Comunicado
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Value Investing Brasil Agosto de 2010 DICA DE INVESTIMENTO: FLAVIO S ZNAJDER B OGARI C APITAL, RIO DE JANEIRO Desde sua origem como clube de investimentos, em novembro de 2006, e convertido em fundo de ações, em julho de 2008, o Bogari Value FIA tem obtido resultados superiores aos do Ibovespa, batendo o índice em todos os anos. Até julho de 2010, o fundo acumulou ganho de 768%, que contrasta com o retorno de 69% do Ibovespa durante o mesmo período. O gestor do fundo, Flavio Sznajder, salienta ser seu objetivo superar o índice no longo prazo, da maneira mais consistente possível. Felizmente, a Bogari tem ultrapassado suas metas, com desempenho de curto prazo que Sznajder considera melhor do que o esperado. O gestor recentemente compartilhou uma de suas melhores idéias de investimento no momento, a Tempo Participações (TEMP3), e descreveu suas justificativas nesta entrevista. ●●●●● TEMPO PARTICIPAÇÕES: POSSÍVEL ARBITRAGEM ENTRE O VALOR ESTRATÉGICO E O PREÇO DE MERCADO DO ATIVO Flavio, você poderia descrever brevemente a sua tese de investimento para a Tempo? Página 11 valor real. A tendência é enfatizar demais os resultados de curto prazo, sem entender o que virá pela frente. Com ajustes de processos, são encontrados problemas que podem gerar perdas (ou provisões) para a empresa e, com ajustes operacionais, há um redimensionamento de pessoal que também gera despesas maiores em um primeiro momento. Além disso, por a empresa estar mais focada internamente, a comunicação com o mercado não é prioridade. Com isso, apesar de muitas melhorias internas nos últimos meses, a empresa até pouco tempo parecia ter sido “abandonada” pelo mercado, negociando muito abaixo de seu valor intrínseco. Este é um caso que tem todos os ingredientes de que gostamos: (i) modelo de negócio estável, gerador de caixa e com pouca necessidade de investimento; (ii) balanço forte, com um considerável caixa líquido para o tamanho da empresa (R$ 150 milhões, comparados com uma capitalização de R$ 600 milhões); (iii) posicionamento estratégico relevante, sendo um grande player em odonto e uma das poucas empresas independentes em saúde e odonto; (iv) espaço para melhorias, que vêm sendo implementadas por gestores competentes; (v) preço baixo de negociação. Além disso, confirmando seu posicionamento estratégico, a Tempo recentemente anunciou um acordo com a Caixa Econômica Federal para a criação de uma seguradora de saúde, tendo a Tempo 25% da nova empresa. Isso abre as portas para um canal de vendas novo e muito grande — as agências da CEF —, podendo elevar bastante o crescimento da Tempo. A empresa possui três linhas de negócios: planos de saúde (pré e pós-pagos), planos odontológicos e serviços de assistência (reboque, chaveiro, viagem etc.). A característica em comum desses negócios é exigir pouco investimento em ativos fixos — essas operações são intensivas em pessoas e processos. Isso faz com que a empresa seja, potencialmente, grande geradora de caixa e não dependa de reinvestimentos relevantes. Adicionalmente, acreditamos que seus principais investidores (dentre eles a GP Investments, que já está na companhia há muitos anos) possam estar interessados em vender a empresa (ou parte de seus ativos) no curto ou médio prazo por uma oferta que reflita, melhor do que o atual preço de mercado, seu valor estratégico. Seu IPO foi realizado no final de 2007 para captar recursos e crescer através de aquisições. Porém, o resultado da companhia nos últimos anos sofreu bastante com essa estratégia. A integração das aquisições não ocorreu como esperado e os sistemas de controle da companhia eram falhos. O ex-CEO possuía perfil de investment banker, o que viabilizou as transações mas acabou deixando a consolidação das atividades em segundo plano. Em abril de 2009, esse CEO foi substituído por um profissional com foco em execução operacional. Desde então, a empresa vem integrando suas operações, unificando e melhorando seus processos. Desde nosso investimento inicial, já houve muitas mudanças e ajustes na empresa, porém ainda não refletidos em sua plenitude nos resultados. Acreditamos que, nos próximos trimestres, a empresa mostre os resultados dos ajustes e o mercado precifique o ativo, pelo menos, razoavelmente. Um ponto importante e curioso é que, quando uma empresa está passando por esse tipo de ajuste, o mercado como um todo tem dificuldades para enxergar seu O turnaround está funcionando? Concretamente, o segmento de saúde estava mais ajustado, com exceção da operação de internação domiciliar, ou home care. O segmento de odonto teve suas operações centralizadas, seus controles unificados, seus processos redesenhados e sua estrutura otimizada. Parou de vender planos individuais e focou no que chamam de affinity — planos em que a mensalidade é cobrada por meio de parceiros. O segmento de assistência, que era ineficiente, teve produtividade melhorada e custos reduzidos. Copyright by Value Investing Brasil C. T. Ltda ● www.cvib.com.br 11910MC Value Investing Brasil Agosto de 2010 Tempo Participações (TEMP3): 9 7 Cotação: R$ 3,80 5 P/L: N/A PSR: 0,73 3 P/VP: 2,24 1 0 9 20 1 08 9 20 0 12 8 20 0 06 8 20 0 12 20 0 06 12 20 0 7 Yield: 0,0% No total, o número de funcionários foi reduzido em 500 pessoas, ou cerca de 15%. Atualmente, cada funcionário tem metas operacionais e financeiras alinhadas com o orçamento da companhia e com reflexo em sua remuneração individual. Agora, a empresa está sob controle. O que está faltando é o turnaround do home care, que deve ser executado até o final do ano. Em termos financeiros, a volatilidade dos resultados está diminuindo e o EBITDA recorrente aumentando (no último trimestre foram R$ 17 milhões, está melhorando). Mas os indícios da execução são mais operacionais e menos financeiros. Nosso conhecimento interno de empresas permite que, com alta probabilidade, consigamos enxergar a tendência operacional de nossos investimentos. Aliás, essa é uma premissa para que compremos qualquer ação. Entender o que vai acontecer não é uma função matemática: “fazendo-se A, ocorre B”. Operacionalmente, sabemos que, quando se faz A, a probabilidade de B ocorrer é bastante alta — mas não uma certeza. Portanto, quando executivos competentes tomam várias medidas positivas em uma empresa, a probabilidade de sua operação melhorar é ainda mais alta. Normalmente, os números aparecem com clareza nos resultados da companhia entre 6 e 12 meses após essas medidas serem tomadas. O analista tradicional olha o espelho, para o passado. Nós gostamos de olhar para o futuro. Certamente! Nas palavras de Warren Buffett, “Vá para onde o [resultado] estará, não para onde ele está.” ³ Quais são os riscos nesse investimento? O principal risco está na execução do turnaround. A empresa estava bastante desorganizada e descontrolada antes da atual gestão tomar posse, em 2009. Naturalmente, uma empresa desestruturada fica frágil em sua posição competitiva. Então, o mais relevante é realizar o turnaround, que vem sendo executado com sucesso. A metodologia de gestão está quase toda implementada, o caixa está sob controle, os processos foram Página 12 redesenhados, as operações centralizadas e cortes de custos relevantes foram realizados. O processo ainda não foi concluído, mas está perto do fim. Os resultados, por sua vez, já estão menos voláteis e a tendência é que os itens não recorrentes sejam menos freqüentes. Os mitigadores desse risco, que tornam o investimento mais seguro do que aparentemente é, são: caixa líquido de R$150 milhões, inexistência de endividamento, EBITDA positivo, baixíssima necessidade de investimento e ótimo time de executivos. Como a Bogari pensa sobre valuation neste caso? A Tempo, com suas operações otimizadas — porém sem crescimento e sem o contrato da Caixa —, tem capacidade de gerar de R$ 75 a R$ 85 milhões em EBITDA, ou seja, seu atual enterprise value representa um múltiplo de 5 a 6. Entretanto, lembremos que a companhia requer um volume de investimentos muito baixo — de R$ 8 a R$ 10 milhões de reais por ano — e tem grande prejuízo acumulado. Dessa forma, a conversão de EBITDA em caixa e o free-cash-flow yield tendem a ser muito elevados. Essa situação permite que levemos “de graça” o crescimento e o contrato com a Caixa, que estimamos valer cerca de R$ 250 milhões. Está bastante barato. Considerando-se ainda que pode haver um catalisador de curto ou médio prazo, como a venda da companhia (ou de ativos) para um player estratégico, esta parece, sem dúvida, uma das melhores oportunidades da bolsa. Como é, para vocês, a questão da liquidez? Somos investidores de longo prazo e, como investimos em ativos que tendem a valer mais no futuro do que valem hoje, podemos esperar a companhia melhorar. Mesmo assim, se tivermos de sair do ativo antes da hora — o que é improvável —, temos uma posição compatível com o nosso tamanho, com a nossa base de clientes de longo prazo e com o nosso período de resgate de 30 dias. Portanto, a liquidez é mais que suficiente para nosso fundo. Na verdade, esta é uma preocupação muito grande que temos. Não acreditamos que a concentração excessiva traga benefícios maiores do que o risco de perda adicional no longo prazo, ou seja, nos preocupamos em evitar uma queda relevante que possa comprometer nossa rentabilidade pelos próximos anos ou décadas. Sendo assim, procuramos ter diversificação adequada para que possamos sair de qualquer posição em um prazo razoável, se necessário. Agradecemos pela dica. ● ³ Buffett afirma que sua abordagem de investimentos segue conselho do ex-jogador de hóquei no gelo, Wayne Gretzky, que disse: “Vá para onde o disco estará, não para onde ele está.” Copyright by Value Investing Brasil C. T. Ltda ● www.cvib.com.br 11910MC
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