Para ministros de Finanças do G-20, há dúvidas

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Para ministros de Finanças do G-20, há dúvidas
HANGZHOU, China - A economia mundial está longe de voar em céu de brigadeiro,
mas enquanto discutem o que fazer para dispersar o nevoeiro de incertezas que
encobre as perspectivas de bonança para os próximos anos, os líderes das 20 nações
mais ricas do mundo terão 48 horas de céu azul e ar puro. Centenas de fábricas num
raio de 300 quilômetros da cidade de Hangzhou, a sede da XI Cúpula do G-20, foram
desligadas para garantir dias bonitos — sem a névoa de poluição — aos milhares de
participantes do encontro, entre chefes de Estado e de governo, ministros e assessores,
além de jornalistas, que estarão na capital da Província de Zhejiang, a quarta mais
populosa da China e um dos maiores polos tecnológicos do país.
Para os ministros de Finanças do G-20, ainda pairam dúvidas sobre o ambiente
econômico mundial. A lista de desafios vai de oscilações cambiais e nos preços das
commodities a deflação em muitos países e volatilidade nos mercados financeiros. Há
ainda uma onda protecionista, além de conflitos, crise de refugiados e terrorismo. As
implicações da saída do Reino Unido da União Europeia também estão no cardápio
dos encontros de hoje e amanhã.
O ritmo de crescimento da China daqui para frente e a desvalorização do yuan são
igualmente motivos de preocupação. Por mais que o país ainda cresça em níveis
superiores ao resto do mundo (6,9% no ano passado), o anfitrião da reunião já avisou
que o “novo normal” não são mais as taxas de dois dígitos que vinham puxando a
expansão global. Diante das preocupações, antes da cúpula, em entrevista à televisão
estatal, o vice-ministro de Finanças chinês, Zhu Guangyao, garantiu que “não há base
para uma depreciação de longo prazo da moeda” e que “os fundamentos da economia
do seu país são sólidos”.
O ar puro que será respirado em Hangzhou esta semana terá um custo alto para a
China. O fechamento temporário, total ou parcial, de fábricas na sede do G-20 e
vizinhança (Xangai inclusive) por até dez dias pode afetar fornecedores e clientes
dentro e fora do país. Levantamento da agência Icis mostra que milhões de toneladas
de poliéster, cimento, coque, metais não ferrosos, produtos químicos, entre outros,
deixarão de ser produzidos.
‘FINANCIAMENTO VERDE’
Talvez o efeito contraditório da iniciativa seja um bom exemplo do paradoxo que vive
a China moderna: como investir e promover a sustentabilidade sem afetar o
crescimento. Esta pode ser uma das explicações para que o país, pela primeira vez,
tenha trazido para o âmbito do G-20 o tema do “financiamento verde”. Em uma
declaração separada, chineses e americanos devem ratificar o acordo do clima de
Paris, e anunciar revisões periódicas dos subsídios que cada um concede a
combustíveis fósseis.
A presidência chinesa introduziu uma agenda de médio prazo que faça do G-20 uma
plataforma menos imediatista. O G-20 foi criado em 1999. Mas passou a reunir os
líderes dos países somente após a crise financeira global para coordenar medidas
macroeconômicas de curto prazo para combater as turbulências internacionais. Em
Hangzhou, pretende-se confirmar a meta de crescimento para 2018 em dois pontos
percentuais acima dos 3,8% previstos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em
2013.
A ampliação da atuação dos bancos multilaterais em projetos de infraestrutura, um
tema que interessa bastante ao Brasil, é um dos itens da pauta. Os chineses querem
que o foco do encontro esteja na inovação, na economia digital e nas reformas
estruturais, prioridades já anunciadas de Pequim nos seus planos de desenvolvimento
de longo prazo.
BRASIL DE NOVO NOS HOLOFOTES
As reformas devem ganhar força no documento final do G-20. Os países devem
indicar seus planos de ação.
— A China vai tentar impor sua visão, mas não vejo muito espaço para que consiga
obter ação coordenada ou até mesmo um acordo geral. A China quer, por exemplo, um
câmbio mais fraco, mas precisa que o yuan se enfraqueça mais do que outras moedas.
Precisa que os outros aceitem a sua enxurrada de importações e investimentos ainda
que não vá fazer o mesmo. É uma posição difícil de se defender — disse o professor de
economia da Escola de Negócios HSBC da Universidade de Pequim.
Este ano, o Brasil volta aos holofotes. Não mais como um dos casos de sucesso de
recuperação após a crise financeira global de 2008, mas como um país que atravessa
uma crise de credibilidade e cuja economia está debilitada. Caberá ao governo mostrar
o que está sendo feito para que o país volte a crescer e contribuir para a expansão
mundial. Essa é um das principais missões do presidente Michel Temer.
— É o início do processo de reconstrução da imagem do país no exterior para tentar
retomar a confiança de forma mais vigorosa dos investidores. A presença do (ministro
da Fazenda, Henrique) Meirelles, reconhecido internacionalmente, reforça essa tese —
disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.