Envelhecimento e família - Portal do Envelhecimento
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30 Envelhecimento e Família: novas perspectivas Por Viviane de Moraes O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem... Guimarães Rosa1 A vida é composta de infindáveis surpresas. E o tempo encarrega-se de proporcionar alegrias e / ou tristezas em consonância ao presente, passado e futuro de cada ser humano. Para isso é necessário planejar, e agir de acordo com os próprios ideais, buscando crescimento e o exercício pleno de cidadania, fato este atrelado a importantes mudanças sociais. O sujeito que envelhece traça sua identidade ao longo de sua vida, no entanto, na fase de envelhecimento, quando começam aparecem as primeiras alterações físicas e / ou psíquicas, surgem juntamente preocupações com o futuro e, principalmente, com o próprio envelhecer. Pois apesar de comum ao ciclo da vida, o envelhecimento parece aterrorizar muitas pessoas, em nossa sociedade, onde se valoriza a beleza, a produtividade, a juventude e o consumo. E quanto à família, será que o cidadão idoso é valorizado, ou simplesmente negam sua existência? Culturalmente às mulheres cabia o papel de cuidado, tanto de seus filhos quanto de familiares e idosos. No entanto, com o ingresso da mulher no mercado de trabalho, esse papel modificou-se. As crianças passaram a ficar em creches, por determinados períodos – fato este de extrema polêmica, pois para muitos foi considerado como situação de abandono. Quanto aos idosos, de certa forma, continuaram tendo papel principal dentro do contexto familiar no cuidado com os netos. O fato é que o conceito de família, mesmo que universal, está em constante transformação e, desta maneira, sua definição pode se dar de acordo com a cultura e significado social, mesmo que a união dos laços não seja biológica. Diante de mudanças sociais, e de papéis, aparecem ainda conflitos entre as gerações, em consonância ao individualismo e à negação da responsabilidade dos idosos. Segundo Sarti: 1 Ver http://pensador.uol.com.br/autor/Guimaraes_Rosa/ REVISTA PORTAL de Divulgação, n.9, Abril 2011 - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php 31 A perda do sentido da tradição e o processo de individualização e de atomização do sujeito, processos sociais que caminham juntos, moldaram uma nova configuração familiar, redefinindo o cuidado dos dependentes, ao alterar as relações entre o homem e a mulher e entre as gerações. (Sarti, 2001: 92) Na atualidade as relações familiares, constituem-se por novos rearranjos sociais, resultante da diversidade de situações – divórcios; recomposição de famílias, entre outras, implicando, assim, em novas adaptações do cotidiano de cada indivíduo. É Sarti quem mais uma vez ressalta que, Novas formas de viver e novos valores convivem com os antigos, configurando um momento de transição, uma vez que as novas experiências vividas na família se articulam a transformações sociais profundas, não havendo ainda soluções coletivas e sociais para os novos problemas. (2001: 93,). Diante destas transformações nota-se, cada vez mais, a participação de homens e mulheres ativos, maiores de sessenta anos na sociedade em geral. Neste quadro assume relevância a participação de seus filhos e familiares em eventos e / ou atividades elaboradas, ou mesmo apresentadas por eles. No Centro de Referência da Cidadania do Idoso – CRECI@ este fato é notório. A emoção e orgulho são por eles expressas, através de um largo sorriso ou mesmo por um simples olhar, ao saberem que estarão sendo prestigiados por seus filhos. Através de atividades diversificadas como dança espanhola, coral, e teatro, por exemplo, evidencia-se a plenitude da vida. E que não importa a idade para ser feliz e aprender coisas novas e, mais do que isso, a real importância do incentivo e participação das famílias, que se contrapõe aos sentimentos de tristeza e a solidão. Os laços são construídos ao longo da vida, e consolidados até sua finitude. Porém, assim como uma planta, é necessário cultivá-los, sem exageros, com responsabilidade, atenção e carinho, diante de sua real importância no cotidiano de cada ser humano. Não importa a distância nem o tempo, o importante é manter estes laços. Saliento a importância do exercício de cidadania e do sentimento de pertencimento, seja no contexto familiar ou mesmo na sociedade, considerando que cada ser humano tem sua importância e valor moral, desde a mais tenra idade. REVISTA PORTAL de Divulgação, n.9, Abril 2011 - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php 32 O protagonismo dos cidadãos idosos tem tornado o cotidiano de cada um distinto, fazendo da velhice uma experiência diferenciada, afirmando-os como sujeitos de desejos e direitos, de modo a contribuir cada vez mais para uma nova concepção social a respeito desta fase da vida. Afinal, como dizem Lopes e Calderoni (2006), “a idade cronológica é só um referencial. O importante é como a pessoa vive a idade que tem”. Referências LOPES, RUTH G. C.; CALDERONI, SILA Z. “O Idoso na família: fechar-se ou abrir-se”. In: Papaléo Netto, M (org.) Tratado de Gerontologia. 2ª edição: Revista e Ampliada, Ed. Atheneu, 2006. (pp.225 – 241). SARTI, CYNTIA A. “A família como ordem simbólica”. Revista de Psicologia USP, 2004, 15 (3), 11-28. SARTI, CYNTIA A. “A velhice na família atual”. Acta Paul. Enf, maio/ago, v.14, n.2, 2001. CARVALHO, MARIA BRANT. A família contemporânea em debate. São Paulo: Cortez Editora: Educ, 4ª ed, 2006. Disponível em: http://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr=&id=wtHiLCNtqXEC&oi=fnd&pg=PA11&dq=a+fam%C3%ADlia+contemp or%C3%A2nea+em+debate&ots=eu8is2uZ62&sig=fUs8QP7y_1hboS11WLddu 2alrBI#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 09 dez. 2010. _____________________________ Viviane de Moraes - Técnica em Gerontologia do Centro de Referência da Cidadania do Idoso – CRECI@. Especialista em Gerontologia, pela PUC/SP. Terapeuta Ocupacional, pela UNISO – Sorocaba/SP. E-mail: [email protected] REVISTA PORTAL de Divulgação, n.9, Abril 2011 - http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php
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