o fator humano e a resistência à mudança organizacional durante a

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o fator humano e a resistência à mudança organizacional durante a
INTERFACE TECNOLÓGICA - v.4 - n.1 - 2007
O FATOR HUMANO E A RESISTÊNCIA À MUDANÇA ORGANIZACIONAL
DURANTE A FASE DE IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO:
ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA IMPLANTADORA DE TECNOLOGIA
Janaina Hunch CASTILHO*
Ronaldo Ribeiro de CAMPOS**
RESUMO
Um sistema de informação é esperado pela empresa como um elemento que venha a atuar como um
colaborador na busca de vantagens competitivas. Para que isto aconteça, é necessário que a empresa
passe pela fase de implantação do sistema. Um dos fatores apontados como preocupantes nesta fase
é o fator humano e a consideração de possíveis resistências às mudanças organizacionais que o
novo sistema pode trazer. Este trabalho apresenta um estudo de caso realizado por meio do uso de
SWGUVKQP¶TKQU RCTC C EQNGVC FG FCFQU EQO Q QDLGVKXQ FG KFGPVKſECT C RGTEGRÁºQ FQU WUW¶TKQU G QU
procedimentos da empresa com relação ao fator humano e a resistência durante a fase de implantação
do sistema de informação. A particularidade do estudo reside no fato da empresa estudada ser
uma implantadora de tecnologias em outras empresas. Os resultados apontam para a presença de
preocupação e cuidado com os usuários bem como para o uso de uma estratégia de implantação que
minimizou a resistência por parte dos usuários.
PALAVRAS-CHAVE: Resistência à mudanças. Sistema de informação. Usuários de sistema de
informação.
INTRODUÇÃO
5GIWPFQ4G\GPFGG#DTGW
CRWF5EJOKVV
RőRQFGUGEQPEGKVWCTC6GEPQNQIKCFC
+PHQTOCÁºQEQOQTGEWTUQUVGEPQNÎIKEQUGEQORWVCEKQPCKURCTCCIGTCÁºQGWUQFCKPHQTOCÁºQŒ
#KPFC UGIWPFQ Q OGUOQ CWVQT őC 6GEPQNQIKC FC +PHQTOCÁºQ GUV¶ HWPFCOGPVCFC PQU UGIWKPVGU
componentes: hardware e seus dispositivos e periféricos; software e seus recursos; sistemas de
VGNGEQOWPKECÁÐGUGIGUVºQFGFCFQUGKPHQTOCÁÐGUŒ
,¶Q5KUVGOCFG+PHQTOCÁºQRQFGUGTFGſPKFQVGEPKECOGPVGEQOQWOEQPLWPVQFGEQORQPGPVGUKPVGT
relacionados que coletam (ou recuperam), processam, armazenam e distribuem informação com a
ſPCNKFCFGFGFCTUWRQTVG´VQOCFCFGFGEKUÐGUGEQPVTQNGGOWOCQTICPK\CÁºQ#NÃOFKUUQQUKUVGOC
de informação pode, também, auxiliar gerentes e trabalhadores a analisar problemas, a visualizar
informação de uma forma mais simples e a criar novos produtos. Sob um enfoque empresarial o
UKUVGOCFGKPHQTOCÁºQRQFGUGTFGſPKFQEQOQWOCUQNWÁºQCWOFGUCſQCRTGUGPVCFQRGNQCODKGPVG
onde sua aplicação se torna necessária.
*
Discente graduada na Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga – Av. Dr. Flávio Henrique Lemos, 585 - CEP 15900-000
7DTXDULWLQJD63)RQHHPDLOMDQDLQDFDVWLOKR#LQWHUHQJFRPEU
**
(['RFHQWHGD)DFXOGDGHGH7HFQRORJLDGH7DTXDULWLQJD±$Y'U)OiYLR+HQULTXH/HPRV&(3
Taquaritinga, SP, Fone (16) 3252 -5250. Docente da FASAR - Faculdade Santa Rita, FACITA -Faculdade de Itápolis e
)$,%,±)DFXOGDGHGH)LORVR¿D&LrQLFDVH/HWUDVGH,ELWLQJDHPDLOURQDOGRGHFDPSRV#\DKRRFRPEU
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No entanto, não se deve desconsiderar que para o efetivo sucesso de todo processo envolvendo a
tecnologia da informação e o sistema de informação, é fundamental a presença do fator humano. É
ele que se utiliza dos benefícios dos sistemas e é para uso dele que o sistema deve ser desenvolvido
e implementado.
IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE INFORMAÇÃO
A implantação de um sistema de informação exige da organização uma readequação cultural e
organizacional para se adaptar a uma nova condição a ser estabelecida com o sistema.
Segundo Schmitt (2004, p. 148) a implantação de um sistema de informação pode representar
para a organização a necessidade de adaptação em termos de espaço físico, processos técnicos e
administrativos, estrutura organizacional (eliminação, fusão e criação de órgãos, alteração de níveis
JKGT¶TSWKEQUGGUVTWVWTCFGRQFGTſNQUQſCFGIGUVºQGTGNCEKQPCOGPVQGPVTGQUÎTIºQU
No caso de um sistema de informação, é fundamental que as pessoas na organização desenvolvam
uma cultura informacional coerente com as potencialidades do novo sistema, ou seja, de nada adianta
implantar um sistema com novas potencialidades se as pessoas permanecerem executando as suas
tarefas da mesma forma que faziam antes.
Langenwalter (2000) apud Schmitt (2004, p. 151), aponta como razões para o insucesso na implantação
de um sistema de informação:
x As pessoas não querem que o novo sistema tenha sucesso;
x As pessoas estão satisfeitas com o sistema existente e não acham necessária a implantação de um
novo sistema;
x As pessoas têm expectativas exageradas a respeito do novo sistema;
x As pessoas não entendem os conceitos básicos do novo sistema;
x A base de dados não é correta;
x 1UKUVGOCCRTGUGPVCFKſEWNFCFGUVÃEPKECU
Segundo o autor a reação à implementação de um sistema de informação pode se manifestar por meio
dos seguintes processos mentais e comportamentos defensivos:
x A agressão: é quando o usuário reage ao sistema usando-o de forma incorreta, colocando
informações incompletas e inadequadas ou mesmo causando danos ao sistema.
x A projeção: é quando o usuário reage ao sistema acusando-o como culpado pelos erros, problemas
ou falta de melhores resultados.
x Evitando-o: é a maneira que o usuário reage ao sistema não fazendo uso do mesmo.
x A negação: é uma forma da pessoa se proteger contra informações desfavoráveis ou mesmo
dolorosa a ela, ou seja, muitas vezes a pessoa nega para si e para os outros que a informação
sequer existe.
x O efeito haloKORNKECGOőEQNQTKTŒQSWGUCDGOQUCTGURGKVQFGCNIWOHCVQVCPVQRQUKVKXCSWCPVQ
negativamente.
A implantação de um sistema de informação gera diferentes reações nos diferentes níveis da
organização. No menor nível hierárquico, as pessoas reagem em função do medo de perder o seu
emprego ou em função das mudanças que o novo sistema irá causar no modo como ele desempenha
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as suas atividades. Sua reação é, portanto de agressão e projeção.
Nos níveis hierárquicos de supervisão e gerência, a reação é em função da sua perda de poder e/ou
liberdade de ação, uma vez que o sistema dissemina e democratiza as informações ao mesmo tempo
em que possibilita um maior controle por parte das gerências superiores. Outra preocupação que
VTC\RCTCCIGTÄPEKCKPVGTOGFK¶TKCÃCRQUUÈXGNTGFWÁºQQWOQFKſECÁºQGOCNIWPUECUQUQWPÈXGKUFG
supervisão ou gerência intermediária. Desta forma, embora a reação esperada seja de evitação, pode
acontecer também reações por agressão e projeção.
Existe uma crença nas organizações que a implantação de um sistema de informação possibilita uma
redução de mão-de-obra necessária (SCHIMITT, 2004). Este comportamento pode ser minimizado ou
evitado se a empresa garantir a permanência das pessoas ou em caso de necessidade, promover a redução
das pessoas envolvidas num processo, por meio de realocação para outras áreas ou novas atividades,
realocação no mercado de trabalho, ou mesmo, pela adoção de programas de aposentadoria.
1WVTQCURGEVQSWGIGTCWOEQORQTVCOGPVQTGCVKXQFCURGUUQCUÃSWCPFQQUKUVGOCFKſEWNVCCGZGEWÁºQ
FCUVCTGHCU'UVCFKſEWNFCFGRQFGUGFCTFGFWCUHQTOCU
x 2GNQFGUEQPJGEKOGPVQFQWUQFQUKUVGOCCTGCÁºQRQFGUGTOKVKICFCRQTOGKQFGWOGſEKGPVG
programa de treinamento.
x Pelo enriquecimento das tarefas: a reação pode ser mitigada por meio do reconhecimento das
gerências, pela adequação da remuneração e das recompensas, em relação às novas tarefas
executadas.
A reação à implantação de um novo sistema ocorre, também, pelo receio das pessoas não terem
SWCNKſECÁºQPGEGUU¶TKC´UPQXCUHWPÁÐGU'UVCTGCÁºQRQFGUGTOKPKOK\CFCQWOGUOQGNKOKPCFCUG
houver uma preparação adequada dos usuários para o novo sistema. A perda de poder e de prestígio
que as pessoas possuíam na organização pode ser mais um agente reativo, pois uma vez alterada a
forma de realizar as tarefas, passa a existir um nivelamento entre os mais novos e os mais antigos,
L¶ SWG C VCTGHC RCUUC C UGT WOC PQXKFCFG G WO FGUCſQ RCTC CODQU 1WVTQ CURGEVQ SWG EQPFW\ C
RGTFCFGRQFGTGRTGUVÈIKQÃCFGOQETCVK\CÁºQFCKPHQTOCÁºQRQKUFKſEWNVCCGZKUVÄPEKCFGHGWFQUFC
informação dentro da organização.
Fatores que reduzem a reação à implantação de um sistema, segundo Schmitt (2004 p.155):
x Orientação para o usuário: se o sistema atender as necessidades dos usuários eles não irão reagir
a este sistema.
x Participação: a participação gera comprometimento e um sentimento de co-responsabilidade.
x %QOWPKECÁºQCſPCNKFCFGFQUKUVGOCFGXGUGTEQOWPKECFCCVQFQUQUWUW¶TKQU
Os resultados alcançados com o uso da tecnologia da informação estão diretamente relacionados com
o comportamento e a postura dos usuários em relação a ela. De nada adianta possuir uma tecnologia
de ponta se o uso não for adequado. Uma empresa com desvantagem tecnológica onde as pessoas
fazem o melhor uso possível da mesma, pode obter melhores resultados, caso as pessoas não possuam
um comportamento favorável ou mesmo não têm interesse no sucesso do sistema.
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ASPECTO HUMANO NA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS
Ao tomar a decisão pela utilização de sistemas de informação as empresas esperam obter diversos
benefícios. Entre os apresentados pelas empresas fornecedoras estão principalmente a integração do
sistema, que permite o controle da empresa como um todo, a atualização tecnológica, redução de
custos e a disponibilização de informação de qualidade em tempo real para a tomada de decisões
sobre toda a cadeia produtiva (SCHMITT, 2004).
As medidas de sucesso da implantação dependem de um planejamento global da empresa e um
método formal e completo de desenvolvimento ou aquisição e implantação do sistema de informação,
incluindo comportamentos organizacionais e comportamentais dos envolvidos.
Segundo Reis (2002) o aspecto humano é mais importante que o tecnológico na escolha e na
implantação de um sistema de informação.
A empresa deve ser vista como um sistema, cujo processo administrativo mais amplo envolve
processos menores que interagem entre si. No processo de informatização é necessário estabelecer
QDLGVKXQUECTCEVGTK\CFQURQTOGNJQTKCUCORNCUTCFKECNOGPVGITCPFGUGFKHGTGPVGUSWGLWUVKſSWGOQ
investimento.
Como qualquer alternativa de desenvolvimento de sistemas de informação, sua utilização também
traz desvantagens e potenciais problemas.
#RTKPEKRCNFGUXCPVCIGOFQUKUVGOCFGKPHQTOCÁºQÃCITCPFGFKſEWNFCFGRCTCUWCKORNGOGPVCÁºQ
que muitas vezes ocorre através de demorados processos que podem levar até três anos para serem
EQORNGVCFQU
$#4$#56'(#012CTC5EJOKVV
VCNFKſEWNFCFGFGEQTTGFCPGEGUUKFCFG
de introdução de mudanças organizacionais profundas, pois as empresas, normalmente orientadas a
uma visão hierárquica e departamental, são obrigadas a adaptar-se a uma visão orientada a processos.
Além disso, muitas vezes as empresas são obrigadas a mudar seus procedimentos para adaptar-se às
funcionalidades dos sistemas. Associado a estes fatores encontra-se o ser humano e toda a preocupação
que a empresa precisa ter para que o mesmo aceite as mudanças introduzidas nos ambiente de trabalho,
visto que o ser humano pode ser o responsável pelo fracasso ou sucesso de qualquer tentativa de
mudança.
0CEQPEGRÁºQFQUKUVGOCGPCKORNCPVCÁºQFQUPQXQURTQEGFKOGPVQUQUWUW¶TKQUUºQſIWTCUOWKVQ
importantes. A gerência do projeto também toma parte na execução dessas atividades, em especial na
EQPEGRÁºQFQUKUVGOCRTQLGVQFCUTQVKPCUFGQRGTCÁºQGOCPWVGPÁºQGURGEKſECÁºQFGPGEGUUKFCFGU
aquisição de tecnologias e serviços, aceitação dos serviços, e implantação dos novos procedimentos
operacionais.
RESISTÊNCIA À MUDANÇA
Existem vários motivos que ocasionam a resistência a mudanças. Oliveira (2003) aponta os seguintes:
CPºQRGTEGRÁºQFCPGEGUUKFCFGFGOWFCPÁCUCKFCFGCGUEQNCTKFCFGCHCNVCFGEQPſCPÁCPCURGUUQCU
SWGCUGUVºQGORTGGPFGPFQQUCEQPVGEKOGPVQUJKUVÎTKEQUSWGCUCPVGEGFGTCOCFGUEQPſCPÁCFGSWGCU
mudanças possam afetar as condições de subsistência, a contrariedade diante de imposições ditatoriais
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ou de tratamentos indiferenciados, a falta de participação no planejamento e na implementação
FCUOWFCPÁCUQVGORQSWGVCNRNCPGLCOGPVQGUVGLCEQPUWOKPFQCKPƀWÄPEKCFQITWRQUQDTGECFC
indivíduo, o questionamento que as mudanças possam provocar nos valores e crenças do grupo, entre
outros.
As pessoas podem mudar porque são simplesmente estimuladas ou coagidas para isso, como podem
acomodar-se a mudança, habituando-se a um comportamento rotineiro e cotidiano, como também
podem reagir negativamente as mudanças através de um comportamento de defesa para manter o
status quo ou ainda tentar obstruir de maneira velada ou aberta qualquer tentativa de mudança dentro
da empresa.
Um grande obstáculo à implantação de novas tecnologias e de objetivos é a resistência à mudança dos
membros da organização.
Frente a perspectivas de mudança, grande parte do público interno pode oferecer resistência, ainda
que a mudança traga a possibilidade de progresso individual, mesmo que seja para facilitar o trabalho
de todos. A resistência consiste em qualquer atitude intencional para desacreditar, atrasar ou impedir
a implantação de uma mudança no trabalho e surge quando a mudança é percebida como ameaçadora
para a segurança, a posição, a auto-estima do indivíduo, ou para uma interação social (OLIVEIRA,
2003).
Para Viana (2004) as origens da resistência nascem da percepção que cada um tem da novidade. E as
causas mais comuns são:
x Receio do futuro (o ser humano faz a opção pelo que lhe é familiar);
x Recusa ao ônus da transição (não existe mudança sem trabalho e sacrifício);
x Acomodação ao status funcional (o medo de perder o status quo);
x Receio do passado (pessoas atingidas por fracassos anteriores na organização tornam-se cínicas e
rebeldes em relação a mudanças).
Em outras palavras, Kotter (1997), acredita que as principais fontes de resistência à mudança, são:
x Incerteza quanto às causas e efeitos da mudança: os empregados da organização resistem
psicologicamente às mudanças devido à incerteza, pois estão inseguros quanto à sua capacidade
de aprendizagem nas novas tarefas;
x (CNVCFGFKURQUKÁºQRCTCCDTKTOºQFGDGPGHÈEKQUGZKUVGPVGUCOWFCPÁCCRTQRTKCFCRQFGDGPGſEKCT
CQTICPK\CÁºQEQOQWOVQFQOCUPºQDGPGſEKCT¶RGUUQCUGURGEÈſECUSWGRQFGOVGTRGTFCU
O custo da mudança em termos de perda de poder, prestígio, qualidade do trabalho e, outros
DGPGHÈEKQURQFGOPºQUGTQUWſEKGPVGRCTCEQORGPUCTCURGTFCUGXGPVWCNOGPVGGZKUVGPVGU
x A consciência das fraquezas das mudanças propostas: os funcionários podem resistir à mudança
porque têm consciência de problemas potenciais que aparentemente não foram considerados pelos
agentes da mudança.
Embora seja reconhecido que as novas tecnologias trazem benefícios para os indivíduos e as
organizações, algumas pessoas resistem ao seu uso no ambiente de trabalho e na vida privada.
Viana (2004) observa que a resistência pode aumentar de acordo com a maneira que a nova tecnologia
for introduzida, principalmente se a inovação não for previamente discutida com a equipe. A
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preparação para a introdução da nova tecnologia pode ser essencial para o seu sucesso – quanto mais
cedo a equipe estiver familiarizada com o sistema, maiores são as chances de uma evolução positiva
do processo.
Neste sentido, para minimizar a resistência o indivíduo precisa acreditar que utilizar um sistema
particular melhoraria o seu desempenho no trabalho. Já em questão da facilidade para o uso de novas
tecnologias o indivíduo precisa acreditar que utilizar um sistema particular seja livre de esforço físico
ou mental. Por outro lado, há ainda o sentimento de prazer em usá-las, independentemente de qualquer
conseqüência de desempenho que possa ser antecipada.
Conforme Oliveira (2003), as pessoas podem, na verdade, aceitar as mudanças de maneiras diferentes.
Elas podem aceitar positivamente as mudanças e adotar uma postura de simples aceitação quando
movidas pelos argumentos da direção da empresa ou quando adotam uma postura pró-ativa em que
não apenas aceitam a mudança como também tomam iniciativas pessoais de fazê-la acontecer. O
autor cita também que, por outro lado, as pessoas podem comportar-se negativamente em relação às
mudanças que ocorrem na empresa.
A resistência à mudança pode ser conseqüência de aspectos lógicos, psicológicos ou sociológicos. Os
três tipos de aspectos estão descritos na Figura 1:
$VSHFWRVOyJLFRV
2EMHo}HVUDFLRQDLVHOyJLFDV
$VSHFWRVSVLFROyJLFRV
Atitudes emocionais e psicológicas
$VSHFWRVVRFLROyJLFRV
Interesses de grupos de fatores sociológicos
x
x
x
x
Interesses pessoais
Tempo/Esforço
Custos
Viabilidade
x
x
x
x
Medo do desconhecido
Compreensão/Tolerância
)DOWDGHFRQ¿DQoD
Segurança
x
x
x
x
Coalizões políticas
Valores sociais
Visão paroquial
Interesses/Colegas
Figura 1 – Aspectos de resistência à mudança
Fonte: Oliveira, 2003
Oliveira (2003) previne sobre os cuidados que se deve ter com as pessoas resistentes a mudanças e
defende que o maior risco para as inovações não vem de fora da organização, mas ao contrário, vem
de dentro dela e que o maior problema são aqueles resistentes às mudanças. Vencer a resistência
FGUVCURGUUQCUÃQOCKQTFGUCſQCUGTGPHTGPVCFQRQTSWGCKPQXCÁºQÃXKUVCEQOQWOCFGUVTWKÁºQ
criativa do status quo, motivo pelo qual é fácil de entender porque as pessoas se sentem ameaçadas
pela mudança.
ESTUDO DE CASO
Uma empresa de automação industrial visa trazer tecnologia avançada para automatizar os processos
de outra, ou seja, ela tem como principal meta implantar sistemas informatizados nas empresas que
a contrata.
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#TGCNK\CÁºQFGUVGGUVWFQFGECUQVGOEQOQſPCNKFCFGEQORCTCTCVGQTKCGZKUVGPVGUQDTGSWGUVÐGU
comportamentais dos usuários perante uma implantação de sistemas de informação com a que ocorreu
na própria empresa implantadora de sistemas, visando analisar se internamente a empresa obedeceu
regras e procedimentos em relação aos usuários e ao sistema.
A comparação da teoria com a prática foi registrada por meio do uso de questionário aplicado na
empresa. As respostas apontaram para os seguintes resultados:
PERFIL DOS USUÁRIOS
Todos os usuários pesquisados estão na faixa de 20 a 40 anos de idade.
A maioria, (60%) dos usuários são mulheres. Para 53,33% foi a primeira vez que vivenciaram uma
implantação de sistemas em seu local de trabalho.
7OCURGEVQCUGTEQPUKFGTCFQGSWGRQFGVGTHQTVGKPƀWÄPEKCPQEQORQTVCOGPVQFQUWUW¶TKQUHQKQ
fato da existência de um bom nível de formação escolar bem como a faixa etária dos mesmos. Este
aspecto facilita a compreensão dos usuários quanto à necessidade e importância de implantação de
mudanças que venham melhorar o desempenho da empresa e, conseqüentemente, trazer benefícios
RCTCQURTÎRTKQUGORTGICFQUQSWGHQKEQPFK\GPVGEQOCUCſTOCÁÐGUFG5EJKOKVV
#KPFCEQOTGNCÁºQCQHWPEKQP¶TKQUQUOGUOQUUGCWVQFGſPKTCOEQOQRCTVKEKRCVKXQUEQPſCPVGUG
RT¶VKEQUHQTOCPFQCUUKOWORGTſNHCXQT¶XGN´KORNCPVCÁºQWOCPQXCVGEPQNQIKC
PROCEDIMENTOS ADOTADOS PELA EMPRESA
As mudanças possuem características bastante acentuadas. Almeida (2003) cita a alta velocidade, o
fato de que as conseqüências das mudanças não são sempre boas; as mudanças tecnológicas geram
desemprego estrutural, fases de adaptação são demoradas, medo e incerteza, entre outros.
Toda vez que há uma mudança grande, como a implantação de um novo sistema de informação,
é necessário atentar-se para o impacto, positivo ou negativo, sobre a cultura organizacional. Esse
sucesso depende da maneira como a mudança é tratada.
0GUVGGUVWFQCGORTGUCUQWDGTGCNK\CTCOWFCPÁCQTICPK\CEKQPCNFGHQTOCRCEÈſECXKUVQSWGPC
maioria das respostas (93,33%), as mudanças que ocorreram foram positivas, destacando grande
KPƀWÄPEKCFCRGUUQCFQNÈFGT
Porém quanto à citação de Almeida, houve discordância no que se diz respeito às mudanças tecnológicas
gerarem desemprego estrutural, visto que segundo as repostas dos usuários, depois da implantação do
sistema, houve contratações e não dispensas.
Segundo os usuários a empresa seguiu algumas posturas que a literatura mostra como corretas na fase
de implantação. Sobre estas posturas, a maioria dos usuários acredita que:
x A alta gerência esteve comprometida e apoiando a implantação do sistema.
x Um líder de cada departamento foi indicado para ajudar no desenvolvimento do projeto. Este líder
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x
x
x
x
x
x
x
x
x
respondeu às exigências feitas, alcançando, assim, as expectativas.
A empresa informou e explanou os motivos que a levaram a mudar o sistema de informação.
As metas e objetivos foram amplamente divulgados por toda a organização, evitando que fosse
estabelecida uma visão distorcida do que este novo sistema representaria.
O sistema foi desenvolvido visando inter-relacionar as informações de todos os departamentos
FCGORTGUCRCTCGXKVCTSWGUWTLCOEQPƀKVQUUQDTGVWFQFCKPGZKUVÄPEKCFGEQOWPKECÁºQGPVTGQU
vários departamentos da organização.
Com a explanação das metas e objetivos para os usuários, a empresa forneceu uma visão clara
FCUOWFCPÁCUSWGWOUKUVGOCUKIPKſECGGORCTCNGNQCKUUQFKXWNIQWCUGVCRCUFGKORNCPVCÁºQ
aos membros da organização, evitando surpresas e permitindo que os usuários discutissem essas
mudanças.
A empresa teve especial atenção com a parte do treinamento, visto que através do mesmo os
usuários aprenderam as funcionalidades e compreenderam o sistema de uma maneira mais ampla,
EQPUGIWKPFQXKUWCNK\¶NQEQOQWOCHGTTCOGPVCOCKUGſEKGPVGFGVTCDCNJQSWGQCPVGTKQT
Criou-se um ambiente de comprometimento, dentro da organização, para a mudança. Para tanto,
algumas medidas como incentivo para os funcionários tiveram que ser tomadas.
Hardware e o software corresponderam às necessidades do sistema.
#UKPHQTOCÁÐGUKPUGTKFCUPQDCPEQFGFCFQUSWGCGORTGUCQRVQWUºQOCKUEQPſ¶XGKUFQSWG
antigamente.
O departamento de informática teve grande responsabilidade na escolha do sistema, do hardware
e do software, apoiado pela empresa, e até o momento o sistema está atendendo os objetivos e
metas propostos.
A empresa mostrou que teve uma preocupação especial no embasamento teórico, tanto na parte
administrativa e funcional, como na parte humana, para obter sucesso com a implantação de um novo
sistema de informação. Em pouco mais de um ano, percebe-se, através do resultado do questionário,
que o sistema vem atendendo as expectativas da empresa e que os usuários estão muito, senão
completamente, satisfeitos com o sistema.
CONCLUSÃO
Numa implantação de um sistema de informação tudo depende do comportamento das pessoas
perante as mudanças. Essas mudanças atingem a cultura organizacional e podem ser positivas ou
negativas, mas geralmente acabam criando uma resistência e às vezes isso pode atrapalhar ou mesmo
impossibilitar que a implantação do sistema ocorra.
0GOUGORTGQSWGCDKDNKQITCſCFGUETGXGÃUGIWKFQRGNCUGORTGUCURQTÃOPQECUQFCGORTGUCCNXQ
deste estudo, houve um cuidado especial com o usuário.
Segundo o resultado da pesquisa, observa-se que a empresa fez um trabalho diferenciado com
as pessoas, mesmo com aquelas que não participaram diretamente do projeto. Isto foi fundamental
para vencer os obstáculos da resistência, que foram poucos e nem foram tratados diretamente neste
trabalho, cujo objetivo foi estudar o comportamento de uma empresa de automação com o usuário
perante sua própria implantação de sistema.
Algumas características dos próprios usuários atuaram como facilitadoras do processo de implantação,
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EQOQRQTGZGORNQCKFCFGGUEQNCTKFCFGGCHQTOCSWGQUWUW¶TKQUUGCWVQFGſPKTCO
RCTVKEKRCVKXQU
GEQPſCPVGU
A gerência procurou desenvolver e motivar o usuário, como também participar do processo de
implantação, obtendo assim, um resultado favorável e demonstrando o quanto isto é importante para
alcançar os objetivos e metas propostos pela implantação de um sistema de informação. Procurou
também trabalhar os aspectos lógicos, psicológicos e sociológicos das pessoas, oferecendo-lhes
incentivos, treinamento, participação ou mesmo tornando-o um líder no desenvolvimento do projeto.
Desta forma a resistência foi contornada, sem nem mesmo ter sido apresentada em grande escala ou
se espalhado pela empresa. Isto não quer dizer que não houve resistência, apenas que a mesma não
HQKITCPFGGHQTVGQUWſEKGPVGRCTCVQTPCTUGWORTQDNGOC
Como sugestão para um próximo trabalho poderia ser utilizado o mesmo questionário, aplicando-o
para uma quantidade maior de empresas, bem como analisar separadamente cada departamento,
GURGEKſECPFQUGWURTQDNGOCURCTVKEWNCTGUGOTGNCÁºQ´KORNCPVCÁºQFGWOsoftware novo.
0QGUVWFQFGECUQFGUVGVTCDCNJQQHCVQFGCGORTGUCGUVWFCFCUGTWOCőKORNCPVCFQTCŒFGUKUVGOCU
informatizados em outras empresas lhe trouxe vantagens claramente percebidas pela forma como a
empresa preparou o ambiente de trabalho, ou seja, a mudança na cultura organizacional e a tratativa
para com os usuários, bem como o modo que os próprios usuários se comportaram mediante a
implantação do sistema na sua própria realidade, possibilitou que a implantação tivesse sucesso.
ABSTRACT
An information system is waited by the company as an element that can work like a collaborator in
the search of competitive advantages. So that this happens, it is necessary that the company pass
for the phase of implantation of the system. One of the factors pointed as preoccupying in this phase
is the human factor and the consideration of possible resistance to the organizacionais changes
that the new system can bring. This work presents a study of case with the objective to identify to
the perception of the users and the procedures of the company during the phase of implantation of
the information system.The data was colleted with questionnaires. The particularitity of the study
inhabits in the fact of the studied company to be a supplier of technologies in other companies. The
results shows the presence of concern and care with the users as well the use of an implantation
strategy that minimized the resistance of the users.
KEYWORDS: Changes resistance. Information system. Information system users.
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