Edição nº 1239/1240
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Edição nº 1239/1240
Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP . CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA EDIÇÃO Nº 1239/1240 – Ano 29; 4ª Semana Maio; 1ª de Junho 2015. África abre suas veias e fronteiras para o mega safari do capital global . JOSÉ MARTINS O processo de civilização da África volta com toda força. Com armas mais poderosas. Diferentemente do velho tráfico negreiro do colonialismo inglês dos séculos 18 e 19, que escravizava e deportava a população do continente para as Américas do capital – no imperialismo do século 21 é o tráfico armado pelo capital do mundo que invade a África e planeja o consumo da sua população de trabalhadores livres nas imundas cadeias produtivas globais. Abidjan, Côte d’Ivoire, 25 de Maio 2015. Como fazem uma vez por ano, os principais dirigentes africanos estão reunidos para discutir o futuro econômico do continente. Mas não são eles que decidem o que fazer. Como das outras vezes, o Banco do Desenvolvimento Africano organiza, estabelece a pauta e as conclusões deste 50º Encontro Anual. De acordo com o seu relatório African Economic Outloock 2015 – escrito pelas mãos dos economistas da OECD e de outras instituições imperialistas globais – “com a população africana triplicando até 2050, a modernização das economias locais é vital para tornar o continente mais competitivo e integrado nas grandes cadeias produtivas globais...”. O processo já começou há bom tempo. A diferença é que nos anos 2010 ele se aprofunda. O volume de investimento externo direto (IED) deve atingir US$ 73.5 bilhões em 2015. Superando a maioria das regiões do mundo, as economias da África vão crescer 4.5% em 2015 e podem atingir 5,0% em 2016, “convergindo com as atuais taxas de crescimento da Ásia”, destaca o relatório. Mas o crescimento no continente se desenrola de maneira desigual. Veja no quadro abaixo: África: taxa de crescimento por região, 2013-16. (crescimento do PIB em volume, %). 1 Nota-se menor crescimento nas regiões mais capitalizadas. Na África do Norte, com as economias do Magreb (Marrocos, Argélia e Tunísia), Líbia e Egito. E na África Austral, onde se destaca a África do Sul. Isso é devido à luta de classes e as crises periódicas globais. A resistência social ao avanço do capital ocorre nestas regiões em que a classe assalariada é mais antiga e mais numerosa, com a qual a luta de classes se tornou mais aguda depois do arrocho da última crise econômica global. A “primavera árabe” e as grandes greves operárias na África do Sul depois de 2008/2009 ilustram este fenômeno. E o produto cai. Nos últimos anos, os próprios capitalistas da África do Sul – cujo crescimento caiu para 2,2% em 2013 e 1,5% em 2014 – deslocam seu investimento externo direto para outras regiões do continente, onde a classe operária ainda está em formação. Principalmente para a África do Oeste, que, junto com a África do Leste apresenta as maiores taxas de crescimento nos anos recentes. Aqui se destaca a Nigéria, a “nova potencia africana”, cujo PIB já supera o da África do Sul. A Nigéria é grande produtora e exportadora de petróleo. Com a queda dos preços desta matéria prima no mercado internacional seria natural uma queda do seu produto interno bruto. Mas ocorreu o contrário: em 2013 cresceu 5,4%; em 2014 acelerou para 6,3%. Acontece que a queda na receita com o petróleo foi mais que compensada pelas transformações estruturais da economia do país. Veja a observação deste processo nesta descrição mais ou menos ingênua presente no relatório do Banco de Desenvolvimento Africano: “Na Nigéria, primeiro pais da África em tamanho, o crescimento se acelerou para 6,3%, contra 5,4% em 2013, de novo sustentado pelos setores não petroleiros, em particular os serviços, as indústrias manufatureiras e a agricultura, confirmando a diversificação em marcha nesta economia. A participação do setor de petróleo e gás no PIB erodiu para aproximadamente 11%, um nível praticamente equivalente ao das indústrias manufatureiras (em torno de 10%)”. Essa transformação estrutural das matérias primas para as indústrias manufatureiras na Nigéria obedece fielmente ao figurino do imperialismo global. A economia africana acelera sua integração nas cadeias produtivas globais. Ultimam-se os últimos detalhes do grande safari. As cadeias produtivas globais, como é demonstrado pelo deslocamento das grandes empresas globais para a América Latina, à partir dos anos 1960, e desde os anos 1980 para o leste da Ásia – é a forma mais lucrativa para o capital global. As modernas cadeias produtivas globais materializam a passagem da predominância da exploração de matérias primas na periferia do sistema, forma imperialista predominante até a 2ª Grande Guerra, para a predominância do deslocamento da montagem industrial para as maiores economias da periferia. Este último bloco de economias dominadas é concretamente ilustrado pelo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e South Africa). A exploração de matérias primas pelo sistema imperialista tem importância crescente, mas nos últimos quarenta anos, aproximadamente, essa atividade foi dramaticamente suplantada e absorvida pela exploração imperialista de grandes massas da classe operária mundial nas cadeias produtivas globais. Estas últimas são mais bem materializadas exatamente pelas indústrias de montagem e maquiadoras das “zonas econômicas especiais” das áreas e economias dominadas. 2 A globalização do exército industrial de reserva é a condição necessária para o sucesso do novo regime das cadeias produtivas globais. Ela atinge as condições de trabalho e de sobrevivência dos trabalhadores, tanto nas economias dominadas, quanto nas economias dominantes; vimos como isso ocorre no boletim passado, de passagem, ao analisar o arrocho salarial nos Estados Unidos, na principal economia do seleto bloco das economias imperialistas. Mas, em primeiro lugar, há que se garantir abundante matéria prima para este processo. Ele exige, portanto, grandes massas populacionais de sem reservas, da mesma forma que no imperialismo tradicional se exigia grandes massas de recursos naturais. Na África, os dois tipos de recursos existem em abundância. Mas os corpos e o sangue dos trabalhadores livres de propriedade são agora muito mais valiosos que o ouro da África do Sul ou o petróleo da Nigéria. Na África, relata o seu Banco do Desenvolvimento, a base do exército industrial de reserva não só está garantida como as suas perspectivas de expansão é um grande problema político e social. “A rápida expansão da força de trabalho dos países da África aumentará as pressões sobre o mercado de trabalho. Serão adicionados 910 milhões de trabalhadores entre 2010 e 2050, dos quais 830 milhões na África subsaariana e 80 milhões na África do Norte. É cada vez mais urgente criar muito mais empregos produtivos, questão maior da transformação estrutural”. O crescimento da força de trabalho nas próximas décadas na África não encontra paralelo em nenhuma outra região do mundo. Veja o gráfico abaixo. Projeções de Aumento da Força de Trabalho na África Subsaariana, África do Norte, China, Índia, Europa, e Estados Unidos, 2010-50. A China está esgotada. Além da África, só a Índia ainda promete certa quantidade de oferendas para serem sacrificadas no templo do Deus capital. É muita coisa, cerca de 317 milhões de almas penadas a engrossar o exército industrial de reserva global. Mas não é nada se comparado ao que é oferecido pela África: 910 milhões a mais do que já existe no continente. E o que existe já pressiona ruidosamente as portas do capital. Segundo estimativas apresentadas no relatório do Banco do Desenvolvimento da África, 3 em 2015 cerca de 19 milhões de jovens devem entrar no mercado de trabalho na África subsaariana e 4 milhões na África do Norte. Nos próximos 15 anos, as cifras serão respectivamente de 370 milhões e de 65 milhões, quer dizer, uma média anual de 24.6 milhões e de 4.3 milhões de novos convocados. Se as cifras para 2015 não passam de estimativas, a amplitude dos fluxos cumulativos é quase uma certeza, pois os novos convocados já nasceram. O mega safari já pode começar. 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