Diretrizes para Prática Clínica da Gestão da Dor, Agitação e
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Diretrizes para Prática Clínica da Gestão da Dor, Agitação e
Diretrizes para Prática Clínica da Gestão da Dor, Agitação e Delirium em Pacientes Adultos na Unidade de Terapia Intensiva Juliana Barr, MD, FCCM1; Gilles L. Fraser, PharmD, FCCM2; Kathleen Puntillo, RN, PhD, FAAN, FCCM3; E. Wesley Ely, MD, MPH, FACP, FCCM4; John W. Devlin, PharmD, FCCM, FCCP8; John P. Kress, MD9; Aaron M. Joffe, DO10; Douglas B. Coursin, MD11; Daniel L. Herr, MD, MS, FCCM12; Avery Tung, MD13; Bryce R. H. Robinson, MD, FACS14; Dorrie K. Fontaine, PhD, RN, FAAN15; Michael A. Ramsay, MD16; Richard R. Riker, MD, FCCM17; Curtis N. Sessler, MD, FCCP, FCCM18; Brenda Pun, MSN, RN, ACNP19; Yoanna Skrobik, MD, FRCP20; Roman Jaeschke, MD21 Objetivo: Revisar as "Diretrizes para a Prática Clínica do Uso Sustentado de Sedativos e Analgésicos em Adultos em Estado Crítico" publicado em Critical Care Medicine, em 2002. Métodos: A American College of Critical Care Medicine reuniu uma força-tarefa multidisciplinar composta de 20 pessoas de várias instituições com experiência em monitoramento e controle de dor, agitação, sedação e delirium para analisar os resultados associados a pacientes adultos pacientes em estado crítico. A força-tarefa, dividida em quatro subcomissões, articularam-se por mais de 6 anos, por meio de teleconferências e comunicação eletrônica. As subcomissões ficaram responsáveis pelo desenvolvimento de relevantes questões clínicas, utilizando o método GRADE - Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation1 (http://www.gradeworkinggroup.org) para revisar, avaliar e resumir a literatura, além de elaborar procedimentos clínicos (descritivos) e recomendações (Discussão). Com a ajuda de um bibliotecário profissional e o software Refworks® desenvolveram um banco de dados eletrônico, com base na Web, de mais de 19000 referências, encontradas por oito diferentes mecanismos de pesquisa clínica, relacionadas à dor, analgesia, agitação, sedação e delirium, apresentando as respostas clínicas de pacientes adultos de UTI. O grupo também usou análises psicométricas para estudar e comparar a dor e o estado de agitação/sedação, assim como as ferramentas de avaliação de delirium. Todos os membros da força-tarefa foram orientados a fazer uma revisão bibliográfica para embasar cada declaração e recomendação, e prestaram assessoria às subcomissões. O consenso do grupo foi alcançado para todas as declarações e recomendações, utilizando a Técnica de Grupo Nominal e o método Delphi modificado, com votação anônima por todos os membros da força-tarefa, usando o E-Survey (http://www.esurvey.com). Todas as votações foram concluídas em dezembro de 2010. Relevantes estudos publicados após essa data e antes da publicação destas diretrizes foram referenciados no texto. A qualidade da evidência para cada declaração e recomendação foi classificada como alta (A), moderada (B) ou baixa / muito baixa (C). A força da recomendação foi classificada em forte (1) ou fraca (2), além de a favor (+) ou contra (-) uma intervenção. Uma recomendação forte (a favor ou contra) indica claramente se os efeitos desejáveis da 1 O Sistema GRADE é uma proposta que combina a força da recomendação e qualidade da evidência para orientar quais condutas devem ser adotadas ou evitadas na prática clínica intervenção superavam seus efeitos indesejáveis (riscos, ônus e custos). Para todas as recomendações fortes, a frase "Nós recomendamos..." é usada. Uma recomendação fraca, contra ou a favor de uma intervenção, indica que os efeitos desejáveis e indesejáveis não foram tão claramente identificados. Para todas as recomendações fracas, a frase "Nós sugerimos..." é usada. Na ausência de evidências suficientes, ou quando o consenso do grupo não foi alcançado, nenhuma recomendação (0) é feita. O consenso baseado na opinião de especialistas não foi usado como substituto para a falta de evidências. Um método consistente para abordar potenciais conflitos de interesse foi seguido quando membros da força-tarefa foram co-autores de pesquisas relacionadas. O desenvolvimento destas diretrizes foi independente do financiamento de qualquer indústria. Conclusão: Estas diretrizes fornecem um roteiro para o desenvolvimento integrado, baseado em evidências e protocolos centrados no paciente para prevenção e tratamento da dor, agitação e delirium em pacientes em estado crítico. (Crit Care Med 2013; 41:263-306). Palavras-chave: agitation; analgesia; critical care medicine; delirium; evidence-based medicine; GRADE; guidelines; intensive care; outcomes; pain; protocols; sedation DECLARAÇÕES E RECOMENDAÇÕES 1. Dor e analgesia a. Incidência de dor i. Clínica médica adulto, cirúrgica, pacientes internados em UTI com traumas que rotineiramente vêm acompanhados de dor, tanto nos casos de repouso como nos de cuidados rotineiros de UTI (B). ii. A dor em pacientes adultos submetidos a cirurgia cardíaca é comum e mal tratada; as mulheres sofrem mais dor do que os homens após cirurgia cardíaca (B). iii. Pacientes adultos de UTI frequentemente são submetidos a procedimentos dolorosos (B). b. Avaliação da dor i. Recomendamos que a dor seja monitorada rotineiramente em todos os pacientes de UTI adulto (+1B). ii. A escala comportamental de dor (Behavioral Pain Scale - BPS) e as ferramentas de observação de dor em pacientes em estado crítico (Critical-Care Pain Observation Tool - CPOT) são as mais válidas e confiáveis escalas comportamentais para monitoramento da dor em pacientes adultos internados em UTIs, de unidades médicas, póscirúrgicas ou de traumas (exceto para lesões cerebrais), e que não são capazes de descrever por si só, mas que têm suas funções motoras intactas e dos quais seus comportamentos podem ser observados. O uso dessas escalas em outras populações de pacientes de UTI e sua tradução em línguas estrangeiras diferentes do francês ou do inglês requer testes adicionais de validação (B). iii. Não sugerimos que os sinais vitais (ou escalas de dor por observação, que incluem sinais vitais) sejam utilizados isoladamente na avaliação da dor em pacientes adultos de UTI (-2C). iv. Entretanto, sugerimos que os sinais vitais podem ser utilizados como uma indicação para o início da avaliação da dor nesses pacientes (+2 C). c. Tratamento da dor i. Recomendamos que a analgesia preventiva e/ou intervenções não farmacológicas (por exemplo, relaxamento) sejam administradas para aliviar a dor em pacientes adultos internados em UTIs, antes da remoção do dreno toráxico (+1C). ii. Sugerimos que a terapia analgésica preventiva e/ou às intervenções não farmacológicas também podem ser administradas para aliviar dor nos casos de outros procedimentos invasivos ou potencialmente dolorosos aplicados a pacientes adultos de UTI (+2 C). iii. Recomendamos que os opióides (por administração intravenosa - IV) sejam considerados como drogas de primeira linha de escolha para tratar pacientes em estado crítico com dor não neuropática (+1C). iv. Todos os opióides IV disponíveis, quando titulados para dores semelhantes às de intensidade terminais, são igualmente eficazes (C). v. Sugerimos que analgésicos não opióides sejam considerados para diminuir a quantidade de opióides administrados (ou mesmo para eliminá-los na totalidade) e assim amenizar os efeitos secundários relacionados ao seu uso (+2C). vi. Recomendamos que para o tratamento de dores neuropáticas, além de opióides IV, seja considerada a administração por via enteral de gabapentina ou carbamazepina, (+1A). vii. Recomendamos que a anestesia peridural torácica seja considerada para analgesia pós-operatória em pacientes submetidos à cirurgia de aneurisma aórica abdominal (+1B). viii. Não há nenhuma recomendação para que se dê preferência à analgesia peridural lombar em detrimento do uso de opióides parenterais nos pósoperatórios de pacientes submetidos à cirurgia de aneurisma aórica abdominal, isto devido a falta de benefícios daquela em relação à esta (0,A). ix. Não há nenhuma recomendação para que se dê preferência à analgesia peridural toráxica em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos não vasculares abdominais ou intratorácicos, devido à insuficiência de evidências de benefícios da aplicação desta modalidade de analgésicos nestes pacientes (0,B). x. Sugerimos que a analgesia peridural torácica seja considerada para pacientes com fraturas traumáticas de costelas (+2B). xi. Não há nenhuma recomendação para que se dê preferência à analgesia regional/neuraxial em detrimento à analgesia sistêmica em pacientes internados na UTI médica, devido à falta de evidências nesta população de pacientes (0, nenhuma evidência). 2. Agitação e Sedação a. Profundidade da sedação versus resultados clínicos i. ii. iii. iv. A manutenção de baixos níveis de sedação em pacientes adultos internados em UTI está associada a melhores desfechos clínicos (Por exemplo, menor tempo na ventilação mecânica e encurtamento da permanência na UTI [LOS]) (B). A manutenção de baixos níveis de sedação melhora a resposta ao stress fisiológico, mas não está associada com um aumento da incidência de isquemia do miocárdio (B). A relação entre a profundidade de sedação e o estresse psicológico nestes pacientes permanece pouco clara (C). Recomendamos que os medicamentos sedativos sejam titulados para manter uma leve sedação ao invés de um nível de sedação profunda em pacientes adultos de UTI, a menos que isso seja clinicamente contraindicado (1B). b. Monitoramento da profundidade da sedação e da função cerebral i. A escala de agitação-sedação de Richmond (Richmond AgitationSedation Scale - RASS) e a escala de sedação-agitação (SedationAgitation Scale - SAS) são as ferramentas de avaliação da sedação mais válidas e confiáveis para medir a qualidade e profundidade da sedação em pacientes adultos internados em UTI (B). ii. Não recomendamos que as medidas objetivas da função cerebral (por exemplo, Potenciais Evocados Auditivos [PEA], Índice Bispectral (BIS), Índice Narcotrend [NI], Índice do Estado do Paciente [PSI], ou o Entropia de Estado [SE]) sejam usadas como principais métodos para monitorar a profundidade da sedação de pacientes adultos que, embora em estado crítico, não estejam em coma e não estejam paralizados, pois estes monitores não substituem adequadamente os sistemas subjetivos de pontuação da sedação (-1B). iv. Sugerimos que as medidas objetivas da função cerebral (por exemplo, PEA, BIS, NI, PSI ou SE) sejam usadas em conjunto com avaliações subjetivas de sedação em pacientes adultos internados em UTI que estejam recebendo agentes bloqueadores neuromusculares, já que nem sempre é possível obter-se as avaliações subjetivas de sedação nestes pacientes (+2B). v. Recomendamos que o eletroencefalograma seja usado para monitorar a atividade de apreensão não convulsiva em pacientes adultos internados na UTI, tanto nos casos de ataques conhecidos como nos suspeitos, ou para titular a medicação eletrossupressiva para alcançar a supressão de ruptura em pacientes adultos internados em UTI que apresentam pressão intracraniana elevada (1 A). c. Escolha do Sedativo i. Sugerimos que as estratégias de sedação sejam preferencialmente com sedativos não benzodiazepínicos (tanto propofol como dexmedetomidina) e não com os benzodiazepínicos (midazolam ou lorazepam) para melhorar os resultados clínicos de pacientes adultos de UTI que estão submetidos à ventilação mecânica (+2B). 3. Delirium a. Resultados associados com delirium i. O delirium está associado ao aumento da mortalidade em pacientes adultos internados na UTI (A). ii. O delirium está associado a pacientes adultos e o tempo de internação hospitalar e/ou a permanência prolongada em UTI (A). iii. O delirium está associado com o desenvolvimento de comprometimento cognitivo pós-UTI em pacientes adultos internados em UTI (B). b. Detecção e monitoramento de delirium i. Recomendamos a monitorização rotineira do delirium em pacientes adultos internados em UTI (+1B). ii. O Método de Avaliação de Confusão para UTI (Confusion Assessment Method for ICU - CAM-ICU) e a Verificação de Monitoramento de Delirium de Terapia Intensiva (Intensive Care Delirium Screening Checklist - ICDSC) são as mais válidas e confiáveis ferramentas de monitoramento de delirium em pacientes adultos de UTI (A). iii. A monitorização de rotina de delirium em pacientes adultos internados em UTI é viável na prática clínica (B). c. Fatores de Risco para o desenvolvimento de delirium i. Quatro fatores de risco são positivo e significativamente associados ao desenvolvimento de delirium na UTI: demência preexistente, história de hipertensão e/ou alcoolismo e doença de alta gravidade na admissão (B). ii. O coma é um fator de risco independente para o desenvolvimento de delirium em pacientes internados na UTI (B). iii. Existem dados conflitantes em relação ao uso de opióides e o desenvolvimento de delirium em pacientes adultos internados em UTI (B). iv. O uso de benzodiazepínicos pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de delirium em pacientes adultos de UTI (B). v. Não há dados suficientes para determinar a relação entre o uso de propofol e o desenvolvimento de delirium em pacientes adultos internados em UTI (C). vi. Em pacientes adultos internados em UTI submetidos à ventilação mecânica e com risco de desenvolver delirium, infusões de dexmedetomidina administradas para sedação podem estar associadas com uma menor prevalência de delirium em comparação com infusões de benzodiazepínicos (B). d. Prevenção do Delirium i. Sempre que possível, recomendamos realizar a movimentação precoce de pacientes adultos internados em UTI, reduzindo assim a incidência e a duração do delirium (+1B). ii. Não há recomendação para a utilização de um protocolo farmacológico para prevenção de delirium em pacientes adultos internados em UTI, assim como não há dados convincentes que demonstrem que esse iii. iv. v. procedimento possa reduzir a incidência ou a duração de episódios de delirium nestes pacientes (0,C). Não há recomendação para utilização de um protocolo que associe meios farmacológicos e não farmacológicos para prevenir o desenvolvimento de delirium em pacientes adultos internados em UTIs, já que tal procedimento não tem demonstrado reduzir a incidência de delirium nestes pacientes (0,C). Não há recomendação de que se administre haloperidol ou antipsicóticos atípicos para prevenir o delirium em pacientes adultos internados em UTIs (-2C). Não há recomendação para o uso de dexmedetomidina como forma de prevenção para o delirium em pacientes adultos internados em UTI, já que não há evidências convincentes sobre sua eficácia nestes pacientes (0,C). e. Tratamento do Delirium i. Não há nenhuma evidência de que o tratamento com haloperidol reduz a duração do delirium em pacientes adultos internados em UTIs (Nenhuma evidência). ii. Os antipsicóticos atípicos podem reduzir a duração dos episódios de delirium em pacientes adultos internados em UTI (C). iii. Não há recomendação para administração de rivastigmina para reduzir a duração do delirium em pacientes internados em UTI (1B). iv. Não há recomendação para o uso de antipsicóticos em pacientes com risco significativo para torsades de pointes (isto é, os pacientes com prolongamento da linha de base do intervalo QTc, pacientes que sabidamente estão recebendo medicação concomitante para prolongar o intervalo QTc, ou pacientes com história deste tipo de arritmia) (-2C). v. A fim de reduzir a duração do delirium em pacientes adultos internados em UTIs que apresentam esse quadro sem que haja relação com a interrupção do uso de álcool ou benzodiazepínicos withdrawal, sugerimos que recebam infusões IV contínuas de dexmedetomidina ao invés de infusões de benzodiazepínicos administradas para sedação. (+2 B). 4. Estratégias para gestão da dor, agitação e delirium visando melhorar as respostas de pacientes internados em UTIs. a. Recomendamos a interrupção da sedação diária ou a utilização rotineira de um nível de sedação leve para pacientes adultos internados em UTIs que estejam sendo ventilados mecanicamente (+1B). b. Sugerimos a sedação como primeira analgesia seja utilizada em pacientes adultos internados em UTI que estejam sendo ventilados mecanicamente (+2 B). c. Recomendamos promover o sono de pacientes adultos internados em UTI usando estratégias que tornem seu ambiente mais propício ao relaxamento, como o controle de luz e som e o planejamento das atividades de cuidados ao paciente, diminuindo os estímulos à noite, para proteger os ciclos de sono (+1C). d. Não há recomendação para o uso de modos específicos de ventilação mecânica que promovam o sono em pacientes adultos internados em UTIs que estejam sendo ventilados mecanicamente, isto porque não existe evidências suficientes da eficácia destas intervenções (0, nenhuma evidência). e. Recomendamos a formação de uma equipe multidisciplinar na UTI que inclua educadores, protocolos informatizados e/ou pré-impresso, formulários e listas de verificação que promovam a qualidade da UTI, a fim de facilitar o uso de diretrizes ou procedimentos para gestão da dor, agitação e delirium em pacientes adultos internados em UTIs (+1 B). Desde a última publicação destas diretrizes, obtivemos avanços significativos em nossa percepção de como oferecer conforto físico e psicológico para pacientes internados em UTIs (1). O desenvolvimento de ferramentas de beira de leito válidas e confiáveis para avaliação e mensuração da dor, sedação, agitação e delirium de pacientes internados em UTIs permitem que os médicos administrem melhor os pacientes e avaliem os resultados associados às intervenções farmacológicas e não farmacológicas (2, 3). O aumento de nossos conhecimentos sobre a farmacologia clínica dos medicamentos normalmente administrados para tratar a dor, agitação e delirium (pain, agitation, and delirium - PAD) em pacientes internados em UTI melhorou nossa capacidade de compreensão dos efeitos a curto e a longo prazo da exposição prolongada a esses agentes (4-6). Aprendemos que os métodos de administração e titulação destes medicamentos podem afetar os resultados dos pacientes, tanto quanto a escolha de drogas (7-16). Para a maioria dos pacientes de UTI, uma estratégia segura e eficaz que garanta seu conforto e mantenha um nível de sedação leve é associada a melhores desfechos clínicos (9-13, 16-20). Assegurar que os pacientes em estado crítico estejam livres de agitação, dor, ansiedade e delirium às vezes pode entrar em conflito com outros objetivos da gestão clínica, tais como a manutenção da estabilidade cardiopulmonar, preservando a adequada perfusão do órgão e sua função (21, 22). As metas de gestão podem ficar ainda mais complicadas pelo crescente número de conjuntos de procedimentos e algoritmos clínicos "baseados em evidências", alguns dos quais têm sido amplamente adotados pelas agências reguladoras e contribuintes (23-30). Finalmente, a enorme variabilidade cultural, filosófica e de normas práticas do mundo, bem como a disponibilidade de mão-de-obra e recursos, torna a implementação generalizada de práticas baseadas em evidências um desafio (31-36). O objetivo destas diretrizes para prática clínica é recomendar as melhores práticas para o gerenciamento de PAD, e assim melhorar os resultados clínicos de pacientes adultos internados em UTIs. Realizamos uma avaliação imparcial, rigorosa, objetiva e transparente de evidências relevantes publicadas. Comparamos estas evidências com os valores e preferências dos pacientes internados em UTIs e de seus familiares, cuidadores, responsáveis financeiros e órgãos reguladores e confrontamos os importantes resultados clínicos de Unidades de Terapia Intensiva, para desenvolver declarações e recomendações que possam ser aplicadas à beira do leito. O âmbito de aplicação destas diretrizes inclui a gestão a curto e longo prazo de PAD em pacientes adultos internados na UTI, tanto entubados como não entubados, da clínica médica, cirúrgica ou traumática. Essas diretrizes abordam de forma resumida o tema de analgesia e sedação para procedimentos, sendo que maiores detalhes sobre sedação consciente estão descritos nas diretrizes da American Society of Anesthesiologists (37). O American College of Critical Care Medicine (ACCM) está desenvolvendo diretrizes específicas para analgesia e sedação para pacientes de UTI pediátrica. Esta versão das diretrizes dá maior ênfase aos aspectos psicométricos das ferramentas de monitoramento de PAD e inclui abordagens farmacológicas e não farmacológicas para gerenciar PAD em pacientes de UTI. Existe também uma preocupação maior na prevenção, diagnóstico e tratamento de delirium, refletindo nossa crescente compreensão do processo dessa doença em pacientes em estado crítico. Estas diretrizes são destinadas a ajudar os médicos a terem uma abordagem mais integrada ao gerenciamento de PAD de pacientes em estado crítico. Os médicos devem adaptar estas diretrizes ao contexto de necessidades individuais do paciente e aos recursos disponíveis do sistema de saúde local. Estas diretrizes não foram elaboradas para serem prescritivas ou aplicadas em termos absolutos. MÉTODOS A força-tarefa multidisciplinar formada por 20 membros da ACCM, com experiência na gestão de PAD, foi incumbida de fazer a revisão das “Diretrizes de Práticas Clínicas para Uso Sustentado de Sedativos e Analgésicos em Adultos doentes em estado crítico” de 2002 (1). Às subcomissões foi atribuído um dos quatro seguintes subtópicos: dor e analgesia, agitação e sedação, delirium ou resultados relacionados a UTIs. Cada subcomissão desenvolveu relevantes questões clínicas e seus resultados relacionados, além de identificar, revisar, analisar e avaliar a literatura, assim como declarações e recomendações estabelecidas, e elaborou sua seção do artigo. Para facilitar a revisão bibliográfica, as subcomissões desenvolveram uma lista muito abrangente com as palavras-chave relacionadas. Um bibliotecário profissional (da Universidade de Cincinnati, C.K.), ampliou e organizou esta lista de palavras-chave, elaborou os correspondentes termos e títulos por assunto médico (medical subject heading - MeSH) (Conteúdo Digital Suplementar 1, http://links.lww.com/CCM/A590); pesquisou um banco de dados clínicos relevantes e, por meio do software Refworks (Bethesda, MD), criou um banco de dados eletrônico, acessado via internet, com dados protegidos por senha. Oito bancos de dados foram incluídos em todas as pesquisas: PubMed, MEDLINE, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Central Register of Controlled Trials, CINAHL, Scopus, ISI Web of Science, and the International Pharmaceutical Abstracts. Os parâmetros de pesquisa incluiram publicações (ou impressões) manuscritos sobre humanos adultos (> 18 anos) somente em inglês, de dezembro de 1999 (limite da pesquisa para as Diretrizes de 2002) até dezembro de 2010. Estudos com menos de 30 pacientes, editoriais, opiniões narrativas, relatos de casos, estudos in vitro ou com animais e cartas ao editor foram excluídos. Buscas quinzenais automáticas foram continuadas além dessa data, e artigos relevantes foram incorporados às diretrizes até julho de 2012, mas os estudos publicados após dezembro de 2010 não foram incluídos na revisão de evidências e processo de votação. As referências bibliográficas das Diretrizes de 2002 também foram incluídas no banco de dados, e a pesquisa almejada da literatura publicada antes de dezembro de 1999 foi realizada, quando necessário. Mais de 19.000 referências foram incluídas no banco de dados Refworks. As declarações e recomendações nesta versão de 2012 das diretrizes foram desenvolvidas utilizando a metodologia Grading of Recommendations, Assessment, Development and Evaluation (GRADE), um sistema estruturado de avaliação de qualidade de evidências e de classificação da força de recomendação na prática clínica (http://www.gradeworkinggroup.org) (38-40). As subcomissões trabalharam com os membros do Grupo de Trabalho GRADE (R.J., D.C., H.S., G.G.) para expressar todas as questões clínicas tanto em termos "descritivos" como "Discussão". Eles estruturaram perguntas Discussão no formato da População, Intervenção, Comparação, Resultados e classificaram os desfechos clínicos relacionados para cada intervenção como crítico, importante ou sem importância para a tomada de decisão clínica. Apenas os resultados importantes e críticos foram incluídos na análise de evidências, e apenas os críticos foram incluídos nas recomendações elaboradas. Os membros das subcomissões procuraram no banco de dados artigos relevantes e os enviaram em PDF para facilitar a revisão bibliográfica do grupo. Dois membros da subcomissão concluíram de forma independente o perfil de evidências da GRADE, resumindo as conclusões de cada estudo e avaliaram a qualidade das evidências. A qualidade de uma evidência foi considerada elevada (nível A), moderada (nível B), ou baixa/muito baixa (nível C), com base tanto na concepção do estudo como nas características específicas do estudo, o que poderia resultar em uma revisão tanto diminuindo como aumentando o nível da de qualidade da evidência (Tabela 1). TABELA 1. Fatores que afetam a Qualidade da Evidênciaa Nível da Qualidade da Tipo de Evidência Evidência Evidência A Alta RCT de Alta qualidade B Moderada RCT com limitações significativas (baixado)b, ou OS de alta qualidade (atualizado)c C Baixa OS Definição É improvável que nossa confiança na estimativa do efeito mude com pesquisas futuras. É provável que pesquisas futuras terão importante impacto em nossa confiança na estimativa do efeito e a estimativa pode mudar. É muito provável que pesquisas futuras terão importante impacto em nossa confiança na estimativa do efeito e provavelmente a estimativa irá mudar. RCT = randomized controlled trial (Estudo Aleatório controlado) OS = observational study (Estudo Observacional) a Adaptado de Guyatt et al (40). b RCTs com limitações significativas: 1) limitações da conjuntura do estudo (planejamento, viés da implementação); 2) inconsistência de resultados; 3) evidências indiretas; 4) imprecisão de resultados; 5) alta probabilidade de tendência de relato. c OS de alta qualidade:1) grande magnitude do efeito do tratamento; 2) evidência de uma relação doseresposta; 3) tendências plausíveis poderia diminuir a magnitude do efeito aparente do tratamento. Se vários estudos relacionados a um determinado assunto demonstraram resultados díspares, e se não há revisões sistemáticas publicadas sobre o assunto, uma meta-análise da literatura relevante foi realizada por um membro do Grupo de Trabalho GRADE (RJ). As subcomissões analisaram coletivamente os perfis das evidências para cada questão, e usando uma técnica de grupo nominal, determinaram a qualidade geral das evidências (tanto para as questões descritivas como para as Discussão), a força da recomendação (apenas para as questões Discussão) e elaboraram resumos sobre as evidências para que fossem revisados por outros membros da força-tarefa. A força de cada recomendação foi definida como forte (1) ou fraca (2), além de a favor (+) ou contra (-) uma intervenção, baseando-se tanto na qualidade da evidência quanto nos riscos e benefícios de todos os resultados críticos (Tabela 2) (41, 42). TABELA 2. Fatores que afetam a força da Recomendaçãoa Considerações Qualidade da evidência A incerteza sobre o equilíbrio entre os efeitos desejáveis e indesejáveis A incerteza ou variabilidade dos valores e preferências A incerteza se a intervenção representa uma sábia utilização dos recursos econômicos aAdapted de Guyatt et al (40). efeito sobre a força da Recomendação Uma evidência de qualidade inferior reduz a probabilidade de uma recomendação forte, e vice-versa Um alto grau de incerteza sobre o equilíbrio entre riscos e benefícios reduz a probabilidade de uma recomendação forte, e vice-versa Uma grande variabilidade nos valores e preferências entre os grupos reduz a probabilidade de uma recomendação forte, e vice- versa Um maior custo global do tratamento reduz a probabilidade de uma recomendação forte, e vice-versa Uma não recomendação (0) também pôde ser feita devido à falta de evidências ou à falta de consenso dos membros da subcomissão. Declarações de consenso baseadas apenas na opinião de especialistas não foram utilizadas quando as evidências não puderam dar suporte a uma recomendação. Uma recomendação forte, a favor de (1) ou contra (-1) uma intervenção, implica que a maioria dos membros da força-tarefa acredita que os benefícios da intervenção sobrepõem-se significativamente aos riscos (ou vice-versa) e que a maioria dos pacientes e pessoas relacionadas a eles adotaria este procedimento (ou não) se pudesse escolher. A recomendação fraca, seja a favor (2) ou contra (-2) uma intervenção, implica que os benefícios da intervenção provavelmente superam os riscos (ou vice-versa), mas que os membros da força-tarefa não estavam confiantes sobre essas compensações, isto devido à baixa qualidade das evidências ou porque a análise dos riscos e benefícios mostrou um certo equilíbrio. Baseando-se nestas informações, a maioria das pessoas pode adotar este procedimento (ou não), mas um número significativo de pacientes e pessoas relacionadas a eles escolheria um curso de ação alternativo (40, 43, 44). Ao longo destas diretrizes, a frase "Nós recomendamos..." foi usada para todas as recomendações fortes e a frase "Nós sugerimos..." foi usada para todas as recomendações fracas. O consenso do grupo para todas as declarações e recomendações foi obtido usando-se o método Delphi modificado com um esquema de votação anônima (41, 45). Os membros da força-tarefa analisaram os Resumos das Evidências GRADE das subcomissões, as declarações e as recomendações, votaram e comentaram anonimamente cada declaração e recomendação usando uma ferramenta de pesquisa eletrônica on-line (E-Survey, http://www.esurvey.com, Scottsdale, AZ). O consenso sobre a força da evidência para cada questão requereu a maioria da votação (> 50%). O consenso sobre a força das recomendações foi definido da seguinte forma: a recomendação a favor de uma intervenção (ou similar) requereu que pelo menos 50% dos votos de todos os membros da força-tarefa fosse a favor, com menos de 20% de votos contra, sendo que se esses limiares não fossem atendidos, a votação resultaria em nenhuma recomendação a ser feita. Para que uma recomendação fosse classificada como forte ao invés de fraca, pelo menos 70% dos votantes votaram em uma recomendação forte, caso contrário, a recomendação seria classificada como fraca. Este método para chegar a um consenso foi proposto pelo Grupo de Trabalho GRADE e foi aprovado pelo Sepsis Guidelines Panel de 2008 para garantir a equidade, transparência e anonimato da criação das recomendações das diretrizes (46, 47). Os resultados das enquetes e seus comentários foram resumidos e distribuídos para que a todos os membros da força-tarefa das Diretrizes para Prática Clínica da Gestão de PAD os analisassem. Quando uma rodada de votação não conseguiu produzir o consenso do grupo, promoveu-se discussão adicional e uma segunda e/ou terceira votação ocorreu. Os resultados sobre todas as questões foram concluídos até dezembro de 2010. A distribuição das contagens finais dos votos, juntamente com os comentários feitos pelos membros da força-tarefa para cada declaração e recomendação está resumida no Supplemental Digital Content 2 (http://links.lww.com/CCM/A591). Os membros da força-tarefa concluíram as requeridas declarações anuais de conflitos de interesse com significativos potenciais de conflitos de interesse (por exemplo, coautoria do manuscrito) abstendo-se da revisão e classificação das evidências e do desenvolvimento das declarações e recomendações para as questões relacionadas pelas subcomissões. Todos os membros da força-tarefa ao final votaram anonimamente sobre a força das evidências e a força das recomendações para todas as questões. Nenhum patrocínio, financiamento ou apoio foi usado para desenvolver qualquer aspecto destas diretrizes. Análises Psicométricas Estas diretrizes incluem declarações e recomendações sobre o uso de uma variedade de ferramentas de avaliação comportamental de beira de leito utilizadas para 1) detectar e avaliar a dor, 2) determinar a profundidade da sedação e o grau de agitação, e 3) detectar o delirium em pacientes adultos em estado crítico incapazes de se comunicar claramente. Até esta data, uma avaliação comparativa das propriedades psicométricas (ou seja, fiabilidade e validade) e a viabilidade relacionada com a utilização dessas ferramentas em pacientes de UTI não foram publicadas. A Confiabilidade da Escala refere-se à precisão geral da utilização da escala para replicar a graduação da dor, sedação ou delirium ao longo do tempo (por exemplo, confiabilidade do teste-reteste) ou entre avaliadores (ou seja, a confiabilidade entre avaliadores) (48). A Validade refere-se às conclusões que podem ser extraídas dos resultados de um teste ou escala (por exemplo, uma ferramenta de avaliação de delirium realmente detecta delirium?) (49). Conteúdo, critério e validação discriminante são estratégias específicas da validade dos testes. Uma ferramenta pode ser mostrado para ser confiável e válida quando usada para um propósito específico com indivíduos específicos em um determinado contexto (48, 49). A Viabilidade refere-se à facilidade com que os médicos podem aplicar uma determinada escala no contexto clínico (por exemplo, na UTI). A força-tarefa avaliou e comparou as propriedades psicométricas das escalas comportamentais para avaliação de dor (behavioral pain scales - BPSs) utilizadas em pacientes adultos internados em UTI e comparou suas análises com um procedimento publicado anteriormente (50). Não estavam disponíveis outros sistemas de pontuação semelhantes para avaliar e comparar as propriedades de escalas psicométricas de sedação e delirium, que têm estratégias de validação diferentes das utilizadas nas escalas de dor. Com a inclusão de três especialistas em testes psicométricos (D.S., C.J., C.W.), a força-tarefa desenvolveu sistemas de pontuação semelhantes para avaliar e comparar escalas de sedação e delirium (48). As propriedades das escalas psicométricas da dor, sedação e delirium foram avaliadas baseadas em: 1) seleção de item e validação de conteúdo, 2) confiabilidade, 3) validade, 4), viabilidade e 5) relevância ou impacto da implementação sobre os resultados do paciente. As pontuações psicométricas absolutas variaram de 0 a 25 para a escala de dor, de 0 a 18 para sedação e de 0 a 21 para delirium. Pontuações ponderadas foram estabelecidas para cada critério para enfrentar variações na pontuação e facilitar a interpretação dos resultados, o que resultou em uma pontuação total ponderada de 0 a 20 para os três domínios. Os detalhes de cada um dos três sistemas de pontuação psicométricos utilizados estão resumidos no conteúdo digital suplementar 3 (Supplemental Digital Content 3 - http://links.lww.com/CCM/A592). As escalas com pontuações ponderadas variando de 15 a 20 foram consideradas propriedades psicométricas muito boas, as de 12-14,9 propriedades psicométricas moderadas, algumas das que variaram de 10-11,9 foram consideradas propriedades psicométricas aceitáveis, porém suas validações necessitaram de estudos adicionais, as que variaram de 0 a 9,9 tiveram pouquíssimas propriedades psicométricas relatadas e/ou apresentaram resultados inaceitáveis. As escalas com propriedades psicométricas moderadas a muito boas (isto é, com pontuação ponderada até 12) foram considerados escalas suficientemente válidas e confiáveis para uso em pacientes adultos de UTI. A qualidade das evidências para cada escala individual também foi avaliada utilizando-se categorias semelhantes às usadas no sistema GRADE, com modificações adaptadas para as análises psicométricas. Todos os estudos foram revisados, e todas as escalas foram pontuadas de forma independente por dois revisores. Dor e analgesia Incidência de dor em pacientes internados em UTIs. A International Association for the Study of Pain define a dor como “uma desagradável experiência sensorial e emocional associada com reais ou potenciais danos a tecidos, ou descrita em termos de tal lesão " (51). Essa definição destaca a natureza subjetiva da dor e sugere que esta só pode ser considerada presente quando relatada pela pessoa que a experimenta. Provavelmente, a maioria dos pacientes doentes em estado crítico sente dor em algum momento durante sua permanência na UTI (52). A dor é uma grande fonte de estresse, daí a importância de sua identificação (53-56). Entretanto, muitos pacientes em estado crítico não são capazes de manifestar sua dor (verbalmente ou com outros sinais) devido a alterações em seu nível de consciência, à utilização de ventilação mecânica, doses elevadas de agentes sedativos ou agentes bloqueadores neuromusculares (57). No entanto, a habilidade para avaliar com segurança a dor do paciente é a base para tratá-la de forma eficaz. Como a International Association for the Study of Pain também afirma, "a incapacidade de se comunicar verbalmente não nega a possibilidade de que um indivíduo esteja sentindo dor e o tratamento adequado para alívio da dor torna-se necessário" (58). Assim, os médicos devem ser capazes de detectar com segurança a dor, usando métodos de avaliação adaptados a pacientes com capacidade de comunicação prejudicada. Em tais situações, os médicos devem considerar as reações comportamentais dos pacientes como medidas substitutas para identificar e avaliar a dor, desde que as funções motoras destes estejam intactas (59). A detecção, quantificação e gestão da dor em pacientes adultos em estado crítico são prioridades maiores e têm sido objetos de pesquisa a mais de 20 anos (60). Apesar disso, a incidência de dor significativa ainda é de 50% ou mais em pacientes internados em UTI clínica e cirúrgica (61, 62). Além de sentirem dor em repouso (61) e dores relacionadas a cirurgias, traumas, queimaduras, câncer, os pacientes também sofrem com as dores inerentes aos diversos procedimentos aos quais são submetidos (63-70). A gestão de dor aguda foi destaque na primeira edição das Diretrizes de Práticas Clínicas cuja publicação ocorreu há 20 anos atrás pela Agency for Health Care Policy and Research (71). A dor relacionada aos procedimentos aos quais os pacientes são submetidos está onipresente, e o inadequado tratamento desse tipo de dor continua a ser um problema significativo para muitos pacientes internados em UTI (68). As conseqüências negativas tanto fisiológicas como psicológicas da dor sem alívio em pacientes de UTI são significativas e de longa duração. Por muitos anos, os pacientes de UTI identificaram a dor como sua maior preocupação e uma das principais causas de sono insuficiente (72). Mais recentemente, estudos em pacientes que tiveram alta da UTI, mas que permaneceram hospitalizados mostraram que 82% (n = 75) (56) lembravam-se de dor ou desconforto associado com o tubo endotraqueal e 77% (n = 93) lembravam-se de ter sentido dor moderada a grave durante sua permanência na UTI (73). Uma semana após a alta da UTI, 82% (n = 120) de pacientes submetidos a cirurgia cardíaca relataram a dor como a lembrança traumática mais comum de sua permanência na UTI; 6 meses mais tarde, 38% ainda relatavam a dor como sua lembrança mais traumática na UTI (74). Granja e colegas (75) observou que 17% (n = 313) dos pacientes se lembravam de dor severa 6 meses após uma internação em UTI e 18% sofreram risco elevado de desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Schelling e colegas (25) realizaram um estudo interrogativo no qual acompanharam por um longo período (em média 4 anos) 80 pacientes que receberam tratamento para síndrome da angústia respiratória aguda na UTI. Em comparação com controles normais, tanto pacientes da clínica médica como da clínica cirúrgica que relataram terem sentido dor e outras situações traumáticas durante o período que estiveram na UTI tiveram maior incidência de dor crônica (38%) e sintomas de TEPT (27%), além de relatarem uma pior qualidade de vida em relação à saúde (21%). O estresse causado pela dor pode ter consequências danosas para os pacientes de UTI. O aumento de catecolaminas na corrente sanguínea pode causar vasoconstrição arteriolar, comprometer a perfusão de tecidos e reduzir a pressão parcial de oxigénio nos tecidos (76). Outras respostas desencadeadas pela dor incluem hipermetabolismo catabólico, resultando em hiperglicemia, lipólise e ruptura muscular para fornecer substrato proteico (77). A estimulação catabólica e ahipoxemia também prejudicam a cicatrização e aumentam o risco deinfecção de feridas. A dor inibe a atividade das células natural killer (78,79), que desempenham uma função fundamental no sistema imunológico, levando a uma diminuição do número de células T citotóxicas e uma redução da atividade fagocítica dos neutrófilos (80). A dor aguda pode ser o maior fator de riscopara o desenvolvimento da dor crônica, persistente, debilitante e muitas vezes neuropática. (81). A dor aguda não aliviada em pacientes adultos internados em UTI é onipresente e longe de ser benigna, com consequências a curto e longo prazo. Deve-se enfatizar a importância de se identificar e tratar adequadamente a dor de pacientes adultos internados em UTI. Avaliação da dor em pacientes internados em UTI. O tratamento da dor de pacientes em estado crítico depende da habilidade do clínico para avaliá-la de forma reprodutível e monitorá-la ao longo do tempo, determinando a adequação de intervenções terapêuticas para tratar a dor. Um paciente capaz de relatar que sente dor é considerado "Padrão Ouro", e os médicos, em primeiro lugar, sempre devem tentar obter do próprio paciente o grau de dor que ele está sentindo. Chanques e colegas (82) demonstraram que uma escala visual horizontal numérica graduada de 0 a 10 foi a mais válida e viável de cinco escalas de avaliação de intensidade da dor testadas em mais de 100 pacientes de UTI. No entanto, quando os pacientes em estado crítico são incapazes de relatar a dor que sentem, os clínicos devem usar ferramentas estruturadas, válidas, confiáveis e viáveis para avaliar a dor dos pacientes (83). É essencial que a dor de pacientes de UTI seja avaliada rotineira e repetidamente de forma eficiente e reprodutível. Não há nenhum monitor objetivo para dor, mas existem ferramentas válidas e confiáveis usadas à beira do leito que podem avaliar a dor por meio de indicadores que baseam-se, principalmente, no comportamento dos pacientes. Apesar de revisões sobre ferramentas de avaliação da dor por meio de análise comportamental terem sido publicadas, faz-se necessária uma discussão atualizada sobre seu desenvolvimento, validação e aplicabilidade para pacientes de UTI (50, 84). Uma análise detalhada e sistemática dos processos de seleção de itens e das propriedades psicométricas de escalas de dor (ou seja, validade e confiabilidade) pode encorajar os médicos a adotar escalas de dor e padronizar seu uso em pacientes de UTI. Estudos recentes têm demonstrado que a aplicação de escalas comportamentais de dor melhora tanto o controle da dor de paciente internados na UTI, como os resultados clínicos, incluindo o melhor uso de analgésicos e sedativos e a diminuição do tempo do paciente em ventilação mecânica, assim como acelera a alta da UTI (2, 3, 85). Tratamento da Dor. Os opióides, tal como o fentanil, hidromorfona, metadona, morfina e remifentanil são os medicamentos de primeira escolha para controlar a dor de pacientes em estado crítico (Tabela 3) (62). TABELA 3. Farmacologia dos Analgésicos Opiáceos (1, 128, 440, 472) Opiáceos Fentanil Equi-Analgésico Dose (mg) IV PO 0,1 N/A Início (IV) Eliminação meia-vida 1-2 min 2-4 horas Hidromorfona Morfina Metadona 1,5 10 N/A 7,5 30 N/A 5-15 min 5-10 min 1-3 dias 2-3 horas 3-4 horas 15-60 horas SensibilidadeContexto meia-vida 200 min (infusão de 6 h), 300 min (12 h a de infusão) N/A N/A N/A Remifentanil N/A N/A 1-3 min 3-10 min 3-4 min via metabólica N-desalquilação substrato CYP3A4 / 5 Glucuronidação Glucuronidação N- desmetilação CYP3A4 / 5, 2D6, 2B6, Substrato 1A2 hidrólise por plasma esterases TABELA 3. Continuação Metabólitos Ativos Dosagem Intermitente Dosagem e tempo de Infusão IV 0,7-10 mg / kg / h Efeitos colaterais e Outras Informações Nenhum 0,35-0,5 mg / kg IV q0,5-1 h Nenhum 0,2-0,6 mg IV q1-2 horas 0,5-3 opção mg / h metabólito 6 - e 3glucuronido Derivado de Ndesmetilado 2-4 mg IV q1-2 horas 2-30 mg / h Opção terapêutica para pacientes tolerantes à morfina / fentanil. Acúmulo com insuficiência hepática / renal. Acúmulo com insuficiência hepática / renal. Liberação de histamina. IV/PO: 10-40 mg q6-12 horas IV: 2,5-10 mg q8-12 horas Não recomendado Nenhum N/A dose de carga: 1,5 µg/kg IV dose de manutenção: 0,5-15 mg/kg/h IV Menos hipotensão do que com a morfina. Acúmulo com insuficiência hepática. Pode ser usado para retardar o desenvolvimento de tolerância sempre que houver necessidade de um aumento gradual da dosagem de opióides. A farmacocinética e a farmacodinâmica são imprevisíveis em pacientes que nunca foram d tratados com opiáceos. Monitor de QTc. Não há acúmulo no caso de insuficiência hepática/renal. Utilizar IMC, se o peso > 130%. s an PO = oral; N / A = não aplicável; PI = peso corporal ideal. a Depois de 12 horas, e em caso de disfunção de órgãos-alvo, a meia-vida de sensibilidade-contexto aumenta de forma imprevisível. b Pode aumentar a dose para prolongar o intervalo de dosagem; hidromorfona 0,5 mg IV a cada 3 horas, ou morfina 4-8 mg IV a cada 3-4 horas. c As tabelas de dosagem equianalgésica podem subestimar a potência de metadona. A proporção de conversão de morfina -ou hidromorfona- a metadona aumenta (isto é, o potência da metadona aumenta) conforme a dose de morfina ou hidromorfona aumenta. A razão de potência analgésica relativa de metadona oral e parenteral é 2:1, mas os intervalos de confiança são amplos. d QTc é o intervalo QT (corrigido) do traçado eletrocardiográfico. d Other Information A melhor escolha de opióides e o regime de dosagem utilizado para cada paciente depende de muitos fatores, incluindo as propriedades farmacodinâmicas e farmacocinéticas das drogas (52). O uso de meperidina é geralmente evitado em pacientes internados na UTI por causa de seu potencial para toxicidade neurológica (52). Vários outros tipos de analgésicos ou medicamentos moduladores da dor, tais como, anestésicos locais e regionais (por exemplo, bupivacaína), antiinflamatórios não esteróides (por exemplo, cetorolaco e ibuprofeno), acetaminofeno IV e anticonvulsivantes, podem ser utilizados como medicamentos adjuvantes para dor, reduzindo assim a necessidade do uso de opiáceos (Tabela 4). TABELA 4. Farmacologia de Analgésicos Não Opiáceos (1, 91, 132, 440) Não opiáceos (Rota) Início Eliminação meiavida Via metabólica Metabólitos ativos Ketamina (IV) Acetaminofeno (PO) Acetaminofeno (PR) Acetaminofeno (IV) 30-40 segundos 30-60 min variável 2-3 horas 2-4 horas N-desmetilação glucuronidação, sulfonação Norcetamina Nenhum 5-10 min 2 horas glucuronidação, sulfonação Nenhum a Ketorolac (IM/IV) 10 min 2,4–8,6 h Ibuprofeno (IV) Ibuprofeno (PO) Gabapentina (PO) Carbamazepina liberação imediata (PO) N/A 25 min N/A 4/5 horas 2,2-2,4 h 1,8-2,5 h 5-7 h 25-65 horas inicialmente, em seguida, 12-17 horas TABELA 4 (Continuação) Dosagem Dose 0,1-0,5 mg/kg IV, seguido de 0,05-0,4 mg /kg/h 325-1000 mg a cada 4-6 horas; dose máx ≤ 4g/dia) 650 mg IV a cada 4 horas - 1000 mg IV a cada 6 horas; dose máxima≤ 4g/dia 30 mg IM / IV, em seguida, 15-30 mg IM / IV a cada 6 horas até 5 dias. dose máx de 120 mg / dia x 5 dias 400-800 mg IV a cada 6 horas perfusão durante> 30 minutos; dose máx = 3,2 g / dia 400 mg PO a cada 4 horas; dose máx = de 2,4 g / dia dose inicial = 100 mg PO três vezes por dia; dose de manutenção = 900-3600 mg / dia divididos em três doses dose inicial = 50-100 mg via oral; manutenção dose = 100-200 mg cada 4-6 horas, dose max = 1200 mg / dia Hidroxilação, conjugação/ Excreção renal oxidação oxidação Excreção renal oxidação Nenhum Nenhum Nenhum Nenhum Nenhum Efeitos Colaterais e outras informações Atenua o desenvolvimento de tolerância aguda aos opióides. Pode causar alucinações e outros distúrbios psicológicos. Pode ser contra-indicado para pacientes com significativa disfunção hepática. Evite medicamentos anti-inflamatórios não esteróides nas seguintes condições: disfunção renal, sangramento gastrointestinal; anormalidade plaquetária; terapia concomitante com inibidor da enzima conversora de angiotensina, insuficiência cardíaca, cirrose, asma. Contraindicado para o tratamento de dor peri-operatória em cirurgia de revascularização do miocárdio. Evite medicamentos anti-inflamatórios não esteróides nas seguintes condições: disfunção renal, sangramento gastrointestinal; anormalidade plaquetária; terapia concomitante com inibidor da enzima conversora de angiotensina, insuficiência cardíaca, cirrose, asma. Contraindicado para o tratamento de dor peri-operatória em cirurgia de revascularização do miocárdio. Efeitos colaterais: (comum) sedação, confusão, tonturas, ataxia. Ajustar dosagem em insuficiência renal. A interrupção abrupta de medicamentos associados pode levar à síndrome de abstinência, convulsões. Efeitos colaterais: (comum) nistagmo, tontura, diplopia, vertigens, letargia (raro) anemia aplástica e agranulocitose; Stevens-Johnson ou necrólise epidérmica tóxica com o gene HLA-B1502. interações medicamentosas múltiplas devido à indução de enzimas hepáticas. PO = via oral; PR = via retal; max = máximo; IM = via intramuscular, N/A = não aplicável. a Para pacientes> 65 anos ou <50 kg, 15 mg IV / IM a cada 6 horas, para uma dose máxima de 60 mg / dia, durante 5 dias. Apesar do seu perfil de segurança e eficácia como agentes para controle da dor, não foram adequadamente estudados em pacientes em estado crítico. Os princípios de tratamento farmacológicos extrapolados de estudos realizados fora da UTI não podem ser aplicádos para pacientes em estado crítico (52). O Acetaminofeno IV foi recentemente aprovado para uso nos Estados Unidos e tem demonstrado ser seguro e eficaz quando utilizado em conjunto com opióides para dor pós-operatória em pacientes cirúrgicos em UTI submetidos à cirurgia cardíaca (80, 86-89). Dor neuropática, mal tratada com apenas opióides, pode ser tratada com administração por via entérica de gabapentina e carbamazepina em pacientes de UTI com suficiente absorção e motilidade gastrointestinal (90, 91). Métodos de dosagem de analgésicos também são tratamentos considerados. A escolha de estratégias de infusões intravenosas intermitentes versus contínuas pode depender da farmacocinética da droga, da frequência e intensidade da dor e/ou do estado mental do paciente (92). A administração enteral de opiáceos e outros analgésicos deve ser limitado a pacientes com capacidade adequada de absorção e motilidade gastrointestinal. As modalidades regionais ou neuroaxiais (raquidiana ou peridural) também podem ser utilizadas para analgesia pós-operatória seguindo-se os procedimentos cirúrgicos selecionados (93, 94). Complementares, a gestão de intervenções não farmacológicas para dor, como musicoterapia e técnicas de relaxamento, podem evitar o uso de opiáceos e analgésicos de reforço, pois eles têm baixos custos, são fáceis de serem oferecidos e são seguros. Embora uma abordagem multimodal para o controle da dor em pacientes internados em UTI seja recomendado, alguns estudos sobre a eficácia de intervenções não farmacológicas nestes pacientes foram publicados (52, 95). A dor ocorre comumente em pacientes adultos de UTI, independentemente de seus diagnósticos ao serem admitidos. A dor pode impedir que os pacientes colaborem em seus tratamentos na UTI (por exemplo, a mobilização precoce, desmame da ventilação mecânica). Assim, os médicos devem frequentemente reavaliar os pacientes na questão da dor e gerenciar as intervenções com analgésicos com todo cuidado para prevenir potenciais sequelas negativas l devido à terapia analgésica inadequada ou excessiva. Os médicos devem realizar avaliações da dor rotineiramente e de forma reprodutível em todos os pacientes em estado crítico, usando o auto-relato do paciente ou as medidas comportamentais sistematicamente aplicadas. O manejo da dor pode ser facilitado pela identificação e tratamento precoce, antes que se torne grave (52). Dor e Analgesia: Perguntas, Declarações, e Recomendações. 1. Incidência de dor 2. a. Pergunta: Pacientes adultos de UTI sentem dores independentemente dos procedimentos aos quais são submetidos? Se sim, quais os eventos ou situações que estão relacionados com a dor? (Descritiva) 3. Resposta: Pacientes adultos de UTI médica, cirúrgica e traumática rotineiramente sentem dor, tanto em repouso como durante os cuidados de rotina de UTIs (B). A dor em pacientes adultos submetidos à cirurgia cardíaca é comum e mal tratada, as mulheres sofrem mais com a dor do que os homens após cirurgia cardíaca (B). 4. Justificativa: Pacientes adultos de UTI médica, cirúrgica e traumática sentem dor significativa, mesmo em repouso (61, 63, 73). Por isso, todos os pacientes adultos de qualquer UTI devem ser avaliados para a dor. A dor em repouso deve ser considerada como uma grande síndrome de diagnóstico clínico. Em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca, a dor relacionada à cirurgia, tosse, procedimentos relacionados à respiração e mobilização ainda é frequente e é mal tratada, as mulheres sofrem mais dor do que os homens após cirurgia cardíaca (73, 96-98). Portanto a dor de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca deve ser avaliada e tratada. O manejo da dor deve ser individualizado de acordo com a intensidade e frequência da dor que o paciente sente, com especial atenção para sua ocorrência em mulheres (97). 5. b. Pergunta: Os pacientes adultos internados em UTI e submetidos a procedimentos costumam sentir dor? (Descritiva) 6. Resposta: A dor de procedimentos é comum em pacientes adultos de UTI (B). 7. Justificativa: A dor associada aos procedimentos não-cirúrgicos, tais como a remoção de drenos ou curativos é prevalente em pacientes adultos internados em UTI (68, 99). Geralmente a um nível moderado (68), a dor é influenciada por níveis de dor anteriores aos procedimentos e à administração de analgésicos (100). Menos de 25% de pacientes recebem analgésicos antes dos procedimentos (68). A dor advinda dos procedimentos varia com a idade (64, 66) e é maior em nãocaucasianos do que em caucasianos (64, 66, 68). Diferenças nas dores advindas de procedimentos entre pacientes não-cirúrgicos e cirúrgicos varia com o procedimento (64, 66). As alterações hemodinâmicas não são correlações válidas à dor de procedimentos (99). As informações disponíveis sugerem que a analgesia preemptiva tem benefícios, mas os riscos de dor de procedimentos e a falta de tratamento preventivo não são claras. 2. Avaliação da dor a. Pergunta: A avaliação da dor é realizada rotineiramente em pacientes adultos de UTI? (Discussão) Resposta: Recomendamos que a dor seja monitorada rotineiramente em todos os pacientes adultos de UTI (1 B). Justificativa: A avaliação rotineira da dor em pacientes adultos internados em UTI está associada à melhora dos resultados clínicos. A avaliação da dor, especialmente a protocolizada, tem sido significativamente associada a uma redução da utilização de medicamentos analgésicos, prolongamento da permanência em UTI (LOS), e duração de ventilação mecânica (3, 62). A avaliação da dor é essencial para um tratamento adequado, especialmente quando parte de um protocolo abrangente para gestão da dor. Embora a qualidade das evidências seja moderada, há forte recomendação para a realização de avaliações de rotina da dor em todos os pacientes de UTI, dado que os benefícios superam muito os riscos. b. Pergunta: Quais são as medidas comportamentais para avaliação de dor mais válidas e confiáveis voltadas a pacientes adultos graves que não são capazes de se comunicar? (Descritiva) Resposta: A Escala de Dor Comportamental (Behavioral Pain Scale - BPS) e a Ferramenta de Observação da Dor de Cuidados Críticos (Critical- Care Pain Observation Tool - CPOT) são as escalas comportamentais mais válidas e confiáveis para o monitoramento de dor em pacientes adultos de UTI médica, pós-operatória, ou traumática (exceto para lesões cerebrais) que não são capazes de relatar a dor que sentem, mas que têm suas funções motoras intactas e seus comportamentos são observáveis. O uso dessas escalas em outras populações de pacientes de UTI e sua tradução para idiomas diferentes de francês ou inglês exige testes adicionais de validação (B). Justificativa: Seis escalas comportamentais para avaliação de dor foram analisadas: BPS; BPS de pacientes não entubados (BPS—Non-Intubated - BPS- NI); CPOT; Escala de dor não verbal (Non-Verbal Pain Scale - NVPS), NVPS inicial e NVPS revisada (NVPSI, NVPS-R); Ferramenta de Avaliação Comportamental da dor (Pain Behavioral Assessment Tool - PBAT) e Algoritmo da Avaliação da dor, Intervenção e Notation (Pain Assessment, Intervention, and Notation - PAIN). A Tabela 5 resume suas pontuações psicométricas. Estudos observacionais, embora sejam um pouco limitados, fornecem evidências consistentes de que as escalas BPS (pontuação de 3-12 no total) e CPOT (pontuação de 0-8 no total) têm boas propriedades psicométricas em termos de: confiabilidade entre observadores (101-109), validade discriminante (101, 102, 104, 107, 109, 110) e critério de validade (103-105, 109, 110) em pacientes de UTI médica, pós-operatória e de traumática. Uma pontuação CPOT maior do que 2 tem uma sensibilidade de 86% e uma especificidade de 78% para prever uma dor significativa de adultos em UTI pós-operatória expostos a um procedimento nociceptivo (111, 112). Pesquisadores sugerem um cutoff semelhante para o BPS (> 5), baseando-se em estatísticas descritivas de adultos internados em UTI que não conseguem falar e que são submetidos a procedimentos nociceptivos em comparação com pacientes em repouso (62). CPOT e BPS podem ser implementadas com sucesso na UTI após padronização e um curto período de treinamento (2, 85). O seu uso regular pode levar a uma melhor manejo da dor e melhora dos resultados clínicos em pacientes de UTI (2, 3, 85). O BPS-NI é derivado do BPS e adaptado aos pacientes de UTI não intubados (113), mas foi testado apenas em um grupo de 30 pacientes, assim sendo, estudos de replicação são necessários para que suas propriedades psicométricas sejam melhor avaliadas. Estudos complementares também são necessários para analisar as propriedades psicométricas das escalas: NVPS (114), NVPS-R (115), PBAT (116), e PAIN (117). c. Pergunta: Os sinais vitais devem ser usados para avaliar a dor em pacientes adultos de UTI? (Discussão) Resposta: Nós não sugerimos que os sinais vitais (ou escalas observacionais de dor que incluem sinais vitais) sejam utilizados isoladamente para avaliação da dor em pacientes adultos de UTI (-2C). Entretanto, sugerimos que os sinais vitais podem ser usados como um sinal para iniciarmos em seguida a avaliação da dor destes pacientes (2 C). Justificativa: Estudos observacionais fornecem evidências inconsistentes da validade dos sinais vitais com a finalidade de avaliação da dor em pacientes de UTI clínica, pós-operatória e traumatológica. Mesmo se houver uma tendência para os sinais vitais serem aumentados quando os pacientes em estado crítico são expostos a procedimentos dolorosos, estes aumentos não são confiáveis como preditores de dor (66, 101, 105, 107, 110). Existem relatos de que os sinais vitais podem aumentar tanto durante procedimentos dolorosos como em não dolorosos (109) ou que podem manter-se estáveis durante a exposição nociceptiva (99). Alterações dos sinais vitais não se correlacionam com os relados de dor dos pacientes com capacidade de comunicação (105, 110) ou com a avaliação comportamental da dor (101, 107). Entretanto, como os sinais vitais podem mudar com a dor, a angústia ou outros fatores, eles podem ser uma sugestão para que se realize avaliações da dor nestes pacientes (118). TABELA 5. Pontuação Psicométrica para Escalas de Dor Critério psicométrico Classificação Descrição da seleção do item Validação de conteúdo Limitações apresentadas Consistência interna Confiabilidade entre as avaliações Confiabilidade entre as avaliações com testes realizados por equipe de fora da pesquisa Confiabilidade intra-teste realizada caso a confiabilidade inter-teste for baixa ou inconsistente Número total de participantes Critério de validação: correlação com "padrão ouro" Critério de validação: sensibilidade Critério de validação: especificidade Validação discriminante Viabilidade Directivas de utilização Relevância da escala na prática Pontuação total intervalo: 0-25 Pontuação Ponderadab intervalo: 0-20 Qualidade da evidência psicométrica (Com base na pontuação ponderada) BPS para Não entubados Escalas Escala de Dor não-verbal Ferramenta Observacional de Dor de Cuidados Críticos 2 BPS Ferramenta de Avaliação Comportamental da Dor Avaliação da Dor e Notação da intervenção 2 2 1 2 1 2 0 0 1 1 1 1 0 0 1 1 1 2 1 2 I = 1/Rev = 2 0 0 2 2 2 2 0 0 1 1 1 1 1 1 0 0 N/A I = N/A/Rev = 0 0 0 2 2 1 2 2 1 1 2 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 2 2 2 2 2 0 1 1 1 0 0 1 0 0 0 1 0 1 0 1 0 0 0 1 20 14 11 I = 11/Rev = 12 11 7 14,70 12,00 10,20 I = 9,2/Rev = 8,7 7,50 5,90 M M L VL L VL BPS = Escala de Dor Comportamental; I = inicial; Rev = revisada, N/A = não aplicável; M = moderado; L = baixo; VL = muito baixo. a escala de dor não verbal tem duas versões: I e Rev. b faixa de pontuação ponderada (0-20): propriedades psicométricas muito boas (Muito Bom): 15-20; boas propriedades psicométricas (M): 12-14,9; Algumas propriedades psicométricas aceitáveis, outros estudos precisam ser realizados (L): 10-11,9; Pouquíssimas propriedades psicométricas foram relatadas, ou resultados inaceitáveis(VL): <10. 3. Tratamento da Dor a. Pergunta: A dor relacionada a procedimentos deve ser tratada preventivamente em pacientes adultos de UTI? (Discussão) Resposta: Recomendamos que a analgesia preemptiva e/ou intervenções não farmacológicas (por exemplo, relaxamento) sejam administradas preventivamente para aliviar a dor na retirada do dreno em pacientes adultos de UTI (+1 C). Sugerimos que em outros tipos de procedimentos invasivos e potencialmente dolorosos os pacientes adultos internados em UTI recebam tratamento analgésico preventivo e/ou intervenções não farmacológicas que possam ser administradas para aliviar a dor (+2C). Justificativa: Recomendamos veementemente que os pacientes que serão submetidos à retirada de dreno devem ser tratados preventivamente para a dor, tanto farmacologicamente como não farmacologicamente. Pontuações significativamente mais baixas para intensidade de dor foram relatadas pelos pacientes quando receberam morfina IV mais relaxamento (119), valdecoxib tópico (120), sufentanil IV ou fentanil (121) antes da retirada do dreno. Segundo esses estudos, as consequências desejáveis superam os efeitos indesejáveis. Pode-se razoavelmente supor que a maioria dos pacientes de UTI gostaria de receber tratamento preventivo para dor por meio de intervenções farmacológicas e/ou não farmacológicas antes de quaisquer procedimentos dolorosos. b. Pergunta: Quais os tipos de medicamentos que devem ser administrados para o alívio da dor em pacientes adultos de UTI? (Discussão) Resposta: Consideramos os analgésicos opióides IV a classe de drogas de primeira linha de escolha para o tratamento de dor não-neuropática em pacientes em estado crítico (+1C). Todos os analgésicos opióides IV disponíveis, quando titulados para intensidades de dor semelhantes, são igualmente eficazes (C). Recomendamos a administração enteral de gabapentina ou carbamazepina, além dos analgésicos opióides IV, para o tratamento da dor neuropática (+1A). Sugerimos que os analgésicos não-opióides sejam considerados para diminuir a quantidade de opióides administrados (ou para eliminar totalmente a necessidade de analgésicos opióides) e para diminuir os efeitos secundários relacionados com o uso de opióides (+2C). Justificativa: As evidências indicam a utilização de um regime à base de opiáceos para diminuir a intensidade da dor não neuropática (87, 90, 91, 122136). Além do custo da droga e da utilização de recursos, todos os opióides administrados IV parecem exibir eficácia analgésica similar e estão associados com semelhantes resultados clínicos (por exemplo, permanência em ventilação mecânica, LOS) quando ajustados para intensidades de dor semelhantes. Para a dor não neuropática, não opióides como acetaminofeno IV (87) ou inibidores da ciclooxigenase administrados via oral, IV ou retal (122, 123, 135), ou ainda a cetamina IV (132, 137) podem ser usados em adição aos opióides. Usando analgésicos não opióides, a quantidade total de opióides administrados é diminuída e a incidência e gravidade dos efeitos secundários relacionados aos opióides também. Em pacientes com dor neuropática, usar opióides IV mais gabapentina ou carbamazepina por via oral oferece superior alívio da dor em pacientes ventilados mecanicamente em comparação com o uso de opióides IV sozinho (90, 91). A falta de comparações diretas entre opióides e não opióides dificulta as conclusões sobre o efeito dos analgésicos não-opióides, particularmente em pacientes de UTI. c. Pergunta: Qual a via de administração de analgésico (eixo neural ou parenteral) é recomendada para o alívio da dor de pacientes adultos em estado crítico que se submeteram à cirurgia torácica ou abdominal ou que têm fraturas traumáticas de costelas (Incluindo tanto pacientes de UTI ventilados mecanicamente como não ventilados mecanicamente? (Discussão) Resposta: Recomendamos que a anestesia/analgesia peridural torácica seja considerada no pós-operatório de pacientes submetidos à cirurgia de aorta abdominal (+1B). Não há recomendação nenhuma para a utilização de anestesia epidural lombar em detrimento do uso de opióides parenterais para analgesia pós-operatória em pacientes submetidos à cirurgia de aneurisma da aorta abdominal, devido à falta de benefícios, quando estas vias de administração são comparadas nessa população de pacientes (0, A). Não há nenhuma recomendação para o uso de analgesia peridural torácica em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos intratorácicos ou abdominais não vasculares, devido à insuficiência e falta de convicção de evidências para esse modo de administração nestes pacientes (0, B). Sugerimos que a analgesia epidural torácica seja considerada para pacientes com fraturas de costelas traumáticas (+2B). Não há nenhuma recomendação para analgesia neuroaxial/regional sobre analgesia sistêmica em pacientes de UTI clínica, devido a falta de evidências nessa população de pacientes (0, nenhuma evidência). Justificativa: A alta qualidade de evidências sugere que a anestesia/analgesia peridural torácica em pacientes submetidos à cirurgia abdominal aórtica, quando o catéter peridural é colocado no pré-operatório proporciona alívio superior da dor quando comparado com o uso de opióides isolados administrados parentalmente. Embora raras, algumas complicações podem advir do uso de analgesia por via epidural torácica nestes pacientes, por exemplo, insuficiência cardíaca pós-operatória, infecções, e insuficiência respiratória (138, 139). Evidências de alta qualidade demonstram que não há nenhum benefício em usar analgesia peridural lombar em detrimento do uso de opióides parenterais nestes pacientes (139-141). Vários deficiências no projeto de pesquisa tornam difícil recomendar o uso de analgesia epidural torácica em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos intratorácicos ou abdominais não vasculares (142-149). A analgesia epidural administrada a pacientes com fraturas de costelas melhorou o controle da dor, especialmente durante a respiração profunda ou a tosse, baixou a incidência de pneumonia, mas aumentou o risco de hipotensão (150, 151). Não há nenhuma evidência que estimule o uso de analgesia via eixo neural/regional em pacientes UTI clínica. Agitação e Sedação Indicações para Sedação. A agitação e a ansiedade ocorrem com frequência em pacientes graves e estão associadas a efeitos adversos dos resultados clínicos (152-156). Os sedativos são comumente administrados aos pacientes internados em UTI para tratar a agitação e as suas consequências negativas (157). A rápida identificação e correto tratamento de possíveis causas subjacentes da agitação, como dor, delirium, hipoxemia, hipoglicemia, hipotensão, síndrome de abstinência de álcool e outras drogas, são importantes. Os esforços para reduzir a ansiedade e a agitação, incluindo a manutenção do conforto do paciente, provisão de adequada analgesia, reorientação frequente e otimização do ambiente para que padrões de sono normal sejam mantidos devem ser tentados antes de que os sedativos sejam administrados. O sedativos podem ser titulados para manter tanto uma sedação leve (isto é, o paciente fica acordado e é capaz de obedecer comandos simples) ou profunda (ou seja, o paciente não responde a estímulos dolorosos). Vários estudos têm demonstrado a consequências negativas de se fazer uma sedação profunda prolongada, e os benefícios de se manter níveis mais leves de sedação em pacientes adultos internados em UTI (10, 14, 15, 20, 158). O uso de escalas de sedação, protocolos de sedação concebidos para minimizar o uso de sedativos, e o uso de medicamentos não benzodiazepínicos estão associados à melhora dos resultados de pacientes internados em UTI, incluindo uma duração mais curta de ventilação mecânica, diminuição do tempo de permanência em UTI e internação hospitalar e menor incidência de delirium e disfunção cognitiva a longo prazo (7-10, 12, 13, 18, 19, 159-162). Farmacologia Clínica de sedativos. Historicamente, as benzodiazepinas (ou seja, o midazolam e o lorazepam) e o propofol comumente têm sido usados para sedar pacientes de UTI. As Diretrizes de 2002 recomendam o midazolam apenas para sedação a curto prazo, o lorazepam para sedação a longo prazo e a sedação com propofol para pacientes que necessitam despertar intermitentemente (1). Recentes pesquisas que avaliaram as práticas de sedação demonstraram que o midazolam e o propofol permanecem sendo os medicamentos mais utilizados para sedação de pacientes de UTIs, sendo que o uso do lorazepam está diminuindo e o uso de barbitúricos, diazepam e quetamina está se tornando raro em UTIs (62, 163-166). A Dexmedetomidina, aprovada nos Estados Unidos pouco antes da conclusão das Diretrizes de 2002, agora está sendo mais comumente administrada para sedação em UTI (166-168). A farmacologia clínica de sedativos prescritos para pacientes de UTIs estão resumidas na Tabela 6. TABELA 6. Farmacologia Clínica de Medicamentos Sedativos (1) Agente Eliminação Meia-vida Metabólitos ativos Midazolam Início após dose IV de carregamento 2-5 min 3-11 horas Sima Lorazepam 15-20 min 8-15 horas Nenhum Dose de carregamento (IV) 0,01-0,05 mg /kg por vários minutos 0,02-0,04 mg/kg (≤ 2mg) Dose de manutenção (IV) 0,02-0,1 mg/kg /h 0,02-0,06 mg/kg q2-6 h prn ou 0,01-0,1 mg/kg/h (≤10mg/h) Efeitos Adversos Depressão respiratória, hipotensão Depressão respiratória, hipotensão; acidose relacionada com propileno glicol, Diazepam 2-5 min 20-120 mg h Sima 5-10 mg 0,03-0,1 mg/kg q0,5-6 h prn Propofol 1-2 min Uso a curto prazo = 312 h Uso a longo prazo = 50 ± 18,6 h Nenhum 5 µg /kg/min mais de 5 minb 5-50 µg / kg / min Dexmedetomidina 5-10 min 1,8-3,1 h Nenhum 1 µg / kg ao longo 10 minc 0,2-0,7 mg/kg/hd nefrotoxicidade Depressão respiratória, hipotensãoe flebitee Dor em injecçõesf, hipotensão, depressão respiratória, hipertrigliceridemia, pancreatite, reações alérgicas, síndrome da infusão relacionada com propofol; a sedação profunda com propofol está associada mais significativamente com longos períodos de emergência que com sedação leve Bradicardia, hipotensão, hipertensão com a dose inicial de carga, perda dos reflexos das vias aéreas aMetabolitos ativos prolongam a sedação, especialmente em pacientes com insuficiência renal. bAdministrar dose inicial de carregamento de propofol IV apenas nos pacientes nos quais a hipotensão é improvável de ocorrer. cEvitar dose inicial de carregamento de dexmedetomidina IV em pacientes hemodinamicamente instáveis. dA taxa de perfusão de manutenção da Dexmedetomidine pode ser aumentada para 1,5 µg/kg/h, quando tolerado. eFlebites podem ocorrer quando o diazepam é injetado em veia periférica. fDor no local da injecção ocorre geralmente quando o propofol é administrado em veias periféricas. Benzodiazepínicos. Os Benzodiazepínicos ativam o ácido Ƴ-aminobutírico A (GABAA), receptores neuronais no cérebro. Eles produzem efeitos ansiolíticos, amnésticos, sedativos, hipnóticos e anticonvulsivantes, mas não têm nenhuma atividade analgésica (169, 170). Seus efeitos amnésicos estendem-se para além de seus efeitos sedativos (171). O Lorazepam é mais potente do que o Midazolam, que por sua vez é mais potente que o Diazepam. O Midazolam e o Diazepam são mais lipossolúveis que o Lorazepam, resultando numa sedação inicial mais rápida e um maior volume de distribuição quando comparados ao Lorazepam. Os pacientes idosos são significativamente mais sensíveis aos efeitos sedativos dos benzodiazepínicos (171). Os benzodiazepínicos podem causar depressão respiratória e hipotensão arterial sistêmica, especialmente quando administrado em conjunto com outros depressivos cardiopulmonares, particularmente opiáceos (172). A instabilidade cardiopulmonar induzida por Benzodiazepínicos ocorre com mais frequencia em pacientes em estado crítico com insuficiência respiratória basal e/ou instabilidade cardiovascular (172). Desenvolve-se tolerância aos benzodiazepínicos com administração a longo prazo. Todos os benzodiazepínicos são metabolizados pelo fígado. A depuração dos benzodiazepínicos é reduzida em pacientes com disfunção hepática e outros estados patológicos, em pacientes idosos, e quando administrados com outros medicamentos que inibem o sistemas enzimático do citocromo P450 e/ou a conjugação de glucoronido no fígado (173-175). A meia-vida e a duração dos efeitos clínicos do Lorazepam também são aumentadas em pacientes com insuficiência renal (176, 177). Os metabólitos ativos de Midazolam e Diazepam podem acumular-se com a administração prolongada, especialmente em pacientes com disfunção renal (178). A depuração de benzodiazepínicos diminui com a idade (175, 179, 180). O retardo do efeito de sedação de benzodiazepínicos pode ser resultado da administração prolongada de benzodiazepínicos (Devido à saturação dos tecidos periféricos), idade avançada, disfunção hepática ou insuficiência renal (171, 175, 181). Devido à sua maior potência e depuração mais lenta, a sedação de emergência e curto prazo (1-2 dias) com Lorazepam pode ser mais longa do que a com Midazolam. No entanto, estudos comparativos sobre o uso prolongado desses Medicamentos em pacientes de UTI sugerem maior variabilidade e mais tempo para despertar quando se utiliza Midazolam ao invés de Lorazepam (171, 175, 182-184). Em pacientes com insuficiência renal, o Diazepam tem prolongado tempo de ação, devido à saturação dos tecidos periféricos e presença de metabólitos ativos que podem se acumular (185). Formulações parenterais de Lorazepam contém propileno glicol como diluente, o que pode causar toxicidade aos pacientes de UTI (186-190). A toxicidade de propileno glicol se manifesta como acidose metabólica e lesão renal aguda. Uma vez que essas condições ocorrem com frequência nos pacientes em estado crítico, a administração de Lorazepam deve ser abandonada. Embora inicialmente se tenha pensado que o acúmulo de propileno glicol ocorria apenas em pacientes que tivessem recebido doses elevadas de Lorazepam po meio de infusão contínua (por exemplo: 15-25 mg / h), as atuais evidências sugerem que doses diárias de propilenoglicol IV tão baixas como 1 mg / kg já podem ser tóxicas (191). o gap osmolar sérico tem sido usado comteste de triagem de confiança e ferramenta de vigilância; uma gap osmolar maior que 10-12 mOsm/L pode ajudar a identificar pacientes que estão recebendo lorazepam e que têm significativo acúmulo de propileno glicol (187, 191). Propofol. O Propofol é um sedativo IV que se liga a múltiplos receptores do sistema nervoso central para interromper a transmissão neural, incluindo os receptores GABAA, glicina, nicotínico e muscarínicos M1 (192-194). O Propofol apresenta propriedades sedativas, hipnóticas, ansiolíticas, antiemética, amnéstica e anti-convulsivas, mas não produz efeito analgésico (195, 196). Em pacientes internados em UTI, os efeitos amnésicos do propofol, em níveis leves de sedação, são menores do que os dos benzodiazepínicos (197). O propofol é altamente solúvel em lipídios e atravessa rapidamente a barreira hemoencefálica, o que resulta no rápido efeito de sedação. Devido à sua elevada solubilidade em lipídicos, o propofol também é rapidamente redistribuído para os tecidos periféricos. Essa redistribuição rápida, combinada com a elevada depuração hepática e extra-hepática, resulta em uma rápida diminuição do efeito quando se usa a administração de propofol a curto prazo. Devido à curta duração de seu efeito sedativo, o Propofol pode ser útil em pacientes que necessitam ser despertados com frequência para avaliações neurológicas e pode facilitar protocolos de interrupções diárias de sedação (183, 198, 199). No entanto, a administração a longo prazo de propofol pode causar a saturação dos tecidos periféricos e emergência prolongada (198). O propofol provoca depressão respiratória dose-dependente e hipotensão devido à vasodilatação sistêmica. Esses efeitos podem ser mais pronunciado quando o propofol é administrado com outros medicamentos sedativos e opióides. A instabilidade cardiopulmonar devido à administração de propofol é mais provável de ocorrer em pacientes com insuficiência respiratória basal e/ou instabilidade cardiovascular. Outros efeitos colaterais incluem a hipertrigliceridemia, pancreatite aguda, e mioclonia (200204). O Propofol é dissolvido em uma emulsão de lípidos a 10%, contendo lecitina de ovo e óleo de soja, o que pode desencadear reações alérgicas em pacientes com alergia a ovo e/ou soja. Algumas formulações genéricas de propofol contêm conservantes a base de sulfito que também podem causar reações alérgicas (196). A administração de propofol é raramente associada com o desenvolvimento da síndrome da infusão do propofol (propofol infusion syndrome - PRIS). Os sinais e sintomas de PRIS variam, mas podem incluir piora da acidose metabólica, hipertrigliceridemia, hipotensão com aumento da necessidade de vasopressor e arritmias. Lesão renal aguda, hipercalemia, rabdomiólise e disfunção hepática ocasionalmente também foram relatados com PRIS (205, 206). Os possíveis mecanismos da PRIS incluem disfunção mitocondrial, prejudicada oxidação de ácidos graxos, desvio do metabolismo de carboidratos para substratos de gordura e acúmulo do metabólito de propofol (207). A PRIS é geralmente associada com a administração prolongada de altas doses de propofol (> 70 µg/kg/min), mas também pode ocorrer com baixas doses de infusões (208, 209). A incidência de PRIS com infusões de propofol é de aproximadamente 1% (210). A mortalidade da PRIS é elevada (até 33%) e pode ocorrer mesmo após a descontinuação da infusão (202). A apresentação variável, falta de diagnóstico específico e pouco frequente ocorrência de PRIS, tornar a detecção desta condição potencialmente fatal difícil. O reconhecimento precoce e a interrupção do propofol em pacientes com suspeita de PRIS são extremamente importantes. A gestão de pacientes com PRIS é outra forma de suporte. Dexmedetomidina. A dexmedetomidina é um seletivo agonista do receptor α-2 com propriedades sedativas, poupador de analgésicos/opióide e com propriedades simpaticolíticas, mas sem propriedades anticonvulsivantes (211, 212). A dexmedetomidina produz um padrão de sedação que difere consideravelmente de outros agentes sedativos. Pacientes sedados com dexmedetomidina interagem mais e são despertados com maior facilidade, além disso, apresentam mínima depressão respiratória (213, 214). O início da sedação ocorre dentro de 15 minutos e o pico de sedação ocorre dentro de 1 hora, considerando uma infusão IV de dexmedetomidina (167, 215). O início da sedação pode ser acelerado através da administração de uma dose inicial IV de dexmedetomidina, mas esse procedimento é mais susceptível de causar instabilidade hemodinâmica em pacientes em estado crítico (216). A dexmedetomidina é rapidamente redistribuída para os tecidos periféricos e é metabolizada pelo fígado (217). Em pacientes com função hepática normal, o tempo de meia-vida é de cerca de 3 horas (215). Pacientes com disfunção hepática grave têm depuração de dexmedetomidina prejudicada, podem ter seu estado de emergência prolongado, e podem necessitar de doses mais baixas de dexmedetomidina (218). Embora a dexmedetomidina só tenha sido aprovada nos Estados Unidos para sedação a curto prazo em pacientes de UTI (<24 horas), com uma dose máxima de 0,7 µg/kg/h (até 1,0 µg/kg/h para sedação), vários estudos demonstraram a segurança e eficácia das infusões de dexmedetomidina administradas por mais de 24 horas (até 28 dias), e em doses mais elevadas (até 1,5 µg/kg/h) (216, 219-222). Os efeitos colaterais mais comuns da dexmedetomidina são hipotensão e bradicardia (223). Doses iniciais IV podem causar tanto hipotensão como hipertensão (215, 224). Como a dexmedetomidina não afeta significativamente as vias respiratórias, é o único sedativo aprovado nos Estados Unidos para ser administrado em pacientes de UTI não intubados, e infusões podem ser continuadas, conforme a necessidade (225-227). No entanto, a dexmedetomidina pode causar uma perda do tónus muscular orofaríngeo que pode levar à obstrução das vias aéreas, em pacientes não intubados, então o monitoramento respiratório contínuo tanto para hipoventilação como para hipoxemia nesses pacientes é indicado (225). O efeito poupador de opióides da Dexmedetomidina pode reduzir a necessidade de opióides em pacientes em estado crítico (219, 220, 224, 228). O mecanismo de ação para as propriedades analgésicas da dexmedetomidina permanece controverso (229). Embora os receptores α-2 estejam localizados na região dorsal da medula espinal e nas regiões supra-espinhal, efeitos analgésicos não espinhais da dexmedetomidina foram documentados (230). Um estudo recente sugere que pacientes de UTI que receberam dexmedetomidina podem apresentar uma menor prevalência de delirium que os pacientes sedados com midazolam (220). Agitação e Sedação: Perguntas, Afirmações e Recomendações. 1. Profundidade de Sedação e Resultados Clínicos Pergunta: Pacientes adultos de nível de sedação leve? (Discussão) UTI devem ser mantidos em um Resposta: A manutenção da sedação em níveis leves em pacientes adultos internados em UTI está associada com melhores resultados clínicos (por exemplo, menor tempo em ventilação mecânica e menor permanência em UTI) (B). Manter níveis baixos de sedação aumenta a resposta fisiológica ao estresse, mas não se associa com um aumento da incidência de isquemia do miocárdio (B). A associação entre a profundidade da sedação e o estresse psicológico nesses pacientes ainda não foi esclarecida (C). Recomendamos que os medicamentos sedativos sejam ajustados e mantidos a um nível leve de sedação em pacientes adultos de UTI, a menos que isso seja clinicamente contra-indicado (1 B). Justificativa: Treze estudos examinaram a relação direta entre profundidade de sedação e as respostas clínicas em pacientes de UTI, incluindo duração da ventilação mecânica, permanência na UTI, medidas de estresse fisiológico e as avaliações de estresse psicológico pós UTI (10, 14, 15, 20, 158, 231-238). Cinco estudos demonstraram que os níveis mais profundos de sedação estão associados a maiores permanências em ventilação mecânica e em UTI (10, 14, 15, 20, 158). Três estudos demonstraram evidências de aumento do estresse fisiológico em termos de elevação da concentração de catecolaminas e/ou aumento do consumo de oxigênio em níveis mais leve de sedação (232, 235, 236), enquanto que um estudo não demonstrou tais evidências (233). O significado clínico desses estudos é incerto porque não se observou nenhuma relação clara entre a elevação dos marcadores fisiológicos de estresse e os resultados clínicos, tais como isquemia do miocárdio, nesses pacientes (232234). Quatro estudos examinaram a relação entre a profundidade da sedação e o estresse psicológico pós-UTI (20, 231, 237, 238). Um mostrou que um protocolo de interrupção diária da sedação não causou resultados psicológicos adversos (231), enquanto que outro encontrou uma baixa incidência de tais eventos em pacientes que estavam levemente sedado (20). Um terceiro estudo mostrou que níveis de sedação profunda foram associados a uma menor incidência de recordações, mas que lembranças delirantes não foram relacionadas com níveis mais leves de sedação (238). No entanto, no quarto estudo, os períodos de vigília foram associados com a recordação de situações estressantes relacionadas à UTI (237). A qualidade global das evidências usadas na avaliação da relação entre a profundidade da sedação em UTI e o estresse psicológico pós-UTI é baixa, e os resultados deste estudo são conflitantes. Assim, os benefícios gerais da manutenção de um nível de sedação leve em pacientes internados em UTI parecem superar os riscos. 2. Monitoramento da profundidade da sedação e a função cerebral a. Escalas de sedação Pergunta: Quais as escalas de sedação subjetivas mais válidas e confiáveis na avaliação da profundidade e qualidade de sedação em pacientes adultos internados em UTI sob ventilação mecânica? (Descritiva) Resposta: A Escala de Agitação-Sedação de Richmond (Richmond Agitation-Sedation Scale - RASS) e a Escala de Sedação Agitação (Sedation-Agitation Scale - SAS) são as ferramentas de avaliação de sedação mais válidas e confiáveis para medir a qualidade e profundidade da sedação em pacientes adultos internados em UTI (B). Justificativa: Várias escalas subjetivas de sedação existem para monitorar a profundidade de sedação e agitação em pacientes adultos internados na UTI, e suas propriedades psicométricas estão bem descritas. Entretanto, o grau cumulativo das propriedades psicométricas testadas e a a qualidade das evidências variam amplamente entre as escalas. Revisamos as propriedades psicométricas de 10 escalas subjetivas de sedação, cada uma delas desenvolvida para avaliar a profundidade e qualidade da sedação de pacientes adultos internados em UTI: 1) Avaliação do observador da Escala de Estado de Alerta /Sedação (Observer’s Assessment of Alertness/Sedation Scale - OAA/S); 2) Escala de Sedação de Ramsay (Ramsay Sedation Scale - Ramsay); 3) Nova Escala de Sedação de Sheffield (New Sheffield Sedation Scale - Sheffield); 4) Graduação da Sedação em UTIs (Sedation Intensive Care Score - SEDIC); 5) Escala de Avaliação de Atividades Motoras (Motor Activity Assessment Scale - MAAS); 6) Adaptação ao Ambiente de UTI (Adaptation to the Intensive Care Environment - ATICE); 7) Ferramenta de Avaliação de Sedação de Minnesota (Minnesota Sedation Assessment Tool - MSAT); 8) Escala de Interação e Calma de Vancouver (Vancouver Interaction and Calmness Scale (VICS); 9) Escala de Sedação Agitação (Sedation-Agitation Scale - SAS) e 10) Escala de Agitação-Sedação de Richmond (Richmond Agitation-Sedation Scale RASS). Nós revisamos 27 estudos, incluindo 2.805 pacientes (2, 239-264): 26 foram estudos observacionais e um usado no formato cego e randomizado para avaliar vídeos de níveis de sedação de pacientes previamente pontuados (253). A Tabela 7 resume a pontuação psicométrica para todas as 10 escalas de sedação. TABELA 7. Pontuação Psicométrica para Escalas de Sedação Critérios Psicométricos Pontuados Escala de Sedação 1) Descrição do Item de seleção validação de conteúdo Limitações apresentadas confiabilidade intertestes Confiabilidade entre avaliadores não equipe da pesquisa Confiabilidade entre avaliadores testado se a Confiabilidade entre avaliadores for baixa ou inconsistente Número Total de Participantes Validação de Critérios Validação Discriminante Viabilidade Diretivas de Utilização Relevância da escala na prática Pontuação total (intervalo: 0-18) Pontuação Ponderada (intervalo: 0-20) Qualidade da evidência psicométrica (com base em pontuações ponderadas) OAA/S 2) Ramsay 3) Sheffield 4) SEDIC 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 2 0 1 2 1 1 0 0 2 1 NA 0 NA NA 1 1 0 0 1 0 3 3,7 VL 2 2 0 0 0 0 6 7,7 VL 0 0 0 0 1 0 7 8,5 VL 1 0 2 0 0 0 7 10,5 L TABELA 7. (Continuação) Escala de Sedação 5) MAAS 0 0 0 2 1 NA 2 1 0 0 1 0 7 6) ATICE 2 1 1 2 1 NA 2 0 0,5 0 1 0 10,5 7) MSAT 2 1 1 2 1 NA 2 0 1 0 1 0 11 8) VICS 2 1 1 2 1 NA 2 0 2 0 1 0 12 9) SAS 1 1 1 2 1 NA 2 2 2 0 1 0 13 10) RASS 2 0 0 2 1 NA 2 2 2 1 1 1 14 11 L 12,3 M 13 M 14,3 M 16,5 VG 19 VG N/A = não aplicável; VL = muito baixo; L = baixo, M = moderado; VG = muito bom. aFaixa de pontuação ponderada (0-20): Propriedades psicométricas muito boas (VG): 15-20; Boas propriedades psicométricas (M): 12-14,9; Algumas propriedades psicométricas aceitáveis, mas continuam a ser estudadas (L): 10-11,9; Muito poucas propriedades psicométricas relatadas ou resultados inaceitáveis (VL): <10. As escalas RASS e SAS tiveram a maior pontuação psicométrica (ou seja, a confiabilidade entre avaliadores, validação convergente ou discriminante) e teve um significativo número de participantes no estudo. Ambas as escalas demonstraram um elevado grau de confiabilidade inter-avaliadores, que incluiu médicos de UTI (240, 262, 263). Ambas as escalas foram capazes de discriminar diferentes níveis de sedação em diversas situações clínicas (246, 250, 258, 261). Uma correlação moderada para alta foi encontrada entre as pontuações das escalas de sedação e eletrocardiogramas (EEG) ou valores do índice bispectral (bispectral index - BIS) (244, 246, 258). Além disso, a RASS apresentou de forma consistente uma meta de consenso para a administração de agentes sedativos direcionados aos objetivos, demonstrando a viabilidade da sua utilização (2, 246, 254). Constatamos que a ATICE, MSAT e VICS tiveram evidências psicométrica de boa qualidade, mas algumas propriedades psicométricas (por exemplo, validação convergente ou discriminante) não foram testadas (242, 243, 249, 259, 260). As escalas MAAS, SEDIC, Sheffield, Ramsay, e OAA/S obtiveram evidências de qualidade inferior; faz-se necessário novos estudos e testes psicométricos de confiabilidade e validade para determinar a profundidade e qualidade da sedação em pacientes de UTI (239, 241, 242, 245, 247-249, 251-253, 255, 261, 262, 264). Em resumo, a avaliação comparativa das propriedades psicométricas das escalas de sedação revelou que as aescalas RASS e SAS são as mais válidas e confiáveis para utilização em pacientes em estado crítico, enquanto que as escalas ATICE, MSAT, e VICS são moderadamente válidas e confiáveis. Testes adicionais das escalas restantes são necessários para melhor avaliar sua confiabilidades e validades para determinar a profundidade de sedação em pacientes em estado crítico. b. Monitorização neurológica i. Pergunta: As medidas objetivas da função cerebral (Por exemplo, Potenciais Evocados Auditivos [PEA], Índice Bispectral (BIS), Índice Narcotrend [NI], Índice do Estado do Paciente [PSI], ou o Entropia de Estado [SE]) devem ser usadas para avaliar a profundidade de sedação em pacientes adultos de UTI, que não estejam em coma e não estão recebendo agentes bloqueadores neuromusculares? (Discussão) Resposta: Não recomendamos que as medidas objetivas da função cerebral (por exemplo, PEA, BIS, NI, PSI, ou SE) sejam usadas como principais métodos para monitorar a profundidade da sedação de pacientes adultos que, embora em estado crítico, não estejam em coma e não estejam paralizados, pois estes monitores não substituem adequadamente os sistemas subjetivos de pontuação da sedação (-1B). ii. Pergunta: As medidas objetivas da função cerebral (Por exemplo, PEA, BIS, NI, PSI, ou SE) devem ser usadas para medir a profundidade de sedação em pacientes adultos de UTI que estão recebendo agentes bloqueadores neuromusculares? (Discussão) Resposta: Sugerimos que as medidas objetivas da função cerebral (por exemplo, PEA, BIS, NI, PSI, ou SE) sejam usadas como um complemento às avaliações subjetivas de sedação em pacientes adultos de UTI que estão recebendo agentes bloqueadores neuromusculares, pois é impossível obter avaliações subjetivas de sedação nestes pacientes (+2B). iii. Pergunta: O monitoramento por EEG deve ser usado para detectar a atividade de apreensão não convulsiva e para titular a medicação eletrosupressiva para obter a supressão de crises em pacientes adultos de UTI com ataques conhecidos ou suspeita de ataques? (Discussão) Resposta: Recomendamos que o monitoramento por EEG seja usado para monitorar a atividade de apreensão não convulsiva em pacientes adultos de UTI com ataques conhecidos ou suspeita de ataques, ou para titular a medicação eletrosupressiva para obter a supressão de crises de pacientes adultos internados na UTI e que estejam com pressão intracraniana elevada (+1A). Justificativa: Foram analisados 18 estudos comparando monitores objetivos de sistemas de pontuação de sedação para sedação de pacientes adultos internados em UTI (244, 248, 258, 265 - 279). Como monitores objetivos utilizou-se tanto os dados brutos como os processados de monitores EEG e AEP. Os dados processados de EEG (isto é, a conversão de um sinal bruto de EEG em um índice obtido por meio de um algoritmo) incluíram o Índice Bispectral (BIS) e o Índice Bispectral XP (BIS-XP SE), NI, e o PSI. Todas as evidências geral foram conflitantes. Quinze estudos de qualidade moderada deduziram que monitores objetivos de sedação baseados em AEP ou em sinais de EEG processados, incluindo BIS, NI, SE, e PSI, podem ser auxiliares úteis para avaliação subjetiva de sedação em pacientes em estado grave (244, 248, 258, 266, 267, 271 - 273, 276, 278-283). No entanto, a maioria desses estudos relatou que sinais eletromiográficos afetaram negativamente a correlação entre a medida objetiva em questão e as pontuações de sedação. Cinco estudos adicionais de qualidade moderada não encontraram nenhum benefício no uso de monitores objetivos em comparação com os sistemas de pontuação subjetivos para avaliar a profundidade de sedação (268-270, 277, 284). Na maioria dos estudos, os monitores objetivos distinguiram apenas níveis leves de níveis profundos de sedação, mas seus valores correlacionaram-se mal com pontuações de sedação específicas e foram influenciados negativamente pelos artefatos dos sinais eletromiográficos. Vários estudos demonstraram que o monitoramento contínuo com EEG é útil para detectar atividade de apreensão não convulsiva em pacientes de UTI, assim como atividade de apreensão conhecida ou risco de desenvolvimento de convulsões (por exemplo, lesão cerebral traumática, hemorragia intracerebral, acidente vascular cerebral, pacientes com um nível reduzido de consciência inexplicável) (275, 281). O monitoramento contínuo com EEG também pode ser útil na titulação de medicamentos eletrosupressivos para atingir uma crise de supressão em pacientes em estado crítico com aumento da pressão intracraniana (275, 281). 3. Escolha do Sedativo Pergunta: Em pacientes adultos de UTI ventilados mecanicamente, pode-se utilizar a sedação baseada em não benzodiazepínicos ao invés da sedação com benzodiazepínicos?(Discussão) Resposta: Sugerimos que se dê preferência às estratégias de sedação que utilizam sedativos não benzodiazepínicos (propofol ou dexmedetomidina) ao invés da sedação com benzodiazepínicos (midazolam ou lorazepam) para melhorar os resultados clínicos em pacientes adultos de UTI que estão sob ventilação mecânica (+2B). Justificativa: Em geral, a escolha do agente sedativo que será usado em pacientes de UTI deve ser conduzida por: 1) indicações específicas e objetivos da sedação para cada paciente, 2) a farmacologia clínica do fármaco em um paciente em particular, incluindo seu efeito inicial e de continuidade e seu perfil de efeitos colaterais, e 3) os custos globais associados ao uso de um sedativo particular. Frequentemente, os estudos sobre efeitos de agentes sedativos em pacientes de UTI comparam uma droga benzodiazepínica (midazolam ou lorazepam) com uma não benzodiazepínica (propofol ou dexmedetomidina) para sedação. Até a época da nossa revisão de literatura, haviam sido publicados apenas dois estudos de baixa qualidade que comparavam os resultados clínicos de pacientes em UTI que receberam propofol versus dexmedetomidina como agentes de sedação (285, 286). Nenhum estudo comparou os resultados clínicos em pacientes de UTI sedados com cetamina ou outros agentes sedativos. Avaliamos vários estudos que sugerem que um regime de uso contínuo de sedativos a base de benzodiazepínicos está associado a desfechos clínicos adversos, como a dependência prolongada de ventilação mecânica, o aumento da permanência na UTI e o desenvolvimento de delirium (29, 183, 220, 286-293). Entretanto, esses resultados não foram consistentemente relatados (197, 222, 285, 294-297). Foram analisados 13 estudos que comparam os resultados clínicos de 1551 pacientes de UTI sedados com benzodiazepínicos (midazolam ou lorazepam) ou não benzodiazepínicos (propofol ou dexmedetomidina), e não foram encontradas diferenças consistentes no tempo de permanência em UTI (183, 197, 220, 222, 285, 286, 292-298). No entanto, a nossa meta-análise de seis ensaios, classificados como de moderada à alta qualidade, sugeriu que a sedação com benzodiazepínicos pode aumentar o tempo de permanência em UTI por cerca de 0,5 dia em comparação com a sedação com não benzodiazepínicos (p = 0,04) (Fig. 1) (183, 197, 220, 222, 292, 295-297). Dados limitados sugeriram que a ventilação mecânica é prolongada com a sedação baseada em benzodiazepínicos (183, 220, 292, 298). Não houve aparente diferença na mortalidade de pacientes submetidos à sedação com benzodiazepínicos ou não benzodiazepínicos (220, 222, 285, 295). Seis estudos avaliaram a influência da sedação baseada em benzodiazepínicos e os custos dos cuidados de UTI (194, 222, 286, 294, 299, 300); apenas um estudo demonstrou que a sedação baseada em benzodiazepínicos (infusão de midazolam) foi associada a maiores custos na UTI do que a sedação com dexmedetomidina (300). benzodiazepínicos Estudo ou Subgrupo Média SD Total não benzodiazepínicos Médi a SP Total Peso Diferença média IV, aleatória CI 95% Diferença média IV, aleatória IC 95% Heterogeneidade Tau2 = 0,08; Chi2 = 8,03, df = 7 (p = 0,33), I2 = 13% Teste para todos os efeitos Z = 2,08 (p = 0,04) Figura 1. Tempo de internação em UTI . Meta-análise de estudos de alta e média qualidade comparando a sedação com benzodiazepínicos e não benzodiazepínicos. CI = Intervalo de confiança; IQR = intervalo interquartil. L / D = lorazepam vs dexmedetomidina; L / P = lorazepam vs propofol; M / P = midazolam versus propofol; M / D = midazolam versus dexmedetomidina, SD = desvio padrão. Quando comparamos os resultados de estudos em pacientes de UTI sedados com propofol versus midazolam ou lorazepam, encontramos vários estudos que demonstram que a utilização de propofol pode estar associada com uma diminuição no tempo de ventilação mecânica, mas esse efeito variou entre as populações de pacientes (183, 197, 291, 292, 294-297), e não necessariamente se traduz em uma menor permanência na UTI. Também não houve diferença aparente na incidência de autoextubação em pacientes sedados com propofol, comparado-se com a sedação com benzodiazepínicos (183). Uma revisão sistemática realizada em separado avaliou 16 estudos randomizados e controlados que compararam os resultados clínicos de pacientes de UTI que receberam propofol ou outro agente sedativo (291). Quando essa metaanálise foi limitada à comparação de propofol e midazolam, não houve diferença na mortalidade, houve uma ligeira redução na duração de ventilação mecânica com propofol, mas não houve diferença no tempo de permanência em UTI. Não há uma relação clara entre o uso de propofol ou outro benzodiazepínicos para sedação e o desenvolvimento de delirium. Apenas dois estudos relevantes foram publicados comparando a incidência de delirium em pacientes de UTI que receberam propofol versus benzodiazepínicos para sedação (285, 286). Em ambos os estudos, pacientes foram escolhidos aleatóriamente para receber propofol, midazolam ou dexmedetomidina para sedação, e a incidência de delirium foi semelhante em pacientes tratados com propofol ou midazolam, mas a qualidade das evidências foi baixa. Analisamos cinco estudos comparando os resultados em pacientes internados em UTI que receberam ou dexmedetomidina ou benzodiazepínicos (midazolam ou lorazepam) para sedação (220, 222, 285, 286, 293). Três dos quatro estudos que avaliaram a duração da ventilação mecânica não mostraram diferença entre esses grupos (222, 285, 286). No entanto, o maior estudo demonstrou uma redução significativa no tempo de permanência da ventilação mecânica com dexmedetomidina (3,7 dias) em comparação com midazolam (5,6 dias) (220). A dexmedetomidina não foi associada a uma menor incidência de autoextubação em comparação com os benzodiazepínicos (222). Quatro dos cinco estudos não mostraram nenhuma diferença no tempo de permanência na UTI (220, 222, 285, 286). Cinco ensaios, incluindo uma análise de subgrupo do estudo de maximização da eficácia da sedação desejada e redução da disfunção neurológica (Maximizing Efficacy of Targeted Sedation and Reducing Neurological Dysfunction), avaliaram o desenvolvimento de delirium em pacientes tratados com dexmedetomidina ou um benzodiazepínicos para sedação (220, 222, 285, 286, 298). O delirium foi relatado em termos de frequência de ocorrência, prevalência e número de dias sem delirium. Três estudos favoreceram o uso de dexmedetomidina (286, 288, 300), embora apenas um tenha sido de alta qualidade (220). A análise do subgrupo favoreceu a dexmedetomidina ao invés do lorazepam apenas em pacientes sépticos (298). Um estudo mostrou que não há relação entre o uso de benzodiazepínicos e o delirium (222). Outro estudo de muito baixa qualidade sugeriu uma maior taxa de delirium com o uso de dexmedetomidina, mas tal estudo apresentou graves falhas metodológicas, incluindo imprecisão na forma de medir delirium (285). Os resultados de dois ensaios de alta qualidade, randomizados, duplo-cego, que compararam o uso de dexmedetomidina versus midazolam ou propofol para sedação de pacientes de UTI foram publicados após a força-tarefa destas diretrizes terem concluído sua votação e desenvolvido suas recomendações (301). Os resultados relevantes, em ambos os estudos , incluíram a duração da ventilação mecânica, o tempo de permanência em UTI e o tempo de internação hospitalar. Exceto por um período mais longo de ventilação mecânica com o uso de midazolam, não houve diferenças entre os grupos analisados. Esses resultados são consistentes tanto com nossas análises dos dados publicados anteriormente como com a posterior recomendação para sedação baseada no uso de benzodiazepínicos versus não-benzodiazepínicos. Em resumo, a literatura atual sustenta resultados com poucas diferenças entre o uso de benzodiazepínicos e não benzodiazepínicos para sedação. Nossa meta-análise de estudos de moderada a alta qualidade indica que a sedação por meio de benzodiazepínicos está associada com um aumento da permanência em UTI. Dados de moderada a alta qualidade indicam vantagens no uso de propofol em comparação ao lorazepam (183) e dexmedetomidina em comparação ao midazolam (220) para diminuir a duração de ventilação mecânica. O significado clínico da comparação dos efeitos deliriogênicos dos benzodiazepínicos permanece incerto, sendo que um estudo de alta qualidade indicou que os benzodiazepínicos apresentam riscos mais elevados do que a dexmedetomidina (220). Recomendações adicionais para prevenir ou tratar o delirium podem ser encontradas na seção “Delirium” destas diretrizes. A Dexmedetomidina pode oferecer vantagens em termos de consumo de recursos em UTIs em comparação com infusões de midazolam, tornando instituições de saúde mais eficientes na transferência de pacientes da UTI (300). Apesar das aparentes vantagens da utilização de propofol ou dexmedetomidina sobre os benzodiazepínicos para sedação de pacientes de UTIs, os benzodiazepínicos continuam a ser importantes para o monitoramento de agitação em pacientes de UTI, especialmente para o tratamento da ansiedade, convulsões e síndrome de abstinência de álcool ou benzodiazepínicos. Os benzodiazepínicos também são importantes na sedação profunda, amnésia ou quando a combinação terapêutica para reduzir o uso de outros agentes sedativos for necessária (166, 302). Delirium A Epidemiologia do Delirium em Pacientes Internados em UTIs. O Delirium é uma síndrome caracterizada pelo início agudo de disfunção cerebral com uma mudança ou flutuação na linha de base do estado mental, desatenção, desorganização do pensamento ou um nível alterado de consciência (303-309). As características fundamentais do delirium são: 1) um distúrbio de nível de consciência (isto é, uma redução da clareza de consciência do meio ambiente), com uma reduzida capacidade de se concentrar, sustentar ou desviar a atenção e 2) alteração na cognição (ou seja, déficit de memória, desorientação, perturbação da linguagem) ou o desenvolvimento de um distúrbio de percepção (ou seja, alucinações, confusão mental) (310). Um equívoco comum é pensar que pacientes com delirium são alucinados e delirantes, pois nenhuma dessas características se faz necessária para o diagnóstico.Outros sintomas comumentes associados ao delirium incluem distúrbios do sono, atividade psicomotora anormal e perturbações emocionais (ou seja, medo, ansiedade, raiva, depressão, apatia, euforia). Pacientes com delirium podem ser agitados (delirium hiperativo), calmos ou letárgicos (delirium hipoativo) ou podem flutuar entre os dois subtipos. O delirium hiperativo é mais frequentemente associado com alucinações e delírios, enquanto que o delirium hipoativo é mais frequentemente caracterizado por confusão e sedação, e é frequentemente misdiagnosed diagnosticado em pacientes de UTI. O delirium em pacientes em estado crítico é hoje reconhecido como um importante problema de saúde pública, afetando até 80% dos pacientes adultos de UTI ventilados mecanicamente, e custando de 4 a 16 bilhões de dólares anualmente somente nos Estados Unidos (311-314). Da última década para cá, o estudo do delirium em pacientes internados em UTI tem se expandido significativamente (315-319). Mas a fisiopatologia subjacente do delirium em pacientes em estado crítico permanece mal compreendida (320-322). Impacto do Delirium nas Respostas de Pacientes de UTI. O delirium, como manifestação da disfunção cerebral aguda, é um importante preditor independente da resposta clínica negativa em pacientes internados em UTI, incluindo aumento da mortalidade, tempo de permanência em hospital, custo do atendimento, e comprometimento cognitivo a longo prazo, consistente com um estado de demência (313, 320-324). As práticas adotadas pelos profissionais de UTI afetam a incidência de delirium e suas consequências (220, 222, 325-329). Os profissionais de unidades de terapia intensiva se esforçam para entender quais os aspectos do delirium que são previsíveis, evitáveis, detectáveis e tratáveis. Prevenção, Detecção e Tratamento do Delirium em UTI Pacientes. O Delirium pode ser uma síndrome induzida por uma doença (por exemplo, a disfunção orgânica na sepse grave), e a gestão oportuna de sua causa ou causas é essencial, a fim de reduzir a incidência, gravidade e duração do delirium. Fatores Iatrogênicos (por exemplo, exposição a medicamentos sedativos e opióides) ou ambientais (por exemplo, imobilização ou restrições físicas prolongadas) também podem contribuir para o desenvolvimento de delirium em pacientes de UTI. Pacientes internados em UTI devem ser avaliados para fatores de risco identificáveis e evitáveis, e intervenções terapêuticas devem ser avaliadas em termos da probabilidade de causar ou agravar o delirium em pacientes individuais. As estratégias de prevenção do delirium podem ser categorizadas como não farmacológicas (por exemplo, a mobilização precoce), farmacológicas ou a combinação de abordagens farmacológicas/não-farmacológicas. O monitoramento do delirium em pacientes em estado crítico com ferramentas de avaliação válidas e confiáveis permite aos médicos detectar e tratar o delirium mais cedo, e, possivelmente, melhorar os resultados dos pacientes. Uma vez que o delirium tenha ocorrido, frequentemente, os pacientes são tratados com vários medicamentos para reduzir sua gravidade e duração. Apesar de não serem duplocegos, randomizados, controlados por placebo, alguns estudos estabeleceram a eficácia ou segurança de qualquer agente anti-psicótico na gestão de delirium em pacientes internados em UTI. A administração de medicamentos antipsicóticos é endossada por várias diretrizes internacionais (330-339), e a maioria dos especialistas em unidades de terapia intensiva utiliza esses medicamentos para o tratamento de pacientes com delirium (164). Na versão anterior destas diretrizes, o uso recomendado de haloperidol para o tratamento de delirium foi uma recomendação de Nível C com base apenas em uma série de casos. Esses dados não atenderam o padrão de evidências desta versão das diretrizes. Nenhum estudo prospectivo recente verificou a segurança e eficácia do haloperidol para o tratamento do delirium em pacientes adultos de UTI. Os dados sobre o uso de outros antipsicóticos nessa população de pacientes são igualmente escassos. Uma recente revisão sistemática da literatura (Cochrane) sobre o uso de antipsicóticos para o tratamento de delirium não abordou a questão do uso de antipsicóticos em pacientes de UTI (340). Faltam dados que comprovem que os estudos sobre o uso de haloperidol em pacientes que não estão em UTI poderiam potencialmente ser aplicados para a população de pacientes de UTI. Mais estudos são necessários para determinar a segurança e eficácia da utilização de antipsicóticos em geral, incluindo o haloperidol, para o tratamento de delirium em pacientes de UTI. Delirium devido à Retirada de Drogas e/ou Álcool. Durante sua permanência na UTI, os pacientes em estado crítico podem desenvolver uma subcategoria de delirium relacionada à retirada de drogas ou álcool, que geralmente se manifesta como um tipo hiperativo de delirium. Os sintomas de crise de abstinência podem resultar de interrupção abrupta de: 1) drogas ilícito ou prescritas que os pacientes estavam tomando cronicamente, 2) sedativos ou opiáceos administrados como parte dos cuidados de rotina da UTI, ou 3) uso crônico de etanol. Uma revisão exaustiva da fisiopatologia, do diagnóstico e do tratamento da síndrome de abstinência de drogas e álcool está fora do âmbito destas orientações. Os médicos devem consultar outras diretrizes de prática clínica para obterem mais detalhes (341-343). Pacientes expostos por longo tempo a altas doses de opiáceos ou sedativos podem desenvolver dependência fisiológica e a abrupta descontinuação da droga pode causar sintomas de abstinência (344). Sinais e sintomas de abstinência aguda de opiáceos incluem sudorese, piloereção, midríase, lacrimejamento, coriza, vômitos, cólicas diarreia, dor abdominal, taquicardia, hipertensão, taquipnéia, febre, bocejamento, inquietação, irritabilidade, mialgias, aumento da sensibilidade à dor e ansiedade. O início dos sintomas pode ocorrer à menos de 12 horas após a descontinuação de opióides, ou ser precipitada pela administração do antagonista do opióide, naloxona, ou por uma mistura de agonistas/antagonistas, tais como a nalbufina (345, 346). O uso prolongado de benzodiazepínicos em pacientes de UTI pode conduzir a sintomas de abstinência quando a droga é abruptamente interrompido, manifestando-se como ansiedade, agitação, tremores, dores de cabeça, sudorese, insônia, náusea, vômito, mioclonias, cãibras musculares, delirium hiperativo e, ocasionalmente, convulsões (344). Reverter os efeitos sedativos dos benzodiazepínicos seguindo a exposição a longo prazo com o antagonista do receptor de benzodiazepínico, flumazenil, pode induzir sintomas de retirada de benzodiazepínicos (347, 348). Pacientes adultos de UTI que receberam Infusões de dexmedetomidina por até 7 dias desenvolveram sintomas de abstinência, mais comumente náuseas, vômitos e agitação, 24-48 horas após a interrupção de dexmedetomidina (349). No maior estudo realizado até hoje que analisou prospectivamente e comparou os efeitos da dexmedetomidina e do midazolam na sedação de pacientes de UTI, a incidência de síndrome de abstinência após a retirada de dexmedetomidina foi de 4,9% contra 8,2% em pacientes tratados com midazolam (p = 0,25) (220). Sinais e sintomas de síndrome de abstinência de opióides e sedativos em pacientes graves podem ser negligenciados ou atribuídos a outras causas, como à crise de retirada de álcool ou drogas ilícitas. Na década passada, pouco foi publicado sobre a fisiopatologia e incidência de síndrome de abstinência de opióides e agentes sedativos administrados a pacientes adultos internados em UTI. A maioria dos estudos são retrospectivos e incluem pacientes que receberam uma variedade de agentes sedativos e analgésicos, o que torna difícil determinar incidências específicas e fatores de risco para a retirada de drogas nesses pacientes (344, 350). Um pequeno estudo prospectivo avaliou pacientes adultos de UTI para os sinais e sintomas da síndrome de abstinência após descontinuação de infusões de sufentanil utilizado concomitantemente com infusões de midazolam ou propofol (351). Os pacientes do grupo sufentanil/midazolam foram sedados por 7,7 dias, enquanto que os do grupo sufentanil/propofol por 3,5 dias. Os sintomas de abstinência ocorreram com maior frequência no grupo que usou midazolam (35% versus 28% do grupo que usou propofol). Embora faltem recomendações específicas para a profilaxia ou tratamento da síndrome de abstinência de opióides ou sedativos em pacientes de UTI, a administração destes durante períodos prolongados (isto é, dias) deve ser evitada, a fim de reduzir o risco de críses de retirada. A dependência de etanol (ETOH) está presente em 15% -20% de todos pacientes hospitalizados (352). Entre 8% a 31% dos pacientes hospitalizados com dependência por ETOH, especialmente os pacientes de unidades cirúrgicas e traumáticas, vão desenvolver Síndrome de Abstinência por Álcool (Alcohol Withdrawal Syndrome AWS) durante a internação, com sinais e sintomas de disfunção neurológica e autonômica (353-355). Os sintomas de AWS variam de leves a graves (com risco de vida) (356). Até 15% dos pacientes internados com experiência de AWS desenvolveram convulsões tônico-clônicas, e 5% desenvolveram delirium tremens (DTs), uma combinação fatal de excitação do sistema nervoso central (agitação, delirium e convulsões) e sintomas hiperadrenérgicos (hipertensão, taquicardia, arritmias) (357). Pacientes de UTI com AWS grave podem apresentar prolongada dependência de ventilação mecânica e permanência na UTI estendida como resultado do delirium persistente (353-355). A dependência prévia de etanol é muitas vezes subestimada em pacientes de UTI, tornando a identificação de pacientes em risco de AWS ou DTs difícil. Ferramentas de triagem para AWS ou DTs não foram totalmente validados em unidades de terapia intensiva. A diferenciação entre o delirium devido à retirada de álcool e o delirium por outras causas pode ser difícil. O tratamento orientado pelos sintomas da AWS, agitação, psicose e hiperatividade autonômica, com drogas dosadas conforme a necessidade específica, diminui a gravidade e a duração da AWS, além de diminuir a quantidade de medicação em pacientes internados em UTI (358). Os benzodiazepínicos são considerados a base do tratamento de retirada do álcool, apesar da incerteza sobre a sua eficácia e segurança (320). Até o momento, ainda não foram publicados estudos que comparam a segurança e a eficácia do tratamento dos sintomas de AWS grave com dexmedetomidina versus benzodiazepínicos. O diagnóstico e tratamento de delirium devido a AWS em pacientes internados em UTI permanece desafiador. Descrever a validade das ferramentas de medição da crise de abstinência de álcool, a prevenção da crise de abstinência de álcool ou seu tratamento em unidades de terapia intensiva vai além do intuito destas diretrizes. Delirium: Perguntas, Afirmações e Recomendações. 1. Resultados associados com Delirium em pacientes internados em UTI Pergunta: Quais resultados estão associados com delirium em pacientes adultos internados em UTI? (Descritiva) Resposta: O delirium está associado com o aumento da mortalidade (A), aumento da permanência da hospitalização em UTI (A), e desenvolvimento de comprometimento cognitivo pós-UTI (B). Justificativa: Numerosos estudos prospectivos têm demonstraram que os pacientes que desenvolvem delirium correm mais risco de apresentarem resultados adversos, tanto na UTI como após a alta. Este risco é independente da preexistência de comorbidades, gravidade da doença, idade e outras variáveis que podem ser meramente associativas. Onze estudos prospectivos de corte analisaram a relação entre o delirium na UTI e a mortalidade (em vários momentos e circunstâncias): alta da UTI (n = 5), alta do hospital (n = 4), 30 dias (n = 1), 3 meses (n = 1), 6 meses (n = 3) e 12 meses (n = 1) (318, 319, 321, 322, 359–365). Todos os estudos classificaram o delirium como presente em um ou mais dias de UTI; três estudos também examinaram a relação entre a duração do delirium e a mortalidade (320, 321, 366). O delirium foi um preditor independente de mortalidade em 11 dos 15 estudos, incluindo três estudos com evidências de alta qualidade (320, 321, 366). A duração do delirium (após o coma e, em alguns casos, após à exposição a medicamentos psicoativos) foi significativamente associada com taxas de mortalidade de 6 a 12 meses. Em dois estudos de corte, a duração de delirium pressagiou de forma consistente um risco 10% maior de morte por dia (após ajuste para covariáveis e tratamento adequado para delirium, como uma covariável dependente do tempo) (320, 321). Nove estudos prospectivos de corte examinaram a relação entre um ou mais dias de delirium na UTI e o tempo de permanência na UTI e/ou de internação hospitalar, assim como o tempo de permanência em ventilação mecânica (318, 319, 322, 323, 360, 361, 363, 364, 367). O delirium foi um preditor independente de permanência em ventilação mecânica em quatro estudos (360, 363, 364, 367) e de internação na UTI em quatro estudos (318, 319, 364, 367). Ambas as variáveis desses resultados estão particularmente em risco de viés tempo imortal (risk for immortal time bias), que é introduzido quando em exposição a um tratamento ou variável independente (neste caso, delirium) e podem mudar diariamente durante a medição real do resultado (neste caso, com a duração da ventilação mecânica ou tempo de internação na UTI) (368). A relação preditiva entre delirium e tempo de hospitalização também foi forte em sete dos nove estudos (318, 319, 322, 323, 361, 364, 367), incluindo três estudos de alta qualidade que representaram viés tempo imortal (accounted for immortal time bias) (318, 322, 368). Dois estudos prospectivos de corte prospective cohort studies analisaram a relação entre o delirium na UTI e subsequente comprometimento cognitivo. Um estudo de qualidade moderada descreveu a associação entre a presença de delirium em um ou mais dias na UTI e a maior incidência de disfunção cognitiva na alta hospitalar (322). Em um recente estudo prospectivo de corte (cohort) de qualidade moderada, o aumento da duração de delirium em pacientes internados na UTI foi associado significativamente a um maior comprometimento cognitivo nesses pacientes depois de 3 e 12 meses (324). 2. Detecção e Monitoramento de Delirium a. Pergunta: Pacientes de UTI devem ser monitorados rotineiramente para delirium com um instrumento objetivo de beira de leito específico para delirium? (Discussão) Resposta: Recomendamos a monitorização de rotina para delirium em pacientes adultos de UTI (+1B). Justificativa: O delirium é comum em pacientes internados em UTI, tanto nos submetidos à ventilação mecânica (14, 220, 222, 308, 360, 369, 370) como nos que não estão recebendo ventilação mecânica (309, 359, 371-379). Os profissionais de UTI muitas vezes subestimam a presença de delirium em pacientes, isso porque frequentemente apresentam um quadro de delirium hipoativo em vez de hiperativo (372, 380). O delirium pode ser detectado tanto em pacientes de UTI intubados como em não intubados, utilizando-se ferramentas válidas e confiáveis. Na maioria dos estudos, a detecção de delirium foi melhorada quando os profissionais de UTI usaram uma ferramenta válida e confiável para avaliar o delirium (367), permitindo-lhes também tranquilizar pacientes assustados e desorientados (381). A análise racional do monitoramento do delirium inclui: 1) os pacientes mais informados em risco (de moderado a elevado) querem ser monitorados para delirium; 2) dados de coorte de alta qualidade que relacionaram o delirium aos resultados críticos mostram altas taxas de miss de delirium na ausência de monitoramento; 3) os médicos têm implementado com sucesso programas de monitoramento de delirium em UTI emlarga escala, usando as ferramentas de avaliação recomendadas nestas diretrizes; e 4) os formuladores de diretrizes podem adotar a avaliação do delirium como parte da rotina de um atendimento de alta qualidade em UTIs (254, 372, 374, 382, 383). Baseando-se em evidências moderadas, recomendamos veementemente que pacientes de UTI que correm risco (de moderado a alto) de sofrerem delirium (por exemplo, pacientes com: histórico de alcoolismo, comprometimento cognitivo, hipertensão, sepse grave ou em choque, ventilação mecânica, sedação parenteral e/ou opióides) devem ser monitorados, rotineiramente, quanto ao desenvolvimento de delirium, pelo menos uma vez por turno de enfermagem, usando uma ferramenta de avaliação de delirium válida e confiável. b. Pergunta: Quais os instrumentos disponíveis para monitoramento de delirium que têm as evidências mais fortes de validade e confiabilidade em pacientes de UTI clínica e cirúrgica, ventilados e não ventilados? (Descritiva) Resposta: O Método de Avaliação para Confusão em UTI (Confusion Assessment Method for the ICU - CAM-ICU) e a Lista de Verificação da Triagem de Delirium em Unidades de Terapia Intensiva (Intensive Care Delirium Screening Checklist - ICDSC) são as ferramentas de monitoramento de delirium mais válidas e confiáveis em pacientes adultos internados em UTI (A). Justificativa: Cinco ferramentas de monitoramento de delirium foram avaliadas para uso em pacientes internados em UTI: 1) o Teste Cognitivo para Delirium (Cognitive Test for Delirium - CTD), 2) o Método de Avaliação para Confusão em UTI (Confusion Assessment Method for the ICU - CAM-ICU), 3) Pontuação de Detecção de Delirium (Delirium Detection Score - DDS), 4) a Lista de Verificação da Triagem de Delirium em Unidades de Terapia Intensiva (Intensive Care Delirium Screening Checklist - ICDSC) e 5) Escala de Triagem de Delirium para Enfermagem (Nursing Delirium Screening Scale - Nu-DESC). A Tabela 8 compara suas propriedades psicométricas. Tanto o CAM-ICU (308, 359, 371-374, 384-387) como o ICDSC (309, 371) demonstram muito boas propriedades psicométricas (por exemplo, validade e confiabilidade), e foram explicitamente projetados para uso em pacientes de UTI submetido ou não à ventilação mecânica. Traduzidas para mais de 20 idiomas, essas ferramentas estão atualmente em uso em todo o mundo (315). O método CAM-ICU e a lista de verificação ICDSC têm apresentado resultados de alta confiabilidade nos testes entre avaliadores, quando realizados por enfermeiros de UTI e intensivistas (308, 309, 373). Ambas as ferramentas demonstraram elevada sensibilidade e especificidade, quando testadas frente aos critérios para avaliação de delirium da Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association) (319, 359, 379). A validação preditiva da presença de delirium, conforme detectado com o método CAM-ICU ou com a lista ICDSC, foi associada com resultados clínicos do tipo: aumento do tempo de permanência em UTI e/ou em hospital (318, 319, 322, 323, 360, 361, 363, 364, 367) e maior risco de mortalidade (318, 319, 321, 322, 359-365). Com base na nossa revisão de literatura, tanto o CAM-ICU como a ICDSC são ferramentas válidas, confiáveis e viáveis para detectar delirium em pacientes internados em UTI (254, 309). Enquanto que o CTD (388-390) e a Nu-DESC (379) atingiram a pontuação ponderada mínima, 12, frente aos critérios psicométricos de nossa análise. Algumas propriedades psicométricas continuam sendo testadas para essas ferramentas, incluindo a confiabilidade entre avaliadores em um ambiente independente da pesquisa e a viabilidade clínica. Testes psicométricos adicionais com a DDS ainda são necessários (347), a fim de melhor avaliar sua validade, confiabilidade e viabilidade como ferramenta de monitoramento de delirium em pacientes em estado crítico. TABELA 8. Classificação Psicométrica de Ferramentas de Monitoramento de Delirium Ferramentas de Monitoramento de Delirium Critérios Psicométricos Classificados Descrição da seleção do item Validação de conteúdo Limitações apresentadas Confiabilidade interavaliadores Confiabilidade interavaliadores testado com equipe não relacionada A confiabilidade entre avaliadores foi classificada em baixa ou inconsistentes Número total de participantes Critério de validação: sensibilidade Validação de critério: especificidade Validação preditiva Viabilidade CAM-ICU ICDSC CTD Nu-DESC DDS 2 1 2 1 1 1 0 2 0 0 1 1 1 0 1 2 2 2 2 2 1 1 0 0 0 NA NA NA NA 0 2 2 2 2 2 2 2 2 2 0 2 1 2 2 2 2 2 0 1 0 1 0 0 0 0 Diretivas de utilização Relevância da escala na prática Pontuação total (intervalo: 0-19 ou 21) Pontuação ponderada (intervalo: 0-20) Qualidade das evidências psicométrica (baseada em pontuações ponderadas) 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 18/19 14/19 14/19 11/19 9/21 19,6 16,8 13,0 12,4 8,2 VG VG M M VL VG, muito bom, M = moderado; VL = muito baixo; NA = não aplicável. afaixa de pontuação ponderada (0-20): Muito boas propriedades psicométricas (VG): 15-20; Boas propriedades psicométricas (M): 12-14,9; Algumas propriedades psicométricas aceitáveis, mas outros estudos precisam ser realizados (Baixo): 10-11,9; Muito poucas propriedades psicométricas relatadas, ou resultados inaceitáveis (VL): <10. Desde a conclusão de nossa revisão e análise da literatura em 2010 sobre ferramentas de monitoramento de delirium, vários estudos adicionais têm sido publicados analisando a sensibilidade, especificidade e confiabilidade de ferramentas de avaliação de delirium na prática clínica (391-394). Uma meta-análise de cinco ferramentas de triagem de delirium em UTI descobriram que o CAM-ICU e a ICDSC foram as ferramentas mais sensíveis e específicas para a detecção de delirium, de acordo com nossa recomendação (392). Uma meta-análise separada de estudos comparando o CAM-ICU com a ICDSC também encontrou um elevado grau de sensibilidade e especificidade para ambas as ferramentas (393). Estudos adicionais são necessários para avaliar o desempenho de ferramentas para monitoramento de delirium na prática clínica rotineira em diferentes tipos de pacientes de UTI (391, 394). c. Pergunta: A implementação de um monitoramento rotineiro para delirium é viável na prática clínica? (Descritiva) Resposta: O monitoramento rotineiro para delirium em pacientes adultos internados em UTI é viável na prática clínica (B). Justificativa: Evidências de qualidade moderada sugerem que a monitorização rotineira de delirium é viável na prática clínica. Numerosos estudos de implementação, incluindo mais de 2.000 pacientes de várias instituições, mostraram taxas de adesão para o monitoramento de delirium de mais de 90%. Enfermeiros e médicos de UTI demonstraram alta confiabilidade nos dados obtidos entre avaliadores, especialistas treinados que usaram várias das ferramentas recomendadas para monitoramento de delirium (254, 372, 374, 382, 383). Embora os estudos mostrem que a implementação do monitoramento de delirium é viável em UTI, a falta de médicos que apoiam esta prática é uma barreira significativa (395). Estratégias de sucesso para superar esse obstáculo requerem que se enfatise fatores humanos e a mudança da cultura de UTI (316). Um estudo mais recente da implementação da monitorização do delirium (publicado após as evidências terem sido classificadas para este tópico), que incluiu mais de 500 pacientes de UTI (médica, cirúrgica e cardíaca) e mais de 600 enfermeiros de UTI, durante um período de 3 anos, reforça a conclusão de que o monitoramento rotineiro de delirium é viável na prática clínica (394). 3. Fatores de Risco para o desenvolvimento de Delirium a. Pergunta: Quais os fatores de risco que estão associados com o desenvolvimento de delirium na UTI? (descritiva) Resposta: Quatro fatores de risco de base estão positiva e significativamente associados com o desenvolvimento de delirium na UTI: demência preexistente, história de hipertensão, alcoolismo e presença de uma doença de alta gravidade na admissão (B). Justificativa: Os seguintes fatores de risco de base foram relatados como significativos em duas ou mais análises com multiplas variáveis: demência preexistente (329, 375, 396); história de hipertensão de base (318, 397); alcoolismo, definido como a ingestão de 2-3 ou mais drinques por dia (318, 396), e uma alta severidade da doença de admissão (318, 328, 329, 398). Embora a idade seja identificada como um dos fatores de risco mais significativos para o desenvolvimento de delirium fora da UTI, apenas dois estudos relataram a idade como sendo um fator de risco significativo em pacientes de UTI (328, 398), enquanto que quatro estudos relataram a idade como sendo um fator de risco insignificante (318, 375, 396, 399). Pesquisas adicionais são necessárias para confirmar a relação entre a idade e o desenvolvimento de delirium em pacientes de UTI. b. Pergunta: O coma é um fator de risco para o desenvolvimento de delirium na UTI? (descritiva) Resposta: O coma é um fator de risco independente para o desenvolvimento de delirium em pacientes de UTI. Para estabelecer uma relação definitiva entre os vários subtipos de coma (por exemplo, a medicação relacionada, estrutural, neurológica, médica) e o delirium em pacientes internados em UTI estudos adicionais são necessários (B). Justificativa: Vários estudos têm mostrado o coma como sendo um fator de risco independente para o desenvolvimento de delirium em pacientes internados em UTI (318, 399). Um estudo adicional classificou o coma em três categorias: coma médico (por exemplo, devido a uma condição neurológica primária), coma induzido por sedativos e coma multifatorial (coma médico e induzido por sedativos) (318). Neste estudo, o coma induzido por sedativos e o coma multifatorial foram significativamente associados ao desenvolvimento de delirium, mas o coma médico não (318). c. Pergunta: Quais os fatores de risco relacionados com o tratamento em UTI (adquiridos) (isto é, uso de opiáceos, benzodiazepínicos, propofol e dexmedetomidina) que estão associados com o desenvolvimento de delirium em pacientes adultos de UTI? (descritiva) Resposta: Dados conflitantes rodeiam a relação do uso de opióides com o desenvolvimento de delirium em pacientes adultos internados em UTI(B). O uso de benzodiazepínicos pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de delirium em pacientes adultos de UTI (B). Não existem dados suficientes para determinar a relação entre o uso de propofol e o desenvolvimento de delirium em pacientes adultos internados em UTI (C). Em pacientes adultos de UTI submetidos à ventilação mecânica e em risco de desenvolver delirium, as infusões de dexmedetomidina administradas para sedação podem estar associadas com uma menor prevalência de delirium em comparação com a administração de infusões de benzodiazepínico (B). Embora estes dados fazer não provar que as benzodiazepinas são causais ou que dexmedetomidina é protetora, essa literatura sugere que benzodiazepinas pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de delirium na UTI. se dexmedetomidina reduz o risco de pacientes de UTI em desenvolvimento delirium agora está sob estudo.
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