o acesso a todo o fluxo de
negociação de pagamentos, incluindo os históricos, bem
como a visualização, por parte do supervisor, se algum
agente está fora do tempo do padrão de atendimento.
A idealização da ferramenta partiu de Robert Beatty,
da GM Financial. Durante almoços de trabalho, ele usava
guardanapos de papel para desenhar como deveria ser a
tela dos agentes. Trabalhou junto com a sua equipe interna
e o time da Aspect para a implementação da Lyrical, que é
capaz de rodar com a tecnologia de legado.
44 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
Assim, a Lyrical foi lançada por meio de uma
campanha elaborada especialmente para os agentes,
acompanhada de treinamentos para adoção da nova
ferramenta. As duas telas ficaram disponíveis. Com
o uso, o tempo de atendimento caiu em 25%. Hoje,
em apenas três segundos é possível para o agente ver
o status do cliente.
Exemplo varejista
Outro caso interessante narrado durante o evento
é o da ACE Cash Express, uma das maiores varejistas
de serviços financeiros dos Estados Unidos. A empresa conta com uma rede de 1,8 mil lojas distribuídas
em 42 Estados e oferece empréstimos, cartões de
débitos e seguros, entre outros serviços, para pessoas
que não têm conta bancária, de acordo com a legislação do Estado onde está presente. A média do valor de
empréstimos concedidos é de US$ 1,2 mil. Seu principal concorrente é o Walmart.
Atualmente as operações de atendimento ao cliente da ACE Cash Express contam com 120 operadores
faz a diferença
Empresas
americanas
relatam sua
experiência em
evento em Dallas,
no Texas (EUA)
ativos e 250 receptivos. Um dos principais desafios é
a documentação de cadastro dos clientes, exatamente um dos motivos pelos quais esse público tem dificuldades para ser aceito por bancos. Para melhorar
o mailing, a empresa tem duas estratégias: contrata
De acordo com David Garcia, responsável pela área
de cobrança da ACE Cash Express, há um ano e meio a
empresa também começou a focar na melhoria da gestão de campanhas, por meio da tecnologia utilizada em
sua central de atendimento, incluindo o best time to call.
A empresa conta com uma rede de 1,8 mil lojas
distribuídas em 42 estados e oferece empréstimos,
cartões de débitos e seguros, entre outros serviços,
para pessoas que não têm conta bancária
uma empresa terceirizada e realiza ligações por meio
de discador preditivo, que dispara automaticamente
ligações por meio de um banco de dados.
A empresa também oferece um sistema de correio de voz para os clientes que quiserem realizar
pagamentos, por meio da URA . Por meio desse
sistema, a ACE Cash Express consegue rastrear o
número de onde o cliente ligou, para retornar posteriormente, se necessário.
Como resultado, houve um incremento de 5 a 6% por
agente, ou US$ 2,4 mil por representante, por mês.
O tempo de ligação é maior e o tempo de chamadas indisponível é menor. Além disso, a promessa de
pagamento aumentou 10%, já que os agentes conseguiram encontrar as pessoas no horário mais propício
para negociar os pagamentos. Embora não exista uma
avaliação de riscos, o nível de inadimplência da empresa é de apenas 8%. f
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 45
cartões
Por Juliana Jadon
Players
internacionais
anunciam entrada
no mercado de
credenciamento brasileiro.
A indústria de cartões no
País é a que mais cresce
no mundo
O Brasil possui o único mercado de cartões que cresce cerca
de 20% ao ano e no credenciamento dos plásticos
prevalecem somente dois grandes competidores:
Cielo e Redecard. Mas esse cenário promete mudanças e ainda reflete as consequências do fim da exclusividade e da abertura do mercado multibandeira em
2010. O Santander, em parceria com a GetNet, já se
posiciona para competir com consistência. Outras
empresas globais, como Elavon, Global Payments e
46 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
First Data, anunciam operações no Brasil e, em breve,
serão os novos concorrentes dessa indústria.
Os números são abundantes. As credenciadoras
e emissoras ganham cerca de US$ 20 por cartão, de
acordo com a consultoria Lafferty. No ano passado,
o número de cartões em circulação chegou a 628 milhões no Brasil, incluindo crédito, débito e de redes e
lojas, o que representa uma elevação de 11% em relação a 2009. As transações subiram 16%, totalizando
Fotos: iStockphoto/Douglas Luccena
Solo
atrativo
mais de 772 milhões. Já o faturamento gerado pelo setor disparou 21%, somando R$ 538 bilhões. Os dados
são da Associação Brasileira das Empresas de Cartões
de Crédito (Abecs).
Neste ano, a expectativa da associação que representa o setor é ainda maior. Os cartões deverão movimentar cerca de R$ 642 bilhões, em oito bilhões de
transações. “É natural que empresas internacionais
queiram atuar no cenário brasileiro de credenciamento. Essa manifestação mostra a capacidade que
o Brasil tem de crescer cada vez mais no mercado
de cartões”, aponta Paulo Rogério Caffarelli, vicepresidente da Abecs.
Numa joint venture com a Credicard, do grupo
Citibank, a Elavon pretende abocanhar 15% do mercado em cinco anos. A empresa entrará em operação
no segundo semestre deste ano. “As margens de crescimento desse setor no Brasil são maiores e isso é o
que tem atraído competidores internacionais.
Não adiantará só ter bom preço, no fim
do dia será preciso ter estabilidade
de serviços, ser confiável e possuir produtos de qualidade”, ressalta o presidente da Credicard,
Leonel Andrade.
Diferenciação
Numa pesquisa efetuada
por uma empresa contratada, a
Credicard Citi verificou que diversos players globais tinham interesse
de entrar no mercado adquirente
brasileiro. A negociação com a Elavon
começou no início de 2010, mas, um
ano antes, quando a Credicard vendeu a
participação de 17% na Redecard e com a
discussão da abertura de mercado, os gestores da empresa já sondavam uma maneira de
participar do crescimento.
Neste ano, os cartões no Brasil
deverão movimentar cerca de
R$ 642 bilhões, em um total de
8 bilhões de transações
Leonel Andrade,
da Credicard,
“Com a Elavon, a
meta é alcançar 15%
do mercado em cinco
anos e 4% ainda nos
primeiros 12 meses
de atuação”
cartões
Paulo Rogério
Caffarelli, da
Abecs,
“2010 foi
um marco
divisor para a
indústria de
credenciamento,
com o fim da
exclusividade.
Desde então,
abriu-se um
leque de
oportunidades”
O presidente da Credicard explica que a regra das
bandeiras estipula que empresas globais só podem
operar no mercado brasileiro de credenciamento tendo um banco que por aqui atua como parceiro. Em
abril de 2010, Andrade e outro executivo do Citi visitaram mundo afora diversas companhias que atuam
nesse setor, incluindo a Elavon.
A escolha da parceira se deu devido ao forte interesse em operar no Brasil, verificado durante as
conversas, e na especialização em segmentos, como
grandes redes de hotéis e varejo. E é essa oferta diferenciada que a empresa pretende trazer ao
País. Por outro lado, afirma o executivo, o
Citi já tinha alianças bem sucedidas com
a Elavon, principalmente na Europa.
No início de dezembro do ano passado,
a parceria foi selada.
Os primeiros dias dessa união foram
usados para trocar informações, principalmente sobre a área de tecnologia que, por
aqui, será usada para fazer o negócio
vingar. A plataforma global
da Elavon será utilizada
pela empresa e passa por
uma adaptação ao ambiente brasileiro, chamada internamente de
“tropicalização”.
A ideia é, até o final de março, ter uma
equipe de 20 pessoas
na Elavon Brasil. Sendo o Credicard Citi
acionista, Andrade
fará parte do conselho de administração
da empresa. No segundo trimestre do
ano serão definidos
IRO feverei o/mar o 2
Credenciadoras e
emissoras ganham
cerca de US$ 20
por cartão, de
acordo com a
consultoria Lafferty
todos os fornecedores locais, a maquininha, a manutenção, e outros pontos relevantes. “Estaremos, de
fato, em operação no terceiro trimestre do ano”, conta
o presidente da Credicard.
A tendência é que o mercado de credenciamento
perca a concentração e a falta de segmentação. Andrade cita a Europa onde, por exemplo, as empresas
buscam players especializados e os diferenciais são
os serviços prestados. “A Cielo e a Redecard atendem
desde a banca de jornal até o Grupo Pão de Açúcar, o
maior varejista do País. Já, nós, iremos nos especializar”, compara Andrade.
Caffarelli, da Abecs, estima que pode demorar
até dez anos para essas corporações internacionais
competirem de maneira igualitária com Redecard e
Cielo, já que, atualmente, são cerca de 1,5 milhão de
pontos de vendas no País cobertos pelas duas companhias. “2010 foi um marco divisor para a indústria de
credenciamento, com o fim da exclusividade. Desde
então, abriu-se um leque de oportunidades”, aponta.
Segundo Caffarelli, essa disputa trará atributos
para os lojistas e para os portadores de cartões. Apesar
das resistências culturais, lembra ele, quando um lojista aceita um cheque o risco é dele. Já quando recebe
um pagamento em cartão essa ameaça é transferida.
Na outra ponta, os consumidores deverão ter atendimentos mais personalizados, com taxas diferenciadas
e uma comunicação mais focada. “O maior desafio
está no primeiro ano de atuação. A vantagem é que
estamos no mercado brasileiro há 95 anos”, finaliza
Andrade, da Credicard. f
artigomercadoestratégico
Comunicação
para manter relacionamento
Todos sabemos que as marcas de maior sucesso no mercado são as que conseguem criar laços
com seus consumidores. A experiência do consumidor com uma marca é um processo dinâmico,
que não termina, e precisa ser construído e reconstruído dia a dia. Por isso, temos de ter
Por Angelo Garcia
em mente que, mesmo na era das redes
sociais, na qual a interatividade se torna
cada vez mais necessária, as ferramentas tradicionais ainda são imprescindíveis. Especificamente
nas instituições financeiras, onde a relação com o
cliente necessita de confiança e solidez, todos os
materiais criados precisam estar alinhados com os
conceitos e a imagem que se quer transmitir.
Antigamente, era comum o correntista ir à
agência bancária e ser recebido pessoalmente pelo
gerente, seja para esclarecer dúvidas, resolução de
problemas ou aquisição de novos serviços. O tratamento pessoal contribuía para a formação da
imagem e a relação de confiança.
Para muitos, a agência é, e continuará sendo, o
principal ponto de referência e de contato com a
instituição. No entanto, a internet chegou para solucionar os problemas de tempo escasso e a crescente necessidade de agilidade. Lembro-me bem
da época da inflação galopante, quando a internet
era apenas uma novidade, de ir pelo menos umas
duas ou três vezes por semana à minha agência
bancária. Hoje só visito minha agência em casos
extremos, pois carrego meu banco no bolso. O
cartão múltiplo é o meu maior ponto de contato
com ele. Com ele, pago compras, contas e saco o
dinheiro nos caixas eletrônicos. Nesse contexto,
as necessidades de comunicação assumem uma
nova necessidade. É preciso saber levar informações onde o cliente está.
O envio de um cartão de crédito, por exemplo, é um bom momento para mostrar ao cliente
como ele é importante para o banco e para reforçar sua imagem. Para clientes bancários, principalmente nos segmentos premium, encaminhar kits
personalizados com informações relevantes de
acordo com os hábitos financeiros é uma forma
de aumentar a sua fidelização.
O próprio design dos cartões e talões de
cheques pode ser utilizado para reforçar mensagens e ampliar a identificação do cliente com a
instituição. Conceitos como sofisticação, solidez,
modernidade, inovação e segurança podem ser
trabalhados cuidadosamente no desenvolvimento destes layouts.
As informações precisam ser dispostas de maneira clara, pois, além de demonstrar respeito com
o cliente, representa uma redução no número de
ligações aos serviços de atendimento por telefone
e, consequentemente, nos custos operacionais do
banco. A simples mudança do papel para um material reciclado pode transmitir uma imagem de
sustentabilidade e preocupação com o meio ambiente, conceitos que ganham importância.
Na era da informação, é preciso criar oportunidades e aproveitar todos os canais possíveis para
transmitir os valores e consolidar uma imagem.
No mundo financeiro, a credibilidade e a confiabilidade são os maiores bens. Esses conceitos em
todos os pontos de contato, seja na agência física,
via internet, cartões, cheques, comunicados etc.
Todo cliente espera algo a mais quando escolhe
uma marca. Cuidar do design e da comunicação é
um caminho para se atingir esse objetivo. f
Angelo Garcia
é diretor da Cauduro Associados
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 49
Basileia III
Escudo
financeiro
Basileia III: uma regulamentação que visa
à proteção financeira dos bancos contra crises
e oscilações econômicas internacionais
Por Juliana Jadon
De um lado os bancos deverão alocar mais capital. Do outro estarão mais fortes e protegidos contra períodos
turbulentos. O Banco Central do Brasil vai alterar o
modelo atual de Basileia, colocando uma parcela de estresse para as instituições devido ao terceiro modelo da
norma. O desafio está lançado para as instituições nacionais, que devem se preparar para cumprirem o prazo
e as exigências da regulamentação em 2013.
A decisão do Comitê de Basileia, composto por
chefes de bancos centrais e de órgãos reguladores do
mundo inteiro, muda o cenário no qual as empresas
estão inseridas. Toda a exposição referente à moeda
estrangeira, por exemplo, afetará diretamente o índice.
50 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
“Será como passar pela volatilidade do mercado de
hoje e ainda olhar a crise de 2008”, compara Clayton
Neves Xavier, gerente de departamento do Bradesco,
durante o encontro “Basileia III – Impactos no sistema financeiro”, realizado pela Acrefi.
De acordo com a Basileia III, os bancos devem
ter um mínimo do chamado capital de Tier 1 (lucros e ações retidas) de 4,5%, perante os 2% exigidos
atualmente. O valor total de Tier 1 foi determinado
em 6%, ante os 4% atuais. Os bancos também terão
de criar uma proteção adicional de 2,5% e ainda será
exigido outro “colchão de proteção anticíclico”, entre zero e 2,5%, quando há crédito em excesso.
Clayton
Xavier, do
Bradesco,
“Será como
passar pela
volatilidade do
mercado de
hoje e ainda
olhar a crise
de 2008”
Para Xavier, do Bradesco, a Basileia III é uma evolução, uma vez que a regulamentação, que passou a
ser adotada no Brasil em 1994 com a gestão do risco
de crédito, em 2009 se intensificou com o risco de
mercado. “No primeiro momento, a regulamentação
detinha estritamente a visão contábil do negócio.
Hoje, possui métricas e dita modelos de boa conduta e governança denatro dos bancos e financeiras. Os
pilares de Basileia II, capital, supervisão e transparência de mercado, nos são importantes”, avalia.
Já Lúcio Alves Anacleto, sócio do departamento
de performance & technology da KPMG, lembrou
que o acordo foi estabelecido em 1974 pelos presidentes dos bancos centrais dos países do Grupo dos
Dez (G-10). A primeira reunião do Comitê da Basileia ocorreu em 1975 e, a partir de 1981, com os
resultados das reuniões, começaram a ser estabelecidas diretrizes para o desenvolvimento dos trabalhos
do comitê, com o princípio de que todo estabelecimento bancário no exterior deveria ser supervisionado de forma adequada.
Anacleto aponta que enquanto a regulamentação anterior (Basileia II) tinha o foco de tornar a mediação de capital regulatório mais sensível ao risco,
agora os pontos centrais visam à estrutura de capital,
ao índice de alavancagem e ao risco de liquidez das
instituições. Na prática, as instituições financeiras se
tornam mais fortes com suas reservas de recursos
mais volumosas para enfrentar períodos de turbu-
lências e oscilações econômicas. Por outro lado, ele
alerta que quanto mais qualificada a estrutura de capital, mais cara a operação de um banco e isso pode
onerar estruturas de pequeno e médio porte.
Mais avançado
O Brasil está adiantado em relação aos outros
membros do Comitê Basileia em termos de alocação de capital e é um dos que mais respeitam a norma. Enquanto que o sugerido e adotado pelos países
Lúcio
Anacleto, da
KPMG
“O Brasil,
como país
membro, tem
a intenção
de adotar
o modelo
integral com
as melhores
práticas”
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 51
Basileia III
Alberto Borges
Matias, da
FEA/USP
“É preciso
fomentar
o negócio
bancário e não
reduzir o risco
bancário”
europeus é que se guarde 8% do capital, por uma
conduta mais conservadora no Brasil o porcentual
exigido é de 11% do total e, mesmo assim, encontrase no mercado nacional reservas de, em média, 18%
do total.
O montante alocado por aqui é maior que nos
EUA, em que a média é de 10,5% e na Argentina,
com uma média 8,5%. Somente na Europa a norma
que visa a mais aportes exigirá captações de cerca de
€ 2,3 trilhões até 2017. O valor equivale ao PIB da
França. “O Brasil, como País membro, tem a intenção de adotar o modelo integral com as melhores
práticas”, diz Anacleto, referindo-se ao novo modelo.
Clayton Xavier, do Bradesco, credita a situação
econômica favorável do País a essa postura. “O impacto não tão forte da crise financeira de 2008 no
Brasil pode ser atribuído, em parte, à boa adoção da
Basileia”, considera.
De acordo com dados do Banco Central, em junho
de 2010 os bancos tinham R$ 3,9 trilhões em ativos e
uma carteira de crédito de R$ 1,33 trilhão. Havia também um patrimônio de referência de R$ 385 bilhões,
enquanto que o exigido era R$ 244 bilhões. No mes52 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
mo período, o Índice de Basileia estava em 17,3%. “É
preciso ter, de fato, um controle dos seus ativos. Se hoje
tal ativo vale R$ 100 milhões, por exemplo, será que
amanhã, em outras condições de mercado, ele valerá
menos?”, questiona Xavier.
Ainda de acordo com Xavier, a Basiléia III determina toda a estrutura de risco de liquidação que a
instituição financeira deve ter para torná-la insolvente. Para ele, a nova regulamentação não se sobrepõe a
anterior, mas a complementa. “Ao mesmo tempo em
que se aloca mais capital, há uma redução nos recursos que a empresa possui para ofertar ao mercado.
Isso fará com que as instituições busquem outras
alternativas de funding”, observa o executivo.
Alberto Borges Matias, professor titular do Departamento de Administração da FEA/USP finalizou o encontro ressaltando que, de acordo com
pesquisas, os indicadores de alavancagem não explicam o fenômeno de insolvência bancária. “O custo
estrutural é o principal motivo. Os modelos de insolvência indicam que esse tipo de gasto é o problema.
É preciso fomentar o negócio bancário e não reduzir
o risco bancário”, conclui com o alerta. f
artigoquestãojurídica
Desafios da nova lei
de falências brasileira
A nova lei de falências e recuperação de
empresas (NLFR), em vigor no Brasil desde
meados de 2005, celebra seu quinto aniversário de aplicação, após ter passado
Por Salvatore Milanese
por muitos testes durante esse período, incluindo uma crise econômica internacional aguda (2008–2009) que
afetou diferentes setores da economia brasileira.
(veja no gráfico a quantidade de Recuperações
Judiciais – RJs – solicitadas e concedidas).
Essa reforma (promovida pela lei descrita
anteriormente) era necessária para empresas
que enfrentavam dificuldades financeiras no
Brasil e que precisavam alinhar os seus procedimentos para lidar com crises e restruturação
de empresa com as práticas adotadas em um
contexto internacional. Isso fica ainda mais
evidente quando consideramos que o Brasil é a
oitava economia mundial, com estoque de in-
Recuperação Judicial
400
350
300
250
200
250
150
100
2º
1º
Sem. 05 Sem. 06
Pedidos
2º
1º
Sem. 06 Sem. 07
2º
1º
Sem. 07 Sem. 08
Concedidas
54 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
2º
1º
2º
Sem. 08 Sem. 09 Sem. 09
Aprovadas
vestimentos estrangeiros passando dos US$
22 bilhões em 2009.
Os novos pressupostos relacionados à
NLFR foram estabelecidos em linha com mudanças semelhantes nas leis comerciais que
regem esse tipo de legislação em países como
Alemanha, França, Espanha, Itália e Portugal.
A nova lei de falências introduziu três procedimentos: 1) a Recuperação Extrajudicial
(REJ), ; 2) a Recuperação Judicial (RJ), e 3) a
Liquidação Falimentar.
A lei não se aplica à empresa pública e
sociedade de economia mista, instituições financeiras, cooperativas de crédito, administradoras de consórcios, entidades de previdência
privada complementar, operadoras de planos
de saúde, seguradoras, empresas de capitalização e outras entidades legais equivalentes. Para
esse tipo de pessoa jurídica existem agências regulatórias que dispõe sobre liquidação quando
fica identificado que ela não tem a capacidade
econômica de honrar suas dívidas. Conheça
as três formas:
Recuperação Extrajudicial No caso da
REJ, a empresa pode aprovar o seu plano de restruturação ou restruturar uma parte específica do seu
endividamento, por meio da obtenção da aprovação de três quintos de uma a mais categorias ou
categorias de credores previamente selecionada(s).
Também pode ocorrer de os credores discordarem na mesma categoria. Credores trabalhistas e
fiscais, titulares de adiantamentos de contratos de
câmbio e empréstimos concedidos por alienação
fiduciária de ativos não estão sujeitos à REJ.
Na REJ, após o devedor chegar a um acordo
com os credores e seu plano de restruturação ter
sido aprovado, será então ratificado pelo juiz. Esse
procedimento é comparável a uma restruturação
não judicial e a intervenção do tribunal só é solicitada para aprovar o acordo de execução que expressa
a vontade das partes. Esse procedimento é bem menos dispendioso que o processo de RJ, poderia ser
bem rápido quando um consenso é selado com os
credores, mas deixa a empresa exposta a ações legais
porque um período de proteção (os 180 dias) não
é concedido. Nessas circunstâncias, a decisão de se
usar a REJ ou a RJR depende do nível da crise financeira e impasse enfrentado junto aos credores, entre
outros aspectos.
Recuperação Judicial O principal procedimento introduzido pela NLFR brasileira é, indubitavelmente, a Recuperação Judicial (RJ). Um
ponto significativo do processo é o fato de o devedor
continua a gerenciar a empresa, com exceção dos
casos nos quais existem graves motivos pelos quais
os credores possam convocar uma assembléia para
a remoção dos administradores de suas funções e
solicitar a indicação de novos administradores indicados por tribunal.
Uma vez que a empresa esteja sob RJ, é concedida para ela um período de proteção de 180 dias,
durante o qual as ações legais e execuções dos credores são suspensas, exceto no caso de ações legais de
credores classificados nas categorias de autoridades
fiscais, titulares de adiantamentos sobre contratos
de câmbio e empréstimos concedidos baseados em
alienação fiduciária de ativos.
Garantia real (ou garantia real prestada como
garantia) é a transmissão de propriedade de um ativo do devedor para o credor como garantia
de quitação de uma obrigação
contratada com um credor. O
devedor permanece
no controle direto do ativo, como fiel depositário, mas
a propriedade da garantia real não é transferida realmente para a empresa até que a dívida seja totalmente
paga. Nesse último caso, quando o ativo utilizado como
garantia real não tem um impacto direto sobre a continuidade da empresa como um negócio em atividade, a
ação de execução judicial ocorre normalmente.
A nova lei de falências é focada na preservação
da continuidade dos negócios da empresa e na proteção do emprego e função social do negócio, consequentemente possibilitando a venda de parte do
mesmo, sem os riscos contingenciais de sucessão,
sejam eles de natureza fiscal ou trabalhista.
Outro ponto favorável da nova lei é a participação dos credores que são partes no processo, aspecto
esse não incluído na lei de falências brasileira anterior. Na realidade, a assembléia geral dos credores
decide se ela aprova, ou não, o plano de restruturação
proposto pela empresa devedora, e pode optar pela
falência da empresa. Além disso, os credores também têm o direito de formar um comitê de credores
para melhor supervisionar o processo de execução
do plano de restruturação, a venda dos ativos, seja
sob uma recuperação da empresa ou sob falência, e a
aprovação de novos financiamentos que resultem no
uso de ativos que podem ser usados como garantia
real. A criação de um comitê de crédito não tem sido
cumprida nas RJs que têm ocorrido, principalmente
devido à responsabilidade percebida pelos membros
do comitê com relação ao sucesso do plano de recuperação aprovado e outras obrigações potenciais.
Na RJ o juiz indica um administrador judicial
para monitorar e supervisionar as execuções de uma
empresa passando por um plano de recuperação. O
administrador pode ser uma pessoa física ou pessoa
jurídica. No Brasil, as empresas multidisciplinares
estão realizando esse serviço, já que aspectos significativos que são abordados podem
tratar de questões contábeis, administrativas,
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 55
artigoquestãojurídica
financeiras, trabalhistas, fiscais ou societárias, e outros direitos mais específicos, dependendo da linha
de negócio da empresa devedora.
Os credores que são sujeitos ao processo de RJ
participam na assembeia que irá aprovar, ou não, o
plano proposto pela empresa que está passando pela
recuperação. Os credores são divididos em três categorias para efeito de contagem dos seus votos: categoria I – credores trabalhistas; categoria II – credores
com garantia; e categoria III – credores quirografários. Credores fiscais, titulares de adiantamentos
sobre contratos de câmbio e credores portando
empréstimos concedidos baseados em garantia real
não são sujeitos à RJ, e eles não votam na sessão de
votação para a aprovação do plano de recuperação.
O Brasil é a 8a economia
mundial, com estoque de
investimentos estrangeiros
passando dos US$ 22 bilhões
Todavia, não existe nenhum impedimento para que
concordem com os planos de recuperação apresentados aos outros credores.
Os planos de recuperação aprovados a partir do
momento em que a lei entrou em vigor apresentou
um amplo espectro de soluções financeiras e econômicas, as quais incluem:
w Desconto na dívida.
w Restruturação do parcelamento de pagamento.
w Restruturação dos termos da dívida, tais como período de carência, taxas de juro, avenças (covenants)
financeiras e não financeiras.
w Mudança de soluções de controle, incluindo o
swap de dívida por patrimônio, novo aporte de capital, venda de patrimônio.
w Alienação ou aluguel de parte dos ativos da empresa.
56 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
Isso representa uma importante inovação na
NFLR em comparação com a lei anterior. Na verdade, embora esses sejam meios óbvios e convencionais
de restruturação, a lei anterior era muito rígida no que
se refere aos seus meios de restruturação disponíveis
para as partes atingirem resultados efetivos. Outra
importante inovação introduzida pela nova lei de falências dentro do contexto da RJ é o conceito de financiamento DIP (Debtor In Possession). As empresas que se candidatam ao processo de RJ enfrentam
com muita frequência uma crise de liquidez severa, e a
atenção gerada no público, em relação aos problemas
da empresa que uma entrada de processo chama, geralmente cria barreiras de crédito adicionais para a ela,
consequentemente piorando ainda mais sua crise de
liquidez. Em tal cenário é vital que a empresa tenha
acesso a capital, para que implemente o seu plano de
recuperação. A nova lei de falências contempla proteção específica e vantagens tanto para empresas que
concedem empréstimos como para fornecedores que
concedem financiamento, após o pedido de recuperação, isto é, a lei dispõe que créditos após o pedido de
recuperação sejam considerados demandas de altíssima prioridade, caso a RJ seja convertida mais tarde em
uma liquidação falimentar. Além disso, a lei também
dispõe alguma promoção na prioridade de créditos
quirografários anteriores ao pedido de recuperação
para credores que continuem a fornecer mercadorias
e serviços durante a RJ, e no evento de uma liquidação
falimentar.
O plano de recuperação, após ter sido aprovado
pela assembléia geral de credores, torna-se um acordo privado assinado entre as partes. Desde que não
haja nenhum ato falso ou propósito ilícito, o juiz
atua de modo a ratificar o acordo entre o devedor
e credores, sujeitando todas as partes à vigência do
plano. Uma vez aprovado o plano, a empresa permanece por 24 meses sob a RJ e é sujeita à supervisão
do administrador durante esse período.
Caso o plano não seja aprovado pelos credores,
ou, após ter sido aprovado, não seja cumprido pelo
devedor, uma RJ pode ser transformada em uma liquidação falimentar.
Liquidação Falimentar A Liquidação Falimentar é um procedimento judicialmente supervisionado no Brasil, já que o tribunal e o administrador são
responsáveis por todo o processo. A Liquidação Falimentar, conforme a nova lei, não é concebida exclusivamente como uma liquidação dos ativos da massa
falida, já que normalmente ocorreu no passado, mas é
um processo pelo qual o administrador pode utilizar
diferentes formas de realização de ativos com o objetivo de maximizar os interesses dos credores. Nesse
cenário, são aceitas soluções como manter o negócio
em “acompanhamento normal”, bem como soluções
envolvendo a alienação do negócio como um todo, a
alienação das unidades de produção separadamente, a
alienação conjunta dos ativos que integram cada um
dos estabelecimentos do devedor e o aluguel das unidades fabris, entre outras.
A venda de ativos dentro dos limites da Liquidação Falimentar deve seguir certos procedimentos,
tais como leilões (e outros) para conferir transparência ao processo e maximizar os resultados. A inovação mais importante consiste do procedimento de
venda dentro da Liquidação Falimentar, que dá ao
comprador total proteção contra possíveis obrigações de contingências passadas que possam afetar os
ativos adquiridos.
Outra inovação importante da nova lei é a regra
de prioridade para a distribuição do produto das
atividades da massa falida sob liquidação. Diferentemente da lei anterior, a nova lei
limita o valor a ser pago à dívida trabalhista, e posiciona os
credores com garantia em um
nível de prioridade superior
ao do nível de prio-
ridade das autoridades fiscais. Após a Liquidação Falimentar ter sido declarada, ou a recuperação judicial ter
sido transformada em Liquidação Falimentar, a classificação dos créditos é regida pela seguinte sequência:
1) Dívidas trabalhistas decorrentes de pagamento
de salários (devidas nos três meses anteriores à
adjudicação de falência, limitadas a cinco salários
mínimos por empregado).
2) Devolução em dinheiro (adiantamentos sobre
contratos de câmbio estão inclusos nesse item).
3) Credores extraconcursais.
4) Dívidas trabalhistas (até 150 salários mínimos)
e créditos originários de acidentes de trabalho.
5) Créditos incluindo garantias até o limite do valor
do bem.
6) Créditos fiscais, com exceção de multas
tributárias.
7) Créditos incluindo privilégios especiais.
8) Créditos incluindo privilégios gerais.
9) Créditos quirografários.
10) Multas contratuais e tributárias e condenações
pecuniárias administrativas.
11) Créditos subordinados.
Os pagamentos são feitos na forma de cascata,
obedecendo a lista de prioridade acima. Após a primeira categoria ter sido paga integralmente, a seguinte
recebe seu pagamento. Caso os fundos sejam insuficientes para o pagamento integral da categoria corrente, então são distribuídos pró-rata nessa categoria.
Estudos de casos
Como explicado anteriormente neste documento,
as negociações entre devedor e credores, possibilitadas
pela nova lei de falências e recuperação, permitiram a
utilização de diversos meios de recuperação, cada qual
aplicável em diferentes situações de restruturação.
A seguir descrevemos três casos
que exemplificam diferentes maneiras para
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 57
artigoquestãojurídica
a restruturação de uma dívida e/ou para a restruturação de um negócio, preservando, tanto quanto possível, o valor para os credores.
O primeiro caso se refere a uma recuperação judicial de uma das maiores empresas atacadistas e varejistas em sua região, que possuía 110 lojas, com receitas anuais de R$ 420 milhões (US$ 239 milhões).
Essa empresa passou por um período de expansão, financiada basicamente a partir de recursos de
curto prazo que levaram a um endividamento custoso e excessivo. Com a chegada da crise mundial
em 2009 a empresa passou a enfrentar dificuldades
na renovação das linhas de crédito, e entrou numa
crise de liquidez e incapacidade de financiar adequadamente o seu capital de giro. Tendo acumulado dí-
O primeiro caso se refere a
uma Recuperação Judicial de
uma das maiores empresas
varejistas, que possuía 110 lojas
vidas de mais de R$ 110 milhões (US$ 62 milhões)
junto a fornecedores diretos da operação e bancos,
e cerca de R$ 150 milhões (US$ 85 milhões) em
obrigações fiscais, a empresa entrou com um pedido
de recuperação judicial para se proteger a apreensão
de seus estoques e de seu faturamento, resultante do
não pagamento de suas dívidas, especialmente com
certos bancos.
O modo encontrado para a restruturação dessa
empresa, aprovado pela maioria dos credores em
uma assembléia, foi a divisão de suas atividades em
atacado e varejo, seguido de cisão e alienação da unidade de negócios de varejo, composta por 110 lojas,
estoques e quadro de funcionários profissional.
Outro grupo varejista, com interesse em expandir sua área de atuação, comprou a unidade de
negócio. Em troca assumiu o pagamento da dívida
58 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
junto a credores da recuperação judicial, usufruindo
de um desconto significativo e período de carência.
Um aspecto-chave para o sucesso desse processo foi
a aplicação do Artigo 60 da nova lei de falências e recuperação de empresas, permitindo a venda de uma
unidade de varejo sem o comprador ser onerado pelas
contingências do negócio principal. Como a lei proíbe explicitamente a sucessão de dívidas trabalhistas ou
fiscais, que nesse caso eram significativas, o processo
acabou acontecendo muito mais rapidamente e a valores muito mais atrativos, já que a empresa, ao tratar da
venda dos ativos, foi desobrigada da realização de uma
parte significativa da due diligence que seria exigida
para verificar possíveis contingências.
Essa negociação de vendas dos ativos de varejo
em um contexto de aprovação do plano de recuperação judicial foi a solução que permitiu a recuperação parcial das dívidas dos credores, os quais num
cenário de falência teriam tido uma recuperação
de praticamente nada, devido às obrigações fiscais,
com prioridade sobre os créditos quirografários em
liquidação. A restruturação também estabelece a
manutenção das atividades de atacado da empresa
anterior, que é capaz de arcar com seu débito fiscal.
O segundo caso se refere a uma empresa do agronegócio brasileiro atuando no Nordeste do País, que
exporta frutas tropicais, com receita anual de R$ 110
milhões (US$ 62 milhões).
Após anos de prejuízos operacionais decorrentes
de preços desfavoráveis e problemas de produção internos, a empresa acumulou dívidas de R$ 60 milhões
(US$ 34 milhões). Devido a esse alto endividamento, foi impossível para a empresa obter financiamento para a nova colheita que estava prestes
a ser iniciada e (assim) suas operações foram interrompidas. Dessa maneira, buscou proteção sob
a nova lei de falências e recuperação de empresas,
enquanto negociava alternativas para restruturar as
suas obrigações.
Devido a seu histórico de prejuízos operacionais, juntamente com a dificuldade na obtenção de
financiamentos para retomar suas operações, a empresa avaliou suas alternativas, incluindo a liquidação
judicial. Em um contexto de falência, a maioria dos
credores não receberia nada, pelo fato de poucos
bancos operarem com financiamentos de exportações (adiantamentos sobre contratos de câmbio),
os quais teriam recebimento prioritário no caso de
falência. Para evitar a falência e minimizar o impacto
social que isso traria, a empresa optou por apresentar
um plano alternativo.
O plano, aprovado pelos credores, como uma
alternativa aparentemente mais vantajosa que uma
falência, consistiu do arrendamento de todos os ativos da empresa, como um primeiro passo, com o repasse de todos os valores recebidos para os credores.
Posteriormente, com a recuperação do mercado, os
ativos seriam vendidos e os valores recebidos seriam
também totalmente repassados aos credores.
Esse plano permitiu a recuperação dos valores
para todas as categorias de credores e também possibilitou dar prioridade aos pequenos credores e
fornecedores nacionais que teriam sido seriamente
afetados no caso de falência, situação na qual deixariam de ser contemplados em benefício dos bancos
e grandes fornecedores que se encontrassem em situação de garantia superior.
O terceiro e último caso refere-se a um empresa do
setor de construção civil com faturamento de R$ 50 milhões (US$ 28 milhões) que, após ter enfrentado um
déficit operacional significativo, acumulou dívidas
com credores quirográficos no montante de R$ 30
milhões, divididos entre 620 fornecedores operacionais e outras
instituições financeiras.
O meio mais adequado
encontrado para a recuperação da empresa foi
a restruturação de suas dívidas por meio da Recuperação Extrajudicial. Essa resolução foi tomada por
três motivos principais, a saber: (i) 60% das dívidas
descobertas totais estavam concentradas em cinco
credores; (ii) os cinco credores estavam dispostos
a negociar, diferentemente do restante; e (iii) como
era um prestador de serviços, sua imagem estaria
melhor preservada nessa situação do que no caso da
empresa optar por recuperação judicial.
Dessa maneira, a Recuperação Extrajudicial facilitou o processo para a renegociação da dívida, já
que inicialmente a empresa negociou somente com
esses cinco credores.
A dívida foi reestruturada com sucesso e todos os outros credores não tiveram alternativa a
não ser aceitar a negociação que havia sido realizada. A dívida foi prolongada significativamente
por meio de um período de carência longo e a
prorrogação do pagamento do principal, que foi
corrigido por taxas de juros significativamente menores que as taxas de mercado.
Conclusão
A nova lei brasileira de falências e recuperação
de empresas, em vigor desde 2005, foi concebida em
linha com legislações similares de outros países, tornando disponível meios efetivos para a recuperação
de empresas, e comprova ser um importante avanço
em relação às legislações de falências anteriores.
Com foco em prover efetivos meios para a restruturação e a continuidade dos negócios (operando) sob dificuldade, a nova lei proporciona significativa flexibilidade e permite ampla negociação entre o
devedor e seus credores. f
Salvatore
Milanese
é sócio da KPMG
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 59
segurançacertificaçãodigital
Chave
virtual
Empresas utilizam
certificação digital para
ganhar agilidade, reduzir
custos e gerar segurança
nos negócios
Por Juliana Jadon
Selar uma união ficou mais fácil. A partir de R$ 100 é possível comprar o par de anéis que simboliza
o afeto, na rede de joalherias Casa das Alianças, e esse valor ainda pode ser financiado. Na rua 12
de Outubro, na Lapa (SP), está um dos maiores e mais rentáveis entre os 18 pontos de vendas da
cadeia espalhados pelo País. Somente essa loja possui 18 funcionários. Foi exatamente ela um dos
lugares escolhidos pelo braço varejista do banco Fibra – a CrediFibra – para efetuar o piloto da
DigitalCredi, sua mais nova ferramenta de certificação digital.
A CrediFibra está presente com Crédito Direto ao Consumidor (CDC) em cerca de quatro
mil clientes e em mais de dez mil pontos de venda. Márcio Ronconi, vice-presidente da instituição,
conta que o atendimento aos lojistas espalhados por todo o País sempre foi feito por meio da web,
pela capacidade de respostas rápidas. Mas, mesmo assim, era preciso de muita burocracia até um
financiamento ser efetivado.
60 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
Escalada segu
Finan67 Certificacao financeira.indd 60
25/02/11 11:09
Dependendo da região em que o comércio estava
instalado, esse processo poderia levar até cinco dias úteis
para ser concluído. Uma loja em Americana (SP), por
exemplo, precisava enviar via malote os contratos de financiamento para a filial mais próxima da CrediFibra, em
Campinas (SP), onde era feita a primeira avaliação do documento para, posteriormente, ser mandado para a sede
da empresa em São Paulo.
Outro ponto positivo é a redução do uso de papel.
Pilhas de contratos armazenados em inúmeros arquivos
estão com os dias contatos para a CrediFibra e seus parceiros. “Com a solução, os gastos com papel, envio, além
de pessoas envolvidas no processo, caem cerca de 80%”,
sinaliza Ronconi.
A realidade mudou. De novembro a janeiro deste
ano, foram 120 financiamentos efetuados via certificação
digital somente na Casa das Alianças. O ticket médio de
compras na varejista esbarra em R$ 500.
O uso da ferramenta é simples. O cliente encosta o
polegar no aparelho biométrico e aguarda a leitura para
a emissão da assinatura digital. O equipamento imediatamente converte a impressão digital do usuário em uma
chave numérica que somente aquela pessoa poderá ter,
evitando-se, assim, o risco de fraude.
E uma situação foi comum de se presenciar nos últimos meses na loja da Lapa. “Não preciso assinar nada?”,
questiona o cliente. O vendedor responde: “Não, sua assinatura digital já foi emitida”. Em alguns casos, é preciso
somente um papel: a cópia do contrato que fica com o
comprador. “Apesar de o papel ser um forte elemento
cultural na vida dos brasileiros, os clientes que aceitaram
usar a tecnologia na Casa das Alianças saíram satisfeitos”,
analisa o supervisor da rede de lojas, Alexander Santos.
Segundo a percepção de Santos, esse processo de assinatura evita fraude e gera uma confiabilidade maior ao
cliente. “O sistema deles é ágil. Em média, de dez a 15 minutos já está aprovado um financiamento e não é preciso
mais guardar ou enviar documentos em papel”, conta.
Ronconi quer atingir com o recurso uma faixa da
população ainda não atendida pela CrediFibra, já que o
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 61
segurançacertificaçãodigital
gasto para se ofertar e fechar contratos de financiamentos
é menor do que antes. A meta é ter como clientes uma
fatia da população que busca adquirir produtos de ticket
médio mais baixo. “Conseguiremos entrar num público
de menor renda”, diz o vice-presidente, explicando que
um CDC de menos de R$ 300 antes não era vantagem
para o banco devido a todo o processo envolvido.
Em janeiro deste ano, mais cem lojistas, além da
joalheria, foram beneficiados com a solução. A ideia é que
até o final de 2011, mil parceiros varejistas da CrediFibra
adotem a ferramenta integral, com todos os equipamentos necessários instalados. Agora, a Casa das Alianças está
implantando a tecnologia nas demais lojas e levando a
experiência positiva para toda a rede. Bom para o banco,
para a loja e para a namorada que acaba de ganhar sua joia.
A ideia é que, até o final
de 2011, mil parceiros
varejistas da CrediFibra
adotem a ferramenta
Sem riscos
Uma operação de câmbio que poderia levar dias para
ser concluída agora leva minutos. Pelo portal do banco Itaú,
as empresas clientes efetuam a operação de maneira segura. Basta, para isso, ter um CPF eletrônico (e-CPF) e uma
conta ativa no internet banking. Assim como no Fibra, a segurança fornecida pelo Itaú aos seus clientes empresários,
em parceria com a provedora de tecnologia Certsign, tem
um imenso público potencial. A instituição possui mais de
um milhão de CNPJs ativos como correntistas. Desses, somente cinco mil já usufruem da ferramenta segura.
A operação de câmbio on-line citada acima está disponível desde 2006 na web, mas somente no ano passado começou a funcionar com certificação digital. Mesmo assim,
o serviço é referência e já emitiu cerca de 130 mil contratos
de forma totalmente virtual. “Esse pequeno projeto, perante outros produtos e serviços que possuem uma demanda
maior de clientes, nos mostra como a certificação é eficaz”,
62 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
Agilidade
Entre 10 e
15 minutos,
o comprador
sai com o
financiamento
aprovado
da Casa
das Alianças
avalia o diretor de produtos para pessoa jurídica do banco,
Carlos Eduardo Maccariello.
Além disso, considera Maccariello, a certificação permite a fidelização dos clientes com a bandeira. Quando um
empresário faz uma negociação via telefone, precisa ainda
ir até a agência e ler o documento para, finalmente, assinar
o contrato. “Quando um correntista efetua o mesmo processo via internet, rapidamente e de maneira segura, ele não
vai querer nos deixar”, considera.
Na corporação, o principal trabalho rumo ao sucesso dessa segurança é preparar mais produtos e serviços para que estejam aptos a usar os certificados. O
banco está ampliando a plataforma para ter multiprodutos e não ser exclusiva ao câmbio, mas, sim, interligada com todo o sistema legado. Inclusive, já emite o
CPF eletrônico com a construção de uma plataforma
própria em 2010.
Para Macceriello, além desse alinhamento, outra
meta do mercado financeiro como um todo é a disseminação da certificação digital, sinalizando a necessidade e importância de utilizar os canais eletrônicos.
“Não adianta mandar um e-mail com uma propaganda mencionando a importância do uso do canal online e da certificação digital, se aquele empresário não
acessa sua caixa. Somente 55% dos nossos clientes
– pequenas e médias empresas – utilizam os serviços
do internet banking”, ressalta o executivo.
“Somente 55% dos
clientes de pequenas
e médias empresas
utilizam internet banking”
O governo, com a exigência do uso do Sistema
Público de Escrituração Digital (SPED), a Nota
Fiscal Eletrônica (NF-e) e outros projetos, pressiona
as empresas a entrarem no meio virtual. Esse é um
ponto forte a favor das instituições que, como o
Fibra e o Itaú, querem levar a segurança para uma
outra esfera.
Para os executivos do Itaú, assim a agência bancária deverá se tornar um local onde os gestores de
empresas tiram dúvidas de negócios e recebem dicas
sobre, por exemplo, qual o melhor investimento a ser
efetuado. “Somos um banco de consultoria. O cliente-empresa pode fazer qualquer transação simples
dentro do Itaú 30 horas sem a necessidade de ir até a
agência. Dessa forma, o gerente deve ser elevado para
Carlos
Eduardo
Maccariello,
do Itaú
“A certificação
digital nos
permite efetuar
operações que
antes eram
sonho”
o patamar de consultor, ajudando-o a tomar decisões
do que fazer no negócio”, diz João Carlos Borduqui,
superintendente da área de empresas do Itaú.
Para o diretor do banco, as empresas evoluíram
nos quesitos sustentabilidade e governança, e essa
revolução no ambiente de internet faz parte desse
aprimoramento. “A certificação digital nos permite
efetuar operações que antes eram sonho”, conclui
Maccariello, se referindo à segurança do sistema. f
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 63
artigoanáliseeperspectivas
A evolução recente do crédito
empresarial no Brasil
Além das tradicionais linhas de crédito para
pessoas jurídicas, outro indicador de aquecimento do mercado
Por prof. dr. Alberto Borges Matias de crédito brasileiro
com a colaboração de Matheus Figo
é a evolução do saldo
de recebíveis das empresas, visto que essa conta
pode ser interpretada como uma alternativa à
concessão de crédito para as pessoas jurídicas.
O presente artigo tem como objetivo analisar a evolução recente do crédito empresarial no
Brasil. Para isso foi utilizada uma amostra de 124
empresas de capital aberto com informações de
1999 a 2009. A variável utilizada como parâmetro para analisar a evolução do crédito empresarial foi o saldo de recebíveis das empresas.
Em mediana, o saldo de recebíveis das empresas aumentou 193% no período. Somente 17
empresas apresentaram redução de recebíveis,
apenas 14% do total de empresas. Portanto a
Saldo de recebíveis das empresas
GRÁFICO 1
R$ MIL
120.000.000,00
100.000.000,00
80.000.000,00
60.000.000,00
40.000.000,00
20.000.000,00
20
09
20
08
20
07
20
06
20
05
20
04
20
03
20
02
20
01
20
00
19
99
0,00
Fonte: Inaped & Visionarium
64 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
Taxa de crescimento
em relação ao ano anterior
Saldo de recebíveis
das empresas
Concessão de crédito
para empresas
2000
30%
27%
2001
-1%
9%
2002
31%
16%
2003
4%
12%
2004
25%
16%
2005
8%
11%
2006
19%
8%
2007
-3%
16%
2008
17%
12%
2009
4%
-6%
13%
12%
Ano
Média
grande maioria das empresas, 107 ou 86% do
total, apresentou aumento do saldo de recebíveis no período.
Esses números indicam que as empresas estão
aumentando o financiamento das suas vendas, causando assim um estímulo nas vendas a prazo.
O gráfico 2 comprova que, em parte, o crescimento dos recebíveis é decorrente de aumento
de prazo de venda. De 1999 até 2009 a mediana
do prazo médio de recebimento das empresas
foi de 68 para 84 dias.
A concessão total de crédito bancário para
pessoas jurídicas no Brasil também vem crescendo durante os últimos anos, conforme é observado no gráfico 3. De 1999 até 2009 o crescimento acumulado da concessão total de crédito
pelo sistema bancário para pessoas jurídicas foi
de 208%. Durante os dez anos analisados, somente no ano de 2009 notou-se uma queda
Prazo médio de recebimento
das empresas
GRÁFICO 2
DIAS
90
85
80
75
70
65
60
55
20
09
20
08
20
07
20
06
20
05
20
04
20
03
20
02
20
01
20
00
50
19
99
Fonte: Inaped & Visionarium
Concessão de crédito para
pessoas jurídicas
GRÁFICO 3
R$ MIL
120.000.000,00
100.000.000,00
80.000.000,00
60.000.000,00
40.000.000,00
20.000.000,00
20
09
20
08
20
07
20
06
20
05
20
04
20
03
20
02
20
01
20
00
0,00
19
99
na concessão de crédito para pessoas jurídicas.
Destaca-se que, enquanto o setor bancário reduziu o financiamento às pessoas jurídicas neste
ano elas continuaram apresentando elevação no
saldo dos recebíveis.
A tabela compara as taxas de crescimento
do saldo de recebíveis das empresas com as taxas de crescimento da concessão de crédito para
pessoas jurídicas. Na média dos dez anos de
comparação, a taxa de crescimento do saldo de
recebíveis das empresas foi ligeiramente maior
do que a taxa de crescimento da concessão de
crédito para pessoas jurídicas.
O gráfico 3 demonstra a representatividade
dos saldos de recebíveis em relação ao mercado
de crédito para pessoas jurídicas. Na média dos
dez anos de análise, o saldo de recebíveis representou 90% da concessão de crédito para pessoas jurídicas. O valor mais alto ocorreu em 2006,
em que essa representatividade chegou aos 98%.
Destaca-se também a ascensão do saldo de recebíveis em relação à concessão de crédito para
pessoas jurídicas nos últimos dois anos, período
no qual essa representatividade aumentou de
82% em 2007 para 95% em 2009.
Pelo exposto observa-se crescimento dos
recebíveis das empresas a taxas superiores as do
financiamento bancário às pessoas jurídicas, o
qual representou no mínimo 80% do saldo de recebíveis. Assim, um crescimento econômico, em
parte fomentado por financiamento empresarial,
fica condicionado à expansão das carteiras de crédito do setor bancário às pessoas jurídicas. f
Fonte: Inaped & BC
Representatividade saldo de recebíveis
concessão de crédito para PJ
GRÁFICO 4
100%
95%
90%
80%
75%
20
09
20
08
20
07
20
06
20
05
20
04
20
03
20
02
20
01
70%
20
00
Matheus Figo, analista financeiro
do Inepad
85%
19
99
Prof. dr. Alberto Borges Matias
Professor Titular do Departamento
de Administração da Faculdade
de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São
Paulo no campus de Ribeirão Preto, e
diretor do Inepad
Fonte: Inaped & BC
fevereiro/março 2011 FINANCEIRO 65
artigopalavrafinal
Regulamentação do
Cadastro Positivo
O Cadastro Positivo é uma boa ideia em busca
de um bom projeto. Muito já se falou sobre a ideia,
talvez se devesse falar mais sobre o projeto.
No último dia de 2010, o presidente da República vetou o “Projeto Tourinho” (PLS 263/04) e
editou a Medida Provisória n°. 518, que disciplina
o Cadastro Positivo. A edição de MP para tratar do
Cadastro Positivo envolve alguns problemas: um de
forma, outro de conteúdo e um
José Ricardo da Costa Aguiar Alves
terceiro de abrangência.
Quanto à forma, a regulamentação por decreto
teria implicado menor desgaste político. A edição de
uma MP poderá ensejar conflito entre o Executivo
e o Legislativo, que passarão a discutir alterações no
texto sem consenso sequer entre diferentes áreas do
governo. Nessa matéria, o histórico não é promissor.
O projeto apresentado pelo deputado Bernardo
Ariston em 2003 (PL 836/03), que também era
oriundo de uma proposta do Executivo, foi de tal maneira alterada por emendas .O mesmo pode acontecer com a MP 518. Já um decreto teria mantido a
abrangência do “Projeto Tourinho” e regulamentado
apenas a sua operacionalização. São muitos casos que
regulamentaram dispositivos do Código de Defesa
do Consumidor e assemelhados, a começar pelo
Sistema Nacional de Defesa do Consumidor.
Quanto ao segundo problema, de conteúdo, a
MP 518 contém dispositivos que dificultam a implantação do instrumento. O mais crítico é o artigo
15, cuja redação lê: “O banco de dados, a fonte e o
consulente são responsáveis pelos danos materiais e
morais que causarem ao cadastrado”.
Existe aí um equívoco, a inserção do termo “banco de dados”, já que, banco de dados é o “conjunto
de dados relativo à pessoa natural ou jurídica armazenados com a finalidade de subsidiar a concessão
de crédito, a realização de venda a prazo ou de outras
66 FINANCEIRO fevereiro/março 2011
transações comerciais e empresariais que impliquem
risco financeiro”.
Também a questão da responsabilidade merece
reparos. O texto original impõe a responsabilidade
objetiva e solidária ao banco de dados, fonte e consulente. Ocorre que tanto a fonte quanto o consulente
acessam o banco de dados já existente, não podendo
fazer qualquer alteração em seu conteúdo. As instituições financeiras não são operadoras de Cadastro
Positivo, mas, sim, potenciais usuárias .
Por fim, há um terceiro problema, de abrangência. A MP 518 vai além da simples regulamentação
do Cadastro Positivo. Seu texto sugere que a preocupação do legislador se centrou na proteção de dados
pessoais. Ora, o Ministério da Justiça, por meio de
um blog inaugurado em 30 de novembro, propôs
um debate público sobre minuta de anteprojeto de
lei que versa sobre a proteção da privacidade e dos
dados pessoais dos cidadãos. A MP sobre o Cadastro
Positivo importou essa discussão.
A confederação apoia o anteprojeto de lei proposto pelo Ministério da Justiça e já encaminhou
sugestões para aperfeiçoar o texto. Recomenda-se às
instituições financeiras que examinem o anteprojeto
e apresentem sugestões, usando o link disponível no
portal eletrônico da CNF (www.cnf.org.br). Quando
o anteprojeto sobre proteção de dados pessoais se
converter em lei, regulará uma série de outros dispositivos, entre eles os que tratam do Cadastro Positivo.
A CNF pretende continuar contribuindo para
o debate sobre o Cadastro Positivo, por meio de
sugestão de emendas, para que se alcance um projeto realista e exequível. Isto é, um bom projeto para
uma boa ideia. f
José Ricardo da Costa Aguiar Alves
é vice-presidente, da Confederação
Nacional das Instituições Financeiras (CNF)

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