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BRUNO MONTEIRO DA FONSECA
ACOMPANHAMENTO DO PERIPARTO DE
VACAS LEITEIRAS NA FAZENDA
FIGUEIREDO
Lavras – MG
2016
BRUNO MONTEIRO DA FONSECA
ACOMPANHAMENTO DO PERIPARTO DE VACAS LEITEIRAS NA
FAZENDA FIGUEIREDO
Relatório
de
estágio
supervisionado
apresentado ao Colegiado do Curso de
Zootecnia, como parte das exigências para
obtenção de título de Bacharel em Zootecnia
Orientador
Prof. Marcos Neves Pereira
LAVRAS – MG
2016
BRUNO MONTEIRO DA FONSECA
ACOMPANHAMENTO DO PERIPARTO DE VACAS LEITEIRAS NA
FAZENDA FIGUEIREDO
Relatório
de
estágio
supervisionado
apresentado ao Colegiado do Curso de
Zootecnia, como parte das exigências para
obtenção do título de Bacharel em Zootecnia.
APROVADA em 11 de Março de 2016
Eugenio Faria Barbosa – Mestrando em Zootecnia/UFLA
Lucas Parreira de Castro – Mestrando em Zootecnia/UFLA
Prof. Marcos Neves Pereira
Orientador
LAVRAS – MG
2016
Aos meus pais, João e Lúcia, a minha irmã Luciana, e a toda minha família por
me incentivar e apoiarem durante todo esse período.
DEDICO
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por todas as oportunidades que colocou no meu caminho. Aos
meus pais por todo esforço e confiança depositada em mim nestes cinco anos em
Lavras, e a toda minha família pelo apoio e valores ensinados. À UFLA por toda
estrutura e professores que fizeram parte da minha formação. Ao Grupo do Leite
e ao Professor Marcos por todo conhecimento e oportunidades oferecidas. À
República Cachacera que foi minha família por todos estes anos. Agradeço a
Fazenda Figueiredo e ao proprietário Luiz Carlos Figueiredo, assim como ao
Médico Veterinário e supervisor de estágio Pedro Henrique Amâncio Afonso pela
oportunidade de estágio e pelos ensinamentos concedidos por eles.
Obrigado!
RESUMO
O estágio supervisionado foi realizado na Fazenda Figueiredo, de Julho a
Setembro de 2015, com o objetivo de desenvolver habilidades no manejo
de animais no periparto. As atividades durante o período de estágio foram
desenvolvidas junto ao médico veterinário Pedro Henrique Amâncio
Afonso. O acompanhamento e avaliação dos animais em transição foram
efetuados diariamente, constituindo-se na avaliação clínica de todos os
animais após o parto. Foi avaliado também o manejo alimentar e o
manejo de animais do pré-parto e pós-parto na fazenda.
A oportunidade de participar das atividades de uma fazenda produtora de
leite foi fundamental para a conclusão do curso e para formação
profissional.
Palavras-chave: Pré-parto, pós-parto, período de transição e periparto.
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO........................................................................................ 9
2.
DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO .......................................... 10
2.1
MANEJO DOS ANIMAIS DO PRÉ-PARTO ........................................ 10
2.2
MANEJO DOS ANIMAIS DO PÓS-PARTO ........................................ 13
3.
REFERENCIAL TEÓRICO................................................................. 17
3.1
INCIDÊNCIA DE HIPOCALCEMIA .................................................... 17
3.2
INCIDÊNCIA DE CETOSE ................................................................... 20
3.3
INCIDÊNCIA DE RETENÇÃO DE PLACENTA ................................ 24
4.
DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO DAS ATIVIDADES
DESENVOLVIDAS .......................................................................................... 25
4.1
PRÉ-PARTO........................................................................................... 25
4.2
PÓS-PARTO........................................................................................... 28
5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 36
6.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................... 37
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. INSTALAÇÕES DO PRÉ-PARTO ..............................................................11
FIGURA 2. BAIA DE MATERNIDADE. ......................................................................13
FIGURA 3. SOL NAS INSTALAÇÕES DO PÓS-PARTO. ...............................................14
FIGURA 4. MANEJO DOS ANIMAIS DO PÓS-PARTO. ................................................16
FIGURA 5. INCIDÊNCIA DE PARTOS NORMAIS, AUXILIADOS E ABORTOS EM
MULTÍPARAS E PRIMÍPARAS. .........................................................................27
FIGURA 6. FICHA DE CONTROLE DO PÓS-PARTO. ..................................................29
FIGURA 7. ANIMAIS PÓS-PARTO PRESOS NOS CANZIS. ..........................................30
FIGURA 8. ANIMAL COM EDEMA DE ÚBERE. .........................................................34
LISTA DE TABELAS
TABELA 1. HISTÓRICO DE RETENÇÃO DE PLACENTA NA FAZENDA FIGUEIREDO. ..9
TABELA 2. COMPOSIÇÃO DO REBANHO DA FAZENDA FIGUEIREDO NO DIA 14 DE
SETEMBRO DE 2015. ......................................................................................10
TABELA 3. COMPOSIÇÃO DA DIETA DO PRÉ-PARTO EM INGREDIENTES E
NUTRIENTES
1
. ................................................................................................12
TABELA 4. COMPOSIÇÃO DA DIETA PÓS-PARTO EM INGREDIENTES E NUTRIENTES1.
......................................................................................................................15
TABELA 5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM CLÍNICA MÉDICA, OBSTETRÍCIA E
MANEJO DOS ANIMAIS. ..................................................................................26
TABELA 6. PESO E ECC COM UM DIA APÓS O PARTO E COM 21 DIAS EM
LACTAÇÃO (DEL). ........................................................................................30
TABELA 7. INCIDÊNCIA DE DOENÇAS NOS ANIMAIS NO PERÍODO DO PÓS-PARTO. 31
TABELA 8. CONCENTRAÇÕES MÉDIAS DE BHBA E PORCENTAGEM DE ANIMAIS
COM BHBA > 1,2 MMOL/L. ...........................................................................33
TABELA 9. NÚMERO DE TRATAMENTOS EM VACAS MULTÍPARAS E PRIMÍPARAS
OBSERVADOS DURANTE O PERÍODO DE ESTÁGIO. .........................................35
9
1. INTRODUÇÃO
O estágio supervisionado é uma atividade obrigatória do curso de
Zootecnia da Universidade Federal de Lavras, constituída de 340 horas, com o
objetivo de complementar o ensino teórico-prático adquirido pelo acadêmico
durante o curso de graduação.
As atividades do estágio foram realizadas na Fazenda Figueiredo
localizada no município de Cristalina – GO, sob orientação do professor do
Departamento de Zootecnia/UFLA, Marcos Neves Pereira e supervisão do
médico veterinário Pedro Henrique Amâncio Afonso.
A Fazenda Figueiredo tem um histórico de alta incidência de retenção de
placenta, como pode ser observado na tabela 1. Com tudo o objetivo do estágio
foi o acompanhamento das vacas no periparto, período que compreende o
intervalo de 21 dias antes do parto e 21 dias pós-parto, para identificar possíveis
erros de manejo durante o periparto que poderiam estar associados a causas de
retenção de placenta da fazenda.
Tabela 1. Histórico de retenção de placenta na Fazenda Figueiredo.
Ano
Primíparas
Multíparas
2009
32,5%
33,9%
2010
24,5%
20,3%
2011
13,2%
19,2%
2012
13,1%
21,4%
2013
11,8%
23,8%
2014
12,2%
28%
2015
17,1%
19,2%
10
2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO
A fazenda iniciou a produção de leite em 1987 na cidade de MandaguariPR a partir de animais da raça Holandês. Em 1994 com o intuito de melhorar a
genética dos animais iniciou-se um programa de transferência de embriões com a
aquisição de algumas doadoras, e posteriormente foi feita uma importação de
animais e embriões do Canadá. Em 2006 o projeto foi ampliado e transferido para
o município de Cristalina-GO devido à topografia acidentada da fazenda no
estado do Paraná.
A produção diária era de aproximadamente 18.000 litros de leite por dia
com 630 vacas em lactação, com média de 28,6 litros/vaca/dia. O município de
Cristalina está localizado no Estado de Goiás, com altitude média de 1.200
metros. No período do estágio, a temperatura mínima registrada foi de 14,4°C e
máxima de 28,6°C.O rebanho era composto por 1.384 animais divididos em
diferentes fases de criação (Tabela 2).
Tabela 2. Composição do rebanho da Fazenda Figueiredo no dia 14 de setembro
de 2015.
Categoria
Nº Animais
(%) Animais
Novilhas e bezerras
521
38%
Vacas em lactação
630
46%
Vacas secas
154
10%
Doadoras
56
4%
Machos
23
2%
Total
1.384
100%
2.1 MANEJO DOS ANIMAIS DO PRÉ-PARTO
Os animais do pré-parto foram mantidos no sistema de confinamento em
free stall, com cama de areia, ventilação na linha de cama, aspersão na pista de
11
trato e solário (figura 1). A lotação do curral ficava em torno de 80%,
proporcionando um espaço de cocho de aproximadamente 85 cm por vaca.
Semanalmente os animais foram levados para o pré-parto, 21 a 28 dias antes da
previsão de parto, separados em lotes de multíparas e de nulíparas. Nesta fase, os
animais receberam uma dieta aniônica (tabela 3), e após sete dias do início de
fornecimento da dieta, o pH da urina foi medido utilizando um peagâmetro
digital. A amostra de urina foi coletada em um copo descartável após uma
massagem na vulva para estimular micção.
Figura 1. Instalações do pré-parto
12
Tabela 3. Composição da dieta do pré-parto em ingredientes e nutrientes1.
% da matéria seca
Ingredientes
Silagem de milho
62,5%
Palha de trigo
8,5%
Farelo de soja
14,8%
Caroço de algodão
4,1%
Milho moído fino
6,9%
Poli Leite Pré-Parto 300 NA
3,2%
Nutrientes
PB2
13,4%
3
FDN
43,1%
CNF4
31,8%
EE5
4,1%
Ca
0,38%
Mg
0,43%
K
1,18%
S
0,37%
Na
0,15%
Cl
0,55%
Se
0,39%
Vitamina E UI
1575
-21,40
DCAD6, mEq/kg MS
Dias dieta pré-parto
24
Incidência Hipocalcemia7
0,80%
Cr orgânico mg/dia
6,30
Monensina mg/dia
231
1
Nutrientes expressos em porcentagem da matéria seca. 2Proteína bruta. 3Fibra em
detergente neutro. 4CNF=100-(PB+FDN+CINZAS+EE). 5Extrato etéreo. 6Diferença
cátion-anionica. 7Valores calculados (Lean et al., 2006).
Os animais do pré-parto foram monitorados 24 horas e quando entravam
em trabalho de parto eram levados para a baia de maternidade (Figura 2). Após o
parto o animal era ordenhado para retirada do colostro e voltava para o lote do
pré-parto. Após 12 horas era levado para o lote de pós-parto para facilitar a
identificação da retenção de placenta. A quantidade de colostro foi medida e
anotada na ficha do animal.
13
Figura 2. Baia de maternidade.
2.2 MANEJO DOS ANIMAIS DO PÓS-PARTO
Os animais do pós-parto foram mantidos no sistema de confinamento
em free stall, com cama de areia, ventilação na linha de cama e aspersão na pista
de trato, onde recebiam uma dieta específica de pós-parto (tabela 4). A posição
dos barracões não seguia a orientação leste/oeste. Com isso no período da tarde o
sol atingia a metade do barracão e as camas do lote eram atingidas por toda tarde
(figura 3).
14
Figura 3. Sol nas instalações do pós-parto.
15
Tabela 4. Composição da dieta pós-parto em ingredientes e nutrientes1.
Ingredientes
% da matéria seca
Tifton verde colhido
6,00%
Silagem de milho
46,60%
Caroço de algodão
3,15%
Farelo de soja
19,02%
Milho moído fino
17,89%
Casquinha de soja
2,60%
Polpa de citros
2,53%
Núcleo mineral e vitamínico
2,01%
Adsorventes
0,20%
Nutrientes
PB2
16,74%
FDN3
33,92%
FDN >8 mm4
22,85%
5
FDNF % PV
0,72%
4,06%
EE6
CNF7
39,20%
Amido
28,90%
Biotina mg/kg
13
Monensina mg/kg
176
1
Valores expressos em porcentagem da matéria seca. 2Proteína bruta. 3Fibra em
detergente neutro. 4FDN> 8 mm. 5FDN de forragem como porcentagem do peso vivo.
6
Extrato etéreo. 7CNF = 100 - (PB – FDN – CINZAS – EE).
No lote pós-parto foi mantida a divisão de acordo com a ordem de
parição, diariamente foi feito exame clínico de todas as vacas até completarem 21
dias de lactação. O manejo dos animais iniciava às 7:00 h e consistia em prendêlas nos canzis para serem lavadas e avaliadas (Figura 4). No primeiro dia pósparto os animais foram pesados com uma fita de perímetro torácico e avaliados
quanto ao escore de condição corporal (ECC), variando de 1, vaca magra a 5,
vaca gorda. Este procedimento foi repetido no dia 21 pós-parto para avaliar a
perda de peso e de ECC dos animais durante este período.
16
Figura 4. Manejo dos animais do pós-parto.
Após os animais serem fechados e lavados no canzil iniciava o exame
clínico de cada vaca, junto com a produção de leite dos últimos seis dias. Na ficha
do animal era anotado o procedimento ou tratamento, caso ocorresse alguma
doença ou debilitação causada pelo parto permitindo assim, a rápida identificação
e intervenção de doenças ocorridas nesta fase.
A retenção de placenta foi considerada quando o animal não havia
liberado as membranas fetais 12 horas após parto. O tratamento era feito após 48
horas com um antibiótico a base de Ácido Livre Cristalino de Ceftiofur, e após
sete dias do tratamento o animal era novamente avaliado para verificar a
necessidade de repetir o tratamento.
O diagnóstico da metrite era feito com cinco dias pós-parto segundo a
avaliação do corrimento vaginal, sendo considerada quando mais de 50% de pus,
17
cor escura ou odor fétido fosse observado. O tratamento a ser adotado era o
mesmo de retenção de placenta.
O diagnóstico de cetose era feito no terceiro dia pós-parto utilizando um
equipamento eletrônico que mede a concentração de betahidroxibutirato (BHBA)
circulante no sangue. Para coletar o sangue era utilizada uma agulha de 0,80x25
mm para perfurar a veia coccígea. Uma gota de sangue era colocada na tira teste
do aparelho fazer a leitura. Animais que apresentavam uma concentração de
BHBA superior a 1,2 mmol/L eram tratados com propilenoglicol (300mL) ou
Drench (uma solução eletrolítica energética diluídas em 20 litros de água morna
em torno de 30°C), via oral, por dois dias consecutivos. Quando o animal era
diagnosticado com cetose e apresentava sinais de desidratação era tratado com
Drench ao invés de propilenoglicol. Após dois dias do primeiro diagnóstico
positivo de cetose, era feita uma nova coleta de sangue para verificar se a
concentração de BHBA estava abaixo de 1,2 mmol/l. Esse acompanhamento foi
feito até o animal apresentar concentrações de BHBA menor que 1,2 mmol/L.
Animais que apresentavam edema até na área do umbigo recebiam uma
dose de antiflamatório por três dias consecutivos à base de Meloxicam e Sulfato
de Condroitina.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 INCIDÊNCIA DE HIPOCALCEMIA
A hipocalcemia, também conhecida como febre do leite ou paresia
puerperal, é um distúrbio metabólico relacionado com a manutenção da
concentração sanguínea de cálcio (Ca) após o parto. Caracteriza-se por queda
drástica da concentração de cálcio no sangue, todo animal que apresenta uma
concentração de Ca < 8,5 mg/dL é considerado com hipocalcemia, podendo ou
18
não apresentar sintomas clínicos. A concentração normal de cálcio plasmático
varia de 8,5 a 10,0 mg/dL. A hipocalcemia clínica ocorre quando a concentração
plasmática atinge valores abaixo de 5,5 mg/dL, e quando a concentração está
entre 8,0 e 5,5 mg/dL é considerado como hipocalcemia subclínica.
Este distúrbio acomete os animais na transição, no início da lactação,
sendo que a exigência de Ca aumenta para suprir a produção de colostro e
produção de leite em um intervalo de tempo curto, visto que a exigência de Ca
durante o período seco é relativamente baixo. Aproximadamente 2,5 vezes menor
comparado à exigência para lactação. A hipocalcemia é um dos principais
distúrbios metabólicos que acomete os animais no pós-parto, cerca de 50% das
vacas multíparas e 25% das primíparas do rebanho americano apresentam
hipocalcemia (Reinhardt et al., 2011).
A ocorrência da febre do leite e hipocalcemia subclínica pode acarretar o
aparecimento de várias doenças no pós-parto imediato. O animal com
hipocalcemia vai ter o consumo de matéria seca reduzido, aumentando a
mobilização de reservas corporais podendo causar cetose ou fígado gorduroso. O
Ca está presente nos processos fisiológicos da contração muscular e função
nervosa, a hipocalcemia pode causar o deslocamento de abomaso, devido a
redução da motilidade do trato digestivo. Além disso, pode reduzir a contração do
esfíncter mamário, aumentando a chance de mastite ambiental.
Três
hormônios
regulam
a
concentração
de
Ca
no
sangue,
Paratohormônio (PTH), a calcitonina e a 1,25 dihidroxivitamina D, através de
dois mecanismos. Um mecanismo é quando a concentração sanguínea de Ca está
baixa ocorre a síntese e secreção do PTH, que quando liberado estimula a síntese
da 1,25 dihidroxivitamina D, aumentando a absorção intestinal e reabsorção renal
de Ca. O PTH atua também na liberação de Ca, P e Mg da matriz óssea pelos
19
osteoclastos. Outro mecanismo ocorre quando a concentração de Ca está alta,
com isso há um estímulo para síntese e secreção de calcitonina pelas células C
que atua nos osteoclastos bloqueando a reabsorção óssea e aumentando a
excreção renal de Ca.
Para prevenir a hipocalcemia podemos utilizar algumas estratégias
nutricionais. Uma estratégia mais fácil e barato de se aplicar em uma propriedade
é a redução dos teores de Ca na dieta do pré-parto <20 g/dia (Boda; Cole 1954;
Horst et al., 1997). Somente com esta medida já ocorre a estimulação da secreção
do PTH aumentando a reabsorção óssea e a capacidade de absorção dos
enterócitos. Porém este método é difícil de ser alcançado devido a dificuldade de
conseguir formular uma dieta de baixo Ca com os alimentos normalmente usados.
Outra estratégia seria o uso de dietas aniônicas, que consiste no uso de íons na
dieta para alterar o metabolismo de Ca. O uso de sais aniônicos causa uma leve
acidose metabólica que irá mudar a conformação no receptor de PTH, o que
aumenta a resposta dos tecidos ao hormônio. A forma de balancear a inclusão
desses sais é pela avaliação do DCAD (Diferença catioaniônica da dieta), através
da fórmula proposta por Ender; Dishington; Helgebostad (1962) que utiliza (Na+
+ K+)-(Cl- + S2-), e a predição do risco da febre do leite, que consiste em uma
equação proposta por Lean et al., (2006). Nesta equação, além do DCAD da dieta
os teores de Ca, Mg, P são considerados e também os dias de consumo da dieta
aniônica. Deve-se ter como meta para formulação uma predição de hipocalcemia
menor que 1% dos partos.
Outra causa para a hipocalcemia é a hipomagnesemia, que consiste na
baixa concentração de magnésio (Mg) no sangue. Isso reduz a secreção de PTH
pela paratireóide alterando a capacidade de resposta dos tecidos ao PTH. Isso
ocorre, pois o receptor do PTH na matriz óssea tem um sítio de ligação que deve
20
ser ocupado pelo Mg, havendo a hipomagnesemia não ocorre a ativação da
enzima adenilatociclase impedindo a reabsorção óssea.
Para monitorar o efeito da dieta aniônica é medido o pH de urina do
animais que estão consumindo a dieta pelo menos 5 dias até 3 semanas. Segundo
Goff (2008) após esse período o metabolismo da vaca consegue compensar essa
acidificação. O valor recomendado do pH urinário para prevenir a hipocalcemia
subclínica em vacas holandesas devem ser de 6,2 a 6,8.
3.2 INCIDÊNCIA DE CETOSE
Cetose é um distúrbio metabólico que acomete ruminantes no final da
gestação e início da lactação. Neste período o animal passa por um aumento na
demanda energética no final da gestação e no início da lactação, junto com uma
queda na capacidade de ingestão de matéria seca entrando em balanço energético
negativo (BEN). Como forma de minimizar o BEN ocorre a mobilização de
reservas corporais, através da lipólise.
A mobilização de gorduras das reservas corporais acontece através da
hidrólise das ligações éster entre os ácidos graxos e o glicerol nas células do
tecido adiposo, formando ácidos graxos livres não esterificados (AGNE).
Controlada pela lípase sensível a hormônio aumentando a disponibilidade de
ácidos graxos livres na corrente sanguínea para ser utilizado na produção de ATP
ou triglicerídeos. A formação de corpos cetônicos ocorre nos hepatócitos devido
ao aumento da concentração de AGNE no sangue, na forma de um composto
hidrossolúvel para facilitar o transporte pelo plasma. Sendo formados por três
compostos orgânicos, acetona, BHBA e o acetoacetato. No início da lactação os
níveis de insulina são baixos e a resistência do tecido adiposo ao efeito inibitório
deste hormônio é alta, favorecendo a mobilização de gordura das reservas
21
corporais. A remoção de AGNE ocorre no fígado e é dependente da concentração
do mesmo na corrente sangüínea, havendo um aumento nas concentrações de
AGNE no sangue a extração do mesmo pelo no fígado será maior.
No fígado os excessos de AGNE circulante podem sofrer várias
modificações. A insulina estimula a re-esterificação à triglicerídeos e os mesmos
são incorporados no tecido hepático para ser exportado do fígado durante a
síntese e secreção hepática de lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL).
Quando os níveis de insulina estão baixos a entrada dos AGNE na mitocôndria
para oxidação ou cetogênese é facilitada pela enzima carnitina palmitoil
transferase I. Porém o fígado tem certa capacidade para oxidar e exportar esses
AGNE, e quando a mobilização ultrapassa essa capacidade ocorre o acúmulo
desses na forma de triglicerídeos nos hepatócitos, causando a síndrome do fígado
gorduroso.
Corpos cetônicos são utilizados como fonte de energia pelo tecido do
tecido muscular, útero grávido e glândula mamária. Sua utilização é dividida em
duas vias, uma é a oxidação pelo tecido muscular e sistema nervoso para a
geração de energia. E a outra na lipogênese na glândula mamária, tecido adiposo
e feto.
A cetose é caracterizada por valores dos níveis de corpos cetônicos acima
do padrão fisiológico, podendo ser caracterizada como clínica ou subclínica. Os
sintomas clínicos são caracterizados por diminuição do consumo de matéria seca,
redução abrupta da produção num intervalo curto, perda de peso excessivo e
hálito com odor de acetona. No caso da cetose subclínica os animais apresentam a
sintomatologia da doença, podendo ser diagnosticada através de coleta e análise
de líquidos corpóreos, como urina, leite e sangue. O teste da concentração de
BHBA é considerado o mais adequado para o diagnóstico da cetose. Já existem
22
aparelhos específicos para bovinos capazes de determinar a concentração de
BHBA em mmol/L de sangue, o que facilita e diminui o tempo para o tratamento
dos animais doentes. Duffield (2009) coletou dados de 1.010 vacas no Canadá e
constatou que concentrações séricas de BHBA ≥ 1,2 mmol/L na primeira semana
pós-parto o risco de desenvolver metrite é 3,35 vezes maior e de desenvolver
deslocamento de abomaso é 2,6 vezes maior.
Os prejuízos causados pela cetose são maiores que perda em produção e
tratamento de animais doentes. Prejuízos em reprodução também são observados,
com diminuição da eficiência reprodutiva devido à maior perda de peso de
animais acometidos. Segundo McArt; Nydam; Overton(2015) as perdas são no
valor de U$ 127.00 e U$106.00, respectivamente para primíparas e multíparas.
Existem formas de prevenir a cetose através de manejo dos animais e
estratégias nutricionais. Deve-se nos atentar para a condição corporal dos
animais, pois vacas obesas têm grandes chances de desenvolver alguma desordem
no metabolismo energético. Os animais ao parto devem estar com um escore de
condição corporal entre 3,0 e 3,5, isso por que vacas que tem um acúmulo
excessivo de gordura consomem menos matéria seca devido o efeito da leptina,
que inibe o neuropeptídeo Y responsável por estimular o apetite no sistema
nervoso central. Durante o período de transição devemos nos atentar para a
variação de consumo dos animais, ou seja, queremos que o consumo de matéria
seca deva ser o mais uniforme possível.
Em ruminantes alguns nutrientes são responsáveis por afetar o consumo
de matéria seca, gordura e fibra (FDN). A adição de gordura é uma forma de
aumentar a densidade energética da dieta, mas por outro lado causa redução no
consumo de matéria seca. Apesar da queda no consumo a adição de gordura em
dietas do pré-parto teve um efeito inibitório no acumulo de triglicerídeos no
23
fígado, ocorrendo um aumento da oxidação dos ácidos graxos. Dietas com baixo
teor de FDN aumentam o consumo de matéria seca no pré-parto, mas na última
semana de gestação a queda no consumo é grande. Dietas com teor de FDN um
pouco mais alto faz com que o consumo caia menos na última semana de
gestação comparada à dieta de FDN mais baixo. O recomendado é que dietas de
pré-parto tenham um teor de FDN intermediário, o que dá um aporte adequado de
energia e evita grandes quedas no consumo.
O uso de monensina tem mostrado efeitos benéficos em dietas de préparto. Ruminantes perdem cerca de 10% da energia ingerida na forma de metano,
o uso de monensina afeta diminuindo a formação de metano. Com a formação de
menos metano no rúmen ocorre aumento na produção de propionato, o que
aumenta o aporte de glicose para o animal fazendo com que a mobilização de
tecidos corporais seja menor e consequentemente menos AGNE.
A suplementação com Cr em animais no pré-parto também tem mostrado
benefícios potencializando o efeito da insulina por outros tecidos. Como a
glândula mamária já tem prioridade no uso de glicose, quando o efeito da insulina
é potencializado ocorre um aumento na captação de glicose por outros tecidos.
Esse efeito pode gerar uma melhoria no aporte energético, podendo atuar na
saúde uterina. Outro efeito seria o aumento no consumo e produção em animais
suplementados com Cr durante o pré parto. Animais que consumiram 0,06
mg/kgPV0,75, o que da 7,2 mg/dia de Cr para um animal de 600 kg, mostraram
maior resposta em produção de leite (Hayirli et al., 2001).
O tratamento de Cetose consiste em aumentar a glicemia para que a
mobilização de gordura corpórea seja reduzida. O tratamento mais utilizado é a
administração de uma solução isotônica de glicose a 5%. Outra alternativa é a
administração oral de propilenoglicol, propionato de cálcio e glicerol como
24
precursores de glicose para o fígado, pois estes são fermentados no rúmen a
propionato.
3.3 INCIDÊNCIA DE RETENÇÃO DE PLACENTA
A retenção de placenta é um dos problemas que acometem bovinos e
causa vários prejuízos. A incidência de retenção de placenta varia de 3 a 40% dos
partos ocorridos, esse valor depende de quando é definido que o animal reteve as
membranas fetais. Um estudo feito por Van Werven et al., (1992) mostra quando
ocorre a retenção de placenta, 34% dos animais após seis horas do parto ainda
estavam com as membranas fetais presas, e 15% após um dia.
A incidência de retenção de placenta em fazendas é muito variável,
existem fazendas que possuem índices baixos e outras com índices altos, visto
que esse problema é dependente de vários fatores ligados a manejo e nutrição dos
animais. Como exemplo de alguns fatores predisponentes a retenção de placenta,
podemos citar: partos distócitos, partos gemelares, estresse calórico, idade da
vaca, doenças metabólicas, doenças infecciosas e duração do parto.
O processo de expulsão da placenta é iniciado com a liberação de cortisol
do feto. Antes do parto a progesterona da placenta impede que o útero se contraia.
Com a liberação do cortisol ocorre a migração de células binucleadas para a
placenta, estas células secretam prostaglandina para que ocorra a regressão do
corpo lúteo. As contrações uterinas se iniciam com o aumento do estradiol após a
queda na concentração de progesterona. Com o aumento do estradiol e queda da
progesterona, inicia a expressão dos antígenos do MHC classe I nas criptas
placentárias, e o sistema imune materno atacam a placenta e rejeita este tecido,
fazendo que ocorra a degradação e expulsão da mesma.
25
Temos que levar em conta os mecanismos envolvidos no processo de
expulsão da placenta para dar todas as condições para este processo acontecer.
Devemos evitar estressar os animais no final da gestação para que não eleve a
concentração de cortisol materno, o que deprime o sistema imune da vaca e o
ataque antígenos MHC na placenta. Os níveis de Se e vitamina E são essências
para a função imune. Leblanc et al., (2002) injetaram por via subcutânea 3.000 UI
de vitamina E uma semana antes da previsão do parto e observaram uma
diminuição na retenção de placenta.
Existem muitas discussões a respeito do tratamento retenção de placenta.
Tem autores que preconizam não tratar os animais antes dos sintomas de febre e
metrite. Outros recomendam o uso de tratamentos com antibióticos ou de
hormônios, ocitocina e prostaglandina.
4. DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO DAS ATIVIDADES
DESENVOLVIDAS
Durante o período do estágio houve a oportunidade de acompanhar as
atividades do periparto da Fazenda Figueiredo. Essas atividades serão discutidas a
seguir, apresentadas na forma de tabelas e imagens.
4.1 PRÉ-PARTO
As atividades desenvolvidas neste setor envolveram clínica médica,
obstetrícia e manejo geral dos animais.
26
Tabela 5. Atividades desenvolvidas em clínica médica, obstetrícia e manejo dos
animais.
Casos/procedimentos
Espécie animal
Bovina
pH de urina
Partos acompanhados
Partos auxiliados
Ordenha após o parto
Total
37
72
28
53
189
O monitoramento do pH de urina no lote pré-parto foi
feito
semanalmente às quintas-feiras, dos animais que estavam recebendo a dieta
aniônica por sete dias. O valor médio do pH de urina durante o período de estágio
foi de 6,1, valor próximo ao recomendado por Goof (2008). Os animais que
estavam próximos à data de parto eram monitorados com maior frequência, e
quando o animal entrava em trabalho de parto e os anexos fetais e membros do
bezerro ficava visível o animal era encaminhado para a baia de maternidade. À
partir deste momento, o animal era monitorado do início do trabalho de parto até
a expulsão do feto, e caso ultrapassasse os 30 minutos para as vacas e 60 minutos
para as novilhas após o rompimento das membranas fetais ocorria a intervenção.
A intervenção era feita em todos os animais que não apresentavam evolução no
parto após o tempo recomendado de espera, após o rompimento das membranas
fetais. Essa intervenção era realizada pelo veterinário ou pelo funcionário
treinado, responsável pelo monitoramento noturno dos partos. Era considerado
como parto auxiliado toda vez que era utilizado de força moderada para tracionar
o bezerro. A figura 5 mostra a incidência de partos normais, auxiliados e abortos
observados durante o período do estágio. A incidência de parto auxiliado durante
o período de estágio é considerada acima do recomendado, isso pode estar ligado
à alta incidência de metrite e retenção de placenta. Uma estratégia para melhorar
27
este índice pode ser a utilização de touros com facilidade de parto, principalmente
nas novilhas.
70%
63%
57%
60%
50%
40%
Normal
38%
31%
Auxiliado
30%
20%
10%
Aborto
6%
5%
MultÍparas (N 51)
PrimÍparas (N 21)
0%
Figura 5. Incidência de partos normais, auxiliados e abortos em multíparas e
primíparas.
Ao parir a vaca era levada próximo à ordenha móvel localizada na
entrada do free stall, e assim era efetuada a retirada do colostro. A tabela 6 mostra
a produção média de colostro e a estratificação da produção dos animais, com
produção maior que quatro litros, menor que quatro litros e animais que não
produziram colostro. Em seguida, a vaca voltava para o lote de pré-parto e ficava
por doze horas ou até expulsar a placenta. Caso isso não acontecesse, era
considerado como retenção de placenta e o animal encaminhado para o lote pósparto. Observando esse manejo foi proposto ao veterinário responsável uma
modificação deste manejo que seria levar imediatamente após a ordenha para o
lote pós-parto. Isto se justificaria por quatro motivos: primeiro pela dieta do préparto ser de energia baixa e a do pós-parto de energia alta, pois era formulada
28
para atender as exigências dos animais em produção e a do pré-parto para animais
secos. A segunda devido a dieta aniônica não ser palatável poderia reduzir o
consumo de matéria seca pelo animal. A terceira justificativa também em
referencia aos teores de minerais, principalmente de Ca da dieta do pré-parto que
era bem abaixo da exigência para animais em produção. A quarta justificativa era
que os animais quando voltavam para o lote do pré-parto não consumiam a dieta,
o que não acontecia quando eram levados para o lote pós-parto.
4.2 PÓS-PARTO
Os animais do pós-parto eram divididos em dois lotes, um de primíparas
e outro de multíparas. Essa divisão acontecia para evitar a dominância de animais
mais velhos sobre os mais novos. Entretanto, recebiam a mesma dieta. Os animais
do lote pós-parto eram os primeiros a serem ordenhados, as 05:00, 13:00 e 21:00
h.
Os animais eram mantidos no galpão free stall onde diariamente eram
fechados nos canzis (figura 6) para serem lavados e avaliados. Esse manejo era
feito todos os dias as 07:00 h.
Para cada animal existia uma ficha (figura 6) contendo todas as
informações do animal desde o parto até a liberação do mesmo para o lote de
produção. Nesta ficha anotavam-se também todos os tratamentos, doenças e
observações durante os 21 dias após o parto.
29
Figura 6. Ficha de controle do pós-parto.
No primeiro dia que o animal estava no pós-parto era marcada na garupa
a data do parto com um bastão colorido e o animal era pesado com uma fita era
feito o ECC. No dia que o animal era liberado do pós-parto o peso e o ECC era
repetido para avaliar a mobilização corporal ocorrida nos 21 dias após o parto
(tabela 5). Tanto o ECC quanto o peso medido com a fita são métodos subjetivos
e sofrem influência da pessoa que faz, portanto para que se tenha uma boa coleta
destes dados é recomendado fazer pela mesma pessoa.
30
Tabela 6. Peso e ECC com um dia após o parto e com 21 dias em lactação (DEL).
Multíparas
723
3,36
Primíparas
602
3,40
Peso 21 DEL,Kg
ECC 21 DEL
706
2,90
561
3,10
Perda de peso, Kg
Perda de ECC
17
0,46
41
0,30
Peso 1 dia pós-parto, Kg
ECC ao parto
Figura 7. Animais pós-parto presos nos canzis.
No manejo do pós-parto houve a oportunidade de acompanhar o
veterinário em todos os exames clínicos dos animais, possibilitando maior
experiência e conhecimento de clínica veterinária. Após todos os animais serem
avaliados, os que se apresentavam saudáveis e que não precisavam tratamento
31
eram soltos dos canzis. Os que apresentavam qualquer alteração eram mantidos
presos para serem tratados de acordo com a doença apresentada. A tabela 7
resume a incidência de doenças nos animais no pós-parto no período do estágio.
Tabela 7. Incidência de doenças nos animais no período do pós-parto.
Doenças
Multíparas (N 51)
Primíparas (N 21)
Cetose
14% (5)
24% (5)
Retenção de placenta
18% (9)
19% (4)
Metrite
38% (19)
57% (12)
Edema de úbere
16% (8)
43% (9)
Hipocalcemia clínica
0% (0)
0% (0)
Diarréia
12% (6)
19% (4)
Pneumonia
2% (1)
0% (0)
Mastite
6% (3)
10% (2)
Na tabela pode ser observado uma alta incidência de cetose e metrite. No
caso da cetose os animais não estão parindo com um ECC elevado, o que pode
causar esse distúrbio devido a mobilização corporal exagerada. Neste caso a
cetose pode estar relacionada ao estresse causado pelo calor, devido ao tempo em
que o sol atinge as camas e os animais no período da tarde, o que deve estar
reduzindo o consumo destes animais e aumentando a mobilização corporal.
Quando é avaliado a incidência elevada de metrite, o que pode ser a causa é a alta
incidência de partos auxiliados.
Os tratamentos eram realizados no período da manhã, ainda quando os
animais estavam presos. A exceção do tratamento de cetose que era no período da
tarde devido à coleta de sangue para o exame ser feito nesse período. As fichas
dos animais eram olhadas para selecionar os animais que tinham três dias de
paridas ou que haviam sido diagnosticadas com cetose e foram tratados dois dias
antes do dia referido. Após estas verificações, coletava-se o sangue dos animais e
procedia a leitura da concentração de BHBA no sangue. Se o animal apresentasse
32
uma concentração maior que 1,2 mmol/L recebia 300 mL de propilenogilcol via
oral por dois dias. Aqueles animais que já haviam sido tratados e ainda estavam
com a concentração de BHBA acima de 1,2 mmol/L recebiam o tratamento por
mais dois dias e no dia seguinte, novo exame era feito para verificar se a
concentração estava abaixo de 1,2 mmol/L. Esse procedimento era realizado até o
animal apresentar concentração de BHBA menor que 1,2 mmol/L. A tabela 8
mostra o a concentração média de BHBA e o número de animais com cetose
subclínica.
33
Tabela 8. Concentrações médias de BHBA e porcentagem de animais com BHBA
> 1,2 mmol/L.
Multíparas
Primíparas
BHBAmmol/L, D31
0,8
0,8
% de animais c/ BHBA, >1,2 mmol/L D32
12,5% (6)
23,8% (5)
BHBA mmol/L, D5
% de animais c/ BHBA, >1,2 mmol/L D53
1,1
37,5% (3)
0,9
11,1% (1)
BHBA mmol/L, D7
% de animais c/ BHBA, >1,2 mmol/L D74
1,1
33,3% (1)
0,9
0%
BHBA mmol/L, D9
% de animais c/ BHBA, >1,2 mmol/L D95
0,9
0%
0,0
0%
1
BHBA em mmol/L de sangue no terceiro dia pós parto.
Porcentagem de animais com BHBA maior que 1,2 mmol/L de sangue no terceiro dia
pós parto.
3
Porcentagem de animais com BHBA maior que 1,2 mmol/L de sangue no quinto dia pós
parto.
4
Porcentagem de animais com BHBA maior que 1,2 mmol/L de sangue no sétimo dia pós
parto.
5
Porcentagem de animais com BHBA maior que 1,2 mmol/L de sangue no nono dia pós
parto.
2
Edema de úbere era tratado somente quando o edema atingia o umbigo do
animal (figura 7). Neste caso, o tratamento adotado era um antiflamatório por três
dias a base deMeloxicam e Sulfato de Condroitina.
34
Figura 8. Animal com edema de úbere.
Diarréia era tratada com um produto à base de Sulfadoxina e
Trimetoprim. O tratamento era feito até o animal não apresentar fezes
característica de diarréia.
O animal que apresentava mastite recebia tratamento na sala de ordenha
com antibiótico de administração intramamária e era transferido para o lote de
mastite e o leite era descartado ou destinado para o aleitamento de bezerros.
Animais que apresentavam um grau de infecção mais grave, com um dos quartos
do úbere inchado, foi tratado com um antibiótico intramamámario e aplicação de
outro antibiótico sistêmico.
A tabela 9 mostra o número de tratamentos realizados na Fazenda Lages
durante o período de estágio.
35
Tabela 9. Número de tratamentos em vacas multíparas e primíparas observados
durante o período de estágio.
Medicamentos
Multíparas
Primíparas
Excede
Pencivet
Roflin
Flunamine
Maxican Plus
Fortgal
Propilenoglicol
Drench
Fluído ruminal
39
3
3
8
23
9
16
76
3
25
7
0
5
37
10
11
39
2
A grande quantidade de administração de Drench foi observada antes da
mudança proposta no manejo dos animais após o parto. Onde os animais
voltavam para o lote pré-parto ao invés de serem levados para o lote pós-parto.
Isto se dava devido aos animais levados ao lote pré-parto não ingerirem uma dieta
com densidade de energia e teores de minerais maior após o parto. Depois desta
mudança no manejo percebeu uma melhora significativa no quadro clínico dos
animais.
36
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização do estágio na Fazenda Lages possibilitou um convívio direto
com o manejo de vacas no período de transição, onde o estagiário teve a
oportunidade de acompanhar o manejo das atividades desta fase, como a
obstetrícia, clínica médica, entre outras, contribuindo para ampliar e
complementar sua formação acadêmica. Observa-se uma alta incidência de
retenção de placenta, metrite e cetose. A retenção de placenta e metrite podem
estar associadas à alta incidência de partos auxiliados. A cetose pode está
associada ao estresse pelo calor que os animais sofrem devido o sol pegar nas
camas do lote pó-parto no período da tarde, fazendo com que ocorra a redução de
consumo de matéria seca e aumentando a mobilização corporal dos animais.
37
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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