REVISTA CNT135ok.qxd - SEST/SENAT

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REVISTA CNT135ok.qxd - SEST/SENAT
EDIÇÃO
INFORMATIVA
DO SEST/SENAT
CNT
ANO XII
NÚMERO 135
T R A N S P O R T E
AT UA L
PESQUISA RODOVIÁRIA
DURANTE 39 DIAS, 15 EQUIPES DA CNT TRAÇARAM O MAIS COMPLETO PERFIL RODOVIÁRIO DO PAÍS
LEIA ENTREVISTA COM O BLOGUEIRO PEDRO DORIA
CNT
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE
PRESIDENTE EM EXERCÍCIO
José Fioravanti
PRESIDENTE DE HONRA DA CNT
Thiers Fattori Costa
VICE-PRESIDENTES DA CNT
Jorge Marques Trilha
Oswaldo Dias de Castro
Romeu Natal Pazan
Romeu Nerci Luft
Tânia Drumond
Augusto Dalçóquio Neto
Valmor Weiss
Paulo Vicente Caleffi
José Hélio Fernandes
TRANSPORTE DE CARGAS
Newton Jerônimo Gibson Duarte Rodrigues
TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO
Meton Soares Júnior
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Benedicto Dario Ferraz
TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
José Fioravanti
PRESIDENTES DE SEÇÃO
E VICE-PRESIDENTES DE SEÇÃO
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Otávio Vieira da Cunha Filho
Ilso Pedro Menta
TRANSPORTE DE CARGAS
Flávio Benatti
Antônio Pereira de Siqueira
TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
Luiz Wagner Chieppe
Alfredo José Bezerra Leite
Narciso Gonçalves dos Santos
José Augusto Pinheiro
Marcus Vinícius Gravina
Oscar Conte
Tarcísio Schettino Ribeiro
Marco Antônio Gulin
Eudo Laranjeiras Costa
Antônio Carlos Melgaço Knitell
Abrão Abdo Izacc
João de Campos Palma
Francisco Saldanha Bezerra
Jerson Antonio Picoli
TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
José da Fonseca Lopes
Mariano Costa
TRANSPORTE AQUAVIÁRIO
Glen Gordon Findlay
Claudio Roberto Fernandes Decourt
TRANSPORTE FERROVIÁRIO
Rodrigo V ilaça
Clóvis Muniz
TRANSPORTE AÉREO
Wolner José Pereira de Aguiar
(vice no exercício da presidência)
CONSELHO FISCAL (TITULARES)
Waldemar Araújo
David Lopes de Oliveira
Luiz Maldonado Marthos
Éder Dal’lago
TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS, DE PESSOAS E DE BENS
Edgar Ferreira de Sousa
José Alexandrino Ferreira Neto
José Percides Rodrigues
Luiz Maldonado Marthos
Sandoval Geraldino dos Santos
José Veronez
Waldemar Stimamilio
André Luiz Costa
Armando Brocco
Heraldo Gomes Andrade
Claudinei Natal Pelegrini
Getúlio Vargas de Moura Braatz
Celso Fernandes Neto
Neirman Moreira da Silva
TRANSPORTE AQUAVIÁRIO, FERROVIÁRIO E AÉREO
Denisar de Almeida Arneiro
Eduardo Ferreira Rebuzzi
Francisco Pelúcio
Irani Bertolini
Glen Gordon Findlay
Luiz Rebelo Neto
Moacyr Bonelli
Alcy Hagge Cavalcante
Carlos Affonso Cerveira
Marcelino José Lobato Nascimento
Maurício Möckel Paschoal
Milton Ferreira Tito
Silvio Vasco Campos Jorge
Cláudio Martins Marote
Jorge Leônidas Melo Pinho
Ronaldo Mattos de Oliveira Lima
Bruno Bastos Lima Rocha
CONSELHO EDITORIAL
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Aristides França Neto
Bernardino Rios Pim
Bruno Batista
Etevaldo Dias
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Publicação do Sest/Senat, registrada no Cartório do 1º Ofício de Registro Civil das
Pessoas Jurídicas do Distrito Federal sob o número 053. Editada sob responsabilidade
da AC&S Assessoria em Comunicação e Serviços Ltda.
Tiragem 40 mil exemplares
Os conceitos emitidos nos artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da CNT Transporte Atual
TRÂNSITO NOTURNO
INTERCÂMBIO
Estudo da Cesvi mostra
os perigos de se dirigir
no período da noite
Antaq promove encontro
entre representantes de
portos do país e Europa
PÁGINA
46
PADRONIZACÃO
Comitê é criado para estabelecer um
modelo único e a qualidade do trilho
a ser usado nas ferrovias do país
PÁGINA
30
PÁGINA
52
CNT
TRANSPORTE ATUAL
ANO XII | NÚMERO 135
ENTREVISTA
RUMO AO
EXTERIOR
Companhias
aéreas de
mercados
emergentes na
Ásia e na África
buscam pilotos
no Brasil, atraídas
pela qualificação
e experiência
dos profissionais
do país
REPORTAGEM DE CAPA
Pesquisa Rodoviária CNT avalia 84.382 km de rodovias
federais, estaduais e concessionadas para traçar um
diagnóstico do sistema rodoviário nacional e conclui
que 75% apresentam algum tipo de problema
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36
E MAIS
Cartas
Editorial
Mais Transporte
Alexandre Garcia
Polícia Federal
Sest/Senat
Debate
Idet
Humor
CAPA CNT/DIVULGAÇÃO
6
7
12
16
57
60
62
64
66
Pedro Doria fala sobre a
disseminação de blogs
entre os brasileiros
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24
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SALÃO DO AUTOMÓVEL
Maior evento da indústria
automobilística da América
Latina, exposição mostrou
as tendências do futuro
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18
6
CNT TRANSPORTE ATUAL
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Escreva para CNT TRANSPORTE ATUAL
As cartas devem conter nome completo,
endereço e telefone dos remetentes
[email protected]
MUSEU NAVAL
Solicito a publicação de errata,
retificando as seguintes informações, as quais não procedem, e
que foram publicadas no número
133 da Revista CNT Transporte
Atual, na reportagem intitulada
“Passeio pela História”:
a) O Museu Naval não possui dívidas.
Foi divulgado no final da página
33, que o Museu tinha US$ 168 milhões
em dívidas com atuais e
ex-funcionários. Isso não procede.
Como os editores da revista
verificaram, houve um erro na
diagramação da revista, que
colocou equivocadamente neste
espaço dados referentes a outra
matéria sobre a situação de uma
empresa privada. Além disso, não
há como o Museu Naval ter
dívidas, muito menos em dólares;
pois é parte - um prédio que
abriga exposições - de uma
organização militar da Marinha do
Brasil, denominado Serviço de
Documentação da Marinha, que
administra um complexo cultural
no Rio de Janeiro (Espaço Cultural,
Ilha Fiscal, Museu Naval, Biblioteca
e Arquivo da Marinha), e que, por
sua vez, está subordinado à
Diretoria do Patrimônio Histórico e
Cultural da Marinha. Portanto, o
Museu não emprega, nem nunca
empregou pessoas, pois faz parte
de um órgão federal, possuindo
servidores militares e civis.
b) Também nas informações
“SOU TAXISTA HÁ
22 ANOS E SEI O
QUANTO É
IMPORTANTE A
RELAÇÃO DE
CONFIANÇA ENTRE
OS TAXISTAS E
SEUS CLIENTES”
DOS LEITORES
ao ler essa matéria, por lembrar
de momentos especiais,
contados pelos meus avós, como
a maneira que se conheceram e
se apaixonaram, a bordo de um
navio, rumo ao Brasil. Faço
questão de quando for a São
Paulo procurar este museu. Isso
é prova viva que o Brasil está
cada vez mais preocupado em
manter as suas raízes e contar a
sua própria história. Parabéns à
CNT pela belíssima matéria!
Agatha Fernandes
Caxambu - MG
CATAMARÃ
Nós, usuários de barcas na
travessia Rio-Niterói,
agradecemos a redução de
tempo proporcionada pelo
novo catamarã, citado na
matéria “Passageiros
Agradecem”. Viajamos mais
rápido, com mais conforto, e o
melhor: pagando a mesma
tarifa. Até a minha caminhada
matinal até o ponto ficou mais
prazerosa, sabendo que não
preciso correr porque vou
chegar mais rápido no Rio de
Janeiro para trabalhar.
TÁXI
divulgadas sob o título “Saiba
mais - Quem foi Tamandaré”,
cabe observar que quem
comandou a Batalha Naval do
Riachuelo foi Barroso e não
Tamandaré.
Armando de Senna
Bittencourt
Vice-almirante (RMI-EM)
Diretor do Patrimônio Histórico
e Cultural da Marinha
IMIGRANTE
Gostei muito da matéria
“História do Movimento”,
que fala sobre o Memorial
do Imigrante. Sou neta de
imigrantes portugueses, de
Lisboa, e me deu muita saudade
Sou taxista há 22 anos e sei o
quanto é importante a relação
de confiança entre os taxistas e
seus clientes. Tenho alguns
que andavam comigo desde
adolescentes, por intermédio
de seus pais, e hoje levo os seus
filhos como passageiros. A
confiança é tanta que reservo
uma caderneta de crédito para
essas pessoas, que pagam no
começo do mês, e que nunca me
deram problema de natureza
alguma. A repórter Sandra
Carvalho está de parabéns em
sua matéria “Relação de
Confiança”. Ela soube relatar
com precisão essa realidade.
Onorilson Pereira Sá
Diadema - SP
Andreas Vath
Niterói - RJ
RUBEM ALVES
A educação é mesmo uma
ferramenta de transformação.
Gostei da entrevista com o
educador Rubem Alves, na
qual ele diz que a educação à
distância é uma ferramenta
válida para o aprendizado.
João Silveira Carvalho
Gramado - RS
CARTAS PARA ESTA SEÇÃO
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30190-090 - Belo Horizonte (MG)
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Por motivo de espaço, as mensagens serão
selecionadas e poderão sofrer cortes
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“A Pesquisa Rodoviária indica com clareza os caminhos que
devem ser seguidos para a reversão do precário quadro atual”
FLÁVIO BENATTI
EDITORIAL
Uma pesquisa a
favor do Brasil
A
Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou no começo de outubro os resultados da Pesquisa Rodoviária 2006. No estudo, os pesquisadores da CNT avaliaram 84.382 km de rodovias, sendo 100% da malha rodoviária federal pavimentada
e os principais trechos sob gestão estadual e sob
concessão. Nesses 84.382 km estão incluídas as mais importantes ligações rodoviárias do Brasil.
A Pesquisa Rodoviária revelou, como nos levantamentos de anos anteriores, que o estado de conservação
da malha rodoviária do país continua bastante preocupante, mostrando que 75% (63.294 km) das rodovias
analisadas apresentaram algum tipo de problema.
Além do impacto econômico direto que essa realidade causa à atividade transportadora, na manutenção de
caminhões, na reposição de peças, no aumento dos gastos com combustível, ela também penaliza toda a população ao encarecer o custo dos produtos para os consumidores internos e o mercado exterior.
Não há como negar que as difíceis condições em
que se encontram as rodovias nacionais têm grande influência no chamado Custo Brasil. Isso porque pelas rodovias passam 62% das cargas transportadas pelo país,
sendo esse o principal modal de transporte brasileiro
desde a década de 1950. É importante lembrar também
que 96% dos passageiros são transportados por rodovias, muitas em estado de conservação precário, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
É inimaginável pensar que o Brasil pode crescer
a taxas de 5%, 6% do Produto Interno Bruto (PIB) ao
ano sem que conte com uma malha rodoviária em
boas condições de trafegabilidade e segurança. O setor de transporte brasileiro dispõe hoje de aproximadamente 60 mil transportadoras, 700 mil caminho-
neiros autônomos e 2,5 milhões de trabalhadores em
transporte, que superam diariamente os obstáculos
impostos pela baixa qualidade da infra-estrutura de
transporte nacional.
Diante desse contexto, a Pesquisa Rodoviária
CNT, que há mais de uma década é referência para
especialistas e estudiosos no tocante à situação
desse modal de transporte, é um estudo a favor do
Brasil. Em razão das próprias informações que coletou sobre o estado geral das estradas brasileiras,
nos aspectos pavimento, sinalização e geometria
da via, e das conclusões a que chegou, a Pesquisa
Rodoviária indica com clareza os caminhos que devem ser seguidos pelos entes públicos e pelos investidores privados para a reversão do precário
quadro atual.
Por meio da Pesquisa, ao mesmo tempo que destacam os pontos fracos das rodovias nacionais, região
por região, estado por estado, em um retrato preciso e
irretocável, os transportadores brasileiros acreditam
firmemente que a realidade da infra-estrutura de
transporte do país pode ser alterada para melhor a
médio prazo, mediante vigoroso crescimento dos investimentos públicos, via Cide, e privados, por meio
das Parcerias Público-Privadas (PPPs).
Os transportadores brasileiros prestam um grande
serviço ao país ao realizarem a Pesquisa Rodoviária
CNT e se somam, com essa e outras contribuições, ao
esforço coletivo para que o Brasil alcance o desenvolvimento econômico almejado.
Flávio Benatti é presidente da Federação
das Empresas de Transporte de Cargas
do Estado de São Paulo (FETCESP)
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CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
“Blogs dão mais trabalho ao repórter porque, além de arranjar material para publicar,
gerenciar uma comunidade, o que exige um tipo completamente diferente de talento ou co
ENTREVISTA
PEDRO DORIA
PERSPECTIVAS DO
POR
edro Doria, colunista
da revista eletrônica
NoMínimo e do jornal “O Estado de
S.Paulo”, pode ser classificado como um desbravador da
Internet no Brasil. Lançou,
em 1995, os livros “Manual
para a Internet – Uma Visão
Brasileira” e “Utopia Eletrônica – Como Fazer Sucesso na
Internet”. Isso numa época
em que o principal portal
brasileiro, o UOL, ainda não
havia nascido – só surgiria no
ano seguinte. Hoje, esse pioneirismo na tecnologia é um
dos temas de seus textos,
além da política externa.
Doria foi o primeiro brasileiro a criar e manter um blog
profissional, em 2002, quando
a febre desses diários virtuais
nem ameaçava aportar na rede
em português. Está conectado
24 horas, em qualquer lugar,
através de gadgets (palm, celu-
P
RICARDO BALLARINE
lar) e dos computadores do
trabalho e de casa.
Nesta entrevista, concedida
por e-mail, Doria fala sobre blogs,
o modo de fazer jornalismo na Internet, educação à distância –
“Faz todo o sentido usar a Internet para levar educação” – e democratização do acesso à rede.
Você foi o primeiro brasileiro a escrever um blog profissional. De onde surgiu a idéia e
como ela se viabilizou?
Quando a NoMínimo nasceu,
em 2002, nossa equipe já tinha
dois anos de experiência em
web, na NO. Fui chamado para
fazer uma coluna, propus que
fizéssemos um blog. Nenhum
jornalista fazia blog profissionalmente ainda, um blog que
servisse de elo entre os leitores e o bom noticiário e a análise Internet afora. Isso já estava começando a surgir nos Estados Unidos e me parecia
completamente natural que
também houvesse no Brasil. Foi
assim que o Weblog (nome de
sua coluna) surgiu. Hoje, a revista, além de suas colunas e
reportagens, tem nove blogs
especializados em diversos assuntos, a caminho do décimo.
O blog é hoje uma das principais ferramentas da imprensa em todo o mundo. Essa febre é passageira, no sentido de
ser uma transição para uma
nova forma de fazer jornalismo, ou é a nova forma de fazer
jornalismo?
É impossível responder. Mas
eu diria que o blog estará aí para
sempre. Vai mudar, certamente,
como aquilo que chamamos de
reportagem mudou muito ao longo das décadas. Tende, creio, a virar o esqueleto de uma comunidade de discussão, com subblogs, contribuições de notas de
certos leitores a quem o editor-
blogueiro decida dar algum espaço etc. Essa comunidade de comentaristas vai ficar mais forte
com o passar do tempo. O que
não quer dizer, evidentemente,
que novos formatos de jornalismo que nada têm a ver com
blogs não possam nascer na Internet. Tenho certeza de que nascerão. A grande mudança da rede
não são os blogs, mas o aumento
da participação do leitor, que
obriga o jornalista a descer de
seu pedestal e interagir e, com alguma freqüência, ser corrigido
acertadamente por leitores.
A imprensa brasileira segue
a tendência da blogosfera?
O Brasil não segue a tendência da blogosfera internacional –
ao menos, ainda não. A notícia
em blogs, aqui, ainda está nas
mãos de jornalistas profissionais. Se você for aos EUA, ou à
França, ou ao Iraque, vai perceber que os blogueiros mais im-
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FOTOS ARQUIVO PESSOAL
ele tem também que
nhecimento ou preparo.”
BLOG
portantes de política, por exemplo, são pessoas que decidiram
buscar notícia com as próprias
mãos. Tem desvantagens, como
por exemplo a falta de preparo
ético, a falta de cuidado ao publicar um determinado tipo de
notícia sem checar cuidadosamente. Mas isso se cura com o
tempo e com experiência. E na
atual crise do jornalismo, com
cortes de gastos nas redações
tradicionais, mesmo os profissionais têm cometido o mesmo
tipo de falha. Os amadores que
estão se profissionalizando têm
vantagens, como a falta de vícios adquiridos noutros meios.
As comunidades de comentaristas, no Brasil, são tratadas com
desconfiança e um certo olhar
de cima pelos principais blogueiros. Quem vem da Internet
para fazer jornalismo pela primeira vez não faz isso, entende
que o novo leitor é ativo e que
pode até ajudar no trabalho.
E para o leitor, quais as
vantagens e desvantagens
de um blog?
Blogs são ágeis, principalmente. Para o leitor, um blog
bem editado permite que ele
acompanhe algo que esteja
acontecendo no país ou no
mundo reunindo o que há de
melhor em toda a imprensa. Ele
poupa o leitor deste trabalho.
Blogs dão mais trabalho ao repórter porque, além de arranjar
material para publicar, ele tem
também que gerenciar uma comunidade, o que exige um tipo
completamente diferente de talento ou conhecimento ou preparo. O leitor tem que ficar esperto no tempo da Internet, por-
que cada vez menos você tem
aquela grande revista, aquele
grande jornal, no qual confia
por conta de uma centena de
anos de tradição. Agora, a confiança começa a ser passada
para jornalistas, para indivíduos. O jornalista tem que tomar cuidado porque a única coisa que ele tem é credibilidade. O
leitor tem que aprender a ler
desconfiando e passar a confiar
no blogueiro com o tempo,
quando ele se mostra digno de
confiança. Isso não quer dizer
isento de erros, mas quer dizer
ser honesto com sua apuração,
publicar aquilo que ele acredita
ser verdade e corrigir quando
perceber que errou.
No Brasil, cerca de 13,4
milhões de pessoas acessam a Internet por dia em
casa, uma média de 20h39
por mês, o que o deixa em
primeiro lugar no mundo –
o Japão tem 18h11 e os
EUA, 17h19 (dados de julho
do Ibope/NetRatings). O
que faz esse número ser
grande no país?
O Japão teria mais horas
não fosse, lá, o advento da
comunicação móvel. Celulares, principalmente mensagens de texto, são a principal
forma de interação dos jovens. É o mesmo caso da Coréia do Sul e da China. Celulares, no Brasil, não concor-
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CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
"A grande mudança da rede não são os blogs, mas o aumento da
participação do leitor, que obriga o jornalista a interagir com ele"
rem tanto com a Internet por
aqui. A comparação com os
EUA é um pouco mais complicada. Temos, culturalmente,
um traço de buscar conexões
com as pessoas. Gostamos
de andar em grupo, de conhecer gente, de cruzar na
rua com um rosto familiar,
lembrar seu nome e trocar
meia dúzia de palavras. Nós,
brasileiros, somos em grupos. Norte-americanos são
mais individualizados, se
preservam mais, buscam privacidade com mais afinco,
têm conjuntos pequenos de
conhecidos. Então, não usam
tanto a Internet para interação quanto nós. Eu arriscaria
que a diferença está por aí.
A alta de tempo navegado (17% a mais em relação
a 2005) foi provocada pelo
aumento no acesso a sites
de vídeos, facilitado pela
banda larga. O sucesso do
YouTube ajuda a explicar
como a Internet funciona
no Brasil? Seria o mesmo
caso do Orkut, em que
mais de 70% dos usuários
são brasileiros?
O Orkut é explicado por
conta da questão da interação e reafirmação de elos.
Mas ele não é o único portal
de relacionamentos da rede.
Aliás, ficou tão regionalizado
que praticamente só é im-
portante para o Brasil. Nos
EUA, por exemplo, o MySpace
é gigantesco, embora tenha
um conceito mais de páginas
pessoais que cada um pode
adaptar a suas vontades do
que de relação entre pessoas. Quanto aos vídeos que
circulam de forma virótica,
com todo mundo repassando
a mesma notícia, este é um
fenômeno social comum à
rede em todo o mundo. Tanto
que já existem equipes de
marketing tentando explorar
o veio.
No Brasil, 83% da classe
A usam a Internet, contra
menos de 11% das classes
D/E. Qual o caminho da inclusão digital?
Distribuição de computador e acesso mais barato à
rede. A questão é puramente
financeira. Falta dinheiro. Mas
isso tende a baratear, a popularização está em curso, embora vá demorar um pouco.
Quantas horas por dia
você navega na Internet?
Em casa, meu computador
está sempre ligado à rede. No
trabalho, também. Meu palm
tem acesso wi-fi e meu celular permite a conexão do notebook. Mas jamais contabilizei o número de horas. Muitas, certamente, mas decididamente não todas as horas.
FANÁTICO Pedro Doria fica conectado com o mundo 24 horas
O que a Internet ainda pode
oferecer?
A Internet vai abarcar
toda a comunicação: TV, celular, o que for. Ela não será
acessada apenas pelo computador, evidentemente, e
terminará com uma cara diferente da atual.
A Internet é usada para ensino à distância, com cursos
regularizados pelo Ministério
da Educação. Essa é a educação do futuro?
Professores sempre existirão, mas a Internet será usada, sim, como meio de educação. Barateia o acesso à informação, faz todo sentido
usá-la para alcançar pontos
remotos do planeta.
Já é possível dizer que a Internet se recuperou em definitivo da bolha de 2000?
É um momento delicado. Já
não há dúvidas de que a distribuição de música e de filmes, por
exemplo, virá pela rede. Mas a indústria tem medo de perder o controle desse processo e terminar
com grandes redes de pirataria.
Naturalmente, quanto mais tempo
demorar, mais seus piores pesadelos tendem a se realizar. O momento já não tem nada a ver com o de
2000, quando havia promessas de
que no futuro todo mundo usaria a
rede. Hoje, você tem um monstruoso mercado consumidor já
usando a rede. O mercado já está
melhor. Faltam tempo e escala. É
preciso mais gente acessando
para que seja mais rentável. t
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CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
MAIS TRANSPORTE
MRS LOGÍSTICA/DIVULGAÇÃO
OBRAS NO RIO
O ministro dos Transportes, Paulo
Sérgio Passos, em solenidade
realizada no Trevo Industrial de
Santa Cruz, autorizou a primeira
etapa da obra de construção do
Arco Rodoviário do Rio de Janeiro.
Durante a solenidade, foi entregue
ao consórcio vencedor da licitação
a ordem de serviço, no valor de R$
63 milhões. O investimento total no
projeto, que deverá ser concluído
no fim de 2008, é de R$ 143 milhões.
Estão previstas a duplicação de 26
km da BR-101 (Rio-Santos) e a
construção de 3 km de acesso
rodoviário ao porto de Sepetiba,
cinco viadutos, três passagens
inferiores e alargamento de
nove pontes.
TREM NOVO
PNEU DE MOTO
A fabricante de pneus Levorin
lançou 11 modelos de pneus para
motocicletas. Os compostos
oferecem melhor rendimento
por quilômetro rodado e mais
aderência ao piso molhado. A
previsão da empresa é que os
lançamentos, somados com
outras duas linhas já no
mercado, proporcionem um
crescimento de 10% no
faturamento. Informações
sobre os lançamentos e a
relação completa de pneus
produzidos pela Pneus
Levorin podem ser obtidas
no site www.levorin.com.br
A MRS Logística está
trazendo dos Estados
Unidos novidades para
os trilhos do país. Tratase da compra de 20
novas locomotivas que
possuem a tecnologia
Dash 9, a mais moderna
em máquinas a diesel. A
previsão da chegada do
primeiro lote, com dez
unidades, é para novem-
bro. Essa é a primeira
compra de locomotivas
novas pela empresa,
que fez um investimento de aproximadamente
US$ 40 milhões.
Sobena (Sociedade Brasileira
de Engenharia Naval). O
congresso, que acontece a
cada dois anos, aponta as
novidades no setor naval e,
nesta edição, vai tratar de
temas como envolvimento
técnico de estruturas marítimas,
construção e operação de
navios. Além disso, haverá
mostras técnicas, exposições
de produtos e serviços navais.
Mais informações:
www.sobena.org.br/sobena2006.
FEIRAS NAVAIS
Serão realizados entre os dias
27 de novembro e 1º de
dezembro, no Rio de Janeiro,
a Exponaval e o 21º Congresso
Nacional de Transportes
Marítimos, Construção Naval e
Offshore, promovido pela
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
“Os recursos para a compra do caminhão
provêm das próprias pessoas do grupo”
CELSO BARBUTO
ENTREVISTA
CELSO BARBUTO
CINQÜENTENÁRIO
A CBC (Câmara Brasileira de
Contêineres, Transporte
Ferroviário e Multimodal) realizou
em São Paulo, em outubro, o
Encontro Comemorativo 50 anos
de Introdução dos Contêineres
no Cenário Mundial. O evento foi
Facilidade para o caminhão
uma oportunidade para debater
as perspectivas dos modais
transportadores. Os temas
das palestras foram cargas
conteinerizadas e os modais
ferroviário, rodoviário e aquaviário.
BOAT SHOW/DIVULGAÇÃO
POR
ROBERTA DUTRA
O Consórcio Bradesco de Caminhões é um autofinanciamento
que o Banco Bradesco oferece para seus clientes
interessados em adquirir caminhões. A Bradesco Consórcios
comercializa planos de caminhões com diversas faixas de
crédito, que variam de R$ 51 mil a R$ 300 mil e procuram
atender às diferentes necessidades dos clientes. Em
entrevista à CNT Transporte Atual, o diretor-presidente da
Bradesco Consórcios, Celso Barbuto, fala sobre o consórcio.
Quais as principais vantagens desse consórcio?
A principal vantagem está na condição para formar
grupos de pessoas interessadas em adquirir um determinado
bem. Os recursos financeiros para efetivar a compra do
caminhão provêm das próprias pessoas do grupo. Outro
ponto importante é que não há empréstimo bancário,
portanto, não existem juros, o que torna o processo muito
mais barato para cada consorciado. O cliente ainda pode
pagar pelo seu bem em até 100 meses.
CARRO-ANFÍBIO Destaque do São Paulo Boat Show
CARRO DUPLO
Splash, o carro-anfíbio, foi a
principal atração do São Paulo
Boat Show realizado em
outubro em São Paulo. O
veículo entrou para o “Guiness
Book” por atravessar o Canal
da Mancha em 3h13. Ele possui
825 kg em estrutura de fibra de
carbono, com hidrófilos que
diminuem o atrito com a água.
O carro pode chegar a 80 km/h
na água e até 200 km/h na
terra. Além disso, o veículo tem
motor adaptado para gás
natural e gasolina e emissão
baixa de poluentes.
Como está o mercado de consórcio de caminhões? É um
mercado em expansão?
A Bradesco Consórcios apresentou crescimento anual de
91,25%, demonstrando grande potencial de crescimento
neste mercado.
Qual o perfil de quem adquire o consórcio?
Existe um grande intervalo de valores de planos de
consórcio disponíveis para comercialização, o que mostra
que o universo de potenciais compradores inclui desde o
grande frentista, que utiliza equipamentos pesados, ao
pequeno prestador de serviços, que utiliza apenas um
caminhão leve. As empresas de transporte, pequenos
comerciantes e prestadores de serviços, profissionais
autônomos, associações, sindicatos e cooperativas são
alguns dos exemplos dos principais mercados.
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CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
ESTANTE
MAIS TRANSPORTE
PAULO FONSECA/DIVULGAÇÃO
EDUCAÇÃO
De olho nas motos
Trânsito parado, filas intermináveis de carros que quase não
se movem. Esse é o cotidiano das
principais capitais do país. A
necessidade de locomoção rápida
e de baixo custo aumentou o
número de motos nas ruas.
Pesquisa realizada pelo Denatran
(Departamento Nacional
de Trânsito) mostra que já são 7,4
milhões as motocicletas em
circulação, dado que representa
17% da frota do país. Junto vem
uma das principais preocupações
das autoridades de trânsito
atualmente, a questão de acidentes envolvendo os condutores.
Os motociclistas são vítimas
de 26% dos acidentes, 13%
deles fatais. Com intuito de
modificar esses números, as
entidades representativas de
classe estão desenvolvendo
trabalhos para dar mais
segurança a quem usa a
motocicleta como instrumento de
trabalho. A Fenamoto (Federação
dos Mototaxistas e Motoboys do
Brasil) conseguiu reduzir o
número de acidentes em Goiânia
em 84%, através da padronização
dos capacetes e coletes com
faixas refletoras. O projeto foi
implantado na cidade em 2003, e
a intenção é expandir o sistema
para todo o país, segundo o
presidente da entidade, Robson
Paulino. Já os órgãos do
governo estão estudando as
possibilidades da criação
de uma nova carteira de
habilitação, especial para
motoboys. Durante a Semana
Nacional de Trânsito, em
setembro, foram apresentadas
sugestões das entidades de
motociclistas para a padronização
e melhoria das condições de
trabalho da categoria.
Por Érica Alves
O Sest/Senat, em parceria
com o Denatran
(Departamento Nacional de
Trânsito) e com o Unesco
(Organização das Nações
Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura), está
realizando o projeto
Capacitação de Profissionais
de Trânsito. O curso de
educação no trânsito acontecerá
em todas as capitais
brasileiras entre 23 de
outubro e 13 de dezembro,
com o objetivo de capacitar
profissionais dos órgãos e das
entidades que compõem o SNT
(Sistema Nacional de Trânsito).
As inscrições podem feitas no
site www.denatran.org.br.
O autor discorre sobre o que seria uma nova
forma de inteligência, em que a interação
social é fator determinante na formação do
indivíduo e de suas capacidades. Do mesmo
autor, “Inteligência Emocional”.
De Daniel Goleman. Ed.
Campus, R$ 59, 444 págs
O médico-escritor, autor de “Estação
Carandiru”, traça um panorama das
pesquisas mais recentes da medicina e busca
a fonte dos materiais estudados, além de
refletir sobre a saúde e o conhecimento.
De Drauzio Varella. Ed. Companhia das
Letras, R$ 41, 384 págs
OBRAS EM SANTOS
A Concais S/A-Terminal
Marítimo de Passageiros
prevê começar em abril de
2007 a obra de expansão do
terminal turístico do porto
de Santos, com o intuito de
receber até 28 mil turistas
por dia. O investimento
estimado é de R$ 6,5 milhões.
Pelas perspectivas do diretor
do terminal, Flávio Brancato,
as sucessivas reformas ano a
ano no terminal irão
possibilitar que em 2010 a
instalação receba 34 mil
passageiros por dia.
A biografia de Percival Farquhar mostra
como viveu e trabalhou um dos maiores
empreendedores do Brasil, responsável por
obras de infra-estrutura em todo o país.
Entre seus investimentos, está a ferrovia
Madeira-Mamoré.
De Charles A. Gauld. Ed. De Cultura,
R$ 80, 518 págs
CNT TRANSPORTE ATUAL
15
EDIÇÃO 135
PURIFILT/DIVULGAÇÃO
CARA NOVA
O Aeroporto Internacional
Tancredo Neves, em Confins (MG),
começou a operar a fase piloto
do projeto para se transformar
em terminal industrial. Instalado
em uma área de 15 milhões de
metros quadrados, tem como
objetivo estimular as exportações
por meio de incentivos e
facilidades logísticas às indústrias,
tornando-as mais competitivas.
Com esse projeto-piloto, a
Infraero já arrecadou R$ 13,8 mil
com a concessão de áreas e a
entrepostagem dos insumos e
produtos para exportação.
CHEMECOL Aditivo para motor a diesel reduz consumo de combustível e a emisssão de poluentes
A VEZ DO PLÁSTICO
De todos os itens que compõem
um veículo, 15% são de materiais
plásticos. De acordo com o
Instituto Nacional do Plástico
(INP), o percentual vai aumentar
com as novas aplicações do
produto, incentivadas pelo
desenvolvimento de novas resinas
e artefatos de plásticos pelas
indústrias de transformados.
Com o objetivo de gerar novos
negócios no segmento, o INP, em
conjunto com outras associações,
entidades, empresas e administrações
públicas brasileiras e do Mercosul,
participa em novembro, em
Santo André (SP), da primeira
Rodada de Negócios – Plásticos.
Informações no site
www.rodadadoplastico.com.br
A QUÍMICA JOGA A FAVOR
reocupadas em atender às necessidades
do consumidor e às
exigências das autoridades
ambientalistas, a Chemecol
e a Purifilt lançaram dois
produtos que reduzem a
poluição provocada por
emissão de gases.
O Chemecol EC-1500 é um
aditivo não-metálico para
motores a diesel. Sua formulação reduz o consumo
de combustível e a emissão
de gases tóxicos, mantém
as partes internas do motor
limpas e melhora sua per-
P
formance. Testes realizados
pela empresa constataram
uma redução de consumo
de combustível entre 3% a
7% e emissões de fumaça
de até 60% - a emissão de
gás carbônico também sofreu redução significativa. O
produto deve ser misturado
nos tanques.
O Purifilt Eletrostatic
Process, é um purificador
eletrostático de combustíveis que separa água e outros líquidos contaminantes
do diesel. O produto reduz
em 84% o nível de poluição
que sai pelo escapamento
do veículo. Para chegar a
esse índice, é feito um processo de separação eletrostática. O purificador pode
ser aplicado em óleo diesel
e biodiesel.
Para obter mais informações sobre o produto e
como adquirir, ligue para
(11) 4330-4701 ou acesse
www.purifilt.com.br. O aditivo da Chemecol só estará
disponível no Brasil no final
do ano. Mais informações
no (11) 2165-1520.
(Por Alice Carvalho)
“O que deve continuar é a falta de coragem, ou de interesse,
ou de discernimento para fazer o necessário-audacioso”
0PINIÃO
ALEXANDRE GARCIA
Os desafios de 2007
rasília (Alô) - Quando Lula ganhou seu primeiro mandato, o primeiro ano de governo terminou com crescimento zero do PIB.
Ainda havia desconfiança sobre a “Carta
ao Povo Brasileiro”, que garantia cumprimento das obrigações internacionais e
controle fiscal e monetário. Havia também o
medo - não apenas de Regina Duarte - de que a
CUT invadisse as fábricas e o MST paralisasse o
campo. Agora, algumas cassandras ainda imaginam que finalmente Lula e o seu (?) PT vão
mostrar as garrinhas. Prefiro ficar entre os que
não esperam surpresas nem grandes mudanças. Não há, mesmo, no mundo de hoje, outra
receita que não a de controle fiscal e monetário para manter a economia estável. Lamentavelmente, o que deve continuar também é a
falta de coragem, ou de interesse, ou de discernimento para fazer o necessário-audacioso.
Há algumas questões óbvias que precisam
ser enfrentadas: o déficit da Previdência, que
em 2007 passa dos R$ 50 bilhões se algo não
for feito; os gastos públicos, sempre crescentes, que secam os investimentos; a falta de segurança pública que nos aterroriza; a educação ruim, que nos rouba o futuro; e os impostos gigantescos, os juros altíssimos e... o mau
escoamento da riqueza, que vai aos trambolhões, mais por mérito de heróis que se sacrificam, fingindo que temos condições de transportar e exportar.
O presidente reeleito perdeu suas peças
mais importantes, ao longo dos escândalos
dos últimos dois anos. Vai precisar de um time
novo. Vai precisar de gente que recupere a
credibilidade em torno da presidência. No
Congresso, vai precisar de muito mais. A opo-
B
sição vai ter o Senado. Ninguém terá a Câmara sem o PMDB. Então, Lula vai de novo depender do PMDB de Sarney, Jader e Renan. Não
seria mais fácil Lula entrar logo no PMDB, já
que o PT, segundo ele próprio, o traiu tanto?
Dificilmente ele cometeria esse sacrilégio,
ainda que pragmático.
Pode ser um ano difícil. Se a locomotiva do
mundo, a economia americana, realmente desaquecer, o Brasil, que só ganhou do Haiti em
crescimento latino-americano neste ano,
pode crescer ainda menos no ano que vem,
com o governo federal tendo mais contas a
pagar, inclusive as decorrentes do ano eleitoral. Aí, vai ser complicado. A oposição vai cobrar muito. E mais, vai fundo no dossiê, no dinheiro da mala, no Lulinha, nos sanguessugas
e mensaleiros. O PT vai sentir saudades dos
tempos de oposição porque agora tem telhado de vidro, diferente dos tempos em que tinha as pedras e ajudou a derrubar Collor que,
aliás, vai estar no Senado, a câmara julgadora de presidentes.
Por isso, com a economia pesando, as contas
estatais mais ainda, a oposição cobrando e o
Congresso sem maioria, o presidente vai ter
que ler história contemporânea espanhola para
saber mais sobre o Pacto de Moncloa. Em 1977,
a direita e a esquerda, que haviam se agredido
sem piedade na Guerra Civil, fizeram um pacto
pela Espanha. Em 30 anos, esse pacto político e
econômico elevou a Espanha a um grau de desenvolvimento invejável. No Brasil sem pacto,
haverá um fator a menos a irritar as relações
entre Lula e o PSDB. O presidente já não poderá
falar de “herança maldita”. Porque passa a ser
herdeiro dele mesmo.
18
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
TECNOLOGIA
A CARA DO
FUTURO
O SALÃO DO AUTOMÓVEL DE SÃO PAULO TROUXE UMA SÉRIE DE CARROS CONCEITOS
QUE VÃO DETERMINAR COMO SERÃO OS VEÍCULOS NOS PRÓXIMOS ANOS
POR
RICARDO BALLARINE
m carro confortável, com todos os comandos à mão do motorista, com
design ousado, que incorpora tendências esportivas às soluções de engenharia, e ecologicamente correto. Assim poderia ser descrito o carro do
futuro, com base nos conceitos apresentados no Salão Internacional do
Automóvel de São Paulo, que aconteceu em outubro. Maior evento da indústria automobilística da América Latina, a 24ª edição do Salão reuniu 155 expositores para
um público de mais de 550 mil pessoas, em dez dias de exposição. Numa área de 90
mil metros quadrados, os visitantes puderam conhecer as tendências de design que
as montadoras estão preparando para os próximos anos.
O Anhembi, local da exposição, foi dividido em duas seções. Além da área das
montadoras, um espaço para tunados, sons automotivos e blindagem chamou a
atenção dos visitantes. As amostras incluíam porta-malas com três monitores de
TV, aparelhagem com dezenas de milhares de potência, blindagens conceituais,
portas transformadas em asas, além de beldades que faziam o deleite de quem visitava a exposição em busca de conhecimento tecnológico. Os flashes das máquinas fotográficas espocavam tanto para uma máquina da Ferrari como para as modelos em frente a um carro tunado.
Nas páginas seguintes, a Revista CNT Transporte Atual selecionou o que de mais
importante foi exposto no Salão, no quesito carro conceito.
U
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
19
STOLA
CARRO DE CINEMA
primeira vista, o observador tem a
impressão de estar no set de filmagens do “Batman”. Os olhos insistem
em enxergar o Batmóvel, mas o que
surge à frente é o Exelero, um projeto especial
da italiana Stola. Os dados técnicos dão conta
do impacto para quem bate de frente com essa
obra. Mede 5,8 metros, pesa 2,6 toneladas, tem
motor V12 biturbo de 700 cv e velocidade máxima de 400 km/h – em testes na Itália, alcan-
À
çou 350 km/h, mas faltou pista para a potência
máxima.
Segundo o engenheiro de projetos da Stola, José
Luiz Seabra de Oliveira, o carro tem valor de mercado
de 3 milhões de euros (cerca de R$ 9 milhões). Apenas
duas unidades foram produzidas, e uma delas estava
exposta no Salão. Não haverá produção em série, apenas encomendas. “Dois brasileiros demonstraram interesse e devem viajar para a Itália em breve”, diz Oliveira, sem revelar o nome dos interessados.
FOTO
S MA
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OBO
20
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
TOYOTA
MAHINDRA/CHANGAN
INVASÃO ASIÁTICA
uas marcas de dois países emergentes, com potenciais e desempenhos
superiores ao Brasil, estão desembarcando com gana de conquistar
mercados. Sem muito alarde, a Changan, principal montadora chinesa, e a Mahindra, indiana, começam a vender seus carros no próximo
ano. A plataforma de lançamento foi o Salão
de SP. Nada de conceitos.
A Mahindra começa a produzir numa fábrica em Manaus, em janeiro. O investimento inicial é de US$ 15 milhões, com previsão
de aporte de até US$ 150 milhões. As vendas começam em abril, e a expectativa da
empresa é comercializar 200 unidades por
mês dos seus modelos utilitários, picapes e
SUVs. O plano é transformar a fábrica de
D
CONCEITOS ECOLÓGICOS
fabricante japonesa Toyota trouxe dois carros
conceitos para o Salão: o Lexus LF-A e Fine T.
Sem previsão de produção comercial, os veículos servem como lançamentos de tendência de
design e tecnologia.
A preocupação com o meio ambiente é a tônica do carro conceitual da Toyota. Os motores são híbridos, movidos
a eletricidade e hidrogênio, categoria ainda inédita no
mundo. A montadora se vale da experiência de ser a número 1 em vendas de modelos híbridos nos Estados Unidos
e Japão, com carros a diesel e eletricidade.
Outras tendências. Volante em forma de manche, portas que se abrem como asas, rodas que giram 360º com
sistema de esterçamento independente, tecnologia driveby-wire, importada da Fórmula 1 – a transmissão é feita no
volante, ao toque de botão, tudo eletrônico. O item conforto é elevado ao máximo. O banco gira para receber o motorista, que senta sem precisar entrar no carro. O assento
então se move e se ajusta às medidas da pessoa, enquanto o carro dá as boas-vindas ao dono. Além disso,o Fine-T
é totalmente reciclado.
A
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
VOLKSWAGEN
Manaus em ponto de exportação para a
América Latina.
Antes da Chery, que promete chegar ao
Brasil em 2007, para produzir carros populares, a China coloca seus pés no mercado
nacional com o utilitário Chana (foto), em
cinco versões. A previsão, segundo o diretor-técnico do grupo Tricos, que vai importar os carros, Mário Santos, é de uma venda de 2.000 a 2.500 unidades no primeiro
ano – na China, as vendas da Changan alcançam 900 mil veículos/ano. O preço inicial é de R$ 26 mil.
A Changan está entre as 20 maiores empresas da China e ocupa espaço também
na lista das 20 principais montadoras
mundiais.
MODELO HÍBRIDO
Volkswagen trouxe para o Brasil o carro que foi
sensação no Salão de Detroit, em 2004. O Concept
T reúne tendências de design de modelos offroad e
esportivo, com tecnologia avançada. O desenho do
carro elimina os ângulos retos, sem perder as características de cada modelo, robustez e sofisticação. Na parte interna, o carro vem equipado com palm top com acesso GPS. O
maior destaque é para a apresentação das informações de
desempenho do carro. Com um toque, o motorista projeta
dados como velocidade e consumo no pára-brisa.
A
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22
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
RENAULT
FIAT
LABORATÓRIO AO VIVO
m dos motivos de as
montadoras levarem carros conceitos às exposições é captar a reação do
público. Carros são lançados se
bem aceitos nessas mostras que
percorrem o mundo.
É o caso, por exemplo, da Nissan, que em 2003, lançou um conceito no Salão de Genebra para
ser produzido comercialmente
três anos depois, com o nome de
Qashquaique. Para o Salão brasileiro, trouxe o Zaroot, que segue
a tendência de mixar identidade
esportiva e um formato offroad.
Possui portas em asa e não tem
colunas centrais. .
A Ford apresentou no Salão de
SP o Fiesta Trail Concept, um conceito do modelo para offroad.
Trouxe também o Fairlane, uma
espécie de caminhonete sem ca-
U
çamba que abriga até oito pessoas confortavelmente.
Já a Hyundai aposta na tendência de múltiplos conceitos, a
mistura de elementos esportivos
e aventureiros. É o caso do HCD9
Talus, que segue a linha do FCC da
Fiat e do Concept T da VW. As linhas de design seguem as características de esportividade, enquanto o desempenho privilegia a
alta performance. Não possui previsão de lançamento.
A Renault trouxe para o Salão o
bólido que deu o primeiro título
mundial de F-1 para Fernando Alonso, no ano passado. Mas o principal
experimento exposto pela montadora francesa foi o Fluence, um
cupê esportivo, com acabamento
em alumínio e um controle de joystick para selecionar as diversas
funções e comandos.
100% BRASILEIRO
m carro totalmente desenvolvido em Betim
(MG), nas pranchetas de
um laboratório nacional.
Esse é o FCC Adventure, que a Fiat
expôs pela primeira vez. O carro foi
pensado para ser apresentado em
São Paulo e já tem convites para ir
à versão argentina.
Criado pelo engenheiro alemão
Peter Fassbender, no Centro Estilo
Brasil, segue a tendência mundial
de unir offroad ao esportivo. Cupê
para duas pessoas, possui suspensão reforçada, altura elevada e linhas laterais características de um
U
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
CHEVROLET
FICÇÃO CIENTÍFICA DA GM
o entrar no Hall de Tecnologia da Chevrolet, tem-se
a sensação de sair do set de “Batman” e entrar nas
filmagens de “Eu, Robô”, versão cinematográfica
da obra ficção científica de Isaac Asimov – para
quem lembra do carro eletromagnético usado por Will Smith.
O Autonomy Concept foi o mais futurista do Salão. Rebaixado, mas robusto, desenhado como um bloco único, o carro
funciona com pilhas de combustível. Além disso, o veículo
possui sistema drive-by-wire, que substitui o controle mecânico pelo eletrônico em todo o carro.
A GM também trouxe o Camaro Concept, com previsão de
fabricação para final de 2008, na unidade do Canadá. O modelo renova o clássico da montadora, com linhas modernas,
sem perder as características do Camaro original.
Na esteira do lançamento do Prisma, a montadora criou o
modelo o Prisma Y, desenvolvido no Brasil. Segue a linha offroad e por enquanto é só um exercício de estilo.
A
esportivo. A linha Adventure foi escolhida por ser líder de vendas em
todos os modelos da Fiat, segundo
a gerente de imprensa da montadora, Elisa Sarti.
Outro conceito lançado pela Fiat
foi o Palio elétrico, parceria da
montadora com a Itaipu Hidrelétrica e a suíça KWO – ambas do setor
energético. O carro passará por desenvolvimento para chegar a um
modelo que não emita poluição e
ruído. O conceito apresentado no
Salão possui 120 km de autonomia,
20 cv de potência e câmbio em formato de joystick.
23
24
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
AVIAÇÃO
EXPORTAÇÃO DE
PILOTOS
COMPANHIAS AÉREAS CONTRATAM PROFISSIONAIS
DO PAÍS, CONSIDERADOS ALTAMENTE QUALIFICADOS
POR
HÁ
33
PILOTOS
BRASILEIROS
NA EMIRATES
AIRLINES
ALINE RESKALLA
elo menos 500 pilotos
de avião qualificados e
experientes estão disponíveis do mercado
brasileiro. O “luxo”, possível
graças à agonia da Varig e à especialização do trabalhador
brasileiro, tem atraído a atenção de empresas aéreas internacionais. Companhias mundiais, sobretudo da China, Coréia, Japão e Índia correm atrás
de profissionais capacitados
para sustentar sua expansão.
Dados do Sindicato Nacional
P
dos Aeronautas dão conta de
um número entre 300 e 400 pilotos brasileiros vivendo fora do
Brasil. Só nos últimos seis meses, estima-se que de 100 a 150
pilotos tenham partido do país.
O crescimento da aviação nos
países que atraem a mão-deobra brasileira acompanha a expansão econômica, principalmente nas chamadas nações
emergentes. A China, que assusta o mundo com seu crescimento
acelerado (10,7% até setembro),
tem importantes companhias,
como Shenzhen Airlines e Air Macau, todas com pilotos brasileiros nos seus quadros. O país
asiático almeja dobrar a capacidade de transporte de passageiros até 2010.
A exportação de pilotos
brasileiros não é novidade
para os profissionais da área.
Foi assim quando a Transbrasil, em 2001, e a Vasp, três
anos depois, demitiram um total próximo de 7.000 funcionários. A crise da Varig, que culminou com o afastamento de
MARCELO ALVES / FUTURA PRESS
cerca de 5.000 pessoas, foi
considerada a pior pelos aeronautas e aeroviários.
No caso da Vasp, a maioria
dos ex-funcionários acabaram
sendo aproveitados pelas empresas concorrentes, especialmente no mercado interno, já
que a aviação mundial não vivia um momento de grande
aquecimento como agora. Exmecânico da empresa, Cláudio
Chagas Cruz, 51 anos, não foi
para o exterior em busca de
emprego, mas tem seis ex-co-
legas e amigos que trabalham
em companhias da Espanha e
Portugal.
Depois de se aposentar, tornou-se membro da comissão de
ex-funcionários que acompanha
o processo de intervenção da
companhia, que segundo ele tem
planos de voltar a voar. “Principalmente na parte de estrutura e
chapeamento de aeronave, os
profissionais brasileiros são bastante qualificados e atraem cada
vez mais as empresas estrangeiras, que estão em expansão e
não encontram mão-de-obra em
seus países”, afirma.
As rotas internacionais da empresa e o rigor dos treinamentos e
avaliações criaram gerações de
empregados muito preparados.
Boa parte dos demitidos tinha
mais de 30 anos de profissão. Na
época da Transbrasil, por exemplo,
estava surgindo a Gol, que absorveu boa parte da mão-de-obra.
Hoje, para quem não quer aguardar vagas em outra empresa brasileira, sobra a opção de cruzar os
mares em busca da sorte.
O comandante Paulo Bastos,
46 anos, de Porto Alegre, arruma as malas para embarcar
para a Coréia do Sul no final de
novembro. Com 29 anos de experiência como piloto, sendo
26 só de Varig, Bastos já viajou
o mundo comandando vôos internacionais, mas nunca morou fora da sua cidade natal.
“O bom seria trabalhar no Brasil, mas como tenho que sobreviver vou para uma companhia
internacional pensando no
novo desafio.”
26
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
ROTA PARA
O EXTERIOR
Confira qual é o cenário para
o profissional de aviação
OPORTUNIDADES
• Variam de empregos
temporários de dois meses,
impulsionados pela alta
temporada no Hemisfério
Norte, a vagas permanentes
• São maiores na Europa e
Ásia, onde se concentram
30 das principais
companhias
• Os pilotos brasileiros
são reconhecidos
internacionalmente por sua
formação e qualificação
• Só a China deve contratar
10 mil profissionais da
aviação nos próximos
dez anos
EXIGÊNCIAS
• Pilotos que queiram
trabalhar no exterior
precisam de uma licença
internacional e um visto
de trabalho, que
eventualmente pode
ser providenciado
pela empresa.
• Todo profissional de aviação
precisa ter suas licenças
e/ou habilitações em dia
com a Anac
• Quanto mais cursos de
qualificação, mais valorizado
o currículo e maiores as
chances de colocação no
mercado internacional
• Pilotos ou outros
funcionários de aviação que
queiram trabalhar nos EUA
precisam morar no país ou
ter cidadania americana
DESAFIOS
• O domínio de idiomas
estrangeiros é cada
vez mais exigido
• Mudar-se para um outro
país, com pessoas e
costumes desconhecidos,
exige desenvoltura e
disposição dos profissionais
Fontes: Anac, SNA e consultores
CAPACITAÇÃO Sest/Senat de Belo Horizonte (MG) oferece curso referência na formação de mão-d
O brasileiro parte para um
treinamento já sabendo que será
um dos pilotos de vôos internacionais da Korean Air, principal
empresa aérea sul-coreana. O
Boeing 777 que ele dirigia pela
Varig será seu avião na Coréia
também. A empresa voa para os
Estados Unidos, Austrália, Nova
Zelândia e toda a Europa. Ele tem
dois filhos, mas vai só para seu
novo destino. O contrato de Bastos prevê dez dias de folga a
cada mês, seguidos de 20 dias de
trabalho ininterruptos. Mesmo
comandando vôos com saída da
Coréia, o piloto pretende morar
nos Estados Unidos. “São cultu-
ras diferentes da nossa e o melhor é procurar um lugar onde
haja boa aceitação para brasileiros e um bom custo de vida.”
Junto com ele, vão outros
cinco pilotos brasileiros do Rio
de Janeiro e de São Paulo para
trabalhar na mesma companhia. Eram 12 concorrentes do
Brasil, que foram à Coréia participar de uma semana de testes. Antes, Bastos chegou a receber propostas de trabalho da
Índia e do Oriente Médio, mas
considerou a oferta da Coréia
mais atrativa.
Bastos lembra que, há pouco
mais de um ano, um piloto do
Brasil que procurasse grandes
companhias mundiais como a
européia Ryanair recebia um não
como resposta. “De um ano para
o outro, o crescimento explodiu e
elas próprias vieram até aqui
atrás de pilotos brasileiros.”
Na sede da Associação de Pilotos do Rio Grande do Sul, circula a informação de que dez pilotos estão indo nas próximas semanas para Índia, China e outros
países asiáticos. A companhia
China Airlines já avisou a associação também que virá ao Brasil
fazer uma grande seleção.
Ronald Van der Put, ex-comandante da Varig, levou a mu-
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
PEDRO VILELA
ENSINO
Sest/Senat oferece curso na área
e-obra qualificada para a aviação civil
lher e os três filhos para uma experiência nova. Desde agosto,
vive em Dubai, nos Emirados
Árabes, onde foi contratado
como comandante de um Boeing
777 da Emirates Airlines. Está
concluindo o período de treinamento, e se diz encantado com
as condições de trabalho locais.
Com ele, já são 33 pilotos
brasileiros na Emirates Airlines,
dos quais cinco contratados
como comandantes. “Os que foram selecionados como primeiro oficiais são treinados para
serem futuros comandantes, e a
promoção deles é prevista para
ocorrer em três anos”, diz.
Ele conta que se demitiu da
Varig em junho, após 19 anos de
serviço como gerente-geral de
segurança, ao receber a notícia
da contratação pela Emirates.
Portanto, quando a Varig foi vendida, não fazia mais parte do
quadro de funcionários. “A Varig
me deu todas as condições e
oportunidades para me capacitar
e desenvolver, e foi muito triste
me afastar e vê-la se despedaçando, perdendo funcionários altamente gabaritados, nos quais a
empresa investiu pesadamente
em capacitação.”
Qualificação que hoje faz a diferença. Além de obter um cargo
importante de comandante, a
empresa de Dubai oferece, segundo ele, inúmeras oportunidades de desenvolvimento profissional. “É uma empresa em contínua expansão, com saúde financeira ótima e administração afinadíssima.”
Nos primeiros meses desse
desafio que é viver do outro
lado do mundo, em uma cultura
completamente diferente da
brasileira, os resultados são
para lá de positivos. Os filhos
estão entusiasmados e as condições de trabalho impressionam. O contrato prevê o pagamento dos estudos de até três
dependentes, oferece uma casa
de quatro quartos num condomínio com toda a estrutura de
lazer e esportes, incluídos os
Interessados em trabalhar
com aviação têm, em Belo
Horizonte, um ponto de partida importante. O Sest/Senat
da capital mineira abriga uma
Escola de Aviação Civil que
está se tornando referência
no mercado brasileiro na formação de mão-de-obra para o
setor. A unidade oferece curso
de mecânico de manutenção
de aeronaves homologado
pela Anac (Agência Nacional
de aviação civil.
O curso está dividido em
quatro módulos - básico, célula, grupo motopropulsor e
aviônicos - com duração de
um ano e seis meses a dois
anos. No módulo básico, o
aluno aprende, em 300 horasaula, noções de ferramentas,
aerodinâmica e conhecimentos gerais da aviação. "É uma
preparação para os módulos
especializados, que incluem
estudo sobre a estrutura da
aeronave, motores e turbinas,
além das partes elétrica e
mecânica", diz o coordenador
da escola, Vladimir Campolina.
Os módulos especializados
têm carga horária de 710
horas/aula e duram aproximadamente sete meses cada
um. No módulo célula, os
alunos estudam toda estrutura
básica das aeronaves e seus
sistemas diversos. No grupo
motopropulsor, aprendem
sobre diferentes tipos e tecnologia de motores empregados na aviação. No aviônicos, é
abordada toda parte elétrica e
eletrônica das aeronaves.
Para se ingressar no curso,
basta que o candidato tenha
segundo grau completo e se
inscreva em uma das três turmas anuais. O módulo básico é
pré-requisito para a aprendizagem dos outros três
módulos. O preço da matrícula
é R$ 60 para qualquer um dos
quatro módulos, que podem
ser feitos isoladamente. O
módulo básico custa R$ 680,
dividido em quatro mensalidades. Os especializados custam R$ 1.380, em seis mensalidades de R$ 230.
Segundo Campolina, todos
os formandos precisam fazer,
ao final do curso, uma prova
da Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil). Dos 25 alunos
do Sest/Senat de Belo
Horizonte que fizeram a última prova em setembro, apenas três foram reprovados, um
nível de aprovação de 88%,
acima da média nacional, que
é de 37,5%.
O salário inicial para
mecânico de aeronaves é de
R$ 2.500 na capital mineira, e
pode chegar a R$ 6.000. Em
São Paulo, o valor salta para
R$ 15 mil no caso dos mais
experientes.
SERVIÇO
Sest/Senat Belo Horizonte
Rua Presidente Manoel Soares
Costa, nº 01, Bairro Serra Verde
Telefone da unidade:
(31) 3408-1500
Site: www.sestsenat.org.br
27
28
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
SÓ NOS ÚLTIMOS SEIS MESES, ESTIMA-SE
MERCADO
Setor vive dias de expansão
O momento é positivo
para as companhias aéreas
que operam no Brasil. No ano
passado, o setor cresceu 19%
na comparação com 2004.
Neste ano, até outubro, houve
alta de 15%, segundo dados
da Anac (Asgência Nacional
de Aviação Civil). A presidente
do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziela Baggio,
está otimista para o futuro,
mas observa que o equilíbrio
do mercado de trabalho ainda
leva dois ou três anos. “Neste
período, podemos ter até falta de pilotos qualificados se a
aviação no país conservar
seu ritmo de crescimento.”
A TAM é uma das empresas que mais cresce. Hoje, a
frota é de 91 aeronaves e o
plano é chegar ao final deste
ano com no mínimo 96 - até
2010, a meta é alcançar 127
aviões. O boletim da Anac referente a setembro mostra a
TAM com 60% dos vôos internacionais e 51,6% do mercado doméstico. Há um ano, a
aérea tinha 40,8%. Segundo a
assessoria de imprensa da
TAM, a empresa está priorizando contratações de exfuncionários da Varig, principalmente para os cargos que
exigem mais experiência.
Conforme dados da empresa, hoje são 10.471 funcionários, número 18,6% maior
do que o que ela tinha no ano
passado. O balanço de resul-
tados da empresa mostra
que, entre janeiro a junho
deste ano, a TAM contratou
1.410 pessoas, sendo 669 aeronautas e 741 aeroviários. A
TAM hoje é a principal companhia brasileira para viagens
internacionais, com vôos diretos para países da América
Latina, Nova York e Miami
(EUA), Paris e Londres.
Já a Gol e a BRA não quiseram divulgar planos de contratação de funcionários da
Varig. A Gol, segundo sua assessoria de imprensa, diz que
neste ano foram contratados
239 pilotos de um total de 930
que a empresa mantém. O número geral de funcionários já
chega a 8.100 e a companhia
não pára de crescer. Saiu de
27,4% de participação nos
vôos dentro do país, em setembro de 2005, para 36,1%
para este ano. Nos últimos
meses, a Gol anunciou novos
vôos de São Paulo para Florianópolis e São Luís.
A BRA também iniciou novos vôos regulares, que garantiram expansão do quadro
de funcionários. Os mais recentes são vôos para Lisboa
com saídas de Natal, Fortaleza, Recife e Porto Seguro. Antes, a empresa anunciou saídas de São Paulo e Rio de Janeiro para Madri e Lisboa.
Atualmente, são 33 destinos
no país e quatro na Europa
(vôos charters e regulares).
ATRÁS DE TALENTOS A direção da aérea China Airlines
“O ideal é
procurar um
lugar onde os
brasileiros
sejam bem
aceitos”
PAULO BASTOS, PILOTO
custos de manutenção da casa,
e um plano de saúde para a família. Além disso, tem um plano
de aposentadoria que é gerenciado por ele num banco no exterior. “Um outro ponto importantíssimo a se destacar é a segurança pessoal. Não existe
esse tipo de preocupação por
aqui. Pode-se ter um bom carro
e os filhos podem sair à noite de
táxi sem nenhuma preocupação. E as opções de lazer são
inúmeras”, diz o comandante.
QUE
150
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
29
PILOTOS TENHAM DEIXADO O PAÍS
WWW.AVIATIONBOOM.COM/DIVULGAÇÃO
tem planos de vir ao Brasil para selecionar pilotos para a companhia
Já o comandante Célio Eugênio Abreu Júnior, 52, do Rio de
Janeiro, com 32 anos de aviação
em aéreas nacionais, prefere ficar no Brasil. Ele sabe do assédio
das companhias internacionais
em relação aos pilotos brasileiros, pois trabalhou no Marrocos,
por dois anos, no final da década
de 80. “Na época, levei a mulher
e meus três filhos, ainda crianças, mas hoje o momento é outro
e prefiro ficar em meu país.”
Abreu Júnior saiu do Brasil para
trabalhar na Royal Air Marroc. As
crianças entraram em uma escola espanhola, uma alternativa ao
idioma mais falado na região
onde estavam, o francês.
O piloto enfrenta sua segunda crise na aviação do país.
Quando foi trabalhar em Marrocos tinha acabado de sair da
Transbrasil, justamente quando
a empresa passava por um momento frágil e dispensava funcionários. Agora vê a crise da
aérea gaúcha. Dos tempos em
Marrocos, o brasileiro guarda o
cuidado que se deve ter para
falar de religião com os marroquinos e a lembrança da convivência com outros brasileiros.
“Tínhamos um grupo de 13 pilotos brasileiros que levaram
suas famílias.”
Parte deles seguiu fazendo
carreira no exterior, como o comandante Célio Abreu, ou voltaram e conseguiram uma recolocação nas empresas do país. De
Marrocos, o brasileiro carregava
passageiros para a Europa e para
o norte da França.
O comandante conclui neste
ano o curso superior de gestão
de aviação civil. Ele está vendo
muitos amigos partirem para
experiências em terra estrangeira devido às demissões da
Varig, Vasp e Transbrasil. “O Brasil tem um bom conceito de formação profissional e a Varig
possui um centro de treinamentos com padrão internacional,
utilizado por outras empresas
do Brasil e de fora.”
A Associação de Pilotos da Varig tem recebido consultas de várias empresas internacionais interessadas em saber informações dos seus associados. De
acordo com um dos diretores da
associação, Paulo Calazans, a
instituição funciona como uma
espécie de vitrine para os caçatalentos. “As empresas nos procuram e repassamos as informações de vagas para os pilotos ou,
se for o caso, para outros profissionais.”
Calazans afirma que os ex-pilotos da Varig têm no mínimo
cinco anos de experiência. Não
é fácil formar um bom piloto. É
preciso passar por aulas teóricas e práticas nos aeroclubes e
nas empresas especializadas,
num processo que dura cerca
de quatro anos. Mais recentemente, as empresas começaram
a exigir, além da habilidade técnica, o diploma superior em
Ciências Aeronáuticas.
A realocação dos demitidos
da Varig é mais difícil para o
restante da tripulação e para os
funcionários que trabalham em
solo. Comissários, responsáveis
pelo check-in, atendentes, mecânicos e auxiliares não têm a
mesma chance de trabalhar em
outros países.
De acordo com a presidente
do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Selma Balbino, os
que não foram absorvidos por
outras companhias estão mudando de área. “Aeromoças
vão para empresas de turismo,
funcionários de atendimento
vão ser taxistas”, diz. De acordo com ela, em geral, seja no
setor de aviação ou não, eles
vão com salários mais baixos.
Já para os funcionários das
áreas técnicas e de manutenção é mais fácil conseguir recolocação em outras companhias brasileiras.
t
30
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
PORTOS
TROCA DE
EXPERIÊNCIAS
ANTAQ PROMOVE INTERCÂMBIO COM AQUAVIÁRIOS
EUROPEUS PARA INTENSIFICAR A RELAÇÃO DE
COMÉRCIO ENTRE O BRASIL E O CONTINENTE
POR
transporte aquaviário
da Europa é um modelo de funcionamento.
A desburocratização e
agilidade na entrada e saída de
mercadorias do continente, a
eficiente política alfandegária,
a excelente estrutura dos portos - que primam pela tecnologia - e a boa relação entre população das cidades portuárias
e os terminais são algumas características que podem servir
de exemplo para a melhoria do
setor no Brasil. Pelo menos é o
que espera a Antaq (Agência
Nacional de Transportes Aqua-
O
SANDRA CARVALHO
viários), que está realizando um
intercâmbio com o setor aquaviário europeu. O objetivo é trocar informações sobre experiências aplicadas na Europa e
no Brasil para melhorar a relação de comércio e investimentos entre o país e o continente.
A troca de idéias entre o Brasil e os países europeus foi uma
iniciativa da Comissão Européia
de Transportes Marítimos, instalada em Brasília. O primeiro encontro ocorreu em setembro,
quando os dois grupos assinaram um termo formalizando os
diálogos. A delegação européia
foi formada especialmente para
manter uma conversa constante
com o país. “O Brasil é muito importante para a Europa, pois é
um país com uma costa litorânea imensa, com um fluxo de
movimentação de cargas nos
portos muito grande, e praticamente metade das mercadorias
que saem do país tem a Europa
como destino”, diz o francês Fabian Delcros, chefe do setor de
comércio da comissão, e que
está no Brasil há três meses.
Do ponto de vista europeu, os
diálogos serão importantes para
facilitar investimentos e a instala-
ção de empresas operadoras nos
portos brasileiros. “O Brasil é um
mercado estratégico e com grande potencial de desenvolvimento,
mas já sabemos que seus principais portos têm grandes problemas de estrangulamento, estrutura e estão endividados. Por isso,
queremos ajudar o país a resolver
esses problemas, fornecendo informações e idéias de ações de
sucesso na Europa. Isso facilitará
o comércio e os investimentos europeus no país”, afirma Delcros.
Outro objetivo da Europa é
acabar com uma espécie de cartel
que vem ocorrendo entre as com-
ISTOCKPHOTO
INTERCÂMBIO
ENTRE PORTOS
OBJETIVOS EUROPEUS
• Conhecer a estrutura
aquaviária brasileira
• Ajudar o país a resolver os
principais entraves do setor
• Facilitar o comércio entre o
Brasil e os países europeus
• Investir no setor
• Acabar com práticas
anti-concorrenciais de
companhias de navegação
OBJETIVOS BRASILEIROS
• Conhecer a estrutura
aquaviária européia
• Adquirir informações de
experiências positivas na
Europa que podem ajudar
a resolver os principais
entraves do setor aquaviário
• Facilitar o comércio entre
Brasil e Europa
• Agilizar o tráfego portuário
• Atrair investimentos
PORTO DE ROTERDÃ Maior porto europeu está fazendo intercâmbio com o Porto de Santos
“Os países
europeus têm
uma eficiente
e ágil política
alfandegária,
que evita
atrasos dos
navios
nos portos”
NÁJLA MALUF, assessora
internacional da Antaq.
panhias marítimas de navegação
no Brasil e na Europa. “As companhias fazem um acordo e determinam o preço que deve ser cobrado. É uma prática anti-concorrencial que encarece o transporte
aquaviário em todo o mundo.”
Conforme Delcros, por meio do
diálogo entre os países será possível acabar com essa prática.
Do ponto de vista brasileiro, os
objetivos principais são resolver os
problemas do setor, estudando casos de sucesso na Europa, e facilitar
o comércio entre o Brasil e o continente. “Os países europeus têm
uma eficiente e ágil política alfan-
degária, que evita atrasos dos navios nos portos. Quando um navio
entra na Europa, não precisa passar
em todas as alfândegas. As informações são distribuídas entre todos os portos e isso agiliza a operação. É um exemplo positivo que estamos analisando”, diz Nájla Maluf,
assessora internacional da Antaq.
Nos três primeiros encontros,
a delegação européia e os membros da Antaq apresentaram os
setores. Nos próximos encontros,
ainda sem data marcada, os grupos vão aprofundar o assunto e
também debater soluções encontradas na Europa para resolver
problemas como endividamento e
falta de expansão e de investimentos nos portos brasileiros.
As cidades portuárias e as direções de portos brasileiros e europeus também têm feito intercâmbio. Em setembro, a cidade
holandesa de Roterdã, onde se encontra o maior e mais movimentado porto da Europa, e o município
de Santos (SP), onde está o seu
equivalente brasileiro, assinaram
uma carta de intenções. O objetivo é trocar informações sobre os
dois portos e seu entorno nas
mais variadas áreas - assuntos
portuários, comércio, investimen-
32
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
OPINIÃO
A importância do intercâmbio entre portos
Em agosto deste ano,
comitiva brasileira formada por empresários, jornalistas, administradores públicos e representantes da
embaixada nos Estados
Unidos visitou os portos
de Los Angeles, Long
Beach e Houston. Tivemos
a honra de representar a
Autoridade Portuária de
Santos naquele evento.
A experiência foi das
mais gratificantes. Em
Houston, por exemplo, tivemos a oportunidade de
conhecer o projeto de ampliação daquele porto,
cujo desenvolvimento, traçado pela Autoridade Portuária local, demandou intenso processo de negociação, seja com os moradores do entorno ao empreendimento, seja com as
autoridades ambientais
norte-americanas.
Não obstante as diferenças sócio-econômicas e de legislação entre os países, observamos que as dificuldades
a serem superadas, para um
desenvolvimento social e
ecologicamente sustentável
das atividades portuárias,
são comuns, como também
são comuns as relacionadas à
modernização operacional e
seu financiamento, à gestão
portuária, ao porto-indústria,
ao aproveitamento turístico e
cultural da zona portuária e à
integração harmoniosa entre
porto e cidade, entre outras.
Nesse sentido, nos últimos anos, o porto de Santos
vem desenvolvendo intenso
trabalho cujos resultados
estão concretizados em convênios já celebrados junto
aos portos de Barcelona (Espanha), Las Palmas (Ilhas
Canárias), Marselha (França),
Houston (EUA) e Ning Bo
(China) e em fase final de
negociação, junto ao porto
de Nápoles (Itália).
Tais convênios, num primeiro momento, se atêm ao
intercâmbio de experiências
e informações, tais como o
projeto de informatização
denominado Porto sem Papel, cuja apresentação acontece em novembro pela comitiva do porto de Barcelona
em visita a Santos.
Além da troca de knowhow, o que se procura é uma
estratégia mais ativa de internacionalização dos portos, criando espaços institucionais de troca de comércio,
via parcerias que permitam,
por exemplo, a ampliação
das linhas de navegação.
Daí a importância desse
intercâmbio entre portos nor-
te-americanos, europeus e
asiáticos com os sul-americanos. A promoção dos chamados “negócios do porto”, considerando todas as especificidades da atividade portuária,
tende a se refletir ao longo
das cadeias logísticas de exportação e importação.
Particularmente, Santos,
com seu projeto já em andamento de aprofundamento
do canal de navegação e bacias de evolução, somado ao
projeto Barnabé-Bagres de
ampliação das áreas operacionais, que visa dobrar a
capacidade de movimentação de carga, torna-se objeto de interesse de unidades
congêneres
localizadas
noutros países, significando
oportunidades de negócio
para a economia doméstica
e possibilidade de uma
maior inserção desta no comércio mundial.
Essa promoção de maiores oportunidades é uma das
tarefas dos gestores públicos
à frente das Autoridades Portuárias nacionais. Sendo o intercâmbio entre portos uma
das estratégias na consecução deste objetivo.
Fabrizio Pierdomenico
é diretor comercial e de
desenvolvimento da Codesp
PORTO DE SANTOS
tos, administração pública municipal, proteção ambiental, bem-estar social e, principalmente, integração entre porto e cidade. A
carta de intenções foi assinada
pelo prefeito de Santos, João Paulo Tavares Papa, e por Ivo Opstelten, prefeito de Roterdã.
O cônsul honorário da Holanda e representante do porto europeu no Brasil, André Letieri,
também está trocando informações com a administração do porto de Santos. “Queremos fomentar o desenvolvimento de negócios de empresas holandesas no
Brasil e, para isso, precisamos co-
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
33
NAIR BUENO/ DI·RIO DO LITORAL/FUTURA PRESS
ANTAQ/DIVULGAÇÃO
Administração pesquisa bons exemplos para melhorar estrutura portuária
“Queremos
fomentar o
crescimento
de negócios
de empresas
holandesas
no Brasil”
ANDRÉ LETIERI, representante do
porto de Roterdã no Brasil
nhecer a estrutura portuária do
país”, afirma Letieri.
O diretor comercial de Santos, Fabrízzio Pierdomênico, diz
que, por mais que existam diferenças entre os dois portos, algumas ações positivas podem
ser aplicadas. “Não temos pretensão em ter tanta tecnologia
e automatização como tem Roterdã, pois não temos o perfil do
porto holandês, mas muitas experiências de administração e
expansão podem ser aplicadas
em Santos”, diz.
Pierdomênico explica que
em Roterdã há uma forte inte-
INTERCÂMBIO Reunião da Antaq com delegação européia
gração entre porto e cidade. “ O
que queremos também é aproveitar algumas ações que fizeram a população e o poder público local se envolverem com o
porto e abraçá-lo como um patrimônio da cidade. Precisamos
ter essa harmonia aqui.”
Além de Roterdã, o diretor
de Santos também faz intercâmbio com portos do Canadá
e dos Estados Unidos. “Queremos projetar Santos no mercado internacional. Antigamente, era só um porto no
Brasil e pronto. Hoje, é conhecido mundialmente.”
O diálogo de Santos com outros portos está longe de resolver o principal problema enfrentado pelo terminal. São mais de
R$ 800 milhões em dívidas trabalhistas, geradas no tempo em que
a Codesp (Companhia Docas do
Estado de São Paulo) ainda era
operadora portuária, há mais de
13 anos. “Quando a operação
portuária passou à iniciativa privada, deixamos de ter a receita
da operação, mas as dívidas continuaram com a Codesp. Tal problema existe em praticamente
todos os portos brasileiros”, diz
Pierdomênico.
t
REPORTAGEM DE CAPA
CENÁRIO
DESOLADOR
PESQUISA RODOVIÁRIA CNT FAZ UM DIAGNÓSTICO
DAS RODOVIAS BRASILEIRAS E INDICA A NECESSIDADE
DE AUMENTO IMEDIATO DOS INVESTIMENTOS
POR SANDRA CARVALHO
FOTOS CNT/DIVULGAÇÃO
38
CNT TRANSPORTE ATUAL
elas rodovias brasileiras passam 62% do
transporte de carga e
96% do transporte de
passageiros do país. Apesar da
importância para a matriz nacional de transportes, as estradas sofrem com a falta de
investimentos e apontam para
a necessidade urgente de uma
política efetiva de transportes
e da aplicação de recursos significativos e continuados. É o
que conclui a Pesquisa Rodoviária 2006, divulgada em outubro, em Brasília, pela CNT.
Durante 39 dias, 15 equipes
avaliaram toda a malha federal
pavimentada, as rodovias concessionadas e as principais estradas estaduais, que somaram 84.382 km - 2.438 km a
mais que o ano passado.
Os pesquisadores analisaram o estado geral de conservação das estradas, levando
em consideração as condições de pavimento, sinalização e geometria da via. Também foi analisada a infra-estrutura de apoio, como a presença de borracharias, praças
de pedágio, balanças e postos
da Polícia Rodoviária. O resultado do trabalho mostra que
pouca coisa mudou em relação ao ano anterior. Nada menos que 75% das rodovias
avaliadas apresentaram al-
EDIÇÃO 135
P
SP-348 Rodovia compõe junto com a SP-310/BR-364 a ligação Limeira-São Paulo, considerada o melhor trecho
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Programa estudará acidentes
MELHOR LIGAÇÃO
São Paulo (SP) - Limeira (SP)
NOTA NA PESQUISA
100
RODOVIAS
SP-310/BR-364, SP-348
EXTENSÃO
170 km
IMPORTÂNCIA
Responsável pelo transporte
de grande parte de produtos
acabados e matérias-primas
movimentadas em São Paulo.
Juntamente com a Via
Anhangüera, a Rodovia dos
Bandeirantes compõe um
sistema rodoviário integrado,
que representa um importante
vetor de desenvolvimento dos
municípios que estão em sua
área de influência, além de
um significativo corredor
para escoar a produção de uma
das regiões economicamente
ativas do Estado.
rodoviário, segundo pesquisa da CNT
gum tipo de deficiência, contra 72% em 2005. Essa conclusão aponta para a necessidade de investimentos da ordem de R$ 22,5 bilhões para
que as rodovias fiquem em
perfeito estado e mais R$ 1 bilhão por ano para mantê-las
nessa condição.
Conforme o estudo, apenas
25% da malha avaliada apresentaram classificação positiva - 14% consideradas boas e
11% ótimas. A melhor ligação
do país, que ganhou conceito
ótimo em todos os quesitos,
Durante o feriado prolongado de 12 a 15 de outubro, foram registrados
nas rodovias federais
1.290 acidentes que mataram 79 pessoas e deixaram outras 860 feridas. A principal causa
desses sinistros, conforme a Polícia Rodoviária
Federal, é a falha humana
- o que engloba, além da
imprudência, o fato de
motoristas não enxergarem placas encobertas
por mato, buracos em
curvas e a sinalização e a
falta de acostamento nas
estradas. “Quando a gente passa numa estrada
que não tem sinalização,
é como se estivéssemos
trafegando a ermo, sem
saber o que vem pela
frente. Quando você precisa parar numa curva e
não tem um acostamento, a chance de sofrer um
acidente é muito grande”, diz o caminhoneiro
Nilton Sebastião.
Os acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras
geram um custo de R$
24,6 bilhões ao país por
ano, incluindo perda de
veículos, gastos com hospitais e funerais, segundo
apontou pesquisa do Ipea
(Instituto de Pesquisas
Econômicas e Aplicadas),
divulgada em outubro. As
despesas médico-hospita-
lares representam cerca
de 13% desse custo. Só a
internação de um acidentado no trânsito pode representar até R$ 4.000 em
um hospital.
Para detalhar os acidentes de trânsito e nortear as políticas de prevenção, o Ministério da
Saúde lançou o Viva (Sistema de Vigilância de Violência e Acidentes), que
vai levantar nos hospitais
informações não só sobre
acidentes de trânsito,
mas também sobre a
ocorrência de acidentes
de trabalho, domésticos e
de violência em geral.
São as chamadas causas
externas, a terceira maior
causa de mortes no país.
Somente no ano passado
foram 127.470 mortes.
O detalhamento, que
será feito inicialmente em
39 municípios, teve início
em outubro. Serão preenchidas fichas de notificação e informação, que
permitirão uma análise
do perfil das vítimas e das
circunstâncias em que o
acidente ou o ato violento
aconteceu. Conforme o
ministério, o detalhamento dessas informações
norteará as ações do governo em políticas públicas de prevenção mais
eficientes para combater
essas ocorrências.
39
40
CNT TRANSPORTE ATUAL
foi São Paulo-Limeira (SP)
(SP-310/BR-364 a SP-348). As
outras nove melhores ligações também estão em São
Paulo, sendo a maior parte
concessionada.
Essa conclusão é também
diagnosticada por quem conhece de perto as rodovias
brasileiras, como o caminhoneiro autônomo Francisco
Luiz. Ele está na estrada há 22
anos, mas há dois, em função
das boas estradas paulistas,
traçou uma estratégia diferente de trabalho. Viaja apenas em uma única rota e, com
isso, afirma ganhar praticamente o mesmo tanto de
quem opta por andar pelo
país inteiro.
Como a rodovia Fernão
Dias entre Belo Horizonte e
São Paulo e as rodovias concessionadas paulistas estão
em boas condições, Luiz optou por transportar cargas
somente entre as duas capitais. “Assim, tenho menos
gasto com manutenção e menos dor de cabeça com meu
caminhão. Não tenho tanto
ganho financeiro quanto gostaria, mas ganho em qualidade de vida, pois a viagem é
menos estressante”, afirma.
Mas trafegar pelas excelentes
estradas paulistas tem seu
EDIÇÃO 135
ônus: o pedágio. “Não há dúvida de que as melhores estradas estão em São Paulo. O
problema são os pedágios,
que variam entre R$ 4,80 e R$
13,60. O que não gastamos em
manutenção fica no pedágio”,
avalia Hilton Heleno de Almeida, caminhoneiro há 16 anos.
O título de pior ligação do
país ficou com o trecho entre
Leopoldina (MG) e a BR-262. “É
tanto buraco e falta de sinalização que a gente tem de passar de primeira marcha. A gente gasta uma média de quatro
horas para rodar 150 km”, diz o
caminhoneiro autônomo Nilton
Sebastião, que passou pelo local há dois meses.
O estudo também apontou
que 38,4% da malha avaliada
estão em estado regular,
24,4% receberam nota ruim e
12,2%, o conceito péssimo.
Houve um aumento no percentual considerado regular, que
no ano passado era de 31,8%.
Mas o percentual de estradas
consideradas em estado péssimo caiu de 18,2% em 2005
para 12,2% neste ano. Flávio
Benatti, presidente da seção
de cargas da CNT, atribui essa
mudança à operação emergencial realizada pelo governo
federal intitulada Operação
Tapa-Buracos. “A pesquisa
42
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
PIOR LIGAÇÃO
PRIORIDADE
Leopoldina (MG) - BR-262 (MG)
Setor produtivo pede verbas
A Pesquisa Rodoviária CNT
é um termômetro dos investimentos nas rodovias e uma
forma de os transportadores
cobrarem do poder público
mais atenção com as estradas,
é o que afirma Newton Gibson,
presidente da ABTC (Associação Brasileira dos Transportadores de Carga). “As estradas
esburacadas representam
custo alto para as empresas e
continuam encarecendo o frete em 30%”, diz.
Para José Fonseca Lopes,
presidente da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros Autônomos), os investimentos continuam escassos e
ineficientes. “A maior parte
das estradas ainda tem problemas. Nosso gasto médio
com manutenção por causa
disso é 30% do frete. A Operação Tapa-buracos não adiantou, pois vieram as chuvas e
arrebentaram com quase
tudo. Nada mudou.”
Já Sérgio Augusto Braga,
presidente da Abrati (Associação Brasileira as Empresas de
Transporte Terrestre de Passageiros), diz que a pesquisa
deste ano constatou, ainda
que de forma acanhada, os esforços do governo federal na
recuperação da malha viária.
“Rodovias que antes constavam como em estado péssimo
foram consideradas na recente pesquisa em estado regular,
fato que faz perceber o investimento da Operação Tapa-bu-
racos. O ideal seria que essas
operações emergenciais fossem substituídas por permanentes programas de construção de novas rodovias e manutenção das existentes.”
Representantes da CNI
(Confederação Nacional da
Indústria) e da CNA (Confederação Nacional da Agricultura)
também salientaram a importância da Pesquisa Rodoviária.
“O estudo serve para mostrar
que é preciso uma reversão e
que o governo realmente coloque em prática as PPPs (Parcerias Público-Privadas) e que
privatize mais trechos”, afirma
José de Freitas Mascarenhas,
vice-presidente da CNI. Segundo ele, o frete mais caro, os
atrasos e os assaltos causados
pela baixa velocidade dos veículos em função dos buracos
nas estradas se refletem na indústria. “Nossos produtos chegam mais caros ao mercado e,
conseqüentemente, menos
competitivos.”
Luiz Antônio Fayet, economista e consultor da CNA, diz
que a pesquisa “demonstra a
falência da infra-estrutura do
transporte e a inconsciência e
o descaso do governo sobre o
problema”. “Devemos fechar
este ano com as exportações
de soja na casa de 25 milhões
de toneladas. As exportações
só não são maiores porque
não há como escoar mais, pois
as estradas e portos não permitem.”
NOTA NA PESQUISA
45,4
RODOVIAS
BR-120, BR-265, BR-354, BR-491,
MG-167, MG-265/BR-265, MG-285,
MG-285/BR-120, MG-369/BR-369,
MG-448
EXTENSÃO
703 km
IMPORTÂNCIA
A ligação parte do
entroncamento com a rodovia
Fernão Dias pela BR-265 e
segue até o entroncamento
da BR-116. Este trecho tem
importância na movimentação
de mercadorias entre os
Estados de Minas Gerais e do
Rio de Janeiro. Já a oeste, a
BR-381 e a BR-354 permitem o
acesso da região do Triângulo
Mineiro e do sul de Goiás às
rotas com destino ao Rio de
Janeiro sem a necessidade de
transitar pela área de influência
de Belo Horizonte (MG).
A partir da BR-354, serve como
coletor/distribuidor de cargas e
passageiros no Sul de Minas.
MG-120 Rodovia faz
“Não dá
para andar
200 km nas
rodovias
públicas sem
encontrar
falhas”
NILTON SEBASTIÃO, Caminhoneiro
mostra que o que está ocorrendo é apenas paliativo, pois
as condições das rodovias no
geral não melhoraram em
nada. Mostra também que os
recursos investidos são ainda
muito insuficientes para uma
melhora efetiva das rodovias”,
diz Benatti.
Em relação à sinalização,
70,3% da malha pesquisada
apresentam problemas, 11,7%
possuem placas total ou parciamente cobertas pelo mato,
47,4%, placas com a legibilidade deteriorada, e outros
47,7% não têm placas de limi-
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
43
CNT/DIVULGAÇÃO
PEDRO VILELA
parte da ligação Leopoldina (MG)-BR-262 (MG), a pior segundo a pesquisa
te de velocidade. Uma realidade que o caminhoneiro Nilton
Sebastião vem comprovando
há muito tempo. “Não dá para
andar 200 km direto nas rodovias públicas sem encontrar
falhas na sinalização vertical
e na horizontal. Isso faz com
que os transportadores corram risco e trabalhem no último grau de estresse”, diz. “Os
motoristas não enxergam as
faixas e fazem ultrapassagens
perigosas.”
O mesmo estresse é vivido
por quem tem sob sua responsabilidade mais de 40 pas-
sageiros por viagem, como é
o caso do motorista de ônibus
Lucélio Ferrari, que faz viagens entre Florianópolis e Curitiba há 12 anos. “A gente fica
preocupado e na direção defensiva. A viagem demora
mais tempo do que ocorreria
se as rodovias estivessem em
bom estado”, diz.
O estudo também apontou
que 54,5% da extensão avaliada apresentam deficiências no
pavimento. Os buracos significam atrasos nas viagens e aumento dos gastos com manutenção do veículo e, conse-
GASTOS Carlos Dias diz que estrada ruim dobra custo com pneu
“Remendos
nas estradas
não duram
depois de
um dia de
chuva”
CARLOS ALBERTO DIAS, Caminhoneiro
qüentemente, do custo geral
do transporte. “Os remendos
nas estradas também causam
as mesmas conseqüências e
não duram depois de um dia de
chuva”, afirma Carlos Alberto
Dias, de Birigui (SP), que trabalha há 16 anos como caminhoneiro. Ele também reclama dos
gastos de manutenção com os
pneus. “Um pneu novo, que
custa em média R$ 150, dá para
rodar 100 mil km. Com os buracos e ondulações dos remendos, dá para rodar apenas 50
mil km. Somente com pneu
gasto o dobro do que gastaria
44
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
FOTOS CNT/DIVULGAÇÃO
Trabalho envolveu 15 equipes
SP-310 Rodovia também faz parte da melhor ligação rodoviária
se as estradas estivessem
boas”, diz.
A falta de acostamento foi
diagnosticada em 40,5% da
extensão pesquisada. “Se a
gente tem de parar com urgência por conta de um pneu
ou problema mecânico, é o
maior risco, principalmente
se estivermos em uma rodovia com muitas curvas”, afirma Dias.
O estudo concluiu que sem
um grande investimento não há
como melhorar as condições
das rodovias brasileiras. “Recursos para isso existem e são
“Ideal seria
que as
operações
emergenciais
fossem
permanentes”
SÉRGIO AUGUSTO BRAGA,
Presidente da Abrati
A Pesquisa Rodoviária
CNT é realizada desde
1995. Em 2006, as 15 equipes avaliaram 84.382 km
de rodovias federais, estaduais e concessionadas foram 2.438 km a mais em
relação a 2005. Quatorze
equipes se dividiram em 14
rotas pré-estabelecidas,
enquanto um 15º grupo ficou responsável pela rota
de checagem. Sob o ponto
de vista do usuário, os
pesquisadores analisaram
o estado de conservação
das rodovias, incluindo sinalização, pavimento e
geometria da via, além da
infra-estrutura de apoio
nas estradas.
Foram 39 dias de coletas de dados, entre 28 de
junho e 5 de agosto, que
somaram 2.904 horas trabalhadas e 127.867 km percorridos. Os pesquisadores avaliaram 8.811 km na
região Norte, 24.432 km no
Nordeste, 12.397 km no
Centro-Oeste, 23.589 km
no Sudeste e 15.153 km na
região Sul.
A metodologia da pesquisa é fundamentada na
idéia de qualificar trechos
rodoviários de até 10 km
de extensão segundo sua
semelhança com um trecho perfeito, ou seja,
aquele que apresenta as
melhores condições em
todos os atributos considerados na pesquisa.
Para realizar o trabalho,
os pesquisadores utilizaram veículos de passeio e
trafegaram a baixa velocidade (entre 40 km/h e 50
km/h) nas rodovias. Isso
foi necessário para que
observassem e registrassem em formulário, especificamente desenvolvido
para esse fim, as características predominantes de
cada trecho. Os pesquisadores também fotografaram as principais ocorrências de trechos críticos e
identificaram, com o uso
de GPS, a posição de infraestruturas
auxiliares,
como postos de controle
fiscal, balanças em operação e praças de pedágio.
CNT TRANSPORTE ATUAL
BR-230 Rodovia faz parte dos 70,3% da extensão pesquisada com problemas na sinalização
originados pela Cide (Contribuição para Intervenção no Domínio Econômico), que desde a sua
criação já arrecadou R$ 34 bilhões, dos quais apenas R$ 11 bilhões foram aplicados nas estradas”, afirma Flávio Benatti.
O economista Raul Veloso,
especialista em finanças e contas públicas, também afirmou
durante o lançamento da pesquisa que a solução para o problema passa necessariamente
pela correta aplicação da Cide.
A contribuição foi criada em
2001 para arrecadar recursos
para melhorar as estradas. Toda
vez que um carro é abastecido,
R$ 0,28 por litro de gasolina, R$
0,17 por litro de álcool e R$ 0,07
por litro de óleo diesel são destinados para a Cide (considerando o preço médio desses combustíveis nas grandes cidades
em outubro de 2006).
De acordo com o economista, se a parte do dinheiro da
Cide que deveria ser aplicada
nas estradas tivesse realmente
essa destinação, os investimentos no setor de transportes triplicariam. Só neste ano, a
arrecadação deve fechar em
R$ 7,7 bilhões, enquanto os in-
“Cresceu o
volume de
recursos para
recuperação e
manutenção
das rodovias”
PAULO SÉRGIO PASSOS,
Ministro dos Transportes
EDIÇÃO 135
45
vestimentos da União, conforme previsão do próprio Ministério dos Transportes, não devem passar de R$ 2,5 bilhões,
dos quais, até o final de outubro, apenas R$ 1,7 bilhão foram
empenhados. “Esse dinheiro
não dá nem para manter as velhas estradas em ordem. Se o
Brasil não mudar o seu modelo
econômico para reorientar a
ação do governo para estimular os investimentos, o país
não crescerá mais do que essas taxas irrisórias dos últimos
anos”, acrescentou Veloso durante o lançamento.
O ministro dos Transportes,
Paulo Sérgio Passos, avalia positivamente a Pesquisa Rodoviária. Segundo ele, o estudo
mostra que o Brasil está no caminho certo para melhorar as
rodovias federais. “Quase 70%
das rodovias federais brasileiras estão classificadas como
regular, bom ou em ótimo estado. Efetivamente, cresceu o
volume de verbas para fazer
face a uma situação histórica
de recursos alocados para recuperação e manutenção de
rodovias, que sempre foram
muito abaixo daquilo que era
o razoável. O que isso trouxe
como conseqüência foi um
progressivo envelhecimento
dos pavimentos e também aumento da deterioração das
rodovias”, diz o ministro. t
46
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
TRÂNSITO
PERIGO
NOTURNO
PESQUISA DO CESVI MOSTRA OS RISCOS DE DIRIGIR
À NOITE E OS CUIDADOS PARA EVITAR ACIDENTES
POR
tempo de ser visto é a
diferença entre sofrer
ou não um acidente. Sob
essa premissa, o Cesvi
Brasil (Centro de Experimentação
e Segurança Viária) realizou a
pesquisa Ver e Ser Visto à Noite,
encomendada pela Fundação
Mapfre. Os resultados mostram
que os cuidados para quem dirige
à noite, a educação e a regulamentação são fundamentais para
a sobrevivência no trânsito.
De posse de estatísticas que in-
O
RICARDO BALLARINE
dicavam que a maioria dos acidentes de trânsito acontece à noite, a
Fundação Mapfre encomendou o
estudo, inédito no país, para “ajudar a orientar condutores e pedestres em geral sobre o assunto”, segundo a superintendente da instituição, Fátima Mendes Lima.
A Fundação se baseia em números do Ipea/Denatran, que apontam
que os acidentes de trânsito são
responsáveis pela morte de quatro
brasileiros por hora e ferem temporária ou permanentemente 37
pessoas, números que geram gastos de mais de R$ 30 bilhões ao
ano. De acordo com o Denatran
(Departamento Nacional de Trânsito), mais de 35 mil pessoas perdem
a vida em acidentes de trânsito no
Brasil a cada ano. Em São Paulo, 1 a
cada 5 mortos é motociclista e
ocorrem 811 atropelamentos noturnos.
O estudo levou em conta três
cenários: pedestre, motociclista e
carro no acostamento. Os testes foram realizados em vias sem ilumi-
nação artificial, à noite (veja quadro com os resultados completos).
Os resultados mostram a importância de dirigir com cuidado à
noite, cercado das orientações
conclusivas do estudo. A possibilidade de não ser visto ou de não ter
tempo para ver é item crucial para
o risco de sofrer ou de provocar
um sério acidente.
Entre as conclusões da pesquisa, estão:
1. Para os pedestres, o estudo reforça a necessidade de
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
47
PEDRO VILELA
opções que garantam uma circulação e travessia segura: iluminação de faixas, passarelas,
sinalização correta.
2. Para os profissionais que trabalham próximo às vias (manutenção de sinalização, rede elétrica e
telefônica etc), um colete retro-refletivo adequado contribui para a
segurança.
3. No caso das motos, a pesquisa reforça que circular com o
farol aceso pode salvar vidas. Os
coletes retro-refletivos melho-
ram a visibilidade dos outros
motoristas.
4. A pesquisa identificou que,
ao estacionar por causa de alguma emergência, é fundamental
fazer uma sinalização correta, de
acordo com as orientações do
Contran (Conselho Nacional de
Trânsito). Ou seja, pisca-alerta
aceso e triângulo a pelo menos 30
metros do veículo. O triângulo colocado próximo ao veículo e o pisca-alerta desligado fazem com
que os veículos fiquem pouco vi-
síveis aos que se aproximam. Ou
seja, segundo a pesquisa, é como
se não houvesse sinalização.
O estudo identificou duas situações: detecção, o ato de perceber algum vulto no horizonte, e
reconhecimento, saber o que está
à sua frente. Levando-se em conta que um carro a 90 km/h precisa de 80 metros para parar por
completo, os resultados ajudam a
mostrar porque se morre tanto no
trânsito brasileiro. No teste, a velocidade utilizada foi de 50 km/h,
o que muda a distância de segurança para 44 metros. Nessas
condições, apenas um pedestre
com o colete retro-refletivo não
seria atropelado em uma estrada.
No teste feito com um motociclista cruzando a via, a única segurança para os condutores é que a
moto esteja com o farol ligado. Do
contrário, nem o colete salva o
atropelamento. No terceiro cenário, de um motorista do lado de
fora de um carro estacionado no
acostamento, a luz de alerta é es-
RECOMENDAÇÕES
DE SEGURANÇA
VEJA ALGUMAS DICAS PARA
DIRIGIR À NOITE
PEDRO VILELA
• Utilize sempre o farol baixo
• Não use materiais com
refletivo não-normatizado
em coletes e capacetes,
menos eficazes que a
roupa branca.
• Ligue o pisca-alerta
sempre que for obrigado
a parar em uma via em
situação de emergência
• Se precisar usar o
triângulo, coloque-o a
pelo menos 30 m do
veículo estacionado
• O uso do colete
retro-refletivo normatizado
é recomendado para o
motorista ou passageiro
que deixar o carro em
situação de emergência,
à beira da estrada
PREVINA-SE
DICAS PARA MANTER A
VISÃO EM PERFEITO
ESTADO
• Mantenha o grau de
seus óculos sempre
atualizado
• Dê preferência a lentes
anti-reflexo e com
proteção UV, para os
óculos brancos e de sol
• Mantenha o pára-brisa
limpo
• Descanse durante
o percurso
• Consulte regularmente
o oftalmologista
MOTOCICLISTAS Farol ligado salva vidas e é a única garantia de segurança em cruzamento de vias
sencial para evitar acidentes. Sem
o pisca, o choque é inevitável.
A pesquisa Ver e Ser Visto apontou que a educação é um item essencial para evitar acidentes. Seguir as regulamentações (distâncias, respeito às leis de trânsito,
uso de equipamentos de segurança) pode poupar vidas. Segundo
Fátima Mendes, da Mapfre, “esse é
um desafio para toda a sociedade”.
“Exemplos de bons resultados no
Brasil e no exterior mostram que é
fundamental que haja o reconhecimento que o alto índice de aciden-
tes é um problema grave e que os
diversos agentes (governo, empresas, escolas, mídia, ONGs) devem
contribuir para solucioná-lo. E isso
só pode mudar com conscientização”, diz Fátima.
Ela cita programas como o Educação Viária é Vital como uma das
alternativas. O projeto, desenvolvido pela Fundação, ajuda a preparar
o motorista como cidadão desde
criança, com ações e desenvolvimento de atividades relacionadas
com o tema. “Isso pode contribuir
significativamente para a melhoria
do trânsito brasileiro. A educação é
a chave capaz de formar cidadãos
mais conscientes e preparados
para o trânsito”, diz Fátima. O projeto é aplicado a estudantes do ensino fundamental e médio.
Roberto Scaringella, presidente
da CET (Companhia de Engenharia
e Tráfego, órgão que gerencia o
trânsito em São Paulo), aponta um
duplo desafio para vencer barreiras: “O primeiro é passar para as
pessoas a consciência dos riscos,
de identificar e gerenciar esses riscos. Segundo, que linguagem usar
CNT TRANSPORTE ATUAL
49
EDIÇÃO 135
DEFICIENTE VISUAL
Visão 25% menor à noite
Enxergar à noite já é um
exercício para quem tem a visão normal. Fica mais difícil
para quem possui alguma deficiência visual ou quem está
com idade avançada. Segundo o médico oftalmologista
Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier e diretor médico do Banco de Olhos
de Campinas, durante a noite,
a visão de quem tem “miopia,
astigmatismo, glaucoma e catarata piora devido à falta de
iluminação suficiente, e os faróis ofuscam a visão fazendo
com que se perca a noção de
profundidade”. Para Queiroz
Neto, perito em medicina do
tráfego e membro da Abramet (Associação Brasileira de
Medicina de Trânsito), o reflexo do motorista fica mais lento “porque entre míopes e astigmáticos a noção de distância em relação aos outros veículos é maior do que a real”.
Para enxergar melhor à
noite, Queiroz Neto sugere o
uso de filtros para óculos,
com lentes amarelas. O motivo é que quem possui alguma
deficiência visual pode perder de 10% a 25% da visão à
noite. “Varia de acordo com a
refração (grau). Por exemplo,
os míopes, na hora do luscofusco, chegam a diminuir até
duas linhas (medidas de acuidade visual da Carta de Snellen, a escala optométrica utilizada por oftalmologistas
para medir a capacidade de
visão dos pacientes). Nos
operados de catarata, com
lentes intra-oculares implantadas, podem ter alterações
no ofuscamento.”
Segundo o oftalmologista
Nilson de Mello e Oliveira, especialista em glaucoma e catarata, a redução da visão à
noite depende da visão de
contraste. “Geralmente, quem
tem a visão de contraste diminuída possui olhos operados
de cirurgia refrativa, ou são
portadores de opacidades,
como catarata”, diz Oliveira.
Para enxergar à noite, o olho
dilata a pupila, para permitir
maior entrada de luz. Assim, o
branco é a cor mais reconhecida a média distância e de
dia o amarelo. Os resultados
da pequisa do Cesvi indicam
que o branco em certas situações é tão eficaz quanto o colete retro-refletivo.
Sem pesquisas realizadas
no Brasil, os médicos se baseiam em levantamentos estrangeiros. Um deles é o relatório do ICO (Conselho Internacional de Oftalmologia, na
sigla em inglês), de 2004, que
mostrou que, nos Estados
Unidos, a principal causa de
morte por ferimentos entre
pessoas de 65 a 75 anos é o
acidente automobilístico.
Nessa categoria, 95% das lesões são relacionadas a problemas de visão.
No Brasil, para obter a Carteira de Habilitação, é preciso
fazer uma bateria de exames,
entre eles a avaliação oftalmológica, que inclui o teste
de visão noturna. O Contran
determina que motoristas de
até 65 anos devem renovar
seu exame a cada cinco anos.
Após essa idade, o intervalo
passa a ser de três anos, período que pode ser reduzido
se o médico constatar algum
problema no motorista.
REFLEX LINE/DIVULGAÇÃO
PRECAUÇÃO Colete retro-refletivo deve ser usado à noite
para envolver as pessoas na questão de segurança. Normalmente,
são usados culpa e moralismo para
educar. A linguagem positiva obtém resultados melhores para chamar a atenção do indivíduo”. Para
Frederico Bussinger, secretário municipal de Transportes de São Paulo, “o desafio é transformar essa
constatação em medidas concretas de enfrentamento do problema”.
Uma das medidas será tomada
pelo Cesvi Brasil. O centro irá enviar o relatório da pesquisa para as
"Educação
é capaz de
formar
cidadãos
conscientes
para o
trânsito"
FÁTIMA MENDES,
Superintendente da Fundação Mapfre
50
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
autoridades de trânsito com o alerta e a necessidade de uso dos coletes retro-refletivos, regulamentados pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), como classe 2, norma NBR 15.292. O colete
tradicional, como um X, segundo a
pesquisa, mostrou-se ineficaz na
visualização noturna.
Esses coletes são obrigatórios em países como Espanha,
Itália e Portugal para todo motorista que sair do carro em situação de emergência. No Brasil, a
preocupação é evitar criar outra
obrigatoriedade sem regulamentação e fiscalização corretas,
como aconteceu no caso dos kits
de primeiros socorros. Scaringella, presidente da CET, diz que
“não está em vista criar outra
obrigatoriedade”. O Cesvi Brasil
também se posiciona diante do
recente passado e a questão de
interesses. “É preciso fazer
lobby, com características brasileiras. O colete provou ser um
equipamento eficaz na prevenção de acidentes”, diz José Aurélio Ramalho, diretor de Operações do Cesvi.
Para Fátima Mendes, “tudo que
possa trazer mais segurança ao
condutor deve ser analisado e implantado de acordo com as normas e observações dos órgãos
competentes. É importante que
essa questão também seja discutida no Brasil”.
t
52
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
FERROVIAS
GARANTIA
DE QUALIDADE
COMITÊ INTERNACIONAL DE ESTUDOS TÉCNICOS
METROFERROVIÁRIOS É CRIADO PARA ASSEGURAR
UM PADRÃO ÚNICO PARA OS TRILHOS NO BRASIL
POR
crescimento da movimentação de cargas
nas ferrovias brasileiras está fazendo com
que o setor reavalie questões
técnicas, buscando adequações à nova realidade. Quando
foram concessionadas, em
1996, as ferrovias tinham uma
participação de 19% na matriz
nacional de transportes. Hoje
figuram com 26%. Essa transformação fez com que a quantidade, a freqüência e o tipo de
carga transportada nas linhas
também mudassem. Por causa
disso, empresas e entidades do
O
SANDRA CARVALHO
setor viram a necessidade de
adequar os trilhos que utilizam
à nova realidade. Para alcançar
esse objetivo, elas se uniram e
criaram o Comitê Internacional
de Estudos Técnicos Metroferroviários, que visa analisar, dar
uma nova classificação e normatizar a qualidade dos trilhos
no Brasil.
Criado em maio deste ano e
formalizado em outubro, o comitê reúne empresas operadoras
de carga, fabricantes de componentes para o setor, técnicos,
pesquisadores e especialistas no
transporte ferroviário de cargas
e passageiros. O Simefre (Sindicato Interestadual da Indústria
de Materiais e Equipamentos Ferroviários), a ANTF (Associação
Nacional dos Transportadores
Ferroviários), a Abifer (Associação Brasileira da Indústria Ferroviária) são, inicialmente, seus
mantenedores.
“O comitê foi criado para discutir os diversos assuntos técnicos do setor ferroviário e o trilho
foi o primeiro tema escolhido em
função da urgência em resolver a
questão. Com essas discussões,
queremos criar um conceito de
respeitabilidade à engenharia fer-
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
53
ARCELOR/DIVULGAÇÃO
roviária do país e obter produtos à
altura de nossas demandas”, diz
Célia Rodrigues, engenheira da
MRS Logística e uma das coordenadoras do comitê.
O estudo se fez necessário
porque as operadoras estão buscando maior qualidade e vida
útil do produto que utilizam, visto que, desde o início da privatização das ferrovias, nunca se
trocou tanto trilho como tem
acontecido neste ano. Até abril,
as operadoras de carga compraram 847,7 mil toneladas do produto, segundo a ANTF.
Os trabalhos foram iniciados
em maio e devem ser concluídos
até fevereiro de 2007. Especialistas analisam desempenho, segurança, vida útil, soldagem, acompanhamento do desgaste, rastreabilidade, armazenamento manutenção, entre outros requisitos necessários à definição do que é um
trilho de boa qualidade para a realidade brasileira. As condições nas
quais o trilho é utilizado como relevo, volume e peso de carga
transportada também estão sendo estudadas para se chegar a um
conceito de trilho.
Feitas todas essas análises, o
comitê pretende classificá-los
conforme sua utilização. No caso
da MRS Logística, por exemplo, é
exigido um trilho de altíssima qualidade, pois suas ferrovias têm
elevados volume e tonelagem de
carga por eixo e uma grande in-
tensidade de tráfego. “Um trilho
se difere de outro pela composição química, qualidade do tratamento térmico e controle de defeitos mais rigorosos no momento
da fabricação”, diz Célia Rodrigues.
A engenheira explica que outras ferrovias que tenham intensidade menor de tráfego e menor
peso de carga por eixo poderão
optar por um tipo intermediário,
preparado exclusivamente para
aquele perfil de transporte. “No
caso do transporte de passageiros, será exigido um trilho de altíssima qualidade, mas com algumas
características diferenciadas do
que é utilizado no transporte de
carga”, afirma.
Célia Rodrigues acrescenta
que ainda não se sabe quantos tipos de trilhos serão definidos,
mas garante que todos serão classificados conforme as características atuais do transporte ferroviário.
O comitê também está analisando a normatização existente
em todo o mundo sobre o produto e selecionando o que pode
ser útil ao Brasil. “Estamos mantendo intercâmbio com empresas do setor, universidades, entidades de pesquisa e fabricantes de produtos metroferroviários de outros países para troca
de conhecimentos e informações técnicas”, diz Paschoal de
Mário, assessor do Simefre e
54
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
TAXAÇÃO
Importar é mais vantajoso
Todo o trilho utilizado hoje
no Brasil é importado, já que
a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) deixou de fabricar o componente em 1995.
Mas para Maurício Melo, engenheiro da Arcelor, o país
tem potencialidades para voltar a ter uma indústria dos
trilhos, mas não em função
da procura atual.
“Se pensarmos o Brasil de
forma continental, há possibilidades de idealizar a instalação de um braço da Arcelor
no país. Sua posição geográfica e o consumo de seus vizinhos Chile, Venezuela e Argentina - que estão reaquecendo o modal ferroviário -,
favorecem isso”, diz. Melo frisa que o mercado brasileiro
também pode crescer, pois
duas grandes obras são promissoras para o setor - a Ferrovia Norte-Sul e a Transnor-
destina. O engenheiro acrescenta que o fato de o país ter
um excelente e bem estruturado parque siderúrgico também contribui para a instalação de uma fábrica de trilhos
no país por parte da Arcelor.
Rodrigo Vilaça, diretorexecutivo da ANTF, diz, no entanto, que o país ainda está
longe de voltar a ser um fabricante do produto. “Isso
não deve acontecer porque
há vantagens para a importação. Hoje, o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços)
é zerado na importação dos
trilhos. Sempre será mais barato para as empresas importar do que comprar o produto
fabricado aqui, que, nas condições atuais de tributação,
não vai conseguir competir
em preço com o importado”,
afirma Vilaça.
CLASSIFICAÇÃO Comitê Internacional de Estudos Técnicos
Até abril, as
operadoras
de carga
compraram
847,7 mil
toneladas
de trilhos
coordenador do Comitê Internacional e do CB06 (Comitê Brasileiro Metroferroviário de Normas Técnicas da ABNT).
“A norma que existe sobre trilhos está desatualizada, pois foi
elaborada há mais de 20 anos,
numa época em que o transporte
ferroviário brasileiro tinha outro
perfil, pois transportava-se menos
carga.”, diz De Mário. A nova realidade mostra que, somente em
2004, foram transportadas nas
ferrovias brasileiras 392 milhões
de toneladas. Sem contar que hoje
é necessário criar cada vez mais
condições de maior agilidade no
transporte ferroviário para tornar
produtos brasileiros transportados pelas linhas férreas mais competitivos.
De acordo com De Mário, todos
os trabalhos do comitê estão sendo feitos para subsidiar a ABNT de
informações para a elaboração de
uma nova normatização. “Somente a ABNT tem poder no país de
determinar o que é um trilho. E
isso será feito considerando a
nossa realidade.” Com a normatização, as fabricantes terão de se
adequar à demanda nacional e
vender produtos de qualidade.
Para facilitar a elaboração do
estudo, o comitê internacional se
dividiu em duas frentes: uma para
análise das principais normas internacionais, especificações técnicas sobre trilhos e classificação
de ferrovias, e outra que cuidará
da infra-estrutura e das palestras
a serem realizadas.
Assim que estiver pronto, o estudo será encaminhado à ABNT
para análise e ajustes, se necessário. Depois, será colocado por dois
meses para consulta pública. Só
então a norma será elaborada. A
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
55
ISTOCKPHOTO
EVOLUÇÃO NA
COMPRA DE TRILHOS
ANO
2001
2002
2003
2004
2005
2006*
QUANTIDADE**
153,9
54,27
312,59
76,84
105,9
847,77
* Até abril de 2006
** em mil toneladas
Fonte: ANTF
Metroferroviários vai definir tipos de trilho de acordo com sua utilização
“Queremos
criar um
conceito de
respeito à
engenharia
ferroviária
do país”
CÉLIA RODRIGUES,
engenheira da MRS Logística
expectativa do comitê é que até o
final do ano que vem a normatização esteja pronta.
FABRICANTES
Hoje, o Brasil importa todo o
trilho que utiliza da Áustria, Polônia, China e Índia. São em
média 220 mil toneladas por ano
(desde 99) e mais de cinco tipos
diferentes, segundo a ANTF.
“Muitas fabricantes oferecem às
empresas produtos que acabam
sendo mais baratos, mas obedecendo a normas técnicas de dez
anos atrás e não de acordo com
as necessidades que o setor tem
hoje. Por isso, muitas empresas
brasileiras acabam comprando
trilhos que vão ter menos qualidade, uma vida útil menor”, diz o
engenheiro Maurício Melo, também coordenador do comitê.
Melo é engenheiro da Arcelor
Brasil, um braço de siderurgia
da Arcelor, siderúrgica e fabricante de trilhos com sede na
Europa, responsável pelo abastecimento de 40% da demanda
brasileira do produto. Para a fabricante, a padronização será
positiva. “Muitas vezes perdemos mercado para empresas
que oferecem trilhos mais baratos, mas de baixa qualidade.
Com a normatização, todas as
fabricantes vão se adequar e o
mercado será menos injusto
com quem fabrica produto de
boa qualidade, como é o caso da
Arcelor”, diz.
Para as empresas operadoras do transporte ferroviário, a
padronização dará mais segurança e reduzirá custos. “O trilho ruim se desgasta mais rápido e provoca interrupções acidentais no transporte, o que
gera prejuízos às empresas”,
afirma Rodrigo Vilaça, diretor-
executivo da ANTF. Vilaça também destaca que “na medida
em que há planejamento do que
será movimentado pelas ferrovias e uma previsão da vida útil
dos trilhos, há ganhos para as
empresas. Essas vantagens serão extensivas às operadoras
do transporte ferroviário urbano de passageiros”.
Cada operadora de transporte tem, hoje, sua gestão de trilhos, item considerado como um
dos ativos de maior valor no
transporte ferroviário, segundo
Célia Rodrigues. “Com a padronização, as empresas passarão
a ter uma gestão compartilhada. Irão comprar um produto
condizente com a realidade em
que trabalham e de maior qualidade de vida útil. Poderão,
quem sabe, comprar juntas e,
com isso, diminuir os custos
com trilhos.”
A engenheira acrescenta que
a padronização é uma tendência
mundial. Os Estados Unidos e o
Canadá fizeram a norma comum
há mais de três anos. Na Europa,
a ação é mais antiga. Com a criação da União Européia em 1957
foi formado um comitê de normas técnicas que, com a participação de técnicos e especialistas
de todos os países europeus, elaborou alguns anos mais tarde a
chamada Euronorma dos Trilhos,
aplicada em todo o continente.
“Ações como essa agilizam o
transporte”, diz Célia.
t
CNT/DIVULGAÇÃO
SEMINÁRIO
COMBATE AO CRIME Seminário de repressão ao crime organizado, promovido pela CNT em parceria com a PF em Salgueiro (PE)
UNIÃO CONTRA O CRIME
ENCONTRO DEBATE FORMAS DE ATUAR CONTRA ROUBO DE CARGAS
POR ALICE
urante os dias 20 a
22 de setembro, a
Confederação Nacional do Transporte,
em parceria com a Polícia Federal, realizou o seminário
“Repressão ao Crime Organizado: Roubo de Cargas, Roubo de
Valores e Assalto a Passageiros”. O evento ocorreu em Salgueiro (PE) e teve como finalidade reunir sugestões dos setores da sociedade envolvidos
no assunto para buscar melhorias no combate a esse tipo de
crime na região.
Foram abordados no even-
D
to temas como a estrutura de
repressão e revelada a visão
do sistema financeiro e dos
transportadores de carga, passageiros e valores sobre a
questão. Participaram do seminário desembargadores,
promotores de Justiça, defensores públicos, juízes, delegados e representantes do setor
privado. Estava presente, também, o governador de Pernambuco, Mendonça Filho.
De acordo com Newton Gibson, presidente da ABTC (Associação Brasileira dos Transportadores de Carga) e partici-
CARVALHO
pante do seminário em Salgueiro, o evento foi “importante e satisfatório”. “Acredito
que tivemos sucesso com o seminário, pois ele mostrou para
as autoridades e a sociedade a
atuação de criminosos no setor. A parceria entre a CNT e a
Polícia Federal foi uma grande
conquista, pois tivemos a
oportunidade de realizar encontros para solucionar problemas que trazem muitos
prejuízos ao transportador”,
afirma Gibson.
Segundo o presidente da
ABTC, a região onde foi reali-
zado o seminário apresenta
alto índice de plantação de
maconha, o que conseqüentemente eleva o índice de roubo
de cargas.
Para o diretor de Combate
ao Crime Organizado do Departamento da Polícia Federal,
delegado Getúlio Bezerra, o
seminário foi “uma experiência única”, por levar até o interior “a discussão e o conhecimento sobre o combate ao crime organizado”.
De acordo com o juiz da
Vara de Execução Penal de
Pernambuco, Adeildo Nunes,
58
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
ALBARI ROSA/GAZETA/FUTURA PRESS
CUIDADOS DO TRANSPORTADOR
ANTES DO CARREGAMENTO
• Verifique se o veículo está em boas condições para o
deslocamento
• Cheque a parte mecânica e a elétrica, lubrificantes,
pneus, estepe e freios
• Abasteça o veículo antes do carregamento para evitar
paradas logo no início do trajeto
• Escolha bem o companheiro de viagem, dando preferência
a pessoas indicadas
• Confira a documentação, tanto da carga como do veículo,
sem esquecer dos documentos pessoais
• Planeje detalhadamente a sua rota, seja ela urbana ou
rodoviária, procurando se informar sobre as áreas de risco
DURANTE O DESLOCAMENTO
• Nunca dê carona a pessoas estranhas
• Durante as paradas para refeição ou abastecimento, não comente
com ninguém sobre sua carga, seu itinerário e seu destino
• Caso tenha problemas com o veículo, evite ficar parado em
lugar sem movimento; faça o possível para chegar até um
posto de abastecimento ou de policiamento rodoviário
• Procure o estacionamento de um posto de abastecimento, de
um pedágio ou de um posto de policiamento rodoviário para
realizar o pernoite
DURANTE A ENTREGA DO CARREGAMENTO
• Verifique se haverá condições de efetuar a entrega da carga
no mesmo dia. Se não houver, procure um estacionamento
seguro para realizar o pernoite
• Fique atento às imediações do local de entrega da carga
e ao desembarque
CUIDADOS COM O VEÍCULO
• Nunca deixe o veículo aberto ou com a chave no contato
• Quando estacionar, evite os acostamentos, salvo em situações
de emergência. Procure sempre locais bem iluminados
• Quando realizar paradas para abastecimento e refeições, nunca
deixe o seu veículo sem vigilância
Fonte: Guia do Transportador de Cargas
POLÍCIA FEDERAL Corporação atua no combate ao roubo de cargas
que também participou do seminário, “o evento foi o que de
mais expressivo existiu. Podese afirmar que os temas desenvolvidos foram particularmente interessantes e atualizados. Discutir como as organizações criminosas atuam e
como reprimir essa atuação,
por si só, já seria o suficiente
para assegurar a magnitude
do evento” afirma.
Ainda segundo o juiz, “as
idéias suscitadas pelos palestrantes e os debates ocorridos
resultaram num conjunto de
proposições e de sugestões
que, por certo, aprimoraram o
conhecimento humano e as
perspectivas de um combate
ferrenho ao crime organizado.
Os temas apresentados e as
soluções encontradas, entretanto, fizeram do evento um
momento de reflexão e de troca de idéias sobre a ramificação do crime organizado”.
A CNT e a Polícia Federal,
com o apoio dos órgãos estaduais de segurança pública,
vêm realizando, desde agosto
de 2004, seminários regionais
para aprofundar a discussão
sobre o combate ao roubo de
cargas, de valores e assaltos a
passageiros. Novos seminários
estão sendo planejados pela
entidade.
t
60
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
SEST/SENAT
ARTE E
RENDA
PROGRAMA OFICINAS SEST/SENAT AMPLIA OBJETIVOS E
AGORA OFERECE CURSOS PROFISSIONALIZANTES
POR ÉRICA ALVES
prender é um caminho
para melhorar a qualidade de vida. Pode ajudar no orçamento doméstico e a socialização na comunidade. Esse aprendizado, aliado
ao bem-estar, saúde, esporte, lazer e à cultura é o objetivo do
novo Programa Oficinas Sest/Senat Arte, Qualificação e Renda.
Essa nova abordagem teve início
em setembro e terá caráter permanente nas unidades do sistema. A proposta é oferecer ativida-
A
des artísticas e cursos profissionalizantes que possam ampliar a
renda familiar.
Para atingir esse objetivo, o
Programa Oficinas de Artes sofreu modificações e, além das atividades artísticas, de lazer e entretenimento, agora abrange também ofícios profissionalizantes.
As oficinas são dirigidas à família
do trabalhador em transporte e
às comunidades próximas às unidades Sest/Senat.
Um exemplo de quem já parti-
cipou do programa e usufrui resultados é a dona de casa Rita de
Cássia de Oliveira, de 24 anos, moradora de Araçatuba, no interior
de São Paulo. Ela participou da
oficina de culinária da unidade do
Sest/Senat de sua cidade. Antes
de fazer o curso, ela tinha dificuldade em cobrar o valor correto
pelo seu trabalho e hoje comemora a ampliação da renda familiar.
“Fiz quatro cursos que aperfeiçoaram os meus conhecimentos e
ajudaram a aumentar minha ren-
NEGÓCIO Programa Oficinas
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
61
SEST/SENAT/DIVULGAÇÃO
Sest/Senat Arte, Qualificação e Renda capacita para o mercado de trabalho
da, fui em busca de um objetivo e
saí com muito mais. Hoje, sei cobrar o preço justo por meu trabalho e aprendi a fazer muito mais,
o que aumentou as minhas possibilidades de ganhar um dinheirinho extra”, diz Rita, que participou de oficinas de confeitaria, decoração de bolos e docinhos. Segundo ela, o preço foi um grande
facilitador, além do fato de ser
moradora da comunidade e ter
acesso fácil e rápido à unidade,
sem custos de deslocamento.
Outro exemplo de que as oficinas são um meio de ampliar os
horizontes é o caso dos participantes das oficinas de teatro de
São Gonçalo (RJ). O estudante
Thiago de Souza Lima, 12 anos,
freqüenta peças de teatro e sempre teve curiosidade em saber o
que acontecia atrás das cortinas.
Agora, já faz planos para a futura
carreira de artista. “O curso está
ajudando a diminuir minha timidez, além de ser uma oportunidade de uma profissão no futuro.”
As aulas possibilitam alterar
as perspectivas dos participantes.
“Quem sabe em breve vou aparecer na televisão”, diz a estudante
Giovana dos Santos Ferreira, 12
anos. “Eu sempre gostei de falar
em público e de atuar, agora que
estou aprendendo, percebo que a
arte aumenta minha sensibilidade
e a minha percepção.”
O programa oferece ainda diversas oficinas e cursos que aumentam as oportunidades dos
participantes no mercado de trabalho e que também são meios de
produzir renda trabalhando dentro de casa, como as oficinas de
confeitaria básica, pintura em tecido, culinária e artesanato.
Outras opções para empreender novos negócios são os cursos
de cabeleireiro, capacitação para
jardineiros, embalagem, mosaico,
biscuit e fabricação de roupas e
acessórios. Nesse caso, o participante pode até planejar abrir uma
pequena empresa.
Oficinas de teatro e de música
para adultos e crianças, aulas de
dança de salão, balé, danças étnicas e violão fazem parte da área
cultural que o Sest/Senat oferece,
que geram oportunidades de lazer e desenvolvimento de capacidades artísticas.
As unidades oferecem cursos
de acordo com as características
de cada região, com o objetivo de
desenvolver a cultura local e gerar renda aos participantes. Outro fator importante é que as
mensalidades têm valores acessíveis para trazer o maior número
de pessoas para a iniciativa. Os
valores das mensalidades também variam de acordo com os
cursos e sua localização.
t
Oficinas Sest/Senat
Duração: caráter permanente
Informações: 0800 728 2891
ou www.sestsenat.org.br
62
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
"É PRECISO QUE A SOCIEDADE E OS TRÊS PODERES CONSIGAM
COLOCAR EM FUNCIONAMENTO UMA GESTÃO PÚBLICA EFICIENTE"
DEBATE
É POSSÍVEL ESTABELECER UMA META DE CRESCIMENTO PARA
Sem a infra-estrutura ideal,
não há crescimento no país
DÉCIO PIZZATO
resposta de forma simples seria sim. Um olhar
na história mostra que
o país sempre pode
crescer. O período de 1947 a 1964,
chamado de “período democrático”, apresentou um crescimento
médio de 6,6% do PIB. No “período militar” (1964-1984), do chamado “milagre econômico”, foram obtidas taxas acima de 10%,
atingindo até 14%. A crise do petróleo derruba esse crescimento
e faz aumentar rapidamente a dívida externa. A década de 80 é
marcada pela alta inflação e decretação da moratória dessa dívida. Além dos fracassos nos planos implantados para colocar a
economia nos trilhos.
A década seguinte caracteriza-se pelo baixo ou nulo crescimento nos primeiros anos, melhorando após a implantação do
Plano Real. Permite maior distribuição da riqueza pela queda da
inflação a níveis civilizados. Em
1997, tivemos a crise asiática, em
1998, a moratória da Rússia, que
atingiram em cheio os países
emergentes via ataques especulativos. O ano de 1999
A
DÉCIO PIZZATO
Economista e articulista do
Conselho Federal de Economia
entra com uma crise cambial.
Nesses anos, a política econômica estabeleceu métodos para
impedir a volta da inflação, e fez
o saneamento dos Estados e municípios. Foi a raiz do aumento da
dívida interna. Paralelamente,
criou-se o Ministério do Desenvolvimento Econômico, que coloca o país na trilha do desenvolvimento internacional. Em 2002, foi
elaborado um plano que não ficasse limitado ao período de um
governo, permitindo um crescimento seguro. Começou pela eliminação do déficit da balança comercial: em 2001, atingiu um superávit de US$ 2,642 bilhões. Fecha 2002 com saldo de US$ 13,1
bilhões, crescimento que permanece no atual governo.
Dando continuidade ao plano
repassado pelo governo anterior,
foi estabelecido em 2003 quatro
pontos para o desenvolvimento
industrial, ou seja, bens de capitais, medicamentos, semicondutores e softwares. As melhoras
para a área da infra-estrutura deteriorada seriam resolvidas através das parcerias publico-privadas. Entretanto, nem está haven-
do a indução para o ensino de
alta qualificação que os setores
exigirão. Apenas a proliferação
de faculdades que serão nada
mais que meras impressoras de
diplomas. Ao mesmo tempo, o
país não soube aproveitar a liquidez internacional, que poderia financiar investimentos nesses setores, como China Índia já fazem.
Já escrevi sobre um decálogo
para o crescimento do país. Caso
a sociedade e os Três Poderes
consigam colocar em funcionamento uma gestão pública de eficiência do Estado, ou seja, gastar
menos e prestar mais e melhores
serviços à sociedade, o primeiro
passo estará dado. Conseguir implantar uma reforma tributaria
mais simples, sem cumulatividade de impostos, trará alívio na
carga tributária. A essas ações se
acrescenta a realização da infraestrutura necessária, sem ela
não há crescimento no país.
Fazer esse mínimo induziria
surgir outras ações positivas.
A resposta continua sendo
sim, desde que haja pessoas com
competência para executar, senão serão apenas números ocos.
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
"SEM INVESTIMENTO PÚBLICO EM INFRA-ESTRUTURA NÃO SE
SUPERA OS GARGALOS QUE AUMENTAM O CUSTO BRASIL"
O PIB BRASILEIRO?
Falta fazer o ajuste fiscal e
definir os marcos regulatórios
SÉRGIO VALE
epois de 12 anos do Plano Real, o Brasil finalmente pode dizer que
logrou amenizar seus
dois grandes problemas macroeconômicos de décadas: a inflação
e os déficits em conta corrente.
Este ano o IPCA deve fechar próximo de 3% e em 2007 esse indicador não deve passar dos 4%.
Da mesma forma, o saldo da balança comercial deve chegar a
US$ 44 bilhões, ajudando a se obter um superávit em conta corrente de US$ 14 bilhões.
Mas nem tudo são flores. Há
um pedaço da conta macroeconômica que não fecha e que é
justamente o crescimento do PIB.
Se a situação macro é positiva,
por que não crescemos? Há dois
pilares importantes e fundamentais para o crescimento sustentado e que não foram solucionados
ainda. O primeiro é a questão fiscal. Não apenas o déficit do INSS
é um sugadouro de quase R$ 50
bilhões por ano, como a qualidade do gasto público tem se deteriorado continuamente, o que é
refletido num investimento público em proporção do PIB menor
D
que 0,5%. Sem investimento público em infra-estrutura não se
consegue superar os gargalos
produtivos que aumentam o chamado custo Brasil. Em segundo
lugar, os marcos regulatórios ainda estão indefinidos. A incerteza
jurídica que se coloca para o investidor em setores estratégicos
é imensa, principalmente para o
estrangeiro. O empreendedor
que deseja investir não sabe se
as decisões das agências serão
devidamente seguidas ou se poderão sofrer ingerências dos ministérios, por exemplo.
Nesse cenário, seria possível
considerar uma meta para o PIB
nos moldes da meta de inflação
que o Banco Central persegue?
Acredito que há dois problemas
gerais que impedem que se tenha metas para o PIB. Em primeiro lugar, as restrições aludidas
acima são impedimentos sérios a
um crescimento mais elevado da
economia. Quando se pensa em
meta, certamente não se pensará
em metas tímidas, mas algo acima de 4%. Expansões acima dessa taxa apenas ocorrerão quando
os dois gargalos acima forem so-
lucionados ou, ao menos, bem
encaminhados. Em segundo lugar, há um problema operacional.
Quem estabelecerá essa meta e
quem ficará encarregado de perseguí-la? Caso seja o Banco Central, a literatura econômica tem
mostrado que os Bancos Centrais
têm uma natural preferência por
metas apenas de inflação. Isso
porque para tingir uma meta de
inflação geralmente o aumento
de juros necessário diminui o
crescimento do PIB e cria um dilema para o Banco Central? Qual
seria a taxa ótima de juros para
equilibrar a inflação e o nível de
atividade ao mesmo tempo? Essa
questão ainda não foi resolvida
na literatura econômica e os BCs
tentam evitá-la justamente pela
incerteza que esse dilema causa.
E se for o Ministério da Fazenda
encarregado de cuidar da meta?
Um ministério cuidando do
PIB e um BC cuidando da inflação
é caminho certo para atritos. Melhor do que metas para o PIB é o
Brasil fazer o ajuste fiscal necessário e diminuir a incerteza jurídica das agências regulatórias. O
resto é conseqüência.
SÉRGIO VALE
Economista e sócio-diretor
da MB Associados
63
64
CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
MODAL RODOVIÁRIO DE CARGAS
MAIO A SETEMBRO - 2006 (MILHARES DE TONELADAS)
MESES
ESTATÍSTICAS
INDUSTRIAL
OUTRAS CARGAS
MAIO
55.749,67
2,94%
57.931,69
29,76%
JUNHO
64.801,69
16,24%
51.093,02
-11,80%
JULHO
50.321,53
-22,35%
55.269,52
8,17%
AGOSTO
52.787,47
4,9%
51.508,43
-6,80%
SETEMBRO
55.976,47
6,04%
45.486,21
-11,69%
FONTE: IDET CNT/FIPE
SETOR AQUAVIÁRIO
CRESCE QUASE 10%
MOVIMENTAÇÕES DE CARGAS NOS PORTOS DE ITAQUI
E SANTOS INFLUENCIAM NO RESULTADO
m expressivo aumento
no volume de cargas
transportadas, 9,07%,
foi apresentado no setor aquaviário em agosto deste
ano. Esta variação foi basicamente causada por uma grande movimentação no Complexo de Itaqui
(Maranhão) e pela nova quebra
do recorde de movimentação no
porto de Santos, superando o total de julho deste ano, que até
então era a maior movimentação
da história do porto. Vale salientar que o aquecimento do setor
em algumas regiões ocorre a
partir de abril e vai até setembro
e o período entre outubro e fevereiro costuma apresentar uma
menor movimentação.
No ano, o transporte ferroviário de carga acumula 285,26 milhões de TU e 158,73 bilhões de
U
TKU, marcas respectivamente
5,18% e 9,04% superiores ao mesmo período do ano passado. Os resultados apresentam recordes
históricos para o mês, dando continuidade ao processo de alta iniciado em junho de 2002.
A movimentação das empresas de transporte rodoviário de
cargas apresentou uma queda de
2,72% em setembro. Segundo o
IDET, foram transportadas 101,4
milhões de toneladas de carga total, incluindo a industrial e de outros produtos. O transporte rodoviário de carga é responsável basicamente pela distribuição da
carga produzida, não participando
ativamente do transporte dos produtos mais pesados exportados,
como matérias-primas e bens intermediários. Porém, é um modo
cuja movimentação é reflexo da
produção nacional. A tonelada industrial transportada por terceiros teve um aumento de 6,04% e
a tonelagem de outros produtos
apresentou uma queda de 11,69%,
causada pela redução no transporte de produtos agrícolas.
Já no modal aeroviário de passageiros a queda foi de 1,99% nas
movimentações mensal e diária.
As variações de 12 meses e o acumulado anual já apresentaram aumento (5,49% e 13,18%, respectivamente), o que indica que o impacto da crise já passou e já houve uma inflexão e retomada do
patamar anterior.
O IDET CNT/Fipe-USP é um indicador mensal do nível de atividade
econômica do setor de transporte
no Brasil. As informações do índice
revelam, em números absolutos,
tonelagem, tonelagem-quilôme-
tros, passageiros e passageirosquilômetros e quilometragem rodada para os vários modais de carga e passageiros.
t
MODAL AQUAVIÁRIO
DE CARGAS
(MILHARES DE TONELADAS)
MESES
VOLUME TRANSPORTADO
JULHO/06
AGOSTO/06
38.941,73
42.474,11
FONTE: IDET CNT/FIPE
Para esclarecimentos
e/ou para download das
tabelas do Idet, acesse
www.cnt.org.br ou
www.fipe.com.br
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CNT TRANSPORTE ATUAL
EDIÇÃO 135
HUMOR
DUKE

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