Leia na íntegra - Centro Ecológico
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Na Rio+20 os governos podem criar uma Rede Ambiental Multilateral mais responsiva e representativa … ou levar ao ‘trono’ um novo Império Ambiental. Três aspectos: Uma Grilagem Legalizada da Terra Estratégias para as Mudanças Climáticas Economias Verdes Governança Verde O atropelado cronograma de negociações pode levar à… … Ou uma Agenda para a Terra Que seja participativa, baseada no princípio da precaução e… Construção de um mecanismo de ‘governança verde’ mais centralizado (Organização Mundial do Ambiente), pseudo-ONU, que privilegia o setor privado, o FMI e o Banco Mundial enquanto deixa de lado a maior parte do Sul global, uma vez que seus ‘comandantes’ controlam o ambiente, os recursos naturais (incluindo agricultura) e a mudança climática; Crie uma nova, ampla, participativa e transparente rede ambiental da ONU, na qual os governos do Sul, e a sociedade civil, possam encaminhar toda a gama de assuntos sobre clima e ambiente, atualmente tratados em 500 distintos acordos e instituições; e... dê boas-vindas ao reformulado Comitê sobre Segurança Alimentar Mundial da ONU (CFS) como seu interlocutor para políticas e programas sobre alimentos, agricultura e desenvolvimento rural; Defesa implícita de um conjunto das assim chamadas “tecnologias limpas”, que não foram testadas, como a base para a “Economia Verde” (incluindo biologia sintética, nanotecnologia, genômica e geoengenharia). Essas tecnologias dominarão os recursos naturais do Sul (de novo, incluindo a agricultura), e... Dê à ONU a incumbência de, em 2010 – como um elemento central no desenvolvimento de economias verdes social, econômica e culturalmente apropriadas e diversificadas – desencadear um processo de negociação objetivando um mecanismo internacional de avaliação de tecnologias e de informação que fortaleça a soberania nacional e as escolhas de políticas sobre tecnologias; Aceitação de um regime de transferência de tecnologia que imporá um controle monopolístico da indústria sobre a utilização de tecnologias não testadas – incluindo, especialmente, a geoengenharia. Assegure a integridade da comunidade multilateral e a prioridade do princípio da precaução como sendo a parte principal da regulamentação e da transferência de tecnologia; e confirme o controle da ONU sobre todas as tecnologias que pretendem impactar a mudança climática, mediante o estabelecimento de uma proibição legal de todas as formas de geoengenharia. Rio: de Cúpula da Terra para um saqueio global? 2 O longo caminho de meio século até a Rio+20 A Rio+20 é, mais precisamente, a Estocolmo+40. A Conferência de Estocolmo de 1972 estabeleceu o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e a estrutura institucional para a ONU responder por questões ambientais; e a Conferência da Terra Rio 1992 fixou a agenda ambiental global para o século XXI. A Rio+20 deve revisar e então implementar uma agenda atualizada. Alguns países pretendem evitar uma revisão dos compromissos originais da Rio, argumentando que a Rio+20 deve olhar para a frente. Isso é um erro. Os governos devem evitar falsas premissas para não serem enganados por falsas promessas. As atuais estruturas de governança tanto para o ambiente quanto para a agricultura no sistema da ONU sofrem de uma falta de coordenação entre as instituições; uma falta de representação efetiva da maioria dos governos; e uma ausência do envolvimento da sociedade civil e dos movimentos sociais. A Rio+20 apresenta uma oportunidade real para reforçar a democracia e a participação das pessoas no sistema ONU. Economias genuinamente verdes devem se basear no uso apropriado da biodiversidade para atender às necessidades humanas e salvaguardar sistemas planetários. É bem-vindo o fortalecimento e a criação de economias verdes que sejam diversificadas, centradas no local e social, cultural e ecologicamente apropriadas. Contudo, na ausência de debate cuidadoso entre governos e do envolvimento significativo de pessoas, a ideia de que uma “Economia Verde” sustentável seja a forma para utilizar e desenvolver os recursos biológicos e outros recursos naturais do Sul global – que sustente suas populações e proteja o Planeta – pode se transformar na maior grilagem legalizada de recursos em mais de 500 anos. Iniciativas para se contrapor aos novos senhores da biomassa Os meses pela frente são um tempo de risco e de oportunidade. Os riscos são óbvios, enquanto as oportunidades frequentemente não são identificadas. Propomos as seguintes iniciativas amplas... Governança verde – Uma nova rede ambiental da ONU Criar uma rede ambiental da ONU, nova, ampla, participativa e transparente, na qual governos do Sul e sociedade civil possam encaminhar toda a gama de questões climáticas e ambientais geridas por 500 organizações e acordos diversos, e, dar boas-vindas ao reformulado Comitê da ONU sobre Segurança Alimentar Mundial (CFS, por sua sigla em inglês) como seu interlocutor para políticas e programas sobre alimentos, agricultura e desenvolvimento rural. A única razão para introduzir um novo Império Ambiental (conhecido como Organização Mundial do Ambiente) seria enfraquecer a influência dos governos engendrando um tipo de ajuste informal que inevitavelmente beneficia aqueles com riqueza e poder. A importância da governança agrícola na Rio+20 Em negociações a respeito de comércio de carbono, nas discussões da Convenção-Quadro sobre Mudança Climática e na Rio+20 sobre uma “Economia Verde” há uma tendência preocupante de submeter o tema de alimentos e agricultura a uma agenda “ambiental” corporativa mais ampla que tende a ignorar as crises alimentares globais recorrentes e os vínculos entre a agricultura industrial e a crise climática. Há, também, uma tendência de desvalorizar o reestrutura- Rio: de Cúpula da Terra para um saqueio global? do Comitê sobre Segurança Alimentar Mundial como um parceiro chave para alcançar desenvolvimento social e ecologicamente sustentável dentro do marco da Soberania Alimentar. A crise alimentar, que em 2008 levou mais de um bilhão de pessoas à fome, está de volta, com alguns preços de commodities atingindo os níveis mais altos da história. Todas as propostas para novos usos da terra ou da biomassa devem ser planejadas com base na experiência real dos produtores familiares e daqueles que têm fome. Não é suficiente olhar através das lentes ambientais ou da mudança climática. A importância da agricultura, e, dentro dela, a importância dos agricultores familiares, deve ser central em qualquer discussão sobre uma nova economia verde. De acordo com recente relatório do PNUMA (Toward a Green Economy), há 525 milhões de pequenas propriedades agrícolas, das quais 404 milhões têm menos de dois hectares. Os agricultores familiares respondem por 70% (e aumentando) da produção agrícola global. O relatório do PNUMA diz que há evidências substanciais de que pequenas propriedades têm maiores produtividades. Cerca de 90% da produção agrícola africana – e 40% da produção de cereais da Índia – vem de pequenas propriedades. Considerando a produção global de alimentos, os economistas verdes devem, também, conhecer a contribuição dos pescadores artesanais e dos caçadores e coletores – a “colheita escondida” que gera um terço ou mais do consumo calórico rural em algumas estações do ano. Além disso, os economistas verdes devem levar em consideração a importância da produção urbana e da periferia urbana de alimentos, a qual é estimada em até 25% do consumo urbano. Quando tudo isso é colocado junto, a produção “camponesa” (não industrial) pode ser tão alta como 80 ou 85% do consumo global de alimentos e é, de longe, a mais importante fonte de alimento para o 1 milhão de pessoas famintas que não conseguem com- 3 prar no Carrefour ou Wal-Mart. Na Rio+20, os governos devem admitir que o ponto inicial para o desenvolvimento de estratégias agrícolas é o Relatório sobre Avaliação Internacional sobre Conhecimento Agrícola, Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento (IAASTD) e, especialmente, sua ênfase no papel dos produtores familiares para se alcançar soberania alimentar sustentável. Economia verde? – Antes dela, avaliação de tecnologias A ONU, em 2012, deve assumir o compromisso – como um elemento central no desenvolvimento de economias verdes social, econômica e culturalmente apropriadas e diversificadas – com um processo de negociação que leve a um mecanismo internacional de tecnologias e de informação que fortaleça a soberania nacional e as escolhas de políticas tecnológicas. A nanotecnologia, a biologia sintética, a metagenômica e a geoengenharia não são invenções simples, mas plataformas tecnológicas que demandam sistemas completos de produção e/ou de processamento. São tecnologias que não foram testadas, e sua aplicabilidade a necessidades dos países é mera especulação. O Sul global – que está recebendo o impacto da deterioração ambiental e da mudança climática – também será cobaia para testar esses poderosos pacotes tecnológicos. O pré-requisito lógico para a transferência tecnológica é a criação, pelas Nações Unidas, de um mecanismo de avaliação e informação de tecnologias. As tecnologias A estatística mais preocupante utilizada por capitalistas aventureiros na discussão da “Economia Verde” é que somente 23,8% da biomassa terrestre anual da Terra chega ao mercado comercial – significando que 76,2% da biomassa terrestre do Plane- 4 Rio: de Cúpula da Terra para um saqueio global? ta está disponível para ser mercantilizada e monopolizada. Alguns governos e agências da ONU já manifestaram sua preocupação sobre a “grilagem legalizada de terras” que ameaça a soberania nacional e alimentar de muitos países. Pouca atenção, contudo, tem sido dada às tecnologias “limpas” patenteadas que podem determinar a terra de quem será explorada e para que finalidade. Na preparação para a Rio+20, os governos têm subestimado significativamente a velocidade da mudança tecnológica e o impacto que algumas tecnologias chaves podem ter sobre o ambiente global, a mudança climática e a economia do Sul. Quatro desenvolvimentos cruciais estão resumidos a seguir. Biologia sintética No final vivo da nanoescala, a biologia sintética está tornando possível ir além de mover simples genes de uma espécie para outra (como faz a biotecnologia nos cultivos transgênicos, por exemplo), para construir DNA desde sua base para fabricar algas e microrganismos únicos que se comportem como microfábricas biológicas capazes de converter quase qualquer biomassa em quase qualquer bioproduto. Com bilhões de dólares de investimento público e privado nos últimos poucos anos (incluindo as maiores companhias mundiais de energia e de química), a biologia sintética vê a biodiversidade da natureza como matéria-prima para os organismos projetados converterem celulose da Nanotecnologia biomassa em combustível, químicos, plásDesde o ano 2000, o investimen- ticos, fibras, produtos farmacêuticos ou to público global em pesquisa de até alimento – dependendo da demanda de nanotecnologia ultrapassou 50 bilhões de mercado na hora da colheita. Utilizando tecdólares. E o ritmo está aumentando: investi- nologias patenteadas, os novos “Senhores mentos públicos e privados em nanotecno- da Biomassa” não precisam ser proprietálogia devem ter chegado aos 20 bilhões de rios da terra ou da biomassa, uma vez que dólares em 2010. Mais de 60 países agora seus microrganismos são os que têm a catêm iniciativas nacionais em nanotecnologia. pacidade de determinar o produto final. Tal Esses novos métodos de manufatura irão abordagem reducionista da biodiversidade impactar empregos e fábricas, mas também não tem lugar numa verdadeira economia irão impactar o mercado global de recursos verde. A Convenção de Biodiversidade está naturais, do cobre ao algodão, ou das fibras examinando a biologia sintética, conforme naturais aos óleos vegetais. Embora descri- propostas de seu comitê científico (SBSTta como “limpa” e “verde”, essa Revolução TA, por sua sigla em inglês), para considerar Industrial está avançando quase sem qual- estabelecer uma moratória. quer monitoramento e regulamentação. Seu Metagenômica impacto sobre países exportadores pode ser profundo, e sua importação (especialmente Para muitos governos, a esem alimentos e outros produtos de consusência da “Economia Verde” é o mo) pode ser perigosa. A nanotecnologia uso sustentável da diversidade não pode ser chamada de tecnologia “lim- biológica para melhorar a produtividade de pa” prematuramente, especialmente à luz grãos e de animais de criação e para desende dezenas de estudos científicos mostran- volver novos produtos farmacêuticos, além do efeitos tóxicos de alguns nanomateriais. de outros produtos de alto valor. E, por isso, Muitas organizações da sociedade civil pedi- acordos recentes na Convenção de Biodiram por uma moratória sobre nanotecnolo- versidade e na FAO estão tentando assegia até que as implicações socioeconômicas gurar o acesso equitativo e a repartição de e sobre a saúde sejam entendidas. benefícios. Enquanto esses acordos ainda Rio: de Cúpula da Terra para um saqueio global? estão sendo finalizados, desenvolvimentos na metagenômica e na computação estão convencendo algumas indústrias de que a conservação da biodiversidade é desnecessária. Levou-se 13 anos e 3 bilhões de dólares para mapear o genoma humano há oito anos, mas hoje é possível mapear um genoma complexo em oito dias, por menos de 10.000 dólares. E bem pouco tempo depois da Rio+20 será possível mapear qualquer genoma em 15 minutos, por poucas centenas de dólares, com base numa única molécula... e carregar o mapa digital do DNA em uma nuvem da internet a partir de qualquer lugar do mundo. Também, em breve, será possível carregar o mapa digital de cada espécie conhecida numa peça de plástico do tamanho de um cartão de crédito, com a molécula de cada espécie no outro lado do cartão. Baixando genomas da internet para seus notebooks, cientistas irão reprojetar o DNA, mandar o código reprojetado por email para um sintetizador comercial de genes e receber de volta pelo Sedex, em poucos dias, o germoplasma (código genético) pronto para ser usado. Enquanto isso, a metagenômica está sequenciando os genomas de comunidades de organismos numa investida feroz para explorar o funcionamento microbiano de sistemas inteiros. Alinhadas com esses desenvolvimentos, novas tecnologias de imagem hiperespectrais – utilizando satélites e aeronaves – estão tornando possível científica e financeiramente mapear, medir e capturar biodiversidade singular. Com esses desenvolvimentos, a soberania do Sul sobre sua biodiversidade torna-se discutível, e a “Economia Verde” torna-se injusta. Geoengenharia A indústria, na Rio+20, não somente tentará impor a nanotecnologia, a biologia sintética e a metagenômica como tecnologias centrais para a “Economia Verde”, mas também estará propondo essas tecnologias como parte das estratégias de geoenge- 5 nharia para atenuar ou retardar a mudança climática. A geoengenharia é a intervenção intencional em larga escala em sistemas planetários com a intenção de afetar o clima, como uma resposta à mudança climática provocada pelo ser humano. Ela inclui várias tecnologias de alto risco, indo de aerossóis estratosféricos até o branqueamento de nuvens, da fertilização de oceanos até modificações no clima. Essas tecnologias estão em pesquisa e desenvolvimento ativo em um pequeno número de países (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália, Rússia, Alemanha) e têm sido discutidas em círculos políticos como o “Plano B” para a mudança climática devido aos resultados desanimadores nas negociações sobre o clima. Desde 2008, a Convenção sobre Biodiversidade da ONU adotou, por unanimidade, duas moratórias barrando a geoengenharia. A primeira, em 2008, contra a “fertilização de oceanos”, que pretende (embora não tenha sido demonstrado) sequestrar dióxido de carbono. E, em 2010, uma moratória da geoengenharia em termos mais genéricos, incluindo várias formas do chamado Manejo de Radiação Solar (que inclui branqueamento de nuvens através de pulverizações com sal marinho e a construção de vulcões artificiais para espalhar sulfatos na estratosfera). A geoengenharia é atrativa, pois permite que governos que desejam atuar pouco ou nada em relação à mudança climática façam de conta que um “remendo” tecnológico é suficiente. E significa que eles podem agir unilateralmente (sem acordo multilateral) para mitigar o aquecimento global enquanto mantêm seus exorbitantes padrões de consumo. A geoengenharia, para esses governos, pode ser politicamente popular em casa e poupar dinheiro para eles no exterior. A geoengenharia é hoje apresentada como um conserto rápido para nossas outras crises ecológicas, tais como a acidificação dos oceanos, desequilíbrio no ciclo de nitrogênio e água. Não há como isso fazer parte de uma Economia Verde. 6 Rio: de Cúpula da Terra para um saqueio global? No próximo ano, acontecerá a Cúpula da Terra – que traz consigo uma herança significativa. Formalmente chamado de Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, o encontro é conhecido como Rio+20, porque se realizará 20 anos depois da primeira Cúpula da Terra no Rio, em 1992. Esta, por sua vez, ocorreu 20 anos depois da igualmente importante Convenção de Estocolmo sobre o Desenvolvimento Ambiental e Humano. A Rio92 nos legou uma série de documentos: a Convenção do Clima, a Comissão de Diversidade Biológica, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável, o Princípio da Precaução, uma longa e ambiciosa lista de promessas chamada Agenda 21, os Princípios Florestais e muito mais. Mais de uma centena de chefes de estado foram ao Rio de Janeiro em 1992, sob uma intensa atenção global. A reunião retornará ao Rio entre 4 e 6 de junho de 2012. E é possível que seja novamente um grande acontecimento. Em um recente encontro preparatório em Nova Iorque, foi tornada pública a agenda para a próxima Cúpula da Terra. Os líderes apresentarão um “documento político focado” incluindo a transição para uma “economia verde” global e a reforma das instituições internacionais responsáveis pelo desenvolvimento sustentável. Esta “reforma” pode viabilizar a reestruturação de tudo, desde o Programa Ambiental das Nações Unidas (PNUMA) e o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas até os 500 distintos tratados e acordos ambientais atualmente em vigor. Isso abrange, entre outros temas, substâncias químicas tóxicas, conservação de oceanos, biodiversidade, desertificação, mudança climática, redução da camada de ozônio e proteção de florestas. As tendências crescentes na temperatura global, fome, escassez de água e perda de biodiversidade mostram ser evidente o fracasso da confusa governança ambiental que ora existe. A Rio+20 é uma oportunidade preciosa para os tomadores de decisões inventariarem os erros dos últimos 20 anos e planejarem com inteligência os próximos 20. Quem sabe a Rio+20 produzirá um choque de vontade política para a agenda ambiental global, bem como um plano inteligente para colocar o planeta de volta nos eixos. Bem, pelo menos, essa é uma possibilidade teórica. Porém, em vez de um plano para salvar a Terra, poderá surgir dessa cúpula um acordo para submeter o mundo vivo a um pequeno grupo de banqueiros e engenheiros, um plano que esvaziará as promessas da primeira cúpula do Rio. Já há tensões aflorando entre países do Norte e do Sul sobre o conceito pobremente definido de o que é uma “economia verde” global, que é o tema central da cúpula. O que é uma economia verde global? Essa, é claro, é uma questão que envolve trilhões de dólares. Está se falando muito dos problemas atuais de poluição e de uma economia que é injusta. Mas, há grande suspeita de que, na realidade, as prescrições propostas para desenvolver a “economia verde” são um disfarce verde para a mesma velha economia atual. As palavras-chave, aqui, são “mercados” e “tecnologia”. Em Cancún, em 2010, as negociações globais sobre clima abandonaram o difícil trabalho de buscar um acordo para cortar emissões e deram uma guinada para atitudes politicamente mais fáceis re- Rio: de Cúpula da Terra para um saqueio global? lacionadas a comércio de carbono e painéis solares. Da mesma forma, a brigada da economia verde gostaria de conduzir a cúpula Rio+20 no sentido de evitar tratar das causas principais na origem das nossas crises ecológicas. Querem que a ênfase seja “olhar adiante”, para estabelecer novos acordos financeiros baseados nos assim chamados “serviços ambientais” enquanto asseguram fundos para típicas tecnologias consideradas “verdes”. Dois relatórios do PNUMA, um sobre “A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade” (TEEB, por sua sigla em inglês) e um “Relatório da Economia Verde” (GER, por sua sigla em inglês), dão o tom para esse plano. Eles argumentam que a natureza, como um provedor industrial, poderia ser medida com precisão e avaliada de acordo com os “serviços” naturais que ela proporciona – tais como limpeza da água, sequestro de carbono e ciclo do nitrogênio. Tais serviços podem ser pagos por compensação ou securitizados na forma de créditos inventados que podem ser comercializados para levantar dinheiro para a conservação. Enquanto isso, novas tecnologias “ecoeficientes” podem ser desenvolvidas e colocadas à disposição, aumentando o valor desses serviços ambientais ao mesmo tempo que geram mais renda. Se soa mais como um plano de negócios do que como um acordo para proteger a Terra, é porque o fator negócios está firmemente assentado no comando. O autor que lidera tanto o TEEB quanto o GER é um funcionário de um banco de investimentos, licenciado do Deutsche Bank, e os apoiadores mais animados são a turma de Davos, das 500 maiores empresas da revista Fortune, e os diplomatas do G8. 7 Ainda mais alarmante é o fato de que algumas dessas vozes colocam a “economia verde” como uma atualização ou substituição do conceito “fora de moda” de “desenvolvimento sustentável”, que foi acordado 20 anos atrás. Apesar de “desenvolvimento sustentável” ter seus problemas como uma meta, ele pelo menos tenta explicitamente tecer objetivos ambientais dentro de objetivos sociais e econômicos mais amplos, tais como reduzir a pobreza e criar uma sociedade justa e equitativa. Ao contrário, a ideia de uma economia verde é um ‘desenvolvimento sustentável diet’– extenso em ‘remendos’ tecnológicos e soluções curativas e reduzido em enfrentar as causas principais da pobreza, da desigualdade e da opressão que levam à destruição ambiental. Em março, na ONU, em Nova Iorque, em um lotado evento paralelo ao oficial, intitulado “Economia Verde de Quem?”, o embaixador da Bolívia, Pablo Solon, afirmou que esse capitalismo verde re-empacotado era um desvio dos objetivos e compromissos reais de que a Rio+20 precisa tratar para atingir um desenvolvimento sustentável. Ele alertou de que as novas formas de mercantilização e especulação que estão sendo propostas são capazes de destruir a natureza enquanto mantêm as injustiças existentes. Os povos indígenas e movimentos sociais que têm lutado contra as consequências dos REDD+ estão particularmente alarmados porque essa mesma abordagem de transformar tudo em commodities está sendo proposta para ser estendida aos solos, oceanos, etc. Como coloca Silvia Ribeiro “Na esteira das maiores crises financeiras da história, os mesmos banqueiros, que não conseguem nem mesmo manter suas próprias casas em 8 Rio: de Cúpula da Terra para um saqueio global? ordem, agora alegam que podem gerenciar o Planeta. Perdão, mas não dá para acreditar neles”. Também é problemática a fraca definição do que são “tecnologias verdes”. O relatório sobre Economia Verde do PNUMA inclui queima de biomassa e os agrocombustíveis como possíveis partes de uma “economia verde” – quando na realidade aumentam o preço dos alimentos, a grilagem legalizada de terras, além da poluição tóxica do ar. O relatório menciona energia nuclear e chega quase a recomendar cultivos transgênicos como parte do pacote verde. Ao mesmo tempo, o próximo conjunto de ‘santos remédios’ tecnológicos já está sendo re-emoldurado como parte da economia verde. A biologia sintética, que fabrica microrganismos artificiais com impactos desconhecidos de biossegurança, está sendo promovida como a nova fonte de combustíveis e de plásticos verdes. A nanotecnologia, cujos problemas de toxicidade ameaçam repetir o desastre do asbesto, está sendo adotada para a produção de painéis solares e para limpeza de água. Também a geoengenharia – a ideia de re-engenheirar todo o planeta com nuvens de pó de enxofre ou descargas de ferro e carvão – poderia facilmente ser incluída na ampla definição de “tecnologias verdes”. Caso não se queira que a Rio+20 se torne uma brecha útil para qualquer tecnologia perigosa assumir uma roupagem verde (e os fundos disponíveis), os governos necessitarão ser mais específicos sobre o que é e o que não é tecnologia verde e restaurar o princípio da precaução acordado na Rio pela primeira vez faz vinte anos. A economia verde necessita ter guardiães que sejam confiáveis. Uma proposta, bancada por diversos grupos principais nas Nações Unidas, é o estabelecimento de um mecanismo formal para avaliar tecnologias novas e emergentes – algo do tipo uma Convenção Internacional para Avaliação de Novas Tecnologias (ICENT, pela sua sigla em inglês). Tal convenção deve dispor de uma função de alerta antecipado para os governos sobre escolhas de opções tecnológicas, antes que elas sejam aplicadas. Uma ICENT teria alertado, antes dos preços dos alimentos dispararem, para não se apoiar o etanol, ou desafiado a segurança de tecnologias energéticas arriscadas bem antes do poço da BP explodir no Golfo do México ou do tsunami atingir o sistema de resfriamento do reator no Japão. E há o obstáculo: 20 anos atrás, governos na Rio92 foram valentes o suficiente para dispor uma série de compromissos que certamente nos teriam livrado de alguns dos terríveis problemas que temos agora, mas eles nunca chegaram a cumprir suas próprias promessas. Com menos de 13 meses pela frente, agora cabe a nós, sociedade civil e movimentos sociais, exigir que aquelas promessas sejam cumpridas, ainda que com atraso. O mais importante é que aquelas promessas não devem ser abandonadas em prol de uma “economia verde” irreal, que significa a continuidade da destruição que já está aí. A má notícia no caminho para a Rio+20 é que já estão pegando as rédeas. A boa notícia é que temos tempo para organizar campanhas maciças para colocar a Cúpula da Terra de volta nos trilhos – não só para uma economia verde, mas para um futuro verde, equitativo e justo. Adaptado de Jim Thomas – Grupo ETC http://www.grist.org/climate-policy/2011-03-24-rio-20-toward-a-new-green-economy-or-a-green-washed-old-economy Rio: de Cúpula da Terra para um saqueio global? 9 As estratégias das empresas e dos governos para aproveitar a mudança climática e assim manter o controle sobre a produção energética, agrícola, tecnológica e de materiais convergem cada vez mais em torno do conceito de biomassa. A biomassa engloba mais de 230 bilhões de toneladas de matéria viva que a Terra produz a cada ano – de árvores a micróbios. Essa riqueza encontra-se principalmente no Sul global e sustenta a vida da maioria dos habitantes do planeta. Até agora, somente 24% da biomassa terrestre é utilizada na sobrevivência humana e na produção industrial. Entretanto, com as novas tecnologias – nanotecnologia e biologia sintética, entre outras – a indústria pode converter 86% da biomassa global não utilizada em um butim. Seria uma “febre do etanol” aumentada milhares de vezes, pois agora não só se fala de produção de combustíveis, mas também de alimentar todos os setores industriais que conhecemos, e que até agora dependem do petróleo, do carvão e do gás. Chamam essa transformação de “economia verde” ou “economia da biomassa”. O novo uso do termo “biomassa” reduz pastagens e florestas a fontes de celulose e carvão. Para ampliar as possibilidades de negócio, governos e indústria incluem também como biomassa comercializável plantas, lodo dos esgotos, plásticos, madeiras tratadas, materiais de revestimento de construções e os detritos da demolição; o esterco dos animais criados industrialmente e os restos dos abatedouros e da criação intensiva. Nem mesmo com essas contas há suficiente biomassa no planeta para conseguir uma economia que não dependa de combustíveis fósseis, mantendo o mesmo consumo. Estamos no vermelho no “banco” da biomassa, à beira da morte progressiva de florestas e oceanos. Monopolizar os frágeis ecossistemas para encontrar novas fontes Foto: Rodolfo Clix / Stock.xchng de combustíveis e outros insumos industriais é uma ação criminosa contra um planeta em crise, porque, entre outras coisas, todos esses “dejetos” não utilizados são a base fundamental para reciclar a potencialidade dos solos e da imensidade vegetal. A privatização da matéria vegetal para transformá-la em mercadorias diversas, a engenharia de células para convertê-las em microfábricas de compostos químicos e o reordenamento dos ecossistemas para torná-los provedores de “serviços” são parte integrante da nova proposta. Em resumo: as indústrias e os governos mais poderosos querem continuar com a forma suja, injusta e devastadora de produção e acumulação de capital, mas agora usando tudo o que caiba na definição de biomassa. E querem nos vender isso como uma economia amigável com o planeta. Los nuevos amos de la biomassa. Biología sintética y el próximo asalto a la biodiversidad (disponível em http://www.etcgroup. org/es/node/5253) é um novo documento do Grupo ETC que desnuda as falácias da “economia verde” ou “economia da biomassa”. Novas ameaças biológicas, novos tóxicos e a devastação irreversível da ecologia são descritos detalhadamente no documento. A primeira parte dá um panorama da situação atual e do que ela significa para os povos e para a natureza. A segunda parte fala dos atores que impulsionam a nova “bioeconomia” e das tecnologias com as quais esta está associada. Adaptado de Verónica Villa, Grupo ETC http://www.biodiversidadla.org/Objetos_Relacionados/Biodiversidad_ sustento_y_culturas_N_682 10 Rio: de Cúpula da Terra para um saqueio global? No próximo ano, a Conferência das Nações Unidas deveria marcar o começo de uma nova era de cooperação entre a economia e o meio ambiente. A Rio+20 não é apenas o aniversário da Cúpula da Terra, é também Estocolmo+40, e também 50 anos da publicação do livro clássico que impulsionou o movimento ambiental global, Primavera Silenciosa, de Rachel Carson. Assim, quando nos preparamos para 2012, temos que ter em mente 50 anos de história ambiental. Todos apreciamos o reconhecimento da necessidade de mudar de rumo, de ir na direção da sustentabilidade. Mas temos que reconhecer que, na maior parte da história moderna, achávamos que vivíamos de forma sustentável. Nossas dúvidas a respeito disso – como economistas, ecologistas, fazedores de políticas ou industriais – afloraram apenas nas últimas décadas. Foi quase uma surpresa nosso sistema de energia ser insustentável; nossa cadeia de alimentos se romper; nosso ambiente estar sendo erodido e nossa água estar acabando. Não pode ser UMA nova economia verde. Necessitamos novas economias verdes – no plural – que sejam locais, diversas e participativas. Economias verdes devem ser construídas da base, firmemente enraizadas em nossas diferentes culturas e contextos. A história recente torna claro que, globalmente, não somos bons em prever as necessidades de economias verdes: Há quatro anos, quase todas as nossas instituições intergovernamentais falharam em ver no horizonte a crise dos preços dos alimentos. Como consequência de nosso equívoco, 170 milhões de pessoas a mais do que em qualquer época anterior passam fome. Há três anos, a maioria dos governos convenceu-se de que os agrocombustíveis não colocariam os carros contra as pessoas. O consenso esmagador agora é que – para a maioria dos países – os agrocombustíveis aumentam a fome, e continuamos a escutar que as novas gerações dessas tecnologias, mais sustentáveis, estão em vias de acontecer. Aqueles que têm carro podem ter paciência; os que não têm comida, não podem. Há dois anos, ao começarmos a falar sobre uma nova economia verde, descobrimos que fundos soberanos e especuladores estavam comprando maciças quantidades de terra – e os aquíferos sob elas – na África, na América Latina e até mesmo no meu país, o Canadá. Em reuniões da ONU, nos foi dito que isso era uma situação de ganha-ganha para todos. Hoje, sabemos que isso não é verdade. No início do corrente ano, alguns governos sustentavam que a energia nuclear era a resposta limpa para a mudança climática. Hoje, a terceira e a quarta maiores economias do mundo estão batendo em retirada dessa suposição, e as outras principais economias têm novo respeito pela precaução. Hoje, estão nos dizendo que novas tecnologias empolgantes e sustentáveis estão próximas, as quais irão nos permitir converter a biomassa de nosso planeta em alimento, combustível, fármacos e plásticos. Dizem-nos que menos de um quarto da biomassa terrestre anual já foi mercantilizada, assim temos três quartos de nossa biomassa disponível para uso comercial. E se estivermos errados? E se não houver biomassa suficiente para todos os usos que estão sendo considerados? E se necessitamos não de novos ‘remendos’ tecnológicos, mas sim de mudanças Rio: de Cúpula da Terra para um saqueio global? estruturais e novas políticas sociais? Alguns exemplos de como políticas de economias verdes sustentáveis deveriam parecer: • Água: As cinco maiores companhias de processamento de alimentos e bebidas utilizam água doce suficiente para atender as necessidades pessoais de toda a população mundial. Necessitamos uma rede de alimentos mais local, menos esbanjadora. • Água novamente: Todos os dias, cada consumidor do Reino Unido desperdiça alimentos que necessitam 243 litros de água doce para chegar a nossas mesas. Necessitamos de políticas sociais para mudar hábitos destrutivos de consumo. • Alimento: Anualmente, os países da OECD desperdiçam, per capita, entre 95 e 115 kg de alimento, dez vezes mais do que a África Subsaariana e o Sul da Ásia. Os estados da OECD precisam eliminar esse desperdício. • Mais Alimento: A velha economia verde aumentou nossa vulnerabilidade à mudança climática focando em sete cultivos e cinco espécies de animais. Necessitamos de políticas que trabalhem com agricultores em pequena escala para cuidar da diversidade dos 7.000 cultivos existentes que são plantados e 40 espécies de animais de criação que podem nos auxiliar a sobreviver ao caos climático. • Governos também devem perguntar: quem pode tentar ser o dono dessa nova economia verde? A biomassa mundial está rapidamente ficando sob o controle de um punhado de corporações globais, e tal concentração não é sustentável. • Em 1995, as 10 maiores companhias mundias de sementes controlavam 37% do comércio global de sementes comerciais. Hoje, as dez maiores controlam 73%. • Hoje, as 10 maiores companhias mundiais de agroquímicos controlam mais de 90% das vendas globais de agrotóxicos. • As 10 maiores companhias de processamento de alimentos controlam 77% das 11 vendas globais de alimentos embalados. Dez companhias controlam quase um terço das vendas totais. • Três companhias respondem por um quarto de todas as rações animais industriais, e 10 companhias respondem por mais de 50%. Ao mesmo tempo que ocorreu essa maciça concentração do poder corporativo, a ONU perdeu sua capacidade de acompanhar as tecnologias e de monitorar as multinacionais que as possuem. Logo depois da Rio92, governos abandonaram o Centro de Ciência e Tecnologia para Desenvolvimento das Nações Unidas (UNCSTD) e, com ele, a capacidade de avaliar preventivamente custos, segurança e utilidade de diferentes opções tecnológicas. Também abandonaram o Centro de Corporações Transnacionais das Nações Unidas (UNCTC), perdendo a capacidade intergovernamental para identificar ameaças entre os maiores empreendimentos privados mundiais. Em outras palavras, na véspera da revolução da biotecnologia e da genômica – no início da internet e da nanotecnologia –, a comunidade internacional fez em si mesma uma lobotomia frontal e ingressou na enganosa Economia do Conhecimento sem um sistema de “alerta prévio” e nem de “escuta prévia”. Vinte anos depois da Rio92, nossa retórica está indo da Economia do Conhecimento para a Economia Verde, e olhamos para um novo conjunto de tecnologias para salvar nossas crises climática, de alimento, de energia e econômica. As tecnologias propostas são as menores e as maiores já imaginadas – certamente as mais poderosas. Nas menores, temos nanotecnologia e biologia sintética, que se propõem a manipular matéria em nível de átomos e moléculas para criar formas de vida inteiramente novas. Na escala macro, temos propostas para geoengenheirar o planeta – para transformar superfícies oceânicas para absorver gases de efeito estufa e para ajustar a estratosfera para bloquear luz solar. 12 Rio: de Cúpula da Terra para um saqueio global? Fukushima nos lembra o que esquecemos da Rio92, a saber, o Princípio da Precaução. Governos concordaram sobre a importância de estabelecer mecanismos de avaliação de tecnologias na Rio92. Isso não foi feito. No momento em que consideramos novas economias verdes, devemos, antes de mais nada, estabelecer uma capacidade intergovernamental de avaliação de tecnologia – o que inclui propriedade e controle – e que permita a oportunidade para as pessoas participarem nas decisões que irão afetar suas vidas. A Rio+20 pode ser a base de lançamento para negociações de um novo tratado: uma Convenção Internacional para a Avaliação de Novas Tecnologias (ICENT, por sua sigla em inglês). Além do Princípio da Precaução, devemos assegurar e fortalecer outros três princípios: 1) A participação total e efetiva daquelas pessoas marginalizadas que têm mais a ganhar e a perder com as principais mudanças econômicas; 2) A indicação de políticas e práticas diversas que possibilitem monitorar e, se necessário, voltar atrás de iniciativas perigosas; 3) A necessidade crítica de “provar no campo” as economias verdes sustentáveis em nível local construídas a partir do conhecimento e da experiência locais. Se seguirmos esses três princípios, o resultado será novas economias verdes sustentáveis. Se falharmos, o ano de 2012 será conhecido não como Rio+20, mas por ser uma Primavera Silenciosa -50. Adaptado de Pat Mooney, Grupo ETC, Assembleia Geral das Nações Unidas, Nova Iorque, junho de 2011 http://www.etcgroup.org/en/upload/11-06-01_Rio20orSilentSpring-50.pdf Realização: Projeto gráfico: Amanda Borghetti Junho de 2011 As revistas da série Novas Tecnologias estão disponíveis para baixar em http://www.centroecologico.org.br/novastecnologias.aspx