Escolhas do Director / Editor`s Choices Predizer quem vai ter
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Escolhas do Director / Editor`s Choices Predizer quem vai ter
Escolhas do Director / Editor’s Choices Saúde Mental Mental Health Psicopatologia RMN. Com 1 a 3 variáveis, a probabili- No sentido de se saber se a prescrição Psicopathology dade de desenvolvimento de DA em 3 de lítio altera o risco de demência, os anos variava entre 1,4% e 67,4%; se autores deste estudo juntaram as bases as 5 variáveis fossem positivas, a pro- de dados com toda a medicação de babilidade seria de 98,3%. A junção 5,3 milhões de sujeitos dinamarqueses do genotipo ε4 da ApoE não aumenta- com mais de 40 anos de idade, entre va o valor preditivo do algoritmo. 1995 e 2005. Também fizeram análises Muitos clínicos não usam as avalia- semelhantes com as prescrições de an- Predizer quem vai ter doença de Alzheimer Can we predict who will develop Alzheimer disease? ções volumétricas da RMN, as quais ticonvulsivantes. Quando comparados As pessoas idosas com défice cogni- são difíceis de obter e são caras. Con- com os cerca de 1,5 milhões de pesso- tivo ligeiro (DCL) preocupam-se na- tudo, uma análise que requeira 90% as que nunca tomaram lítio, os 16.238 turalmente com o facto de poderem de especificidade (uma taxa de falsos doentes que tomaram lítio tinham um evoluir para Doença de Alzheimer positivos menor ou igual a 10%) de- risco significativamente maior para o (DA). No entanto, apenas 8-15% por monstrou 81% de sensibilidade para diagnóstico de demência (risco relativo ano desenvolvem DA e, normalmente, a combinação da idade, MMSE, FAQ, = 1,47) nas análises ajustadas para a em 3 anos. UPSIT e evocação imediata da SRT. idade, sexo, período do ano e aquisição Num estudo prospectivo de 5 anos Esta sensibilidade é muito superior à de antidepressivos e anticonvulsivantes. com 148 doentes de ambulatório com de 39% para os dois primeiros fac- Contudo, nas pessoas que continua- DCL, os investigadores determinaram tores isolados. Os doentes podem ram a tomar lítio, o risco diminuiu para os efeitos incrementais na fiabilida- completar a FAQ em 3 minutos e a os mesmos níveis dos da população de da predição da combinação de 8 UPSIT em 15 minutos. O uso destas de controlo; a magnitude do risco não variáveis que se pensa predizerem a duas medidas pode aumentar a ca- se correlacionava com o numero de evolução para a DA. pacidade clínica quer para identificar prescrições de lítio. Ao contrário des- Os doentes foram avaliados psiqui- doentes com DCL que necessitam de tes dados, os 102.644 indivíduos que átrica e neurologicamente no início um acompanhamento mais apertado tomavam anticonvulsivantes (idade me- do estudo, com o MMSE, baterias em relação ao risco para a DA dia, 56 anos) tinham um maior risco de neuropsicológicas passadas anual- e para evitar alarmar doentes que não demência comparativamente com os mente, o genotipo da ApoE, RMN estejam nesse risco. que não os tomavam; o risco aumenta- cerebral, University of Pennsylvania va com o número de prescrições. Smell Identification Test (UPSIT) e o Devanand DP et al. (2008). Biol Psychiatry A maior probabilidade para o desenvol- Pfeiffer Functional Activities Ques- V64:871 vimento de demência nos doentes que tionnaire (FAQ), este para avaliar o apenas tomaram uma vez lítio provavel- funcionamento cognitivo e social). mente reflecte o risco aumentado de Para confirmarem a presença de DA os autores usaram o critério estandardizado de diagnósticos anuais consecutivos. Os autores desenvolveram óptimas demência nos doentes com perturba- O lítio protege contra a Demência? Does lithium protect against Dementia? pontuações de corte para os 5 prin- 38 ção bipolar. A continuação das tomas de lítio parece contrariar este risco, muito embora não pareça reduzir o risco para os níveis da população geral. O benefício do lítio pode estar associado à cipais preditores de DA: a evocação Sabe-se há muito que o lítio tem muitas redução do número de episódios afecti- imediata do Selective Reminding Test propriedade neuroprotectoras, mas não vos e o seu efeito deletério na cognição (SRT), FAQ, UPSIT e os volumes dos se sabe se essa neuroprotecção tem e no volume hipocâmpico. Para alem córtices hipocâmpico e entorrinal na expressão clínica. disso, o lítio também diminuiu a síntese Escolhas do Director / Editor’s Choices Volume XI Nº2 Março/Abril 2009 Poderá a felicidade ser socialmente contagiosa? Could happiness be socially contagious? da cínase 3-beta do glicogéneo, a qual lidade e diminuição da necessidade está envolvida no funcionamento da de dormir, acrescentada com as con- membrana neuronal, no metabolismo sequências da hipomania (problemas da proteína precursora do amilóide e quotidianos ou comentários de outros na fosforilação da proteína tau. acerca do seu comportamento). Por tudo isto, os clínicos devem pesar Quando comparados com a hipomania Alguns investigadores ligaram os es- por um lado o potencial para a diminui- pura, a hipomania segundo os critérios tados de felicidade com efeitos be- ção do risco de demência do lítio com do DSM-IV estava associada com o néficos na saúde, apesar de não se os seus efeitos adversos agudos na sexo feminino, história familiar de de- saber ainda quais são os mecanismos cognição de alguns doentes. pressão e ansiedade e história pesso- que lhe estão na base. Os autores al de tratamentos para perturbações destes estudos desenvolveram uma Kessing LV et al. (2008), Arch Gen Psychiatry do humor e da ansiedade. Quando nova análise da rede social para ana- 65:1331 comparados com 230 controles sem lisarem em que medida o contágio perturbações do humor, os indivíduos social promove a felicidade. De 4739 com hipomania pura ganhavam mais participantes foram extraídos dados dinheiro, eram mais irritáveis, dormiam de 20 anos a partir do estudo longitu- menos, tinham problemas ligados ao dinal Framingham Heart Study; esses consumo de substâncias ou tinham participantes tinham no total 53228 problemas legais. Os hipomaníacos ligações sociais com outros partici- puros não reportavam mal-estar pelos pantes. A felicidade foi medida com sintomas e não diferiam dos controles 4 itens da Center for Epidemiologic A hipomania, com o aumento de ener- quanto aos auto-relatos sobre a qua- Studies Depression Scale. Foram cla- gia, com o aumento de produtividade e lidade de vida. ramente identificados clusters sociais com a diminuição da necessidade de Em estilo de comentário, a hipomania de sujeitos felizes e infelizes, os quais sono que lhe está associada, é muitas não é idílica. Apesar de um aumento eram maiores do que seria de esperar vezes pensada como sendo um estado de energia, da diminuição da neces- apenas pelo acaso. A felicidade dos de humor ideal. sidade de dormir e de um melhor de- sujeitos indexados estava associada Para determinar se a hipomania é “o sempenho em algumas medidas de com a felicidade dos seus contactos melhor de dois mundos”, os autores sucesso, os hipomaníacos puros não sociais mais próximos. A associação deste estudo caracterizaram um grupo relatam um sentimento aumentado de dependia muito da proximidade geo- de hipomaníacos “puros” que nunca bem-estar e têm taxas elevadas de gráfica e de quanto recentemente o tiveram perturbações do humor. Utili- co-morbilidade com problemas ligados contacto social se tinha tornado feliz, zaram dados de um estudo longitudi- ao consumo de substâncias , entre ou- estendia-se por 3 graus de separação nal em epidemiologia psiquiátrica que tros. Para já, estes dados podem servir relacional e era maior para relações seguiu adultos com idades compreen- aos clínicos que vêm doentes com entre sujeitos do mesmo sexo do didas entre PS 20 e os 40 anos, e iden- sentimentos nostálgicos em relação que entre sujeitos de sexos opostos tificaram 23 indivíduos com hipomania aos seus estados hipomaníacos. (amigos íntimos tinham efeitos mais Será que a hipomania torna as pessoas felizes? Does hypomania make people happy? “pura” e 19 com episódios hipoma- poderosos do que a esposa). Para níacos segundo o DSM-IV (17 com Gamma A et al. (2008), J Affect Disord além disso, eliminando o efeito das perturbações do espectro bipolar). A V111:235. variáveis ligadas ao nível socioeconó- hipomania pura foi definida como epi- mico as relações com pessoas felizes sódios de um dia ou mais de aumento fazem aumentar emoções relaciona- de actividade, diminuição da fatigabi- das com a saúde. 39 Escolhas do Director / Editor’s Choices Saúde Mental Mental Health Estes resultados intrigantes sugerem analisaram os dados de 2191 doentes clínicos considerem o manejo destas que as ligações sociais podem afectar com PDM e correlacionaram a presen- queixas no plano geral do tratamento os estados emocionais relacionados ça de 7 queixas dolorosas específicas destes doentes. com a saúde. Contudo, outros auto- com a gravidade da depressão. As res já demonstraram que a análise de queixas dolorosas classificadas como Vaccarino AL et al. (2008), Psychosom redes sociais pode produzir resultados moderadamente incomodativas incluí- Med Dec 10; (http://dx.doi.org/10.1097/ bizarros – p. ex., o contágio social pa- am as cefaleias, as mialgias e as lombal- PSY.0b013e3181906572) rece ter algum efeito nas semelhanças gias, as dores localizadas no pescoço, Thielke SM et al. (2007), Am J Geriatr Psychiatry quanto à acne, cefaleias e peso – e peito ou região précordial, abdómen e V15:699 que o controlo dos factores ambien- articulações. Apenas 25% dos doentes tais pode eliminar tais associações. não apresentavam queixas dolorosas, Também outros autores sugerem que 18% apresentavam uma queixa dolo- os dados sobre o contágio social da rosa e a maioria dos doentes (57%) felicidade é um novo dado importante, relatavam a coexistência de múltiplas mas é ainda necessário que os futuros queixas dolorosas. A percentagem de estudos controlem muito cuidadosa- doentes com múltiplas queixas variava mente para algumas das variáveis de entre 14% com dois tipos diferentes confusão que ainda emergem destes de sintomas dolorosos até 3% com estudos. sete. Estas eram, predominantemente, combinações de cefaleias, lombalgias, Fowler JH & Christakis NA. (2008), BMJ dores no pescoço e nas articulações, V337:a2338. bem como mal estar muscular. A pre- Steptoe A and Diez Roux AV. (2008), BMJ sença e o número de dores estava V337:a2781. moderadamente correlacionada com a Cohen-Cole E and Fletcher JM. (2008), BMJ gravidade da depressão numa escala V337:a2533. estandardizada. Num outro estudo, a dor parecia ser um dos poucos preditores de mau resultado do tratamento da depressão. Dor e depressão major Pain and major depression? A comorbilidade dolorosa, actualmente incluída no DSM-IV como um dado associado à depressão, tem sido ligada à 40 A presença de dor nos doentes com gravidade da depressão, à sua maior Perturbação Depressiva Major (PDM) duração, a um maior défice funcional e de PDM em doentes com patologia e a piores resultados clínicos, recaí- dolorosa é muito comum. No entanto, das precoces e mais custos para os muito poucos estudos têm, de forma sistemas de saúde. As associações sistemática, analisado a natureza e são muito complexas: a dor pode o âmbito das queixas dolorosas em preceder a depressão e a depressão doentes com PDM. pode aumentar a percepção da dor. Os autores, usando dados cegos de Dada a frequência com que as quei- um grande estudo multicêntrico sobre xas dolorosas ocorrem no contexto tratamentos financiados pela indústria, da depressão é aconselhável que os