NA PoNTA Do LÁPIS - Beija-Flor

Transcrição

NA PoNTA Do LÁPIS - Beija-Flor
oRGULHO
NA PONTA DO LÁPIS
RICARDO DA FONSECA E HILTON ABI-RIHAN
No ano em que a Beija-Flor de Nilópolis leva para
a Avenida seu enredo sobre Comunicação, nós, da
revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de
vida”, completamos 13 anos de realização de um
importante projeto de comunicação entre a agremiação e o público.
Um projeto que tem dado a todos nós, que temos
trabalhado na sua produção, muita alegria e orgulho, porque sabemos que também levamos importantes resultados à agremiação dentro e fora
da Avenida. Obviamente, não em pontuação, mas
como um instrumento de apresentação e revelação
da agremiação nilopolitana e de todos aqueles que
dão o melhor de si para fazer um desfile especial.
Não temos nenhuma dúvida de que a revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida” é de
grande importância para o engrandecimento desse
complexo espetáculo chamado “Carnaval” e para
a valorização da Beija-Flor de Nilópolis e de seus
componentes que, nos bastidores e na Avenida,
protagonizam os desfiles mais belos da Sapucaí.
A prova do que falamos está na repercussão da revista junto aos leitores, que a cada ano nos enviam
mensagens otimistas, de agradecimento pelas informações que apresentamos e reconhecimento pelos
nossos esforços. Está, também, no reconhecimento
não declarado de comentaristas que citam em seus
comentários, em programas de rádio e TV, informações que obtiveram através da leitura da revista.
E tudo isso nos envaidece e nos enche de orgulho
porque evidencia que a nossa proposta e os objetivos que traçamos - focados na valorização do
samba carioca e da agremiação nilopolitana como
mananciais de arte e cultura e, também, no espetáculo de cores e sons realizado na cidade do
Rio de Janeiro como mais uma demonstração de
excelência e vocação turística da região - estão
dando resultado.
Mas para alcançar esses resultados, há muito trabalho sendo realizado e muita gente colaborando,
selecionando, escrevendo, fotografando, revisando, pensando, produzindo.
Afinal, a revista que pretendemos sempre oferecer
aos nossos leitores, com conteúdo inédito e informativo, não pode ser feita da noite para o dia. Por
isso, a revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma escola
de vida” não pode ser lida em uma noite.
E essa é a política que nos norteia: fazer uma publicação não descartável, que possa acrescentar conhecimentos ao leitor. E podemos afirmar, sem receio
de errar, que a revista “Beija-Flor de Nilópolis - uma
escola de vida” é a única revista de samba e carnaval não descartável, produzida para o leitor levá-la
para sua casa e, na tranquilidade do seu lar, folheá-la com carinho e cuidado, degustando calmamente
cada assunto tratado, cada texto produzido.
Temos, em todos esses anos, buscado equilibrar
conteúdo jornalístico com imagens, e seguindo o
senso crítico que sempre nos norteou, e a repercussão da publicação, concluímos que alcançamos
êxito.
Um êxito que é grande não apenas pela repercussão,
mas, talvez, pelos resultados: pudemos apresentar
ao público interessantes histórias de integrantes
da agremiação, homenageamos personalidades em
vida, mostramos de perto imagens da Avenida que
são pura arte, demos visibilidade a histórias de bastidores, desvendamos o lado social da agremiação,
que através dos serviços da Creche, do Educandário
e do CAC deu o exemplo às demais agremiações.
Ultrapassando o âmbito da Beija-Flor de Nilópolis,
fomos exitosos também com a repercussão que a
nossa peculiar forma de fazer revista e jornalismo
gerou, influenciando a maneira de fazer das poucas
revistas do carnaval que existiam, e que seguiram os
conceitos da nossa revista. Fomos também os grandes incentivadores para que outras escolas de samba
produzissem e colocassem suas revistas na Avenida.
Neste carnaval, completamos 13 anos à frente da
revista da Beija-Flor de Nilópolis, e enquanto estivermos aqui não abriremos mão do nosso dever de
produzir para a maior escola de samba da atualidade novas edições da principal revista de escola
de samba do mundo.
Março 2014
1
2
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
ANIZIO ABRÃO DAVID
O Rio de Janeiro será, neste ano, palco de um
dos eventos esportivos mais importantes da
era moderna, a Copa do Mundo de Futebol, um
evento de repercussão mundial e que gira em
torno de si cifras milionárias.
Mas a Copa do Mundo não é só uma competição
esportiva, cujo objetivo principal é a vitória.
Através da Copa do Mundo, povos e nações se
encontram e confraternizam na pessoa de cada
torcedor que vai ao estádio vibrar por sua seleção.
Um torcedor quer mais do que ver seu time vencer. Ele espera fazer parte desse espetáculo mágico e inesquecível.
Através desse espetáculo mágico, a economia local ganha fôlego e dinamismo. E isso é algo que
não se pode deixar de considerar. Afinal, vivemos
em uma sociedade onde não cabe ao Estado sustentar o cidadão. É ele que, através de uma atividade profissional, deve levar o sustento para sua
família e apoiar a educação aos seus filhos.
E quando um homem ou uma mulher – pai ou
mãe de família – realiza essa missão de sustentar seus filhos e sua família, um enorme orgulho
e uma forte autoestima toma conta de si.
Sim, grandes eventos populares são instrumentos de felicidade muito além do divertimento do
momento. E hoje a sociedade começa a entender
melhor essa realidade. Muitos já dispensam os
discursos sonhadores de igualdade ou de desejo de superproteção do Estado para agirem,
trabalharem e conquistarem seus sonhos – econômicos, de consumo e até mesmo espirituais
-, contribuindo para o crescimento próprio e da
sociedade brasileira como um todo.
Nesse sentido, o Carnaval do Rio de Janeiro, que
também protagoniza um espetáculo mágico e
inesquecível, sempre foi um importante vetor
para distribuição de oportunidades de trabalho
e renda, tanto para o cidadão empreendedor
com poucos recursos para investir como para as
empresas de pequeno, médio e grande porte.
Alegria, divertimento, magia e trabalho.
Por que não?
Se fomos abençoados por uma cidade tão especial e cheia de atrativos, com um povo criativo e festeiro, por que não aproveitar essa vocação para enchermos nossas vidas de alegria
e trabalho?
Nós, da Beija-Flor de Nilópolis, pensamos assim.
E assim nos divertimos e levamos nossas vidas
de uma forma alegre e feliz.
Juntem-se a nós! Vamos fazer desse Carnaval
um palco de alegria e felicidade onde o que ficarão são as lembranças e um desejo insistente
de “quero mais”.
Juntem-se a nós!
Com muita alegria, juntem-se a nós!
Março 2014
3
www.widebrasil.com
e-mail: [email protected]
Produção
WIDEBRASIL COMUNICAÇÃO INTEGRADA
www.widebrasil.com
Editores
Ricardo Da Fonseca
Hilton Abi-Rihan
Jornalista Responsável
Ricardo Da Fonseca, MTb RJ23267JR
Redação
Hilton Abi-Rihan, Felipe Lucena, Leonardo Legey, Miro
Lopes e Ricardo Da Fonseca
Transcrição de áudio
Felipe Lucena
Projeto Gráfico
R. Gatto
Leonardo Legey
Edição e Tratamento de Imagens
R. Gatto
Leonardo Legey
Agradecimentos
Carlinhos Madrugada, Christina Leite, Bianca Behrends,
Felipe Ferreira, Hélio Turco, Hiram Araújo, Isabela Dantas,
Jorge Castanheira, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho,
José Maria da Beija-Flor, Luciano Carvalho do Nascimento, Maria Augusta Rodrigues, Paulo Senise, Ubiratan
Guedes, Ubiratan Silva e Vicente Dattoli.
Revisão de Texto
Marco Antonio Nicolau
Fotografia
Cristina Granato, Diogo Mendes, Felipe Lucena, Henrique Matos, Humberto Souza, Leonardo Legey e Ricardo Da Fonseca.
Esclarecimento
A escolha e seleção das fotografias que ilustram a
edição 2014 da revista Beija-Flor de Nilópolis - uma
escola de vida, seguem critérios estritamente artísticos e jornalísticos (transmissão de uma determinada
mensagem), ainda que de modo subjetivo, e não indicam, direta ou indiretamente, preferências específicas
do GRES Beija-Flor de Nilópolis (ou de sua diretoria) e/
ou da WideBrasil Comunicação Integrada por pessoas
ou alas.
A revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, ISSN 1678-3611, é uma
publicação oficial do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis e
produzida pela WideBrasil Comunicação Integrada Ltda.
As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição dos editores nem da agremiação.
É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que citada a fonte.
G.R.E.S. BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS
Diretoria Executiva:
Presidente Executivo - Farid Abrão
Vice Presidente Executivo - Ricardo Martins David
Presidente do Conselho Deliberativo Vice Presidente de Finanças - Jose Antonio Gonçalves Pinto
Diretor de Finanças - Pedro Cardoso de Almeida
Diretor de Finanças - Horácio Silva Bernardo
Diretor de Finanças - José Renato Granado Ferreira
Vice Presidente de Administração e Marketing
Diretor de Administração - Pedro Paulo Bastos de Mello
Diretor Administrativo / Secretária - Eliza Maria Rodrigues Gondin
Diretor Administrativo - Moacyr Jorge Mexias Abdala
Vice Presidente de Patrimônio - Jorge da Cunha Velloso
Diretor de Patrimônio - Rodrigo Dias Duarte
Diretor de Patrimônio - Aroldo Carlos da Silva
Diretor de Patrimônio - Alexandre do Nascimento Fernandes
Vice Presidente Social e Recreativo - Abraão David Neto
Diretor Social e Recreativo - Marcos Antônio Ribeiro Lima
Diretor Social e Recreativo - Marcelo Romeiro da Costa
Vice Presidente Jurídico - Carlos Alberto Diogo de Souza
Diretor Jurídico - Gilson de Castro
Diretor Jurídico - Bruno Cabral Pereira
Vice Presidente de Esportes - Paulo Roberto Moraes
Diretor de Esportes - Marcos Fernandes C. da Silva
Diretor de Esportes - Greyce Fonseca Valle
Vice Presidente de Comunicação e Divulgação - Argemiro Lopes Nascimento
Vice Presidente Cultural e Artistico - Fran-Sergio de Oliveira Santos
Diretor Cultural e Artistico - Antonio Carlos da Costa
Diretor Cultural e Artistico - Marcos Antonio Escaleira
Diretor Cultural e Artistico - José Carlos de Oliveira Silva
Vice Presidente de Carnaval - Luiz Fernando Ribeiro do Carmo
Diretor de Carnaval - Valber da Silva Furtuoso
Vice Presidente Depto. Feminino e Assistência Social - Selma de Mattos Rocha
Diretora Depto. Feminino Assistência Social - Debora Rosa Santos Cruz Costa
Diretora Depto. Feminino Assistência Social - Leila Meira David
Março de 2014 - Tiragem: 60 mil exemplares
6
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
FARID ABRÃO
Mais uma vez nos encontramos aqui – público e
agremiação -, cruzando a Marquês de Sapucaí,
na busca de mais um título para nossa querida
e amada Beija-Flor de Nilópolis, número um do
ranking da LIESA e preferida do folião segundo
diversas pesquisas relacionadas a carnaval e escolas de samba.
Essas conquistas – na avenida e fora dela – nos
deixam confiantes para entrar na Sapucaí com
olhar altivo e o coração batendo forte, certos de
que a caminhada para a conquista do título de
campeão do carnaval 2014 teve início ainda em
2013, quando ajustamos falhas, fortalecemos e
aprimoramos acertos e escolhemos mais um enredo especial, forte e contagiante.
Até hoje, Boni vivia na vida de cada brasileiro
de maneira oculta, sem que eles soubessem. O
mago da comunicação é um gênio no que faz e
com sua competência, dedicação e simplicidade
criou um padrão de qualidade que deu dignidade ao brasileiro através de programas informativos e de altíssima qualidade.
Essa determinação em ser o melhor – e o Boni o
é – se afina com a determinação que a Beija-Flor
de Nilópolis – sua escola, também – se propõe
em tudo que realiza. Na Avenida, nos barracões,
nas obras sociais e esportivas, nas publicações
e nos espetáculos realizados nos mais variados
cantos do planeta a força, a garra e a determinação do nilopolitano e da Baixada Fluminense
invadem todos os espaços, mostrando ao Brasil
e ao mundo do que realmente é feito o povo
brasileiro: força, paixão, alegria e arte.
Na função de Presidente da Beija-Flor de Nilópolis não poderia estar mais emocionado e confiante: toda essa força que alimenta, motiva e
movimenta nossa comunidade vai contagiar o
público na Marquês de Sapucaí com um lindo e
único espetáculo de cores, sons e movimentos.
E tenha certeza, folião, hoje vai dar samba!
Convido a todos, então, a deixarem qualquer
ideia preconcebida lá fora, abram seu coração e
suas mentes e deixem que essa escola maravilhosa e soberana - de fato nilopolitana -, leve a sua
alma para testemunhar momentos inesquecíveis.
Bom carnaval a todos.
Março 2014
7
8
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
RICARDO DA FONSECA E HILTON ABI-RIHAN
“O PROBLEMA DA PROGRAMAÇÃO DEFICIENTE É TRABALHAR
COM EXTREMOS E FICAR A MERCÊ DO MERCADO. VOCÊ NÃO
PODE SÓ COLOCAR SERTANEJO OU SÓ COLOCAR ROCK PROGRESSIVO. A EMISSORA TEM QUE SABER DOSAR.“
Boni é daqueles gênios cuja obra aparece mais
que o criador. Por não ser uma pessoa dada a
muitas aparições públicas, muita gente desconhece que as ideias desse empresário fizeram ou
ainda fazem parte de suas vidas.
Depois de atuar em diversas rádios, emissoras
de TV e agências de publicidade e revolucionar
nesses mercados, Boni chegou a TV Globo, onde
pôde colocar em prática, com sucesso, o sonho
de uma rede nacional de televisão.
Na Globo, implantou uma grade ideal de programação. Exercendo uma liderança forte, lançou uma programação imbatível em todo o Brasil, com projetos como o “Jornal Nacional” e o
“Fantástico”, por exemplo, que existem como
líderes de audiência até hoje e que foram determinantes para colocar a Globo entre uma das
três maiores emissoras de televisão do mundo.
A genialidade desse verdadeiro artista da comunicação segue presente na TV feita no Brasil e
no mundo até os dias atuais.
Homenageado pela Beija-Flor de Nilópolis com
o enredo “O Astro Iluminado da Comunicação”,
o paulista José Bonifácio de Oliveira Sobrinho
concedeu mais uma interessante entrevista à
revista da Beija-Flor, contando-nos um pouco
da sua brilhante história de vida.
Revista Beija-Flor de Nilópolis (RBFN) – Boni,
como foi o início de sua vida profissional na
área da comunicação?
Boni – Desde pequeno sonhava em trabalhar no
rádio. Essa minha paixão pelo rádio remonta os
tempos de criança. Meu pai, Orlando de Oliveira, era músico e gostava de cantar também. Só
que cantar não era uma das maiores qualidades
dele. Um dia, após uma conversa com seu amigo
e músico Zé Carioca (José do Patrocínio Oliveira),
meu pai decidiu tocar violão em um conjunto
regional, em um programa de rádio de Nicolau
Tuma. Nicolau tinha um programa de calouros
na Rádio Cultura, onde meu pai foi acompanhar
Março 2014
9
“Junto com o Walter, Boni é o responsável pela
grandeza da TV - A paixão o move. Ele conhece
tudo do trabalho de uma televisão. Inclusive,
ele faz questão de tratar todos os funcionários pelo nome. Desde o pessoal da limpeza até o
mais importante diretor.”
Ney Latorraca
cantores calouros. E nessas idas à rádio para trabalhar, meu pai me levava e fui ficando encantado com aquilo tudo – equipamentos de som,
roteiros... Lembro que minha principal diversão,
aos 5 anos de idade, era fingir que eu estava
programando uma emissora de rádio e operando
uma mesa de som. Meu primeiro emprego, com
contrato certinho e carteira assinada, foi aos 15
anos para uma agência de publicidade que tinha
um programa juvenil na Rádio Nacional.
RBFN – Como foi esse início em uma rádio do
porte da Rádio Nacional?
Boni – Nascido e educado em São Paulo, aos 14
anos resolvi vir morar na capital carioca. Tinha
uma tia que morava aqui, Sandra Branco, que
cantava na Rádio Continental. Seu marido, José
Pontes de Medeiros, era compositor e violonista do conjunto Quatro Ases e um Coringa. Um
outro tio tinha uma editora que descobriu, na
época, dois grandes autores: Nelson Rodrigues
e Dias Gomes. Um dia, esse meu tio Zé me levou
ao Dias Gomes, diretor artístico da Rádio Clube
do Brasil na ocasião, e disse a ele: “Dias, meu so10
Revista Beija-Flor de Nilópolis
brinho quer aprender sobre rádio”. Aí o Dias me
perguntou: “o que você quer aprender em rádio?” E eu, sem pestanejar, disse: “quero aprender a ser diretor de rádio”. E acredite, o Dias me
chamou para trabalhar lá. Aprendi muito com
Dias Gomes, mas queria sempre aprender mais
e, jovem e obstinado, me tornei insistente demais e até um certo incômodo para o Dias – não
dava colher de chá para ele. O Dias subia para o
auditório, eu ia atrás dele. Ele ia atender o telefone, eu ia atrás dele. Ele ia para a estúdio... eu
ia atrás dele. Queria muito aprender, e aonde o
Dias ia, eu ia atrás. Um dia o Dias me contou que
estava caminhando pela Avenida Rio Branco, no
centro do Rio de Janeiro, e de repente virou para
trás e disse: “sai daí, Boni!”. Mas eu não estava
lá. Já era a imaginação dele (risos). Até que, um
pouco insatisfeito com a minha insistência, o
Dias me mandou estudar produção na escola de
rádio da Prefeitura – a Roquete Pinto, no Rio de
Janeiro. Gostei da ideia e fui estudar na Roquete
Pinto, colocado por ele. Comecei como redator,
escrevendo textos que iam para o ar. Eram bons
tempos, mas um dia apareceu a publicidade na
minha vida: um grupo de pessoas de paletó e
gravata me procurou para conversarmos. Eram
do departamento de propaganda da Toddy e
queriam me contratar para escrever um programa
para pessoas da
minha idade na
Rádio Nacional do
Rio de Janeiro – o
programa “Clube Juvenil Toddy”.
Foi um convite
inesperado, mas
que me agradava,
porque eu estava
sendo pago pela
primeira vez.
RBFN – E foi graças ao programa
“Clube Juvenil Toddy” que você foi
para a Nacional
de São Paulo?
Boni – Comecei a fazer os programas para o
“Clube Juvenil Toddy” na Nacional, até que um
dia me falaram que o Manoel de Nóbrega ia
inaugurar uma Rádio Nacional em São Paulo e
www.beija-flor.com.br
“Dos amigos que eu tenho, Boni é o mais talentoso
e generoso – o que é muito, particularmente para
mim, que tenho uma porção de amigos talentosos e
generosos.
Boni é, sem dúvida nenhuma, o maior profissional
da história da comunicação brasileira em todos
os tempos. E um dos maiores do mundo. O enredo
com o Boni é a apoteose da Beija-Flor.”
Washington Olivetto
o Cassiano perguntou se eu tinha televisão em
casa. Eu disse que não. Ele, então, me mandou
passar no almoxarifado para pegar um aparelho de TV. Já fechado com a TV Tupi, fui falar
com o Nóbrega. Ele não entendeu minha situação e, muito contrariado, me botou para fora
de sua casa. É compreensível esse sentimento do Manoel da Nóbrega. Mas minha decisão
também era compreensível. Apesar de dever
um enorme favor a ele, trabalhar na TV Tupi
seria uma oportunidade de ajeitar a minha
vida, morar em um bom apartamento e adquirir
tantas outras coisas importantes para minha estabilidade e bem estar pessoal. Por isso, não demorou e acabamos nos tornando muito amigos,
deixando para trás o passado e todo stress que
a situação causou. Depois disso trabalhei na TV
Paulista, levado pelo Roberto Corte Real. Porque
estava precisando de gente nova para sua equipe. Procurei o Nóbrega e conversamos bastante.
Ele me falou que morava na Vila Pompéia (SP)
e eu falei que minha tia tinha um instituto de
beleza lá. Ele contou que a mulher dele, Dona
Dalila, fazia cabelo lá. Não deu outra: pedi para
minha tia conversar com a mulher do Nóbrega
para ver se arrumava algo para mim. Deu certo.
Ele me levou para a Rádio Nacional de São
Paulo e passei a trabalhar como redator de
humorismo e secretário dele. Já me sentia
um profissional de rádio aos 16 anos, mas
de olho na televisão. Para encurtar a história, um dia recebi uma ligação da TV Tupi
me pedindo para ligar para o Teófilo de
Barros Filho, mas me avisaram que eu não
podia falar nada para ninguém. Eu pensei
que era trote de algum amigo, mas liguei
de volta, e na ligação a surpresa: não era
trote, era da TV Tupi mesmo e marcamos
o encontro para às 18h do dia seguinte.
A reunião foi com o Teófilo e o Cassiano
Gabus Mendes, que se tornou meu grande amigo depois. Na reunião eles falaram
que queriam me contratar. Naquele momento, meu padrão de vida era limitado. O
dinheiro que ganhava dava para comprar
uma lata de feijoada por semana. Tinha
uma promessa da Rádio Nacional de São
Paulo para ganhar melhor, mas essa promessa nunca se cumpria. Aí o Cassiano falou assim: “Temos uma proposta, mas você
tem que assinar aqui, agora, e não pode
voltar para a Rádio Nacional. É pegar ou
largar”. Eu pensei: “O Nóbrega foi tão legal
comigo... Mas, por outro lado, as coisas na
Nacional de São Paulo não andavam como
eu planejava e eu poderia ajudar minha
mãe se ganhasse melhor – seis vezes o
valor que a Nacional me pagava. Para me
seduzir ainda mais, o Teófilo e o Cassiano
assumiram um compromisso comigo de que eu eu tinha uma facilidade natural para ver as coiteria liberdade para fazer o que quisesse na TV. sas sob um ponto de vista diferente dos outros,
Aí eu assinei o contrato. Ao assinar o contrato, acabei entrando no mercado da publicidade,
11
trabalhando em agências de propaganda, entre
elas a Lintas e a Alcântara Machado. Cheguei,
inclusive, a montar a minha própria agência, a
Proeme.
RBFN – Pelo que disse, na sua trajetória profissional você sempre teve a ajuda de pessoas influentes nos respectivos meios. É possível obter
os resultados que teve sem “pistolão”?
Boni – Meu caso é de viração, não de pistolão.
Eu não tive pistolão, mas sempre tive um atrevimento muito grande, isso sim. Assumi responsabilidades que não sei se poderia assumir na
época. Era uma época de conhecimentos limitados em comunicação e mídia – estava tudo
começando. E não havia muitas pessoas para
executar essas tarefas, tão necessárias. As que
estavam no mercado não tinham tanto conhecimento, e eu tinha algum, o suficiente para me
12
Revista Beija-Flor de Nilópolis
destacar pelos resultados que propiciava aos
meus contratantes. Além disso, grande parte
não tinha a coragem de encarar esse universo
grandioso que surgia. É aquela história: em terra de cego, quem tem um olho é rei.
RBFN – Você era produtor de comercias também. É verdade que num determinado momento
o Rubem Berta, que era o dono da Varig, prendeu você e mais um companheiro dentro de uma
sala e só permitiu que você saísse depois que
um comercial estivesse pronto, esse que fala da
Varig o céu está azul?
Boni – Não é o comercial da Varig o céu está
azul. Era mais que um comercial. O Berta me
chamou na sala dele porque precisava de um
trabalho para a TV sobre o zoneamento das
companhias aéreas do Brasil. Ele me chamou lá
na sala e falou que precisava de um trabalho
www.beija-flor.com.br
“O meu encontro com o boni foi em 1974, logo que cheguei ao brasil. O Boni não só me permitiu, mas
incentivou levar o visual da globo em forma de exposições e palestras para os quatro cantos do
mundo. Assim encontrei e conheci os “poderosos” das maiores televisões dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Cheguei a conclusão de que o Boni é o mais brilhante de todos, capaz de comandar e tomar
decisões literalmente em todas as áreas de comunicação como dramaturgia, humor, jornalismo,
esporte, comercial, instalações técnicas, enfim tudo sobre áudio e vídeo.”
Hans Donner
para ser entregue no mesmo dia. Eu estava com
um companheiro, o Laerte Agnelli, um diretor
de arte muito bom. Ele falou para ficarmos lá,
deixou o briefing, e falou que ia lá fora para
resolver outras coisas e que voltaria para discutir. E ele não voltou mais. Uma hora bateu uma
fome e meti a mão na porta para sair e ir comer
alguma coisa. A porta estava trancada! Do outro
lado da porta nos avisaram que o Berta tinha ido
embora e levado a chave, e que o que a gente
precisasse – lápis, papel, qualquer coisa – seria
passado pela janela. E que na geladeira tinha
sanduiche. Aí ficamos a tarde toda lá e terminamos. Ele chegou lá e gostou. Aí eu perguntei
para ele: trancou a gente aqui, não confia na
gente? Ele disse: confio. Só para não perderem
tempo. Aí ele disse que gostou, mas que não havíamos feito a última frase do trabalho que era:
“Santos Dumont inventou a aviação e o DAC inventou o desastre de aviação”. Fizemos o cartaz
na hora e ele ficou feliz. Ele conseguiu acabar
com a tentativa de zoneamento. Em 1960, existia um projeto de que cada companhia viajava
até determinado lugar, Varig no Sul, a Vasp em
São Paulo, depois tinha que entregar o passageiro para outra companhia. Se não fosse o Berta teria sido mesmo um desastre.
RBFN – O Telecentro surgiu nessa época?
Boni – O telecentro foi uma experiência importantíssima para o futuro da televisão no Brasil.
Hoje, o termo tem outro significado, mas a ideia
era fazer algo que já existia nos EUA: uma rede
nacional de televisão. Era um sonho meu e do
Walter Clark no tempo de TV Rio implantar esse
modelo de televisão. Tentamos fazer na Record,
mas não quiseram, tentamos na Excelsior, mas
houve um conflito entre a Excelsior do Rio e a
de São Paulo. Tentamos na TV Rio e na Excelsior, mas não deu certo. Então chegamos nas
Emissoras Associadas – emissoras de um núcleo
só. Imaginamos, então, que lá seria possível implantar o Telecentro. Como disse, o Telecentro
foi uma experiência importantíssima para o futuro da televisão no Brasil. Se não fosse o Telecentro ter sido montado, não teríamos feito a
TV Globo. O principal defeito da Telecentro foi o
que nos ajudou a montar a Globo. No Telecentro
nós produzíamos os programas, novelas, shows
e mandávamos para as emissoras que pagavam,
com um rateio, o custo. Mas 70% não pagava,
então o projeto desmoronou. Tudo estava perfeito, funcionando, era um sucesso danado, mas
não tinha dinheiro para bancar as produções.
Então o Telecentro acabou no auge do sucesso.
Na Globo, eu e o Walter retomamos o sonho de
montar uma rede nacional de televisão. Começamos montando igualzinho o sistema do Telecentro, aí eu falei: “Não. Vamos parar já. Isso já
não deu certo”. Aí juntos invertemos o processo: primeiro recebemos o dinheiro dos afiliados,
juntamos uma caixinha, depois fizemos a produção. Isso foi possível com um sistema centralizado de venda de comerciais. Foi o que salvou a
Globo e o que a mantém até hoje. Eu, o Walter e
o Joe Wallach tínhamos um projeto muito claro
na cabeça e nunca nos afastamos dele.
RBFN – Você considera que o consumidor baixou
o nível de exigência em relação ao conteúdo da
programação da TV?
Boni – No passado, o consumidor era, sim, mais
exigente. Mas essa mudança é natural, e faz
parte de um processo contínuo cheio de variáveis. Você imagina que quando começou a TV,
o Assis Chateaubriand colocou 200 aparelhos
no mercado. Que tipo de programação ele tinha
que montar para atender esses telespectadores?
Erudita, óbvio. 200 aparelhos para 200 famílias
ricas, cultas... Era essencial ter uma programação desse nível. À medida que o mercado foi expandindo, os aparelhos de televisão se tornando
mais acessíveis à classe média e, depois, à classe
mais pobre, as emissoras tinham que atender
essas camadas da sociedade. Foi necessário, então, implantar uma programação mais próxima à
cultura e ao conhecimento dessas pessoas para
atingir esse mercado nascente – e crescente. E
talvez seja esse o principal desafio das emissoras de televisão no Brasil: planejar uma grade
de programação que atenda um público tão variado e de gostos e culturas tão diferenciadas.
Março 2014
13
É um desafio difícil de se encontrar o ponto de
equilíbrio, e a solução que as emissoras de TV
paga têm encontrado é a segmentação do canal e da sua programação. Para as emissoras de
canal aberto essa solução é um pouco mais complicada, porque ela não
pode abrir mão de nenhuma parte do
público, nem para a TV paga e nem
para os desligados. A audiência é um
importante vetor de alavancagem da
publicidade, mas tem que ser uma
audiência qualificada.
RBFN – Mas a programação que as
emissoras de TV aberta estão colocando tem afastado muita gente
desses canais. Estamos sendo obrigados a engolir uma programação que
empurra um modelo sem variedade,
como, por exemplo, na música. Determinados gêneros musicais são insistentemente empurrados goela abaixo
em detrimento de outros, que o telespectador praticamente nem conhece,
como o rock progressivo, por exemplo.
Boni – O problema da programação
deficiente é trabalhar com extremos
e ficar a mercê do mercado. Você não
pode só colocar sertanejo ou só colocar rock progressivo. A emissora tem
que saber dosar. Se em uma novela a
audiência é construída com a soma
de diferentes públicos e de diversas
classes sociais, não acontece a mesma
coisa no jornalismo ou nos programas de variedades. Nesses programas todos os assuntos têm
que interessar a maioria da audiência. Se tiver
um assunto que seja segmentado ou interesse
apenas a uma minoria a audiência despenca
e não volta mais. Qualidade não é pecado. Na
Globo, eu coloquei no ar mais de 200 autores
clássicos – duas ou três obras de cada um deles.
Mas tratados de forma accessível. Se o telespectador gostar de uma dramaturgia, se ela o
emocionar, ele não vai querer saber quem escreveu. Ele quer saber se interessa a ele ou não.
Muitas vezes, os dramas daqui se parecem com
os de fora. Você não vai fazer TV só com autores daqui. Temos ótimos autores no Brasil, mas
tem que ter coisas de fora também. Se explorarmos apenas os nossos, vai faltar texto. O mesmo
acontece com a música. Somente música ruim e
brega não dá. Tem que ter boa música popular
14
Revista Beija-Flor de Nilópolis
daqui, mas boa música e música de fora. Jazz,
música clássica... Enfim, em todos os gêneros é
necessário um equilíbrio para atrair o público
sem espantá-lo.
Boni e Anizio: uma amizade antiga, baseada no respeito e admiração mútua.
RBFN – Isso que você falou, relacionado à programação, é realmente muito importante. Mas
quando você já tem um programa consolidado,
o desafio passa a ser a forma como você o transmite ou apresenta, não? Digo isso porque em
uma entrevista que o Aloysio Legey deu para a
revista Beija-Flor de Nilópolis, ele comenta com
destaque as inovações que você dirigiu – e ele
executou – para a transmissão da Fórmula 1.
Conte-nos um pouco dessa história.
Boni - Costumo dizer que fazer televisão é fácil.
Difícil é comunicar. Nosso processo de criação
é comunicar. A comunicação está ligada, basicamente, a uma estrutura emocional. Transmitir
uma corrida à distância, sem envolver o espectador com as emoções da corrida, não tem sentiwww.beija-flor.com.br
“Conheci o Boni em Paris nos anos 1970. Ele já era o chefão da Globo e vinha muito para a Europa em
curtas escapadas principalmente para comer e beber vinhos, uma paixão que só aumentou com o passar dos anos. Foi com ele que eu conheci os melhores restaurantes de Paris e bebi, e ainda bebo, os
melhores vinhos.
Uma das muitas características da complexa personalidade do Boni é a de ser generoso. Os seus melhores amigos estão sempre sendo protegidos por ele, seja para o que for. Sendo um perfeccionista
ele criou o padrão de qualidade da rede Globo e este mesmo padrão ele aplica em tudo o que faz na
vida.
O seu olhar para tudo é extremamente diferenciado, e sem duvida ele é a pessoa que mais conhece
comunicação no Brasil.
Boni possui uma energia incomum e acompanha-lo em qualquer circunstancia não é tarefa fácil. Ele é
um romântico inveterado, adora musica, cinema e teatro, e tudo que se refere a cultura.
Conhece com profundidade o mundo do samba e das Escolas, e tenho certeza que neste carnaval ele
vai viver um dos momentos mais emocionantes e felizes da sua vida com essa linda homenagem que lhe
presta a Beija-Flor. Olha ele aí na Avenida!”
Roberto D’Ávila
do. O Legey foi um grande parceiro: inventamos
juntos maneiras de emocionar – para superar as
dificuldades. A necessidade é a mãe da criação.
Nós começamos a fazer a Fórmula 1 e naquele
tempo cada país fazia a sua transmissão. O problema de sempre era o do telespectador não ver
o segundo pelotão, onde ocorriam espetaculares
cenas e ultrapassagens que ele não via. Então
fizemos essa inovação, que eu imaginei, de ter
o segundo corte e a câmera de recuperação. O
segundo corte é o seguinte: o primeiro corte,
para não perder nada da corrida, segue com o
primeiro pelotão o tempo todo. O segundo corte
vai mudando de acordo com as disputas e os
pegas que aconteciam em outros pontos da corrida. E umas algumas câmeras isoladas (de recuperação) pegavam outras coisas para colocar
no ar. Nenhum país do mundo fazia o segundo
corte. Câmera de recuperação existia, mas a introdução do segundo corte pela Globo mudou a
cabeça de todo mundo. A Fórmula 1 hoje, que
tem sua própria transmissão, usa o segundo
corte. Eu bolei essa ideia, apresentei para o Legey, e ele falou: “olha, é difícil, quem vai fazer
o segundo corte?”. Mas botamos em prática e
funcionou. O ideal era ter uma câmera em cada
carro. Hoje é assim.
ter essa renovação, porque se não a Era fica velha, gasta. Do ponto de vista de uma emissora
menor, na TV Vanguarda já estamos projetando
uma nova Era. Estamos há 10 anos no ar e já
fizemos duas ou três Eras – boa enquanto for
concisa. É preciso uma maneira de falar com o
público, por isso algumas coisas como o Fantástico, o Plim-Plim, precisam ser mantidas. No ano
passado dispensamos os locutores. Eu não quero
convencer as pessoas, “assista isso”, quero que o
cara conclua o raciocínio dele. Determinei que
todas as aberturas de programa não podem ter
mais que cinco segundos. Não é compatível com
o mundo moderno. É preciso se renovar. Tem
que ter paixão. Sem paixão não faz. Tem que
ter emoção, nossa matéria prima é essa. Se não,
não tem vida. E com paixão e vida as soluções
vão sendo construídas, as ideias vão surgindo e
a gente consegue criar novas Eras, que em breve
darão lugar a uma nova Era. É essa que deve ser
a dinâmica da televisão: viva, veloz e eficiente.
Acho que esse espírito está renascendo na Globo. O Octavio Florisbal recompôs o espírito de
corpo da emissora. E sinto que o Carlos Schroder e o Willy Haas vão criar essa nova era que
falamos.
RBFN – Como você vê o Carnaval carioca? Você
RBFN – Era Boni. Você faria a TV que está sendo acha que o Poder Público dá a devida atenção a
feita hoje?
esse atrativo turístico?
Boni – Vamos olhar para a natureza: todas as Boni – O governo tem que entender que o CarnaEras terminam. Houve a Era Boni, porque eu lutei muito por isso. Para fazer uma TV de quali“Conheci o Boni como chefe, em 1974. Mais
dade para o Brasil e para o mundo. Outras Eras
tarde, tornou-se um amigo querido. Boni é
poderiam ter sido feitas. O que é preciso é que
um gênio, tem uma intuição para fazer televisão que eu nunca vi. Além de outras inúexistam mais Eras. Falam em Era da internet,
meras qualidades.”
mas a forma pouco importa, estou falando de
conteúdo. É preciso que exista uma nova Era.
Gilberto Braga
A Era Boni já era. (risos) Acabou. É obrigatório
Março 2014
15
val é um espetáculo mundial, o maior da Terra, e
deve encarar isso como verdade, não como slogan,
e investir nisso. E outra coisa é fazer uma escola,
faculdade de carnaval. Eu falo que o talento é que
importa, mas tem que ter estudo. Para formar toda
a mão de obra que faz o Carnaval. O Carnaval hoje
é fruto de um esforço de poucos. O poder público
deveria olhar com mais respeito esse espetáculo.
Assim teremos algo ainda melhor.
RBFN– E como recebeu a ideia do Anizio de fazer
um enredo em sua homenagem?
Boni – Eu estou no carnaval desde 1963, trabalhando nas rádios, na televisão, fazendo coberturas, mas nunca pensei em ser enredo de carnaval.
Ainda mais da Beija-Flor de Nilópolis, a melhor das
escolas. Tenho certeza de que “Boni” não dá samba, mas aceitei feliz porque o Anizio me explicou
que é algo mais ligado à história da comunicação,
e sob essa ótica há muito que falar. Por isso, estou
esperando que a Beija-Flor faça um grande carnaval. É lógico que estou muito agradecido ao Anizio
e ao pessoal da Beija-Flor pela homenagem, porque sei que é, também, o reconhecimento público
por tudo que fizemos em favor da comunicação no
Brasil. Nosso grupo trabalhou muito para construir uma emissora líder e de padrão internacional.
Sou grato por esse reconhecimento a todos os que
fizeram a televisão brasileira. O enredo vai contar
a história da comunicação mundial e a televisão
brasileira tem um papel importantíssimo na exportação da nossa cultura.
RBFN – Gostaria de deixar uma mensagem final
para o leitor?
Boni – Sim. Eu conheço muito o trabalho que
a Beija-Flor de Nilópolis e o Anizio fazem para
a comunidade, além daquele que fazem em favor de um belo espetáculo no Carnaval. Admiro
muito essa responsabilidade social e o coração
grande que o Anizio tem, sempre aberto para a
comunidade de Nilópolis. E eu me sinto muito
feliz em fazer parte disso tudo.
“Há personagens que são verdadeiros
sinônimos. Pelé é futebol, Roberto Carlos é MPB. Luiz Carlos Barreto é cinema.
Chacrinha é comunicação popular. Boni
é televisão. Pensar na televisão brasileira é pensar em Boni. É pensar em padrão
de qualidade.”
Ricardo Amaral
16
Revista Beija-Flor de Nilópolis
“Certa vez o maior poeta americano, Walt
Whitman, escreveu que se contradizia em alguns momentos, e a razão para isso é que ele
era imenso; ele continha multidões.
Eu acho que o Boni se encaixa bem nessas palavras: em todas as dimensões da vida ele se
caracteriza por ter multidões dentro de si,
tanto como chefe de família, como profissional, pai, amigo, como amante do vinho, do carnaval, e por aí vai...
Vou-me ater à sua dimensão como homem de
comunicação.
Sem repetir conceitos já bastante conhecidos
da sua ação nessa área, gostaria de enfatizar uma convicção que tenho a respeito das
pessoas que nascem para uma vocação e, mais
ainda, aquelas que conseguem realizar a sua
vocação. São os “happy few”.
Esse é o Boni. Nasceu para a comunicação e
realizou uma das mais belas histórias nessa
área.”
Miguel Pires Gonçalves
Rede vanguarda
Em 1980, Boni assumiu a vice-presidência de
operações da Globo, função que exerceu até
1997. Nesse período, além de continuar com seu
trabalho de qualidade à frente da emissora, o
homenageado do enredo da Beija-Flor deste ano
transferiu seu talento para outro canal: a TV Vanguarda.
Tudo começou em 1988, quando as Organizações
Globo fundaram, em São José dos Campos, a TV
Globo Vale do Paraíba, primeira emissora de TV
instalada na região, tendo Boni como homem forte dessa operação. Quando completou dez anos de
existência, a emissora passou a ser chamada Vanguarda Paulista. Em 2001, o canal assumiu a marca TV Vanguarda - sem o complemento “Paulista”.
Em 2003, um novo grupo de empresários adquiriu
o controle acionário da TV Globo Vale do Paraíba
e já detinha a concessão para instalar a geradora
de Taubaté. Da união dessas duas emissoras, nasceu a Rede Vanguarda, novamente com o Astro
Iluminado da Comunicação inovando com novas
técnicas e repetindo o sonho de criar uma grande
cadeia de televisão, a exemplo do que fizera na
Globo, décadas antes. Com a nova formação, toda
a identidade visual da emissora foi alterada para
fortalecer sua presença regional. O que deu muito
certo.
Por sua contribuição ao desenvolvimento e aos
negócios da região, a Rede Vanguarda foi premiada três vezes como a melhor TV Regional do
Brasil, em 2004, em 2008 e em 2012.
www.beija-flor.com.br
RICARDO DA FONSECA
FELIPE LUCENA
“DILUIR O PODER DO CARNAVALESCO NO CARNAVAL EM UMA ÉPOCA
QUE ELES TINHAM UMA FORÇA MUITO GRANDE, NÃO SÓ NAS ESCOLAS, MAS DENTRO DA PRÓPRIA IMPRENSA, FOI UM DESAFIO QUE
ENFRENTAMOS SEM MEDO, ATÉ PORQUE SEMPRE TIVEMOS O APOIO
DA DIRETORIA DA BEIJA-FLOR.”
Todo profissional rende melhor quando tem seu
trabalho reconhecido. Partindo dessa ideia, Anizio resolver criar, em 1997, uma comissão de carnaval na Beija-Flor, extinguindo a figura centralizadora do carnavalesco na escola de Nilópolis.
Embora tenha causado um estranhamento na
época, a ideia de uma comissão não era nova.
Anizio já havia observado os resultados de uma
gerência descentralizada utilizada no Salgueiro
na década de 1960, quando nomes como Joãosinho Trinta e Rosa Magalhães ganharam força
no carnaval carioca.
Sob o guarda-chuva de Anizio, a batuta dessa
comissão foi dada ao Laíla, que se tornou diretor geral da comissão. A ideia rendeu excelentes
frutos para a agremiação nilopolitana. Nesses
quase 20 anos de belos desfiles, foram sete títulos – inclusive o de 1998, primeiro carnaval da
equipe – e seis vice-campeonatos.
18
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Desde sua criação, a comissão de carnaval já
teve muitos membros que acabaram deixando a
escola, seguindo outros rumos. Bira, um dos remanescentes da primeira formação, destaca que
a organização possibilita um melhor trabalho:
“Desde o momento de criação inicial do projeto
do ano, trabalhamos em conjunto. Isso faz com
que tudo flua muito bem. Há uma importante
interação entre cada um de nós e as ideias e
soluções que cada um apresenta, que acabam
encontrando complementação na observação de
cada integrante da Comissão”, declara.
André Cezari, membro mais recente da equipe,
frisa que o mais importante da comissão é dar
voz a quem faz o carnaval, que nunca foi feito
por um só carnavalesco: “Nós conseguimos aqui
fazer um carnaval em conjunto. Há uma harmonia. O mais importante é que todo mundo
cria, mas quando tem que decidir o que vai para
www.beija-flor.com.br
a avenida, isso é uma decisão da comissão. Às
vezes usamos um pedaço de ideia de cada um.
Somos quatro artistas e uma pesquisadora comandados pela maior figura viva do carnaval e
apoiados por uma presidência fantástica. É isso
que faz tudo dar certo. E o objetivo principal é
dar cara e voz a quem realizava as ideias de um
carnaval”, destaca.
Líder dessa verdadeira trupe de artistas, Laíla
conta que no começo não foi tão simples e que
algumas dificuldades tiveram que ser superadas: “A comissão de carnaval surgiu, dentro do
universo do carnaval, contra a vontade de muitos. Não faltou quem torcesse para ela dar errado. Sofremos pressão, eu e a comissão, mas fui
Atualmente, a comissão de carnavalescos da
Beija-Flor conta com André Cezari, Bianca
Behrends, Ubiratan Silva (Bira), Fran-Sergio,
Victor Santos e Laíla – esse no comando. No
suporte aos carnavalescos está a designer
Adriane Lins, que atua em conjunto com o
grupo atuando na parte de design e comunicação visual. Ela, que no passado integrou a
equipe da administração do barracão da Beija-Flor, é responsável pelo desenvolvimento
das ilustrações das logos, banners e camisetas
da Beija-Flor.
Na Beija-Flor, a união faz a força. Afinal, uma
casa não se ergue com uma só coluna. Tampouco uma escola – escola de samba e de vida.
encarregado de formar esse grupo e nada iria
me impedir. Quem me conhece sabe que eu dou
um boi para não entrar em uma boa briga, mas
dou uma boiada para não sair. Diluir o poder
do carnavalesco no carnaval em uma época em
que eles tinham uma força muito grande, não
só nas escolas, mas dentro da própria imprensa,
foi um desafio que enfrentamos sem medo, até
porque sempre tivemos o apoio da diretoria da
Beija-Flor. É óbvio que no começo tivemos uns
problemas por vaidades pessoais, mas eu, com
meu tato, fui acertando as coisas. Esse projeto
deu certo, e os resultados estão aí”, garante.
Laíla cercado pela Comissão de Carnaval, formada por
Bianca Behrends, Ubiratan Silva, André Cezari, Vitor
Santos e Fran Sérgio.
PERFIS
Após passar por sete escolas, André Cezari fez,
há cinco carnavais, da Beija-Flor seu porto seguro. Extremante envolvido com as manifestações culturais brasileiras, desde quando chegou
à escola André somou muito à comissão.
Formando em processamento de dados, Bira é
o mais tecnológico da comissão. Entretanto, ele
exala arte. Teve aulas de jazz e expressão corporal. Estudava teatro com Milton Cunha, que
Março 2014
19
o levou para a Beija-Flor em 1993, onde Bira se
encontrou, definitivamente, como artista.
Bianca Behrends entrou para a Beija-Flor em
2003 querendo fazer um estágio de 15 dias
para pegar o diploma da faculdade de ciências
sociais e não saiu mais. Responsável por pesquisar e levantar informações sobre os enredos,
Bianca acaba dando o pontapé inicial de todo o
trabalho do carnaval da agremiação.
Desenhista - é técnico em edificações -, Victor
Santos sempre pintou com cores fortes o seu
amor pela Beija-Flor. Após participar da primeira
comissão, deixou a escola no ano seguinte (1998),
mas depois de poucos anos no carnaval de São
Paulo voltou para a agremiação de Nilópolis.
Arquiteto, Fran-Sérgio nasceu em Nilópolis.
Como sempre amou os desfiles de carnaval e
desde criança queria trabalhar na Beija-Flor,
vislumbrou no carnaval uma esquina entre sua
formação acadêmica e sua paixão de infância,
agregando muito valor à comissão de carnaval
com suas técnicas de desenho.
Não dá para dizer que Laíla entrou para o carnaval em determinada data. O maior espetáculo da terra está na essência do diretor geral da
20
Revista Beija-Flor de Nilópolis
comissão de carnaval da Beija-Flor. Entretanto,
aos oito anos criou uma escola mirim (Independentes da Ladeira), e aos 13 anos, em 1953,
defendeu um samba de Duduca no Salgueiro,
ficando em segundo lugar. Sete anos depois, fez
seu primeiro desfile, ainda na Av. Rio Branco.
Laíla fazia parte da harmonia do Salgueiro e
lá permaneceu até 1975, quando passou a integrar a equipe da Beija-Flor. Logo de cara foi
tricampeão (1976, 77 e 78). Na sequência foi
determinante para os títulos seguintes da Azul
e Branco de Nilópolis, que se agigantou nos últimos anos sob sua valiosa coordenação. Entre
os muitos presentes que Laíla deu ao carnaval
estão a competente coordenação da comissão
da Beija-Flor e a produção dos CDs de sambas-enredos das escolas. Por essas e outras é impossível resumir a maior personalidade viva do
carnaval em poucas linhas.
O grande homenageado do Carnaval da Beija-Flor de
Nilópolis, Boni, afetuosamente recebido por Ricardo
Abrão, Claudinho, Farid Abrão, Laíla e Selminha Sorriso.
www.beija-flor.com.br
RICARDO DA FONSECA
“DECIDI VOLTAR, ENTÃO, POR DIVERSAS RAZÕES, ENTRE ELAS
PORQUE O ENREDO DESSE ANO É UMA HOMENAGEM A UM
AMIGO MUITO QUERIDO E QUE RESPEITAMOS MUITO: O BONI. E
É COM ESSE AMOR E CARINHO QUE EU VOU PRA AVENIDA.”
Uma escola de samba vencedora é o somatório
de muitos detalhes – pequenos que se tornam
grandes, ocultos que se tornam visíveis aos que
têm o olhar atento.
Para muitos admiradores dessa grandiosa celebração popular pode parecer que somente ações
e iniciativas grandiosas e mirabolantes fazem a
diferença na busca de um título. Mas quem visita o barracão da Beija-Flor de Nilópolis e acompanha os detalhes nos carros e nas fantasias
sabe que não é bem assim: uma escola de samba vencedora, antes de mais nada, se faz com
espírito de campeã, onde seus componentes são
alimentados por uma energia que é transmitida em pequenos detalhes. Carros alegóricos e
fantasias bem feitas, desenvolvidas com cuidado e carinho, repleta de enfeites de material de
qualidade transmitem para os componentes um
22
Revista Beija-Flor de Nilópolis
nível de confiança que repercute na avenida,
anda que esses detalhes se façam invisíveis pela
distância dos foliões nas arquibancadas, frisas e
camarotes.
Mas é assim que o carnaval carioca funciona:
detalhes aparentemente imperceptíveis transformam. Contagiam. E vencem campeonatos.
Detalhes como a presença de sorriso iluminado
da Destaque principal do carro abre-alas, Fabíola David, que contagia e ilumina a avenida pedindo passagem para a agremiação nilopolitana.
Para quem desfila pela Azul e Branco nilopolitana sabe o que significa ter Fabíola à frente do
desfile como Destaque no abre-alas. Sua energia e animação – e sua disposição para sambar
incansavelmente com graça e leveza durante o
tempo de apresentação – não só contagiam os
componentes como, com sua presença de sorwww.beija-flor.com.br
riso largo, envolve com simpatia o público presente nas arquibancadas e nos camarotes. E um
detalhe interessante pode ser notado por quem
busca observar os detalhes de um desfile: essa
simpatia de Fabíola ao receber e reverenciar
o público tem um efeito interessante. Os que
gostam da agremiação se sentem envolvidos e
reconhecidos numa troca de sorrisos e energia.
E os que, carregando ideias preconcebidas, não
gostam da Azul e Branco de Nilópolis se sentem
desconfortáveis ao serem cumprimentados com
a simpatia da
Destaque. E acabam
despertando,
em segundos,
para o fato de
que a Beija-Flor
não é uma inimiga a
se torcer contra e sim
mais uma escola de
samba, formada de
pessoas do bem e
que busca dar o melhor de si para apresentar um espetáculo
de beleza a harmonia
a todo esse público. E
essa recepção simpática e afetuosa dá certo: a
cada ano o público se aproxima mais da Beija-Flor de
Nilópolis e torce para que a
agremiação faça um belíssimo
espetáculo.
E porque identificamos esse papel
único e fundamental que Fabíola David exerce à frente da agremiação nilopolitana, a revista Beija-Flor de Nilópolis foi à sua
casa, em Copacabana, para um conversa rápida
onde ela pôde contar um pouco de sua vida e de
como se sente tendo esse privilégio de ser a estrela-norte da maior escola de samba do planeta.
RBFN — Como foi seu início no Carnaval?
Fabíola David — Sempre gostei de carnaval, e em
1989 fiz o meu primeiro desfile na Beija-Flor com
o enredo “Ratos e urubus larguem minha fantasia”.
Foi uma emoção muito grande porque não tinha
ideia de como é mágico estar na avenida. Todas
aquelas vozes cantando em uníssono “Xepá, de lá
pra cá xepei. Sou na vida um mendigo. Da folia eu
sou rei”. Foi muito emocionante e tive a certeza de
que estava vivendo um momento que deveria se
repetir. E se repetiu. Até que em 1992,
com o enredo “Um Ponto de Luz na
24
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Imensidão”, desfilei como
Destaque principal no
carro abre-alas com a
fantasia “um ponto de
luz”.
RBFN — Nos últimos
anos você reinou absoluta como Destaque
do abre-alas. Mas
em alguns anos, por
razões
variadas,
você não desfilou. Sentiu que
faz falta para a
Beija-Flor?
FD — Eu não tinha noção de como era importante eu desfilar. Quando me afastei do desfile,
as pessoas falavam que eu tinha que voltar, que
o abre-alas sem mim não era abre-alas, coisas
do tipo. Era comum eu ir à quadra da escola e
ouvir dos componentes ou de pessoas da comunidade que sentiam muito a minha ausência no
abre-alas e que eu devia voltar. O próprio Anizio
ficou triste quando parei de desfilar, mas ele estava em um momento muito difícil em sua vida,
e preferi não desfilar.
RBFN — Mas você voltou. Com sua simpatia e
classe, você voltou para o abre-alas. Alguma razão especial?
FD — Eu sinto muito falta do carnaval, mas mesmo não desfilando estava participando e assisti
os desfile da Beija-Flor. Não desfilei no abre-alas porque tinhas minhas razões. Hoje, depois
de refletir sobre muita coisa e avaliar muito,
achei que era hora de voltar. Minhas decisões
repercutem mais do que imaginava, inclusive
na vida de meus filhos Gabriel e Micaela. Decidi voltar, então, por diversas razões, entre elas
porque o enredo desse ano é uma homenagem
a um amigo muito querido e que respeitamos
muito: o Boni. E é com esse amor e carinho que
eu vou pra avenida. Esse enredo é mais que merecido. Mas vou desfilar também pela comunidade nilopolitana e pelo Anizio. Quando eu falei
que estaria no abre-alas, ele ficou muito feliz. E
quando vi essa alegria do Anizio, contando para
todo mundo que eu ia voltar a desfilar no abre-alas, eu fiquei muito feliz. E vi que meus filhos
também ficaram felizes. E você sabe, tudo isso
acabou me deixando mais feliz e confiante.
RBFN — Nesse ano, o abre-alas terá outra figura
ilustre chamada Micaela David. É verdade?
FD — Sim, é verdade. Minha filha vem no abre-alas. E sua participação no desfile foi um dos
motivos para eu voltar. Ela pediu para sair no
abre-alas e achei ótimo, porque esse amor ao
Carnaval e à Beija-Flor é uma coisa que queremos cultivar e manter em nossos filhos. No
carro abre-alas vou estar em um plano mais acima e ela mais abaixo de mim, ao lado da Marina, neta do Farid Abrão, e da Sophia, filha da
Cláudia Raia e do Edson Celulari. Atrás de mim,
mais alto, vai estar a minha sobrinha, a Manuela, filha da minha irmã Alessandra. Vamos estar
todas em família, misturadas, e isso me animou
também. No enredo serei a Rainha Fenícia e elas
as minhas princesas. Estou muito feliz.
O enredo de 2014 da Beija-Flor de Nilópolis aborda a história da comunicação, considerando
as necessidades da humanidade — desde os mais remotos estágios da civilização, até os dias
atuais. Seu ápice é uma homenagem ao multimídia José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o
Boni - ‘O Astro Iluminado da Comunicação Brasileira’.
A ideia do enredo partiu do patrono da agremiação de Nilópolis, Anizio Abrão David, que
é muito amigo de Boni e enxergou ali a possiblidade de oferecer ao público um belíssimo
carnaval.
A principio, Boni se esquivou e disse que a história dele por si só não daria samba. Entretanto, como ficou definido que o enredo seria baseado na história da comunicação e que
ele seria tratado como um paralelo importante de todo esse processo, o empresário aceitou.
A fusão de um grande nome da comunicação mundial com a grandeza da Beija-Flor deu um
belo samba! Só nos resta esperar o espetáculo que veremos na Sapucaí.
BONI
O ASTRO ILUMINADO
DA COMUNICACAÇÃO BRASILEIRA
SETOR 01
Os Povos da Mesopotâmia e o Dom da Palavra Escrita e Falada
DESFILE 2014
Fantasia: A Mensagem de Um Beija-Flor
Ala: Madrinha da Escola
Presidente: Cláudia Raia
Fantasia: Estratégia – O Xeque-Mate da Comunicação
Ala: Comissão de Frente
Presidente: Marcelo Misailidis
Quantidade: 15
Fantasia: Símbolos Valiosos
Ala: 1º Casal MS & PB
Presidente: Selminha Sorriso & Claudinho
Quantidade: 2
Descrição: É de máxima importância entender que este trabalho apresenta o Casal de
Mestre-Sala e Porta-Bandeira como parte
da Comissão de Frente, personagens principais na íntegra da apresentação da mesma,
e individualmente na defesa de seu quesito
28
Revista Beija-Flor de Nilópolis
específico. Este é o princípio de uma fusão
cênica de apresentações simultâneas em
personagens que atuam no mesmo quadro.
A apresentação da Comissão de Frente da
Beija-Flor de Nilópolis propõe uma abertura
na qual estabelece uma relação do homenageado com elementos de livre associação, e
com o princípio histórico da comunicação.
Boni afirma que a comunicação tem como
fundamento principal a estratégia, esta seria, para ele, uma característica indispensável para se atingir resultado entre a relação
da mensagem do locutor ao espectador. Para
traduzir esta afirmativa em imagem, sintetizemos estas informações na representação
de um jogo de xadrez, que tem por essência
o resultado a partir da estratégia, na relação
direta de como atingir ,de algum modo, o
outro; e ao mesmo tempo, a versatilidade de
adaptação estética e temática de suas peças.
Assim sendo, estes personagens ou peças do
www.beija-flor.com.br
xadrez estão caracterizados em representação temática mesopotâmica, período histórico a qual se atribui o início da escrita, prática indispensável na comunicação.
Esta ação ocorre de modo atemporal, como
se a comunicação estivesse sendo revisitada
através do olhar do nosso grande homenageado, na qual o primeiro elemento visível é um
set de filmagem, através do qual a Comissão
de Frente inicia o desfile, e insinua, ao mesmo
tempo, que tudo passaria por ele como um
filme ou transmissão que se produz ao vivo.
No bojo desta estratégia do jogo de xadrez, o
Rei e a Rainha tem como personagens principais a referência mais importante e delicada
da Escola, o próprio casal de Mestre-Sala e
Porta-Bandeira, numa alusão clara à importância de sua representatividade tanto para
a Escola, quanto para o próprio jogo e, ao
mesmo tempo, como própria estratégia de
desfile, na fusão de quesitos que coadunam
de características similares entre si, como
apresentar o pavilhão e consequentemente
a própria Escola.
O jogo propõe ao fim de sua apresentação
que tudo pode ser e significar, símbolo de
comunicação e de estratégia ao estabelecer
paralelo entre guerreiros mesopotâmicos e
os pássaros, símbolo da Agremiação Beija-Flor de Nilópolis, a mais nobre representação possível para a Comissão de Frente saudar e apresentar sua Escola.
Esta fusão na apresentação, contudo, salvaguarda a característica de cada quesito, e entende que num enredo que trata da comunicação, do seu principio histórico aos dias de
hoje, a agilidade e versatilidade são atribuições
indispensáveis, sem ferir, em tempo, algum a
importância de cada quesito apresentado, possibilitando ao julgador percebê-los na sua íntegra, tanto de modo associado à sua proposta
cênica, como individual ao mesmo tempo.
Março 2014
29
MIRO LOPES
“O GRANDE DESAFIO É QUE A BEIJA-FLOR É UMA ESCOLA QUE
TEM UMA PREDESTINAÇÃO PARA LUTAR DIRETAMENTE PELO TÍTULO. ELA TEM FORTES ADVERSÁRIOS? TEM. MAS É UMA ESCOLA TEMIDA POR TODOS. ISSO É UMA COISA QUE TENHO MUITO
CLARO DA VIVÊNCIA QUE EU TENHO POR TER TRABALHADO EM
OUTRAS ESCOLAS.”
O novo nome da comissão de frente da Beija-Flor é Marcelo Misailidis. Primeiro bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro,
Misailidis dispensa apresentações, uma vez
que é inegável o reconhecimento pelo seu
trabalho, especialmente no Carnaval. Se a
dança clássica nem passava pela cabeça daquele garoto de cinco anos quando chegou
ao Brasil com os pais – a doutora em Direito
Mirta Lerena e o químico Sérgio Misailidis
Martinez –, também coreografar para escola
de samba era impensável. O destino, senhor
de todas as decisões, logo colocou no caminho do já adolescente – disfarçada em primeira namorada – uma bailarina, e Marcelo
mergulhou nas águas do mesmo lago onde
aquele cisne branco deslizava sua leveza e
sua arte. “Aí me apaixonei por tudo aquilo,
pela namorada, por aquilo que ela fazia, por
todo aquele universo lúdico...”, revela.
30
Revista Beija-Flor de Nilópolis
RBF – Marcelo Misailidis (MM), qual é sua
especialização?
MM - Sou de formação de dança clássica,
ocupei as posições mais importantes dentro
do Brasil, fui o primeiro bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, fui diretor
artístico da companhia, dancei ao lado das
principais bailarinas nacionais e internacionais – como Ana Botafogo, Cecilia Kerche,
Nora Esteves, Áurea Hammelli, Beatriz Almeida e por aí vai. Então minha carreira foi estruturada dentro do Theatro Municipal. Minha
especialização foi orientada exclusivamente por grandes mestres que eu tive – desde
Tatiana Leskova à mestra Eugênia Feodora e
Aldo Lotufo. Tive um treinamento particular
individualizado já voltado para eu me tornar
um primeiro bailarino. Um treinamento muito puxado durante anos para estar na posição que eu cheguei. Paralelamente, surgiu
www.beija-flor.com.br
um convite para trabalhar no Carnaval. Inicialmente, achei algo muito distante do meu
foco e do meu universo, mas aceitei o desafio
porque percebi o quanto o Carnaval começava a se desenvolver e apostar em ideias novas
e ousadias. Então isso vai muito ao encontro
dessa carreira que eu tinha desenvolvido parcialmente. Balé clássico é uma dança calcada
em uma tradição muito rígida. E na ideia
de se levar isso à perfeição. Então, acho
que eram fatores disciplinares que eu
adquiri que ajudavam muito a desenvolver um bom trabalho no Carnaval,
que também precisava dessas características de ousadia e disciplina para poder fazer um espetáculo.
Como a música tem no ritmo seu fio
condutor, a dança tem na coreografia sua
espinha dorsal. Ambas, música e coreografia são, hoje, elementos indispensáveis
na apresentação da comissão
de frente, que é responsável pela apresentação da
agremiação e pela introdução do enredo.
das francas favoritas. E nunca fica fora desse páreo. Então, há uma responsabilidade em
você vir para somar, quando já se tem uma
equipe extremamente competitiva. Às vezes,
têm trabalhos que se destacam muito numa
escola porque se estabelece uma distancia
muito grande entre um trabalho que você faz e outras
coisas que acontecem.
Mas o fato – não dizendo que isso tenha
sido a tônica pelo que
já passei – é que a
Beija-Flor tem uma
equipe de qualidade
muito bem treinada
e muito disciplinada
e uma máquina extremamente profissional no
sentido de dar condições para que
essa produção
aconteça da
melhor
m a neira
RBF – Qual é o grande
desafio para você participar de um carnaval
com a Beija-Flor?
MM – O grande desafio é que a Beija-Flor
é uma escola que tem
uma predestinação
para lutar diretamente pelo título. Ela tem fortes
adversários? Tem.
Mas é uma escola temida por todos. Isso é uma
coisa que tenho
muito claro da
vivência que eu
tenho por ter
trabalhado em
outras escolas.
A Beija-Flor
sempre entra
como
uma
Março 2014
31
possível. É logico que não existe receita alguma para o sucesso, não existe nada que
diga que você, colocando determinados ingredientes, tenha o resultado de uma escola campeã. O sucesso de um espetáculo só
se vislumbra quando as cortinas se abrem,
quando as luzes se acendem. Esses sinais
também se aplicam para o desfile de uma
escola de samba: somente ao tocar aquela
sirene, abrirem os portões e a escola entrar
com todo seu potencial para defender seu
trabalho, seu enredo, é que vamos saber se
os resultados pelos esforços empreendidos
serão alcançados. Então, a Beija-Flor tem
todas essas características de alta competitividade, mas como sempre a gente tem
que se esforçar muito para render o máximo
possível.
RBF – Quantas pessoas participam da comissão de frente? Alguma peculiaridade em
termos de formação da comissão deste ano?
MM – Os componentes são simples, de comunidade, que gostam, amam e que têm
uma experiência com o Carnaval. Não há
uma especificidade. Poderiam dizer, ah, são
bailarinos, são sambistas... Não. Tem de
tudo. São pessoas que têm disposição para
trabalhar em cima de uma ideia artística e
doar seu tempo para fazer da melhor forma possível. O Carnaval tem um braço nessa
questão que se defende de forma popular.
Então, não acredito que fazendo um espetáculo extremamente técnico se consiga um
bom resultado. Pode se ter um resultado
muito pasteurizado. Então, eu acho importante ter pessoas simples, ter uma estética
natural, uma comunicação direta com o povo
também. Acho que a gente tem que tentar
trabalhar o máximo possível essa ciência
do espetáculo, essa ciência de produzir um
grande momento, mas, ao mesmo tempo, ele
tem que ter uma comunicação clara e um
espetáculo que é feito do povo para o povo.
RBF – Qual a grande novidade que você reserva para o desfile?
MM – Eu acho que a surpresa se tornou muito convencional – uma forma de procurar
um resultado em cima de um momento de
efeito mágico, de uma solução preconcebida.
32
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Acho que são fenômenos de momento. Mas
eu aposto minhas fichas no que o enredo
me pede. O enredo da comunicação. E para
isso, a gente aposta no belo, a gente aposta
numa visão poética. Numa visão daquilo que
tem identidade também com a escola. Com
o sentido do que é uma comissão de frente,
no sentido do que sempre busquei, de uma
coisa atualizada, uma coisa nova, de um produto inédito para a avenida, e não um produto que a gente já tenha uma noção de resultado. A gente não tem a menor noção de
que efeito, ou de que forma esse espetáculo
vai chegar, vai atingir o público. É um trabalho feito com extremo cuidado, com muito
carinho e muita dedicação. A gente aposta
numa coisa que também é importante. É que
é bom! Existem determinadas coisas que são
modas, que têm efeito momentâneo, e com
o tempo ninguém lembra mais. Tem aquilo
que é muito que bom, e que depois de se
passarem muitos anos ainda continua tendo
valor, continua tendo importância. Hoje em
dia, no meu trabalho, as pessoas se lembram
justamente disso, das coisas que marcaram
sua época pelo diferencial que tinham. Por
uma coisa que não tinha uma procedência
de conceito de ideia, pelo fato de serem trabalhos inéditos, e eu não saber exatamente que resultados eles iriam gerar na avenida, mas a gente trabalha para que acima
de tudo sejam trabalhos bem apresentados,
tenham um nível de profissionalismo e que,
minimamente, sejam aceitos pela qualidade
daquilo que foi trabalhado e apresentado.
RBF – Isto significa que a Beija-Flor vai comemorar seu aniversário com a vitória?
MM - Eu torço por isso porque, conhecendo a escola, acho que esse favoritismo não é
mera casualidade. É fruto de trabalho. Fruto
de dedicação de uma equipe que é comandada pelo Laíla brilhantemente, que tem a seriedade de comando do seu Anizio e de toda
equipe que participa da escola, o presidente
Farid, enfim, toda uma grande estrutura por
trás de uma grande equipe de Carnaval. É
isso, parabenizar a todos, inclusive a equipe
de barracão que é maravilhosa, no sentido
da seriedade, do resultado que se busca a
cada dia de trabalho.
www.beija-flor.com.br
Fantasia: A Escrita Milenar dos Sumérios
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Valéria Brito
Quantidade: 100
Descrição: Os sumérios desenvolveram sua
civilização na região situada entre os rios Tigre e Eufrates, conhecida como Suméria, no
sul da Mesopotâmia. Uma enorme contribuição cultural dos sumérios foi o a criação, por
volta de 4000 a.C., de uma forma de escrita
onde os sinais representavam ideias e objetos. Usavam placas de argila para imprimir
esta escrita, e muito do que sabemos atualmente, sobre este período da História, deve-se à essas placas de barro com os registros
cotidianos, econômicos, administrativos e
políticos deste período.
Alegoria 01 – Abre-Alas
“Os Povos da Mesopotâmia, o Dom das Palavras Escrita e Falada e a Fábula da Torre de
Babel”
Março 2014
33
SETOR 02
China – Registros de uma Cultura
Milenar
Fantasia: Babilônia – Comunicação com o
Céu
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Beto & Vanda
Dir. Harmonia e Desfile: Celso
Quantidade: 80
Descrição: A astrologia é uma pseudociência
que defende a ideia de que a posição dos
astros e dos corpos celestes é capaz de influenciar na personalidade das pessoas, além
de prover informações sobre as relações humanas. Tal diagnóstico seria possível através
da comunicação com o céu, viabilizada pela
observação e leitura do mapa astral e dos
signos do zodíaco. Uma das referências mais
antigas da astrologia, que tem importante
papel na formação das culturas, foi encontrada na Babilônia, na biblioteca de Assurbanipal.
Fantasia: Papiros Egípcios
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Jorge André, Leandro Figueiredo
Quantidade: 80
Descrição: Originalmente, o papiro é uma
planta, a Cyperus papyrus. No entanto, por
volta de 2500 a.C., os egípcios desenvolveram uma técnica para fabricar folhas de
papiro, considerado o precursor do papel. O
papiro pronto era, então, enrolado a uma vareta de madeira ou marfim, para criar o rolo
que seria usado para que se fizesse o registro
da escrita. Apesar da fragilidade do papiro,
importantes documentos resistiram até os
dias atuais.
Fantasia: Índia – Antigas Formas de se Comunicar
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Marcos Gomes
Quantidade: 80
Descrição: A história do mundo e da humanidade é o conjunto de registros feitos pelo
Homem desde que ele passou a ter a capacidade e as condições necessárias para efetuar
34
Revista Beija-Flor de Nilópolis
tais registros. Antes da invenção do papel,
alguns papiros eram era feitos com fibras de
bananeiras e coqueiros; além disso, na Antiguidade, na Índia, o Homem fazia os seus
registros através das folhas de bananeiras (e
palmeiras), se comunicando através de hieróglifos.
Fantasia: Pombos Correios no Azul do Céu
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Oswaldo
Quantidade: 80
Descrição: Os pombos-correios são uma variedade domesticada dos pombos comuns
que cruzavam o céu e venciam longas distâncias para entregar com sucesso as mensagens, precursores valorosos dos modernos
meios de comunicação. Foram usados para
carregar mensagens escritas e então enroladas em papeis colocados em pequenos tubos
anilhados aos pés das aves adestradas, daí o
nome pombo-correio.
Fantasia: Rei Salomão e suas Aves-Correios
Ala: Tom & Jerry
Presidente: Rogério Coutinho
Quantidade: 60
Ala: Tudo por Amor
Presidente: Élcio Chaves
Quantidade: 60
Descrição: É difícil precisar a data exata em
que se iniciou o transporte de mensagens
com a utilização de pombos-correios. No
entanto, a História apresenta, por exemplo,
registros longínquos de que mesmo o Rei
Salomão já se utilizava de tais aves para se
comunicar com os governadores de seu vasto império, transmitindo assim, suas ordens
a respeito das províncias.
Fantasia: No Ar Sinais de Fumaça
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Edson Reis
Quantidade: 80
Descrição: Os sinais de fumaça eram sistemas
de mensagens simples, usados principalmente
pelos índios nativos americanos para transmissões básicas de longas distâncias. Não
existia um código único para essas transmissões, e cada tribo tinha seu próprio sistema,
www.beija-flor.com.br
sendo que o significado da mensagem era
pré-determinado, e conhecido somente pelo
remetente e pelo destinatário do sinal.
Fantasia: A Invenção do Papel
Ala: Cabulosos
Presidente: Dora
Quantidade: 60
Ala: É Nessa Que Eu Vou
Presidente: Hélio Malveira
Quantidade: 60
Descrição: O papel foi inventado na China cerca de 3.000 anos depois que os
antigos egípcios usaram o papiro para
a escrita. Foi um oficial
do governo chinês que
conseguiu produzir
papel ao misturar fibras vegetais, embora
descobertas recentes
de papeis em túmulos chineses muito antigos, apontem que
a China fabrica papel desde os últimos
séculos antes da Era Cristã. A invenção
do papel e a impressão dos caracteres
chineses, possibilitou a difusão do conhecimento entre a elite alfabetizada
chinesa e a aristocracia.
Fantasia: O Papel da China
Ala: Baianinhas
Diretor de Desfile: Patrícia Bento
Quantidade: 80
Descrição: Desde os tempos antigos, a incrível e colorida cultura
chinesa enfatiza um profundo senso histórico e uma forte perspectiva nacional, vislumbrados, por
exemplo, através da caligrafia
– considerada uma forma superior de arte que teve seu desenvolvimento possibilitado
graças à invenção do papel –
e de símbolos clássicos, como
o dragão chinês, símbolo da
sabedoria.
Alegoria 02
“China – Registros de uma
Cultura Milenar”
Março 2014
35
SETOR 03
Hermes – O Mensageiro dos Deuses
Fantasia: Telégrafo
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Wanderson & Marcelo
Dir. Harmonia e Desfile: Sérgio Sá
Quantidade: 80
Descrição: O telégrafo foi um sistema concebido para transmitir mensagens de um ponto para outro vencendo grandes distâncias
e utilizando códigos que assegurassem uma
transmissão rápida e confiável. Inventado
em 1830 pelo estadunidense Samuel Morse, foi o principal sistema de comunicação
a longa distância do século XIX e início do
século XX. Surgiu no Brasil em 1857, sendo
o chamado Código Morse, o principal código
utilizado pelos telégrafos.
Fantasia: 1a. Edição do Jornal Alemão
Ala: 1001 Noites
Presidente: Luiz Figueira
Quantidade: 60
Ala: Vamos Nessa
Presidente: Tuninho
Quantidade: 60
Descrição: Jornal é um meio de comunicação impresso e de massas, cujas as características principais são o uso de “papel de
imprensa”, a linguagem própria, dita jornalística, e a abordagem tanto de assuntos
diversos como de conteúdo especializado. O
primeiro jornal em papel foi publicado em
713 d. C., no entanto, apartir do século XVII,
começaram a surgir as primeiras publicações
periódicas e frequentes em países da Europa,
como a Alemanha, que produziu o primeiro jornal impresso diário no mundo. Nessa
época, os jornais traziam principalmente notícias da Europa, e de vez em quando, informações vindas da América ou Ásia.
Fantasia: Telefone
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Rosângela
Quantidade: 80
Descrição: O telefone é um dispositivo de telecomunicações desenhado para transmitir
36
Revista Beija-Flor de Nilópolis
sons por meio de sinais elétricos nas vias telefônicas, permitindo a troca de informações
(falada e ouvida) entre dois ou mais assinantes. O verdadeiro inventor do “telégrafo
falante” foi Antonio Meucci, que criou o telefone em virtude da necessidade de facilitar
a comunicação com sua esposa doente, que
ficava acamada no andar superior, enquanto o seu laboratório se localizava no térreo.
Meucci vendeu a patente do aparelho para
Alexander Graham Bell após a transmissão
oficial da primeira mensagem.
Fantasia: Acta Diurna Romana
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Iara e Sérgio
Quantidade: 80
Descrição: Acta Diurna é o título do primeiro
jornal conhecido, e sua criação foi uma iniciativa do líder e general romano Júlio César,
no ano de 69 a.C.. Esculpida em metal ou
pedra, o boletim de anúncios do governo tinha por objetivo divulgar e tornar públicos
os principais acontecimentos da então República, através de tábuas fixadas nos muros
das principais localidades, incluindo a residência do pontífice, cargo político-religioso
exercido por Júlio César.
Fantasia: O Discurso e a Retórica Gregos
Ala: Signus
Presidente: Débora Rosa
Quantidade: 60
Ala: Jovem Flu
Presidente: Sérgo Ayub
Quantidade: 60
Descrição: A retórica é a arte ou a técnica de
bem falar, a arte de usar uma linguagem para
se comunicar de forma eficaz e persuasiva. Os
discursos e a retórica foram desenvolvidos nos
círculos políticos e judiciais da Grécia antiga,
especialmente na cidade de Atenas. Inicialmente, a intenção era treinar oradores e escritores para convencer a quem fosse necessário
nas audiências, mediante a elucidação de seus
argumentos. Todavia, a contribuição grega no
desenvolvimento da arte de bem falar foi tamanha, que influencia a lógica, a dialética e
a capacidade de argumentação e persuasão
nas oratórias mesmo nos dias atuais.
www.beija-flor.com.br
Alegoria 03
“Hermes – O Mensageiro dos Deuses”
SETOR 04
A Sagrada Família – Arquitetura Também é Comunicação
Fantasia: Vinhos – Um Brinde à Sofisticação
Ala: Barracão
Diretor de Desfile: Léo Mídia
Dir. Harmonia e Desfile: Chopp e Enio
Quantidade: 80
Descrição: Boni é um apaixonado
e conhecedor emérito de vinhos.
Grande apreciador dos melhores
e mais sofisticados produtos disponíveis no mercado mundial,
Boni detém especial predileção
por vinhos italianos, e gosta
de degustá-los apreciando
um bom polpetonne. Isaías,
seu avô espanhol, foi um intelectual que importou vinhos
quando ninguém bebia vinho no
Brasil, mas infelizmente acabou
bebendo o próprio negócio.
Fantasia: O Requinte da Gastronomia
Presidente: Christina
Leite
Quantidade: 100
Descrição: A gastronomia
nasceu do prazer proporcionado pela comida,
e constituiu-se como
a arte de cozinhar e associar os alimentos para
deles retirar o máximo sabor
e benefício. Desde a incansácel
busca por especiarias , até a invenção de diversos utensílios e
acessórios de cozinha, o prazer
de cozinhar e comer bem continua estimulando o requinte da gastronomia e os aspectos culturais à ela
associados. Um gastrônomo (ou gourmet, em francês) pode ser um cozinheiro
especializado ou ainda uma pessoa que
aprecia o refinamento da alimentação,
como é o caso de Boni, que conhecedor
e apaixonado pelo tema, se aventurou
até a escrever um livro fornecendo
roteiros gastronômicos.
Fantasia: A Emoção Projetada em Branco e
Preto
Ala: 2º Casal de MS & PB
Presidente: David Sabiá & Fernanda Love
Quantidade: 2
Ala: 3º Casal de MS & PB
Presidente: Yurii Hallss & Emanuelle Martins
Quantidade: 2
Ala: 4º Casal de MS & PB
Presidente: Hugo César & Naninha Fidellys
Quantidade: 2
Descrição: Oficialmente nascido em dezembro de 1895, cinema é a técnica e a arte de
fixar e de reproduzir imagens que suscitam
a impressão de movimento, bem como a indústria que produz estas imagens. É a imagem animada que confere aos filmes o seu
poder de comunicação universal, e dada a
grande diversidade de idiomas existentes, é
pela dublagem e/ou pelas legendas, que os
diálogos são traduzidos em outras línguas,
tornando os filmes mundialmente populares.
Arte apaixonante e que encanta multidões, é
agradável fonte de entretenimento, capaz de
exercer influência sobre as pessoas e formar
opiniões. A sétima arte é uma das paixões e
fonte de inspiração do Boni.
Fantasia: Fina Película
Ala: Musa das Passistas
Presidente: Charlene Costa
Quantidade: 1
Fantasia: Artistas do Cinema Mudo
Ala: Passistas
Diretor de Desfile: Patick Carvalho
Quantidade: 150
Descrição: Nos primórdios da história do cinema, os filmes não eram seguidos por uma
sonoridade condizente com as imagens em
desfile nas telas, mas isso não significa que
eles eram partidários do silêncio absoluto.
Um filme mudo é um filme que não possui a
trilha sonora de acompanhamento que corresponde diretamente às imagens exibidas,
sendo esta lacuna substituída normalmente por músicas ou rudimentares efeitos so-
noros executados no momento da exibição.
Nos filmes mudos para o entretenimento, o
diálogo dos garbosos artistas é transmitido
através de gestos suaves, mímica e letreiros
explicativos.
Ala: Intérprete
Presidente: Neguinho da Beija-Flor
Quantidade: 1
Descrição:
Fantasia: Carlitos e a Violeteira
Ala: Personalidades
Presidente: Boni e Esposa
Quantidade: 2
Descrição: Boni é um exímio líder em comunicação. E liderança é comunicação humana
na sua própria essência, visto que é impossível liderar sem se comunicar; é a liderança
que legitima o comando, por meio do consentimento. Boni, uma personalidade inspiradora, um gênio multimídia, considerado o
astro iluminado da comunicação brasileira,
representará um personagem genial imortalizado nas telas e nos nossos corações, o inigualável Carlitos, com quem tem em comum,
as maneiras refinadas e a dignidade de um
cavalheiro; enquanto sua esposa, Lou de Oliveira, representará La Violetera.
“Chaplin não foi apenas ‘grande’, ele foi giganteso”. Por sua inigualável contribuição ao
desenvolvimento da sétima arte, Chaplin é
o mais homenageado cineasta de todos os
tempos, sendo ainda em vida condecorado
pelos governos britânico e francês. Boni,
que também é grandioso na sua colaboração para a história da comunicação no Brasil,
receberá honrarias da Corte do Carnaval na
Avenida Marquês de Sapucaí, sendo nomeado nobre folião.
Fantasia: Diva do Cinema
Ala: Rainha de Bateria
Presidente: Raíssa Oliveira
Quantidade: 1
Descrição:
Fantasia: Chaplin é um Espetáculo!
Ala: Bateria
Presidente: Mestres Rodney & Plínio
Quantidade: 260
Março 2014
39
Descrição: Sir Charles Spencer Chaplin, mais
conhecido como Charlie Chaplin, foi um ator,
diretor, produtor, humorista, empresário, escritor, comediante, dançarino, roteirista e
músico britânico. Um dos atores mais famosos da Era do Cinema Mudo, notabilizado pelo uso de mímica e da comédia gênero pastelão, ficou bastante conhecido pelos
seus filmes no mundo inteiro, e é considerado por alguns críticos o maior artista cinematográfico de todos os tempos, e ainda um
dos “pais do cinema”.
Ao longo de uma carreira que durou mais
de 75 anos, Chaplin atuou, dirigiu, escreveu,
produziu e financiou seus próprios filmes,
sendo o seu principal e mais famoso personagem o The Tramp, conhecido Carlitos ou “O
Vagabundo” no Brasil; um andarilho pobretão que possui todas as maneiras refinadas
e a dignidade de um cavalheiro (gentleman),
e usava um fraque preto esgarçado, calças
e sapatos desgastados e mais largos que o
seu número e um chapéu-coco, além de sua
marca pessoal: um bigodinho característico,
denominado pequeno bigode-de-broxa.
Nem mesmo o advento do som ofuscou ou
apagou da história este período inesquecível
da trajetória do Cinema, que revelou atores
do gabarito de Charlie Chaplin. Na Era do
Cinema Mudo, é a Bateria que garante uma
trilha sonora contagiante, ratificando que
Chaplin, por si só, é um espetáculo!
Fantasia: A Sétima Arte Desperta Paixão
Ala: Baianas
Diretor de Desfile: Luizinho Cabulosos, Márcio e Rodrigo
Quantidade: 80
Descrição: Cinema é a técnica e a arte de
fixar e de reproduzir imagens que suscitam
impressão de movimento, bem como a indústria que produz estas imagens. A origem
da palavra “cinema” deve-se à circunstância
de ter sido o cinematógrafo o primeiro equipamento utilizado para filmar e projetar. Por
metonímia, a palavra também se refere à
sala onde são projetadas as obras cinematográficas. Devido ao fato de seu avô Isaís ter
sido dono de cinema durante certo tempo, e
por ter tido uma namoradinha na juventude
cujo o pai era um dos donos do único cinema
local, Boni tinha passe livre para todas as
sessões, com o direito de ver as montagens
dos filmes na cabine de projeção.
Fantasia: A Elegância Cinematográfica da
Plateia
Ala: Damas
Diretor de Desfile: Francinete, Ricardo &
Shirleise
Quantidade: 80
Descrição: O cinema é uma arte poderosa, e
uma fonte de entretenimento popular que
muitas vezes se propõe a exercitar a capacidade de reflexão, a educar ou doutrinar,
podendo se tornar um método eficaz de influenciar os cidadãos e formar opinião. É a
imagem animada que confere aos filmes o
seu poder de comunicação universal, e diferentemente dos dias atuais, onde as pessoas
frequentam as salas de exibição com vestes
mais despojadas, há décadas atrás, o público que ia ao cinema era mais seleto, e justamente por isso, usava uma indumentária
mais distinta e elegante.
Fantasia: A Origem Espanhola de um
Ilustre Brasileiro
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Alessandra
Oliveira
Quantidade: 80
Descrição: A família de José
Bonifácio de Oliveira Sobrinho,
o Boni, é, em grande parte, de origem espanhola: por parte de mãe, é toda espanhola
(mistura dos Fernandes Prado), e por parte
de pai, metade espanhola e metade portuguesa (Os Toledo e Oliveira). Conduzidos
pela tradição espanhola, toureiros e dançarinos flamencos, ícones culturais, representam
as características familiares tão intrínsecas
ao comportamento e ao modo de ser espanhol, herdadas por Boni, tais como a educação, a intelectualidade, a coragem, o gosto
pelas artes, a fibra e a determinação para o
trabalho.
Alegoria 04
“A Sagrada Família – Arquitetura Também é
Comunicação”
41
SETOR 05
Publicidade – Histórias e Estórias da
Comunicação
Fantasia: Pinturas em Volantes
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Rosana & Marcos
Dir. Harmonia e Desfile: Marcelo e Waldemir
Quantidade: 80
Descrição: Com relação à história da publicidade no mundo, pintura em muros ou rochas, utilizadas como propagandas,também
eram formas de publicidade encontradas
no tempo antigo, e utilizadas até hoje, em
várias partes do mundo, destacando-se as
pinturas desenvolvidas nos séculos XV e XVI,
que auxiliavam a divulgação de volantes na
época.
Fantasia: Jingles – O Sucesso dos Anúncios
Comerciais
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Luciana
Quantidade: 80
Descrição: Quando ainda era um menino
e tomava conta de uma agência funerária,
Boni vendia anúncios fúnebres para rádios
e jornais da época, o que comprova que seu
talento na área de publicidade e propaganda
vem de cedo, sendo posteriormente revelado através da criação de jingles; mensagens
publicitárias musicadas e elaboradas normalmente com viés emotivo, rimas, refrão
simples e de curta duração (o que facilita a
memorização). Os jingles são elaborados exclusivamente para um produto ou empresa,
e seu sucesso enquanto anúncios comerciais
dependem de basicamente de inspiração e
criatividade. No Brasil, também é conhecido
como vinheta.
seu tio, Reynaldo de Oliveira – um apaixonado por política, e o homem que o ensinou a
ler e escrever – por vezes o arrastou durante as madrugadas para colocar cartazes de
propaganda em postes e muros ao longo das
ruas da cidade.
Fantasia: Galo – Simbolo da Comunicação,
Publicidade e Propaganda
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Robson
Quantidade: 80
Descrição: O galo é o macho da galinha, sendo que a ave possui cristas maiores, e penas brilhantes no pescoço, asas e costas. É
considerado o símbolo da Comunicação, Publicidade e Propaganda , visto que o animal
acorda bem cedo, e canta para fazer alarde,
anunciando o amanhecer e a chegada de um
novo dia. Representa a figura do comunicador por ser ele o grande comunicador, o
grande propagandista do raiar do dia, e a
publicidade pela comparação de que deve-se
anunciar com antecedência e de forma mais
eficiente que os concorrentes.
Alegoria 05
“Publicidade – Histórias e Estórias da Comunicação”
Fantasia: Cartazes em Postes
Ala: Borboletas
Presidente: Néia Nocciole
Quantidade: 60
Ala: Dá Mais Vida
Presidente: Ana Mascarenhas
Quantidade: 60
Descrição: Quando Boni ainda era garoto,
42
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
SETOR 06
A Era do Rádio – Em Sintonia Seja
Onde For
Fantasia: Cabine de Controle das Rádios
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Kátia
Dir. Harmonia e Desfile: Fábio Francisca e
Saulo
Quantidade: 80
Descrição: A afeição e o envolvimento de
Boni com o rádio começou quando ele ainda
era criança. Seu pai era bom de violão e ganhava algum dinheiro como acompanhante
de calouros na Rádio Cultura de São Paulo.
Muitas vezes Boni o levava para assistir aos
programas, e ele ficava ali sentadinho na cabine de controle, fascinado com os botões e
com os roteiros dos programas que, então,
começou a colecionar. Foi nesse momento
que o rádio entrou direto na sua veia.
Fantasia: 1a. Transmissão de Rádio no Mundo
Ala: Dos Cem
Presidente: Terezinha Simões
Quantidade: 60
Ala: Amar é Viver
Presidente: Terezinha Alves
Quantidade: 60
Descrição: Em 1896, Guglielmo Marconi, baseando-se nas descobertas feitas por esses
cientistas, conseguiu realizar a transmissão
e recepção de sinais a uma curta distância.
Esse feito o fez ser reconhecido como o inventor do rádio. Porém, em 1893, o padre
brasileiro Roberto Landell de Moura já havia construído e apresentado ao público vários aparelhos de comunicação a distância,
recebendo do governo brasileiro, em 1900,
a carta patente no. 3279, que reconhecia o
pioneirismo de seus inventos, sendo reconhecido como o responsável pela 1ª transmissão civil brasileira.
Fantasia: Escola de Rádio – A Busca pelo Conhecimento
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Rosimere & Cláudia
Quantidade: 80
Descrição: Em 1934, Edgard Roquette-Pinto
fundou a Rádio Escola Municipal do Rio de
Janeiro, emissora de caráter estritamente educacional atuando nos vários níveis
de ensino, que posteriormente passou a se
denominar Rádio Roquette-Pinto, homena-
geando seu fundador e idealizador. Quando
Boni ainda era rapaz, Dias Gomes o encaminhou para a escola de rádio da prefeitura
do Rio de Janeiro, então instalada na Rádio
Roquette Pinto. Lá, Boni teve a oportunidade
de fazer de tudo um pouco: foi locutor, apresentador, escreveu textos, operou a mesa de
controle e até selecionou músicas para a sonoplastia. Embora não fosse exatamente o
que ele queria, Boni sabia que se tratava de
um importante aprendizado.
Fantasia: Redator – O Dom de Criar e Informar
Ala: Amigos do Rei
Presidente: Presidência
Quantidade: 120
Descrição: Fundada 12 de setembro de 1936,
a Rádio Nacional é uma das mais importan-
tes emissoras da história do rádio brasileiro, sendo que por volta de 1950, era o mais
importante veículo de comunicação do país.
Emissora diferenciada e líder de audiência,
em matéria de popularidade, a Rádio Nacional era o máximo! O convite inesperado feito
à Boni por publicitários, para trabalhar na
Rádio Nacional, trouxe felicidade e a oportunidade de conhecer o Mestre Manoel de
Nóbrega, um dos pilares da Rádio Nacional,
de quem se tornou assistente, para aprender
a escrever com ele. Lá Boni trabalhou como
redator, escrevendo textos e quadrinhos humorísticos para o Programa Manoel de Nóbrega.
Alegoria 06
“A Era do Rádio – Em Sintonia Seja Onde For”
O ESCULTOR DO TURBANTE
O empregado mais antigo do barracão da Beija-Flor em atividade é Seu Jaime Bahia. O segundo
é Jorge “Turbante” Costa. Aquele na carpintaria, completa 60 anos na
Azul e Branco; este na
escultura desde 1969.
Seus conhecimentos com
a escultura são vocacionais, mas exercidos
amadoristicamente. Jorge chegou trazido pelo
irmão, incentivador e
mestre nessa arte, o escultor Antônio, que acreditava no seu talento, e
ao surgiu a oportunidade de lhe abrir as portas
do antigo barracão para
se profissionalizar não
titubeou. São 45 anos
fazendo escultura para
a Beija-Flor. E naqueles primeiros dias, Jorge
passou usar o turbante
que virou marca registrada. “Ele me traz sorte”, afirma convicto. Não sabe bem como surgiu
essa ideia, nem como aprendeu a arte de armá-
-lo com tanta habilidade. Agilidade nas mãos e
perfeição da montagem sem auxílio do espelho.
Quando está na Passarela
até o público grita pelo
“Olha o Turbante, minha
gente!” sem imaginar que
esse seja seu apelido.
Amante do futebol, flamenguista, Turbante é
goleiro nas peladas de
Ricardo de Albuquerque,
onde mora. Amante dos
livros, tem em “Negras
Raízes”, de Alex Haley,
sua leitura preferida, que
inspirou o nome da filha
Kisse Bel, que é universitária. São também de
personagens da literatura
os nomes de Simmon, o
primogênito e oficial dos
Bombeiros, e Karl Joshua,
o caçula que está se alfabetizando. Casado com
Valéria Deusa, atualmente
Turbante curte a aposentadoria como oficial militar e o prazer de fazer esculturas para a Princesa
da Passarela.
SETOR 07
Televisão – A Emoção Está no Ar
Fantasia: TV Chuvisco
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Simone
Dir. Harmonia e Desfile: Helinho e Luiz Grande
Quantidade: 80
Descrição: Antigamente, quando as tecnologias ligadas à comunicação não eram muito
avançadas e eram frequentes os problemas
de falha de sinal na transmissão da programação dos canais de TV, as telas dos aparelhos televisores ficavam repletas de chuviscos, uma espécie de “pontinhos espaçados”,
em rápido movimento, o que deixava a imagem da tela absolutamente gris (cinzenta).
Fantasia: TV TUPI
Ala: Crianças
Diretor de Desfile: Lucy, Márcia, Guisela e
Luciana Araújo
Quantidade: 100
Descrição: A TV Tupi foi a primeira emissora de televisão do Brasil, da América do Sul
e a quarta do mundo. Fundada em 18 de
setembro de 1950, em São Paulo, por Assis
Chateaudbriand, fez parte do Grupo Diários
Associados, um conglomerado de empresas
de mídia do Brasil. “Chatô” adorava índios,
daí o logotipo da TV Tupi ser um curumim
tupiniquim (pertencente à nação Tupi) com
uma antena na cabeça, no lugar do penacho.
Na década de 1980, devido à vários problemas administrativos e financeiros, a concessão foi cassada pelo governo brasileiro e a
emissora saiu do ar.
Fantasia: Televisão – O Show em Preto e
Branco
Ala: Casarão das Artes
Presidente: Graça Oliveira
Quantidade: 120
Descrição: A televisão, do grego tele – distante, e do latim visione – visão, é um sistema eletrônico de reprodução de imagens e
som de forma instantânea. Foi Assis Chateaubriand o responsável pela introdução da
televisão no Brasil, fundando, na década de
1950, o primeiro canal de TV no país, daí
a ser chamado de “o pai da televisão brasileira”. Desde então, a televisão, que naquela época ainda era transmitida em preto
e branco, cresceu e se desenvolveu muito,
e hoje representa um fator importante na
cultura popular moderna da sociedade brasileira.
Fantasia: Não Me Leve a Mal... Hoje é Carnaval
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Vitor, Luiz (Pai de Santo) e
André Messias
Quantidade: 80
Descrição: Há relatos de uma passagem
curiosa envolvendo o Boni e a festa popular
do carnaval: Quando Boni estava se transferindo do Telecentro (que estava se desmantelando) para a Rede Globo, teve um
encontro com o Sr. João Calmon na manhã
do sábado de carnaval. Como o carnaval não
era uma produção do Telecentro, mas sim da
TV Tupi do Rio, a reunião pôde ser realizar
sem problemas. As coisas estavam complicadas no Telecentro e não haviam encontrado
nenhum caminho para solucionar a situação,
e com isso, Boni comunicou que, ao término
de seu contrato, iria para a Rede Globo, sem
mais discussão. Insatisfeito com a decisão
46
Revista Beija-Flor de Nilópolis
de Boni, Calmon fez uma citação maldosa,
a qual foi prontamente respondida por Boni,
que aproveitou o refrão da marcha-rancho
“Máscara Negra”, que havia utilizado no
programa Black and White, hino do carnaval de 1967, e deu uma de Chacrinha, proferindo a seguinte frase: “Dr. Calmon, não me
leve a mal... hoje é Carnaval. A sua careca... é
raspada ou é natural?”
Fantasia: Na Mira da Censura
Ala: Comunidade
Quantidade: 20
Descrição: As chacretes eram as assistentes
de palco do programa do Chacrinha. A presença delas causava furor nas gravações do
programa e por onde passavam, sendo que
devido ao figurino sensual e às coreografias
provacantes, estavam sempre na mira da
censura.
Dentre as diversas moças que ocuparam a vaga
www.beija-flor.com.br
ao longo de vários anos de programa, Rita Cadillac até hoje é a dançarina mais conhecidas
de todas. Após o fim do programa, a vida das
ex-chacretes já foi retratada tanto em documentários quanto na ficção (telenovelas).
Fantasia: Televisão em Cores
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Jonathan Maciel & André
Balga
Quantidade: 80
Descrição: A Televisão em cores ou televisão
a cores, se refere à tecnologia de radiodifusão de sinal de televisão, e à reprodução de
imagens em movimento a cores. José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha, grande
comunicador da televisão brasileira, também
chamado de Velho Guerreiro, fez enorme sucesso como apresentador de programas de
calouros com a presença de auditório, dos
anos 1950 aos 1980. Dono de um humor de-
bochado e autor da frase célebre: “Na televisão, nada se cria, tudo se copia”, tornou-se
referência nacional de popularidade, sendo o
personagem escolhido para representar a TV
em cores. Se apresentava sempre com roupas coloridas, engraçadas e espalhafatosas,
empregando bordões e expressões que se
tornaram uma febre, e acionando uma buzina de mão para desclassificar os calouros
desprovidos de talento.
Fantasia: Ao Vivo e a Cores
Ala: Musa
Presidente: Jaque Faria
Fantasia: Diretor de Televisão
Ala: Destaque de Chão
Presidente: Jorge Fernando
Alegoria 07
“Televisão – A Emoção Está no Ar”
Março 2014
47
SETOR 08
O Mundo na Rede em Tempo Real – O
Futuro da Comunicação
Fantasia: Fábrica de Sonhos – Novelas Conquistando o Mundo
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Mariza
Dir. Harmonia e Desfile: Cláudio e Binho
Quantidade: 80
Descrição: As origens da novela, enquanto
gênero literário, remontam aos primórdios do
Renascimento. Já a telenovela, é uma história
de ficção desenvolvida para ser veiculada na
televisão, onde a trama é dividida em capítulos, sendo que o capítulo seguinte é sempre a
continuação do anterior. A exibição dura em
média de seis a dez meses, apresentada em
episódios diários, com cerca de uma hora de
duração. O sentido geral da estória é introduzido logo no primeiro capítulo. As novelas
brasileiras – que abriram um importante espaço no mercado de trabalho para os artistas e demais profissionais de televisão – são
sucesso absoluto, a ponto das obras terem
se transformando em importante produto de
exportação, sendo traduzidas para diversos
idiomas e levando o nome do Brasil aos quatro cantos do mundo, processo que teve início
com a trama “Escrava Isaura” (1976).
Fantasia: O Fantástico Show da Vida
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Baixinho & Norma
Quantidade: 80
Descrição: Os programas jornalísticos são
essenciais na programação televisiva, ofertando entretenimento, informação e prestação de serviço público à população, funcionando como uma janela para o mundo.
Dentre eles, destaca-se o programa Fantástico, (inicialmente chamado de Fantástico,
O Show da Vida), um programa da televisão
brasileira exibido aos domingos. Criado por
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, estreou
em 1973, estando no ar há 40 anos. Diversos
apresentadores já passaram pelo programa,
cuja música de abertura é de autoria de Guto
Graça Mello, com letra de Boni. As tradicionais vinhetas de abertura escreveram um
48
Revista Beija-Flor de Nilópolis
capítulo à parte na história da TV brasileira,
numa apresentação onde a música, as coreografias e os elementos gráficos (desde o
palco até os grafismos em 3D) pontuavam a
evolução do show da vida, com a apresentação de figurinos futuristas e muita ousadia.
Fantasia: TV e Redes Sociais – A Integração
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Ivone
Quantidade: 80
Descrição: O aperfeiçoamento progressivo das
tecnologias da informação e dos processos de
comunicação entre os homens faz com que
seja dado um valor imenso à notícia imediata,
já que, cada vez mais, as pessoas precisam de
uma maior quantidade de informações, num
menor espaço de tempo. Com isso, a interação entre a televisão e as redes sociais é uma
relação que se tornou vital para a disseminação da informação. Muitas vezes a notícia é
divulgada na televisão ao vivo e na internet
ao mesmo, mantendo as pessoas informadas
e conectadas on-line, full time.
Fantasia: Imagem em Nova Dimensão
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Mangueira
Quantidade: 80
Descrição: Atualmente, no mundo globalizado em que vivemos, é cada vez mais frenético o processo de urgência em aderir o novo.
Compreendido isso, é salutar que os avanços
das tecnologias da informação também sejam cada vez mais rápidos e eficazes, para
que sejam possibilitadas e desenvolvidas
novas plataformas de comunicação, tais como satélites, as tecnologias HD (high-definition), 4K,
8K, as telas transparentes, as telas
flexíveis e tudo o mais que ainda está
por vir; visto que, a instantaneidade na
superação tecnológica é tamanha, que
o que ontem era novidade, hoje já nos
parece ultrapassado.
Fantasia: Memória Digital
Ala: Velha-Guarda
Presidente: Débora Rosa
Quantidade: 78
Descrição: Memória Digital é a possibili-
www.beija-flor.com.br
dade assegurada, através do desenvolvimento das tecnologias de comunicação e da
informação, de guardar, em forma digital,
qualquer tipo de documento, sendo que o
arquivo pode ser um texto, uma foto, um desenho, um vídeo, ou mesmo algo puramente
virtual, como uma home page, por exemplo.
Os dados, que em outrora eram armazenados
em disquetes, atualmente podem ser armazenados em um computador, em pen drives,
CD’s, DVD’s, HD’s e na própria internet; e é
por causa da memória digital que asseguramos a perpetuação de nossos arquivos e
temos acessos a preciosidades
produzidas em tempos
passados. A Velha
Guarda, que é a memória viva da Escola, vem
representando a memória digital no processo de evolução da tecnologia da informação.
Fantasia: Cibernético
Passista Destaque
Presidente: Cássio Dias
Quantidade: 1
Alegoria 08
“O Mundo na Rede em Tempo Real – O Futuro da Comunicação”
Março 2014
49
FELIPE LUCENA
“Eu ESTOU NA BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS. ESTAR AQUI EXIGE QUE SEJAMOS CRIATIVOS E QUE SEJAMOS CAPAZES DE CRIAR NOVOS FORMATOS E NOVOS MEIOS DE NOS COMUNICARMOS COM O PÚBLICO.”
O Carnaval, considerado o maior espetáculo da
terra, ganhou há pouco mais de seis meses um
novo palco para brilhar: o teatro. O projeto ‘A
deusa da passarela e suas magias, a história da
Beija-Flor’, coreografado por Patrick Carvalho e
coordenado por Laíla, consiste em transpor para
a dança os enredos dos 12 títulos que a escola
de Nilópolis conquistou na Avenida.
Convocado para integrar a equipe da Beija-Flor
após se destacar fazendo a Comissão de Frente
do GRES Inocentes de Belford Roxo, Patrick conta
como o espetáculo se desenha diante do público:
“Temos uma abertura e depois entra um saxofone
50
Revista Beija-Flor de Nilópolis
e um piano tocando ‘A Deusa da Passarela’. Então, entra a Selminha e o Claudinho em uma cena
muito bonita. Na sequência, vêm os carnavais da
escola encenados em dança. O que a Beija-Flor
fez na Avenida com carros e fantasias, fazemos
com dança nos palcos”, explica.
Sua aproximação na Azul e Branco de Nilópolis se deu através do amigo e coordenador do
projeto de jiu-jitsu na agremiação: “O Elan é
muito meu amigo e conhece bem os trabalhos
que desenvolvo na dança e nas artes em geral.
Um dia o Elan procurou o Laíla e falou com ele
a meu respeito e de como eu poderia contribuir
www.beija-flor.com.br
com novas ideias e realizações dentro da Beija-Flor. O Laíla me chamou e conversamos bastante,
me passando uma ideia do que
ele queria fazer: levar a Beija-Flor para o teatro. Na hora
a cabeça deu um giro de 360
graus – era o momento certo e
sabia que, juntos, e com a força
daquela comunidade maravilhosa,
teríamos muito a realizar. Fiquei super motivado porque já se desenrolava na minha mente algumas ideias.
Não tinha dúvida: dizer sim para o
convite do Laíla era a única coisa a fazer
– o cara é uma enciclopédia de carnaval.
Saí do nosso encontro bem focado e depois de
dar asas a minha criatividade, bolei esse
espetáculo que é lindo e tem agradado
a todos que o assistem.”
Devido ao pouco tempo de atuação e
à correria que antecede os desfiles
deste ano, o projeto ‘A deusa da
passarela e suas
magias, a história da Beija-Flor’
teve apenas uma
apresentação
completa,
realizada no teatro da
Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (Uerj). As
demais apresentações
estão sendo realizadas
em uma versão pocket
nos eventos promovidos
pela Beija-Flor.
O próximo passo, terminado o
Carnaval 2014, é dar andamento
às negociações com teatros para
que o projeto possa ser visto
por grandes públicos. Enquanto
isso,
Patrick segue ensaiando sua trupe, que conta
com a participação de crianças, adolescentes,
jovens e adultos, de Nilópolis e das imediações.
Sem disfarçar o sentimento de euforia e orgulho, Patrick faz uma previsão: “Estou na
Beija-Flor de Nilópolis. Estar aqui exige que
sejamos criativos e que sejamos capazes de
criar novos formatos e novos meios de nos comunicarmos com o público. E pela repercussão
do espetáculo, não tenho dúvida que mais
uma vez a Beija-Flor saiu na frente, dando as
cartas do jogo. Não tenho dúvida que em breve outras escolas seguirão nossa proposta. Mais
um ponto para a princesa nilopolitana”.
MIRO LOPES
“SOB O COMANDO DO PRESIDENTE ADMINISTRATIVO, A ESCOLA,
O BARRACÃO E QUADRA FICAM EM ESTADO DE ALERTA. PARA
ISSO, O PRESIDENTE FARID ABRÃO CONTA COM UMA EQUIPE DE
DIRETORES E AUXILIARES INDISPENSÁVEIS A CADA ÁREA.”
O ‘rolo compressor’ não pode parar. A cada ano,
logo após o desfile das campeãs, já começam
os preparativos para o carnaval seguinte. Nesse
primeiro momento, a maioria dos empregados
temporários fica no aguardo de nova chamada,
os empregados fixos entram em férias e a ‘locomotiva’ entra em recesso por uma quinzena,
sem na verdade desligar totalmente seu funcionamento, pois é chegada a hora do desmonte
dos carros alegóricos, do recolhimento das fantasias da comunidade e de se projetar uma nova
estrada por onde vai se construir o sonho do
carnaval vindouro. Em decorrência da escolha do
enredo que se pretende apresentar, a estrutura,
a produção, as finanças, os recursos – humanos
e materiais –, as normas e funcionalidade da escola, barracão e quadra, sempre ficam sujeitas
a uma reorganização e a definição das formas
52
Revista Beija-Flor de Nilópolis
adequadas ao novo trabalho para se atingir o
objetivo. É também a hora de a administração
lubrificar essa máquina para enfrentar o novo
desafio. É um setor que não para.
Sob o comando do presidente administrativo, a
escola, o barracão e quadra ficam em estado de
alerta. Para isso, o presidente Farid Abrão conta
com uma equipe de diretores e auxiliares indispensáveis a cada área. Na fábrica de carnaval
instalada na Cidade do Samba, a presidência
conta com uma equipe de competentes e dedicados profissionais, que inclui diretores e vários
auxiliares, entre os quais destacamos:
José Antônio de Gonçalves Pinto é vice-presidente de finanças. Destaca como uma de suas
maiores responsabilidades a elaboração do
cronograma de recebimento das verbas e o levantamento dos custos envolvidos no processo
www.beija-flor.com.br
de produção do carnaval. Também supervisiona e fiscaliza a aplicação desses recursos, além
de promover as negociações e pagamento dos
fornecedores. É analista de sistemas e está na
Beija-Flor desde 1980. Morador de Niterói, tem
a música, herança paterna, nas veias. Estudou
piston durante oito anos e, ainda jovem, além
do seu próprio grupo musical, também participou de eventos culturais e artísticos de entretenimento, entre outros como integrante da banda do Colégio Salesiano de Niterói. Hoje é um
deleite que só se permite raramente. Tem uma
filha, Lilian, de 25 anos.
Marcos Reis Fernandes foi chamado para implantar o sistema de informatização no almoxarifado em 2003, e ficou. Passou para a
administração, atuando no setor de compras e
eu só atravessava a avenida chupando picolé”.
Casado com Suzana, tem uma filha de três anos,
Ana Clara.
Alexandre da Silva Esposito é o mais novo integrante da equipe. Começou há cinco anos como
porteiro. Com o início dos trabalhos no barracão,
que ocorre em meados do ano, passou a trabalhar como motorista para agilizar a aquisição e o
transporte de material e, paralelamente, auxiliar
no pagamento dos empregados e outros serviços
gerais, atividades para as quais se mantém em
permanente plantão. No carnaval faz parte da
equipe que orienta a saída dos carros e o acompanhamento até a concentração, supervisiona
a alimentação dos ajudantes e outros serviços
eventuais. Carioca de Olaria, casado com Lucélia,
tem três filhos: Alexandre Jr. (18), Sthefany (13)
auxiliando na funcionalidade do barracão, procurando facilitar o trabalho de todos os setores.
Também produz a folha de pagamento. Nasceu
em Nilópolis e praticamente foi criado na quadra da escola. Seu pai Ramilton, ex-ritmista e
diretor, o levava em todos os eventos da escola, mesmo antes de Marquinhos integrar a ala
mirim. “Ele contava que sempre me levou para
desfilar. Como eu era muito pequeno e ele tinha
que trabalhar, destinava uma pessoa para tomar
conta de mim e deixava dinheiro com ela porque
Alexandre Giló e Marquinhos integram a equipe de feras
da Administração da Beija-Flor de NIlópolis.
e João (4 anos), com quem divide os finais de
semana entre o churrasco e a pescaria.
Também outros auxiliares de administração, telefonistas, copeiras, auxiliares de limpeza e serviços
gerais dão suporte a essa equipe de gestão, que,
com a garantia dos presidentes Anizio e Farid, sedimentam a base para que esse rolo compressor
que é a Beija-Flor de Nilópolis alcance seus objetivos na Passarela do Samba.
Março 2014
53
REDAÇÃO
“SR. ANIZIO ABRÃO ESTAVA LÁ PARA FAZER UMA VISITA DE CORTESIA À IMPERATRIZ. FOMOS APRESENTADOS. QUANDO ESTAVA
INDO EMBORA, O SR. ANIZIO ME CHAMOU PARA IR COM ELE
ATÉ O BARRACÃO DA BEIJA-FLOR, E CHEGANDO LÁ ELE CHAMOU O LAÍLA E FALOU: “LAÍLA, ESTE RAPAZ, À PARTIR DE HOJE,
VAI FAZER AS CAMISAS DA BEIJA-FLOR.”
Trabalhar com algo que se ama é o sonho de muita gente. André das Camisas (como é conhecido
no meio carnavalesco) pode se considerar um privilegiado. Ele é o responsável pela criação das camisetas da Beija-Flor e sua história de vida mostra que, se tivermos dedicação e amor em tudo o
que fizermos, podemos ir muito além.
André iniciou sua carreira profissional pintando cangas de praia, que ele mesmo vendia na
orla do Rio de Janeiro. O ilustrador lembra que
era bastante cansativo, mas que nunca deixou
de correr atrás de seus sonhos: “Eu ia para Ipanema e Leblon, pintava as cangas em casa. Era
‘osso’. Muito calor e rodando a praia de ponta a
ponta, mas nunca deixava de vender. Também
fiz muitas feirinhas em clubes”, relembra ele.
Até que em 1992, através do Sérgio Marimba,
que era assistente de Chico Spinoza na Estácio
54
Revista Beija-Flor de Nilópolis
de Sá, foi chamado para pintar as fantasias do
abre alas da escola do centro da Cidade Maravilhosa. Um belo começo, pois a Estácio foi campeã no ano seguinte. Com isso, começou a fazer
as camisas para a agremiação e logo foi indicado para a Unidos da Ponte.
Dois anos depois da estreia no carnaval, André
das Camisas foi levado por Chico Spinoza para a
União da Ilha, onde permaneceu até 1997. Nesse ano, Milton Cunha foi contratado para ser o
carnavalesco da escola, e como ele já tinha em
sua equipe um ilustrador de confiança, André
perdeu espaço. Mas não perdeu a vontade de
batalhar para alcançar seus objetivos. Foi aí que
a Beija-Flor entrou na vida dele: “Fiquei chateado na época, mas não desanimei. Sai de casa
com uma pasta cheia de desenhos, disposto a
arrumar um novo trabalho. Fui primeiro na Imwww.beija-flor.com.br
peratriz, e chegando lá fui muito bem recebido,
pois havia meu amigo, Clécio Régis, que trabalhava com as esculturas e me deu a maior força
junto à direção. Quando entrei na sala do presidente da Verde e Branco, o Sr. Anizio Abrão estava lá para fazer uma visita de cortesia à coirmã. Fomos apresentados. Quando estava indo
embora, o Sr. Anizio me chamou para ir com ele
até o barracão da Beija-Flor, e chegando lá ele
chamou o Laíla e falou: “Laíla, este rapaz, à partir de hoje, vai fazer as camisas da Beija-Flor.”,
relembra o ilustrador, com orgulho.
O ilustrador, que também presta serviços para
empresas privadas – ilustrando campanhas para
o Supermercado Guanabara e para a loja Leroy
Merlin -, já atuou no carnaval de São Paulo, desenhando para as escolas Império da Casa Verde, Mocidade Alegre, Peruche e Vai-Vai.
Este ano, André vai fazer camisas para Beija-Flor, Vila Isabel, Salgueiro, Grande Rio e Banda da Barra. Com muito trabalho pela frente,
o desenhista pontua a importância do Carnaval
na sua vida: “O Carnaval me deu condições de
André comentou que o início na Beija-Flor foi
bastante intenso. No entanto, a mudança lhe
rendeu excelentes frutos, que ele colhe até hoje.
Não só no carnaval, mas no ano inteiro: “Faltava um mês para o Carnaval de 1998 e naquele
mesmo dia foi me passado a produção das camisas do desfile. Comecei ali mesmo minha melhor
trajetória nas confecções de camisas. Atendi a
Beija-Flor, a Imperatriz e também consegui fechar um pedido com a Mangueira, através de
Dona Célia. Fui campeão em duas escolas (Mangueira e Beija-Flor dividiram o título daquele
ano). Ali eu tive a certeza: era a minha hora e
tinha tudo para dar certo, e deu. Estou até hoje
na Beija-Flor, onde tenho trabalho todos os meses do ano”, afirma.
trabalhar com o que sempre gostei. Eu adorava
aulas de artes, pois sempre gostei de desenhar.
Através do que eu conquistei com o carnaval,
tive a oportunidade de dar bons estudos para
minha amada filha Carolina, enquanto esteve
junto a nós, e espero continuar a dar ao meu
“neto-filho”, Daniel, toda estrutura para ser uma
pessoa íntegra. Temos sempre a oportunidade
de viajar e conhecer lugares bonitos, importantes e culturais, sempre após o Carnaval, quando
tenho um tempinho de descanso”, declara.
Poucas pessoas enxergam dessa forma, mas a
moda é uma forma de arte. Afirmando essa
ideia, André é um artista de mãos cheias e sua
obra veste - com muita qualidade, dedicação e
amor - o coração dos amantes do Carnaval.
Março 2014
55
FELIPE LUCENA E ZÉ MARIA BEIJA-FLOR
A IDEIA DE TER UM SAMBA-ENREDO SÓ FOI POSSÍVEL PORQUE
NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1930 TORNOU-SE OBRIGATÓRIO QUE
AS ESCOLAS APRESENTASSEM UM TEMA PARA O DESFILE. ANTES DISSO, AS AGREMIAÇÕES MAIS PARECIAM COM O QUE CONHECEMOS COMO BLOCOS DE RUA ATUALMENTE.
Hoje em dia, já no fim do ano anterior ao desfile
das escolas, temos em mãos o CD ou o MP3 com
as gravações dos sambas-enredos. No entanto,
décadas atrás essa facilidade não existia. A história começou a mudar há 46 anos, em 1968,
quando foi gravado o “Festival de Samba”, o
primeiro disco com os sambas de enredo (assim eram chamados) do carnaval daquele ano.
Anteriormente, cada agremiação gravava suas
músicas separadamente, como podia.
Incomodada com a desvalorização do samba em
uma época repleta de festivais musicais nas rádios e TVs do Brasil, a gravadora Discnews Relevo RV-201, com o auxilio do agitador cultural
Albino Pinheiro - um grande defensor das manifestações populares no Rio de Janeiro, criador
do bloco Banda de Ipanema - lançou o LP com
os sambas de 1968, que foram gravados ao vivo
58
Revista Beija-Flor de Nilópolis
nos terreiros – antigas quadras das escolas com
uma aparelhagem especial para a época, utilizada em discos ao vivo.
Albino escreveu o encarte do disco, que além do
texto em português tinha uma versão em espanhol e inglês (uma tática da gravadora para
deixar o trabalho mais abrangente). Nesse texto, o agitador cultural afirma que os sambas-enredos são como hinos para as escolas - que
se renovam a cada ano - por isso a importância
de registrá-los em conjunto.
Mas nem tudo é interesse em cultura. No ano
anterior, o samba-enredo da Mangueira “O
mundo encantado de Monteiro Lobato”, que havia dado à escola verde e rosa o título do carnaval de 1967, ganhou as rádios na voz de Eliana
Pittman, tornando-se um sucesso nacional. Esse
fato fez os executivos da Discnews enxergarem
www.beija-flor.com.br
para a posteridade,
visando até um
futuro museu
do carnaval.
A distribuição
p a r a
vendagem ao
público
ficou
restrita
apenas
às quadras das
escolas e a
algumas lojas da cidade
do Rio de Janeiro, não sendo, portanto, de âmbito nacional.
Por conta dessa baixa distribuição,
u m potencial comercial naquele estilo musical, hoje esse registro é considerado uma raridade. É
que ainda era marginalizado.
importante também frisar um detalhe: o disco
No mesmo ano, o Museu da Imagem e do Som foi lançado com duas capas diferentes, uma de
(MIS) também lançou um disco com os sambas forma e estilo padrão, e outra com formato de
de enredo de 1968, intitulado “As dez grandes álbum, o que o valoriza ainda mais para coleescolas cantam para a posteridade seus sam- cionadores.
bas de enredo de 1968”, tendo a gravação de Voltando a um passado ainda mais longínquo,
mais três escolas como diferencial. A Discnews vale destacar que a ideia de ter um samba-endecidiu gravar o LP com sete sambas: Dona redo só foi possível porque no início da década
Beja, Feiticeira de Araxá – Salgueiro, Sublime de 1930 tornou-se obrigatório que as escolas
Pergaminho – Unidos de Lucas, Viagem Pitores- apresentassem um tema para o desfile. Antes
ca Através do Brasil – Mocidade Independente, disso, as agremiações mais pareciam com o que
Pernambuco: “O Leão do Norte” – Império Ser- conhecemos como blocos de rua atualmente.
rano, Tronco do Ipê – Portela, Samba, Festa de Apesar dessa decisão, os sambas ainda não
um Povo – Mangueira, Quatro Séculos de Modas eram tão definidos como ouvimos hoje em dia.
e Costumes – Unidos de Vila Isabel. O trabalho Era comum as escolas criarem um refrão e o
feito pelo MIS conta com essas músicas citadas, restante da canção, muitas das vezes, era canalém de: Uma Visita ao Museu Imperial – Unidos tada de improviso, durante os nada pomposos
do São Carlos, Aspecto do Rio e Vida Carioca no desfiles. Às vezes, outras músicas, que não tiséculo XVIII – Independente do Leblon e Home- nham necessariamente ligação com o enredo,
nagem a Portinari – Império da Tijuca.
eram entoadas. Esse cenário só mudou em
O encarte desse disco, escrito por Aroldo Boni- 1946, quando a instituição que comandava o
fácio, além de elogiar particularidades de cada carnaval carioca proibiu as improvisações, forescola, como “a batuta de André”, mestre de çando assim desfiles mais organizados para o
bateria da Mocidade, “os violões de Cartola e público assistir.
Dercy”, se referindo à Mangueira e a “harmonia Os desfiles de carnaval são uma manifestação
de conjunto” da Vila Isabel, frisa que “os ritmos cultural que evoluíram sem perder o que há de
e as cores” das agremiações falam por si só, dis- melhor em sua essência: no caso, a alegria. Que
pensando comentários mais prolixos e mostran- isso sempre sirva de lição para todos nós. Mudar
do a necessidade de uma gravação que ficasse sem perder o que existe de bom.
Março 2014
59
HILTON ABI-RIHAN
Se uma escola de samba precisa de um reino, não há dúvida de ele só sobrevive com qualidade se tiver o respaldo de forças políticas e administrativas. Por sorte – ou merecimento
– o berço da Beija-Flor de Nilópolis e regiões próximas podem contar com a participação
de lideranças políticas engajadas em proporcionar qualidade e progresso à região. Ciente
da importância de uma atuação legislativa comprometida, a revista Beija-Flor de Nilópolis
foi ouvir o que tem a dizer o deputado estadual Ricardo Abrão, Beija-Flor de nascença, a
respeito da sua atuação legislativa em favor do Estado do Rio de Janeiro.
RBFN — Ricardo, você está em seu segundo mandato. Como começou sua vida pública?
Ricardo Abrão — Ingressei como chefe de gabinete
do prefeito Farid Abrão, em 2001. Na Prefeitura de
Nilópolis, fui aprendendo com meu pai, que já estava
na vida pública desde 1986, a arte da boa política.
Aos poucos fui entendendo como a atuação política
é essencial para o desenvolvimento de uma sociedade democrática. Fui tomando gosto pelo assunto até
que me candidatei a deputado estadual e me elegi,
assumindo o mandato em 2003. Hoje estou em meu
segundo mandato.
RBFN — Sabemos que o deputado estadual atua em
todo o estado. No entanto, nossa revista focaliza, especialmente, as questões da Baixada Fluminense. Poderia,
então, nos contar algumas das suas contribuições para
a melhoria de vida do morador dessa região?
RA — No que se refere à Nilópolis, tivemos um enorme
avanço e importantes conquistas foram obtidas. Uma
delas, e que teve impacto direto na vida do morador
de Nilópolis, Mesquita e região, foi a inauguração do
novo viaduto, que liga parte da Nova Cidade, perto
da Vila Olímpica, até o outro lado da cidade, na divisa
de Nilópolis com Mesquita e atendendo os dois municípios. Foi um projeto de minha autoria que exigiu
bastante esforço e articulação para que saísse do papel. Há muito trabalho e muita gente competente e
comprometida trabalhando nessas ações.
RBFN — No passado reclamava-se muito do engarrafamento naquela região. Com o viaduto houve realmente uma melhora?
RA — O viaduto ajudou muito, com certeza. Quando o
relógio marcava quatro ou cinco horas da tarde, todo
60
Revista Beija-Flor de Nilópolis
o trânsito de Nilópolis ficava parado. Ficava-se mais
de uma hora para atravessar de um lado para o outro
do município. Hoje temos muito mais carros, não só
em Nilópolis, mas em todo o estado do Rio de Janeiro.
Por isso, ter a questão da mobilidade urbana como
uma prioridade é, antes de qualquer coisa, retribuir
com respeito o voto que o eleitor nos confiou.
RBFN — Você fala em respeito ao eleitor. Nesse sentido, a saúde é uma prioridade também, não é?
RA — Sim. É lógico que é. E em nosso mandato estamos atentos, realizando importantes ações na área de
saúde como, por exemplo, a destinação de uma parte
do orçamento do estado para a aquisição de três ambulâncias novas para Nilópolis, duas para Mesquita,
além de outras tantas para a região do Paraíba do
Sul e Sapucaia. Ainda na questão saúde e saneamento
básico, reformamos com muita qualidade um reservatório de água abandonado que existia no município.
É lógico que não vai acabar com o problema da falta
de água em Mesquita, mas vai melhorar muito. Na
verdade, as demandas da sociedade são sempre crescentes. Então, nunca o que fizermos será o suficiente.
Mas temos que batalhar para oferecer sempre melhores condições de vida para as pessoas. É isso que faço.
RBFN — E na educação? Alguma ação digna de nota?
RA — Sim. Eu cresci em um ambiente onde se valorizava muito a educação escolar. Meus pais sempre me
incentivaram e cobraram de mim esforços e resultados.
Além disso, acompanho de perto as atividades que meu
Tio Anizio realiza na Creche, no Educandário e no CAC
relacionadas à educação e capacitação. Educação de
qualidade é a base de uma nação forte e de um povo
feliz. Por isso, dar uma contribuição legislativa na área
www.beija-flor.com.br
da educação é uma das minhas prioridades. No meu
mandato conseguimos viabilizar ônibus escolares para
algumas cidades, o que irá contribuir em muito para a
redução da evasão escolar. Criamos, também, o projeto
para que o estado passasse a instalar salas de música
em toda a rede estadual de ensino.
Enfim, a grande
reforma da Quadra
da Beija-Flor...
Através de esforços concentrados, tivemos a felicidade de realizar a reforma da
quadra da nossa amada Beija-Flor. Agora, estamos fazendo a obra nos camarotes,
isto é, o segundo lance.
Estamos convictos que teremos, novamente, a maior e
melhor quadra de escola de
samba do Brasil, sendo um
motivo de grande orgulho
para a toda a comunidade.
Sem dúvidas a quadra ficou
simplesmente linda e maravilhosa.
Ricardo Abrão
Vice-Presidente Executivo Administrativo
RBFN — No esporte, você teve alguma atuação concreta?
RA — Tio Anizio montou uma academia gratuita perto
do parque aquático da Beija-Flor de Nilópolis voltada
para a terceira idade. Para que as senhoras e os senhores interessados em praticar esportes tivessem a
segurança e o cuidado que essas academias exigem,
conseguimos através do projeto Rio 2016, empregar
profissionais com carteira assinada – um professor,
um agente da área de saúde, um técnico e um ajudante – para ajudar às pessoas praticantes de ginástica
na academia da terceira idade e incentivar a prática
do esporte com responsabilidade. É um projeto do governo para motivar a prática esportiva inspirado nas
Olimpíadas. Estou trabalhando para conseguir mais
academias da terceira idade para Nilópolis também.
RBFN — Entendemos que são diversos os focos de um
legislador. No entanto, quais são suas prioridades?
RA — Minha prioridade é viabilizar meios de oferecer melhores condições de vida ao cidadão fluminense. Nesse sentido, através da criação de leis e
de emendas, faço o que entendo ser o melhor para
meus eleitores e para a população fluminense. Um
exemplo disso foi minha atuação como presidente
da comissão de trabalho, que exerci por dois anos,
na qual tive uma participação muito importante da
definição do piso salarial do estado. Hoje, estou na
comissão de minas e energia, e nela busco cobrar
das empresas de energia, através do diálogo respeitoso, que prestem bons serviços à sociedade.
RBFN — Além da atuação legislativa, você é vice-presidente da Beija-Flor. Dá para conciliar e ainda
dar uma contribuição à escola?
RA — A Beija-flor tem uma história muito bonita.
Era um bloco que cresceu e se tornou essa potência.
Nossos tios ingressaram na agremiação e realizaram
importantes mudanças que a tornaram a principal
escola de samba do mundo. Tio Nelson, Tio Anizio
– um apaixonado pelo carnaval -, meu pai, o Farid.
Todos amando a agremiação e fazendo o que podiam
e podem para que esteja sempre no topo, oferecendo
à sua comunidade os espaços que ela merece. Hoje,
a minha geração – eu e meus primos Nelsinho e
Abraãozinho – tem a responsabilidade de dar continuidade ao que a família Abrão David tem realizado.
Hoje sou vice-presidente da escola e me empenho
em ser útil, como no caso da reforma da quadra. A
quadra da Beija-Flor já estava precisando de uma
melhoria e consegui, com ajuda de empresários
e parceiros, reformar a quadra. Ver a comunidade
sambando e cantando naquele espaço remodelado
me deixou muito feliz.
Março 2014
61
MIRO LOPES
O LEGADO QUE CADA UM CONSTRÓI É QUE PODE TORNÁ-LO
ETERNO. ASSIM A VIDA TRANSCENDE A MORTE. VAI-SE O CONSTRUTOR E FICA A HERANÇA: SUA OBRA, IMAGEM E HISTÓRIA.
CERTAMENTE POR ISSO CERTAS TRIBOS E RELIGIÕES CELEBREM
MAIS O QUE FOI CONSTRUÍDO EM VIDA, COM MUITA REZA, FESTA E CANTORIA, DO QUE DERRAMANDO LÁGRIMAS.
E cada povo promove o gurufim a sua maneira.
Uma delas é através da celebração e exaltação
do legado com o qual todos são beneficiários,
herdeiros ou não: uma história, um exemplo.
Uma vida em azul e branco.
ZEZA mendonça
o esplendor do Carnaval
Há 61 anos, em Paudalho-PE, nasceu Zeza. No registro civil era Maria José Mendonça da Silva. Mas
o nome artístico de Zeza Mendonça é que imortalizou essa pernambucana como um ícone do Carnaval, nos palcos dos principais teatros e clubes do
Brasil ao lado de nomes que escreveram um capítulo de luxo, beleza e encantamento do Carnaval
62
Revista Beija-Flor de Nilópolis
carioca, participando dos Concursos de Fantasias
de Luxo e Originalidade. Conquistou vários títulos,
exibindo fantasias de Jésus Henrique.
Depois conheceu Joãosinho Trinta. “Cheguei e
disse para o João que queria ser destaque”. Começou desfilando no chão. A primeira participação como destaque foi em “A criação do mundo na tradição Nagô”, em 1978. “Quando me vi
no carro, você não tem noção da emoção que
foi”, disse à Revista Beija-Flor. Juntos – Zeza e
João – organizaram vários eventos internacionais, desde uma escola de samba com barracão
e tudo, tudo até oficina de fantasias no centro
de Paris. Sucesso total. Empresária em sentido
amplo, Zeza produzia, com recursos próprios,
suas fantasias e era sua própria agente artística.
Fechando contratos nacionais e internacionais,
www.beija-flor.com.br
esteve em Paris, Mônaco, Hungria, Indonésia,
Tailândia, Filipinas, México, Tchecoslováquia,
Alemanha, Itália, Hong Kong, Japão, Canadá e
Bolívia, exibindo seus figurinos com leveza e fidalguia.
Maria do Carmo, sua filha única, que desfilou
na ala das Baianinhas, conta que a mãe “tinha
um amor sem medidas pela Beija-Flor e levava
à sério seu compromisso de desfilar como destaque. Fazia de tudo para que sua fantasia estivesse à altura da escola. Durante os 38 anos de
Beija-Flor, acompanhou, de avião ou ônibus, as
apresentações da escola, sempre integrada com
os grupos do passado e do presente. Carminha
acrescenta: “só tenho a dizer que minha mãe
era uma pessoa maravilhosa, amiga das pessoas,
com um coração enorme e uma predisposição
absoluta para ajudar as pessoas. Lembrava sempre dos amigos, datas de aniversário e adorava enviar cartões a todos. Ajudava as pessoas e
sempre incentivava os iniciantes do universo do
carnaval. Tinha três papagaios. Um deles, o Gordinho, pertenceu ao Joãosinho Trinta. Eram seus
amores, com os quais dividia seu apartamento
em Ipanema.”
Ary Rodrigues
no camarote do céu
Há pessoas que se identificam integralmente com o universo em que vivem, embora aparentemente não nos remetam a ele no primeiro
instante. O senhor Ary Rodrigues é uma dessas
pessoas. Uma grandeza maior do que aparentava. Diariamente assinava o ponto na quadra, que
percorria canto a canto com seus passos lentos,
olhar observador, cabelos enluarados, sempre
vestindo uma imaculada camisa da Beija-Flor,
incontestavelmente sua segunda ‘pele’ e prova
de uma de suas maiores paixões e muito mais
importante do que o cargo que lhe coube durante muitos anos: o de presidente do Conselho
Deliberativo.
Na rotina de ir à quadra, diariamente, se repetiam as reverências de todos os empregados
aos quais ele sempre retribuiu com um gesto ou
uma palavra gentil. ‘Seu’ Ary se tornara patrimônio da instituição muito antes que os cabelos
enluarados denunciassem sua segunda maioridade. Nos mais antigos, via-se a admiração dos
que acompanharam sua trajetória desde que
Março 2014
63
selou seu compromisso de fidelidade a Azul e
Branco, onde foi ‘puxador de corda’ (tarefa que
cabia aos peões para manter os integrantes da
escola separados da população que queria ver o
desfile). Esse foi seu batismo na escola nilopolitana. Batizado que se concretizou em lealdade
à família Abrão David. E muito especialmente
ao presidente de honra, Anizio, que tinha como
“meu amigo, meu irmão”, como fazia questão de
frisar e repetir. Seis décadas se foram...
Com a mudança do barracão para a Cidade do
Samba, as visitas de Seu Ary ao barracão passaram a ser regulares. Das amplas janelas ele
Era um leão na defesa da prole, e – no que pese
sua estatura média, seus cabelos prateados e a
calma assimilada pelos seus 80 anos de vida –
um gigante que se ‘alevanta’ a qualquer tempo
e hora em defesa da “Princesa da Passarela”.
Acima de qualquer dúvida, Seu Ary é Beija-Flor.
Desses beija-florenses ‘azulaço’ ferrenho, azulão
apaixonado, ou simplesmente um Beija-Flor azul
da cor do céu, este céu que agora, certamente,
abriga um dos mais verdadeiros escudeiros da
“Maravilhosa e Soberana”, um amigo dos seus
amigos, desses que a canção recomenda “guardar do lado esquerdo do peito”.
vislumbrava o bairro da Gamboa, o Morro do Livramento, parte da Providência. Olhar perdido no
infinito azul da manhã ensolarada e seu pensamento viaja no emaranhado de lembranças. Pesca na memória algumas vivências, ali onde sua
criancice jogou bola e soltou pipa antes de a família se mudar de alma e bagagem para Nilópolis.
Ali sua criancice conheceu o berço do samba. Seu
Ary cita alguns blocos, corsos, sociedades e escolas de samba que enrolaram a bandeira. Pausa. E
retoma as peraltices de moleque, sem melancolia.
Mas a Beija-Flor é seu bem maior. Dedicação
que se confunde com seu amor pela família
Dona Nilza Aparecida (com quem desfilava, integrando a “Ala Amigos do Rei”), os filhos Ari
José, Jorge Luís (Doda), Marta, Fernando (falecido) e Miriam, os doze netos e treze bisnetos.
Márcio dos Santos
o maestro da disciplina
64
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Marcio Silva dos Santos, 47 anos, despontou
como atuante presidente das alas da comunidade nilopolitana. Escolhido por Laíla, Márcio se
transformou num importante elo entre os componentes e a diretoria de carnaval, promovendo
a total integração entre esses dois segmentos
– base e topo. Cabia a ele a tarefa de coordenar,
orientar, disciplinar e motivar a comunidade
para o bom desempenho do conjunto de ponta
a ponta da passarela do samba. E para que líderes e componentes estivessem afinados, Márcio
promovia reuniões todas as semanas para trocar informações, resolver impasses e fortalecer
www.beija-flor.com.br
os laços, ora com todas as alas da comunidade,
ora com suas lideranças. Márcio entendia que
“está na comunidade a força e a raça de toda
e qualquer manifestação popular e expressão
da tradição e cultura de qualquer escola”. Não
surpreende que Márcio, absorvendo bem o espírito da coisa, tenha se tornado um respeitado e
admirável líder de todos, de quem exigia o cumprimento das determinações da diretoria, entre
elas a frequência e o interesse por um grande
desfile.
O filho da Dona Maria Rita Silva dos Santos dedicou mais de duas décadas a tarefa de preparar
várias alas e centenas de componentes (em número cada vez maior de ano para ano), com zelo
por todos e empenho extraordinário.
O samba e, muito especialmente, a Beija-Flor conquistaram lugar cativo em seu coração desde a
infância. À escola ele veio se chegando ainda moleque, pulando o muro para assistir aos ensaios.
Aos poucos, graças ao seu jeito simples e educado.
Deixou seu emprego de auxiliar de escritório para
ser aderecista ainda adolescente. Dona Maria Rita
ressalta o “bom filho que sempre foi e homem de
fé”. Era responsável pelo Centro Espírita São Sebastião, devoto de Ogum, depositário de sua crença.
Os irmãos Flávio, José Francisco e Márcia atestam
sua lealdade à família, aos amigos e à Beija-Flor,
e Simone, sua auxiliar direta nessa empreitada,
confirma o maior apreço que Márcio tinha pelas
sobrinhas, Stefanny (12 anos), que levou para a
ala mirim e Marcelly (2 anos).
FELIPE FERREIRA
DEDICO ESTE TEXTO AOS COLEGAS JORNALISTAS DE CARNAVAL
E SUA PAIXÃO POR UMA FESTA TÃO IMPORTANTE PARA NOSSA
IDENTIDADE CULTURAL
Não se pode falar em carnaval no Brasil sem
se destacar a importância dos meios de comunicação. No início do século XIX, os primeiros
jornais do país já tinham papel de destaque na
verdadeira batalha travada entre o antigo Entrudo (de origem portuguesa e considerado brutal, grosseiro e indigno de um país civilizado)
e o novo Carnaval (festa sofisticada, importada
da França, consistindo basicamente de bailes e
passeios de carruagem). Lá pelos anos 1840, é
nestes mesmos jornais que começam a aparecer
os primeiros elogios aos bailes parisienses, incentivando a transformação das antigas sociedades musicais em “sociedades carnavalescas”
dedicadas a promover e frequentar os bailes
mascarados que começavam a se organizar no
período momesco.
66
Revista Beija-Flor de Nilópolis
A transformação das sociedades carnavalescas em grupos organizados especialmente para
desfilar pela cidade tem seu momento fundador no desfile do Congresso das Summidades
Carnavalescas, em 1855, cuja importância para
a história da folia reside, em grande parte, na
enorme divulgação que o fato obteve nos jornais da época. A partir de então, e durante toda
a segunda metade do século XIX, páginas inteiras eram publicadas descrevendo com detalhes
os roteiros, as alegorias e os temas de cada um
desses grupos. Alguns dos quais se tornariam as
chamadas Grandes Sociedades.
O interesse da imprensa pelo carnaval se refletiria no aumento de comentaristas especializados,
conhecidos como cronistas carnavalescos, que teriam importante papel na estruturação do carnaval
www.beija-flor.com.br
na
primeira década
do
século XX a partir da organização de
concursos entre os grupos populares que povoavam as ruas cariocas nos dias de folia. São estes concursos, aliados às matérias e reportagens
tratando do tema carnavalesco, que iram ajudar
os múltiplos grupos que se reuniam sob o nome
de Pequeno Carnaval a se organizar nas três categorias que a historiografia carnavalesca consagrou: ranchos, cordões e blocos.
O papel da imprensa na formação das escolas de
samba é igualmente notável. São os jornais que
irão promover e difundir os valores, formatos e
conceitos desses grupos carnavalescos recém-formados destacando sua tradicionalidade e
musicalidade. Aliada a difusão nacional do ritmo samba pelas rádios, a explosão de popularidade das escolas de samba nos anos 50 estaria
relacionada à divulgação maciça dos novos espaços de lazer (as quadras de ensaio) e da imagem (em fotos e ilustrações) dos personagens
que tomavam conta do imaginário brasileiro: a
passista, o ritmista e o sambista, entre outros.
A partir dos anos 70, a disseminação televisiva dos desfiles das escolas de samba cariocas
transformaria esses grupos carnavalescos em
verdadeiros símbolos nacionais, envolvendo
todo o país na torcida por sua agremiação
de coração, fazendo desaparecer antigos
grupos e abrindo espaço para novas escolas. No final do século XX, a tecnologia da
transmissão ao vivo propiciaria a difusão
dos desfiles cariocas em escala planetária, impondo novas temáticas e estéticas
às escolas de samba.
O século XXI, marcado, já em seus primeiros
anos, pela explosão da Internet, traria toda
uma leva de mídias eletrônicas para o desfile no
Sambódromo. Listas e fóruns de discussão, mídias sociais, jornalismo on-line e interação com
o leitor incentivariam a reunião de interessados
no tema carnavalesco e ampliariam a discussão
sobre os caminhos do carnaval. Novas perspectivas se abrem, como aquelas propostas pelos
blocos que ocupam o Rio de Janeiro semanas
antes do carnaval oficial e que tiveram na imprensa um de seus principais incentivadores.
Em suma, não é possível falar em carnaval no
Rio de Janeiro sem se destacar o papel da mídia.
Esta, para o bem ou para o mal, está intrinsecamente ligada aos caminhos da folia em nossa
cidade. Negar sua importância é negar a própria
dinâmica do carnaval. E negar o carnaval é negar a própria vida.
____________
Felipe Ferreira é jornalista, coordenador do Centro de Referência do Carnaval (Rio de Janeiro), professor do Instituto de Artes
e do Programa de Pós-graduação em Artes da Uerj e autor de
diversos livros sobre carnaval, entre eles Escritos carnavalescos,
Inventando carnavais e O livro de ouro do carnaval brasileiro.
Março 2014
67
LEONARDO LEGEY
NÃO HÁ COMO ESQUECER O RECONHECIMENTO AO CLÁSSICO
SAMBA-ENREDO DA UNIDOS DE LUCAS, “SUBLIME PERGAMINHO”, QUE, MAJESTOSAMENTE, CONTA O FIM DA ESCRAVIDÃO
NO BRASIL, DESDE A PRIMEIRA LEI, DE POUCO EFEITO, ATÉ A
ÚLTIMA E DEFINITIVA LEI ÁUREA, QUE PÔS UM FIM DEFINITIVO.
É comum ouvirmos falar que o brasileiro tem
memória curta, principalmente quando o assunto é cultura. Diga lá quando o assunto é
samba-enredo, que tem um espaço reduzido na
programação das rádios e emissoras de TV. Essa
sazonalidade que os meios de comunicação dão
aos assuntos de carnaval – entre eles o samba-enredo – torna natural e digno de preocupação que, com o passar dos anos, muitas obras-primas que se firmaram como clássicos caiam
no esquecimento. Isso sem falar no público mais
jovem, que muitas vezes não teve a oportunidade de ser apresentado a esses clássicos. Essa
atual distância do público com as grandes composições de samba-enredo foi o principal fator
que levou o radialista Hilton Abi-Rihan a reunir no livro “Sambas Enredos que Marcaram o
Brasil” as principais pérolas desse estilo musical
que encanta o mundo anualmente.
68
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Hilton Abi-Rihan, que como radialista já trabalha com carnaval há mais de quatro décadas, fez
um apanhado de sambas, após consultar grandes amigos e conhecedores do assunto, para assim criar uma lista, na medida do possível, justa.
Maria Augusta Rodrigues, Osmar Frazão, Hiram
Araújo, Adeozon Alves, Rubens Confete, Felipe
Ferreira, Haroldo Costa, Ricardo Cravo Albin,
Luiz Leite, Dalila Vilanova, Manoel Alves, Aydano
André, Jorge Coutinho, Ubiratan Guedes, Anizio
David e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o
Boni, foram alguns dos amigos, e conhecedores de carnaval, que deram suas opiniões para a
produção da obra.
De acardo como o advogado e presidente do
Conselho Deliberativo da Liesa, Ubiratan Guedes, “o livro foi muito bem feito, com um trabalho de pesquisa bem interessante. Ao ler a obra,
relembrei importantes momentos da minha vida
www.beija-flor.com.br
Hélio Turco e Carlinhos Madrugada contam histórias que viveram. em
tantos anos como compositores, sendo ouvidos atentamente pelo jornalista José Maria Souza e pelo advogado Ubiratan Guedes.
no samba e no carnaval. Só por isso o livro já vale muito. Mas vejo
que essa obra pode, também, ser um poderoso aliado no resgate da
nossa história — algo fundamental e necessário. Tenho certeza de
que esse livro irá motivar intérpretes a gravarem sambas que estão
registrados nessas páginas. E será sucesso na certa”
A publicação é aberta com uma composição de Penteado, Mano Décio
e Estanilau Silva, do ano de 1949. O samba, “Exaltação a Tiradentes”,
que deu a Império Serrano o título desse carnaval, fala do herói nacional, principal nome da Inconfidência Mineira, que lutou contra os abusos do imperador brasileiro e terminou enforcado e esquartejado.
Na sequência do livro, o autor lembra outros sambas-enredos das décadas de 1950 e 60, até chegar ao ano de 1964. A Império Serrano não foi
campeã desse lendário carnaval, mas a música que embalou a escola na
avenida é considerada por muitos o maior samba da história. “Aquarela
do Brasil” dificilmente será esquecida, porém, é sempre bom lembrar que
essa
bela
letra foi escrita por Silas de Oliveira, consagrado compositor tupiniquim, que quando criança frequentava as rodas de bambas escondido do pai, um pastor de uma igreja protestante que achava
que samba era coisa do diabo.
Não há como esquecer o reconhecimento ao clássico samba-enredo da Unidos de Lucas, “Sublime Pergaminho”, que, majestosamente, conta o fim da escravidão no Brasil, desde a primeira lei,
de pouco efeito, até a última e definitiva Lei Áurea, que pôs um fim definitivo. Os mais antigos
confortam-se ao relembrar dessa bela poesia, enquanto os mais novos podem ter contato com uma
narração alegórica e poética desse período tão importante para a história do Brasil.
“Sambas Enredos que Marcaram o Brasil” é uma obra que pretende imortalizar nas suas páginas os
nomes de grandes gênios da nossa cultura popular na eterna guerra para não deixar o samba morrer.
Março 2014
69
FELIPE LUCENA
A MALANDRAGEM É UM RECURSO DE ESPERTEZA UTILIZADO
POR INDIVÍDUOS DE POUCA INFLUÊNCIA SOCIAL, OU SOCIALMENTE DESFAVORECIDOS. POR CONTA DISSO ESSE COMPORTAMENTO MUITAS VEZES É VISTO COM SIMPATIA. AO MALANDRO
CABE MUITAS VEZES O PAPEL DE HERÓI.
Adorado ou odiado, legal ou ilegal, certo ou errado, malandro que se preze tem uma peça de
roupa única em seu armário. Alheio ao que se
pensa a seu respeito, esse personagem da cultura popular brasileira sempre leva em cima da
cabeça o bom e velho chapéu Panamá.
Essa relação malandro e chapéu surgiu na primeira metade do século XX quando, além desse lendário assessório, a clássica malandragem,
que vivia perambulando pelas ruas dos ensolarados grandes centros do Brasil (principalmente
Rio de Janeiro), trajava camisas listradas e calças e sapatos brancos.
Historicamente, os malandros vivem de pequenos golpes e não acreditam no trabalho como
um modo de vida confiável. Em contrapartida,
são sujeitos sensíveis e sentimentais, galantes,
cavalheiros e invejáveis amantes.
70
Revista Beija-Flor de Nilópolis
A malandragem é descrita no imaginário popular brasileiro como uma ferramenta de justiça
individual, embora os malandros, muitas vezes, sejam chamados de “vagabundos”. Perante
a força das instituições opressoras, o malandro
se vira como pode. A malandragem é um recurso de esperteza utilizado por indivíduos de
pouca influência social, ou socialmente desfavorecidos. Por conta disso esse comportamento
muitas vezes é visto com simpatia. Ao malandro
cabe muitas vezes o papel de herói, ainda que se
aproxime mais de um anti-herói.
DUELO DE “FERAS”
Boêmio e frequentador assíduo de rodas de
samba, o malandro foi diversas vezes imortalizado em canções. Uma dessas músicas mais
simbólicas é “Lenço no Pescoço”, escrita por
www.beija-flor.com.br
Wilson Batista e gravada por Sílvio Caldas, em
1933. Nos versos, Wilson descreveu o comportamento da malandragem em frases como
“Meu chapéu do lado / Tamanco arrastando /
Lenço no pescoço / Navalha no bolso / Eu passo
gingando / Provoco e desafio / Eu tenho orgulho / Em ser tão vadio. / Sei que eles falam /
Deste meu proceder / Eu vejo quem trabalha /
Andar no ‘miserê’ / Eu sou vadio / Porque tive
inclinação / Eu me lembro, era criança /
Tirava samba-canção”.
Dando uma de “caxias” - sujeito trabalhador e “certinho”, o aparente oposto do
malandro -, Noel Rosa escreveu “Rapaz
Folgado”, em resposta ao samba de Wilson: “Deixa de arrastar o teu tamanco/
Pois tamanco nunca foi sandália/E tira
do pescoço o lenço branco/Compra sapato e gravata/Joga fora esta navalha
que te atrapalha/Com chapéu do lado
deste rata/Da polícia quero que escapes/Fazendo um samba-canção/Já te
dei papel e lápis/Arranja um amor e
um violão”.
SINAL DOS TEMPOS
Apesar de toda a história da malandragem, atualmente não é tão comum
ver um malandro trajado de forma
clássica, com camisas com listras, calças e sapatos brancos e, é claro, chapéu Panamá. Exceto no carnaval, quando até
o mais caxias dos homens quer viver quatro
dias de malandro. De acordo com Vanuza, gerente da loja Chapelaria do Porto, especializada
em chapéus, nessa época do ano cerca de 100
Panamás são vendidos por dia. “É uma peça
que vende muito um pouco antes e durante os
dias de folia. Lucramos bastante com isso, as
vendas sobem cerca de 80% nesse período. É
engraçado que todo tipo de gente compra, homens, mulheres, crianças, todos usam o chapéu
Panamá”, disse a gerente.
Há também uma relação entre os malandros
clássicos de chapéus e os jogos de azar. Bons no
carteado, nos dados e no jogo, no Brasil muitos
membros da malandragem fizeram riqueza com
essas práticas. Esses indivíduos praticaram caridade e investiram parte dos seus ganhos em
diversas atividades culturais, como no samba,
o que lhes conferiu uma imagem romântica de
benfeitores e defensores dos mais pobres.
Março 2014
71
MADE IN BRAZIL
Extremamente popular, o assessório indispensável do malandro brasileiro foi gravado também
no mundo dos desenhos. Zé Carioca, personagem criado por Walt Disney na década de 1940,
se veste como a clássica malandragem e não
larga seu pandeiro, tampouco tira seu chapéu
Panamá da cabeça.
O chapéu também se faz presente nas religiões.
Zé Pelintra, personagem folclórico e espiritual
das mitologias afro-brasileiras e regionais da
umbanda e do catimbó, sempre é representado
com o Panamá na cabeça e trajando roupas de
malandro.
Uma contradição histórica é o fato de o ex-presidente brasileiro Getúlio Vargas gostar de usar
chapéu Panamá. Lembrado pelas leis em prol
dos trabalhadores e por ter sido um estadista
de pulso firme, Getúlio estava bem longe dos
malandros que corriam do trabalho para marcar
presença em uma boa roda de samba.
Santos Dumont foi outro brasileiro conhecido, e
que não tinha nada de malandro, mas que costumava aparecer com um Panamá na cabeça. Em
quase todas as fotos históricas do inventor do
14 Bis lá está ele, com o chapéu como indispensável assessório.
Apesar de seu nome, o chapéu Panamá é fabricado no Equador e é conhecido por lá como “El
fino”. O apelido que virou nome se deu em 1906
quando, em visita ao Panamá, Theodore Roosevelt, presidente dos Estados Unidos na época,
desfilou pelo famoso canal panamense utilizando o chapéu em questão. Em razão deste episódio o assessório passou a ser denominado com
a atual alcunha.
Com ou sem a clássica malandragem, no Brasil,
no Equador ou no Panamá, o mais importante é
que as tradições da cultura nacional não saiam
nunca de nossas memórias, ou cabeças, como o
chapéu Panamá.
72
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Lenço no Pescoço
Wilson Batista
Meu chapéu do lado
Tamanco arrastando
Lenço no pescoço
Navalha no bolso
Eu passo gingando
Provoco e desafio
Eu tenho orgulho
Em ser tão vadio
Sei que eles falam
Deste meu proceder
Eu vejo quem trabalha
Andar no “miserê”
Eu sou vadio
Porque tive inclinação
Eu me lembro, era criança
Tirava samba-canção
Comigo não
Eu quero ver quem tem razão
E eles tocam
E você canta
E eu não dou
Rapaz Folgado
Noel Rosa
Deixa de arrastar o teu tamanco
Pois tamanco nunca foi sandália
E tira do pescoço o lenço branco
Compra sapato e gravata
Joga fora esta navalha que te atrapalha
Com chapéu do lado deste rata
Da polícia quero que escapes
Fazendo um samba-canção
Já te dei papel e lápis
Arranja um amor e um violão
Malandro é palavra derrotista
Que só serve pra tirar
Todo o valor do sambista
Proponho ao povo civilizado
Não te chamar de malandro
E sim de rapaz folgado
www.beija-flor.com.br
REDAÇÃO
“Quando adentro o sambódromo, uma parte de mim vai ao
infinito enquanto a outra tenta compreender que sentimento é esse. É isso. Algo que não se explica. Se sente”
Alessandra Pirotelli é a prova de que a Beija-Flor é uma escola familiar. Irmã de Fabíola David, esposa do patrono da agremiação
nilopolitana, ela foi o destaque principal
da Azul e Branco de Nilópolis, quando sua
irmã não pôde executar a tarefa. Neste ano,
Alessandra será destaque do carro que fala
sobre o papel da China na história da comunicação. Além de desfilar seu talento
na avenida, Pirotelli é diretora da Camarote
Brasil, uma empresa que promove o nome
da Beija-Flor de Nilópolis para o resto do
mundo.
Com mais de 15 anos de existência, a Camarote Brasil Produções e Eventos promove
shows e eventos corporativos no Brasil e no
exterior. Recentemente, a empresa passou a
realizar um trabalho de promoção da cultura
brasileira em outros países, especialmente
com a Beija-Flor: “A aceitação da escola no
exterior é formidável. Antes de iniciarmos
essa promoção, não podíamos imaginar o
quão a Beija-Flor é querida no restante do
mundo, por um segmento de brasileiros que
vivem lá fora. Estivemos na China por três
anos seguidos, em 2013 realizamos uma turnê por
várias cidades chinesas. Depois Gabão e Macau também estiveram no nosso roteiro”, conta Alessandra.
Entretanto, a ótima impressão causada pela Azul e
Branco de Nilópolis não contagia só brasileiros que
vivem no exterior. Os gringos, em suas terras natais,
também caem no samba ao som da Beija: “Ao longo
desses anos, a Camarote Brasil desenvolveu com a
Beija-Flor um roteiro e uma maneira de apresentar
um show de música de samba, cantado em uma língua tão diferente como o português que é um ritmo
que parece estar na memória afetiva desses estrangeiros, embalados por uma dança com uma energia
que eles não conseguem explicar, mas que marcam
a alma como poucas outras no planeta. É uma experiência incrível. Ver outras nações emocionando-se
com nossa cultura. E a Beija-Flor é muito especial
nesse ponto”, afirmou.
Alessandra Pirotelli no carro Abre-Alas durante
o Carnaval de 2013.
Se por um lado Alessandra leva para o resto do mundo o encantamento do samba, por outro, esse ritmo
musical fascinante mexe muito com ela: “Desfilar na
Beija-Flor para mim é abrir um espaço na alma para
a catarse – essa que é inerente ao ser humano –,
essa que não se explica mas que se sente no fundo
da não consciência. Quando adentro o sambódromo,
uma parte de mim vai ao infinito enquanto a outra
tenta compreender que sentimento é esse. É isso.
Algo que não se explica. Se sente” garante.
A família Beija-Flor é enorme em tamanho e amor e
se depender de pessoas como Alessandra esses são
quesitos que só vão crescer e fazer da agremiação
cada vez mais uma escola nota 10, dentro e fora da
avenida.
Março 2014
73
PAULO SENISE
A CIDADE MARAVILHOSA SE PREPARA PARA RECEBER COM MAIS
CONFORTO E QUALIDADE OS SEUS VISITANTES COM UMA NOVA
SINALIZAÇÃO TURÍSTICA. A IDENTIDADE VISUAL A SER ADOTADA TERÁ CONCEITO SEMELHANTE AO UTILIZADO NOS PRINCIPAIS
DESTINOS TURÍSTICOS DO MUNDO, COMO LONDRES E NOVA YORK.
Com o desembarque da Copa do Mundo no Brasil em 2014 e das Olimpíadas de 2016, somos
a bola da vez. Diversas oportunidades em toda
a cadeia produtiva, que envolve vários setores,
estão sendo geradas em todo o Brasil.
O turismo, em especial, será um dos mercados
mais beneficiados. A expectativa do setor turístico carioca, por exemplo, é ver o fluxo de turistas subir cerca de 20% nos próximos anos.
Já estimativas do Ministério do Turismo (MTur)
projetam a criação de 170 mil empregos em
função desses grandes eventos, além da visita
de 500 mil turistas.
A cidade tem recebido novos investimentos nas
áreas de turismo e cultura, como o projeto de
revitalização da Zona Portuária, a reforma do
Maracanã, o Museu de Arte do Rio (MAR), o
Museu do Amanhã e o Museu da Imagem e do
Som (MIS).
74
Revista Beija-Flor de Nilópolis
O projeto de revitalização da Zona Portuária, que
promete modificar a cara do mercado imobiliário do Rio de Janeiro, inclui importantes transformações no sistema viário da região, cuja população deve quintuplicar segundo estimativas,
alcançando 100 mil
habitantes. A principal mudança, já em
andamento, é a demolição
do Elevado da Perimetral. Ela faz parte de
uma nova lógica para o trânsito da região, com
a Avenida Rodrigues Alves passando a ser uma
via expressa e o surgimento da Avenida Binário
do Porto.
Com três pistas de ida e volta, a Avenida Binário
do Porto vai dividir espaço com o Veículo Leve
sobre Trilhos (VLT) – sistema de transporte que
terá interligações com ônibus, metrô, trens, barcas, BRTs e o aeroporto Santos Dumont - terá
www.beija-flor.com.br
investimento superior a R$ 1 bilhão. Quase metade deste valor receberá recursos aportados do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A Cidade Maravilhosa também se prepara para
receber com mais conforto e qualidade os seus
visitantes, com uma nova sinalização turística.
A identidade visual a ser adotada terá conceito
semelhante ao utilizado nos principais destinos
turísticos do mundo, como Londres e Nova York.
O projeto está em fase de licitação e a assinatura do contrato e a implantação da sinalização
estão previstos para acontecer ainda este ano,
com investimentos de cerca de R$ 15 milhões,
através de parceria da Secretaria Municipal de
Turismo com o Ministério do Turismo.
O projeto permitirá que o turista consiga se
orientar com autonomia. Para isso, serão contemplados os locais da cidade que recebem
maior número de visitantes, assim como as regiões que servirão de infraestrutura de apoio para
a Copa de 2014 e para as Olimpíadas. As peças
(como placas, totens e mobiliários urbanos) serão distribuídas nas seguintes áreas: Zona Sul,
Centro, Maracanã e adjacências, e Barra da Tijuca - Zona Oeste.
O parque hoteleiro também conta com um significativo crescimento. A cidade do Rio de Janeiro conta com cerca de 33.500 mil quartos,
em todas as categorias. Desses, cerca de 22 mil
são quartos de hotelaria convencional. Os demais são albergues, pousadas, cama e café, entre outras.
Cerca de 5 mil novos quartos já estão em processo de construção, e outros 5 mil já estão licenciados pela Prefeitura. A Associação de Hotéis
do Rio (ABIH-RJ) estima que até 2016 entrem
em operação cerca de 15 mil novos quartos.
Em relação à hotelaria, de acordo com dados da
ABIH-RJ, estima-se que cada novo quarto de
hotel gera cerca de quatro empregos, sendo um
direto e três no setor de receptivo turístico.
Até o momento, estima-se que a ocupação hoteleira para o período da Copa do Mundo seja
de 90%.
Sem dúvida, essas conquistas proporcionam à
cidade não apenas melhorias na sua infraestrutura, mas dão maior credibilidade, motivando
investimentos e fortalecendo a imagem positiva
da Cidade Maravilhosa, gerando cada vez mais
negócios.
Com isto, não há dúvidas de que, embora a
Copa e as Olimpíadas sejam as meninas dos
olhos, inúmeros outros eventos virão ao longo
dos próximos anos, desencadeando novas oportunidades para os brasileiros e criando novos
palcos para os produtos culturais que tão bem
representam a nossa miscigenação. Dificilmente outra cidade do mundo terá um calendário de
eventos como o do Rio neste momento.
Que venham os turistas!
___________
Paulo Senise é Diretor Comercial do Rio Convention & Visitors
Bureau, graduado em Hotelaria e Turismo pela Faculdade de
Turismo Centro Unificado Profissional no Rio de Janeiro com
especialização em Gestão de Investimento e Financiamento
em Hotelaria pela Universidade de Cornell – Distrito de Ithaca,
Nova Iorque, EUA.
REDAÇÃO
“Temos a Selminha Sorriso como nossa madrinha e
grande incentivadora. Atualmente, somos mais de 100
integrantes, de várias partes do país e do mundo,”.
De acordo com seus organizadores, o Grupo O
Beija-Flor pode ser somente uma lista de discussão, um fã-clube ou apenas um website com informações e notícias ligadas à Beija-Flor. O fato é
que amor e amizade não se explicam e são esses
sentimentos que movem essa iniciativa que no
ano 2000 motivou a criação de um website para
que o nome da Escola de Nilópolis pudesse ganhar ainda mais força na internet e que hoje em
dia soma cada vez mais seguidores no Facebook.
A ideia para a página na web partiu de três
pessoas que participavam de fóruns de debate
sobre a Beija-Flor na rede mundial de computadores. Hoje, o Grupo O Beija-Flor tem mais de
13 mil curtidas no Facebook, a rede social mais
popular do Brasil. “Tudo começou quando Eugenio (que morava na época no Ceará), Luciane
(carioca) e Leandro (que morava em Minas) se
76
Revista Beija-Flor de Nilópolis
conheceram na Internet e resolveram criar um
website sobre a agremiação”, frisa Alan Diniz,
jornalista de 37 anos, que entrou para o grupo
logo após a criação por intermédio da amizade
que tinha com Eugenio.
No início, o Grupo O Beija-Flor era um website que
continha até reportagens sobre os componentes e
questões ligadas à agremiação de Nilópolis. Entretanto, ele foi desativado, o que não enfraqueceu
nem a amizade nem o projeto. Membros do grupo contam que o principal legado da iniciativa é a
união que se formou entre seus componentes, que
venceram a barreira do mundo virtual e passaram
a organizar encontros e reuniões constantes entre
os seguidores do projeto de todo o Brasil. “Alguns
de nós se encontraram no Carnaval de 2001 e
aos poucos os encontros foram aumentando. O
nosso ápice foi no Carnaval de 2004, quando se
www.beija-flor.com.br
juntaram os mais antigos e os mais novos, do
país inteiro, e passamos o Carnaval todos juntos. Nos infiltramos em uma ala em que alguns
desfilariam e curtimos bastante o último ensaio
na quadra e o teste de luz e som na Sapucaí.
Após isso, nos tornamos uma família com encontros praticamente mensais”, lembrou Felipe
Andrade, geógrafo de 30 anos.
Esse sentimento de carinho é tão grande que se
espalha por membros da escola e até por pessoas
de fora do Brasil: “Temos a Selminha Sorriso como
nossa madrinha e grande incentivadora. Atualmente, somos mais de 100 integrantes, de várias partes do país e do mundo, contando até mesmo com
torcedores que nasceram fora do Brasil, mas que se
apaixonaram pela escola, como Carlos Alonzo, que
nasceu em El Salvador e atualmente mora nos Estados Unidos”, ressaltou Alan Diniz.
Essa relação agremiação/fã-clube também acontece na via inversa. Se por um lado Selminha tem
uma relação direta com o grupo, por outro Ivson
Monteiro de Gusmão, hoteleiro de 44 anos, é um
dos instrutores do Projeto Sonho do Beija-Flor.
“Eu faço parte do quadro de instrutores do Projeto Sonho do Beija-Flor. Em 2006, quando criou
a escolinha de Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Mirins, a Selminha me convidou para auxiliá-la
com as crianças e lá estou até os dias de hoje. E
também sou a pessoa que acompanha o primeiro casal na avenida”, revela Ivson.
A equipe do fã-clube O Beija-Flor em dia de ensaio na
quadra da Beija-Flor de Nilópolis.
Luciane, uma das fundadoras do grupo, destaca
que a interação direta com a escola fica um pouco prejudicada por conta da vida pessoal que os
principais membros do grupo têm. No entanto,
ela pontua que sempre que podem eles estão lá,
em alguma atividade promovida pela agremiação de Nilópolis. “No Carnaval de 2001 tivemos
uma relação bem próxima com o barracão através do Bira, carnavalesco. Tínhamos acesso ao
barracão e éramos presença constante nos ensaios. Criamos um website, que infelizmente foi
desativado, fizemos entrevistas com Laíla, Sonia
Capeta, Neguinho... e por conta de nossos compromissos profissionais nos distanciamos das
pessoas na escola, mas não da escola em si, pois
sempre um ou outro do grupo participava dos
ensaios, disputa de samba e até mesmo desfile
oficial”, diz Luciane Barbosa, empresária de 35
anos.
Amizade e amor são sentimentos difíceis de definir, mas que não devem nunca morrer. Essa
é, sem dúvida, a grande mensagem que Adriana Machado, Alan Diniz, Felipe Andrade, Ivson
Monteiro, Luciane Barbosa e os outros membros
do Grupo O Beija-Flor deixam para o mundo. O
amor dessas pessoas pela Beija-Flor é tão grande que transbordou e regou a linda história desse grupo de amigos.
Março 2014
77
RICARDO DA FONSECA E FELIPE LUCENA
“COM O APOIO DAS INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS MANTIDAS
PELO PRESIDENTE DE HONRA DA BEIJA-FLOR, COMO A CRECHE
JULIA ABRÃO E O EDUCANDÁRIO ABRÃO DAVID, HOMENS E MULHERES DE BEM CONSEGUIRAM CONSTRUIR UM FUTURO MUITO
MELHOR QUE SEU PASSADO.”
Em um passado não muito distante, a Baixada Fluminense convivia diuturnamente com o
descaso do governo do Estado e da União. As
consequências dessa falta de presença do poder público gerou um ciclo que impediu que os
municípios daquela área se desenvolvessem de
forma mais intensa, limitando-os a um crescimento mínimo, insuficiente para as grandes demandas que a região e a sua população exigiam.
Nessa época, a luz na escuridão vinha através de
ações generosas de empresários da região, pessoas sensíveis que conheciam bem os desafios
que o cidadão da baixada tinha que enfrentar
para conquistar seu lugar ao sol. Anizio Abrão
David foi um desses homens, e com seu comprometimento social pôde ajudar muita gente a
driblar aquela dura realidade através dos estudos – e estudos de muita qualidade.
78
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Com o apoio das instituições educacionais mantidas pelo presidente de honra da Beija-Flor,
como a Creche Julia Abrão e o Educandário
Abrão David, homens e mulheres de bem conseguiram construir um futuro muito melhor que
seu passado.
Se o que se esperava de um morador da Baixada
Fluminense era o pé preso ao chão, as histórias
de Andréia e Ana Maria Quintanilha, Rosa Malena, Flávio Ferreira, Daniel Apolinário e Renato
Pleno Ferreira, ex-alunos da Creche e do Educandário, nos mostram que, com o olhar voltado para as estrelas, um sonho verdadeiro e uma
mão amiga, o céu é o limite.
Por essa razão, a revista Beija-Flor de Nilópolis decidiu organizar um encontro especial entre alguns
dos alunos da Creche e do Educandário, anos depois de terem estudado nas instituições mantidas
www.beija-flor.com.br
por Anizio, para participarem de um emocionante to de nós nos estudos, a média sempre foi alta.
café da manhã na Creche Julia Abrão, no qual pu- Isso me deu muita estrutura para que eu seguisderam lembrar um pouco desses importantes ca- se minha vida acadêmica”.
pítulos de suas histórias de vida.
“Meu nome é Rosa Malena Pleno Ferreira. Vim
para cá com cinco anos. Eu peguei a Creche ainDepoimentos de ex-alunos
“Sou Andréia Iara Quintanilha de Oliveira. Vim da lá no centro de Nilópolis, aí quando a Creche
para a Creche com um ano, estudei no Edu- veio para cá, meus irmãos vieram comigo. Quancandário, depois fui para o ensino médio e fiz do deu a idade de sair, aos sete anos, fui estufaculdade. Eu me formei em ciências contábeis dar em uma escola perto da minha casa. Minha
em 2005. Trabalho no lar Fabiano de Cristo, prima me deixava em casa, eu almoçava e ficava
que também é uma empresa filantrópica, aten- sozinha. Minha mãe pediu para tia Lourdes (dide crianças e idosos no Brasil todo. Eu trabalho retora da creche) me deixar aqui meio período.
na sede, no centro do Rio, na parte contável da Eu ficava ajudando as tias, eu gostava de ajuempresa. Sinto-me muito realizada e agradecida dar. Eu queria lavar as panelas maiores. Era um
orgulho (risos). Era uma forma de ajudar. Cuipor todo esse trabalho feito pelo Seu Anizio”.
“Eu sou Ana Maria Quintanilha de Oliveira. Entrei aqui com seis meses em um momento desesperador na vida da minha mãe, que tinha que
tomar conta de mim e da minha irmã e ainda
precisava trabalhar. Da Creche fui para o Educandário. Eu e minha irmã participamos da inauguração do Educandário, foi uma festa grande, o
Joãosinho Trinta veio, tinha muita gente. Saindo
daqui, eu fiz ensino médio e depois entrei para
a faculdade de contabilidade com minha irmã,
nos formamos juntas. Não foi fácil. Foi muita
luta. Hoje eu trabalho no setor tributário na Supergasbrás, que é uma multinacional holandesa.
Atendemos o Brasil todo. Estou fazendo minha
pós-graduação. É sempre bom se especializar.
E essa consciência que eu tenho vem desde os
tempos que estudava aqui, porque exigiam mui-
dava das crianças menores. A tia Lourdes sabia
que eu queria ser professora e então me colocou para dar aula para as crianças pequenas.
Fiquei dois anos fazendo isso. Quando fui para
o ensino médio tive que fazer estágio, então foi
minha despedida da Creche. Senti muita falta.
Eu me formei professora, e depois fiz faculdade
de pedagogia. Hoje sou professora no município
de Mesquita e tenho uma matrícula como supervisora escolar. Sempre lembro da tia Lourdes
quando tenho que tomar alguma medida especial nessa área. É um exemplo. Aqui na Creche e
no Educandário, tudo serve de exemplo”.
“Meu nome é Flávio Ferreira Alves, e tenho 36
anos. Estudei aqui na Creche, saí no limite máximo, terminei meus estudos na Nilo Peçanha
Março 2014
79
(não existia Educandário na época). Mesmo
morando em Mesquita, minha vida sempre foi
aqui em Nilópolis. Aqui eu descobri que queria
fazer faculdade. Corri atrás. Estudei gestão ambiental, me formei em quatro anos sem reprovar
nada. Hoje sou gerente de novos negócios de
“Eu me chamo Renato Pleno Ferreira, e sou
irmão de Rosa Malena. Vim para cá com cinco meses. Minha mãe conta que eu tinha um
problema de alergia, e que precisava tomar um
leite especial, importado, que o Seu Anizio trazia do exterior para mim e para outras crian-
uma empresa chamada CSN, cuidamos do licenciamento ambiental de empresas poluidoras.
Trabalho bastante e tenho uma boa vida, mas
não esqueço que tudo começou aqui. Acredito
que já nascemos com nosso caráter, mas o meu,
certamente, foi moldado para melhor aqui na
Creche”.
ças do Rio de Janeiro. Eu aprontei muito aqui
na Creche, era bem levado. Hoje eu atuo como
designer gráfico. Mesmo sendo crianças muito
novas aqui, é o momento onde escolhemos o
que vamos ser e eu me identifiquei com a área
de comunicação. Mas eu era muito levado e fui
reprovado. Aí minha mãe me colocou em outra
escola, como castigo, e lá me interessei por teatro, que é minha outra formação: licenciatura
em teatro. Tenho uma empresa de comunicação.
Tenho muito orgulho de tudo o que vivi e aprendi aqui. Aqui, acima de tudo, adquiri disciplina.
Disciplina que levo sempre para minha vida. Minha família deve muito a essa família, porque
isso aqui é uma família”.
“Sou Daniel Elias Apolinário, estudei aqui da
quinta a oitava série. Fiz parte da primeira oitava que se formou aqui. Como não tinha ensino
médio aqui, eu tive a oportunidade de estudar
na escola técnica de química, na época eles chamaram os melhores alunos das oitavas séries, e
eu fui chamado. Eu me formei técnico em química, mas não cheguei a exercer a profissão.
Passei para a Universidade Federal Fluminense
(UFF), me graduei em engenharia química com
muito sufoco, morando em Nilópolis e estudando em Niterói. Fiz uma especialização na área de
petróleo e hoje trabalho para a empresa que é a
primeira do mundo na área de exploração, parceira da Petrobrás. Sinto-me muito agradecido
e realizado por tudo o que vivi, e muita coisa
começou aqui, no Educandário”.
80
Revista Beija-Flor de Nilópolis
As cartas na página ao
lado, resumem e expressam
bem o que significa o trabalho que a beija-flor de nilópolis vem desenvolvendo
durante todos esse anos.
www.beija-flor.com.br
REDAÇÃO
EM UM TRABALHO de assistência social, A BEIJA-FLOR
ACOMPANHA COM MUITO CARINHO CRIANÇAS DESDE A PRIMEIRA INFÂNCIA ATÉ A FASE ADULTA. COMO RESPOSTA GANHA
UM MUNICÍPIO MELHOR, COM MORADORES MAIS PREPARADOS
E FELIZES.
Retrospectiva das obras sociais
da Beija-Flor
A ideia de responsabilidade social praticada por
empresas no Brasil ganhou força nos últimos
dez anos. Com isso, de certa forma, tornou-se
comum grandes marcas praticarem ações que
visam ajudar pessoas financeiramente menos
favorecidas. Entretanto, esse tipo de atitude já
era tomada pela Beija-Flor há pelo menos três
décadas. Em todo esse tempo de dedicação, Anizio criou uma creche, um uma escola, um centro preparatório para o mercado de trabalho e
muitas outras ações sociais. Isso só prova que
a escola de Nilópolis é (e sempre foi) um bom
modelo a ser seguido.
Creche
Julia Abrão
A Creche Julia Abrão foi fundada em 1980 com
o nome de Creche Beija-Flor. Alguns anos depois, em homenagem à sua mãe, dona Júlia,
Anizio modificou o nome da creche para Creche
Júlia Abrão David. A Creche é dirigida, desde
sua fundação até os dias atuais, por Maria de
Lourdes. No início, a instituição recebia cerca de
60 crianças. Hoje são mais de 280, entre 6 meses e 6 anos de idade.
À frente de todo esse belo exemplo de ajuda ao
próximo, Maria de Lourdes comenta com orgulho que se sente muito feliz por ser uma peça
dessa engrenagem. A diretora frisa que a Creche é de suma importância porque é o primeiro
contato efetivo e constante dessas crianças com
um ambiente de grande convívio social: “Realizamos na creche as quatro refeições diárias.
São 238 crianças matriculadas. Nosso trabalho é de amor. Graças a Deus e ao trabalho do
Anizio, conseguimos suprir as necessidades dos
que têm menos sorte no início da vida. Para a
maioria dessas crianças esse é o primeiro lar.
Aqui eles aprendem a ter uma boa alimentação, higiene. A demanda é muito grande. Como
te disse, somos o primeiro lar e damos a essas
crianças tudo o que elas precisam. E é sempre
bom lembrar que temos uma ótima estrutura.
Nós não somos um depósito de crianças. Aqui
temos professoras, babás, psicólogas, porteiros,
todos os funcionários disponíveis para essas
crianças. Aqui cumprimos todas as leis. Muita
gente que estudou aqui hoje matricula seus filhos. Tem gente que ganha mais de três salários
mínimos (que é o limite para se matricular alunos na instituição) e ‘chora’ para que os filhos
fiquem aqui. Dizem que só confiam em deixar
as crianças aqui conosco. Eu fico muito feliz de
ser uma gota desse oceano de amor. Agrade-
ço muito ao Anizio, que é um homem
fantástico, por ter criado todo esse trabalho.
Hoje, olho para trás com satisfação. Vim de outras obras sociais, mas só aqui consegui um trabalho lindo de respeito. Tudo graças ao Anizio”,
declara Maria de Lourdes.
Para atender com qualidade as crianças matriculadas na Creche, e seguindo as recomendações da Secretaria de Educação, as crianças de
cada turma são divididas em dois grupos: no
turno da manhã o primeiro grupo estuda na sala
de aula, enquanto o segundo grupo fica no pátio com as recreadoras em atividades livres, mas
educativas. No turno da tarde, a situação se inverte. O primeiro grupo fica no pátio, enquanto
o segundo grupo estuda na sala de aula. “Esse
sistema tem dado excelentes resultados, pois as
crianças não ficam sobrecarregadas de estudo,
nem de recreação. E, porque precisam passar o
dia todo na Creche, essa diversificação faz com
que a permanência delas não seja cansativa ou
traumática, já que são crianças de apenas 4 a 6
anos de idade”, disse Maria de Lourdes.
A gratidão da população de Nilópolis e adjacências é nítida. Os responsáveis pelo projeto são
constantemente elogiados pelos pais das crianças matriculadas na Creche, que ficam gratos,
pois conseguem trabalhar tranquilos para dar
um futuro melhor para seus filhos, sabendo
que, no presente, eles estão protegidos. “O seu
Anizio é um pai para todos nós em Nilópolis. E
isso não é de hoje. A creche do seu Anizio existe
há mais de 30 anos. Sem ele, eu e meu marido
estaríamos passando dificuldades para educar
nossas crianças. Ele é um anjo que dona Júlia
deu a Nilópolis”, declara, emocionada, a mãe de
um dos pequenos alunos.
Com uma equipe composta por nutricionistas,
cozinheiras, auxiliares de cozinha, babás, recreadoras, professoras, faxineiras, auxiliares de
serviços gerais, lavadeiras, atendentes, motoristas e vigias, a Creche Júlia Abrão David é referência tanto no município de Nilópolis como na
Baixada Fluminense. E até para o Brasil.
crianças estudam até a oitava série”, relembra
Anizio.
A iniciativa da Beija-Flor impressiona até quem
é acostumado a ajudar o próximo. O ex-jogador
Zico, que tem trabalhos sociais na área esportiva, pontua que a ideia do Anizio deve ser valorizada: “Fazer com que tantos jovens participem
de projetos que possam enriquecê-los como seres humanos e como profissionais é fantástico.
Todos devem aplaudir e incentivar o pioneirismo
do Anizio e da Beija-Flor”, afirmou o Galinho de
Quintino.
Engrossando o coro pró-Beija-Flor, o radialista
Antônio Carlos parabeniza a forma como acontece o trabalho na escola de Nilópolis: “A Beija-Flor está de parabéns por manter essas crianças
de maneira saudável, dando educação, escola e
alimentação. A obra merece todos os elogios”.
Educandário Abrão David
O Educandário foi fundado em 1987. Essa instituição surgiu a partir da preocupação de Anizio em dar continuidade às atividades sociais e
educativas da Creche. Hoje em dia, 1.260 alunos,
de 6 aos 18 anos, são atendidos no espaço que
conta com três prédios: “Acompanhava o desenvolvimento das atividades da Creche, quando vi
que, passados os anos, as crianças que estudavam lá desde pequenas estavam ameaçadas de
ver seu desenvolvimento educacional suspenso.
Até aquele momento, o futuro delas era sair da
Creche e serem ‘jogadas’ na rede pública de ensino, que na época era bastante ruim. Para que
o trabalho da Creche tivesse uma continuidade,
criamos o Educandário. Lá (no Educandário), as
84
Revista Beija-Flor de Nilópolis
No mesmo tom, Boni, tema do enredo da escola neste carnaval, enaltece que as iniciativas
de Anizio para ajudar as crianças carentes têm
como consequência um futuro melhor para muito mais gente: “Os projetos sociais da Beija-Flor
são muito importantes porque dão oportunidades às crianças e aos jovens de terem um futuro melhor, para eles e para os familiares deles”,
garantiu Boni.
Os elogios têm fundamento. O Educandário
conta com um ensino de alta qualidade, que
atrai estudantes de outros municípios da Baixada Fluminense e até da capital, de regiões mais
distantes como Campo Grande e Realengo. “Todos conhecem o nível de ensino do Educandário.
Ele possui um nível pedagógico do mesmo nível das escolas privadas. Nossos professores são
muito bem preparados, e seguimos o programa
educacional que o estado exige. O resultado do
alto nível pedagógico do Educandário é que as
www.beija-flor.com.br
crianças, quando saem daqui, estão muito bem outros lugares, as pessoas também fizessem o
preparadas para enfrentar qualquer outra reali- que ele faz. Acho que teríamos um Brasil muito
dade”, ressaltou Maria de Lourdes.
diferente desse que vemos hoje”.
Em um trabalho de assistência social, a Beija-Flor acompanha com muito carinho crianças
desde a primeira infância até a fase adulta.
Como resposta ganha um município melhor,
com moradores mais preparados e felizes.
CAC
Moradores de Nilópolis enxergam de perto o
resultado do Educandário e de outras obras da
escola. Como não poderia ser diferente, o sentimento é de satisfação, agradecimento e muita
felicidade. Relembramos as palavras do saudoso
Ary Rodrigues, presidente do Conselho Deliberativo da escola, em depoimento para a revista
da Beija-Flor de Nilópolis: “Vivo aqui há muito
tempo e fico pensando como não teria sido diferente o futuro de muitas das crianças que vi
crescer aqui em Nilópolis. Hoje, com o trabalho
que o Anizio patrocina, muitas das crianças que
não tinham futuro podem voltar a ter fé em dias
melhores. Eu mesmo vi muitos desses meninos
e meninas que estudaram no Educandário crescerem e se tornarem pessoas trabalhadoras. São
jovens médicos, advogados, policiais... E isso é
uma coisa que deve deixar o Anizio muito feliz.
Mas fico pensando, também, como seria se, em
No dia 3 de agosto de 1991, foi inaugurado
o Centro de Atendimento Comunitário Nelson
Abrão David, conhecido como CAC/NAD. Esse
projeto surgiu de uma ideia de Anizio e seu irmão Nelsinho, figuras muito conhecidas e queridas em Nilópolis. O CAC é uma instituição que
oferece cursos profissionalizantes (em diversas
áreas) a moradores de Nilópolis e de outras regiões. “Como você pode ver, o seu Anizio pensa em
tudo. Começou com a Creche, depois veio o Edu-
candário e para que esses jovens recém-saídos
do ensino fundamental possam ter um porto seguro para a qualificação profissional, ele criou o
CAC,” disse Aroldo Carlos, diretor do Centro de
Atendimento Comunitário Nelson Abrão David.
Em um país onde as oportunidades de empregos
estão cada vez mais associadas à capacitação
profissional, a atuação do CAC/NAD é muito necessária – essencial. Isso porque oferece oportunidade para que os alunos possam se qualificar
e, com isso, futuramente essas pessoas poderão
ter uma vida melhor, fazer planos para seu futuro, construir família e ajudar seus familiares.
“Ministramos diversos cursos, cada um com um
foco específico e para um determinado público.
Março 2014
85
Na área comercial, temos cursos de telemarketing, inglês, espanhol, informática, técnica de
vendas, atendimento ao cliente, turismo, fotografia, estilismo, cabeleireiro, corte e costura,
auxiliar de creche, culinária e acompanhante de
idosos. Na área industrial, temos cursos de refrigeração, elétrica residencial, marcenaria, hidráulica, mecânica de motocicletas e concerto
de eletrodomésticos. Além disso, temos cursos
de artesanato, fantasias, adereços, ginástica
para terceira idade, karatê, capoeira, decoração artística para bolos, doces finos e salgados
para festas, além de cursos de dança de salão,
aerodança e dança do ventre. Por fim, prestamos alguns serviços para a comunidade, como
orientação nutricional, clínica médica, psicologia, jurídico, pediatria, angiologia, odontologia
e laboratório. Com essa gama de cursos e serviços, o cidadão de Nilópolis e da Baixada Fluminense, jovem ou não, sempre encontra um curso
que o agrade e afinado com as necessidades de
contratação do mercado de trabalho”, comentou
Aroldo, na ocasião em que foi entrevistado pela
revista.
de qualquer pessoa sem uma profissão definida poder se tornar um profissional pronto para
um determinado nicho do competitivo mercado de trabalho: “Às vezes, o aluno é iletrado,
mas se forma em bombeiro hidráulico, eletricista, e consegue, dessa maneira, recuperar a autoestima que muitas vezes foi perdida quando
teve que largar os estudos ou nem mesmo pôde
começá-los”, afirmou o presidente de honra da
Beija-Flor de Nilópolis.
Projeto Sonho de um Beija-Flor
O Sonho de um Beija-Flor também é uma atividade de inserção social e educativa realizada
pela escola de samba. Nessa iniciativa, os alunos recebem aulas de Jiu-Jitsu, tênis de mesa,
futebol, natação, dança, dentre outras. O que
o projeto propõe é valorizar o potencial dessas
crianças e jovens, reconhecendo seus talentos e
fazer que eles acreditem que seus sonhos são
possíveis de se tornarem realidade, desde que se
empenhem nisso.
Jiu-Jitsu
Patrono de toda a ideia, Anizio aponta que o As aulas de jiu-jitsu começaram em 2006 e chemais importante no trabalho do CAC é o fato garam a ter 200 alunos matriculados. Os alunos,
86
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
que treinavam na quadra da escola em Nilópolis, tinham como professor Elan Santiago, que
já trabalhou com equipes dos EUA e da Coreia.
Além dos ensinamentos de respeito, disciplina e
equilíbrio, a escolinha do professor Elan obteve
muitos prêmios. “Foram mais de 150 medalhas,
entre ouro, prata e bronze. Em 2009, participamos de diversas disputas fora de casa. As mais
importantes foram o campeonato brasileiro e o
estadual de jiu-jitsu, além da competição organizada pelo atleta Raphael Abi-Rihan. No campeonato brasileiro, a equipe da Beija-Flor foi
representada por 24 atletas, que conquistaram
sete medalhas de ouro, doze de prata e uma de
bronze, conquistando o 3º lugar por equipe. No
campeonato estadual, 26 atletas nossos participaram, levando para casa nove medalhas de
ouro, três de prata e três de bronze, conquistando o 3º lugar por equipe. Na competição
organizada pelo Raphael, filho do nosso amigo
Hilton Abi-Rihan, conquistamos doze medalhas
de ouro, oito de prata e cinco de bronze, com a
participação de 38 atletas. Nesse campeonato,
onde todas as grandes academias de jiu-jitsu do
Rio de Janeiro participam, conquistamos o 5º lugar por equipe”, disse Elan.
Tênis de Mesa
As aulas de tênis de mesa ajudaram cerca de
80 crianças a conhecer melhor um dos esportes
mais populares do mundo em termos de número de jogadores, mas ainda em desenvolvimento
no Brasil. O curso foi ministrado pelo presidente da confederação da modalidade na região
leste, Pablo Ribeiro, que sempre frisou que a
prática desse esporte contribui para os jovens
terem um raciocínio mais rápido e maior nível
de concentração. Para participar da atividade, o
aluno precisava ter entre 10 e 17 anos e está
matriculado em uma escola. “Todos os esportes são importantes meios de desenvolvimento
pessoal e social. Quando um aluno pratica um
esporte com dedicação, ele conquista não apenas qualidades dentro do esporte. Por isso é que
considero a prática esportiva essencial na formação do cidadão. E o que realizamos aqui na
Beija-Flor de Nilópolis é isso: dar aos jovens da
região esse importante instrumento de libertação. Quando damos aos jovens sem rumo um
caminho, eles se agarram com afinco, pois veem
no esporte uma oportunidade de construírem
uma vida melhor. Mas nem todos que procuram
a prática do esporte são jovens sem um rumo
definido. Muitos, desde cedo e com o apoio dos
seus pais, sabem o que podem fazer se aproveitarem as oportunidades. Essas oportunidades
no tênis de mesa começam aqui na Beija-Flor e
avançam para caminhos maiores. Esse ano, por
exemplo, nossos alunos vão competir nos campeonatos estaduais. O nível de visibilidade aumenta, e as chances de melhorarem suas vidas
também. Além disso, o tênis de mesa é um esporte olímpico, e por isso é natural que muitos
desses jovens pretendam se preparar e competir para participarem das Olimpíadas de 2016. E
nós estaremos aqui para dar todo o suporte para
eles”, contou Pablo.
Futebol
O projeto uniu as duas maiores paixões dos brasileiros: o futebol e o samba. Com aproximadamente 150 alunos matriculados, a comunidade teve acesso às aulas de futebol society e de
campo. Sucesso garantido. “Aqui na Beija-Flor
de Nilópolis, o problema acaba sendo que existem tantas atividades que eu corro o risco das
crianças preferirem entrar para as aulas de jiuMarço 2014
87
-jitsu ou de tênis de mesa (risos). Sabemos que
há alunos para todas as atividades esportivas.
É lógico que a cultura do brasileiro privilegiará
o futebol. Até porque as demais atividades são
ainda recentes no próprio país. Mas um dia, tenho certeza de que teremos todas as atividades
com procura cada vez maior. O fato é que hoje o
futebol desperta o interesse da molecada, inclusive porque eles acreditam – e devem continuar
acreditando – que o futebol é um dos esportes
que melhor paga aos seus atletas. Além disso, o
Selminha Sorriso, Claudinnho e equipe do curso de Passistas e Mestre-Sala e Porta-Bandeira junto com seus
alunos.
futebol está no sangue desses meninos. Eles
não têm praticamente que aprender nada. Eles
precisam mais é treinar jogadas, corrigir fundamentos e outros pequenos detalhes, porque saber jogar todos sabem. É do brasileiro”, comenta
o professor.
Balé
Ghislaine Cavalcanti, coreógrafa profissional,
coordena o “Aprendendo com o balé”, que inclui
as aulas de balé clássico, jazz e sapateado. Cerca de 150 alunos, entre 5 e 17 anos, aprendem
um pouco mais sobre a história da dança e com
a prática adquirem disciplina e concentração.
“Convivi intensamente com a comunidade de
Nilópolis e observei que eles careciam de ampliar algumas das suas condições artísticas. A
arte é uma manifestação humana que deve estar sempre sendo provocada. Um artista, seja da
88
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
pintura, da música ou da dança precisa estar a
todo momento se desafiando. Em um ambiente
onde o samba é um gênero de grande aceitação,
nada mais natural que todos toquem e dancem
samba. E isso é ótimo. Mas se a proposta do Anizio e da Beija-Flor de Nilópolis é contribuir para
a formação de um ser humano mais integral,
nada mais natural que busquemos ultrapassar
os limites de cada um. Vi, então, nos cursos de
balé clássico e jazz um importante meio para
que essas crianças e jovens, que possuem uma
enorme veia artística, pudessem alçar voos mais
altos”, disse Ghislaine.
agremiação. A partir dos três anos de idade, os
alunos podem ter aulas com o casal a dançar e
muito mais.
“Eles aprendem a interagir, a dividir, aprendem
a viver em comunidade, ou seja, em sociedade,
aprendem a ter disciplina, respeitar hierarquia,
respeitar os amiguinhos”, afirma Selminha.
Com as aulas, essas crianças e jovens aproveitam a oportunidade para despertar o potencial
artístico que carregam e, melhor ainda, de crescer dentro da própria agremiação, perpetuando
essa arte tão mágica, expressa no bailado do casal de mestre-sala e a porta-bandeira.
Passista Mirim, Mestre-Sala e
Porta-Bandeira
Atenta à importância da arte e sua preservação
para as próximas gerações, a agremiação de Nilópolis não perde tempo. Por isso, não abre mão
das aulas para formação de passistas, mestres-sala e porta-bandeiras. Os alunos do curso de
passista mirim recebem semanalmente informações sobre conceitos e fundamentos dessa
arte de sambar. Na prática, exercitam passos,
coreografias e gingas, se igualando, em beleza
e emoção, aos grandes passistas da agremiação
que fizeram história no carnaval.
Com aproximadamente 120 matriculados de diversas idades, os alunos precisam estudar e passar de ano para permanecer na atividade. Selminha Sorriso, ex-passista e coordenadora do
projeto, passa sua experiência para as crianças.
Iniciadas em julho de 2006, as aulas para formação de novos casais de mestre-sala e porta-bandeira são uma importante iniciativa para
a preservação da mais importante figura do
desfile de carnaval, e responsável por conduzir
pela avenida, com graça e beleza, o pavilhão da
Através de todos esses projetos sociais, a Beija-Flor de Nilópolis ajuda não só o seu município de origem mas também regiões vizinhas.
Se cada região do país tivesse uma obra desse
porte, com o intuito de diminuir as diferenças
sociais, certamente teríamos um Brasil melhor.
Parabéns, Beija-Flor!
Bateria Mirim
Todos os sábados, de 9h às 13h, cerca de 120
crianças e jovens de Nilópolis e adjacências se
reúnem com Mestre Rodney, Mestre Plínio, Saú,
Cléo e Pó de Mico para as aulas da bateria mirim
da Beija-Flor.
O projeto surgiu a partir de uma ideia do diretor
de harmonia da agremiação, Laíla, que sentiu a
necessidade de iniciar um trabalho que colaborasse na renovação da Beija-Flor na avenida. E
vem dando certo.
De acordo com Laíla, a bateria mirim, que funciona há pouco mais de três anos, já rendeu
bons frutos para a Azul e Branco de Nilópolis
nos últimos carnavais.
Março 2014
89
“Eu tenho uma bateria formada há menos de
três anos, só com molecada da comunidade. Os
moleques são fantásticos. Tocam demais. Saíram no enredo do Roberto e no ano passado, do
cavalo mangalarga. Tocam com amor. Parecem
que vão comer o instrumento. Temos um futuro longo de comunidade, graças a esse tipo de
coisa”.
TERCEIRA IDADE EM
MOVIMENTO
Atendendo a uma demanda
identificada pela diretoria da
Beija-Flor de Nilópolis, foi instalada, próximo ao Parque Aquático da agremiação, a “Academia
da Terceira Idade da Beija-Flor
de Nilópolis. Segundo Anzio, “lá
as pessoas de idade mais avançada, mas que estão no auge
das realizações, poderá fazer
sua ginástica com tranquilidade
e em um ambiente bem seguro.”
Mestre Rodney não perde o ritmo: ao lado da garotada
que pratica aulas de bateria - muitos deles já participando da Bateria da agremiação - dá o andamento dos
futuros ritmistas do Carnaval do futuro.
REDAÇÃO
A arte é sempre uma forma de melhorar de vida. Nem todos
conseguimos viver de arte, no entanto, certamente seria
impossível viver sem ela.
O balé é um estilo de dança que se
originou nas cortes da Itália renascentista durante o século XV e na
Inglaterra, Rússia e França se firmou
como uma forma de dança de concerto, revolucionando as manifestações artísticas da época. Séculos e
quilômetros depois, essa requintada
arte modificou a vida de muitas meninas, no município de Nilópolis, no
Rio de Janeiro, graças a um projeto
social da Beija-Flor.
Tudo começou em 2001, quando
influenciada pelo jornalista Thales
Batista, Ghislaine Cavalcante, que coreografava as comissões de frente da Beija-Flor, sugeriu à presidência
da escola que aulas de balé fossem dadas na quadra
da Azul e Branco de Nilópolis. Eles foram atendidos e
Ghislaine se tornou coordenadora da iniciativa.
“O Thales ficou admirado com o trabalho das bailarinas
na comissão de frente que eu coreografei e me deu
essa ideia de dar aulas de balé em Nilópolis. O patrono
da escola gostou muito e nos possibilitou realizar esse
sonho” lembrou Ghislaine.
O projeto que começou com 150 crianças, hoje conta
com mais 250. Entre as conquistas da iniciativa estão
participações no festival de dança de Joinville (SC), um
dos mais conceituados da América do Sul.
Uma dessas meninas ligadas ao projeto, hoje é uma
mulher de 27 anos, formada em nutrição e fazendo
pós-graduação na área. Priscila Patrocínio, que faz aulas de balé na Beija-Flor desde 2009, garante que a
iniciativa a ajudou a ter mais autoconfiança, o que ela
leva para quase tudo em sua vida.
“Quando comecei no balé, eu era muito tímida, hoje
sou mais segura. Mais decidida para fazer escolhas no
dia-dia. Além de ser muito bom termos um projeto por
aqui que leva uma dança clássica para pessoas que antes nem sabiam o que era isso” afirmou.
Essa grande iniciativa não poderia ficar só sob o controle de Ghislaine. Ela conta com uma equipe de seis
pessoas. Entre eles está o professor Douglas, que é
sempre lembrado pelas alunas como um mestre que
cobra muito, mas que só quer o melhor de todas.
“Antes de começar a fazer as aulas de balé na escola, eu fazia em outro lugar, mas como lá já estava
acabando, fui fazer na Beija-Flor, que tinha mais estrutura para as alunas. Temos o professor Douglas
que é muito exigente, porém, eu prefiro que seja.
Melhorei muito como dançarina graças a isso. Ele e
a Ghislaine sempre estão fazendo de tudo por nós”
contou Paula Souza, de 19 anos.
Engana-se quem acha que as aulas são só um passatempo ou uma atividade esportiva para essas moças.
Muitas delas pensam em melhorar de vida através da
dança. Como conta Tassiane Albuquerque, de 20 anos:
“Eu quero muito ser profissional do Balé. Seria um sonho” destacou.
A arte é sempre uma forma de melhorar de vida. Nem
todos conseguimos viver de arte, no entanto, certamente seria impossível viver sem ela. Que bom que
essas meninas têm o balé para que os passos de suas
trajetórias fiquem mais leves, como em uma delicada
dança clássica.
Março 2014
91
Luciano Carvalho do Nascimento
MUITOS HOMENS SUCUMBIRAM À ESFINGE; ÉDIPO DECIFROU
SEU ENIGMA, SE TORNOU REI. POUCOS ARRISCAM CANTAR
DIANTE DO PAINEL COM A FOTO DE JAMELÃO, NA ENCRUZILHADA QUE TEM SEU NOME; A MAIORIA SE CALA, UNS SÃO CALADOS. HÁ QUEM O ENCANTE? A EXEMPLO DE TEBAS NA ANTIGUIDADE, HOJE O RIO, NO TEMPO E NO TEMPLO DO CARNAVAL, TEM
UM REI (DA VOZ, É CLARO!)?
Nosso enredo sobre “A história da comunicação”, que tem como personagem central José
Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o “Boni”, é também uma ótima oportunidade para falarmos de
outro modelo de “comunicador”: o nosso Neguinho. E, se o homenageado da Beija-Flor é “O astro da televisão”, podemos dizer que o porta-voz
maior da escola de Nilópolis é uma espécie de
“entidade”, uma (semi)divindade do mundo do
carnaval.
Exagero? Definitivamente não. Uma rápida olhada em narrativas míticas que ajudaram a formar
nosso imaginário – boa parte do imaginário ocidental, na verdade – torna nítido um dado incontestável: a voz é um elemento distintivo, não
raro marca de sobre-humanidade, tanto para
os gregos da Antiguidade Clássica quanto para
algumas nações negras trazidas para o Brasil,
escravizadas, como os iorubás ou os fons.
Na mitologia e na literatura clássica greco-romanas, há vários personagens cujas vozes se
diferenciam. É o caso de Orfeu, filho de Apo94
Revista Beija-Flor de Nilópolis
lo, e de Íon, o rapsodo de Éfeso, por exemplo.
O primeiro, afamado músico, teve sua história
contada oralmente por séculos até que Píndaro, Ovídio e Virgílio a registraram em poemas
antológicos, que depois inspirariam peças teatrais, filmes, musicais e até enredo para desfile carnavalesco. O segundo grego (Íon, o maior
declamador dos versos de Homero) teve suas façanhas narradas por Platão num dos “Diálogos”.
Na mitologia iorubá e na fon, o “dono da voz”,
a “boca do mundo” é um(a) só: o único orixá
que fala aos homens, Exu/Legbá, – o senhor das
encruzilhadas.
A voz de Orfeu era capaz de amansar feras, amolecer rochedos e acalmar o fluxo das águas dos
rios. Até Hades, deus do mundo dos mortos, se
comoveu com a voz melodiosa do filho do deus
da música e da poesia. Segundo Platão, a paixão
de Íon pelos versos de Homero e sua entrega ao
ofício de cantá-los eram maiores do que qualquer técnica declamatória; era isso que tornava
Íon grande: a paixão e a entrega presentes em
sua voz criavam dor ou alegria em quem ouvia
www.beija-flor.com.br
seu canto. Exu, por sua vez, é o “mensageiro de
Olorum” (o orixá maior, o criador), e nada se
faz sem sua mediação. Ele é a fonte de todos os
fluxos, todos os trânsitos, nada evolui sem ele,
nenhuma energia circula. Em suma, “um lado
a comunicar, o outro comunicou”: foi
Exu quem deixou.
Trocadilhos à parte, o que essas histórias têm a ver com
o enredo da Beija-Flor para
2014 e com o intérprete
da escola, Neguinho? Os
pontos de contato são
dois: em primeiro lugar,
o indiscutível valor da
voz para a comunicação
humana; em segundo,
o fato de o samba já
ter sua voz reconhecida. “A voz do samba” é
a de quem é considerado o maior intérprete de sambas-enredos
da história, José Bispo
Clementino dos Santos, o Jamelão.
Em sua homenagem
foi batiza-
do, no Sambódromo do Rio de Janeiro, o lugar
onde primeiro soa o grito de guerra de todos os
cantores, de todas as escolas, no início de suas
apresentações. Coincidência ou não, o Espaço
Jamelão é numa encruzilhada...
E é ali que acontece a hora da verdade. Todo ano, desfile após
desfile. Isso porque, não
bastassem todas essas histórias e “coincidências” –
que talvez passem despercebidas para muita
gente –, foi colocado
no Espaço Jamelão
um painel com uma
foto do falecido intérprete da Mangueira, já idoso,
com um microfone
na mão direita, próximo à boca, e com
a mão esquerda em
concha, perto da orelha esquerda, como se,
prestes a cantar,
ele se esfor-
çasse para ouvir melhor algo. Uma outra voz,
talvez... a de um pretenso sucessor, quem sabe?
Imagine o tamanho da responsabilidade de interpretar um samba-enredo tendo diante de si
aquela foto! Sem esquecer que, além da escuta atenta de Jamelão, cada intérprete também
deve conduzir o canto harmonioso de milhares
de componentes de sua escola, e corresponder
à expectativa de outros milhares de pessoas no
sambódromo, e de mais alguns milhões pela TV,
internet, etc. Por fim, crueldade maior: qualquer
um em meio a esses milhões de pessoas pode,
num momento de saudosismo, com poucos toques num celular, ouvir gravações da “voz do
samba” ecoando eternizada pela Sapucaí. Afinal, as mídias, nosso enredo, diluem fronteiras
de tempo e espaço.
Então, a nada fácil missão dos intérpretes fica
ainda mais difícil sob os olhos e ouvidos agudos
daquela “esfinge bacante”. Sim, porque ali, naquela foto, Jamelão é outra Esfinge – a criatura
meio mulher, meio leão que aterrorizava os habitantes de Tebas (pois é, caro leitor-folião; de
novo a Grécia, Sófocles desta vez, com “Édipo
rei”). O monstro grego ficava sentado no topo
de uma montanha espreitando os viajantes que
passavam pela estrada rumo à cidade; o eco visual da “voz do samba” paira sobre ritmistas,
cantores e carros de som quando todos eles estão começando sua apresentação. “Decifra-me
ou te devoro” era a antiga ameaça; “encanta-me
ou te calo” é a sentença agora.
Muitos homens sucumbiram à Esfinge; Édipo
decifrou seu enigma, se tornou rei. Poucos arriscam cantar diante do painel com a foto de
Jamelão, na encruzilhada que tem seu nome; a
maioria se cala, uns são calados. Há quem o encante? A exemplo de Tebas na Antiguidade, hoje
o Rio, no tempo e no templo do carnaval, tem
um rei (da voz, é claro!)?
Sem dúvida. Aquele que há quase quarenta
anos guia o canto da escola de Nilópolis; que
instituiu o grito de guerra entre os cantores de
sambas-enredos; que tantas vezes fez dueto
com Jamelão em apresentações ao vivo; e cujo
profissionalismo e excelência vocal levaram o
próprio Mestre a elegê-lo como continuador da
luta política pelo respeito à figura do “intérprete” (“‘Puxador’ é de saco, de carro, de fumo... eu
sou cantor!”, dizia o velho “Jamela”). Neguinho
da Beija-Flor, misto de Édipo e Orfeu, encanta a
“esfinge bacante” da encruzilhada.
Por quê?
96
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Porque, para gregos e romanos antigos, os filhos
de deuses com mortais eram os “semideuses”;
eles viviam sob especial proteção de seus pais, e
sempre tinham algum dom sobre-humano. Porque, para fons e iorubás, Legbá/Exu, o “Grande
mensageiro”, é também quem protege os homens
das doenças da boca, da garganta, dos ouvidos,
de todos os orifícios do corpo (lugares por onde
há fluxo, há comunicação entre o interior do corpo e o meio exterior). Porque a voz de Jamelão,
que encantou a todos, tanto acompanhada por
orquestras (exemplo de calma melodia apolínea),
quanto seguida por baterias (signo máximo da
efusiva harmonia dionisíaca), essa voz reconheceu o valor de outra, a ponto de passar para essa
outra o cetro (o microfone) para a continuidade
da luta, símbolo da preservação da linhagem de
“intérpretes” (“‘Puxador’ não!”).
No modelo greco-romano, Neguinho é mais um
semideus (herdeiro de Apolo); no africano, ele
– cantor, intérprete, porta-voz do enredo, da escola e da comunidade de Nilópolis – é um protegido de Exu. Foi Neguinho, aliás, quem cantou,
no samba de 1989 – Ratos E Urubus... Larguem
Minha Fantasia – a referência mais direta e famosa ao orixá já feita no carnaval carioca: “Legbá larô ôôô/ Ebó Legbará laiá laiá”.
Pode ser que aquele painel do Espaço Jamelão seja
bastante ameaçador – um tanto constrangedor, no
mínimo – para a maioria dos cantores das escolas
de samba. Para Neguinho certamente não. Para ele
aquela é mais uma lembrança de seus antepassados míticos, que lhe abriram os caminhos e, de
uma maneira ou de outra, permitiram e/ou estabeleceram o contato entre os homens e os deuses.
Tudo por meio do canto, por meio da voz.
“Olha a Beija-Flor aí, gente! Chora cavaco!” mais
que um grito, é uma grife e um link. Há anos “a
marca do carnaval [também] é ela”, a voz de Neguinho. E os integrantes da escola, os espectadores, todo mundo sabe que, materializadas especificamente por aquela voz, naquele espaço, durante
o carnaval, tais palavras abrem a comunicação, colocam a realidade e um mundo mítico de sonho e
fantasia “juntos na mesma frequência”. Resultado:
“um show de audiência vamos reviver”.
Por isso, abram os ouvidos: “OUVE a Beija-Flor
aí, gente!”
___________
Luciano Carvalho do Nascimento é mestre em Letras vernáculas - Língua Portuguesa (URFJ), doutorando em Teoria Literária
(UFSC) e professor do Colégio Militar do Rio de Janeiro.
www.beija-flor.com.br
Fala, neguinho!
RBFN — Neguinho, todo mundo fala muito dessa sua lealdade à Beija-Flor, estando há tantos anos
como intérprete da escola. É fácil ser leal?
Neguinho da Beija-Flor — (risos) Interessante essa pergunta... (risos) Ninguém nunca tinha abordado a questão por esse lado. Para mim, de começo, a questão da lealdade tem a ver com educação
e exemplos que você tem em casa. É lá onde a gente vai construindo valores. Independente disso,
na vida também vamos fazendo escolhas. No meu caso em relação à Beija-Flor, não fico pensando
em minha lealdade à escola e ao Anizio. Aqui é minha casa, eu me sinto bem aqui, reconhecido,
amado, respeitado. Entendo qual é o meu papel na Beija-Flor e a importância de não desertar do
meu posto. Para mim, então, ser leal à Beija-Flor é tranquilo. Simples como respirar.
RBFN — Você é reconhecidamente a mais importante voz do carnaval carioca - e por que não dizer,
do carnaval no mundo. Isso te envaidece?
NBF — É o que sempre digo: somos seres humanos e, por isso, falíveis. Mas não vejo a vaidade como
um defeito. Vejo como um problema o excesso de vaidade. Sentir-me orgulhoso pelo que faço,
alegrar-me pelo reconhecimento que as pessoas e a imprensa dão a esse assunto é natural. Isso
me envaidece. Mas outras coisas me envaidecem também, como ter a família que tenho, a mulher
e os filhos que tenho, os amigos. Tenho orgulho de ser quem eu sou, um homem do bem que vem
sendo lapidado pela vida, através de alegrias e de tristezas também. De vitórias e sofrimentos.
Tenho orgulho de nunca desistir, de buscar ver sempre o lado bom das pessoas e de buscar ser
bom com todas elas. Mas esse sentimento não me cega. Sei que Deus é o dono da vida e a ele sou
resignado. Trabalho com amor, utilizando os dons que Deus me deu e busco ser uma pessoa melhor
a cada dia. O reconhecimento do público é um resultado natural pelo que faço, como disse, com
muito amor e respeito a todos.
Março 2014
97
HILTON ABI-RIHAN
“HOJE O CARNAVAL ATRAI MULTIDÕES PORQUE É UM ESPETÁCULO QUE SE FEZ ORGANIZADO, SEGURO, DISCIPLINADO, COM
HORÁRIOS RÍGIDOS EM FAVOR DO FOLIÃO E DO ESPETÁCULO.
MAS A VERDADE É QUE HOJE DESFRUTAMOS De UMA AVANÇADA FASE DE UM PROCESSO QUE SE INICIOU EM 1984”.
Em 2014 a Liga Independente das Escolas de Samba
– Liesa – completa trinta anos. Uma data que deve
ser comemorada pelos foliões, já que as principais
conquistas obtidas pelas escolas de samba, e que
se refletem no seu fortalecimento e na melhoria da
qualidade do espetáculo, foram resultados de muita
luta e negociação da Liesa e seus presidentes.
A revista Beija-Flor de Nilópolis mais uma vez foi
ouvir quem entende de Liesa, seu presidente Jorge
Castanheira, que tem a sua história de vida afetuosamente ligada à história da Instituição. Jorge colabora com a Liesa desde a sua fundação, quando,
com apenas 20 anos de idade, saía do trabalho no
final do expediente para ajudar o presidente Castor
de Andrade nas diversas tarefas que fossem necessárias realizar.
RBFN — Como surgiu a ideia de se fundar a Liesa? As
escolas de samba já não tinham uma entidade que
as coordenava?
Jorge Castanheira — O sambódromo foi inaugurado
em 1984. Depois disso houve um desentendimento
na Associação dos Sambistas, no Méier, as escolas
decidiram criar uma liga independente para as agremiações de samba do Rio de Janeiro. Assim surgiu a
Liesa, uma entidade formada por algumas escolas
de samba que tinha total independência em relação
à Associação dos Sambistas, que cuidava de todas
as escolas, de todos os grupos. A Liga Independente
nasceu para coordenar as escolas do grupo 1A – o
grupo principal, integrado por dez agremiações e
hoje denominado Grupo Especial.
98
Revista Beija-Flor de Nilópolis
RBFN — E o que a Liesa fez, concretamente?
JC — A partir desse momento, essas dez escolas,
em parceria com a RioTur, passaram a cuidar dos
interesses do Carnaval. Ficaram à frente de tudo,
elaboração de contratos, convênios, regulamentos,
critérios de julgamentos, controle de horários, etc.
O espetáculo “Carnaval” estava dando os primeiros
passos – passos firmes – para se tornar esse evento
de magnitude que todos conhecem. Hoje o Carnaval atrai multidões porque é um espetáculo que se
fez organizado, seguro, disciplinado, com horários
rígidos em favor do folião e do espetáculo. Mas a
verdade é que hoje desfrutamos de uma avançada
fase de um processo que se iniciou em 1984, onde
o Seu Anizio David, Dr. Hiram Araújo, Dr. Castor de
Andrade, Capitão Guimarães e outros trabalharam
arduamente em prol do Carnaval que vislumbravam.
RBFN — A Liesa tinha noção de que estava construindo esse grandioso Carnaval que conhecemos?
JC — Em termos de reconhecimento do papel cultural
do espetáculo, sim. Em termos de aprimoramento do
aspecto gerencial, econômico, de imagens, isso foi
feito ao longo dos anos, de acordo com cada mandato de determinada administração. Todo esse amplo
processo de evolução foi construído aos poucos, com
a parceria entre a Liga e as TVs Globo e Manchete, na época as duas emissoras que transmitiam o
Carnaval. Isso gerou um grande ganho na cobertura
dos direitos. No começo, os valores de venda dessas
transmissões para o exterior eram baixos, mas com
a Globo se expandindo mundo afora esses valores
www.beija-flor.com.br
foram negociados e cresceram, o que passou a ser
fundamental para o crescimento do espetáculo, impulsionando a imagem do Carnaval no exterior.
O presidente da Liesa, Jorge Castanheira, durante entevista que concedeu ao radialista e editor da revista
Beija-Flor, Hilton Abi-Rihan.
RBFN — Então a receita que advém da transmissão
é um importante meio de desenvolvimento do Carnaval?
JC — Sim. Essa questão dos valores foi se aprimorando
e hoje o repasse da TV Globo ajuda muito as escolas
em relação ao orçamento que elas têm para desenvolver enredos e desfiles. É importante que se entenda
que cada agremiação coloca na Avenida o resultado
de um trabalho artístico que é desenvolvido durante
meses, e que todo esse trabalho demanda recursos
para o pagamento de funcionários, carnavalescos,
figurinos, fantasias, carros alegóricos, água, energia
elétrica e tantas outras despesas, inclusive as advindas das inovações tecnológicas que são apresentadas
para o público. E para cobrir as despesas desse produto cultural que é o Carnaval nada mais natural do
que receber monetariamente de empresas que lucram
honestamente com a transmissão do espetáculo.
RBFN — O Carnaval continua evoluindo?
JC — O estágio que o Carnaval chegou é fruto de muito trabalho, de muita dedicação de muita gente que
ajudou a construir esse formato de desfile. E todo esse
trabalho foi focado para que o glamour, a característica
não se perdesse. E as escolas ajudam porque buscaram
sempre a perfeição. A Beija-Flor, por exemplo, só ficou
fora do Desfile das Campeãs uma vez nesses últimos
anos. As cabeças pensantes do Carnaval estão sempre
trabalhando para oferecer um espetáculo melhor a cada
ano, repleto da magia que encanta o mundo inteiro. A
participação da Liesa, de seus dedicados colaboradores,
das agremiações de samba e do poder público – cada
qual atuando dentro do seu universo, transformam a
cada ano esse espetáculo. Todos esses atores são peças
fundamentais para o sucesso do Carnaval, mas quero
dar um destaque especial à Liesa porque é a instituição
que operacionaliza tudo isso e que faz a convergência
de todas essas forças em favor de um espetáculo de
alto padrão e qualidade.
RBFN — Qual a importância da transmissão do Carnaval pela Globo Internacional?
JC — A Rede Globo tem convênios com muitos países
– aproximadamente 130 - que assistem ao vivo ou
em gravações o Desfile do Carnaval do Rio de Janeiro. Ela emite o sinal, inclusive, para uma emissora
francesa que distribui para todos os cinco continentes. Isso significa que o mundo inteiro vê o espetáculo, e isso é muito importante para o turismo no
Brasil. A Rede Globo é uma grande parceira nossa.
Sempre nos ajudou na estruturação do Carnaval.
RBFN — Qual a mensagem final que gostaria de deixar para o nosso leitor?
JC — Os leitores que vão para a avenida têm que
ter em mente que é um momento de descontração.
Eles têm que desfrutar da magia que vem da criação
desse povo. Venham de peito aberto. O Carnaval é
um espetáculo democrático. Essa é a grande mensagem que podemos passar: todos juntos, no mesmo
espaço, uma do lado do outro e convivendo em paz.
Março 2014
99
VICENTE DATTOLI
“POR QUE ERGUER AQUELE GIGANTE DE CONCRETO, QUE HÁ POUCO
TEMPO FOI ‘REBATIDO E COMPLETADO’? SIMPLES. PORQUE O SAMBISTA PRECISAVA DE UM LAR. OS DESFILES DAS ESCOLAS DE SAMBA
NECESSITAVAM DA SUA CASA PRÓPRIA.”
O Sambódromo está completando 30 anos de
inauguração.
Datas redondas, como se costuma falar, sempre
provocam recordações.
Há quem faça pesquisas para mostrar como era
o mundo quando houve a criação do motivo da
comemoração. Outros falam da economia, do
que se podia comprar naquela época e hoje não
se pode mais. Há quem procure lembrar o que
mudou, no caso do Sambódromo, como era o
Carnaval em 1984. Tudo é válido. E é bom recordar.
O que normalmente fica esquecido é a razão
pela qual tudo isso aconteceu.
Sim. Por exemplo, por que construíram o Maracanã em 1949/1950? Por causa da Copa do
Mundo, que seria realizada no Brasil e necessitávamos de um estádio que abrigasse, com as
100
Revista Beija-Flor de Nilópolis
devidas condições, a decisão daquele Mundial.
No caso do Sambódromo... Por que erguer aquele
gigante de concreto, que há pouco tempo foi “rebatido e completado”? Simples. Porque o sambista precisava de um lar. Os desfiles das escolas de
samba necessitavam da sua casa própria.
Pode parecer uma visão simplista ou romântica,
mas essa é a verdade.
Ainda nos tempos em que a Associação das Escolas de Samba comandava os desfiles no Rio de
Janeiro, houve lá um visionário que não cansou
de dizer isso. Seu nome? Amaury Jório. Ele fez o
possível para que os desfiles tivessem sua “casa
própria”. Ele se foi sem ver esse sonho realizado.
Infelizmente.
Quando o governador Leonel de Moura Brizola, sabe-se lá por que razão ou incentivado por
quem, aceitou a ideia de seu vice, o antropólogo
www.beija-flor.com.br
Darcy Ribeiro, e com um projeto de Oscar Niemeyer tocou em tempo recorde a construção, os
sambistas viram ali o seu BNH particular – para
quem não sabe, o Banco Nacional da Habitação
por um bom tempo foi o porto seguro de quem
desejava realizar o “sonho da casa própria”.
Houve quem duvidasse que a obra ficasse pronta a tempo. Não faltava vontade política – e
isso, no Brasil, é fundamental.
Assim, quando a Passarela do Samba ficou pronta, em março de 1984, mesmo com todos os erros que pudessem ter sido cometidos (os sambistas não foram ouvidos, mas a alegria pelo fim
do monta/desmonta era tanta que nem isso foi
criticado), só havia espaço para a felicidade.
Até mesmo a louca criação da Praça da Apoteose, que não possui qualquer tipo de ligação
com o histórico dos desfiles, foi incorporada em
seu primeiro ano de uso e, depois, devidamente
esquecida. Coisas de gênios que acham que podem interferir no que sempre deu certo.
Desde então, os desfiles só fizeram crescer. E aí,
para continuar a história, é necessário lembrar
outro aniversário de 30 anos. Este daqui a pouco. A criação da Liga Independente das Escolas
de Samba, em julho do mesmo 1984 do surgimento do Sambódromo.
A administração consciente e profissionalizada
da Liga, buscando proporcionar condições igualitárias para as escolas de samba competirem,
era o segundo porto seguro para o qual as agremiações poderiam dirigir-se.
As mudanças no espetáculo, proporcionadas pela
criação do Sambódromo, só puderam se tornar
realidade porque alguns administradores das escolas de então decidiram bancar todas as dificuldades e preconceitos e criar a nova entidade.
Então, neste Carnaval, mesmo que por antecipação, duas grandes comemorações devem e
podem ser comemoradas: os 30 anos do Sambódromo, que coincidem com os desfiles; e o
trigésimo aniversário da Liga.
Carnaval.
Energia
que inspira
a gente.
Mais do que uma festa, o Carnaval é uma tradição que conta a história do
nosso país e da nossa gente. Por isso, nós patrocinamos o Samba Carioca,
Patrimônio Cultural do Brasil. Gente. É o que inspira a gente.
Difícil não aprender
algo sobre o Brasil
em uma festa
com tantas escolas.
—
Autores: Sidney de Pilares, JR Beija-Flor, Junior Trindade, Adilson Brandão, Zé Carlos e Diogo Rosa.
BONI
O ASTRO ILUMINADO
DA COMUNICACAÇÃO BRASILEIRA
No ar, a mensagem de um Beija-Flor
Sonhar, o sonho de um sonhador
E viajar no tempo, no som um sentimento
Ir mais além, tocar o céu
Erguer a Torre de Babel
Escrever seu nome num papel
Eu e você, em sintonia seja onde for
No infinito ao teu sinal eu vou
Leva desejo divino, divino desejo me leva...
A encontrar a arte no seu olhar
A Deusa do samba na Passarela
A marca do carnaval... É ela
Um lado a comunicar, o outro comunicou
Tá na mídia a Beija-Flor
Quando a emoção chegar, a saudade vai bater
Juntos na mesma frequência
Um show de audiência, vamos reviver
Espelho refletindo cada um de nós
Por isso solte a sua voz, hoje o artista é você
Clareou... E a gente vai se ver de novo (BIS)
Clareou... De azul e branco nos braços do povo
Boni, tu és o astro da televisão
Fiz, da sua vida minha inspiração
Vem, a festa é sua, a festa é nossa de quem quiser
Mostra que “babado é esse” de samba no pé
104
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br

Documentos relacionados